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Direitos Fundamentais Art. 5º da CRFB/1988 Dirley da Cunha Júnior Professor Titular de Direito Constitucional da Universidade Católica de Salvador (UCSAL) Professor Associado de Direito Constitucional da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Pós-Doutor em Direito Constitucional pela Universidade de Lisboa/Portugal Doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP e Mestre em Direito Econômico pela UFBA Juiz Federal da SJ/BA. Ex-Procurador da República. Ex-Promotor de Justiça @dirleydacunhajr Conceito e delimitação terminológica dos Direitos Fundamentais Os direitos fundamentais são direitos humanos positivados nas Constituições estatais. Nessa perspectiva, há forte tendência doutrinária em reservar a expressão “direitos fundamentais” para designar os direitos humanos positivados em nível interno, enquanto a concernente a “direitos humanos” no plano externo das declarações e convenções internacionais Tendo como núcleo essencial a proteção da dignidade da pessoa humana, os DIREITOS FUNDAMENTAIS são posições jurídicas que investem o ser humano de um conjunto de prerrogativas, faculdades e instituições imprescindíveis a assegurar uma existência digna, livre, igual e fraterna de todas as pessoas (CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Constitucional, Salvador: Editora Juspodivm). Nas democracias contemporâneas, os direitos fundamentais ocupam uma posição de centralidade, parametrizando todas as atividades públicas e privadas A Constitucionalização das Declarações de Direitos, a função legitimadora dos Direitos Fundamentais e seu regime jurídico-constitucional reforçado Sem a positivação jurídico-constitucional, os direitos do homem são esperanças, aspirações e ideias, mas não direitos protegidos sob a forma de normas de direito constitucional (CANOTILHO, JJ. Gomes) A Constitucionalização dos direitos fundamentais produz as seguintes consequências: • a) as normas que os reconhecem situar-se-ão no escalão máximo do ordenamento jurídico positivado, não podendo ser contrariadas por nenhuma outra; • b) essas normas se submetem ao processo complexo e agravado de reforma constitucional, servindo de limites formais para o exercício do poder de reforma da Constituição; • c) tais normas funcionam como limites materiais do próprio poder reformador, já que não podem ser abolidas do sistema constitucional (cláusulas pétreas); • d) elas são dotadas de imediata aplicabilidade e vinculatividade dos poderes públicos, constituindo parâmetros de escolhas, decisões, ações e controle dos órgãos legislativos, administrativos e jurisdicionais, e, finalmente, • e) são protegidas através do controle de constitucionalidade dos atos comissivos e omissivos do poder público, ante o seu dever de regulá-las, quando carentes de regulação ou simplesmente quando pretendam regulá-las. Os Direitos Fundamentais e suas Garantias Ruy Barbosa já chegou a afirmar que é fundamental distinguir “no texto da lei fundamental, as disposições meramente declaratórias, que são as que imprimem existência legal aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias: ocorrendo não raro juntar- se, na mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia, com a declaração do direito” Garantias-limite manifestam-se por meio de proibições que visam a prevenir violações a direitos, como a proibição da censura para proteger a liberdade de expressão. Garantias-institucionais Consistem no sistema de proteção organizado para a defesa e efetivação dos direitos. Garantias-instrumentais São as ações constitucionais, que são garantias de defesa de direitos especiais perante o Judiciário. Garantias dos Direitos A CF de 1988 inaugura, pelo menos teoricamente, uma etapa de amplo respeito pelos Direitos Fundamentais. Ao lançar um primeiro e breve olhar para a nossa Lei Fundamental, percebe-se imediatamente uma reveladora inovação, de cunho topográfico. Distinguindo-se das Cartas anteriores, a Constituição em vigor positivou os referidos Direitos logo no início de suas disposições (título II), após o que tratou da organização do Estado (título III) e dos Poderes (IV), dando cristalinas amostras de que se preocupou prevalentemente com o ser humano, enaltecendo-o como o “fim” para o qual deve se dirigir o Estado, este considerado “instrumento” de realização da dignidade daquele. Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988 Panorama Geral “Declaro promulgado o Documento da Liberdade, da Democracia e da Justiça Social do Brasil”, disse o então Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Dep. Ulysses Guimarães, ao promulgar a nova Constituição Federal, em 05/10/1988. A aplicabilidade imediata das normas definidoras de Direitos e Garantias Fundamentais Segundo a Constituição de 1988, as “normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata” (art. 5º, § 1º), o que significa afirmar que, a princípio, essas normas têm eficácia máxima, não sendo dependentes de qualquer interposição do legislador para serem aplicadas e lograrem a efetividade ou eficácia social A concepção materialmente aberta dos Direitos Fundamentais na Constituição de 1988 Art. 5º (...). § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. A concepção materialmente aberta dos Direitos Fundamentais na Constituição de 1988 A CF consagrou o princípio da abertura material dos Direitos Fundamentais, de modo a admitir a existência de direitos fundamentais implícitos e decorrentes ou fora da Constituição. Conforme o § 2º do art. 5º, os direitos e as garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Ademais, segundo o § 3º do art. 5º, os tratados e as convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. → A origem da cláusula de abertura material ou cláusula inesgotável ou norma com fattispecie aberta remonta à 9ª Emenda à Constituição dos EUA, segundo a qual a enumeração de certos direitos na Constituição não pode ser interpretada como denegação ou diminuição dos outros direitos que o povo se reservou. Com efeito, diz textualmente a referida emenda: “A especificação de certos direitos na Constituição não deve ser entendida como uma negação ou depreciação de outros direitos conservados pelo povo”. → A cláusula de abertura material insculpida no art. 5º, § 2º da Constituição dá ensejo à identificação de 2 (dois) grandes grupos de direitos fundamentais: 1) os direitos fundamentais expressos (ou expressamente positivados ou escritos), que compreendem (1.1) os direitos expressamente previstos no catálogo de direitos fundamentais (Título II) ou em outras partes do texto constitucional e (1.2) os direitos previstos em tratados internacionais em que o Brasil seja parte; e 2) os direitos fundamentais não expressos (ou não expressamente positivados ou não escritos), que alcançam (2.1) os “direitos implícitos” subentendidos das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais expressas, e (2.2) os “direitos decorrentes” do regime e dos princípios adotados pela Constituição, considerados o regime e os princípios previstos no Título I Natureza jurídica dos Tratados e Convenções Internacionais sobre Direitos Humanos "Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao PactoInternacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. Assim ocorreu com o art. 1.287 do CC de 1916 e com o DL 911/1969, assim como em relação ao art. 652 do Novo CC (Lei 10.406/2002)." (RE 466.343, Rel. Min. Cezar Peluso, voto do Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3-12-2008, Plenário, DJE de 5-6-2009, com repercussão geral.) Até o momento, há 03 (três) atos internacionais de direitos humanos aprovados nos termos do § 3º do art. 5º da Constituição Federal e, por conseguinte, equivalentes a emenda constitucional. São eles: ►(1) a “Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo”, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 09.07.2008, e promulgado pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 6.949, de 25.08.2009; ►(2) o “Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso”, concluído no âmbito da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), celebrado em Marraqueche, em 28 de junho de 2013, aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 261, de 25.11. 2015, e promulgado pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 9.522, de 08.10.2018; e ►(3) a “Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância”, firmada pela República Federativa do Brasil, na Guatemala, em 5 de junho de 2013, aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 1, de 18 de fevereiro de 2021, e promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 10.932, de 10 de janeiro de 2022. Os Direitos Fundamentais no art. 5º da CRFB/88 Direitos Individuais e Coletivos Direitos Individuais Por direitos individuais deve- se entender todos aqueles que visam a defesa de uma autonomia pessoal no âmbito da qual o indivíduo possa desenvolver as suas potencialidades e gozar de sua liberdade sem interferência indevida do Estado e do particular. Ex: Direito a Vida. Direitos Coletivos Já os direitos coletivos destinam-se, não à tutela da autonomia da pessoa em si, mas à proteção de um grupo ou coletividade, onde a defesa de seus membros é apenas reflexa ou indireta. Ex: Direito de Reunião. Os Titulares dos Direitos Fundamentais • “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes” Apesar da literalidade do art. 5º, todas as pessoas, físicas ou jurídicas (privadas e públicas), nacionais ou estrangeiras, com residência ou não no Brasil, são titulares dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição, salvo quando a própria Constituição exclui algumas delas. Adotou-se o princípio da universalidade dos titulares dos Direitos Fundamentais Exemplos de exceções à universalidade dos titulares dos Direitos Fundamentais Art. 12 (...). § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. (...). § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa. Direito à Vida O Plenário do STF, no julgamento da ADI 3.510, declarou a constitucionalidade do art. 5º da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança), por entender que as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à vida ou o princípio da dignidade da pessoa humana. Para o STF, "O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa”. A Constituição não protege automaticamente todo e qualquer estágio da vida humana, mas a vida que já é própria de uma concreta pessoa, do indivíduo-pessoa, porque nativiva (teoria ‘natalista’, em contraposição às teorias ‘concepcionista’ ou da ‘personalidade condicional’). As três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária, mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de Biossegurança (in vitro apenas) não é uma vida a caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. O Direito infraconstitucional protege por modo variado cada etapa do desenvolvimento biológico do ser humano. Os momentos da vida humana anteriores ao nascimento devem ser objeto de proteção pelo direito comum. O embrião pré-implanto é um bem a ser protegido, mas não uma pessoa no sentido biográfico a que se refere a Constituição." (ADI 3.510, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 29-5-2008, Plenário, DJE de 28-5-2010.) • CF, XLVII - não haverá penas: • a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX Exceção ao Direito à Vida Direito à Igualdade O direito à igualdade é o direito que todos têm de ser tratados igualmente na medida em que se igualem, e desigualmente na medida em que se desigualem, quer perante a ordem jurídica (igualdade formal), quer perante a oportunidade de acesso aos bens da vida (igualdade material). Direito à Igualdade Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...). I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Direito à Igualdade e as Ações afirmativas • são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades fundamentais. Ações afirmativas Direito à Igualdade e as Ações afirmativas ADPF nº 186 O STF asseverou que, para efetivar a igualdade material, o Estado poderia e deveria lançar mão de políticas de cunho universalista – a abranger número indeterminado de indivíduos – mediante ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas – a atingir grupos sociais determinados – por meio da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades ocasionadas por situações históricas particulares. Garantiu a Corte que a adoção de políticas que levem ao afastamento de perspectiva meramente formal do princípio da isonomia integra o cerne do conceito de Democracia. A Constituição Federal proíbe a discriminação negativa (preconceito), mas impõe a discriminação positiva, com vistas a estimular a inclusão social de grupos excluídos. Direito à Liberdade O Direito à Liberdade consiste na prerrogativa fundamental que investe o ser humano de um poder de autodeterminação ou de determinar-se conforme a sua própria consciência. Compreende inúmeras liberdades fundamentais, a saber: Liberdade de ação liberdade de locomoção; liberdade de opinião Liberdadede expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação liberdade de informação liberdade de consciência e crença liberdade de reunião liberdade de associação liberdade profissional ► Liberdade de Ação e o princípio da legalidade Art. 5º, II – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. ► Liberdade de Ação e o princípio da legalidade reserva Não se pode confundir o princípio da legalidade com o princípio da reserva legal. O princípio da legalidade é de abrangência ampla, na medida em que submete a atuação estatal a qualquer espécie normativa que depende do processo legislativo. Já o princípio da reserva legal restringe-se a matérias específicas, determinadas pela Constituição e sujeitas à normatização exclusiva do Poder Legislativo (atos legislativos em sentido estrito ou formal). ► Liberdade de Locomoção Art. 5º, XV – “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. ► Liberdade de Opinião ou Pensamento: Art. 5º, IV – “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”; Art. 5º, V – “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”; Na ADPF 187, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15- 6-2011, Plenário, Informativo 631 (caso MARCHA DA MACONHA), o STF decidiu que a mera proposta de descriminalização de determinado ilícito penal não se confundiria com ato de incitação à prática do crime, nem com o de apologia de fato criminoso. Concluiu que a defesa, em espaços públicos, da legalização das drogas ou de proposta abolicionista a outro tipo penal, não significaria ilícito penal, mas, ao contrário, representaria o exercício legítimo do direito à livre manifestação do pensamento, propiciada pelo exercício do direito de reunião.” Vide: ADI 4.274, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 23-11-2011, Plenário, DJE de 2-5-2012. ► É livre a manifestação do pensamento, mas é vedado o anonimato; "(...) (a) os escritos anônimos não podem justificar, só por si, desde que isoladamente considerados, a imediata instauração da persecutio criminis, eis que peças apócrifas não podem ser incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando tais documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como sucede com bilhetes de resgate no delito de extorsão mediante sequestro, p. ex.); (b) nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação anônima (‘disque-denúncia’, p. ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação sumária, ‘com prudência e discrição’, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas; (...)" (Inq 1.957, Rel. Min. Carlos Velloso, voto do Min. Celso de Mello, julgamento em 11-5- 2005, Plenário, DJ de 11-11-2005.) No mesmo sentido: HC 106.664-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 19-5-2011, DJE de 23-5-2011. ► Liberdade de Expressão de Atividade Intelectual, Artística, Científica e de Comunicação Art. 5º, IX – “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. ► Liberdade de expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação Abuso de liberdade de expressão e o discurso de ódio (hate speech) - Caso “Ellwanger” (condenado por editar e publicar livros veiculando ideias anti-semitas): "As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria CF (CF, art. 5º, § 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o 'direito à incitação ao racismo', dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica." (HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-2003, Plenário, DJ de 19-3-2004.) O Plenário do STF, no julgamento da ADPF 130, declarou como não recepcionado pela Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da Lei 5.250/1967 (Lei de Imprensa). ► Liberdade de expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação Por maioria, o Plenário do STF, em sessão de 17/08/2016, julgou inconstitucional a proibição de tatuagens a candidatos a cargo público estabelecida em leis e editais de concurso público. Foi dado provimento ao Recurso Extraordinário nº 898450, com repercussão geral reconhecida, em que um candidato a soldado da Polícia Militar de São Paulo foi eliminado por ter tatuagem na perna. Foi fixada a seguinte tese de repercussão geral: “Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais”. ► Liberdade de Informação: Art. 5º, XIV – “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”; Art. 5º, XXXIII – “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”; (Vide Lei nº 12.527, de 2011 – Lei de Acesso a Informações). O Direito de liberdade de informação deve compreender três aspectos essenciais, a saber: o direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado. O direito de informar - consiste na prerrogativa de transmitir informações pelos meios de comunicação. O direito de se informar - corresponde à faculdade de o indivíduo buscar as informações pretendidas sem quaisquer obstáculos. Inciso XIV, do art. 5º, garante: É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. E o direito de ser informado - equivale à faculdade de ser mantido completa e adequadamente informado. Inciso XXXIII do art. 5º: Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. ► Liberdade de Informação “Direito à informação de atos estatais, neles embutida a folha de pagamento de órgãos e entidades públicas. (...) Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a divulgação oficial. Sem que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal e familiar se encaixem nas exceções de que trata a parte derradeira do mesmo dispositivo constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que não estão em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto da sociedade. Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estatais agindo ‘nessa qualidade’ (§ 6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dadosem debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor. No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano. (...) A negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa implicaria, no caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública” (SS 3.902-AgR-segundo, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 9-6-2011, Plenário, DJE de 3-10-2011.) "Lei 11.300/2006 (minirreforma eleitoral). (...) Proibição de divulgação de pesquisas eleitorais quinze dias antes do pleito. Inconstitucionalidade. Garantia da liberdade de expressão e do direito à informação livre e plural no Estado Democrático de Direito. (ADI 3.741, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 6-9-2006, Plenário, DJ de 23-2-2007.) No mesmo sentido: ADI 3.742 e ADI 3.743, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 6-9-2006, Plenário,Informativo 439. ► Liberdade de Consciência e Crença Art. 5º, VI – “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. •"Nos termos do artigo 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada" (RE 611874, Tema 386, 26/11/2020). •“Nos termos do artigo 5º, VIII, da Constituição Federal é possível à Administração Pública, inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada”. (ARE 1099099, Tema 1021, 26/11/2020). A Escusa de Consciência: Art. 5º, VIII – “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”; • “É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, Estado, Distrito Federal ou Município, com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.” (ARE 1267879, Tema 1103, 17/12/2020). A Escusa de Consciência: Art. 5º, VIII – “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”; ► Liberdade de Reunião: Art. 5º, XVI – “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”; "Decreto 20.098/1999 do Distrito Federal. Liberdade de reunião e de manifestação pública. Limitações. Ofensa ao art. 5º, XVI, da CF. A liberdade de reunião e de associação para fins lícitos constitui uma das mais importantes conquistas da civilização, enquanto fundamento das modernas democracias políticas. A restrição ao direito de reunião estabelecida pelo Decreto distrital 20.098/1999, que vedou a realização de manifestações públicas com utilização de carros, aparelhos e objetos sonoros, em locais que especifica, a toda evidência, mostra-se inadequada, desnecessária e desproporcional quando confrontada com a vontade da Constituição (Wille zur Verfassung)." (ADI 1.969, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 28-6-2007, Plenário, DJ de 31-8-2007) ► Liberdade de Reunião: Art. 5º, XVI – “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”; “A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para que não frustre outra reunião no mesmo local.” (RE 806339, Tema 855, 18/12/2020). ► Liberdade de Associação: Art. 5º, XVII – “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”; Art. 5º, XVIII – “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento”; Art. 5º, XIX – “as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado”; Art. 5º, XX – “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado”; Art. 5º, XXI – “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”; “A representação prevista no inciso XXI do art. 5º da CF surge regular quando autorizada a entidade associativa a agir judicial ou extrajudicialmente mediante deliberação em assembleia. Descabe exigir instrumentos de mandatos subscritos pelos associados.” (RE 192.305, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 15-12-1998, Segunda Turma, DJ de 21-5- 1999.) No mesmo sentido: MS 23.879, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 3-10-2001, Plenário, DJ de 16-11-2001. ► Liberdade de Profissão Art. 5º, XIII – “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”; ► Liberdade de Profissão O Plenário do STF, no julgamento do RE 511.961, declarou como não recepcionado pela Constituição de 1988 o art. 4º, V, do DL 972/1969, que exigia diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista. "O jornalismo é uma profissão diferenciada por sua estreita vinculação ao pleno exercício das liberdades de expressão e de informação. O jornalismo é a própria manifestação e difusão do pensamento e da informação de forma contínua, profissional e remunerada. Os jornalistas são aquelas pessoas que se dedicam profissionalmente ao exercício pleno da liberdade de expressão. O jornalismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades que estão imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada. Isso implica, logicamente, que a interpretação do art. 5º, XIII, da Constituição, na hipótese da profissão de jornalista, se faça, impreterivelmente, em conjunto com os preceitos do art. 5º, IV, IX, XIV, e do art. 220, da Constituição, que asseguram as liberdades de expressão, de informação e de comunicação em geral. (...) No campo da profissão de jornalista, não há espaço para a regulação estatal quanto às qualificações profissionais. O art. 5º, IV, IX, XIV, e o art. 220 não autorizam o controle, por parte do Estado, quanto ao acesso e exercício da profissão de jornalista. Qualquer tipo de controle desse tipo, que interfira na liberdade profissional no momento do próprio acesso à atividade jornalística, configura, ao fim e ao cabo, controle prévio que, em verdade,caracteriza censura prévia das liberdades de expressão e de informação, expressamente vedada pelo art. 5º, IX, da Constituição. A impossibilidade do estabelecimento de controles estatais sobre a profissão jornalística leva à conclusão de que não pode o Estado criar uma ordem ou um conselho profissional (autarquia) para a fiscalização desse tipo de profissão. O exercício do poder de polícia do Estado é vedado nesse campo em que imperam as liberdades de expressão e de informação. Jurisprudência do STF: Representação 930, Rel. p/ o ac. Min. Rodrigues Alckmin, DJ de 2-9-1977." (RE 511.961, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 17-6-2009, Plenário, DJE de 13-11-2009.) ► Liberdade de Opção Profissional “Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionadas ao cumprimento de condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade de profissão. Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. A atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida pela garantia da liberdade de expressão.” (RE 414.426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 1º-8-2011, Plenário, DJE de 10-10- 2011.) No mesmo sentido: RE 635.023-ED, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 13-12-2011, Segunda Turma, DJE de 13-2-2012; RE 509.409, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 31-8-2011, DJE de 8-9-2011. Direito à Privacidade Direito à intimidade Direito à vida privada Direito à honra Direito à imagem Direito à inviolabilidade da casa Direito ao sigilo de correspondências e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas Direito à Intimidade, à Vida Privada, à Honra e à Imagem assegurado Art. 5º, X – “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Direito à Intimidade, à Vida Privada, à Honra e à Imagem ► Intimidade – É a vida secreta ou exclusiva que alguém reserva para si, sem nenhuma repercussão social. ► Vida privada – É vida do indivíduo em família, no trabalho e no relacionamento com os seus amigos. A vida privada é sempre um viver entre os outros. ► Honra – É a reputação e a consideração social da pessoa, como a consciência da própria dignidade pessoal. ► Imagem - É a representação de alguma coisa ou pessoa pelo desenho, pintura, fotografia ou outro meio de caracterização de seus atributos físicos. Cuida-se aqui da imagem-retrato. “O sigilo bancário, espécie de direito à privacidade protegido pela Constituição de 1988, não é absoluto, pois deve ceder diante dos interesses público, social e da Justiça. Assim, deve ceder também na forma e com observância de procedimento legal e com respeito ao princípio da razoabilidade. Precedentes." (AI 655.298- AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 4-9- 2007, Segunda Turma, DJ de 28-9-2007.) "O chamado sigilo fiscal nada mais é que um desdobramento do direito à intimidade e à vida privada. (HC 87.654, voto da Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 7-3-2006, Segunda Turma, DJ de 20-4-2006.) Direito à Intimidade, à Vida Privada, à Honra e à Imagem ► Direito à privacidade, intimidade sexual e uso de contraceptivos Foi no caso Griswold v. Connecticut, 381 US 479 (1965), que a Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade de lei estadual que houvera proibido a distribuição e o uso de contraceptivos. O caso envolveu a prisão de Estelle Griswold, Diretora Executiva da Liga de Planejamento Familiar do Estado de Connecticut. ► Direito à privacidade e aborto No famoso caso Roe v. Wade, 410 U.S. 113 (1973), a Suprema Corte decidiu que a mulher, amparada no direito à privacidade - sob a cláusula do devido processo legal da "décima quarta emenda" - podia decidir por si mesma a continuidade ou não da gravidez. Esse direito à privacidade era considerado um direito fundamental sob a proteção da Constituição dos Estados Unidos, e, portanto, nenhum desses Estados podia legislar contra esse direito. A decisão final foi na linha da admissibilidade do aborto, desde que consumado até o término do primeiro trimestre de gestação, quando o Estado não poderia impor qualquer restrição ao livre arbítrio da mulher, mas sim apenas regular a prática do aborto, tal como disciplinados também outros procedimentos médicos. No segundo trimestre, o Estado ainda não pode intervir para proscrever a prática do aborto, mas pode regular a prática de forma que esteja relacionada à saúde da mulher, admitindo-se, então, contenções ao livre arbítrio feminino. Finalmente, no que se relaciona ao terceiro e último trimestre de gestação, o Estado pode proibir o aborto, exceto para preservar a vida ou a saúde da mãe. ► Direito à privacidade e orientação sexual No caso Lawrence v. Texas, 539 U.S. 558 (2003), a Suprema Corte, em uma decisão de 6 a 3, declarou a inconstitucionalidade da lei de sodomia no Texas e, por extensão, invalidou leis de sodomia em outros treze estados, fazendo com que a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo fosse considerada legal em todos os estados dos EUA. Direito à Inviolabilidade da Casa “A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial” (art. 5º, XI). O conceito de casa deve revestir-se de caráter amplo, para compreender não só o domicílio ou residência, mas também (a) qualquer compartimento habitado, (b) qualquer aposento ocupado de habitação coletiva e (c) qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce alguma profissão ou atividade (como, por exemplo, um escritório de advocacia ou de contabilidade, um consultório médico ou odontológico). Direito à Inviolabilidade da Casa "Fiscalização tributária. Apreensão de livros contábeis e documentos fiscais realizada, em escritório de contabilidade, por agentes fazendários e policiais federais, sem mandado judicial. Inadmissibilidade. Espaço privado, não aberto ao público, sujeito à proteção constitucional da inviolabilidade domiciliar (CF, art. 5º, XI). Subsunção ao conceito normativo de ‘casa’. Necessidade de ordem judicial. (...). Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da CR, o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna não acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de contabilidade, embora sem conexão com a casa de moradia propriamente dita” (HC 93.050, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-6-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-2008) Direito ao Sigilo de correspondências e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas Art. 5º, XII – “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”; (Vide Lei nº 9.296, de 1996). Obs.: Até a edição da Lei 9.296/1996, o entendimento do Supremo Tribunal Federal era no sentido da impossibilidade de interceptação telefônica, mesmo com autorização judicial, em investigação criminal ou instrução processual penal, tendo em vista a não recepção do art. 57, II, e, da Lei 4.117/1962 (Código Brasileiro de Telecomunicações). “Prova emprestada. Penal. Interceptação telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativosteriam despontado à colheita dessa prova. Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de ordem. Inteligência do art. 5º, XII, da CF e do art. 1º da Lei federal 9.296/1996. (...) Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.” (Inq 2.424-QO-QO, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 20-6-2007, Plenário, DJ de 24-8-2007). No mesmo sentido: Inq 2.424-QO, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 25-4-2007, Plenário, DJ de 24-8-2007. O STF, como intérprete maior da CR, considerou compatível com o art. 5º, XII e LVI, o uso de prova obtida fortuitamente através de interceptação telefônica licitamente conduzida, ainda que o crime descoberto, conexo ao que foi objeto da interceptação, seja punido com detenção.” (AI 626.214-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 21-9-2010, Segunda Turma, DJE de 8-10-2010). “A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversação, não é considerada prova ilícita.” (AI 578.858-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 4-8-2009, Segunda Turma, DJE de 28-8-2009.) No mesmo sentido: RE 630.944- AgR, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 25-10-2011, Segunda Turma, DJE de 19-12-2011. Direito de Petição e de Certidão XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; Direito de Acesso à Justiça Art. 5º, XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Direito de Acesso à Justiça “É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.” (Súmula Vinculante 28) “Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa.” (Súmula 667) Direito à Segurança Jurídica No caput do art. 5º, a Constituição garante a inviolabilidade à segurança jurídica. Cuida-se, sem dúvida, de uma garantia fundamental nos regimes democráticos, que consagra a proteção da confiança (dimensão subjetiva) e a proteção da estabilidade das relações jurídicas constituídas (dimensão objetiva). Art. 5º, XXXVI – “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Direito à Segurança Jurídica • É a garantia segundo a qual um direito, quando cumpridas as condições necessárias para o seu exercício, incorpora-se definitivamente ao patrimônio de seu titular, que ainda não o exerceu, mas que poderá usufruí-lo a qualquer tempo Direito Adquirido • É o ato já consumado de acordo com a ordem jurídica vigente ao tempo em que se realizou Ato Jurídico Perfeito • É a garantia que torna inquestionável, imutável e irreversível uma decisão judicial contra a qual não caiba mais recursoCoisa Julgada Direito à Garantia do Devido Processo Legal LIV – “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. • exigência da abertura de regular processo como condição para restrição de direitos Procedural Due Process of Law • impõe a justiça e razoabilidade das decisões restritivas a direitos (Fair Trial) Substantive Due Process of Law Direito às Garantias do Contraditório e da Ampla Defesa As garantias do contraditório e da ampla defesa estão previstas no art. 5º, LV, da Constituição, nos seguintes termos: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Direito de Propriedade XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; Direito de Propriedade (Propriedade Intelectual) XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; (Vide Lei nº 9.610/98). XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; XXX - é garantido o direito de herança; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus"; Razoável duração do processo e Proteção dos dados pessoais LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Lei Federal nº 13.709/2018, conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD) Garantias Penais e Processuais Penais a) Garantia da reserva legal – Pela garantia da reserva legal penal, não há crime nem pena sem previsão legal (XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal). b) Garantia da anterioridade penal – Pela anterioridade, não há crime nem pena sem prévia previsão legal. c) Garantia da responsabilidade penal subjetiva – De acordo com essa garantia, não há pena sem culpabilidade (nulla poena sine culpa) e de que a pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade. Garantias Penais e Processuais Penais d) Garantia da não culpabilidade ou da presunção de inocência – Consiste na garantia de que ninguém será considerado culpado antes o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (art. 5º, LVII). O STF, na sessão de 7.11.2019, no julgamento do mérito das ADCs 43, 44 e 54, Rel. Min. Marco Aurélio, decidiu pela constitucionalidade do art. 283 do Código de Processo Penal, no ponto em que impõe o trânsito em julgado da condenação para o início do cumprimento da pena. e) Garantia do juiz natural – Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII). E autoridade competente é aquela constituída antes do fato delituoso a ser julgado, a partir de critérios de repartição de competência estabelecidos pela Constituição e pela Lei. Por isso, a Constituição veda a criação de juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII). f) Garantia da inadmissibilidadede provas ilícitas – Segundo a Constituição, são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI). Garantias Penais e Processuais Penais g) Garantia do silêncio ou não autoincriminação – Declara a Constituição que o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado (art. 5º, LXIII). Reconhece-se aí a garantia do silêncio ou da não autoincriminação. h) Garantia da prisão constitucional – Consiste no fato de que ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei (art. 5º, LXI). i) Garantia da vedação da prisão civil por dívida – A Constituição veda a prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel (art. 5º, LXVII). Relativamente à ressalva da prisão civil por dívida do depositário infiel, o STF editou a Súmula Vinculante n. 25, segundo a qual “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Garantias Penais e Processuais Penais j) Garantia da humanidade – Esta garantia deriva do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. Veda-se a adoção de penas atentatórias à dignidade da pessoa humana, como as penas de morte, salvo em caso de guerra declarada; de caráter perpétuo; de trabalhos forçados; de banimento e cruéis. Ademais, deve ser assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral (XLIX). k) Garantia da irretroatividade da lei penal mais severa e da retroatividade da lei penal mais benigna – Em face dos valores consagrados pelo princípio maior da segurança jurídica, a lei penal mais severa não pode retroagir para prejudicar a pessoa. Contudo, se a nova lei penal, de qualquer forma, beneficia o agente, ela será sempre retroativa. Assim, a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu). l) Garantia da pessoalidade da pena – XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (CF, art. 5º, inciso XLV). Assim, a pena é pessoal e intransferível, qualquer que seja a sua espécie (pena privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa). A obrigação de reparar o dano causado pelo delito é que pode ser transferido aos sucessores, nos limites da força da sucessão. Garantias Penais e Processuais Penais m) Garantia da individualização da pena – Em face do princípio da culpabilidade, toda imposição de pena submete-se a um processo de individualização (CF, art. 5º, inciso XLVI: “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”). n) Garantia da não extradição – Segundo a Constituição, nenhum brasileiro nato será extraditado, mesmo se titular de outra nacionalidade (originária ou derivada) e seja alvo de pedido de extradição do Estado onde, também, é nacional. O brasileiro naturalizado, contudo, pode ser extraditado nas hipóteses de (1) crime comum praticado antes da naturalização (ou seja, quando ainda estrangeiro) ou (2) de comprovado envolvimento em crime de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, em qualquer tempo (antes ou depois da naturalização). De acordo com a CF, o estrangeiro também não será extraditado por crime político ou de opinião. Garantias Penais e Processuais Penais O) Outras garantias A Constituição também consagra as seguintes garantias: → A instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a plenitude de defesa; o sigilo das votações; a soberania dos veredictos; e a competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXVIII). → A punição legal a qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (art. 5º, XLI). A respeito dessa garantia constitucional, o Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária de 13.06.2019, concluiu o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26 (Rel. Min. Celso de Mello) e do Mandado de Injunção nº 4733 (Rel. Min. Edson Fachin), e declarou a inconstitucionalidade por omissão do Congresso Nacional por não editar lei que criminalize atos de homofobia e de transfobia. Garantias Penais e Processuais Penais →A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei (art. 5º, XLII). →A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem (art. 5º, XLIII). →Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV). →A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º, XLVIII). →Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação (art. 5º, L). Garantias Penais e Processuais Penais →O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei (art. 5º, L). →Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal (art. 5º, LIX). →A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 5º, LXII). →O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial (art. 5º, LXIV). →A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária (art. 5º, LXV). →Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 5º, LXVI). Ações Constitucionais A CF/88, além de declarar os direitos fundamentais, previu um conjunto especial de garantias instrumentais com as quais a pessoa pode propor uma ação judicial e reivindicar do Poder Judiciário a prevenção e correção de ilegalidades que ameaçam ou ferem direitos individuais e coletivos. São normalmente denominadas de ações constitucionais ou remédios constitucionais. A CF relaciona as ações constitucionais no rol dos direitos individuais e coletivos do art. 5º, à exceção da ação civil pública que teve previsão constitucional no art. 129, III. São elas: → o “Habeas Corpus” (art. 5º, LXVIII: conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder); → o Mandado de Segurança (art. 5º, LXIX: conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público); → o Mandado de Segurança Coletivo (art. 5º, LXX: o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados); Ações Constitucionais → o Mandado de Injunção (art. 5º, LXXI: conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionaise das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania); → o “Habeas Data” (art. 5º, LXXII: conceder-se-á "habeas-data": a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo); → a Ação Popular (art. 5º, LXXIII: qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência) e → a Ação Civil Pública (art. 129, III: São funções institucionais do Ministério Público: promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos). Ações Constitucionais 1. Habeas Corpus Tem previsão no art. 5º, LXVIII, segundo o qual conceder-se-á “habeas corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Cuida-se de uma ação constitucional de natureza penal destinada especificamente à proteção da liberdade de locomoção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de poder. 2. Mandado de Segurança Ação destinada a proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas- data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. É regulado pela Lei Federal 12.016, de 07 de agosto de 2009. É uma ação constitucional, de natureza civil, com rito sumário e especial, que tem como finalidade a invalidação de atos de autoridade ou a supressão de efeitos de omissões administrativas capazes de lesar direito líquido e certo, sejam individuais ou coletivos. Não admite dilação probatória, pois o seu rito é estreito, que só comporta prova documental e previamente constituída (prova pré-constituída). Ações Constitucionais 3. Mandado de Segurança coletivo Trata-se de ação constitucional destinada a proteger direito líquido e certo (comprovado de plano) de grupos ou coletividades, podendo ser proposta por: a) partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. Ações Constitucionais 4. Mandado de Injunção Cuida-se de ação constitucional destinada a concretizar direitos, proposta sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. É regulado pela Lei 13.300/2016 . Quanto aos efeitos, pode-se apresentar a seguinte evolução no STF: – Posição Não Concretista: MI 107-3/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 21.09.90. Considerou a Corte que o mandado de injunção tinha por objeto uma declaração, pelo Poder Judiciário, da ocorrência de omissão inconstitucional, a ser comunicada ao órgão legislativo em mora para que promovesse a integração normativa do dispositivo constitucional nela objetivado, equiparando o presente writ à ação direta de inconstitucionalidade por omissão. – Posição Concretista Individual Intermediária: MI 283-5, impetrado com fundamento no art. 8º, § 3º, do ADCT, a Corte decidiu que, constatada a mora legislativa, deve-se assinalar um prazo razoável para a elaboração da norma regulamentadora, após o qual, persistindo a mora, assegurar ao impetrante um título jurídico para obter do poder público, na instância ordinária, reparação por perdas e danos. Ações Constitucionais – Posição Concretista Individual Direta: MI 721, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 30-08-07, DJ de 30-11-07. No caso específico, decidiu o Supremo que, inexistente a disciplina específica da aposentadoria especial do servidor, cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, impõe-se a adoção daquela própria aos trabalhadores em geral, prevista no artigo 57, § 1º, da Lei n. 8.213/91. Assim, o STF garantiu ao impetrante o exercício imediato do direito à aposentadoria especial e determinou a aplicação, no que couber, do artigo 57 da Lei nº 8.213/91, a ocorrer em sede de processo administrativo. Na sessão plenária do dia 15.04.2009, o Supremo Tribunal Federal, julgando diversos Mandados de Injunção, resolveu questão de ordem suscitada pelo Ministro Joaquim Barbosa para autorizar que os Ministros decidam monocraticamente e definitivamente os casos idênticos, sem a necessidade da apreciação do Plenário da Corte. – Posição Concretista Geral Direta: MI 712, Rel. Min. Eros Grau; MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes; e MI 670, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 25-10-07. Em três mandados de injunção coletivos impetrados por sindicados de servidores públicos reivindicando para seus substituídos a viabilização do direito de greve do art. 37, VII, da Constituição, o STF, por maioria de votos, admitiu os pedidos para garantir o imediato exercício do direito em tela, segundo os critérios previstos na lei de greve do setor privado. Ações Constitucionais 5. Habeas Data Trata-se de ação concebida para a proteção do direito de conhecimento e retificação de dados ou informações pessoais constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público. É regulada pela Lei federal nº. 9.507/97. 6. Ação Popular Tem por fim anular ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. É regulada pela Lei nº 4.717/1965. Todo cidadão brasileiro, no gozo dos direitos políticos, é parte legítima para propor ação popular, agindo como substituto processual de toda a população, que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má- fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Ações Constitucionais 7. Ação Civil Pública Foi criada pela Lei 7.347/85, que fixou a disciplina da responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. Posteriormente, a CF/88 consagrou a ACP como uma das funções institucionais do Ministério Público, “para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”. A ACP tem por finalidade a tutela judicial de todos os interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Ela pode ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (LACP, art. 3º). A Defensoria Pública também tem legitimidade para a propositura de ação civil pública, desde que vise a promover a tutela judicial de direitos difusos ou coletivos de que sejam titulares, em tese, pessoas necessitadas. (Conf. STF, RE 733433, 4.11.2015). Valeu Gente!