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AULA 1 MOD 4 – PROJETO INTEGRADOR 4 1. Introdução 2. Linguagem 3. Fala 4. Discurso Olá, alunos! Iniciando nossos estudos sobre linguagem e prática textual, vamos contextualizar três conceitos de suma importância para orientar o trabalho docente e outros: linguagem, fala e discurso. Há diferença entre tais termos? Sim! São palavras que fazem parte de um amplo escopo da comunicação humana, e apesar de muitos a usarem como sinônimos, nos estudos da linguagem e do discurso são empregadas para designar coisas diversas. Vamos ver? Linguagem A linguagem é um recurso presente em todos os momentos da nossa vida. É a principal ferramenta dos meios de comunicação; é o modo de interação que conecta quem está produzindo uma mensagem que deve ser entendida por quem a recebe. Assim, em linhas gerais, na definição de Faraco e Moura (1994, p. 12), linguagem é “todo sistema organizado de sinais que serve como meio de comunicação entre os indivíduos”. Esses sinais são classificados em: VERBAIS NÃO VERBAIS Percebem que linguagem é todo meio disponível para que a comunicação aconteça? Dentro da linguagem verbal e da linguagem não verbal, por exemplo, podemos nos comunicar por meio de: Gestos Parlamentares levantam a mão durante a votação da Constituição brasileira de 1988. Homem de terno levanta o polegar para cima. Expressões Faciais e Corporais Mulheres tristes. Foto de Paolo Monti, 1953. O atacante alemão Miroslav Klose comemora um gol no 7 x 1 contra o Brasil na Copa de 2014. Sinais Gráficos Símbolos Mista Gibi Primeira capa da revistinha da Turma da Mônica (1970). Os quadrinhos são um exemplo de linguagem mista (verbal e não verbal). Todos esses recursos são linguagens usadas na comunicação. Logo, são corretos enunciados do tipo: A linguagem corporal é importante tanto na hora da paquerar quanto em uma entrevista de emprego. É preciso que professores, cientistas, jornalistas e políticos falem a mesma linguagem que o povo. A nova campanha publicitária daquela marca tem uma linguagem visual bastante sofisticada! Gostei! Prefiro a linguagem audiovisual à linguagem fotográfica. Qual a diferença entre LINGUAGEM e LÍNGUA? Como vimos, linguagem são os recursos que usamos para nos comunicar e pode ser a fala, a escrita, imagens, gestos, fotos, símbolos, desenhos, etc. Já língua é a linguagem verbal usada por um grupo de indivíduos, por exemplo: o português e o inglês são duas línguas diferentes – a língua portuguesa e língua inglesa. Cada povo utiliza uma determinada língua. A língua de sinais é uma língua visual, e não uma linguagem, tanto que no Brasil ela possui caráter oficial, tal qual a língua portuguesa. Fonte: Disponível aqui Fala Leia os seguintes trechos: a) Hino ao sono - de José Paulo Paes sem a pequena morte de toda noite como sobreviver à vida de cada dia? b) “O organismo se recupera fisicamente durante o sono, e essa restauração ocorre principalmente durante o sono de ondas lentas, durante o qual a temperatura corporal, a frequência cardíaca e o consumo de oxigênio no cérebro diminuem. O cérebro precisa do sono para se restaurar, enquanto no resto do corpo esses processos podem ocorrer durante o despertar quieto. Em ambos os casos, a taxa reduzida de metabolismo permite processos restauradores compensatórios.” Disponível aqui Percebe-se que o assunto dos dois textos é o mesmo: a necessidade de dormir. Ambos utilizam a linguagem verbal e dividem a mesma língua: o português. Porém, cada escritor escreveu do seu jeito, à sua maneira, para públicos diferentes – um é um poema e o outro é um texto científico. São situações comunicacionais diferentes: o poema serve para entreter ou causar emoção e reflexão, e o texto científico serve para informar. Cada texto tem uma fala diferente, que é a utilização individual da língua. Portanto, qualquer mensagem que utiliza palavras tanto na forma oral quanto na escrita é um ato de fala. Vamos complementar com as palavras de Infante (1998): Individualmente, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma maneira particular, personalizada, desenvolvendo assim a fala. Observe: você, ao escrever, dá preferência a determinadas palavras ou construções, seja por hábito, seja por opção consciente. Esse seu modo particular de empregar a língua portuguesa é a sua fala. (INFANTE, 1998, p. 28. Grifo meu.) Os falares podem ser diferentes por uma escolha pessoal – por exemplo, falar de um jeito mais formal em um ambiente de trabalho e de um jeito mais informal com os amigos – ou por fatores externos. Os dois fatores externos mais frequentes são: 1) GEOGRÁFICOS O contraste no modo de falar acontece dependendo do lugar em que a pessoa mora. Basta pensar nas diferenças entre a fala de um baiano, um gaúcho e um paulista do interior. Essas variações constituem os falares regionais e os dialetos. Veja no mapa quantos falares diferentes existem dentro da língua portuguesa: Dialetos do português brasileiro, , , 1 - Caipira, 5 - Gaúcho, 9 - Paulistano, 13 - Carioca 2 - Costa norte, 6 - Mineiro, 10 - Sertanejo, 14 - Brasiliense 3 - Baiano, 7 - Nordestino, 11 - Sulista, 15 - Serra amazônica 4 - Fluminense, 8 - Nortista, 12 - Florianopolitano, 16 - Recifense Fonte: Disponível aqui E aí, qual é o seu falar? O meu é caipira! 2) SOCIAIS O português falado pelas pessoas que têm acesso à educação de base de melhor qualidade e a meios de instrução e culturais mais avançados difere bastante daquele empregado por pessoas que foram privadas de escolaridade ou receberam uma educação de base mais empobrecida. As classes sociais mais elevadas têm um falar que a princípio gozam de mais prestígio, enquanto classes desfavorecidas sofrem preconceito linguístico – logo, a fala é também um instrumento de dominação social. A gíria também pode ser uma variação social da fala, pois são criadas dentro de uma comunidade restrita, seja um grupo de nerds ou uma quadrilha de contrabandistas. Veja uma entrevista com Marcos Bagno, professor da UnB e um dos maiores estudiosos brasileiros sobre preconceito linguístico. Aqui, ele explica o que é esse fenômeno e como o professor pode desconstruí-lo e ensinar a norma padrão sem incentivar o preconceito linguístico. Vale a pena! Acesse o link:Disponível aqui Discurso A palavra “discurso” é usada em vários sentidos nos estudos da linguagem e vai além daquela que certamente nos vem primeiro à mente: discurso como pronunciamento; como um texto lido por alguém para exaltar um tópico em especial, como o discurso de formatura ou o discurso político de palanque. Mas não é só nesse sentido que trataremos aqui. Discurso é quando o indivíduo utiliza suas competências linguísticas para organizar a fala. Trata-se de um conceito que ganhou destaque na França em 1969 com o filósofo Michel Pêcheux (leia-se “pechê”), que desenvolveu a análise do discurso junto com seu grupo de estudos. Posteriormente, Foucault também intensificou tais estudos. Segundo Pêcheux (1969, p. 82), discurso é o efeito de sentido que os interlocutores dão na troca de mensagens. Complicado? Pense assim: analisar um discurso é observar o homem falando não somente quanto ao o que ele diz, mas COMO ele diz; é analisar as construções ideológicas presentes na fala dele. Logo, tomemos que a palavra-chave para entender o que é discurso é sentido. Assim, os estudos do discurso abrangem não só a área de Linguística, mas também da Pedagogia, da Filosofia e das Ciências Sociais, pois a linguagem é uma produção social e uma possibilidade de agir sobre o outro indivíduo, e o discurso então agrega questões ideológicas que se apresentam nas estruturas sociais. Nas palavras de Basséggio e Dias, [...] discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado, considerando-se seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m). (BASSÉGGIO E DIAS, 2008, online. Grifomeu.) Um exercício mental: será que o discurso sobre tabagismo é o mesmo quando elaborado por um grande empresário da indústria de cigarros e quando proferido por um portador de enfisema pulmonar? Cada um tem seu discurso. Perceba que estão corretos enunciados do tipo: O governador adotou um discurso bastante radical contra algumas políticas públicas federais. Seu discurso é forte, você citou as principais bases científicas que o comprovem. O discurso jurídico é cheio de expressões em latim! Está na hora de a mídia adotar um discurso mais imparcial ao cobrir casos de grande repercussão. A ativista ambiental sempre manteve um discurso inflamado contra as grandes indústrias poluidoras. Para concluir, não nos esqueçamos de que o discurso geralmente está associado a um adjetivo que define qual é a vertente ideológica ou a área de conhecimento do texto: discurso progressista/conservador, discurso machista/feminista, discurso vazio, discurso social, político, filosófico, religioso, jurídico, populista, e por aí vai! Nesta aula estudamos: Linguagem Fala