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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA FINS PENAIS O Código Penal concebe a Administração Pública em sentido amplo, ou seja, não somente como o exercício de atividades tipicamente administrativas, mas como toda atividade estatal, quer no seu aspecto subjetivo (os vários entes que desempenham funções públicas), quer no seu aspecto objetivo (qualquer atividade desenvolvida para satisfação do bem comum). Em resumo, no Direito Penal existe um CONCEITO EXTENSIVO de “Administração Pública”, abrangendo toda a atividade funcional do Estado e dos demais entes públicos. De fato, o legislador classificou no Título XI – dos Crimes contra a Administração Pública – os ilícitos penais que têm como característica comum a ofensa à atividade do Estado ou de outras entidades públicas. 2. ILÍCITO PENAL E ILÍCITO ADMINISTRATIVO A prática de um fato em prejuízo da Administração Pública pode constituir tanto um ilícito administrativo quanto um ilícito penal, isso porque tanto o Direito Penal quanto o Direito Administrativo tutelam este bem jurídico. O Direito Penal é a última etapa de proteção do bem jurídico, razão pela qual todo ilícito penal será também ilícito perante o Direito Administrativo, mas nem todo ilícito administrativo será necessariamente um crime ou contravenção penal. De outro lado, a punição simultânea de uma conduta na esfera administrativa e penal, em regra, não configura bis in idem. Isso porque as esferas são autônomas e suas sanções tem natureza distinta. Por exemplo, frequentemente um mesmo fato consistente na prática de um ilícito por funcionário público contra a Administração Pública ensejará sua responsabilização ADMINISTRATIVA (infração disciplinar), CIVIL (nos termos da Lei 8429/90 - Lei de Improbidade Administrativa) e PENAL (crime contra a Administração Pública). 3. FUNDAMENTO LEGAL Os crimes contra a Administração Pública encontram-se tipificados no Título XI da Parte Especial do Código Penal, e estão divididos em cinco capítulos: • Capítulo I – Dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral (ARTIGOS 312 A 327); • Capítulo II – Dos crimes praticados por particular contra a Administração em geral (ARTIGOS 328 A 337-A); • Capítulo II–A – Dos crimes praticados por particular contra a Administração Pública estrangeira (ARTIGOS 337-B A 337-D); • Capítulo III – Dos crimes contra a Administração da Justiça (ARTIGOS 338 A 359); e • Capítulo IV – Dos crimes contra as finanças públicas (ARTIGOS 359-A a 359-H). Nesta exposição analisaremos os aspectos gerais dos Crimes contra a Administração Pública e de forma pormenorizada o primeiro grupo desses crimes, a saber: os crimes praticados por funcionário público contra a Administração Pública ATENÇÃO! Conforme orientação jurisprudencial consolidada na Súmula 599 do Superior Tribunal de Justiça: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública. * Na jurisprudência do STJ, no entanto, há uma exceção: o crime de descaminho (artigo 334, Código Penal) em relação ao qual é pacífica a aplicação do sobredito princípio. ** O Supremo Tribunal Federal já reconheceu a insignificância em crimes contra a Administração Pública em diversas situações, seguindo direção oposta ao entendimento sumulado pelo STJ. 4. OBJETIVIDADE JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O bem jurídico genericamente tutelado nos crimes contra a Administração Pública é o interesse público relativo ao REGULAR FUNCIONAMENTO e ao prestígio DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA em sentido amplo; bem como a DIGNIDADE, PROBIDADE e EFICIÊNCIA DA ATIVIDADE ESTATAL. Ainda nesse aspecto, cabe destacar que cada um dos diferentes crimes contra a Administração Pública pode vir a tutelar simultaneamente também outros bens jurídicos. 5. DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTIGOS 312 A 327 DO CÓDIGO PENAL) 5.1. ASPECTOS GERAIS Os crimes praticados por funcionário público contra a Administração Pública têm por principal característica a circunstância de somente poderem ser praticados de forma direta por funcionário público no exercício da função ou em razão dela, daí sua denominação de CRIMES FUNCIONAIS. Os crimes funcionais podem ser classificados em CRIMES FUNCIONAIS PRÓPRIOS (aqueles cuja exclusão da qualidade de funcionário público torna o fato atípico. Ex: prevaricação, artigo 319 do Código Penal) e CRIMES FUNCIONAIS IMPRÓPRIOS (aqueles nos quais a exclusão da qualidade de funcionário público do agente induz à desclassificação da conduta para uma infração penal de outra natureza. Ex: no peculato, se provado que o agente não era funcionário público, desclassifica-se a conduta para furto – artigo 155, Código Penal – ou apropriação indébita – artigo 168, Código Penal). Em todos os crimes funcionais a condição de funcionário público do autor da conduta é elementar do tipo. Nesse aspecto, ocorrendo o CONCURSO DE PESSOAS envolvendo funcionário público e particular na prática de um desses delitos, a condição de funcionário público se estende ao particular, forte o disposto no artigo 30 do Código Penal. Em outras palavras, no concurso de pessoas com funcionário público envolvendo a prática de crime funcional, o particular responderá também pela prática do mesmo crime (mesmo não sendo funcionário público). No aspecto processual, tem-se que o Código de Processo Penal estabelece em seus artigos 513 a 518, rito especial para a apuração dos crimes funcionais. A principal característica desse procedimento em distinção ao rito comum ordinário é a existência de uma oportunidade de resposta preliminar ao recebimento da denúncia, mediante notificação do acusado. No entanto, segundo a orientação jurisprudencial consolidada no enunciado 330 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: “é desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do CPP, na ação penal instruída por inquérito policial”. 5.2. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO (ARTIGO 327, CP) O Código Penal adota um conceito abrangente de funcionário público, para efeito de configuração de crime funcional, abarcando praticamente todos os indivíduos que exercem atividades públicas. Com efeito, nos termos do artigo 327, caput, do Código Penal: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. CARGO PÚBLICO corresponde aos criados por lei, com denominação própria (ex: agentes políticos, servidores públicos de carreira, etc). EMPREGO PÚBLICO guarda referência com os servidores temporários ou contratados pelo regime de CLT. FUNÇÃO PÚBLICA abrange qualquer conjunto de atribuições públicas que não correspondam a cargo ou emprego público. Ex: jurados, mesários, estagiários de órgãos públicos. Ainda complementa o conceito de funcionário público o artigo 327, em seu §1.º, nos seguintes termos: Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Assim equipara-se a funcionário público quem exerce suas atividades em AUTARQUIAS (ex: INSS), SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA (ex: BANCO DO BRASIL), FUNDAÇÕES INSTITUÍDAS PELO PODER PÚBLICO (FUNAI). Ainda, pela mencionada norma de extensão, são puníveis por crime contra a Administração Pública aqueles que exercem sua atividade em concessionárias e permissionárias de serviços públicos (empresas contratadas) e até mesmo empresas/entidades conveniadas (ex: Santa Casa de Misericórdia). 5.3. CAUSA DE AUMENTO DE PENA (ART. 327, §2º, CÓDIGO PENAL) Em seu artigo 327, §2º, o Código Penal estabelece uma causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes tipificadosno Capítulo I, do Título XI, nos seguintes termos: A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 6. DOS CRIMES EM ESPÉCIE (ARTIGOS 312 A 326 DO CÓDIGO PENAL) 6.1. PECULATO – ARTIGO 312, CÓDIGO PENAL Dispõe o Código Penal nos seguintes termos: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Em seu caput, o artigo 312 traz duas figuras criminosas: o PECULATO-APROPRIAÇÃO e o PECULATO-DESVIO. O PECULATO-APROPRIAÇÃO consiste na conduta de “apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo”. A conduta guarda proximidade com o crime previsto no artigo 168, do Código Penal (apropriação indébita) , mas aqui é praticado por funcionário público em relação a bem público ou de particular sob a guarda da Administração. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o patrimônio público ou particular, assim como a probidade administrativa. • O OBJETO MATERIAL da conduta deve ser dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel público ou particular (desde que se encontre sob a guarda ou custódia da Administração). • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público (exceto, para os agentes que exerçam cargo ou função para o qual exista tipo penal específico a tipificar sua conduta. Ex: prefeitos responderão pelo crime previsto no artigo 1º, I, do Decreto-Lei 201/67; tutores e curadores responderão pelo crime previsto no artigo 168, §1º, II, Código Penal; administrador judicial da falência que se apodera de bem da massa falida responderá pelo crime previsto no art.173, da Lei 11.101/05). • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO, sempre; eventualmente poderá ser também o particular cujo bem se encontrava sob a custódia da Administração. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento em que o funcionário público passa a se comportar como dono do objeto. A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. O PECULATO-DESVIO, por sua vez, consiste na conduta do funcionário público de desviar, em proveito próprio ou alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, de que tem a posse em razão do cargo. DESVIAR significa dar destinação diversa daquela que deveria ser dada. O proveito do agente pode ser patrimonial ou moral (obtenção de prestígio ou vantagem política). • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o patrimônio público ou particular, assim como a probidade administrativa. • O OBJETO MATERIAL da conduta deve ser dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel público ou particular (desde que se encontre sob a guarda ou custódia da Administração). • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO, sempre; eventualmente poderá ser também o particular cujo bem se encontrava sob a custódia da Administração. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento do desvio, pouco importando a obtenção efetiva da vantagem pretendida. A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. Já em seu §1.º, o artigo 312 traz uma outra figura criminosa: o PECULATO-FURTO. O PECULATO- FURTO consiste na conduta de SUBTRAIR ou CONCORRER PARA TERCEIRO SUBTRAIA, em proveito próprio ou alheio, dinheiro, valor ou bem que não se encontra sob sua posse, valendo- se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário público. Tratase de modalidade típica que guarda proximidade com o delito de furto (artigo 155, Código Penal) só que aqui é praticado por funcionário público em relação a bem público ou de particular sob a guarda da Administração. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o patrimônio público ou particular, assim como a probidade administrativa. • O OBJETO MATERIAL da conduta deve ser dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel público ou particular (desde que se encontre sob a guarda ou custódia da Administração). • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO, sempre; eventualmente poderá ser também o particular cujo bem se encontrava sob a custódia da Administração. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento em que o agente tirar a coisa da esfera da vigilância da Administração. A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. ATENÇÃO! Questão controvertida é a relativa à tipicidade do PECULATO DE USO, quando o agente faz uso de bem público para fins particulares mas sem o intuito de apoderar-se definitivamente da coisa, restituindo o bem logo depois. Quanto a esse tema é preciso distinguir duas situações: - Se a conduta se refere a BEM que é INFUNGÍVEL E NÃO CONSUMÍVEL: NÃO HÁ FATO TÍPICO. Ex: é atípica a conduta do servidor público que utilizar carro oficial para transportar as mercadorias que comprou no supermercado até sua residência. Ex2: é atípica a conduta do servidor que usa o computador da repartição para fazer um trabalho escolar. - Se a conduta se refere a BEM que é FUNGÍVEL OU CONSUMÍVEL: HÁ FATO TÍPICO. Ex: haverá fato típico na conduta do servidor público que utilizar dinheiro público para pagar suas contas pessoais, ainda que restitua integralmente a quantia antes que descubram. Ainda, importa destacar que se o autor da conduta for PREFEITO, sua CONDUTA SERÁ PENALMENTE TÍPICA EM QUALQUER DAS HIPÓTESES, forte o disposto no artigo 1.º, II, do Decreto-Lei 201/67. 6.2. PECULATO CULPOSO – ARTIGO 312, §2º, CÓDIGO PENAL Ainda quanto ao peculato, dispõe o Código Penal: § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. A configuração do peculato culposo pressupõe dois fatores simultâneos: a) que o funcionário público tenha sido descuidado, faltando com dever de cautela a que era obrigado na guarda ou vigilância da coisa pública; b) que um terceiro pratique um crime doloso aproveitando-se da facilidade culposamente provocada pelo funcionário público, pouco importando se o terceiro é funcionário público ou particular. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o patrimônio público ou particular, assim como a probidade administrativa. • O OBJETO MATERIAL da conduta deve ser dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel público ou particular (desde que se encontre sob a guarda ou custódia da Administração). • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO, sempre; eventualmente poderá ser também o particular cujo bem se encontrava sob a custódia da Administração. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento em que se consuma o crime do terceiro. A TENTATIVA não é admissível, posto que não se admite tentativa de crime culposo. Nesse ponto cumpre salientar que se o crime do terceiro não se consumar não haverá peculato culposo por parte do funcionário público descuidado, mas somente a responsabilização do terceiro pelo crime dolosotentado que tenha praticado. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal. Conforme o artigo 312, §2º, do Código Penal, a REPARAÇÃO DO DANO, no PECULATO CULPOSO: • se realizada ANTES DA SENTENÇA CONDENATÓRIA IRRECORRÍVEL, EXTINGUE A PUNIBILIDADE; • se realizada APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA, REDUZ PELA METADE A PENA IMPOSTA. 6.3. PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM – ARTIGO 313, CÓDIGO PENAL Ainda tratando das figuras de peculato, dispõe o Código Penal: Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. O PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM consiste na conduta de apropriar-se o funcionário público de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. Na hipótese o erro não é provocado pelo funcionário público, o qual apenas se beneficia do erro de outrem. Trata-se de delito que guarda relação com o crime de apropriação de coisa havida por erro (artigo 169, Código Penal), só que aqui é praticado por funcionário público valendo-se do exercício de sua função pública. Na hipótese de o funcionário público induzir a vítima em erro, o crime será de estelionato (artigo 171, Código Penal) posto que essa conduta não encontra previsão nos crimes contra a Administração Pública. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o patrimônio público ou particular, assim como a probidade administrativa. • O OBJETO MATERIAL da conduta deve ser dinheiro ou qualquer utilidade. Apesar do caráter genérico da expressão “qualquer utilidade” predomina que esta deve ser entendida como QUALQUER UTILIDADE ECONÔMICA. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será tanto o ESTADO quanto a pessoa lesada pela conduta. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento em que o agente passa a se comportar como dono do objeto que recebeu por erro. A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.4. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMAS DE INFORMAÇÕES – ARTIGO 313-A, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 313-A, o Código Penal dispõe sobre o crime de Inserção de dados falsos em sistema de informações, nos seguintes termos: Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. O crime se perfaz com a prática das condutas de INSERIR OU FACILITAR A INSERÇÃO DE DADOS FALSOS NOS SISTEMAS INFORMATIZADOS OU BANCOS DE DADOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ou ALTERAR OU EXCLUIR INDEVIDAMENTE DADOS CORRETOS NOS SISTEMAS INFORMATIZADOS OU BANCOS DE DADOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO e o prestígio DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à preservação dos bancos de dados da Administração Pública. • O OBJETO MATERIAL da conduta são os dados, falsos ou corretos, integrantes dos sistemas informatizados da Administração Pública. • O SUJEITO ATIVO deve ser qualquer funcionário público autorizado a trabalhar com o sistema de dados, tratando-se de crime próprio. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO; eventualmente, também será a pessoa prejudicada pela conduta. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento em que o agente pratica a conduta típica, ainda que não obtenha a vantagem almejada (crime formal). A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.5. MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES – ARTIGO 313-B, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 313-A, o Código Penal dispõe sobre o crime de modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações, nos seguintes termos: Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. O crime se perfaz com a prática das condutas de MODIFICAR OU ALTERAR SISTEMA DE INFORMAÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO OU SOLICITAÇÃO DA AUTORIDADE COMPETENTE. Enquanto no artigo 313-A a conduta do agente visa a alteração dos dados mantidos nos sistemas informáticos da Administração Pública, no crime descrito no artigo 313-B a conduta envolve a alteração do próprio sistema informático. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO e o prestígio DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à preservação dos SISTEMAS DE INFORMAÇÕES e PROGRAMAS DE INFORMÁTICA da Administração Pública. • O OBJETO MATERIAL da conduta são os sistemas informáticos e programa de informática da Administração Pública. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO; eventualmente, também será a pessoa prejudicada pela conduta. • A CONSUMAÇÃO ocorre no momento em que o agente pratica a conduta típica. A TENTATIVA é admissível. • O parágrafo único do artigo 313-B, Código Penal, estabelece ainda uma causa de aumento da pena, de um terço até metade, se da modificação ou alteração resultar DANO para a Administração ou para o administrado. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. Na forma simples, a competência será do Juizado Especial Criminal; na forma majorada, a competência será do Juízo Criminal Comum. 6.6. EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO – ARTIGO 314, CÓDIGO PENAL No artigo 314, do Código Penal, o legislador criminal tipificou o crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento, nos seguintes termos: Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. O delito consiste na prática, pelo funcionário público, das condutas de EXTRAVIAR (fazer desaparecer), SONEGAR (não apresentar quando solicitado) OU INUTILIZAR (tornar imprestável) LIVRO OFICIAL OU QUALQUER DOCUMENTO, de que tem a guarda em razão do cargo. A conduta deve ser dolosa, não existindo incriminação na forma culposa. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO e o prestígio DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à preservação dos livros e documentos que são mantidos sob sua guarda. • O OBJETO MATERIAL da conduta são os livros e documentos oficiais ou de particulares que se encontrem sob a guarda da Administração Pública. • O SUJEITO ATIVO é exclusivamente o funcionário público responsável pela guarda do livro ou documento, tratando-se de crime próprio. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO; eventualmente, também será o particular que tem seu livro ou documento sob a guarda da Administração. • A CONSUMAÇÃO, nas modalidades extravio e inutilização, se dá com o efetivo extravio ou inutilização do livro ou documento. Na modalidade sonegação, a consumação se dá no instante em que o agente deveria fazer a entrega ou apresentação do livro ou documento, e deixa de fazê-lo. A TENTATIVA é admissível nas modalidades extravio e inutilização, sendo impossível na modalidade sonegação. • Ainda cumpre consignar que se trata de tipo penal subsidiário, isto é, somente incide se o fato não constituir crime mais grave como, por exemplo, corrupção passiva(art.317, Código Penal) ou supressão de documento (artigo 305, Código Penal). • De outro lado: se o advogado ou procurador inutilizar documento ou objeto probatório, comete o crime do artigo 356, Código Penal; se o particular subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à Administração comete o crime do artigo 337, do Código Penal. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.7. EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS – ARTIGO 315, CÓDIGO PENAL No artigo 315, o Código Penal tipifica o crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas, nos seguintes termos: Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Consiste na aplicação de recursos públicos em finalidade diversa da destinada em lei. Na hipótese o agente não se apropria nem subtrai os recursos em seu benefício ou de terceiro; pelo contrário, aplica os recursos em benefício da Administração Pública, porém em finalidade diversa da expressamente estabelecida em lei para determinada verba ou renda pública. Ex: funcionário deveria aplicar a verba em obras de esgotamento sanitário, mas dolosamente aplica o recurso no asfaltamento de vias públicas. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à observância da legalidade na destinação e aplicação dos recursos públicos. • O OBJETO MATERIAL da conduta são as rendas ou verbas públicas indevidamente aplicadas. • O SUJEITO ATIVO é exclusivamente o funcionário público que tem o poder de disposição sobre a verbas ou rendas públicas envolvidas. Se o agente for o prefeito municipal, no entanto, incide o crime do artigo 1.º, III, do Decreto-Lei 201/67. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO e a entidade de direito público lesada pelo desvio. • A CONSUMAÇÃO se dá com a efetiva aplicação irregular da verba ou renda pública, independentemente da ocorrência de prejuízo ao Erário (crime formal). • A TENTATIVA é admissível. Ex: o agente realiza o procedimento formal para a destinação indevida da verba pública, mas por circunstâncias alheias à sua vontade, os recursos não chegam a ser efetivamente aplicados. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.8. CONCUSSÃO – ARTIGO 316, CÓDIGO PENAL No artigo 316 do Código Penal o legislador tipificou o crime de concussão, nos seguintes termos: Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público de EXIGIR, PARA SI OU PARA OUTREM, DIRETA OU INDIRETAMENTE, AINDA QUE FORA DA FUNÇÃO OU ANTES DE ASSUMILA, MAS EM RAZÃO DELA, VANTAGEM INDEVIDA. Tal conduta se distingue o crime de corrupção passiva, conforme o qual o funcionário público recebe ou solicita (mero pedido) indevida vantagem, posto que na concussão há a EXIGÊNCIA (a qual necessariamente terá de possuir o caráter de ameaça) da vantagem indevida. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à moralidade administrativa e à probidade de seus agentes. • O OBJETO MATERIAL será a vantagem indevida exigida pelo autor do fato. • Há controvérsia acerca da natureza da vantagem indevida a que se refere o tipo penal: ➢ Para uma primeira corrente, a indevida vantagem necessariamente tem de ser de natureza econômica. Tal corrente é mais restritiva e favorável à defesa. ➢ Para uma segunda corrente, a indevida vantagem pode ter qualquer natureza (vantagem sexual, vantagem política, etc). Tal posição é ampliativa do objeto material do delito e, dessa maneira, favorece à posição do órgão acusador. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO e a pessoa contra a pessoa contra quem é dirigida a exigência. • A CONSUMAÇÃO se dá com o conhecimento da exigência por parte da vítima, sendo irrelevante para a consumação do delito a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo funcionário público (crime formal). A TENTATIVA é admissível. Ex: o agente envia uma carta com a exigência da indevida vantagem, a qual se extravia e é descoberta por terceiro que comunica o fato à autoridade. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.9. EXCESSO DE EXAÇÃO – ARTIGO 316, §1.º, CÓDIGO PENAL Ainda no artigo 316, porém no §1.º, o Código Penal tipifica o crime de excesso de exação, nos seguintes termos: § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público EXIGIR TRIBUTO OU CONTRIBUIÇÃO SOCIAL QUE SABE OU DEVERIA SABER INDEVIDO ou EMPREGAR MEIO INDEVIDO (vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza) PARA A COBRANÇA. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO e a DIGNIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. • O OBJETO MATERIAL da conduta são os tributos e contribuições indevidamente cobrados. • O SUJEITO ATIVO é qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO e a pessoa prejudicada pela cobrança ilegal. • A CONSUMAÇÃO se dá com a simples exigência indevida ou realização da cobrança de forma ilegal, independentemente do efetivo recebimento da quantia respectiva. • A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. De outro lado, se o agente se apropria da quantia que recebeu indevidamente ao praticar o excesso de exação, incorre na forma qualificada tipificada no parágrafo 2º do artigo 316, nos seguintes termos: § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 6.10. CORRUPÇÃO PASSIVA – ARTIGO 317, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 317, o Código Penal tipifica o crime de corrupção passiva, nos seguintes termos: Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público de SOLICITAR OU RECEBER, PARA SI OU PARA OUTREM, DIRETA OU INDIRETAMENTE, AINDA QUE FORA DA FUNÇÃO OU ANTES DE ASSUMI-LA, MAS EM RAZÃO DELA, VANTAGEM INDEVIDA, OU ACEITAR PROMESSA DE TAL VANTAGEM. Tal conduta se distingue o crime de concussão porque naquele delito o funcionário público exige, constrange, ameaça para obter uma vantagem indevida; ao passo que no delito de corrupção passiva, o agente apenas solicita, sugere, pede uma vantagem indevida, ou ainda aceita a promessa de tal vantagem. Se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário efetivamente retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional, incidirá em seu desfavor uma causa de aumento da pena na razão de um terço (artigo 317, §1º, CódigoPenal). Ainda, no §2.º do artigo 317, o legislador criminal tipificou uma modalidade PRIVILEGIADA de corrupção passiva na hipótese em que o agente age cedendo a pedido ou influência de outrem, e não em razão da oferta de indevida vantagem. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à moralidade administrativa e à probidade de seus agentes. • O OBJETO MATERIAL será a vantagem indevida solicitada, recebida ou aceita em promessa pelo autor do fato. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO e, na solicitação de vantagem, a pessoa contra quem é dirigida a solicitação. • A CONSUMAÇÃO se dá com a simples solicitação, recebimento ou aceitação de promessa. • A TENTATIVA é admissível somente na modalidade solicitar e quando tal se dá de uma maneira assíncrona, isto é, na qual haja um intervalo temporal entre a solicitação e o seu conhecimento pela vítima, possibilitando o conhecimento da conduta pela autoridade antes da consumação do delito. Ex: o faz a solicitação por carta ou e-mail, que por algum motivo resta extraviada e chega ao conhecimento das autoridades antes de ser conhecida pela vítima. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.11. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO – ARTIGO 318, CÓDIGO PENAL No artigo 318 do Código Penal, o legislador tipificou o crime de facilitação de contrabando ou descaminho, nos seguintes termos: Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público de FACILITAR, COM INFRAÇÃO DE DEVER FUNCIONAL, A PRÁTICA DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere ao combate aos crimes de contrabando e descaminho. • O OBJETO MATERIAL será a mercadoria contrabandeada (na situação de contrabando) ou os tributos ilididos (na hipótese de descaminho). • O SUJEITO ATIVO deve ser funcionário público cuja atribuição seja reprimir o contrabando e o descaminho. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO. • A CONSUMAÇÃO se dá no momento em que o funcionário público presta o auxílio (mediante uma conduta ativa ou omissiva) a fim de facilitar o contrabando ou o descaminho, quando que tais crimes não se concretizem. • A TENTATIVA é admissível somente na modalidade comissiva (mediante conduta ativa, ação). • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.12. PREVARICAÇÃO – ARTIGO 319, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 319, o Código Penal tipifica o crime de prevaricação nos seguintes termos: Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público de RETARDAR OU DEIXAR DE PRATICAR, INDEVIDAMENTE, ATO DE OFÍCIO, OU PRATICÁ-LO CONTRA DISPOSIÇÃO EXPRESSA DE LEI, PARA SATISFAZER INTERESSE OU SENTIMENTO PESSOAL. Nessa modalidade criminosa o agente não atua em contrariedade à Administração Pública em razão da ambição de obter vantagens (concussão e corrupção passiva) ou para satisfazer interesse ou influência de outrem (corrupção passiva privilegiada), pelo contrário simplesmente visa atender a um sentimento ou interesse pessoal. Ex1: funcionário público, que gosta muito de novelas, deixa de realizar ato de ofício (suas atribuições ordinárias) para assistir ao último capítulo do folhetim que passa durante sua jornada de trabalho. Ex2: funcionário público passa o expediente inteiro lendo notícias em sites esportivos em vez de cumprir suas tarefas ordinárias, assim deixando de praticar atos de ofício e retardando a prática de atos de ofício. Ex3: o chefe de uma repartição administrativa que, sem ter atribuição legal para tanto, suspende o expediente em determinado dia da semana porque seu “time do coração” disputará naquela data a final da Copa Libertadores da América. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à probidade. • O OBJETO MATERIAL será a o ato de ofício que o agente deixar de fazer, retardar ou fazer indevidamente. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO, e eventualmente também a pessoa prejudicada pela ação ou omissão funcional. • A CONSUMAÇÃO se dá no momento em que o funcionário público omite, retarda ou pratica o ato de ofício, independentemente da ocorrência de qualquer resultado. • A TENTATIVA é admissível somente na modalidade comissiva (mediante conduta ativa, ação). • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.13. FACILITAÇÃO AO ACESSO DE APARELHO DE COMUNICAÇÃO POR APENADO – ARTIGO 319- A, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 319-A, o Código Penal incrimina uma conduta equiparada á prevaricação, nos seguintes termos: Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário que omite ato de ofício (seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar) e assim permite ao preso o acesso a aparelho telefônico. Cumpre destacar que se trata de uma forma especial de prevaricação, posto que nesta modalidade o funcionário não omite o ato em razão da expectativa de uma vantagem indevida (concussão ou corrupção passiva), mas sim apenas por seu desleixo na repressão a tal comportamento. Caso o agente introduza o aparelho celular no presídio, incorrerá no crime tipificado no artigo 349-A do Código Penal. 6.14. CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA – ARTIGO 320, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 320, o Código Penal tipifica o crime de condescendência criminosa nos seguintes termos: Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. A conduta incriminada se perfaz com o ato do funcionário público de DEIXAR, POR INDULGÊNCIA, DE RESPONSABILIZAR SUBORDINADOO QUE COMETEU INFRAÇÃO NO EXERCÍCIO DO CARGO ou, quando lhe falte competência, NÃO LEVAR O FATO AO CONHECIMENTO DA AUTORIDADE COMPETENTE. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à probidade. • O OBJETO MATERIAL será a infração não punida pelo superior hierárquico ou não comunicada à autoridade competente quando lhe faltar competência para fazê-lo. • O SUJEITO ATIVO pode ser superior hierárquico que, dolosamente, omite-se. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO. • A CONSUMAÇÃO se dá no momento em que o superior hierárquico toma conhecimento do fato praticado pelo subordinado e se omite em seu dever de responsabilizá-lo ou comunicar o fato a quem deva fazê-lo. • A TENTATIVA não é admissível por se tratar de crime omissivo próprio. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.15. ADVOCACIA ADMINISTRATIVA – ARTIGO 321, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 321, o Código Penal tipifica o crime de advocacia administrativa nos seguintes termos: Art. 321 - Patrocinar,direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público que, valendo-se dessa qualidade, PATROCINA INTERESSE PRIVADO ALHEIO PERANTE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, especialmente no que refere à probidade. • Em seu parágrafo único, o artigo 316 do Código penal tipifica a forma qualificada do delito, caracterizada pela natureza ilegítima do interesse patrocinado. • O OBJETO MATERIAL será o interesse privado alheio (legítimo ou ilegítimo) patrocinado pelo funcionário público perante a Administração. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO. • A CONSUMAÇÃO se dá no momento em que o agente pratica o ato de patrocínio do interesse alheio perante a Administração, independentemente de lograr êxito em beneficiar o particular. • A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.16. VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA – ARTIGO 322, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 322, o Código Penal tipifica o crime de violência arbitrária nos seguintes termos: Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la: Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência. Tal dispositivo encontra-se revogado pela Lei 4898/65, que descreve os crimes de abuso de autoridade. 6.17. ABANDONO DE FUNÇÃO – ARTIGO 323, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 323, o Código Penal tipifica o crime de abandono de função nos seguintes termos: Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. § 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público de ABANDONAR O CARGO PÚBLICO, FORA DOS CASOS PERMITIDOS EM LEI. É necessário que o agente se afaste indevidamente do cargo por TEMPO JURIDICAMENTE RELEVANTE, sendo tal entendido na jurisprudência como sendo o LAPSO TEMPORAL SUPERIOR A 30 DIAS CONSECUTIVOS. Se o abandono do cargo pelo funcionário causa prejuízo à Administração ou se dá em local compreendido como faixa de fronteira, configuram-se as formas qualificadas do artigo 323 §§1º e 2º, do Código Penal. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, coibindo o abandono do cargo por parte do funcionário e assim evitando a paralisação dos serviços. • O OBJETO MATERIAL será o cargo abandonado pelo funcionário público • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público que ocupe cargo público (não se aplicando ao mero detentor de emprego ou função pública). • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO. • A CONSUMAÇÃO se dá no momento em que se configura o abandono do cargo por tempo juridicamente relevante por parte do funcionário público. • A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.18. EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGITIMAMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO – ARTIGO 324, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 324, o Código Penal tipifica o crime de exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado nos seguintes termos: Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. A conduta incriminada consiste no ato do funcionário público de ENTRAR NO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA ANTES DE SATISFEITAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS ou CONTINUAR A EXERCÊ-LA, SEM AUTORIZAÇÃO, DEPOIS DE SABER OFICIALMENTE QUE FOI EXONERADO, REMOVIDO, SUBSTITUÍDO OU SUSPENSO. • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, coibindo o desempenho de funções por pessoas que não perfazem os requisitos legais. • O OBJETO MATERIAL será a função pública ilegalmente exercida. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público que se antecipe ou se prolongue nas funções. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO. • A CONSUMAÇÃO se dá com a prática de qualquer ato inerente à função pública pelo agente. • A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.19. VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL – ARTIGO 325, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 325, o Código Penal tipifica o crime de violação de sigilo funcional nos seguintes termos: Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; I – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. § 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. A conduta incriminada no tipo fundamental consiste no ato do funcionário público de REVELAR FATO DE QUE TEM CIÊNCIA EM RAZÃO DO CARGO E QUE DEVA PERMANECER EM SEGREDO ou FACILITAR A REVELAÇÃO DE TAL FATO. Nos termos do §1.º do artigo 325, Código Penal, incorre nas mesmas penas o agente que PERMITE OU FACILITA de qualquer forma O ACESSO DE PESSOAS NÃO AUTORIZADAS A SISTEMAS INFROMAÇÕES E BANCOS DE DADOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; ou UTILIZA, INDEVIDAMENTE, ACESSO RESTRITO DE QUE DISPÕE. Ainda, se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem estará configurada a forma qualificada do delito (artigo 325, §2.º, Código Penal). • O bem jurídico tutelado por esse tipo penal (OBJETIVIDADE JURÍDICA) é o REGULAR FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, que pode ser prejudicado pela revelação de determinados dados de que dispõe a Administração. • O OBJETO MATERIAL será a informação indevidamente revelada. • O SUJEITO ATIVO pode ser qualquer funcionário público. • O SUJEITO PASSIVO será o ESTADO e, eventualmente, a pessoa que venha a ser prejudicada pela revelação do segredo. • A CONSUMAÇÃO se dá com a ciência indevida da informação sigilosa por parte de terceiro. • A TENTATIVA é admissível. • A AÇÃO PENAL é pública incondicionada. 6.20. VIOLAÇÃO DE SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA – ART. 326, CÓDIGO PENAL Em seu artigo 326, o Código Penal tipifica o crime de violação de sigilo de proposta de concorrência nos seguintes termos: Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. Tal dispositivo foi tacitamente revogado pelo artigo 94 da Lei 8.666/93 – Lei de Licitações, a qual tem redação mais abrangente.