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A televisão a favor da leitura e da escrita do mundo LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1988. (Coleção Antes, aqui e além). LIMA, Rafaela Pereira (Org.). Mídias juventude e cida- dania. Belo Horizonte: Autêntica; Associação Imagem Comunitária, 2006. LEITORES INICIANTES E COMPORTAMENTO REY, Gérman; Omar. PERENE DE LEITURA pública, cultural, de calidad. Revista Gaceta, n. 47. Bogotá: Ministério de Cultura, Deciembre 2000. p. 50-61. João Luis Ceccantini Jesús; REY, Germán. Os exercícios do ver: hege- contato sistemático com estudos realizados hoje por aqueles monia audiovisual e ficção televisiva. São Paulo: Editora do Senac que se interessam pela questão da leitura conduzem a um São Paulo, 2001. paradoxo: de que nunca se leu tanto quanto no século XXI, mas La educación desde la também, sob outros ângulos de análise, O de que nunca se leu tão Buenos Aires: Grupo Editorial Norma, 2002. (Enciclopedia Latinoa- pouco quanto neste século que se inicia. Essa tensão básica faz-se mericana de Sociocultura y Comunicación). presente, em maior ou menor grau, em pesquisas realizadas em di- versos países ainda que, por vezes, assuma feições distintas e sejam MINAYO, Maria Cecília de Souza et alli. Fala, galera: juventude, vio- apontadas para sua origem diferentes razões o que faz pensar num lência e cidadania. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. fenômeno bastante geral e característico da cultura contemporânea. Vera Analfabetismo e alfabetismo funcional no Bra- No caso brasileiro, somos surpreendidos a cada instante por nú- sil. Disponível em: http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/2006/ meros e cifras associados à leitura que impressionam, quando com- pages.php?recid=28. Acesso em: 28 set. 2008. parados com dados de tempos não tão remotos, e que sugerem avan- significativos nesse âmbito. Causa impacto, por exemplo, fato RIVOLTELLA, Pier Cesare. Convidada, intrusa ou quê? Os efeitos da de que, num país em que há menos de um século índice de analfa- televisão na infância: entre a realidade e os discursos sociais. Parte 1. Psicologia Rio de Janeiro, 16, n. 2, 2005. betismo atingia cerca de 80% da população, hoje se vendam milhões de exemplares deste ou daquele best-seller ou que escritores-celebri- SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único dades recebam milhares de reais (ou dólares, ou euros) como luvas à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. para mudar de editora, assim como acontece com famosos jogadores de futebol quando passam de um time a outro. SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Edições Loyola, 2002. outros exemplos também podem ilustrar a importante di- mensão que, na atualidade, a leitura assume no país, mesmo se for SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação, conceitos básicos. In: considerada apenas a leitura específica de livros: a quantidade as- Educommunication. São Paulo: NCE-ECA/USP, 2004. p. 31-34. sombrosa de títulos lançados no mercado editorial brasileiro a cada ano; os muitos novos escritores que despontam na esfera da cultura nacional; a rapidez com que títulos de sucesso internacional são aqui traduzidos e postos em circulação, com bastante êxito; a multiplica- ção de pontos de vendas de livros, que podem ser comprados nãoA televisão a favor da leitura e da escrita do mundo LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1988. (Coleção Antes, aqui e além). LIMA, Rafaela Pereira (Org.). Mídias comunitárias, juventude e cida- dania. Belo Horizonte: Autêntica; Associação Imagem Comunitária, 2006. LEITORES INICIANTES E COMPORTAMENTO REY, Gérman; Omar. Television PERENE DE LEITURA pública, cultural, de calidad. Revista Gaceta, n. 47. Bogotá: Ministério de Cultura, Deciembre 2000. p. 50-61. João Ceccantini REY, Germán. Os exercícios do hege- contato sistemático com estudos realizados hoje por aqueles monia audiovisual e ficção televisiva. São Paulo: Editora do Senac que se interessam pela questão da leitura conduzem a um São Paulo, 2001. paradoxo: de que nunca se leu tanto quanto no século XXI, mas La educación desde la também, sob outros ângulos de análise, de que nunca se leu tão Buenos Aires: Grupo Editorial Norma, 2002. (Enciclopedia Latinoa- pouco quanto neste século que se inicia. Essa tensão básica faz-se mericana de Sociocultura y Comunicación). presente, em maior ou menor grau, em pesquisas realizadas em di- versos países ainda que, por vezes, assuma feições distintas e sejam MINAYO, Maria Cecília de Souza et alli. Fala, galera: juventude, vio- apontadas para sua origem diferentes razões que faz pensar num lência e cidadania. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. bastante geral e característico da cultura contemporânea. RIBEIRO, Vera Analfabetismo e alfabetismo funcional no Bra- No caso brasileiro, somos surpreendidos a cada instante por nú- sil. Disponível em: http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/2006/ meros e cifras associados à leitura que impressionam, quando com- pages.php?recid=28. Acesso em: 28 set. 2008. parados com dados de tempos não tão remotos, e que sugerem avan- RIVOLTELLA, Pier Cesare. Convidada, intrusa ou quê? Os efeitos da significativos nesse âmbito. Causa impacto, por exemplo, O fato de que, num país em que há menos de um século índice de analfa- televisão na infância: entre a realidade e os discursos sociais. Parte 1. betismo atingia cerca de 80% da população, hoje se vendam milhões Psicologia Clínica. Rio de Janeiro, V. 16, n. 2, 2005 de exemplares deste ou daquele best-seller ou que escritores-celebri- SANTOS, Por uma outra globalização. Do pensamento único dades recebam milhares de reais (ou dólares, ou euros) como luvas à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. para mudar de editora, assim como acontece com famosos jogadores de futebol quando passam de um time a outro. Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Edições Loyola, 2002. outros exemplos também podem ilustrar a importante di- mensão que, na atualidade, a leitura assume no país, mesmo se for SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação, conceitos básicos. In: considerada apenas a leitura específica de livros: a quantidade as- São Paulo: NCE-ECA/USP, 2004. p. 31-34. sombrosa de títulos lançados no mercado editorial brasileiro a cada ano; os muitos novos escritores que despontam na esfera da cultura nacional; a rapidez com que títulos de sucesso internacional são aqui traduzidos e postos em circulação, com bastante êxito; a multiplica- ção de pontos de vendas de livros, que podem ser comprados nãoLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini de conveniência, etc.; a criação de centenas de novas editoras como Observa-se que, cada vez mais, no gosto de ampla faixa dos cida- produto das facilidades propiciadas pelas novas tecnologias; os mul- dãos, a leitura dessas obras tem pouco ou nenhum espaço, fazendo- timilionários negócios envolvendo a aquisição de grandes e tradicio- -se presente a leitura de títulos de caráter utilitário (como, por exem- nais editoras brasileiras por poderosas multinacionais do livro; os gi- plo, os livros de autoajuda ou obras de natureza religiosa) ou de gantescos projetos de compra e distribuição de livros por sucessivos títulos voltados sobretudo ao entretenimento. Isso, quando a leitura planos governamentais; a realização de incontáveis eventos ligados de livros não é preterida, pura e simplesmente, pela leitura vinculada ao livro e à leitura (bienais, feiras, salões, jornadas, etc.); estes, entre a outras tantas linguagens e suportes em circulação (tais como jor- tantos outros fatos que apontam para a ideia de que se muito e nais, revistas, filmes, DVDs, quadrinhos, videogames, Internet, etc.), que em evidência um universo do livro em franca ebulição, onde os leitores vão buscar as doses de ficção e informação de que movimentando grandes capitais, gerando empregos e produzindo sentem desenvolvimento em diversas frentes. Também tem sido reiterado que, mesmo entre os leitores que Sob um prisma menos eufórico, porém, também é possível cons- configuram aquele percentual avaliado como dos plenamente alfa- tatar que, embora a situação do alfabetismo¹ no Brasil apresente hoje betizados (cerca de 26% da população), nível recorrente de leitura um quadro significativamente mais positivo do que a situação de um que muitos fazem das obras de qualidade, tanto literárias quanto século atrás, 9% da população ainda permanecem num patamar de informativas, é epidérmico, revelando uma formação distante da usu- analfabetismo absoluto e 65% se inserem num estágio intermediá- por outras gerações, ainda que se admita que aqueles que rio de alfabetismo, caracterizado pelo fato de ainda não dominarem dominavam esse nível de leitura mais vertical constituíam um grupo plenamente as principais habilidades leitoras nem se revelarem total- mais restrito e privilegiado do que usualmente se costuma imaginar. mente familiarizados com práticas de leitura frequentes e necessárias no mundo atual. Assim, somente 26% da população brasileira (apro- Assim, apesar de nunca se ter lido tanto no Brasil, ainda se ximadamente uma para cada três pessoas) dominam de maneira efe- bem menos do que desejável, na medida em que grandes faixas da tiva as habilidades e práticas típicas do universo da leitura. população permanecem numa posição periférica em relação à leitu- ra, sobretudo quando critério de análise se apega a uma dimensão Nesse cenário menos alentador, diversos problemas têm sido en- mais qualitativa, seja no que concerne aos suportes (livros ou outros fatizados, muitos deles ligados particularmente à leitura de livros. A materiais de leitura), à escolha de obras (literárias ou não literárias) e ideia de que hoje se lê menos do que há tempos atrás apoia-se à consistência e profundidade das leituras realizadas. Nesse contexto bretudo no gradativo desinteresse pela leitura literária ao longo das bastante complexo em que a leitura hoje está inserida e que depen- últimas décadas, em especial se essa for compreendida no sentido de da ação de inúmeras variáveis de ordem política, econômica, estrito das obras "clássicas" ou canônicas, encarregadas da transmis- educacional, entre tantas outras serão abordados aqui dois tópicos são de certo patrimônio cultural de excelência entre as gerações: ligados à questão da mediação, aspecto essencial para a formação de Aqueles que apregoam a crise da leitura não pensam na leitura em leitores, mas que, naturalmente, devem estar integrados a uma ampla geral, e sim na leitura de certo tipo de livros aqueles que formam a rede de políticas e ações culturais, sem a qual não há mediação indi- vidual e quixotesca que faça milagres. tradição erudita nacional e internacional. Estes são efetivamente pouco lidos, assim como são pouco frequentados os espaços em que se mani- O primeiro tópico alinha-se a essa perspectiva dos avanços que festa a alta cultura. (Abreu, 2003, p.40) efetivamente país tem conseguido implementar no campo da leitu- ra, e que, portanto, faz todo sentido enfatizar, multiplicar, aprimorar, cada vez mais. Trata-se da animação de leitura, realizada junto às 1 Tanto o emprego do termo alfabetismo quanto os números aqui comentados tomam porLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini do tópico situa-se no âmbito do muito que ainda há por fazer e das diretas para a vida do potencial adulto leitor. Assim, cresce a cada dia soluções a buscar, concentrando-se num ponto de estrangulamento a consciência geral entre pais, educadores e os responsáveis pelas crucial da formação de leitores no país, e que diz respeito ao afas- políticas públicas de leitura quanto à necessidade de uma mediação tamento do universo da leitura por parte de muitos leitores assíduos contínua e dinâmica entre a criança e livro, sempre articulada com formados com sucesso durante os primeiros anos da escolarização. um contexto social bastante amplo. Pesquisas recentes demonstram que há um abandono paulatino das práticas de leitura, à medida que esses leitores recém-cultivados vão Ana Maria de Oliveira Galvão, analisando os dados da pesquisa deixando a infância e alcançando a juventude, num processo grada- INAF, uma das mais sérias investigações sobre a leitura no Brasil tivo que só faz se intensificar ao longo da vida. realizadas nos últimos anos, enfatiza precisamente peso que tem a família como influência no comportamento dos A partir de meados da década de 1970, vai-se tornando corrente, no Brasil, a noção da enorme importância exercida pelo contato com Os dados analisados revelam [...] grandes tendências em relação à trans- os livros já desde os primeiros anos de idade para a formação global missão do hábito de ler: parecem existir relações bastante estreitas en- da criança e para um processo de escolarização bem-sucedido, parti- tre os usos que da leitura e da escrita são feitos pelos entrevistados e os cularmente no que diz respeito à competência de leitura e de escrita. níveis, os hábitos e as práticas de leitura de seus pais. contato com É representativa, nesse sentido, a receptividade com que foi acolhida objetos escritos desde a infância também se revelou um fator funda- a tradução e a publicação de Como incentivar da leitura mental para determinar grau de alfabetismo dos entrevistados. Esses do austríaco Richard Bamberger (1911-2007),3 obra em que dados são bastante semelhantes encontrados em outras pesqui- pesquisador defende essa ideia e que obteve ampla circulação no sas, realizadas, inclusive, em outros países. (Galvão, 2003, p.141) país. Nos anos subsequentes ao lançamento da obra, inúmeros Com a ampla disseminação dessa ideia, de que a família influen- logos, linguistas, pedagogos e profissionais das mais diferentes áreas cia fortemente comportamento das futuras gerações de leitores, e filiações teóricas se empenharam em reiterar a função essencial cada vez mais são destacados, seja pelos especialistas, seja pela desempenhada pelo contato precoce das crianças com os livros e dia, aspectos e ações que caberiam aos pais realizar para estimular a outros materiais de leitura no processo geral do letramento, na medi- formação de leitores competentes e da em que esse contato cria condições favoráveis para que a criança se transforme num jovem de comportamento leitor ativo e maduro e a leitura de histórias aos filhos desde a primeira infância, im- este, por sua vez, se transforme num adulto leitor assíduo e capaz de pregnando de afetividade tanto ato de ler quanto as obras encontrar na leitura múltiplos sentidos para sua vida. lidas; Nesse contexto, deixada de lado uma visão ingênua que, muitas a ampla disponibilização de livros e materiais de leitura diver- vezes, imaginava a leitura como um caminho espontâneo e natural, sificados e de boa qualidade; percorrido apenas pelos que uma "queda", um "dom" ou um "pendor" para essa atividade, passou-se a um enfoque mais a leitura cotidiana de livros, jornais e revistas de modo a ofe- realista da questão, constatando-se que duas instituições a família e recer modelos positivos de leitura, que possam ser continua- a escola assumem uma dimensão da maior relevância para desen- mente introjetados pelas crianças; volvimento do comportamento leitor da criança, com consequências debate frequente das leituras realizadas pelos integrantes da família; 2 Tradução de Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix; MEC. 3 o autor foi um dos fundadores da Associação Internacional de Pesquisa em a constante visita a bibliotecas, feiras do livro, bate-papos comLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini Naturalmente que se trata de uma situação absolutamente ideali- em âmbito regional ou nacional, farta bibliografia especializada e zada, em oposição às reais condições materiais e afetivas vivenciadas disponível sobre O assunto, estímulo do forte mercado editorial de no dia a dia pela absoluta maior parte das famílias brasileiras isso, literatura infantil, entre outras possíveis razões por trás desse novo para não mencionar as crianças que nem sequer estão efetivamente estado de coisas. protegidas por uma família... Mas se há famílias que, em situação eco- nômica e emocional favorável, têm podido implementar ações como Hoje, em inúmeras escolas, é fato corriqueiro, por exemplo, de- essas e têm colhido bons resultados na formação de leitores, por ou- parar com a cena de um conjunto de crianças alvoroçadas e baru- tro lado, as enormes desigualdades sociais do país, a velocidade das lhentas ou, ao contrário, silenciosas e extasiadas, que, sentadas em transformações por que vem passando a instituição familiar, as pres- no pátio, na biblioteca ou na própria sala de aula, ouvem um da vida urbana contemporânea, a ausência de consciência sobre adulto contando uma história com um livro aberto nas mãos. Trata-se problema ou a simples falta de uma tradição letrada que estimule a geralmente de uma sessão da "hora do conto", atividade muito prati- encarar frontalmente a questão poderiam conduzir a um prognóstico cada nas escolas e emblemática do que se convencionou chamar de muito pessimista quanto à leitura, para uma parcela muito grande das animação de leitura, essa peça-chave de projetos de leitura eficientes crianças brasileiras. Estariam elas condenadas a ser não leitoras por no contexto não possuírem um modelo familiar de leitura adequado? Na verdade, identificar somente a "hora do conto" à animação Muitas vezes senso comum tem insistido nessa ideia ou mesmo de leitura peca por uma simplificação grosseira. No entanto, fazê- isso é sugerido por um ou outro especialista. No entanto, não é -lo talvez se justifique aqui na medida em que "a hora do conto" se que mostram dados recentes sobre assunto. Na mesma pesquisa do reveste de um poderoso valor simbólico. Remete ao gesto ancestral INAF, anteriormente citada, essa visão apocalíptica é negada: dos homens de outras épocas, que, sentados à beira de uma foguei- ra, compartilhavam experiências, histórias, sentidos, quando ainda [...] pode-se, então, chegar à conclusão de que a família é a única e não havia O livro e essa atividade era vital para a continuidade entre principal mediadora entre indivíduo e sua relação com a escrita? as gerações. Assim, quem sabe, é possível pensar "a hora do conto" Evidentemente não. A escola, pelo menos nas últimas décadas e para como a atualização, para os pequenos leitores em formação, desse grande parte da população brasileira, tem-se constituído na principal gesto fundamental de construção de sentidos, sem qual não há via de acesso à leitura e à escrita embora essa afirmação não seja vá- educação de qualidade. lida para as gerações mais velhas. (Galvão, 2003, p. 150) O mínimo que se espera de uma escola hoje em dia, portanto, é No caso das gerações mais novas, portanto, a pesquisa deixa cla- que se reservem amplos espaços e tempos para "a hora do conto". ro papel fundamental desempenhado pela escola na formação de Ainda que, naturalmente, ideal é que se promovam muitas outras um contingente muito significativo de leitores. atividades de animação de leitura. De uma certa forma, reviver esse ritual da "hora do conto" é espalhar aos quatro ventos uma mensa- Para os profissionais ligados à educação que, nos últimos anos, têm frequentado regularmente escolas de Educação Infantil ou das gem clara de que, nessa escola, a leitura é uma prioridade; comparti- lhar experiências é um imperativo. E qualquer um ficaria estarrecido séries iniciais do Ensino Fundamental, uma realidade que salta aos de encontrar, ainda hoje, alguma escola que, por mais limitações de olhos no cotidiano escolar, seja na esfera pública, seja na escola privada, é a de que O ensino brasileiro amadureceu muito no senti- recursos materiais e humanos que possua, não tenha integrado ao cotidiano escolar sequer essa atividade, ignorando a contribuição sig- do de promover atitudes afirmativas e comportamentos mais ativos em relação à leitura, talvez como resultado de anos a fio de debate 4 Neste artigo, a questão da mediação e da animação de leitura é considerada, sobretu- do tema nas mais diferentes esferas: cursos de licenciatura e de for- do, na sua dimensão escolar, que não significa que, para muitos dos tópicos abordados.Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini nificativa que um gesto simples como esse, desde que reiterado, tem apresentam um longo balanço sobre tema, enfocando-o tanto no para a formação de leitores. âmbito escolar quanto no das bibliotecas de modo geral. Como pro- vocação a seus virtuais leitores, estabelecem, de início, algumas "re- Mas a animação de leitura não pode ficar restrita à "hora do con- gras da animação da leitura", elencadas a seguir: to". É muito mais do que isso e é precisamente a sua prática siste- mática, de maneira planejada e criativa, que tem ocorrido na faixa ter desejo de animar a ler; de escolarização que vai da Educação Infantil até cerca do ano do Ensino Fundamental, um importante fator responsável pela me- despertar a vontade de ler; lhora da situação da leitura no Brasil ao longo das últimas décadas. colocar livros à disposição das crianças; Como algumas pesquisas têm demonstrado, muitos dos adultos hoje leitores maduros, afeiçoados ao livro e à leitura, foram crianças que tornar os livros acessíveis ao leitor, de modo que possam ser vivenciaram práticas escolares acertadas no trabalho com a leitura, facilmente encontrados; estudantes em boa parte das vezes oriundos da escola pública e de contar com uma biblioteca organizada e um pessoal com famílias não leitoras. tempo, ideias claras e muita boa vontade; Assim, desperta entusiasmo observar no ambiente escolar brasi- trabalhar em equipe e estabelecer um plano de atuação; leiro, hoje, a crescente recorrência de crianças das séries iniciais que, sob a ação da animação de leitura, se demonstram estimuladas a ler, contar com uma mãe e um pai leitores e com vontade de que frequentam a biblioteca da escola (ou outras bibliotecas, motivadas seus filhos leiam. (Camacho; Yela 2008, p. 8-10) por seus professores), retiram livros com regularidade, elegem obras e autores de sua preferência (bem com rejeitam tantos outros...), assumem posições firmes sobre as obras lidas, compartilham vivên- Trata-se, esta também, de uma situação idealizada, mas que, cias de leitura com os colegas. Tudo levando à convicção de que é no contexto da discussão proposta pelos dois autores, deve servir preciso investir, cada vez mais, na animação de leitura, reproduzindo como uma espécie de meta a ser atingida para alcançar um trabalho iniciativas já experimentadas com sucesso, aprimorando aquelas em eficiente de formação de leitores estáveis. Na sua argumentação, curso, criando estratégias dinâmicas e inovadoras, de modo a expan- os dois atribuem um enorme peso à figura do mediador, deixan- dir a faixa de alunos motivados para a leitura e a alcançar patamares do tácita como condição para O êxito na formação de leitores que de crescente qualidade. esse mediador deva ser, ele mesmo, um leitor voraz e apaixonado, totalmente convencido de que ler é um valor e de que há um sem- Se é O próprio professor de uma turma que irá assumir a função -número de obras memoráveis que valem a pena ser lidas. Esse me- da animação de leitura ou se será designado um animador específico diador sempre imaginará que, dentre essas obras todas, há aquelas para isso, parece ser questão menos relevante e a ser solucionada capazes de seduzir O mais refratário, relutante e empedernido dos conforme as possibilidades concretas de cada escola. O mais impor- (não)leitores e que cabe precisamente ao processo de mediação tante, no processo, é reservar para ato de ler uma posição central identificar essas acessíveis e transformá-las no obje- no conjunto de atividades desenvolvidas pela escola, bem como ten- to do desejo desse leitor-em-potencial. Pressupõem que mediador tar compreender em profundidade a natureza da mediação de leitura aficionado das boas obras toma as "regras da animação de leitura" e definir com clareza seu papel. como um desafio, que O levará a propor em diversos níveis dos essencialmente individuais aos francamente coletivos as ações Num número recente da revista espanhola CLIJ (Cuadernos de Literatura Infantil que tem por matéria de capa a anima- precisas para vencê-lo.Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Ceccantini Pedro Cerillo, um dos maiores especialistas espanhóis em ques- temente iria contra a leitura/escrita (a diminuição de sua utilidade fun- tões sobre leitura e mediação, procura estabelecer de maneira obje- cional imediata) é, paradoxalmente, O que nos vai permitir descobrir a tiva papel do mediador: verdadeira dimensão dessas duas capacidades e compreender a sua uti- lidade real (mais profunda, mais rica, mais complexa, mais decisiva). [...] criar e fomentar hábitos leitores estáveis, ajudar a ler por ler, orien- tar a leitura extraescolar, coordenar e facilitar a seleção de leituras por A escola de hoje deve abordar a conquista da leitura pelas crianças a idades e preparar, desenvolver e avaliar animações de leitura. (Cerrillo, partir de uma visão plural em que, para além da evidente visão instru- 2002, p. 445) mental, como ferramenta necessária para a aquisição de todo tipo de aprendizagens, se destacam estes outros aspectos: Ao salientar a necessidade de que ler por ler" está entre uma dessas funções basilares do mediador, Cerrillo toca num aspecto de- livro como brinquedo, como um elemento que nos introduz nas pos- licado e que, muitas vezes, costuma constituir uma das principais sibilidades lúdicas da língua, constituindo-se numa fonte de prazer; razões para fracasso de muitas animações de leitura, sobretudo O livro como porta aberta ao conhecimento do mundo e das pessoas, quando quem as conduz é O professor, situação em que se sobre- como instrumento para essa aprendizagem vital que se dá ao vivermos numa só pessoa a figura do mestre, compreensivelmente mais histórias que outras pessoas nos contam por meio deles ("sinto que por pragmática, e a do animador de leitura, em princípio mais libertária. trás deste livro há uma pessoa que me fala", dizia Montag, O protago- A instrumentalização da leitura na animação, em que até mesmo a nista de Fahrenheit 451);5 literatura é usada para atender a esta ou aquela atividade que visa di- livro como elemento motivador, que nos impulsiona a deixar de ser retamente ao aprendizado escolar, por mais bem-intencionadas que tão somente receptores e a nos convertermos em construtores ativos sejam as intenções de quem as propõe, costuma pôr a perder todo das nossas próprias histórias. Paz, 1994, p.76) O esforço investido no processo, contrariando princípio básico e desafio de toda animação: despertar um desejo autêntico de ler, Na perspectiva assumida por Fernández Paz, que fique bem claro ao contrário de fazer ler a qualquer custo, coisa, aliás, que a escola que O fato de O escritor defender a leitura e a literatura abordadas de tradicional sempre fez, e com resultados muitas vezes desastrosos e uma perspectiva não utilitarista não significa, em hipótese alguma, sobejamente conhecidos, vacinando gerações a fio contra a leitura. cair no extremo oposto, O de endossar O Em seus di- versos trabalhos sobre O assunto, ele insiste na ideia de que a leitura Esse alerta contra utilitarismo associado à leitura, particular- não é instintiva, mas, ao contrário, pede uma postura ativa, demanda mente da leitura da literatura, tem sido enfatizado também por Agus- esforço contínuo, exige um investimento grande, tanto do leitor em tín Fernández Paz, um importante autor infantojuvenil espanhol, de formação quanto do mediador. Apresenta, assim, de modo sistemá- expressão galega, conhecido, ainda, por uma vasta produção sobre tico, em livros e artigos de sua autoria, propostas bem concretas leitura e animação de leitura, elaborada com base em sua longa ex- de animações de leitura, meticulosamente planejadas, organizadas periência como professor nos diversos níveis de ensino. Fernández segundo faixas etárias e séries escolares, com cada passo pormenori- Paz, em seus textos sobre O assunto, rejeita os enfoques pouco cria- zado, abarcando pontos que vão da discussão da natureza das obras tivos, burocráticos e pragmatistas que se façam da leitura e faz uma selecionadas à descrição minuciosa das propostas de atividades. defesa apaixonada de funções que são próprias da literatura e da arte em geral, desde tempos imemoriais: Entretanto, O escritor enfatiza a ideia de que não se pode perder de vista, em momento algum, a dimensão criativa em que deve ocor- [...] é uma obrigação imprescindível propormos nas aulas uns objetivos rer processo de animação e que seu propósito central deve ser mais ambiciosos que a prática funcional da leitura e da escrita e, emLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini de levar a criança a ler, não para que realize esta ou aquela atividade, para leitor, uma sociedade pouco dada ao silêncio e ao ritmo pausa- mas ler para si mesma, ler para atender a uma necessidade interna, do, outras prioridades dos que nos governam na hora de administrar os ler para satisfazer um gosto pessoal, aspectos que cabe ao mediador dinheiros públicos, uma escola em muitos casos mais distanciada que criar as condições para que aflorem plenamente. impulsionadora da animação de leitura... Não é caso nem há espaço aqui para detalhar as inúmeras ati- Por conseguinte, são necessários planos de atuação e estratégias que vidades e aspectos abordados por Fernández Paz nas suas propostas ponham em contato a obra do escritor com Planos que para sessões de animação de leitura (1991, 1994, 2002). Mesmo por- não podem ser flor de um dia nem campanhas grandiloquentes que que grande parte dos tópicos que explora está disseminada na levem boa parte dos recursos públicos. Os melhores projetos de ani- sima bibliografia disponível atualmente também no Brasil, tanto em mação de leitura são aqueles que de forma discreta se prolongam no obras impressas quanto na Internet. Bibliotecas de classe, paratexto, tempo, que vão se infiltrando como a chuva fina que ao passar do tem- ilustração do livro infantojuvenil, materialidade das obras, recons- po faz germinar os campos. Os resultados da animação de leitura não trução de histórias, murais, resenhas, jogos poéticos, se fazem de hoje para É provável que não os veja quem está jogos dramáticos, marionetes, contatos com escritores e ilustradores, plantando e regando a semente. Mas se trabalho for bem programa- debates, entrevistas, enquetes, desenhos, colagens, criação de do, constante e feito com carinho e dedicação, os efeitos serão vistos. rias coletivas, listas, registros de leitura, "hora do conto": estes são Yela 2008, p. 15-16) alguns entre inúmeros outros tópicos que têm sido abordados nos últimos anos, configurando a natureza diversa que pode assumir a Perder de vista que a formação do leitor é um processo que, animação de leitura. Hoje é possível ter acesso fácil a experiências além de altamente complexo, presume muito trabalho e objetivos a dessa ordem, como produto dos mais diferentes contextos geográfi- ser cumpridos a longo prazo tem levado a que bons resultados COS, sociais e culturais, experiências que podem ser reproduzidas ou lhidos numa primeira fase de escolarização nem sempre tenham sua servir de inspiração para a criação de novas propostas e ações, mas contrapartida em fases mais avançadas da vida escolar ou mesmo que não é demais repetir certamente só cumprirão efetivamente no comportamento leitor dos adultos. Esse do gradativo seu objetivo, se tiverem por base muitos dos princípios sobre media- abandono do universo da leitura, na transição da infância para a ju- ção aqui expostos. ventude, ou mesmo na passagem da adolescência para a vida adulta, tem sido observado com muita recorrência no país, nos últimos anos, É com uma concepção de animação de leitura inserida num ho- merecendo um permanente esforço de compreensão e a busca de rizonte mais amplo, em que se busquem a colaboração e a sintonia ações que revertam processo. entre diferentes agentes e instituições, tais como estado, município, biblioteca pública, biblioteca escolar, gestores educacionais, profes- Ana Paula Corti e Raquel Souza, especialistas em questões liga- sores de língua materna, professores de outras disciplinas, anima- das à juventude, chamam a atenção para um fenômeno de caráter dores culturais, bibliotecários, pais, etc., que se pode pensar em re- geral que caracteriza a escola de nossos dias e que tem repercussão sultados mais efetivos. Além disso, é preciso a consciência de que muito marcada na questão que nos interessa a formação de leitores a formação de leitores não admite imediatismo e pressupõe longo perenes. Na comparação entre as respostas que a instituição escolar prazo para alcançar objetivos consistentes, ainda mais em tempos tem conseguido oferecer às questões da infância e às da juventude, não exatamente afáveis para com a leitura de livros. Camacho dizem: situam bem problema: [...] a escola avançou muito mais em relação às crianças. Embora esse [...] a realidade que nos rodeia costuma ser pouco propícia a esse encon- processo seja recente no Brasil, a educação infantil e primária tem con- tro entre criança e livro: pais que leem meios de comunicação seguido incorporar os saberesLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini infantil por todos os lados: na disposição e formato dos móveis, na 16% de poesia; dos 35 aos 49, 24% interessam-se por ficção e 14% por decoração, nos trabalhos realizados, nas cores, nos espaços recreativos poesia, e quando se chega à faixa dos que têm mais de 50 anos, apenas e de alimentação. (Corti; Souza, 2005, p. 119) 18% leem ficção e 10%, poesia. Não se pode dizer que O mesmo ocorra em relação à juventude. A pesquisa Retrato da Leitura no Brasil chegou a conclusões semelhan- Ao lidar com as questões ligadas aos jovens e, particularmente no tes ao indicar que O leitor mais comum tem entre catorze e dezenove que diz respeito à leitura, a escola brasileira não tem sabido encon- anos de idade (45% do total de entrevistados). (Abreu, 2003, 39) trar soluções convincentes, de maneira oposta ao que se tem passado em relação à infância, em que, pouco a pouco, se vão acumulando Dados de uma outra pesquisa, ainda mais recente do que a INAF sucessos relevantes. Hoje, sem dúvida, um dos maiores problemas a e a "Retrato da Leitura no Brasil", também exemplificam O que há enfrentar na formação de leitores é de como dar continuidade às de artificial e pouco convincente nesse comportamento leitor dos conquistas obtidas junto às crianças, à medida que vão crescendo, jovens, na medida em que parece estar atrelado ao período em que de tal modo que continuem sendo leitores fiéis e motivados. Não se encontram na escola e depois decresce trata-se do bastam leituras que os jovens fazem por pressão direta ou indireta do "Perfil da juventude brasileira"6 (2003/2004). Nessa pesquisa, quando ambiente escolar. E esse problema não parece específico do Brasil, se pergunta aos jovens brasileiros (de 15 a 24 anos) O que fazem de mas global, como têm verificado estudos de vários países. É que seu tempo livre no final de semana, em questionário que propõe aponta, por exemplo, um grupo muito representativo de pesquisado- resposta espontânea e única, a leitura se faz presente em apenas res espanhóis da Universidad de Cantabria: 1% dos casos. Fica no mesmo patamar do cinema (1%), compon- do, juntamente com esse tópico, os 2% da rubrica "Atividades cultu- Não há dúvida de que, para muitos jovens, a leitura é um efeito de rais". Isso, em contraste com 45% de "Lazer e entretenimento", 22% sua permanência no universo escolar e, por esta razão, fora dele leem das "Atividades dentro de casa" ou 18% de "Atividades esportivas". menos e quando abandonam de forma definitiva O mundo da escola e Quando se pergunta a esse mesmo jovem que gostaria de fazer suas obrigações, no caso de muitos desses jovens praticamente se pro- sem quaisquer impedimentos", também com a demanda de resposta duz um abandono da leitura. (Grupo Lazarillo, 2006, p. 96) espontânea e única, a leitura sequer aparece... No entanto, quando Ao contrário do que costuma afirmar senso comum, os jovens O questionário propõe questões com resposta estimulada (tal como brasileiros constituem uma grande parcela da população leitora e nas pesquisas INAF e "Retrato da Leitura no Brasil"), a coisa muda também da que lê literatura. Mas fazem isso, sobretudo, sob a ação de figura e não se mostra assim tão negativa: 46% leem revistas no final de semana, 33% leem jornais, 20% estudam fora da escola e das coerções típicas do sistema escolar. Márcia Abreu, comentando a pesquisa do INAF e valendo-se também de uma importante pesquisa 34% dizem "ler algum livro (sem ser para escola ou trabalho)". Ou recente, realizada pela Câmara Brasileira do Livro ("Retrato da Lei- seja, há um descompasso entre que diz a resposta espontânea e a tura no Brasil"), apresenta dados significativos, no que diz respeito resposta estimulada no que se refere ao papel que a leitura ocupa na vida desses jovens. ao comportamento dos leitores jovens da população e dos leitores situados em faixas etárias subsequentes: Assim, pode-se dizer que O jovem brasileiro Mas esse des- Contrariando O propalado desinteresse dos jovens pela literatura, eles compasso sugere que a leitura desempenha um papel bem pequeno formam O grupo de leitores mais assíduos de ficção (44% das pessoas no imaginário, na afetividade, nos desejos, dos jovens pesquisados, entre 15 e 24 anos dizem ler "romance, aventura, policial, ficção") e de poesia (lida por 35% dos que estão nessa faixa etária). À medida que 6 A pesquisa já deu origem a dois livros bastante relevantes sobre a situação geral da juventude no Brasil de hoje, ambos publicados pela Fundação Perseu Abramo: Juventude envelhecem as pessoas vão progressivamente se desinteressando da e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. organizado por ReginaLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini reforçando a ideia de que, embora queiram se mostrar à pesqui- A escola e os professores desconhecem processo cognitivo do aluno sa como leitores, quando O assunto leitura é evocado, os eventuais jovem e as variáveis que intervêm em seu processo de aprendizado. vínculos estabelecidos com a leitura na infância não se revelam sufi- Deste aluno é subtraída toda sua condição biopsicossocial, como se seu cientemente duradouros. Na verdade, já teriam enfraquecido e, para papel de aluno já estivesse construído de e fosse suficiente muitos deles, estariam em vias de desaparecer, tão logo se vejam para explicar e definir sua relação com O conhecimento. (Corti; Souza, distanciados do sistema escolar, sugerindo, portanto, um comporta- 2005, p. 119) mento leitor bastante distante do perene. Nesse contexto permeado de tensões, verifica-se um permanente Nas pesquisas aqui citadas, a atividade leitora dos jovens, que, estranhamento entre a escola e a juventude, em que acusações re- à primeira vista, poderia parecer bem animadora, demonstra-se, cíprocas se fazem, a propósito das razões de uma rotina escolar em por conseguinte, como um comportamento razoavelmente efême- que sobressaem a indisciplina, a agressividade e a apatia, aspectos que, ro, que em evidência que nem todos os objetivos que se es- antes de tudo, podem ser vistos como uma resposta dos jovens a peram de uma política de formação leitora consistente estão sendo uma instituição que não tem conseguido oferecer sentidos e referên- cumpridos. Afinal, os dados mostram que simples fato de se ter cias significativas para suas vidas. despertado O gosto pela leitura nas séries iniciais, contando-se com leitores assíduos e motivados na infância, não tem sido suficiente Para O caso da leitura, vale a pena salientar dois aspectos que mantêm estreitas relações entre si, e não têm sido devidamente con- para garantir a estabilidade desse comportamento em fases poste- riores da escolarização. siderados pela tradição escolar, mas que, uma vez levados em conta, têm implicações substantivas para O envolvimento dos jovens com os Diversas razões, de cunho geral ou específico, costumam ser as- livros. O primeiro deles, de cunho bastante geral, diz respeito ao fato sociadas ao fato de que a escola não está conseguindo consolidar de que, superada a infância, um impulso de profunda socialização comportamentos de leitura criados na infância: professores que não passa a balizar O cotidiano do jovem, modulando profundamente recebem formação adequada sobre a questão da leitura nos cursos seus desejos, ações e visão de mundo. O outro aspecto, diretamen- de licenciatura; falta de políticas oficiais de fomento à leitura que te ligado a esse, reporta-se à noção de protagonismo juvenil (Corti; sejam mais abrangentes e melhor definidas para todos os níveis de Souza, 2005), que tem se revelado uma estratégia diferenciada para ensino; menor acesso material aos livros pelos jovens do que pelas mobilizar O jovem, para levá-lo a sair de uma atitude hostil ou in- crianças; pouco tempo para a leitura, gerada pelo fato de que grande diferente frente a um modelo de escola em que não se reconhece, parte dos jovens trabalha; excessiva instrumentalização da leitura nas permitindo seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, que estabeleça séries mais avançadas; menor identificação dos jovens com os livros uma interação transformadora com O meio no qual está inserido. que circulam nas séries finais do Ensino Fundamental e Médio; apelo de outros suportes e linguagens, que roubam tempo da leitura Se O conjunto de dados até aqui apresentado torna patente que de livros; entre outros aspectos. a animação de leitura não pode se restringir às crianças e precisa ter continuidade ao longo de toda a escolarização, deverá sofrer, entre- No conjunto, todas essas razões se sustentam e convergem para tanto, as adaptações adequadas aos jovens, com ênfase para a ques- uma questão de larga envergadura que apontam Corti e Souza: a es- tão da socialização. Os princípios básicos da animação permanecem cola ainda não conhece bem O mundo juvenil. De um lado, há pouca os mesmos. A maior parte das atividades propostas às crianças tam- pesquisa sobre assunto; de outro, conhecimento que existe está bém pode ser apresentada aos jovens, ainda que com um nível maior longe de ter sido assimilado pela escola e transformado em práticas de complexidade e desde que não se deixe de lado a ideia básica produtivas, que respondam às reais necessidades dos jovens que da não intrumentalização. É fundamental, contudo, priorizar aquelas hoje frequentam uma instituição em contínua expansão e transforma- que atendam a esse impulso para a vivência coletiva.Leitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini O desafio para animador passa a ser de tentar conciliar a dia/alta, por depender das novas tecnologias, é sugestivo e inspira- dimensão essencialmente solitária da leitura (em última instância, dor de direções criativas pelas quais pode enveredar a animação de sempre um embate subjetivo entre leitor e a obra) e essa forte ten- leitura destinada a jovens. Nas pesquisas de leitura que vêm sendo dência juvenil que, muito mais do que em fases anteriores, se volta lembradas aqui, é flagrante abismo entre esse desejo que os jovens para a convivência em grupo, para a necessidade intensa de buscar têm de viver experiências culturais e de lazer em grupo e quase as "tribos" que paradoxalmente auxiliam O jovem na construção nada que lhes é oferecido pela sociedade, incluída aí a escola. É as- de sua identidade individual. sustador que no "Perfil da juventude brasileira" 88% dos jovens infor- No âmbito da leitura, em oposição à atitude do leitor isolado e mem que nunca participaram de algum projeto cultural desenvolvido contemplativo, fruindo sua obra serenamente numa doce solidão, por governo ou ONG (e esse índice chega a 94% na zona rural). É podem ser tomados como exemplos significativos de práticas de lei- de espantar que 59% informem que nunca participaram de atividade tura vinculadas à ideia de sociabilidade, fenômenos contemporâneos cultural desenvolvida pela escola no fim de semana. E choca, ainda como os as séries ou mesmo determinados blogs, que têm mais, que, na época da pesquisa, somente 3% estivessem efetivamen- na Internet seu suporte básico, ainda que presumam a leitura prévia te participando de alguma atividade do gênero (Brenner; Dayrell; de obras por vezes (como Harry Potter ou O Senbor Carrano, 2005). Para não dizer que, entre os 38% que alegaram já dos Anéis). São demonstrações concretas dessa necessidade que os ter participado alguma vez de projetos culturais, foi apenas uma ou jovens têm hoje de explorar até mesmo universo da literatura de outra vez e assim mesmo em tempos remotos... uma forma que implique interação permanente entre pares. Querem Está sendo profundamente subestimado papel que podem de- compartilhar impressões de leitura e reescrever coletivamente esta ou sempenhar iniciativas ligadas à leitura, que enfatizem a sociabilidade, aquela obra-matriz, dessas que fundam mitologias sendo necessário atribuir um peso muito maior à questão da cultura em exercícios lúdicos capazes de arregimentar multidões de leitores. e do lazer dos jovens: Eloy Martos pesquisador espanhol da Universidad de Extre- madura, que estuda as práticas leitoras emergentes, valoriza precisa- Uma dimensão inovadora constatada em várias pesquisas sobre as prá- mente esse traço agregador que caracteriza essas novas práticas: ticas juvenis no Brasil e em outros países se refere à importância da esfera cultural e do lazer como espaço produtor de sociabilidade. Nos [...] do ponto de vista dos fäs (mas também da educação literária) a apro- espaços de lazer, os jovens podem encontrar as possibilidades de expe- priação sem intenção de lucro destes mundos imaginários é um aperitivo rimentação de sua individualidade e das múltiplas identidades para O desenvolvimento da criatividade pessoal e da colaboração em gru- rias ao convívio cidadão nas suas várias esferas de inserção social. As po, pois normalmente fäs tendem a agrupar-se e compartilhar atividades diferentes práticas de experiência coletiva em espaços sociais públicos de todo tipo, como "webs", comunidades virtuais, convenções, jogos de de cultura e lazer podem ser considerados como verdadeiros labora- disfarces, livros de imagens com seus personagens favoritos etc. Forma-se, tórios onde se processam experiências e se produzem subjetividades. assim, uma mitomania leitora que faz lembrar bastante, em Didática, que (Brenner; Dayrell; Carrano, 2005, p. 177) se descreve como currículo oculto ou paralelo ao currículo oficial, neste caso, como um tipo de leitura subjacente ao cânon instituído e prestigia- Corti e Souza, em Diálogos com mundo juvenil (2005), ao dis- do pela sociedade, a escola ou a biblioteca. Não é à toa que "fandom" correr sobre a entrada progressiva dos jovens na vida pública, virtual onde atuam os internautas se associa principalmente mentam as diferentes estratégias de que os jovens se utilizam como à fantasia, à ficção científica e ao terror, gêneros marginais e, ao mesmo maneira de construir sua "visibilidade pública e sua práxis social", tempo, emergentes. (Martos 2006, p. 67) tais como movimento estudantil em décadas passadas e mo- vimento antiglobalização mais recentemente. Também reportam-se Trata-se de um exemplo de prática leitora coletiva que. emboraLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini juventude atual é caso dos skatistas, dos rappers, dos punks, poderá ser, em parte, atendido, com a particularidade de que se verá etc. Dentre essas formas de visibilidade, as duas pesquisadoras de- na posição de sujeito do processo. Independentemente de que esse dicam atenção especial à questão do "trabalho que tem jovem não seja um exímio leitor, sempre haverá faixas em que ele constituído importante elemento aglutinador dos jovens em torno de pode atuar: na própria escola, com estudantes de séries ou idades causas as mais variadas, que podem ir da reabilitação de um centro abaixo da sua; em bibliotecas comunitárias; em associações de bairro; esportivo degradado num velho bairro do centro paulistano à cons- em hospitais e asilos; em igrejas; nas mais variadas ONGs. Aspectos trução de cisternas no interior da Bahia. valorizados pelo jovem como autonomia, liberdade, independência, Enfatizam que, embora "trabalho voluntário" não constitua pro- tão presentes, por exemplo, nas práticas leitoras dos adeptos dos priamente um movimento autônomo dos jovens, sendo via de regra fanfiction, blogs e séries, também aqui são fatores importantes do estimulado por instituições especificamente a ele dedicadas, se apoia processo, de um lado respeitando a natureza do jovem, de outro, no conceito de protagonismo juvenil, que, posto a serviço da educa- permitindo seu O quanto não crescerá um lei- ção, tem alcançado resultados estimulantes no cenário brasileiro: tor claudicante, selecionando obras para os fins da animação, lendo- -as e relendo-as para planejar atividades, discutindo-as com seus CO- Trata-se de um princípio educativo de acordo com qual os adolescen- legas e, num momento posterior, com seus potenciais leitores? tes passam a ser vistos como sujeitos capazes de agir no seu contexto social, e não como meros aprendizes espectadores. O protagonismo Por outro lado, a animação de leitura realizada por jovens abri- fundamenta uma metodologia para a formação de jovens em que a ria espaço importante, não apenas para aqueles leitores que devem ação direta é tida como principal instrumento para a construção dos aprimorar competências, manter-se assíduos ou aprofundar vínculos aprendizados, que possuem duplo sentido de favorecer desenvol- em relação ao universo da leitura, mas também para um tipo de vimento individual do jovem através do aumento progressivo de sua leitor que sofre uma marginalização às avessas no universo escolar: autonomia e iniciativa, e contribuir com serviços e ações em prol da leitor excepcional. Trata-se daquele leitor inveterado, compulsivo, coletividade. (Corti; Souza 2005, p. 63) aficionado da literatura, qual é comum encontrar ao menos um em cada sala de aula (nas pesquisas sobre leitura, seu tipo corresponde No que concerne à animação de leitura para jovens, a ideia do geralmente a cerca de 5% dos leitores). Trata-se de um leitor que, protagonismo está particularmente afinada com a sociabilidade al- muitas vezes, emergiu de um meio socioeconômico muito pouco mejada pela juventude, tanto porque se fundamenta na ação direta, favorável para que se formasse leitor, mas que, na contramão das propícia ao trabalho cooperativo, quanto porque se dirige para a probabilidades, assim fez. Muitos desses jovens são oriundos de comunidade, envolvendo potencialmente jovem numa vasta teia famílias não leitoras e nunca tiveram a chance de frequentar boas es- de relações. Uma animação de leitura que, além do protagonismo, colas. Com esse tipo de leitor, a instituição escolar costuma ficar em também se propuser incorporar a ideia do "trabalho voluntário" cer- débito; oferece a ele muito pouco: notas altas, meia dúzia de elogios, tamente constituirá uma alternativa a mais nesse esforço de levar mas poucas oportunidades de efetivo aprimoramento na leitura, ra- jovem a viver experiências intensas com a leitura, particularmente ras possibilidades de alcançar níveis de excelência, de expandir seu com a leitura literária. Entraria em jogo, assim, uma dupla mediação: repertório de leituras rumo a direções mais ousadas, de trocar expe- a do professor (ou bibliotecário ou animador cultural), que desen- riências com leitores do seu naipe. cadeia e orienta processo, e a do estudante, que se torna, ele tam- bém, um mediador. Numa situação de animação de leitura, esse indivíduo pode trazer contribuições muito significativas para seu grupo, como, por exemplo, Num país em que há tanto por fazer pela leitura, sem dúvida que na seleção de títulos para as atividades, uma vez que, mais próximo haverá espaço para a atuação do jovem como animador. E seu dese- das crianças e jovens, tanto pela faixa etária quanto neloLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Ceccantini do que O próprio professor. Além disso, seria uma oportunidade de se A abordagem dos dois aspectos aqui focalizados sucesso gra- liberar do estigma de avis rara a que normalmente grupo condena dual que O país vem obtendo com a animação de leitura nas séries esses leitores por sua "estranha condição" de ler espontaneamente e iniciais da escolarização e afastamento do universo da leitura por com enorme prazer. É curioso que as pesquisas sobre esse tipo de lei- parte de muitos leitores assíduos à medida que passam os anos e, tor mostrem que, no nível do lazer, ele costuma fazer tudo que seus sobretudo, com O distanciamento do ambiente escolar não teve a companheiros fazem, muitas vezes até destinando O mesmo tempo a menor a pretensão de ser exaustiva, tendo sido deixados de lado isso esporte, música, amizades, televisão mas ainda assim vários aspectos que também seria importante explorar. costuma ser visto com preconceito por ser leitor voraz. O principal deles diz respeito à qualidade literária das obras que Na verdade, há todo um trabalho a fazer com esses leitores excep- devem estar na base da animação de leitura, atividade defendida aqui cionais que vai bem além de, eventualmente, delegar a eles papel não apenas na fase do letramento inicial do indivíduo, mas ao longo de animadores de leitura. A escola brasileira, na ânsia de compreen- de toda a A problematização da seleção das obras des- der fracasso escolar e buscar soluções para sua superação, geral- tinadas ao processo de animação foi deliberadamente escamoteada, mente se esquece de cuidar dos estudantes que, ao contrário, têm se aceitou como tácito que sejam exploradas obras literárias de boa um desempenho muito acima da média e poderiam alcançar níveis qualidade, mas sem que se entrasse no mérito da natureza do lite- de excelência. Esses leitores merecem um tratamento diferenciado, rário e do julgamento de valor aí implícito. No entanto, trata-se de participando de círculos de leitura onde possam trocar impressões uma questão densa e polêmica, que exige uma discussão específica e sobre as obras lidas com leitores do seu nível; recebendo orientação sobre a qual é fundamental ter um ponto de vista claro para um tra- mais exigente de um mediador especializado, que proponha contí- balho eficiente de mediação, embora não seja possível fazê-la aqui.7 nuos desafios quanto a autores e obras, que avance, numa leitura compartilhada, para questões mais densas de análise e interpretação, O que se pode fazer é enfatizar que, hoje, estará fadado ao fra- que os leve a alcançar patamares de um modo geral muito mais ele- casso projeto que identificar a formação de leitores ao modelo vados no universo da leitura e da literatura, uma vez que destes, tradicional do "ensino de fundado num conjunto de obras sim, pode-se dizer sem temor possuem "queda", "pendor", "dom" fechado e generalizado para qualquer contexto, geralmente apre- para a leitura e a literatura. sentado ao aluno por meio de fragmentos de um livro didático, aos quais O estudante se dirige para atingir este ou aquele objetivo prag- A questão destes jovens leitores muito competentes e que se tor- mático. Como diz Pedro Cerrillo: naram leitores em condições sociais adversas, caracterizando-se, por- tanto, como azarões no cenário brasileiro ligado à leitura, auxiliam "Provavelmente O que é necessário hoje, mais do que ensinar literatura na relativização de posturas demasiadamente deterministas que se de acordo com O conceito tradicional [...], seja ensinar a gostar da lite- possa querer assumir no esforço de compreender O processo de for- ratura ou, de qualquer modo, levar os alunos a uma postura propensa mação de leitores no país, um risco sempre iminente. Por outro lado, a e valorizá-la (2005, p.28). numa espécie de inevitável circularidade, caso desses leitores que ainda constituem exceção à regra traz nossa discussão de volta ao Para buscar esse objetivo, será necessário lançar mão, sem pudor, começo, reforçando a ideia de que a leitura, no Brasil, configura um de uma postura não instrumental e de um conjunto bastante aberto contexto bastante complexo e paradoxal, em que se sobrepõem as- de obras, contemplando não apenas aquelas inseridas no cânon, mas pectos ora sugerindo uma visão mais positiva do problema, também aqueles textos capazes de estabelecer um diálogo vibrante em que sobressaem os avanços que temos conseguido implementar, ora apontando para uma dimensão mais sombria da questão, em que 7 Em linhas gerais essa questão foi abordada por mim "Leitores de Harry Potter: do negócio à negociação da leitura" se divisam os muitosLeitores iniciantes e comportamento perene de leitura João Luis Ceccantini com referências que sejam significativas para grupo de crianças ou jovens com os quais mediador quiser interagir. 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