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Teoria da Comunicação Níveis e variações da linguagem IT0027 - (Enem) Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma da língua em suas a�vidades escritas? Não deve mais corrigir? Não! Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o es�lo dos contratos não é o mesmo do dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo do dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas. POSSENTI, S. “Gramá�ca na cabeça”. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 (adaptado). Sírio Possen� defende a tese de que não existe um único "português correto". Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber a) descartar as marcas de informalidade do texto. b) reservar o emprego da norma-padrão aos textos de circulação ampla. c) moldar a norma-padrão do português pela linguagem do discurso jornalís�co. d) adequar as formas da língua a diferentes �pos de texto e contexto. e) desprezar as formas da língua previstas pelas gramá�cas e manuais divulgados pela escola. IT0347 - (Enem) O complexo de falar di�cil O que importa realmente é que o(a) detentor(a) do notável saber jurídico saiba quando e como deve fazer uso desse português versão 2.0, até porque não tem necessidade de alguém entrar numa padaria de manhã com aquela cara de sono falando o seguinte: “Por obséquio, Vossa Senhoria teria a hipoté�ca possibilidade de estabelecer com minha pessoa uma relação de compra e venda, mediante as imposições dos códigos Civil e do Consumidor, para que seja possível a obtenção de 10 pãezinhos em temperatura estável para que a relação pecuniária no valor de R$ 5,00 seja plenamente legí�ma e capaz de saciar minha fome ma�nal?”. O problema é que temos uma cultura de valorizar quem demonstra ser inteligente ao invés de valorizar quem é. Pela nossa lógica, todo mundo que fala di�cil tende a ser mais inteligente do que quem valoriza o simples, e 99,9% das pessoas que es�vessem na padaria iriam ficar boquiabertas se alguém fizesse uso das palavras que eu disse acima em plenas 7 da manhã em vez de dizer: “Bom dia! O senhor poderia me vender cinco reais de pão francês?”. Agora entramos na parte interessante: o que realmente é falar di�cil? Simplesmente fazer uso de palavras que a maioria não faz ideia do que seja é um ato de falar di�cil? Eu penso que não, mas é assim que muita gente age. Falar di�cil é fazer uso do simples, mas com coerência e coesão, deixar tudo amarradinho grama�calmente falando. Falar di�cil pode fazer alguém parecer inteligente, mas não por muito tempo. É claro que em alguns momentos não temos como fugir do português rebuscado, do juridiquês propriamente dito, como no caso de documentos jurídicos, entre outros. ARAÚJO, H. Disponível em: www.diariojurista.com. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado). Nesse ar�go de opinião, ao fazer uso de uma fala rebuscada no exemplo da compra do pão, o autor evidencia a importância de(a) a) se ter um notável saber jurídico. b) valorização da inteligência do falante. c) falar di�cil para demonstrar inteligência. d) coesão e da coerência em documentos jurídicos. e) adequação da linguagem à situação de comunicação. IT0030 - (Enem) Óia eu aqui de novo xaxando Óia eu aqui de novo para xaxar Vou mostrar pr'esses cabras Que eu ainda dou no couro Isso é um desaforo Que eu não posso levar Que eu aqui de novo cantando Que eu aqui de novo xaxando Óia eu aqui de novo mostrando Como se deve xaxar Vem cá morena linda Ves�da de chita Você é a mais bonita Desse meu lugar Vai, chama Maria, chama Luzia Vai, chama Zabé, chama Raque Diz que eu tou aqui com alegria BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www.Iuizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 maio 2013 (fragmento). A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório linguís�co e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma caracterís�ca do falar popular regional é: a) “Isso é um desaforo”. b) “Diz que eu tou aqui com alegria”. c) “Vou mostrar pr'esses cabras”. d) “Vai, chama Maria, chama Luzia”. e) “Vem cá morena linda, ves�da de chita”. IT0024 - (Enem) 1@professorferretto @prof_ferretto As narra�vas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou an�gos; sejam as histórias de ficção, como aquelas da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabé�cos (como a escrita do português), sejam ideogramá�cos (como a escrita dos chineses) ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estra�ficação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que surgiu algum �po de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar claramente isso: que ela surge e se desenvolve - em qualquer das formas - apenas em sociedades estra�ficadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garan�ram a conservação e con�nuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narra�vas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmi�ram e se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domes�caram plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferentes em toda a América). D’ANGELIS, W. R. Histórias dos índios lá em casa: narra�vas indígenas e tradição oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org. Acesso em: 5 dez. 2012. A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes obje�vos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasileiras, a oralidade possibilitou a) a conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes. b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos. c) a manutenção e a reprodução dos modelos estra�ficados de organização social. d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades. e) o reconhecimento e a legi�mação da importância da fala como meio de comunicação. IT0033 - (Enem) TEXTO I An�gamente An�gamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava bo�na de botões para comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pudesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de janeiro: nova Aguilar, 1983 (fragmento). TEXTO II Na leitura do fragmento do texto An�gamente constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produ�vos nãoTinha preparado o seu livro que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos. A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o di�cil problema. A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de “duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória. Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e uma palavras ao leitor”. E a dedicatória? A dedicatória, como todas as dedicatórias, seria a “pálida homenagem” de seu talento ao espírito amigo que lhe ensinara a pensar… Mas “pálida homenagem”… Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: “pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase sublime: “lívida homenagem do autor”… Está aí como um grande gramá�co faz uma obra-prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela. (Sá�ras e outras subversões, 2016.) As modificações feitas pelo gramá�co nas expressões empregadas no prefácio e na dedicatória de sua obra manifestam seu desconforto a) com o sen�do figurado da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o caráter trivial da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. b) com o sen�do figurado da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o sen�do literal da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. c) com o sen�do literal da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o sen�do figurado da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. d) com o caráter trivial das expressões inicialmente pensadas para o prefácio e para a dedicatória. e) com o sen�do literal da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o caráter trivial da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. IT0829 - (Unesp) A questão focaliza uma passagem do romance Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901–1957). Água-Mãe Jogava com toda a alma, não podia compreender como um jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos pés. A�rava-se, não temia a violência e com a sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, a�rou-se contra ele, recuou para derrubá-lo, e com tamanha sorte que o bruto se estendeu no chão, como um fardo. E foi assim crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer que es�vesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus, quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre: — Joca, você aqui não paga. Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo meninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube �nha amigos. Havia porém o an�go center-forward2 que se sen�u roubado com a sua chegada. Não �nha razão. Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem se enfureceu com Joca. Era um jogador de fama, que fora grande nos campos da Europa e por isso pouco ligava aos que não �nham o seu cartaz. A entrada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No dia em que �vera que ceder a posição, a um menino do Cabo Frio, for a para ele como se �vesse perdido as duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha sido a sua admiração, o seu herói. 15@professorferretto @prof_ferretto 1- Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. 2- Centroavante. (Água-Mãe, 1974.) No primeiro parágrafo, predominam verbos empregados no a) pretérito perfeito do modo indica�vo. b) pretérito imperfeito do modo indica�vo. c) presente do modo indica�vo. d) presente do modo subjun�vo. e) pretérito mais-que-perfeito do modo indica�vo. IT0833 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926–2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. (Ópera dos mortos, 1970.) No início do segundo parágrafo, por ter na frase a mesma função sintá�ca que o vocábulo “vagaroso” com relação a “passo”, a oração “de quem não tem pressa” é considerada a) coordenada sindé�ca. b) subordinada substan�va. c) subordinada adje�va. d) coordenada assindé�ca. e) subordinada adverbial. IT0834 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926–2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. (Ópera dos mortos, 1970.) Analisando o úl�mo período do terceiro parágrafo, verifica-se que a palavra “feito” é empregada como a) advérbio. b) verbo. c) substan�vo. d) adje�vo. e) conjunção. IT0904 - (Unicamp) Na �ra acima, o autor retoma um célebre lema re�rado do Manifesto Comunista (1848), de KarlMarx e Friedrich Engels: “Operários do mundo, uni-vos!”. Considerando os sen�dos produzidos pela �rinha, é correto afirmar que nela se lê a) uma apologia ao Manifesto Comunista, atenuada pela onomatopeia que imita o som (“zzzzzz”) das abelhas. b) uma paródia do lema do Manifesto Comunista, baseada na semelhança foné�ca entre “uni-vos” e “zuni-vos”. c) uma parábola para explicar o Manifesto Comunista por meio da semelhança foné�ca entre “uni-vos” e “zuni-vos”. d) uma fábula que recria o lema do Manifesto Comunista, com base na linguagem onomatopaica das abelhas (“zzzzzz”). 16@professorferretto @prof_ferretto IT0820 - (Unesp) Leia o trecho do romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só o deo-gra�as; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um homem andava falando: – “A pátria não pode nada com a velhice.” Discordo. A pátria é dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor, as pedras re�radas – ele dizia: aqueles todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sen�mento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real �ve, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] Tem horas an�gas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande sertão: veredas, 2015.) Para a formação do neologismo “vivimento”, o narrador recorreu ao mesmo processo de formação de palavras observado em a) “desemendo”. b) “velhice”. c) “denúncia”. d) “reverte”. e) “adiante”. IT0958 - (Unesp) Leia o fragmento de um texto publicado em 1867 no semanário Cabrião. São Paulo, 10 de março de 1867. Estamos em plena quaresma. A população paulista azafama-se a preparar-se para a lavagem geral das consciências nas águas lustrais do confessionário e do jejum. A cambuquira* e o bacalhau afidalgam-se no mercado. A carne, mísera condenada pelos santos concílios, fica reduzida aos pouquíssimos dentes acatólicos da população, e desce quase a zero na pauta dos preços. O que não sobe nem desce na escala dos fatos normais é a vilania, a usura, o egoísmo, a esta�s�ca dos crimes e o montão de fatos vergonhosos, perversos, ruins e feios que precedem todas as contrições oficiais do confessionário, e que depois delas con�nuam com imperturbável regularidade. É o caso de desejar-se mais obras e menos palavras. E se não, de que é que serve o jejum, as macerações, o arrependimento, a contrição e quejandas religiosidades? O que é a religião sem o aperfeiçoamento moral da consciência? O que vale a perturbação das funções gastronômicas do estômago sem consciência livre, ilustrada, honesta e virtuosa? Seja como for, o fato é que a quaresma toma as rédeas do governo social, e tudo entristece, e tudo esfria com o exercício de seus mís�cos preceitos de silêncio e meditação. De que é que vale a meditação por o�cio, a meditação hipócrita e obrigada, que consiste unicamente na aparência? Pois o que é que cons�tui a virtude? É a forma ou é o fundo? É a intenção do ato, ou sua feição ostensiva? Neste sen�do, aconselhamos aos bons leitores que comutem sem o menor escrúpulo os jejuns, as confissões e rezas em boas e santas ações, em esmolas aos pobres. (Ângelo Agos�ni, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis. Cabrião, 10.03.1867. Adaptado.) * Iguaria cons�tuída de brotos de abóbora guiados, geralmente servida como acompanhamento de assados. Pelo seu tema e desenvolvimento argumenta�vo, o texto pode ser classificado como A cambuquira e o bacalhau afidalgam-se no mercado. Ao empregar o verbo “afidalgar-se” (tornar-se fidalgo, enobrecer; assumir ares de fidalgo, tomar-se dis�nto), os autores do texto sugerem, com bom humor, que a cambuquira e o bacalhau a) são muito pouco encontrados no comércio para compra. b) são alimentos venerados e honrados por sua reconhecida fidalguia. c) tomam-se no período produtos de grande procura e preços elevados. d) não podem ser consumidos pela população plebeia. e) são considerados iguarias que agradam ao imperador e à nobreza. IT0963 - (Unicamp) É possível fazer educação de qualidade sem escola É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné- Bissau e Moçambique. Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento). Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem É uma construção cole�va”, explica O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo ele�vo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educa�vo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.” Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta úl�ma foi provocada depois que 17@professorferretto @prof_ferretto um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda. Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” (biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabe�zação. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser ques�onado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”. Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não exis�rá e que ela será subs�tuída por espaços de aprendizagem com todas as ferramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem. “Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, precisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os instrumentos possíveis que levem o menino a aprender.” Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se sen�r “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma polí�ca de governo, nem de terceiro setor, é uma questão é�ca”, pontua. (Qsocial, 09/12/2014.Disponível em h�p://www.cpcd.org/br/por�olio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.) Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser ques�onado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”, é correto afirmar: a) A expressão “Seguida da resposta certeira” indica a elipse de uma outra expressão. b) A criação da palavra “empodimento” é resultado de um processo: sufixação. c) A repe�ção do verbo no enunciado “Pode, pode tudo” exemplifica o es�lo reitera�vo do texto. d) O discurso direto presente no trecho tem a função de dar voz às comunidades. IT0989 - (Unicamp) Papo Preto: Vamos falar sobre transfeminismo? Neste episódio do podcast Papo Preto, o apresentador Yago Rodrigues e a cinegrafista Débora Oliveira recebem Jarda Maria, que se tornou símbolo da luta pelos direitos das transexuais em Recife após ingressar na Universidade Federal de Pernambuco. Ela fala sobre os desafios de ocupar e se manter no ambiente acadêmico e da importância de compreender o que é o transfeminismo. Jarda explica que o conceito de transfeminismo ou feminismo trans surge nos EUA quando foi percebido que as pautas discu�das no feminismo não abarcavam a situação das mulheres trans e traves�s. Ela diz que há muita cobrança em cima da comunidade de transexuais e traves�s sobre os mo�vos e as causas da violência que sofrem todos os dias, mas as respostas devem par�r da sociedade, que deve pra�car a não violência e dar exemplos. “Nós já estamos preocupadas em pensar esses meios de sobre- vivência, que as pessoas que movimentam a transfobia pensem os movimentos de enfrentamento. A transfobia e a traves�fobia são problemá�cas cisgêneras e não nossa. Nós somos ví�mas desse processo”, afirma Jarda. (PAPO PRETO 69: Vamos falar sobre transfeminismo? [Locução de] Yago Rodrigues. S. I. Ecoa Produções, 09/03/2020. Podcast. Disponível em h�ps://uol.com.br/ecoa/vi- deos/2022/03/09/papo-preto-69- vamos-falar-sobre-transfeminism0.htm. Acesso em 20/10/2022.) Sobre as ocorrências do item trans no texto, podemos afirmar que a) introduzem termos como transfeminismo e transfobia, que servem para conceituar �pos de violência contra mulheres trans. b) o seu emprego em transfeminismo indica que a pauta feminista já se estende às mulheres trans, mas ainda exclui as traves�s. c) é empregado como antônimo do prefixo cis- para indicar que a transfobia e a traves�fobia devem preocupar apenas as pessoas cisgêneras. d) remete a transexuais e traves�s no termo feminismo trans, que é sinônimo de transfeminismo e abrange grupos não incluídos na pauta feminista. IT0991 - (Unicamp) Quebrando o silêncio dos hospícios Stella do Patrocínio, apesar de ser reconhecida postumamente como poeta, nunca se definiu assim e não escreveu nenhuma das linhas que estão no livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, pelo qual ficou conhecida. A potência de suas palavras se encontra no seu falatório (como chamava suas falas), que foi preservado em fitas de áudio pela ar�sta plás�ca Carla Guagliardi. As conversas entre as duas foram gravadas durante oficinas de arte para pacientes psiquiátricos, entre 1986 e 1988, e o livro, publicado muitos anos depois da morte de Patrocínio, é um recorte de frases dela, transcritas desses diálogos. As falas de Patrocínio são de uma mulher negra e pobre que foi levada à força pela polícia e internada, no Centro Pedro 2º e depois na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, onde ficou por trinta anos; quando morreu, foi enterrada como indigente. A história de Patrocínio é a história de milhares de ví�mas que foram encarceradas nos hospícios brasileiros por serem consideradas “desajustadas”. Em sua maioria negras. Ali, elas sofreram abusos, violências e torturas, além de serem abandonadas pelo Estado. (Adaptado de: Quebrando o silêncio dos hospícios. Quatro cinco um, 05/2022, p. 27.) Com base ainda no texto, “falatório” pode ser considerado como a) a modalidade declamada dos poemas de Stella do Patrocínio. b) uma prá�ca discursiva oral nomeada por Stella do Patrocínio. c) a denominação, usada no manicômio, para conversas terapêu�cas. d) um gênero de poesia transcrita produzida por Stella do Patrocínio. IT1017 - (Unicamp) O termo “bárbaro” teve diferentes significados ao longo da história. Sobre os usos desse conceito, podemos afirmar que: a) Bárbaro foi uma denominação comum a muitas civilizações para qualificar os povos que não compar�lhavam dos valores destas mesmas civilizações. b) Entre os gregos do período clássico o termo foi u�lizado para qualificar povos que não falavam grego e depois disso deixou de ser empregado no mundo mediterrâneo an�go. c) Bárbaros eram os povos que os germanos classificavam como inadequados para a conquista, como os vândalos, por exemplo. d) Gregos e romanos classificavam de bárbaros povos que viviam da caça e da coleta, como os persas, em oposição aos povos urbanos civilizados. 18@professorferretto @prof_ferretto IT1018 - (Unicamp) À medida que as maneiras se refinam, tornam-se dis�n�vas de uma superioridade: não é por acaso que o exemplo parece vir de cima e, logo, é retomado pelas camadas médias da sociedade, desejosas de ascender socialmente. É exibindo os gestos pres�giosos que os burgueses adquirem estatuto nobre. O ser de um homem se confunde com a sua aparência. Quem age como nobre é nobre. (Adaptado de Renato Janine Ribeiro, A E�queta no An�go Regime. São Paulo: Editora Moderna, 1998, p. 12.) O texto faz referência à prá�ca da e�queta na França do século XVIII. Sobre o tema, é correto afirmar que: a) A e�queta era um elemento de dis�nção social na sociedade de corte e definia os lugares ocupados pelos grupos próximos ao rei. b) O jogo das aparências era uma forma de disfarçar os conluios polí�cos da aristocracia, composta por burgueses e nobres, e negar bene�cios ao Terceiro Estado. c) Os sans-culo�es imitavam as maneiras da nobreza, pois isso era uma forma de adquirir refinamento e tornar-se parte do poder econômico no estado absolu�sta. d) Durante o século XIX, a e�queta deixou de ser um elemento dis�n�vo de grupos sociais, pois houve a abolição da sociedade de privilégios. 19@professorferretto @prof_ferrettomais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que a) a língua portuguesa de an�gamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do co�diano. b) o português brasileiro se cons�tui evitando a ampliação do léxico proveniente do português europeu. c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal. d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente. e) o léxico do português representa uma realidade linguís�ca variável e diversificada. IT0337 - (Enem) TEXTO I A língua não é uma nomenclatura, que se opõe a uma realidade pré- categorizada, ela é que classifica realidade. No léxico, percebe-se, de 2@professorferretto @prof_ferretto maneira mais imediata, o fato de que a língua condensa as experiências de um dado povo. FIORIN, J. L. Língua, modernidade e tradição. Diversitas, n. 2, mar.-set. 2014. TEXTO II As expressões coloquiais ainda estão impregnadas de discriminação contra os negros. Basta recordar algumas delas, como passar um “dia negro”, ter um “lado negro”, ser a “ovelha negra” da família ou pra�car “magia negra”. Disponível em: h�ps:/brasil.elpais.com. Acesso em: 22 maio 2018. O Texto II exemplifica o que se afirma no Texto I, na medida em que defende a ideia de que as escolhas lexicais são resultantes de um a) expediente próprio do sistema linguís�co que nos apresenta diferentes possibilidades para traduzir estados de coisas. b) ato inven�vo de nomear novas realidades que surgem diante de uma comunidade de falantes de uma língua. c) mecanismo de apropriação de formas linguís�cas que estão no acervo da formação do idioma nacional. d) processo de incorporação de preconceitos que são recorrentes na história de uma sociedade. e) recurso de expressão marcado pela obje�vidade que se requer na comunicação diária. IT0315 - (Fuvest) Psicanálise do açúcar O açúcar cristal, ou açúcar de usina, mostra a mais instável das brancuras: quem do Recife sabe direito o quanto, e o pouco desse quanto, que ela dura. Sabe o mínimo do pouco que o cristal se estabiliza cristal sobre o açúcar, por cima do fundo an�go, de mascavo, do mascavo barrento que se incuba; e sabe que tudo pode romper o mínimo em que o cristal é capaz de censura: pois o tal fundo mascavo logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. Só os banguês que-ainda purgam ainda o açúcar bruto com barro, de mistura; a usina já não o purga: da infância, não de depois de adulto, ela o educa; em enfermarias, com vácuos e turbinas, em mãos de metal de gente indústria, a usina o leva a sublimar em cristal o pardo do xarope: não o purga, cura. Mas como a cana se cria ainda hoje, em mãos de barro de gente agricultura, o barrento da pré-infância logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra. * banguê: engenho de açúcar primi�vo movido a força animal. Na oração “que ela dura” (v. 4), o pronome sublinhado a) não tem referente. b) retoma a palavra “usina” (v. 1). c) pode ser subs�tuído por “ele”, referindo-se a “açúcar” (v. 1). d) refere-se à “mais instável das brancuras” (v. 2). e) equivale à palavra “censura” (v. 10). IT0026 - (Enem) Em bom português No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim: — Assis� a uma fita de cinema com um ar�sta que representa muito bem. Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, ves�do de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher. SABINO, F. Folha de S.Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado). A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa caracterís�ca da língua, evidenciando que a) o uso de palavras novas deve ser incen�vado em detrimento das an�gas. b) a u�lização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações. c) o emprego de palavras com sen�dos diferentes caracteriza diversidade geográfica. d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos iden�ficadores da classe social a que pertence o falante. e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões. IT0330 - (Enem) Urgência emocional Se tudo é para ontem, se a vida engata uma primeira e sai em disparada, se não há mais tempo para paradas estratégicas, caímos fatalmente no vício de querer que os amores sejam igualmente resolvidos num á�mo de segundo. Temos pressa para ouvir “eu te amo”. Não vemos a hora de que fiquem estabelecidas as regras de convívio: somos namorados, ficantes, casados, amantes? Urgência emocional. Uma cilada. Associamos diversas palavras ao AMOR: paixão, romance, sexo, adrenalina, palpitação. Esquecemos, no entanto, da palavra que viabiliza esse sen�mento: “paciência”. Amor sem paciência não vinga. Amor não pode ser mas�gado e engolido com emergência, com fome desesperada. É uma refeição que pode durar uma vida. MEDEIROS, M. Disponível em: h�p:/porumavidasimples.blogspot.com.br. Acesso em: 20 ago. 2017 (adaptado). 3@professorferretto @prof_ferretto Nesse texto de opinião, as marcas linguís�cas revelam uma situação distensa e de pouca formalidade, o que se evidencia pelo(a) a) impessoalização ao longo do texto, como em: “se não há mais tempo”. b) construção de uma atmosfera de urgência, em palavras como: “pressa”. c) repe�ção de uma determinada estrutura sintá�ca, como em: “Se tudo é para ontem”. d) ênfase no emprego da hipérbole, como em: “uma refeição que pode durar uma vida”. e) emprego de metáforas, como em: “a vida engata uma primeira e sai em disparada”. IT0029 - (Enem) Censura moralista Há tempos que a leitura está em pauta. E, diz-se, em crise. Comenta- se esta crise, por exemplo, apontando a precariedade das prá�cas de leitura, lamentando a falta de familiaridade dos jovens com livros, reclamando da falta de bibliotecas em tantos municípios, do preço dos livros em livrarias, num nunca acabar de problemas e de carências. Mas, de um tempo para cá, pesquisas acadêmicas vêm dizendo que talvez não seja exatamente assim, que brasileiros leem, sim, só que leem livros que as pesquisas tradicionais não levam em conta. E, também de um tempo para cá, polí�cas educacionais têm tomado a peito inves�r em livros e em leitura. LAJOLO, M. Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 2 dez. 2013 (fragmento). Os falantes, nos textos que produzem, sejam orais ou escritos, posicionam-se frente a assuntos que geram consenso ou despertam polêmica. No texto, a autora a) ressalta a importância de os professores incen�varem os jovens às prá�cas de leitura. b) cri�ca pesquisas tradicionais que atribuem a falta de leitura à precariedade de bibliotecas. c) rebate a ideia de que as polí�cas educacionais são eficazes no combate à crise de leitura. d) ques�ona a existência de uma crise de leitura com base nos dados de pesquisas acadêmicas. e) atribui a crise da leitura à falta de incen�vos e ao desinteresse dos jovens por livros de qualidade. IT0022 - (Enem) Palavras jogadas fora Quando criança, convivia no interior de São Paulo com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá esporadicamente. O sen�do da palavra é o de “jogar fora” (pincha fora essa porcaria) ou “mandar embora” (pincha esse fulano daqui). Teria sido uma das muitas palavras queouvi menos na capital do estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso”. Aparentemente, para muitos falantes, esse verbo é algo do passado, que deixará de exis�r tão logo essa geração an�ga morrer. As palavras são, em sua grande maioria, resultados de uma tradição: elas já estavam lá antes de nascermos. “Tradição”, e�mologicamente, é o ato de entregar, de passar adiante, de transmi�r (sobretudo valores culturais). O rompimento da tradição de uma palavra equivale à sua ex�nção. A gramá�ca norma�va muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o fator mais forte que mo�va os falantes a ex�nguirem uma palavra é associar a palavra, influenciados direta ou indiretamente pela visão norma�va, a um grupo que julga não ser o seu. O pinchar, associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está fadado à ex�nção? É louvável que nos preocupemos com a ex�nção de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a ex�nção de uma palavra não promove nenhuma comoção, como não nos comovemos com a ex�nção de insetos, a não ser dos extraordinariamente belos. Pelo contrário, muitas vezes a ex�nção das palavras é incen�vada. VIARO, M. E. Língua Portuguesa. n. 77, mar. 2012 (adaptado). A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo “pinchar” nos traz uma reflexão sobre a linguagem e seus usos, a par�r da qual compreende-se que a) as palavras esquecidas pelos falantes devem ser descartadas dos dicionários, conforme sugere o �tulo. b) o cuidado com espécies animais em ex�nção é mais urgente do que a preservação de palavras. c) o abandono de determinados vocábulos está associado a preconceitos socioculturais. d) as gerações têm a tradição de perpetuar o inventário de uma língua. e) o mundo contemporâneo exige a inovação do vocabulário das línguas. IT0035 - (Enem) Ó Pátria amada. Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula — “Paz no futuro e glória no passado.” Mas, se ergues da jus�ça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gen�l, Pátria amada, Brasil! Hino Nacional do Brasil. Letra: Joaquim Osório Duque Estrada. Música: Francisco Manuel da Silva (fragmento). O uso da norma-padrão na letra do Hino Nacional do Brasil é jus�ficado por tratar-se de um(a) a) reverência de um povo a seu país. b) gênero solene de caracterís�ca protocolar. c) canção concebida sem interferência da oralidade. d) escrita de uma fase mais an�ga da língua portuguesa. e) artefato cultural respeitado por todo o povo brasileiro. IT0304 - (Fuvest) Terça é dia de Veneza revelar as atrações de seu fes�val anual, cuja 77.ª edição começa no dia 2 de setembro, com a dramédia “Lacci”, do romano Daniele Luche�, seguindo até 12/9, com 50 produções 4@professorferretto @prof_ferretto internacionais e uma expecta�va (extraoficial) de colocar “West Side Story”, de Steven Spielberg, na ribalta. Rodrigo Fonseca. “À espera dos rugidos de Veneza”. O Estado de S. Paulo. Julho/2020. Adaptado. Um processo de formação de palavras em língua portuguesa é o cruzamento vocabular, em que são misturadas pelo menos duas palavras na formação de uma terceira. A força expressiva dessa nova palavra resulta da síntese de significados e do inesperado da combinação, como é o caso de “dramédia” no texto. Ocorre esse mesmo �po de formação em a) “deleitura” e “namorido”. b) “passatempo” e “microves�do”. c) “hidrelétrica” e “sabiamente”. d) “arenista” e “girassol”. e) “planalto” e “mul�cor”. IT0023 - (Enem) Azeite de oliva e óleo de linhaça: uma dupla imba�vel Rico em gorduras do bem, ela combate a obesidade, dá um chega pra lá no diabete e ainda livra o coração de entraves Ninguém precisa esquentar a cabeça caso não seja possível usar os dois óleos jun�nhos, no mesmo dia. Individualmente, o duo também bate um bolão. Segundo um estudo recente do grupo EurOlive, formado por ins�tuições de cinco países europeus, os polifenóis do azeite de oliva ajudam a frear a oxidação do colesterol LDL, considerado perigoso. Quando isso ocorre, reduz-se o risco de placas de gordura na parede dos vasos, a temida aterosclerose - doença por trás de encrencas como o infarto. MANARINI, T. Saúde é vital. n. 347, fev. 2012 (adaptado). Para divulgar conhecimento de natureza cien�fica para um público não especializado, Manarini recorre à associação entre vocabulário formal e vocabulário informal. Altera-se o grau de formalidade do segmento no texto, sem alterar o sen�do da informação, com a subs�tuição de a) “dá um chega pra lá no diabete” por “manda embora o diabete”. b) “esquentar a cabeça” por “quebrar a cabeça”. c) “bate um bolão” por “é um show”. d) “jun�nhos” por “misturadinhos”. e) “por trás de encrencas” por “causadora de problemas”. IT0031 - (Enem) eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe �nha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... �nha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde �nha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados... CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramá�ca: a língua falada e escrita na cidade do Natal. Natal: EdUFRN, 1998. Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no qual se observa a frequente repe�ção de “né”. Essa repe�ção é um(a) a) índice de baixa escolaridade do falante. b) estratégia �pica de manutenção da interação oral. c) marca de conexão lógica entre conteúdos na fala. d) manifestação caracterís�ca da fala regional nordes�na. e) recurso enfa�zador da informação mais relevante da narra�va. ITT0335 - (Enem) Ora, sempre que surge uma nova técnica, ela quer demonstrar que revogará as regras e coerções que presidiram o nascimento de todas as outras invenções do passado. Ela se pretende orgulhosa e única. Como se a nova técnica carreasse com ela, automa�camente, para seus novos usuários, uma propensão natural a fazer economia de qualquer aprendizagem. Como se ela se preparasse para varrer tudo que a precedeu, ao mesmo tempo transformando em analfabetos todos os que ousassem repeli-la. Fui testemunha dessa mudança ao longo de toda a minha vida. Ao passo que, na realidade, é o contrário que acontece. Cada nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem, ainda mais longa na medida em que nosso espírito é formatado pela u�lização das linguagens que precederam o nascimento da recém-chegada. ECO, U.; CARRIÈRE, J.-C. Não contem com o fim do livro. Rio de Janeiro: Record, 2010 (adaptado). O texto revela que, quando a sociedade promove o desenvolvimento de uma nova técnica, o que mais impacta seus usuários é a a) dificuldade na apropriação da nova linguagem. b) valorização da u�lização da nova tecnologia. c) recorrência das mudanças tecnológicas. d) suplantação imediata dosconhecimentos prévios. e) rapidez no aprendizado do manuseio das novas invenções. IT0032 - (Enem) Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo” Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador do futebol brasileiro a derrotar a cartolagem e a conquistar o Passe Livre, há exatos 40 anos Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez, então com a camisa do Santos (porque depois voltaria a atuar pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos), em 1972, quando foi ques�onado se, finalmente, sen�a-se um homem livre. O Rei respondeu sem �tubear: — Homem livre no futebol só conheço um: o Afonsinho. Este sim pode dizer, usando as suas palavras, que deu o grito de independência ou morte. Ninguém mais. O resto é conversa. Apesar de suas declarações serem mo�vo de chacota por parte da mídia futebolís�ca e até dos torcedores brasileiros, o Atleta do Século acertou. E provavelmente acertaria novamente hoje. Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano. Pelo reconhecimento do caráter e personalidade de um dos jogadores 5@professorferretto @prof_ferretto mais contestadores do futebol nacional. E principalmente em razão da história de luta — e vitória — de Afonsinho sobre os cartolas. ANDREUCCI, R. Disponível em: h�p://carosamigos.terra.com.br. Acesso em: 19 ago. 2011. O autor u�liza marcas linguís�cas que dão ao texto um caráter informal. Uma dessas marcas é iden�ficada em: a) “[...] o Atleta do Século acertou.” b) “O Rei respondeu sem �tubear [...]”. c) “E provavelmente acertaria novamente hoje.” d) “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez [...]”. e) “Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano.” IT0028 - (Enem) A forte presença de palavras indígenas e africanas e de termos trazidos pelos imigrantes a par�r do século XIX é um dos traços que dis�nguem o português do Brasil e o português de Portugal. Mas, olhando para a história dos emprés�mos que o português brasileiro recebeu de línguas europeias a par�r do século XX, outra diferença também aparece: com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, par�cularmente, com a Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da assimilação desses emprés�mos e, assim, Brasil e Portugal começaram a divergir, não só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. Os emprés�mos linguís�cos, recebidos de diversas línguas, são importantes na cons�tuição do português do Brasil porque a) deixaram marcas da história vivida pela nação, como a colonização e a imigração. b) transformaram em um só idioma línguas diferentes, como as africanas, as indígenas e as europeias. c) promoveram uma língua acessível a falantes de origens dis�ntas, como o africano, o indígena e o europeu. d) guardaram uma relação de iden�dade entre os falantes do português do Brasil e os do português de Portugal. e) tornaram a língua do Brasil mais complexa do que as línguas de outros países que também �veram colonização portuguesa. IT0036 - (Enem) “Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” u�lizado por gays e traves�s Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por traves�s e ganhou a comunidade “Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e traves�s. Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário ...”, comenta. O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1.300 verbetes revelando o significado das palavras do pajubá. Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente uma relação entre o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial. Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado). Da perspec�va do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguís�co, especialmente por a) ter mais de mil palavras conhecidas. b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta. c) ser consolidado por objetos formais de registro. d) ser u�lizado por advogados em situações formais. e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho. IT0021 - (Enem) Exmº Sr. Governador: Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928. [...] ADMINISTRAÇÃO Rela�vamente à quan�a orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos polí�cos são badalados. Porque se derrubou a Bas�lha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. es�cou a canela - um telegrama. Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929. GRACILlANO RAMOS RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Mar�ns Fontes, 1962. O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é des�nado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor a) emprega sinais de pontuação em excesso. b) recorre a termos e expressões em desuso no português. c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para conotar in�midade com o des�natário. d) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar conhecimento especializado. e) expressa-se em linguagem mais subje�va, com forte carga emocional. IT0320 - (Fuvest) Leia o trecho extraído de uma no�cia veiculada na internet: “O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major. Disponível em h�ps://www.gp1.com.br/. 6@professorferretto @prof_ferretto No português do Brasil, a função sintá�ca do sujeito não possui, necessariamente, uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz a�va, tal como encontrado em: a) “O carro furou o pneu”. b) “e bateu no meio fio”. c) “O refém conseguiu acionar a população”. d) “tentaram linchar eles”. e) “afirmou o major”. IT0019 - (Enem) O humor e a língua Há algum tempo, venho estudando as piadas, com ênfase em sua cons�tuição linguís�ca. Por isso, embora a afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio que posso garan�r que se trata de uma verdade quase banal: as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e problemas de uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por outro. Se se quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate, uma coleção de piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia/raça e outras diferenças, ins�tuições (igreja, escola, casamento, polí�ca), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda não prestaram a devida atenção a esse material, que poderia subs�tuir com vantagem muitas entrevistas e pesquisas par�cipantes. Saberemos mais a quantas andam o machismo e oracismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção de piadas do que qualquer outro corpus. POSSENTI. S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (adaptado). A piada é um gênero textual que figura entre os mais recorrentes na cultura brasileira, sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a piada é enfa�zada por a) sua função humorís�ca. b) sua ocorrência universal. c) sua diversidade temá�ca. d) seu papel como veículo de preconceitos. e) seu potencial como objeto de inves�gação. IT0305 - (Fuvest) Romance LIII ou Das Palavras Aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão podíeis ter sido! — sois madeira que se corta, — sois vinte degraus de escada, — sois um pedaço de corda... — sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... — sois um homem que se enforca! Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência Ao subs�tuir a pessoa verbal u�lizada para se referir ao substan�vo “palavras” pela 3ª pessoa do plural, os verbos dos versos “sois de vento, ides no vento,” (v. 4) / “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12)! / “Éreis um sopro na aragem...” (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alterna�va: a) são, vão, podiam, eram. b) seriam, iriam, podiam, serão. c) eram, foram, poderiam, seriam. d) são, vão, poderiam, eram. e) eram, iriam, podiam, seriam. IT0034 - (Enem) Irerê, meu passarinho do sertão do Cariri, Irerê, meu companheiro, Cadê viola? Cadê meu bem? Cadê Maria? Ai triste sorte a do violeiro cantadô! Ah! Sem a viola em que cantava o seu amô, Ah! Seu assobio é tua flauta de irerê: Que tua flauta do sertão quando assobia, Ah! A gente sofre sem querê! Ah! Teu canto chega lá no fundo do sertão, Ah! Como uma brisa amolecendo o coração, Ah! Ah! Irerê, solta teu canto! Canta mais! Canta mais! Prá alembrá o Cariri! VILLA-LOBOS, H. Bachianas Brasileiras n. 5 para soprano e oito violoncelos (1938-1945). Disponível em: h�p://euterpe.blog.br. Acesso em: 23 abr. 2019. Nesses verbos, há uma exaltação ao sertão do Cariri em uma ambientação linguis�camente apoiada no(a) a) uso recorrente de pronomes. b) variedade popular da língua portuguesa. c) referência ao conjunto da fauna nordes�na. d) exploração de instrumentos musicais eruditos. e) predomínio de regionalismos lexicais nordes�nos. IT0025 - (Enem) TEXTO l Ditado popular é uma frase sentenciosa, concisa, de verdade comprovada, baseada na secular experiência do povo, exposta de forma poé�ca, contendo uma norma de conduta ou qualquer outro ensinamento. WEITZEL, A. H. Folclore literário e linguís�co. Juiz de Fora: Esdeva, 1984 (fragmento). TEXTO II 7@professorferretto @prof_ferretto Rindo brincalhona, dando-lhe tapinhas nas costas, prima Constança disse isto, dorme no assunto, ouça o travesseiro, não tem melhor conselheiro. Enquanto prima Biela dormia no assunto, toda a casa se alvoroçava. [Prima Constança] ia rezar, pedir a Deus para iluminar prima Biela. Mas ia também tomar suas providências. Casamento e mortalha, no céu se talha. Deus escreve direito por linhas tortas. O que for soará. Dizia os ditados todos, procurando interpretar os desígnios de Deus, transformar os seus desejos nos desígnios de Deus. Se achava um instrumento de Deus. DOURADO, A. Uma vida em segredo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990 (fragmento). O uso que prima Constança faz dos ditados populares, no texto II, cons�tui uma maneira de u�lizar o �po de saber definido no texto l, porque a) cita-os pela força do hábito. b) os aceita como verdade absoluta. c) aciona-os para jus�ficar suas ações. d) toma-os para solucionar um problema. e) considera-os como uma orientação divina. IT0020 - (Enem) Texto I Entrevistadora – eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o português então não é uma língua di�cil? Professora – olha se você parte do princípio... que a língua portuguesa não é só regras grama�cais... não se você se apaixona pela língua que você... já domina que você já fala ao chegar na escola se o teu professor ca�va você a ler obras da literatura. ... obras da/dos meios de comunicação... se você tem acesso a revistas... é... a livros didá�cos... a... livros de literatura o mais formal o e/o di�cil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises grama�cais. Texto II Entrevistadora – Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua di�cil? Professora – Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras grama�cais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor mo�vá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros didá�cos, você se apaixona pela língua. O que torna di�cil é que a escola transforma as aulas de língua portuguesa em análises grama�cais. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita:a�vidades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado). O Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de português a um programa de rádio. O Texto II é a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos a) apresentam ocorrências de hesitações e reformulações. b) são modelos de emprego de regras grama�cais. c) são exemplos de uso não planejado da língua. d) apresentam marcas da linguagem literária. e) são amostras do português culto urbano. IT0440 - (Enem PPL) Preconceito: do la�m prae, antes, e conceptus, conceito, esse termo pode ser definido como o conjunto de crenças e valores aprendidos, que levam um indivíduo ou um grupo a nutrir opiniões a favor ou contra os membros de determinados grupos, antes de uma efe�va experiência com eles. Tecnicamente, portanto, existe um preconceito posi�vo e um nega�vo, embora, nas relações raciais e étnicas, o termo costume se referir ao aspecto nega�vo de um grupo herdar ou gerar visões hos�s a respeito de um outro, dis�nguível com base em generalizações. Essas generalizações derivam invariavelmente da informação incorreta ou incompleta a respeito do outro grupo. CASHMORE, E. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000 (adaptado). Nesse verbete de dicionário, a apropriação adequada do uso padrão da língua auxilia no estabelecimento a) da precisão das informações veiculadas. b) da linguagem conota�va caracterís�ca desse gênero. c) das marcas do interlocutor como uma exigência para a validade das ideias. d) das sequências narra�vas como recurso de progressão textual. e) do processo de contraposição argumenta�va para conseguir a adesão do leitor. IT0441 - (Enem PPL) Nessa conversa por aplica�vo, em que se evidencia uma forma de preconceito, a atendente avaliou a candidata a uma vaga de emprego pelo(a) 8@professorferretto @prof_ferretto a) ausência de autocorreção durante um diálogo. b) desleixo com a pontuação adequada durante um bate-papo. c) desprezo pela linguagem u�lizada em entrevistas de emprego. d) descuido com os padrões linguís�cos no contexto de busca por emprego. e) negligência com a correção automá�ca de palavras pelo corretor de textos do celular. IT0402 - (Enem PPL) Nessa postagem dirigida aos seus seguidores de rede social, o autor u�liza uma linguagem a) própria de manifestações poé�cas. b) aplicada em contextos da área despor�va. c) caracterís�ca àquela atribuída a falantes escolarizados. d) empregada por falantes urbanos jovens de determinada região. e) marcada por uma relação de distanciamento entre os interlocutores. IT0408 - (Enem PPL) Terça-feira, 30 de maio de 1893. Eu gosto muito de todas as festas de Diaman�na; mas quando são na igreja do Rosário, que é quase pegada à chácara de vovó, eu gosto ainda mais. Até parece que a festaé nossa. E este ano foi mesmo. Foi sorteada para rainha do Rosário uma ex-escrava de vovó chamada Júlia e para rei um negro muito entusiasmado que eu não conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há muito tempo ajuntando dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou devendo. Agora é que eu vi como fica caro para os pobres dos negros serem reis por um dia. Júlia com o ves�do e a coroa já gastou muito. Além disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha tem uma caudatária que vai atrás segurando na capa que tem uma grande cauda. Esta também é negra da chácara e ajudou no jantar. Eu acho graça é no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Ninguém rejeita o cargo, mesmo sabendo a despesa que dá. MORLEY, H. Minha vida de menina. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. O trecho apresenta marcas textuais que jus�ficam o emprego da linguagem coloquial. O tom informal do discurso se deve ao fato de que se trata de um (a) a) narra�va regionalista, que procura reproduzir as caracterís�cas mais �picas da região, como as falas dos personagens e o contexto social a que pertencem. b) carta pessoal, escrita pela autora e endereçada a um des�natário específico, com o qual ela tem in�midade suficiente para suprimir as formalidades da correspondência oficial. c) registro no diário da autora, conforme indicam a data, o emprego da primeira pessoa, a expressão de reflexões pessoais e a ausência de uma intenção literária explícita na escrita. d) narra�va de memórias, na qual a grande distância temporal entre o momento da escrita e o fato narrado impõe o tom informal, pois a autora tem dificuldade de se lembrar com exa�dão dos acontecimentos narrados. e) narra�va oral, em que a autora deve escrever como se es�vesse falando para um interlocutor, isto é, sem se preocupar com a norma-padrão da língua portuguesa e com referências exatas aos acontecimentos mencionados. IT0490 - (Enem PPL) Considerando-se os contextos de uso de “Todas chora”, essa expressão é um exemplo de variante linguís�ca a) �pica de pessoas despreocupadas em seguir as regras de escrita. b) usada como recurso para atrair a atenção de interlocutores e consumidores. c) transposta de situações de interação �picas de ambientes rurais do interior do Brasil. d) incompa�vel com ambientes frequentados por usuários da norma- padrão da língua. e) condenável em produtos voltados para uma clientela exigente e interessada em novidades. IT0506 - (Enem PPL) Álvaro, me adiciona “Nunca conheci quem �vesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” Espanta que Álvaro de Campos tenha dito isso antes do advento das redes sociais. O heterônimo parece estar falando da minha �meline: “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”. Humblebrag é uma palavra que faz falta em português. Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag(gabar-se), seria algo como a gabação modesta. Em vez de simplesmente gabar-se: “Ganhei um prêmio de melhor ator no Fes�val de Gramado”, você diz: “O Fes�val de Gramado está muito decadente. Para vocês terem uma ideia, me deram um prêmio de melhor ator.” Atenção: se todo post é vaidoso, toda coluna também. Percebam o uso de palavras em inglês, a citação a Fernando Pessoa. Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o máximo. “Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa terra?”. Não, Álvaro. Me adiciona. 9@professorferretto @prof_ferretto DUVIVIER, G. Caviar é uma ova. São Paulo: Cia. das Letras, 2016 (adaptado). O texto traz uma crí�ca ao uso que as pessoas fazem da linguagem nas redes sociais. Qual passagem exemplifica linguis�camente essa crí�ca? a) “‘Nunca conheci quem �vesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo’.” b) “O heterônimo parece estar falando da minha �meline: ‘Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?’”. c) “Humblebrag é uma palavra que faz falta em português. Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag(gabar-se), seria algo como a gabação modesta.” d) “‘O Fes�val de Gramado está muito decadente. Para vocês terem uma ideia, me deram um prêmio de melhor ator’.” e) “Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o máximo. ‘Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa terra?’. Não, Álvaro. Me adiciona.” IT0510 - (Enem PPL) No texto, o trecho “Cê tá muito louco, véio” caracteriza um uso social da linguagem mais comum a a) jovens em situação de conversa informal. b) pessoas conversando num cinema. c) homens com problemas de visão. d) idosos numa roda de bate-papo. e) crianças brincando de viajar. IT0525 - (Enem PPL) No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o cartum produz humor brincando com a a) caracterização da linguagem u�lizada em uma esfera de comunicação específica. b) deterioração do conhecimento cien�fico na sociedade contemporânea. c) impossibilidade de duas cobras conversarem sobre o universo. d) dificuldade inerente aos textos produzidos por cien�stas. e) complexidade da reflexão presente no diálogo. IT0527 - (Enem PPL) É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a iden�ficação e a diferenciação de cada comunidade e também a inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A fala tem, assim, um caráter emblemá�co, que indica se o falante é brasileiro ou português, francês ou italiano, alemão ou holandês, americano ou inglês, e, mais ainda, sendo brasileiro, se é nordes�no, sulista ou carioca. A linguagem também oferece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primário, universitário ou se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social e seu grau de instrução, é frequentemente usado para discriminar e es�gma�zar o falante. LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. Nesse texto acadêmico, as autoras fazem uso da linguagem formal para a) estabelecer proximidade com o leitor. b) a�ngir pessoas de vários níveis sociais. c) atender às caracterís�cas do público leitor. d) caracterizar os diferentes falares brasileiros. e) atrair leitores de outras áreas do conhecimento. IT0535 - (Enem PPL) A expansão do português no Brasil, as variações regionais com suas possíveis explicações e as raízes das inovações da linguagem estão emergindo por meio do trabalho de linguistas que estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais e administra�vas, testamentos, relatos de viagens, processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI, coletados em ins�tuições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado de São Paulo. No acervo de documentos que servem para estudos sobre o português paulista está uma carta de 1807, escrita pelo soldado Manoel Coelho, que teria seduzido a filha de um fazendeiro. Quando soube, o pai da moça, enfurecido, forçou o rapaz a se casar com ela. O soldado, porém, bateu o pé: “Nem por bem, nem por mar!”, não se casaria. Um linguista pesquisador estranhou a citação, já que o fato se passava na Vila de São Paulo, mas depois percebeu: “Ele quis dizer ‘nem por bem, nem por mal!’. O soldado escrevia como falava. Não se sabe se casou com a filha do fazendeiro, mas deixou uma prova valiosa de como se falava no início do século XIX.” FIORAVANTI, C. Ora pois, uma língua bem brasileira. Pesquisa Fapesp, n. 230, abr. 2015 (adaptado). O fato relatado evidencia que fenômenos presentes na fala podem aparecer em textos escritos. Além disso, sugere que 10@professorferretto @prof_ferretto a) os diferentes falares do português provêm de textos escritos. b) o �po de escrita usado pelo soldado era despres�giado no século XIX. c) os fenômenos de mudança da línguaportuguesa são historicamente previsíveis. d) as formas variantes do português brasileiro atual já figuravam no português an�go escrito. e) as origens da norma-padrão do português brasileiro podem ser observadas em textos an�gos. IT0551 - (Enem PPL) Como a percepção do tempo muda de acordo com a língua Línguas diferentes descrevem o tempo de maneiras dis�ntas — e as palavras usadas para falar sobre ele moldam nossa percepção de sua passagem. O estudo “Distorção temporal whorfiana: representando duração por meio da ampulheta da língua”, publicado no jornal da APA (Associação Americana de Psicologia), mostra que conceitos abstratos, como a percepção da duração do tempo, não são universais. Os autores não só verificaram uma mudança da percepção temporal conforme a língua falada como observaram que a transição de uma língua para outra por um mesmo indivíduo modificava sua es�ma�va de uma duração de tempo. Isso implica que visões diferentes de tempo convivem no cérebro de um indivíduo bilíngue. “O fato de que pessoas bilíngues transitam entre essas diferentes formas de es�mar o tempo sem esforço e inconscientemente se encaixa nas evidências crescentes que demonstram a facilidade com que a linguagem se entremeia fur�vamente em nossos sen�dos mais básicos, incluindo nossas emoções, percepção visual e, agora, ao que parece, nossa sensação de tempo”, disse o pesquisador ao site Quartz. LIMA, J. D. Disponível em: www.nexojornal.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017. O texto relata experiências e resultados de um estudo que reconhece a importância a) da compreensão do tempo pelo cérebro. b) das pesquisas cien�ficas sobre a cognição. c) da teoria whorfiana para a área da linguagem. d) das linguagens e seus usos na vida das pessoas. e) do bilinguismo para o desenvolvimento intelectual. IT0561 - (Enem PPL) Uma língua, múl�plos falares Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era mul�língue. Havia cerca de 1,2 mil línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco era uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde ele vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece em diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, temos primeiramente o encontro linguís�co de portugueses com índios e, além dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas. “Todo este processo vai produzindo diversidades linguís�cas que caracterizam falares diferentes”, afirma um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar dis�ntos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o sotaque �pico de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” caracterís�co do interior de São Paulo. MARIUZZO, P. Disponível em: www.labjor.unicamp.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado). A par�r desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elementos de iden�dade nacional, entende-se que a diversidade linguís�ca é resultado da a) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas. b) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes. c) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas. d) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador. e) preservação dos sotaques caracterís�cos dosimigrantes. IT0565 - (Enem PPL) Glossário diferenciado Outro dia vi um anúncio de alguma coisa que não lembro o que era (como vocês podem deduzir, o anúncio era péssimo). Lembro apenas que o produto era diferenciado, funcional e sustentável. Pensando nisso, fiz um glossário de termos diferenciados e suas respec�vas funcionalidades. Diferenciado: um adje�vo que define um substan�vo mas também o sujeito que o está usando. Quem fala “diferenciado” poderia falar “diferente”. Mas escolheu uma palavra diferenciada. Porque ele quer mostrar que ele próprio é “diferenciado”. Essa é a função da palavra “diferenciado”: diferenciar-se. Por diferençado, entenda: “mais caro”. Estudos indicam que a palavra “diferenciado” representa um aumento de 50% no valor do produto. É uma palavra que faz a diferença. FERNANDES, M. In: ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009 (adaptado). Os gêneros são definidos, entre outros fatores, por sua função social. Nesse texto, um verbete foi criado pelo autor para a) atribuir novo sen�do a uma palavra. b) apresentar as caracterís�cas de um produto. c) mostrar um posicionamento crí�co. d) registrar o surgimento de um novo termo. e) contar um fato do co�diano. IT0632 - (Enem PPL) Parestesia não, formigamento Trinta e três regras que mudam a redação de bulas no Brasil Com o Projeto Bulas, de 2004, voltado para a tradução do jargão farmacêu�co para a língua portuguesa – aquela falada em todo o Brasil – e a regulamentação do uso de medicamentos no país, cinco anos depois, o Brasil começou a sair das trevas. O grupo comandado por uma doutora em Linguís�ca da UFRJ sugeriu à Anvisa mudar tudo. Elaborou, também, “A redação de bulas para o paciente: um guia com os princípios de redação clara, concisa e acessível para o leitor de bulas”, disponível em versão adaptada no site da Anvisa. Diferentemente do que acontece com outros gêneros, na bula não há espaço para inovações de es�lo. “O uso de fórmulas repe��vas é bem-vindo, dá força ins�tucional ao texto”, explica a doutora. “A bula não pode abrir possibilidades de interpretações ao seu leitor”. Se obedecidas, as 33 regras do guia são de serven�a genérica – quem lida com qualquer �po de escrita pode se beneficiar de seus ensinamentos. A regra 12, por exemplo, manda abolir a linguagem 11@professorferretto @prof_ferretto técnica, fonte de possível constrangimento para quem não a compreende, e recomenda: “Não irrite o leitor.” A regra 14 prega um tom cordial, educado e, sobretudo, conciso: “Não faça o leitor perder tempo”. Disponível em: www2.uol.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012. As bulas de remédio têm caráter instrucional e complementam as orientações médicas. No contexto de mudanças apresentado, a principal caracterís�ca que marca sua nova linguagem é o(a) a) possibilidade de inclusão de neologismo. b) refinamento da linguagem farmacêu�ca. c) adequação ao leitor não especializado. d) detalhamento de informações. e) informalidade do registro. IT0635 - (Enem PPL) o::... o Brasil... no meu ponto de vista... entendeu? o país só cresce através da educação... entendeu? Eu penso assim... então quer dizer... você dando uma prioridade pra... pra educação... a tendência é melhorar mais... entendeu? e as pessoas... como eu posso explicar assim? as pessoas irem... tomando conhecimento mais das coisas... né? porque eu acho que a pior coisa que tem é a pessoa alienada... né? a pessoa que não tem noção de na::da... entendeu. Trecho da fala de J. L., sexo masculino, 26 anos. In: VOTRE, S.; OLIVEIRA, M. R. (Coord.). A língua falada e escrita na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: www.discursoegrama�ca.letras.ufrj.br. Acesso em: 4 dez. 2012. A língua falada caracteriza-se por hesitações, pausas e outras peculiaridades. As ocorrências de “entendeu” e “né”, na fala de J. L., indicam que a) a modalidade oral apresenta poucos recursos comunica�vos, se comparada à modalidade escrita. b) a língua falada é marcada por palavras dispensáveis e irrelevantes para o estabelecimento da interação. c) o enunciador procura interpelar o seu interlocutor para manter o fluxo comunica�vo. d) o tema tratado no texto tem alto grau de complexidade e é desconhecido do entrevistador. e) o falante manifesta insegurança ao abordar o assunto devido ao gênero ser uma entrevista. IT0636 - (Enem PPL) A carreira nas alturas A água está no joelho dos profissionais do mercado. As fragilidadesna formação em Língua Portuguesa têm alimentado um campo de reciclagem em Português nas escolas de idiomas e nos cursos de graduação para pessoas oriundas do mundo dos negócios. O que antes era restrito a profissionais de educação e comunicação, agora já faz parte da ro�na de profissionais de várias áreas. Para eles, a Língua Portuguesa começa a ser assimilada como uma ferramenta para o desempenho estável. Sem ela, o conhecimento técnico fica restrito à própria pessoa, que não sabe comunicá-lo. “Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia, muitos profissionais precisam escrever relatório, carta, comunicado, circular. Na linguagem oral, todos têm de expressar-se de forma convincente nas reuniões, para ganhar respeito e credibilidade. Isso vale para todos os cargos da hierarquia profissional” – explica uma professora de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. NATALI, A. Revista Língua, n. 63, jan. 2011 (adaptado). Nos usos co�dianos da língua, algumas expressões podem assumir diferentes sen�dos. No texto, a expressão “a água está no joelho” remete à a) exigência de aprofundamento em conhecimentos técnicos. b) demanda por formação profissional de professores e advogados. c) procura por escolas de idiomas para o aprendizado de línguas. d) melhoria do desempenho profissional nas várias áreas do conhecimento. e) necessidade imediata de aperfeiçoamento das habilidades comunica�vas. IT0637 - (Enem PPL) Ainda os equívocos no combate aos estrangeirismos Por que não se reconhece a existência de norma nas variedades populares? Para desqualificá-las? Por que só uma norma é reconhecida como norma e, não por acaso, a da elite? Por tantos equívocos, só nos resta lamentar que algumas pessoas, imbuídas da crença de que estão defendendo a língua, a iden�dade e a pátria, na verdade estejam reforçando velhos preconceitos e imposições. O português do Brasil há muito distanciou-se do português de Portugal e das prescrições dos gramá�cos, cujo serviço às classes dominantes é definir a língua do poder em face de ameaças – internas e externas. ZILLES, A. M. S. In: FARACO, C. A. (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado). O texto aborda a linguagem como um campo de disputas e poder. As interrogações da autora são estratégias que conduzem ao convencimento do leitor de que a) o português do Brasil é muito diferente do português de Portugal. b) as prescrições dos gramá�cos estão a serviço das classes dominantes. c) a norma linguís�ca da elite brasileira é a única reconhecida como tal. d) o português do Brasil há muito distanciou-se das prescrições dos gramá�cos. e) a desvalorização das variedades linguís�cas populares tem mo�vação social. IT0595 - (Enem PPL) Entrei numa lida muito dificultosa. Mar�rio sem fim o de não entender nadinha do que vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, �nha ladineza e entendimento. Na rua e na escola — nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo. Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descrencei e perdi a influência de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas nos livros, fiquei sendo um quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa. BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969). O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e u�liza construções linguís�cas próprias de determinada 12@professorferretto @prof_ferretto região, constatadas pelo a) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”. b) emprego de regência não padrão em “chegar em casa”. c) uso de dupla negação em “não entender nadinha”. d) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”. e) uso do substan�vo “bichos” para retomar “pessoas”. IT0616 - (Enem PPL) Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por dia e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte. Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e, depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde, em casa, dizia que as pessoas da vila nunca �nham visto um menino tão velhaco. O Ilídio ficava enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah, reguila de má raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco. Essa certeza dava- lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse. PEIXOTO, J. L. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. No texto, observa-se o uso caracterís�co do português de Portugal, marcadamente diferente do uso do português do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é: a) “Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não compreendia e esmoreceu.” b) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.” c) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.”. d) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra.”. e) “O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra.”. IT0703 - (Enem PPL) Eu vô transmi� po sinhô logo uma passage muito importante, qu’ eu iscutei um velho de nome Ricardo Caetano Alves, que era neto do propietário da Fazenda do Buraca. O pai dele, ele contava que o pai dele assis�u uma cena muito importante aonde ele tava, do Jacarandá, o chefe dos iscravo do Joaquim de Paula, com o chefe dos iscravo do Vidigal, que chamava, era tratado Pai Urubu. O Jacarandá era tratado Jacarandá purque ele era um negro mais vermelho, tá intendeno com’ é que é, né? Intão é uma imitância de cerno de Jacarandá, intão eles apilidaro ele de Pai Jacarandá. Agora, o Pai Urubu, diz que era o mais preto de todos os iscravo que era cunhicido nessa época. Intão ele ficô com o nome Pai Urubu. É quem dirigia, de toda confiança dos sinhores. Intão os sinhores cunhiciam eles como “pai”: Pai Urubu, Pai Jacarandá, Pai Francisco, que é o chefe da Fazenda das Abóbra, Pai Dumingo, que era da Fazenda do Buraca. SOUZA, J. Negros pelo vale. Belo Horizonte: Fale-UFMG, 2009. O texto é uma transcrição da narra�va oral contada por Pedro Braga, an�go morador do povoado Vau, de Diaman�na (MG). Com base no registro da fala do narrador, entende-se que seu relato a) perpetua a memória e os saberes dos antepassados. b) constrói uma voz dissonante da iden�dade nacional. c) demonstra uma visão distanciada da cultura negra. d) revela uma visão unilateral dos fazendeiros. e) transmite pouca experiência e sabedoria. IT0661 - (Enem PPL) Mudança linguís�ca Ataliba de Cas�lho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte da metamorfose natural da língua. — Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o que ocorreu com “você”, que se tornou o pronome átono “cê”. Agora, o interneteiro pode ajudar a reduzir os excessos da ortografia, e bem sabemos que são muitos. Por que o acento gráfico é tão importante assim para a escrita? Já �vemos no Brasil momentos até mais exacerbados por acentos e dispensamos muitos deles. Como toda palavra é contextualizada pelo falante,podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro mostra um caminho, pois faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O internetês pode, no futuro, até tornar a comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um jargão complexo, que, em vez de aproximar as pessoas em menor tempo, es�mule o isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos. Para Cas�lho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que precisamos na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver? Disponível em: h�p://revistalingua.com.br. Acesso em: 3 jun. 2015 (adaptado). Na entrevista, o fragmento “O jeito eh tc e esperar pra ver?” tem por obje�vo a) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias. b) mostrar os perigos da linguagem da internet como potencializadora de dificuldades de escrita. c) evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita. d) explicar que se trata de um erro linguís�co por destoar do padrão formal apresentado ao longo do texto. e) exemplificar dificuldades de escrita dos interneteiros que desconhecem as estruturas da norma padrão. IT0664 - (Enem PPL) Perder a tramontana A expressão ideal para falar de desorientados e outras palavras de perder a cabeça É perder o norte, desorientar-se. Ao pé da letra, “perder a tramontana” significa deixar de ver a estrela polar, em italiano stella tramontana, situada do outro lado dos montes, que guiava os marinheiros an�gos em suas viagens desbravadoras. Deixar de ver a tramontana era sinônimo de desorientação. Sim, porque, para eles, valia mais o céu estrelado que a terra. O Sul era região desconhecida, imprevista; já o Norte �nha como referência no firmamento um ponto luminoso conhecido como a estrela Polar, uma espécie de farol para os navegantes do Mediterrâneo, sobretudo os genoveses e os venezianos. Na linguagem deles, ela ficava transmontes, para além dos montes, os Alpes. Perdê-la de vista era perder a tramontana, perder o Norte. 13@professorferretto @prof_ferretto No mundo de hoje, sujeito a tantas pressões, muita gente não resiste a elas e entra em parafuso. Além de perder as estribeiras, perde a tramontana... COTRIM, M. Língua Portuguesa, n. 15, jan. 2007. Nesse texto, o autor remonta às origens da expressão “perder a tramontana”. Ao tratar do significado dessa expressão, u�lizando a função referencial da linguagem, o autor busca a) apresentar seus indícios subje�vos. b) convencer o leitor a u�lizá-la. c) expor dados reais de seu emprego. d) explorar sua dimensão esté�ca. e) cri�car sua origem conceitual. IT0705 - (Enem PPL) Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quan�dade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu ins�tuir um prêmio em dinheiro para o comerciante que �vesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Sa�sfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse: — Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!. O caráter polí�co do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: h�p://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012. A variação linguís�ca afeta o processo de produção dos sen�dos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação obje�va a) evidenciar a importância de marcas linguís�cas valorizadoras da linguagem coloquial. b) demonstrar incômodo com a variedade caracterís�ca de pessoas pouco escolarizadas. c) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor. d) cri�car a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos. e) estabelecer uma polí�ca de incen�vo à escrita correta das palavras. IT0763 - (Fuvest) Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos. Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”. Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000. Cons�tui recurso es�lís�co do texto I. a combinação da variedade culta da língua escrita, que nele é predominante, com expressões mais comuns na língua oral; II. a repe�ção de estruturas sintá�cas, associada ao emprego de vocabulário corrente, com feição didá�ca; III. o emprego dominante do jargão cien�fico, associado à exploração intensiva da intertextualidade. Está correto apenas o que se indica em a) I. b) II. c) I e II. d) III. e) I e III. IT0793 - (Unesp) Examine a �ra do cartunista Fernando Gonsales. Na �ra, Arlindo Gouveia é caracterizado como a) dissimulado. b) agressivo. c) pedante. d) volúvel. e) orgulhoso. IT0806 - (Unesp) Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa. Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prá�ca, tome-se hipotrélico querendo dizer: an�podá�co, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico 14@professorferretto @prof_ferretto em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua �da e herdada? Assenta-nos bem à modés�a achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...] Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de “hipotrélico”, mo�vo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e mui�ssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ín�mas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: – E ele é muito hiputrélico... Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emi�u o veto: – Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: – Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? – É. Mas não existe. Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: – O senhor também é hiputrélico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979.) “Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: – O senhor também é hiputrélico...” (11º e 12º parágrafos) Considerando o contexto, o termo sublinhado pode ser subs�tuído, sem prejuízo para o sen�do do texto, por: a) debochado. b) contrariado. c) distraído. d) atrapalhado. e) admirado. IT0813 - (Unesp) Leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com esforço e sabiamente.