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DO MANDATO
 Opera-se o mandato, quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. Não devemos confundir a palavra mandato com mandado. Mandado é uma ordem do juiz que deve ser cumprida. O juiz, ao desejar dar uma ordem, expede um mandado. Mandato “é contrato através do qual alguém (mandatário, ou procurador) recebe poderes de outra pessoa (mandante) para, em seu nome, executar atos de efeitos jurídicos ou administrar interesses”.
 A principal característica do mandato, que ressalta da expressão “em seu nome”, é a idéia de representação. Quem confere os poderes para a prática dos atos tem o nome de mandante; aquele, a quem os poderes são conferidos, chama-se mandatário ou procurador. Procurador, porque este se utiliza da procuração, que é o instrumento representativo do mandato, onde está os poderes que lhe foram conferidos para poder agir segundo a vontade do mandante.
 Em geral, todos os atos podem ser realizados por meio de procurador. Constitui requisito inafastável que o ato ou negócio colimado seja lícito e conforme os bons costumes e à moral. O objeto do mandato não se limita, porém, aos atos patrimoniais. A adoção e o reconhecimento do filho natural, por exemplo, podem ser efetuados por meio de mandato. Até mesmo o casamento, pode ser celebrado mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais (art. 1.542, CC). Alguns poucos, todavia, como o testamento, a prestação de concurso público, o serviço militar e outros, por serem personalíssimos, não podem ser praticados por representantes.
 
1. CARACTERÍSTICAS
 O traço característico do mandato é a representação. Vale dizer, alguém, não podendo ou não querendo realizar determinado negócio jurídico, outorga poderes à outra pessoa para representá-lo, juridicamente. O mandatário passa a ter o poder de agir em nome do mandante, praticando todos os atos como se este último estivesse atuando em pessoa. A conseqüência maior desse ato é que o mandatário obriga o próprio mandante diretamente em relação ao terceiro e este, também, diretamente em relação ao mandante, sem obrigar-se, ele próprio, pela operação realizada. Nessas condições, o mandatário pratica o ato, mas é o próprio mandante quem se obriga, respondendo por todos os atos daquele.
 O mandato é contrato personalíssimo, consensual, não solene, em regra gratuito e unilateral. É contrato porque resulta de um acordo de vontades. A aceitação pode ser expressa ou tácita. “O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa”.
 Face ao exposto, o mandato é consensual e unilateral, podendo ser bilateral, gratuito ou remunerado em casos especiais ou expresso. Em verdade, a representação é distinta do mandato, uma vez que pode haver representação sem mandato (na tutela) e mandato sem representação, como na comissão mercantil. “O mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito”.
a. Expresso - quando por escrito, a procuração é o instrumento do mandato.
b. Tácito - “quando a sua existência pode ser deduzida de circunstâncias de direito ou de fato, que o tornem certo para a prática de determinados atos pelo mandatário”
c. Verbal, será quando o mandato é outorgado oralmente, na presença do mandatário.
2. PESSOAS QUE PODEM OUTORGAR PROCURAÇÃO
 Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante. Não podem fazê-lo, destarte, os absolutamente e relativamente incapazes. Como os primeiros não assinam a procuração, a mesma deve ser outorgada pelo seu representante legal, pode ser dada por instrumento particular. Os menores púberes são assistidos pelos seus representantes legais e firmam a procuração junto com estes, devendo outorgá-la por instrumento público. 
 A capacidade é auferida na data da celebração do contrato.
3. REQUISITOS E SUBSTABELECIMENTO
 Sendo de natureza consensual, o mandato não exige requisito formal para a sua validade, nem para a sua prova. O mandatário, depois de aceitar o mandato, pode fazer-se substituir na execução do encargo recebido, transferindo para outra pessoa a incumbência recebida. Se isto acontecer, o substabelecido passa a ocupar a posição do mandatário, representando o mandante. A transferência realizada pelo mandatário por ato escrito, da execução do encargo recebido para outra pessoa, recebe o nome de substabelecimento.
 Quando o substabelecimento é feito com reservas de poderes, o substabelecente conserva os poderes recebidos, para poder usá-los juntamente com o substabelecido, total ou parcialmente; sendo sem reserva, a cessão dos poderes é integral e o mandatário desvincula-se do contrato, que passa á responsabilidade exclusiva do substabelecido. Por ser definitiva, equivale á renúncia ao poder de representação. No substabelecimento com reservas de poderes, ao procurador é dado reassumi-los em qualquer momento, por se tratar de transferência provisória.
4. RATIFICAÇÃO DO MANDATO
 Os atos praticados fora dos limites expressos do mandato são ineficazes, não obrigando o mandante. Contudo, os atos praticados nessas condições pelo mandatário podem ser ratificados pelo mandante, expressa ou tacitamente. A ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato. Com a ratificação, ficará o mandatário exonerado de toda e qualquer responsabilidade, pois a ratificação empresta ao ato a validade que faltava.
 Diz-se expressa, se o mandante declarar a intenção de ratificar os atos praticados sob excesso de poder, podendo fazê-lo oralmente, desde que a natureza do ato que está sendo ratificado não exija prova por escrito.
 A ratificação tácita é aquela que resulta de ato inequívoco por parte do mandante, aprovando em silêncio a atuação do mandatário quanto ao excesso consumado. Por exemplo, se o mandatário não tinha poderes para locar um imóvel e o fez, a ratificação será tácita se o locador continuar a receber os aluguéis.
5. OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO
 De um modo geral, as obrigações do mandatário se resumem em duas: a execução do mandato e a prestação de contas. Se o mandatário aceita o mandato, assume uma obrigação: a de desempenhar bem a incumbência que lhe foi atribuída, devendo, portanto, aplicar toda a sua diligência na execução do mandato. E não pode, sem justa causa, deixar de dar cumprimento a essa obrigação.
 Se não existir justa causa, o mandatário responde pelos prejuízos causados pelo não cumprimento do mandato ou daquele a quem substabeleceu sem autorização. O mandatário é obrigado, ainda, a pagar juros sobre importâncias que devia entregar ao mandante, ou sobre as importâncias que recebeu para as despesas, mas que empregou em proveito próprio.
 A prestação de contas é uma obrigação inserida ao mandato, pois uma vez terminada a execução, o mandatário deve dar contas de sua gerência ao mandante. Em suma, a finalidade da prestação de contas é demonstrar a fiel execução do mandato. Somente no caso da procuração em causa própria ou daquele em que conste, expressamente, a dispensa de tal encargo, é que o mandatário estará desobrigado a prestá-las. 
6. OBRIGAÇÕES DO MANDANTE
 É sabido que o mandatário age em nome do mandante; que é este quem se obriga perante terceiros, desde que o ato daquele ocorra dentro dos limites do mandato. O mandante é obrigado a responder pelos atos praticados, em seu nome, pelo mandatário. “O mandante é obrigado a satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário, na conformidade do mandato conferido.
 Outra obrigação do mandante é a de suprir os meios para
a execução do mandato, pois o mandatário, agindo em nome do mandante, realiza para este um ou mais negócios. Para tanto, é preciso que o mandante forneça os meios indispensáveis ao bom desempenho do mandato.
 No contrato de natureza onerosa, o mandante possui ainda a obrigação de pagar a remuneração do mandatário, mesmo que a quantia relativa ao desempenho do mandato não tenha sido ajustada previamente. Aliás, esse pagamento será devido, ainda que o negócio realizado pelo mandatário, para o mandante, não surta nenhum dos efeitos esperados, “salvo tendo o mandatário culpa” (CC, art. 676). Na hipótese de o mandatário adiantar a importância para a execução do mandato, o mandante é obrigado a pagar juros, “desde a data do desembolso” (CC, art. 677).
 Finalmente, o mandante é obrigado a ressarcir as perdas sofridas pelo mandatário, com a execução do mandato, sempre que não resultem de culpa sua, ou excesso de poderes (CC, art. 678). Resumindo, o mandante tem a obrigação de:
1º - Satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário, desde que dentro do limite do mandato;
2º - Adiantar a importância das despesas necessárias à execução do mandato, quando o mandatário lhe pedir;
3º - Pagar a remuneração ajustada com o mandatário, mesmo que o resultado obtido não seja satisfatório ou não surta o esperado efeito;
4º - Pagar juros pelas importâncias adiantadas pelo mandatário;
5º - Ressarcir o mandatário pelos prejuízos sofridos com a execução do mandato, sempre que não resultem de culpa sua, ou excesso de poderes. Mesmo que o mandatário contrarie as instruções do mandante, se não excedeu os limites do mandato, ficará o mandante obrigado em relação àqueles com quem o seu procurador contratou.
 Ressalte-se, ainda que, se o mandato for outorgado por duas ou mais pessoas, e para negócio comum, cada uma ficará solidariamente responsável por todos os compromissos e efeitos do mandato, salvo direito regressivo, pelas quantias que pagar, contra os outros mandantes.
7. EXTINÇÃO DO MANDATO
 O Código Civil, no seu art. 682 enumera, ainda, os vários casos em que o mandato se extingue. Diz este artigo, in verbis: “Cessa o mandato:
I – pela revogação ou pela renúncia;
II – pela morte ou interdição de uma das partes;
III – pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para exercê-los.
IV – pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio”.
I – PELA REVOGAÇÃO POR VONTADE DO MANDANTE:
 
 “O mandato é um negócio baseado na confiança, portanto, este só deverá perdurar enquanto esta existir. O mandato, além de ser, em regra, revogável, é um negócio baseado na confiança e, quando esta desaparece, pode o mandante, a qualquer tempo e sem dar explicações, revogar a procuração, assim como pode, também, o mandatário fazer o mesmo, renunciando a ela. 
 A revogação pode ser expressa ou tácita. Será expressa, quando o mandante notifica o procurador, informando que a procuração foi revogada. A revogação tácita ocorre quando o mandante pratica atos que contrariem o exercício próprio do mandatário. 
II – PELA RENÚNCIA DO MANDATÁRIO
 A renúncia provém da vontade unilateral do mandatário, assim como a revogação, como vimos, provém da manifestação unilateral do mandante. A renúncia é também caso de resilição unilateral, meio pelo qual o mandatário faz cessar o mandato. A renúncia deve ser sempre expressa e comunicada ao mandante, para que este tenha condições de providenciar a substituição do renunciante ou tomar pessoalmente a gestão do negócio, sob pena de responder por perdas e danos. 
III – PELA MORTE DE UMA DAS PARTES
 A morte do mandante ou do mandatário é um caso de cessação do contrato. Porém, se falecer o mandante, o contrato cessa somente quando o mandatário tiver conhecimento do fato, sendo válidos os atos que praticar enquanto o ignore. 
 No caso de morte do mandatário, o art. 690 do CC é expresso: “Se falecer o mandatário, pendente o negócio a ele cometido, os herdeiros, tendo ciência do mandato, avisarão o mandante, e providenciarão a bem dele, como as circunstâncias exigirem”.
IV – PELA INTERDIÇÃO DE UMA DAS PARTES
 Se uma das partes torna-se incapaz, cessa o mandato, o que ocorre no momento em que a sentença declaratória de interdição transitar em julgado. É claro que valerão os atos ajustados pelo mandatário com terceiro de boa-fé, como já vimos.
V – PELA MUDANÇA DE ESTADO, QUE INABILITE O MANDANTE A CONFERIR OS PODERES, OU O MANDATÁRIO PARA OS EXERCER.
 A mudança de estado pode fazer cessar o mandato. Por exemplo, se o mandante é solteiro e outorgou procuração para alienar certo imóvel, o casamento faz cessar o mandato, porque a lei exige o consentimento da esposa para tal ato.
VI – PELO TÉRMINO DO PRAZO OU PELA CONCLUSÃO DO NEGÓCIO
 O mandato dado para determinado negócio cessa com a conclusão deste. O mesmo acontece em relação ao término do prazo do mandato.
8. MANDATO JUDICIAL
 Mandato judicial é outorgado à pessoa legalmente habilitada para a defesa de direitos e interesses em juízo. São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, pois o ingresso das partes em juízo requer, alem da capacidade legal, a outorga de mandato escrito a advogado habilitado. O mandato judicial é oneroso.

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