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ARQUITETURA E URBANISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar os fatores de impedância em rotas acessíveis. > Reconhecer o desenho e o dimensionamento de rotas e ambientes aces- síveis. > Desempenhar o uso da norma na elaboração de ambientes acessíveis e rotas de circulação, incluindo os estacionamentos. Introdução A acessibilidade está relacionada a um espaço, interno ou externo, que qual- quer pessoa pode usar. Para que um local seja acessível, todas as pessoas, independentemente de suas condições ou limitações físicas, devem poder utilizá-lo. Podemos afirmar, com isso, que a acessibilidade abre possibilidades para que todos consigam participar da vida em sociedade em todos os seus âmbitos de maneira segura e justa. Neste capítulo, você vai conhecer alguns conceitos importantes para o estudo da acessibilidade, como os fatores de impedância em rotas acessí- veis. Vai estudar as dimensões mínimas gerais exigidas pela principal norma de acessibilidade utilizada no Brasil, a NBR-9050, e ver alguns exemplos de ambientes acessíveis, que colocam em prática essa norma. Acessibilidade Vanessa Guerini Scopel Fatores de impedância em rotas acessíveis Para que todos tenham acesso igualitário à vida em sociedade, a Norma NBR- 9050 regulamenta a acessibilidade a espaços, edificações, mobiliários e equi- pamentos, estabelecendo critérios e parâmetros técnicos para a construção destes, de modo que pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida possam acessá-los. A mesma norma conceitua “acessibilidade” da seguinte forma: Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida (ABNT, 2020, p. 2). Embora seja um conceito de amplo debate, neste contexto a deficiência pode ser compreendida como um “problema específico de uma disfunção no nível fisiológico do indivíduo, por exemplo, cegueira, surdez, paralisia” (DISCHINGER; ELY; PIARDI, 2012, p. 16), podendo ser múltiplas, cognitivas, sen- soriais ou motoras. A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência (BRASIL, 2011, p. 34) evidencia que elas devem “viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida”, tendo igualdade de oportunidades em todos os aspectos. Por sua vez, pessoas com mobilidade reduzida são aquelas que têm, “por qualquer motivo, dificuldade de movi- mentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção” (BRASIL, 2004, documento on-line), como idosos que vão perdendo a facilidade de locomoção ou visão ao longo do tempo. Para que algo seja acessível, portanto, todos devem poder acessá-lo ou usá-lo de forma completa e segura. Por exemplo, não basta projetar uma rampa se ela não tiver uma inclinação adequada, um corrimão e um piso antiderrapante. A rampa, por si só, não configura um espaço como acessível. Para gerar “ambientes, serviços, programas e tecnologias acessíveis, utilizáveis equitativamente, de forma segura e autônoma por todas as pessoas”, temos o desenho universal (SÃO PAULO, 2022, p. 6). Acessibilidade2 A NBR-9050 estabelece que as rotas acessíveis devem ser, por obrigação, contínuas, sinalizadas e desobstruídas, tendo como função interligar os dife- rentes ambientes de uma edificação, sejam eles internos ou externos. Além disso, qualquer pessoa deve poder utilizá-la, em qualquer condição, de forma autônoma e segura. As rotas acessíveis podem incorporar, por exemplo, “es- tacionamentos, calçadas rebaixadas, faixas de travessia de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros” (ABNT, 2020, p. 5). Considerando isso, podemos afirmar que uma rota acessível está relacionada a um trajeto, não somente a uma porção ou um ambiente, mas também a uma interligação entre espaços. Para que a rota de fato seja considerada acessível, além disso, nela não pode haver qualquer fator de impedância. Os fatores de impedância são quaisquer elementos ou condições que, de alguma maneira, possam interferir no fluxo das pessoas, como mobiliários urbanos dispostos em trajetos e em acessos a edificações, bem como can- teiros, vegetações, postes, entre outros que possam atrapalhar percursos. Esses fatores de impedância acabam ocasionando dificuldade para que as pessoas consigam realizar o trajeto do início ao fim de forma fácil e segura. Para que uma rota seja considerada acessível, não pode haver nela qualquer interferência. Por exemplo, em uma faixa livre, porção da calçada em que as pessoas utilizam para se locomover, não pode haver interferências. Por isso, no dimensionamento de faixas livres, existem valores adicionais calculados de acordo com uma fórmula específica para que os fatores de impedância não prejudiquem o fluxo. Nesse caso, os valores variam de acordo com o fator de impedância, como vitrines ou comércio no alinhamento, mobiliários urbanos e entrada de edificações junto ao alinhamento (ABNT, 2020). Especificações de rotas e ambientes acessíveis Uma das bases para pensar o desenho e o dimensionamento de rotas e ambientes acessíveis é o módulo de referência, uma projeção de 0,8 × 1,2 metros, tamanho de uma pessoa utilizando uma cadeira de rodas. Com essa referência, é possível compreender mais facilmente as dimensões mínimas de corredores e portas, por exemplo. Considerando esse módulo, temos as áreas de manobras para cadeiras de rodas para rotações de 90, 180 e 360 graus (Figura 1). Acessibilidade 3 Figura 1. Área para manobra de cadeira de rodas sem deslocamento (dimensões em metros). Fonte: ABNT (2020, p. 11). Considerando essas dimensões mínimas, imagine uma rota em que o cadeirante precisa dar um giro de 90 graus. A largura dessa rota deve ser de no mínimo 1,2 metros. Se ele precisar girar 180 graus para seguir na rota ou se houver a necessidade de ele retornar por essa mesma rota, a largura deverá ser de no mínimo 1,5 metros. Essas dimensões mínimas também são usadas para o acesso a diferentes ambientes, como banheiros e dormitórios. Nessas rotas, mobiliários ou equipamentos devem ser evitados. Se for realmente inevitável, existem algumas recomendações específicas para cada caso (ABNT, 2020). Nessas situações, é sempre importante lembrar que a acessibilidade é para todos. Pode ser que um elemento não seja perigoso para alguém que usa uma cadeira de rodas, mas pode ser inseguro para alguém que tem a visão comprometida, por exemplo. A seguir, vamos ver as especificações de outros elementos importantes para rotas acessíveis. Acessibilidade4 Proteção lateral Devem ser previstas proteções laterais ao longo do trajeto, a fim de impedir quedas. Na Figura 2, é possível perceber os diferentes tipos de desníveis e de proteções laterais exigidos pela NBR-9050. Observe que, para rotas que apresentam desnível de até 60 centímetros, indica-se uma proteção lateral de, no mínimo, 15 centímetros. Para trajetos em que há um desnível de rota maior do que 60 centímetros, indica-se uma proteção vertical em guarda-corpo. Figura 2. Exemplos de proteções contra queda (dimensões em metros). Fonte: Adaptada de ABNT (2020). Detalhe: borda com contraste visual medido através do LRV de no mínimo 60 pontos em relação ao piso. Desnível: 0,18 ≤ x ≤ 0,60 X X X X Área de circulação 1. Proteção lateral com h ≥ 0,15 2. Talude com inclinação ≥ 1:3 1. Proteção lateral com guarda corpo 2. Talude com desnível > 0,60 e inclinação ≥ 1:2 0,1 5 3 1 Área de circulação X > 0,60 X X X Sinalização Rotas acessíveis devem ter sinalização. Pode ser informativa, direcional ou de emergência, além de permanente ou temporária, visual, sonora ou tátil. Deve estar em portas,passagens, rampas, escadas, corrimãos e degraus. Acessibilidade 5 Rampa Configura-se como rampa uma superfície de piso que apresenta inclinação igual ou superior a 5%. Para garantir que sejam acessíveis, os limites máximos de inclinação devem ser respeitados, utilizando-se a fórmula a seguir e as especificações do Quadro 1. = ℎ × 100 onde: � i: inclinação (%); � h: altura do desnível; � c: comprimento da projeção horizontal. Observe a Figura 3. Figura 3. Dimensionamento de rampas. Fonte: ABNT (2020, p. 58). Acessibilidade6 Quadro 1. Dimensionamento de rampas Desníveis máximos de cada segmento de rampa h (m) Inclinação admissível em cada segmento de rampa i (%) Número máximo de segmentos de rampa 1,50 5,00 (1:20) Sem limite 1,00 5,00 (1:20)Para serem acessíveis, elas devem acrescentar em sua largura a dimensão de 1,20 metros, de modo a garantir a saída segura das pessoas que tenham alguma dificuldade (Figura 10). Figura 10. Exemplo de vaga acessível com faixa livre de 1,20 metros. Fonte: CET (2016, p. 16). Sempre consulte as atualizações das normas vigentes no site da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para garantir que você esteja ciente de quaisquer modificações que possam ter ocorrido. Neste capítulo, conhecemos conceitos importantes para estudar a acessi- bilidade, como fatores de impedância e rotas acessíveis. Vimos, também, como devem ser o desenho e o dimensionamento de rotas e ambientes para que sejam considerados acessíveis. Por fim, acompanhamos o uso da norma na elaboração de ambientes acessíveis e rotas de circulação, incluindo os Acessibilidade14 estacionamentos, banheiros e dormitórios. Em cada projeto, é importante consultar as regulamentações, para tornar todos os espaços adequados e seguros, garantindo que possam ser utilizados por todas as pessoas de forma igualitária e justa. Referências ABNT. NBR 9050:2020: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. São Paulo: ABNT, 2020. BRASIL. Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. 4. ed. Brasília, DF: Secretaria de Direitos Humanos, 2011. BRASIL. Decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000 [...]. Brasília, DF: Presidência da República, 2004. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEC&numero=5296& ano=2004&ato=e93UTVq5keRpWT529. Acesso em: 22 mar. 2022. CET. Manual de sinalização urbana: regulamentação de estacionamento e parada. São Paulo: CET, 2016. v. 10. DISCHINGER, M.; ELY, V. H. M. B.; PIARDI, S. M. D. G. Promovendo acessibilidade espacial nos edifícios públicos: programa de acessibilidade às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida nas edificações de uso público. Florianópolis: MPSC, 2012. SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Manual de instruções técnicas de acessibilidade para apoio ao projeto arquitetônico. São Paulo: SMPED, 2022. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/upload/pessoa_com_deficiencia/manual%20acessibilidade.pdf. Acesso em: 22 mar. 2022. Leitura recomendada FEIJÓ, A. R. A. O direito constitucional da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Revista da ENA, v. 1, p. 4, 2008. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Acessibilidade 15