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W BA 07 60 _V 2. 0 SISTEMAS SUPERVISÓRIOS 2 Robson de Almeida Vilela Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2024 SISTEMAS SUPERVISÓRIOS 1ª edição 3 2024 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Juliana Schiavetto Dauricio Juliane Raniro Hehl Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Carolina Venturi Pinheiro Editorial Beatriz Meloni Montefusco Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Rosana Silverio Siqueira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Vilela, Robson de Almeida Sistemas supervisórios/ Robson de Almeida Vilela, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2024. 32 p. ISBN 978-65-5903-697-4 1. Protocolos de comunicação industrial. 2. Interface Homem- Máquina (IHM). 3. Inteligência artificial. 4. Aprendizado de máquina. I. Título. CDU 004 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 V695s © 2024 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Introdução aos Sistemas Supervisórios e SCADA ____________ 07 Protocolos de Comunicação e Tecnologias Aplicadas aos Sistemas Supervisórios ______________________________________ 19 Projeto, desenvolvimento e implementação de sistemas supervisórios ________________________________________________ 30 Inovações, Novas Tecnologias e Tendências Atuais em Sistemas Supervisórios ________________________________________________ 41 SISTEMAS SUPERVISÓRIOS 5 Apresentação da disciplina Seja muito bem-vindo à nossa disciplina de Sistemas Supervisórios. Vamos iniciar a nossa caminhada de aprendizados e descobertas no universo do monitoramento e controle por meio dos sistemas supervisórios. Estudaremos sobre as bases conceituais, o contexto histórico, o desenvolvimento, as aplicações atuais e as relações dos supervisórios com outras áreas do saber. Além disso, em cada abordagem dos nossos estudos, faremos uma conexão com as tecnologias existentes e as projeções futuras da área e como ela pode ser uma grande aliada para um mundo mais justo e sustentável. Iniciaremos falando sobre os fundamentos e as aplicações dos sistemas supervisórios e sua relação com a automação industrial e áreas afins; arquitetura geral e parametrizações específicas para operações na prática; limites e potencialidades dos sistemas supervisórios; diferença entre sistemas supervisórios e SCADA. Logo em seguida, entenderemos os protocolos e as redes de comunicação juntamente com todo o aparato tecnológico agregado a essa parte fundamental para o funcionamento dos sistemas. Depois, vamos direcionar os estudos e as análises para o projeto, desenvolvimento e a implementação de sistemas supervisórios. Será o momento de colocar a mão na massa por meio da concepção de um projeto básico, da gestão dos custos e do gerenciamento das etapas envolvidas com um foco especial na eficiência energética e operacional dos sistemas. Por fim, entraremos no instigante mundo das inovações, novas tecnologias e tendências para sistemas supervisórios, no qual falaremos sobre Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina, Computação em Borda e Nuvem, Internet Industrial das Coisas, Análises 6 Preditivas, Cibersegurança, entre outros assuntos, sem deixar de mencionar a projeção de um cenário futuro e as tendências da área. Este é o seu espaço de aprendizagem. Você tem a oportunidade de ter contato com os recursos e saberes mais avançados para desenvolver a sua futura carreira. Bons estudos! 7 Introdução aos Sistemas Supervisórios e SCADA Autoria: Robson de Almeida Vilela Leitura crítica: Carolina Venturi Pinheiro Objetivos • Conhecer os princípios básicos, as terminologias e a inserção dos sistemas supervisórios do ponto de vista técnico e científico. • Identificar as principais funcionalidades e configurações básicas dos sistemas supervisórios e SCADA. • Implementar e analisar a rotina de operação dos sistemas supervisórios, visando à introdução de melhorias contínuas. • Garantir a eficiência funcional na seleção de supervisórios e seus componentes. • Promover a integração entre os dispositivos de automação e controle com interfaces, supervisórios e SCADA. • Parametrizar e estabelecer pontos fundamentais para a operação prática de supervisórios e sistemas SCADA. 8 1. Sistemas supervisórios 1.1 Contexto histórico e criação A tecnologia está cada vez mais presente em nosso cotidiano, seja no trabalho ou no ambiente doméstico. Estamos sempre ao redor de uma série de equipamentos, eletrodomésticos e dispositivos que nos auxiliam na realização das mais diversas atividades diárias. Muitas vezes, algumas dessas tecnologias passam despercebidas aos olhos da maioria das pessoas, pois na maior parte do tempo estão sendo aplicadas nos ambientes de pesquisa e industrial. Uma dessas tecnologias que ilustra isso são os chamados sistemas supervisórios, que basicamente são sistemas voltados ao monitoramento, controle e à supervisão de variáveis envolvidas em um determinado processo industrial ou qualquer outra aplicação cabível. Para que possamos compreender melhor o funcionamento, seus principais componentes, suas aplicações e as restrições dos sistemas supervisórios, precisamos voltar um pouco no tempo e perceber como essa importante tecnologia dos dias atuais foi concebida e implementada. De acordo com Garcia Junior (2019), ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o mundo começou a experimentar um avanço significativo no que se refere à pesquisa e ao desenvolvimento de novos dispositivos e tecnologias associadas. Em partes, tudo isso foi muito impulsionado pela chamada corrida espacial, a qual colocou em disputa as duas grandes potências da época (Estados Unidos e União Soviética) na busca para alcançar a primeira viagem externa ao nosso planeta. Nesse contexto, mais precisamente nas décadas de 1970 e 1980, devido ao avanço já expressivo da eletrônica e, por consequência, a produção dos microprocessadores, os computadores começam a ser intensamente aplicados nos mais diversos processos industriais. 9 Deste advento citado, podemos dizer que nascem os primeiros sistemas supervisórios, os quais inicialmente eram bastante rudimentares no que se refere à aquisição e ao processamento de dados para posterior análise. Nos anos 1980 e 1990, o avanço da tecnologia das redes de comunicação industrial e processadores, além do desenvolvimento de novas e robustas interfaces, permitiram que os sistemas supervisórios se tornassem mais eficientes e aplicáveis em uma ampla gama de segmentos industriais. Já no início dos anos 2000, com a possibilidade de integração com redes de comunicação como a Ethernet e a Internet, houve uma melhoria relevante em termos de monitoramento remoto em tempo real e análises preditivas mais sofisticadas dos processos em questão. A chegada dos anos 2010 inaugura uma nova fase dos sistemas supervisórios ao inserir novas tecnologias auxiliares às suas operações, tais como a Internet dasCoisas (IoT), Big Data e Inteligência Artificial. Essa associação permite um aumento na conectividade, no controle preciso e na otimização permanente dos processos industriais envolvidos e o processamento inteligente de informações e dados mais confiáveis. Temos a seguir uma caracterização da linha do tempo de desenvolvimento dos sistemas supervisórios. • Anos 1960 – Criação dos Controladores Lógicos Programáveis (CLP’s) pelo inventor norte-americano Dick Morley (1932 - 2017). • Anos 1970 – Aparição dos primeiros sistemas supervisórios. • Anos 1980 – Criação dos protocolos de comunicação. • Anos 1990 – Intensificação da integração com as redes. • Anos 2000 – Era da conectividade e criação da Comunicação de Plataforma Aberta (CPA). • Dias atuais – Incorporação de novas tecnologias da Indústria 4.0, Internet das coisas, aprendizado de máquina e Inteligência Artificial. 10 Apesar de ser relativamente recente, a história dos sistemas supervisórios tem diversas contribuições e avanços ao longo do tempo e assim como qualquer tecnologia não está imune às tendências e mudanças que vão surgindo. Como estamos falando sobre sistemas supervisórios e suas fundamentações básicas, é imprescindível conhecermos uma área do conhecimento que é indissociável das suas aplicações. Vamos falar sobre a automação industrial. 1.2 Automação industrial A automação industrial é uma área do conhecimento voltada para garantir a automatização e otimização dos processos nos quais é aplicada. Em outras palavras, busca reduzir ao máximo o esforço humano empregado em um determinado processo, de forma que consiga aumentar a sua eficiência operacional. Sensores, atuadores, válvulas, controladores, softwares e medidores são elementos básicos de um sistema de automação industrial aplicado a um processo industrial. Dentro desse contexto, destacamos o papel dos sistemas de controle e supervisão de dados, pois sem eles não há garantia de que a operação está sendo feita de acordo com os parâmetros estabelecidos previamente. E é exatamente neste instante que entram os sistemas supervisórios como componente fundamental da automação. Em conformidade com a sua função básica, monitorar e rastrear informações de um determinado processo e/ou instalação é de extrema importância para uma automação funcional e segura. Esses sistemas obtêm seus dados por meio de equipamentos e dispositivos estrategicamente instalados ao longo de um processo ou linha de produção, de forma que posteriormente esses mesmos dados sejam analisados, manipulados e armazenados para serem apresentados ao operador ou usuário que esteja efetuando os ajustes e/ou as implementações em uma máquina ou processo. 11 Atualmente, não há como se pensar em automação robusta e confiável sem a aplicação dos sistemas supervisórios, pois sem eles a obtenção e o processamento de dados seriam lento e oneroso, além do fato de os supervisórios apresentarem uma série de vantagens consideráveis quando corretamente aplicados, tais como: qualidade e segurança nas operações, redução expressiva nos custos dos processos, otimização do desempenho de equipamentos e dispositivos alocados em um processo industrial. Obviamente, tudo isso só será bem-sucedido caso haja uma vigilância e um monitoramento permanente por parte das equipes destinadas à verificação de dados e gráficos disponibilizados em tempo real para tomadas de decisões estratégias, conforme ilustra a Figura 1. Figura 1 - Monitoramento de dados Fonte: Ed/adobe.stock.com. Basicamente, de um modo geral os sistemas supervisórios são compostos por: • Sensores e atuadores. • Unidades Remotas Terminais (Remote Terminal Units - RTU’s). • Controladores Lógicos Programáveis (CLP’s). 12 • Interface Homem-Máquina (IHM). • Redes de comunicação, servidores e protocolos. • Bancos de dados e sistemas de alarmes. A partir da listagem desses componentes básicos, é possível ter uma ideia melhor de como funciona um sistema supervisório na prática e como todos esses componentes interagem entre si para garantir que haja a correta obtenção, processamento e armazenamento de dados. Todos esses componentes devem trabalhar de maneira sincronizada e ter um tempo de resposta rápido, pois qualquer falha, por menor que seja, poderá impactar diretamente no funcionamento do sistema e, consequentemente, trazer problemas ao processo. Vejamos em maiores detalhes cada um desses componentes e como operam na prática. 1.3 Automação industrial Agora que se tem uma noção básica do que são os componentes de um sistema supervisório típico, faleremos um pouco mais sobre esses componentes e sobre a parametrização de um supervisório. Primeiro, vejamos de forma mais detalhada a função e definição de cada componente do sistema supervisório básico, dos quais já falamos brevemente: • Sensores, controladores e atuadores: são os dispositivos que fazem o levantamento de dados em um determinado local (sensores) e executam ações coordenadas, fundamentadas nos comandos estabelecidos previamente no sistema (atuadores). • Unidades Remotas Terminais (Remote Terminal Units): conhecidas pela sigla RTU, são unidades cuja função principal 13 é realizar a coleta de dados oriundos dos sensores e repassá- los para os atuadores. Essa coleta é feita em tempo real e a comunicação com o sistema supervisório central é permanente. • Controladores Lógicos Programáveis (Programmable Logic Controllers): conhecidos na prática pela sigla PLC ou CLP, são controladores amplamente utilizados na automação de uma série de processos industriais. Entre suas vantagens, podemos destacar o fato de a sua programação ser extremamente flexível, possibilitar um controle eficiente das operações em tempo real e uma interação precisa com os elementos sensores e atuadores do sistema. • Interface Homem-Máquina (Human-Machine Interface): popularmente conhecidas como IHM’s, conforme o próprio nome pode sugerir, são os elementos de interação entre operador e máquina, ou seja, permite que o operador visualize e interaja com o sistema supervisório. A criação de alarmes e eventos específicos da operação e a visualização completa e integral das variáveis de um determinado processo industrial são as maiores vantagens desse componente. • Redes de comunicação, servidores e protocolos: são os meios de comunicação de um sistema supervisório, pois são esses componentes que permitem a troca de informações entre os demais componentes. Exemplos de redes: ethernet, internet, fieldbus e CAN. Exemplos de protocolos: profibus, modbus e DNP3. • Bancos de dados e sistemas de alarmes: são os elementos responsáveis pelo armazenamento de dados visando analisar as decisões e notificações em tempo real sobre falhas, avarias ou anomalias no comportamento do processo. 14 Agora é o momento de aprendermos um passo a passo sobre como realizar a parametrização básica de um sistema supervisório. Apesar de ser uma descrição genérica, pode ser bastante útil em diversas aplicações. 1 – Requisitos básicos de operação Defina todas as necessidades, variáveis, informações e requisitos necessários para uma operação segura, funcional e sustentável por meio de um levantamento pormenorizado que deverá responder às seguintes perguntas: o que será feito? Como será feito? O que esperamos em termos de performance? Como iremos documentar? Qual será o procedimento para coleta e processamento de dados? Quais as condições básicas de operação? 2 – Seleção de recursos e ferramentas De posse das informações anteriores, passaremos para a etapa de seleção dos recursos e ferramentas que iremos utilizar. Novamente, iremos utilizar a estratégia das perguntas poderosas. Quais dispositivos de campo (sensores, controladores) serão utilizados? Quais unidades terminais podem atender ao projeto específico de aplicação? Qual será o software e a configuração de rede para alocar o sistema supervisório? É o momento de planejar e executar toda a infraestruturageral para receber os servidores e as redes de comunicação. 3 – Projeto e desenvolvimento Momento da definição mais específica do aparato e dos componentes principais do sistema. Listas de materiais, diagramas, simulações, integração de sensores, atuadores e unidades terminais, além da especificação detalhada dos protocolos de comunicação e a configuração da tipologia da rede são as entregas esperadas nessa fase 15 da implementação. É necessário também que se pense na integração com outros tipos de sistemas operantes ou que estarão em operação em breve. 4 –Testes preliminares e comissionamento Agora, entramos na etapa de garantir na prática que tudo irá funcionar e operar conforme o que foi planejado anteriormente. Alguns testes, tais como de unidades, de integração, desempenho, segurança, condições críticas e de aceite geral deverão ser conduzidos e documentados para gerar um histórico para futuras decisões. Após os testes, a equipe deverá conduzir os trabalhos de treinamento e a capacitação de todos os usuários envolvidos no processo, seja de forma direta ou indireta. 5 – Manutenção e desempenho Por fim, após garantir que o sistema está corretamente instalado, operando com segurança e desempenhando as suas funções é chegado o momento de atuar no monitoramento periódico das condições de trabalho em campo e redigir planos de manutenção preventiva e preditiva, além de procedimentos de trabalho para situações de intervenções corretivas. Ainda trabalharemos um exemplo prático bem mais detalhado e com explicações mais aprofundadas no decorrer do curso sobre como fazer esse trabalho na prática. 2. Sistemas SCADA De acordo com Coelho (2010), uma definição sugestiva para SCADA (do inglês Supervisory Control and Data Acquisition - em tradução literal para o português Sistema de Supervisão e Aquisição de Dados) é a de 16 que são sistemas de supervisão de processos industriais que coletam dados do processo por meio de remotas industriais, principalmente Controladores Lógico Programáveis, que formatam estes dados e os apresentam ao operador em uma multiplicidade de formas. Portanto, já temos uma certa ideia inicial do que se trata esse tipo de supervisório e sua importância no contexto industrial. De um modo geral, um sistema SCADA tem como função básica realizar o acompanhamento de processos industriais, a configuração e o armazenamento de um conjunto de dados quantitativos e qualitativos, além de oferecer alguns recursos para que seja feita a intervenção manual ou automática, no caso de maiores necessidades em um determinado processo. Aqui, chamamos a atenção para um ponto que deve ficar bem claro. É muito comum vermos, sobretudo em alguns artigos na internet, a afirmação de que SCADA e supervisório são a mesma coisa e a nomenclatura é válida para se referir a ambos, ou seja, são sinônimos. A verdade é que ambos executam funções similares: monitoramento e controle de processos. Porém, na prática, temos algumas diferenças, pois o termo supervisório é mais amplo e abrangente e permite uma maior integração, além de apresentar maior flexibilidade operacional. Já o SCADA, por sua vez, tem uma finalidade mais focada na supervisão e aquisição de dados de dispositivos e equipamentos que estejam operando em campo. Portanto, podemos sintetizar da seguinte maneira: todo sistema SCADA é um tipo de supervisório, mas nem todo supervisório é um SCADA. 2.1 Funcionamento e operação Conforme introduzido anteriormente, esses sistemas trabalham de maneira sincronizada com os instrumentos e dispositivos instalados em campo, obtendo dados e informações. Normalmente, esses dados são adquiridos de controladores lógicos programáveis, atuadores ou centrais 17 de comunicação remota. Uma vez obtidos, esses dados são processados pelo sistema e podem ser apresentados em telas, por meio de gráficos de tendências, projeções de médias e outras ponderações estatísticas, além de possibilitar uma checagem direta quanto ao histórico e visualização de alarmes, eventuais falhas no processo operacional e geração de relatórios diversos. Essa abrangência do conjunto de dados dependerá da capacidade operacional do sistema e seu grau de atualização. Os mais modernos apresentam um volume de informações e diversidade de gráficos e históricos bastante significativos, o que implica em maior confiabilidade para uma aplicação específica. Em termos de operação na prática, os sistemas SCADA não se diferem muito dos supervisórios convencionais, pois estão ligados aos instrumentos de campo, servidores, elementos de comunicação que realizam o monitoramento e controle, na maioria das vezes de um processo específico ou uma planta industrial como um todo. Por meio de sua atuação, as equipes internas de manutenção e automação conseguem efetuar um gerenciamento eficaz em tempo real da situação de momento dos processos. As informações vão gerar uma série de gráficos e relatórios, que, por sua vez, serão utilizados em trabalhos internos de otimização, melhorias e correção de falhas. Os sistemas modernos têm capacidade e robustez para medir uma ampla faixa de variáveis de processos, tais como: umidade, temperatura, vazão, viscosidade de fluidos, corrente e resistência elétrica e tantas outras. Essa versatilidade faz que esse tipo de sistema tenha condições de ser aplicado nas mais diversas tarefas, desde a criação e formatação de alertas, passando pelo monitoramento contínuo dos parâmetros estabelecidos, chegando à criação de gráficos e relatórios operacionais de integração e performance. Ferramentas indispensáveis quando se pensa em uma manutenção/operação moderna e que atue sempre no sentido da maximização da eficiência. Portanto, falar em sistemas SCADA é falar sobre um dos mais importantes recursos aliados na 18 promoção da precisão operacional e garantia do tripé fundamental de qualquer organização em consonância com o mundo atual: qualidade, segurança e sustentabilidade nas operações e práticas diárias. Referências COELHO, Marcelo S. Apostila de Sistemas Supervisórios. São Paulo: IFSP, 2010. Disponível em: https://professorcesarcosta.com.br/upload/imagens_upload/ Apostila_%20Sistema%20Supervis%C3%B3rio.pdf . Acesso em: 21 jun. 2024. FRANCHI, Claiton Moro; CAMARGO, Valter Luis Arlindo. Controladores Lógicos Programáveis – Sistemas Discretos e Analógicos. 3. ed. São Paulo: Érica, 2020. GARCIA JUNIOR, Ervaldo. Introdução a Sistemas de Supervisão, Controle e Aquisição de Dados: SCADA. São Paulo: Alta Books, 2019. LUGLI, Alexandre Baratella; SANTOS, Max Mauro Dias. Redes Industriais para Automação Industrial. 2. ed. São Paulo: Érica, 2023. PRUDENTE, Francesco. Automação Industrial – PLC: programação e instalação. 2. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020. 19 Protocolos de Comunicação e Tecnologias Aplicadas aos Sistemas Supervisórios Autoria: Robson de Almeida Vilela Leitura crítica: Carolina Venturi Pinheiro Objetivos • Compreender a dinâmica geral e os componentes de um sistema de comunicação industrial. • Perceber a importância da comunicação industrial para a garantia de segurança e qualidade dos sistemas de controle e supervisão. • Realizar pequenas configurações e ajustes nas redes de comunicações industriais. • Gerenciar e monitorar as variáveis e informações envolvidas em um sistema de comunicação industrial. • Proceder com testes funcionais e melhorias contínuas nas redes e sistemas de comunicação dos supervisórios. 20 1. Comunicação industrial A comunicação está tão presente em nosso cotidiano que muitas vezes não paramos para pensar sobre ela e sobre a sua importância na vida pessoal e profissional. Um processo típico de comunicação envolve alguns elementos básicos, tais como: emissor, receptor, mensagem, meio e código. Dessa forma, cada um dos elementos exerce um papel nesse processo. Vejamos: • Emissor: o elaborador da mensagem, ou seja, aquele que fala. • Receptor: para quem se fala, aquele para o quala mensagem é destinada. • Mensagem: é a forma de comunicação (textual, verbal). • Meio: maneira como a mensagem é transmitida (fala direta, aparelhos). • Código: diz respeito à organização dos chamados sinais de comunicação, ou seja, é um elemento essencial para se estabelecer uma boa comunicação. Por exemplo: os envolvidos em um processo de comunicação são falantes de uma mesma língua ou podem dialogar em uma língua comum a todos. Analogamente, no contexto industrial, temos uma comunicação entre dispositivos e máquinas que guarda algumas particularidades e arranjos que merecem ser analisados de forma detalhada, para que a nossa abordagem inicial seja consistente e nos direcione a um entendimento válido dessa dinâmica. Os sistemas de comunicação industrial podem ser inseridos dentro da lógica operacional dos sistemas de controle. Um sistema de controle consiste em subsistemas e processos (ou plantas) construídos com o objetivo de se obter uma saída desejada com um desempenho desejado, dada uma entrada especificada (Nise, 2013, p. 21 28). Assim, podemos inferir que um sistema de comunicação industrial também tem como objetivo central a obtenção de uma saída desejada com um desempenho desejado, por meio de uma entrada previamente especificada. Mas afinal de contas, o que é um processo de comunicação industrial e quais são os seus componentes na prática? Em linhas gerais, podemos definir um sistema de comunicação industrial como um elemento ativo no gerenciamento dos processos internos de uma unidade industrial. Ou seja, é por meio dele que o fluxo de informações é recebido, processado e encaminhado aos equipamentos que estão instalados diretamente nas máquinas ou linhas de produção: sensores, controladores, atuadores, unidades de rede etc. Cabe a este sistema agrupar todas essas informações e gerar as saídas (respostas) necessárias em conformidade com cada parâmetro estabelecido. Portanto, um erro, ainda que mínimo, nas configurações iniciais ou no processamento desse sistema pode resultar em inúmeros transtornos internos, além de prejuízos financeiros bastante expressivos, a depender do setor industrial. E dentro desse sistema, temos as redes de comunicação industrial, que nada mais são do que estruturas formalizadas de comunicação, feitas de forma automática para garantir o melhor gerenciamento possível dos processos industriais. A rede de comunicação será concebida e parametrizada conforme as necessidades da empresa e dos processos nos quais irá operar, levando em consideração todas as variáveis, os requisitos e as informações relevantes (observe a imagem da Figura 1 a seguir que evidencia essa interação entre uma planta industrial e seu sistema de comunicação). As principais redes e protocolos industriais existentes em operação nas plantas industriais por todo o mundo são as seguintes: ethernet, fieldbus, devicenet, modbus, sensor bus, control net, bacnet, can, hart, entre outras. Conheceremos melhor algumas delas e o conceito de protocolos industriais na sequência dos nossos estudos. 22 Figura 1 – Comunicação Industrial Fonte: Gulafshan/adobe.stock.com. 2. Protocolos e redes De acordo com Cavalheiro (2021), os protocolos de comunicação são regras básicas que disciplinam e viabilizam a comunicação entre as partes envolvidas em um sistema de controle de processos industriais. Em outras palavras, para que tenhamos uma comunicação efetiva e segura entre os elementos de campo (atuadores, sensores, controladores) de um sistema de comunicação industrial, precisamos dispor de uma rede e das regras e dos padrões necessários para que tudo decorra em conformidade com o projeto. E para essa segunda parte mencionada, o trabalho é executado pelos protocolos de comunicação. Vamos agora conhecer em detalhes alguns desses protocolos e redes industriais, suas principais características e suas vantagens. Estabeleceremos como critério de classificação e divisão das redes e dos protocolos as seguintes categorias: Ethernet, Fieldbus, Redes WI-FI e redes atuais voltadas para a chamada indústria 4.0. 23 2.1 Redes Fieldbuses Atualmente no mercado existem várias redes industriais dos mais variados tipos disponíveis. Uma análise detalhada das necessidades e um projeto condizente serão os fatores determinantes para a escolha de uma rede adequada. Nesse sentido, as redes Fieldbus ganham destaque ao proporcionar uma certa facilidade de instalação e operação, além de uma resposta em tempo real aos eventuais problemas ocorridos na planta industrial. A seguir serão apresentadas algumas das redes conhecidas como redes de campo. • Modbus: é um dos protocolos mais utilizados nas redes industriais devido ao seu custo acessível de operação e aquisição (rede aberta). Tem alta flexibilidade para adaptação à estrutura física das instalações e não necessita da aquisição de aparatos adicionais, tais como softwares operacionais. É bastante aplicada em dispositivos em que haja a opção de comunicação. • Profibus: uma das redes mais difundidas no âmbito industrial por ser bastante dinâmica e estar em constante atualização por parte de seus desenvolvedores. Podemos subdividir essa rede conforme suas aplicações. Profibus DP (Decentralized Peripherals), Profibus PA (Process Automation) e Profibus FMS (Fieldbus Message Specification). • Device Net: é uma rede bastante eficiente no que se refere à troca de dados, especialmente para os dispositivos de campo voltados para o controle de processos, pois foi projetada para atuar com uma excelente velocidade de transmissão. É aberta (rede CAN) e bastante utilizada no ramo industrial por sua facilidade de manutenção (algumas intervenções podem ser feitas com a rede operando). • CAN Open: uma das redes mais versáteis em sua operação, além de alta flexibilidade na operação, o que permite o atendimento 24 a requisitos avançados de um determinado processo, pois sua transmissão de dados é baseada em novidades na rede, ou seja, ela só transmite alguma informação/dado caso haja algum novo evento, o que, consequentemente, reduz o volume de tráfego. Dessa forma, é uma rede totalmente condizente para aplicações de maior complexidade. 2.2 Redes Ethernet Esse tipo de rede é bastante vantajosa para inúmeras aplicações em projetos industriais, pois consegue juntar três aspectos fundamentais: alta eficiência, custos menos expressivos, se comparada com outras, e a simplicidade em operação e instalação. Sua aplicação não se restringe ao âmbito industrial, pois é bastante aplicada no ambiente doméstico. Basicamente, funciona por meio do envio e recebimento de pacotes de dados, possibilitando a conexão a cabos ou por uma rede sem fio, conhecidas como wireless industrial. Vejamos alguns dos principais protocolos desse tipo de rede: • Profinet: surgiu da necessidade de conexão entre as linhas de produção e os sistemas de planejamento e programação de produção, como um avanço expressivo da rede Profibus. Suas principais vantagens são a eficiência de comunicação, segurança operacional e integração geral. É de fácil instalação e operação (opera com padrão Ethernet TCP/IP). Atualmente, existem uma série de atualizações e subdivisões, tais como: IO, IRT e Safe. • EtherCAT: menos utilizado no contexto industrial e em geral, porém tem suas vantagens, como uma boa velocidade de processamento e tráfego, simplicidade de conexão, rede ampla em termos de tamanho e dados, que podem ser facilmente compartilhados e transmitidos entre os elementos de campo. 25 • Ethernet IP: é considerado um protocolo recente, em termos de criação e desenvolvimento. Foi concebido para atender preferencialmente as demandas de ambientes corporativos em geral, porém também consegue atender de modo eficiente processos industriais, pois tem uma velocidade de comunicação e transmissão relativamente boas. Como é um protocolo mais novo, ainda carece de certa mão de obra qualificada para operá-lo na prática, o quepode se tornar uma desvantagem em termos de fatores de seleção. 2.3 Redes WI-FI Presentes diariamente em nossas vidas e muito popularizadas nos últimos tempos, devido à expansão do acesso à internet, esse tipo de rede tem uma grande facilidade na operação e uma vantagem expressiva no que se refere à possibilidade de padronizar o processo de comunicação. Essas vantagens chamaram a atenção da área industrial e tem feito que esse tipo de rede esteja sendo cada vez mais aplicada neste setor, sendo conhecida como Wi-Fi industrial. Podemos listar aqui algumas caraterísticas desse tipo de rede que chamam a atenção do setor industrial e ganham cada vez mais espaço: • Manutenção e monitoramento facilitados, por meio do acesso remoto. • Investimento inicial em infraestrutura é considerado baixo em relação às outras. • Capacidade de disponibilizar as informações em uma multiplicidade de canais (locais). 26 • Excelente mobilidade, alcance e operabilidade, além da possibilidade de atender aplicações ou projetos de maior complexidade. 2.4 Redes da indústria 4.0 Com o advento das tecnologias oriundas da chamada quarta revolução industrial, como nanotecnologia, biologia sintética, internet das coisas, inteligência artificial e cripto ativos, houve a necessidade da criação de redes industriais que pudessem atender de modo satisfatório a essas novas demandas, sobretudo o fato de que no contexto da indústria 4.0 o volume de processamento de dados é significativamente maior e a exigência na eficiência da comunicação entre os dispositivos aumentou. Diante desse novo e desafiador cenário foram criadas novas redes de comunicação com base nas necessidades dessa indústria e suas tecnologias operantes. Podemos destacar, por exemplo, o protocolo de comunicação IO link. Bastante simples e de fácil operação, o IO é conhecido como um protocolo ponto a ponto muito utilizado na tarefa de conectar os dispositivos inteligentes (sensores, medidores e atuadores) à rede industrial utilizada na empresa ou no processo. A grande vantagem objetiva da utilização desse protocolo é o fato de que ele não trabalha exclusivamente em uma faixa meramente binária, ou seja, é alto ou baixo, quente ou frio, 1 ou 2, ligado ou desligado. Imaginemos a seguinte situação. Pela operação convencional um sensor informaria dois estados de momento: ligado/desligado, fechado/aberto etc. Já com o IO-link esses sensores podem comunicar um volume de dados bem maior e converter esses mesmos dados em valores reais. Por exemplo, em vez de informar se o nível de um reservatório é alto ou baixo, esse sensor integrado ao IO-link poderá informar leituras em tempo real do nível desse reservatório ao longo do tempo. 27 3. Integração e cibersegurança Um sistema de comunicação industrial só poderá ser efetivamente funcional se pudermos garantir que o seu desempenho seja eficiente para aquilo que se propõe a controlar, totalmente integrado entre os seus componentes internos e suas conexões externas e que tenha um nível de segurança confiável no compartilhamento de dados e informações. Abordando de maneira mais clara a questão da segurança no âmbito industrial, precisamos conhecer uma área do conhecimento chamada de cibersegurança ou segurança cibernética e suas principais medidas e recursos para proteção dos sistemas e seus componentes, com foco especial na Cibersegurança Industrial (ICS – Industrial Control Systems). A segurança cibernética é uma área do conhecimento oriunda da ciência da computação, a qual atua na mobilização de esforços e recursos computacionais para a proteção de redes, computadores, sistemas e softwares quanto aos chamados ataques digitais. Por sua vez, esses ataques estão cada vez mais evoluídos e utilizando estratégias inovadoras para obterem informações de caráter privado, divulgação de dados sigilosos, alterações em sistemas essenciais e interrupção de processos. No segmento industrial, a cibersegurança tem uma importância redobrada, pois em um mundo moderno cada vez mais conectado e digitalizado os processos e sistemas industriais são objetos de ataques e tentativas de extorsão e alterações em seus dados, principalmente os sistemas supervisórios, por realizarem o controle e monitoramento de diversas áreas dentro de uma planta industrial. Esse cenário reforça ainda mais a importância de as indústrias desenvolverem e manterem planos, estratégias e procedimentos claros voltados para a segurança dos seus dados e das informações, pois os transtornos gerais e prejuízos financeiros são gigantescos, conforme 28 podemos observar na imagem a seguir, em que temos um gráfico dos segmentos mais atingidos por ciberataques no Brasil em 2022. Figura 2 – Ciberataques no Brasil em 2022 Fonte: FIEMG lab (2024). De acordo com um artigo publicado na página do laboratório de inovação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG lab) de 2024, algumas medidas devem ser tomadas para garantir a cibersegurança nos sistemas industriais, tais como: • Promover a integração das chamadas Tecnologias Operacionais (TO) com as Tecnologias da Informação (TI). • Segregação da rede de comunicação industrial da rede corporativa interna. • Atualizações periódicas de softwares e dispositivos e cuidado redobrado com as versões não originais e com os ataques por esses meios. • Estabelecer um sistema de monitoramento contínuo quanto às atividades ou movimentações suspeitas. • Autenticação em múltiplas etapas. 29 • Plano de respostas e contingência para eventuais ataques e/ou anomalias previamente detectadas nos sistemas internos. O processo de integração das tecnologias é uma ação primordial para garantir a segurança dos sistemas industriais, pois nada adiantará se apenas a parte dedicada aos processos industriais estiver funcional e segura e os outros sistemas (como o de tecnologia da informação, por exemplo) não estiverem integrados e sincronizados com os sistemas dedicados às funções exclusivas. Portanto, os esforços precisam contemplar não só a funcionalidade e efetividade dos sistemas, é preciso um pensamento e uma ação integradora. Referências CAVALHEIRO, André. Redes industriais de computadores. [Powerpoint slides], nov. 2021. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7820606/mod_ resource/content/2/PMR3412%20-%20Aula%20de%20Redes%20Industriais.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024. CRAVO, Edilson. Redes Industriais: o que são, tipos e vantagens (guia completo). Kalatec Automação, [s.d.]. Disponível em: https://blog.kalatec.com.br/redes- industriais/#:~:text=Redes%20industriais%20s%C3%A3o%20formas%20de,ser%20 adaptada%20para%20cada%20empresa. Acesso em: 30 jun. 2024. FIEMG lab. Cibersegurança na Indústria: o que é, aplicações e o futuro da segurança cibernética. FIEMG lab, [s.d.]. Disponível em: https://fiemglab.com.br/ ciberseguranca-na-industria/. Acesso em: 2 jul. 2024. NISE, Norman S. Engenharia de sistemas de controle. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013. VENTURELLI, Márcio. Redes Wi-Fi na Automação Industrial. Automação Industrial, ago. 2016. Disponível em: https://www.automacaoindustrial.info/redes-wi-fi-na- automacao-industrial/. Acesso em: 1 jul. 2024. 30 Projeto, desenvolvimento e implementação de sistemas supervisórios Autoria: Robson de Almeida Vilela Leitura crítica: Carolina Venturi Pinheiro Objetivos • Conhecer e aplicar o conceito de projeto para fins de gerenciamento. • Utilizar ferramentas de gestão e desenvolvimento de projetos para sistemas supervisórios. • Desenvolver interfaces e recursos técnicos para a implementação de projetos supervisórios. • Gerenciar custos, prazos e eficiência nos projetos. • Estabelecer diretrizes gerais e específicas na condução dos projetos. 31 1. O que é um projeto? A palavra projeto está presente em nossa vida pessoal e profissional. Ainda que de maneira imperceptível, estamos trabalhando e realizando diversos projetos em nosso cotidiano, seja uma mudança de hábitospara ter mais saúde ou então a instalação de uma nova máquina na empresa na qual estamos trabalhando. Tudo isso, em certa medida, é um projeto no sentido mais geral, pois estamos trabalhando na concretização de uma intenção. Só que do ponto de vista profissional e principalmente no mundo corporativo, precisamos de uma definição mais direcionada de projeto, para que possamos começar a estudar melhor as suas práticas e como isso pode contribuir para a realização de trabalhos bem-sucedidos na área de sistemas supervisórios. Para isso, vamos utilizar a definição de uma instituição de referência na área, o Project Management Institute ou Instituto de Gerenciamento de Projetos (PMI), publicadora do mais conhecido guia de boas práticas para gestão de projetos, o Project Management Body of Knowledge ou Corpo de Conhecimento para o Gerenciamento de Projetos (PMBOK). O projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único (PMI, 2021). Podemos resumir no quadro a seguir. Quadro 1 – Características de um projeto Projeto Esforço temporário Criações Exemplos Prazos e recursos Produto Máquina de lavar louça Início Serviço Comissionamento Conclusão Inovação ou incremento Tecnologia Fonte: elaborada pelo autor. 32 Então, pela definição inicial e pelas informações do Quadro 1, já conseguimos compreender que o projeto é uma atividade com prazo definido, data de início e término. Obrigatoriamente deve gerar como resultado algum produto, serviço ou inovação e está presente no dia a dia das empresas e instituições, pois boa parte daquilo que está sendo feito pela primeira vez na sua vida pessoal ou na empresa tem grandes chances de ser um projeto. Porém, um projeto não se resume apenas a essas características, precisamos falar sobre o seu gerenciamento (acompanhamento) e custos. 1.1 Gerenciamento e gestão de custos Toda novidade, seja ela em forma de um produto ou serviço, exigirá um esforço para que seja feita em conformidade com aquilo que foi concebido anteriormente. Ou seja, para que um projeto se torne real, é necessário um acompanhamento de suas várias etapas e um olhar especial para os custos envolvidos, pois uma das condições básicas para que um projeto possa prosperar é a sua viabilidade financeira. Primeiro, vamos passar pelas etapas básicas do chamado ciclo de vida (fases) de um projeto. Na prática, não existe um número definitivo de fases/etapas para o ciclo de vida de um projeto. A experiência e as boas práticas nos aconselham a definir o número de fases de acordo com as especificidades e individualidades de cada projeto. O que se tem de comum nos projetos é que cada fase deverá proporcionar uma entrega, seja ela um produto, documento, desenho, manual ou qualquer coisa relevante e tangível para o projeto. Além disso, ao ser concluída cada fase é necessária uma avaliação criteriosa quanto ao atendimento, aos requisitos e parâmetros estabelecidos. Caso atenda, o projeto seguirá seu fluxo normal. Caso não, ajustes e correções deverão ser feitos. Vamos pensar em nossa realidade profissional e estabelecer um sistema de gerenciamento para um projeto que tem como finalidade básica 33 implementar um sistema supervisório em uma sala de pesagem em uma indústria farmacêutica. Começaremos estabelecendo as fases do ciclo de vida do projeto, do seu início até o fim: Esquema 1 – Ciclo de vida de um projeto de sistema supervisório básico Fonte: elaborado pelo autor. Os títulos das fases ainda são generalistas e iremos chegar no estágio dos desdobramentos de cada uma delas. Mas, por ora, vamos focar nos entregáveis, ou seja, os itens concluídos que são esperados em cada uma dessas fases. Fase 1: projeto geral e detalhamento da arquitetura do sistema com o dimensionamento de instrumentos e protocolos de comunicação, memorial descritivo e diagramas. Fase 2: definição da infraestrutura completa (cabeamentos, integrações com outros sistemas), listas de materiais e folhas de dados de instrumentos. Fase 3: equipes definidas e mobilizadas, gestão de empresas terceirizadas, status de chegadas de materiais e instrumentos. Fase 4: montagens, conexões e ligações entre instrumentos da operação e sistemas centrais, inspeções visuais e gestão de segurança. Fase 5: testes individuais e de integração, comissionamento, documentação geral e específica, treinamentos, comunicação e livro de entrega final de obra. 34 1.2 Escopo Quando falamos sobre o escopo de um projeto, estamos nos referindo a um dos pontos mais importantes de definição, pois é a partir do escopo que a abrangência, os prazos e as metas do projeto são delimitados e ganham uma maior riqueza de detalhes, em termos de explicações e esclarecimentos. De acordo com Martins (2024), o escopo possibilita determinar com exatidão as metas, os prazos e entregáveis do projeto, sem sobrecarregar as equipes com excesso de trabalho e também para evitar atrasos indesejados. Portanto, a elaboração de um escopo é uma atividade que demanda bastante atenção e foco por parte das equipes envolvidas, pois um escopo equivocado poderá acarretar em um maior tempo de execução, mais recursos desnecessários e retrabalhos constantes nos entregáveis. Podemos definir o escopo de um projeto seguindo uma sequência básica de passos: estabelecer o(s) objetivo(s) do projeto; fazer um levantamento dos recursos necessários; definir os requisitos básicos e avançados; criar um esboço do escopo; obter as aprovações necessárias; estabelecer prazos para os entregáveis; monitorar e controlar o andamento do projeto; e fazer revisões e correções necessárias. 1.3 Gestão de custos Além do gerenciamento integral do projeto, por meio da distribuição das ações em fases seqüenciais, é indispensável um olhar especial para a gestão dos custos em um projeto. Para isso, o profissional encarregado de ser o responsável pelo gerenciamento deverá estar vigilante quanto ao orçamento total do projeto, para que não seja extrapolado. Esse é um trabalho importante e que requer muita atenção, pois o dispêndio de recursos adicionais pode inviabilizar totalmente a continuidade de um determinado projeto, mesmo que seja um produto ou serviço de alto valor agregado. 35 Vamos retornar ao nosso exemplo inicial, da implementação de um supervisório na sala de pesagem, para fazermos na prática a nossa gestão de custos no projeto. Novamente, vamos recorrer ao “livro sagrado” da gestão de projetos, o PMBOK. A publicação nos oferece quatro passos fundamentais que devem ser seguidos para uma gestão eficiente em custos de projetos: planejamento geral do gerenciamento dos custos, estimativa dos custos, elaboração de orçamento e controle dos custos. Vamos explorar em detalhes cada um desses quesitos em nosso projeto. Segundo Espinha (2018), é por meio de uma boa gestão de custos, conforme os pilares básicos mostrados na Figura 1, que podemos maximizar a eficiência operacional do sistema e manter a sua qualidade em um nível desejado. Figura 1 – Gestão de custos Fonte: stock.adobe.com.br Gerenciando os custos do projeto supervisório na sala de pesagem: Passo 1 – Planejamento do gerenciamento de custos Ações: reunir equipes, especialistas e eventuais consultorias externas para definição de um plano de gerenciamento. Neste plano, deverá haver todas as informações e diretrizes em relação aos custos durante o 36 período de vigência do projeto, ou seja, é uma base de orientação para as próximas etapas. Passo 2 – Estimativa dos custos envolvidos De posse do plano definido no Passo 1, partimos para o levantamento detalhado dos recursos financeiros necessários para o projeto. A ideia aqui é simples, o gerente do projeto, juntamente com sua equipe, com base no escopo e nos cronogramas já definidos, deverá calcular todos os custos envolvidos para a implementação do projeto do início até o fim. É também nessa fase que os custos devem ser diminuídos ou otimizados para garantir a viabilidadedo projeto. Esses custos podem ser divididos entre custos com recursos físicos (ferramentas, suprimentos e materiais) e recursos humanos (mão de obra, serviços externos e terceirizações). Passo 3 – Elaboração do(s) orçamento(s) Agora, chegou o momento de juntar todos esses custos e elaborar um orçamento, documento no qual o custo total do projeto será apresentado para os financiadores e interessados na aprovação. Nesse passo, é muito importante que o orçamento seja elaborado com alguma margem de segurança, ou seja, solicitando um pouco a mais de recursos do que o calculado, pois eventualidades, emergências e riscos podem acontecer durante o projeto e comprometer o andamento deste. Passo 4 – Métricas de controle dos custos Não basta estabelecer um plano de gerenciamento de custos, estimar os custos e elaborar um orçamento. É preciso que a gestão desses custos se dê por meio da criação de mecanismos claros e eficientes. Nesse quesito, é válida a utilização de softwares especializados, consultorias externas e um acompanhamento semanal com reuniões e trocas de percepções entre as equipes envolvidas. Dessa forma, o andamento dos 37 custos poderá ser tratado da devida maneira, com respostas rápidas e eficientes. Quais são os custos envolvidos em nosso projeto? Vejamos: Materiais: sensores + controladores + licença de software + cabeamento/conexões + interfaces + equipamentos de proteção = R$ 15.500,00. Serviços: comissionamento externo + consultorias financeiras + instalações = R$ 20.000,00. Gerais: obtenção de licenças em órgãos reguladores + documentações + treinamentos específicos = R$ 12.000,00 Custo total inicialmente estimado = R$ 47.500,00 + R$ 5.000,00 de reservas = R$ 52.500,00 2. Arquitetura geral do sistema Já percorremos uma boa parte do nosso projeto, porém ainda não falamos sobre a organização técnica em si do sistema supervisório que atenderá a sala de pesagem. Nesse ponto, precisamos falar e deliberar sobre a chamada arquitetura do sistema. Para isso, utilizaremos como referência técnica as arquiteturas aplicadas aos sistemas de automação. De acordo com o raciocínio de Coelho (2020), uma solução para um sistema de monitoramento e controle (automação) passa pelo desenho da arquitetura geral do sistema em função dos seus elementos essenciais. Ou seja, a seleção correta e apropriada de uma arquitetura irá determinar o êxito do sistema em termos de performance, adaptação e otimização. 38 2.1 Níveis de arquitetura Agora que já temos uma noção inicial do desenho (arquitetura) de um sistema de monitoramento e controle, podemos começar a explorar os desdobramentos de uma solução por meio da arquitetura do sistema e de seus níveis por meio do Quadro 2 apresentado na sequência. Geralmente, os sistemas supervisórios são compostos por quatro categorias hierárquicas: campo, supervisão, gerenciamento e monitoramento/controle, os quais devem trabalhar de maneira sincronizada e integrada para o funcionamento geral do sistema. Quadro 2 – Níveis de hierarquia Níveis de arquitetura Nível Descrição Local Executores Observação 1. Campo Ação efetiva (medição e controle) Chão de fábrica Sensores, controladores Fundamental para a arquitetura geral 2. Supervisão Coleta de dados brutos Chão de fábrica CLP’s e CII’s Preparação para próximo nível 3. Monitoramento Controle em tempo real Sala de controle, IHM’s em campo Softwares, IHM’s, servidores Alarmes, comandos e ajustes gerais 4. Gerenciamento Integração dos dados obtidos Sala de controle Bancos de dados, softwares dedicados Integração e processamento geral dos dados Fonte: elaborada pelo autor. No primeiro nível, temos a operação efetiva em campo ou na planta industrial. Os instrumentos de campo (sensores, controladores) fornecem as medições em tempo real para que os instrumentos de atuação (atuadores, válvulas) executem as ações de controle. 39 No nível 2, temos uma configuração voltada para a obtenção e o processamento dos dados brutos de sensores e atuadores para posterior envio aos próximos níveis. É chamado de nível de supervisão, pois seus principais operadores são os controladores lógicos programáveis e controladores industriais embarcados, elementos vitais para a supervisão do andamento dos processos. No nível 3, por sua vez, o monitoramento e controle efetivo ganham corpo por meio do controle em tempo real das variáveis. Operadores e gerenciadores do sistema podem visualizar e intervir nos parâmetros básicos, além de poderem configurar alarmes e alertas, o que garante um bom nível de controle e a liberdade para tomar decisões necessárias no momento do acontecimento. Por fim, temos o nível 4, no qual se dá o gerenciamento total do sistema em nível estratégico. Nesse nível são feitas as integrações e os processamentos totais do sistema para gerar respostas imediatas e integrações com outros sistemas internos: logística, financeiro e produção. É muito importante para garantir os requisitos iniciais do sistema e propor melhorias e avanços, conforme o sistema vai performando e encontrando espaço para realizar o seu trabalho de monitoramento e controle de variáveis com maior eficiência. Referências COELHO, Marcelo S. Apostila de Sistemas Supervisórios. São Paulo: Instituto Federal, 2010. Disponível em: https://professorcesarcosta.com.br/upload/imagens_ upload/Apostila_%20Sistema%20Supervis%C3%B3rio.pdf. Acesso em: 10 jul. 2024. ESPINHA, Roberto Gil. Gestão de Custos em Projetos: aprenda como fazer na prática. Artia, ago. 2018. Disponível em: https://artia.com/blog/como-fazer-gestao- de-custos-em-projetos/. Acesso em: 8 jul. 2024. 40 MARTINS, Julia. Guia rápido para definir o escopo do projeto em 8 etapas. Asana, fev. 2024. Disponível em: https://asana.com/pt/resources/project-scope. Acesso em: 9 jul. 2024. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Guia PMBOK: um guia para o conjunto de conhecimentos em gerenciamento de projetos. 7. ed. Pennsylvania: PMI, 2021. 41 Inovações, Novas Tecnologias e Tendências Atuais em Sistemas Supervisórios Autoria: Robson de Almeida Vilela Leitura crítica: Carolina Venturi Pinheiro Objetivos • Compreender a dinâmica das transformações e o impacto das novas tecnologias no universo dos sistemas supervisórios. • Selecionar e aplicar novas tecnologias que garantam a qualidade e segurança das operações industriais. • Gerenciar dispositivos e novas tecnologias no sentido de aperfeiçoar a eficiência e produtividade dos processos. • Planejar e executar a implementação de novas tecnologias e inovações pertinentes aos sistemas supervisórios. • Monitorar as tendências e atualizações no mercado para possível incorporação às operações. • Manter postura crítica e atenta quanto aos desdobramentos e impactos gerais das novas tecnologias e inovações. 42 1. Um mundo tecnológico A tecnologia está cada vez mais presente na vida das pessoas. Em nosso cotidiano, podemos observar os produtos tecnológicos que facilitam os mais diversos afazeres: eletrodomésticos, computadores, dispositivos de telefonia móvel. Toda essa realidade é oriunda do trabalho obstinado de pesquisa científica e produção de bens e serviços para que possamos viver com mais qualidade de vida e segurança. Nesse sentido, uma primeira dúvida pode surgir. Afinal, qual seria uma definição conceitual de tecnologia? De acordo com o raciocínio de Lisboa (2023), podemos definir a tecnologia como um processo de aplicação do conhecimento científico, visando aos desejos e objetivos da vida humana e necessidades de mudanças. Ou seja, a tecnologia se trata de técnicas novas, máquinas, incrementos e aperfeiçoamentos que visam um determinado objetivo a ser alcançado. Percebe-se a tendência utilitária da tecnologia. No contexto das atividades e processos produtivos, a tecnologia é ainda mais latente e importante para esse segmento. Não há como pensar no progresso e desenvolvimento de qualquer sociedade moderna sem passarpela criação e disseminação de novos produtos tecnológicos que possam resolver problemas e/ou promover melhorias práticas, seja em processos ou em atividades específicas. Portanto, toda a tecnologia deve ter como orientação básica a possibilidade de agregar valor naquilo que está sendo aplicada. Por exemplo, observe a Figura 1, que representa a chamada Smart Industry (Indústria Inteligente), para entendermos melhor o papel da tecnologia no mundo industrial moderno e a interação entre os seus componentes. 43 Figura 1 - Fábrica Inteligente Fonte: stock.adobe.com É perceptível pela Figura 1 o quanto estamos vivenciando uma era de intensa incorporação das tecnologias aos processos produtivos, sobretudo no que se refere ao monitoramento e controle das chamadas variáveis/grandezas de processos: velocidade, pressão, temperatura, unidades produzidas. Dessa maneira, fica claro que uma fábrica inteligente é aquela em que há a aplicação de múltiplas tecnologias visando a segurança, qualidade e sustentabilidade de suas operações gerais. Restringindo ainda mais o nosso campo de abordagem, no universo dos sistemas supervisórios, a tecnologia é um recurso mandatário na área, pois na lógica moderna de processos industriais a segurança, qualidade e sustentabilidade devem ser garantidas integralmente, e o meio pelo qual esses requisitos serão garantidos na prática certamente passará pelos produtos da tecnologia. Logo, entender as novas tecnologias e tendências e, consequentemente, as suas inserções nos sistemas de monitoramento e controle avançados é estar em sintonia com o que há de mais atual. Vamos em frente, pois há muito o que ser descoberto nessa jornada. 44 2. Inteligência Artificial Com o avanço das técnicas de computação e acesso à rede internacional de computadores (Internet), segundo Taulli (2020), alguns dos chamados produtos tecnológicos ganharam inúmeras aplicações que fazem parte da rotina pessoal e profissional das sociedades pelo mundo todo. Um desses produtos é a Inteligência Artificial, a qual, talvez você não saiba, está muito presente no seu dia a dia por meio dos algoritmos de IA, plataformas de elaboração de conteúdo, aplicativos e mecanismos de buscas. Do ponto de vista de uma definição mais usual para os nossos estudos, Oliveira (2018) nos auxilia nessa compreensão ao dizer que a inteligência artificial, ramo da ciência da computação, é uma aplicação tecnológica que possibilita às máquinas, aos equipamentos e computadores emular (simular) as habilidades e capacidades humanas para resolução de problemas. Ou seja, a IA tem a capacidade de obter aprendizado dos sistemas e construções humanas e gerar soluções de acordo com o que é solicitado previamente. Na prática, a Inteligência Artificial aplicada à indústria tem suas subdivisões e uma dessas áreas de maior interesse dos sistemas supervisórios é a chamada Machine Learning (Aprendizado de Máquina) e a criação dos Algoritmos (sequência de instruções ordenadas) de IA. Parte daquilo que se denomina atualmente como boas práticas da indústria moderna, em termos de exploração de novas tecnologias, passa pela criação dos algoritmos e pela aplicação do aprendizado de máquina no contexto do monitoramento e controle de variáveis. Vamos fixar melhor esses conceitos por meio de um exemplo de aplicação. Primeiro, observe bem a Figura 2, que ilustra uma sequência de aplicação da Machine Learning na prática. Agora, imagine a seguinte configuração. Temos uma linha de produção de máquinas de lavar roupas, na qual há uma série de instrumentos e dispositivos de campo 45 (sensores, controladores etc). A linha tem uma determinada velocidade, tempo de transição entre as etapas de processamento, temperatura dos componentes e unidades produzidas por dia. Figura 2 – Machine Learning (Aprendizado de Máquina) Fonte: stock.adobe.com Ao criar e implementar uma ferramenta de aprendizado de máquina e um algoritmo de IA, temos um reconhecimento dos padrões existentes para a geração de análises e projeções preditivas, ou seja, com base naquilo que existe hoje, quais melhorias e ajustes podem ser feitos para melhorar a produtividade e eficiência da linha? Portanto, a IA aplicada se trata de melhorias e avanços fundamentais para um sistema supervisório. 3. Monitoramento preditivo e grandes volumes de dados A necessidade de se fazer previsões sobre o desempenho de sistemas e estruturas é uma das capacidades mais requisitadas no âmbito dos 46 processos industriais modernos. Para se chegar a esse grau de precisão nas previsões é preciso que um grande volume de dados seja analisado para a criação de modelos preditivos do comportamento e rendimento dos sistemas. Para isso, precisamos explorar duas tecnologias modernas: o armazenamento e processamento de grandes volumes de dados (Big Data) e a posterior análise preditiva. Em consonância com Pereira (2021), na prática, trata-se de uma combinação de várias tecnologias trabalhando de maneira sincronizada para realizar a previsão de falhas, otimização de processos e apoio na tomada de decisões mais assertivas. A lógica de operação funciona mais ou menos da seguinte maneira. Os dados são gerados pelos instrumentos de campo, os quais são posteriormente armazenados e processados (minerados) por ferramentas (softwares, plataformas) de Big Data. Uma vez que esses dados são minerados e processados será possível realizar a previsão do comportamento dos sistemas: falhas, desempenhos, oportunidades de melhorias por meio do monitoramento preditivo e a criação de algoritmos específicos de aprendizado de máquina. 4. Computação em nuvem e borda Na perspectiva atual de que os dados são um dos bens mais preciosos para as indústrias e organizações em geral, as estruturas e as formas de armazenamento dos dados são indispensáveis para garantir um correto processamento e, consequentemente, melhores decisões e planejamento de ações. Em termos de armazenamento de dados, temos atualmente duas formas mais usuais que podem trabalhar de maneira sincronizada nos ambientes de monitoramento e no controle de dados industriais: Cloud 47 Computing (Computação em Nuvem) e Edge Computing (Computação de Borda). De acordo com Marques (2024), a computação em nuvem se refere ao acesso e armazenamento de dados por meio de dispositivos (computadores, celulares, tablets) conectados à internet. Ou seja, os dados não precisam ficar armazenados em um único lugar e podem ser acessados em qualquer lugar do planeta, desde que haja conexão e um dispositivo de acesso. Já a computação de borda se difere da computação em nuvem pelo fato de realizar o processamento e armazenamento de dados mais próximos da fonte, ao contrário da computação em nuvem que costuma enviar os dados para um servidor mais distante. Assim, a computação em borda descentraliza o processamento de dados ao proporcionar a realização desse trabalho mais próximo da fonte geradora. Para elucidar a diferença entre as duas formas de computação, vamos pensar no seguinte exemplo: os sensores instalados na linha de produção de máquinas de lavar, por meio da computação de borda, fazem o armazenamento e processamento de dados neles mesmos ou em servidores que estejam bem próximos das fontes de dados (linha de produção), sem a necessidade de enviá-los para a nuvem. As duas tecnologias são complementares e podem atuar de forma sintonizada a depender da aplicação e dos requisitos do processo em questão. Dentre as vantagens da computação em nuvem estão: flexibilidade nos ajustes, acesso remoto e rede de compartilhamento. A computação de borda, por sua vez, tem algumas vantagens expressivas: rapidez no processamento de dados, boa disponibilidade, manutenção da privacidade (risco de vazamento de dados é menor, por serem processados de forma local). 48 5. Cibersegurança O armazenamento e o processamento de grandes volumes de dados são condições elementares no contexto das tecnologiasincorporadas aos processos industriais contemporâneos. Porém, a atração de criminosos virtuais e sabotadores internos, devido ao valor estratégico e monetário desses dados, é uma preocupação que exige medidas apropriadas para manter e circular dados seguros e confiáveis. E nesse tipo de demanda, a cibersegurança (segurança de redes e computadores), por meio de suas ferramentas modernas, tem muito a contribuir para os sistemas supervisórios. De acordo com o pensamento de Silva (2023), medidas de segurança cibernética são indispensáveis conforme o mundo avança no caminho da digitalização e os sistemas estão cada vez mais interconectados. Os problemas ocasionados por ataques cibernéticos em sistemas supervisórios vão desde a paralisação parcial ou total dos processos produtivos até a perda de dados sensíveis importantes para a empresa, o que representa a perda significativa de recursos financeiros, além do abalo na imagem e credibilidade dos processos internos, resultando em situações indesejáveis. Mas então, pensando na segurança cibernética dos dados e nos processos cobertos por sistemas supervisórios, o que deve ser feito? A imagem da Figura 3 simboliza bem o que precisamos na prática. Uma blindagem segura dos acessos e dados por meio da criação e do estabelecimento de uma estrutura robusta e funcional de cibersegurança. 49 Figura 3 – Cibersegurança de sistemas Fonte: stock.adobe.com É preciso implementar um Plano Interno de Segurança Cibernética (PISC), o qual contemple as seguintes medidas: • Levantamento geral da condição atual e possíveis vulnerabilidades existentes nos sistemas internos e na infraestrutura de rede. • Atualização de todos os softwares internos, conforme recomendação de fabricantes e desenvolvedores. • Promover a segmentação das redes, criando zonas seguras de operação para evitar maiores impactos em caso de um possível ataque geral. • Monitoramento constante das redes e da infraestrutura interna 24 horas por dia. • Implementar a autenticação em dois fatores para incrementar a segurança no acesso de dados. • Instituir um procedimento para criar cópias de segurança (backups) periodicamente e testes de segurança dos dados. 50 • Treinamentos regulares de usuários e consultorias com especialistas da área. Não há atalhos ou subterfúgios quando se trata da segurança de dados no mundo moderno. Investimento, conscientização e trabalho árduo são iniciativas constantes para evitar um caos completo na perda ou alteração dos dados sensíveis. 6. Tendências futuras e projeção de cenários A tarefa de se prever o futuro e traçar possíveis cenários e desdobramentos em uma área na qual a renovação e o aperfeiçoamento tecnológico acontece o tempo todo é bastante desafiadora e carrega consigo uma responsabilidade muito clara, pois planejamentos e recursos serão empregados nessa visão. Por outro lado, essa missão é facilitada pela facilidade no acesso às informações que temos nos dias atuais, seja por intermédio da opinião de especialistas ou interações com outros profissionais de segmentos diversos. É possível criar um quadro geral de tendências e novidades. Em linhas gerais, no universo mais restrito dos sistemas supervisórios, há uma forte tendência na acentuação da integração entre os diversos sistemas constituintes de uma planta industrial para projeções preditivas mais sofisticadas e com grau de precisão elevado. A miniaturização dos dispositivos (sensores, controladores) e a expansão das chamadas indústrias inteligentes (smart industries) são fortes indícios de que viveremos uma era de eficiência operacional máxima e eliminação em tempo real de entraves nos processos. 51 A Inteligência Artificial deverá ser uma ferramenta cada vez mais presente na análise e na tomada de decisões estratégicas no âmbito dos processos industriais e na organização de dados sensíveis, especialmente as chamadas IA’s metacognitivas (capacidade de regular seus processos cognitivos). Uma consideração aos aspectos éticos e sociais não deve ser negligenciada nessa projeção de cenários, pois o avanço desenfreado das novas tecnologias pode também trazer cenários bastante desafiadores para a humanidade: desemprego, exclusão social, impactos climáticos e privacidade. Portanto, um olhar atento e panorâmico para os prováveis desdobramentos das atuais tecnologias e as vindouras. É o papel fundamental do profissional do presente, o qual deve ser uma combinação entre boa formação, curiosidade, sensibilidade e criatividade no desenvolvimento de soluções. Referências LISBOA, Alveni. O que é tecnologia? Canaltech, mar. 2023. Disponível em: https:// canaltech.com.br/internet/o-que-e-tecnologia/. Acesso em: 2 ago. 2024. MARQUES, Jideon F. A jornada da computação em nuvem. São Paulo: Clube de Autores, 2024. OLIVEIRA, Ruy Flávio de. Inteligência Artificial. Londrina: Educacional S.A., 2018. PEREIRA, Mario Jorge. Facilities – Gestão e Manutenção de Infraestrutura. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2021. SILVA, Michel Bernardo Fernandes da. Cibersegurança: visão panorâmica sobre a segurança da informação na internet. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2023. TAULLI, Tom. Introdução à Inteligência Artificial: uma abordagem não técnica. São Paulo: Novatec, 2020. 52 Sumário Recomendável que este título do tema tenha no máximo 2 linhas. Recomendável que este título do tema tenha no máximo 2 linhas. Recomendável que este título do tema tenha no máximo 2 linhas.