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Direito Constitucional I_material de apoio aos alunos

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CONSTITUCIONALISMO
1. Introdução e conceito
Segundo Novelino, o constitucionalismo nada mais é senão uma história da evolução do Direito Constitucional. Em um sentido amplo, o constitucionalismo surge desde o primeiro Estado (todo Estado teria uma Constituição - em sentido bem amplo). Acontece que o termo “constitucionalismo”, tecnicamente, também é utilizado de maneira estrita.
Segundo Uadi Lammêgo Bulos: 
Em sentido amplo ( “Constitucionalismo é o fenômeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma Constituição em qualquer época da humanidade, independentemente do regime jurídico adotado”. 
Já em sentido restrito ( “É a técnica jurídica de tutela das liberdades, surgida nos fins do Séc. XVIII, que possibilitou aos cidadãos exercerem, com base em constituições escritas, os seus direitos e garantias fundamentais”.
Três são as idéias básicas associadas ao constitucionalismo:
1ª – Garantia de direitos;
2ª – Separação de poderes;
3ª – Princípio do governo limitado.
Segundo Karl Lowenstein, a história do constitucionalismo nada mais é do que a busca do homem político pela limitação do poder. Assim, é possível afirmar que o constitucionalismo se contrapõe ao absolutismo.
Ensina Alexandre de Moraes: “A origem formal do constitucionalismo está ligada às Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos da América, em 1787, após a Independência das 13 Colônias, e da França, em 1791, a partir da Revolução Francesa, apresentando dois traços marcantes: organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais”.
Ressalta Jorge Miranda: “O Direito Constitucional norte-americano não começa apenas nesse ano. Sem esquecer os textos da época colonial (antes de mais, as Fundamental orders of Connecticut de 1639), integram-no, desde logo, no nível de princípios e valores ou de símbolos a Declaração de Independência, a Declaração de Virgínia e outras Declarações de Direitos dos primeiros Estados”.
Explica Pedro Lenza: “Canotilho identifica vários constitucionalismos, como o inglês, o americano e o francês, preferindo falar em ‘movimentos constitucionais’. Em seguida, define o constitucionalismo como uma ‘teoria ou ideologia que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade’”.
Neste sentido, o constitucionalismo moderno representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. O conceito de constitucionalismo transporta claro juízo de valor, tratando-se, no fundo, de uma teoria normativa da política.
Kildare Gonçalves Carvalho, por seu turno, vislumbra tanto uma perspectiva jurídica como uma sociológica:
Em termos jurídicos, reporta-se a um sistema normativo, enfeixado na Constituição, e que se encontra acima dos detentores do poder;
Sociologicamente, representa um movimento social que dá sustentação à limitação do poder, inviabilizando que os governantes possam fazer prevalecer seus interesses e regras na condução do Estado’.
André Ramos Tavares identifica quatro sentidos para o constitucionalismo:
Movimento político-social com origens históricas bastante remotas que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário;
Imposição de que haja cartas constitucionais escritas;
Propósitos mais latentes e atuais da função e posição das constituições nas diversas sociedades;
Evolução histórico-constitucional de um determinado Estado.
Arremata LENZA: “partindo-se da idéia de que todo Estado deva possuir uma Constituição, avança-se no sentido de que os textos constitucionais contêm regras de limitação ao poder autoritário e de prevalência dos direitos fundamentais, afastando-se da visão autoritária do antigo regime”.
2. Fases
Algumas são as fases do constitucionalismo:
2.1 CONSTITUCIONALISMO ANTIGO
Quatro grandes experiências da antiguidade clássica são importantes:
1ª - Constitucionalismo hebreu (Estado teocrático)
“Karl Loewentein identificou, entre os hebreus, timidamente, o surgimento do constitucionalismo, estabelecendo-se no Estado teocrático limitações ao poder público ao assegurar aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites bíblicos” (LENZA).
No Estado hebreu, os dogmas religiosos consagrados na Bíblia eram vistos como limitações ao governo.
2ª – Grécia Antiga (Democracia constitucional)
Na Grécia antiga houve a forma mais avançada de governo que já se teve notícia até hoje, denominada democracia constitucional. 
Nesta, havia a identidade plena entre governantes e governados, no qual o poder público está igualmente distribuído entre todos os cidadãos ativos.
3ª – Roma (Idéia de liberdade)
Em Roma, a idéia de liberdade era fundamental. Segundo Ihering, em nenhum outro direito a idéia de liberdade foi concebida de forma tão correta e tão digna quanto no Direito Romano.
4ª – Inglaterra (Rule of Law)
Obs.: há quem, como Uadi, coloque esta fase dentro do chamado “constitucionalismo medieval”.
Na Inglaterra surgiu uma expressão (recentemente cobrada em certame do MP/MG) chamada rule of law. Tal expressão possui origem na Magna Carta inglesa (1215), documento precursor de todas as futuras Declarações de Direitos, já que representa, breve síntese, a necessidade de submissão do governo às leis.
Tal expressão é traduzida como “governo das leis”, em substituição ao governo dos homens. Trata-se de um pressuposto básico da Democracia, marco do constitucionalismo, donde se extraem as seguintes contribuições: 
Limitação ao poder arbitrário (apesar de não ter uma constituição escrita, muitos pactos foram celebrados entre cidadãos e governantes, com o escopo de limitar o poder arbitrário: sujeição à lei e ao parlamento etc.).
Igualdade dos cidadãos ingleses perante a lei
Artigo: Você sabe o que significa o princípio "rule of law"? - Lilia Loffredo 20/08/2008
Autor: Lília de Castro Monteiro Loffredo; 
A resposta à indagação remonta à primeira manifestação concreta do constitucionalismo: a Magna Carta Libertatum. Na Inglaterra, ano de 1215, o Rei João Sem Terra foi coagido pelos barões ingleses a prometer obediência à Magna Carta Libertatum, por eles idealizada. Esse precioso documento pode ser considerado o principal precursor de todas as futuras Declarações de Direitos, eis que representa a autoridade do governo exercida em concordância com as leis existentes.
José Joaquim Gomes Canotilho entende que mesmo com as variações do princípio "rule of law" no tempo, o instituto contém quatro dimensões bem nítidas: The rule of law significa, em primeiro lugar, na seqüência da Magna Charta de 1215, a obrigatoriedade da observância de um processo justo E legalmente regulado, quando se tiver de julgar e punir os cidadãos, privando-os de sua liberdade e propriedade.
Em segundo lugar, IMPORTA NA proeminência das leis e costumes do país perante a discricionariedade do poder real. Por conseguinte, aponta para a sujeição de todos os actos do executivo à soberania do parlamento.
E, Por fim, Rule of Law terá o sentido de igualdade de acesso aos tribunais por parte dos cidadãos a fim destes aí defenderem os seus direitos segundo os princípios de direito comum dos ingleses (Common Law) e perante qualquer entidade (indivíduos ou poderes públicos). Analisando a questão mais a fundo, verifica-se que o "rule of law" tem como verdadeiro substrato o princípio da legalidade. Nessa esteira de pensamento, tem-se que um Estado que não respeita os direitos humanos ou, até mesmo, não se pauta na democracia pode muito bem existir sem o princípio "rule of law". Todavia, trata-se de preceito considerado pressuposto lógico da Democracia, que se revela como verdadeira garantia contra o despotismo ao se firmar como suporte legal ao Estado Democrático de Direito.
2.2 CONSTITUCIONALISMO CLÁSSICO (OU LIBERAL) – Final do séc. XVIII
O constitucionalismoclássico (também chamado de liberal) tem como marco histórico o final do séc. XVIII, com as revoluções liberais. (LENZA faz alusão a este como “constitucionalismo moderno durante a Idade Contemporânea”).
Pergunta-se: qual o valor preponderante do liberalismo?
O principal valor pelo qual se lutava neste período era a liberdade, através da limitação do poder do Estado. Defendiam-se, pois: o individualismo, o absenteísmo estatal, valorização da propriedade privada e proteção do indivíduo.
Foi a partir do constitucionalismo clássico que as constituições escritas passaram a surgir. Vejamos:
Em 1776, surge, nos EUA, a primeira constituição escrita (Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia). 
Segundo Kildare Carvalho, os indícios/antecedentes do constitucionalismo na América são: 
os contratos de colonização, marcantes na história das colônias da América do Norte (Compact e as Fundamental Orders of Connecticut); 
a Declaration of Rights do Estado da Virgínia, de 1776, seguida pelas Constituições das ex-colônias britânicas da América do Norte, Constituição da Confederação dos Estados Americanos, de 1781.
Constituição Americana de 1787 (atual) ( Duas foram as principais contribuições do constitucionalismo americano, símbolo do constitucionalismo clássico:
Supremacia constitucional: segundo a idéia americana, a Constituição é suprema, por ser ela a responsável por estabelecer as “regras do jogo”. Pergunta-se: que jogo é este? O jogo político, de que são partes o legislativo, o executivo e o judiciário. Por uma questão lógica, a Constituição deve estar acima destes.
Obs.: o controle de constitucionalidade difuso surgiu nos EUA em 1803.
Não se pode falar, ainda nesta época, em força normativa da Constituição, que passa a surgir apenas no neoconstitucionalismo.
Garantia jurisdicional: o judiciário passou a ser escolhido para exercer a função de garantia da Constituição, justamente por ser o poder mais neutro politicamente. Daí porque entendem os americanos que o sistema jurisdicional é o mais indicado.
Obs.: o constitucionalismo não é antidemocrático, mas, muitas vezes, desempenha um papel contramajoritário. Democracia, num sentido material, não é apenas vontade da maioria, mas sim vontade da maioria + proteção de direitos das minorias.
Constituição Francesa de 1791. Trata-se da primeira constituição escrita da Europa, criada 2 anos após a Revolução Francesa. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, por sua vez, criada em 1789, passou a integrar o preâmbulo da Constituição Francesa.
Na Declaração Universal, dois são os pilares:
Garantia de direitos
Separação de poderes
Ensina Pedro Lenza: “Podemos destacar, então, neste primeiro momento, na concepção do constitucionalismo clássico, os seguintes valores: individualismo, absenteísmo estatal, valorização da propriedade privada e proteção do indivíduo. Essa perspectiva, para se ter um exemplo, influenciou profundamente as Constituições brasileiras de 1824 e 1891.
Conforme falamos, a concepção liberal (de valorização do indivíduo e afastamento do Estado) gerará concentração de renda e exclusão social, fazendo com que o Estado passe a ser chamado para evitar abusos e limitar o poder econômico.
Evidencia-se, então, aquilo que a doutrina chamou de segunda geração (ou dimensão) de direitos e que teve como documentos marcantes a Constituição do México de 1917 e a de Weimar de 1919, influenciando, profundamente, a Constituição brasileira de 1934 (Estado social de direito)”.
2.3 CONSTITUCIONALISMO MODERNO (OU SOCIAL)
O constitucionalismo moderno surge a partir do esgotamento fático da visão liberal, incapaz de atender as demandas por direitos sociais surgidas no fim do séc. XIX. Seu marco histórico é o final da 1ª Guerra Mundial.
Pergunta-se: qual o valor preponderante do constitucionalismo moderno/social?
A redução das desigualdades. Segundo doutrinadores como Paulo Bonavides e Ingo Sarlet, os direitos sociais de igualdade são pressupostos dos direitos de liberdade. Cuida-se, aqui, da igualdade material, merecendo destaque as ações positivas, em contraposição à igualdade meramente formal.
Conforme já explicitado, a concepção liberal (de valorização do indivíduo e afastamento do Estado) gerou concentração de renda e exclusão social. Assim, o Estado voltou a ser chamado para evitar abusos e limitar o poder econômico.
Surge, deste modo, a segunda geração (ou dimensão) de direitos e que teve como documentos marcantes a Constituição do México de 1917 e a de Weimar de 1919, influenciando, profundamente, a Constituição brasileira de 1934 (Estado social de direito).[
Biscaretti Di Ruffia, em obra de direito constitucional comparado, fala sobre os chamados ciclos constitucionais (constituições semelhantes surgidas em momentos iguais). O autor aponta, dentro do constitucionalismo moderno, quatro ciclos constitucionais:
1º ciclo ( Constituições da democracia marxista ou socialista. Trata-se do primeiro grupo de constituições, adotadas na antiga URSS e por alguns países da América Latina. Apesar da nomenclatura, são constituições autoritárias.
2º ciclo ( Democracia racionalizada. Nestas constituições, o iluminismo foi grande influente. Ex.: Constituição Austríaca de 1920
3º ciclo ( Constituições da democracia social. Ex.: Constituição Francesa, Espanhola, Italiana, Portuguesa, Alemã etc.
4º ciclo ( Constituições de países subdesenvolvidos
2.4 CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO (NEOCONSTITUCIONALISMO)
É denominado, por parte da doutrina, de neoconstitucionalismo. Há autores que negam a existência do neoconstitucionalismo; outros o defendem (ex.: Barroso); por fim, há aqueles que admitem sua existência, mas o criticam.
Seu marco histórico é o fim da Segunda Guerra. A partir de então, o neoconstitucionalismo está se desenvolvendo até hoje. Após a Segunda Guerra, se percebeu que o positivismo e a legalidade estrita poderiam justificar a barbárie, arbitrariedades, já que não se preocupavam com o conteúdo do direito, mas sim a sua forma. O Estado nazista, p. ex., era um Estado de legalidade. 
Ensina Lenza: “a doutrina passa a desenvolver, a partir do início do século XXI, uma nova perspectiva em relação ao constitucionalismo, denominada neoconstitucionalismo, ou para alguns, constitucionalismo pós-moderno, ou, ainda, pós-positivismo”. 
Busca-se, dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o constitucionalismo à idéia de limitação do poder político, mas, acima de tudo, buscar a eficácia da Constituição, deixando o texto de ter um caráter meramente retórico e passando a ser mais efetivo, especialmente diante da expectativa de concretização dos direitos fundamentais.
Dentre suas principais características, podem ser mencionados: a) a positivação e concretização de um catálogo de direitos fundamentais; b) a onipresença dos princípios e das regras; c) inovações hermenêuticas; d) densificação da força normativa do Estado; e) desenvolvimento da justiça distributiva.
Pergunta-se: quais são as suas causas?
1ª – Dignidade da pessoa humana
Praticamente todas as constituições surgidas após a Segunda Guerra consagraram expressamente a dignidade da pessoa humana como valor constitucional supremo. Assim, firmou-se a idéia segundo a qual o ser humano não é um meio para o Estado atingir seus fins, mas o contrário: o Estado é que é o meio para os seres humanos atingirem seus fins.
2ª – Rematerialização das constituições
As constituições passaram a consagrar conteúdos que até então não consagravam. Ex.: diretrizes políticas, opções políticas. Houve a consagração de um extenso rol de direitos fundamentais. Tais direitos passaram a existir exatamente para consagrar a dignidade da pessoa humana.
3ª – Força normativa da Constituição
Até este período, a Constituição era vista muito mais como um documento político do que propriamente como um documento jurídico/vinculante/obrigatório. A partir de 1949, com a obra do alemão Konrad Hesse (“a força normativada Constituição”), passou-se a consagrar esta idéia. 
Até então, as declarações de direitos que existiam eram concebidas como conselhos ao legislador, e não como normas jurídicas obrigatórias, vinculantes. Com o reconhecimento da força normativa da Constituição, os direitos fundamentais passaram a ser vistos como normas vinculantes, obrigatórias.
Pergunta-se: quais as modificações trazidas pelo constitucionalismo contemporâneo?
1ª - Teoria da norma
Na teoria da norma, a principal modificação diz respeito aos princípios. Estes sempre foram tratados como algo diferente de norma. A mudança de entendimento, neste ponto, é a seguinte: dentro da expressão “norma jurídica” inserem-se não apenas regras, mas também os princípios.
Segundo Paulo Bonavides, os princípios gerais do direito encontravam-se no grau mais baixo de normatividade, passando, hodiernamente, a figurar no topo. Qual a razão disso? No Brasil, alguns diplomas informam os meios de integração das normas jurídicas. Os princípios gerais do direito, na nossa legislação, ocupam o último lugar dos meios de integração, atrás da analogia e dos costumes.
Pergunta-se: qual a diferença básica entre regra e princípio?
As regras podem ser aplicadas de forma automática, através da subsunção. Os princípios, por seu turno, não são aplicados através da subsunção, mas sim da ponderação. Podem, portanto, ser momentaneamente afastados no caso concreto. Segundo os neoconstitucionalistas, hoje há uma aplicação maior de princípios do que regras.
Crítica: hoje há uma euforia muito grande em torno dos princípios. Mas é preciso atentar: diante de uma regra específica e um princípio genérico, aplica-se este último, salvo se a norma for inválida.
2ª – Teoria das fontes do direito
Os neopositivistas/neoconstitucionalistas costumam dizer que o principal protagonista era o legislador. Hoje, o principal protagonista é o Poder Judiciário. Isso porque é o juiz que assegura a supremacia da Constituição.
Hoje se fala muito em um ativismo judicial, principalmente em relação ao STF. Exemplo claro: mudança de entendimento com relação ao mandado de injunção. Fala-se, ainda, na chamada judicialização das relações políticas e sociais. 
O conceito de judicialização da política é fornecido por Tate e Vallinder, nos seguintes termos: “Judicialização é a reação do Judiciário frente à provocação de um terceiro e tem por finalidade revisar a decisão de um poder político tomando como base a Constituição.”.
A expressão “judicialização da política” ou “politização da justiça” passou a compor o cenário das ciências jurídicas e sociais em diversos paises do mundo e “indicam os efeitos da expansão do Poder Judiciário no processo decisório das democracias contemporâneas. Judicializar a política é valer-se de métodos típicos da decisão judicial na resolução de disputas e demandas nas arenas políticas em dois contextos: a) ampliação das áreas de atuação dos tribunais pela via do Poder de Revisão de ações legislativas e executivas e b) introdução ou expansão de staff judicial ou de procedimentos judiciais no Executivo (como nos contenciosos tributários) e no Legislativo (como é o caso das Comissões Parlamentares de Inquérito)”.
Por outro lado, quando se fala em judicialização das relações sociais, afirma-se que o Poder Judiciário se imiscui e decide sobre quase todas as questões sociais, o que é passível de críticas.
3ª – Teoria da interpretação
Duas mudanças são expressivas. A primeira diz respeito à mudança de métodos de interpretação. Passou-se a se observar que os métodos tradicionais de interpretação não eram suficientes para resolver os problemas e questionamentos modernos. 
Segundo Luis Roberto Barroso, toda interpretação jurídica é também uma interpretação constitucional. De fato, todo juiz, para aplicar uma lei, deve fazer prévia análise de compatibilidade desta com a Constituição. Há, assim, o que se chama de aplicação indireta negativa da CF.
A aplicação indireta finalística da CF, por seu turno, tem lugar quando se realiza a chamada interpretação conforme a Constituição.
CESPE: qual a diferença entre princípios matérias e instrumentais?
Os princípios materiais são aqueles consagrados no texto constitucional. Ex.: princípio da igualdade, legalidade etc.
Já os princípios instrumentais não estão consagrados na lei, consistindo em critérios de interpretação estabelecidos pela doutrina e jurisprudência. Ex.: princípio da supremacia da Constituição. 
Ensina Pedro Lenza: “O constitucionalismo contemporâneo está centrado naquilo que Uadi Lammêgo Bulos chamou de ‘totalitarismo constitucional’, consectário da idéia de constituição programática, e que tem como bom exemplo a CF/88.
Fala-se em totalitarismo constitucional na medida em que os textos sedimentam um importante conteúdo social, estabelecendo normas programáticas (programas de governo) e se destacando aquela idéia de constituição dirigente defendida por Canotilho.
Destacamos, também, o surgimento da idéia de proteção aos direitos de fraterninadade ou solidariedade, que são conceituados pela doutrina como direitos de terceira dimensão ou geração [rematerialização da Constituição], destacando-se: ‘... os direitos à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao meio ambiente, e qualidade de vida, bem como o direito à conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural e o direito de comunicação.”
O totalitarismo constitucional é marca do constitucionalismo contemporâneo, em que a Constituição assume um papel de maior relevância, prevendo, inclusive, programas de governo, através das chamadas normas programáticas. Tem-se, aqui, o que Canotilho denomina de Constituições dirigentes”.
Convém fazer um quadro esquemático dos marcos fundamentais do neoconstitucionalismo, trazido por Pedro Lenza:
	Marcos fundamentais
	Histórico
	Filosófico
	Teórico
	Estado Constitucional de Direito;
Documentos a partir da Segunda Guerra Mundial;
Redemocratização.
	Pós-positivismo;
Direitos fundamentais;
Direito-ética.
	Força normativa (Konrad Hesse);
Supremacia da Constituição;
Nova dogmática da interpretação constitucional
2.5 CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO (JOSÉ ROBERTO DROMI)
Quem utiliza a expressão “constitucionalismo do futuro” é um autor argentino chamado José Roberto Dromi. 
Grave: tal idéia busca um equilíbrio entre as características marcantes do constitucionalismo moderno e os excessos praticados pelo constitucionalismo contemporâneo.
Consoante assinala Dromi, o futuro do constitucionalismo deve “estar influenciado até identificar-se com a verdade, a solidariedade, o consenso, a continuidade, a participação, a integração e a universalização”, alcançando um ponto de equilíbrio as concepções extraídas do constitucionalismo moderno e os excessos do constitucionalismo contemporâneo.
Os valores acima apontados, e que marcarão, certamente, o constitucionalismo do futuro, podem ser assim resenhados:
Verdade – as constituições não mais conterão promessas impossíveis de serem realizadas, nem consagrarão mentiras. Para tanto, o referido publicista argentino analisa as normas que, de natureza programática, encerram projetos inalcançáveis pela maioria dos Estados, defendendo a necessidade de sua erradicação dos textos constitucionais. Por isso é que o constitucionalismo será verdadeiro, transparente e eficaz (não às normas programáticas inalcançáveis!);
Solidariedade – as constituições do futuro aproximar-se-ão de uma nova idéia de igualdade, baseada na solidariedade dos povos, na dignidade da pessoa humana e na justiça social, com a eliminação das discriminações;
Continuidade – é muito perigoso em nosso tempo conceber constituições que produzam uma ruptura da denominada lógica dos antecedentes, pelo que as reformas constitucionais, embora objetivando adaptar os textos constitucionais às exigências da realidade, ocorrerão com ponderação e equilíbrio, dando continuidade ao caminho traçado;
Participação –o povo e os corpos intermediários da sociedade participarão de forma ativa, integral e equilibrada no processo político (democracia participativa) eliminando-se, com isso, a indiferença social;
Integração – haverá integração, prevista nas constituições, mediante cláusulas que prevejam órgãos supranacionais, dos planos interno e externo do Estado, refletindo a integração espiritual, moral, ética e institucional dos povos;
Universalização – os direitos fundamentais internacionais serão previstos nas constituições do futuro, com a prevalência universal da dignidade do homem, e serão eliminadas quaisquer formas de desumanização.
Consenso – a constituição do futuro deve ser fruto de consenso democrático;
3 – ADE (verdade, solidariedade, continuidade);
3 – AO (integração, participação, universalização);
1 – O (consenso).
Equilíbrio: constitucionalismo moderno (social) + contemporâneo (direitos de 3ªg)
Explica LENZA:
O constitucionalismo do futuro sem dúvida terá de consolidar os chamados direitos humanos de terceira dimensão, incorporando à idéia de constitucionalismo social os valores do constitucionalismo fraternal e de solidariedade, avançando e estabelecendo um equilíbrio entre o constitucionalismo moderno e alguns excessos do contemporâneo.
OBS.: CONSTITUCIONALISMO E SOBERANIA POPULAR (PEDRO LENZA)
A idéia de que todo Estado deva possuir uma Constituição e que esta deve conter limitações ao poder autoritário e regras de prevalência dos direitos fundamentais desenvolve-se no sentido de consagração de um Estado Democrático de Direito (art, 1º, caput, da CF/88) e, portanto, soberania popular
Art. 1º, CF: “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Vale dizer: mencionado artigo distingue titularidade de exercício do poder. O titular é o povo; o exercício, como regra, dá-se através dos representantes do povo: Deputados Federais (âmbito federal), os Deputados Estaduais (âmbito estadual) e os Vereadores (âmbito municipal). Lembramos, desde já, que os Senadores da República Federativa do Brasil representam os Estados-membros e o Distrito Federal, de acordo com o art. 46 da CF/88.
II. Constituição
1. Concepções de constituição
As concepções nada mais são do que análises do fundamento das constituições. Convém decorar os autores de cada uma delas:
1.1 Concepção sociológica 
Seu principal expoente é o alemão Ferdinand Lassale O autor faz uma distinção entre dois tipos de constituição existentes: 
a) Real ou efetivA
A definição clássica cobrada em concursos é a seguinte: “a constituição real/efetiva é a soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada nação.”. Ao lado da escrita, todo Estado possui uma constituição real, que é aquela daqueles que, de fato, detêm o poder. 
b) Escrita
A constituição escrita, diz Lassale, não passa de uma folha de papel. Se ela se afasta da realidade, não possui qualquer legitimidade (“uma Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder” LENZA).
1.2 Concepção política
Seu principal expoente é o alemão CARL SCHMITT. Para ele, o fundamento da constituição não está na sociologia, mas na política. Adota-se, aqui, um conceito decisionista de Constituição. Diferenciam-se constituição e leis constitucionais: 
Constituição propriamente dita ( É apenas aquilo que decorre de uma decisão política fundamental (decisão política do titular do poder constituinte). As matérias constitucionais (matérias clássicas de uma Constituição) são:
Direitos fundamentais;
Estrutura do Estado;
Organização dos poderes.
Leis Constitucionais ( Todo o restante consagrado no texto constitucional são apenas leis constitucionais (ex.: art. 242, §2º da CF/88: § 2º - “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal”.).
Essas matérias constitucionais são aquilo que Carl Schmitt chama de decisão política fundamental e, portanto, constituição propriamente dita. Explica LENZA: “Constituição, conforme pondera José Afonso da Silva ao apresentar o pensamento do Schmitt, ‘... só se refere à decisão política fundamental (estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática etc.)”.
Questão do CESPE: as normas relativas aos fins do Estado são apenas formalmente constitucionais. CORRETO.
Tais normas, que consagram os fins do Estado, são normas programáticas. Mas atente: as normas programáticas não existiam nas constituições clássicas, espécie constitucional que trazia/traz em seu bojo apenas matérias materialmente constitucionais.
AULA 02. DIREITO CONSTITUCIONAL.
Data: 13.02.2009
1.3 Concepção jurídica (Hans Kelsen e Konrad Hesse)
A. Hans Kelsen 
Constituição em sentido jurídico é aquela compreendida de uma perspectiva estritamente formal. Hans Kelsen, jurista austríaco, considera a Constituição como norma, e norma pura, como puro dever-ser, sem qualquer consideração de cunho sociológico, político ou filosófico. 
Kelsen desenvolveu dois sentidos para a palavra Constituição: a) um sentido lógico-jurídico e b) um sentido jurídico-positivo.
Em sentido lógico-jurídico, a Constituição significa a norma fundamental hipotética (pensada, pressuposta), cuja função é servir de fundamento da validade da Constituição em sentido jurídico-positivo. Essa norma fundamental hipotética, fundamento da Constituição positiva, teria, basicamente, o seguinte comando: conduza-se na forma ordenada pelo autor da primeira Constituição. Como Kelsen não admitia como fundamento da Constituição positiva algo de real, foi obrigado a desenvolver este fundamento meramente formal.
Em sentido jurídico-positivo, a Constituição corresponde à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, sem qualquer consideração de cunho sociológico, político ou filosófico. Seu fundamento é a norma fundamental hipotética.
Com efeito, Ensina Pedro Lenza: “Hans Kelsen é o representante deste sentido conceitual, alocando a Constituição no mundo do dever ser, e não no mundo do ser, caracterizando-a como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais”.
Citando José Afonso, o autor acrescenta: “[...] A concepção de Kelsen toma a palavra Constituição em dois sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo. De acordo com o primeiro, Constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau”.
Grave: sentido jurídico ( Hans Kelsen; Constituição no mundo do “dever ser”, e não do “ser”;
Sentido lógico-jurídico:
Norma fundamental hipotética, fundamento de validade de todo o sistema;
Situada no plano do suposto.
Sentido jurídico-positivo:
Constituição enquanto norma posta, positivada suprema;
Conjunto de normas que regula a criação de outras normas.
B. Konrad Hesse
Hoje, a concepção mais admitida é a jurídica, sobretudo em razão das contribuições de Konrad Hesse.
A tese de Konrad Hesse é uma antítese à concepção sociológica de Ferdinand Lassalle (que dividia a Constituição em real e escrita). Resumo de sua teoria: ainda que, algumas vezes, a constituição escrita possa sucumbir à realidade, essa constituição possui uma força normativa capaz de conformar a realidade. Para isso, basta que exista “vontade de constituição”, e não apenas “vontade de poder”.
Hesse não nega que, em certos Estados, a realidade venha a prevalecer sobre a Constituição (o que não lhe retira a autonomia). Todavia, é preciso ter em mente que a Constituição tem força normativa para dizer aquilo que “deve ser”, sendo o direito uma ciência do “dever ser”. 
Se partirmos do pressuposto de que a Constituição deve descrever a realidade social, esta sairá do campodo “dever ser”.
Hesse sustenta que a força normativa da Constituição será tanto maior quanto mais ampla for a convicção sobre a inviolabilidade da Lei Fundamental e quanto mais intensa for a vontade de Constituição.
Explica Gilmar Mendes, tratando da constituição como ordem jurídica fundamental, material e aberta, de uma sociedade: “[...] voltando a Konrad Hesse, diz-nos esse publicista que a Constituição deve ser entendida como a ‘ordem jurídica fundamental de uma comunidade ou o plano estrutural para a conformação jurídica de uma comunidade, segundo certos princípios fundamentais’, uma tarefa que só é possível porque a lei fundamental:
fixa os princípios diretores segundo os quais se deve formar a unidade política e desenvolver as tarefas estatais;
define os procedimentos para a solução dos conflitos no interior da comunidade;
disciplina a organização e o processo de formação da unidade política e da atuação estatal e;
cria as bases e determina os princípios da ordem jurídica global.”
1.4 Concepção culturalista
Ensina LENZA que, nesse sentido, a Constituição é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir.
Trata-se, assim, nos dizeres de J. H. Meirelles Teixeira, de uma formação objetiva de cultura que encerra, ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais e racionais [...]. Conclui o ilustre professor que a concepção culturalista do direito conduz ao conceito de uma Constituição Total, em uma visão suprema e sintética, que apresenta na sua complexidade intrínseca aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos.
Sob o conceito culturalista de Constituição, “as Constituições positivas são um conjunto de normas fundamentais, condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladas da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político”.
2. Elementos da Constituição (acrescido do livro de Gilmar Mendes)
A doutrina diverge quanto aos elementos da Constituição. Contudo, mais completa é a identificação do prof. José Afonso da Silva, que concebe 5 categorias de elementos:
2.1 ELEMENTOS ORGÂNICOS
Normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder (Poder Legislativo, Executivo, Judiciário).
2.2 ELEMENTOS LIMITATIVOS
Normas que compõem o elenco dos direitos e garantias fundamentais, limitando a atuação dos poderes estatais: direitos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade e direitos políticos e democráticos.
2.3 ELEMENTOS SÓCIO-IDEOLÓGICOS
Revelam o compromisso da Constituição entre o Estado individualista e o Estado social, intervencionista. Ex.: direitos sociais, ordem econômica e financeira, ordem social.
2.4 ELEMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO CONSTITUCIONAL
Normas constitucionais destinadas a assegurar a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas. Constituem instrumentos de defesa do Estado e buscam garantir a paz social. Ex.: ADI.
2.5 ELEMENTOS FORMAIS DE APLICABILIDADE
Normas que estabelecem regras de aplicação das constituições. Ex.: preâmbulo e ADCT.
3. Classificação das constituições
3.1. Constituição quanto à origem
Indaga-se: “de que maneira o documento constitucional surgiu?”. Em qual ambiente o documento constitucional veio ao mundo?
A. Constituição promulgada (ou democrática/votada/popular). 
É aquela que decorre de um movimento político popular. A constituição promulgada é mais democrática, na medida em que revela os anseios do titular do poder (o povo). Ela se manifesta através de duas espécies de movimentos democráticos:
Assembléia nacional constituinte ( Eleita diretamente pelo povo para, em nome dele, atuar, nascendo, pois, da deliberação da representação legítima popular. Ex. 1891, 1934 e 1988*.
Congresso nacional constituinte
A CF/88, em seu preâmbulo, afirma ter surgido através de uma Assembléia Nacional Constituinte. Vejamos:
PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
É preciso atentar: nossa CF/88, em verdade, surgiu a partir de um congresso nacional constituinte. Vejamos a diferença: a assembléia nacional constituinte tem um único objetivo: elaborar uma constituição. Difere do congresso constituinte, em que o Congresso Nacional (portanto legislativo da União) se encontra investido do poder constituinte originário.
B. Outorgada/CARTA
É aquela antidemocrática, imposta pelo governante de forma unilateral. Muitas vezes, tal governante possui um poder excepcional do povo, o que não o confere a qualidade de representante popular.
Obs.: segundo Pedro Lenza, mesmo quando a constituição é outorgada, a titularidade do poder constituinte continua sendo do povo. Isso porque convém distinguir titularidade e exercício do poder constituinte. A primeira é sempre do povo.
C. Cesarista (pouco cobrada)
Cuida-se de constituição que surge de uma outorga (imposição), mas que depende, para sua validade, de uma aprovação popular, através de consulta popular. A participação popular, neste caso, não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder.
D. PACTUADA 
São aquelas constituições que surgem através de um pacto, aquelas em que o poder constituinte originário se concentra nas mãos de mais de um titular. Trata-se de modalidade anacrônica.
2.2 Constituição quanto à forma
A. Escrita
É aquela reduzida a um texto solene, cerimonioso. A constituição escrita inaugura uma realidade jurídica chamada novo Estado.
B. Não-escrita
É aquela que se fundamenta nos usos, costumes, que são práticas reiteradas que todos obedecem por entendê-las obrigatórias. Também recebe o nome de costumeira ou consuetudinária, formada por textos esparsos, reconhecidos pela sociedade como fundamentais. Atenção: a Constituição inglesa é mista, e não costumeira.
2.3 Constituição quanto à estabilidade/consistência/mutabilidade/alterabilidade
A. RÍgida
É aquela que exige, para a sua modificação/alteração, um processo mais trabalhoso, mais dificultoso/burocrático/solene, diverso daquele exigido para se modificar a norma infraconstitucional. A nossa CF/88 é rígida, o que se prova pelo processo legislativo constitucional da emenda.
Atenção: só existe controle de constitucionalidade naqueles Estados em que a Constituição é rígida.
B. Flexível/plástica 
É aquela que não exige processo especial para a sua alteração. O seu processo de alteração/modificação é o mesmo que deve ser seguido na alteração da norma subconstitucional.
Neste caso, não há diferença entre norma constitucional e norma infraconstitucional, afastando-se o controle de constitucionalidade, que visa a manter a supremacia da Constituição.
Numa Constituição flexível, uma lei infraconstitucional posterior altera texto constitucional se assim expressamente o declarar, quando for com ele incompatível ou quando regular inteiramente a matéria que tratava a constituição.
CUIDADO!
Para Pinto Ferreira, plástica é a Constituição flexível;
Para Raul Machado Horta, plástica é a Constituição que permite o preenchimento das regras constitucionais pelo legislador infraconstitucional. Somente assim, estará em condições de acompanhar, através do legislador ordinário, as oscilações da opinião pública e da vontade do corpo eleitoral.
C. Semi-rígida ou semi-flexível
As constituições semi-rígidas separam as suas normasem duas espécies: materialmente e formalmente constitucionais.
Estas normas materialmente constitucionais exigem, para a sua alteração, um processo mais dificultoso/solene. São desse tipo as normas que definem a forma do Estado, forma de governo, direitos fundamentais, divisão de poderes etc.
No que concerne às normas formalmente constitucionais, a maneira de alteração é mais facilitada. Segundo o prof. Alexandre de Moraes, a CF/88 é rígida, mas possui um elenco de normas de natureza super-rígida, que são as cláusulas pétreas. 
2.4 Constituição quanto à extensão
A. SINTÉTICA/CONCISA/LACÔNICA
Constituição sintética é aquela que encontra encerrado em seu corpo normas de conteúdo essencialmente constitucional. Entendem-se estas como sendo as que disciplinam: a forma de Estado, a forma de governo, o modo de aquisição e exercício de poder e os limites de sua ação. Com a pretensão de serem duradouras, a atualização de tais Constituições fica a cargo da atividade sempre criteriosa de interpretação dos Tribunais Constitucionais.
É aquela que somente possui normas materialmente constitucionais. Ex.: Constituição Americana.
B. ANALÍTICA, PROLIXA
Constituição analítica, por sua vez, é aquela traz em seu bojo não só matérias essencialmente constitucionais como outras, que deveriam estar disciplinadas em leis infraconstitucionais, mas que ganham status de constitucionais unicamente por estarem presentes no corpo da Constituição. Com isso, o legislador pretende dar-lhes importância maior e, em sendo a constituição rígida, conferir-lhes estabilidade. 
A CF/88 é prolixa, por tratar de matérias que melhor estariam em diplomas infraconstitucionais.
2.5 Constituição quanto ao modo de elaboração
A. HISTÓRICA
Liga-se à constituição não-escrita, decorrendo de um lento e contínuo processo de evolução da sociedade ao longo do tempo.
B. DOGMÁTICA
Sempre escrita, é a CF que decorre de uma assembléia nacional constituinte, consubstanciando dogmas estruturais e fundamentais do Estado. Nos dizeres de MENDES, trata-se de uma Constituição intencionalmente elaborada à luz de determinados credos, princípios ou dogmas.
2.6 Outras classificações
A. CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE/COMPROMISSÁRIA
É aquela que se volta para o futuro, que define fins e programas de ação futura, manifestando preocupação com a evolução política do Estado. Preocupa-se não só com o presente, mas também com um ideal futuro, buscando condicionar os órgãos estatais à satisfação de tais objetivos; numa constituição dirigente temos, em grande número, normas do tipo programáticas, que são comandos destinados aos órgãos estatais, estabelecendo um plano de ação para estes, na condução dos rumos do Estado.
B. CONSTITUIÇÃO BALANÇO
É aquela preocupada com a situação presente, manifestando os dogmas de uma determinada organização política que esteja no Poder; sua visão limita-se à situação atual, quando muito até uma eventual transição para uma nova etapa política do Estado.
Em outras palavras, é aquela que tem como função, de tempos em tempos, fazer uma verificação da realidade social e adaptá-la na Constituição, ou fazer uma nova Constituição. Foi denominada de “Constituição Ser”.
A cada Constituição, há um balanço do que já foi feito e um projeto para o futuro. Ex.: constituição da URSS. Segundo LASSALLE, cuida-se da Constituição que descreve e registra a organização política estabelecida.
C. CONSTITUIÇÃO GARANTIA
É aquela que traz limites à atuação do Estado. Tem a função de garantir os direitos da pessoa e, desta forma, limitar a atuação do Estado. Ao lado da estruturação e organização do poder, traz os direitos fundamentais da pessoa.
D. ORTODOXA ( Possui uma só ideologia.
E. ECLÉTICA ( Reflexo de várias ideologias.
F. NORMATIVAS, NOMINALISTAS E SEMÂNTICAS (LOEWENSTEIN)
Normativas ( São aquelas em que o processo de poder está disciplinado, de modo que as relações políticas e os agentes do poder subordinam-se às determinações do seu conteúdo;
Nominalistas ( Contêm disposições de limitação e controle de dominação política, sem ressonância na sistemática de processo real de poder, e com insuficiente concretização constitucional;
Semânticas ( São simples reflexos da realidade política, servindo como mero instrumento dos donos do poder e das elites políticas.
G. EXPANSIVA
Nestas constituições, há dilatação da matéria constitucional no tempo.
3. Classificação da CRFB/88
Atenção: em prova subjetiva, chamar a Constituição de CRFB/88. Não se deve chamá-la de CF/88. Isso porque, segundo Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, a CFRB/88 é dividida em: Constituição Nacional (quando se refere a todos os entes); Constituição Federal (quando se refere à União, pessoa jurídica de direito interno). Assim como o Município tem uma Lei Orgânica e o Estado, uma CE, a União possui uma Constituição Nacional. Ex.: art. 59 da CFRB/88. A CFRB/88 é:
ESCRITA (quanto à forma) ( Não há muitas normas constitucionais não-escritas no Brasil. Um exemplo de costume constitucional é o chamado voto de liderança. 
CODIFICADA (quanto à sistemática)
DEMOCRÁTICA/POPULAR/VOTADA/PROMULGADA (quanto à origem) ( Há quem diga que a CFRB/88 não é exatamente democrática, pois os seus legisladores não foram eleitos somente para fazer uma Constituição (assembléia constituinte), tratando-se, em verdade, de verdadeiro “congresso constituinte”.
No caso do Brasil, alguns legisladores se incorporaram à assembléia, sem serem eleitos para a finalidade específica de elaborar uma Constituição.
Em se tratando de questão objetiva, deve-se marcar que a CFRB/88 é democrática. Em uma prova subjetiva/oral, deve-se afirmar que há autores que não concordam com essa classificação.
DOGMÁTICA (quanto ao modo de elaboração)
RÍGIDA (quanto à mutabilidade) ( Para Alexandre de Moraes, a CFRB/88 é super rígida, na medida em que, além de ser rígida (processo legislativo mais dificultoso), possui cláusulas pétreas (imodificáveis).
Atente: em questão objetiva, a alternativa mais completa é a que afirmar ser a CFRB/88 super rígida.
PROLIXA/ANALÍTICA/REGULAMENTAR (quanto à extensão) ( A Constituição trata de muitas matérias que não são materialmente constitucionais. Com o advento do constitucionalismo moderno e o contemporâneo, as Constituições, que eram concisas, passaram a ser prolixas. A maioria das constituições é prolixa. Daí se falar em normas formalmente constitucionais e materialmente constitucionais.
A Constituição prolixa é uma Constituição em sentido formal, dando a certos dispositivos uma estabilidade maior que a que possui uma lei.
DIRIGENTE (quanto à função) ( Canotilho faz uma distinção entre dois tipos de Constituição: as clássicas e as dirigentes. Entende-se por C. dirigente/compromissória aquele que dirige os rumos do Estado. É responsável por estabelecer objetivos, programas de ação ou diretrizes.
Atente às afirmações já cobradas em concursos: 
O que caracteriza uma Constituição dirigente é o fato de ela ter normas programáticas. VERDADE.
Constituição dirigente é aquela que atribui aos poderes públicos a função de dirigir os rumos do Estado. ERRADO – ela mesma é que dirige.
ECLÉTICA
COMPROMISSÓRIA ( Cuida-se de Constituição fruto de compromissos, originando-se de vários pequenos pactos/compromissos.
HISTÓRIA E ANÁLISE DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
	Constituição é o conjunto das normas convencionais ou jurídicas que, repousando na estrutura econômico-social e ideológica da sociedade, determina, de maneira fundamental e permanente, o ordenamento estrutural do Estado, circunscrevendo e fixando a competência do poder público, assegurando, ainda, a plena Proteção dos direitos individuais.
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
1) Quanto à forma
Constituições escritas, que se apresentam em um único texto solenemente estabelecido e emanado de um Poder Constituinte. 
Constituições não-escritas, que não se apresentam codificadas mas, sebaseiam nos costumes, na jurisprudência, em vários documentos esparsos, como a Constituição Inglesa.
2) Quanto à estabilidade
Constituições Rígidas, aquelas que exigem procedimento legislativo especial e complexo para alteração de seu texto.
Constituições Semi-rígidas, que só exigem procedimento especial para modificação de parte de seu texto. 
Constituições Flexíveis, que permitem a modificação de seu conteúdo através de um procedimento semelhante ao da aprovação de leis ordinárias.
Constituições Imutáveis, onde se veda qualquer alteração. São consideradas relíquias históricas.
3) Quanto ao modo de elaboração
Constituições Dogmátícas, são elaboradas por um órgão constituinte e sistematizam os dogmas ou idéias fundamentais da teoria política e do direito. 
Constituições Históricas, Costumeiras ou Consuetudinárias, são aquelas que evoluem de acordo com a mudança de costumes do povo do Estado de que são objeto, como por exemplo a Constituição Inglesa. 
4) Quanto à origem
Constituições Promulgadas, que se originam de um órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer. (Populares, Democráticas)
Constituições Outorgadas, são as elaboradas e estabelecidas pelos governantes, sem a participação do povo.
5) Quanto ao conteúdo
Constituição Material, aquela cujo texto traz normas que determinam a forma do Estado, a forma de governo, os órgãos que o dirigem e a matéria de que são formados, as competências de que são investidos, os direitos dos cidadãos.
Constituição Formal, Também conhecida como analítica, diz-se da Constituição que, além das normas materiais, tem no seu bojo normas que não integram o Direito Constitucional, tais como o Sistema Tributário Nacional, as leis ordinárias e complementares que devem dar exeqüibilidade a dispositivos constitucionais não auto-aplicáveis, etc.
6) Quanto à extensão e finalidade
Analíticas (dirigentes), examinam e regulamentam todos os assuntos, definindo fins e programas de ação futura.
Sintéticas (negativas), prevêem somente os princípios e as normas gerais de regência do Estado.
AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
	A República Federativa do Brasil possui, em sua história, sete Cartas Magnas, das quais faremos um breve e despretensioso relato com o objetivo de situar historicamente o leitor e prepará-lo para o estudo de outros conceitos fundamentais do Direito Constitucional.
Constituição de 1824
	Foi uma Constituição monárquica, outorgada ao povo brasileiro. Era semi-rígida, e se caracterizava pela instituição de um Poder Moderador. A Constituição conceituava este Poder Moderador como a chave de toda organização política. Este Poder pertencia ao Imperador e estava acima dos demais poderes constituídos.
Uma Constituição é tão mais eficiente quanto maior for sua duração. A Constituição de 1824 foi a de mais longa vigência das que teve o Brasil. Ao ser revogada pelo Governo Republicano, em 1889, depois de 65 anos, era a segunda Constituição escrita mais antiga do mundo, superada, apenas, pela dos EUA.
Sua plasticidade - e mais, sua adaptabilidade às condições políticas, econômicas e culturais da época – estão fartamente documentadas.
A Constituição não só não autorizava o parlamentarismo, como, na prática, o vedava. Este foi, entretanto, mais uma lenta conquista do espírito público do que um resultado do direito escrito.
Estabelecendo uma vigorosa centralização política e administrativa, vinha a Carta de 1824 atender ao preceito quanto ao exemplo da América Espanhola, fracionada em razão dos particularismos locais, criados a partir da administração colonial.
Uma das particularidades da Constituição de 1824 foi a do Poder Moderador, que impulsionava a Monarquia no caminho de seu papel ativo, em contraste com o poder passivo das monarquias parlamentares.
O Regime imperial assistiu, no entanto, a uma permanente falsificação da vontade do eleitorado, através de uma maciça e permanente intervenção do Poder Executivo. (Octaciano Nogueira)
Constituição de 1891
	Com a proclamação da República, a 15 de novembro de 1889, foi necessária a elaboração de uma nova Constituição. Foi a primeira Constituição republicana e federalista do Brasil. Era rígida e, apesar de alguma controvérsia histórica, foi considerada promulgada.
Os positivistas pretendiam que o Governo implantado a partir de 1889 fosse "ditatorial e não parlamentar", mas, divididos em diretrizes e correntes nitidamente diferenciadas, não conseguiram fosse implantada a "ditadura republicana" pelo projeto que se inspirou nas Cartas dos EUA, Argentina e Suíça e foi polido por Rui Barbosa.
A elaboração da primeira Constituição republicana foi abreviada por temor dos atos de arbítrio e desatino administrativo do Marechal Deodoro da Fonseca, de clara inépcia política a despeito de seu valor pessoal como soldado e de sua probidade inatacável.
A Constituição de 1891 estabeleceu um regime presidencialista do tipo norte-americano: o Poder Executivo não poderia dissolver a Câmara dos Deputados e nem era obrigado a escolher Ministros da confiança desta. Esta a diferença fundamental entre a Constituição escrita de 1891 e a Constituição viva de 1824.
A partir de 1910, Rui desfraldou a bandeira de revisão da Carta de 1891, sugerindo, entre outros pontos, a unificação da legislação processual, a unificação da Magistratura e garantias efetivas a esta, restrições ao estado de sítio e autorização do veto parcial. O movimento revisionista visava maior democratização e liberalização das instituições. Por ironia da História, a única reforma, de 1926, veio dar mais vigor aos poderes incontrastados do Chefe da Nação, no sentido oposto ao do reformador.
A mentira eleitoral das eleições a bico-de-pena, agravadas pelas degolas na apuração pelo Congresso, as intervenções federais com base no art. 6º da Constituição e a alternância de paulistas e mineiros na Presidência da República, na chamada política do café-com-leite, concorreram para o desencanto geral com respeito às instituições criadas em 1891. (Aliomar Baleeiro)
Constituição de 1934
	A Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932 foram fatores decisivos para a elaboração da Constituição de 1934, que foi uma Constituição rígida e promulgada.
	Esta Constituição manteve a divisão de poderes do federalismo; promoveu uma centralização legislativa em favor da União; reduziu o Papel do Senado Federal com o conseqüente abrandamento do sistema bicameral; elevou o país à condição de Estado Social de Direito, tamanha a sua atuação no direito social e econômico; promoveu uma ampliação do intervencionismo estatal; estruturou a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar; e criou a instituição do mandado de segurança. 
As idéias mestras que governaram os espíritos dos homens com influência nos trabalhos constituintes de 1933 eram, de um lado, o binômio da propaganda da Revolução de 1930-justiça e representação; de outro, a constitucionalização do País, cobrada por uma revolução, a de 1932, derrotada, mas cuja força espiritual iria marcar, de forma indelével, a política nacional.
Do ponto de vista formal, inspiraram-se os estadistas de então na Constituição de Weimar, de 1919, e na Constituição republicana espanhola de 1931.
O anteprojeto de 1933 adotava o unicameralismo, a eleição indireta do Presidente da República, um Conselho Supremo, a unidade do processo judiciário e, em parte, da Magistratura; tratava da liberdade sindical e da expropriação do latifúndio, da assistência aos pobres e do salário mínimo; instituía uma Justiça Eleitoral.
Um dos pontos cruciais da discussão constitucional que viria a se refletir no anteprojeto e na futura Constituição, era o da Federação. O projeto aumentava consideravelmente os casos de intervenção federal, proclamava incumbir a cada Estado prover, a expensas próprias, as necessidades de seu governo e administração, golpeava de morte os impostosinterestaduais e intermunicipais, procurava coibir, em suma, os excessos do ultrafederalismo e buscava fortalecer a União, submetendo-lhe as policias militares, organizadas pelos Estados à revelia do Poder Central, que sobre elas nenhuma autoridade exercia.
Não vingou, na Constituição, o unicameralismo previsto no anteprojeto mas se deu ao Senado a função de Poder Coordenador, atribuída antes ao Conselho Supremo projetado. Ao Senado incumbiria promover a coordenação dos poderes federais entre si, manter a continuidade administrativa, velar pela constituição e colaborar na feitura das leis. Competência curiosa, do Senado, reminiscência, talvez, da idéia do Poder Moderador, consistia em fiscalizar a legalidade dos regulamentos expedidos pelo Poder Executivo, suspendendo a execução dos dispositivos ilegais, função política mas, também, jurisdicional. (Ronaldo Poletti)
Constituição de 1937
	O Presidente Getúlio Vargas outorgou, influenciado pelo fascismo, a Constituição Brasileira de 1937. 
	O Estado Novo tinha como características principais: a supressão do Congresso Nacional e dos partidos políticos; a convergência de todo poder para o Executivo (personalizava-se o poder); restrições ao Poder Judiciário; a autonomia dos Estados-Membros foi limitada; e restaurou a pena de morte.
Um grande obstáculo ao estudo da Constituição de 1937 é o desprezo que lhe devotam juristas e cientistas políticos. Algumas obras de circunstância, editadas, ao tempo, pelo Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura de Vargas, dirigem encômios irrestritos à Carta. A maior parte dos textos, contudo, deplora seu caráter antidemocrático, sua outorga, contrária ao sentimento nacional, a tentativa de transplantar, para o País, o modelo fascista europeu.
Para Pontes de Miranda, autor do melhor texto de interpretação da Constituição de 1937, as características principais da Carta eram a coordenação, entregue ao Presidente, da atividade dos órgãos representativos, a possibilidade de indicação, pelo Chefe do Poder Executivo, de um dos candidatos ao cargo, a eleição indireta dos representantes dos Estados-Membros na Câmara Federal e a eliminação do princípio da separação e independência dos poderes.
Segundo Francisco Campos, não se pode atribuir à Constituição de 1937 os males que tenham resultado para o País, com o regime de Vargas: se a Carta tivesse vigorado, segundo ele, teria certamente constituído importante limitação ao exercício do poder. Principal autor do texto da Constituição, Campos afirmou, em 1945, que ela era um documento" que não poderia invocar em seu favor o teste da experiência", pois permanecera "em suspenso desde o dia de sua outorga" .
Muitas vezes se disse que a Constituição brasileira de 10 de novembro de 1937 teve como modelo a Constituição polonesa,promulgada em abril de 1935.O principal ponto de aproximação entre as Cartas é o modo pelo qual,sem disfarces é ressaltada a proeminência do Poder Executivo.
Mas semelhanças, que nunca foram salientadas, aproximam a Constituição Federal de 1937 da Constituição Estadual do Rio Grande do Sul, de 14 de julho de 1891.Os dois textos adotam a mesma posição quanto à prevalência do Executivo, à redução do papel das Assembléias na elaboração das leis e à escolha do vice-presidente. (Walter Costa Porto)
Constituição de 1946
	Promulgada em 18 de setembro de 1946, teve como paradigma a Carta de 1934 e simbolizou o retomo ao regime democrático. 
	Características: o bicameralismo foi restabelecido; restauração da figura do Vice-Presidente da República; expansão dos poderes da União em detrimento dos poderes dos Estados; e no âmbito do Poder Judiciário foram previstas a Justiça do Trabalho e o Tribunal Federal de Recursos.
Nenhum anteprojeto serviu de base aos trabalhos da Constituinte de 1946 que se processaram, assim, diferentemente dos de 1890 e 1933.
O texto, que foi promulgado no dia 18de setembro de 1946, caracterizou-se pela tendência restauradora das linhas de 1891,com as inovações aproveitáveis de 1934 - disposições de proteção aos trabalhadores, à ordem econômica, à educação, à família.
A República sacrificara os Municípios, restringindo-lhes a autonomia e desfavorecendo-os na discriminação das rendas públicas. Os Constituintes de 1946, para modificar esse quadro, deram aos Municípios, entre outros benefícios, todo o Imposto de Indústrias e Profissões, uma quota em partes iguais no rateio de 10% do Imposto de Renda, excluídas as capitais.
O que mais contribuiu para a aproximação dos textos das Constituições de 1934 e 1946 foi a coincidência dos fatores políticos que inspiraram a elaboração das Cartas, orientadas, nos dois momentos, por uma reação contra os exageros do presidencialismo da República Velha ou contra as tendências ditatoriais que modelaram a Constituição de 1937.
Os textos constitucionais não faziam mais que reunir, tanto em 1934 como em 1946, o que já vinha expresso na legislação e, sobretudo, no Código de 1932, que tem, na evolução de nosso Direito Eleitoral, a função de uma espécie de marco revolucionário.
As reformas essenciais do Código Eleitoral de 1932 foram o regime de partidos, o voto secreto, a representação proporcional, a instituição das suplências, a criação da Justiça Eleitoral para todas as fases do processo das eleições. A Constituição de 1934, que serviu de modelo para a Carta de 1946, incorporou em seu texto todas essas medidas. (Aliomar Baleeiro e Barbosa Lima Sobrinho)
Constituição de 1967
	Outorgada ao povo brasileiro, a Constituição de 1967, ampliou a competência da justiça militar para o processo e julgamento de civis pela prática de crimes contra a segurança nacional ou as instituições militares, com recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal.
No Brasil, sempre se lutou, desde a independência, por uma federação, mas o maior obstáculo a essa divisão é ainda o grande sentimento da unidade nacional, vincada pela tradição, pela língua, pela religião, pelo direito.
Nosso regime é caracterizado por um duplo movimento de centralização política da União no sistema federal e do Poder Executivo dentro do governo da União.
Na redução das prerrogativas dos Estados, na limitação dos seus poderes de organização, na sua maior submissão a um planejamento global, regional e setorial da União, iniciou-se uma involução do processo histórico de nosso federalismo.
O fortalecimento do Executivo na Constituição de 1967 proveio da ampliação de seu poder de iniciativa das leis, da limitação de tempo para aprovação, pelo Congresso, dos projetos do Governo, na delegação legislativa, na restrição a emendas aos projetos governamentais, e na faculdade, dada ao Presidente, de expedir decretos-leis.
Com um capítulo especial intitulado "Do Sistema Tributário", a Constituição de 1967 repete, em grande parte, a Emenda No 18 à Carta de 1946. Neste sistema, aos Estados e Municípios compete apenas decretar impostos sobre transmissão, direitos reais e direitos à aquisição de imóveis, sobre circulação de mercadorias, sobre a propriedade urbana e sobre serviços de qualquer natureza. Todos os demais impostos são de competência federal, embora Estados e Municípios participem do produto da arrecadação de muitos deles. (Themístocles Brandão Cavalcanti, Luiz Navarro de Brito e Aliomar Baleeiro)
Emenda Constitucional (Constituição) de 1969
	Rígida e outorgada, modificou o nome jurídico do Estado brasileiro para República Federativa do Brasil e consolidou o regime militar imposto. 
Constituição de 1988
CARACTERÍSTICAS: 
Processo de redemocratização do país. 
Elevou o Brasil à categoria de Estado Democrático de Direito, inaugurando um novo regime político: a democracia participativa ou semidireta.
Ampliou, de modo significativo, o rol de direitos fundamentais, dedicando-lhes mesmo um título inteiro.
Reduziu a competência do Poder Executivo, aumentando proporcionalmente as do Legislativo e do Judiciário.
Promoveu uma valorizaçãosem precedentes na autonomia dos Estados e Municípios da Federação.
Reorganizou o Sistema Tributário Nacional.
Disciplinou os princípios norteadores da Administração Pública e unificou o regime de vinculação dos servidores públicos civis, entre, outras inovações. 
PRINCÍPIO DA SUPREMACIA CONSTITUCIONAL
	Somente a Constituição confere poderes e competências governamentais. O governo federal, o governo dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, não são soberanos, pois todos são limitados, expressa ou implicitamente pela Constituição.
O princípio a legalidade é reafirmado pela Constituição de 1988, como fundamento da ordem jurídica. Para o autor, ele é fonte de direitos e deveres e limite ao poder do Estado e à autonomia da vontade.
A medida provisória – cópia quase literal do artigo 77, segunda parte, da Constituição italiana – não revoga a lei anterior sobre a matéria. Suspende-lhe a vigência, na expectativa da deliberação definitiva do Congresso.
O princípio da supremacia da lei, que se opõe ao arbítrio da autoridade, consolida o estado de direito. Dele resulta o conceito de direitos públicos subjetivos, oponíveis ao Estado, a que deve se submeter as leis que ele próprio estabelece.
A Constituição de 1988 buscou na Constituição portuguesa a figura da inconstitucionalidade por omissão, mediante ação direta de competência do Supremo Tribunal Federal. E, ainda, o mandado de injunção, sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
É marcante, na nova Constituição, a presença do povo e a valorização da cidadania e da soberania popular.( Caio Tácito)
EVOLUÇÃO POLÍTICO CONSTITUCIONAL NO CONTEXTO MUNDIAL
Forma Estatal Medieval – Estado Moderno
 - Estado Absolutista ( 1a versão do Estado Moderno)
 - Estado Moderno
Fenômeno original e Histórico
O parlamento surge em 1215 com a carta magna que tem por finalidade controlar o executivo.
O parlamento como criador de leis vem a surgir em 1791 com a 1a Constituição Francesa.
Estado Absolutista
concentração do poder nas mãos do monarca;
“O Estado sou eu” – Luiz XIV.
Surgimento do território como um dos elementos fundamentais da forma estatal.
Poder de origem divina (Rei- representante de Deus na Terra).
Exercício do poder sem dependência de qualquer outro poder.
Fim da Revolução Francesa de 1789.
Estado Moderno-Liberal
surgimento – 1789 – Revolução Francesa;
 (influência Rosseau).
Assembléia Nacional Constituinte;
Constituição Francesa 1791; 1a Constituição da história: Constituição Americana (1787).
Previsão, em 1789, de criação de um Código Civil para regular as relações entre os indivíduos; - Constituição colocada em segundo plano(Código da organização pública).
Crescimento do individualismo;
Estado mínimo- Garantia da paz e da segurança;
Liberalismo (Teoria antiestado);
Limitação e divisão da autoridade;
- Liberdade;
- Direitos humanos;
- Ordem legal;
- Governo representativo;
- Mobilidade social;
Estado com poderes e funções limitadas;
Surgimento do constitucionalismo
documento fundamental
 Limitação de poderes;
 Divisão de funções;
 Separação de poderes;
 Freios e contrapesos;
Governo da lei.
Napoleão cria a função do Juiz público
Estado Social (Walfare State)
 - Estado de bem-estar social.
Tarefa positiva- prestações públicas;
Movimentos não liberais;
Surgimento de constituições;
Ampliação do direito de voto;
Filosofia liberal – justiça social;
Novo espírito de ajuda , cooperação e serviços mútuos
Intervencionismo
Programas de obras públicas;
Regulamentação de credito;
Controle sobre a produção agrícola;
Regulação das horas de trabalho;
Salário mínimos,...
Garantia de tipos mínimos.
Renda;
Alimentação;
Saúde;
Habitação;
Educação;
Não como cavidade, mas como direito político.
Estado de Direito
Limitação do poder do Estado pelo Direito;
Vinculação do Estado ao Direito;
Sujeição do Estado ao Direito;
Qualificação do Estado pelo Direito;
Liberdades publicas; democracia;
Liberal – Social – democrática.
ESTADO LIBERAL - submissão da soberania estatal à lei.
separação entre Estado e sociedade civil;
Garantia das liberdades individuais;
Soberania da Nação – Revolução Francesa;
Estado Mínimo.
ESTADO SOCIAL – Direito a prestações do Estado
 - Garantias coletivas;
 - situação de bem-estar social;
desenvolvimento da pessoa humana.
ESTADO DDEMOCRÁTICO. – Conjugação do Ideal Democrático ao Estado de Direito.
Conteúdo (utópico) transformador da realidade;
Formatador da participação pública;
Princípios
Constitucionalidade
Organização democrática da sociedade
Sistema de direitos fundamentais individuais e coletivos
Justiça social
Igualdade
Divisão de poderes ou de funções
Legalidade
Segurança e certeza jurídicas
Solidariedade- caráter comunitário
____________________________________________________________
México 1917 – Direitos Sociais;
Alemanha 1919 – República Waimer – Direitos Sociais e Fundamentais;
Áustria 1920 – Kelsen – Tribunal Constitucional;
 - Inspiração.
Weimar – 1926 - Parlamento autoriza o Kaiser a legislar.
 - Problema da ausência da jurisdição constitucional. 
1948 – Declaração Universal dos Direitos.
Todos os seres humanos livres e iguais.
Tribunais Constitucionais a partir da década de 70;
EVOLUÇÃO POLÍTICO CONSTITUCIONAL NO BRASIL
Fase Colonial
Capitanias Hereditárias
 - doze porções iguais
D. João III – 10 março de 1534 – Duarte Coelho;
 - Capitania de Pernanbuco; 
Inexistência de vínculo;
Donatários – poderes quase absolutos;
 - governo com jurisdição civil e criminal;
 - ouvidores nomeados;
 - juizes eleitos pelas vilas;
 - completa dispersão do poder político e administrativo;
Fonte comum – Metrópole
Governadores gerais
1549 – Instituição do sistema;
Tomé de Souza – 1o governador;
Regimento de governador geral;
 -
 - 
Cartas organizatórias do Regime Colonial;
Governo político e militar da colônia – Governador Geral;
Órgãos elementares e essenciais à administração.
 - ouvidor – mor;
 - encarregado geral dos negócios da justiça;
 - procurador da Fazenda;
 - encarregadao das questões e interesses do fisco-real;
 - Capitão-mor da Costa.
Fragmentação do poder político na colônia (1572)
Fim do sistema unitário de Tomé Souza.
Duplo governo da colônia
1621 – Divisão em dois estados
 - Estado do Brasil;
 - Estado do Maranhão;
Divisão em governos regionais
Governos regionais em capitanias gerais
 - capitanias subordinadas;
 - capitanias autônomas; 
 - comarcas; 
 - distritos;
 - terrenos;
 - centros;
Administrativos (autônomos) – capitão general - representante da autoridade – órgãos locais de governo geral – ouvidores – juizes de fora – chefes de presídios,... 
“Governículos locais” – 
 -
 -
Monopólio autoridade – política.
 - Judiciária.- militar.
Organização das Minas – autoridades especiais;
 - capitães- mares das minas;
 - junta de arrecadação da Fazenda real;
 - intendências do ouro, diamantes; 
 - guardarias das minas
 - casas de fundicao
Organização municipal na colônia
Zonas de exploração agrícola;
Senado da Câmara ou Câmara Municipal
 - Poder local;
 - Vários oficiais – homens bons da terra (grandes proprietários rurais); 
 - imitação sistema Portugal
Efeitos Futuros
Estrutura do Estado brasileiro
Centros efetivos de poder locais
Formação caronelística oligárquica
II. 	Fase Monárquica
Brasil, Reino Unido a Portugal
1808 – D. João VI – instalação da corte no Rio de Janeiro.
 - Fase monárquica
1815 – elevação de colônia a Reino Unido de Portugal
Fim do sistema colonial e do monopólio da metrópole.
Instalação da metrópole
Instalação de – tribunais
 - repartições
Organização do governo
Estabelecimento da ordem – policia
 - justiça superior
 - órgãos administrativos
Instituição, criação e instalação
 - Conselho de estado;
 - Intendência geral de policia;
 - Conselho da Fazenda;
 - Mesa da consciência e ordens;
 - Conselho militar;
 - Desembargo do paço;
 - Casa da Suplicação;
 - Academia da Marinha;
 - Junta-geral do comércio ( Juízo dos falidos e conservadora de privilégios);
 - Banco do Brasil;
 - Casa da Moeda;
 - Impressão Régia;....
Abertura dos portos;
Liberdade da industria;
Limitação de atuação aos limites do Rio de Janeiro;
 - Intenor do país fragmentado e com diferenciação do poder real;
 - Vinte capitanias herreditárias;
 - Autonomia;
 - Independência.
Influencia das novas teorias políticas e o movimento constitucional
Nobreza brasileira;
Aristocracia intelectual;
Novo fator modificador da estrutura política;
 - novas teorias políticas européias;
 - Liberalismo;
 - Parlamentarismo;
 - Constitucionalismo;
 - Federalismo;
 - Democracia;
 - República;
A independência e o problema da unidade nacional
estruturação de um poder centralizador;
organização nacional;
 - Freio- poderes regionais e locais;
Principio fundamental teórico – Constitucionalismo;
 - Constituição escrita;
 - Liberalismo;
 Art.16 D.D.H.C. - declaração constitucional dos direitos do homem;
 (Silva pg.74) - mecanismo de divisão de poderes;
 - Construção da unidade do poder, segundo princípios que não toleravam o absolutismo.
Constituição de 1824
 - Mecanismo centralizador;
 - Centros provinciais;
 - módulos atividade política do País;
Constituição Imperial
 - Constituição política do Império do Brasil – 1824.
 - Associação política de todos os cidadãos brasileiros.
 - Nação livre e independente;
 - Não admissão de oposição, de União ou de Federações;
 - divisão em províncias;
 - governo monárquico hereditário
 ( Constitucional – Representativo)
 - Separação de poderes – divisão e harmonia entre os poderes políticos ;
 Benjamin Constant:
 - Poder Legislativo – Assembléia Geral (eleição indireta e censitária) – Câmara dos Deputados(eletiva e temporária), Câmara dos Senadores (vitalícios, Imperador, lista tríplice).
 - Poder Moderador - Imperador
Chefe supremo da nação, manutenção da independência, equilíbrio e harmonia da dos demais poderes;
 - Poder Executivo- Ministros de Estado
Chefe o imperador;
 - Poder Judiciário - Independente
Juizes
Jurados
Declaração de Direitos e garantias individuais (art. 179);
Centralização Monárquica
Subordinação da província ao poder central
 - Presidente escolhido pelo imperador;
 - Chefe de Policia (até 1870)
atribuições policiais e judiciais
órgãos menores (locais)
- delegados de policia;
 - subdelegados de policia;
 - Inspetores de quarteirões;
 - Carcereiros das cadeias públicas;
 - pessoal subalterno da administração policial;
 - Juiz de Direito;
 - Juiz Municipal;
 - Promotor Público;
 - Guarda Nacional – Milícias locais (1850);
Influência nos órgãos de autonomia local.
 - Anular eleições de vereadores municipais e juizes de paz;
 - Reintegrar funcionário municipal demitido pela Câmara;
 - Suspender resoluções das Assembléias Provinciais.
Mecanismo político do poder central
 - Chave organização política – Poder Moderador
 - Faculdades excepcionais:
Agir sobre o poder legislativo;
Dissolução da Câmara;
Direito de adiamento e cacacao; 
Direito de escolha de Senadores (lista tríplice);
Atuação sobre o poder judiciário ( suspensão de magistrados);
Influencia sobre o poder executivo
Livre escolha dos ministros de Estado;
Livre demissão dos mesmos;
Chefe do poder executivo- autonomia das províncias (mecanismo administrativo do País);
Órgãos de Poder Soberano
Senado
- conservador;
- força de reação contra movimentos Liberais da Câmara dos Deputados,
Conselho de Estado
- Órgão consultivo;
 - aconselhava o imperador (medidas administrativas, medidas políticas). 
 - Supremo intérprete da Constituição.
Os liberais e o ideal Federalista
 - Idéia descentralizadora republicana;
 - presença federalista desde a constituinte de 1823
 - Rebeliões – Balaiadas 
 - Cabanadas

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