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FILOSOFIA POLÍTICA - Prof. Arnaldo N.

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FILOSOFIA POLÍTICA
Política
É a arte de governar, de gerir o destino da cidade.
Política trata das relações de poder.
Poder é a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos. 
Poder é uma relação ou um conjunto de relações pelas quais indivíduos ou grupos interferem na atividade de outros indivíduos ou grupos.
Para que alguém exerça o poder, é preciso que tenha força, entendida como instrumento para o exercício do poder.
A palavra política é grega: to politika, vinda de pólis. Pólis é a cidade, não como conjunto de edifícios, ruas, mas sim como “espaço cívico” , ou seja, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikós), homens livres e iguais nascidos em seu território, portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade perante a lei) e a isegoria (igualdade no direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a cidade deve ou não deve realizar).
Os gregos e romanos inventaram o poder político porque:
- Separaram a autoridade pessoal privada do chefe de família e o poder impessoal público, pertencente à coletividade; separaram o público e o privado e impediram a identificação do poder político com a pessoa do governante;
- Separaram autoridade militar e poder civil, subordinando a primeira á segunda. 
- Separaram autoridade mágico-religiosa e poder temporal laico, impedindo tanto a divinização dos governantes quanto sua transformação em sumo sacerdote. 
- Criaram instituições e funções públicas para aplicação das leis e garantia dos direitos, isto é, os tribunais e os magistrados.
- Criaram a instituição do erário público ou do fundo público, isto é, dos bens e recursos que pertencem à sociedade e são por ela administrados por meio de taxas, impostos e tributos, impedindo a concentração da propriedade e da riqueza nas mãos dos dirigentes.
- Criaram o espaço político ou espaço público, no qual os que possuíam direitos iguais de cidadania discutiam suas opiniões, defendiam seus interesses deliberavam em conjunto e decidiam por meio do voto, podendo, também pelo voto, revogar uma decisão tomada. É esse o coração da invenção política.
Três sentidos da palavra política:
- Significado de governo, entendido como direção e administração do poder público, na forma de estado. Refere-se à ação dos governantes que possuem a autoridade para dirigir a coletividade organizada em estado, em apoio ou contrárias à autoridade governamental e mesmo à forma de Estado.
- Significado de atividade realizada por especialista e profissionais , pertencentes a certo tipo de organização sociopolítica, que disputam o direito de governar, ocupando cargos e postos no estado. A política aprece como algo distante da sociedade, uma vez que é atividade de especialistas e profissionais que se ocupam exclusivamente com o estado e o poder.
- O significado derivado do anterior, de conduta duvidosa, não muito confiável, um tanto secreta, cheia de interesses particulares dissimulados e frequentemente contrários aos interesses gerais da sociedade e obtidos por meios ilícitos ou ilegítimos. Este terceiro significado é o mais corrente para o senso comum social e resulta numa visão pejorativa da política. Fala-se da política como mal necessário, algo que precisamos tolerar e do qual precisamos desconfiar. 
Mas também podemos usar a palavra em outro sentido que não está vinculado a governo ou profissional da política. Ex. Políticas de saúde, educação etc. Ou seja, a política envolve questões de poder.
Paradoxos da política:
- A política foi inventada pelos humanos como o modo pelo qual pudessem expressar suas diferenças e conflitos sem transformá-la em guerra total, em uso da força e extermínio recíproco. Como o modo pelo qual os humanos, fugindo da violência, regulam e ordenam seus interesses conflitantes, seus direitos e obrigações como seres sociais. Como explicar, então, que a política seja percebida como distante, maléfica e violenta?
- Porque a política foi inventada como o modo pelo qual a sociedade, internamente dividida, discute, delibera e decide em comum para aprovar ou rejeitar as ações que dizem respeito a todos os seus membros. Como explicar, então, que seja percebida como algo que não nos favorece, nos prejudica? 
Origem da vida política
1 – As inspiradas no mito das idades do homem. O homem passa por vários estágios até a Idade do Ferro, quando os homens começam a redigir as primeiras leis e cria governos. A razão funda a política. 
2- As inspiradas pela obra do poeta grego Hesíodo, O trabalho e os dias. A origens da vida política vincula-se à adoção do fogo aos homens, feita pelo semideus prometeu. Nessa concepção, o desenvolvimento das técnicas e dos costumes conduz a convenções entre os humanos para a vida em comunidade sob as leis. A convenção funda a política.
3 – As teorias que afirmam que a política decorre da natureza humana e que a cidade existe por natureza. Os humanos são, por natureza, diferentes dos animais, porque são dotados do lógos, isto é, da palavra como fala e pensamento. São naturalmente sociais. Os humanos, falantes e pensantes, são seres de comunicação e é essa a causa da vida em comunidade ou da vida política. A natureza funda a política.
A finalidade da vida política
Para os gregos a finalidade da vida política era a justiça na comunidade. A invenção da política exigiu que as explicações míticas fossem afastadas – Themis (a lei divina que instituiu a ordem no universo) e dike ( a justiça entre as coisas e entre os homens, no respeito às leis divinas e à ordem cósmica)deixaram de ser vistas como duas deusas que impunham ordem e leis no mundo e aos seres humanos, passando a significar as causas que fazem haver ordem, lei e justiça na Natureza e na polis. 
 
Para os sofistas, a polis nasce por convenção entre os seres humanos quando percebem que lhes é mais útil a vida em comum do que isolamento. Convencionaram regras de convivência que se tornaram leis, nomos. A justiça é o consenso quanto às leis e a finalidade da política é criar e preservar esse consenso. 
Se a polis e as leis são convenções humanas, podem mudar, se mudarem as circunstâncias. A justiça será permitir a mudança das leis sem que isso destrua a comunidade política, e a única maneira de realizar a mudança sem destruição da ordem política é o debate para chegar ao consenso, isto é, a expressão pública da vontade da maioria, obtida pelo voto. A finalidade da política era a justiça entendida como concórdia, conseguida na discussão pública de opiniões e interesses contrários.
Em oposição aos sofistas, Platão e Aristóteles afirmam o caráter natural da polis e da justiça. 
Dois vocábulos gregos são empregados para compor as palavras que designam os regimes políticos: arché – o que está à frente , o eu tem comando e kratos – o poder ou autoridade suprema. As palavras compostas com arché (arquia= monarquia, oligarquia), designam a quantidade dos que estão no comando. As compostas com kratos (cracia = autocracia, aristocracia) designam quem está no poder. 
Devemos a Platão e a Aristóteles duas ideias políticas, elaboradas a partir da experiência política antiga: a primeira delas é a distinção entre regimes políticos e não-políticos; a segunda, a da transformação de um regime político em outro.
Um regime só é político se for instituído por um corpo de leis publicamente reconhecidas e sob as quais todos vivem, governantes e súditos, governantes e cidadãos. Em suma, é político o regime no qual os governantes estão submetidos às leis. Quando a lei coincide com a vontade pessoal e arbitrária do governante, não há política, mas despotismo e tirania. Quando não há lei de espécie alguma, não há política, mas anarquia. A presença ou ausência da lei conduz à ideia de regimes políticos legítimos e ilegítimos. Um regime é legítimo quando, além de legal, é justo. 
Antes de Maquiavel
- Encontram um fundamento para a política anterior e exterior à própria política. Em outras
palavras, para alguns, o fundamento da política encontra-se em Deus; para outros encontra-se na Natureza, isto é, na ordem natural, que fez o homem um ser naturalmente político; e, para alguns encontra-se na razão, isto é, na ideia de que existe uma racionalidade que governa o mundo e os homens, torna-se racionais e os faz instituir a vida política. Deus, Natureza e Razão servem de fundamento à política;
- afirmam que a política é instituição de uma comunidade uma e indivisa, cuja finalidade é realizar o bem comum ou ajustiça. A boa política é feita pela boa comunidade harmoniosa, pacífica e ordeira. Lutas, conflitos e divisões são vistos como perigos, frutos de homens perversos e sediciosos, que devem, a qualquer preço, ser afastados da comunidade e do poder;
- assentam a boa comunidade e a boa política na figura do bom governante, isto é, no príncipe virtuoso e racional, portador da justiça, da harmonia e da indivisão da comunidade.
- classificam os regimes políticos em justos-legítimos e injustos-legítimos, colocando a monarquia e a aristocracia hereditárias entre os primeiros e identificando com os segundos o poder obtido por conquista e usurpação, denominando-o tirânico. Este é considerado antinatural, irracional, contrário à vontade de Deus e à justiça, obra de um governante vicioso e perverso. 
A revolução de Maquiavel
- Maquiavel não admite um fundamento anterior e exterior à política (Deus, Natureza ou a Razão). Toda cidade, diz ele em O Príncipe, está originalmente dividida por dois desejos opostos : o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado. A política nasce das lutas sociais e é obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade e identidade. A política resulta da ação social a partir das divisões sociais.
- Maquiavel não aceita a ideia da boa comunidade política constituída para o bem comum e ajustiça. A sociedade é originariamente dividida e jamais pode ser vista como uma comunidade uma, indivisa, homogênea, voltada para o bem comum. A finalidade da política não é, como diziam os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas, como sempre souberam os políticos, a tomada e manutenção do poder. A política não é alógica racional da justiça e da ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder e da lei;
- Maquiavel recusa a figura do bom governo encarnada no príncipe virtuoso, portador das virtudes morais e das virtudes principescas. O príncipe precisa ter virtu, mas esta propriamente política, referindo-se às qualidades do dirigente para tomar e manter o poder, mesmo que para isso deva usar a violência, a mentira, a astúcia e a força. 
- Maquiavel não aceita divisão clássica dos três regimes políticos (monarquia, aristocracia e democracia) e suas formas corruptas ou ilegítimas (tirania, oligarquia, anarquia), como não aceita que os regime legítimo seja o hereditário e o ilegítimo , o usurpado por conquista. O critério de avaliação, ou o valor que mede a legitimidade e a ilegitimidade, é a liberdade. 
- A concepção de Rousseau, segundo a qual, em Estado de natureza, os indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com a qual a natureza lhe dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelos gestos, o grito e o canto, numa língua generosa e benevolente. Este estado de felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando surge a propriedade privada.
A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro o poder para criar e aplicar leis, tornando-se autoridade política. O contrato funda a soberania.
A sociedade civil é o estado propriamente dito. Trata-se da sociedade vivendo sob o direito civil, isto é, sob as leis promulgadas e aplicadas pelo soberano. Feito o pacto ou o contrato, os contratantes transferiram o direito natural ao soberano e com isso o autorizam a transformá-lo em direito civil ou direito positivo, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada dos governos. 
Função do estado segundo a teoria liberal:
- por meio das leis e do uso legal da violência, garantir o direito natural de propriedade, sem interferir na vida econômica, pois, não tendo instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela interferir. Donde a ideia de liberalismo, isto é, o estado deve respeitar a liberdade econômica dos proprietários privados, deixando que façam as regras das atividades econômicas; 
- visto que os proprietários privados são capazes de estabelecer as regras e as normas da vida econômica ou do mercado, entre o estado e o indivíduo intercala-se um esfera social, a sociedade civil, sobre a qual o estado não tem poder instituinte, mas apenas a função de garantidor e de árbitro dos conflitos nela existentes. O estado tem a função de arbitra, por meio das leis e da força, os conflitos da sociedade civil;
- o estado tem o direito de legislar, permitir e proibir tudo quanto pertença à esfera da vida pública, mas não tem o direito de intervir sobre a consciência dos governados. O estado deve garantir a liberdade de consciência, isto é, a liberdade de pensamento de todos os governados e só poderá exercer censura nos casos em que se emitam opiniões sediciosas que ponham em risco o próprio esatado.
Estado de natureza, contrato social e Estado civil
O conceito de estado de natureza tem a função de explicar a situação pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas formas principais:
- Concepção de Hobbes, segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou o “homem lobo do homem”. Nesse estado reina, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. A vida não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar.
Liberalismo Clássico
- Conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da burguesia, em oposição à visão de mundo da nobreza feudal.
- Os polos da liberdade e igualdade representam um confronto que ficou claro no século IX, mas que até hoje dilacera o pensamento liberal, dando origem a duas tendências principais:
- o liberalismo conservador, que defende a liberdade, mas não a democracia: nele não prevalecem aspirações igualitárias.
- o liberalismo radical, que, além da liberdade, defende a igualdade, a extensão dos benefícios a todos.
- Exigência de liberdade de imprensa;
- implantação da escola elementar universal, leiga, gratuita e obrigatória, cuja luta se mostrou bem sucedida na Europa e nos Estados Unidos. 
- Ampliação das formas de representação ( partidos, sindicatos).
Liberalismo social
No século XX surgiram tendências eu podemos chamar de liberalismo de esquerda, socialismo liberal ou liberal-socialismo, o que pode parecer extravagância pela ambiguidade de sentido ao unir conceitos contraditórios, inconciliáveis: o livre mercado e o controle estatal da economia. 
As extremas desigualdades sociais, no entanto, levaram alguns admitir que a ênfase na economia livre de veria ser atenuada, a fim de possibilitar a igualdade de oportunidades e auxiliar o crescimento da individualidade.
Acontecimentos históricos apressaram a reformulação dos princípios do liberalismo (crise de 1929, totalitarismo na Alemanha ...). As novas medidas tomadas encaminharam o liberalismo para a tendência que podemos chamar de liberalismo social, em que é revisto o papel do estado na economia.
Mas foi nas décadas de 1920-1930 que o Estado interveio na produção e distribuição de bens, com forte tendência em direção ao welfare state (estado de bem estar-social).
Liberalismo de esquerda
Na Itália fascista floresceram teorias que visavam desencadear movimentos de cunho popular ( e não burguês) e resgatar
os ideais socialistas, embora adaptando-os ao liberalismo, daí o nome de liberalismo de esquerda. Trata-se de uma espécie de terceira via, que recusa a tese de que liberalismo e socialismo seriam inconciliáveis, admitindo que essa passagem poderia ser gradual e pacífica.

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