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2.MEMBRO INFERIOR 75 76 FISIOLOGIA ARTICULAR OS EIXOS DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO oprimeirograudeliberdadeestácondi- cionadopeloeixo transversalXX' (fig.2-1,vis- tainternae2-2,vistaexternadojoelhosemifie- xionado),aoredordoqualserealizamosmovi- mentosdefiexão-extensãonoplanosagital.Es- teeixoXX', contidonumplanofrontal,atraves- sahorizontalmenteoscôndilosfemorais. Por causadaforma"emalpendre"do colo femoral(fig.2-3),o eixodadiáfisefemoralnão estásituado,exatamente,no prolongamentodo eixodoesqueletodaperna,eformacomesteum ânguloobtuso,abertoparadentro,de 170-175°: setratadovalgofisiológico dojoelho. Contudo,ostrêscentrosarticularesdoqua- dril (H), dojoelho(O) e do tornozelo(C) estão alinhadosnumamesmaretaHOC, querepresen- tao eixo mecânicodo membroinferior. Na per- na,esteeixoseconfundecomo eixodo esque- leto;porém,nacoxa,o eixomecânicoHO for- maumângulode6°como eixodo fêmur. Por outrolado,o fato de que os quadris estejammaisseparadosentresi queos torno- zelosfaz comqueo eixo mecânico do membro inferior seja ligeiramente oblíquo para baixo epara dentro, formandoumângulode3°com avertical.Esteânguloserámaisabertoquanto maislargasejaa pelve,comono casoda mu- lher.Isso explicapor que o valgo fisiológico dojoelhoémais marcadona mulher doqueno homem. O eixodefiexão-extensãoXX' é maisho- rizontal,assimsendo,nãoconstituia bissetriz (Ob) do ângulode valgo:medem-se81°entre XX' e o eixodofêmure93°entreXX' eo eixo daperna.Do qualsededuzque,emmáximafie- xão,o eixodapernanãosesitua,exatamentepor trásdoeixodofêmur,maspor trás e umpouco para dentro,o qualdeslocaocalcanharemdire- çãoaoplanode'simetria:a fiexãomáximafaz comqueo calcanhar entreem contatocom a nádega,no nível da"tuberosidadeisquiática. O segundograu deliberdadeconsistena rotaçãoaoredordoeixo longitudinalYY' daper- na(figs.2-1 e 2-2),como joelho emflexão. A estruturadojoelhotomaestarotaçãoimpossível quandoa articulaçãoestáemmáximaextensão; assim,o eixodapernaseconfundecomo eixo mecânicodo membroinferiore a rotaçãoaxial nãoselocalizanojoelho,masnoquadrilqueo substitui. Na figura2-1 aparecedesenhadoum eixo ZZ' ântero-posterioreperpendicularaosdoisei- xosmencionados.Esteeixonãorepresentaum terceirograudeliberdade;quandoojoelhoestá fiexionado,umacertafolgamecânicapermite movimentosdelateralidadede1a2emnotor- nozelo;porém,emextensãocompleta,estesmo- vimentosdelateralidadedesaparecemtotalmen- te:seexistissem,deveriamserconsideradospa- tológicos. Contudo,é necessáriosaberqueos movi- mentosde lateralidade aparecemnormalmente sempreque seflexione minimamenteo joelho; parasabersesãopatológicos,é indispensável compará-Ioscom os do lado oposto,com a condiçãodequeesteladosejanormal. Fig.2-3 Fig.2-2 2.MEMBRO INFERIOR 77 x 78 FISIOLOGIA ARTICULAR OSDESLOCAMENTOS LATERAIS DO JOELHO Além das suasyariaçõesfisiológicasde- pendendodosexo,o ângulodevalgosofreva- riaçõespatológicasdependendodecadaindiví- duo(fig.2-4). Quandoesteânguloseinverte,se tratade umgenuvaro(ladoesquerdodafigo2-4): nor- malmentediz-sequeo indivíduoestá"camba- do" (fig.2-6);o centrodojoelho,representado pelaincisurainterespinhosadatíbiae a incisura intercondilianadofêmur,sedeslocaparafora.O genuvaropodeserapreciadodeduasmaneiras: - medindoo ânguloentreo eixodiafisá- rio do fêmure o da tíbia: quandoé maiordoqueo seuvalorfisiológicode 170°,porexemplo,180ou 185°,repre- sentaumainversãodoânguloobtuso; - medindo o deslocamentoexterno (fig. 2-5)do centrodojoelho comre- laçãoaoeixomecânicodomembroin- ferior,porexemplo10,15ou 20 mm. Observa-seD.E. = 15mm. Pelocontrário,quandooângulodevalgose "fecha",correspondeaogenuvalgo(ladodirei- to da figo2-4):sediz entãoqueo indivíduoé "zambro"(fig.2-8).Tambémexistemdoismé- todospossíveisparasedetectaro genuvalgo: - medindooângulodoseixosdiafisários, cujovalorestarámenordoqueo ângulo fisiológicode170°:porexemplo165°. - medindo o deslocamento interno (fig. 2-7)do centrodojoelho comre- laçãoaoeixomecânicodomembroin- ferior,por exemplo10,15ou 20 mm. Observa-seD.I =15mm. A medidadodeslocamentoexternoou in- ternoémaisrigorosadoqueadoângulodeval- go,porémrequerexcelentesradiografiasdeto- do o conjuntodosmembrosinferioresdeno- minadas"degoniometria"(fig.2-4).No esque- madafigura,cúmulodoazar,o indivíduoapre- sentaumgenuvalgoà direitaeumgenuvaroà esquerda.Esta circunstânciaé estranha,visto quenamaiorpartedoscasosadeformaçãoése- melhantee bilateral,porémnão é obrigatoria- mentesimétrica,já queum joelho podeestar maisdesviadoqueo outro;todavia,existemca- sosmuitorarosdedesviosem"rajada",ouseja, comosdoisjoelhosdomesmolado,comomos- trao esquema:estaé umasituaçãomuitoincô- moda,queprovocaumdesequilíbriodoladodo genuvalgo;podemosencontrarestecaso,quan- do apósuma osfeotomia,se hipercorrigiuum genuvaroemgenuvalgo;assimsendo,éneces- sáriooperarrapidaménteo outroladopararesta- belecero equilíbrio. Osdesvioslateraisdosjoelhosnãosãoraros, vistoquecom o passardo tempopodemgerar umaartrose;defato,ascargasnãoestãorepartidas comigualdadeentreoscompartimentosexternoe internodojoelho,provocandoum desgastepre- maturodo compartimentointerno,uma artrose remoro-tibialinterna,no genuvaro,ou sobo mesmomecanismo,uma artroseremoro-tibial externanogenuvalgo;issopodelevararealizar, noprimeirocasoumaosteotomiatibiaI (oufe- moral)devalgizaçãoenosegundocaso,umaos- teotomiatibiaI (oufemoral)devarização. Na atualidade,paraprevenirestesproble- mas,sedá muitaimportânciaà vigilânciados desvioslateraisdosjoelhosnascriançaspeque- nas.Isto sedevea queo genuvalgobilateralé muitofreqüentenascrianças,e emboradesapa- reçaprogressivamenteduranteo crescimento,é necessáriorealizarumseguimentodestaevolu- çãofavorávelcomradiografiasdoconjuntodos membrosinferiores,vistoqueno casodeper- sistirumdesvioimportanteatéo finaldainfân- cia, seriaconvenienteavaliarumaintervenção por epifisiodesetíbio-femoralinternano caso degenuvalgo,ouexternanocasodegenuvaro, quedeveserrealizadaantesdofinaldoperíodo de crescimentovisto que estasintervenções agemimpedindoo crescimentodeumladopro- vocandoum maiorcrescimentodo lado"mais desviado". Fig.2-8 Fig.2-4 Fig.2-6 2. 1'1EMBROINFERIOR 79 Fig.2-5 80 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MOVIMENTOS DE FLEXÃO·EXTENSÃO A fiexão-extensãoéo movimentoprincipal dojoelho.A suaamplitudesemedea partirda posiçãodereferênciadefinidadaseguintema- neira:o eixodapernasesituanoprolongamen- todoeixodacoxa(fig.2-9,pernaesquerda).De perfil,o eixodofêmurseguesemnenhumaan- gulação,comoeixodoesqueletodaperna.Nes- taposiçãodereferência,omembroinferiorpos- suio seucomprimentomáximo. A extensãosedefinecomoo movimento queafastaafaceposteriordapernadafacepos- teriordacoxa.Na verdade,nãoexisteumaex- tensãoabsoluta,poisnaposiçãodereferênciao membroinferiorestáno seuestadodealonga- mentomáximo.Porém,épossívelrealizar,prin- cipalmentepassivamente,ummovimentodeex- tensãode5°a 10°apartirdaposiçãodereferên- cia (fig.2-11);estemovimentorecebeo nome, semdúvidaerrado,de"hiperextensão".Em al- gunsindivíduos,estahiperextensãoestámais marcadaporrazõespatológicas,provocandoum genurecun1atum. A extensãoativa,poucasvezesultrapassa, eporpouco,aposiçãodereferência(fig.2-9)e estapossibilidadedependeessencialmenteda posiçãodoquadril:defato,aeficáciadoretoan- terior,comoextensordojoelho,aumentacoma extensãodoquadril(verpág.148).Istosignifica queaextensãopréviadoquadril(fig.2-10,per- nadireita)preparaaextensãodojoelho. A extensãorelativaé o movimentoque completaaextensãodojoelho,apartirdequal- querposiçãodefiexão(fig.2-10,pernaesquer- da);setratado movimentoqueserealizanor- malmentedurantea marcha,quandoo membro "oscilante"sedeslocaparafrenteparaentrarem contatocomo chão. A flexãoéomovimentoqueaproximaafa- ce posteriordapernaà faceposteriordacoxa. Existemmovimentosdefiexãoabsoluta,apartir daposiçãodereferência,emovimentosdefiexão relativa,apartirdequalquerposiçãoemfiexão.A amplitudeda flexão do joelho é dife- rentedependendodaposiçãodo quadrile se- gundoàsmodalidadesdoprópriomovimento. Aflexão ativaatingeos 140°seo quadril estiverpreviamenteflexionado(fig. 2-12), e somentechegaaos120°seo quadrilestiverem extensão(fig. 2-13).Estadiferençade ampli- tudesedeveà diminuiçãoda eficáciados ís- quio-tibiaisquandoo quadril estáestendido (verpág. 150).Porém,é possívelultrapassar os 120°deflexãoçlojoelho como quadriles- tendido,graçasà contraçãobalística: os ís- quio-tibiaissecontraempotentee bruscamen- teiniciandoaflexãodojoelhoqueterminaco- moumaflexãopassiva. Afiexãopassivadojoelhoatingeumaam- plitudede 160°(fig.2-14)epermitequeo cal- canharentreemcontatocoma nádega.Este movimentoé umaprovamuitoimportantepara comprovaraliberdadedafiexãodojoelho.Para apreciara suaflexãopassivapodemedir-sea distânciaqueseparao calcanhardanádega.Em condiçõesnormais,aflexãoestálimitadaapenas pelocontatoelásticodasmassasmuscularesda panturrilhae da coxa.Em condiçõespatológi- cas,a flexãopassivadojoelhoestálimitadape- la retraçãodo aparelhoextensor-. principal- menteoquadríceps- oupelasretraçõescapsu- lares(verpág.108). Emborasempreseja viável detectarum déficitde flexãodiferenciandoo graude fle- xãoatingidoe a amplitudeda flexãomáxima (160°),ou também,comprovandoa distância calcanhar/nádega,o déficit deextensãosede- terminaporum ângulonegativo,porexemplo - 60°:esteé o quesemedeentrea posiçãode extensãopassivamáximae a retitude.Desta forma,na figura2-13tambémpodemosdizer quea pernaesquerdaestáflexionadaa 120°, ou, se nãopodeatingirumaextensãomaior, que apresentaum déficit de extensão de -120°. Fig.2-9 Fig.2-14 2.MEMBRO INFERIOR 81 Fig.2-10 Fig.2-13 82 FISIOLOGIAARTICULAR A ROTAÇÃO AXIAL DO JOELHO Rotaçãoda perna ao redor do seueixo longitudinal:estemovimentosópodeserreali- zadocomo joelhoflexionado,enquantocomo joelhoestendidoo bloqueioarticularuneatíbia como fêmur. Paramedira rotaçãoaxialativa,devemos flexionaro joelhoemânguloreto,o indivíduo sentadocomaspernaspenduradasparaforada mesadeexame(fig.2-15):aflexãodojoelhoex- cluiarotaçãodoquadril.Naposiçãodereferên- cia,apontadopésedirigeligeiramenteparafo- ra(verpág.84). A rotaçãointerna(fig.2-16)levaa ponta dopéparadentroeintervém,deformaimportan- te,nomovimentodeaduçãodopé(verpág.160). A rotaçãoexterna(fig.2-19)levaaponta do péparafora e tambémintervémno movi- mentodeabduçãodopé. ParaFick, a rotaçãoexternaé de40°com relaçãoaos30°derotaçãointerna.Estaamplitu- devariacomo graudeflexão,vistoque,segun- doesteautor,arotaçãoexternaéde32°quando o joelhoestáflexionadoa 30°e de42°quando estáflexionadoemânguloreto. A medidadarotaçãoaxialpassivaserea- lizacomo indivíduoemdecúbitoprono,como joelhoflexionadoemânguloreto:o examina- dorsegurao pécomasduasmãose o gira,le- vandoa suapontaparafora(fig. 2-18)e para dentro(fig. 2-19).Comoé deseesperar,esta rotaçãopassivaé umpoucomaisamplaquea rotaçãoativa. Finalmente,existeumarotaçãoaxial de- nominada"automática",vistoqueestá,inevi- távele involuntariamente,ligadaaosmovimen- tosdeflexão-extensão.Ocorre,principalmente. nosúltimosgrausdeextensãoou no início da flexão.Quandoojoelhoseestende,o péé leva- doparaa rotaçãoextema(fig.2-20);seindica umasimplesregramnemotécnicaparalembrar estaassociação:EXTensãoe rotaçãoEXTerna. Demaneirainversa,quandoojoelhoestáflexio- nadoapernagiraemrotaçãointerna(fig.2-21). O mesmomovimentoserealizaquando,aodo- braraspernassobreo corpo,apontadopééle- vadaparadentro.Estaposturatambémcorres- pondeà posiçãofetal. Mais adiantevamosestudaro mecanismo destarotaçãoautomática. 82 FISIOLOGIA ARTICULAR A ROTAÇÃO AXIAL DO JOELHO Rotaçãoda perna ao redor do seueixo longitudinal:estemovimentosópodeserreali- zadocomo joelhoflexionado,enquantocomo joelhoestendidoo bloqueioarticularuneatíbia como fêmur. Paramedira rotaçãoaxialativa,devemos flexionaro joelhoemânguloreto,o indivíduo sentadocomaspernaspenduradasparaforada mesadeexame(fig.2-15):aflexãodojoelhoex- cluiarotaçãodoquadril.Naposiçãodereferên- cia,apontadopésedirigeligeiramenteparafo- ra(verpág.84). A rotaçãointerna(fig.2-16)levaa ponta dopéparadentroeintervém,deformaimportan- te,nomovimentodeaduçãodopé(verpág.160). A rotaçãoexterna(fig.2-19)levaaponta do péparafora e tambémintervémno movi- mentodeabduçãodopé. ParaFick, a rotaçãoexternaé de40°com relaçãoaos30°derotaçãointerna.Estaamplitu- devariacomo graudeflexão,vistoque,segun- doesteautor,arotaçãoexternaéde32°quando o joelhoestáflexionadoa 30°e de42°quando estáflexionadoemânguloreto. A medidadarotaçãoaxialpassivaserea- lizacomo indivíduoemdecúbitoprono,como joelhoflexionadoemânguloreto:o examina- dorsegurao pécomasduasmãose o gira,le- vandoa suapontaparafora(fig. 2-18)e para dentro(fig. 2-19).Comoé deseesperar,esta rotaçãopassivaé umpoucomaisamplaquea rotaçãoativa. Finalmente,existeumarotaçãoaxial de- nominada"automática",vistoqueestá,inevi- távele involuntariamente,ligadaaosmovimen- tosdeflexão-extensão.Ocorre,principalmente. nosúltimosgrausdeextensãoou no início da flexão.Quandoojoelhoseestende,o péé leva- doparaa rotaçãoextema(fig.2-20);seindica umasimplesregramnemotécnicaparalembrar estaassociação:EXTensãoe rotaçãoEXTerna. Demaneirainversa,quandoojoelhoestáflexio- nadoapernagiraemrotaçãointerna(fig.2-21). O mesmomovimentoserealizaquando,aodo- braraspernassobreo corpo,apontadopééle- vadaparadentro.Estaposturatambémcorres- pondeàposiçãofetal. Mais adiantevamosestudaro mecanismo destarotaçãoautomática. Fig.2-16 I"~ Fig.2-21 , ( Fig.2-20 Fig.2-18 2. MEMBRO INFERIOR 83 Fig.2-17 Fig.2-19 84 FISIOLOGIA ARTICULAR ARQUITETURA GERAL DO MEMBRO INFERIOR . E ORIENTAÇÃO DAS SUPERFÍCIES ARTICULARES A orientaçãodoscôndilosfemoraise dos platôs tibiais favorece a flexão do joelho (fig.2-22,segundoBellugue).Duasextremida- desósseasmóveisumacomrelaçãoàoutra(a) modelamrapidamentea suaformaemfunção dosseusmovimentos(b)(experiênciadeFick). Todavia,a flexãonãopodeatingiro ângulore- to(c),amenosquenãoseelimineumfragmen- to (d)do segmentosuperiorafim deretardaro impactocoma superfícieinferior.O pontofra- co criadono fêmursecompensapelatranspo- siçãoparadiante(e)dadiáfise,o qualdesloca oscôndilosparatrás.Simetricamente,atíbiase tornamaisfracaatráse maisforteadiante(f), deslocandoparatrása superfícietibial.Desta forma,na flexãomáxima,asimportantesmas- sasmuscularespodemsituar-seentreatíbiaeo fêmur. As curvaturasgeraisdosossosdo mem- bro inferiorrepresentamosesforçosqueagem sobre eles. Obedecemàs leis das "colunas com carga excêntrica"de Euler (Steindler). Quandoumacolunaestáarticuladapelosseus doisextremos(fig. 2-23,a),acurvaturaocupa todaa suaaltura,esteéo casodacurvaturade concavidadeposteriordadiáfisefemoral(fig. 2-23,b). Se a colunaestáfixadaembaixoe é móvel em cima (fig. 2-24, a), existemduas curvaturasopostas,a maisaltaocupa2/3 da coluna:estascorrespondemàs curvaturasdo fêmurno planofrontal.Se a colunaestivesse fixadapelosseusdoisextremos(fig. 2-25,a), a curvaturaocupariaas duas quartaspartes centrais,o que correspondeàs curvaturasda tíbia no planofrontal(fig. 2-25,b). No plano sagital, a tíbia apresentatrês características (fig. 2-26,b): - a retrotorção(T), deslocamentoposte- rior citadoanteriormente; - a retroversão(V), declivede 5-6°dos platôstibiaisparatrás; - a retroflexão(F), curvaturadeconcavi- dadeposteriordeumacolunamóvelem ambososextremos(fig.2-23,a),como nocasodofêmur. Durantea flexão(fig.2-27),ascurvaturas côncavasdo fêmure datíbiaestãofacea face, aumentando,portanto,o espaçodisponívelpara asmassasmusculares. As figurasna margeminferiorda página explicamatravésde umaespéciede "álgebra anatômica"astorçõesaxiaissucessivasdosseg- mentosdo membroinferior,vistosdesdecima noesquema. " Torçãodo fêmur (fig.2-28):seacabeçae o colo(1)como maciçocondiliano(2)seunem (a);semtorção(b),oeixodocoloestánomes- mo planoqueo eixo dos côndilos;porém,na verdade,o coloformaumângulode30°como planofrontal(c),demodoqueo eixodoscôndi- Iaspermanecefrontal(d)eénecessáriointrodu- zir umatorçãoda diáfisefemoralde -300por umarotaçãointernaquecorrespondeaoângulo deanteversãodocolofemora!. Torçãodo esqueletoda perna(fig.2-29): sea tíbio-tarsiana(1) e os platôstibiais(2) se unem(a);semtorção(b),o eixodosplatôse o eixoda tíbio-tarsianasãofrontais;na verdade (c),aretroposiçãodomaléoloexternoconverte o eixodatíbio-tarsianaoblíquoparaforaepara trás,o qualcorrespondeaumatorçãodoesque- letodapernade +250por umarotaçãoexterna. Seunirmos(fig.2-30,a) oscôndilos(1)e osplatôs,parecequeosdoiseixosdeveriamser frontais(b).Na realidade,a rotaçãoaxialauto- máticaacrescenta+5°derotaçãoexternadatí- biasobreo fêmuremextensãomáxima. Estas torsõesescalonadasao longo do membroinferior (-30° +25°+5°)se anulam (fig. 2-31,a) de tal modoqueo eixodatíbio- tarsianaestáquasenamesmadireçãodoqueo eixo do colo, ou seja,emrotaçãoexternade 30°,provocandoumdeslocamentode300para fora do eixodo pé, na posiçãodepé, comos calcanharesjuntose a pelvesimétrica(b).Du- rantea marcha,o avançodomembrooscilante levao quadrilhomólogoparadiante(c); se a pelvegira30°,o eixodopésedirigediretamen- teparafrente,no sentidodamarcha,o queper- miteum"ótimodesenvolvimentodopasso". 2.MEMBRO INFERIOR 85 a b c Fig.2-22 e c ---~ ~+25 +30 a Fig.2-25 +30 c Fig.2-31 O b a b Fig.2-26 ~30~;c Fig: 2-27 b ~30~30 @ ~+5 b a Fig.2-23 b a b Fig.2-24 1.6- + O- 'G-_~+ -W- Fig. 2-28 b2 a 1W + --.- Fi9.2-302-O ~4- a Fig.2-29 86 FISIOLOGIA ARTICULAR AS SUPERFÍCIES DA FLEXÃÜ-EXTENSÃü oprincipalgraudeliberdadedojoelhoéo da flexão-extensão,que correspondeao eixo transversal.Ele estácondicionadoporuma ar- ticulaçãode tipo troclear:defato,assuperfí- cies da extremidadeinferiordo fêmurconsti- tuemumapolia ou,maisexatamente,um seg- mentodepolia (fig.2-32),que,por suaforma, lembraumtremdeaterrissagemduplodeavião (fig.2-33).Osdoiscôndilosfemorais,convexos emambosossentidos,formamasduasfacesar- ticularesdapolia e correspondemàsrodasdo tremde aterrissagem;elesse prolongampara frente(fig.2-34)pelasduasfacesdatrócleafe- moral.Quantoà gargantadapolia,estárepre- sentada,adiante,pelagargantadatróc1eafemo- ral e, atrás,pelaincisuraintercondiliana,cujo significado mecânico será explicado mais adiante.Algunsautoresdescrevemojoelhoco- moumaarticulaçãobicondiliana;istoé verda- deirodo pontode vistaanatômico,porémdo pontodevistamecânicoé, semnenhumadúvi- da,umaarticulaçãotroclearespecífica. Na partetibial,assuperfíciesestãoinversa- menteconformadase seorganizamsobredois sulcosparalelos,incurvadose côncavos,sepa- radospor umacrista rombaântero-posterior (fig.2-35):aglenóideexterna(GE) eaglenóide interna(Gr) se localizamcadaumanumsulco dasuperfície(S), alémdeestarseparadaspela cristarombaântero-posteriornaqualseencaixa omaciçodasespinhastibiais;adiante,noprolon- gamentodesta~rista,situa-sea cristarombada faceposteriordapatela(P) cujasduasvertentes prolongama superficiedasglenóides.Estecon- juntodesuperfíciesé dotadodeumeixotrans- versal(1),quecoincidecomo eixodoscôndilos (U)quandoaarticulaçãoestáencaixada. Assim,asglenóidescorrespondemaoscôn- dilosenquantoo maciçodasespinhastibiaisse alojanaincisuraintercondiliana;fimcionalmen- te,esteconjuntoconstituia articulaçãofêmo- ro-tibial.Adiante,asduasvertentesdasuperfí- ciearticulardapatelacorrespondemàsduasfa- cesdatrócleafemoral,enquantoacristaromba verticalseencaixanagargantadatróclea,desta formaseconstituiumsegundoconjuntofuncio- nal,a articulaçãofêmoro-patelar.As duasar- ticulaçõesfuncionais,fêmoro-tibiale fêmoro- patelar,estãoincluídasnumaúnicaemesmaar- ticulaçãoanatômica,aarticulaçãodojoelho. Consideradasomentesobo ângulodefIe- xão-extensãoe numaprimeiraaproximação, podemosimaginara articulaçãodojoelhoco- moumasuperfícieemformadepoliadeslizan- do-sesobreumsulcoduplo,côncavoeparelho (fig. 2-36).Porém,comopoderemosvermais adiante,a realidadeémaiscomplexa. p Fig.2-34 GI Fig.2-32 ~ Fig.2-35 2.MEMBRO INFERIOR 87 Fig.2-33 88 FISIOLOGIA ARTICULAR AS SUPERFÍCIES EM FUNÇÃO DA ROTAÇÃO AXIAL As superfíciesarticulares,tal cornoestão descritasna páginaanterior,só permitemum únicomovimentoqueé o da fiexão-extensão. Defato,acristarombadasuperfícieinferior,ao encaixar-senagargantadapoliaemtodoo seu comprimento,impedequalquermovimentode rotaçãoaxialdasuperfícieinferiorsoba super- fíciesuperior. Paraquearotaçãoaxialsejafactível,deve- semodificarasuperfícieinferior(fig.2-37)detal formaquea cristarombareduzao seucompri- mento.Comestafinalidade,selimam(fig.2-38) asduasextremidadesdestacrista,deformaquea partemédiaquepermaneceformeumpivô,en- caixadonagargantadapoliaeaoredordoquala superfícieinferiorpodegirar.Estepivôéo ma- ciçodasespinhastibiaisqueformaa vertente externadaglenóideinternae a vertenteinterna da glenóideexterna;por estepivô central,ou maisconcretamente,pelaespinhatibialinterna, passaoeixovertical(R),aoredordoqualserea- lizammovimentosderotaçãolongitudinal.Al- gunsautoresdesignamosdoisligamentoscru- zados,denominando-lhespivôcentral,conside- radoso eixoderotaçãolongitudinaldo joelho. Esta terminologiaparecenão ser muito apro- priada,vistoqueo conceitodepivôsignificaum pontodeapoiosólido,eportantosedeveriare- servarparaaespinhatibialinterna,queé o ver- dadeiropivômecânicodojoelho.Quantoaosis- --------.-.--- ternados ligamentoscruzaqos,parecemaIS apropriadoo termouniãocentral. Estatransformaçãodassuperfíciesarticula- resémaisfácil'deentenderquandoseutilizaco- rnoexemploumm!Jdelomecânico(veromode- lo lU no finaldovolume). Se pegarmosduaspeças(fig. 2-39),uma superiorqueapresentaurnafendae outrainfe- rior,comumaespigadetamanhoemedidasin- ferioresà fenda,asduaspeçaspodemdeslizar- se comfacilidadeumasobrea outra,masnão podemgirar umacomrelaçãoà outra. Se eliminarmosas duasextremidadesda espigadapeçainferiorparaquepermaneçaso- mentea suapartecentral,cujosdiâmetrosnão excedemo comprimentodafenda(fig.2-40),se substituia espigaporumpivô cilíndrico,capaz deserencaixadonafendadapeçasuperior. Então(fig.2-41),asduaspeçassãocapazes derealizardoistiposdemovimento,umaemre- laçãoà outra: - ummovimentodedeslizamentodaespi- gacentralaolongodafenda,quecorres- pondeà fiexão-extensão; - ummovimentode rotaçãodaespigano interiordafenda(sejaqualforaposição nafenda),quecorrespondeà rotaçãoao redordoeixolongitudinaldaperna. Fig.2-39 Fig.2-40 2. MEl\IBRO INFERIOR 89 Fig.2-37 ; Fig.2-38 Fig.2-41 90 FISIOLOGIA ARTICULAR PERFIL DOS CÔNDILOS E DAS GLENÓIDES Vistos pela suaface inferior (fig. 2-42),os côndilosformam duas proeminênciasconvexas emambasasdireçõese alongadasdediantepara trás.Os côndilosnão sãoestritamenteidênticos: seusgrandeseixosântero-posterioresnãosãopa- ralelos,massimdivergentesparatrás;alémdisso, o côndilo interno(I) divergemaisqueo externo (E) e tambémé maisestreito.Entrea trócleae os côndilosseperfila,decadalado,afendacôndilo- trodear(r), a internanormalmentemaismarcada quea externa. A incisuraintercondiliana(e) estánoeixo dagargantatrodear(g).A faceexternadatróclea émaisproeminentedoquea interna. Num cortefrontal (fig. 2-43) nota-sequea convexidadedos côndilosem sentidotransversal correspondeà concavidadedasglenóides. Para analisaras curvaturasdoscôndilose dasglenóidesno planosagital,éconvenienterea- lizar um cortevértico-sagitalnas direçõesaa' e bb' (fig. 2-43);deformaqueseconsegueo perfil exatodos côndilose dasglenóidessobreo osso fresco(figs.2-45a 2-48).Então,torna-seeviden- tequeo raiodacurvaturadassuperfíciescondilia- nasnão é uniforme,massim quesofrevariações comosefosseumaespiral. Em geometria,a espiraldeArquimedes(fig. 2-44) está construídaao redor de um pequeno pontodenominadocentro(C),e cadavez queo raio R descreveum ânguloigual, aumentao seu comprimentonamesmamedida. A espiraldoscôndilosé muitodiferente;é verdadeque o raio da curvaturacresceregular- mentedetrásparadiante,quevariade17a38mm no casodo côndilo interno(fig. 2-45)e de 12 a 60mmno casodo côndiloexterno(fig.2-46),po- rémnãoexisteumcentroúniconestaespiral,exis- teumasériedecentrosdispostos,porsuavez,so- bre outraespiralmm' (côndilo interno)e nn' (côndiloexterno).Portanto,acurvaturadoscôndi- Ias é uma espiraldeespiral,como demonstrou Fick que denominoucurvaturavolutaà espiral doscentrosdacurvatura. Por outrolado,a partirdeum certopontot docontornocondiliano,o raiodacurvaturacome- çaa diminuir,deformaquepassade38a 15mm pelafrentedocôndilointerno(fig. 2-45)e de60 a 16mmpelafrentedo côndilo externo(fig. 2-46). Novamente,os centrosda curvaturase alinham numaespiralm'm" (côndilointerno)en'n" (côn- dilo externo).No total,as linhasdoscentrosda curvaturafonnamduasespiraisjuntas,cuja cús- pide muitoaguda(m' e n') correspondesobreo côndiloaopontot detransiçãoentredoissegmen- tosdocontornocondiliano: - atrásdopontot, a partedo côndilo for- mapartedaarticulaçãofêmoro-tibial; - adiantedo 'pontot, a partedo côndilo e da trócleaformam parte da articulação fêmoro-patelar. Portanto,o pontodetransiçãot representa o pontomais adiantadodo contornocondiliano quepodeentrardiretamenteemcontatocom a su- perfícietibial. O perfil ântero-posteriordas glenóides (figs.2-47e 2-48)é diferentesegundoa glenóide dequesetrate: - a glenóideinterna(fig. 2-47) é côncava paracima(o centroda curvaturaO está situadoacima)comoum raio decurvatu- ra de80mm; - a glenóideexterna(fig. 2-48) é convexa paracima(o centroda curvaturaO' está situadoparabaixo)comoum raio de cur- vaturade70 mm. Enquantoa glenóideinternaé côncavanos doissentidos,a externaé côncavatransversal- menteeconvexasagitalmente(no ossofresco).O resultadodestaafirmaçãoéqueseo côndilofemo- ralinternoérelativamenteestávelnasuaglenóide, o côndiloexternoestánumaposiçãoinstávelso- brea lombadada glenóideexternae a suaestabi- lidadeduranteo movimentodependeessencial- menteda integridadedo ligamentocruzadoânte- ro-externo(LCAE). Por outraparte,os raios da curvaturados côndilose dasglenóidescorrespondentesnãosão iguais,portantoexisteumacertadiscordânciaen- tre as superfíciesarticulares:a articulaçãodo joelhoéumaverdadeiraimagemdasarticulações nãoconcordantes.O restabelecimentodaconcor- dânciadependedosmeniscos(verpág. 102). r Fig.2-47 Fig.2-42 --..•..."\\ .\ Fig.2-43 Fig.2-44 O" Fig.2-46 Fig.2-48 92 FISIOLOGIAARTICULAR DETERMINISMO DO PERFIL CÔNDILO- TROCLEAR Utilizandoummodelomecânico(fig.2-49), em1967,foi demonstrado(Kapandji)queo con- tornodatróc1eae oscôndilosfemoraisestãode- terminadoscornolugaresgeométricosquedepen- dem,porumaparte,dasrelaçõesestabelecidasen- treosligamentoscruzadose suasbasesdeinser- çãonatíbiaenofêmure,poroutraparte,dasre- laçõesexistentesentreo ligamentopatelar,apate- Iaeasasaspatelares(vermodeloli aofinaldovo- lume).Quandomovemosummodelodestetipo (fig.2-50),podemosvero desenhodoperfildos côndilosfemoraise datróc1eacomosefossea parteenvolventedasposiçõessucessivasdasgle- nóidestibiaisedapatela(fig.2-51). A partepóstero-tibialdocontornocôndilo- troclear(fig. 2-51)se determinapelasposições sucessivas,numeradasde1a5 (alémdetodasas intennédias),doplatôtibial,"submetidas"aofê- mur pelo ligamentocruzado ântero-externo (LCAE) (traçospequenos)eo ligamentocruza- do póstero-interno(LCPI) (grandestraços),ca- daumdelesdescrevendoumarcodecírculocen- tradopelasuainserçãofemoral,deraioigualao seucomprimento;note-sequenumaflexãomáxi- ma,aaberturaanteriordainterlinhafêmoro-tibial demonstraa"distensão"doLCAE nofinaldafle- xão,enquantoo LCPI estácontraído. A parteanteriorpatelardocontornocôn- dilo-troc1ear(fig. 2-52)estádeterminadapelas posiçõessucessivas,numeradasde1a6(etodas asintermédias),dapatela,unidasaofêmurpelas asaspatelarese àtíbiapeloligamentopatelar. Entreaparteanteriorpatelare apartepos- teriortibialdoperfilcôndilo-troc1earexisteum pontodetransiçãot (figs.2-45e 2-46)quere- presentaa fronteiraentreaarticulaçãofêmoro- patelare aarticulaçãofêmoro-tibial. Modificandoas relaçõesgeométricasdo sistemadosligamentoscruzados,épossíveltra- çarumafamíliadecurvaturasdoscôndiloseda tróclea,a qualdemonstraa "personalidade"de cadajoelho:nenhumaseparececomaoutrano planoestritamentegeométrico,daíadificuldade emsecolocaremprótesesespecificamenteadap- tadasacadaumadelas:elassomentepodemser umaaproximaçãorelativamente,fiel. A mesmadificuldadeseapresentano caso daspIastias ou dasprótesesligamentares,por exemplo(fig. 2:53), se a inserçãotibial do LCAE sedeslocaparadiante,o círculodescrito pelasuainserçãofeinoralvai deslocar-setam- bémparadiante(fig.2-54),oquevaiinduzirum novoperfil condiliano,nointeriordoqueesta- vaantes,determinandoporsuavezaapariçãode umjogomecânicoqueseriaumfatordedesgas- tedassuperfíciescartilaginosas. Mais tarde,em1978,A. Menschik,deVie- na,realizoua mesmademonstraçãocommeios puramentegeométricos. Evidentemente,todaestateoriadodetermi- nismogeométricodo perfilcôndilo-troc1earse baseianahipótesedaisometria,istoé,dainva- riabilidadedocomprimentodosligamentoscru- zados,daqualsesabeatualmente(verabaixo) quenãoestáconfirmadapelosfatos.Isso não significaquenãoexpliquecorretamenteasCOllS- tataçõese possaservirdeguiano conceitodas operaçõessobreosligamentoscruzados. Mais recentemente,P. Fraine cols.,utili- zandoummodelomatemáticobaseadonoestu- doanatômÍcode20joelhos,confirmaramano- çãodecurvatura-envolventee depolicentrismo dos movimentosinstantâneos,insistindonas constantesinter-relaçõesfuncionaisdos liga- mentoscruzadose laterais.O traçadodosveta- resdevelocidadeemcadapontodecontatofê- moro-tibial,feitoporcomputador,reproduzexa- tamenteaenvolventedocontornocondiliano. Fig.2-54 Fig.2-50 2. MEMBRO INFERIOR 93 Fig.2-52 94 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MOVIMENTOS DOS CÔNDILOS SOBRE AS GLENÓIDES NA FLEXÃO-EXTENSÃO A formaarredondadadoscôndilospoderiafa- zer pensarqueelesrolamsobreas superfíciesti- biais;estaé umaopiniãoerrônea.De fato,quando umaroda gira semresvalarno chão(fig.2-55)a cadaponto do chão correspondesó umpontoda roda;a distânciapercorridano chão(OOU) é,por- tanto,exatamenteigual à parteda circunferência "desenvolvida"no chão(compreendidaentrea re- ferênciatriangulare o retângulo).Se fosseassim (fig.2-56),apartirdecertograudeflexão(posição II), o côndilo basculariaparatrásda glenóide- produzindoumaluxação- ou entãoserianeces- sárioqueo platôtibial fossemaislongo.A possi- bilidadede um rolamentopuronãoseriapossível dadoqueo desenvolvimentodo côndiloéduasve- zesmaiordo queo comprimentodaglenóide. Supondoagoraquea roda resvalesemrolar (fig. 2-57): todaumaporçãodecircunferênciada roda corresponderiaa umsópontono chão.É o queacontecequandoumaroda"derrapa"aodesli- zar-se sobreuma superfíciegelada.Tal desliza- mentopuroéconcebívelparailustrar(fig.2-58)os movimentosdo côndilonaglenóide:todosospon- tosdo contornocondilianocorresponderiama um únicopontona glenóide;porémsepodeconstatar que,destemodo,ajlexãoficaria limitadaprematu- ramente,vistoqueamargemposteriordaglenóide (seta)representaumobstáculo. Tambémé possívelimaginarquea roda gire e resvaleao mesmotempo(fig. 2-59):eladerra- pa,porémavança.Nestecaso,àdistância-percorri- da no chão (00') correspondeum maior compri- mentona roda (entreo losangoe o triângulopre- tos)quesepodeapreciardesenvolvendo-anochão (entreo losangopretoe o triângulobranco). Em 1836a experiênciados irmãos Weber (fig.2-60) demonstrouque,na realidade,ascoisas ocorriamda seguintemaneira:em váriasposições entrea flexãoe aextensãomáximas,elesmarcaram ospontosdecontatoentreo côndiloe aglenóidena cartilagem.Destaforma,puderamconstatarqueo ponto de contatona tlôia recuavacom a jlexão (triângulopreto:extensão-losangopreto:flexão) e,poroutraparte,queadistânciaentreospontosde contatomarcadosno côndiloeraduasvezesmaior queaqueseparavaospontosdecontatodaglenóide. Portanto,estaexperiênciademonstra,semdúvida nenhuma,queo côndilorodaeresvalasobrea gle- nóidesimultaneamente.De fato,estaéaúnicama- neiradeseevitaraluxaçãoposteriordocôndiloper- mitindosimultaneamenteumaflexãomáxima(160°: compararaflexãonasfigs.2-58e2-60). (Estas experiênciaspodemser Feproduzidas como modelomincluídono finaldovolume.) Experiênciasmais recentes(Strasse,1917) demonstraramquea proporçãoderolamentoe de deslizamentonãoeraa mesmadurantetodoo mo- vimentodeflexão-extensão:apartirdeumaexten- sãomáxima,o côndilocomeçaa rolar semresva- lar e depoiso deslizamentocomeçaprogressiva- menteapredominarsobreo rolamento,demanei- ra quenofim dajlexãoo côndiloresvalasemrolar. Finalmente,o comprimentodorolamentopu- ro,noinício daflexão,édiferentesegundoo côn- dilo considerado: - no casodo côndilointerno(fig. 2-61)este rolamentoocorreapenasnosprimeiros10 a 15grausdeflexão; - nocasodocôndiloexterno(fig.2-62)o ro- lamentoprossegueatéos 20°deflexão. Isto significa que o côndilo externo rola muitomaisque o côndilo interno,o queexplica, emparte,queo caminhoqueelepercorresobrea glenóidesejamaislongoqueo percorridopeloin- terno.Voltaremosaestanoçãoimportanteparaex- plicara rotaçãoautomática(verpág.154). Por outro lado, tambémé interessantenotar queestes15a 20°de rolamentoinicial correspon- demà amplitudehabitualdosmovimentosdejlexão- extensãoqueserealizamdurantea marchanormal. P. Frain e cols. demonstraramque em cada pontoda curvaturacondilianapodeser definido, porumaparte,o centrodocírculo basculante,que representao centroda curvaturacondiliananeste pontoe, por outraparte,o centrodo movimento, querepresentao pontoaoredordoqualo fêmurgi- ra comrelaçãoà tíbia; somentequandoestesdois pontosseconfundemexisteumrolamentopuro,ou entãoaproporçãodedeslizamentocomrelaçãoao rolamentoémaisimportantequantomaisafastado o centroinstantâneoestejado movimentodo cen- trodacurvatura. 2.MEMBRO INFERIOR 95 r------l f - f I II II .\, \ I I I I I, f \ \\ "-,,~ ..•---..•••. ~ // )<'--- I ••\I \ \, "- .•.•. 140-160° Fig.2-57 O' Fig.2-59 / / \ \ / \ L ." /'\\ .\. ( ,) .J. \ fI .~"'-~/ '-. j---l f • I /I . I / I . 1/I • If f' , \ \ .\\',,- .•.•- Fig.2-61 Fig.2-60 Fig.2-62 96 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MOVIMENTOS DOS CÔNDILOS SOBRE AS GLENÓIDES NOS MOVIMENTOS DE ROTAÇÃO AXIAL Mais adianteveremospor que os movi- mentosderotaçãoaxialsópodemserrealizados quandoojoelhoestáfiexionado.Em posiçãode rotaçãoneutra(fig.2-63),joelhofiexionado,a parteposteriordos côndilosentraem contato coma partecentraldasglenóides.Estefatoé postoemevidênciapelodiagrama(fig.2-64),no qual a silhuetados côndilosse superpõepor transparênciasobreo contornotracejadodas glenóidestibiais. Tambémse pode constatar nesteesquemaquea fiexãodojoelhoseparouo maciçodasespinhastibiaisdofundodaincisura intercondiliana,ondeestáencaixadadurantea extensão(estaéumadascausasdobloqueioda rotaçãoaxialemextensão). Durantea rotaçãoexternadatíbiasobreo fêmur(fig.2-65),o côndiloexternoavançaso- breaglenóideexterna,enquantoo côndilointer- norecuanaglenóideinterna(fig.2-66). Durantea rotaçãointerna(fig.2-67)pro- duz-seo fenômenoinverso:o côndiloexterno recuanasuaglenóide,enquantoo internoavan- çanasuaprópria(fig.2-68). Os movimentosântero-posterioresdo côndilos nas suas glenóidescorrespondentes nãosãototalmentesemelhantes: - o côndilointerno(fig.2-69)sedesloca relativamentepouconaconcavidadeda glenóideinterna(1); - o côndiloexterno(fig.2-70)pelocon- trário,possuiumtrajeto(L) quaseduas vezesmaiorsobreaconvexidadedagle- nóideexterna.Duranteo seudesloca- mentona glenóidededianteparatrás, "ascende"primeironavertenteanterior, até o vérticeda "lombada",e depois descenovamentesobreavertenteposte- rior;deformaquemudade"altura"(e). A diferençadeformaentreasduasglenói- desrepercutena forma das espinhastibiais (fig. 2-71).Quandose realizaum cortehori- zontalXX' do maciçodasespinhas,pode-se constatarquea faceexternadaespinhaexterna é convexadedianteparatrás(comoaglenóide externa),enquantoa faceinternada glenóide internaé côncava(comoa glenóideinterna). Sea istojuntamosqueaespinhainternaéniti- damentemaisalta do quea externa,se pode compreenderquea espinhainternaformeuma espéciederessaltosobreoqualo côndilointer- no vai embater,enquantoo côndilo externo contornaa espinhaexterna.Por conseguinte,o eixoreal da rotaçãoaxial nãopassaentreas duasespinhastibiais, mas sim, no nível da vertentearticular da espinha interna que formao verdadeiropivô central.Este deslo- camentoparadentrosetraduz,justamente,por umtrajetomaiordo côndiloexterno,comovi- mosanteriormente. Fig.2-65 Fig.2-66 Fig.2-69 Fig.2-63 Fig.2-64 Fig.2-71 2. .\IEtvillRO INFERIOR 97 Fig.2-68 e Fig.2-70 98 FISIOLOGIA ARTICULAR A CÁPSULA ARTICULAR A cápsulaarticularé umabainhafibrosa quecontornaa extremidadeinferiordo fêmure aextremidadesuperiordatíbia,mantendo-asem contatoentresi e formandoasparedesnãoós- seasdacavidadearticular.Na suacamadamais profundaestárecobertapelasinovial. A forma geral da cápsula do joelho (fig.2-72)podeserentendidafacilmentesefor comparadacomumcilindroaoqualsedeprime a faceposteriorsegundoumageratriz(a seta indicaestemovimento).Assim se formaum septosagitalcujasestreitasrelaçõescomosli- gamentoscruzadosserãotratadasmaisadiante (verpág.126)e quequasedivide a cavidade articularemduasmetades,externae interna. Na faceanteriordestecilindroseabreumaja- nela,naqualvai"inserir-se"apatela.As mar- gensdo cilindroseinseremno fêmurnaparte decimaenatíbianapartedebaixo. A inserçãosobreo platôtibial é relativa- mentesimples(fig.2-73):passa(linhadepontos) paradianteeparaosladosexternoe internodas superfíciesarticulares;a inserçãoretroglenóide internaseunecoma inserçãotibial do LCPI; quantoà linharetroglenóideexterna,contornaa glenóideexternanoníveldasuperfícieretroes- pinhale sefundedenovocoma inserçãotibial doLCPI. Entreos doisligamentoscruzados,a cápsulaéinterrompidaeafendainterligamentar ficaocupadapelasinovialquerecobreosdoisli- gamentoscruzados;portanto,eles podemser consideradoscomoespessamentosdacápsulaar- ticularnaincisuraintercondiliana. A inserçãofemoraldacápsula(figs.2-74a 2-77)éumpoucomaiscomplexa: - pela frente(fig.2-74),ela contornaa fossetasupratroc1ear(Fs)porcima;nes- te local a cápsulaformaum profundo fundodesaco(figs.2-76e2-77), ofun- dodesacosubquadricipital(Fsq),cuja importânciaveremosmaisadiante(ver pág.108). - doslados(figs.2-74e 2-75),a inserção capsularsegueao longodasfacesarti- cularesdatróc1ea,ondeformaosfundos desacolátero-patelares(verpág.108), paradepoispercorreracertadistânciao limite cartilaginosodos côndilos,em cujas superfíciescutâneasdesenhaas rampascapsularesde Chevrier(Rch); no côndilqexterno,a inserçãocapsular passapor cimadafossetaondesefixao tendãodo poplíteo (Pop), a inserção destemúsculoé, assim,intracapsular (figs.2-147e2-232); - atráse emcima (fig.2-75),a linhade inserçãocapsularcontornaa margem póstero-superiorda cartilagemcondi- liana,justamentedebaixoda inserção dos gêmeos(Oe); a cápsularecobrea face profundadestesmúsculos,sepa- rando-osdoscôndilos,nestenível tem maiorespessuraeformaascalotascon- dilianas(Cco) (verpág.120); - na incisuraintercondiliana(figs.2-76 e 2-77,como fêmurserradono plano sagital),a cápsulasefixa na faceaxial doscôndilosemcontatocoma cartila- gem,e no fundoda incisura,de modo quepassadeumladoaooutrodacarti- lagem.Na faceaxialdocôndilointerno (fig.2-76),ainserçãocapsularpassape- la inserçãofemoraldoligamentocruza- do póstero-interno(LCPI). Na face axial do côndiloexterno(fig. 2-77),a cápsulasefixacoma inserçãofemoral do cruzadoântero-externo(LCAE). Tambémnestecaso,ainserçãodoscruza- dosseconfundepraticamentecomadacápsula, constituindoosreforçosdacápsula. Rch Fig.2-74 Fig.2-76 Fig.2-73 2. MEMBRO INFERIOR 99 Fig.2-75 100 FISIOLOGIA ARTICULAR oLIGAMENTO ADIPOSO, AS PREGAS, A CAPACIDADE ARTICULAR Entrea superfíciepré-espinhaldo platáti- bial,a faceposteriordoligamentomenisco-pate- lare aparteinferiordatróc1eafemoralexisteum espaçomorto(fig.2-78),ocupadopelocorpoadi- posodojoelhoequivalenteaumafaixavolumosa degordura.Estecorpoadiposo(1)temaformade umapirâmidequadrangular,cujabaserepousana faceposterior(2) do ligamentomenisco-patelar (3)esobressaidaparteanteriordasuperfíciepré- espinhal.Suafacesuperior(4)éreforçadaporum cordãocelularadiposoqueseestendedoápiceda pate1aaofundodaincisuraintercondiliana(figs. 2-78e2-79):éo ligamentoadiposo(5).Aoslados (fig.2-79,ojoelhoestáabertopelafrentee apa- telaestáseparada),o corpoadipososeprolonga paracimaaolongodametadeinferiordasmar- genslateraisdapate1aporestruturasadiposas:as pregasalares(6).O corpoadiposoagecomo"ta- pulho"naparteanteriordaarticulação;naflexão, eleficacomprimidopeloligamentopatelare so- bressaiemcadaladodapontadapate1a. O ligamentoadiposoé o vestígiodo septo médio,quenoembriãodivideemdoisaarticula- çãoatéaidadedequatromeses.No adultoexiste normalmente(fig.2-78)umhiatoentreoligamen- to adiposoe o septomédioformadopelosliga- mentoscruzados(setaI).Asmetadesexternaein- ternadaarticulaçãosecomunicamatravésdeste hiatoe tambémporumespaçosituadoacimado ligamento(setali) e atrásdapate1a.Às vezes,o septomédiopersistenoadultoeacomunicaçãosó seestabeleceacimadoligamentoadiposo. Estaformaçãotambémse denominaplica infrapatellarisouligamentomucoso.O sistema dasplicae(pluraldolatimplica)écomposto(fig. 2-83)detrêspregassinoviais,inconstantesporém muitofreqüentes:segundoDupont,presentesem 85%dosjoelhos.Naatualidade,sãobemconheci- dosgraçasà artroscopia: - aplica infrapatellaris(Pif),queprolon- gaocorpoadiposoinfrapatelar,existeem 65,5%doscasos; - aplica suprapatellaris(Psp),em55% dos casos;formaum septotransversal maisoumenoscompleto,acimadapate- Ia, podendosepararo fundo de saco subquadricipitaldacavidadearticular;ela sóépatológicaquandoobstruicompleta- menteo fundodesaco,provocandoum quadrode"hidrartrosesuspensa". - aplicamediopatellaris(Pmp)existeem 24%doscasos;podeformarumseptoin- completo,estendidohorizontalmenteda margeminternadapate1aatéofêmur,co- mo uma"prateleira"(shelfdos autores americanos).Ela pode provocar dor quandoasuamargemlivreirrita,poratri- to,amargeminternadocôndilointerno. Os problemascessamimediatamente comaressecçãoartroscópica. A capacidadearticularapresentavariações deimportância,tantonormaisquantopatológicas. Umderramepatológico- hidrartroseouhemar- trose- podeaumentá-Iaconsideravelmente(fig. 2-80),semprequeo derramesejaprogressivo;o líquidoseacumulanosfundosdesacosub-quadri- cipitais(Fsq)e látero-patelares,assimcomoatrás eabaixodascalotascondilianas,nosfundosdesa- cosretrocondilianos(Frc).Segundoaposiçãodo joelho,a distribuiçãodo líquidovaria:na exten- são(fig.2-81),os fundosdesacosretrocondilia- nosestãocomprimidospelosgêmeosemtensãoe o líquidosedeslocapara dianteacumulando-se nosfundosdesacossubquadricipitalelátero-pate- lares;naflexão(fig.2-82),sãoosfundosdesacos anterioresosqueestãocomprimidospeloquadrí- cepsemtensãoe o líquidosedeslocapara trás. Entrea flexãoe a extensãomáximas,existeuma posiçãodenominada"capacidademáxima"(fig. 2-80),naqualapressãodolíquidointra-articular émenor:éaposiçãodesemiflexãoqueadotam,de formaespontânea,ospacientescomderramearti- cular,porqueelaéamenosdolorosa. Em condiçõesnormais,a quantidadede lí- quidosinovial- ousinóvia- éescassa(apenas algunscentímetroscúbicos).Contudo,os movi- mentosdeflexão-extensãoassegurama limpeza permanentedassuperfíciesarticularespelasinó- via,o quecontribuiparaaboanutriçãodacartila- geme,principalmente,paraalubrificaçãodaszo- nasdecontato. 2.MEMBRO INFERIOR 101 - Frc LCAE Fsq Fig.2-82 Pmp Psp Pif Fig.2-78 5 1 3 2 Fig.2-83 Fig.2-79 102 FISIOLOGIA ARTICULAR OS MENISCOS INTERARTICULARES A não concordânciadassuperfíciesarticula- res(verpág.90)secompensapelainterposiçãodos meniscosou fibrocartilagenssemilunares,cuja formaé fácil de compreender(fig. 2-84):quando umaesfera(E) é colocadasobreumplano(P), ela só entraemcontatocomo planoatravésdo ponto tangencial.Se queremosaumentara superfíciede contatoentreambas,é suficienteinterporum anel querepresenteo volumecompreendidoentreopla- no,aesferae o cilindro(C) tangencialàesfera.Es- teanel(espaçodecorcinza)temamesmaformade ummenisco,triangularquandoéseccionado,com suastrês faces(fig.2-85,os meniscosforamdes- locadosparacimadasglenóides): - superior (1) côncava,em contatocom os côndilos; - periférica(2)cilíndrica,sobreaqualsefi- xa a cápsula(representadapelos traços verticais)pelasuafaceprofunda; - inferior (3) quaseplana,situadanaperife- ria da glenóideinterna(GI) e daglenóide externa(GE). Estesanéisestãointerrompidosao nível das espinhastibiaiscomumaformadeumameia-lua, comum como anteriore outroposterior.Os cor- nosdomeniscoexternoestãomaispróximosentre si queos do interno,alémdisso,o meniscoexter- noforma umanelquasecompleto- tema forma de O - enquantoo internoseparecemais com umameia-lua- tema formadeC -. Comonor- mamnemônicaé simplesusarapalavraCItrOEn, paralembrara formadosmeniscos. Os meniscosnão estãolivres entreas duas superfíciesarticulares,masmantêmconexõesmui- to importantesdopontodevistafuncional: - já vimosa inserçãodacápsula(fig.2-86) nafaceperiférica; - cadaumdoscornossefixanoplatô tibial, no nível da superfíciepré-espinhal(cor- nos anteriores)e retroespinhal(cornos posteriores): - o como anteriordo meniscoexterno (4),pelafrentedaespinhaexterna; - o como posteriordo mesmomenisco (5),por trásdaespinhaexterna; - o como posteriordo meniscointerno (7), no ângulopóstero-internoda su- perfícieretroespinhal; - o como anteriordo mesmomenisco (6),no ânguloântero-internodasuper- fície pré-espinhal; - os dois cornosanterioresse unempelo ligamentojugal (8) ou transverso,fixa- do à pa.telaatravésdos tratosdo corpo adiposo; - as asasmenisco-patelares(9), fibrasque seestendemdeambasasmargensdapate- Ia (P) atéasfaceslateraisdosmeniscos; - o ligamentolateral interno(LU) fixa as suasfibrasmaisposterioresnamargemin- ternado meniscointerno; - pelocontrário,o ligamentolateralexterno (LLE) estáseparadode seumeniscopelo tendãodomÚsculopoplíteo(Pop),queen- via umaexpansãofibrosa (10)à margem posteriordomeniscoexterno;formandoo quealgunsdenominamo pontodo ângu- lo póstero-externoou PAPE e quedes- creveremosmais adiantequandotratar- mosdasdefesasperiféricasdojoelho; - o tendãodo semimembranoso(11) tam- bémenviaumaexpansãofibrosaà mar- gem posteriordo menisco(nterno:for- mandosimetricamenteo ponto do ângu- lo póstero-internoou PAPI; - finalmente,diferentesfibrasdo ligamen- to cruzadopóstero-internose fixam no comoposteriordo meniscoexternopara formar o ligamento menisco-femoral (12).Tambémexistemfibrasdoligamen- to cruzadoântero-externoque se fixam no corno anterior do menisco interno (fig. 2-152). Os cortesfrontais(fig.2-86)e sagitaisinter- nos (fig. 2-87)e externos(fig. 2-88)mostramco- mo os meniscosse interpõementreos côndilose as glenóides,excetono centrodecadaglenóidee nasespinhastibiais,e cornoos meniscoslimitam doisespaçosnaarticulação:o espaçosupramenis- cale o espaçosubmeniscal(fig.2-86). p 2 6 4 LU Fig.2-87 GI 5 7 Fig.2-85 Fig.2-86 2.MEMBRO INFERIOR 103 Fig.2-84 Fig.2-88 104 FISIOLOGIA ARTICULAR OS DESLOCAMENTOS DOS MENISCOS NA FLEXÃO-EXTENSÃO Vimos(pág.94)anteriormentequeo pontode contatoentreos côndilose asglenóidesrecuasobre asglenóidesno casodafiexãoe avançano casoda extensão;osmeniscosseguemestemovimento,como se podeconstatarperfeitamentenumapreparação anatômicana qualse conservaramapenasos liga- mentoseosmeniscos.Emextensão(fig.2-89),apar- teposteriordasglenóidesestádescoberta,principal- menteaglenóideexterna(GE).Emflexão(fig.2-90), osmeniscos(Me e Mi) cobrema parteposteriorda glenóide,principalmenteo meniscoexternoquedes- cepelavertenteposteriordaglenóideexterna. Umavistasuperiordosmeniscossobreasgle- nóidesmostraquea partirdaposiçãodeextensão (fig.2-91),osmeniscosrecuamdemaneiradesigual: nafiexão(fig.2-92),o meniscoexterno(Me) recua duasvezesmaisdoqueo interno.De fato,o trajeto domeniscointernoéde6mm,enquantoo doexter- noéde 12mm. Os esquemasmostram,além disso,que, ao mesmotempoquerecuam,os meniscosse defor- mam.Istosedevea queelestêmdoispontosfixos,os seuscomos,enquantoo remanescenteé móvel.O meniscoextemosedeformaesedeslocamaisdoque o intemo,vistoqueas inserçõesdeseuscomoses- tãomaispróximas. Certamente,osmeniscosdesempenhamumpa- pel importantecomomeiosdeuniãoelásticostrans- missoresdasforçasdecompressãoentrea tíbiae o fêmur(setaspretas,figs.2-94e 2-95):é necessário destacarque,naextensão,oscôndilostêmo seuraio decurvaturamaiornasglenóides(fig.2-93)eosme- niscosestãopeifeitamenteintercaladosentreassu- perfíciesarticulares.Estesdoiselementosfavorecem a transmissãodasforças de compressãodurantea extensãomáximadojoelho.Contudo,nocasodafie- xão,os côndilostêmo seumenorraiodecurvatura nasglenóides(fig.2-96)e osmeniscosperdempar- cialmenteo contatocomos côndilos(fig.2-98):es- tesdoiselementos,juntocoma distensãodosliga- mentoslaterais(verpág.114),favorecema mobili- dadeemdetrimentodaestabilidade. Depoisdeterdefinidoosmovimentosdosme- niscos,vão-seexporos fatoresqueintervêmneles. Podem-seclassificaremdoisgrupos:osfatorespas- sivose osativos. Só existeum fatorpassivodo movimentode translaçãodosmeniscos:oscôndilosempurramos meniscosparadiante,comoumcaroçodecerejaque fogeentredoisdedos.Estemecanismo,quepodepa- recermuitosimples,émuitoevidentequandosemo- bilizaumapreparaçãoanatômicanaqualforameli- minadastodasasconexõesdosmeniscos,excetoas inserçõesdoscornos(figs.2-89e 2-90):assuperfí- ciessãomuitodeslizantese a "esquina"domenisco éexpulsaentrea"roda"docôndiloea"base"dagle- nóide(portanto,setratadeumacunhacompletamen- teineficaz). Os fatoresativossãonumerosos: - durante..aextensão(figs.2-94e 2-95),os meniscossedeslocamparadiantegraçasàs asasmeniscQ-patelares(1) tensaspelo as- censodapatela(verpág.112),quearrasta tambémo ligamentojugal. Além disso,o cornoposteriordo meniscoexterno(fig.2- 95)éimpulsionadoparadiantedevidoàten- são do ligamentomenisco-femoral(2), si- multâneaà tensãodo ligamentocruzado póstero-interno(verpág.134); - durantea ftexão: - o meniscointemo(fig. 2-97) é impul- sionadoparatráspelaexpansãodo se- mimembranoso(3),queseinserena sua margemposterior,enquantoo comoante- rior é impulsionadopelasfibrasdo liga- mentocruzadoântero-extemo(4)quese dirigematéele; - o meniscoextemo(fig. 2-98)é impul- sionadoparatráspelaexpansãodopoplí- teo(5). A funçãodearticulaçãodetransmissãodeforças decompressãoentreo fêmureatíbiafoi subestimada atéqueosprimeirospacientessubmetidosaumame- niscectomia"deprincípio"começaramasofrerartrose antesda idadehabitual,emcomparaçãocomos pa- cientesquenãoforamoperadosdemeniscectomia.A chegadadaartroscopiasupõeumgrandeprogresso, vistoque,porumaparte,permitiuconhecermelhoras lesõesmeniscaisduvidosasnaartrografia,ouosfalso- positivos,quederivavamnumameniscectomia"à-toa" (naqualseremoviaomeniscoparaverseestavalesa- do!),e,poroutraparte,fezpossívelameniscectomia "àIacarte",naqualseextirpaapenasapartelesadado meniscoqueprovocaaalteraçãomecânicaequepode sercausadeumalesãodassuperfíciescarti1aginosas. Tambémpermiteentenderquea lesãomeniscalé so- menteumapartedodiagnóstico,vistoquecommuita freqüênciaa lesãoligamentaré aqueproduzaomes- motempoalesãomenisca1ealesãocarti1aginosa.
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