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Francisco Gilberto Fernandes Pereira Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho Bruna Michelle Belém Leite Brasil (Organizadores) Segurança do Paciente reflexões teórico-filosóficas e aplicação prática 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DO CEARÁ Fortaleza – Ceará 2019 Copyright 2019. Francisco Gilberto Fernandes Pereira, Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho, Bruna Michelle Belém Leite Brasil (Organizadores). Editora Janete Pereira do Amaral Revisão do Texto Bruna Michelle Belém Leite Brasil Normalização e Padronização Luiza Helena de Jesus Barbosa - CRB-3/830 Programação Visual e Diagramação Janete Pereira do Amaral Dados Internacionais de Catalogação na Fonte S456 Segurança do paciente: reflexões teórico-filosóficas e aplicação prática / Organizadores: Francisco Gilberto Fernandes Pereira, Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho, Bruna Michelle Belém Leite Brasil. Fortaleza: Centro Universitário Estácio do Ceará, 2019. 194p.; 30cm. ISBN 978-85-69235-32-3 1. Cuidados de enfermagem 2. Gestão de segurança 3. Promoção da saúde I. Pereira, Francisco Gilberto Fernandes II. Carvalho, Rhanna Emanuela Fontenele Lima de III. Brasil, Bruna Michelle Belém Leite IV. Centro Universitário Estácio do Ceará. CDD 610.73 Bibliotecária Luiza Helena de Jesus Barbosa CRB-3/830 CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DO CEARÁ Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Núcleo de Publicações Acadêmico-Científicas CONSELHO EDITORIAL Dr. Alberto Sampaio Lima - Universidade Federal do Ceará Dra. Ana Cristina Pelosi - Universidade Federal do Ceará Ms. Ana Flávia Alcântara Rocha Chaves - Centro Universitário Estácio do Ceará Dra. Andrine Oliveira Nunes - Centro Universitário Estácio do Ceará Ms. Janete Pereira do Amaral - Centro Universitário Estácio do Ceará Ms. Joana Mary Soares Nobre - Centro Universitário Estácio do Ceará Dra. Kariane Gomes Cezario - Centro Universitário Estácio do Ceará Dra. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos - Centro Universitário Estácio do Ceará, Universidade Estadual do Ceará, Universidade Federal do Ceará Dra. Marcela Magalhães de Paula - Embaixada do Brasil na Itália Dra. Maria Elias Soares – Universidade Federal do Ceará e Universidade Estadual do Ceará Dra. Maria da Graça de Oliveira Carlos – Centro Universitário Estácio do Ceará Dra. Margarete Fernandes de Sousa – Universidade Federal do Ceará Dra. Rosiléia Alves de Sousa – Centro Universitário Estácio do Ceará Dra. Suelene Silva Oliveira Nascimento - Universidade Estadual do Ceará Dr. Vasco Pinheiro Diógenes Bastos - Centro Universitário Estácio do Ceará __________________________________________________ Núcleo de Publicações Acadêmico-Científicas Rua Vicente Linhares, 308 - Aldeota CEP: 60.135-270 - Fortaleza – CE - Fone: (85) 3456-4100 www.publica-estaciofic.com.br SOBRE OS ORGANIZADORES FRANCISCO GILBERTO FERNADES PEREIRA – UFPI Enfermeiro - Universidade de Fortaleza. Doutorando em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Farmacologia pela Universidade Católica Dom Bosco. Integrante do Grupo de Pesquisa, Segurança, Tecnologia e Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde-UECE Professor do curso de graduação em enfermagem da Universidade Federal do Piauí. RHANNA EMANUELA FONTELENE LIMA DE CARVALHO – UECE Enfermeira - Universidade Federal do Ceará - UFC. Mestre e Doutora em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP). Docente da Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará Docente da Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde e do Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente. Tutora do Programa de Educação Tutorial - PET/ Enfermagem/UECE. Membro da Rede Brasileira de Segurança do Paciente (REBRAENSP-Ceará). Líder do Grupo de Pesquisa Segurança, Tecnologia e Cuidados Clínicos. BRUNA MICHELLE BELÉM LEITE BRASIL Enfermeira - Universidade Federal do Ceará-UFC. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde - UECE Mestre em Enfermagem -UFC Especialista em Unidade de Terapia Intensiva - UECE Integrante do Grupo de Pesquisa, Segurança, Tecnologia e Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde -UECE Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Estácio do Ceará. Docente da Especialização em Emergência e UTI no Centro Universitário Estácio do Ceará. Docente da Especialização de Saúde do Idoso da Universidade Estadual do Ceará. LISTA DE AUTORES Ana Lívia Araújo Girão .............................................. 5, 53, 143 Antônio Rubens Alves da Silva ........................................... 115 Bruna Michelle Belém Leite Brasil .........................1, 2, 85, 99 Consuelo Helena Aires de Freitas....................................... 131 Edgla Graciela Ferreira Moreira de Brito .......................... 163 Fernanda Fontenele .............................................................. 143 Fernanda Pereira de Sousa ................................................... 115 Francisco Gilberto Fernandes Pereira .............. 1, 2, 5, 17, 31 Isabelly Costa Lima de Oliveira ...................................... 17, 53 Ismael Brioso Bastos ........................................................ 85, 99 Katarina Milly Pinheiro de Sousa........................................ 115 Lúcia de Fátima da Silva......................................................... 69 Maria Célia de Freitas .......................................... 41, 69, 85, 99 Maria Isis Freire de Aguiar .................................................. 131 Maria Lígia Silva Nunes Cavalcante ..................................... 41 Maria Salete Bessa Jorge ....................................................... 131 Maria Vilani Cavalcante Guedes .................... 5, 41, 69, 85, 99 Mayara Magna dos Santos ................................................... 143 Patrícia Freire de Vasconcelos .................................... 115, 131 Pedro Holanda Souza Neto ................................................. 115 Raelly Ramos Campos Ximenes ..................................... 85, 99 Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho1, 2, 5, 17, 31, 41, 53, 69, 85, 99, 131 Roberta Meneses Oliveira .................................................... 163 Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos .......................... 131 Samia Freitas Aires ............................................................ 17, 31 Samla Sena da Silva Souza ..................................................... 69 Sherida Karanini Paz de Oliveira ........................................ 143 Tamires Ferreira do Nascimento ........................................ 115 Vanessa Emille Carvalho de Sousa Freire ......................... 115 Vitória Talya dos Santos Sousa ........................................... 131 1 SUMÁRIO PARTE I – REFLEXÕES TEÓRICO- FILOSÓFICAS SOBRE SEGURANÇA DO PACIENTE ....................................................... 3 PENSAMENTO, LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO: REFLEXÕES FILOSÓFICAS PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO PACIENTE ............. 5 CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO PACIENTE: UMA COMBINAÇÃO NECESSÁRIA NAS PRÁTICAS DE SAÚDE ........................17 O CUIDADO DE SI E A PARTICIPAÇÃO DO PACIENTE PELA SUA SEGURANÇA ...................................31 A LINGUAGEM DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DO CUIDADO, DO ENSINO E DA PESQUISA ................41 SISTEMAS INTERATUANTES DE KING, COMUNICAÇÃO E SEGURANÇAde conhecimentos In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM 48. São Paulo. Anais. São Paulo, Associação Brasileira de Enfermagem, Seção São Paulo, 1996, p.337-345. 51 TERRA, A.C.; VAGHETTI, H.H. Proxemics communication in nursing work: an integrative literature review. Ciência e Enfermeria, v. 20, n. 1, p. 23-34, 2014. TERRA, M.G.; GONÇALVES, L.H.T.; SANTOS, E.K.A.; ERDMANN, A.L. Fenomenologia de Maurice Merleau- Ponty como referencial teórico-filosófico numa pesquisa de ensino em enfermagem. Rev. Gaúcha Enferm., v. 30, n.3, p. 547-51, 2009. VALE, E.G.; SILVA, M.J. A Pesquisa em Enfermagem e os novos rumos a partir do SENPE. Rev Bras Enferm., v. 68, n.4, p.571-2, 2015. 52 53 SISTEMAS INTERATUANTES DE KING, COMUNICAÇÃO E SEGURANÇA DO PACIENTE: aplicabilidade da teoria de enfermagem* Ana Lívia Araújo Girão Isabelly Costa Lima de Oliveira Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho INTRODUÇÃO A Segurança do paciente representa um dos maiores desafios enfrentados para os prestadores do cuidado, reabilitação e cura na área da saúde. A abordagem do tema ganhou relevância mundial, após o ano 2000, com a divulgação do relatório To err is human pelo Institute of medicine o qual demonstrou que erros são frequentes durante a prestação dos cuidados de saúde. Dessa maneira, esse documento revelou a necessidade que os sistemas de saúde fossem repensados para garantir a segurança do paciente, afirmando que o cuidado, que antes era executado de forma mais simples e segura, agora se dá de maneira mais complexa e efetiva, porém potencialmente perigosa (KOHN; CORRIGAN; DONALDSON, 2000). Após a ascensão das discussões sobre como prestar uma assistência de qualidade e segura a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2004, criou o projeto Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, cujo objetivo principal era definir metas e estratégias para que fossem diminuídos os riscos e danos decorrentes do cuidado (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004). No contexto brasileiro, o Ministério da Saúde instituiu em 2013 54 a portaria que criaria o Programa Nacional de Segurança do Paciente, compartilhando os mesmos objetivos de envolver paciente, família e profissionais nas ações de segurança (BRASIL, 2013). Dentre as metas internacionais estabelecidas pela OMS, e adotadas pelo Brasil, destaca-se o estabelecimento efetivo da comunicação e da interação como um alvo a ser atingido para que possam ser mitigados os eventos adversos e danos. E, ao tratar-se da Enfermagem, a qual possui a comunicação como um instrumento básico do processo de cuidar, é fundamental que se viabilize a construção de um relacionamento efetivo com a equipe e com paciente. Por meio da comunicação, a equipe de enfermagem pode compreender melhor as necessidades do paciente e da família, e para fundamentar o desenvolvimento de um cuidado científico optou-se pelo modelo conceitual dos sistemas interatuantes de Imogene King. A teórica desenvolveu dois arcabouços: o Modelo Conceitual de Sistemas Abertos Interatuantes e a Teoria do Alcance de Metas, e dentre os diversos objetivos propostos por ela, o mais intencional foi procurar centrar-se no que a condição do doente exige ou o que o doente deseja (BORGES et al, 2017). Ao adentrar nos conceitos estruturados por King e optar pelo estudo aprofundado dos sistemas interatuantes, a comunicação se destaca como uma das chaves para a compreensão do modelo conceitual. Assim, elegeu-se fundamentar a comunicação como ferramenta para o desenvolvimento de um cuidado de enfermagem mais seguro. 55 Questiona-se, então, como a teoria dos sistemas interatuantes proposta por King pode ser aplicável as questões relacionadas a segurança do paciente no cuidado de enfermagem? A partir dessa indagação objetivou-se tecer uma reflexão acerca da aplicabilidade da teoria dos sistemas interatuantes de Imogene King aos conceitos e práticas da comunicação e da segurança do paciente nas instituições de saúde. Espera-se que possamos viabilizar uma discussão que desperte o interesse nos profissionais para proporcionar um cuidado seguro através da fundamentação de uma teoria de enfermagem. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: ESTRUTURA DOS SISTEMAS DE INTERAÇÃO DE IMOGENE KING Conceitualmente em sua teoria King define saúde como “experiências dinâmicas da vida de um ser humano, o que implica em ajustamento a estressores no ambiente interno e externo” e Enfermagem como “um processo de ação, reação e interação através do qual enfermeira e cliente partilham informações sobre suas percepções na situação de enfermagem”. Por meio dessas definições percebe-se o interesse da teórica em explanar a percepção, o pensamento e julgamento dos indivíduos envolvidos em uma relação de cuidado (SIELOFF, 2004). O modelo conceitual de sistemas abertos interatuantes é descrito a partir de três sistemas interativos: pessoal, interpessoal e social. Cada um deles identifica o ser humano como elemento básico, e a unidade de análise é o comportamento em diferentes ambientes (SIELOFF, 2004; MOREIRA; ARAÚJO, 2002). 56 O sistema pessoal, ou seja, consigo mesmo compreende os conceitos de imagem corporal, ego, percepção, crescimento, desenvolvimento, tempo e espaço. No sistema interpessoal que trata das interações da pessoa com os grupos, e que pode ser composta por díades (enfermeiro-paciente) ou ainda tríades (enfermeiro- paciente-família), estão presentes os conceitos de interação, função, stress, transações e comunicação, esse último que é o ponto de destaque para nossa aproximação com a segurança do paciente. Já o sistema social diz respeito aos grupos que o indivíduo participa (religião, educação, costumes, cuidados específicos de saúde), estão presentes os conceitos de autoridade, tomada de decisão, organização, poder e estatuto (MOREIRA; ARAÚJO, 2002). Cada conceito desse esquema representa as dimensões organizativas e o conhecimento essencial para que se perceba as interações entre os três sistemas. Essa primeira parte da teoria de King representa uma forma mais concreta de visualizar a aplicabilidade dos conceitos oferecidos pelo referencial, além de ser também a base para a Teoria do Alcance de Metas. A autora utiliza a abordagem dos sistemas de interação para facilitar a compreensão de que se faz necessário estudar o sistema como todo e não apenas partes fragmentadas, a figura 1 exemplifica o sistema interatuante e mostra as relações que acontecem em cada nível e que podem as modificações resultante em cada nível podem refletir nos níveis subsequentes. Outro ponto de destaque que ela exemplifica nesse esquema conceitual são as transações humanas em vários tipos de ambientes e não a fragmentação entre os seres humanos e o ambiente (SIELOFF, 2004). 57 Baseando-se na apropriação do conhecimento acerca dos sistemas interatuantes de King, este tópico destaca a relevância do sistema interpessoal para que se torne possível a compreensão de que ele permeia fatores que podem interferir na comunicação e na interação entre enfermeiros e usuários. Na enfermagem, ao agir de modo a estabelecer interação com as pessoas cuidadas, os enfermeiros compreenderiam e praticariam o cuidado como ação capaz de propiciar as melhores condições ambientais e conceituais possíveis para favorecer o desenvolvimento humano, sob o ponto de vista bio-psico- espiritual do indivíduo e familiar, visando a promoção ou o restabelecimento da saúde, a partir da relação interativa (MOREIRA; ARAUJO; PAGLIUCA, 2001). Figura 1- Sistemas dinâmicos de interação Fonte: King, 1981 58 INTERAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO INSTRUMENTOS EFETIVOS DE SEGURANÇA NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE Autores afirmam que o processo de interações entre dois ou mais indivíduos representa uma sequência de comportamentos verbais e não-verbais que são metadirigidos, assim pode-se considerar que cada indivíduo sofre influênciasda integridade mental, de suas necessidades, objetivos, expectativas, percepções e experiências passadas (BEZERRA et al, 2010). Pela interação, os seres humanos influenciam a forma de agir e de pensar um do outro, isto é, assume-se um nível de interdependência na relação. Por meio das relações interpessoais, com o uso do processo de comunicação na sua complexidade, criam-se laços de interação. E essa interação precisa ser estendida ao paciente de modo a proporciona-lhe acolhimento para que se consiga identificar e resolver os problemas trazidos por eles (RENNÓ; CAMPOS, 2014). Nesse contexto, para que condução do cuidado de enfermagem seja eficaz é fundamental desenvolver habilidades de modo a aplicar bem o processo de comunicação como uma importante base para a interação com o paciente, considerando as suas modalidades: verbal e não-verbal. King descreve que para se concretizar, a comunicação verbal depende de símbolos que compõem a linguagem, incluindo a língua falada e escrita. O toque, considerado expressão não verbal de comunicação, assim como demonstração de distanciamento, a postura, a expressão facial, a aparência física e os movimentos corporais, podem significar interesse, indiferença, desânimo, entre outras aparências (KING,1982). 59 Além da interação com o paciente, é fundamental destacar a interação entre enfermeiro e os demais profissionais, evidenciada também pelos sistemas interpessoais da teorista, já que a enfermagem é uma profissão praticada em equipe, em que a atuação de seus membros se complementa. Também por isso, é preciso valorizar e entender as múltiplas relações que permeiam o processo de comunicação no cuidado em saúde/enfermagem e enfrentar o desafio de ser um agente transformador, adotando uma prática baseada na comunicação sensível. Nesse intuito, os profissionais poderão entender e compreender melhor suas formas de lidar com esse objeto - a comunicação - não só no que se refere a sua relação com a equipe, mas ao cuidado do paciente, e com a equipe multidisciplinar (BROCA; FERREIRA, 2012). Acredita-se, portanto, que para se alcançar a interação entre os profissionais da equipe de enfermagem, e até mesmo da equipe de saúde em geral, é importante o compartilhamento e trocas de saberes e experiências para que haja o crescimento gradual do relacionamento interpessoal (SANTOS et al, 2013). SISTEMAS INTERATUANTES E A PROMOÇÃO DA CULTURA DE SEGURANÇA DO PACIENTE No que diz respeito a relevância dos erros de comunicação nas instituições de saúde e sua influência no comprometimento da segurança do paciente, dados do Institute of medicine revelaram que a atenuação dos problemas decorrentes da falta de comunicação poderia economizar 60 $240 bilhões por ano nos EUA (INSTITUTE OF MEDICINE, 2010). Diante do exposto, é importante ressaltar que a enfermagem é a equipe que mais interage com o paciente, onde há demasiadas atribuições, e na maioria das vezes os pacientes, família e a sociedade apresentam dificuldades de reconhecer os diferentes integrantes da equipe de enfermagem, fato esse que pode ser solucionado quando cada profissional se identifica citando nome, categoria e o procedimento a ser realizado, assim conferirá mais segurança ao paciente (STEFANELLI; CARVALHO, 2012). A comunicação é essencial para o relacionamento enfermeiro/paciente. Pela maneira de se expressar, o profissional de enfermagem pode identificar os significados que o paciente atribui à situação de adoecimento. Dessa maneira, destaca-se a comunicação terapêutica como a competência do profissional de saúde em compreender a interação humana para ajudar o outro a descobrir e utilizar sua capacidade e seu potencial para solucionar conflitos, reconhecer as limitações pessoais, ajustar-se ao que não pode ser mudado e a enfrentar os desafios a autorrealização, procurando aprender a viver da forma mais saudável possível (STEFANELLI; CARVALHO, 2012). Também é fundamental ressaltar que a comunicação é essencial para a relação entre enfermeiro e equipe de saúde. Estudos apontam que falhas no trabalho em equipe e na comunicação entre os profissionais de saúde tem sido um dos principais fatores que contribuem para os erros médicos, eventos adversos e, consequentemente, diminuição da qualidade dos cuidados (MARTINS et al, 2014). 61 Entre os principais desafios encontrados para a comunicação efetiva no trabalho em equipe da saúde, tem- se: a diversidade na formação dos profissionais, em que o treinamento para comunicação pode diferir entre os indivíduos; a tendência de uma mesma categoria profissional se comunicar mais uns com os outros; o efeito da hierarquia, geralmente com o médico ocupando posição de maior autoridade, situação que pode inibir os demais membros da equipe interdisciplinar (ROWLANDS; CALLEN, 2013). Dessa maneira, a inexistência de equipe torna as dificuldades maiores, e as ferramentas para aprimorar a comunicação passam a ser menos efetivas. Outro importante ponto dessa discussão é reconhecer que, em um ambiente no qual o cuidado é exageradamente fragmentado, além do necessário e do justificável, a efetividade também fica comprometida. A fragmentação do cuidado é considerada por muitos especialistas em segurança do paciente um dos grandes desafios ou problemas da atualidade. Na saúde, o resultado de uma fragmentação necessária e da injustificável gera grande vulnerabilidade aos erros de comunicação nas transferências de pacientes ou nas trocas de informações (BARCELLOS, 2014). A literatura descreve que os profissionais de saúde convivem constantemente com problemas de comunicação, os quais, consequentemente, interferem na continuidade, qualidade e consecução do trabalho ou na satisfação das necessidades dos profissionais, de forma que o trabalho transcorra de maneira produtiva e eficaz (BROCA; FERREIRA, 2012). A comunicação é, portanto, em uma importante e essencial ferramenta na obtenção de valiosas 62 informações para a condução terapêutica (ALMEIDA; CIOSAK, 2014). Diante do exposto, no contexto da promoção da segurança fundamentada pela teoria, aqui abordada em seus níveis de sistemas pessoal, interpessoal e social, destaca-se a definição da cultura de segurança do paciente, que pode ser compreendida como valor, atitude, norma, crença, práticas, políticas e comportamentos da equipe, instituição, profissionais da saúde e do paciente, substituindo a culpa e a punição pela oportunidade de aprender com as falhas e melhorar o cuidado em saúde (TOBIAS et al, 2014). Ao fundamentarmos os estudos da comunicação como meta internacional de segurança do paciente e buscarmos a sua compreensão a partir dos sistemas interatuantes de King, acredita-se que a forma como os enfermeiros são em essência (sistemas pessoais), como interagem com os demais (sistemas interpessoais) e com o seu ambiente (sistemas sociais) é substancial para preservar a saúde do paciente. Nesse contexto, a segurança do paciente se apresenta de maneira transversal aos três sistemas já que é desenvolvida a partir de uma cultura de segurança que deve existir da essência dos profissionais às políticas institucionais, conforme ilustra o modelo a seguir: 63 Figura 2- Sistemas dinâmicos de interação para a segurança do paciente Fonte: elaborada pelos autores Com base nas reflexões, considerando a segurança como atributo da qualidade, ressalta-se que a qualidade da assistência ao paciente provém de um atendimento seguro, e, para isso, é necessária uma cultura de segurança estabelecida. Essa cultura envolve o comprometimento da instituição e de seus gestores em identificar a necessidade da cultura de segurança e estabelecê-la como eixo norteador de sua organização, além de envolver-se com as situações cotidianas e buscar conhecer as dificuldades e desafios que o prestador do cuidado direto enfrenta diariamente, para, assim, criar um canalde comunicação efetivo com os níveis hierárquicos e permitir a construção da confiança entre todos os envolvidos (PAESE; DAL SASSO, 2013). 64 Assim, acredita-se que uma cultura organizacional pautada na comunicação efetiva para a segurança do paciente, refletirá positivamente no cuidado de enfermagem, nos processos assistenciais interdisciplinares e, consequentemente, na qualidade dos serviços e satisfação do paciente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que a segurança do paciente mesmo sendo uma área de destaque relativamente nova na saúde, mostra sua relevância por ser transversal a todas as profissões, e está imbuída no cuidado de excelência que deve ser prestado. A enfermagem como profissão que tem o seu fazer centrado no cuidado deve estar mais envolvida e atuante nas medidas de segurança. A abordagem do Modelo Conceitual de Sistemas Interatuantes proposto por King, desenvolvendo os conceitos de Interação e Comunicação como instrumentos para segurança do paciente é inovadora, pois nos leva a refletir sobre a base das nossas relações como profissionais e como pessoa. Foi compreendido que o cuidado prestado não está apenas nos atos, se fazendo fundamental entender e absorver relações paralelas, as quais são de fato diferenciais quando se deseja individualizar o cuidado disposto ao paciente. Um dos princípios que fortalecem a cultura de segurança dentro das instituições de saúde é considerar os valores, percepções, crenças e comportamentos dos indivíduos e equipe. A partir dessa compreensão pode-se trabalhar com uma realidade mais próxima da desejada pelos envolvidos, e, desse modo, através da comunicação 65 efetiva e da interação, alcançar a solução de possíveis conflitos que implicariam em um cuidado inseguro e desqualificado. Ao tratar de questões relacionadas à promoção da segurança, compreender e estabelecer uma comunicação efetiva, seja entre enfermeiro-paciente e enfermeiro-equipe, mitiga as possibilidades de erros e danos. Acredita-se que essas reflexões possam direcionar o enfermeiro que ao trilhar o percurso em busca da melhoria da sua assistência, precisa estabelecer a comunicação como uma ferramenta de segurança, reconhecendo sua importância e valorização. Constata-se também a importância de aprofundar, por meio de outros estudos, essas questões, que por sua amplitude, não permitem esclarecimento a partir somente dessa reflexão. Espera-se, portanto que esse estudo sirva de pontapé inicial para que questões relacionadas à garantia da segurança do paciente estejam imbrincadas no ato de relacionar-se do enfermeiro. REFERÊNCIAS ALMEIDA, R.T.; CIOSAK, S.I. Comunicação do idoso e equipe de Saúde da Família: há integralidade? Rev. Latino- Am. Enfermagem, v.21, n.4, 2013. BARCELLOS, G.B. Comunicação entre os profissionais de saúde e a segurança do paciente. Fundação Oswaldo Cruz. Paulo Sousa e Walter Mendes, organizadores. Segurança do Paciente: criando organizações de saúde seguras. Rio de Janeiro: EAD/ENSP; 2014. p. 139-158. BEZERRA, S.T.F. et al. Percepção de pessoas sobre a hipertensão arterial e conceitos de Imogene King. Rev Gaúcha Enferm, v.31, n.3, p. 499-507, 2010. 66 BORGES, J.W.P. et al. Relação enfermeiro-paciente adulto: Revisão integrativa orientada pelo sistema interpessoal de King. Rev. Enferm. UFPE on line, v.11 n.4, p. 1769-1778, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. BROCA, P.V.; FERREIRA, M.A. Equipe de enfermagem e comunicação: contribuições para o cuidado de enfermagem. Rev. Bras. Enferm, v.65, n.1,p. 97-103, 2012. INSTITUTE OF MEDICINE. The healthcare imperative: lowering costs and improving outcomes: workshop series summary. Washington, DC: The National Academies Press; 2010. KING, I. A theory for nursing: systems, concepts, process. Tampa, Florida: Delmar Publishers; 1981,181p. KOHN, L.; CORRIGAN, J.; DONALDSON, M., editors. To Err Is Human: Building a Safer Health System. Washington (DC): National Academies Press; 2000. MARTINS, C.C.F. et al. The nursing team’s interpersonal relationships v. stress: limitations for practice. Cogitare enferm, v.19, n.2, p. 287-93, 2014. MOREIRA, T.M.M.; ARAÚJO, T.L. O modelo conceitual de sistemas abertos interatuantes e a teoria de alcance de metas de imogene king. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 10, n.1, p.97-107, 2002. MOREIRA, T.M.M.; ARAUJO, T.L; PAGLIUCA, L.M.F. Alcance da Teoria de King junto a famílias de pessoas 67 portadoras de hipertensão arterial sistêmica. Rev Gaúcha Enferm, v. 22, n. 1, p. 74-89, 2001. PAESE, F.; DAL SASSO, G.T.M. Cultura da segurança do paciente na atenção primária à saúde. Texto Contexto Enferm, v.22, n.2, p. 302-10, 2013. RENNÓ, C.S.N.; CAMPOS, C.S.G. Comunicação interpessoal: valorização pelo paciente oncológico em uma unidade de alta complexidade em oncologia. Rev. Min. Enferm, v.18, n.1, p.106-15, 2014. ROWLANDS, S.; CALLEN, J. A qualitative analysis of communication between members of a hospitalbasead multidisciplinar lung cancer team. Eur J Cancer Care, v.22, n.1, p.20-31, 2013. SANTOS, J.L.G. et al. Pleasure and suffering in nursing management in the hospital context. Esc. Anna Nery, v.17, n.1, p. 97-103, 2013. SIELOFF, C.L. Estrutura dos sistemas de interação e teoria da consecução de objetivos. Tomey AM, Alligood MR, Organizadores. Teóricas de Enfermagem e sua obra: modelos e teorias de enfermagem. 5. ed. Porto: Lusociência; 2004. p. 377-404. STEFANELLI, M.C.; CARVALHO, E.C. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. São Paulo: Manole; 2012. TOBIAS, G.C. et al Cultura de la seguridad del paciente en la atención sanitaria: un estudio bibliométrico. Enferm. Glob., v.13, n.33, p.336-348, 2014. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Alliance for Patient Safety: forward programme. Genebra; 2005. 68 69 SEGURANÇA NO PROCESSO DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS DE ACORDO COM A TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS DE WANDA HORTA: UMA REFLEXÃO Samla Sena da Silva Souza Lúcia de Fátima da Silva Maria Célia de Freitas Maria Vilani Cavalcante Guedes Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho INTRODUÇÃO A partir da vivência da autora na assistência direta a pacientes transplantados renais, e da reflexão sobre a importância da administração segura e eficaz da terapia medicamentosa, em especial a terapia imunossupressora para estes pacientes, cuja a finalidade é assegurar uma maior sobrevida do órgão transplantado e o sucesso do transplante, surgiu o seguinte questionamento: qual teoria de enfermagem embasa cientificamente o processo seguro de administração de medicamentos? O tratamento medicamentoso é fato inerente à internação hospitalar. A grande maioria dos pacientes que estão submetidos à permanência em uma instituição hospitalar, fazem, fizeram ou ainda farão o uso de alguma medicação, durante esse período. A administração medicamentosa é um processo que, caso não seja realizado da forma correta, pode causar danos irreversíveis ao paciente e por esse motivo merece uma atenção especial. 70 De acordo com estudo realizado nos Estados Unidos da América, são registrados anualmente, nas instituições hospitalares, no mínimo 400.000 eventos adversos evitáveis relacionados a medicamentos (ASPDEN et al., 2007 apud BRASIL, 2013a). No que se refere a terapia imunossupressora, esta é fundamental para a sobrevida do órgão transplantado e para o sucesso do transplante, desde que seja administrada e acompanhada da forma indicada segundo protocolos e diretrizes estabelecidos pelos órgãos responsáveis. Nesse contexto surge a temática Segurança do Paciente, que consiste em reduzir, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário ao cuidado de saúde (BRASIL, 2014). No Brasil, desde a criação do Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), em 2013,vem se fortalecendo o incentivo as práticas de assistência segura, e com isso vem se modificando e aprimorando o desenvolvimento da implantação dos núcleos de segurança nas unidades hospitalares. Uma das metas estabelecidas como prioritárias pelo Ministério da Saúde, para a segurança do paciente se refere ao uso seguro de medicamentos. Esta meta pode ser praticada por meio da implantação do protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos, estipulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (BRASIL, 2013a). A teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta, se insere nesse contexto, com o objetivo de atender o ser humano em suas necessidades básicas afetadas por meio do Processo de Enfermagem, embasando e direcionando a prática do enfermeiro no 71 atendimento dessas necessidades (SILVEIRA; ROBAZZI, 2014). Tendo em vista que o processo de administração medicamentosa faz parte de uma das metas priorizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a segurança do paciente e que uma das etapas do processo de enfermagem corresponde ao plano assistencial com vistas a priorização de necessidades de cuidados, procurou-se fundamentá-lo na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta. Face ao exposto, o presente artigo objetivou refletir sobre a segurança no processo de administração de medicamentos, nele incluso a administração de imunossupressores, associado a teoria das Necessidades Humanas Básicas. TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS E O PROCESSO DE ENFERMAGEM A palavra teoria tem origem grega e significa visão, ou ainda “olhar através de”. Uma teoria consiste em um corpo de conhecimento que pode ser aplicado a prática profissional de qualquer disciplina (GEORGE, 1993). Santo (2006) revela que as teorias se configuram em um eixo norteador para o agir e pensar de um profissional, fornecendo bases para consolidar a identidade de uma profissão. Complementa ainda que se busca com as teorias, identificar a finalidade profissional, o objeto de trabalho e os seus instrumentos. Para George (1993), as teorias têm como propósito descrever, explicar, prever e controlar os acontecimentos, 72 de forma sistemática. Horta (1979) complementa, trazendo que as teorias são importantes como roteiros de atividades, onde não se estabelece a maneira como determinada atividade será realizada, mas sim qual resultado será alcançado se esta atividade for realizada utilizando um método estabelecido. Em suma, as práticas das disciplinas são baseadas nas teorias, as quais, por conseguinte são validadas por meio de pesquisas. As teorias inicialmente são baseadas em suposições, e compostas por conceitos e definições que as fundamentam, assim como em modelos e proposições (GEORGE, 1993). As teorias de enfermagem começaram a se desenvolver em meados do século XX, face as mudanças da formação educacional, surgindo como estratégia para a profissão garantir um espaço de conhecimento próprio, visando sua consolidação enquanto ciência (KAMIYAMA, 1984). A partir de então, vários pesquisadores da área foram desenvolvendo suas pesquisas para a elaboração de teorias de enfermagem. No Brasil, Wanda de Aguiar Horta recebeu destaque ao desenvolver uma teoria que visava elucidar a natureza da enfermagem, definido seu campo de ação e sua metodologia específica. A teoria proposta por Horta foi baseada na teoria de motivação de Maslow, a qual se fundamenta nas necessidades humanas básicas compostas por necessidades fisiológicas, seguidas por necessidades de segurança, de amor, de estima e de auto realização, formando uma pirâmide onde só se chega ao nível seguinte após a satisfação dos níveis anteriores. (HORTA, 1979) 73 Horta (1979) fundamenta sua teoria a partir do pressuposto de que o homem é parte integrante do universo e como parte ele está sujeito ao equilíbrio e desequilíbrio deste. Além disso, o homem participa como agente de mudança do universo, o que causa equilíbrio e desequilíbrio em seu dinamismo. Este desequilíbrio o leva a um estado de tensão, que quando não satisfeito, gera uma necessidade. Esta necessidade não sendo atendidas prontamente gera desconforto, e este desconforto prolongado gera a doença. Em um processo de doença, o ser humano tem necessidades básicas que precisam ser atendidas objetivando o seu bem-estar. Nos estados de desequilíbrio, a enfermagem, como parte integrante da equipe de saúde, e utilizando de seu conhecimento técnico e científico, assiste ao ser humano, no sentido de procurar atender suas necessidades básicas, objetivando reverter o estado de desequilíbrio, assim como prevenir outros desequilíbrios. (HORTA, 1979) Além de se basear na teoria de motivação de Maslow, Horta utilizou a classificação do padre João Mohana para simplificar o estudo das necessidades humanas básicas, a qual se dividia em três níveis: necessidades de nível psicobiológico, psicosocial e psicoespiritual. Todas inter-relacionadas, fazendo parte de um todo indivisível, o ser humano (CIANCIARULLO, 1987). De acordo com Marques, Moreira e Nóbrega (2008), as necessidades de nível psicobiológicas, correspondem a forças ou instintos inconscientes, que não possuem um planejamento prévio, e se exprimem por meio das necessidades de alimentação e sexualidade, por 74 exemplo. Segundo Horta (1979), as necessidades psicossociais, abrangem a segurança, o amor, a liberdade, a comunicação, a autoestima e conclui que as necessidades psicoespirituais compreendem as necessidades religiosas ou teológicas, ética ou de filosofia de vida. Para implementar sua proposta teórica, Horta (1979) propõe um método, para a atuação da enfermagem, denominado por Processo de Enfermagem, o qual foi dividido em seis passos. Estes passos ou fases são dinâmicos e inter-relacionadas entre si, e compreendem: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados ou prescrição de enfermagem, evolução e prognóstico. Os modelos teóricos de enfermagem fortalecem e consagram a prática profissional, deixando em segundo plano o empirismo que caracterizou a profissão por muito tempo. A teoria das necessidades humanas básicas, formulada por Wanda Horta, foi um fato de grande importância para o avanço científico da profissão, sendo pioneira na idealização de uma teoria de enfermagem, a nível nacional. Muito embora, ainda haja dificuldades na implementação da sistematização do processo de enfermagem, não se pode negar a grande relevância desta teoria para a construção de saberes a partir de práticas pautadas em cientificidade. 75 SEGURANÇA DO PACIENTE E O PROCESSO DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS Os cuidados com a assistência à saúde, vem sendo praticados desde os primórdios da humanidade. Este cuidado visava a cura ou tratamento das enfermidades, muito embora ainda não estivesse bem esclarecido como as doenças se instalavam. Historicamente, o primeiro a referenciar segurança do paciente, durante o processo de assistência à saúde, foi Hipócrates, considerado pai da medicina, ao afirmar que o médico, em sua prática deveria abster-se da maldade e do dano. No decorrer dos anos, foram sendo introduzidos mudanças de comportamentos, baseados em teorias comportamentais, por médicos e enfermeiros, muito embora, inicialmente, não tenham sido bem aceitos pela comunidade médica. Apenas no século XX, a partir de estudos retrospectivos em universidades norte americanas, é que foi tomado conhecimento sobre a magnitude dos problemas de segurança que poderiam ser apresentados por pacientes durante a internação hospitalar (TRINDADE; LAGE, 2014). Foi somente no ano 2000, a partir do relatório To Err is Human, o qual evidenciou uma alta mortalidade por erros evitáveis, nos Estados Unidos, que os profissionais, gestores e organizações se alertaram para a dimensão do problema. Em 2004a Organização Mundial de Saúde promoveu um programa conhecido como Patient Safety Program com o objetivo de melhorar a segurança do paciente a nível mundial, por meio da redução de riscos de eventos adversos (TRINDADE; LAGE, 2014). 76 No Brasil, os pioneiros na realização de processos que vislumbravam a segurança do paciente foram os serviços de transfusão de sangue, de controle e prevenção de infecção relacionada ao cuidado a saúde e os serviços de anestesia. A rede sentinela é uma iniciativa específica no campo de segurança do paciente, que desde 2002 passaram a trabalhar com gerenciamento de risco por meio de busca ativa de eventos adversos, notificação dos eventos adversos e uso racional das tecnologias em saúde, desenvolvendo posteriormente, eixos que incluíam o uso racional de medicamentos como uma das prioridades (BRASIL, 2014). Nesse contexto, foi instituído pelo Ministério da Saúde em 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) que tem como objetivo geral contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos do território nacional (BRASIL, 2013). Entende-se por Segurança do Paciente a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde (BRASIL, 2014). Para uma assistência à saúde de qualidade, segura e livre de danos, são necessários a implementação de medidas que objetivem a redução dos riscos. Assim, a cultura de segurança ganha destaque por perpassar os eixos que envolvem uma prática segura. Cultura de segurança envolve a participação de todos os trabalhadores, tanto os profissionais envolvidos no cuidado direto, como gestores, assumindo a responsabilidade pela sua própria segurança, de seus pacientes e familiares, priorizando a segurança acima de metas financeiras, encorajando e recompensando a identificação, notificação e resolução de problemas relacionados a saúde (BRASIL, 2013). 77 A portaria n° 529 de 1° de abril de 2013, estabelece um conjunto de protocolos básicos definidos pela OMS que devem ser elaborados e implantados, são eles: prática de higiene das mãos, cirurgia segura, segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos, identificação do paciente, comunicação no ambiente dos estabelecimentos de saúde, prevenção de quedas, úlceras por pressão, transferência de pacientes e uso seguro de equipamentos e materiais. Dentre estas, o PNSP priorizou seis metas para a segurança do paciente, dentre as quais está inclusa o uso seguro de medicamentos, que será abordado no presente estudo. O processo de medicação em hospitais envolve várias etapas (desde a prescrição médica, transcrição ou verificação da prescrição, dispensação e administração de medicamentos) as quais são realizadas por pelo menos três diferentes áreas: médica, farmacêutica e de enfermagem (MAGALHÃES et al., 2015). Em função da múltipla execução no processo de medicação, eventuais erros podem ocorrer em qualquer etapa do processo, por qualquer um dos profissionais envolvidos. Existem diversos tipos de erros, porém os mais comumente percebidos são encontrados durante a última fase, que se refere a administração e preparo de medicamentos, realizadas pela equipe de enfermagem (SILVA; PASSSOS; CARVALHO, 2012). No Brasil, o enfermeiro é responsável pelo processo de administração de medicamentos, se constituindo no líder da equipe de enfermagem, e assumindo papel fundamental tanto no cuidado ao paciente que se encontra em terapia medicamentosa, quanto na disseminação do conhecimento 78 acerca dessa prática para a equipe (MACHADO et al., 2012). A maioria dos tratamentos necessitam de medicações específicas, e estas devem ser fornecidas de forma segura e eficaz. No caso do paciente transplantado, as medicações imunossupressoras serão administradas inicialmente no hospital e posteriormente em seus domicílios, pelo próprio paciente ou familiares. Por ser um procedimento que exige uma um alto grau de atenção no seu processo de administração, visto os riscos de falência ou rejeição do órgão transplantado, caso não seja realizado da forma prescrita e com os cuidados específicos, na prática assistencial da autora, estes são administrados exclusivamente por enfermeiros. Um erro na administração de medicamentos pode ocasionar danos irreversíveis ao paciente, no caso específico do paciente transplantado, este erro pode causar também a perda do órgão. A fim de reduzir ao mínimo possível o risco destes erros acontecerem, a implantação dos protocolos preconizados pelos órgãos competentes de saúde é algo que deve ser cada dia mais estimulado e inserido dentro dos serviços de saúde. SEGURANÇA NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS E A TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS A administração de medicamentos é uma tarefa de extrema complexidade, visto que envolve conhecimento de diversas áreas e sua prática deve ser cercada de cuidados. 79 Tal atividade é uma responsabilidade legal do exercício da enfermagem, tendo o profissional enfermeiro, a competência técnica para planejar a ação de administrar drogas aos doentes sob seus cuidados (LAGANÁ, et al. 1989). Atualmente, existem protocolos elaborados por órgãos governamentais, que orientam para a prática segura na prescrição, dispensação e administração de medicamentos, as quais visam a redução de riscos de erros neste processo, vislumbrando a segurança do paciente. Os erros no processo de administração de medicamentos podem afetar os pacientes ocasionando reações adversas, danos, lesões temporárias ou permanentes em alguns casos até ao óbito. Estes erros correspondem, segundo Gimenes, et al. (2010) a um dos principais eventos adversos sofridos pelo paciente durante uma internação hospitalar. Entende-se por eventos adversos qualquer incidente que resulte em dano à saúde. (BRASIL, 2013c). Erros de medicação são considerados eventos adversos passíveis de prevenção com possibilidade de ocorrer em um ou em vários momentos durante o processo de medicação, desde a prescrição até a administração do medicamento. Portanto, torna-se cada vez mais necessário o planejamento das ações de enfermagem no processo de medicação, e para que isso ocorra é fundamental, além de um embasamento científico baseados em teorias próprias da enfermagem, aspectos individuais como: ética, atenção, conhecimento científico, habilidade e segurança. Com vistas a proporcionar uma assistência segura, os cuidados devem ser individualizados mediante a 80 sistematização da assistência de enfermagem utilizando do processo de enfermagem. O processo de enfermagem, baseado na Teoria das Necessidade Humanas Básicas de Wanda Horta tem como uma de suas etapas o plano assistencial, que engloba o plano de cuidados e prescrição de enfermagem. O plano assistencial resulta da análise dos diagnósticos de enfermagem prioritários, estabelecidos a partir dos problemas de enfermagem identificados, baseados nas necessidades básicas afetadas. De acordo com a classificação de Horta (1979), primeiramente devem ser colocados no plano, os cuidados referentes às necessidades com grau de dependência total, ou àquelas que o profissional de enfermagem deve realizar, como por exemplo a administração de medicamentos. O plano de cuidados ou prescrição de enfermagem corresponde a um roteiro diário que sistematiza as ações da equipe de enfermagem nos cuidados adequados ao atendimento das necessidades básicas e específicas do ser humano (HORTA, 1979). A administração de medicamentos quando realizada a partir de um plano estabelecido pela enfermeira, embasado em conhecimento científico, ou seja, por meio do processo de enfermagem, permite uma redução nos riscos de erros. Embora aparentemente o processo de administração de medicamentos seja de natureza elementar para os enfermeiros, estes devem estar atentos aos princípios gerais do processo. Ao realizar a prescriçãode enfermagem, as enfermeiras devem utilizar-se do conhecimento científico adquirido e de pensamento crítico, com o objetivo de aprazar o horário mais adequado para administração de 81 cada medicamento, tanto para o conforto do paciente, quanto para sua melhor absorção no organismo, reduzir ao mínimo as interações medicamentosas, atentar para os eventos adversos e para os cuidados gerais que estão envolvidos no processo. A abordagem da assistência ao paciente em relação a terapêutica medicamentosa, tem implicações não apenas física e psicológicas, mas também culturais sociais e espirituais (LAGANÁ, et al. 1989). Na referência citada acima pode-se observar a clara associação que a autora faz acerca das múltiplas conexões entre o processo de administração medicamentosa e a teoria das necessidades humanas básicas, com foco no ser humano, ser único, individual, que a partir de um momento de desequilíbrio pode apresentar diversas necessidades as quais devem ser atendidas pela equipe de atenção a saúde. Estudos que associam as teorias de enfermagem as questões da atualidade são cada vez mais frequentes. Perão et al. (2017), traz uma reflexão acerca dos 10 passos para a segurança do paciente atrelado a teoria das necessidades básicas de Wanda Horta (psicológicas, psicossociais, psicoespirituais) o qual verificou que há conexão entre estas necessidades e o cuidado seguro ao paciente. Tal fato demonstra o interesse dos enfermeiros pelo conhecimento e aplicação das teorias em sua prática assistencial, tornando o cuidado cada vez mais científico. CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática de enfermagem fundamentada em teorias, torna a profissão cada vez mais científica e reconhecida 82 perante as demais profissões da área da saúde. O cuidado seguro deve ser o objetivo de toda assistência prestada dentro dos serviços de saúde. A administração de medicamentos, por ser de grande risco e possível causador de eventos adversos com danos é uma atividade que merece uma maior atenção pela equipe de enfermagem. As reflexões teóricas deste estudo poderão colaborar para a realização de cuidados seguros no processo de administração de medicamentos, fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta, por meio da utilização do Processo de Enfermagem. REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos. Brasília: Ministério da Saúde, 2013a. 46p. _______. Ministério da Saúde. Portaria n° 529, de 1° de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 2013b. _______. Ministério da Saúde. Resolução - RDC nº 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Diário oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF. 2013c. _______. Ministério da Saúde. Documento de Referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Ministério da Saúde; Fundação Oswaldo Cruz; Agência 83 Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. CIANCIARULLO, T.I. Teoria das necessidades humanas básicas - um marco indelével na enfermagem brasileira. Rev Esc Enf USP. São Paulo, v. 21, n. especial, p: 100-107, 1987. GEORGE, J.B. Teorias de Enfermagem: Os Fundamentos para a prática profissional. Tradução: Regina Machado Garces. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. GIMENES, F.R.E. et al. 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Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2014. p. 39-56. 85 A COMUNICAÇÃO E A SEGURANÇA DO PACIENTE: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA Bruna Michelle Belém Leite Brasil Ismael Brioso Bastos Maria Célia de Freitas Maria Vilani Cavalcante Guedes Raelly Ramos Campos Ximenes Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho INTRODUÇÃO As discussões sobre segurança do paciente (SP) configuram- se uma tendência mundial e frequentemente tem sido abordada pela mídia questões que envolvem esta temática (DUARTE et al, 2015). A SP pode ser compreendida como a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde (BRASIL, 2013a). O movimento mundial pela SP e a criação de programas que buscam garantir a qualidade da assistência tem contribuído para o crescente interesse pela temática da notificação e prevenção de eventos adversos (EA) nos sistemas de saúde (FEREZIN et al, 2017). O tema SP está relacionado com EA, pois a ocorrência de incidentes interfere diretamente na qualidade de vida dos que recebem assistência à saúde (SIMAN; CUNHA; BRITO, 2017). Os incidentes podem ser: incidentes sem danos, incidentes com dano (eventos adversos), ou near misses (quase erro), caracterizado quando 86 um incidente poderia atingir o paciente, causando danos ou não, mas foi interceptado antes de chegar a ocorrer (WHO, 2009). Os EAs podem levar a complicações indesejáveis, o que compromete a segurança do paciente e representam, atualmente, um dos maiores desafios para o aprimoramento da qualidade no setor saúde (SILVA-BATALHA; MELLEIRO, 2015). Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde incentiva os serviços de saúde a desenvolverem ações de melhorias, tais como: identificação do paciente; incentivo à higienização das mãos; prevenção, controle e notificação de eventos adversos; cirurgia segura; administração segura de medicamentos, sangue e hemocomponentes; estímulo à participação do paciente na assistência prestada, ações de prevenção de quedas e úlceras por pressão; e comunicação efetiva entre profissionais do serviço de saúde e entre serviços de saúde (BRASIL, 2013b). Dessa forma, mediante a complexidade das transformações sociais, políticas e econômicas atuais, o cuidado em saúde demanda mudanças pragmáticas na atuação do enfermeiro nas instituições hospitalares visando à segurança do paciente (SILVA et al, 2018). Nesse contexto, a SP e todas as questões relacionadas a esse tema trazem para a reflexão sobre os erros humanosna área da saúde, sua gravidade e o impacto na vida das pessoas, profissionais e do próprio sistema de saúde (FORTE et al, 2019). No estudo de Silva et al (2018), demonstrou que a práxis do enfermeiro, na SP no ambiente hospitalar, concretiza- se na assistência fundamentada na comunicação 87 com foco nas tecnologias leves (empatia e diálogo), bem como em uso de instrumentos como protocolos, planos terapêuticos, notificação de EA e planos de ação, os quais ampliam e melhoram suas práxis profissional. Em vista disso, segundo a hermenêutica de Gadamer, a linguagem pertence ao diálogo, isto é, a linguagem não é proposição e julgamento, mas apenas pergunta e resposta – resposta e pergunta. O diálogo é um fenômeno essencial à espécie humana, que é provavelmente a única capaz de dialogar. Além disso, não há possibilidade de funcionamento da sociedade sem diálogo (OTERO, 2018). Araújo, Paz e Moreira (2012) ressaltam que o pensamento Gadameriano permite a possibilidade de articulação com a saúde, fundamentando o modo de pensar e fazer da enfermagem. O enfermeiro, ao agir de forma aberta para o outro e com disposição para ouvi-lo, permitirá- se dialogar com o usuário que vem em busca dos seus cuidados. O filósofo Gadamer chama atenção para um ponto importante no estabelecimento do diálogo terapêutico: não haverá diálogo quando apenas o profissional com seu conhecimento técnico- científico sobre a saúde e a doença conduz o encontro com o usuário. Sendo assim, uma vez estabelecido que a linguagem não possa ocupar simplesmente um papel instrumental, resulta que, em matéria de hermenêutica, a linguagem é a nossa maneira de experimentar o mundo. Diante disso, se quer dizer que o homem experimenta o mundo, o compartilha, se relaciona com ele e o expressa (OTERO, 2018). 88 Vale ressaltar que é fundamental que os profissionais de saúde sejam detentores de conhecimentos, habilidades e recursos que lhes permitam utilizar a comunicação como estratégia de ajuda ao outro, de forma a maximizar os ganhos em saúde (SEQUEIRA, 2014). Partindo dessas considerações, estabeleceu- se a seguinte pergunta norteadora: Qual a importância da comunicação do enfermeiro, no contexto da segurança do paciente, e sua relação com o pensamento filosófico de Gadamer? A partir do exposto, o presente estudo tem como objetivo refletir sobre a comunicação do enfermeiro, no contexto da segurança do paciente, sob a luz filosófica da linguagem de Gadamer. METODOLOGIA Trata-se de um estudo reflexivo, realizada na disciplina de “Filosofia da Ciência de Enfermagem e Saúde”, do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), realizada sob a luz da filosofia de Gadamer e a comunicação da enfermagem ao paciente diante a segurança do paciente. O percuso teórico- metodológico foi estruturado em duas etapas, a seguir: A primeira etapa consistiu em busca de referencial teórico que tratassem da filosofia e da sua relação com a enfermagem, bem como a comunicação do enfermeiro na segurança do paciente. Os artigos científicos selecionados foram provenientes da busca realizada nas bases de dados 89 contidas na Biblioteca Virtual da Saúde (BVC), entre os meses de abril e maio de 2019, por meio dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS): filosofia em enfermagem; comunicação em saúde; e segurança do paciente. Assim, foram inclusos artigos disponíveis na íntegra, sem restrição quanto ao ano de publicação, com teor para discussão proposta. Ressalta- se que esta busca foi realizada com o intuito de organizar e sustentar a reflexão aqui proposta, não houve, portanto, intenção de busca integrativa ou sistemática da literatura. Na segunda etapa, a pesquisadora consolidou o material teórico da literatura selecionada, para tal emergiram as seguintes temáticas: (1) A linguagem de Gadamer e a comunicação na saúde; (2) A comunicação da enfermagem no contexto da segurança do paciente. A linguagem de Gadamer e a comunicação na saúde Discorrer sobre a linguagem na filosofia, no contexto da segurança do paciente, é algo bastante desafiador e complexo, no entanto, uma reflexão inicial pode ser realizada acerca do pensamento filosófico de Gadamer, no tocante a linguagem, atrelada a comunicação terapêutica na saúde. Gadamer é um dos autores mais importantes acerca da hermenêutica contemporânea. A hermenêutica desenvolvida por esse, afasta- se de uma doutrina de métodos das ciências do espírito e procura caminhar para um olhar além de sua autocompreensão metódica através da experiência do homem no mundo, ou seja, refletir sobre a questão da verdade nas ciências do espírito. É um (re)pensar o universo da compreensão. Sendo um 90 afastamento dos modelos clássicos hermenêuticos, nos quais a exegese era considerada um conjunto de métodos (MELLO, 2012). De acordo com Gadamer (1999), é preciso buscar a palavra e se pode encontrar a palavra que alcance o outro. Isso pode tornar a linguagem como uma linguagem que fala não só do uso adequado dos termos para conseguir um bom entendimento, mas da possibilidade inerente à linguagem de chegar ao outro. Alcançar a outra demanda e sair de si mesmo, pensando no outro e sobre si mesmo como um outro, termos próprios do diálogo e do convívio. Dessa forma, Gadamer reflete o porquê das palavras não conseguirem dar conta de tudo o que se entende quando algo é compreendido e tudo o que é dito quando algo é dito, pois elas sempre ficam aquém e chamam a continuar procurando mais palavras, a fim de desenvolver a compreensão, dizer, interpretar, e, finalmente, fazer a filosofia (OTERO, 2018). Portanto, somos interpretação e compreensão no mundo da existência e vivência no mundo. Assim, o caminho para compreender começa no exercício da negação, do estranhamento (de quem quer conhecer), pois as palavras e os discursos dizem muito mais do que está na aparência do dito. Quem interpreta precisa levar em conta as individualidades contextualizadas das manifestações linguísticas, ou seja, o enigma que se esconde na construção do pensamento e que se materializa através da linguagem e do diálogo (ARAÚJO; PAZ; MOREIRA, 2012). É certo que, para a hermenêutica de Gadamer, a única chance que os seres humanos têm de se compreender é a linguagem. Isso não significa que só se pode 91 compreender com quem se fala, mas a relação de entendimento é feita com tudo o que fala, seja este sujeito um ser humano ou um texto. É chegar ao outro linguisticamente. Linguagem é diálogo, compreensão, reunião, inter-relação, comunicação. Na medida em que se reconhece que há uma incapacidade para o diálogo, reconhece-se também a perda da dimensão humana na comunicação e a precariedade das interações (OTERO, 2018). É neste contexto, que a escuta e o diálogo em saúde possibilitam transformações e mudanças na forma como usuários dos serviços de saúde enfrentam o tratamento proposto e os aspectos de sua subjetividade. Dessa forma, a comunicação terapêutica se apresenta como uma ferramenta fundamental para a condução do tratamento em saúde e a relação profissional paciente que se estabelece durante esse processo (SEQUEIRA, 2014). A comunicação terapêutica é considerada um tipo singular de comunicação dos profissionais de saúde. É utilizada para apoiar, informar, educar e capacitar às pessoas no tocante do processo de adaptação à situação de saúde vivenciada. Diz respeito, também, ao diálogo efetuado pelo profissional de saúde que tem um potencial terapêutico no processo de recuperação, com intuito de atender às necessidades do paciente em suas dimensões, bem como considerando a sua cultura, o ambiente e o seu ser (SEQUEIRA, 2014). Para tal, incumbe a reflexão que a comunicação pode ser compreendida como instrumento terapêutico, o profissional de saúde deve ter conhecimentos fundamentais sobre as bases teóricas da comunicaçãoe adquirir habilidades de relacionamento interpessoal para agir de 92 forma positiva na assistência ao paciente. O profissional precisa realizar mudança de atitude, onde consiga ouvir, entender, abranger e identificar necessidades de seu paciente (GUARILHA et al, 2013). Cabe ressaltar que a comunicação terapêutica é uma ferramenta que traz contribuições para o ensino e à pesquisa, bem como para a oferta de uma assistência integral que fortalece o relacionamento interpessoal e as ações promotoras da saúde, oportuniza a utilização de uma comunicação eficaz, consciente e voltada para uma dimensão holística (TORRES et al, 2017). Portanto, a visão da linguagem de Gadamer, no contexto de segurança do paciente, busca trazer ao leitor uma análise reflexiva sobre tal temática, pois esse elucida que a compreensão está atrelada ao diálogo, e que através do estudo aprofundado sobre a realidade que adquirimos conhecimento, dessa forma, sua aplicabilidade prática, a práxis, ocorre por um processo de experiência. A comunicação da enfermagem no contexto da segurança do paciente O ser humano é um ser social e precisa interagir com seus semelhantes. E essa interação se tornaria impossível sem comunicação. Comunicar é transmitir uma mensagem, um pensamento, uma ideia, uma experiência. Entretanto, para que haja, de fato, comunicação, é preciso que haja o compartilhamento da simbologia, é preciso que se compartilhe a linguagem (OTERO, 2018). A habilidade de comunicação é uma característica relevante nas relações enfermeiro-paciente. Para que os profissionais possam exercer uma assistência segura e de 93 qualidade, a fim de minimizar e/ou prevenir erros e evitar a realização de atividades desnecessárias ou redundantes dentro do serviço, o diálogo é elemento chave (OLIVEIRA et al, 2016). Dessa maneira, o ser humano utiliza-se da comunicação para fornecer informações, para persuadir, de forma a gerar mudanças de comportamento numa troca de experiências e para ensinar e discutir os mais variados assuntos (MASSOCO; MELLEIRO, 2015). Na comunicação dialógica estabelecida com o paciente, o profissional da enfermagem pode compreendê- lo como ser holístico e, dessa forma, perceber sua visão de mundo, considerando o seu modo de pensar, sentir e agir. Assim, poderá perceber as necessidades do paciente, prestando uma assistência adequada, personalizada, minimizando seu sofrimento e insatisfação. Nesse contexto, a comunicação ocupa um lugar insubstituível e se ela não é eficaz, todo o trabalho torna-se falho (OLIVEIRA et al, 2016). Sendo assim, um profissional preparado e competente em comunicação constrói uma relação estruturada através de informações trocadas, diminuindo os riscos e falhas para seu paciente, favorecendo, assim, uma melhor segurança, promovendo qualidade na saúde sem gerar danos, o profissional se mostra mais aberto a criação de vínculo para com seu paciente. Um paciente bem assistido, que compreende tudo que irá ocorrer durante a sua hospitalização se mostra menos ansioso, e aceita sua condição de forma realista, tornando-os mais seguro (GUARILHA et al, 2013). 94 Então, a comunicação aberta entre os profissionais de saúde permite a identificação de problemas de comunicação, o estabelecimento de mecanismos e ferramentas eficazes de comunicação e, ainda, a notificação de incidentes. É importante que os profissionais de saúde tenham uma comunicação efetiva não apenas pelo impacto na segurança do paciente, mas também pelas consequências causadas na esfera profissional e pessoal desses trabalhadores (MOREIRA et al, 2019). Nesse sentido, uma comunicação eficiente traz confiança para o enfermeiro e influencia no bem-estar do paciente que está internado, além de que quando somada a um trabalho eficiente entre a equipe multiprofissional e o paciente, resultará numa hospitalização mais confortável e segura (GUARILHA et al, 2013). Nesse contexto, a consolidação da segurança do paciente se configura como subsídio para as propostas de melhoria da qualidade, pois os seus constructos permitem remodelar os processos de trabalho, fazendo com que estratégias seguras aprimorem a assistência em saúde (SILVA-BATALHA; MELLEIRO, 2015). Assim, é importante o investimento na disseminação da cultura de segurança, com ênfase em educação e comunicação, adoção de condutas baseadas em protocolos, diretrizes e procedimentos operacionais padrão (POP), ampliando, assim, o conhecimento em segurança, na perspectiva da construção contínua, levando em consideração a realidade da instituição e, também, os significados e os valores que os profissionais atribuem à segurança do paciente (SIMAN; CUNHA; BRITO, 2017). 95 Dessa maneira, reflete- se que uma comunicação eficaz, centrada na pessoa e no seu contexto, garante que os cuidados prestados sejam além da competência técnica do profissional de saúde, mas também como uma competência relacional e humana. Diante do fato, quando a comunicação é adequadamente empregada, há maior compreensão e reciprocidade entre as pessoas, aumentando a relação de confiança, bem como a segurança do paciente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidenciou-se por meio dessa reflexão, através do pensamento filosófico da linguagem de Gadamer, que a comunicação terapêutica possibilita contribuições importantes para a relação de cuidado entre o enfermeiro e o paciente diante o contexto da segurança do paciente, pois é através da comunicação o meio pelo qual as pessoas interagem para troca de informações e compreensão do que se fala e ouve. Diante do fato, verifica-se, então, que o instrumento básico de trabalho dos enfermeiros é a comunicação. Portanto, eles devem reconhecer os princípios deste processo e desenvolver habilidades para estabelecer uma comunicação eficaz. Sendo assim, profissionais que focalizam a segurança do paciente no que concerne à terapêutica comunicativa no contexto hospitalar, proporcionam melhor assistência aos pacientes. REFERÊNCIAS 96 ARAÚJO, J.L.; PAZ, E.P.A.; MOREIRA, T.M.M. Hermenêutica e saúde: reflexões sobre o pensamento de Hans-Georg Gadamer. 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Disponível em:cinco anos que abordaram a segurança do paciente no cuidado de enfermagem levando em consideração os desafios da produção científica nacional dos últimos cinco anos, realizado por meio da busca eletrônica no período de 06/05/2019 a 10/05/2019 nas bases da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados em Enfermagem (BDENF), a partir do uso dos descritores “enfermagem”, ”cuidado” e “segurança do paciente”, e operador booleano AND, e com delimitação temporal de 2015 a 2019. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos, publicados em português, nos últimos 5 anos, disponível na íntegra eletronicamente, que no seu titulo aborde a temática de cuidado em enfermagem e segurança do paciente. Foram excluídos artigos de revisão, cartas ao leitor e artigos de opinião. RESULTADOS Após o levantamento bibliográfico realizado nas bases de dados LILACS e BDENF, obteve-se 119 artigos na primeira base e 142 na segunda, respectivamente. Após a aplicação dos critérios de inclusão estabelecidos para a revisão e mediante a leitura dos títulos e resumos que 104 atendiam o objetivo da pesquisa que era a segurança do paciente no cuidado de enfermagem. Considerou-se, a partir da leitura e da análise dos estudos selecionados, um total de10 artigos, que compuseram a amostra em estudo. Após a leituras dos artigos selecionados emergiram duas temáticas para a reflexão que foram: o cuidado de Enfermagem na segurança do paciente e os desafios de enfermagem na segurança do paciente. Dos 10 artigos selecionados 4 eram das bases de dados LILACS e 6 BDENF, havendo um maior número de publicações nos anos de 2017 e 2018, quatro artigo em cada ano. O periódico com maior número de publicações foi à revista de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco online com três artigos. O CUIDADO DE ENFERMAGEM NA SEGURANÇA DO PACIENTE Após leitura dos artigos selecionados no que se refere ao cuidado de enfermagem na segurança do paciente evidenciou que a Enfermagem é pioneira nas ações que envolvem a cultura de segurança e assume a liderança na salvaguarda do paciente nas instituições de saúde, porém esse cuidado foi bem mais evidenciado no âmbito do executável para o alcance de um fim, em vez de ser uma ação prática com aplicabilidade consciente e reflexiva. Esse fato corrobora com o que Heidegger (2006) expõe em seu livro “Ensaios e Conferências” ao afirmar que a técnica não é, portanto, um simples meio. A técnica é uma forma de descobrimento que se dará, em sua 105 propriedade, todas as vezes que o homem se sente chamado e estimulado a acontecer em modos próprios de desencobrimento. Levando isso em conta, abre-se um âmbito para a essência da técnica. Nos dias de hoje, a tendência de entender a responsabilidade ou em sentido moral, como culpa, ou então, como uma espécie de ação. Em ambos os casos, obstrui-se o caminho para o sentido originário do que se chamou posteriormente de casualidade. Enquanto este caminho não se abrir, também não se percebe o que é propriamente a instrumentalidade do que repousa na casualidade (HEIDEGGER, 2006). Outra evidência identificada foi a de que os profissionais de enfermagem desenvolvem o cuidado em busca da segurança do paciente com fundamentação técnica científica, embora também valorizem as experiências empíricas do cotidiano. Nessa perspectiva Gadamer (2006) relata que o conhecimento começa pela experiência, sendo que essa experiência não é só visualizada na área profissional, mas na existência privada e pessoal, bem como, na experiência que o ser humano tem consigo mesmo e com seus semelhantes. É certo que tal saber é subjetivo, quer dizer, em grande parte incontrolável e instável. Dessa forma o autor afirma que a ciência possibilita um saber direcionado a uma capacidade de fazer, um domínio da natureza, quer dizer, da técnica. E isso não é, um saber obtido como soma de diversas experiências da 106 prática de situações da vida e de circunstâncias de ações, mas trata-se de um saber, que, por seu lado, possibilita, antes, uma nova e específica relação de práxis, com aplicação construtivista. Outro achado científico identificado nos artigos selecionados foi o de que pensar em cuidado seguro deve está atrelado a uma teoria de enfermagem e ao processo de Enfermagem, que por si só, constitui um dispositivo transversal às metas de segurança do paciente e está diretamente relacionado à qualificação da assistência de enfermagem e a cientificidade da enfermagem como ciência. De acordo com Kalinkin e Ilvin (1985) a ciência aparece proeminentemente em uma série de teorias e sua missão é a reflexão sobre a base para determinar uma linha de demarcação entre ciência e não ciência. Para essa determinação é necessário à identificação de certos indicadores, objetivos ou critérios de cientificidade, o que acaba por se tornar um desafio. Pode-se determinar que os critérios de cientificidade as normas, definições, assim como a definição de quaisquer outras normas, sendo especificada pelas disposições, sanções e condições de ação. Segundo o mesmo autor a ciência é metódica e um dos instrumentos de validade para os conhecimentos científicos é o método utilizado para investigar, comprovar e sistematizar. Diante do exposto afirma-se que as teorias e o processo de enfermagem nascem da utilização de um 107 método científico, por meio da observação, na qual os teóricos organizaram uma percepção ao descrever os fatos e por base nesses constroem suas pressuposições, conceitos e proposições, dando um corpo às mesmas, as quais somente depois de validadas são publicadas e utilizadas na prática profissional tornando-se ciência a Enfermagem. As teorias e o processo de enfermagem foram construídos para melhorar a prática da Enfermagem a partir do seu uso pelos profissionais da área com a finalidade de descrever, explicar, prever ou prescrever o fenômeno, entendido como o cuidado de Enfermagem (HICKMAN, 2000). OS DESAFIOS DE ENFERMAGEM NA SEGURANÇA DO PACIENTE Após a leitura dos artigos foram identificados alguns desafios enfrentados pela enfermagem para a aplicabilidade da segurança do paciente no ato de cuidar, foram eles: A segurança do paciente não foi priorizada como diretriz estratégica da política institucional e nem para todos os membros da equipe, o que dificulta a sua aplicabilidade em busca de cuidado seguro, uma vez que para tal objetivo a instituição precisa participar das diretrizes, pois de acordo com Gadamer (2006) o saber teórico e aplicação prática uma vez implementada deve ser prioridade para a instituição e para os profissionais que integram a equipe de trabalho, à medida que a ciência faz também com que a política de aplicação na respectiva área 108 seja um tema e a trata como ciência aplicada. Quanto mais intensiva a área de aplicação e a experiência prática esta passa a ter o seu verdadeiro sentido por meio dos resultados alcançados. Outro problema identificado foi de que trabalho realizado não corresponde exatamente àquele proposto pelas regras e protocolos de segurança no cuidado de enfermagem, devido o desconhecimento da aplicabilidade ou da falta de capacitação da equipe. Para Gadamer (2006) existe uma tensão entre o saber teórico e aplicação prática, a qual se encontra no centro da questão, uma vez que quanto mais intensiva a área de aplicação é racionalizada, mais falta o próprio exercício do juízo e, com isso, a experiência prática no seu verdadeiro sentido. Para isso é necessário valer as expectativas e especulações do conhecimento empírico, dessa maneira o aspecto processual, quer dizer, do aspecto provisório e da respectiva limitação daquilo que a ciência sabe, é um corretivo especial. Através disso, a ciência pode combater a superstição de que ela poderia eximir o individuo da responsabilidade pela sua própria decisão prática.DO PACIENTE: aplicabilidade da teoria de enfermagem* .....................................53 SEGURANÇA NO PROCESSO DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS DE ACORDO COM A TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS DE WANDA HORTA: UMA REFLEXÃO ....................................69 2 PARTE II – A PRÁTICA DA PESQUISA SOBRE SEGURANÇA DO PACIENTE ...... 113 CONSTRUÇÃO DO PLANO DE AÇÃO PARA O CUIDADO SEGURO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE .......................................................................................... 115 SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: O OLHAR DOS GESTORES, TRABALHADORES DE SAÚDE E PESSOAS USUÁRIAS131 EVIDÊNCIAS SOBRE A CULTURA DE SEGURANÇA E AS BOAS PRÁTICAS NAS MATERNIDADES ................. 143 ERROS DE MEDICAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA NEONATAL: PRINCIPAIS TIPOS, FATORES CONTRIBUINTES E AÇÕES DE MELHORIA................ 163 3 PARTE I – REFLEXÕES TEÓRICO- FILOSÓFICAS SOBRE SEGURANÇA DO PACIENTE 4 5 PENSAMENTO, LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO: REFLEXÕES FILOSÓFICAS PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO PACIENTE Ana Lívia Araújo Girão Francisco Gilberto Fernandes Pereira Maria Vilani Cavalcante Guedes Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho INTRODUÇÃO Acredita-se que a busca pela filosofia da ciência enfermagem nos encaminha para um pensamento além do científico ao considerar o cuidado sob um aspecto particular, visto que é fundamental a compreensão de que enquanto saber especializado toda ciência está feita de formulações que dizem respeito a um aspecto determinado sob o qual ela considera o real; cada ciência existe, por assim dizer, em função dos limites que a separam das outras ciências (LAUAND, 2015). Diante da busca pela apropriação filosófica da ciência enfermagem e da afinidade com a pesquisa relacionada à segurança do paciente, optou-se pelo aprofundamento do estudo do pensamento e da linguagem como ferramentas fundamentais ao exercício da profissão com vistas a prestação de um cuidado seguro, com minimização de eventos adversos. 6 Dessa forma, observa-se que pensamento e linguagem são dimensões fundamentais à comunicação no contexto do cuidado de enfermagem. A linguagem, definida em seu sentido mais amplo como todo sistema de sinais que possa servir como meio de comunicação, surge como inseparável do pensamento de que é instrumento (HUISMAN, 1978). A comunicação não se constitui apenas na palavra verbalizada. Tem-se de captar mensagens, interpretá-las adequadamente e potencializá-las criativamente. Tal interação com o meio e com as pessoas atribui à linguagem fundamental destaque no estudo da comunicação dentro das relações humanas e das instituições de trabalho. Na área da saúde, a comunicação ineficaz está entre as causas-raízes de mais de 70% dos erros na assistência, visto que falhas no trabalho em equipe e na comunicação entre os profissionais de saúde contribuem para os erros médicos, eventos adversos e, consequentemente, diminuição da qualidade dos cuidados, e, portanto, a maneira como ocorre a comunicação entre os profissionais tem sido apontada como fundamental para um cuidado de saúde seguro (BAGNASCO, 2013). Diante do exposto, o presente estudo objetivou compreender o pensamento e a linguagem como dimensões fundamentais à comunicação no contexto da assistência de enfermagem para a prestação de um cuidado seguro. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de reflexão teórica desenvolvido a partir de inquietações oriundas da disciplina 7 de Filosofia da Ciência em Enfermagem e Saúde, do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará (UECE), acrescidas à aproximação com estudos voltados para a segurança do paciente desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa de Segurança, Tecnologia e Cuidado Clínico da UECE. As leituras e desenvolvimento do estudo foram realizados entre os meses de abril e junho de 2017, e para compor os campos de discussão e reflexão aqui propostos, elegeu-se a relação entre pensamento e linguagem na perspectiva de Hans-Georg Gadamer e a perspectiva relacional do cuidado no seu domínio da comunicação a partir da Teoria da Ação Comunicativa de J. Habermas. Por fim, as inter-relações do referencial teórico adotado foram discutidas juntamente com os pressupostos da comunicação eficaz defendida pela segurança do paciente. PENSAMENTO E LINGUAGEM: COMPREENSÕES NECESSÁRIAS PARA AS RELAÇÕES ENFERMEIRO- PACIENTE O homem, aqui compreendido enquanto espécie Homo sapiens sapiens, apresenta características que o diferem das demais tipologias animais, dentre as quais se sobressai sua racionalidade, ou seja, capacidade de pensar, estruturar o pensamento, produzir uma ação a partir deste, expressá- lo de forma consciente e por fim refletir sobre essa ação. É complexa e também exaustiva a tentativa de compreender como se estrutura o pensamento humano a partir de uma interpretação filosófica, visto que vários pensadores já se propuseram a explicar este fenômeno ou característica (HEIDEGGER, 2007). Neste estudo, será 8 utilizada a perspectiva proposta por Hans-Georg Gadamer, filósofo alemão que compreende o homem e suas relações interpessoais a partir de uma hermenêutica da compreensão e da interpretação, em que o processo de pensar é dinâmico, inacabável e reciclável num modelo espiralado (GADAMER, 2007). O pensamento é, portanto, um componente da natureza humana que é gerado de forma intencional quando o indivíduo se dispõe para aquilo que a ele se apresenta de forma material ou imaterial, e que será transcendido ao mundo exterior na forma da linguagem. Esta por sua vez, retroalimenta o pensamento, fazendo o homem refletir, compreender e interpretar as relações sociais, o que compõe, portanto, a perspectiva hermenêutica (ARAUJO; PAZ; MOREIRA, 2012). Com base nessa proposição, é lúcido concluir que o pensamento e a linguagem estão intrinsecamente relacionados e dependentes. Esta última corresponde à expressão do sentido humano e jamais poderá ser alcançada plenamente, explicando que a linguagem é a expressão máxima da forma de comunicação do homem e sua capacidade de interagir consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Alerta ainda que ela não possui um eu, ou seja, sua expressão deve ser baseada a partir de um diálogo, visto que tem um caráter oniabrangente (GADAMER, 2007). Estudos expressam que os princípios defendidos por Gadamer se aplicam fortemente à prática da relação enfermeiro-paciente, visto que o diálogo que é produzido nessa interação só é possível quando a linguagem é traduzida por meio de valorização da subjetividade e da colaboração entre ambos (GADAMER, 2007). 9 Portanto, essa fundamentação se apresenta de forma explícita nas relações sociais a todo tempo, visto que o homem é um ser social e que no seu contexto relacional necessita se comunicar e ser compreendido, e estas ações só podem acontecer quando a linguagem é utilizada de forma clara, com signos comuns a um grupo, e que permita a construção de sentidos e significados sobre o que se pretende comunicar. A TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS A comunicação, que é a expressão em forma de linguagem verbal ou não-verbal do pensamento humano, só é desenvolvida com a disponibilidade de compreensão e atenção mútua dos sujeitos implicados nesse contexto. Portanto, na tentativa de contextualizar a necessidade de um processo comunicativo compreensivo no âmbito da saúde, e mais especificamente na relação enfermeiro- paciente, recorreu-se à Teoria da Ação Comunicativa de J. Habermas. Habermas propôs um novo paradigma em que a comunicação e a valorização das intersubjetividades existentes entre os sujeitos, e destes com o ambiente em sua volta, fossem consideradas relevantes, o que chamou de racionalidade comunicativa (HABERMAS,Dessa forma é necessária a capacitação permanente da equipe, uma vez que o conhecimento se encontra em constante transformação, bem como o treinamento e aprimoramento teórico e prático de toda a equipe na utilização de protocolos de segurança de forma que 109 propicie ao profissional um raciocínio crítico na sua aplicabilidade diária. Nos resultados dos estudos foi possível identificar uma interface entre a segurança do paciente e o processo de enfermagem que precisa ser mais explicitada na prática, uma vez que agrega e fortalece o cuidado científico da enfermagem e a prática profissional. Para Nerici (1992) a ciência é metódica e um dos instrumentos de validade para os conhecimentos científicos é a metodologia adotada pela ciência que usa o método para investigar, comprovar e sistematizar o que é possível por meio da aplicação do processo de enfermagem. Dessa forma o autor citado anteriormente afirmar que a Ciência tem duas funções: especulativa e prática. Na especulativa, o homem encontra interesse no seu próprio trabalho, no descobrir novas relações de casualidade. Enquanto que na prática, o homem tem interesse na aplicação dos conhecimentos teóricos para tender a necessidade de vida, para atender as solicitações sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao construir este trabalho foi permitido aos autores um maior aprofundamento sobre os temas cuidado de enfermagem, segurança do paciente e o pensamento crítico, em uma percepção filosófica. Por meio da ciência é possível entender o contexto histórico dos fenômenos em estudo, construído a partir de um contexto e mediante 110 interesses diversos com o objetivo de criar soluções para problemas observados, sendo possível refletir sobre a veracidade da ciência e sobre os paradigmas e a cientificidade que envolvem o cuidado em enfermagem e a segurança do paciente. REFERÊNCIAS ADAMY,E.K. et al. Reflexão acerca da interface entre a segurança do paciente e o processo de enfermagem.Rev. enferm. atenção saúde, v.7, n.1, p.272-278, Jan/Jul 2018. BUSANELLO, J. et al. Cuidados de enfermagem ao paciente adulto: prevenção de lesões cutaneomucosas e segurança do paciente. Rev. enferm. UFSM, n.5, v.4,p.597- 606, out.-dez. 2015. CAMPELO, C.L. et al. 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Para que seja possível seu alcance, resultados da assistência à saúde têm sido utilizado como parâmetro avaliador das condições dos cuidados prestados. Pode-se citar como exemplo de resultados assistenciais, a incidência de eventos adversos, ou seja, qualquer erro que cause dano total ou parcial ao paciente. Essas informações, quando registradas, podem servir de subsídio para a melhoria contínua da qualidade dos serviços de saúde (CAPUCHO, 2013). A preocupação com os eventos adversos impulsionou a Organização Mundial de Saúde (OMS) criar em 2004 uma Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, onde o Brasil juntamente com outros países tem somado esforços sobre a temática (MARCHON, 2015). No 116 mesmo estudo, a autora aponta que dentre os eventos adversos mais comuns nas APS estão associados a falhas no tratamento medicamentoso e durante a fase de diagnóstico. A Atenção Primária à Saúde (APS) como ponto de atenção que atua na organização do sistema de saúde tem entre seus atributos o papel de coordenadora das redes de atenção (MENDES et al, 2009). Desse modo, a mesma exerce papel fundamental na gestão da saúde, à medida que é porta de entrada e ordenadora de todos os serviços, sejam eles de baixa, média ou alta complexidade. Nos últimos anos, a segurança do paciente na atenção primária à saúde tem sido prioridade nas principais organizações internacionais de saúde e em vários países desenvolvidos. No Brasil, o tema ganhou maior notoriedade, a partir da instituição do Programa Nacional de Segurança do Paciente em 2013, que incluiu a atenção primária à saúde como ponto estratégico no desenvolvimento de ações para a melhoria de segurança do paciente. Entretanto, deve-se ressaltar que as pesquisas neste campo ainda estão em fase inicial (MARCHON, 2015). Diante desse contexto, ferramentas gerenciais auxiliam nos processos de mudanças e direcionam a tomada de decisão por meio da análise, priorização dos problemas e identificação de situações que exijam mais atenção, controle da situação identificada e planejamento (MEIRELES, 2014). Portanto, o objetivo desse estudo foi identificar problemas existentes em um território de saúde da família que afetem a segurança do paciente e construir um plano 117 de ação a partir dos problemas relados por gestores, profissionais de saúde e usuários de uma Unidade Básica de Saúde. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa-ação. Como proposto no presente estudo, a pesquisa-ação é uma forma de investigação baseada em uma autorreflexão coletiva empreendida pelos participantes e busca o entendimento dessas práticas e de situações onde essas práticas acontecem. Além disso, uma abordagem é de uma pesquisa-ação apenas quando ela é colaborativa (KEMMIS e MC TAGGART, 1988). Para a aproximação do campo, realizou-se entre os meses de fevereiro e março de 2018, visitas às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e às suas respectivas equipes da Saúde da Família (eSF). A UBS pertence à área urbana e localiza-se em uma cidade do interior do nordeste brasileiro. Possui duas equipes de Saúde da Família. Em seguida, estendeu-se um período de observação no período de agosto a setembro de 2018. Para esta fase, utilizou-se um checklist elaborada para nortear a observação, dividindo-o por setores. Após essa fase, investigou-se junto à 01 gestora, 02 enfermeiras, 01 médico, 05 técnicos de enfermagem, 03 agentes comunitários de saúde e 01 representante dos usuários do Conselho Municipal de Saúde, as causas dos principais problemas identificados na fase anterior. A partir disso, foi construído o diagrama de Ishikawa. 118 Posteriormente, construiu-se o plano de ação mediante todas as informações obtidas. Para tal, utilizou-se a ferramenta 5W2H. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para formalizar sua participação. O projeto possui aprovação do Comitê de ética em Pesquisa da UNILAB com protocolo CAAE: 62445816.0.0000.5576. RESULTADOS E DISCUSSÃO A aproximação do campo foi essencial para o andamento do estudo por estabelecer o vínculo e relação de confiança entre os pesquisadores e profissionais. A comunicação entre os usuários e os profissionais, a falta de insumos e medicamentos, os recursos humanos e a abordagem durante a consulta médica e de enfermagem foram os problemas mais citados pelos participantes. Corroborando com a observação realizada. Identificou-se que a comunicação é o problema mais comum e o momento do cuidado que mais havia erros eram na prestação do cuidado direto/tratamento e no acesso ao serviço no instante que chegavam a UBS. Tais dados são confirmados por Silva (2017). Ele aponta que a fragilidadena comunicação foi que mais contribuiu para a ocorrência de erros. Ressalta também que a melhoria do acesso dos usuários aos serviços de saúde foi possível, além de outros fatores, decorrente da efetividade de comunicação entre as equipes da eSF. Reforça ainda que a comunicação efetiva é ponto crucial para a melhoria da qualidade dos serviços e é um desafio para a segurança do paciente. 119 Os resultados do presente estudo apontaram ainda que 62,96% dos usuários não entendiam a prescrição no receituário. No decorrer da coleta de dados, pode-se perceber que os usuários que relataram não entender as informações eram pessoas idosos, fato preocupante já que os usuários idosos são em grande parte os maiores consumidores dos serviços de saúde. Esse dado revela a necessidade da realização de ações personalizadas para o melhor atendimento a esse público, seja por meio de atividades em grupo, para que sejam dadas orientações gerais quanto ao uso de medicamentos mais comuns por essa população, seja em forma de capacitação da equipe para melhor receber seus pacientes idosos. Atrelado a isso, a baixa escolaridade ainda é uma realidade presente na região nordeste, onde está localizada a cidade onde foi feita a pesquisa. Nessa região 67,3% das pessoas usuárias dos serviços de APS são não-alfabetizados ou só tem até o ensino fundamental, o que pode gerar maior grau de dificuldade no entendimento das orientações prestadas e a necessidade de uma adequação do cuidado a esses usuários (GUIBU et al, 2017). O que justifica ainda mais a necessidade da personalização das receitas médicas e de enfermagem. Desse modo, haveria uma dignificação no cuidado prestado à medida que a pessoa usuária tornar-se-á detentora do saber relacionado ao seu autocuidado, o que gera benefícios para si mesma. Também é pertinente que a equipe de saúde da família engaje os familiares dos pacientes nos cuidados realizados, pois propiciará a melhora na manutenção das terapias medicamentosas e o estreitamento de laços entre pacientes e familiares e entre a equipe de saúde e sua população adscrita. 120 Na sala onde são realizados procedimentos pelos técnicos de enfermagem, foi observado que 74,04% dos usuários não foram orientados quanto aos cuidados domiciliares. Atrelado a isso, existe um déficit de materiais para realização dos procedimentos. Sabe-se que a orientação feita antes dos procedimentos tem grande impacto na forma como o paciente irá perceber o cuidado recebido. Quando orientado, o paciente tende a se manter calmo e confiante, sentindo maior segurança (COUTO, HELL, LEMOS, CASTRO, 2015). Isso facilita a realização do procedimento tornando-o mais seguro. Diante desse contexto, a falta de compreensão das prescrições após as consultas médicas e de enfermagem e a falta de orientação aos cuidados domiciliares na sala de procedimentos foram os dados mais alarmantes. Optou-se desta forma por escolhê-los para a construção do plano de ação. Para esses dois problemas, foram criados dois diagramas de Ishikawa, juntamente com os profissionais envolvidos (médico, enfermeiros e técnicos) para verificar o que poderia estar causando esses problemas. Para isso, conversou-se individualmente com participantes da pesquisa. Após discursão com os profissionais de saúde e representantes dos usuários, evidenciou-se que as causas do problema da falta de compreensão das prescrições pelos idosos foram: falta de engajamento dos profissionais, pressa para finalização da consulta, letra ilegível, usuário apressado, usuário teme perguntar ao profissional suas dúvidas, idosos frágeis desacompanhados, demanda 121 reprimida, unidade sem sistema informatização, falta de avaliação e monitoramento do processo de trabalho, falta de insumos para prescrição personalizada, falta de padronização e gestão da clínica. Para o problema “falta de orientação aos pacientes quanto aos cuidados domiciliares”, as causas elencadas foram: usuário com pressa de ir embora, falta de protocolo de atendimento, falta de conhecimento técnico-científico, desmotivação, falta de organização institucional, pessoa idosa desacompanhada, falta de protocolo, falta de gestão da unidade para acompanhar desempenho profissional, cultura punitiva e repressão e falta de comunicação entre os profissionais. Esses fatores geraram dois planos de ação, elaborados pelos autores, para possíveis soluções, conforme demonstrado na tabela 1 e 2 a seguir. Tabela 1 – Plano de Trabalho “Falta de entendimento das prescrições por pacientes idosos”. Acarape, 2019 What (O quê) Who (Quem) When (Quando) Where (Onde) Why (Por quê) How (Como) Treinamento sobre prescrição personalizada Bolsista da Unilab 10 de janeiro 2019 Unidade de Saúde - Centro Demostrar formas de elaborar uma prescrição de forma mais compreensível para pacientes idosos e reforçar a importância da explicação da prescrição. - Iniciar o workshop com a apresentação dos participantes do encontro. - Breve introdução do contexto da pesquisa, justificando o encontro. - Demonstração das ferramentas como lápis de cor, tecidos ou papeis coloridos e desenhos 122 ilustrativos que permitam a construção de prescrições mais lúdicas e sua utilização. - Demonstrar como elaborar uma prescrição personalizada utilizando os materiais citados acima. Simular uma situação e pedir que o profissional reproduza a receita. - Durante o Workshop, enfatizar a importância de explicar a prescrição ao paciente até que ele seja capaz de repetir a orientação. *O workshop ocorrerá em janeiro, na Unidade de Saúde. O encontro terá duração de no mínimo 1hora e contará com a participação de médicos e enfermeiros da unidade. Reforçar a importância da utilização da letra legível Bolsista da Unilab 10 de janeiro 2019 Unidade de Saúde - Centro Para minimizar erros de interpretação e leitura. Durante o workshop que ocorrerá em janeiro, realizar uma roda de conversa com os profissionais médico e de enfermagem para utilizar letras de forma ou que seja compreensível pelo usuário. Ao final do encontro, será sugerido 123 que a coordenação da Unidade realize após 6 meses uma nova avaliação através de entrevista com os usuários idosos para verificar se estes continuam a relatar problemas de compreensão das prescrições, caso seja necessário, o bolsista poderá realizar a avaliação para não comprometer as atividades da coordenação. Reavaliar a demanda de atendimentos e tempo de consulta por paciente Bolsista 07 de janeiro 2019 Unidade de Saúde – Centro Para que seja utilizado o tempo adequado em cada consulta sem que seja necessário apressá-las para atender a todos dentro do tempo pré- definido Realizar o levantamento atual do tempo médio de permanência dos pacientes nos consultórios e a quantidade de pacientes atendidos diariamente através dos mapas diários de consulta e cálculo da quantidade de pacientes atendidos dividido pelo tempo total de horas trabalhadas no dia. Esse levantamento auxiliará na avaliação do atendimento. Será um levantamento único somente 124 para verificar se há necessidade de redimensionar os atendimentos de modo a não interferir na sua qualidade. Verificar se o paciente / acompanhante compreendeu a prescrição Profissionais que realizam prescrições A partir de 14 de janeiro Unidade de Saúde - Centro Para minimizar erros de interpretação e consequente mente, uso incorreto da medicação Após o workshop, o bolsista passará 2 semanas em dias alternados na Unidade avaliando se o paciente idoso sai do consultório sabendo reproduzir a orientação do profissional quanto a prescrição recebida para verificar se houve uma compreensão correta.Sugerir que seja criado protocolo onde pacientes acima de 70 anos precisem estar acompanhados durantes as consultas. Bolsista 10 de janeiro 2019 Unidade de Saúde – Centro Para que se tenha maior segurança quanto à compreensão das informações repassadas. Caso a gestão acate a sugestão, criar um documento onde fica definido que o paciente acima de 70 anos ou com deficiência cognitiva deverá comparecer à unidade de saúde com acompanhante. Divulgar na Unidade de Saúde e rádios locais. Insumos para Gestão do 19 a 23 de Unidade Para que Realizar um 125 prescrição personalizada município novembro de Saúde – Centro seja possível a produção das prescrições personalizad as levantamento dos materiais necessários, o custo deste e verificar a viabilidade financeira para a aquisição desses materiais pela secretaria de saúde. Padronização do atendimento de pacientes idosos Bolsista 19 a 23 de novembro Unidade de Saúde - Centro Para melhor organização do serviço Criar fluxo de atendimento para atendimento de pacientes idosos e quais as melhores decisões a serem tomadas (necessidade ou não de receita personalizada). Tabela 2 – Plano de Trabalho “Falta de orientação aos pacientes quanto aos cuidados domiciliares na sala de procedimentos”. Acarape, 2019 What (O quê) Who (Quem) When (Quando) Where (Onde) Why (Por quê) How (Como) Curso de atualização dos profissionais de nível médio Bolsista e enfermeiro convidado 11 de janeiro 2019 Unidade de Saúde do Centro Para atualizar os profissionais quanto aos cuidados de pacientes com doenças crônicas (diabetes e hipertensão) - Será feito o convite do encontro aos funcionários que realizam aferição de pressão, glicemia e curativos da unidade e os agentes comunitários de saúde. O encontro ocorrerá dia 11 de janeiro de 2019. Acontecerá a apresentação do enfermeiro convidado. O 126 enfermeiro convidado conduzirá o encontro falando sobre a correta aferição de PA, glicemia e curativo e como orientar o paciente acometido com essas doenças quanto aos cuidados domiciliares e a importância da correta orientação para garantir a continuação do cuidado bem como a importância de cada profissional nesse processo. Será aberto um momento para tirar dúvidas. Ao final será realizado um teste básico de conhecimentos. O treinamento terá uma duração mínima de 2horas. Criação de protocolo de atendimento a pacientes que precisam de cuidados domiciliares Bolsista, enfermeiros da Unidade, pelo menos 2 ACS 08 de janeiro 2019 Unidade de Saúde do Centro Para identificar pacientes que precisam de acompanhamento da equipe e de orientação diferenciada - Verificar se na unidade existe protocolo de atendimento para pacientes em cuidados domiciliares. Verificar a periodicidade do comparecimento do paciente à Unidade. Convidar enfermeiros e ACS para redesenhar o fluxo desses pacientes (caminho percorrido pelo paciente hipertenso, diabético e que precise de curativo, durante o atendimento na Unidade de Saúde). Criar protocolo de atendimento desses pacientes na sala 127 de procedimentos. Orientação do profissional da sala de procedimentos quanto aos pacientes em cuidados domiciliares Bolsista e enfermeiro 11 de janeiro 2019 Unidade de Saúde do Centro Para que a funcionária saiba identificar que protocolo utilizar e o que fazer quando receber esses pacientes. A funcionária receberá todas as informações de como proceder quando receber um paciente na sala de procedimentos que precise de orientação para realizar o autocuidado em casa através de um treinamento sobre os protocolos criados, bem como qual deles utilizar em cada situação e como orientá-los da forma adequada. O estudo teve algumas limitações como: dificuldade de articular reuniões devido à baixa disponibilidade dos profissionais, dificuldade de comunicação com a gestão, embora a demanda tenha sido uma solicitação do município, dificuldade em localizar os conselheiros de saúde e medo de alguns profissionais em se posicionar quando perguntados sobre alguns aspectos relacionados ao funcionamento da Unidade, isso decorre às questões políticas que têm forte influência na conduta dos profissionais. CONCLUSÃO A observação da comunicação entre profissional x profissional e profissional x paciente foi uma etapa de suma importância para a detecção de fatores que influenciam positiva ou negativamente na segurança do paciente. A partir dessa perspectiva é possível desvelar os problemas existentes. Verificou-se ainda que os profissionais se comunicam entre sim. Entretanto, ainda há fragilidades 128 para engajar o usuário para a continuidade do cuidado, seja pela adesão à prescrição medicamentosa, seja pela execução adequada dos cuidados no ambiente familiar. É necessária que constantes avaliações do processo de trabalho sejam realizadas e rotinas e protocolos pré- definidos sejam implantadas a fim de garantir a comunicação efetiva na UBS. Desta forma, antes de engajar os usuários, engajar os profissionais envolvidos na prestação de cuidado deve ser feito. Profissionais motivados e direcionados a partir da construção coletiva do plano de ação favorece o engajamento para que a cultura de segurança seja alcançada. Nota-se, portanto, que a utilização de ferramentas aplicadas à gestão de problemas no setor saúde, em especial na APS, aliados à uma comunicação efetiva entre a equipe e os usuários do serviço pode ser um caminho para melhoria do cuidado prestado nos serviços de saúde, por ser possível a identificação de fragilidades, suas causas e possíveis soluções de forma pontual e direcionada. REFERÊNCIAS CAPUCHO, H.C.; CASSIANI, S.H.B. Necessidade de Implantar Programa Nacional de Segurança do Paciente no Brasil. Rev Saúde Pública. v. 47, n. 4, p. 791-8, 2013. COUTO, A.M.; HELL, C.A.I.; LEMOS, I.F.; CASTRO, E.A.B. Cuidado domiciliar sob a ótica de idosos dependentes: contribuições para à enfermagem. Revista Baiana de Enfermagem, v.30, n.4, p.1-12, 2016. 129 DA SILVA, A.P.F.; RIBEIRO, A.C.; SACCOL, A.L.; COLOMÉ, J.S. Segurança do paciente na atenção básica em saúde. Disciplinarum Scientia, v.18, n. 3, p. 563-73, 2017. GUIBU, I.A.; MORAES, J.C.; JUNIOR, A.A. 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Int J Qual Health C 130 131 SEGURANÇA DO PACIENTE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: O OLHAR DOS GESTORES, TRABALHADORES DE SAÚDE E PESSOAS USUÁRIAS Patrícia Freire de Vasconcelos Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho Maria Isis Freire de Aguiar Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos Vitória Talya dos Santos Sousa Maria Salete Bessa Jorge Consuelo Helena Aires de Freitas INTRODUÇÃO Em 2012, quando ocorreu a primeira reunião Safer Primary Care Expert Working Group promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), um novo momento surgiu e se tornou necessário entender e analisar as lacunas relacionadasà temática. Com ele, iniciou-se também, o Programa de Segurança do Paciente no Cuidado Primário com o objetivo de compreender sobre os riscos existentes para o usuário nos cuidados da atenção primária à saúde, a magnitude e a natureza dos danos evitáveis devido a práticas inseguras e os mecanismos de segurança para usuário (OMS, 2012). Ainda segundo a OMS (2012), há poucos estudos relacionados à segurança do paciente na Atenção Primária a Saúde (APS). Pouco se sabe, por exemplo, do quantitativo dos eventos adversos e tampouco da incidência de riscos associados para sua ocorrência, já que existe uma falsa percepção que na atenção primária o usuário está menos susceptível a práticas não seguras. Por outro lado, apesar dos incidentes na APS não apresentarem consequências drásticas, seus efeitos são em maior magnitude, por serem 132 erros repetitivos e por exporem um maior número de pessoas (RUNCIMAN, EDMONDS, PRADHAN, 2002; BRASIL, 2013). Raimondi et al (2019) ao avaliar sobre a cultura de segurança na atenção primária à saúde verificou que os enfermeiros eram aqueles que mais tinham pontuação positiva à cultura de segurança na APS (67,7%), enquanto os agentes comunitários de saúde 46,73%. Já os dentistas apresentaram 58,06% e os médicos 51,79%. Atrelado a isso, não se conhece muito bem sobre os aspectos relacionados à segurança do paciente na atenção primária à saúde. Tais dados fortalecem a necessidade de discussão do tema para melhoria da qualidade do cuidado. Diante desse contexto, neste estudo objetivou-se compreender a concepção do conceito “segurança do paciente” pelos trabalhadores de saúde, pessoas usuárias e gestores na APS. METODOLOGIA Esta pesquisa se caracteriza por uma investigação qualitativa. A pesquisa qualitativa considera a subjetividade do pesquisador. Dessa forma, as intencionalidades e subjetividades de quem processa a pesquisa, assim como também suas reflexões, atitudes e sentimentos tornam-se dados em si mesmos e constituem material para interpretação. Consideram a comunicação do pesquisador em campo como parte explícita da produção de conhecimento, tornando-se parte do processo de pesquisa a subjetividade do pesquisador e daqueles que estão sendo estudados (FLICK, 2009). 133 Sobre a abordagem utilizada, adotou-se a participativa, que objetiva engajar os atores no processo de avaliação, visando à sua capacitação e desenvolvimento, como foi vislumbrado nessa investigação. Por meio do processo investigativo foi possível instigar seus participantes sobre a temática. Tal abordagem apoia-se no paradigma construtivista, já que o desenho é aberto à invenção; à obtenção de dados e ao descobrimento; e à análise e à interpretação. Para o construtivismo, a crítica e a transformação estariam centradas nas metas de reconstrução dos pontos de vista dos implicados no que está sendo estudado (SILVA, 1998). Os sujeitos do estudo foram 19 trabalhadores de saúde e 03 gestores das Unidades Básicas de Saúde. Os critérios de inclusão foram trabalhar há, no mínimo, um ano na UBS em que estavam locados, pois já participaram do processo de territorialização e conhecem a realidade de sua área adstrita. Já para as pessoas usuárias foram consideradas aquelas cadastradas e acompanhadas pelas equipes de Saúde da Família, totalizando 24 pessoas. Os dados foram coletados no período de agosto a dezembro de 2014. Para a coleta de dados com os gestores e profissionais de saúde (médicos, dentistas e enfermeiros) foram utilizadas técnicas de entrevista semiestruturada. Foi feito previamente um encontro para agendar o melhor horário possível para sua realização. O local e o horário da entrevista foram definidos ajustados previamente. Em relação aos usuários foram aplicados grupos focais, realizados em um ambiente reservado, sem interrupções, com tempo médio de 60 minutos de duração. Foram feitos 3 grupos focais com usuários e no período previamente combinado com os profissionais de saúde, já 134 que a atividade foi feita antes do atendimento dos usuários com o profissional, que em um momento anterior já havia participado da pesquisa. Quanto aos agentes comunitários de saúde foi realizado um grupo focal no turno da manhã, antes de encaminharem-se para sua área adstrita com duração de 58 minutos. Anteriormente ao início do grupo focal, foi explicada a importância da participação dos colaboradores. Reforçou- se que todos os aspectos éticos foram cumpridos, informando inclusive que as entrevistas seriam gravadas e transcritas, garantindo o anonimato posterior para divulgação dos dados obtidos. As entrevistas e os grupos focais foram gravados na íntegra com autorização prévia dos entrevistados. Após gravação, foi colocado à disposição do entrevistado, para que o mesmo pudesse ouvi-la, e caso desejasse modificar ou acrescentar questões relativas ao seu depoimento ficasse a vontade para fazê-lo. Dessa forma, foram utilizadas letras para identificar as falas utilizadas. Usou-se “E” para enfermeiros, “M” para médicos, “G” para gestores, “ACS” para agente comunitário em saúde e “U” para usuário. As informações coletadas por meio de entrevistas e atividade grupal, após transcrição integral das gravações, foram analisadas utilizando a técnica de análise categorial temática, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens em três fases: Pré-análise; Exploração do material; Tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Para tratamento do material qualitativo, escolheu-se utilizar o software QRS (Qualitative Solutions Research) NVivo® versão 10.0, doravante escrito como NVivo. O 135 NVivo é o software mais utilizado em pesquisas qualitativas (30%), seguida pelo software Atlas (26%) e do MaxQDA (9%). Seu uso está bem demonstrado por sua facilidade e contribuição para a investigação (PINHO et al, 2014). Ressalta-se que o software não realiza análise, sendo esse processo feito pelos pesquisadores. O software limitou-se a organização dos dados, o que facilitou a análise do material empírico. O projeto foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceara (UECE) e a pesquisa de campo se iniciou após sua aprovação mediante parecer de aprovação no. 735.550 de 01/08/2014. RESULTADOS E DISCUSSÃO A temática Segurança do Paciente é considerada por muitos na Atenção Primária à Segurança (APS) como algo novo. Isso também foi relatado por todos os entrevistados: “[...] uma temática que no universo da atenção primária é uma coisa ainda muito incipiente [...] uma temática nova para nós profissionais da ponta” (D1, G4, E4). Talvez isso ocorra porque poucos são os estudos relacionados à segurança do paciente em países em desenvolvimento. Apesar da vigência da Política Nacional de Segurança do Paciente, a temática ainda não está institucionalizada na APS, o que reforça ainda mais o desconhecimento sobre a temática. Atrelada a isso, observou-se que as pessoas de um modo geral, não percebem os riscos que podem estar imbuídos no cuidado prestado na APS. Há uma falsa impressão que o cuidado prestado na APS é seguro, o que já foi questionado pela Organização 136 Mundial da Saúde na reunião inaugural do grupo de trabalho em segurança do cuidado na APS que ocorreu em Genebra em 2012 (OMS, 2012). Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) investigadas, apenas uma gestora conhecia a temática, pois trabalhava em uma unidade hospitalar onde o tema estava sendo bastante debatido. Por isso, ela tinha a percepção que o erro também poderia ocorrer nas UBS, como pode ser percebido no relato a seguir. [...] eu acho que é um tema que passa despercebido dentro das unidades. A gente vê muito isso dentro das unidades hospitalares por conta dos erros e aqui a gente também é passível de erro [...] O risco que ele corre de ter uma medicação mal aplicada, de receber um remédio erradona farmácia [...] (G4, E1) Decorrente do desconhecimento sobre a temática, durante as entrevistas ao instigá-los por meio de tempestade de ideias sobre o tema, foi frequente a associação pelos colaboradores com a Segurança Pública, relacionando com violência vivenciada por usuários na UBS. Pelo o que se observou isso se deve a sensação de insegurança vivida: “[...] eu pensei na segurança publica mesmo [...]” (D6, E1). A segurança do paciente na APS também foi bastante associada à biossegurança em procedimentos, especialmente odontológicos. Foi dada bastante ênfase ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI) pelos profissionais de saúde. Quanto aos gestores, a segurança do paciente ficou ligada a suprimento destes materiais para que o cuidado fosse prestado de forma segura: “[...] no sentido de segurança de atendimento mesmo, de procedimentos e a forma como ele é tratado dentro das normas de biossegurança [...]” (G1, D6, D1, D4, M4). 137 É interessante que apesar de os profissionais no primeiro momento não conhecerem a temática, eles conseguiram perceber e despertar por meio de insights sobre aspectos relacionados a controle de infecção, que é uma das metas internacionais propostas pela Organização Mundial da Saúde. [...] a questão de barreiras de proteção para evitar contaminação / infecção cruzadas... o profissional que esta atendendo deve usar de higiene, limpeza, lavagem das mãos, troca de luvas, higienização de estetoscópio entre um paciente e outro, coisas que muitas vezes nós não temos tempo de fazer por conta da alta demanda [...]. (M2, D1) Alguns profissionais enfatizaram a segurança do paciente ao cuidado prestado e as condutas clínicas tomadas. No entanto, pouco se sabe sobre os possíveis riscos para os pacientes na APS. É sabido que uma proporção significativa de incidentes relacionados à segurança do paciente nos hospitais tenha origem em pontos anteriores de cuidado, como na atenção primária à saúde (OMS, 2012). Ainda sobre os relatos, valorizou-se a importância da anamnese e do exame físico adequados de forma a evitar que erros ocorressem. Assim como também, atender as necessidades básicas do usuário. Entretanto, observou-se que nem sempre isso ocorre, já que a vontade do profissional prevalece em detrimento ao que o usuário deseja. [...] a questão da tentativa da segurança vem muito ligada a anamnese, conduzir da melhor forma possível para ter o menor risco possível [...] sentir amparado pelas necessidades básicas que a equipe pode suprir [...]. (D4, D6, M1) Inferiu-se também pelos colaboradores da investigação, há uma percepção de que a relação terapêutica usuário e profissional é determinante para o cuidado 138 seguro. Confiança e aptidão foram apontados como fortalezas nessa relação: “[...] eu acho que a segurança também envolve isso de você confiar no profissional que você tá nas mãos [...]” (D4, E1). Já para os usuários, houve fortemente relatos de que a segurança está intimamente ligada com o acesso. Alguns profissionais fizeram essa realação de que para se alacançar segurança, o acesso deve estar garantindo. Para a OMS, a cobertura universal por meio do acesso seguro a APS é uma meta prioritária (OMS, 2012). Para os usuários, o acesso é um ponto chave para se sentir seguro: “[...] mas quando se pensa em segurança, é a gente pensando em acesso [...]” (M1, E6, M1, U1, U2, U4, U5, U7, U13). Na perspectiva de acesso, a continuidade do cuidado é outro fator associado à segurança do paciente pelos colaboradores da investigação. [...] falando em continuidade, eu tento ao máximo conseguir com que ele saia daqui, encaminhado, com seguimento pra que ele possa ter a segurança do seu atendimento garantido. (M1, M2, E6) Além disso, referiu-se a necessidade de protocolos para a padronização dos processos e procedimentos. No que tange ao uso de protocolos, os resultados do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica (PMAQ) apontaram que 62% dos profissionais de saúde não utilizam os protocolos recomendados para realizar a avaliação clínica inicial, indicando espaço para melhorias das práticas seguras. Observou-se que não foram utilizados protocolos, apesar destes serem apontados como necessários para a segurança do paciente: “[...] o acompanhamento seguindo os padrões já estipulados [biossegurança]” (M1). Isso reforça ainda mais a 139 necessidade de monitoramento ações de prestação do cuidado, sobretudo dos processos. Apesar da dificuldade em definir o que seria segurança do paciente, para um gestor a segurança do paciente está relacionada a evitar erros. Importante frisar que a gestora já tinha conhecimento prévio por exercer atividades laborais em uma unidade hospitalar onde a temática está sendo discutida. [...] é uma ferramenta que a gente tem que tá utilizando constantemente para evitar os erros dentro das unidades, dentro dos procedimentos que são executados dentro da unidade [...] (G4) Para uma profissional, percebeu-se que a sua percepção sobre o que seria segurança do paciente estava alinhada com a definição proposta pelo Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2013), que define que segurança do paciente estaria relacionada à redução do risco de dano desnecessário à atenção à saúde. Com isso, percebe-se a necessidade de abordar ainda mais o assunto na APS. [...] são todas as ações desempenhadas no sentido de preservar o cliente, tanto no sentido de fazer menos intervenções possíveis, as intervenções que a gente faz necessárias a gente faça com eficiência, naquela ação com qualidade e sempre e preservando o cliente [...] (E4) Este conceito está intimamente relacionado também com o proposto pela IOM (2000), que define segurança do paciente como a capacidade de um sistema de atenção à saúde evitar os danos da atenção que se supõe ser prestada para ajudá-las a melhorar suas condições de saúde. A seguir na Figura 1, por meio do software NVivo®, a árvore de palavras ilustra panoramicamente os diversos 140 contextos em que foram utilizadas a palavra “segurança” e a associação deste conceito pelos participantes da pesquisa. Figura 1 - Árvore de palavras da subcategoria Percepções atribuídas à Segurança do Paciente pelos usuários, trabalhadores e gestores. Via QRS NVivo. Fortaleza, 2015 Fonte: Elaborado pelos autores 141 CONCLUSÃO No transcorrer deste estudo procurou-se apresentar de forma singular a segurança do paciente na atenção primária em saúde na perspectiva por quem dela participa diariamente: o gestor local, o trabalhador de saúde e o usuário. Atrelada a isso, a experiência de uma das pesquisadoras no decorrer da pesquisa foi fundamental para inserção neste campo, no qual também estava inserida por fazer parte da equipe de Saúde da Família. O estudo demonstrou ainda o quanto o tema segurança do paciente no Brasil precisa ser aprofundado. Reconhecer que a APS não é um espaço totalmente seguro e livre de riscos foi uma singularidade da pesquisa. Isso foi possível por meio da reflexão gerada pelos colaboradores no transcorrer de sua construção, podendo ser evidenciado pelo relato dos colaboradores ao admitir o quanto esse tema é importante e necessário para as práticas de produção de cuidado. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC Nº 36, de 25 de Julho de 2013. [Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências]. Diário Oficial da União: seção 1: Poder Judiciário, Brasília, p. 32, 25 jul. 2013. FLICK, U. W. E. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. INSTITUTE OF MEDICINE (IOM). Crossing the Quality Chasm. A New Health System for the 21st Century. National Academy Press, Washington, 2001. 142 OMS. World Health Organization. Summary of Inaugural Meeting of Safer Primary Care Expert Working Group. Safer Primary Care: A Global Challenge. Geneva,2012. PINHO, I. et al. Determinantes na adoção e recomendação de software de investigação qualitativa: estudo exploratório. Internet Latent Corpus Journal, v.4, n.2, 2014. RAIMONDI, D.C. et al. Cultura de segurança do paciente na atenção primária a Saúde: análise por categorias profissionais. Rev. Gaúcha Enferm., v. 40, 2019. RUNCIMAN, W. B.; EDMONDS, M. J.; PRADHAN, M. 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Tese (Doutorado em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde) – Programa de Pós- Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem 143 EVIDÊNCIAS SOBRE A CULTURA DE SEGURANÇA E AS BOAS PRÁTICAS NAS MATERNIDADES Sherida Karanini Paz de Oliveira Mayara Magna dos Santos Ana Lívia Araújo Girão Fernanda Fontenele INTRODUÇÃO O Brasil instituiu, no ano 2000, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), com o propósito de reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna e perinatal, implementando medidas para melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério. Porém, muitos desses protocolos não estão sendo desenvolvidos de maneira satisfatória em vários lugares do Brasil (MARTINELLI et al. 2014). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), de 130 milhões de nascimentos que acontecem todos os anos, 303 mil estão relacionados à morte da mãe; 2,6 milhões aos natimortos e os outros 2,7 milhões de recém-nascidos morrem nos primeiros 28 dias após o nascimento (WHO, 2015). Entre os anos 2000 e 2015, mais de 1,5 milhões de mortes maternas teriam sido evitadas, porém apesar do progresso alcançado, a mortalidade materna continua sendo inaceitavelmente alta com cerca de 280 mil mortes 144 maternas em todo o mundo a cada ano (WHO, 2014; GAFFEY et al., 2015). Para uma assistência materna segura e de qualidade, é necessário o desenvolvimento de uma cultura de segurança. Conforme o Ministério da Saúde, segurança do paciente é definida como a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde (BRASIL, 2013). Já cultura de segurança, para a Health and Safety Comission (HSC), configura-se como um conjunto de comportamentos, atitudes, percepções, crenças e valores de profissionais de uma organização de saúde que oportuniza a identificação e o aprendizado a partir dos erros, determinando o empenho, o compromisso, o estilo e a competência da administração de uma determinada organização (HSC, 1993). Pode ser, ainda, o produto individual ou coletivo, de valores, de atitudes, percepções, competências e padrões de comportamentos que determinam o compromisso, o estilo e a competência de uma organização de saúde na promoção de segurança (SAMMER et al., 2010). Com uma cultura de segurança positiva, os resultados surgem naturalmente, pois gestores e profissionais enxergam o erro como oportunidade de melhoria e não como fracasso que merece ser penalizado. Diante da importância da implementação e manutenção de uma cultura de segurança nas maternidades e assistência obstétrica, surgiu o seguinte questionamento: existem cultura de segurança e implementação de boas práticas nas maternidades brasileiras? Devido a preocupação com as boas práticas na maternidade e o elevado número de mortes evitáveis de 145 mulheres, se faz necessário conhecer a cultura de segurança das maternidades, bem como se boas práticas estão sendo implementadas a fim de evitar erros e danos e garantir uma assistência de qualidade e segura. Acredita-se que esse estudo proporcionará subsídios para avaliação e ciência acerca da cultura de segurança nas maternidades e servirá de reflexão para o desenvolvimento de estratégias com vistas a uma assistência efetiva, além da diminuição da morbimortalidade materna e perinatal nas maternidades. Ante o exposto, teve-se como objetivo descrever as evidências disponíveis acerca da cultura de segurança e as boas práticas nas maternidades brasileiras, segundo a literatura científica. MÉTODO Trata-se de uma revisão integrativa da literatura seguindo os preceitos de Mendes, Silveira e Galvão (2008), quais sejam: identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos, amostragem ou busca na literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Inicialmente, foi definido como tema do estudo as ações promotoras de segurança nas maternidades, considerando a importância da temática na obstetrícia, cuja finalidade é melhorar a qualidade da assistência prestada na hora do parto e pós-parto. 146 Assim, surgiu a seguinte questão norteadora do estudo: “qual a cultura de segurança das maternidades e que ações estão sendo praticadas para garantir a segurança a gestantes e ao bebê?”. A coleta de dados ocorreu no mês de dezembro de 2017 por meio de busca nas bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SCIELO); Base de Dados da Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino- Americana em Ciências da Saúde (LILACS). Como critérios para inclusão dos artigos, estabeleceram-se: artigos disponíveis na íntegra, artigos com texto completo e artigos que respondessem a questão norteadora. Em relação aos critérios de exclusão, tem-se: artigos repetidos nas bases de dados; trabalhos de conclusão de curso (monografias, dissertações, teses); artigos de revisão e resumos de congressos. Utilizaram-se os descritores controlados dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “segurança do paciente”, “enfermagem obstétrica”, “qualidade da assistência a saúde”, “humanização da assistência” e “enfermagem materno-infantil”. A busca dos artigos foi realizada colocando os descritores no campo assunto ou descritor de assunto nas bases de dados, utilizando o descritor “segurança do paciente” como palavra chave e entrecruzando-o em suas diversas possibilidades com os outros descritores. Após a identificação e seleção dos artigos, conforme os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, foi realizada uma leitura pormenorizada de cada um e elaborou-se um quadro que auxiliou na coleta das informações presentes nos estudos, quais sejam: título, ano, 147 periódico, país de realização do estudo, objetivo e enfoque temático. Em seguida, realizou-se uma segunda leitura a fim de aprofundar as questões de pesquisa e fazer levantamento criterioso das variáveis de interesse de cada artigo, ou seja, as principais ideias-chave as quais foram dispostas nas seguintes variáveis: erros/eventos adversos, cultura de segurança na maternidade, ações para segurança do paciente e cuidados de enfermagem. Buscou-se em cada estudo identificar e estudar as variáveis e construir um texto revisando todo o escopo de questões envolvidas na cultura de segurança nas maternidades e as ações de segurança. Assim, os artigos foram analisados quanto ao nível de evidência, principais achados e a sua resposta às variáveis selecionadas para a revisão. Tais achados foram apresentados nas seguintes categorias temáticas: Cultura de Segurança na maternidade e Ações e ferramentas adotadas para garantir a segurança da gestante e do bebê e para prevenção de erros e eventos adversos. Esta etapa corresponde à fase de discussão dos principais resultados, na qual o pesquisador realiza a comparação dos estudoscom o conhecimento teórico, a identificação de conclusões e implicações resultantes da revisão integrativa. É possível identificar fatores que afetam a política e os cuidados de enfermagem (prática clínica). Permite assim que o revisor aponte sugestões pertinentes para a melhoria da assistência à saúde (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Portanto esta etapa proporcionou a resposta da questão norteadora e também levou a observação de erros 148 e condutas da equipe de enfermagem que são passíveis de modificação na prática clínica. O estudo foi organizado em etapas delineadas o que facilitou a compreensão dos passos seguidos a fim de obter uma síntese do conhecimento confiável, de modo a suscitar reflexões que podem proporcionar mudanças na prática clínica. Os resultados são apresentados de maneira confrontável e discursiva, possibilitando ao leitor a avaliação da finalidade deste estudo, absorvendo os aspectos positivos, atingindo assim o objetivo deste estudo. No tópico a seguir, apresenta-se a revisão integrativa na íntegra. APRESENTAÇÃO DA REVISÃO / SÍNTESE DO CONHECIMENTO Compuseram essa revisão 20 artigos selecionados após busca e leitura minuciosas, sendo os resultados apresentados em categorias temáticas discursivas. O procedimento de levantamento dos artigos nas bases de dados pode ser visualizado na Figura 1 por meio do Preferred ReportingItems for Systematic Reviewsand Meta-Analyses (PRISMA). 149 Figura 1. Preferred ReportingItems for Systematic Reviewsand Meta-Analyses (PRISMA) T R IA G E M Publicações após retirada de duplicidades (n=450) E LE G IB IL ID A D E Artigos avaliados na íntegra (n=100) Artigos com texto completo excluídos (n=80) • Mesmo previamente selecionado, após a leitura identificou-se que o estudo foi realizado em outras áreas (fora da maternidade) (n=80) IN C LU ÍD O S Artigos incluídos na revisão (n=20) ID E N T IF IC A Ç Ã O Artigos identificados por meio de pesquisa nas bases de dados (n=500) Publicações excluídas após leitura dos resumos (n=350) • Publicações excluídas por não atenderem aos critérios estabelecidos ou não responderem à questão norteadora (n=180); • Revisão integrativa (n=30); • Artigo não localizado na íntegra (n=50); • Teses/Dissertações/Monografias (n=90). 150 Houve um incremento nas publicações a partir de 2014, após a divulgação e publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) no 36 de25/07/2013 que institui ações de segurança do paciente em serviços de saúde. O ano de publicação dos artigos situou-se entre 2006 e 2018, demonstrando que esta é uma temática que obtém atenção dos estudiosos há algum tempo. Contudo, os anos de 2015 e 2016 foram os que concentraram maior número de estudos o que pode estar relacionado ao fato do Programa Nacional de Segurança do Paciente ser instituído no Brasil em 2013 (BRASIL, 2013) o que impulsionou as pesquisas na área. Salienta-se que não foi estabelecido critério de tempo para a presente pesquisa, com vistas a obter maior amostra de artigos possíveis. Os estudos foram publicados em periódicos de ampla circulação e de elevado impacto para a área de Enfermagem com qualis A1(02 artigo), A2 (08 publicações), B1 (06 artigos) e B2 (04 artigos). De acordo com o nível de evidência, os artigos foram classificados como nível de evidência 6, pois todos os artigos tratam de estudos descritivos e exploratórios, sendo 14 quantitativos e 6 qualitativos, conforme classificação proposta por Melnyk e Fineout-Overholt (2005), a saber: Nível 6 - evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo. Ressalta-se a importância da realização de estudos com desenho metodológico que favoreçam maior nível de evidência, como os ensaios clínicos randomizados. A seguir, são apresentados os achados da revisão segundo as variáveis de interesse em categorias temáticas. 151 CATEGORIA 1 - CULTURA DE SEGURANÇA NA MATERNIDADE As atitudes identificadas nos artigos para garantir uma assistência de qualidade e promover uma cultura de segurança foram: auxílio do gestor, trabalho em equipe, comunicação efetiva e constante, notificações dos erros, resposta não punitiva em relação ao erro e feedback entre gestão e profissionais acerca dos erros. O desenvolvimento de uma cultura de segurança é um elemento essencial para melhorar a segurança e qualidade do atendimento (WEAVER et al., 2013), porém a criação e implementação de uma cultura de segurança ainda é um desafio para os gestores e pesquisadores (ALVES; GUIRARDELLO, 2016). O apoio do gestor é importante, contudo, ainda é comum os gestores tratarem com superioridade, e de forma punitiva e autoritária os profissionais de saúde. Esse tipo de relação distância e dificulta a implementação da cultura de segurança (SILVA et al, 2016). A satisfação no trabalho, a forma como a gestão reage diante dos erros e a percepção dos profissionais em relação à gestão é considerada indicadores da presença de atitudes que favorecem o clima de segurança nas unidades de saúde (ALVES; GUIRARDELLO, 2016). Atitudes negativas em relação aos profissionais podem gerar sentimentos negativos dentro do ambiente de trabalho, ocasionando falhas no processo de cuidado. Sentimentos como desespero, desconfiança, medo e insegurança em relação à gestão demonstram o intenso sofrimento vivido pelos trabalhadores e trazem 152 consequências indesejáveis não só para os pacientes como também para os próprios profissionais (PADILHA et al., 2002). O trabalho em equipe é um aspecto fundamental para um atendimento de saúde seguro e de qualidade. Gera segurança e reduz o número de erros e seu potencial para a gravidade da situação. É importante lembrar que, em relação aos erros, deve-se refletir sobre o assunto e procurar sempre a resolução para o problema (FRAGATA, 2010). Problemas de comunicação prejudicam, sobremaneira, a segurança do paciente e o trabalho em equipe. A falta de comunicação leva à culpabilização, o que favorece o desgaste emocional, atrasos na administração de medicações ou na insegurança de falar sobre a realização de algum procedimento. Isso gera sérios problemas e gastos evitáveis para as instituições hospitalares (SILVA et al., 2007). O preenchimento das notificações dos erros/eventos adversos ainda é frequentemente não realizado pelos profissionais de saúde. Porém, é fundamental a utilização dessa ferramenta de gestão, visto que se configura como uma forma de avaliação e monitoramento dos processos e serviços (SORRA; DYER, 2010). Os eventos adversos estão sendo utilizados como importantes indicadores em relação à qualidade dos serviços e da assistência prestada. Embora esse não seja o esperado, esses eventos são observados frequentemente na prática durante a assistência (PELLICIOTTI; KIMURA, 2010). 153 Dentre as principais dificuldades para as notificações está o medo de punições e ausência de feedback da gestão em relação ao erro, o que leva os profissionais considerarem-na inútil. As respostas punitivas também são um fator que contribui para a não notificação de incidentes o que acarreta na negligência de informações sobre os erros, limitando a análise dos mesmos e consequentemente, a implementação de medidas corretivas (SORRA; DYER, 2010). Ademais, os profissionais preocupam-se com a possibilidade dos erros cometidos ficarem registrados no seu processo pessoal (SILVA et al., 2016). Em uma cultura de segurança justa, isso não deve existir, pois o uso correto das notificações irá garantir um meio de comunicação prático em prol da construção e reflexão de dados e indicadores, permitindo, assim, a efetivação de mudanças necessárias e favoráveis para assistência de saúde segura e de qualidade (PAIVA et al., 2010). Esse medo crescente no ambiente de trabalho acaba prejudicandoa implantação de uma cultura de segurança e vale lembrar que é importante a existência de um ambiente livre de culpa, até porque a ocorrência de erros é uma condição humana. Cada pessoa, independente da profissão, idade, experiência ou aptidão profissional, pode em alguma situação da vida cometer um erro. O segredo é reconhecer cada incidente, aprender com ele e usar esse conhecimento para diminuir a ocorrência de eventos no futuro (PAESE; SASSO, 2013). Percebe-se na prática a existência de um círculo vicioso que precisar ser urgentemente rompido para que as práticas sejam analisadas e as estratégias sejam implementadas, buscando sempre à melhoria da 154 comunicação e a garantia de cuidados seguros aos pacientes (OLIVEIRA et al., 2014). Pensando nos desafios a serem superados, percebe-se que ainda há muito o que fazer para promover a cultura de segurança no ambiente de trabalho, principalmente nas maternidades, onde foi possível observar que a falta de comunicação com a gestão é preocupante visto que acompanhar a mulher durante um momento tão delicado requer atenção e compromisso. Essa cultura irá favorecer não só a segurança da gestante, mas também a qualidade dos cuidados prestados. CATEGORIA 2 - AÇÕES E FERRAMENTAS ADOTADAS PARA GARANTIR A SEGURANÇA DA GESTANTE E DO BEBÊ E PARA PREVENÇÃO DE ERROS E EVENTOS ADVERSOS. Uma das ações para garantir a segurança e redução dos erros é a identificação do paciente. A identificação é destacada como uma das soluções e uma ferramenta de grande importância para a assistência segura. Quando utilizada da maneira correta, é uma ótima ação para prevenir erros ou eventos adversos nos diversos atendimentos relacionados ao cuidado (TASE; TRONCHIN, 2015). Podemos citar como instrumento na identificação do paciente, a pulseira que deve permanecer durante toda a permanência da gestante e do bebê na maternidade. O uso dessa identificação é uma prática de fácil implementação, mas para que sejam praticados de forma correta os profissionais e os pacientes devem compreender sua importância (LATHAM et al., 2012). 155 Complementando as ações promovidas pelos profissionais dentro das maternidades, destaca-se também a presença do acompanhante. Em 2001, o Ministério da Saúde publicou, o Manual do Parto, Aborto e Puerpério: assistência humanizada à mulher. Esse documento destaca a qualidade do cuidado à mulher no parto e pós-parto e a presença de um acompanhante como suporte emocional durante todo o ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2001). O acompanhante transmite suporte emocional, conforto e segurança e pode trazer benefícios para a mulher (KRUEL; LOPES, 2012). Cabe ressaltar a necessidade de educação em saúde a fim de que as gestantes obtenham informações importantes, como o direito a um acompanhante durante o trabalho de parto. Outro aspecto mandatório e que deve ser eliminado é o risco de queda, principalmente dos bebês. Para os profissionais de enfermagem um dos principais fatores de risco para queda de recém-nascido, principalmente no alojamento conjunto, é a falta de orientação para as mulheres sobre adormecer com a criança no leito (MARTINS; MELLO, 2001). Como estratégia para evitar as quedas, pode-se oferecer um suporte para a mãe descansar, principalmente no período noturno. Além de orientar o acompanhante para ajudá-la nos cuidados com o RN, garantindo assim melhores condições de descanso para a mãe e, assim, minimizar o risco de quedas nas maternidades (TORINO et al., 2016). Importante destacar outro fator risco à saúde da mãe e do bebê: o erro de medicações definido como um processo evitável, que pode ou não causar danos ao 156 paciente, seja temporário ou permanente e ocasiona prejuízos para a saúde da mãe e do bebê (ROSA; PERINI, 2003). Algumas estratégias para garantir uma prática segura na administração de medicamentos incluem o sistema de dupla checagem em qualquer parte do processo de medicação, a monitorização e avaliação da resposta do paciente quanto à terapêutica adotada, tomada de decisão rápida relacionada às intercorrências que requerem imediata modificação dos medicamentos instalados (BOHOMOL, 2014). E por fim, aponta-se o Check List do Parto Seguro como boa prática realizada nas maternidades. O Programa de Segurança no Parto da OMS desenvolveu uma lista de verificação para apoiar os cuidados essenciais às práticas maternas e perinatais por profissionais de saúde que atendem os partos em ambiente hospitalar (WHO, 2013). A Lista de Verificação aborda as principais causas dos óbitos maternos (hemorragias, infecções, parto obstruído e problemas de hipertensão) e das mortes neonatais (asfixia no parto, infecções e complicações relacionadas com a prematuridade do parto). Com foco nessas causas e com sua implementação de forma correta, consegue-se diminuir as altas taxas de mortalidade (WHO, 2015). Para promover a melhoria do cuidado nas maternidades e garantir a segurança é necessário que os profissionais tenham sensibilidade, responsabilidade e capacitação. Com o apoio de uma gestão focada na qualidade do serviço e na segurança do paciente, essa mudança nas boas práticas se torna algo concreto, 157 mudando assim a realidade encontrada hoje no cenário da obstetrícia. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se notar com o presente estudo, depois de realizada a análise das evidências científicas, que é comum encontrarem nas maternidades erros e eventos adversos, e principalmente e igualmente preocupante, a ausência de uma cultura de segurança. Foi possível estudar as principais falhas e conhecer as estratégias utilizadas na tentativa de mudar essa realidade relacionada à saúde. A cultura de segurança nas maternidades foi evidenciada como algo a ser melhorado e estimulado com vistas a atender aos requisitos preconizados pelo Programa Nacional de Segurança do Paciente, além de garantir um cuidado de excelência livre de erros e danos. Uma cultura de segurança favorável deve ser a ação primordial realizada pelas instituições de saúde e gestores. Por fim, foram identificadas as boas práticas tais como: uso de pulseiras para identificação, incentivo à presença do acompanhante, ações preventivas relacionadas à prevenção de quedas e de erros com medicação, utilização do check list do parto seguro, além de otimização da comunicação e capacitação contínua. REFERÊNCIAS ALVES, D.F.S.; GUIRARDELLO, E.B. Ambiente de trabalho da enfermagem, segurança do paciente e qualidade do cuidado em hospital pediátrico. Rev Gaúcha Enferm., v. 37, n. 2, 2016. 158 BOHOMOL, E. Erros de medicação: estudo descritivo das classes de medicações de alta vigilância. Esc. 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Para atuar nestas unidades e atender às necessidades dessa população, é preciso que os profissionais garantam uma observação rigorosa a esses recém-nascidos cujas patologias podem ocasionar morte ou sequelas que interferirão no seu desenvolvimento (COSTA, PADILHA, 2011). Quando se trata de assistência a recém-nascidos de alto risco, são requeridos cuidados específicos, além de disponibilidade de recursos, tais como estrutura física em conformidade com padrões técnicos, recursos materiais e 164 equipe capacitada. Porém, outros componentes, como os relacionados aos processos de trabalho, interferem no produto final do serviço de saúde, afetando sua efetividade (BOSI, UCHIMURA, 2007). Considerando a complexidade das unidades de terapia intensiva neonatais, faz-se necessário o desenvolvimento de estudos que abordem a cultura de segurança do paciente nessas unidades, uma vez que esse ambiente pode oferecer maiores riscos ao neonato, devido suas particularidades e a intensa assistência demandada (TOMAZONI ET AL., 2014). Pensar em segurança do paciente remete ao estudo da ocorrência de erros e eventos adversos oriundos da assistência prestada. Diante disso, torna-se imperativo estabelecer estratégias efetivas para minimizar as possibilidades, dentro do processo de trabalho, de ocorrência destes incidentes. Portanto, considera-se que a presença de eventos adversos em terapia intensiva neonatal tem se tornado um importante desafio na assistência aos recém-nascidos. No entanto, estudos epidemiológicos que abordem este tema ainda são escassos (VENTURA, ALVES, MENESES, 2012). Em UTIN, a peculiaridade da clientela atendida aumenta a suscetibilidade ao erro e a eventos adversos. Entre os erros mais comuns está o de medicação, e os seus eventos adversos podem ocorrer até oito vezes mais frequente quando comparado com os pacientes adultos (GRAY, GOLDMANN, 2004). Um erro de medicação é definido como uma falha no planejamento do processo de fornecimento da terapia medicamentosa, em qualquer etapa deste (prescrição, 165 transcrição, dispensação, administração ou acompanhamento uma medicação) (FRAK ET AL., 2011) Diante desse contexto, questiona-se: quais os erros de medicação mais comuns em UTIN, seus fatores contribuintes e resultados para os pacientes? e que ações de melhoria tÊm sido propostas e implementadas para reduzir a ocorrência de eventos adversos relacionados a medicação em Neonatologia? Esta pesquisa teve como objetivo identificar os principais erros de medicação que ocorrem em UTIN, bem como seus fatores contribuintes, os resultados para os pacientes e as ações de melhoria utilizadas para minimizá- los. MÉTODO Trata-se de revisão integrativa da literatura, que reúne achados de estudos desenvolvidos mediante diferentes metodologias, permitindo aos revisores sintetizar resultados sem ferir a filiação epistemológica dos estudos empíricos incluídos. Para que esse processo se concretize de maneira lógica, a revisão integrativa requer que os revisores procedam à análise e à síntese dos1994). A Teoria da Ação Comunicativa é naturalmente interparadigmática, visto que os conceitos e pressupostos que alicerçam sua base são derivados de correntes anteriores, como: fenomenologia, marxismo e funcionalismo (PINTO, 1995). Assim, o paradigma que orienta esta teoria é o da comunicação, que é 10 fundamentado nas relações intersubjetivas entre os sujeitos, motivados pelo entendimento entre si. Ou seja, é imprescindível que os atores comunicativos se expressem por meio de uma linguagem natural, e a partir daí se reconstruam, sem desconsiderar as interpretações culturais que ambos carregam individualmente. Habermas considera que toda expressão comunicativa envolve uma ação (linguagem) e uma reflexão (pensamento), a qual ele traduz como ação comunicativa, que significa “uma interação de, no mínimo dois sujeitos, capazes de falar e agir, que estabelecem relações interpessoais com o objetivo de alcançar uma compreensão sobre a situação em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos de ação com vistas a coordenar suas ações pela via do entendimento” (HABERMAS, 1994). Nesta ação, os contextos de subjetividade e individualidade são fundamentais. A esta situação, denomina-se mundo da vida, que é, portanto aquilo que não é expresso por meio da linguagem verbal, mas que domina a formação de personalidade do sujeito e gera diretamente os modos como este se expressa. O mundo da vida é construído a partir dos seguintes componentes estruturais: cultura, sociedade e pessoa (HABERMAS, 1994). No contexto da saúde, há que se considerar que a linguagem, mesmo com todo esse aspecto subjetivo, necessita certa racionalidade, quer dizer, aquele que inicia um processo comunicativo, que se pretende a construir uma ação comunicativa, deve estar motivado para que o outro ator compreenda e reaja a esta ação. Neste sentido, é possível compreender que a Teoria da Ação Comunicativa possui relação estreita com a perspectiva de cuidado, manifestada por uma forma de comunicação em que as 11 linguagens podem expressar o acolhimento e a interação positiva e compreensível. A LINGUAGEM COMO FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE Baseando-se no cuidado pautado na relação profissional-paciente através do uso da linguagem, tem-se a comunicação como uma ferramenta fundamental para bons resultados dos procedimentos e melhora na qualidade de vida dos que se encontram sob cuidados, em particular do enfermeiro por permanecer maior parte do tempo junto ao paciente (OLIVEIRA; SOARES, 2014). Estudos mostram que os profissionais de saúde têm dificuldades de manter uma comunicação que favoreça o trabalho em equipe e, consequentemente, a segurança do paciente. Os principais fatores citados são as diferenças hierárquicas e conflitos no contexto do trabalho, que têm influenciado diretamente no modo como a comunicação se estabelece, fazendo com que as categorias profissionais atuem em paralelo, em detrimento do trabalho em equipe, que tem em sua força na interação e na comunicação entre diferentes pessoas com distintas habilidades e conhecimentos para a gestão de um problema em comum (JOHNSON; KIMSEY, 2012). O silêncio organizacional e a dificuldade de os profissionais se expressarem frente aos seus colegas de trabalho também tem sido considerado uma barreira para a comunicação e o trabalho em equipe (NOGUEIRA; RODRIGUES, 2015) . Dessa maneira, a existência de algum tipo de informação imprecisa ou omissão acerca da doença e do 12 tratamento poderá resultar em prejuízos diretos para a assistência prestada ao paciente. Portanto quando a comunicação é empregada de forma eficaz além de propiciar segurança ao paciente e um cuidado humanizado, ela permitirá identificar as reais e potenciais necessidades do cliente e ajudá-lo a enfrentar a situação de doença e de hospitalização a que está inserido. Para a compreensão da comunicação enfermeiro- paciente, faz-se necessária, portanto, sua adoção como comunicação terapêutica, porque tem a finalidade de identificar, atender as necessidades de saúde do paciente e contribuir para melhorar a prática de enfermagem ao criar oportunidades e despertar nos pacientes a confiança, permitindo que eles se sintam satisfeitos e seguros (ATIKINSON; MURRAY, 1989). Além disso, faz-se necessário o rompimento de um círculo vicioso para que processos sejam revistos e estratégias sejam implementadas, visando à melhoria da comunicação e à garantia de cuidados seguros aos pacientes (OLIVEIRA et al, 2014). Nesse contexto, faz-se importante ressaltar o conceito de cultura de segurança, o qual é entendido como um comportamento individual e organizacional, que busca continuamente estabelecer o compromisso com o almejo contínuo da minimização dos riscos relacionados à assistência e, consequentemente, auxiliar no alcance da qualidade dos serviços prestados (BRASIL, 2013). Considera-se, portanto, que a comunicação contribui para a qualificação da prática de enfermagem e cria oportunidade de aprendizagem do paciente, podendo despertar sentimentos de confiança, o que o permitirá experimentar a sensação de satisfação e segurança nos serviços de saúde (OLIVEIRA; SOARES, 2014). Por esse 13 motivo, a busca pelo atendimento seguro deve ser um objetivo incessante, além de um compromisso ético, de busca amplamente disseminada nas organizações de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível reconhecer a importância que o estudo pautado na apropriação filosófica do pensamento e da linguagem possui para a compreensão da comunicação como ferramenta fundamental para a qualificação e segurança do cuidado de enfermagem. A Teoria da Ação Comunicativa de J. Habermas, proporcionou a percepção de que a comunicação, como expressão em forma de linguagem verbal ou não-verbal do pensamento humano, só é desenvolvida com a disponibilidade de compreensão e atenção mútua dos sujeitos implicados nesse contexto. Acredita-se, portanto, que a apropriação das teorias contribuirá para o ensino, pesquisa e melhoria da prática profissional da enfermagem e segurança do paciente pautado na compreensão de um processo comunicativo assertivo e compreensivo no âmbito da saúde, e mais especificamente na relação enfermeiro-paciente e enfermeiro-equipe. REFERÊNCIAS ARAUJO, J.L.; PAZ, E.P.A.; MOREIRA, T.M.M. 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As etapas da revisão integrativa contemplaram: amostra, estratégias de busca, critérios de inclusão e exclusão, avaliação das publicações selecionadas, análise das 166 publicações incluídas na revisão para produção de resultados originais. Para compor a amostra do estudo, foi realizada uma busca de manuscritos sobre erros de medicação em UTIN, em periódicos indexados nas seguintes bases de dados: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMed (USA National Library of Medicine), BDENF (Base de Dados de Enfermagem) e CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature). Esta busca dos artigos se deu no período de abril a agosto de 2016. Como estratégias de busca, foram utilizados descritores de assunto cadastrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Heading (MeSH): Erros de medicação (Medication errors); Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Intensive care unit, neonatal); Cuidado Intensivo Neonatal (Intensive care, neonatal); Recém-nascido (Infant, newborn). O descritor-chave (erros de medicação) foi combinado com os demais descritores por meio do operador booleano “AND”, nos campos título, assunto e resumo. Como critérios de inclusão, foram adotados: artigos originais disponíveis integralmente de forma gratuita; publicação em português, inglês ou espanhol; cujo tema central abordasse o erro de medicação em UTIN; sem delimitação de período de publicação. Como critérios de exclusão, aqueles artigos que se repetiam entre as bases (duplicidades) e os estudos de reflexão teórica, editoriais, revisão, dissertações e teses. 167 Para avaliação das publicações selecionadas, os estudos foram submetidos a uma leitura exaustiva e compreensiva. Em seguida, informações relevantes foram extraídas para elaborar os resultados. Elaborou-se, para tanto, um instrumento de coleta de dados com o intuito de reunir as seguintes variáveis da publicação: Título, Ano de publicação, periódico, Autores e local do estudo. Também foram contempladas as variáveis de interesse da revisão integrativa: Tipos de erros de medicação em unidades de terapia intensiva neonatal, fatores contribuintes, resultados para o paciente e ações de melhoria implementadas para redução/mitigação do dano. Estes dados foram apresentados em quadro síntese, para melhor visualização e interpretação dos resultados. Finalmente, para a análise das publicações incluídas na revisão para produção de resultados originais, os estudos foram distribuídos em categorias de acordo com as variáveis de interesse: Categoria 1. Erros de medicação em unidades de terapia intensiva neonatal: principais tipos e fatores contribuintes; Categoria 2. Resultados para os pacientes: o impacto do erro de medicação para a saúde do recém-nascido em unidades de terapia intensiva neonatal; e Categoria 3. Ações de melhoria e boas práticas para a prevenção de eventos adversos relacionados a medicamentos em unidades de terapia intensiva neonatal. RESULTADOS Foram incluídos, na amostra, 27 artigos dos 689 artigos encontrados. Constatou-se que a maioria (92,5%) dos artigos foi publicada em periódicos estrangeiros, sendo a maior parte dos Estados Unidos da América (44,4%). 168 Em relação ao ano de publicação dos artigos, verificou-se que os estudos inseridos nesta revisão foram publicados no período de 1989 a 2015, com um quantitativo expressivo de manuscritos sobre o tema no período de 2008 a 2015 (19 artigos). Este resultado demonstra que os estudos sobre erro de medicação em unidades de terapia intensiva neonatal vêm crescendo, coincidindo com o avanço das pesquisas sobre segurança do paciente. Os estudos abordaram, em sua maioria, os principais erros de medicação que acontecem em nessas unidades (59,26%) e as estratégias desenvolvidas para minimizar eventos adversos relacionados a medicamentos (40,74%). Os tipos de erros de medicação que ocorrem em unidades de terapia intensiva neonatal, bem como seus fatores contribuintes, estão sintetizados na Figura 1. 169 ERROS DE MEDICAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA NEONATAL FATORES CONTRIBUINTES PRINCIPAIS TIPOS Individuais/interpessoais • Déficit de desempenho; • Transcrição incorreta; • Estresse; • Sobrecarga de trabalho; • Dificuldade em realizar diluições manuais com dispositivos inadequados; • Inexperiência; • Não seguimento de política /protocolos; • Falhas de comunicação; • Distração; • Trabalho em equipe falho. Organizacionais • Falha na entrada de pedidos na farmácia; • Grande volume de receitas/ prescrições por dia; • Dimensionamento de pessoal inadequado; • Rotulagem inadequada. Outros • Várias etapas no processo de preparação da medicação/uso de volumes pequenos; • Variação do peso dos recém- nascidos. Prescrição • Dose incorreta (2, 4, 11, 12, 18, 22, 23, 24); • Transcrição incorreta (4, 5, 20); • Ausência/especificação incorreta da via de administração (4, 11); • Escolha incorreta do medicamento (24) • Droga requisitada incorreta (17) • Não determinado (20) Administração • Dose incorreta (3, 5, 7, 14, 15, 17, 19, 21, 27); • Ausência/erro do intervalo de dose (2, 3, 14, 18) • Hora errada (6, 9, 19, 27) • Via incorreta (2, 9, 21); • Programação incorreta das bombas de infusão / tempo de administração (7, 14) • Droga errada (21) • Não determinado (10, 18, 20, 26) Distribuição (5, 17,19, 20, 27) Preparo (10, 13, 14, 16, 19) Omissão (5, 19, 21) Figura 1 – Tipos de erro de medicação em terapia intensiva neonatal e seus fatores contribuintes segundo os artigos analisados na revisão. Fortaleza, CE, 2016 170 DISCUSSÃO Verificou-se que a maioria dos estudos abordou os tipos de erro de medicação mais comuns em unidades de terapia intensiva neonatal, havendo maior referência aos erros de prescrição relacionados ao cálculo de doses e aos erros de administração relacionados a horários e vias. Outros tipos de erros foram relatados com menor frequência, como erro de preparação, escolha da droga, erro de dispensação, tempo de infusão e erro de omissão. No que diz respeito aos fatores contribuintes, foram apontados fatores humanos e sistêmicos, principalmente envolvendo a complexidade do processo da terapia medicamentosa, a inexperiência dos profissionais, a falha na entrada do pedido médico na farmácia, a sobrecarga de trabalho e a rápida variação de peso dos recém-nascidos. No que se refere aos resultados para os pacientes, os estudos mostraram que em muitos casos não há dano grave, mas houve referência a danos no tecido local, hiperglicemia e hipoglicemia, depressão respiratória, perda de central venoso cateter, intoxicação por drogas, aumento da monitorização, tratamento específico ou outras intervenções, aumento do risco de depressão respiratória, óbito dentre outros. Quanto às ações de melhorias a serem implementadas, consideradas as boas práticas para a segurança da administração de medicamentos em unidades de terapia intensiva neonatal, foram citadas diferentes medidas, com ênfase nas intervenções educativas, no bom uso das inovações tecnológicas, no feedback de desempenho e na padronização das ações, visando à redução da oportunidade de erros. 171 A seguir, os resultados dos estudos encontram-se apresentados em categorias temáticas, em que foi possível aprofundar estes achados e tecer inferências relacionadas às variáveis de interesse da revisão,na busca de se responder às questões norteadoras. CATEGORIA 1. ERROS DE MEDICAÇÃO EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL: PRINCIPAIS TIPOS E FATORES CONTRIBUINTES Em alguns estudos relacionados a eventos adversos que envolvem medicações, pesquisadores têm procurado apontar causas e fatores relacionados com o acontecimento do erro de medicação, bem como características dos incidentes para melhor atuação. A possibilidade de erro está sempre presente na prática dos profissionais de saúde. Em unidades de terapia intensiva neonatal, os erros não são apenas mais frequentes, mas também potencialmente mais graves do que os que acontecem em unidades de pediatria (VILLEGAS et al., 2006; SERRA et al., 2012). Embora os erros que envolvem medicamentos sejam potencialmente perigosos, a maioria não resulta em danos para a saúde do paciente de unidade de terapia intensiva neonatal (CAMPINO et al., 2008; STAVROUDIS et al., 2010). Entre os erros que eventualmente ocorrem em unidades de terapia intensiva neonatal, os que envolvem medicação são os mais frequentes (STAVROUDIS et al., 2010; RAJA et al., 2009). Um estudo apontou que o erro medicamentoso foi o mais comum registrado, com uma taxa de 84,2% (LERNER et al., 2008). 172 Existem muitos processos de cuidados de saúde para serem analisados a fim de melhorar a segurança do paciente, porém a gestão de medicamentos devem ser destacadas devido à sua complexidade (CAMPINO et al.., 2008). Os pacientes neonatos requerem uma atenção especial devido à sua grande vulnerabilidade aos efeitos adversos de erros de medicação, devido seu metabolismo e excreção de drogas serem relativamente menos eficientes, em comparação com adultos (RAJA et al., 2009). O processo para fornecimento da terapia de drogas para um paciente neonato é complexo, envolvendo várias etapas e vários profissionais. Por isto proporciona múltiplas oportunidades para o surgimento de um erro em qualquer etapa desde a prescrição de uma medicação até sua administração podendo ocasionar um dano significativo (LUCAS, 2004; CHEDOE et al., 2012). A prescrição é a fase na qual os erros de medicação são mais frequentes (PALLAS,2008) .Um estudo mostrou que o erro de prescrição foi encontrado em quase 50% das prescrições de medicamentos intravenosos (SERRA et al., 2012). Também foi encontrado que a maioria dos erros estava relacionada com a dosagem (SULLIVAN et al., 2013). A etapa de cálculo de dose, em unidades neonatais, é apontada como aquela em que o erro é propício, pois cálculos tem que ser realizados repetidamente para que a dose ideal para cada recém-nascido seja alcançada (PALLAS, 2008). Além disso, a dose tem que ser individualizada com base na idade gestacional, idade, peso, com ou sem área de superfície corporal, considerando que alterações no peso e comprimento, maturação do sistema enzimático e da função renal requerem frequentes 173 adaptação da administração e da dose de medicamentos (CHEDOE et al., 2012). Outra etapa que foi identificada como pasível de erro é a de preparação do medicamento, por envolver vários procedimentos (AGUADO et al., 2013). Um fator de risco apresentado nos estudos foi a idade gestacional, que seria inversamente proporcional ao risco de erro, ou seja, número de erros foi significativamente maior em prematuros (LERNER et al., 2008; MACHADO et al.,2015). Em contrapartida, outra pesquisa mostrou que não havia nenhuma associação entre idade e erros de medicação que resultaram em dano (STAVROUDIS et al., 2010). O peso ao nascer não demonstrou ter relação com o erro de medicação (HORRI et al., 2014). Outro fator contribuinte diz respeito aos medicamentos potencialmente perigosos. Um estudo revelou que os recém-nascidos tratados com opióides tiveram o risco de um evento adverso evitável bem maior que os outros pacientes (FRAK et al., 2011). Também foi apontado como fator de risco a quantidade de intervenções a que o neonato está exposto, pois a ocorrência de erros foi significativamente menor no momento da alta hospitalar, em comparação com o primeiro dos três momentos de internação (MACHADO et al., 2015). Alguns fatores que interferem na precisão do processo, favorecendo o erro, são apontados nas pesquisas como a falta de material apropriado e apresentações farmacêuticas para dosagens neonatais (CAMPINO ET AL., 2012). Grande parte dos medicamentos utilizados em recém-nascidos estão disponíveis em dosagens e unidades 174 adequadas apenas para crianças e adultos. Devido a isto, é necessário que vários cálculos sejam realizados, gerando um potencial para erros (JAIN, BASU, PARMAR; 2009). Uma pesquisa apontou como a causa mais frequente do erro a falha humana. Entre estes fatores humanos, o déficit de desempenho e o erro de transcrição foram as causas mais comumente citadas. O estresse e alta carga de trabalho foi a causa menos citada (STAVROUDIS et al., 2010). Outros fatores estão associados a falhas no processo de uso de medicamentos, em que nunca devem ser considerados como erro humano e nem atribuídos a responsabilidade a alguém, mas analisar suas causas para evitar erros repetidos (VILLEGAS et al., 2006). Também são reconhecidos como pontos fracos do processo a falta de comunicação ou falta de reconhecimento da importância de todos os profissionais, desde o médico, enfermeiros e auxiliares envolvidos no processo de medicação (CAMPINO et al., 2012). Diante do exposto, podemos inferir que todo o processo de medicação, considerando cada uma de suas etapas, está predisposto a erros e a eventos adversos que podem gerar danos irreversíveis à saúde dos neonatos. Desse modo, a equipe de saúde atuante nessas unidades deve estar preparada para trabalhar os riscos inerentes a esse processo, melhorar a comunicação em cada etapa e fortalecer o trabalho em equipe. Assim, poderão minimizar as falhas e os erros resultantes da interação ineficaz entre os profissionais. 175 CATEGORIA 2. RESULTADOS PARA OS PACIENTES: O IMPACTO DO ERRO DE MEDICAÇÃO PARA A SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL Devido à maior fragilidade do organismo dos neonatos, erros de medicação podem causar sérios danos para sua saúde. Entretanto, mesmo que os erros que envolvem medicamentos sejam potencialmente perigosos, a maioria não resulta em danos para a saúde dos paciente de unidades de terapia intensiva neonatal (CAMPINO et al., 2012; STAVROUDIS et al., 2010; SIMPSON et al., 2004) Em vários estudos não foram identificados danos visíveis à saúde dos recém-nascidos. Porém, alguns autores revelam os estes erros podem resultar em morbidade, mortalidade, maior monitoramento, aumento de custos e permanência hospitalar, além dos prejuízos para a família (RAJA et al., 2009; LERNER et al., 2008). Um estudo apontou que 72% dos erros reais não resultaram em danos ao paciente, 4% dos erros reais resultou em prejuízo permanente, necessitando de intervenção para sustentar a vida ou morte do paciente. Uma pequena proporção de todos os erros prejudiciais resultou em fatalidade (0,4%). Na maioria dos pacientes, o monitoramento ou a hospitalização aumentaram (40,9%), em 31,8% a terapia medicamentosa precisou ser modificada ou iniciada, em 21,8% os testes diagnóstico aumentaram e em 1,3% dos casos houve compromisso das vias respiratórias ou necessidade de reanimação (STAVROUDIS et al., 2010). Foi ressaltado que erros que envolvem narcóticos em recém-nascidos podem causar depressão respiratória e 176 neurológica levando a uma intubação e ventilação mecânica de urgência (SULLIVAN et al., 2013). Outra pesquisa apresentou apenas danos no tecido local que não exigiu qualquer tratamento adicional, casos de hiperglicemia e de hipoglicemia (RAJU et al., 2004). Percebe-se que embora existam casos em que não há prejuízo para a saúde do paciente, em outro casos podem ocorrer danos irreverssíveis comoaté mesmo a morte. Portanto, os profissionais de saúde devem identificar as fragilidades do serviço oferecido para que o objetivo da assistência de saúde seja alcançado com sucesso. CATEGORIA 3. AÇÕES DE MELHORIA E BOAS PRÁTICAS PARA A PREVENÇÃO DE EVENTOS ADVERSOS RELACIONADOS A MEDICAMENTOS EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL Em virtude da grande preocupação com a segurança do paciente, se faz necessário adotar medidas para melhorar a qualidade da assistência. Em especial, no caso de erro de medicação em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, devido à maior vulnerabilidade dos recém-nascidos. A estratégia adotada para alcançar uma assistência de melhor qualidade, com base na segurança do paciente, não pode ter a cultura da busca pelo culpado, mas entender os erros como falhas no sistema pediatria (VILLEGAS et al., 2006) . O foco principal das ações deve ser a melhoria do sistema, na tentativa de eliminar a possibilidade de acontecer erro humano (LUCAS, 2014). Em primeiro lugar, sabe-se que o reconhecimento dos erros é uma ferramenta fundamental para a sua 177 prevenção. É importante que os profissionais tenham consciência das suas próprias falhas e que aprendam com os próprios os erros e os dos outros. Maior conscientização do erro é uma importante ferramenta de prevenção (SIMPSON et al., 2004). O acompanhamento de incidente crítico é uma medida cada vez mais utilizada como ferramenta para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde. Sabe-se que a comunicação em sistemas de notificação tem um grande potencial para melhorar a segurança do paciente (SURESH et al.,2004). Porém, as notificações de erros nem sempre são realizadas. Logo, é provável que o frequência de erros seja muito maior do que as taxas apresentadas nos estudos (RAJU et al.,1989). Para que haja colaboração dos profissionais de saúde, o monitoramento de incidentes deve ter um caráter incentivador e não punitivo, mostrando que o objetivo da estratégia é identificar a causa do erro para melhorar o processo envolvido (FREY et al., 2002). Sistemas de notificação voluntários e anônimos, baseados na Internet, para erros médicos na unidade de terapia intensiva neonatal tem sido desenvolvido por algus estudiosos (SURESH et al., 2004). Informações sobre os erros podem contribuir para aumentar a consciência de que eles existem e precisam ser eliminados para que seja oferecida uma assistência livre de danos. A discussão dos erros relatados colaboram para o aprendizado da equipe multidisciplinar (SURESH et al., 2004). A gestão da medicação deve receber atenção especial devido à sua complexidade e por envolver muitas etapas 178 desde prescrição à administração. No caso de incidentes que envolvem medicação, a melhoria deve ser feita pricipalmete através de alterações no sistema (CAMPINO et al., 2008; FREY et al.,2002). As intervenções educativas para a equipe multiprofissional, reforçando procedimentos operacionais padrão e monitoramento periódico, tem apresentado bons resultados. Em um estudo, a taxa de erro de administração de medicação foi reduzida em 50% (RAJA et al.,2009). Tais intervenções são reconhecidas como uma estratégia simples e de baixo custo, que produziram uma redução significativa da taxa de erro de prescrição de 20,7 para 3% (CAMPINO ET AL.,2008). Outro autor relata que a intervenção educativa contribui para uma redução significativa do erro de medicação, mas ainda insuficiente, sendo necessário adotar outras medidas para alcaçar o nível de segurança da medicação desejado ( TAYLOR et al.,2008) As estratégias educativas complementam as inovações tecnológicas para que haja sucesso. Nenhuma das práticas isoladas são eficazes. Em sistemas de gestão da medicação ou em qualquer outro processo de saúde, afetando a segurança do paciente, é necessário não apenas novas tecnologias, mas principalmente contínuas medidas educativas para modificação de comportamento de todos os profissionais de saúde envolvidos (CAMPINO et al., 2008). As intervenções educativas, quando associadas com inovações tecnológicas, pareceram ter bons resultados. Como foi o caso do sistema de cálculo automático de dose, 179 onde a taxa de prescrições incorretas diminuíu de 39,5% antes da intervenção para 11,9% (PALLAS, 2008). Outra tecnologia mostrada em vários estudos foi o Sistema Computadorizado de Entrada de Ordens médicas na farmácia, pois a entrada de pedidos farmacêuticos foi identificada como um dos fatores que contribuem para a erros de medicação na unidade de terapia intensiva neonatal (LUCAS.,2004). O referido sistema garante padronização, legibilidade e prescrições completas no formato padrão (CORDERO et al., 2004). Estudos apresentam resultados que indicam que sua introdução em uma unidades de terapia intensiva neonatal obteve uma redução significativa nos desvios de administração de medicação (19,8% -11,6%) (TAYLOR et al., 2008) Erros de cálculo de dose foram eliminados em sua totalidade, apoiando a ideia de que o sistema pode reduzir os erros de administração da dose de medicação. Foi demonstrado que este sistema diminui o tempo de resposta e melhora as práticas para a seguraça da prescrição de medicação em unidades de terapia intensiva neonatal (CORDERO et al., 2004). Entretanto, existem alertas de que o sistema computadorizado de entrada de ordens médicas na farmácia tem um impacto limitado nos seus resultados, pois, mesmo havendo redução, as taxas de erros ainda permanecem altas como as relatadas na literatura (SULLIVAN et al., 2013). Outra tecnologia descrita na literatura foi o Sistema de administração de medicação assistido por código de barras, que é uma ferramenta utilizada para ajudar a organizar o fluxo de trabalho. A implementação do código 180 de barras em uma unidade de terapia intensiva neonatal reduziu significativamente o risco de eventos adversos preveníveis em 47% (MORRISS et al., 2009). Outro autor mostra resultados semelhantes decorrentes do sistema de código de barras, que, em seu estudo, comprovou que o risco de um evento adverso pode ser reduzido em cerca de 50% (FRAK et al., 2011). Uma outra estratégia alternativa que vale a pena explorar na prevenção de erros é o uso de feedback de desempenho para auxiliar os médicos a prescreverem mais cuidadosamente, informando-os sobre erros cometidos e como evitá-los, envolvendo-os nos esforços da equipe para reduzir erros de prescrição. O programa de feedback de erro de prescrição obteve sucesso na sua implementação, permitindo que os prescritores identificassem as sua vulnerabilidades no processo de prescrição, resultando em mudanças. Os erros de prescrição foram reduzidos em 83% após o início do programa, aumentando o número de dias entre erros de 3,94 para 22,63 dias (SULLIVAN et al., 2013). A disponibilidade de um farmacêutico clínico na unidade de terapia intensiva neonatal também foi mostrada como uma meneira eficaz na redução dos erros de medicação através da conferência das doses prescritas e da orientação para os outros membros da equipe(27,31). (SIMPSON et al., 2004; CORDERO et al., 2004). A tomada de decisão diante dos incidentes é fundamental para a melhoria dos cuidados de saúde. Foi ressaltado que, nas complicações mais raras da terapia medicamentosa, toda a equipe tem conhecimento e ações preventivas são tomadas imediatamente, porém, no caso de incidentes menores, estes não são reconhecidos pela 181 equipe. Porém, ficou claro que são estes incidentes que nos permitem detectar falhas do sistema e, assim, apresentar oportunidades de melhorar a qualidade da terapia medicamentosa (FREY et al., 2002). Um outro fator que vale a pena ser lembrado é o envolvimento das autoridades de saúde, agências reguladoras de medicamentos e compahnias farmacêuticas no desenvolvimento de medicamentos com apresentações farmacêuticas voltadas para o recém-nascido (CAMPINOet al., 2008). Pode-se considerar, portanto, que o sucesso das medidas para melhorar a qualidade da terapia medicamentosa em unidades de terapia intensiva neonatal depende do componente educativo, da tecnologia utilizada e da mudança de comportamento da equipe multiprofissional, com ênfase na qualidade da comunicação e do relacionamento interpessoal. CONCLUSÃO Esta revisão integrativa permitiu identificar o erro de medicação como um evento comum em unidades de terapia intensiva neonatal, com destaque aos erros de prescrição relacionados ao cálculo de doses e aos erros de administração relacionados a horários e vias. Como principais fatores contribuintes para tais erros, destacam-se a inexistência de apresentações farmacêuticas adequadas para recém-nascidos, falhas no processo de trabalho e falta de capacitação de profissionais envolvidos. Para alcançar a redução das taxas de erro de medicação faz-se necessário, primeiramente, o 182 reconhecimento do erro a partir de notificações espontâneas. Em sequência, a adoção de estratégias educacionais associadas a inovações tecnológicas para melhores resultados. Percebe-se que pesquisas que abordam erros de medicação em unidades de terapia intensiva neonatal ainda são escassas, principalmente, quando se fala em estudos desenvolvidos em território nacional. Diante desse cenário, o desenvolvimento de pesquisas voltadas para determinado assunto é fundamental para os avanços na segurança do neonato. REFERÊNCIAS AGUADO-LORENZO V, WEEKS K, TUNSTELL P, TURNOCK K, WATTS T, ARENAS-LOPEZ S. Accuracy of the concentration of morphine infusions prepared for patients in a neonatal intensive care unit. Arch Dis Child, v. 98, p.975-79.2013. ALENCAR IR, MACHADO AS, MARTINS AKL. Programa Seis Sigma: estratégia para melhoria da gestão hospitalar. Ras., v. 50, n. 13, Jan/Mar.2011. BOSI MLM, UCHIMURA K. Avaliação da qualidade ou avaliação qualitativa do cuidado em saúde? Rev. Saúde Pública, v. 41, n. 1, p. 150-53.2007. 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Inevitavelmente ao se considerar qualquer discussão acerca do cuidado, evoca-se a enfermagem, que como ciência possui sua fundamentação no ato de cuidar, aqui interpretado como um compromisso de zelo, implicação e aproximação com o outro (WALDOW, 2001). Embora tenha um componente majoritariamente subjetivo, o cuidado que é realizado pela enfermagem deve possuir 18 bases científicas robustas, que atendam às necessidades múltiplas do indivíduo que é cuidado. Prestar cuidados de excelência apresenta-se como um desafio importante a qualquer profissional de Enfermagem, e o alcance dessa excelência relaciona-se diretamente com a arte de saber cuidar, que vai além de importar-se com as questões clínicas que precisam ser sanadas, ao passo que possibilita ajudar alguém a desenvolver sua capacidade máxima, ou em alguns momentos, pode concentrar-se apenas em dar vez e voz a um ser humano. É nesse contexto, de correlacionar raciocínio objetivo e subjetividade individual e das relações, que se concebe a prática do cuidado clínico, o qual ainda em processo de definição, corresponde à essência da enfermagem, balizado como uma forma de pensar e agir do enfermeiro, que conecta o saber técnico e científico ao objeto do cuidado, a partir de uma relação dialógica, na busca pela manutenção ou reestabelecimento da saúde (MONTEIRO et al., 2015). Neste sentido, convém refletir sobre quais as convergências possíveis de serem verificadas no tocante ao cuidado clínico de enfermagem e a proposta defendida pela segurança do paciente, visto que correspondem a conceitos igualmente necessários e relevantes para o contexto de qualquer ambiente que se propõe a realizar atividades de assistência à saúde. Questiona-se, então, como o cuidado clínico de enfermagem pode contribuir para a segurança do paciente nas práticas em saúde? A partir dessa indagação, objetivou- se fazer uma reflexão acerca da relevância do cuidado clínico de enfermagem no contexto da segurança do paciente. Espera-se que essa discussão sobre a temática 19 possa sensibilizar os enfermeiros para uma reflexão que consolida o cuidado seguro e de qualidade. O CUIDADO DE ENFERMAGEM A essência humana encontra-se no cuidado, o ethos fundamental que significa aquela porção do mundo que reservamos para fazer nosso habitat, ou seja, a existência humana repousa no cuidado. No cuidado identificamos princípios, valores e atitudes que fazem da vida um bem viver (BOFF, 2004). Heidegger em sua obra “Ser e Tempo” esclarece que o cuidado antecede qualquer atitude humana, antes até mesmo que ele tenha qualquer ação, e se a tiver, por menor que seja, será acompanhada de cuidado, transferindo dessa forma um aspecto ontológico do cuidar na existência humana (HEIDEGGER, 2006). Notavelmente, isso nos revela que sem cuidado deixamos de ser humanos. Ao indagar-se sobre a profissão Enfermagem essencialmente vem à memória o ato de prestar cuidados, pela sua historicidade e origem, fica imbuído que todo enfermeiro esteja preparado para exercer tal finalidade. O Cuidado, que em latim significa cura, sempre esteve presente na história da humanidade, e é um ato que tem como fim permitir que a vida continue a desenvolver-se. Não que o enfermeiro não tenha o objetivo de trabalhar a cura do seu paciente, mas a base motivacional de suas ações, direcionam-se para cuidar daqueles que necessitam de atenção. A cura e o cuidado não devem ser entendidos como processos que ocorrem numa colateral, mas sim como processos complementares. O cuidado proporciona suporte à cura, e mesmo quando a cura não é possível, o 20 cuidado de enfermagem continua sendo estabelecido (WALDOW, 2001; COLLIÉRE, 1999; TORRALBA, 2009). Jean Watson e Madeleine Leininger foram as teoristas pioneiras a apresentarem o termo cuidado humano na Enfermagem. Whatson, em 1985 ressaltou o mecanismo de “cuidar de” outro ser humano, e que tal mecanismo implica em uma abordagem além de humanística, uma abordagem comportamental. Leininger, em 1991, identificou e definiu o cuidado profissional, diferenciando-o do cuidado genérico; assim, esse cuidado profissional é entendi-do como a forma que as pessoas são apresentadas aos sistemas de cuidado à saúde e atendidas por profissionais de enfermagem ou outros (TORRALBA, 2009). Nessa perspectiva, estudos e discussões sobre o cuidado como característica basal na Enfermagem tem se expandido gradativamente. Atualmente percebe-se que além do interesse em aprofundar o conceito cuidado na profissão ainda existem algumas dissonâncias e ambíguas interpretações desse conceito na prática de Enfermagem como também nas áreas de ensino da Enfermagem (WALDOW, 2001). Assim, percebe-se que o cuidado científico, aquele que é o objeto de estudo da Enfermagem, necessita de apropriação por parte dos enfermeiros. Sua plenitude e dimensionalidade precisam ser alcançadas para que se faça o exercício do cuidar, um cuidado responsável pautado na proficiência, no belo e ético. 21 CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: UMA DEFINIÇÃO EM CONSTRUÇÃO Com base nas considerações acerca do cuidado, cabe refletir sobre a união desse termo à clínica, palavra que também carrega uma grande complexidade. A palavra clínica é derivada de klinikos, do grego, que significa à beira do leito. Em português, clínica pode ser entendida como a medicina que se faz à beira do leito do doente, ou a que abrange o tratamento das doenças dos indivíduos, ou o estudo da doença pela observação direta dos indivíduos (MONTEIRO et al., 2015). No entanto, é preciso considerar que quando se aborda a doença, deve-se perceber que ela é manifestada em um corpo que se encontra limitado a partir de determinados padrões, normas e condutas. Mas, atualmente, a clínica vista desse ângulo está cada vez mais escassa, sendo sufocada pela expansão dos instrumentos tecnológicos (SILVEIRA et al., 2013). Então, percebe-se a importância de resgatar essas reflexões acerca do adoecimento. Afinal, onde o cuidado e a clínica se encontram no fazer do enfermeiro? Ora, são condições inerentes ao trabalho do enfermeiro, direcionando a produção do cuidado nos serviços de saúde. Assim, o conceito de cuidado clínico surge como possibilidade de provocar o encontro desses grandes conceitos, à fim de potencializar a prática da enfermagem, onde a subjetivação possa ser construída a partir dos desejos desses sujeitos e das formas de conceber saúde e doença, fora das classificações e fragmentações (SILVEIRA et al., 2013). 22 A proposta é caracterizar esse cuidado clínico de enfermagem, que com o seu fazer singular engloba as necessidades do sujeito e pode contribuir a partir de conhecimento próprio, técnico e científico,com a saúde dos indivíduos. Tal cuidado instiga o autocuidado, utilizando a educação em saúde, a habilidade técnica e o conhecimento científico, onde inclui-se o uso das teorias de enfermagem, embasadas por pesquisas científicas. O processo de enfermagem é o principal instrumento para a realização desse cuidado, garantindo um fazer sistematizado com o intuito de tornar a atenção melhor e mais eficiente (MONTEIRO et al., 2015). Em tempos onde se discute sobre a qualidade da assistência prestada, essas questões são bastante pertinentes com vistas à contribuir com esse debate, fornecendo uma atenção que se importa em oferecer o melhor, com base na humanização e na integralidade. Nessa perspectiva, a escuta, o olhar e os afetos são ferramentas indispensáveis quando se considera o sujeito como o centro da atenção. É nesse ponto que o cuidado clínico incorpora a clínica ampliada, ao compreender as necessidades além do corpo, incluindo os sentidos e significados e a busca da ressignificação do cuidado na enfermagem, superando a fragmentação e a exclusão (MONTEIRO et al., 2015; SILVEIRA et al., 2013). O diálogo da clínica com o cuidado na enfermagem baseia-se na clínica apresentada pelos sujeitos. Apesar de parecer redundante o uso do termo clínica atrelado ao termo cuidado, essa união faz-se necessária com o objetivo de ressaltar o cuidado profissional, pautado na cientificidade, na responsabilidade, na ética e no 23 compromisso social através do olhar clínico, pela tentativa em atender as reais necessidades do sujeito cuidado (MONTEIRO et al., 2015). Tendo essas considerações em vista, observa-se que Cuidado Clínico em Enfermagem é um conceito ainda em plena construção e não se pretende aqui concluí-lo, mas sim através dessas reflexões posicionar a profissão de enfermagem, caracterizando o seu saber e o seu fazer a fim de contribuir com a segurança do paciente, e consequentemente, com a qualidade da assistência em saúde. CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DA SEGURANÇA DO PACIENTE Fundamentalmente o cuidado clínico de enfermagem possui como elementos básicos: o saber-saber, que corresponde ao corpo de conhecimento teórico adquirido intelectualmente; o saber-ser, em que o diálogo e a valorização do outro, são dimensionados a partir de uma perspectiva ética; e o saber-fazer, correspondendo ao aspecto instrumental do trabalho de enfermagem (SÁ, 2010). Nessa interação entre os saberes é que o enfermeiro se reconhece como agente produtor do cuidado, sendo capaz de cooperar para o resgate da autonomia do sujeito quando este é capaz de cuidar de si, ou favorecendo condições de conforto quando o indivíduo é impossibilitado de se auto cuidar. Por esta perspectiva, observa-se que os profissionais de enfermagem necessitam refletir sobre suas ações assistenciais de saúde para alcançar a melhoria do cuidado e 24 assim contribuir para a segurança do ser cuidado. É primordial que o cuidado clínico ao ser humano envolva um ambiente seguro, no qual o paciente seja esclarecido sobre o tratamento, limitações, riscos e cuidados necessários no processo de recuperação. Neste contexto, a enfermagem como ciência e profissão que cuida de pessoas e coletividade de maneira singular e multidimensional, necessita que as teorias, a pesquisa e a prática estejam relacionadas para promoção de um cuidado clínico seguro (PETERSEN et al., 2016). Alerta-se que em toda ação de cuidado existe a possibilidade de ocorrer danos ou eventos adversos, visto que estes são inerentes ao processo de cuidar (CAVALCANTE et al., 2015). É neste território que se manifesta a segurança do paciente, que compreende um conjunto multidimensional de ações, cuja finalidade é prevenir e melhorar os resultados adversos ou as lesões oriundas do atendimento nos serviços de saúde, com práticas que devem ser executadas por todos os membros desse sistema, relacionando-se diretamente com a qualidade do atendimento (NATIONAL PATIENT SAFETY FOUNDATION, 2000). Apesar da segurança do paciente ser considerada um atributo indispensável do sistema de cuidados em saúde, ainda é uma área de conhecimento em construção, em que modelos inovadores e pesquisas vêm sendo executadas, despertando o interesse de profissionais e pesquisadores em todo o mundo, bem como o surgimento progressivo, porém embrionário, de organizações e agências que discutem sobre o tema e sugerem soluções que buscam atender a sociedade de um modo geral. 25 É possível verificar convergências entre o cuidado clínico de enfermagem e a segurança do paciente ao analisar cada uma das dimensões a seguir: • No âmbito do saber-saber: desenvolvimento de programas institucionais e governamentais que produzam protocolos e diretrizes sobre boas práticas para reduzir eventos adversos durante as ações de cuidado (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2013); • No âmbito do saber-ser: quando traz a discussão sobre a ética necessária para realizar o cuidado clínico de forma segura, valorizando o paciente em todo o processo decisório do tratamento, e comunicando-lhe os eventos adversos de forma clara, aberta e objetiva (PEREIRA; CAETANO, 2014); • No âmbito do saber-fazer: com a aplicação de tecnologias leve-duras e duras que visam maximizar a eficiência e eficácia do melhor resultado para o paciente com menor taxa de possibilidade de erro possível (BARTON; MAKIC, 2015). Ao analisarem o conceito de segurança do paciente já o apresentavam sobre duas perspectivas, numa primeira compreensão intrinsecamente relacionada ao cuidado direcionado à pessoa com algum tipo de adoecimento, e noutra como o princípio basilar para o cuidado em qualquer de suas dimensões (ANDRADE; PEREIRA; NUNES, 2015). É evidente, portanto, que a qualidade do cuidado clínico de enfermagem estabelece relação coesa com os princípios da segurança do paciente, e que ambos se 26 complementam quanto a finalidade de alcançar metas positivas para o indivíduo que é cuidado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A segurança do paciente é primordial quando se aspira o cuidado em saúde de qualidade. Desse modo, a enfermagem tem papel de destaque por ser a profissão que tem o cuidado como centro do seu fazer. Mas, um cuidado sistemático imbuído de ciência, arte e ética, que aqui denomina-se Cuidado Clínico de Enfermagem. Assim, utiliza os recursos ao seu favor, tendo a atenção ao paciente como destaque. A excelência do cuidado perpassa pelo desafio de criar condições mais seguras e fiáveis aos pacientes, mesmo tratando-o em ambientes desfavoráveis no ponto de vista da sua segurança. O enfermeiro precisa se capacitar para tal propósito, baseando-se nos pilares: saber-saber, saber-ser e saber-fazer. O saber-saber reflete a busca pelo conhecimento que fortalece o cuidado científico, a ampliação de saberes favorece a prática, desperta e estimula o senso crítico que transmite autonomia para a tomada de decisões, e esse quesito é imprescindível para a segurança. Saber-ser necessita de autoconhecimento e de reconhecimento do outro, é preciso estar disponível para compartilhar vivências e aprender com o outro. O saber-fazer, corresponde as habilidades para exercer o cuidado, e necessita de responsabilidade e competência profissional, haja vista que esse é um fator extrínseco que pode, potencialmente, colocar em risco a segurança do paciente. 27 Acredita-se que essas reflexões possam direcionar o enfermeiro que ao trilhar o percurso em busca da melhoria da sua assistência, precisa caracterizar o seu fazer, reconhecendo sua importância. Nesse caminho, espera-se que exista uma busca constante em prestar o melhor cuidado ao paciente que transcende a segurança. Constata- se a importância de aprofundar, por meio de outros estudos, essas questões que por sua amplitude não seria possível apenas nessa reflexão, mas que sirva de pontapé inicial para que questões relacionadas à garantiada segurança do paciente estejam imbrincadas no fazer do enfermeiro. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Assistência segura: uma reflexão teórica aplicada à prática. 1. ed. 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Já em 2004, a Organização Mundial da Saúde, por meio da divulgação da Aliança Mundial pela Segurança do Paciente, reconheceu a importância de envolver o paciente no seu cuidado como forma de garantir a segurança nesse processo (WORLD HEALTH ORGANIZATION). No entanto, o assunto ganhou notoriedade apenas nos últimos anos, sendo crescente o número de publicações que abordam o papel do paciente no cuidado seguro, seja pela construção de instrumentos ou pela realização de intervenções (SILVA, 2014). Apesar da crescente preocupação com o tema, ainda persistem muitos questionamentos sobre como efetivar sua participação e tornar o cuidado em saúde cada vez mais 32 seguro e de qualidade. Nesse sentido, é de grande relevância refletir sobre essas questões e contribuir com a comunidade científica acerca do tema. Para isso, cabe trazer o conceito do cuidado de si em Foucault, tendo em vista que estudo anterior já evidenciou que seus pressupostos podem apresentar convergências com a segurança do paciente (GASPERI, 2013). Assim, questiona-se: “Qual a contribuição do conceito de cuidado de si com vistas à participação do paciente pelo cuidado seguro?” A partir dessa indagação, objetivou-se realizar uma reflexão sobre o conceito de cuidado de si e suas contribuições para a participação do paciente pelo cuidado seguro. O CUIDADO DE SI O cuidado de si é abordado nas obras de Michel Foucault. Na obra “A hermenêutica do sujeito”, o cuidado de si é trazido como uma atitude de olhar para si mesmo, uma análise do que é melhor para o próprio indivíduo, “do que aceitamos, rejeitamos, daquilo que queremos mudar em nós mesmos” (FOUCAULT, 2004). Trata das relações consigo, onde o sujeito preocupa- se com ele mesmo e tem em suas mãos o poder de transformar o que lhe convém e conduzir sua vida da melhor maneira para si através de cuidados que perpassam o cuidado com o corpo e alcança o cuidado com a alma, purificando-a e corrigindo-a (FOUCAULT, 2010). Os primeiros séculos da época imperial são considerados a idade de ouro do cuidado de si. Foucault cita que na época dos platônicos, Apuleu, no final do Deus de Sócrates, afirma que cada um deve cuidar do seu corpo 33 conforme suas preferências, e esse cuidado deve ocorrer com todas as partes do corpo, assim como com a alma, visto que “não existe outro órgão da vida que não a alma” (FOUCAULT, 2014). Essa ocupação consigo mesmo é designada pelo termo epimeleia que caracteriza um conjunto de ocupações, um labor, com vistas ao cuidado de si mesmo. No entanto, apesar dessa preocupação consigo, o exercício do cuidado de si não é solitário, muito pelo contrário, ele é entendido como uma prática social. E é aqui que se reconhece a importância da ajuda do outro; tarefa definida como to di’ allelon sozesthai. Esse apelo ocorre quando se reconhece a aptidão do outro, e é entendido como um direito do indivíduo. Da mesma forma, é um dever do outro ajudar, é “o cuidado que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigomesmos”. Desse modo, identifica-se um jogo de trocas (FOUCAULT, 2014). E é nesse ponto que o cuidado de si encontra a prática médica, sendo preciso compreender que o sujeito que adoece não é simplesmente um indivíduo que precisa ser corrigido, mas sim como alguém que sofre e que precisa cuidar de si, seja por si mesmo, ou por alguém que para isso tem competência (FOUCAULT, 2014). Dessa forma, o sujeito precisa ser reconhecido como alguém que se opõe a qualquer tipo de sujeição, ele é a autoridade, o governador de si mesmo, e ao profissional da saúde cabe direcionar o ser humano, sendo um mediador do cuidado (BUB et al., 2006; SILVA et al., 2009). O conceito cuidado de si ainda gera algumas confusões e, para esclarecê-las é importante refletir sobre o paradigma em que se pauta o cuidado de si: o paradigma da simultaneidade (SILVA et al., 2009). “Tal paradigma tem 34 como pressuposto que o todo é maior que a soma de suas partes, e cada parte representa o todo” (NASCIMENTO; TRENTINI, 2004). Nessa perspectiva o cuidado é uma atitude bastante abrangente que vai muito além daquele cuidado pontual. É um modo de viver em que o cuidado de corpo e alma se complementam para que o indivíduo seja o melhor que pode ser. Assim, a saúde é particular de cada um, é uma construção individual, onde somente a pessoa que vive conhece e compreende, sendo a única que sabe o que é melhor para si. PARTICIPAÇÃO DO PACIENTE COM VISTAS À SUA SEGURANÇA E O CUIDADO-DE-SI As questões atuais em torno do debate do cuidado científico, incluído aqui o cuidado de enfermagem, suscitam reflexões referentes à segurança do paciente durante todo o processo terapêutico, de forma a produzir um fazer em que os erros ou eventos adversos ocorram apenas dentro do mínimo aceitável, e as ações de prevenção e vigilância aconteçam concomitante em todo o processo de tratamento e recuperação do paciente. As questões de segurança na assistência em saúde envolvem basicamente três componentes: infraestrutura dos serviços ofertados, qualificação dos profissionais envolvidos com a atenção à saúde e participação ativa e protagonista dos pacientes e familiares, ou seja, a efetividade do cuidado perpassa por envolver o paciente em todo o processo terapêutico, desenvolvendo neste a autonomia do saber-fazer ações de cuidado para manutenção de níveis satisfatórios de recuperação clínica, 35 sempre com fomento à criticidade e livre arbítrio (PEREIRA et al., 2015). Sobre a participação do paciente nas situações relativas à sua segurança ainda se encontra certa dificuldade com o uso deste conceito, visto que o termo participação é confundido com envolvimento ou até mesmo com adesão, mas análise de conceito realizada em 1996 (CAHILL, 1996) já explicava objetivamente por meio da análise de conceito que a participação do paciente corresponde à sua predisposição em querer contribuir para melhorar seu nível de saúde. A participação do paciente depende de fatores internos (habilidade física, disposição e capacidade de tomar decisões racionais, atitude em relação ao autocuidado, desejo de ser participativo e nível de conhecimento prévio sobre a doença e o tratamento), e fatores externos (comunicação com os profissionais e estrutura inadequada dos serviços de saúde) (SAHLSTEN et al., 2008). A participação do paciente se desenvolve a partir de três facetas: a perspectiva do paciente; a do profissional de saúde; e, a das instituições. Deste modo, não se pode considerar que o nível de participação efetiva ou não dos pacientes em questões relativas à sua segurança dependam exclusivamente de sua vontade, mas que a partir de sua predisposição a fazê-la, estas outras facetas poderão ser influenciadas (SOUSA; MENDES, 2014). Considerando, portanto, essa condição de que a necessidade de participação deve partir do próprio sujeito, vislumbra-se certa consonância com as dimensões do cuidado de si, uma vez que este é um ato essencial que se 36 apresenta a partir de uma complexa interação e interpretação do sujeito consigo mesmo e com o ambiente de suas relações. Foucault o traduz como uma construção humana que constitui o resultado de um processo social compreendendo costumes, hábitos, atitudes, crenças e valores, representando a autovalorização, a sensibilidade e o compromisso consigo mesmo (FOUCAULT, 2014). Assim, quando o paciente se apropria do cuidado de si, ele se desprende da necessidade de estar passivo no processo terapêutico, e poderá produzir no profissional de saúde a reflexão acerca das relações de poder e domínio que perpassam as relações entre o sujeito que cuida e aquele é cuidado. Tais relações que estão cercadas ainda pelo poder exercido pela instituição que provê o cuidado com normas, algumas vezes engessadas, que não levam em consideração que o paciente deve ser o centro de todas as ações. Nesta condição, o paciente não se sacia apenas com o ensino para o autocuidado, mas ele visualiza na sua condição de estar participativo do cuidado de si, uma oportunidade de cidadania e autonomia. Ao considerar a perspectiva do cuidado de si, evidencia-se que por meio deste, a pessoa passa a ter consciência de si e desta forma produzirá atitudes que possam representar um ato de liberdade, criação e transformação, em que ela se conhece e tem consciência dos seus desejos e motivações, de modo que quanto mais ampla a consciência de si, menos impulsivas serão suas atitudes de cuidado de si (BECKER; CROSSETTI, 2007). É exatamente neste ponto que se encontra a coerência do cuidado de si com a segurança do paciente, pois ao mesmo tempo em que explica o desejo do paciente de participar do seu cuidado, também o faz compreender 37 que há limites para sua participação/intervenção, visto que ele passa a entender que há situações em que é necessário permitir ao outro que faça ou o instrumentalize a fazer aquilo que não conhece ou pode. CONSIDERAÇÕES FINAIS É perceptível, portanto, que o cuidado de si apresenta um conceito essencial para incentivar a participação do paciente em questões relacionadas à sua própria segurança, visto que a partir da perspectiva em que se procurou refletir nesse estudo, produz no sujeito o desenvolvimento de senso ético, cooperativo e dialógico consigo e com os fatores externos dos quais dependem a manutenção de sua saúde. Talvez o desafio da contemporaneidade ainda permaneça na necessidade de dissolver as configurações de poder que se desenvolvem nas relações instituição x profissionais x pacientes que fragilizam a consolidação do cuidado de si. REFERÊNCIAS BECKER, S.G.; CROSSETTI, M.G.O. Ampliando a consciência do eu: o cuidador olhando-se no espelho. Revista Gaúcha de Enfermagem. [Internet]. v.28. n.1. p.27-34. Rio Grande do Sul, 2007. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/ view/4694. Acesso em: 06 nov. 2017. 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É única ao homem e é considerada a medição entre a experiência e a consciência, podendo ser expressa por meio da comunicação verbal e não verbal (TERRA et al., 2009). Ela emerge do cotidiano profissional dos enfermeiros envolvendo símbolos e significados construídos a partir das interações com os atores sociais que participam dessa prática (CAVALCANTI; COELHO, 2007). As experiências de cada ser humano são singulares e ocorrem a partir da linguagem estabelecida pelas diferentes relações e interações culturais com o outro (TERRA et al., 2009). A linguagem não é meramente a expressão das 42 palavras, ela carrega costumes, tradições, culturas e normas, é um fenômeno universal que pode conectar as pessoas (RODGERS, 2005). A comunicação tem como premissa o desenvolvimento do entendimento mútuo entre os participantes da interação (RODGERS, 2005). Segundo Habermas, a troca livre e igual de ideias é essencial para o desenvolvimento da compreensão (HABERMANS, 1994). A enfermagem, como disciplina, tem um forte papel nas interações sociais. A comunicação dá-se em todos os momentos dispensados ao paciente e aos familiares, bem como os membros da equipe, sendo considerado elemento essencial para fornecer um cuidado de qualidade. Diante do exposto, a presente análise reflexiva objetivou elucidar a influência e a importância da linguagem na enfermagem em três contextos: do cuidado, da pesquisa e do ensino. Para a construção da reflexão foram utilizadas produções bibliográficas nacionais e internacionais que discorrem sobre a importância da linguagem no fazer da enfermagem. A LINGUAGEM DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DO CUIDADO A enfermagem tem o objetivo de promover o cuidado visando à saúde e a dignidade humana. A comunicação entre os profissionais e os clientes configura- se como elemento essencial para que haja um cuidado humanizado (PONTES et al., 2014). 43 Na Política Nacional de Humanização (PNH), a diretriz da transversalidade destaca a importância do aumento da comunicação intra e intergrupos e a transformação dos modos de comunicação entre os sujeitos participantes do processo de produção de saúde, de forma a desestruturar as fronteiras dos saberes, dos territórios de poder e dos modelos estabelecidos das relações de trabalho (BRASIL, 2013). Entretanto ainda percebe-se a presença marcante do modelo biomédico nas organizações de saúde, com ênfase nas ações curativas e no tratamento das doenças, na medicalização, e no bruso intensivo da tecnologia, em detrimento da análise dos determinantes do processo saúde-doença, da orientação para a demanda espontânea e do conhecimento dos aspectos culturais, éticos e das vivências dos sujeitos (FERTONI et al., 2015). O enfermeiro deve buscar o foco da sua prática na pessoa, evitando a sua objetivação e reconhecendo que cada indivíduo possui uma realidade única, construída pela cultura, linguagem e tradição (RODGERS, 2005). O uso da linguagem biomédica, técnica e rebuscada, distancia essa capacidade do enfermeiro em compreender essa individualidade e multidimensionalidade do ser humano. Uma boa comunicação não é uma tarefa fácil, principalmente em situações que envolvem saúde e doença (TERRA; VAGUETHETTI, 2014). No entanto, a comunicação é uma das competências que precisam ser colocadas em prática pela equipe de enfermagem (TERRA; VAGUETHETTI, 2014), pois ela permite identificar as reais e as potenciais necessidades do paciente, proporcionando um cuidado humanizado e seguro. 44 O enfermeiro, como o profissional que permanece mais tempo ao lado do paciente, deve buscar ser o facilitador na promoção do bem-estar, conduzindo-os as melhores formas de enfrentamento no processo saúde- doença. Destaca-se também a importância da comunicação eficiente entre todos os membros da equipe de enfermagem e da equipe multidisciplinar, as inter-relações profissionais estabelecidas no trabalho são imprescindíveis para o fornecimento de uma assistência de qualidade ao paciente (BROCA; FERREIRA, 2012). A comunicação entre si e com outros membros de sua área perpassa pela questão de como o conhecimento da profissão está organizado (CARVALHO; CRUZ; HERDMAN, 2013). Para isso há uma necessidade de padronizar a linguagem utilizada pelos enfermeiros, buscando transformar a prática de enfermagem. Sem uma linguagem universal, a enfermagem torna-se invisível nos sistemas de saúde e seu valor e importância não serão reconhecidos e nem valorizados (AFFARA; OGUISSO, 1995). Sabendo dessa importância da linguagem na comunicação entre os profissionais e os pacientes, e que é por meio dela que se dividem as experiências, a valorização desse processo possibilita a modificação da nossa prática e do contexto em que estamos inseridos (STEFANELLI, 1993). 45 A LINGUAGEM DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DO ENSINO Convém neste tópico também refletir a linguagem no processo de ensino-aprendizagem da enfermagem. Comoos enfermeiros estão saindo do mundo acadêmico? A aprendizagem é definida como a mudança duradoura no processamento mental, no funcionamento emocional e/ou no comportamento como resultado de experiência (BASTABLE, 2010). É considerada um processo dinâmico e permanente pelos quais os indivíduos adquirem novos conhecimentos ou habilidades e modificam seus pensamentos, sentimentos, atitudes e ações (BASTABLE, 2010). A adoção de novos modelos de ensino, com mudanças paradigmáticas, deve ser refletida no programa curricular da enfermagem, em destaque para a atuação dos docentes (BEZERRA, 2005). Ressalta-se a importância de uma proposta metodológica de ensino que trabalhe na perspectiva de um novo paradigma, que propicie o diálogo entre os saberes, conforme sugerem os grandes pensadores de educação, como Paulo Freire, Edgar Morin, Humberto Maturana, entre outros (GERMANO, 2003). Os docentes devem explorar os conteúdos programáticos curriculares em sala de aula de modo eficaz, objetivando a facilitação no entendimento do docente quanto às suas práticas de ensino e ao aprendizado dos alunos (COSTA; SANTOS; SANTOS, 2006). Para isso a comunicação e a interação entre professor e aluno neste processo de ensino-aprendizagem tornam-se fundamentais 46 (COSTA; SANTOS; SANTOS, 2006), sendo a linguagem considerada o instrumento essencial nessa formação (educação) (MONDIN, 1980). A aprendizagem é um processo em que o estudante elabora seus saberes por meio de interações estabelecidas com o professor (CUBAS et al., 2015). Na sala de aula, discentes e docentes estabelecem relações sociais e trocam informações, construindo um conhecimento científico (COSTA; SANTOS; SANTOS, 2006). As competências que dão suporte ao exercício profissional são construídas com base nos saberes construídos durante esse processo formativo. O ato educativo deve acentuar as relações e não as características de uma só pessoa, remetendo ao atual paradigma da comunicação, que coloca o emissor e o receptor em nível de igualdade (BEZERRA, 1996). O estímulo à formação crítica e reflexiva do aluno, dando voz ao seu conhecimento e quebrando a hegemonia do ensino autoritário, é fundamental para formar um enfermeiro consciente, para atuar transformando a realidade e buscar respostas aos problemas contemporâneos. A LINGUAGEM DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DA PESQUISA O processo comunicativo da enfermagem também acontece por meio das pesquisas e publicações. E a partir disso, algumas reflexões fazem-se necessárias: como a produção de conhecimento chega ao público e aos profissionais de saúde? Será que a linguagem dos pesquisadores se faz compreensível à população? 47 A investigação científica “é uma prática social e um ato político, pela qual a enfermagem obtém ferramentas para se fortalecer enquanto ciência e melhorar a qualidade de vida do homem” (SILVA, 1996). O produto das investigações científicas pertence a todos que possam vir a utilizá-lo na melhoria das condições de educação, saúde e conhecimento do homem, seja no âmbito da coletividade ou desse como indivíduo. Para isso, a linguagem do pesquisador tem que ser adequada à linguagem da prática (STEFANELLI, 1993) e da coletividade. Um dos grandes desafios encontrado pelos pesquisadores é como a disciplina está se comunicando com a sociedade. A complexidade das pesquisas, a falta de interesse ou a dificuldade dos pesquisadores em explicar seus estudos em uma linguagem acessível e de fácil entendimento para a sociedade é uma realidade que necessita ser modificada. A linguagem cientifica acrescenta clareza e precisão e é derivado da linguagem geral (ROGERS, 1989), que não pode ser esquecida quando direcionada a sociedade. Para Silva (1996), a pesquisa é “um mecanismo de propulsão, um instrumento de redimensionamento e redirecionamento do saber¨. O acesso do público leigo, pouco familiarizado com a linguagem científica, aos resultados das pesquisas, é imprescindível para que eles se tornem consumidores deste saber (VALE; SILVA, 2015). Os enfermeiros pesquisadores precisam lidar com o compromisso de mudança, inserindo a enfermagem no conjunto das diferentes áreas do saber, contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico (CABRAL; TYRREL, 2010). 48 A disseminação do conhecimento de enfermagem de forma adequada e adaptada é fundamental para reduzir a distância entre o contexto de formação acadêmica/produção científica e a prática assistencial, buscando transformar a prática de enfermagem baseada nas evidências cientificas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de comunicação, que tem como instrumento a linguagem, é compreendido como algo muito mais do que a palavra expressada, é algo complexo e imprescindível, que emerge do cotidiano profissional em diversos contextos. A compreensão da importância da linguagem pelos enfermeiros é o modo mais efetivo de solucionar problemas relevantes a prática, ao ensino e a pesquisa. A apropriação do processo comunicativo pelos profissionais contribuirá para melhoria da prática profissional e para transformação do contexto em que estão inseridos. REFERÊNCIAS AFFARA, F.; OGUISSO, T. Classificação internacional para a prática de enfermagem. Rev. Bras. Enferm., v.48, n. 4, 1995. BASTABLE, S.B. O enfermeiro como educador princípios de ensino – aprendizagem para a prática de enfermagem. 3ed. Artmed. 2010. BEZERRA, A.L.Q. Estratégias de ensino na enfermagem: enfoque no cuidado e no pensamento 49 crítico. Vera Regina Waldow. Rio de Janeiro: Vozes, 2005, 136p. BEZERRA, D.B. Implicações pedagógicas da comunicação interativa [dissertação]. São Paulo. Faculdade de Educação da Universidade Mackenzie; 1996. BRASIL. Política Nacional de Humanização. Brasília – DF, 1ed. 2013. BROCA, P.V.; FERREIRA, M.A. Nursing staff and communication: contributions to nursing care. Rev. Bras. Enferm. v. 65, n.1, 2012. CABRAL, I.E.; TYRREL, M.A.R. Nursing research in the Americas. Rev. Bras. 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