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Teoria Geral das Obrigações e dos Contratos 145-163

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145FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
Parte iV: teoria geral dos contratos
aUla 20: PrincíPios da noVa teoria contratUal – 
aUtonoMia da Vontade e FUnçÃo social do contrato
EmENtário dE tEmas
Autonomia da Vontade e Função Social do Contrato
lEitura obriGatória
MARTINS-COSTA, Judith. “Reflexões sobre o princípio da função social dos contra-
tos”, in Revista Direito GV nº 01 (maio/2005); pp. 41/66. 
lEituras comPlEmENtarEs
SALOMÃO FILHO, Calixto. “Função social do contrato: primeiras anotações”, in 
Revista de Direito Mercantil nº 132; pp. 07/24.
BUENO DE GODOY, Cláudio Luiz. Função Social do Contrato. São Paulo: Saraiva, 
2004; pp. 110/130.
1. rotEiro dE aula
Ao se iniciar o estudo da teoria e prática dos contratos, é fundamental ter-se em mente a 
transição pela qual atravessa esse específico e importante campo do Direito Civil. Tradicio-
nalmente vinculada à soberania da vontade individual (autonomia da vontade), insculpida 
nos preceitos que tutelam a liberdade contratual, a disciplina dos contratos atualmente vê-se 
permeada por uma série de interesses que ultrapassam a vontade do particular, gerando um 
debate sobre os limites da intervenção de dispositivos de ordem pública na regulação das 
relações contratuais. 
Pode-se, em linhas gerais, dizer que os princípios tradicionais, que fundamentaram a 
construção clássica da teoria dos contratos são os seguintes: (i) autonomia da vontade; (ii) 
força obrigatória; e (iii) relatividade. Esses princípios encontram hoje diversas áreas de fle-
xibilização geradas pela ascensão de novos princípios contratuais, como (iv) a função social 
do contrato; (v) a boa-fé objetiva; e (vi) o equilibrio econômico-financeiro da relação con-
tratual.
Todos os seis princípios acima mencionados serão trabalhados nas aulas a seguir. Na 
presente aula será conferida atenção especial aos princípios da autonomia da vontade e da 
chamada função social do contrato.
A autonomia privada pode ser entendida, segundo lição de Díez-Picaso e Gullón como 
“o poder de se auto-ditar a lei ou preceito, o poder de governar-se a si próprio.” Conforme 
complementam os mesmos autores:
146FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
“Poder-se-ia também defini-la como um poder de governo da própria esfera jurídica, e 
como essa é formada por relações jurídicas, que são a causa da realização de interesses, a au-
tonomia privada pode igualmente conceituar-se como o poder da pessoa de desregulamentar 
e ordenar as relações jurídicas nas quais é, ou há de ser, parte.”77
O estudo da autonomia privada assume, na seara contratual, a forma da tutela da li-
berdade contratual. Nesse particular é importante não confundir “liberdade de contratar” 
com “liberdade contratual”. A primeira relaciona-se com o momento formativo da relação 
contratual, isto é, com o grau de liberdade envolvida na decisão sobre concluir ou não um 
contrato. Já a segunda diz respeito ao conteúdo do contrato. 
Segundo Francesco Messineo, existem quatro significados para liberdade contratual: (i) 
o fato de que nenhuma parte pode impor unilateralmente à outra o conteúdo do contrato, 
e que esse deve ser o resultado de livre debate entre as partes; (ii) liberdade de negociação, 
no sentido de que o objeto do contrato é livre, salvo bens indisponíveis e exceções previstas 
no ordenamento; (iii) o poder de derrogar as normas dispositivas ou supletivas; e (iv) o fato 
de que, em algumas matérias, é admitida a auto-disciplina, ou seja, a regulação estabelecida 
pelas partes interessadas.78
Os alicerces sobre os quais se funda a liberdade de contratar podem ser encontrados nos 
princípios elaborados pela Escola do Direito Natural, responsável por conferir importância 
crescente à contratualidade, a partir do século XVI, sob a influência do conceito de autono-
mia da vontade desenvolvido pelo Humanismo. O primado da vontade individual é conso-
lidado no século XVII, quando a própria existência da sociedade passa a ser fundamentada 
no contrato. Essa tendência é explicita por John Gilissen:
“A Idade Média não reconhecia o primado da vontade individual; esta não era respeitável 
senão nos limites da fé, da moral e do bem comum. Os interesses da comunidade familiar, re-
ligiosa ou econômica, ultrapassam os dos indivíduos que a compõem. (...) É à Escola Jusnatu-
ralista que a autonomia da vontade deve a sua autoridade, o seu primado. Mas foi sobretudo o 
jurista holandês Hugo Grócio que desenvolveu a nova teoria: a vontade é soberana; o respeito 
da palavra dada é uma regra de direito natural; pacta sunt servanda é um princípio que deve 
ser aplicado não apenas entre os indivíduos, mas mesmo entre as nações”.79 
Após a consagração dos ideais da Revolução Francesa e a abolição dos privilégios es-
tamentais e corporativos, a promulgação do Código Napoleão em 1804 veio a positivar 
explicitamente o primado da autonomia da vontade, na máxima de que “o contrato faz lei 
entre as partes” (art. 1.134), a qual será traduzida na célebre frase de Fouillée: “quem diz 
contratual diz justo”.
A conseqüência imediata desse cenário é a crescente importância conferida pela doutrina 
contratualista do século XIX para a análise da manifestação da vontade e seus vícios. Com 
a primazia da autonomia da vontade, interpretar o contrato tornou-se um exercício de des-
cobrimento das reais intenções das partes e das formas pelas quais elas foram verbalizadas. 
Trata-se de uma verdadeira “mística da vontade”.
As restrições à liberdade contratual começam a surgir com a mudança do cenário históri-
co, assegurando-se, inicialmente, maior igualdade de oportunidades no mercado, em termos 
da proibição de discriminação em razão de gênero, raça, etnia. Posteriormente, razões sociais 
passaram a determinar certas discriminações positivas, como o tratamento mais protetivo às 
partes contratualmente mais vulneráveis (tais como o consumidor, o idoso, o trabalhador).
Portanto, razões de justiça e equidade vieram a determinar a intervenção do Estado 
sobre as relações contratuais, em um movimento que ficou conhecido como dirigismo 
77 luis Diéz-Picaso e antonio 
Gullón. Sistema de derecho 
civil. Madrid: Editorial Tecnos, 
s.a., 1994, v. 1, p. 371.
78 Francesco Messineo. Il con-
tratto in genere. Pádua: cEDaM, 
1973, pp. 43 e 44.
79 John Gilissen. Introdução his-
tórica ao direito. 2a ed. lisboa: 
Fundação calouste Gulbenkian, 
1995, pp. 738 e 739.
147FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
contratual. Trata-se da inserção, no ordenamento jurídico, de uma série de normas cogen-
tes, a delimitar os assuntos sobre os quais se pode contratar, em que limites se pode dispor 
de determinados direitos, e que cláusulas serão consideradas intrinsecamente abusivas e, 
por conseguinte, nulas.
Segundo identifica Eros Roberto Grau:
“A mudança de perspectiva sobre a compreensão da autonomia da vontade é, portanto, 
profunda: deixa-se de considerar o indivíduo como senhor absoluto da sua vontade, para 
compreendê-lo como sujeito autorizado pelo ordenamento a praticar determinados atos, nos 
exatos limites da autorização concedida.”80
O mesmo diagnóstico dessa fase de transição é realizado por Gustavo Tepedino ao afirmar:
“Com o Estado intervencionista delineado pela Constituição de 1988 teremos, então, a 
presença do Poder Público interferindo nas relações contratuais, definindo limites, diminuin-
do os riscos do insucesso e protegendo camadas da população que, mercê daquela igualdade 
aparente e formal, ficavam à margem de todo o processo de desenvolvimento econômico, em 
situação de ostensiva desvantagem”.81 
Todavia, a flexibilização da autonomia da vontade a preceitos contidos na legislação 
não representa uma completa anulação desse princípio nas relações contratuais. Muito ao 
reverso, a autonomia da vontade, e, mais especificamente,a liberdade contratual, permane-
cem como princípio, e sua derivação respectivamente, a reger os vínculos contratuais, agora 
atrelada à função social do contrato, consoante o disposto no art. 421: 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social 
do contrato.
Uma constatação de que a autonomia da vontade ainda desempenha papel de destaque 
na formação dos contratos pode ser encontrado no art. 425 do Código Civil, o qual deter-
mina que as partes poderão elaborar contratos atípicos, ou seja, contratos que não seguem 
os modelos de contrato tipificados na legislação:
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas 
neste Código.
A dinâmica existente entre autonomia da vontade e função social pode ser percebida em 
alguns exemplos retirados da prática dos contratos de locação. Nesse sentido, vale investigar 
os limites do direito de retomada do imóvel por parte do locador para uso próprio. A lei de 
locações (Lei nº 8245/91) prevê, no seu art. 52, §1º, que o locador, salvo se remunerar o 
locatário pelo fundo de comércio, não poderá exercer o mesmo ramo de atividade desempe-
nhado então pelo locatário. É a redação do artigo:
“Art. 52. O locador não estará obrigado a renovar o contrato se: (...)
II – o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo de comér-
cio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o locador, seu cônjuge, 
ascendente ou descendente.
§1º – Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do mesmo ramo do lo-
catário, salvo se a locação também envolvia o fundo de comércio, com as instalações e pertences”.
80 Eros Roberto Grau. “Um novo 
paradigma dos contratos”. In 
Revista Trimestral de Direito 
civil. Rio de Janeiro: Padma, v. 
5, jan/mar 2001, p. 78.
81 Gustavo Tepedino. Temas de 
Direito Civil. 2a edição. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001, p. 204.
148FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
Ao interpretar o referido artigo, Fábio Ulhoa Coelho afirma que, em tela, está-se diante 
de um conflito entre o direito de inerência ao ponto do locatário e o direito de propriedade 
do locador. Conforme expressa o autor:
“Quando o direito de propriedade do locador entra em conflito com o direito de ine-
rência a ponto do locatário, está em oposição uma simples oposição de interesses privados, 
individuais.”82 
Complementa então o autor afirmando que a restrição ao direito de retomada, constante 
do art. 52 seria inconstitucional, pois imporia restrições ao direito de propriedade.
Essa é justamente a espécie de situação em que a ampla autonomia da vontade cede 
espaço para mandamentos constantes da lei, impondo a preservação de determinados in-
teresses. Ao afirmar que o dispositivo que veda o restabelecimento do locador no negócio 
desenvolvido pelo locatário, o legislador não confronta o direito de propriedade, mas o 
funcionaliza. Nessa direção, o artigo tutela não apenas a função social da propriedade, mas 
também a função social do contrato de locação, que se transforma em incentivo para que 
locatários desenvolvam cada vez melhores negócios, seguros de que não sofrerão a retomada 
do imóvel sob o argumento de uso próprio para que o locador venha a se aproveitar o tra-
balho realizado no ponto. 
Cláusulas de não restabelecimento, ou cláusulas de não concorrência, atualmente de-
sempenham importante papel na configuração dos limites da autonomia da vontade nos 
contratos. A cláusula de não-concorrência pode ser decorrência natural da venda de um 
negócio, principalmente nos casos em que seja necessário assegurar ao comprador as con-
dições necessárias para que este usufrua integralmente dos benefícios diretos e indiretos da 
aquisição. A referida cláusula, todavia, deve ser razoavelmente delimitada, no tempo, no 
espaço e no setor relevante.
O próprio código civil estabelece que, salvo estipulação em contrário, na aquisição de 
estabelecimentos empresariais o alienante não poderá concorrer com o comprador pelo 
prazo de cinco anos. Essa é a redação do art. 1147 do Código Civil:
“Art. 1147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode 
fazer concorrência ao adquirente, nos 5 (cinco) anos subseqüentes á transferência.”
Ainda na dinâmica dos estabelecimentos empresariais, e mais especificamente nos shop-
ping centers, as cláusulas de não concorrência assumem a feição de cláusulas de raio, sendo 
comum que no contrato de locação com a empresa que administra o shopping center conste 
uma cláusula que veda a abertura de estabelecimento idêntico ao que o lojista explora no 
shopping por uma certa distância especificada no contrato.
2. caso GErador
A administradora do Shopping Iguatemi, localizado na cidade de Porto Alegre, tem 
figurado na imprensa por conta de um litígio instaurado com a cadeia de farmácias Panvel. 
Segundo consta das notícias veiculadas, ela teria ingressado com ação de despejo contra a 
empresa que explora a farmácia Panvel localiza no shopping por conta da abertura de uma 
outra farmácia Panvel no shopping Bourbon Country, construído posteriormente e pratica-
mente vizinho do terreno onde se localiza o shopping Iguatemi.
82 Fábio Ulhoa coelho. Curso de 
Direito Comercial, v. I. são Pau-
lo, saraiva, 4ªed., 2000; p. 103.
149FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
Alega a administradora do Shopping Iguatemi que a abertura de uma farmácia Panvel 
no shopping vizinho representaria violação da cláusula de raio estabelecida no contrato de 
locação. Vale ressaltar que no shopping Bourbon Country também foram abertas lojas das 
redes O Boticário e McDonalds.
Se você fosse o juiz dessa ação judicial, como seria a sua decisão? Fundamente.
SHOPPING 
BOURBON COUNTRY
IGUATEMI SHOPPING
150FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
aUla 21: PrincíPios da noVa teoria contratUal – 
contornos da boa-FÉ obJetiVa
EmENtário dE tEmas
As três funções da boa-fé objetiva – Os deveres anexos de conduta
lEitura obriGatória
TEPEDINO, Gustavo e SCHREIBER, Anderson. “A Boa-Fé Objetiva no Código de 
Defesa do Consumidor e no novo Código Civil”, in Gustavo TEPEDINO (org.) 
Obrigações: Estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005; 
pp. 29/44. 
lEituras comPlEmENtarEs
NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato. Rio de Janeiro: Renovar, 2002; pp. 
115/153. 
AZEVEDO, Antonio Junqueira de. “Insuficiências, deficiências e desatualização do 
Projeto de Código Civil na questão da boa-fé objetiva nos contratos”, in Estudos e 
Pareceres de Direito Privado. São Paulo: Saraiva, 2004; pp. 148/158.
1. rotEiro dE aula
A boa-fé tradicionalmente figura como elemento dos estudos jurídicos quando se deve 
investigar se o indivíduo possui ou não ciência sobre uma determinada condição, como, por 
exemplo, se o individuo conhece, ou não, um vício que macula a sua posse sobre determina-
do terreno. Essa perspectiva da boa-fé convencionou-se denominar boa-fé subjetiva.
Existe, todavia, uma outra forma de atuação da boa-fé no direito brasileiro, denominada 
boa-fé objetiva, a qual foge de qualquer ilação sobre um estado de espírito do agente para se 
fixar em uma análise voltada para critérios estritamente objetivos.
as três funções da boa-fé objetiva
É comum delimitar-se três funções típicas desempenhadas pela boa-fé objetiva no direito 
brasileiro. Sendo assim, pode-se definir a função tríplice da boa-fé objetiva da seguinte forma:
A boa-fé objetiva desempenha inicialmente um papel de critério para a interpretação da 
declaração da vontade nos negócios jurídicos. Essa função é prevista no art. 113 do novo 
Código Civil:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do 
lugar de sua celebração.
Esse dispositivoganha relevo ao indicar que a primeira função da boa-fé objetiva é 
dirigir a interpretação do juiz ou árbitro relativamente ao negócio celebrado, impedindo 
151FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
que o contrato seja interpretado de forma a atingir finalidade oposta àquela que se deveria 
licitamente esperar.
A boa-fé objetiva atua ainda como forma de valorar o abuso no exercício dos direitos 
subjetivos, conforme consta do art. 187 do Código Civil:
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
E, por fim, a boa-fé objetiva é, ainda, norma de conduta imposta aos contratantes, se-
gundo o disposto no art. 422 do Código Civil:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como 
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
A função desempenhada pela boa-fé objetiva a partir do dispositivo no art. 422 é, sem 
dúvida, a sua atuação mais comentada pela doutrina e da qual mais se vale a jurisprudência 
dos tribunais nacionais.
os deveres anexos de conduta
O motivo pelo qual a terceira função da boa-fé objetiva recebeu tamanho destaque 
deriva justamente do seu próprio conteúdo: impor às partes contratantes deveres objetivos 
de conduta, que não necessariamente precisam constar do instrumento contratual para que 
possam ser cobrados e cumpridos. Tratam-se dos chamados deveres secundários, ou anexos, 
aos quais todas as partes de um negócio devem manter estrita observância.
Essa caracterização da boa-fé objetiva como a disposição de deveres de conduta que as 
partes devem guardar difere frontalmente daquela concepção clássica de boa-fé subjetiva, 
ligada a um estado psicológico do agente. 
Os deveres secundários impostos pelo art. 422 foram gradativamente sendo construídos 
pela doutrina e pela jurisprudência, podendo-se mesmo falar em quatro deveres básicos: (i) 
dever de informação e esclarecimento; (ii) dever de cooperação e lealdade; (iii) deveres de 
proteção e cuidado; (iv) dever de segredo ou sigilo.
Todavia, diversas derivações podem surgir desses quatro deveres básicos, como bem ex-
plicita Judith Martins-Costa, os deveres secundários podem abranger um vasto leque de 
condutas que deverão ser observadas pelas partes, como, por exemplo: 
“a) os deveres de cuidado, previdência e segurança, como o dever do depositário de não 
apenas guardar a coisa, mas também de bem acondicionar o objeto deixado em depósito; b) 
os deveres de aviso e esclarecimento, como o do advogado, de aconselhar o seu cliente acerca 
das melhores possibilidades de cada via judicial passível de escolha para a satisfação de seu 
desideratum, o do consultor financeiro de avisar a contraparte sobre os riscos que corre, ou o 
do médico, de esclarecer ao paciente sobre a relação custo/benefício do tratamento escolhido, 
ou dos efeitos colaterais do medicamento indicado, ou ainda, na fase pré-contratual, o do 
sujeito que entra em negociações, de avisar o futuro contratante sobre os fatos que podem 
ter relevo na formação da declaração negocial; c) os deveres de informação, de exponencial 
relevância no âmbito das relações jurídicas de consumo, seja por expressa disposição legal 
(CDC, arts. 12, in fine, 14, 18, 20, 30 e 31, entre outros), seja em atenção ao mandamento 
da boa-fé objetiva; d) o dever de prestar contas, que incumbe aos gestores e mandatários, em 
152FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
sentido amplo; e) os deveres de colaboração e cooperação, como o de colaborar para o cor-
reto adimplemento da prestação principal, ao qual se liga, pela negativa, o de não dificultar 
o pagamento, por parte do devedor; f ) os deveres de proteção e cuidado com a pessoa e o 
patrimônio da contraparte, como, v.g., o dever do proprietário de uma sala de espetáculos ou 
de um estabelecimento comercial de planejar arquitetonicamente o prédio, a fim de diminuir 
os riscos de acidentes; g) os deveres de omissão e de segredo, como o dever de guardar sigilo 
sobre atos ou fatos dos quais se teve conhecimento em razão do contrato ou de negociações 
preliminares.”83
A imposição desses deveres se reveste de papel fundamental para a ordenação dos contra-
tos na prática, uma vez que se busca, com a sua afirmação, proteger um bem que se encontra 
na própria essência da contratação: a confiança. Por esse motivo, o enquadramento legal 
da boa-fé objetiva sempre se mostrará atrelada à tutela da confiança, sobretudo no que diz 
respeito à aplicação desse princípio aos casos de responsabilidade pré-contratual.
Mas a redação do art. 422 não está afastada de qualquer espécie de crítica. Muito ao re-
verso, Antonio Junqueira de Azevedo afirma que a redação do art. 422 se mostra insuficien-
te, deficiente e desatualizada perante às exigências da prática contratual moderna. Segundo 
o autor, o artigo seria insuficiente em sua redação pois não deixa claro se os seus dispositivos 
constituem norma cogente ou meramente dispositiva, além de não mencionar as fases pré e 
pós-contratuais para fins de responsabilização. O artigo seria ainda deficiente por não pre-
ver de forma explícita quais são os chamados deveres anexos. E, por fim, o dispositivo seria 
desatualizado pois confere poderes desmesurados ao juiz para interferir nas relações con-
tratuais, abrindo possibilidade para se incrementar a sobrecarga de processos que impede o 
regular funcionamento do Poder Judiciário, além de não serem os juizes tradicionalmente 
preparados para decidir casos nos quais figurem contratos de extrema especialidade técnica. 
Nesse sentido, menciona o autor, a época atual estaria passando do paradigma do juiz para 
o paradigma do árbitro.84 
2. caso GErador85
A Newcell Telecom S/A (“Newcell”) é uma companhia aberta, com ações negociadas 
em bolsa de valores, que atua no setor de telecomunicações, especificamente na prestação 
de serviços de telefonia móvel (SMP), Regiões I e II. Até muito recentemente, 50% de suas 
ações ordinárias pertenciam à acionista Macroservice Ltd. (“Macroservice”), 40% à Celular 
do Brasil Ltda. (“Celular do Brasil”) e os 10% restantes ao público investidor. A recente 
mudança no seu quadro acionário deu-se em razão da alienação das ações ordinárias de 
propriedade da Celular do Brasil (“Ações”), operação esta que permitiu a entrada da Trama 
Telecom S/A (“Trama”) – orginariamente prestadora da mesma modalidade de serviço ape-
nas na Região III. A operação é hoje alvo de uma disputa judicial, iniciada pela Celular do 
Brasil, conforme os fatos a seguir relatados.
Desde julho de 1999, por força de um acordo de acionistas celebrado entre a Ce-
lular do Brasil e a Macroservice (“Acordo de Acionistas”), a transferência das ações 
ordinárias de emissão da Newcell estava sujeita a procedimento prévio, que incluía a 
realização de um leilão informal e a outorga de direito de preferência entre os acionis-
tas acima designados. Assim, dispunha o Acordo de Acionistas que o acionista rema-
nescente teria o direito de preferência, podendo adquirir a participação do acionista 
alienante desde que o fizesse nos mesmos termos e condições constantes da oferta de 
um terceiro.
83 Judith Martins-costa. A Boa-
Fé no Direito Privado. são Paulo: 
RT, 1999, p. 439.
84 antonio Junqueira 
de.azevedo. “Insuficiências, 
deficiências e desatualização 
do Projeto de código civil na 
questão da boa-fé objetiva 
nos contratos”, in Estudos e 
Pareceres de Direito Privado. 
são Paulo: saraiva, 2004; pp. 
148/158
85 caso gerador extraído da 
apostila “Princípios contra-
tuais”, elaborada por Teresa 
negreiros para os cursos de 
educação continuada da Escola 
de Direito da Fundação Getúlio 
Vargas no Rio de Janeiro.
153FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOsEm janeiro de 2004, desejando alienar a participação de 40% que detinha no capital 
votante da Newcell, a Celular do Brasil deu início à tentativa de obter a melhor oferta pos-
sível pelas suas ações.
Entre os analistas que acompanhavam as diligências que antecederam ao leilão promo-
vido pela Celular do Brasil, não havia dúvida: todas as apostas convergiam para a Trama, 
cujos planos de expansão eram notórios. Mediante a aquisição de 40% das ações ordinárias 
de emissão da Newcell, poderia a Trama aproveitar-se das consideráveis sinergias em jogo 
para se tornar a maior potência no mercado de telefonia celular do Brasil, operando simul-
taneamente nas Regiões I, II e III. Ou seja, a Trama era a maior interessada na aquisição das 
Ações, e por isso estimava-se que sairia vencedora do leilão.
Não se sabia, porém, que, naquele mesmo mês de janeiro de 2004, enquanto a Celular 
do Brasil organizava o leilão – disponibilizando aos potenciais interessados informações 
sobre a Newcell –, Trama e Macroservice assinavam, secretamente, uma carta de intenções 
(“Carta de Intenções”), que dispunha sobre o comportamento de ambas com relação ao 
iminente leilão.
O objetivo da Trama e da Macroservice, ao assinarem a Carta de Intenções, era permitir 
que, ao final, e fosse quem fosse o vencedor do leilão, ambas – Trama e Macroservice – for-
massem o bloco de controle da companhia, possuindo, cada uma, 45% do capital votante 
da Newcell. Assim, caso fosse a Trama a vencedora do leilão, a Macroservice obrigava-se a 
não exercer o direito de preferência e a lhe vender 5% da sua participação. Caso, pelo con-
trário, a Trama não fosse a vencedora, poderia esta, a seu exclusivo critério, e mediante a 
entrega dos recursos necessários, obrigar a Macroservice a exercer o direito de preferência e, 
ato contínuo, lhe transferir as Ações, mais os 5% relativos à sua própria participação origi-
nal. Nestes termos, a Macroservice adquiriria as ações com base no seu direito de preferência 
mas com recursos provenientes da Trama, sendo esta a destinatária final das Ações.
E foi o que de fato aconteceu.
Realizado o leilão, contrariamente às estimativas do mercado, a oferta apresentada pela 
Trama não foi nada agressiva, vindo a mesma a perder o certame para outra licitante, a Trim 
Telecom S/A (“Trim”), companhia de origem alemã recém constituída no Brasil.
Foi assim celebrado entre a Trim e a Celular do Brasil, em fevereiro de 2004, contrato de 
compra e venda de ações, no valor de US$ 400 milhões – contrato este sujeito à condição 
suspensiva do não-exercício do direito de preferência pela Macroservice. A mencionada 
compra e venda extinguiu-se com o exercício do direito de preferência pela Macroservice, 
que, tal como previsto na Carta de Intenções, transferiu ato contínuo as Ações assim adqui-
ridas à Trama, mais 5% de sua participação original, de modo a que ambas se tornassem co-
controladoras em absoluta igualdade de condições. Tudo conforme havia sido estabelecido 
na Carta de Intenções, então tornada pública.
A operação motivou uma expressiva alta das ações de emissão das sociedades envolvi-
das. Em particular, o representante dos acionistas preferenciais da Newcell fez questão de 
divulgar ao mercado a sua satisfação diante das novas perspectivas que se abriam para a 
companhia.
A Celular do Brasil, contudo, sentindo-se prejudicada, acaba de ingressar em juízo com 
uma ação civil de reparação de danos em face da Macroservice, pleiteando o ressarcimento 
de lucros cessantes, no montante de US$ 50 milhões, alegando, em resumo, que a execução 
da Carta de Intenções entre a Trama e a Macroservice, com o imediato repasse das Ações, 
violou o acordo de acionistas que até então vigorara entre ela e a Macroservice.
Como se resolve o caso acima? Quantos e quais princípios da nova teoria contratual você 
consegue identificar para o deslinde da questão?
154FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
3. QuEstõEs dE coNcurso
20º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase
3. Estabeleça a distinção entre boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva, dando exemplos de 
situações caracterizadoras de cada uma dessas modalidades de boa-fé.
21º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase
3. Um náufrago, perdido em alto-mar, em uma balsa, em situação desesperadora, a 
quase míngua de víveres e água, contrata o seu resgate com um comandante de navio 
de transporte de combustível que passava providencialmente no local nessa ocasião, 
sob a promessa de transferir-lhe a propriedade de vultuoso apartamento, metade de 
seu patrimônio. O comandante assim o faz, mesmo sabendo da proibição peremptó-
ria de estranhos a bordo por parte da companhia proprietária do navio, que terá que 
pagar pesada multa contratual pessoal pelo descumprimento de tal regra e do fato que 
o resgate, efetuado em condições arriscadas, atrasará a viagem em pelo menos um dia, 
acarretando diversos prejuízos a seu encargo.
Chegando são e salvo ao porto, o náufrago posteriormente recusa-se a cumprir o pac-
tuado no resgate, sob o argumento de que o contrato efetuado em tais condições não 
é válido e que conseqüentemente também não é devida ao comandante do navio qual-
quer indenização pelos gastos incorridos com o resgate. Estabeleça se o comandante 
do navio terá êxito judicial em uma eventual ação contra o náufrago objetivando o 
cumprimento do contrato e o ressarcimento dos gastos efetuados.
128º Exame da Ordem – OAB/SP – 1ª fase
23. Sobre a boa-fé objetiva, é INCORRETO afirmar:
a) implica o dever de conduta probo e íntegro entre as partes contratantes.
b) significa a ignorância de vício que macula o negócio jurídico.
c) implica a observância de deveres anexos ao contrato, tais como informação e segu-
rança.
d) aplica-se aos contratos do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor.
155FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
aUla 22: PrincíPios da noVa teoria contratUal – 
relatiVidade e sUa FleXibiliZaçÃo
EmENtário dE tEmas
Flexibilização do princípio da relatividade
lEitura obriGatória
NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato. Rio de Janeiro: Renovar, 2002; pp. 
229/259.
lEituras comPlEmENtarEs
AZEVEDO, Antonio Junqueira de. “Os princípios do atual direito contratual e a des-
regulamentação do mercado. Direito de exclusividade nas relações contratuais de 
fornecimento. Função social do contrato e responsabilidade aquiliana do terceiro 
que contribui para o inadimplemento contratual”, in Estudos e Pareceres de Direito 
Privado. São Paulo: Saraiva, 2004; pp. 137/147.
CORREIA, A. Ferrer. “Da responsabilidade do terceiro que coopera com o devedor na 
violação de um pacto de preferência”, in Estudo de Direito Civil, Comercial e Crimi-
nal. Coimbra: Almedina, 1985; pp. 33/52.
1. atividadE Em sala
156FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
O contrato é um fenômeno social, econômico e jurídico. Sendo assim, imaginar que 
a celebração de um contrato apenas interessa às partes contratantes, seria desconsiderar os 
verdadeiros impactos que um contrato pode ter na própria sociedade. Terceiros não apenas 
afetam o cumprimento de um contrato, como também podem ser afetados pelos termos 
que regem uma relação contratual. 
Dessa forma, surgem duas situações bem distintas: (i) o credor que vê a prestação do 
contrato ser inadimplida por conta da atuação de um terceiro, estranho ao pactuado na re-
lação contratual; e (ii) um terceiro que passa a sofrer algum prejuizo em sua situação jurídica 
por conta de um inadimplemento em contrato do qual o mesmo não faz parte.
A extensão desse transbordamento dos efeitos de uma relação contratual para atingir 
pessoas não previamente constantes da avença é o objeto de discussão da presente aula. A 
partir da leitura da reportagem abaixo, buscar-se-á compreender nessa aula a conturbada 
relação entre os contratos e os terceiros.
Tendoem vista que a agência África não fazia parte do contrato entre o cantor Zeca 
Pagodinho e a cervejaria Schincariol, poderia a referida agência ser acionada judicialmente? 
Qual seria o fundamento dessa ação? E como enquadrar juridicamente o comportamento 
do cantor?
157FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
aUla 23: resPonsabilidade PrÉ-contratUal e ProibiçÃo do 
coMPortaMento contraditório
EmENtário dE tEmas
Responsabilidade pré-contratual – A proibição de comportamento contraditório
lEitura obriGatória
SCHREIBER, Anderson. A Proibição do Comportamento Contraditório: Tutela da con-
fiança e venire contra factum proprium. Rio de Janeiro: Renovar, 2005; pp. 90/122. 
lEituras comPlEmENtarEs
AZEVEDO, Antonio Junqueira de. “Responsabilidade Pré-Contratual no Código de 
Defesa do Consumidor: Estudo comparativo com a responsabilidade pré-contratual 
no direito comum”, in Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo: Saraiva, 
2004; pp. 173/183.
1. rotEiro dE aula
Os negócios jurídicos, em geral, são precedidos por uma fase de entendimentos, de ne-
gociações, comumente denominada de “tratativas”. Nessa fase do contrato que ainda há de 
nascer as eventuais partes de uma futura relação contratual discutem como melhor compor 
os seus interesses para a formação do contrato. A negociação de um contrato é objeto de 
estudos que ultrapassam o universo estritamente jurídico e alcançam a seara das técnicas e 
estratégias de negociação, amplamente difundidas através de diversas publicações e cursos 
especializados.86 
Pode ocorrer, todavia, que as negociações não cheguem ao estágio de formação do con-
trato. É natural que alguma eventualidade ocorra e que uma das partes tenha que abandonar 
as tratativas. Contudo, existem hipóteses em que a própria fase pré-contratual gera para as 
então futuras partes de um contrato uma vinculação capaz de gerar danos caso seja rompida 
de forma injustificada. 
O rompimento injustificado de negociações é apenas uma das hipóteses da chamada res-
ponsabilidade pré-contratual. Note-se que nesse momento ainda não existe contrato e que 
o vínculo existente entre as partes não se baseia na reciprocidade de obrigações devidamente 
contratadas, mas sim na tutela de um bem cada vez mais relevante para a prática contratual 
no direito brasileiro: a confiança. 
responsabilidade pré-contratual
A responsabilidade pré-contratual, ou culpa in contrahendo, se distancia das duas es-
pécies tradicionais de responsabilização uma vez que não pode ser enquadrada como res-
ponsabilidade contratual, pois que contrato ainda não existe, e nem mesmo figurar como 
responsabilidade extra-contratual pois existe um vínculo prévio entre as partes que a dife-
86 nesse sentido, vide, por to-
dos, Robert Mnookin. Beyond 
Winning: Negotiating to Create 
Value in Deals and Disputes. 
cambridge: Harvard University 
Press; 2000.
158FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
rencia da situação peculiarmente encontrada na chamada responsabilidade aquiliana (extra-
contratual). 
Nesse terceiro gênero de responsabilização, portanto, pode-se encontrar uma interação 
voltada para a formação de um futuro contrato. Esse vínculo específico caracteriza a res-
ponsabilidade pré-contratual. Esse vínculo impõe aos indivíduos o dever de não frustrar as 
expectativas legitimamente criadas pelos seus próprios atos. A partir desse entendimento 
surgirá a tutela da confiança aplicada à proibição do comportamento contraditório (venire 
contra factum proprium). Claramente esse vínculo existente entre as partes surge de um im-
perativo da boa-fé objetiva, princípio da moderna teoria contratual, já estudado em aulas 
anteriores. É, portanto, a tutela da confiança o fundamento da responsabilidade pré-con-
tratual. 
Especificamente no que diz respeito ao rompimento das tratativas, Regis Fichtner Pereira 
identifica quatro hipóteses características dessa forma de responsabilização: (i) quando ocor-
re a ruptura injustificada das tratativas; (ii) quando, no desenvolvimento das negociações, 
um dos interessados cause dano à pessoa ou ao patrimônio do outro; (iii) quando tenha 
ocorrido o estabelecimento de contrato nulo ou anulável e um dos interessados conhecia, 
ou deveria conhecer, o vício no negócio jurídico; (iv) quando, mesmo instaurada a relação 
jurídica contratual, das negociações preliminares tenham surgido eventuais danos a serem 
indenizados.87
Vale destacar que, mesmo sendo uma terceira forma de responsabilidade, apartada das 
tradicionais responsabilidades contratual e extra-contratual, a responsabilidade pré-contra-
tual não prescinde da análise dos elementos comumente necessários para qualquer pleito de 
responsabilidade civil, ou seja, a conduta culposa de uma das partes da negociação, o dano 
causado e o nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente.
Sendo a responsabilidade pré-contratual uma derivação do princípio da boa-fé objetiva 
(tutela da confiança) no direito brasileiro, torna-se imediata a conclusão de que as violações 
que geram esse tipo de responsabilidade são violações aos chamados deveres secundários (ou 
anexos), típicos da composição do princípio da boa-fé objetiva. 
Esses deveres acessórios são basicamente os quatro a seguir destacados: (i) dever de in-
formação e esclarecimento; (ii) dever de cooperação e lealdade; (iii) deveres de proteção e 
cuidado; (iv) dever de segredo ou sigilo.
O primeiro dever secundário (dever de informação e esclarecimento) tem por objetivo 
tornar as comunicações típicas da negociação claras e transparantes, tudo de forma a evitar 
que a parte contrária venha a incidir em erro na manifestação de sua vontade. 
O dever de cooperação e lealdade, por seu turno, impõe que as partes apenas permaneçam 
nas tratativas enquanto possuam um interesse sério e legítimo na formação de um futuro con-
trato, contando, ainda, com situação jurídica e econômica apta para o seu cumprimento. 
O dever de proteção e cuidado comanda às partes a observância de todas as precauções 
possíveis e razoáveis para que a parte contrária não venha a ser lesionada nas tratativas e no 
futuro contrato.
O quarto e último dever secundário, ou seja, o dever de sigilo tem por escopo assegurar 
que as informações obtidas pelas partes durante as negociações sejam mantidas, salvo dispo-
sição em contrário, e de forma razoável, em regime de estrita confidencialidade, não sendo 
as mesmas utilizadas para fins outros que venham a ser estranhos à conclusão do contrato. 
a proibição de comportamento contraditório
A proibição do comportamento contraditório representa uma das principais contribui-
ções dos estudos sobre boa-fé objetiva para a prática contratual. O instituto possui especial 
87 Regis Fichtner Pereira. A 
Responsabilidade Civil Pré-
Contratual – Teoria Geral e 
Responsabilidade pela Ruptura 
das Negociações Contratuais. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2001. 
p. 102.
159FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
aplicação na fase de negociações que antecede a formação do contrato, coibindo as partes de 
frustrar expectativas legitimamente criadas no pólo contrário das negociações. 
A expressão nemo potest venire contra factum proprium consolida a idéia de que a nin-
guém é permitido agir contra a sua própria conduta prévia. Trata-se da reprovação social à 
adoção de comportamentos contraditórios com efeitos perniciosos a terceiros.
O fundamento do venire contra factum proprium, como visto, reside no princípio da boa-fé 
objetiva, especialmente na sua vertente voltada para a tutela da confiança. A ausência de regula-
mentação no direito positivo não impede a aplicação do instituto, o qual vem sendo amplamente 
utilizado para casos de responsabilidade pré-contratual. A doutrina, contudo, tem adotado en-
tendimento no sentido de que a proibição de comportamentocontraditório derivaria do precei-
to contido no art. 3o, I, da Constituição Federal, o qual consagra a solidariedade social.88
Os pressupostos para aplicação do venire contra factum proprium, de acordo com An-
derson Schreiber, são os seguintes: (i) um factum proprium,; (ii) a geração na outra parte de 
confiança legítima no sentido de manutenção da conduta inicialmente adotada; (iii) um 
comportamento contraditório violador desta confiança; e (iv) dano ou ameaça concreta de 
dano derivado da contradição.89
A proibição de comportamento contraditório surge, portanto, em casos em que a con-
duta adotada por uma das partes gera legítimas expectativas na outra parte, as quais termi-
nam por serem quebradas. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande 
do Sul decidiu favoravelmente a agricultores uma ação com base na quebra das expectativas 
geradas por uma empresa especializada na fabricação de extratos de tomates, uma vez que a 
empresa tinha por hábito entregar-lhes sempre as sementes para plantio, e comprar o resul-
tado da posterior colheita. No ano em que a empresa entregou as sementes e não comprou 
a colheita, os agricultores alegaram ter sofrido prejuízos pela quebra de expectativas geradas 
pela empresa. Segundo consta do acórdão em questão:
“Tanto basta para demonstrar que a ré, após incentivar os produtores a plantar safra de 
tomate – instando-os a realizar despesas e envidar esforços para plantio, ao mesmo tempo 
em que perdiam a oportunidade de fazer o cultivo de outro produto – simplesmente desistiu 
da industrialização do tomate, atendendo aos seus exclusivos interesses, no que agiu dentro 
do seu poder decisório. Deve, no entanto, indenizar aqueles que lealmente confiaram no seu 
procedimento anterior e sofreram o prejuízo.”90
A aplicação da vedação ao comportamento contraditório surge na complementação do 
voto vencedor, ao afirmar que, no caso, “confiaram eles lealmente na palavra dada, na repe-
tição do que acontecera em anos anteriores.” 
2. caso GErador91
Severino José dos Santos Neves, agricultor do Município de Várzea Grande, Mato Grosso, 
possuía plantações de batata, milho e tomate em sua modesta propriedade. Plantava os ali-
mentos com a ajuda de sua família e, na época da colheita, contratava alguns empregados.
No início do ano de 1998, a empresa CEIA – Catchups e Extratos Indústria Alimentícia 
Ltda. procurou Severino e forneceu-lhe sementes de tomate, manifestando sua intenção de, 
posteriormente, firmar, com ele, contrato de compra e venda.
Alguns meses depois, a sociedade empresária celebrou o contrato com Severino e adqui-
riu a safra de tomates de 1998/1999. Assim se deu também com relação às safras de 99/00 
e 00/01.
88 anderson schreiber. A proibi-
ção de comportamento contra-
ditório – Tutela da Confiança e 
Venire Contra Factum Proprium. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2005; 
p. 101.
89 anderson schreiber. Ob. cit.; 
p. 124.
90 TJRs, ap. 591028295; j. em 
06/06/91.
91 O presente caso gerador foi 
extraído da apostila “Respon-
sabilidade Pré-contratual e 
Proibição do comportamento 
contraditório”, elaborada por 
sergio negri para os cursos de 
educação continuada da Escola 
de Direito da Fundação Getúlio 
Vargas, do Rio de Janeiro.
160FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
Em 2001, novamente a CEIA entrou em contato com o agricultor e distribuiu-lhe as 
sementes. Severino, animado com o novo negócio, deixou de lado as plantações de batatas 
e milho e passou a se dedicar exclusivamente ao cultivo de tomates. Implantou a mais nova 
tecnologia de cultura em sua plantação e contratou empregados para o plantio e a colheita da 
safra de 01/02.
Contudo, para sua surpresa, a CEIA, naquele ano, resolveu não industrializar os tomates 
e, por conseguinte, não comprar a safra.
Severino, ao receber a notícia, ficou muito chateado com a situação e foi até a sede da 
empresa em São Paulo para obter alguns esclarecimentos com o encarregado da compra dos 
produtos. Foi então informado de que a última distribuição de sementes fora, na verdade, 
uma doação. O funcionário esclareceu, ainda, que infelizmente não poderia fazer nada, 
mesmo porque não havia assumido nenhum compromisso de, naquele ano, comprar a 
produção de Severino.
Com base no caso descrito, analise as seguintes questões:
a) Poderia a sociedade empresária, após a distribuição de sementes, deixar de celebrar o 
contrato com Severino?
b) A distribuição de sementes pela empresa e a aceitação do agricultor configurariam 
algum tipo de contrato?
c) Haveria, entre Severino e a CEIA, algo que os vinculasse? Em caso positivo, qual seria 
a natureza desse vínculo e o fundamento que legitima essa vinculação?
d) O fato de Severino ter efetuado algumas despesas por acreditar que a CEIA iria ad-
quirir a safra de tomates teria alguma relevância?
e) Imagine agora que, assim como no caso descrito, desde 1998, a empresa vinha dis-
tribuindo sementes de tomate e, em seguida, celebrado o contrato de compra e venda do 
produto. Todavia, no ano de 2001, a CEIA não efetuou tal distribuição. Mesmo assim, 
Severino, pensando que, também nesse ano, venderia tomates à empresa, fez, por conta 
própria, a compra das sementes e o plantio do produto. Essa circunstância altera sua linha 
de raciocínio referente ao caso?
3. QuEstõEs dE coNcurso
20º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase
4. Uma grande empresa privada abre um processo seletivo para preenchimento do car-
go de Diretor de Relações Externas. Um candidato é selecionado. As partes acordam o 
salário, demais condições de contratação e é fixada a data para a admissão. Intempes-
tivamente, sem motivar, a empresa desiste da contratação. O candidato ajuíza em face 
dela ação de danos materiais e morais. Discorra sobre a fundamentação jurídica dessa 
pretensão e sua possibilidade de êxito judicial.
21º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase
5 – Disserte sobre o instituto da responsabilidade civil pós-contratual, após cumpridas 
todas as prestações principais da avença, e estabeleça a validade ou não desta no orde-
namento brasileiro a partir da aprovação do Novo Código Civil.
6 – João e Pedro celebram a compra e venda de um fundo de comércio por R$ 300.000,00 
(trezentos mil reais) descrevendo condicionalmente no instrumento contratual que a 
aquisição teve por motivo determinante a perspectiva de boa e numerosa freguesia, 
garantida e apontada pelo vendedor Pedro no próprio contrato.
161FGV DIREITO RIO
TEORIa GERal Das ObRIGaçõEs E DOs cOnTRaTOs
Decorridos seis meses, não se caracteriza tal perspectiva. João intenta agora anular o 
negócio. Estabeleça qual o fundamento de tal pretensão e discorra sobre se terá êxito 
judicial ou não a pretensão de João. 
22º Exame da Ordem – OAB/RJ – 2ª fase
5 – Disserte sobre o instituto da responsabilidade civil pré-contratual, no rompimen-
to abrupto das negociações durante as tratativas para a celebração de um contrato, e 
estabeleça a validade ou não desta no ordenamento brasileiro a partir da aprovação do 
Novo Código Civil.
162FGV DIREITO RIO
DANILO DONEDA
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná (1995), Mestre em Di-
reito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1998) e Doutor em Direito 
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004). Atualmente é professor 
do mestrado da Faculdade de Direito de Campos, do bacharelado em Direito da 
UniBrasil, e de diversos cursos de especialização. Foi pesquisador visitante na 
Università degli Studi di Camerino e na Autorità Garante per la Protezione dei 
Dati Personali, ambas na Itália. É consultor do Ministério da Ciência e Tecnologia/ 
UNESCO e membro da Comissão de Comércio Eletrônico do Ministério da Justiça. 
Tem experiência na área de Direito Civil, atuando principalmente nos seguintes 
temas: direito civil, privacidade, bancos de dados, dados pessoais, direitoda in-
formática e direitos da personalidade.
TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES E DOS CONTRATOS
163FGV DIREITO RIO
TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES E DOS CONTRATOS
FICHA TÉCNICA
Fundação Getulio Vargas
Carlos Ivan Simonsen Leal
PRESIDENTE
FGV DIREITO RIO
Joaquim Falcão
DIRETOR
Sérgio Guerra
VICE-DIRETOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Evandro Menezes de Carvalho
VICE-DIRETOR DA GRADUAÇÃO
Thiago Bottino do Amaral
COORDENADOR DA GRADUAÇÃO
Rogério Barcelos Alves
COORDENADOR DE METODOLOGIA E MATERIAL DIDÁTICO
Paula Spieler
COORDENADORA DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES E DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Andre Pacheco Mendes
COORDENADOR DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Marcelo Rangel Lennertz
COORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – CLÍNICAS
Cláudia Pereira Nunes
COORDENADORA DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – OFICINAS
Márcia Barroso
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – PLACEMENT
Diogo Pinheiro
COORDENADOR DE FINANÇAS
Rodrigo Vianna
COORDENADOR DE COMUNICAÇÃO E PUBLICAÇÕES
Milena Brant
COORDENADORA DE MARKETING ESTRATÉGICO E PLANEJAMENTO

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