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AULA 1 ANÁLISE DE CENÁRIOS FINANCEIROS Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 TEMA 1 – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Etimologicamente, a palavra estratégia deriva de stratègós do grego antigo; na época, isso significava a habilidade de um general no comando de suas tropas. O significado dessa palavra influenciou na criação da obra A Arte da Guerra, de Sun Tzu, em 500 a.c., que até hoje é utilizada por militares e grandes executivos. Atualmente, com as rápidas mudanças políticas, ambientais e principalmente com a crescente evolução tecnológica e informacional, a palavra “estratégia” vem ganhando cada vez mais espaço no mundo corporativo. Isso porque organizações que buscam um constante crescimento necessitam planejar com cautela todas as suas ações (estratégia), que irão derivar de um conjunto de decisões (planejamento); pois, ao final, terão como principal objetivo apresentar ganhos em relação à situação atual. 1.1 Conceito de Planejamento Estratégico A ideia de planejamento estratégico vem da realização de um processo que objetivara o estabelecimento de metas e a definição de como alcançá-las (Chiavenato, 2000). Entretanto, nenhuma estratégia é executada sozinha, havendo necessidade da adoção de um método de ação, momento em que é estabelecido um padrão de conduta, sendo tudo isso concretizado por meio de decisões (Nogueira, 2014). Em síntese, o Planejamento Estratégico se trata do estabelecimento de objetivos e resultados a serem alcançados e da determinação de como esses devem ser atingidos. O planejamento possui como principal ideia a redução das incertezas, ou seja, diminuir a possibilidade de algo não dar certo. É importante mencionar que nunca poderemos falar em eliminação de incertezas, pois essa possibilidade não existe, em razão da constante evolução social, ambiental, política e tecnológica. 1.2 Objetivos Para entendermos os objetivos do planejamento, há apenas a necessidade de realizarmos uma pergunta: por que alguém faz um planejamento dentro de uma organização? O motivo precedente, e podemos asseverar, é que mais o importante é o estabelecimento de um norte para a empresa. A organização, quando criada, possui um proposito, sendo esse inerente a sua criação; a determinação de uma 3 direção para empresa nada mais é do que seguir a sua essência. Há também quem entenda que esse norte é sinônimo de objetivo principal da empresa. Em decorrência desse primeiro objetivo, seguiremos para a nossa segunda ideia: concentração de esforços. A exteriorização da direção para qual a organização quer seguir faz com que as pessoas saibam quais são as prioridades dentro daquela empresa, ou seja, em que sentido é necessário “navegar” para que a organização tenha sucesso. O terceiro ponto é a definição dos parâmetros de controle. O controle se trata de uma forma de verificar se o planejamento está indo conforme o combinado. Assim, com base na determinação do objetivo, ocorre também a determinação dos critérios de controle. Outro objetivo do planejamento é auxiliar na motivação e no comprometimento, pois, no momento em que os membros da organização possuem conhecimento dos objetivos e da visão de futuro da empresa, surge um envolvimento maior dos profissionais envolvidos, pois esses se sentem parte da organização. Por fim, podemos afirmar se tratar de um instrumento de autoconhecimento, pois, quando se faz um planejamento, conhece-se melhor a organização, quais os seus pontos positivos e negativos e em que lugar é possível buscar novas oportunidades. 1.3 Fases O Planejamento Estratégico possui algumas etapas; entretanto, os autores das principais doutrinas acerca do tema não chegaram a um consenso em relação a sua ordem. Há quem entenda que o primeiro passo a ser seguido é a definição dos objetivos (Chiavenato, 2000), mas também há quem assevera que o diagnóstico estratégico deva ser o ponto de início de um planejamento adequado (Oliveira, 2002). Em síntese, ambos os autores utilizam uma lógica reversa: enquanto Chiavenato primeiro determina em que quer chegar e depois estabelece como, Djalma Oliveira assevera que preliminarmente é necessário entender qual é o momento atual da organização (em que lugar que ela se encontra hoje, quais são as suas forças, fraquezas e o estado de seus concorrentes) para, em seguida, estabelecer os objetivos. 4 1.4 Níveis O Planejamento Estratégico para que alcance todos os membros de uma organização foi dividido em alguns níveis. Essa divisão também nos auxilia a entender como a ideia de planejar possui impactos diferentes em cada nível de uma empresa. Imaginemos uma organização no formato de uma pirâmide. No topo da pirâmide, representando um menor número de pessoas, teremos o planejamento estratégico (strictu sensu), responsável pela organização da empresa como um todo, ou seja, não pensar em estratégia individualizadas para cada setor da empresa, mas sim em planos gerais (genéricos e globais) que irão gerar impactos em longo prazo. No meio da pirâmide, interpretando um número médio de membros, há o planejamento tático, que visa à realização de estratégias para determinado departamento da organização, ou seja, para uma determinada “fatia” daquela empresa, de modo a detalhar um pouco mais essas ideias, focando em objetivos em médio prazo. Na base da pirâmide, identificando um número maior Fases do Planejamento CHIAVENATO Definição dos objetivos Diagnóstico Estratégico Estabelecimento de cenários Analisar e definir alternativas de ação Implementação do plano e avaliação dos resultados DJALMA OLIVEIRA Definição dos objetivos Diagnóstico Estratégico Estabelecimento de cenários Analisar e definir alternativas de ação Implementação do plano e avaliação dos resultados 5 de pessoas, está presente o planejamento operacional, que irá planejar e pensar em cada processo ou atividade de maneira individualizada e o mais detalhado possível, buscando resultados a curto prazo. Saiba mais Fantasiemos que quatro irmãos criaram a holding Los Hermanos S.A., focada na aquisição, gestão e alavancagem de negócios visando à criação de novas redes de franquias. Cada um dos irmãos dispendeu um valor considerável para que pudessem iniciar as suas aquisições, mas buscando um crescimento adequado, preliminarmente, em conjunto com todos os seus gerentes e coordenadores resolveram elaborar um planejamento estratégico. Nesse caso, eles definiram os seguintes objetivos: • No prazo de 05 anos, estarem à frente da administração de 03 empresas e com pelo menos 200 franquias de cada espalhadas pelo país; • No prazo de 7 anos, realizar o IPO de pelo menos uma dessas e iniciar o processo de internacionalização de suas franquias; • A começar do quinto ano de empresa, efetuar apenas a aquisição de negócios maiores, visando a um aumento do lucro de maneira mais acelerada e maior segurança patrimonial. • Após 10 anos de operação, tornar-se a principal holding de franquias do mercado, com franquias internacionais e empresas no mercado aberto de ações. Os planos e ações a serem executados: • Criação de um grupo especializado no estudo e análise de viabilidade de expansão de pequenos negócios; • Realização de pesquisa buscando identificar as áreas do mercado mais prósperas; • Criação de diretorias especializadas na gestão das diferentes áreas escolhidas; • Aquisição de negócios que já estejam presentes em grandes capitais e com potencial mínimo de crescimento; • Realização de workshop para aprimoramento dos possíveis colaboradores. Obtenção de empréstimos e financiamentos nos dois primeiros anos de operação, visando a uma alavancagem mais acelerada. 6 TEMA 2 – ANÁLISE SWOT Vocês lembram quando no tema 1 mencionamos as etapas do planejamento estratégico,e destacamos o diagnóstico estratégico como sendo uma das mais importantes? Pois é. Esse ponto será extremamente essencial para compreendermos o assunto atual. O mencionado diagnóstico faz uma análise situacional atual da empresa, com o objetivo de auxiliar no processo decisório da empresa dentro dos diversos cenários possíveis para o futuro. Quando realizamos um diagnóstico estratégico, basicamente temos que responder o seguinte questionamento: “qual a real situação da empresa quanto a seus aspectos internos e externos?” (Rebouças, 2006). Conforme destacado por Martins (Martins, 2007), a análise SWOT é um instrumento bastante disseminado e utilizado para elaboração desse diagnóstico, sendo sua utilização fundamental para responder à pergunta anterior realizada. A ideia de SWOT vêm de strengths, weaknesses, opportunities e threats, que correspondem a forças, fraquezas, oportunidade e ameaças, respectivamente. Em síntese, ela busca confrontar os aspectos negativos e positivos em relação às condições internas e externas que, de alguma forma, podem gerar efeitos para a empresa. O fator interno trata de questões que surgem dentro da empresa, e se subdivide em forças (positivo) e fraquezas (negativo). Por se tratar de questões que estão dentro do âmbito da empresa, são consideradas controláveis, ou seja, a organização possui atuação direta e consegue alterar o seu status. Para facilitar o entendimento, podemos destacar algumas forças: pessoal capacitado, tecnologia de última geração e dinheiro em caixa. E algumas fraquezas: falta de dinheiro em caixa, falta de pessoal e ausência de segurança sistémica adequada. Já o fator externo corresponde a questões que ocorrem fora do âmbito da organização; consequentemente, não podem ser controladas por ela. Esse se subdivide em oportunidades (positivo) e ameaças (negativo). Podemos exemplificar citando: crise econômico (ameaça), inovação tecnológico do mercado (oportunidade), mudança de governo, alteração ambiental (ameaça ou oportunidade). Nota-se que se trata de situações que a empresa, individualmente, não pode alterar e, por isso, deve se adaptar, para amenizar os possíveis efeitos negativos. 7 Após a identificação de todos os fatores positivos e negativo, inicia-se a fase mais importante desse instrumento: a comparação entre forças/ameaças e fraquezas/oportunidades. A confrontação das oportunidades e fraquezas permite identificar as limitações de uma empresa, ou seja, quais são as oportunidades que a organização pode aproveitar e em que medida pode se beneficiar; essa análise reconhece a real situação do negócio. A relação entre as ameaças e forças permite descobrir quais são as vulnerabilidades de uma empresa. Por exemplo, uma empresa com uma marca muito forte no mercado de produtos domésticos se sente ameaçada com a chegada de uma grande multinacional da área no país, que possui notoriedade em âmbito mundial. Saiba mais Retomando o exemplo anterior, supondo que a holding Los Hermanos S.A., que possui a gestão, sendo sócia majoritária de 3 empresas: rede de pizzarias, empresa especializada em serviços odontológicos e empresa de eventos, necessite realizar um diagnóstico estratégico, ou seja, analise sua situação atual levando em consideração a data de dezembro de 2021, ela poderia ter como ponto de início o seguinte: LOS HERMANOS S.A. POSITIVOS NEGATIVOS FORÇAS • Know How no mercado de Franquias. • Profissionais qualificados e com experiência na área. • Tecnologia de última geração. • Atuação em áreas diversificadas. FRAQUEZAS • Empresa recente no mercado. • Capital inicial baixo comparado com outras empresas do ramo. • Localização desprivilegiada. F A T O R E S IN T E R N O S 8 OPORTUNIDADES • Expansão do mercado de franquias. • Desvalorização de algumas empresas e consequente diminuição do seu valor no mercado • Atuação em duas áreas não afetadas pela pandemia. AMEAÇAS • Instabilidade econômica. • Entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional. • Aumento da inflação e consequente aumento da taxa Selic. • Instabilidade jurídica do país. F A T O R E S E X T E R N O S Após realizar essa análise, a empresa Los Hermanos poderá identificar quais são os seus pontos fracos e fortes e utilizá-los em seu benefício, conforme a atual situação do mercado, e também identificar quais são as limitações perante as dificuldades que o setor apresenta. Com base nessa análise do cenário atual da organização, ele poderá criar um planejamento de cenários mais efetivo. Como rápido exemplo, podemos destacar as legislações que entram em vigor surpreendendo as empresas, obrigando-as a se reestruturarem para manter um certo grau de competitividade e atuação efetiva no mercado. Veremos no próximo tópico do que se trata o planejamento de cenários. 2.1 Análise Pestel A análise SWOT não é a única ferramenta existente para exame de fatores externos. Há também a chama matriz PESTEL. Esse nome deriva do fato que esse instrumento é utilizado para estudo de fatores políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, ambientais e legais que venham a interferir no âmbito negocial de uma empresa. Essa matriz tem o intuito de trazer uma visão macro das possíveis ameaças e oportunidades externas que as empresas estão sujeitas. De um modo geral, o PESTEL visa detectar oportunidade no mercado, verificar a existência de ameaças e desenvolver uma visão mais objetiva da área em que a empresa está inserida, de modo a propiciar uma compreensão mais abrangente das mudanças que estão ocorrendo no mercado. Assim, a análise PESTEL proporciona essa visão externa para que a empresa realize um planejamento interno mais efetivo, ou seja, que atinja os objetivos estratégicos e estabelecidos e minimize a possibilidade de erros. A maioria dos pesquisadores orienta que a análise PESTEL nunca pode ser utilizada sozinha, uma vez que ela apenas análise fatores exteriores; sendo 9 assim, ela deve ser utilizada como complemento de outra matriz, como a SWOT. Da mesma forma, não é uma vantagem grande utilizar a SWOT de forma isolada, pois ela não concede uma visão macro e aprofundada dos fatores externos. Saiba mais Como exemplo, podemos elaborar a seguinte ideia: supondo que uma empresa tem a ideia de desenvolver um novo produto, no ato da sua formação, ela deve considerar todos estes aspectos macros que destacamos: • Políticos: fatores políticos podem dificultar ou facilitar toda a burocracia envolvida por trás do desenvolvimento de um produto novo no mercado, aumentando ou diminuindo a intervenção do governo na esfera privada; • Econômico: o cenário econômico nacional e internacional pode facilitar ou dificultar a disponibilização de crédito com juros baixos para o aperfeiçoamento do projeto, como também influencia na taxa de câmbio e, consequentemente, no custo da importação de matéria prima para a produção do produto; • Sociais: a evolução social e cultural pode influir na aceitação do produto pelos consumidores; • Tecnológicos: a evolução tecnológica acelerada fora do país pode vir a prejudicar o desenvolvimento do produto, que precipitadamente se torna desatualizado; • Ambiental: com o aumento da responsabilidade empresarial perante o meio ambiente, durante todo o processo de formação do produto, devem ser seguidos todos os parâmetros de respeito ao meio ambiente. Como, por exemplo, eliminação de resíduos e sustentabilidade; • Legal: Trata-se de um dos aspectos basilares que deve ser observado, uma vez que, se não cumpridos os requisitos mínimos para o desenvolvimento do produto, como desenvolvimento de patente, este nem pode ser comercializado. Assim, a empresa deve ter um quadro de pessoas especializadas no enquadramento do produto as normas legais.10 TEMA 3 – PLANEJAMENTO DE CENÁRIOS O planejamento por cenários se trata de uma forma de planejar por meio da montagem de possíveis situações futuras. Assim, imaginam-se algumas possibilidades de futuro e se busca antecipadamente definir quais as medidas que seriam realizadas em cada uma dessas situações. Quando se fala em planejamento de cenários, é importante relatarmos que existem alguns atributos mínimos para esse tipo de análise. O primeiro ponto é a clareza; as pessoas devem entender do que realmente se trata aquela situação. É necessário também que se trate de um fato plausível, ou seja, não adianta realizar uma análise de cenários formulando uma situação impossível de acontecer. Por fim, devem-se imaginar eventos relevantes para aquela organização, até porque não faria sentido realizar um planejamento sobre algo que não afetará direta ou indiretamente a situação da empresa. Superados todos esses requisitos básicos, chegamos até o conceito estabelecido por Porter (1996), o qual afirma que se trata de uma visão de futuro profundamente consistente, fundado em suposições plausíveis sobre os importantes assuntos que podem influenciar um setor. O objeto principal de um cenário é verificar situações futuras, e não adivinhá-las. Por esse motivo, é muito importante que, no momento do desenvolvimento dos cenários, busquem-se informações corretas. A forma de abordagem mais indicado para esse tema é a prospectiva, que gera diversos cenários; já a forma menos aconselhada é a projetiva, que baseia o planejamento na criação de apenas um cenário. A razão pela qual criamos cenários está no intuito de projetarmos possíveis situações futuras favoráveis e desfavoráveis à empresa, que poderão estar relacionadas a fatores internos (próprios da organização) e externos, como fatores de mercado (ameaças e oportunidades), influenciadas, por exemplo, por um possível cenário político ou evolução tecnológico. Momento atual Cenário 01 Cenário 02 Cenário 03 Momento Futuro e desejado 11 Saiba mais Mantendo o mesmo exemplo, após a realização do diagnóstico estratégico e perceber quais as forças e fraquezas do negócio, a empresa Los Hermanos S.A. necessita agora iniciar a busca por possíveis cenários de futuro. Isso posto, o futuro é incerto, e se basear apenas em uma situação é muito arriscado. Mas, na prática, como isso poderia ser feito? O ano de 2022 é um ano de eleição. A empresa tem conhecimento que os candidatos A e B estão à frente de todas as apurações. Já se tornou público que o candidato A é totalmente a favor de expandir os direitos e benefícios das empresas e adepto a importar conhecimento tecnológicos de última geração de países estrangeiros, enquanto o candidato B possui um viés mais a favor dos trabalhadores e não apoia o desenvolvimento de novas tecnologias estrangeiras dentro do país. Assim, a empresa tem que elaborar uma estratégia para as duas possibilidades de eleição: a) Caso o candidato A ganhe, aproveitar as oportunidades e benefícios que serão concedidos durante o seu mandato, ou seja, usufruir o máximo durante esse período; b) O candidato B seja eleito, deve a empresa tomar precauções evitando a ocorrência de situações que causem prejuízo, principalmente no que tange aos seus empregadores. TEMA 4 – MATRIZ GUT (GRAVIDADE, URGÊNCIA E TENDÊNCIA) Trata-se de uma técnica criada por Charles H. Kepner e Benjamin B. Tregoe, especialistas na resolução de problemas empresariais. O referido instrumento também visa auxiliar na tomada de decisões; porém, possui um foco maior na priorização de resolução de problemas. Na grande maioria das organizações, há uma série de problemas para serem resolvidos, sendo muitas vezes difícil optar por onde começar em razão da vasta quantidade. Essa matriz vem com o fim de resolver tal questão, classificando cada problema por meio de três parâmetros: gravidade, urgência e tendência. Em síntese, a sua diferença em relação às outras ferramentas é que ela não busca a resolução do problema, mas sim a sua priorização, sendo muitas vezes utilizado como complemento de outras análises. 12 A gravidade significa o impacto que o problema pode gerar ao negócio caso não seja solucionado. Esse impacto tem que ser analisado de maneira geral, levando em consideração todos os setores da empresa. Já a urgência é relacionada ao tempo, de modo que será classificado conforme o grau do dano causado em relação à demora do tempo de resolução do problema. Em síntese, quanto mais rápida a situação precisa ser resolvida, mais urgente ela é. É importante lembrar que, muitas vezes, determinadas questões possuem prazo legal para ser resolvido, fator que também será considerado aqui. A pergunta é ser feita é: “será que isso pode esperar mais um pouco?” Por fim, a tendência se refere à rapidez que o problema tem de se agravar. Assim, a organização necessita analisar se o problema tende a piorar caso não seja resolvido ou se ele permanecerá estável se não for solucionado de imediato. Em síntese, quanto maior a tendência do problema se agravar, maior o seu grau de intensidade. É importante mencionar que todos os problemas são classificados em cinco graus de intensidade. Saiba mais Supondo que a empresa BotolliFotografias tenha 02 problemas para resolver: a) Cliente fez uma reclamação no PROCON, em razão do não atendimento de prazo na entrega de materiais; b) Falta de equipamento moderno. Gravidade Urgência Tendência Resultado Problema A 3 2 1 6 Problema B 2 1 2 4 Por meio dessa tabela, podemos verificar que o problema A possui um grau de impacto maior no negócio, uma vez que expõe ao público uma imagem negativa da empresa. Já a urgência em resolver o problema é mediana, uma vez que possui prazo legal definido. Trata-se de um problema que não tem muita possibilidade de evoluir, pois não irá ultrapassar aquela esfera de contestação, caso seja resolvido com sucesso. No caso do problema B, o seu grau de gravidade é mediano, pois o impacto na empresa não é tão grande ao ponto de inviabilizar o negócio. Em relação à rapidez da evolução do problema B, também possui um baixo grau, pois o referido 13 equipamento será necessário apenas em uma situação específica, não sendo algo utilizado de forma corriqueira. Já a tendência de evolução do problema também tem um grau de evolução mediana, uma vez que, com o desenvolvimento dos trabalhos de fotografia, a utilização de um equipamento mais moderno vai se tornando algo cada vez mais necessário. Assim, concluímos, por meio da utilização da matriz GUT, que a reclamação no PROCON é um problema mais grave e deve ser priorizado em relação ao problema com a falta de equipamento. TEMA 5 – AS CINCO FORÇAS DE PORTER O mercado atual em razão de diversas circunstâncias se encontra fortemente competitivo e volátil, de modo que apenas as empresas que possuem um bom alinhamento estratégico e conseguem potencializar os seus resultados se destacam. As forças de Porter se trata de mais um instrumento utilizado para ajudar na criação do planejamento estratégico de uma empresa, com o intuito de analisar qual é o seu lugar no mercado e, consequentemente, verificar qual o posicionamento dos seus concorrentes, para, ao final, arquitetar um plano evitando que perca espaço no mercado. Em síntese, essa ferramenta estuda fatores externos que podem interferir no crescimento de um negócio dentro de seu ramo e dentro do mercado; ele também irá analisar fatores internos como relacionamento com clientes e fornecedores. Nogueira (2014) assevera se tratar de uma ferramenta que permite confrontar até o lugar em que chega à lucratividade das empresas que trabalham em determinado setor. Antes de nos aprofundarmos no assunto, é importante mencionarmos que Michael Porter é autor de diversos obrasreferentes à estratégia e competitividade no mundo dos negócios, sendo que as 05 Forças de Porter foi uma importante contribuição para as empresas em geral criado na década de 1970. Vejamos então quais são essas forças relevantes para a gestão estratégica. 5.1 Ameaça de produtos substitutos Trata-se do perigo de um dos concorrentes desenvolver outro produto ou serviço capaz de tomar o lugar de um produto ou serviço já consolidado no mercado e produzido pela empresa. Em síntese, é a possibilidade de uma 14 empresa produzir algo capaz de suprir a necessidade dos clientes de outra organização. Por exemplo, uma construtora de casas. Hoje em dia, tem sido comum a venda de “containers” visando à construção civil, por mais que não seja o mesmo produto; eles visam o mesmo tipo de cliente: aqueles que desejam adquirir uma residência ou construir uma casa em um terreno vazio. A forma mais eficaz de evitar que isso ocorra. É o investimento em pesquisas para identificar se os concorrentes apresentam algum tipo de produto ou serviço que posso ameaçar substituir aquele desenvolvido pela organização. 5.2 Ameaça de entrada de novos concorrentes É a possibilidade da chegada de novas empresas em um determinado segmento e que traga custos mais baixos ou condições especiais. Nesse caso, a maneira de proteger o seu negócio é por meio do investimento em inovação e em outras formas que sejam capazes de manter o posicionamento daquela empresa forte no mercado. Entretanto, há diversos fatores que podem atrapalhar a inserção de uma empresa dentro de um segmento: • Capital elevado a ser investido; • Alta produção inicial; • Acesso dificultoso aos fornecedores; • Produto sem diferenciação; • Política governamental. 5.3 Poder de negociação dos clientes Refere-se a uma situação muito comum ultimamente, que vem se agravando cada dia mais com a disseminação da tecnologia aos consumidores. A evolução da era digital amplia os acessos dos consumidores aos mais diversos produtos e serviços, sendo essa uma ameaça em potencial para qualquer negócio. Além disso, essa ampliação de informações faz com que os consumidores exijam produtos de mais qualidade e com bons preços. Por esse motivo, as empresas devem buscar ao máximo fidelizar os seus clientes, por meio de um atendimento diferenciado e de qualidade. 15 5.4 Poder de negociação dos fornecedores Aqui nos referimos às negociações com os fornecedores, uma organização sempre deve fazer uma pesquisa aprofundada, visando adquirir produtos e serviços da melhor qualidade, mas com preço e prazos adequados, uma vez que esse atendimento irá refletir diretamente no bom atendimento aos seus clientes, no preço do produto ou serviço e também nos custos e lucros da empresa. 5.5 Rivalidade entre os concorrentes Podemos considerar essa como a força principal dentre as cinco, pois é por meio dela que a empresa deve realizar análises para identificar os pontos fracos e fortes de seus possíveis concorrentes (vendem produto/serviço semelhante ou do mesmo ramo de atividade). Nesse caso, a empresa deve promover um estudo listando os seus principais concorrentes e definir qual o tamanho do pedaço daquele segmento que visa almejar. Também deve buscar quais os recursos utilizados pelos concorrentes, a opinião dos consumidores em relação a eles, entre outras medidas. 16 A importância dessa última força pode ser visualizada na seguinte imagem: Crédito: Tea Talk/Shutterstock. 5.6 Participantes complementares Conforme o mercado foi evoluindo, concebeu-se uma nova força, que, por mais que não tenha relação direta com os produtos e serviços de uma empresa, podem influir em seus resultados. O exemplo principal a ser utilizado são as farmácias que vendem diversos medicamentos com prescrição médica, ou seja, medicamentos esses indicados por um médico, sendo então o médico um participante complementar do ramo de farmácias. 17 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento Estratégico. 7 reimpr. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FERREIRA, P. C. Planejamento estratégico [recurso eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020. 69 p. il. ISBN 978-65-5745-896-9 MARTINS, M. A. P. Gestão Educacional: Planejamento Estratégico e Marketing. Rio de Janeiro: Brasport, 2007. NOGUEIRA, C. S. Planejamento Estratégico. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. – (Coleção Bibliografia Universidade Pearson). PORTER, M. E. 1980. Estratégia Competitiva. Técnicas para análise de indústria e da concorrência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004 REBOUÇAS, D. de P. Oliveira. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. AULA 2 ANÁLISE DE CENÁRIOS FINANCEIROS Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, delimitamos alguns conceitos essenciais para o entendimento do assunto, abrangendo a real finalidade de um planejamento estratégico, o modo como esse deve ser elaborado considerando um processo de análise de cenários, e todos os instrumentos existentes para auxiliar nesse estudo, como análise SWOT, GUT e as cinco forças de Porter. Nesta aula, iniciaremos o estudo de um assunto muito importante com relação ao planejamento e análise de cenários: as estruturas de mercado e as políticas neste ambiente. Por esse motivo, nos temas iniciais explanaremos as estruturas de mercado existentes e, em seguida, nos debruçaremos sobre a análise das políticas monetária, fiscal e cambial que influenciam significativamente os destinos dos mercados. Por fim, destacaremos alguns elementos importantes da política monetária. Desse modo, essa aula foi estruturada da seguinte forma: 1. Estrutura de mercado; 2. Política monetária (taxa de juros, inflação câmbio); 3. Política fiscal e política cambial; 4. Oferta e demanda; 5. Indicadores econômicos. Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: entender as diversas estruturas de mercado existentes e sua influência no âmbito concorrencial; compreender os principais pontos em uma política monetária, o funcionamento da inflação e da taxa de juros; a influência da política fiscal no mercado, e como a gestão realizada pode afetar diretamente as empresas nacionais; o funcionamento da política cambial e como seu equilíbrio é fundamental para a manutenção de uma economia estável e próspera; e, por fim, entender a importante lei da oferta e da demanda, o que facilitará a compreensão dos motivos pelo quais o mercado tende a variar. TEMA 1 – ESTRUTURAS DE MERCADO Com a evolução social e tecnológica, é cada vez mais difícil inserir-se em um determinado mercado, e é ainda mais complicado manter-se nele. Por esse motivo, o empresário, antes de iniciar um empreendimento, deve pesquisar e 3 identificar em qual estrutura de mercado seu negócio melhor se enquadra. Isso vai variar de acordo com a característica do produto ou serviço oferecido, pois cada um possui uma formatação já existente no mercado (estruturas de mercado). A compreensão desse sistema é importante, pois será o ponto inicial para a formulação de preços, quantidade de produção e análise da concorrência. Assim, a empresa, ao identificar em que estrutura se encontra, e quem são os seus concorrentes, poderá formular estratégias específicas para superar os adversários. 1.1 Mercado competitivo e não competitivo Entre as diversas estruturas, há mercados mais competitivos que outros. No mercado competitivo, é comum a existência de muitas empresas, as quais oferecem produtos e serviços muito parecidos, por isso, o diferencial entre elas acaba sendo o preço. Desse modo, o consumidor que sempre compra da empresaX, ao perceber que o preço desta sobe, passará a consumir o produto da empresa Y sem pestanejar; ou seja, os clientes não são fiéis a uma determinada marca. O preço, nesse tipo de mercado, segue a lei da oferta e da demanda, sobre a qual estudaremos mais adiante. O exemplo clássico de um mercado competitivo é o das commodities, em que os produtos são sempre os mesmos, e seu diferencial está no preço. Uma das maneiras dessas empresas se destacarem em um mercado competitivo é investindo na diferenciação de seus produtos; a partir do momento que seu produto possui características diferenciadas e um alto valor agregado, o processo de fidelização tem início, o que dificulta que o cliente troque de produto. Assaf (2012, p. 173) afirma: “A melhor medida do sucesso empresarial em mercado competitivo é a criação de valor a seus proprietários”. Uma das principais referências na fidelização é a Apple, que mesmo com preços acima da média, consegue vender mais do que empresas que comercializam produtos com valor muito mais baixo. Já o mercado não competitivo é composto por um número pequeno de companhias, entretanto de maior tamanho. Por mais que não possuam nenhuma relação entre si, é comum a realização de acordos que dificultem (ou que criem obstáculos) à entrada de novos participantes. Em razão disso, esse mercado tende a ter preços estáveis. 4 Esse mercado geralmente é formado por oligopólios, isto é, quando no mercado há vários compradores para poucos produtores. Os produtos podem ser iguais ou diferentes entre si, porém, pelo fato de as empresas oligopolistas dominarem determinado mercado, há uma grande barreira para novos entrantes. Trata-se de um mercado único, pois não serão os consumidores que farão os preços (por meio da oferta e da demanda), mas sim os produtores, muitas vezes por conluios entre as empresas. Além dos oligopólios, há outras estruturas de mercado conhecidas. Vamos conhecê-las: • Monopólio – Quando existe apenas um produtor de um bem ou serviço e o mercado passa a depender dele totalmente para conseguir aquilo que deseja. No monopólio, a dificuldade para entrar é muito grande. Entre os obstáculos, estão: já haver uma companhia dominando o mercado; capital inicial exorbitante; patentes; controle de matérias-primas; concessões e liberações dos poderes públicos; e, acesso a tecnologia de ponta. Podemos destacar as empresas de energia elétrica, que possuem monopólio estatal, e exercem seu poder monopolista dentro de um estado específico. • Concorrência perfeita – Nenhuma empresa ou consumidor tem poder de influência na definição de preços; trata-se de um mercado extremamente competitivo. Aqui, quem faz o preço são os consumidores, de acordo com o seu próprio interesse, uma vez que possuem uma gama extensa de vendedores de produtos idênticos. Consiste no modelo perfeito de competitividade, uma vez que eleva a eficiência e transparência da economia. Outro ponto importante a ser mencionado é a inexistência de barreira de entrada; logo, há entrada e saída corriqueira das empresas. • Concorrência monopolista – É uma estrutura de mercado intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio, uma vez que contém características de ambas. O produto ou serviço se diferencia e se sobressai por sua marca, como ocorre com McDonald’s e Burguer King: ambos oferecem produtos semelhantes, porém capazes de serem diferenciados; sua distinção se dá, majoritariamente, pela marca e pelas estratégias de marketing aplicadas, uma vez que as duas tentam atingir o mesmo público. Há outras estruturas de mercado não tão conhecidas: 5 • Monopólio bilateral – Um vendedor apenas para um comprador. Neste caso, ambas as partes exercem influência sobre o preço; assim, esse fator dependerá do poder de negociação das partes. • Monopsônio – Muitos vendedores para apenas um comprador. • Oligopsônio – Muitos vendedores para poucos compradores, de modo que a determinação dos preços fica na mão dos compradores. TEMA 2 – POLÍTICA MONETÁRIA Antes de apresentarmos o que é a política monetária nacional, é importante entendermos o sistema no qual o mercado está inserido. Há, em nosso país, o chamado Sistema Financeiro Nacional, responsável pela existência da estrutura hierárquica que faz com que a economia do país funcione da maneira mais eficiente possível. No topo dessa pirâmide, como órgão normativo está o Conselho Monetário Nacional, incumbido de definir as diretrizes do funcionamento do mercado. No meio da pirâmide, estão a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – controle e fomento da bolsa de valores –, e o Banco Central (BACEN) – um organismo normativo secundário, executor e controlador do sistema financeiro. Na base da pirâmide, estão as instituições financeiras, abrangendo bancos comerciais/múltiplos, bancos de investimento, corretoras de valores mobiliários, entre outros responsáveis pelo aspecto operacional do mercado. No entanto, nessa aula, mergulharemos em uma importante atividade de competência do BACEN, realizada pelo Comitê de Política Monetária (COPOM): a execução da política monetária do governo. Tal política, basicamente, consiste no conjunto de atitudes adotadas para promover o controle da moeda dentro do país, ou seja, o dinheiro em circulação no mercado. Tal atitude é realizada pela definição da taxa de juros que impacta diretamente a inflação (conceitos estes que estudaremos em breve), tanto estimulando como retraindo a economia, visando superar crises ou manter a inflação sobre controle. Há duas políticas monetárias que podem ser adotadas: uma expansionista (aumento da moeda em circulação e diminuição da taxa de juros, de modo a ampliar o consumo/poder de compra), e outra contracionista (aumento da taxa de juros, diminuindo a busca por crédito junto aos bancos e, consequentemente, diminui o consumo/poder de compra reduzindo a inflação naquele período). 6 Vejamos como cada instrumento da política monetária é utilizado em cada uma destas situações: Quadro 1 – Usos dos instrumentos da política monetária Contracionista Expansionista Depósito compulsório (parcela que os bancos devem obrigatoriamente depositar no Banco Central) Com o aumento do depósito compulsório dos bancos, menor será o valor disponível no mercado (menor liquidez), o que gera maiores juros. Logo, menos pessoas buscam crédito = menos consumo = menor inflação. Com a diminuição do recolhimento compulsório, sobra mais valores para os bancos. Logo, eles concedem crédito com menos juros = mais crédito no mercado = maior consumo = maior inflação. Operação de redesconto (são os empréstimos concedidos pelo BACEN às instituições financeiras) Se o BACEN aumentar a taxa de redesconto, logo os bancos pagarão juros maiores dos empréstimos feitos no BACEN. Assim, diminui o dinheiro em circulação no mercado e, consequentemente, a inflação diminui. Se o BACEN diminui a taxa de juros dos empréstimos pedidos pelos bancos, há um aumento do dinheiro em circulação, o que gera crescimento da inflação. Open market (atuação do BACEN no mercado financeiro por meio da compra e venda de títulos públicos federais) Quando o BACEN vende títulos, retira dinheiro do mercado e, consequentemente, diminui a inflação. Quando o BACEN realiza a compra de títulos, ele está injetando dinheiro no mercado, o que gera um aumento do consumo e da inflação. 2.1 Taxa de juros Em síntese, quando falamos de taxas de juros, estamos nos referindo ao custo do dinheiro no tempo. Assaf (2012, p. 352) detalha da seguinte maneira: A taxa de juros reflete, portanto, o preço do sacrifício de poupar, o que equivale, em outras palavras, à remuneração exigida por um agente econômico ao decidir postergar o consumo, transferindo seus recursos a outro agente. Entretanto, é importante mencionar que a taxa de jurosnão é apenas um instrumento de controle da política monetária nacional, mas também uma forma de influenciar as relações entre os particulares. Podemos citar, por exemplo, a situação em que a taxa de juros se encontra em um período de baixa: é o momento mais oportuno para que uma empresa em busca de capital de terceiros realize esse tipo de captação; para o investidor, não é uma das melhores opções, pois o retorno da aplicação não será proveitoso. O juro dessa captação realizada pela empresa irá refletir o custo de oportunidade do seu capital: basicamente o preço a ser pago pelo capital tomado emprestado e aplicado em suas decisões internas. 7 É necessário compreendermos que as taxas de juros estão diretamente atreladas à denominada taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). A Selic pode, portanto, ser subdividida em: • Taxa Selic Over: consiste na taxa efetivamente praticada no mercado, que representa a média diária da negociação de títulos públicos federais na Selic. • Taxa Selic Meta: trata-se da taxa definida pelo COPOM, justamente para manter a política monetária sobre controle. Essa taxa é definida visando alcançar a meta de inflação e, consequentemente, controlar a quantidade de dinheiro disponível no mercado (liquidez). A definição dessa taxa meta é feita a cada 45 dias, em reuniões ordinárias realizadas pelo COPOM. Em casos de extrema urgência, é possível que haja reuniões extraordinárias. Após estudarmos essa taxa de juros basilar, precisamos conhecer quais as possibilidades das taxas de juros presentes no mercado. A primeira que podemos destacar é a taxa de juros livre de risco (risk free), entendida como a taxa que não tem risco, ou seja, o titular desse ativo tem a certeza de sua realização. O exemplo que mais se aproxima desse tipo de taxa são os juros reais pagos por títulos públicos federais (mantendo uma aproximação ainda maior nos casos de ausência de inflação). Já a taxa de juros praticada no mercado, ou seja, aquele valor pago pelo “aluguel” do dinheiro (tomadores versus investidores), irá variar de acordo com alguns fatores. Brigham (2001) apresenta quatro deles: 1. Retorno das oportunidades de investimentos dos tomadores de recursos: quanto mais rentáveis forem as oportunidades de investimento das empresas, mais elas pagarão pelo empréstimo. Empresas com pouca rentabilidade, por sua vez, pagarão menos pelos empréstimos (taxa menor). 2. Preferências temporais de consumo: quanto mais as pessoas consomem, menos haverá poupança disponível na economia; logo, mais difícil será para as empresas captarem recursos, fato esse que eleva as taxas de juros. Contudo, se o volume de poupança no mercado for elevado, haverá maior oferta de dinheiro disponível na economia e uma taxa de juros menor. 8 3. Risco do empréstimo: é o risco de inadimplência do devedor. Quanto maior for a demonstração de incapacidade para arcar com o pagamento dos juros na data pactuada, mais altos serão os juros. 4. Inflação futura: no momento em que a inflação esperada no futuro se eleva, a taxa de juros exigida pelos poupadores também irá aumentar, pois trata- se de uma forma de compensar esse risco de depreciação monetária. Desse modo, podemos concluir que a taxa de juros básica de economia é a taxa mínima que trará retornos inferiores àqueles de ativos que não sejam títulos governamentais. Já a taxa de juros estabelecida livremente pelo mercado é a taxa que levará a retornos variáveis conforme os fatores apresentados, variando também por questões políticas, econômicas, sociais e cambiais. Assaf (2012, p. 353) destaca: O Governo, por seu lado, tem enorme poder sobre a fixação da taxa de juros. As autoridades econômicas controlam certos instrumentos de política monetária que permitem regular os níveis das taxas de juros no mercado, sempre que for julgado recomendável para a economia. 2.2 Inflação Conceituando de maneira isolada, a inflação é a elevação dos preços de bens e serviços em geral, o que ocasiona a degradação do poder aquisitivo da moeda. Justamente por esse motivo que um investidor sempre deve considerar a inflação antes de tomar uma decisão de investimento; é nesse ponto que diferenciamos a taxa de juros real (que considera a inflação em seu cálculo) da taxa de juros nominal. A elevação exacerbada da inflação faz com que o BACEN tenha de realizar uma intervenção por meio do aumento da taxa de juros, diminuindo a disponibilidade de crédito no mercado e, consequentemente, refreando o consumo, o que causa a diminuição da inflação. Assim, o investidor utiliza essa ferramenta de política monetária a seu favor, uma vez que expectativas de aumento nos índices de preços são capazes de antecipar uma elevação nas taxas de juros do mercado e, como consequência, esta será uma opção melhor de investimento (Assaf, 2012, p. 354). 9 2.3 Na prática Imaginemos que João Donald atualmente possua um saldo de R$ 100.000,00 em sua poupança, e resolva aplicar o dinheiro em um investimento com taxa de juros nominal anual de 10%. Consideremos que a inflação nesse mesmo período foi de 11% (medido pelo IPCA). Quanto essa aplicação renderia realmente? Consideremos a seguinte fórmula: 𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑇𝑇𝑅𝑅 𝑑𝑑𝑅𝑅 𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽 = ( 1 + Taxa Nominal 1 + IPCA ) − 1 𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑇𝑇𝑅𝑅 𝑑𝑑𝑅𝑅 𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽𝐽 = �1+0,10 1+0,11 � − 1 => 𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑇𝑇𝑅𝑅 = − 0,00909091 Dessa forma, é possível concluir que a real rentabilidade do investimento naquele ano todo foi, na verdade, negativa (-0,90%), em decorrência da alta inflação daquele período. Mesmo que o valor aplicado ao final tenha totalizado R$ 111.000,00, durante este período de 12 meses a desvalorização do dinheiro (perda do poder compra) nessa mesma época fez, na realidade, o capital diminuir em 0,90%. Por esse motivo, em um momento de baixa taxa de juros e de inflação alta, é possível que pessoas que mantenham seu dinheiro em aplicações ruins, ao invés de ganhar, percam dinheiro. Por mais que, em números, o valor aumente, o poder de compra do investidor pode ser reduzido entre o momento da aplicação dos recursos e a data do recebimento do montante principal acrescido dos juros. TEMA 3 – POLÍTICA FISCAL E POLÍTICA CAMBIAL A política fiscal consiste no conjunto de atos pelos quais o governo arrecada receitas e efetua despesas. Desse modo, ele visa, dentro do orçamento previsto, obter as rendas indispensáveis para a satisfação das despesas públicas e cumprir três funções: a estabilização macroeconômica, a redistribuição de renda e a alocação de recursos. A primeira função busca promover o crescimento econômico que assegure baixo desemprego e estabilidade de preços. Já a segunda objetiva à distribuição igualitária de renda, o que complementaria a estabilidade de preços. Por fim, a alocação de recursos trata do investimento em fornecimento de bens e serviços públicos, equilibrando possíveis falhas do mercado. 10 Para identificarmos se uma política fiscal está sendo executada de maneira efetiva, podemos analisar duas perspectivas diferentes. A primeira é por meio da mensuração da qualidade do gasto público, ou seja, verificar se os valores estão sendo remanejados para as áreas com maior carência de recurso, como mão de obra e matéria-prima. O segundo trata da identificação do impacto dessa política no bem-estar dos cidadãos, ou seja, se o governo, por meio de uma boa gestão financeira, está conseguindo ampliar a qualidade dos serviços essenciais prestados à população. Em relação à identificação da boa gestão dos recursos arrecadados pelo Tesouro Nacional, é possível mensurá-la por intermédio de um indicador de fluxos primário e nominal. Para auxiliar esse entendimento, formulamos o esquema da Figura 1. Figura 1 – Indicadores defluxo primário e nominal 3.1 Política cambial Trata-se da política conduzida pelo BACEN para controlar a relação do preço de nossa moeda com o de moedas estrangeiras. Manter essa relação equilibrada é importante para a gestão da inflação e da dívida pública federal no mercado externo. Quando falamos em equilíbrio, é porque podemos identificar duas situações: 1. Real valorizado (BRL 1,00 = USD 1,00): os brasileiros passam a comprar mais produtos de fora (aumento da importação), em razão da tecnologia nacional não apresentar o mesmo nível dos produtos das grandes potências mundiais. Esse aumento da importação enfraquece o consumo 11 interno e, consequentemente, a indústria nacional, gerando desemprego e diminuindo a arrecadação do governo. 2. Real desvalorizado (BRL 5,00 = USD 1,00): trata-se do popular “o dólar está caro”. Imaginemos um produtor pecuário que venda a arroba do boi para o mercado externo a US$ 100, ou seja, o equivalente a R$ 500,00. Assim, esse mesmo produtor terá de vender para o mercado interno no valor mínimo de R$ 500,00. Portanto, quanto mais desvalorizado o real, mais cara será a carne, do mesmo modo para outros produtos, para nós brasileiros, ou seja, consumidores internos. Outro impacto causado por tal desvalorização está relacionado às dívidas das grandes empresas e do Governo Federal, uma vez que, em sua grande maioria, são precificadas em dólar; logo, quanto mais desvalorizado o real, mais caras as dívidas. Por exemplo, com o dólar a R$ 5,00, uma dívida que seja de 1 milhão de dólares equivalerá a uma dívida de 5 milhões de reais. Todas essas questões geram um aumento da inflação (aumento do preço dos produtos internos), assim como elevação do preço dos impostos (o Governo Federal terá sua dívida externa ampliada, de modo que necessita arrecadar um valor elevado). Assim, notamos que o Banco Central possui uma grande responsabilidade na gestão dessa política, pois não pode deixar o real muito valorizado, tampouco permitir que a moeda nacional fique demasiadamente desvalorizada. Para cumprir esse objetivo, o Brasil adota a política cambial flutuante suja sem banda cambial. E o que isso significa? • Política cambial flutuante: considera a lei da oferta e da demanda, ou seja, o preço irá flutuar de acordo com as demandas do mercado. Assim, se o mercado demandar por mais dólar, o preço dessa moeda aumentará, desvalorizando a moeda nacional. Se os agentes estiverem ofertando mais dólar do que o mercado é capaz de demandar, ocorrerá uma valorização demasiada do real. • Suja: é considerada suja por ocorrer uma intervenção do BACEN. O Brasil não permite que a taxa de câmbio flutue livremente (limpa), de modo que ocorre um controle por parte do governo. Tal gestão acontece pela compra e venda de dólares, sendo esse um dos motivos da existência das reservas internacionais. 12 • Sem banda cambial: a existência de uma banda cambial consiste na fixação, por parte da instituição monetária, de uma faixa na qual o câmbio pode flutuar livremente. O regime adotado pelo nosso país não considera essa faixa livre. TEMA 4 – OFERTA E DEMANDA A lei da oferta e demanda possui grande importância e influência no mercado. Em uma explicação breve, nada mais é do que um grupo de compradores e vendedores de certo produto ou serviço. O grupo de compradores irão determinar a demanda, e o conjunto de vendedores irá precisar a oferta. A importância dessa lei pode ser exemplificada pela influência que a oferta e a demanda têm na determinação das taxas de câmbio (Gitman, 2012, p. 704). Para entendermos melhor, faremos primeiro uma análise, levando em consideração o Ceteris Paribus (“todo o resto é constante”), ou seja, não consideraremos nenhum fator que possa influenciar a teoria. Quando falamos de oferta e demanda, há uma série de fatores que podem intervir no resultado desse estudo. Por esse motivo, ao final desse tema destacaremos alguns deles. 4.1 Lei da demanda A demanda possui relação direta com o consumidor. Em síntese, consiste na quantidade que os consumidores estão dispostos a comprar de determinado bem ou serviço. Essa teoria afirma que quanto menores os preços dos produtos, maior é o número de pessoas interessadas em adquiri-lo, do mesmo modo que preços elevados diminuem a procura pelo produto. É por esse motivo que a curva de procura e demanda é decrescente. Observe o Gráfico 1. Gráfico 1 – Lei da demanda R$0,00 R$20,00 R$40,00 R$60,00 R$80,00 R$100,00 R$120,00 QUANTIDADE: 05 peças 10 peças 15 peças 20 peças Vestido marca XXZ 13 Nesse gráfico, há, na linha horizontal, a quantidade de produtos, e, na faixa vertical, o valor deles. É possível perceber que quanto mais barato o vestido XXZ, mais procurado ele é, ou seja, maior é a quantidade comprada. De modo que se o vestido custasse R$ 100,00, haveria apenas uma demanda por 5 peças; caso o valor caísse para R$ 80,00, teríamos então uma demanda maior, de 10 peças, e assim por diante. Isso mostra que, nesse mercado – sem levar em consideração qualquer outro fator além do preço –, conforme o valor do produto, diminui ou aumenta a quantidade de consumidores. Outra constatação é que se o vestido custasse R$ 40,00, aumentaria demasiadamente a demanda, ocasionando um excesso de demanda. 4.2 Lei da oferta Na lei da oferta, a relação é direta com o vendedor, uma vez que, quanto mais elevado o preço do produto, maior será o esforço dos vendedores em comercializar quantidades maiores, assim, haverá uma curva crescente, que está representada no Gráfico 2. Gráfico 2 – Lei da oferta Assim, o vendedor do vestido XXZ, visando ao aumento de seus lucros, quanto maior for o preço, mais elevada será a quantidade que ele buscará vender. Portanto, vendendo 5 peças a R$ 40,00, ele obterá um lucro de R$ 200,00; vendendo 10 peças a R$ 60,00, o lucro será de R$ 600,00, e assim por diante. Entretanto, ao realizar a venda de 20 peças custando R$ 100,00, com lucro de R$ 2.000,00 estaremos diante de um excesso de oferta. Desse modo, quanto maior o preço do produto, mais disposto o vendedor estará em produzir mais. R$0,00 R$20,00 R$40,00 R$60,00 R$80,00 R$100,00 R$120,00 05 peças 10 peças 15 peças 20 peças Vestido XXZ 14 4.3 Equilíbrio Nesse momento, vamos considerar as duas teorias em conjunto. Suponhamos que a loja “A” esteja vendendo o vestido XXZ pelo preço de R$ 40,00, e a loja “B” vende a mesma peça por R$ 100,00. • Loja A: em razão do baixo preço, produziu poucas peças; entretanto, o baixo valor da peça fez com que a procura fosse muito grande; assim, não sobrou nenhuma peça, ou seja: houve baixa oferta e alta demanda. • Loja B: o alto valor fez com que a loja produzisse muitas peças, porém, o alto preço não atraiu compradores. Desse modo, o estoque está cheio, isto é: há alta oferta, mas baixa demanda. Assim, o mercado precisa encontrar uma forma de equilibrar essas relações, para que não haja falta de produtos e tampouco sobra demasiada. E como resolver esse problema? No caso da loja “A”, há necessidade de aumentar o preço do vestido, de modo a diminuir a demanda demasiada (procura pelo produto) e aumentar a oferta por parte do vendedor (produção de uma quantidade maior de peças). Quanto à loja “B”, há a necessidade de reduzir o valor do produto, gerando a diminuição da oferta (produção de uma quantidade menor de peças), e aumento da demanda (com o preço mais baixo, a procura pelo produto será maior). Gráfico 3 – Oferta e demanda Dessa maneira, por meio da intersecção presente nesse gráfico, é possível identificar que o equilíbrio está na venda do produto pelo valor de R$ 70,00, de modo que não haverá oferta elevada tampouco demanda acentuada. R$0,00 R$20,00 R$40,00 R$60,00 R$80,00 R$100,00 R$120,00 05 peças 10 peças 15 peças 20 peças LOJA A LOJAB 15 4.4 Outros fatores relevantes Além do preço, há diversas outras variáveis que podem influenciar os gráficos elaborados acima. Neste subtema iremos destacar algumas variáveis que entendemos serem mais importantes. Em relação à demanda, podemos destacar, em primeiro lugar, a renda: se a população tem um aumento em sua renda, e tem interesse em gastar, consequentemente haverá um aumento da demanda, dada a elevação do nível de consumo. Outro ponto que podemos citar é o preço dos bens relacionados: supondo que um indivíduo possua uma loja de brigadeiro de chocolate com granulado, se houver aumento do preço do granulado, automaticamente o brigadeiro, como um todo, também sofrerá esse aumento; assim, a demanda de um, influencia o outro. Os gostos também podem gerar alteração nos gráficos: imaginemos que grande parte da população consuma manteiga: entretanto, começa a haver a disseminação de notícias na internet destacando que tal alimento faz mal à saúde, e que a margarina seria mais benéfica; logo, a demanda de manteiga irá diminuir. A expectativa é outro fator importante. Para facilitar o entendimento, imaginemos que há uma greve de caminhoneiros prestes a iniciar, sendo certo que haverá falta de gasolina nas bombas durante esse período. Dessa forma, grande parte da população irá correr para os postos de gasolina, aumentando excessivamente a demanda. Por fim, o número de compradores é outro fator que pode influir na demanda: consideremos que, durante o segundo semestre de 2021, o aumento da taxa de natalidade foi de 50%; assim, também podemos esperar a ampliação da demanda por produtos relacionados a recém- nascidos. Quanto aos fatores relacionados à oferta, mencionaremos os três que entendemos como mais importantes. O preço dos insumos: imaginando o mesmo exemplo do brigadeiro, se o preço do leite condensado subir, consequentemente, o preço do brigadeiro também irá aumentar. A tecnologia: podemos mencionar o caso de uma empresa de sapatos que adquiriu uma máquina de produção mais eficiente, gerando uma produção diária maior de sapatos, aumentando a oferta, portanto. O número de produtores também é um elemento fundamental, pois a oferta no mercado aumenta ou diminui conforme o número de vendedores fornecendo o produto em um dado ramo. 16 4.5 Na prática Leitura obrigatória Leia a reportagem intitulada “Aumento nos preços se espalha por vários setores da economia mesmo com a população comprando menos”, publicada pelo G1 em 12 de outubro de 2021. Ela divulga o aumento dos preços em diversos setores da economia, mesmo com a diminuição do consumo. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/10/12/aumento-nos-precos-se- espalha-por-varios-setores-da-economia-mesmo-com-a-populacao-comprando- menos.ghtml>. Acesso em: 18 fev. 2022. É possível perceber que o aumento dos preços não teve nenhuma relação com o aumento da demanda, mas pela influência de diversos outros fatores. O primeiro deles é o custo de produção, que se tornou mais elevado. A explicação elaborada pelo economista José Roberto Mendonça é que, durante a pandemia, com o fechamento das fábricas, a produção veio a zero; quando o consumo voltou, a demanda cresceu demasiadamente, se distanciado muito da oferta e desarranjando todo o mercado. Nesse momento, regularizar a situação se torna algo mais difícil (lei da oferta e demanda). Um segundo fator importante é a desvantagem na hora de realizar negócios em razão da desvalorização da moeda nacional, além do fato de que os países estrangeiros retomaram a economia de forma mais acelerada (política cambial). Por fim, mesmo o baixo consumo da população durante o período de pandemia, muito por conta do isolamento social, não foi suficiente para inibir o aumento da inflação. Ainda assim, buscando uma melhora nesse ponto, o governo realizou o aumento da taxa básica de juros (inflação e taxa de juros). TEMA 5 – INDICADORES ECONÔMICOS Estudamos, anteriormente, alguns indicadores econômicos fundamentais para o mercado e para a economia. Nesse último tema, iremos complementar esses indicadores principais, de modo a ampliar nossa visão sobre o tema, para que possamos entender o assunto como um todo. 17 5.1 Produto Interno Bruto (PIB) O PIB consiste na soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país durante determinado período. Em síntese, o PIB mede a riqueza de uma nação. Sua medição pode ser feita em real ou dólar; normalmente, irá considerar o período de um ano. É importante frisar que o PIB não vai considerar a produção de bens e serviços intermediários, a fim de evitar que o mesmo produto seja calculado duas vezes. Por exemplo, no caso da produção de um pão de forma, a farinha de trigo utilizada não será contabilizada para fins de cálculo do PIB, pois este apenas leva em consideração os serviços e produtos finais. Aqui destacamos o chamado PIB agregado, que apenas refletirá o valor agregado, desconsiderando o que for gasto com insumos. Supondo que uma indústria tem, por unidade de produto um custo de R$ 1.000,00, e o vende por R$ 1.800,00, será considerado como contribuição para o PIB o valor de R$ 800,00 por produto vendido. Além do PIB agregado, há também o PIB nominal (bens e serviços finais, mas sem considerar o desconto da inflação), e o PIB real (que somente considera eventual evolução após a realização do desconto da inflação no cálculo do indicador). O cálculo do PIB considera a seguinte equação: • C: consumo (bens duráveis, não duráveis e serviços); • I: investimentos (na cadeia produtiva, em empresas, variação de estoque); • G: gastos do Governo; • NX: exportações líquidas (exportações – importações). 5.2 Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) O IPCA é o índice responsável pelo acompanhamento das metas estabelecidas pelo sistema de inflação. Em resumo, é o índice oficial de inflação do Brasil. Ele é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e trata-se de índice verificado mensalmente, com período de coleta entre o 1º e o 30º dia do mês de referência. Seu objetivo é a população que aufere rendimentos mensais entre 1 e 40 salários-mínimos, residente nas seguintes PIB = C + I + G + NX 18 áreas urbanas: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Distrito Federal e Goiânia. O IPCA é utilizado como referência para a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional. O IBGE pesquisa, todos os meses, os preços de alimentos, transporte, comunicação, despesas pessoas, entre outros, e chega a uma média ponderada. Quanto maior a variação positiva do IPCA no período, menor será o poder de compra do brasileiro e, consequentemente, mais elevada será a inflação. 5.3 Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) O IGP-M é um índice calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), visando atender necessidades privadas, ou seja, é um indicador independente e sem relação com o Estado. Ele irá abranger todos os setores da economia, como o atacado e a construção civil. Desse modo, podemos entender que o IPCA é a forma de o governo calcular a inflação; o IGP-M tem a mesma função, porém é o método usado pela iniciativa privada. Quadro 2 – Índices e médias ponderadas para cálculo do IGP-M 60% de IPA Índice de Preços no Atacado 30% de IPC Índice de Preços ao Consumidor 10% de INCC Índice Nacional de Custo de Construção O prazo de coleta do IGP-M é diferente do IPCA. Ele é realizado entre o dia 21 do mês anterior ao de referência, ao dia 20 do mês de referência. 19 REFERÊNCIAS ASSAF, A. N. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico- financeiro. São Paulo: Atlas, 2012. AUMENTO nos preços se espalha por vários setores da economia mesmo com a população comprando menos. G1,12 out. 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/10/12/aumento-nos-precos-se- espalha-por-varios-setores-da-economia-mesmo-com-a-populacao-comprando- menos.ghtml>. Acesso em: 18 fev. 2022. BRIGHAM, E. F.; GAPENSKI, L. C.; EHRHARDT, M. C. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2001. FGV – Fundação Getulio Vargas. IGP-M: resultados 2021. 4 jan. 2021. Disponível em: <https://portal.fgv.br/noticias/igp-m-resultados-2021>. Acesso em: 18 fev. 2022. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2010. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Painel de indicadores, 2022. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/indicadores#ipca>. Acesso em: 18 fev. 2022. AULA 3 ANÁLISE DE CENÁRIOS FINANCEIROS Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo à essa aula. Como já vimos, o planejamento de cenários consiste na elaboração de um plano de ação (construção de estratégias), considerando todos os aspectos possíveis dentro do mercado. Desse modo, o objetivo é construir um método capaz de produzir resultados em diferentes situações mercadológicas. Também estudamos as questões econômicas que podem afetar a participação de uma instituição no mercado, enfatizando pontos de atenção da empresa durante a sua atuação, para o aproveitamento das oportunidades. Nesta aula, vamos estudar outros pontos capazes de influir no mercado. As empresas deverão se atentar aos temas em pauta, mantendo um certo grau de flexibilidade, para que alcancem todos os seus objetivos, independentemente das alterações no mercado. Dentre os temas em debate, destaque para fatores tecnológicos (desenvolvimento de novas tecnologias, considerando a rapidez com que o mundo vem se automatizando); fatores legais (a forma como o estabelecimento de normas e leis pode afetar uma empresa); fatores políticos (a adoção de determinadas medidas pelo governo pode influenciar as empresas, positiva ou negativamente); e, por fim, fatores sociais (às vezes, a evolução social faz com que algo antes considerado errado torne-se um fato comum/cotidiano, um costume, cabendo às empresas se adaptarem para apoiar as novas causas sociais). Desse modo, ao final desta aula você será capaz de compreender todos os indicadores que de alguma forma influenciam não apenas o mercado, mas também as decisões estratégicas adotadas pelas empresas, devendo considerar tanto os aspectos tecnológicos e ambientais, como os aspectos políticos, sociais e legais. Podemos agrupar os temas em dois grupos: os dois primeiros apresentam certa relação (ambiente e tecnologia); assim como os três últimos (sociedade, política e legalidade). TEMA 1 – INDICADORES AMBIENTAIS À medida que os anos passam, aumentam as incertezas em quase todas as áreas do conhecimento (Buarque, 2003). O meio ambiente é o setor em que essa situação é mais preocupante. Por esse motivo, as empresas e os governos ao redor do mundo têm dado maior importância a essa área quando elaboram o 3 seu planejamento estratégico, destacando as possibilidades de futuros e as decisões que serão tomadas em relação a esses acontecimentos. Quando o assunto é meio ambiente, não podemos elaborar cenários para eliminar incertezas e variáveis. Entretanto, é possível, com base em projeções futuras, diminuir o impacto que os eventos podem acarretar à sociedade como um todo. Assim, a análise ambiental visa promover uma antecipação, ou seja, antever condições de futuro que são fundamentais para que os objetivos sejam atingidos (Buarque, 2008). Uma empresa, quando elabora uma análise ambiental, obtém uma série de benefícios, não apenas para os negócios, mas para a sociedade como um todo. Essa análise pode ser desenvolvida em diversas situações. • Lançamento de um novo produto ou serviço: a instituição, quando lança um novo produto no mercado, deve analisar todos os possíveis impactos. Isso porque, a depender dos efeitos, podem surgir problemas que coloquem a empresa em risco, acarretando um impacto que depois não poderá ser amenizado. Suponha que uma instituição, por conta da elaboração de um novo projeto, feito sem planejamento, causa um dano ao meio ambiente: além de ser a pioneira de um prejuízo ambiental, considerando todos os danos causados, essa situação também cria uma imagem negativa para o negócio, impactando diretamente as finanças da empresa. • Abertura de uma nova filial: no momento em que uma instituição abre uma nova filial, além de todos os estudos de viabilidade financeira, legal, econômica e social, também deve observar os fatores ambientais que permeiam a inovação, como impactos hídricos, territoriais, geológicos e topográficos. • Planejamento de ações (aplicação de recursos): uma empresa, quando programa suas atividades futuras, deve considerar a possibilidade de investimentos em políticas de sustentabilidade. Atualmente, muitas empresas têm direcionado o seu foco para a promoção do desenvolvimento sustentável, colocando esse objetivo entre as suas missões. Por exemplo, as atitudes de bancos, além de diversos projetos que são lançados em conjunto. Tais instituições mudaram, de forma radical, a sua forma de trabalhar: retirada de envelopes de depósito, com máquinas modernas; validação de abertura de contas e outros contratos, com a assinatura digital (economia 4 extrema de folhas); produção de folhas de cheque em papel reciclável; além da adoção de projetos como o medidor de consumo de papel. Crédito: monticellllo/Adobe Stock. A valorização do meio ambiente no âmbito corporativo é um aspecto que compõe a responsabilidade social de uma empresa. Trata-se de um dos principais fundamentos sociais de toda a instituição (como veremos mais adiante). Em síntese, a adoção dessas medidas tem como consequência melhores condições e benefícios para os stakeholders (abrange a sociedade em geral, assim como acionistas, credores, fornecedores, clientes e até mesmo o governo), trabalhando de maneira efetiva o viés ético da empresa, que muitas vezes é deixado de lado, afinal, o foco principal das empresas é alavancar a esfera econômica e concorrencial. Conforme destaca Assaf Neto (2014, p. 41), “A responsabilidade social defende o objetivo de maximização do lucro até o limite que isso não destrua o meio ambiente, promova exploração do trabalho, pratique atos imorais de corrupção etc.”. Em nosso país, temos dois exemplos negativos a respeito do assunto: Mariana e Brumadinho. Esses acidentes causaram prejuízos extensos e permanentes ao meio ambiente, como no caso de Mariana, em que uma grande camada de lama atingiu toda a vegetação, criando uma espécie de cimento sobre a terra, que impede o desenvolvimento de vegetação. O prejuízo à vida marinha na região também foi incalculável. O ocorrido também impactou as vidas dos trabalhadores e moradores da região, além de todas as empresas envolvidas – 5 além do prejuízo milionário, com processos judiciais ambientais e trabalhistas, as empresas levam consigo uma imagem negativa. Tais prejuízos poderiam ser evitados se, dentro de seus planos estratégicos, as empresas tivessem considerado os aspectos ambientais pertinentes à atividade, que no caso dessas empresas são de extrema importância, uma vez que elas impactam uma vasta porção do bioma da região. TEMA 2 – INDICADORES TECNOLÓGICOS Dentre todos os setores da economia, a tecnologia é o que mais evolui, tanto por sua essencialidade quanto pela relação de dependência criada com os consumidores atuais. Pesquisas apontam que, nos últimos dez anos, o mundo passou por uma evolução tecnológica superior a dos últimos cinquenta anos, o que evidencia a evolução acelerada de nossos tempos.Por exemplo, no início de 2008, nossos aparelhos celulares eram utilizados apenas para fazer ligações, mandar SMS e talvez usar uma calculadora. Quem imaginaria que hoje já temos em mãos um aparelho capaz de nos conectar com todo o mundo, incluindo serviços de pagamento de contas, depósito de cheques e documentos de identidade? Isso demonstra que a tecnologia não é foco apenas das empresas privadas, mas sim do governo como um todo, que a cada dia desenvolve novos aplicativos para facilitar a vida do usuário. Não há dúvidas de que, juntamente com a sustentabilidade, as transformações tecnológicas são os indicadores do momento. As empresas que não estão atualizadas sobre esses assuntos acabam ficando para trás. Porém, diferentemente da sustentabilidade, o investimento na área tecnológica às vezes traz um benefício financeiro direto para a empresa. Assim como o investimento em tecnologia da informação, a construção de uma base de dados sólida ajuda no desenvolvimento de um perfil de consumo dos indivíduos, considerando os comportamentos de consumo e verificando a necessidade ou não de aquisição de um produto ou serviço. Ou seja, a empresa que adota uma política de big data com certeza desenvolverá negócios rentáveis. Além disso, o investimento em tecnologia, atualmente, é sinônimo de velocidade e qualidade de venda, facilitando a produção e elevando o volume de vendas. Esse ponto caminha em consonância com a evolução social no acesso às informações, pois o consumidor moderno é capaz de demandar novas exigências. Em síntese, a evolução tecnológica também tornou o cliente mais 6 exigente, de modo que as empresas devem estar à frente dessa evolução, sempre inovadoras, surpreendendo os compradores. O que as empresas podem fazer para estar à frente da evolução? Principalmente através da criação de diferentes cenários. Toda evolução tecnológica nasce de uma pesquisa e de uma dor que a sociedade enfrenta, que precisa ser sanada. Considere o e-commerce, processo de compra, venda e troca de produtos e prestação de serviços por meio da internet (computadores ou aplicativos). Até o início de 2019, a utilização de um canal de e-commerce era apenas uma opção para as empresas. A maioria delas optava por não utilizar essa forma de venda, pois acreditava que o investimento em um canal de vendas diferenciado não traria rentabilidade positiva. Entretanto, em março de 2019, com a proliferação do COVID-19 e a adoção de medidas restritivas por parte do governo, o e-commerce passou de última para primeira opção. Desse modo, as empresas que já tinham uma boa estrutura, mesmo que primária, para a realização de vendas online, saíram na frente, e consequentemente tiveram prejuízos menores em relação às outras. Além disso, as restrições impostas pela pandemia não foram suficientes para desacelerar o mercado de startups no Brasil, que já estava em alta, em grande parte pela desnecessidade de espaços físicos e pela possibilidade de alto desenvolvimento em um curto espaço de tempo. Por fim, vamos tratar de um assunto atual que tem movimentado o mercado de grandes empresas, artistas e jogadores: as NFTs, Sigla em inglês para token não fungível. A expressão token é velha conhecida do mundo da tecnologia. Desde 2008, com a BTC, temos o token representativo de dinheiro, registrado em um blockchain. Porém, o mundo vem se expandido cada vez mais, de modo que o token não representa apenas moedas, mas também propriedades ou obras de arte. Assim, a NFT é uma representação de um item exclusivo, como músicas, obras de artes e itens de jogos que não podem ser substituídos (são únicos dentro do mercado). A aquisição de uma NFT funciona como um certificado digital de propriedade. Outras pessoas até podem ter uma cópia da obra, mas apenas o detentor do certificado tem a obra original. Empresas como Adidas e Nike, que já sondam há tempos o mercado do metaverso, resolveram sair na frente e lançar as suas NFTs. Não foi uma decisão fácil e com certeza foram realizados diversos estudos, com diferentes projeções de cenários, uma vez que se trata de uma tecnologia 100% nova, de modo que 7 não há como ter certeza dos seus resultados, muito menos de sua aceitação no mercado. De início, o projeto de NFT da Adidas provou ser um sucesso, com a arrecadação de US$ 22 milhões com a venda de NFTs. Com certeza, outros grandes players do mercado, incentivados por essas empresas, vão buscar o seu espaço no metaverso, para não perder a sua “fatia do bolo” nos próximos anos. Crédito: concept w/Adobe Stock. Saiba mais BÚSSOLA. Mercado de startups ignora a pandemia e cresce no Brasil em 2021. Exame, 10 dez. 2021. Disponível em: <https://exame.com/bussola/mercado-de-startups-ignora-a-pandemia-e-cresce- no-brasil-em-2021/>. Acesso em: 25 mar. 2022. O QUE SÃO NFTs? Entenda como funcionam os tokens não fungíveis. InfoMoney, 2022. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/guias/nft- token-nao-fungivel/>. Acesso em: 25 mar. 2022. TEMA 3 – INDICADORES SOCIAIS Para trabalhar com indicadores sociais, devemos primeiramente diferenciá- los dos indicadores políticos. Afinal, é comum que as mídias sociais confundam os dois conceitos. Ambas as definições estão interligadas, no entanto o indicador social é o resultado do indicador político. Imagine que o governo atual elabora um projeto político que foi aprovado em todos os órgãos. Esse projeto começa a surtir 8 efeito positivo dentro da área da educação. Tal resultado refere-se a um indicador social. A realização de uma análise social é extremamente importante, pois ajuda a identificar o quanto determinado país pode se desenvolver. Justamente por essa razão, as multinacionais, quando decidem investir em nosso país, não realizam apenas uma prospecção econômica, mas também uma averiguação social, observando alguns pontos fundamentais, para que assim seja possível desenvolver um plano estratégico de atuação. Dentre os temas observados, temos: expectativa de vida média da população; taxa de mortalidade (adulta e infantil); taxa de pessoas analfabetas; renda nacional bruta per capita; qualidade da saúde; taxa de acesso a condições sanitárias mínimas (como esgoto e água tratada); entre outros aspectos importantes que as empresas, dependendo do ramo de atuação. Em síntese, diversos fatores sociais são observados pelas instituições no momento de planejar um cenário, pois grande parte desses indicadores repercutem diretamente em questões econômicas. Os indicadores sociais têm ganhado tanto destaque que as empresas vêm adotando políticas sociais internamente, pois são muito valorizadas pelo mercado como um todo. A responsabilidade social, em conjunto com a governança corporativa e a transparência, estão entre os novos fatores de competitividade, tornando-se diferenciais para a criação de valor da empresa no mercado. Além do benefício na área de planejamento estratégico, a responsabilidade social também resulta em outros retornos para a empresa, como: facilidade no acesso ao crédito, com taxas de juros mais interessantes; melhor imagem perante os consumidores e o mercado (uma opção de valorização de imagem para além do marketing); atração de novos investidores (atualmente, o foco dos investidores recai em empresas transparentes e participativas em causas e projetos sociais, pois elas melhoram a sua posição no atual mercado competitivo); maior retenção e atração de talentos. Um exemplo é a atuação do banco Bradesco, uma das principais instituições financeiras do país, na área da educação, através de sua fundação, que proporciona, a famílias de baixa renda, a garantia de ensino, desde a educação infantil até o ensino médio, abrangendo também a educação financeira. Trata-se de uma atitude que gera efeitos diretos na taxa de analfabetismo do país. 9 Crédito: buffaloboy/Shutterstock.Desse modo, a instituição, quando decide realizar um planejamento estratégico, principalmente de longo prazo, deve observar os aspectos sociais que permeiam a atividade. • Adoção de projetos sociais, que trazem benefícios diretos à sociedade, assim como à empresa, em razão do marketing positivo. • Observar, dentro de sua área de atuação, os possíveis impactos sociais negativos que podem ser gerados, buscando eliminá-los ou reduzi-los. Além disso, é importante aproveitar as oportunidades do mercado. Isso só pode ser feito através de uma análise profunda dos cenários. É importante apontar que um estudo prévio de impacto social pode ajudar a empresa a antever possíveis volatilidades econômicas, auxiliando em um planejamento mais efetivo, por meio da elaboração de um número maior de cenários/opções, o que amplia o alcance dos resultados. TEMA 4 – INDICADORES LEGAIS E POLÍTICOS No sistema legislativo brasileiro, há uma série de espécies normativas cujo intuito é regulamentar os mais diversos temas da sociedade, delimitando uma forma de funcionamento do Estado. Por conta da importância desses atos regulamentares, o seu desenvolvimento não é simples. Sendo assim, surge a necessidade de passar pelo chamado processo legislativo. Quais seriam essas espécies normativas? E quais seriam as suas formas de elaboração? • Emenda Constitucional: única forma de alterar a Constituição. Entretanto, não pode ser utilizada para qualquer norma, uma vez que as chamadas Cláusulas Pétras (presentes no art. 60, parágrafo 4º da CF/88) não podem ser modificadas. Sendo assim, as emendas constitucionais são 10 responsáveis por alterar os ditames constitucionais, ou seja, as bases da lei de uma determinada matéria. Por esse motivo, devem partir de uma Proposta de Emenda Constitucional – PEC, com previsão no art. 60 da CF/88, podendo ser proposta por 1/3, no mínimo, de membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; pelo Presidente da República; ou por mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação (maioria de cada uma das casas). • O quórum de aprovação também é mais burocrático, com a necessidade de dois turnos de votação, caso no primeiro turno não seja alcançada a quantidade de 3/5 dos votos da casa. Em seguida, a proposta é encaminhada para a casa revisora, onde passará por dois turnos de votação. Então, se aprovada, poderá ser promulgada e publicada. • Lei Complementar: espécie normativa responsável pela regulamentação de um preceito previsto pela Constituição Federal. Ou seja, a sua elaboração é necessária quando a CF/88 expressamente prevê a necessidade de normatizar determinada matéria por Lei. Trata-se de tipo normativo abaixo da Constituição Federal. O conteúdo normatizado pela Lei Complementar pode ser alterado apenas por legislação da mesma espécie (também complementar). Exemplo: Lei Complementar n. 179, de 24 de fevereiro de 2021, que dispõe sobre os objetivos do Banco Central do Brasil. • Lei Ordinária: trata-se do ato normativo mais comum no mundo jurídico, responsável por editar normas gerais e abstratas de diferentes assuntos. Pode tratar de qualquer assunto, salvo aqueles próprios de uma Lei Complementar, ou internos do Congresso Nacional (como formas de funcionamento e regras administrativas, aspectos regulados por decretos e resoluções). Exemplo: Código de Processo Civil, Lei n. 13.105/2015. Quadro 1 – Leis Itens LEI ORDINÁRIA LEI COMPLEMENTAR Quórum de votação Maioria simples/relativa Maioria absoluta Quanto a Matéria Residual: todas que não pertençam exclusivamente a LC, DL e resolução Quando expressa a necessidade em norma da CF Previsão Art. 47 da CF Art. 69 da CF 11 Vejamos a diferença entre maioria simples e maioria absoluta. A maioria absoluta considera apenas os votos favoráveis da maioria + 1, independentemente do número de congressistas presentes. Ou seja, a Câmara tem 513 deputados. Se estiverem presentes apenas 257, todos terão que votar a favor para que o suposto projeto seja aprovado. Se apenas um deputado votar contra, o projeto será arquivado. Agora, no caso da maioria simples, para que haja aprovação, existe a necessidade de maioria dos votos favoráveis dos parlamentares presentes na sessão, desde que compareça a maioria absoluta de seus membros, ou seja, mais do que a metade (257). Havendo número inferior, a votação não poderá ser iniciada. Exemplo: em uma sessão em que compareçam 300 membros, 151 votos devem ser favoráveis para a aprovação. • Lei Delegada: Messa (2018) afirma tratar-se de uma espécie de norma produzida pelo Presidente da República, mas com o aval do Congresso Nacional. Consiste em um ato normativo primário. Assim, não podemos dizer que o presidente pode criar leis, pois assim estaríamos desrespeitando a repartição dos poderes, atribuindo uma função legislativa ao poder executivo. Por esse motivo, surge a necessidade de aval do congresso, que irá inclusive delimitar a matéria que pode ser tratada. • Medida Provisória: trata-se de uma outra forma a partir da qual o Presidente da República pode legislar. Consiste em um instrumento “com força de lei”. O Chefe do Poder Executivo Federal poderá utilizá-lo em casos de relevância e urgência. Essa medida será convertida em lei apenas após a aprovação do Congresso (tácita ou expressa). Previsão no art. 62 da Constituição Federal. • Decretos Legislativos: matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, dispensando a necessidade de sanção ou veto do executivo. Todo procedimento para a sua realização está previsto em regimento interno, com quórum de aprovação de maioria simples. • Resolução: estabelece Massa (2018) que esse tipo normativo tem o intuito de veicular matérias de competência própria da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional (matérias que não foram objeto de decreto legislativo). Como vimos anteriormente, cada espécie normativa tem uma forma própria de elaboração. Por esse motivo, não descrevemos em detalhes cada um dos 12 processos de elaboração. As únicas que ainda apresentam certa semelhança são as Leis Ordinárias e Complementares. Qualquer um dos tipos normativos pode, a qualquer momento, afetar o andamento de um cenário de mercado político, financeiro, ambiental, social, tecnológico, entre outras áreas diversas. Entre os exemplos atuais, podemos citar as reformas da previdência e tributária, que geram efeitos diretos na vida da sociedade, principalmente na vida das empresas. Não são apenas as legislações federais que causam esse impacto, pois as normais estaduais, muitas vezes, interferem ainda mais nesses cenários. Por essa razão, quando uma instituição resolve elaborar um plano de cenários, é fundamental analisar o andamento dos projetos de leis em tramitação no Congresso Nacional, seja na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal. Muitas vezes, uma estratégia pode ser totalmente inutilizada em razão da aprovação de determinada norma. Assim, se conhecemos o trâmite do respectivo projeto, podemos planejar uma segunda via de atuação. Crédito: Billion Photos/Shutterstock. O estudo dos indicadores políticos dentro de uma análise estratégica é fundamental, pois está diretamente relacionado com questões sociais e legais. Assim como todos os outros indicadores, este não afeta apenas as empresas nacionais, mas também as multinacionais. Assim, trata-se este de um ponto importante a ser observado pelas empresas que buscam implementar negócios em território nacional. A observância deste fator é conhecida como risco político. 13 Gitman (2010) afirma que esse risco corresponde à possibilidade de implementação, por parte do governo nacional, de regras e normas específicas (risco legal) capazes de acarretar descontinuidade ou expropriação das operações de multinacionais. Isso podeocorrer através de medidas que buscam a nacionalização, a desapropriação e o confisco (apropriação de ativos sem pagamento de indenização ou com indenização em valor irrisório), ou ainda por meio de atitudes que inviabilizam a operação. • Risco macro: consiste no risco responsável por mudanças políticas, inovações políticas e revoluções que afetam as empresas estrangeiras. Ou seja, nenhuma empresa recebe tratamento diferenciado, de modo que a perda dos ativos ocorre uma única vez. Exemplo: implantação do regime comunista na China, em 1949. • Risco micro: gerado ligado a alterações políticas que afetam determinadas empresas – uma única empresa, ou ainda determinadas instituições que atuam em um determinado setor da economia. • Risco global: terceira vertente, criada nos últimos anos, ligada a eventos globais que afetam as operações de diversas empresas multinacionais em todo mundo, como terrorismo, movimentos e manifestações antiglobalização, hackers, pobreza, aids e meio ambiente. Por essa razão, as empresas multinacionais têm adotado diversos instrumentos preliminares, de modo a obter dados históricos para a análise da probabilidade de desestabilização política de um país, considerando ainda os efeitos dessas alterações. Gitman (2010) também apresenta abordagens que podem ser adotadas por essas empresas. A primeira delas é a abordagem positiva, que consiste em atos de negociação prévia de contratos, com a utilização de executivos locais, pontos de varejo e compras locais. Já a segunda é a abordagem negativa, comumente utilizada por empresas dos ramos de petróleo, gás natural e mineração. Consiste em atividade como: licenças ou restrições de patentes, regidas por acordos internacionais; controle de matérias-primas externas; controle de transporte para o mercado externo. Por fim, existem as abordagens externas, como seguros internacionais ou a garantia de investimento, considerando ainda a realização de financiamento local. 14 TEMA 5 – MISSÃO, VISÃO E NEGÓCIO Por fim, destacamos um assunto importante, que toda empresa deve considerar: missão, visão e negócio da instituição. Esses quesitos apresentam o motivo pelo qual a empresa foi criada, bem como os objetivos que estão sendo buscados, sendo fundamentais para a realização do planejamento estratégico. A missão consiste na razão de ser da organização, ou seja, por qual motivo a instituição existe e qual deve ser o papel da empresa perante a sociedade. Busca responder a seguinte pergunta: por que a sociedade precisa dessa organização? Todo negócio, quando criado, visa solucionar uma dor presente na sociedade. A partir do momento que temos essa delimitação, surge a missão da empresa. Além de propriamente definir esse objetivo, o conceito de missão resulta em outros benefícios: auxilia na motivação de membros e colaboradores do negócio para o atingimento de metas individuais e departamentais, uma vez que, a partir do momento em que conhecem os benefícios que as empresas oferecem à sociedade, eleva-se o seu grau de estímulo; define as principais necessidades a serem atendidas pela empresa. Trata-se de um instrumento bem estável e genérico, que não se altera com o tempo. Chiavenato e Sapiro (2003) destacam que o intuito da missão é clarificar os objetivos, os valores e as estratégias adotadas pela organização. Os autores afirmam que é fundamental que todos os participantes conheçam a real missão do negócio, pois a partir desse momento podem lograr êxito em seguir o melhor caminho. Ou seja, uma pessoa que participa de uma empresa, mas que não conhece o motivo de sua existência, dificilmente tomará as melhores decisões. No que tange à visão, podemos afirmar que se trata de um objetivo macro, ou seja, refere-se ao destino desejado pela empresa. Esse instrumento responde à seguinte pergunta: Onde a empresa se vê em 10 anos? A empresa não vai estabelecer valores que deseja alcançar, ou números, mas sim um objetivo geral. A visão de futuro detecta sinais de mudança, verificando a existência de oportunidades e ameaças, de modo a direcionar os esforços para o seu aproveitamento, transformando o propósito em ação. Já o negócio apresenta um viés mais conjuntural do que a missão – ou seja, define o que fazer naquele instante. Sendo assim, estabelece o objetivo imediato da empresa. Podemos exemplificar da seguinte maneira: a produtora e 15 a concessionária de veículos TFM tem como missão o oferecimento de uma alternativa de transporte. Entretanto, o seu negócio é a venda de veículos. Assim, quando a empresa define o negócio, auxilia diretamente no estabelecimento de estratégias, processo que está ligado às necessidades dos clientes, a partir das seguintes perguntas: Por que motivo o cliente escolhe a nossa empresa? Que benefícios oferecemos? A definição de negócio, doutrinariamente, também é uma forma de delimitar a área de competência da empresa. Vamos supor que a sociedade empresarial TFM, produtora e comercializadora de veículos, foi recentemente criada. Buscando a realização de um planejamento estratégico, ela define preliminarmente a Missão, a Visão e os Valores. Quadro 2 – Empresa TFM TFM Missão Tornar acessível ao máximo de pessoas a utilização de um transporte seguro. Visão Tornar-se número 1 na América Latina em venda de veículos populares. Negócio Aumentar o número de veículos vendidos anualmente. 16 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. _____. Metodologia e técnicas de construção de cenários globais e regionais. IPEA Texto para Discussão, Brasília, n. 939, fev. 2003. CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. MESSA, A. F. Direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2018. AULA 4 ANÁLISE DE CENÁRIOS FINANCEIROS Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 INTRODUÇÃO Caros alunos, seja muito bem-vindo à aula da nossa temática de “análise de cenários”. Como visto anteriormente, o planejamento de cenários consiste na elaboração de um plano de ação, através da construção de estratégias que consideram todos as possibilidades do mercado. Por esse motivo, anteriormente verificamos todos os métodos que auxiliam na produção deste plano. Em outro momento, analisamos todos as questões econômicas que podem abalar a participação de uma instituição no mercado. Em seguida, estudamos alguns pontos que são capazes de sensibilizar o mercado, como fatores tecnológicos, políticos e jurídicos, concluindo que as empresas devem se adaptar às mudanças contínuas que essas condições causam, de modo a atingir os seus objetivos, independentemente das alterações do mercado. Desse modo, nesta aula, além de estudarmos o importante Princípio do Risco e Retorno que permeia grande parte das relações e análises financeiras, também verificaremos a existência de alguns métodos de análise de risco, como por exemplo o CAPM, que é capaz de verificar o grau de risco não diversificável (sistemático), através do uso do coeficiente beta. E o CMPC, comumente chamado de custo médio ponderado de capital que, em síntese, verifica o valor do custo de determinado capital adquirido por uma empresa, seja através de terceiros ou captação própria. Analisamos também alguns outros métodos que são utilizados no momento de tomar uma decisão financeira, instrumentos estes que geram uma seleção mais sábia e racional, dentre estes temos o VPL, TIR, TMA e Payback. Por fim, fizemos a iniciação ao tema de demonstrativos contábeis, destacando algunsde seus principais conceitos. Os temas trabalhados serão os seguintes: • Relação risco e retorno; • CAPM: Capital Asset Pricing Model; • CMPC: Custo Médio Ponderado de Capital; • Instrumentos de análise de viabilidade; e • Iniciação em demonstrativos contábeis. 3 TEMA 1 – RELAÇÃO RISCO E RETORNO A definição de risco pode ser compreendida de diversas formas, tudo irá depender do contexto daquele que está avaliando. Por exemplo, o risco de uma pessoa contrair alguma doença durante um período de baixa imunidade, o risco de um empresário ao se aventurar em uma nova área de atuação, ou o risco de acontecer algum acidente em uma residência, cujo o proprietário não possui seguro. Em síntese, o risco está sempre associado à incerteza da ocorrência de determinado acontecimento. Quando mencionamos esse assunto no âmbito empresarial, estamos nos referindo à administração financeira, que tem como uma de suas funções a administração de ativos, diretamente ligada à busca da melhor estrutura em termos de risco e retorno, quando o assunto são os investimentos empresariais. Conforme estabelece Assaf (2014), o risco é um custo evidente nos negócios financeiros, havendo necessidade de ser quantificado. Em síntese, em toda decisão de investimento, é indispensável que se considere o risco, ou seja, a medida de incerteza associado aos retornos daquele investimento. Sendo assim, há dois fatores importantes que irão influir no probabilidade de risco de um investimento: volatilidade dos retornos e maturidade. A volatilidade significa a regularidade de oscilações notadas em um fluxo de retornos e resultados. Pra melhor exemplificar, vejamos o seguinte quadro: Quadro 1 – Volatilidade Invest/Retornos Mar/2021 Abr/2021 Mai/2021 Jun/2021 Resultado Invest. X 9,0% 9,1% 10,0% 8,0% - RISCO Invest. Y 10,0% 10,05% 8,0% 13,0% + RISCO Nota-se que o investimento X apresenta menos volatilidade que o investimento Y, tendo este último maior flutuação e consequentemente um risco superior. Já a maturidade do ativo consiste no seu prazo de vencimento. Assim, quanto maior o prazo de recuperação financeira do valor aplicado, mais alto se apresenta o seu risco. Deste modo, verifica-se que a volatilidade e o tempo de maturação do investimento são fatores essenciais para o estudo de probabilidade de risco de um ativo. Mas e no que tange ao retorno? 4 Esse instituto possui relação direta com o risco, uma vez que por mais que um investimento não ofereça certeza com relação aos seus resultados futuros, podendo alcançar altos e baixos retornos, todo investimento deve recompensar os riscos oferecidos. Deste modo, podemos concluir que quanto maior o grau de risco oferecido, mais elevado será a probabilidade de retorno, de forma a recompensar aquele que decidiu por um negócio mais arriscado. Assim, a relação risco e retorno é proporcional. Vejamos a seguinte situação, um investimento realizado em títulos de renda fixa, os quais possuem volatilidade mínima, logo produzem retornos estáveis, porém menores, além de um baixo grau de risco. Gitman (2010), além de afirmar que o retorno é medido conforme a variabilidade do ativo, também destaca que este deve ser medido com base nas distribuições de caixa durante o período de investimento, somado a variação do valor. Sendo assim, aplica-se a seguinte fórmula: 𝑅𝑅𝑅𝑅 = Ct + Pt − Pt − 1 Pt − 1 De modo que “Rt” representa a taxa de retorno efetiva esperada durante determinado período, “Ct” significa o fluxo de caixa recebido a partir do investimento no ativo e o “Pt” o preço do ativo no tempo. Na prática: para compreendermos com mais clareza, vejamos o seguinte exemplo: supondo que determinado investidor aplica seu dinheiro na compra de duas empresas do ramo de serviços de tecnologia, simultaneamente. A empresa Alfa foi adquirira por R$ 40.000,00 e terminou o ano com o valor de mercado de R$ 43.000,00 e durante esse período de um ano gerou R$ 1.600,00 em receita após todos os impostos. Já a empresa Beta foi adquirida pela quantia de R$ 20.000,00, terminando o ano com o valor de mercado de R$ 19.400,00, entretanto apresentou receita de R$ 3.000,00 após impostos. Desse modo, temos: 𝑅𝑅𝑅𝑅 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = R$1.600,00 + R$43.000,00 − R$ 40.000,00 R$ 40.000,00 = 11,5% 𝑅𝑅𝑅𝑅 𝐵𝐵𝐵𝐵𝑅𝑅𝐴𝐴 = R$ 3.000,00 + R$ 19.400,00 − R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 = 12,0% Assim, é possível verificar que por mais que o valor de mercado do ativo Alfa tenha sido superior ao do ativo Beta, o fluxo de caixa desse último proporcionou um retorno mais elevado do que o primeiro ativo, durante o mesmo período. Por essa razão que a análise de resultado deve ser feita levando em 5 consideração tanto a valorização do ativo quanto a receita gerada pelo fluxo de caixa. 1.1 Risco Sistemático e Risco não Sistemático Antes de adentrarmos no tema citado, é necessário compreendermos como ocorre a avaliação do risco total de uma empresa, caso em que deveremos observar duas espécies de risco: econômico e financeiro. No que tange ao risco econômico, estes são inerentes à própria natureza da economia, abrangendo tanto alterações do mercado e da tecnologia, por exemplo, o crescimento da concorrência ou o surgimento de uma empresa destaque, como também o próprio planejamento e gestão da empresa, incluindo as vendas, investimentos e os preços que utilizam. Já o risco financeiro está relacionado com o grau de endividamento da empresa, ou seja, o seu passivo. Aqui não encontramos nenhum fator que tenha vínculo com os ativos da empresa, pois este está diretamente ligado ao risco econômico. Superados esses conceitos iniciais, podemos iniciar o cerne deste assunto. Destaca Assaf (2014) que o risco total de um ativo é composto por um pedaço sistemático e outro não sistemático. O risco sistemático é aquele próprio de todos os ativos existentes no mercado, sendo determinado por aspectos políticos, econômicos e sociais. A diferença entre um ativo e outro em relação a esses fatores está no fato de que cada ativo se comporta de maneira diferente em relação aos acontecimentos gerados. Entretanto, podemos chegar à conclusão conjunta de que nenhum investimento realizado, seja em qual ativo for, estará livre do risco sistemático. Deste modo, por mais diversificado que seja a carteira de um investidor, ele não conseguirá escapar dessa modalidade de risco. Quando citamos o risco não sistemático, a conversa é diferente, uma vez que este é identificado nas características do próprio ativo, sendo assim este não afeta os outros ativos de uma carteira, de modo que o método de diversificação de ativos, neste caso, é suficiente para diminuir ou evitar o risco não sistemático. Essa diversificação pode ocorrer de diversas maneiras, desde a combinação de ativos de renda fixa e renda variável (que possui comportamentos diferentes diante da elevação da taxa de juros) até a mescla de ativos de renda variável de 6 diversos setores, como construção civil, gás e oléo, financeiro, varejo e investimentos em ativos de mercados externos. 1.2 Probabilidades e Desvio padrão O conceito de risco tem origem na incerteza sobre o futuro, justamente por esse motivo que a sua mensuração é realizada através de um critério de probabilidades, ou seja, o aplicador deve atribuir probabilidades aos diversos estados que podem ser esperados, bem como a consequência deste nos resultados. Estas probabilidades se dividem em objetiva e subjetiva. A primeira considera dados e informações históricas, assim, observa as experiências acumuladas com o passado. Já a segunda possui como fundamento a intuição e experiência do investidor, há também quem diga que a crença também influi nesta probabilidade. Conforme afirma Assaf (2014), o risco é interpretado pelos desvios previsíveis dos fluxos futuros de caixa, consequência deuma decisão de investimento, somado aos fatos considerados como de natureza incerta. Assim, a variabilidade dos resultados esperados de caixa em relação à média são considerados. Outro ponto a ser observado é a medida de dispersão (desvio – padrão), de modo que quanto maior o grau de desvio (variabilidade da média – retorno esperado), mais elevado é o risco. Imaginemos a seguinte situação: Ativo X Ativo Y Retorno Probabilidade Retorno Probabilidade 14% 20% - 10% 40% 24% 60% 0% 60% 30% 80% 20% 80% 40% 40% 60% 20% 𝐸𝐸(𝑟𝑟𝑟𝑟) = (14% 𝑟𝑟 0,20) + (24% 𝑟𝑟 0,60) + (30% 𝑟𝑟 0,80) + (40% 𝑟𝑟 0,40) = 57,2% 𝐸𝐸(𝑟𝑟𝑟𝑟) = (−10% 𝑟𝑟 0,40) + (0% 𝑟𝑟 0,60) + (20% 𝑟𝑟 0,80) + (60% 𝑟𝑟 0,20) = 24% Nota-se que ambos demonstram um grau de dispersão, sendo que o ativo Y demonstra um grau de dispersão superior ao do ativo X, o que indica maior risco. Deste modo, o ativo X apresenta um menor risco além de um maior retorno esperado. Tal assertiva pode ser confirmada, no momento em que analisamos o 7 desvio padrão de ambos ativos, sendo possível verificar que o desvio do ativo Y é superior ao do X. TEMA 2 – CAPM A sigla CAPM representa a expressão em inglês Capital Asset Pricing Model, que se trata de um modelo de formação de preços de ativos, que tem como principal objetivo relacionar o risco e o retorno de todos os ativos presentes no mercado. O CAPM pode ser considerado como uma forma de explicar os acontecimentos da realidade, ou seja, através deste tenta-se buscar situações possíveis de acontecer. Vimos em tópico anterior a existência dos riscos sistemáticos e não sistemáticos, ambos conceitos também podem ser denominados de riscos não diversificáveis e risco diversificável, respectivamente. O risco diversificável possui essa nomenclatura, uma vez que pode ser eliminado através do método de diversificação da carteira, uma vez que situações próprias de cada ativo não tem potencial de atingir os outros ativos de uma carteira (por exemplo, processo judicial ou greve de funcionários de uma empresa em espécifico não irão afetar as outras empresas presentes nesta carteira). Já o risco não diversificável, como o próprio nome já diz, não podem ser evitados através de uma carteira variada de ativos, pois nesse caso há fatores macroeconômicos que abrangem todas as empresas, como inflação, desemprego, taxa de juros, taxa de câmbio, incidentes internacionais, eventos políticos e até mesmo o crescimento de um país. Gitman (2010) afirma que como qualquer investidor pode realizar a diversificação em uma carteira de investimento elimando o risco diversificável, o único risco relevante é o não diversificável. Em síntese, a diversificação é capaz de diminuir o risco inerente ao ativo ou ao setor deste ativo, entretanto sendo insuficiente para acabar com o risco sistemático presente no mercado como um todo. Conforme presente no gráfico a seguir: 8 Gráfico 1 – Risco Fonte: elaborado com base em Ciência e Negócios, 2016. Este modelo, visando verificar o grau de variabilidade de retorno de um ativo em resposta a uma variação do retorno de mercado (risco sistemático), se utiliza do coeficiente beta (ß). Uma das formas de alcançar esse coeficiente é através da análise dos retornos históricos de um ativo, além do estudo que representa o retorno da carteira de mercado, sendo comum a utilização por parte dos investidores da S&P 500 (Standard & Poor’s 500 Stock Composite Index). 9 Figura 1 – Retorno Fonte: Gitmam, 2014, p. 223. Neste gráfico, é possível verificar como é realizada essa análise combinada entre retornos individuais (eixo vertical) do ativo e os retornos do mercado (eixo horizontal). Ambos os ativos analisados (“S” e “R”) possuem um grau de inclinação, sendo este denominado beta. É possível verificar que o grau de inclinação do ativo “S” é superior ao do ativo “R”, assim, mais sensível as variações dos retornos de mercado, sendo mais arriscado. O beta pode ser calculado resultando em um valor negativo ou positivo, comumente varia de 0,5% a 2,0%. Para entendermos melhor a questão da sensibilidade das variações, vejamos o seguinte: 10 Beta Resultado Ativo A 0,5% Significa que para cada 1% de variação do mercado, o ativo A irá variar em 0,5% Ativo B 1,5% Significa que para cada 1% de variação do mercado, o ativo B irá variar em 1,5% Após a obtenção do coeficiente beta com o intuito de medir o risco não diversificável, é possível efetuar o cálculo do CAPM através da seguinte equação: 𝐸𝐸𝑅𝑅𝐸𝐸 = 𝑅𝑅𝐴𝐴 + ß𝐸𝐸(𝑅𝑅𝑅𝑅 − 𝑅𝑅𝐴𝐴) Eri Expectativa de retoro de um ativo “i”qualquer; Rf Ativo livre de risco; ßi Beta relativo ao ativo “i”; Rm Retorno do mercado Rm - Rf Retorno do mercado menos a taxa livre de risco (Prêmio pelo risco) Assim, é possível concluir que o modelo de formatação de preços de ativos CAPM tem como uma de suas funções o uso do “(...) beta para relacionar o risco relativo de um ativo em relação ao do mercado com o retorno exigido do ativo” (Gitman, 2010, p. 232). O modelo CAPM também concede a oportunidade de identificar, por meio do traçado da reta do mercado de títulos (SML), a taxa de retorno mínima exigida pelos proprietários de empresas, denominado custo de capital próprio (medida utilizado para o cálculo do WACC). Essa atitude é de grande importância na tomada de decisões financeiras de uma instituição e em seu procedimento de avaliação de desempenho. Assaf (2014) afirma que os estudiosos financeiros vêm pesquisando outros modelos decorrentes do CAPM, sendo o APT (Arbitrage Pricing Theory), uma destas alternativas, que considera não apenas um beta, mas sim múltiplos. Desse modo, o APT avalia o risco-retorno de um ativo mediante uma série de fatores sistemáticos, logo, analisa o risco de maneira mais ampla. Na prática: suponhamos que as ações da Irmãos Fernandes Pereira (IFPA3) apresentem um beta de 0,80 em relação ao mercado brasileiro. Hoje, a taxa livre de risco no país está em 7% ao ano e o retorno esperado do mercado em 14%. Qual seria o retorno mínimo exigido pelo investidor para investir na IFPA3? 𝑅𝑅𝐸𝐸 = 0,07 + 0,80 (0,14 − 0,07) = 12,60% 11 No caso em tela, o retorno mínimo exigido pelo acionista seria de 12,60%. Assim, o retorno mínimo de um acionista ao investir na Irmãos Fernandes Pereira tem que ser de 12,60%, pois ela é um ativo menos arriscado que o mercado (beta em 0,80%), o retorno do mercado está em 14%, sendo então aceitável o retorno de 12,60%. TEMA 3 – CMPC – CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL O Custo médio ponderado de capital e comumente conhecido como WACC – Weighted Average Cost of Capital, mas qual seria o significado dessa complicada expressão? Uma empresa, para manter um bom funcionamento e muitas vezes para se reerguer no mercado diante de um momento de dificuldade, necessita captar recursos financeiros. Essa captação pode ser realizada de duas maneiras: a) através da utilização de capital de terceiros; b) utilização de capital dos próprios sócios. Entretanto o uso desse valor por parte da empresa acarreta um custo. Em síntese, o WACC irá significar o quanto custa o dinheiro que uma empresa vem utilizando durante um determinado período. Poderiamos citar como exemplo o juros pela utilização de dinheiro de terceiro. Quando falamos da arrecadação de valor através de capital de terceiro, a empresa acaba por entrar em dívidas, pelo fato de ser um possível problema para a empresa, isso faz com que a mesma possua um risco elevado neste tipo de operação. Por outro lado, para o investidor o risco de emprestar esse dinheiro é menor, pois normalmente a empresa que recorre ao banco para angariar recurso coloca patrimônio próprio como garantia. Justamente, pelo fato de o risco do investidor ser menor,essa operação apresenta um menor retorno para o mesmo e consequentemente um juro menor para a empresa, tratando-se de um crédito mais barato. No que tange ao capital próprio, trata-se da busca de capital através dos acionista das empresas (ações). Desse modo, estes não serão denominados credores desta empresa, mas sim sócios. Por esse motivo, para a empresa o risco é bem menor, pois não adentrará em dívidas. Entretanto, para os investidores o risco se eleva, pois não se apresentam como credores daquela empresa e na ordem de preferência de recebimento do crédito estão os detentores de títulos e contratos de dívidas, justamente por isso o retorno nesses casos é maior (retorno elevado), tratando-se então de uma forma de aquisição de capital mais cara para 12 a empresa. É importante diferenciar que quando se fala em capital próprio o investidor espera retorno, já no capital de terceiros são juros. O cálculo que resulta no WACC é realizado através da multiplacação do custo específico de cada modalidade de financiamento por sua participação, em porcentagem, na estrutura de capital da empresa e ao final soma-se todos estes valores ponderados. Vejamos a fórmula: 𝑊𝑊𝐴𝐴𝑊𝑊𝑊𝑊 = (𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊 𝑟𝑟 𝐾𝐾𝑊𝑊𝑊𝑊) + (𝑊𝑊𝑊𝑊𝑅𝑅 𝑟𝑟 𝐾𝐾𝑊𝑊𝑅𝑅) 𝑟𝑟 (1 − 𝐼𝐼𝑅𝑅) Wacc Custo médio ponderado de capital Wcp Custo do capital próprio Kcp Percentual de capital próprio na estrutura do capital Wct Custo do capital de terceiro Kct Percentual de capital de terceiro na estrutura do capital Este desconto de imposto de renda (IR) é realizado apenas no custo de capital de teceiro, uma vez que este é considerado dívida, sendo dívida uma despesa financeira. Esse custo financeiro no momento da apuração do balanço é abatido sobre o lucro. Deste modo, quanto mais capital de terceiro, maior o benefício do desconto no IR. É comum que uma empresa tenha em sua composição diversas espécies de capital próprio ou de terceiro. Na prática: suponhamos que a mesma empresa do exemplo anterior Irmãos Fernandes e Pereira apresente a seguinte estrutura de capital: Montante Prop. de cada Fonte Custo Capital Ordinário R$1.600.000,00 40% 30% a.a. Capital Preferencial R$ 1.000.000,00 25% 25% a.a. Empréstimo R$ 1.400.000,00 35% 15% a.a. (pós IR) Total R$ 4.000.000,00 100% 𝑊𝑊𝐴𝐴𝑊𝑊𝑊𝑊 = (30% 𝑟𝑟 0,40) + (25% 𝑟𝑟 0,25) + (15% 𝑟𝑟 0,35) = 12% + 6,25% + 5,25% = 𝟐𝟐𝟐𝟐,𝟓𝟓𝟓𝟓% 13 Deste modo, o WACC ficou definido em 23,50%, mas também podemos realizar esta análise através de cálculo em reais: Origem de Capital Remuneração exigida (juros/retorno) Capital Ordinário R$ 1.600.000,00 x 30% R$ 480.000,00 Capital Preferencial R$ 1.000.000,00 x 25% R$ 250.000,00 Empréstimo R$ 1.400.000,00 x 15% R$ 210.000,00 Total R$ 4.000.000,00 R$ 940.000,00 Trata-se também de uma maneira de confirmação de cálculo, uma vez que 23,50% de 4 milhões de reais resulta na quantia de R$ 940.000,00. Desse modo, é possível concluir que a taxa mínima de retorno ou de atratividade econômica da empresa Irmãos Fernandes e Pereira é de 23,50%, que equivale a R$ 940.000,00 ao ano, sendo assim, este é o custo das decisões de investimento optadas pela empresa. De modo que, a partir do momento que a empresa não alcança um retorno operacional pelo menos igual ao seu custo total de capital, ela deixa de remunerar de forma adequada as suas fontes de financiamento, prejudicando seu valor de mercado. Em síntese, se o retorno deste custo de capital aplicado foi inferior ao WACC, além de reduzir a riqueza dos seus sócios, também destrói o valor da empresa no mercado. Por outro lado, se os retornos forem superiores a essa taxa, haverá uma elevação no valor agregado da empresa, pois ela obteve um resultado superior ao mínimo exigido pelo proprietários do capital. Por conseguinte, uma empresa que possui uma taxa de retorno maior do que seu custo de capital, elaborou decisões financeiras eficientes, agregando riqueza e alcançando o objetivo de potencializar o valor de mercado. 3.1 Alavancagem Financeira Como vimos anteriormente, o custo do capital próprio é mais elevado do que o custo de capital de terceiro, logo, uma empresa que possui apenas capital próprio em sua composição possui um alto WACC. Em razão desse custo elevado do capital próprio, é comum que empresas optem por contrair dívidas (utilização de capital de terceiros), pois esta, em razão do baixo custo, geram à empresa uma chance de crescimento acelerado, momento este em que podemos afirmar que uma empresa está alavancando os recursos próprios com o uso de capital de terceiros. 14 Em síntese, quanto mais dinheiro de terceiro, maior será o nível de alavancagem da empresa, de modo que este endividamento diminui o WACC, entretanto possibilita maior crescimento. Quanto mais alavancada, mais arriscada se torna a empresa. 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝑊𝑊𝐴𝐴𝐴𝐴𝐵𝐵𝑅𝑅 = 𝐶𝐶𝐴𝐴𝑊𝑊𝐸𝐸𝑅𝑅𝐴𝐴𝐴𝐴 𝑑𝑑𝐵𝐵 𝑇𝑇𝐵𝐵𝑟𝑟𝑊𝑊𝐵𝐵𝐸𝐸𝑟𝑟𝑇𝑇 𝐶𝐶𝐴𝐴𝑊𝑊𝐸𝐸𝑅𝑅𝐴𝐴𝐴𝐴 𝑃𝑃𝑟𝑟ó𝑊𝑊𝑟𝑟𝐸𝐸𝑇𝑇 TEMA 4 – INSTRUMENTO DE ANÁLISE DE VIABILIDADE Além do CAPM e o CMPC, há algumas outras fases no momento de realizar uma decisão de investimento, trata-se da utilização de métodos de avaliação econômica com intuito de apurar os resultados das aplicações de capital. Logo, neste capítulo desenvolveremos alguns aspectos destes métodos de análise de investimento. Um dos segmentos a ser mencionado é o método quantitativo de análise de viabilidade econômica, que subdivide-se em dois grupos: a) aquele que considera o valor do dinheiro no tempo por meio do critério do fluxo de caixa descontado; b) não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo (o único é o Payback). Vejamos então estes instrumentos: 4.1 VPL – Valor Presente Líquido Esse método considera expressamente o valor do dinheiro no tempo, sendo definido como uma técnica sofisticada de análise. Deste modo, essa ténica também utiliza o fluxo de caixa, mas aplica um desconto de uma taxa espécifica (taxa de desconto, retorno requerido, custo de capital ou custo de oportunidade). Em síntese, o VPL é encontrado através do investimento inicial subtraído o valor presente de suas entradas, descontada a taxa de custo de capital da empresa. 𝑉𝑉𝑃𝑃𝑉𝑉 = 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝑇𝑇𝑟𝑟 𝑊𝑊𝑟𝑟𝐵𝐵𝑝𝑝𝐵𝐵𝐴𝐴𝑅𝑅𝐵𝐵 𝑑𝑑𝐴𝐴𝑝𝑝 𝐵𝐵𝐴𝐴𝑅𝑅𝑟𝑟𝐴𝐴𝑑𝑑𝐴𝐴𝑝𝑝 𝑑𝑑𝐵𝐵 𝑊𝑊𝐴𝐴𝐸𝐸𝑟𝑟𝐴𝐴 − 𝑅𝑅𝐴𝐴𝑟𝑟𝐴𝐴 𝑑𝑑𝐵𝐵 𝑊𝑊𝑐𝑐𝑝𝑝𝑅𝑅𝑇𝑇 𝑑𝑑𝐵𝐵 𝑊𝑊𝐴𝐴𝑊𝑊𝐸𝐸𝑅𝑅𝐴𝐴𝐴𝐴 𝑑𝑑𝐴𝐴 𝐵𝐵𝑅𝑅𝑊𝑊𝑟𝑟𝐵𝐵𝑝𝑝𝐴𝐴 4.2 TIR – Taxa Interno de Retorno Trata-se de outra técnica sofisticada e comumente usada no mercado, que representa a taxa de desconto que faz com que a VPL de uma oportunidade de investimento seja igual a R$ 0,00, ou seja, em determinado momento ela se iguala (normalmente usado a data de início do investimento – marco zero). O cálculo dessa taxa consiste em uma procedimento complicado de tentativa e erro, o qual testa diversas taxas de desconto, sendo adequada àquela 15 que torna o valor presente das entradas de caixa do projeto idêntico a R$ 0,00 (VPL = 0). Visando facilitar esse cálculo que as calculadoras ciéntificas possuem pré-programadas a tecla IRR. 4.3 TMA – Taxa Mínima de Atratividade Consiste na taxa mínima de atratividade desejada para a decisão de investimento, ou seja uma taxa mínima de retorno para analisar uma viabilidade de um projeto. Também pode ser vista como o custo máximo que um tomador de dinheiro se propõe a pagar quando faz um financiamento. Diretamente, ela é utilizada para verificar fluxos de caixa e através do desconto, trazer esses fluxos de caixa ao valor presente. A TMA deve conter sempre 03 indicadores: custo de oportunidade (representa o retorno mínimo que se pode ter em investimento no mercado financeiro sem risco, como por exemplo investir em renda fixa com retornosbaseados na Selic); risco do negócio (agrega um percentual de risco à taxa mínima de atratividade); prêmio de liquidez (perda da disponibilidade dos recursos financeiros, quando investido dentro da atividade produtiva de um negócio). 4.4 Payback O período de Payback é muito utilizado na prática, e consiste no estabelecimento do prazo necessário para que um suposto capital investido seja recuperado através dos fluxos de caixas promovidos pelo investimento. Ainda que muito comum, essa técnica é considerada pouco sofisticada para realização de análise de orçamento, por não considerar o valor do dinheiro no tempo. Justamente por este motivo que muitas instituições o utilizam como um método suplementar. Na prática, a empresa deve delimitar qual seria o período máximo aceitável de payback (quantificação fixada através de estudos de projetos, análise de riscos e outros fatores). Deste modo, no momento de decidir acerca de um investimento, se o período de payback for inferior ao período máximo aceitável, o projeto deve ser aceito, já se o prazo de payback for superior ao período máximo aceitável, o projeto deve ser descontinuado/recusado. As críticas a este método vão desde a não consideração do valor do dinheiro no tempo até o fato de que o período de payback é definido de forma 16 subjetiva. Essa opnião negativa também inclui que o citado método considera apenas o fluxo de caixa e não o lucro contábil. Para que fique evidente a simplicidade do método, vejamos este exemplo: Situação Valor investido Fluxos de Caixa Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04 Ano 05 A R$ 200.000,00 R$ 30.000,00 R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 R$ 80.000,00 R$ 350.000,00 B R$ 200.000,00 R$ 100.000,00 R$ 100.000,00 R$ 100.000,00 R$ 100.000,00 R$ 100.000,00 Através dessa tabela, pode concluir o seguinte: a) O investimento A teve investimento no valor de R$ 200.000,00, de modo que possui fluxo de caixa médio de R$ 100.000,00 (30.000$ + 20.000$ + 20.000$ + 80.000$ + 350.000$ = 500.000$ / 05 anos = R$ 100.000,00 ao ano). Através deste cálculo, podemos concluir que o payback médio é de 02 anos. b) O investimento B teve um investimento no valor de R$ 200.000,00, de modo que possui fluxo de caixa médio de R$ 100.000,00 (100.000$ + 100.000$ + 100.000$ + 100.000$ + 100.000$ = 500.000$ / 05 anos = R$ 100.000,00 ao ano). E da mesma forma possui um payback médio é de 02 anos. Entretanto, é importante mencionarmos que quando falamos em payback efetivo, a história é diferente, uma vez que enquanto o investimento “B” possui o mesmo prazo de 02 anos, o investimento “A” possui um payback efetivo de 4,2 anos. TEMA 5 – INICIAÇÃO EM DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS Neste tópico, apresentaremos brevemente como são estruturadas as demonstrações contábeis, além dos fatores de avaliação da mensuração de ativos e passivos, das receitas e despesas. Conforme previsão da Lei n. 11.638/07, as sociedades por ações tem o dever de elaborar e publicar as seguintes demonstrações contábeis: • Balanço Patrimonial: é dividido em Ativo, Passivo Exigível e Patrimônio Líquido, podendo os dois primeiros serem circulante ou não circulante. O ativo não circulante é formado por realizáveis a longo prazo, investimento, imobilizado e intangível. Já o passivo não circulante consiste no exigível a 17 longo prazo (empréstimos, financiamentos, debêntures e outras obrigações) e patrimônio líquido (capital social integralizado, reservas de capital, reserva de lucros e ações em tesouraria). No que tange aos ativos e passivos circulantes há: a) ativos – disponibilidades, aplicações financeiras, clientes (duplicatas descontadas), estoques e despesas antecipadas; b) passivos – empréstimos e financiamentos, fornecedores e impostos e valores a recolher. • Demonstração das Mutações Patrimoniais: em síntese, trata da conciliação entre os saldos iniciais e finais do exercício social de todas as contas que compõem o patrimônio líquido, devendo restar evidente os fatos que provocaram mudanças apenas internas, sem alterar o patrimônio líquido, e também os que afetaram todo o patrimônio líquido. • Demonstração dos Resultados do Exercício: tem como intuito exclusivo a apuração do lucro ou prejuízo de determinado exercício, incluindo as receitas, despesas, ganhos e perdas do exercício apurados durante aquele regime de competência, excluindo seus pagamentos e recebimentos. • Demonstração dos Fluxos de Caixa: passou a ser uma exigência com a Lei n. 11.638/07, esta é voltada nas origens e aplicações de caixa (depósitos bancários, recursos em espécie e qualquer valor que se encontra imediatamente disponível), logo, revelando onde os recursos de caixa foram obtidos e onde foram investidos durante aquele exercício. A DFC é capaz de avaliar a atual situação financeira da empresa, demonstrando a sua efetiva capacidade de pagamento. • Demonstração do Valor Adicionado: Outra demonstração que passou a ser obrigatória com a Lei n. 11.638/07, visa destacar para quem a empresa está direcionando a riqueza apurada em determinado exercício. Nesse caso, consideramos o Valor Adicionado Bruto que é apurado através da diferença entre Receitas (receitas de venda e provisão de devedores duvidosos) e os gastos com aquisições de bens e serviços de terceiros (matérias-primas consumidas, custos das mercadorias e serviços vendidos, materiais e contas de consumo). Futuramente, iremos nós aprofundar um pouco mais neste tema, sendo este tópico apenas uma introdução para o desenvolvimento que ainda iremos elaborar. 18 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. FINANÇCAS CORPORATIVAS E VALOR. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, 28 dez. 2007. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. PRATES, W. R. Teoria de Markowitz (Teoria da carteira) e a fronteira eficiente. Ciencias e negócios.com, 2 nov. 2016. Disponível em: <https://cienciaenegocios.com/teoria-de-markowitz-teoria-da-carteira-e-a- fronteira-eficiente/>. Acesso em: 26 mar. 2022. AULA 5 ANÁLISE DE CENÁRIOS FINANCEIROS Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja muito bem-vindo(a) à nossa aula sobre o tema da análise de cenários. Como visto anteriormente, o planejamento de cenários consiste na elaboração de um plano de ação, mediante construção de estratégias que considerem todos as possibilidades do mercado. Por esse motivo, em aulas anteriores verificamos diversos instrumentos que têm como objetivo realizar uma prospecção de cenários possíveis. Na sequência, analisamos todos as questões econômicas que abrangem a política monetária, cambial e fiscal do país, capazes de abalar a participação de uma instituição no mercado. Em seguida, estudamos alguns pontos que são capazes de sensibilizar o mercado, como fatores tecnológicos, políticos e jurídicos, concluindo que as empresas devem se adaptar às mudanças contínuas que essas condições causam, sendo essa a única forma de uma empresa se manter em destaque em determinado mercado, durante um longo período. Por fim, estudamos o importante conceito de risco e retorno, além de outros diversos instrumentos fundamentais para tomada de uma decisão financeira racional, diante das diversas variáveis do mercado. Já na aula atual, nos aprofundaremos em alguns demonstrativos contábeis, perfazendo os seguintes cinco assuntos: 1. Balanço Patrimonial (BP) 2. Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE) 3. Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) 4. Análise de demonstrativos contábeis 5. Indicadores de desempenho Desse modo, ao final desta aula você será capaz de compreender e elaborarum esquema de Balanço Patrimonial (BP) em que constem todas as contas do Ativo (Circulante e Não Circulante), do Passivo (Circulante e Não Circulante) e do Patrimônio Líquido (PL), além de entender e esquematizar uma Demonstração de Resultados do Exercício (DRE). Em seguida, compreenderá como se realiza a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) e em que ponto esse conceito está no BP de uma empresa, bem como a sua importância. Ao final, também logrará êxito na realização da análise vertical e horizontal aplicada aos esquemas supramencionados, assim como entenderá os principais indicadores de desempenho que auxiliam na exteriorização da atual posição de uma empresa, no mercado. 3 TEMA 1 – BALANÇO PATRIMONIAL (BP) Conforme mencionado no último tópico da aula anterior, o instituto do BP, bem como os que mencionaremos em seguida, possuem sua regulamentação na Lei n. 6.404/1976, com importantes alterações promovidas pela Lei n. 11.638/2007, sendo que ambos esses institutos estabelecem regras para a contabilidade em relação às demonstrações financeiras, assim como seus critérios de avaliação (Brasil, 1976, 2007). O art. 176, caput e inciso I, do primeiro dispositivo legal mencionado no parágrafo anterior, estabelece que, ao final de cada exercício social, deverão ser elaboradas demonstrações financeiras, de modo a evidenciar o patrimônio da companhia, sendo incluso nesses demonstrativos o BP (inciso I) (Brasil, 1976). O BP tem como principal objetivo evidenciar a posição patrimonial (conjunto de bens, direitos e obrigações avaliados em moeda) e financeira (disponibilidades, representadas pela conta-caixa, banco-movimento, aplicações com liquidez imediata e numerários em trânsito) da empresa em determinada data. Por isso, ele é considerado uma demonstração estático-dinâmica. Esse conjunto de bens que mencionamos podem se subdividir em: a. materiais/tangíveis: bens móveis (veículos, máquinas, aparelhos celulares, computadores etc.) e bens imóveis (casas, apartamentos, galpões, entre outros); b. imateriais/intangíveis: marcas, patentes, softwares e licenças para fins futuros. Por outro lado, os direitos são os valores que a companhia tem para receber de terceiros e que ainda não estão disponíveis para sua imediata utilização. Já as obrigações são os valores que a empresa tem de pagar para terceiros (dívidas). Por intermédio da organização de toda essa estrutura patrimonial, é possível que todas as empresas se utilizem da mesma sistemática, sendo possível realizar uma comparação entre elas. Dessa forma, conclui-se que, dentro de uma empresa, existe um Ativo (bens e direitos), um Passivo (obrigações com terceiros) e um PL (capital investido pelos proprietários), representados na seguinte equação: 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 = 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴 + 𝑃𝑃𝑃𝑃𝐴𝐴𝑃𝑃𝐴𝐴𝑃𝑃ô𝑛𝑛𝐴𝐴𝐴𝐴 𝐿𝐿í𝑞𝑞𝑞𝑞𝐴𝐴𝑞𝑞𝐴𝐴 4 1.1 Ativo Como vimos anteriormente, o Ativo é o conjunto de bens e direitos da empresa, conta em que são aplicados os recursos dessa empresa, possuindo natureza devedora. Esses itens devem ser separados e obedecer a uma ordem, prevista no art. 178 da Lei n. 6.404/1976, de modo que sejam organizados por ordem de liquidez e separados em duas contas: Ativo Circulante e Ativo Não Circulante. Conforme vimos em outras aulas, a liquidez é a facilidade de determinado ativo ser transformado em dinheiro sem ocorrer a perda significativa de seus valores. Por esse motivo é que os bens circulantes (realizáveis em curto prazo) estão à frente dos bens não circulantes (realizáveis a longo prazo, ou seja, com um valor que demora para ser transformado em dinheiro e entrar em caixa). 1.1.1 Ativo Circulante e Ativo Não Circulante O Ativo Circulante trata-se daqueles itens realizáveis a curto prazo, de modo que seus valores tendem a mudar com frequência. O ativo, para ser considerado circulante, conforme previsto na legislação, deve preencher qualquer um destes requisitos (de modo não cumulativo): • aguarda-se que seja realizado, vendido ou consumido no decurso normal do ciclo operacional da entidade; • quando mantido essencialmente com o propósito de ser negociado; • que seja realizável até 12 meses após a data do BP; • que seja caixa ou equivalente de caixa. Esses ativos circulantes correspondem, então, além de a todos esses ativos até 12 meses após o BP, a contas de clientes, duplicatas a receber, aplicações financeiras, contas representativas de caixa e equivalentes de caixa (trata-se daquilo que você pode transformar em dinheiro em uma velocidade considerável). Por fim, temos ainda os estoques, que consistem em todos os bens disponíveis para comercialização e consumo da própria empresa (materiais de limpeza e de escritório); e as despesas antecipadas, quando os recursos são aplicados em itens cujo serviço ou benefício será usufruído no exercício seguinte, por exemplo, um seguro contratado com duração de 12 meses, logo cujo benefício da despesa seja partilhado em 12 parcelas. Assim, para realizar um resultado correto e não jogar todo o valor do seguro para o resultado de apenas um período, 5 é necessário manter esse valor no Ativo Circulante e se ir adicionando ao resultado a fração que foi consumida pelo seguro. Já o Ativo Não Circulante consiste conjunto de itens realizáveis em longo prazo, ou seja, após 12 meses da data do balanço. Tratam-se de ativos cujos valores não mudam com frequência e sobre os quais a empresa possui controle, em razão da vida longa útil deles. No mais, constituem meio e não fim de determinada atividade, sendo utilizados como meio de produção ou renda, não sendo destinados para venda. Assaf Neto (2014) destaca que, de acordo com a Lei n. 11.638/2007 (Brasil, 2007), todos os ativos originários de operações de longo prazo devem ser ajustados a valor presente. Esses ativos abarcam os ativos realizáveis a longo prazo (todos os créditos a receber com vencimento em prazo superior a 12 meses da data do balanço, além de créditos sobre o que se tem uma incerteza elevada de seu recebimento, como empréstimos a diretores e sócios). Entre os ativos não circulantes, existe o chamado ativo permanente, que é formado por: Investimentos (valores que são caracterizados como bens de renda, ou seja, recursos aplicados com a intenção de se ganhar com o seu rendimento no tempo ou até um imóvel adquirido com o intuito de percepção de valores de aluguel), Imobilizado (todos os bens de uso da empresa, por exemplo aquisição de imóvel para utilizar como galpão) e Intangível (valores que não tem caráter corpóreo, mas tem valor financeiro e podem gerar benefício futuro para a empresa, por exemplo, marcas e patentes). É importante mencionar, conforme afirmado por Assaf Neto (2014), que o ativo imobilizado deve preencher três requisitos: possuir duração longa; não ser destinado à venda; ser utilizado nas operações e negócios da empresa, sendo essas características que diferenciam um galpão utilizado para uso da empresa (bem intangível). 1.2 Passivo Exigível O Passivo representa as obrigações da entidade com terceiros, possui natureza credora e também é denominada a origem do capital de terceiros. Ele também é organizado em Circulante e Não Circulante; porém, a ordem de organização é feita por meio de exigibilidade, ou seja: tudo aquilo que a empresa tem que pagar preferencialmente está em primeiro lugar e assim sucessivamente. Podemos citar como parte dessa conta os empréstimos de uma empresa, que 6 podem estar presentes tanto no Passivo Circulante como no Passivo Exigível a Longo Prazo, pois, quando os empréstimos executados a longo prazo se tornam vencíveis no exercício social seguinte, eles passam do Ativo Não Circulante para o Ativo Circulante. O Passivo Circulante, conforme supramencionado, respeita um critério de exigibilidade e apresenta características muito parecidascom o Ativo Circulante: • espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional da entidade; • também é mantido com a finalidade de ser negociado; • deve ser liquidado em até 12 meses após a data do balanço. 1.3 Patrimônio Líquido (PL) O PL, que é o capital dos sócios, inclui o capital próprio da companhia, que não é exigido de terceiros, abrangendo os lucros e despesas das diferentes contas registradas. Há também quem considere o PL como uma obrigação com os sócios. A legislação não prevê uma ordem de classificação, entretanto estabelece as contas em que o PL é dividido: Capital Social Subscrito; Reservas de Capital; Reservas de Lucro; Ajustes de Avaliação Patrimonial; Ações em Tesouraria; Prejuízos Acumulados; e Capital a Integralizar, sendo essas últimas consideradas contas redutoras. Esse PL, em síntese, é o reflexo do BP, uma vez que irá refletir a situação líquida da empresa. Figura 1 – Patrimônio Líquido Por esse motivo é que a equação antes mencionada também pode ser visualizada da seguinte maneira: Ativos – Passivo = Patrimônio Líquido. Ou seja, em outros termos, o PL é o valor residual das aplicações após dele se deduzir o capital de terceiros. ATIVOS (CIRCULANTE E NÃO CIRCULANTE): BENS/DIREITOS PASSIVO EXIGÍVEL (CIRCULANTE E NÃO CIRCULANTE): DÍVIDAS/OBRIGAÇÕES PATRIMÔNIO LÍQUIDO (CAPITAL PRÓPRIO) Credora Devedora 7 É importante mencionar que o BP revela as aplicações e também as origens dos recursos, que podem prover tanto de capital próprio (PL), quanto de capital de terceiros (Passivo Exigível); e as aplicações serão para onde esses recursos serão dirigidos (Ativo). 1.4 Na prática No decorrer deste tema, destacamos algumas expressões que estão presentes no BP, para cujo entendimento elaboraremos, na prática, um suposto BP da empresa FFA Comércio de Móveis. Tabela 1 – Balanço Patrimonial da empresa FFA Comércio de Móveis Ativo 31/12/2021 AV AH 31/12/2020 AV Ativo Circulante R$ 250.000,00 R$ 200.000,00 Caixa e Equivalente R$ 90.000,00 R$ 30.000,00 Clientes R$ 60.000,00 R$ 20.000,00 Estoques R$ 50.000,00 R$ 100.000,00 Despesas Antecipadas R$ 50.000,00 R$ 50.000,00 Ativo Não Circulante R$ 650.000,00 R$ 720.000,00 Realizável a Longo Prazo R$ 100.000,00 R$ 200.000,00 Investimentos R$ 150.000,00 R$ 120.000,00 Imobilizado R$ 300.000,00 R$ 280.000,00 Intangível R$ 100.000,00 R$ 120.000,00 Total do Ativo R$ 900.000,00 R$ 920.000,00 Passivo e Patrimônio Líquido 31/12/2021 AV AH 31/12/2020 AV Passivo Circulante R$ 150.000,00 R$ 180.000,00 Fornecedores R$ 80.000,00 R$ 80.000,00 Empréstimos a Pagar R$ 70.000,00 R$ 100.000,00 Passivo Não Circulante R$ 330.000,00 R$ 540.000,00 Empréstimos a Pagar R$ 280.000,00 R$ 390.000,00 Outros Passivos R$ 50.000,00 R$ 150.000,00 8 Patrimônio Líquido R$ 420.000,00 R$ 200.000,00 Capital Social R$ 210.000,00 R$ 50.000,00 Reserva de Lucros R$ 100.000,00 R$ 70.000,00 Reserva de Capital R$ 110.000,00 R$ 80.000,00 Total do Passivo e Patrimônio Líquido R$ 900.000,00 R$ 920.000,00 Nos próximos temas, a Tabela 1 será completada, de modo que entenderemos o tema como um todo. Nota-se que, neste primeiro tema, alimentamos a tabela apenas com o BP e suas respectivas contas do Ativo, do Passivo e do PL. TEMA 2 – DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DO EXERCÍCIO (DRE) A análise de uma empresa não pode ser realizada apenas por intermédio do BP, uma vez que este não exprime a totalidade do desempenho da companhia, sendo necessário um estudo mais detalhado para que possa ser compreendido o que realmente ocorreu em determinado período. Por esse motivo, existe também a DRE. Esse instituto possui previsão no art. 187 da Lei n. 6.404/1976 e no Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) (Brasil, 1976; CPC, 2011). A estrutura da DRE é composta por alguns importantes elementos, cujo entendimento, para facilitar, sistematizaremos pelas seguintes operações: • Faturamento Bruto/Vendas Brutas (-) Devolução e cancelamentos de vendas, abatimentos sobre vendas, descontos incondicionais concedidos, impostos e contribuições sobre vendas e serviços (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS, Imposto sobre Serviços – ISS, Programa de Integração Social – PIS e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins) e ajuste a valor presente sobre cliente. • (=) Vendas Líquidas ou Receita Líquidas de Vendas: afirma Assaf Neto (2014) se tratar de valor efetivamente recebido pela venda de produtos e serviços, já que os impostos, na realidade, são recursos transitórios do caixa. 9 (-) Custo das Mercadorias e Serviços Vendidos (CMV): podemos considerar aqui os valores gastos para deixar a mercadoria em condições de venda (transporte, seguros e embalagem). Fórmula: CMV = Estoques Iniciais + Custo de Produção do Período – Estoques Finais. • (=) Lucro Bruto (-) Despesas Operacionais (despesas com vendas, parte administrativa, despesas gerais, financeiras e outras) (+) Receitas Operacionais • (=) Resultado Operacional Líquido (lucro ou prejuízo) (-) Outras Despesas Não Operacionais (+) Outras Receitas Não Operacionais • (=) Resultado Antes do IR e CSLL (Lair) (-) Despesa com IR e CSLL • (=) Resultado Após o IR e CSLL (antes das participações) (-) Participações Estatutárias sobre o Lucro (debêntures, empregados, administradores, partes beneficiárias, fundo de assistência/previdência e empregados; essa subtração deve ser feita de forma extracontábil, ou seja, de maneira separada. • (=) Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício: esse resultado líquido final (DRE) é transferido para a conta de Lucros ou Prejuízos Acumulados, de modo que, na DRE, deve ser calculado o quanto desse lucro obtido pertence a cada classe e espécie de ação. Por isso é que, ao final de determinado exercício, a DRE de todo ano tem seu saldo zerado. No mais, é possível perceber que, enquanto, no BP, temos as figuras do Ativo, do Passivo e do PL, na DRE haverá receitas, custos e despesas. 2.1 Na prática Complementando a questão anterior, adicionaremos aos dados da Tabela 1 a DRE da empresa FFA Comércio de Móveis, construindo a Tabela 2. Relembramos que se tratam os dados informados de valores simulados, uma vez que a sua importância didática está na facilitação visual do tema. Nesta Tabela 2, utilizaremos a forma de análise da DRE prevista no Pronunciamento Técnico CPC 10 26 (R1), a qual se inicia com a verificação da DRE diretamente pela receita líquida e não pela receita bruta, como previsto na legislação (CPC, 2011). Tabela 2 – Balanço Patrimonial da empresa FFA Comércio de Móveis Demonstração de Resultados 31/12/2021 AV AH 31/12/2020 AV Receita Operacional Líquida R$ 900.000,00 R$ 790.000,00 (-) Custo dos Produtos Vendidos -R$ 360.000,00 -R$ 320.000,00 (=) Lucro Bruto R$ 540.000,00 R$ 470.000,00 (-) Despesas Operacionais -R$ 310.000,00 -R$ 300.000,00 * Despesas Comerciais -R$ 200.000,00 -R$ 230.000,00 * Despesas Administrativos -R$ 110.000,00 -R$ 70.000,00 (=) Lucro Antes Rec. e Desp Financeiras R$ 230.000,00 R$ 170.000,00 (-) Encargos Financeiros Líquidos -R$ 25.000,00 -R$ 45.000,00 (=) Lucro Antes de Tributos R$ 205.000,00 R$ 125.000,00 (-) Tributos sobre o Lucro -R$ 60.000,00 -R$ 65.000,00 (=) Lucro Líquido do Exercício R$ 145.000,00 R$ 60.000,00 Nota-se que, diferentementedo BP, a DRE não tem um total, pois a ideia é realizar uma comparação com Receita Operacional Líquida. TEMA 3 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA (DFC) A DFC é considerada muito complexa. Tem sua previsão na legislação já mencionada e também no Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2) (CPC, 2010). Importa ressaltar que a Lei n. 11.638/2007 tornou obrigatória a elaboração da DFC para todas as companhias abertas e para as companhias fechadas com PL igual ou superior a 2 milhões de reais na data de encerramento desse balanço (Brasil, 2007). Assaf Neto (2014) acentua que o objetivo da DFC é revelar como os recursos do caixa foram conquistados e em que foram aplicados, num dado exercício, sendo um instrumento fundamental para se conhecer a real capacidade de pagamento da empresa. Gitman (2010) complementa que uma maneira de verificar, de forma antecipada, possíveis problemas no fluxo de caixa é por meio do estudo da liquidez da empresa, uma vez que certas dificuldades financeiras, 11 por vezes, originam-se de liquidez baixa e em declínio, gerando incapacidade de saldar as obrigações a curto prazo. Todas as alterações realizáveis em caixa e equivalentes serão divididas em no mínimo três fluxos: financiamento, investimento e operacional, para evitar que haja possíveis confusões. Em síntese, a DFC informa a alternância de entradas e saídas, em dinheiro, de uma instituição por meio dos três fluxos supramencionados (variação de caixa). Ela existe, exclusivamente, para esse tipo de operação, entrada e saída de dinheiro do caixa, não se preocupando com fato gerador, regime de competência ou período da transação. A DFC informa essa variação de caixa com uma qualidade e eficiência aprofundada. Sendo assim, a DFC, com seus números, verifica a capacidade da empresa de gerar fluxos positivos de caixa futuro; de honrar seus compromissos; a sua liquidez, solvência e flexibilidade financeira; a sua taxa de conversão de lucro em disponibilidade, ou seja, a porcentagem do lucro que se reverte em dinheiro para a entidade. Quanto ao termo equivalentes de caixa, tratam-se daqueles com finalidade de atender a compromissos de curto prazo. Entretanto, esse curto prazo é diferente daquele previsto no BP, uma vez que consiste no prazo de apenas três meses. Portanto, os equivalentes de caixa possuem três características cumulativas: 1. conversibildiade imediata; 2. insignificante risco de mudança de valor; 3. vencimento em três meses ou menos. Quando mencionamos o saldo bancário a descoberto, devemos ponderar sobre algumas peculiaridades. Também considerado como cheque especial, trata-se de uma modalidade de empréstimo do banco, sendo denominado fluxo de atividade de financiamento. Porém, caso seja liquidado em curto prazo, irá integrar a gestão de caixa da empresa, sendo considerado caixa e equivalente de caixa. É muito importante enquadrarmos os fluxos de caixa existentes no BP (Figura 2). 12 Figura 2 – Fluxos de caixa no Balanço Patrimonial 3.1 Atividades operacionais Atividades operacionais são os principais geradores de receitas de uma empresa, não se classificando como financiamento ou investimento. Gitmam (2010) defende tratarem-se de fluxo gerado das operações regulares da empresa, normalmente transitando pela apuração do lucro líquido ou do prejuízo de um período. Para exemplificar, venda de mercadorias, prestação de serviços, prêmios de seguradoras e contratos e negociação imediata são consideradas atividades operacionais de entrada de caixa. Já pagamento de fornecedores, de empregados, de seguradoras e até de Imposto de Renda são consideradas atividades de saída de caixa. 3.2 Atividades de investimento Atividades de investimento tratam-se de atividades relativas a compra e venda de ativos circulantes, investimentos, imobilizados e realizáveis a longo prazo, desde que não constituam negócios usuais na atividade operacional da empresa. Nesse caso, podemos considerá-las como entradas de caixa a venda de ativo imobilizado e liquidação de empréstimos concedidos a terceiros. Agora, a aquisição de ativos intangíveis ou de longo prazo, a aquisição de instrumentos patrimoniais e os adiantamentos de empréstimos são considerados saídas do caixa de atividade de investimento. 3.3 Atividades de financiamento Atividades de financiamento possuem relação com as práticas de financiamentos concedidos à sociedade de origem de terceiros, como é o caso da Fluxo de Caixa Operacional Fluxo de Caixa de Investimentos Fluxo de Caixa de Financiamento Ativo Circulante Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante 13 integralização do capital social em dinheiro. Por exemplo, a emissão de ações, debêntures e títulos de vida se enquadram nas entradas desse tipo de caixa. Por outro lado, as amortizações de empréstimos e financiamentos caracterizam a saída de caixa. 3.4 Modelos de apresentação da DFC Há duas formas de analisar e apresentar a DFC. A primeira delas é o chamado método direto, em que consideraremos os recebimentos e pagamentos brutos das atividades operacionais, de investimento e financiamento para chegarmos até a estrutura de DFC. A segunda maneira é por meio do chamado método indireto, o qual realiza algumas conciliações na DRE que resultam em lucro ajustado, considerando: • receitas e despesas que não têm impacto financeiro e não são atividades operacionais (por exemplo, a depreciação reduz o resultado na DRE, mas em caixa não produzem impacto, sendo necessário que sejam somadas na DFC); • aumento e diminuição das contas patrimoniais (Ativo e Passivo). TEMA 4 – ANÁLISE DE DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS A análise das demonstrações contábeis visa identificar a origem da elaboração dos demonstrativos e a real situação econômico-financeira da empresa, por intermédio de um processo completo de coleta de dados contábeis e estudo desses dados. O intuito dessa análise é produzir informações capazes de influenciar as tomadas de decisões de uma empresa, para que seja realizada a atitude mais racional e inteligente dadas as circunstâncias de um dado período. 4.1 Análise vertical e análise horizontal A análise vertical e a análise horizontal possuem aplicação direta no BP e na DRE, pois estão ligadas à composição da estrutura da empresa (vertical) e à análise de períodos, tendências e histórico (horizontal). 14 4.1.1 Análise vertical A análise vertical busca identificar a composição patrimonial de uma empresa, mediante a determinação de pesos/percentuais de cada conta ou grupo de contas em relação ao Ativo Total, ao Passivo Total ou ao Patrimônio Líquido Total. Por meio do estudo prático que faremos em cima das duas tabelas anteriormente elaboradas, será mais descomplicada a compreensão desse conceito. É comum a utilização dessa análise para elaboração de comparativos entre empresas do mesmo setor, verificando os seus níveis de composição e, em caso de grande desproporção, da causa das diferenças registradas. Outro motivo pelo qual ocorre esse estudo é para comparação entre exercícios subsequentes, em que, se constatada alguma diferença, será possível verificar uma mudança da política da empresa. 4.1.2 Análise horizontal Trata-se a análise horizontal da análise de período, verificando-se a evolução temporal dos elementos contábeis. O estudo é feito de maneira isolada, de modo a complementar a análise vertical. Ela verifica o comportamento histórico da empresa, visando identificar possíveis tendências. Essa análise de demonstração não utiliza a inflação, ou seja, se, por meio de uma análise vertical, ficar constatado o aumento de 20% em vendas brutas e, no entanto, a inflação daquele período tiver sido de 12%, o ganho real de vendas não será de 20%, mas sim bem inferior. A análise horizontal pode ser classificada em: a. encadeada, a qual considera umano específico; b. anual, que leva em consideração o ano anterior. 4.2 Na prática Ambos os modelos, vertical e horizontal, devem ser executados complementando-se. Na Tabela 3, iremos utilizar as tabelas desenvolvidas nos exemplos anteriores e realizaremos uma análise vertical e horizontal de cada um de seus pontos: BP (Ativo, Passivo e PL) e DRE. 15 Tabela 3 – Balanço Patrimonial (Ativos) da empresa FFA Comércio de Móveis com análises vertical (AV) e horizontal (AH) Ativo 31/12/2021 AV AH 31/12/2020 AV Ativo Circulante R$ 250.000,00 27,78% 125% R$ 200.000,00 21,74% Caixa e Equivalente R$ 90.000,00 10,00% 300% R$ 30.000,00 3,26% Clientes R$ 60.000,00 6,67% 300% R$ 20.000,00 2,17% Estoque R$ 50.000,00 5,56% 50% R$ 100.000,00 10,87% Despesas Antecipadas R$ 50.000,00 5,56% 100% R$ 50.000,00 5,43% Ativo Não Circulante R$ 650.000,00 72,22% 90% R$ 720.000,00 78,26% Realizável a Longo Prazo R$ 100.000,00 11,11% 50% R$ 200.000,00 21,74% Investimentos R$ 150.000,00 16,67% 125% R$ 120.000,00 13,04% Imobilizado R$ 300.000,00 33,33% 107% R$ 280.000,00 30,43% Intangível R$ 100.000,00 11,11% 83% R$ 120.000,00 13,04% Total do Ativo R$ 900.000,00 100% 98% R$ 920.000,00 100,00% Realizamos a análise das contas do Ativo do BP da empresa FFA Comércio de Móveis durante dois anos consecutivos e por isso podemos concluir o seguinte: • Análise vertical: do total do Ativo do ano de 2021 (100%), tem-se 27,78% de Ativo Circulante e 72,22% de Ativo Não Circulante na composição daquele grupo. Dentro desses grupos temos algumas contas e verificamos qual a porcentagem de cada uma delas em relação ao todo, por exemplo: o Estoque corresponde a 5,56% do total do Ativo. O mesmo se aplica ao ano anterior, em que os valores são diferentes e, consequentemente, a composição também. • Análise horizontal: tem o intuito de efetuar a comparação dos Ativos de um ano para o outro. Conforme consta na análise da quarta coluna da Tabela 3, no ano de 2021 o Ativo Circulante correspondeu a um total de 125% em face do Ativo Circulante de 2020, ou seja, houve um aumento de 25%. Já em relação ao Estoque, vimos que o ano de 2021 correspondeu a 50% do ano de 2020, ou seja, tivemos uma diminuição de 50% em relação a esse ativo. Desse modo, conclui-se que, quando a porcentagem for superior a 100%, tivemos um aumento; se igual a 100% não houve mudanças; já se for inferior a 100%, tivemos uma diminuição. 16 A mesma regra e os mesmos cálculos se aplicam no que tange ao Passivo (Tabela 4). Tabela 4 – Balanço Patrimonial (Passivos) da empresa FFA Comércio de Móveis com análises vertical (AV) e horizontal (AH) Passivo e Patrimônio Líquido 31/12/2021 AV AH 31/12/2020 AV Passivo Circulante R$ 150.000,00 16,67% 83% R$ 180.000,00 19,57% Fornecedores R$ 80.000,00 8,89% 100% R$ 80.000,00 8,70% Empréstimos a Pagar R$ 70.000,00 7,78% 70% R$ 100.000,00 10,87% Passivo Não Circulante R$ 330.000,00 36,67% 61% R$ 540.000,00 58,70% Empréstimos a Pagar R$ 280.000,00 31,11% 72% R$ 390.000,00 42,39% Outros Passivos R$ 50.000,00 5,56% 33% R$ 150.000,00 16,30% Patrimônio Líquido R$ 420.000,00 46,67% 210% R$ 200.000,00 21,74% Capital Social R$ 210.000,00 23,33% 420% R$ 50.000,00 5,43% Reserva de Lucros R$ 100.000,00 11,11% 143% R$ 70.000,00 7,61% Reserva de Capital R$ 110.000,00 12,22% 138% R$ 80.000,00 8,70% Total do Passivo e Patrimônio Líquido R$ 900.000,00 100% 98% R$ 920.000,00 100% Em relação à DRE, o modo de análise é o mesmo, entretanto é possível verificar que na DRE não existe um total dos valores, sendo que a ideia principal da análise vertical será a comparação com base na Receita Operacional Líquida. Diferentemente das tabelas anteriores, a análise vertical, na DRE, compõe também a porcentagem em que os valores são abatidos do cálculo total até se chegar ao Lucro Líquido do Exercício. Portanto, é possível notar que, da Receita Operacional Líquida, a empresa FFA Comércio de Móveis obteve como lucro líquido daquele exercício apenas 16% daquele valor. 17 Tabela 5 – DRE da empresa FFA Comércio de Móveis com análises vertical (AV) e horizontal (AH) TEMA 5 – INDICADORES DE DESEMPENHO Os indicadores são critérios qualitativos ou quantitativos que mostram a atual situação de uma operação, procedimento ou sistema. Já o desempenho é a relação do que foi executado pela operação em comparação com a expectativa do cliente ou a finalidade do gestor. Em síntese, os indicadores de desempenho são métodos que exteriorizam a comparação do que foi executado por uma operação em relação a uma meta ou objetivo. Dentre os papéis dos indicadores existem a medição dos resultados, os fatores críticos (pontos-chaves que, quando executados de forma eficiente, garantem o desenvolvimento da empresa), bem como do desempenho (comportamentos ou meios que se pretende colocar em prática), uma vez que, sem esses, o gestor não consegue realizar um gerenciamento efetivo, de modo a abolir os procedimentos ineficazes e manter os processos eficientes. O intuito desse instrumento é efetuar o controle de três grandes indicadores, que veremos na sequência. Demonstração de Resultados 31/12/2021 AV AH 31/12/2020 AV Receita Operacional Líquida R$ 900.000,00 100% 113,92% R$ 790.000,00 100% (-) Custo dos Produtos Vendidos -R$ 360.000,00 -40% 112,5% -R$ 320.000,00 -41% (=) Lucro Bruto R$ 540.000,00 60% 114,89% R$ 470.000,00 59% (-) Despesas Operacionais -R$ 310.000,00 -34% 103,33% -R$ 300.000,00 -38% * Despesas Comerciais -R$ 200.000,00 -22% 86,96% -R$ 230.000,00 -29% * Despesas Administrativas -R$ 110.000,00 -12% 157,14% -R$ 70.000,00 -9% (=) Lucro Antes Rec. e Desp. Financeiras R$ 230.000,00 26% 135,29% R$ 170.000,00 22% (-) Encargos Financeiros Líquidos -R$ 25.000,00 -3% 55,56% -R$ 45.000,00 -6% (=) Lucro Antes de Tributos R$ 205.000,00 23% 164% R$ 125.000,00 16% (-) Tributos sobre o Lucro -R$ 60.000,00 -7% 92,31% -R$ 65.000,00 -8% (=) Lucro Líquido do Exercício R$ 145.000,00 16% 241,67% R$ 60.000,00 8% 18 5.1 Liquidez O indicador de liquidez objetiva a medição da capacidade de pagamento de uma entidade durante determinado período de tempo, para o que ele representa o cálculo do saldo das contas do Ativo e do Passivo. Há alguns índices vinculados a esse indicador, destacados pelo doutrinador Marion (2012), a saber: a. liquidez geral, que objetiva a análise de capacidade de pagamento a longo prazo e curto prazo; b. liquidez corrente, que visa verificar exclusivamente a capacidade de pagamento a curto prazo; c. liquidez seca, que se trata do cálculo do Ativo Circulante subtraído pelo Estoque, ou seja, mede a capacidade de uma empresa de pagar suas dívidas sem recorrer aos ativos do Estoque. Quanto mais elevados esses índices, mais vantajoso para a empresa. 5.2 Endividamento O índice de endividamento mensura a proporção de dívidas de terceiros para financiar as operações da empresa e normalmente tem como credores os bancos. É calculado por meio dos saldos das contas do Passivo, em relação ao Ativo e ao PL. Também possui importantes índices, tais como: a. endividamento geral, que abrange o grau de endividamento de longo e curto prazo; b. endividamento de curto prazo, que, como sugere a própria denominação, trata do endividamento a curto prazo; c. endividamento proporcional ao PL, no qual o Passivo Circulante soma-se ao Passivo Não Circulante, sendo ao final dividido pelo PL. Nesse caso, quanto menores os índices, melhor será para a empresa. Marion (2012) complementa asseverando que esse indicador também informa a proporção de capital de terceiros em face do capital próprio que é utilizado pela empresa,ou seja, donde podemos concluir se ocorre a utilização de mais capital de terceiros do que recursos próprios. 19 5.3 Rentabilidade Esse indicador mede a rentabilidade e a lucratividade das operações realizadas por uma entidade, por meio do cálculo dos saldos das contas de DRE, PL e Ativo. Em relação aos seus índices, apresenta uma determinação diferente, em que: • Lucratividade: Lucro Líquido dividido pelas Vendas Líquidas de uma empresa (LL/VL) • Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE): Lucro Líquido sobre o Patrimônio Líquido (LL/PL) • Retorno sobre o Ativo (ROA): Lucro Líquido dividido pelos Ativos Totais (LL/AT) Quanto mais elevadas essas características, melhor será para a empresa, uma vez que maior será a sua rentabilidade/taxa de retorno (Perez Junior; Begalli, 2015). 20 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Brasília, 17 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 28 mar. 2022. _____. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, 28 dez. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso em: 28 mar. 2022. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 03 (R2): demonstração dos fluxos de caixa. Brasília, 7 out. 2010. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/183_CPC_03_R2_rev%2014.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2022. _____. Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1): apresentação das demonstrações contábeis. Brasília, 15 dez. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/243_CPC_16_R1_rev%2013.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2022. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. PEREZ JUNIOR, J. H.; BEGALLI, G. A. Elaboração e análise das demonstrações financeiras. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015. AULA 6 ANÁLISE DE CENÁRIOS FINANCEIROS Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 INTRODUÇÃO O planejamento de cenários consiste na elaboração de um plano de ação, por meio da construção de estratégias que consideram todos as possibilidades do mercado. Entretanto, elaborar esse plano de ação não é um procedimento simples, sendo necessário amplo conhecimento acerca de diversos aspectos contábeis, financeiros, econômicos, legais, sociais e até políticos. Justamente buscando o entendimento de todos esses aspectos, é preciso verificar instrumentos que objetivam a realização de possíveis cenários e estudar alguns importantes sistemas, como política monetária, cambial e fiscal do nosso país, para compreender quais fatores podem abalar a participação de uma instituição no mercado. Além disso, é preciso conhecer os fatores capazes de sensibilizar o mercado, como avanço da tecnologia, mudanças políticas e jurídicas, compreendendo como as empresas devem se adaptar a essas alterações contínuas. Também é preciso dominar o conceito de risco e retorno, bem como instrumentos fundamentais para a tomada de decisões financeiras ponderadas. Por fim, é importante conhecer os demonstrativos contábeis fundamentais para a realização de um adequado planejamento de cenários, como balanço patrimonial, demonstrativo de resultados do exercício, demonstrações de fluxo de caixa e indicadores de desempenho. Na presente etapa, nos aprofundaremos em alguns outros importantes aspectos contábeis: capital circulante líquido; necessidade de capital de giro; indicadores de atividade; ciclo operacional, financeiro e econômico; e gestão de estoques. Ao final desse conteúdo, vocês serão capazes de verificar e diferenciar as mais variadas vertentes de um capital de giro, como o capital circulante líquido, a necessidade de capital de giro e o saldo em tesouraria. No mais, também saberão como identificar os principais indicadores de atividade (Prazo médio de estoque, recebimento e pagamentos), que influenciam diretamente no ciclo operacional. Consequentemente, aprenderão como verificar um ciclo operacional, financeiro e econômico – análise fundamental para entender como ocorre a gestão dos ativos e passivos de uma empresa. 3 TEMA 1 – CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO Antes de adentrar no tópico, é necessário compreender a importância da administração financeira em uma empresa. Gitman (2010) destaca a relevância da administração financeira a curto prazo, afirmando que seus principais aspectos são representados pelo grau de investimento em ativos circulantes e o de financiamento em passivos circulantes. Ele complementa afirmando que a finalidade desta administração é gerenciar cada elemento do ativo circulante e passivo circulante, visando um equilíbrio entre rentabilidade e risco. Superado esse conceito, passamos para a análise do capital circulante líquido. Essa expressão também é muito conhecida como capital de giro líquido (CGL); não se trata de um indicador – como liquidez, rentabilidade e endividamento –, mas faz parte do tema liquidez e solvência. Por esse motivo, quando falamos na solvência de uma instituição, se tem como foco o fato da empresa possuir recursos disponíveis para quitar suas obrigações sem esforços. Já a liquidez mede a capacidade de pagamento da organização imediata, no curto e no longo prazo. Assim, o capital circulante líquido verifica a capacidade da empresa em manter os negócios no curto prazo, pois traz a ideia de que as fontes de curto prazo, denominadas passivo circulante, devem ser utilizadas para financiar aplicações de curto prazo, denominadas ativos circulante. Em síntese, a conceituação pode ser formulada da seguinte maneira: 𝐶𝐶𝐿 = 𝐴𝐶 − 𝑃𝐶 CCL Capital Circulante Líquido PC Passivo Circulante AC Ativo não Circulante Essa fórmula terá como resultado um valor maior ou menor do que zero. Se o CCL for superior a zero, os ativos circulantes serão mais que suficientes para cobrir os passivos circulantes. Já se o CCL for inferior a zero, os ativos circulantes não serão capazes de cobrir os passivos circulantes. Nessa última situação a empresa terá que recorrer ao ativo não circulante para pagar as dívidas de curto prazo. Em razão disso, ocorre diminuição na liquidez, pois a empresa terá que buscar recursos em ativos mais demorados (imobilizado). Após a realizar esta 4 análise, verificando se o capital de giro líquido é positivo ou não, concluiremos que quanto mais capital de giro líquido a empresa alcançar, menor será o risco (probabilidade de não pagar as contas) de incorrer em insolvência. 1.1 Na prática Observe o quadro que traz o ativo e o passivo circulante da empresa FFA Comércio de Móveis. Nele, é possível verificar que a empresa, durante dois anos seguidos, obteve capital de giro líquido positivo, em 2021, com R$ 100.000,00 e no em 2020, com R$ 20.000,00. Nota-se também que em 2021 a empresa possui probabilidade menor de se tornar insolvente. Ativo 31/12/2021 31/12/2020 Ativo Circulante R$ 250.000,00 R$ 200.000,00 Caixa e equivalente R$ 90.000,00 R$ 30.000,00 Clientes R$ 60.000,00 R$ 20.000,00 Estoque R$ 50.000,00 R$ 100.000,00 Depesas antecipadas R$ 50.000,00 R$ 50.000,00 Passivo e Pat. Líquido 31/12/2021 31/12/2020 Passivo Circulante R$ 150.000,00 R$ 180.000,00 Fornecedores R$ 80.000,00 R$ 80.000,00 Empréstimos a Pagar R$ 70.000,00 R$ 100.000,00 1.2 Variações do ativo e passivo e a sua relação com rentabilidade e risco Visualizamos anteriormente que quanto maior o capital de giro líquido ou capital circulante líquido menor será o risco de insolvência. Gitman (2010) demonstra que essa análise é feita por meio da relação entre risco e rentabilidade,pois há ligação direta entre as variações de ativo e passivo circulante. Assim, para realizar tal análise, estudaremos primeiramente o impacto presente nas variações das representações do ativo circulante em face do total de ativos; em síntese, a variação de quanto aquele ativo circulante corresponde em face do ativo total. Em um segundo momento, demonstraremos a relação entre o passivo circulante e o total de ativos, representado pela porcentagem do ativo total que está sendo financiado pelo passivo circulante. 5 1.3 Na prática Indicador Variações Rentabilidade Risco Ativo circulante representa 60% do total de ativos Aumento para 80% Diminuição para 40% 30% do ativo total está sendo financiado pelo passivo circulante Aumento para 50% Diminuição para 15% Nota-se que quando a variação do ativo circulante é positiva (aumenta), a rentabilidade diminui, pois os ativos circulante são menos rentáveis, ou seja concedem menos lucro do que um ativo imobilizado (exemplo: máquinas de produção), que por gerar mais valor ao produto aumentam a lucratividade. Já o indicador risco também irá diminuir, uma vez que a elevação do ativo circulante amplia o capital de giro líquido, e como já estudamos, quanto maior o capital de giro líquido menor será o risco de gerar dívidas que não se pode pagar. Por outro lado, a diminuição dessa variação (negativa), representa uma porcentagem maior de ativos não circulantes (imobilizados e intangíveis), que geram mais valor ao produto e, consequentemente, mais lucros. Da mesma maneira, decaindo esse ativo circulante, ocorre um aumento no risco, pois com a diminuição do capital de giro líquido, a possibilidade de insolvência se eleva. Quanto à variação da porcentagem do ativo total que está sendo financiado pelo passivo circulante, o aumento desse quociente angaria mais rentabilidade, pois a empresa utiliza mais financiamento com passivo de curto prazo e menos com passivos de longo prazo, sendo o primeiro mais barato, porque apenas parte dele possui custo e o restante corresponde apenas a encargos e juros. Da mesma forma, o aumento desse quociente eleva o risco de insolvência, já que o aumento do passivo circulante reduz o capital de giro líquido. Em contrapartida, a diminuição do ativo total financiado pelo passivo circulante gera diminuição da rentabilidade em razão do aumento no financiamento do passivo 6 de longo prazo, que é de custo elevado. Já em relação ao risco, também ocorre diminuição, consequência da elevação do capital de giro líquido. TEMA 2 – NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO (NCG) Para estudar esse item, necessitamos inserir, preliminarmente, outros conceitos que facilitarão o entendimento. Tanto os ativos circulantes quanto os passivos circulantes podem ser subdivididos em dois grupos: • Ativo Circulante Operacional: são aplicações realizadas nas atividades operacionais da empresa, como disponibilidades mínimas necessárias, adiantamento a fornecedores, estoques, impostos a recuperar e despesas antecipadas. • Passivo Circulante Operacional: decorrem das fontes de financiamentos originadas dessas atividades operacionais, como fornecedores, impostos a pagar, adiantamentos a clientes, salários e encargos, ou seja, todos os passivos inerentes ao ciclo operacional, que veremos posteriormente. • Ativo Circulante Financeiro: abrange as que não fazem parte do ciclo operacional da empresa, como disponibilidades ociosas, aplicações financeiras, investimentos, caixa, créditos de empresas coligadas. • Passivo Circulante Financeiro: empréstimos, financiamentos, dívidas com coligadas e duplicatas descontadas. Compreendida essa diferenciação, passamos ao conceito de necessidade de capital de giro, que simboliza a parte de um ativo operacional não financiado por passivos operacionais, mas por passivos financeiros ou circulantes. 𝑁𝐶𝐺 = 𝐴𝐶 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 − 𝑃𝐶 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 Em síntese, se o passivo circulante operacional não for suficiente para cobrir os ativos operacionais, uma parte deste terá que ser financiada por um passivo de longo prazo ou será necessário gerar uma dívida (passivo financeiro) para cobrir essa atividade operacional. Deste modo, a situação mais favorável para o empregador é o NCG negativo, pois demonstra a ausência de necessidade de utilizar essa outra forma de capital. Assaf (2014) defende que a dependência de investimento em capital de giro espelha o volume líquido e os recursos 7 demandados pelo ciclo operacional, consequência de sua política de compras, vendas e estocagem. 2.1 Na prática Utilizaremos o exemplo anterior, adicionando apenas outras formas de passivos circulantes. Nota-se que os itens grifados representam os ativos e passivos operacionais, sendo excluídos do cálculo os ativos e passivos financeiros, como caixa e empréstimos a pagar. 𝑁𝐶𝐺 𝑑𝑒 2021 = 𝑅$ 110.000,00 − 𝑅$ 97.000,00 = 𝑅$ 13.000,00 𝑁𝐶𝐺 𝑑𝑒 2020 = 𝑅$ 120.000,00 − 𝑅$ 122.000,00 = −𝑅$ 12.000,00 Em 2021, a necessidade de capital de giro foi de R$13.000,00. Logo, para cobrir essa diferença será necessário utilizar fontes não operacionais, como fontes financeiras do passivo circulante ou não circulante. Em síntese, em 2021 foi necessário tomar recursos emprestados para poder trabalhar. Já em 2020, a necessidade de capital de giro foi negativa, o que demonstra não ser preciso obter capital originado do passivo circulante não financeiro ou não circulante. Com esse exemplo, é possível perceber que a necessidade de capital de giro não significa falta de dinheiro, pois há atitudes que podem ser tomadas pelo empresário para melhorar uma NCG positiva. Uma delas é pela negociação com fornecedor, visando aumentar o prazo de pagamento, o que geraria aumento do passivo operacional. A redução do valor de estoques e do prazo de pagamento também seria outra opção, pois diminuiria o ativo operacional. Ativo 31/12/2021 31/12/2020 Ativo Circulante R$ 250.000,00 R$ 200.000,00 Caixa e equivalente R$ 90.000,00 R$ 30.000,00 Clientes R$ 60.000,00 R$ 20.000,00 Estoque R$ 50.000,00 R$ 100.000,00 Depesas antecipadas R$ 50.000,00 R$ 50.000,00 Passivo e Pat. Líquido 31/12/2021 31/12/2020 Passivo Circulante R$ 167.000,00 R$ 222.000,00 Fornecedores R$ 80.000,00 R$ 80.000,00 Empréstimos a Pagar R$ 70.000,00 R$ 100.000,00 Salários a Pagar R$ 12.000,00 R$ 30.000,00 Tributos a Pagar R$ 5.000,00 R$ 12.000,00 8 2.2 Saldo em Tesouraria (ST) Trata-se de um valor obtido por meio da subtração entre ativo financeiro e passivo financeiro. Vale mencionar que o capital circulante líquido se decompõe entre necessidade de capitalde giro e saldo em tesouraria. 𝑆𝑇 = 𝐴𝐶 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 − 𝑃𝐶 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 Quando o saldo de tesouraria for superior a zero, a empresa possui disponibilidade de recursos para garantir liquidez a curtíssimo prazo; se o saldo for inferior a zero significa que há dificuldades financeiras latentes e a habitualidade de uma situação igual a essa representa iminência ainda maior, pois indica que a empresa, por diversas vezes, possui ativos financeiros insuficientes para cobrir seu passivo. 2.3 Na prática Para compreender melhor a coexistência entre esses três indicadores, faremos uma pequena atividade comparando quatro empresas diferentes. Observe a seguinte tabela. Empresa CCL NCG ST FFA - X + - + FFA - Y + + + FFA - Z - + - FFA - B - - - • FFA – X: essa empresa possui CCL positivo e tem ativos circulantes suficientes para cobrir o passivo circulante. Logo, é possível quitar as dívidas de curto prazo sem precisar utilizar o ativo não circulante. Seu NCG negativo significa que não é necessário utilizar outra forma de capital, pois possui há passivo circulante operacional do aque ativo circulanteoperacional, não sendo necessário criar dívidas ou utilizar o passivo não circulante para arcar com atividades operacionais. O ST positivo permite que a empresa disponha de liquidez a curtíssimo prazo, possuindo mais ativos circulantes financeiros do que passivos circulantes financeiros; trata- se do melhor cenário possível de uma empresa no mercado. 9 • FFA – Y: essa empresa possui todos os itens da tabela positivos; autores que estudam o tema classificam essa situação como estável, sendo também um cenário positivo, ainda que, em razão do NCG positivo, a empresa necessite recorrer aos passivos financeiros (dívida) ou não circulantes para financiar parte de seu ativo operacional, pois há menos passivos circulantes operacionais do que ativos circulantes operacionais. • FFA – Z: neste caso, apenas o NCG é positivo, sendo os outros dois indicadores negativos. Em razão disso, os autores consideram um cenário ruim; na realidade, eles consideram como a pior situação possível (muito ruim), pois o ST negativo representa dificuldades financeiras da empresa (ativo circulante financeiro é inferior ao passivo circulante financeiro), o CCL negativo significa que os ativos circulantes não são suficientes para arcar com os passivos circulantes, sendo necessário recorrer aos ativos não circulantes, e para completar possui um NCG positivo que demonstra a necessidade de gerar uma dívida para arcar com o passivo. • FFA – B: aqui, todos os indicadores estão negativos, o que representa apenas um benefício em relação ao NCG, não necessitando se endividar para cobrir os ativos operacionais, motivo pelo qual é considerada uma situação ruim, classificada como segundo pior cenário. TEMA 3 – INDICADORES DE ATIVIDADE São os indicadores que se preocupam com prazos médios das contas vinculadas à gestão do capital de giro da empresa (ativo circulante e passivo circulante). Assaf (2014) destaca que o principal objetivo desses instrumentos é determinar o prazo de duração de um ciclo operacional, que, conforme comentado, abrange todas as fases operacionais, isto é, da aquisição da matéria- prima básica até o recebimento do valor inerente às vendas realizadas. Uma empresa sempre irá buscar o ciclo operacional mais efetivo, aquele mais reduzido e que demanda menos investimento. Para tanto, as companhias utilizam prazos de pagamento de estoque diferenciados, além de operações de desconto de duplicatas relativas ás vendas a crédito. Para o cálculo de todos os índices que apresentaremos a seguir será necessário utilizar fórmulas que empregam dados do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado, de um ano completo, sendo calculado em dias. Por este motivo utilizamos nas fórmulas o número 360 (representativo da quantidade 10 de dias). Trata-se de uma média aproximada; caso quiséssemos calcular com base em meses utilizaríamos o multiplicador 12. 3.1 Prazo médio de compras ou pagamento Apresenta o tempo médio em que a empresa atrasa o pagamento de suas dívidas de fornecedores quando estas forem realizadas a prazo. Nas palavras de Assaf (2014), com essa fórmula é possível chegar à rotação das contas a pagar. O autor também destaca que a partir do momento que os encargos embutidos nessas compras a prazo não excedem a taxa inflacionária do período, se torna interessante para a empresa um prazo de pagamento elevado. Por este motivo, a decisão relativa à compra (à vista ou a prazo) leva muito em consideração a taxa de juros da melhor aplicação financeira do mercado. Prazo médio de pagamento (PMC) = 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟 𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑠 𝑥 360 𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑠 = 𝑐𝑢𝑠𝑡𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 + 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝐼𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 3.2 Prazo médio de estoque É o tempo médio necessário para uma completa renovação de estoque. Quanto mais elevado for este índice, maior será o prazo em que os produtos se mantêm estocados e, consequentemente, mais custosa serão as necessidades de investimento nessa parte do ativo, gerando redução em seu retorno. Por meio deste número será possível identificar a eficiência em que os estoques são administrados e quanta influência há sobre o retorno global da empresa. Prazo médio de estocagem (PME) = 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝑥 360 3.3 Prazo médio de vendas ou recebimento Em contrapartida ao índice anterior, este indicador revela o tempo médio de recebimento das vendas realizadas a prazo. É sempre mais vantajoso para a empresa diminuir o máximo possível o prazo de recebimento das vendas, pois aumentará os recursos disponíveis para outros investimentos, além de ampliar o giro de seus ativos, gerando maior rentabilidade. Uma forma de reduzir o volume desses valores a receber é pelo desconto de duplicatas em bancos comerciais. 11 Prazo médio de Recebimento (PMR) = 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝑥 360 3.4 Na prática Agora que já compreendemos todos os aspectos conceituais do assunto, vamos analisar uma situação prática. As tabelas a seguir representam o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultado das Lojas Renner (LREN3). Nessa análise iremos verificar apenas o período até 30/09/2021. https://www.investsite.com.br/balanco_patrimonial_ativo.php?cod_negociacao=LREN3 LOJAS RENNER - BPA – 20210930 Balanço Patrimonial - Ativo - Consolidado (R$ mil) 30/09/2021 % total 31/12/2020 % total Ativo Total 19.462.761 100,00% 14.642.583 100,00% Ativo Circulante 12.473.226 64,09% 8.896.766 60,76% Caixa e Equivalentes de Caixa 5.276.525 27,11% 2.066.781 14,11% Aplicações Financeiras 514.194 2,64% 605.572 4,14% Contas a Receber 3.883.599 19,95% 3.811.668 26,03% Estoques 1.696.046 8,71% 1.381.662 9,44% Ativos Biológicos 0 - 0 - Tributos a Recuperar 928.688 4,77% 961.997 6,57% Despesas Antecipadas 0 - 0 - Outros Ativos Circulantes 174.174 0,89% 69.086 0,47% Ativo Não Circulante 6.989.535 35,91% 5.745.817 39,24% Ativo Realizável a Longo Prazo 1.095.714 5,63% 950.883 6,49% Investimentos 0 - 0 - Imobilizado 4.793.105 24,63% 3.854.298 26,32% Intangível 1.100.716 5,66% 940.636 6,42% Balanço Patrimonial - Passivo - Consolidado (R$ mil) 30/09/2021 % total 31/12/2020 % total Passivo Total 19.462.761 100,00% 14.642.583 100,00% Passivo Circulante 5.408.443 27,79% 5.633.411 38,47% Obrigações Sociais e Trabalhistas 333.603 1,71% 226.816 1,55% Fornecedores 1.389.226 7,14% 1.404.852 9,59% Obrigações Fiscais 208.682 1,07% 402.930 2,75% Empréstimos e Financiamentos 944.116 4,85% 1.418.471 9,69% Outras Obrigações 2.466.473 12,67% 2.113.283 14,43% Provisões 66.343 0,34% 67.059 0,46% 12 Demonstração de Resultado do Exercício - Consolidado (R$ mil) 01/07/2021 a 30/09/2021 % total 01/01/2021 a 30/09/2021 % total Receita de Venda de Bens e/ou Serviços 2.626.014 100,00% 6.695.812 100,00% Custo dos Bens e/ou Serviços Vendidos -1.110.935 -42,30% -2.788.693 -41,65% Resultado Bruto 1.515.079 57,70% 3.907.119 58,35% Despesas/Receitas Operacionais -1.307.326 -49,78% -3.612.135 -53,95% Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos 207.753 7,91% 294.984 4,41% Resultado Financeiro -18.470 -0,70% -147.936 -2,21% Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro 189.283 7,21% 147.048 2,20% Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro -17.327 -0,66% 70.278 1,05% Resultado Líquido das Operações Continuadas 171.956 6,55% 217.326 3,25% Resultado Líquido de Operações Descontinuadas 0 - 0 - Lucro/Prejuízo Consolidado do Período 171.956 6,55% 217.326 3,25% Lucro por Ação - (Reais / Ação) 0,00000 - 0,00000 - Passivos sobre Ativos Não- Correntes a Venda e Descontinuados 0 - 0 - Passivo Não Circulante 4.556.703 23,41% 3.507.856 23,96% Empréstimos e Financiamentos 2.425.184 12,46% 1.966.508 13,43% Outras Obrigações 2.055.761 10,56% 1.486.11110,15% Tributos Diferidos 0 - 0 - Provisões 75.758 0,39% 55.237 0,38% Passivos sobre Ativos Não- Correntes a Venda e Descontinuados 0 - 0 - Lucros e Receitas a Apropriar 0 - 0 - Patrimônio Líquido Consolidado 9.497.615 48,80% 5.501.316 37,57% Capital Social Realizado 7.743.271 39,79% 3.805.326 25,99% Reservas de Capital -88 0,00% -25.430 -0,17% Reservas de Reavaliação 0 - 0 - Reservas de Lucros 1.694.324 8,71% 1.694.515 11,57% Lucros/Prejuízos Acumulados -43.161 -0,22% 0 - Ajustes de Avaliação Patrimonial 0 - 0 - Ajustes Acumulados de Conversão 0 - 0 - Outros Resultados Abrangentes 103.269 0,53% 26.905 0,18% Participação dos Acionistas Não Controladores 0 - 0 - 13 Destacamos em verde o período que iremos analisar e em vermelho os dados que são importantes para alcançar as respostas relativas aos prazos médios de estoque, recebimentos e pagamentos. • Cálculo do prazo médio de estoque: (PME) = 1.696.046 2.788.683 𝑥 360 = 219 𝑑𝑖𝑎𝑠 (𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒) • Cálculo do prazo médio compras: neste caso, preste mais atenção, pois há necessidade de realizar o cálculo das compras anuais a prazo, resultado que será adquirido pela soma dos custos das vendas com o estoque final, subtraindo o estoque inicial (saldo do estoque do balanço anterior). 𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑠 = 2.788.693 + 1.696.046 − 1.381.662 = 3.103.077 (PMC) = 1.389.226 3.103.077 𝑥 360 = 161 𝑑𝑖𝑎𝑠 (𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒) • Cálculo do prazo médio de recebimentos: (PMR) = 3.883.599 6.695.812 𝑥 360 = 209 𝑑𝑖𝑎𝑠 (𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒) Esse estudo deixou claro que, atualmente, o estoque da Renner demora em média 219 dias para ser renovado, além de possuir prazo médio de recebimento superior ao prazo médio de pagamento, o que demonstra certa desvantagem, pois a empresa demora mais para receber do que para pagar, ou seja, vende com prazos superiores aos que compra junto aos fornecedores, gerando necessidade de utilizar outras formas de capital. TEMA 4 – CICLO OPERACIONAL, FINANCEIRO ECONÔMICO Para que o gestor de uma empresa possua visão ampla de todo o processo de compra, armazenagem, vendas e recebimentos de pagamentos, ele utiliza os prazos médios para verificar todo esse período, sendo fundamental a separação desse procedimento em ciclos: econômico, financeiro e operacional. O ciclo operacional representa todo o período entre a compra da matéria- prima e o recebimento do valor relativo à venda daquele bem que utilizou a mesma matéria-prima, ou seja, é a duração prevista (em meses ou dias), que perdura da aquisição da matéria-prima até o recebimento da venda do produto acabado. 14 Fonte: Assaf Neto; Silva, 2012, p. 11. Neste quadro, é possível verificar que cada uma das fases de um ciclo operacional possui certa duração. Assim, a empresa/indústria realiza a compra da matéria-prima e até sua fabricação teremos o PMEmp (prazo médio de estocagem de matéria-prima). Depois de iniciada a fabricação, inicia-se o PMF (prazo médio de fabricação); quando finalizada, origina o PMV (prazo médio de venda), também denominado PMEpt (prazo médio de estocagem de produtos terminados), que irá perdurar até o momento da venda. Mesmo após realizar a venda, há outro prazo que permanecerá até o dia do recebimento do valor correspondente à venda, o de PMC ou PMR (prazo médio de cobrança ou prazo médio de recebimento). Durante todos esses períodos incide o custo operacional, uma vez que este ciclo operacional gera obrigações com fornecedores, pagamento de salários dos funcionários, pagamentos de luz, água e aluguéis, e de títulos. Ao final do processo, com a venda do produto é gerada a obrigação do pagamento dos tributos, além das duplicatas a receber no caso de venda a prazo. Após a venda, o dinheiro vem para o caixa, onde será possível pagar todas as custas relativas ao processo. Pelo estudo deste ciclo é possível identificar o quanto de fôlego financeiro é necessário durante o período. O ciclo econômico representa o tempo que o produto fica no estoque até a venda. Logo, considerando o orgonograma anterior, este ciclo abrangerá o PMEmp, o PMF e o PMV, momento em que ocorrerá efetivamente a venda. Já o ciclo financeiro é composto pelo prazo médio de pagamento aliado ao prazo médio de recebimento. Para identificá-lo, é necessário somar todo o ciclo operacional menos o prazo médio de pagamento aos fornecedores. 15 4.1 Na prática Para auxiliar o entendimento sobre o tópico, imaginemos que uma empresa que venda sapatos possui as seguintes características: • Compra no dia 01/07 e venda no dia 01/08. Sendo o ciclo econômico do produto de 30 dias; • Com a compra em 01/07 e a venda em 01/08 (30 dias), a loja concede prazo de recebimento; parcelamento em 4 vezes, sendo 30, 60, 90 e 120 dias; a média de recebimento é de 75 dias. Desse modo, concluímos que o ciclo operacional possui prazo total de 30 + 75 = 105 dias. • Ao mesmo tempo, essa loja de sapatos costuma pagar os fornecedores em 3 vezes, isto é, com 30, 60 e 90 dias, tendo como prazo médio de pagamento de 60 dias. Assim, possuindo o prazo total do ciclo operacional de 105 dias e o prazo médio de pagamento aos fornecedores de 60 dias, é possível concluir que o ciclo financeiro dessa empresa perdura pelo prazo de 45 dias, ou seja, a loja deve possuir caixa suficiente para suportar 45 dias até receber do cliente. 4.2 Efeito tesoura A administração inadequada do capital de giro pode levar ao chamado efeito tesoura. O NCG (necessidade de capital de giro) quando positivo, gera a necessidade de recorrer ao patrimônio líquido e ao passivo não circulante, mas supondo que esses dois não sejam suficientes, a empresa terá que recorrer à tesouraria (caixa; dívidas com o banco). A necessidade de financiar a falta de capital de giro em financiamentos de curto prazo (juros mais elevados) é ruim para a empresa. O efeito tesoura nascerá quando o NCG crescer e as fontes de longo prazo não acompanharem. Assim, a cada período (ano) que faltar capital, surge um novo financiamento pelo banco, mas chega um momento em que a dívida bancária se torna impossível de ser solvida, sendo constatado o efeito tesoura. Tal efeito pode ser consequência de: a) vendas em prejuízo; b) ampliação de estoques; c) utilização de dinheiro de capital de giro para ativos imobilizados; d) aumento excessivo das vendas sem ter estrutura de capital. 16 TEMA 5 – GESTÃO DE ESTOQUE A gestão de estoques é um ativo, abrangendo os produtos já prontos para venda e aqueles em processo de produção. Conforme afirma Gitman (2010), o principal objetivo da administração de estoques é girá-los (renová-los) o mais rápido possível, sem causar perdas de vendas decorrentes de faltas. Empresas de grande porte que têm diversos diretores/administradores, geralmente possuem problemas no que tange ao estoque, pois administradores financeiros, de marketing e de produção possuem pontos de vista diferentes quanto ao nível apropriado de estoque, e cada um irá buscar o mais vantajoso, considerando seus próprios objetivos. O administrador financeiro buscará baixo nível de estoque, impedindo investimentos desnecessários em recursos excessivos; o diretor de marketing visará a um alto estoque para atender todos os clientes com agilidade, evitando atrasos e faltas; o administrador de produção defenderá o alto nível de estoques, pois a produção em lotes reduziria o custo unitário do produto. Em razão dessa divergência, foram desenvolvidas técnicas de administração efetiva de estoque. • Sistema ABC: classificam os estoques em três grupos, de modo que o grupo A inclui os itens de maior investimento em dinheiro, o grupo B corresponde aos itens que demandem o segundo maior investimento, e o grupo C abrange um grande número de itens que demandem baixo investimento. Após realizaressa divisão, institui-se um método de monitoramento diferenciado para cada um destes, sendo o A monitorado diariamente em razão do alto investimento, o B com análises periódicas por conta da média importância, enquanto o C apresenta técnicas rudimentares de monitoramento. • EOQ (economic orden quantity): trata-se do método mais adequado para gestão de itens que demandem maior investimento. Este divide os custos relevantes do estoque em custos de pedido e de carregamento. O primeiro, inclui custos administrativos fixos, como custo de preenchimento de ordem de compra, processamento de documentação e recebimento de pedido e sua conferência, sendo estabelecidos em valores monetários de cada um dos pedidos. Já o custo de carregamento, corresponde aos custos variáveis unitários de manter um bem em estoque durante determinado período, como custo de armazenagem, seguro e deterioração, sendo estes 17 estabelecidos por unidade e por período. Este modelo, visa comparar a compensação entre custos de pedido e de carregamento, definindo o tamanho do pedido que minimiza o custo total de estoque. • JIT (just-in-time): possui a ideia de que os materiais só devem chegar no momento em que forem necessários para a produção, com o intuito de minimizar o investimento em estoques. Por esse motivo, não defende a realização de um estoque de segurança. Esse método exige cooperação muito grande do fornecedor (concedendo produtos de qualidade) e de transportadores (entregas no prazo), pois atrasos na entrega e problemas com a qualidade de insumos acarretariam interrupção da produção. 5.1 Gestão de contas Este componente é ser dividido em dois grupos: gestão de contas a pagar e gestão de contas a receber, que possibilitam levantar tudo o que a empresa tem a pagar e a receber no curto e longo prazo. A admininistração de contas a receber objetiva controlar os recebimentos e adotar medidas para reduzir a inadimplência. Para isso, é necessário também adotar medidas preliminares de análise de crédito, evitando possíveis inadimplências. Ou seja, a aplicação de instrumentos para determinar os eventuais clientes que fazem jus ao crédito, como os cinco Cs, conceito fundamental para a correta administração de contas a receber. Quando o assunto é a gestão de contas a receber, o foco está na diminuição do prazo médio de recebimento, havendo dois subgrupos: a) intervalo entre a venda e o momento em que o cliente efetivamente paga; b) tempo necessário para receber, processar e transformar o pagamento em caixa. No que tange a gestão de contas a pagar, também há uma divisão: a) prazo entre a compra a crédito de bens e o momento em que a empresa efetiva o pagamento; b) tempo necessário para que a empresa fornecedora realize todo o procedimento de recebimento do valor transformando-o em caixa, também conhecido como float. Nesse caso, o principal objetivo da empresa é estender ao máximo o prazo de pagamento, sem prejudicar o rating de crédito. Uma gestão eficiente sempre irá efetuar o pagamento no último dia possível de vencimento, permitindo aproveitar ao máximo o recurso durante este prazo. No mais, evitar o pagamento de multas, juros e contas em duplicidade também faz parte de uma gestão efetiva por parte da empresa. 18 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finançcas Corporativas e Valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. LOJAS RENNER. Balanço anual 2020. Disponível em: <https://api.mziq.com/m zfilemanager/v2/d/13154776-9416-4fce-8c46-3e54d45b03a3/5fd9ad54-a083- 5e3e-b279-7001d66f8c46?origin=1>. Acesso em: 1º abr. 2022. INVEST SITE. Balanço Patrimonial Ativo – Lojas Renner. Disponível em: <https://www.investsite.com.br/balanco_patrimonial_ativo.php?cod_negociacao= LREN3>. Acesso em: 1º abr. 2022. INVEST SITE. Demonstração do Resultado do Exercício - Consolidado – Lojas Renner. Disponível em: <https://www.investsite.com.br/demonstracao_resultado. php?cod_negociacao=LREN3>. Acesso em: 1º abr. 2022. MARTINS, E.; MIRANDA, G. J.; DINIZ, J. A. Análise Didática das Demonstrações Contábeis. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020.