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1 1 Coordenadas e vetores no plano Sumário 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2 Coordenadas e distância na reta . . . . . . . . . . . 3 1.3 Coordenadas e distância no plano . . . . . . . . . . 6 1.4 Distância entre pontos do plano . . . . . . . . . . . 8 1.5 Equipolência de segmentos orientados . . . . . . . . 14 1.6 Vetores no plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.7 Textos Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Unidade 1 Introdução 1.1 Introdução Nesse capítulo, introduziremos coordenadas na reta e no plano, para repre- sentar pontos por meio de números reais. A linguagem básica que utilizaremos continua com a apresentação dos vetores no plano e de suas principais pro- priedades. A representação dos pontos por suas coordenadas torna possível resolver algebricamente diversos problemas geométricos, e o uso de vetores per- mite o estudo de vários conceitos geométricos de forma mais simples e direta. Para isso, admitiremos que o leitor tenha conhecimento dos axiomas e dos principais resultados da Geometria Euclidiana Plana e Espacial, relativos aos seus elementos básicos: pontos, retas e planos. A partir desses elementos e dos axiomas de ordem, podemos de�nir dois conceitos fundamentais. Sejam A e B dois pontos distintos. O segmento de reta AB é o conjunto formado pelos pontos A e B e pelos pontos C entre A e B, e a semirreta ⇀ AB é o conjunto formado pelo segmento AB e por todos os pontos D tais que B está entre A e D. A B D Figura 1.1: Ponto D na semirreta ⇀ AB Vamos rever alguns axiomas e resultados da Geometria Euclidiana que serão úteis na construção da Geometria Analítica: • por dois pontos distintos passa uma, e somente uma única reta (axioma de incidência); • dados uma reta r e um ponto P não pertencente a r, existe uma, e somente uma reta paralela à reta r que passa por P (axioma das paralelas); • dados um ponto P e uma reta r, existe apenas uma reta perpendicular a r que passa por P ; • por três pontos do espaço não situados numa mesma reta passa um, e somente um plano (axioma de incidência). Além desses, utilizaremos vários outros resultados da Geometria Euclidiana, como oTeorema de Pitágoras, a Lei dos Cossenos, os casos de congruência entre triângulos etc. Para iniciarmos nosso estudo, devemos lembrar que, na Geometria Eucli- 2 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano diana Real, �xada uma unidade de comprimento, a cada par de pontos A e B corresponde um número real, denominado distância entre os pontos A e B ou comprimento do segmento AB, e designado por d(A,B) ou |AB|, respectivamente, que satisfaz às seguintes propriedades: 1. d(A,B) ≥ 0; 2. d(A,B) = 0⇐⇒ A = B; 3. d(A,B) = d(B,A); 4. d(A,B) ≤ d(A,C) + d(C,B) (desigualdade triangular); 5. d(A,B) = d(A,C)+d(C,B)⇐⇒ A, B, e C são colineares e C está entre A e B. Finalmente, precisamos lembrar que dados uma semirreta ⇀ CD e um número real λ > 0, existe um único ponto F ∈ ⇀ CD tal que |CF | = λ. 1.2 Coordenadas e distância na reta Sejam r uma reta e ⇀ OA uma semirreta de r com origem num ponto escolhido O de r. Seja B um ponto de r tal que O está entre B e A. A semirreta ⇀ OB é dita oposta à semirreta ⇀ OA B O A Figura 1.2: A reta r se corresponde com o conjunto R dos números reais A reta r é posta em correspondência com o conjunto dos números reais R da seguinte maneira: • à origem O faz-se corresponder o número 0 (zero); • a cada ponto X 6= O, da semirreta ⇀ OA corresponde o número real positivo x = d(O,X); 3 Unidade 1 Coordenadas e distância na reta • a cada ponto X, X 6= O, da semirreta ⇀ OB corresponde o número real negativo x = −d(O,X). A correspondência r ←→ R acima descrita é biunívoca (exercício). Definição 1 O número real x que corresponde ao ponto X segundo a correspondência acima estabelecida é denominada a coordenada do ponto X. x=−d(O,X) X 0 O x=d(O,X) X Figura 1.3: Coordenadas dos pontos na reta r Definição 2 Sejam X e Y pontos da reta r com coordenadas x e y, respectivamente. Dizemos que o ponto Y está à direita do ponto X (ou que o ponto X está à esquerda do ponto Y ) se, e somente se, x−−→ AB = (2, n) e −−→ AC = (n− 2,−1). Logo, 29 Unidade 2 Área de paralelogramos e triângulos Área (4ABC) = 1 2 ∣∣∣∣∣det ( 2 n n− 2 −1 )∣∣∣∣∣ = 1 2 |−2− n(n− 2)| = 1 2 |−2− n2 + 2n| = 1 2 |n2 − 2n+ 2| . Assim, Área (4ABC) = 1 2 ⇐⇒ |n2 − 2n+ 2| = 1 ⇐⇒ n2 − 2n+ 2 = ±1. • Tomando o sinal positivo, obtemos: n2 − 2n+ 2 = 1⇐⇒ n2 − 2n+ 1 = 0⇐⇒ (n− 1)2 = 0 . Logo n = 1 é uma solução. • Tomando o sinal negativo, obtemos a equação n2 − 2n+ 3 = 0 que, por ter discriminante ∆ = (−2)2 − 4(1)(3)(a)). −→u −→u −→v −→v −→u + −→v = −→v + −→u (a) −→u −→v −→w −→u + −→v −→v + −→w (−→u +−→v )+−→w−→u +(−→v +−→w ) (b) Figura 2.28: (a) Comutatividade da adição (b) Associatividade da adição O vetor nulo −→ 0 é representado por −−→ AA qualquer que seja o ponto A do plano e o simétrico −−→v de um vetor −→v é representado pelo mesmo segmento que −→v porém, com a orientação oposta. 35 Unidade 2 Textos Complementares Para Saber Mais Josiah W. Gibbs Figura 2.29: Josiah W. Gibbs Nessa seção de�niremos uma nova operação entre vetores denominada produto interno ou produto ponto e que associa a cada par de ve- tores um escalar, outro nome também utilizado para essa operação é produto escalar, fazendo ênfase na natureza escalar do resultado da opera- ção. Embora tenha sido implicitamente conside- rado anteriormente por Joseph Louis Lagrange (1736 � 1813) e porWilliam R. Hamilton (1805 � 1865), o conceito surge formalmente na liter- atura no livro Vector Analysis (1901) de Edwin B. Wilson baseado nos seminários ministrados por Josiah Willard Gibbs (1839 � 1903), onde aparece com o nome de produto direto. Conforme veremos adiante, o produto interno entre dois vetores se traduz, essencialmente, na medida do ângulo entre respectivos segmentos representantes com origem comum. Figura 2.30: Vector Analysis (rosto) Figura 2.31: Vector Analysis, página 54 36 3 1 Equações da reta no plano Sumário 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 3.2 Equação paramétrica da reta . . . . . . . . . . . . . 2 3.3 Equação cartesiana da reta . . . . . . . . . . . . . . 7 3.4 Equação a�m ou reduzida da reta . . . . . . . . . . 11 3.5 Paralelismo e perpendicularismo entre retas . . . . . 15 Unidade 3 Introdução 3.1 Introdução Um dos objetivos da Geometria Analítica é obter equações associadas a conjuntos de pontos, estabelecendo assim uma relação entre a Geometria e a Álgebra. Esta relação é, em muitos casos, pouco explorada no Ensino Médio e Fundamental, e o estudo da Geometria Analítica �ca limitado a fórmulas e nomenclaturas. Nesta unidade serão apresentadas, �nalmente, as equações que representam uma reta do plano. Baseado nas propriedades geométricas da reta, serão de- duzidos três tipos de equação: paramétrica (seção 3.2), cartesiana (seção 3.3) e a�m (seção 3.4). Estes tipos de equação serão utilizados para trabalhar os conceitos de paralelismo e perpendicularismo entre retas (seção 3.5). 3.2 Equação paramétrica da reta Começaremos nosso estudo algébrico sobre retas no plano com a equação paramétrica da reta. Neste tipo de equação as coordenadas dos pontos perten- centes a uma reta são dadas por expressões do primeiro grau em função de um parâmetro real. Ao variar o valor do parâmetro, encontramos distintos pontos da reta, ou seja, a cada ponto da reta está associado um único parâmetro. Para �ns didáticos, dividiremos as equações paramétricas da reta em dois casos: reta que passa por dois pontos e reta que contém um ponto e é paralela a um vetor. Reta r que passa pelos pontos A e B. Seja r a reta que passa pelos pontos A e B e seja P um ponto do plano. Então, pela proposição 8 do capítulo anterior, o ponto P pertence à reta r se, e somente se, −−→ AP é múltiplo do vetor −−→ AB . Isto é, P ∈ r se, e somente se, existe um número t ∈ R tal que −−→ AP = t −−→ AB Note que o número t é determinado de forma única pelo ponto P e é chamado parâmetro de P em r. 2 Unidade 3Equações da reta no plano Figura 3.1: Ponto P pertencente a r. Assim, para atingir o ponto P na reta r, devemos ir até o ponto A e nos deslocarmos ao longo da reta por t −−→ AB . Escrevemos, então, a equação que determina o ponto P �pela variação do parâmetro t� da seguinte forma: r : P = A+ t −−→ AB , t ∈ R Esta equação é chamada equação paramétrica da reta r. Se A = (a, b), B = (a′, b′) e P = (x, y) são as coordenadas dos pontos num sistema de coordenadas dado, então: P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (a, b) + t(a′ − a, b′ − b) para algum t ∈ R ⇐⇒ x = a+ t(a′ − a) y = b+ t(b′ − b) para algum t ∈ R . Dizemos que as equações r : { x = a+ t(a′ − a) y = b+ t(b′ − b) ; t ∈ R são as equações paramétricas da reta r. Observação 1Seja C um ponto da reta r tal que A está entre C e B e seja −−→ AC à semirreta oposta à semirreta −−→ AB . Então, AB = {(a+ t(a′ − a), b+ t(b′ − b)) ; t ∈ [0, 1] }; −−→ AB = {(a+ t(a′ − a), b+ t(b′ − b)) ; t ∈ [0,+∞) }; −−→ AC = {(a+ t(a′ − a), b+ t(b′ − b)) ; t ∈ (−∞, 0] }. 3 Unidade 3 Equação paramétrica da reta Figura 3.2: Semirretas com direções opostas. Para veri�car as a�rmações, basta lembrar que um ponto R está entre pontos P e Q se, somente se, d(P,Q) = d(P,R) + d(R,Q). Veremos uma aplicação direta, do que foi explicado anteriormente, no exem- plo a seguir. Exemplo 1 Considere os pontos A = (4, 1) e B = (−1, 2). (a) Determine a equação paramétrica da reta r que passa pelos pontos A e B. (b) Encontre o ponto P ∈ r associado ao parâmetro 2. (c) Os pontos Q = (1, 3) e R = ( 3, 6 5 ) pertencem à reta r ? Caso a�rmativo, o ponto pertence ao segmento AB ? Solução. (a) Como −−→ AB = (−5, 1), P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (4, 1) + t(−5, 1), t ∈ R ⇐⇒ (x, y) = (4− 5t, 1 + t), t ∈ R . Portanto, as equações paramétricas de r são: r : { x = 4− 5t y = 1 + t ; t ∈ R. 4 Unidade 3Equações da reta no plano Figura 3.3: Exemplo 1 (b) Para encontrarmos o ponto P associado ao parâmetro t = 2, basta substi- tuir o valor de t nas equações paramétricas de r encontradas no item anterior: x = 4− 5× 2 = −6 e y = 1 + 2 = 3. Logo, P = (−6, 3). (c) O ponto Q = (1, 3) ∈ r se, e somente se, existe t ∈ R tal que{ 1 = 4− 5t 3 = 1 + t . Da segunda equação obtemos t = 2. Substituindo o valor de t na primeira equação obtemos 1 = 4 − 5 × 2 ⇐⇒ 1 = −6, que é impossível. Logo, não existe um parâmetro que determine o ponto Q, ou seja, Q /∈ r. Analogamente, o ponto R = ( 3, 6 5 ) ∈ r se, e somente se, existe t ∈ R tal que { 3 = 4− 5t 6 5 = 1 + t . Da segunda equação obtemos t = 1/5, que satisfaz também a primeira equação. Portanto, R ∈ r, e como t ∈ [0, 1], R ∈ AB. Definição 2Dizemos que um vetor −→v 6= −→ O é paralelo a uma reta r quando, para quaisquer dois pontos A,B ∈ r, o vetor −−→ AB é múltiplo do vetor −→v . Nesse caso, escrevemos −→v ‖ r. 5 Unidade 3 Equação paramétrica da reta Figura 3.4: Vetor direção da reta r. Um vetor −→v paralelo a uma reta r é chamado vetor direção de r. Note que se tomarmos dois pontos C e D pertencentes à reta r que passa pelos pontos A e B, então existem s ∈ R e t ∈ R tais que −−→ AC = s −−→ AB e −−→ AD = t −−→ AB . Logo, −−→ CD = −−→ CA + −−→ AD = −−→ AD − −−→ AC = t −−→ AB − s −−→ AB = (t− s) −−→ AB . Assim, existe um λ = t− s ∈ R tal que −−→ CD = λ −−→ AB , ou seja, dois vetores determinados por pontos pertencentes a uma mesma reta são sempre múltiplos ou paralelos. Observação 3 É fácil veri�car, que um vetor −→v é paralelo à reta r se, e somente se, −→v = λ −−→ AB , onde λ ∈ R− {0} e A,B são dois pontos �xos quaisquer da reta r. Reta r que passa pelo ponto A e é paralela ao vetor −→v 6= 0. Se r é a reta que passa pelo ponto A e tem direção −→v 6= −→0 , temos: P ∈ r ⇐⇒ −−→ AP é múltiplo de −→v ⇐⇒ −−→ AP = t−→v , para algum t ∈ R ⇐⇒ P = A+ t−→v , para algum t ∈ R. Portanto, a equação paramétrica de r é: r : P = A+ t−→v ; t ∈ R Escrevendo esta equação em coordenadas, temos que se A = (a, b) e −→v = (α, β), então as equações paramétricas de r, neste caso, são: r : { x = a+ αt y = b+ βt ; t ∈ R Exemplo 2 Determine a equação paramétrica da reta r que passa por A = (2,−3) e é paralela ao vetor −→v = (−1, 1). Solução. 6 Unidade 3Equações da reta no plano Temos que: P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (2,−3) + t(−1, 1) = (2− t,−3 + t), t ∈ R. Portanto, r : { x = 2− t y = −3 + t ; t ∈ R , são as equações paramétricas da reta r. Exemplo 3Determine o ponto de interseção da reta r1 paralela ao vetor −→v = (1, 1) que passa pelo ponto A = (2, 3) com areta r2 que passa pelos pontosB = (−1,−2) e C = (3, 6). Solução. Um ponto P = (x, y) ∈ r1 se, e somente se, P = A+ t−→v , ou seja, (x, y) = (2, 3) + t(1, 1) = (2 + t, 3 + t) , t ∈ R. E um ponto P = (x, y) ∈ r2 se, e somente se, P = B + s −−→ BC , isto é, (x, y) = (−1,−2) + s(4, 8) = (−1 + 4s,−2 + 8s) , s ∈ R. Logo, um ponto P = (x, y) ∈ r1 ∩ r2 se, e somente se,{ 2 + t = −1 + 4s 3 + t = −2 + 8s ⇐⇒ { t− 4s = −3 t− 8s = −5 ⇐⇒ 4s = 2 e t = −3 + 4s ⇐⇒ s = 1 2 e t = −1. Substituindo t = −1 em (2 + t, 3 + t), ou s = 1/2 em (−1 + 4s,−2 + 8s), obtemos que o ponto de interseção das retas é P = (1, 2). Atenção: Para determinar o ponto de interseção de duas retas dadas por suas equações paramétricas, devemos usar parâmetros diferentes, pois o parâmetro de um ponto ao longo de uma reta pode não ser igual ao parâmetro do mesmo ponto ao longo da outra reta. 3.3 Equação cartesiana da reta Nesta seção, vamos utilizar o produto interno para caracterizar algebrica- mente uma reta normal ou perpendicular a uma direção dada. Desta forma 7 Unidade 3 Equação cartesiana da reta apresentaremos o segundo tipo de equação da reta: a equação cartesiana. Definição 4 Um vetor −→u 6= −→0 é normal ou perpendicular a uma reta r se −→u ⊥ −−→ AB , quaisquer que sejam os pontos A,B ∈ r. Figura 3.5: Vetor normal à reta r. Seja r a reta que passa pelo ponto A = (x0, y0) e é perpendicular ao vetor −→u = (a, b) 6= −→0 . Então, P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ −−→ AP ⊥ −→u ⇐⇒ 〈 −−→ AP ,−→u 〉 = 0 ⇐⇒ 〈(x− x0, y − y0), (a, b)〉 = 0 ⇐⇒ a(x− x0) + b(y − y0) = 0 ⇐⇒ ax+ by = ax0 + by0 ⇐⇒ ax+ by = c , onde c = ax0 + by0. A equação dada por: r : ax+ by = c é chamada equação cartesiana da reta r. Diferente das equações paramétricas, neste caso, as coordenadas dos pon- tos pertencentes à reta se relacionam através de uma única equação. Nesta equação, observamos que os coe�cientes a e b de x e y, respectivamente, são as coordenadas do vetor normal −→u = (a, b) e que o valor de c é determinado quando se conhece um ponto de r, no caso, o ponto A = (x0, y0). Observe também que a e b não podem ser ambos iguais à zero, pois −→u = (a, b) é um vetor não nulo. 8 Unidade 3Equações da reta no plano Observação 5Um vetor −→u = (a, b) 6= (0, 0) é normal à reta r se, e somente se, o vetor −→v = (−b, a) é paralelo à r. A demonstração deste fato será deixada como exercício. Exemplo 4Determine a equação cartesiana da reta r que passa pelo ponto A = (−1, 4) e é normal ao vetor −→u = (2, 3). Solução. Como −→u ⊥ r, devemos ter r : 2x + 3 y = c. O valor de c é calculado sabendo que A = (−1, 4) ∈ r, isto é, c = 2× (−1) + 3× 4 = 10. Portanto, a equação procurada é r : 2x+ 3y = 10. Figura 3.6: Exemplo 4 Exemplo 5Determine a equação cartesiana da reta r que passa pelo ponto B = (−1, 4) e é paralela ao vetor −→v = (2, 3). Solução. Conhecer um ponto e um vetor paralelo à reta equivale a dar as equações paramétricas: r : { x = −1 + 2t y = 4 + 3t ; t ∈ R . Como −→v = (2, 3) ‖ r temos, pela observação 5, −→u = (3,−2) ⊥ r. Portanto, r : 3x− 2y = c. Para determinar c, usamos o fato de que B = (−1, 4) ∈ r, isto é, c = 3× (−1)− 2× 4 = −11. 9 Unidade 3 Equação cartesiana da reta Logo, r : 3x− 2y = −11. Figura 3.7: Exemplo 5 Exemplo 6 Determine a equação cartesiana da reta r : { x = 3− s y = 1 + 2s ; s ∈ R. Solução. Das equações paramétricas, obtemos o vetor −→v = (−1, 2) paralelo à reta r e um ponto A = (3, 1) pertencente a ela. Como, pela observação 5, o vetor −→u = (2, 1) é normal a r, a equação cartesiana de r é 2x+ y = c. Para calcular c, usamos que A = (3, 1) ∈ r, isto é, c = 2× 3 + 1 = 7. Logo a equação cartesiana de r é 2x+ y = 7. Figura 3.8: Exemplo 6. Exemplo 7 Determine as equações paramétricas da reta r : −3x+ 2y = 4. 10 Unidade 3Equações da reta no plano Solução. Para acharmos as equações paramétricas de r precisamos conhecer um vetor paralelo a r e um ponto de r. Da equação cartesiana, temos −→u = (−3, 2) ⊥ r =⇒ −→v = (2, 3) ‖ r . Para determinarmos um ponto de r, fazemos x = 0 na equação cartesiana de r e calculamos o valor correspondente de y: x = 0 =⇒ 2× y = 4 =⇒ y = 2 . Portanto, o ponto A = (0, 2) pertence a r. Assim, as equações paramétricas de r são: r : { x = 2t y = 2 + 3t ; t ∈ R. Figura 3.9: Exemplo 7. 3.4 Equação a�m ou reduzida da reta Nesta seção estudaremos o terceiro tipo de equação de reta no plano: a equação a�m. Este tipo de equação é o mais trabalhado na Educação Básica. Considere uma reta r : ax+ by = c dada por sua equação cartesiana, onde −→u = (a, b) 6= (0, 0) é um vetor normal a r. Vamos veri�car que r pode ser reescrita das seguintes formas: • Se b = 0, então um ponto (x, y) ∈ r se, e somente se, x = c a . Ou seja, r = {(d, y); y ∈ R}, onde d = c a (observe que a 6= 0). 11 Unidade 3 Equação afim ou reduzida da reta Uma reta do tipo r : x = d é dita vertical pois, neste caso, r é paralela ao eixo-OY ou coincidente com este eixo. Figura 3.10: r é vertical e sua equação é x = d. • Se b 6= 0, isto é, r é não vertical, então o ponto (x, y) ∈ r se, e somente se, by = −ax+ c⇐⇒ y = −a b x+ c b . Ou seja, r = {(x,mx+ n);x ∈ R}, onde m = −a b e n = c b . Uma equação do tipo y = mx+n é chamada equação a�m ou reduzida da reta r. Provamos assim que toda reta r não vertical se representa por uma equação do 1o grau da forma y = mx+ n, onde: • n é a ordenada do ponto onde r intersecta o eixo−OY . Se n = 0, então r passa pela origem. • m é a razão entre o acréscimo de y e o acréscimo de x quando se passa de um ponto a outro sobre a reta. De fato, se x0 6= x1, y0 = mx0 + n e y1 = mx1 + n, então: y1 − y0 x1 − x0 = (mx1 + n)− (mx0 + n) x1 − x0 = m(x1 − x0) x1 − x0 = m. • O número m chama-se inclinação ou coe�ciente angular da reta r : y = mx+ n. Além disso, � Se m > 0, a função y = mx + n é crescente, isto é, se x1 0, y = mx+ n é crescente. � Se m y2 = mx2 + n. Figura 3.12: Para m 0 : 0cada uma destas situações. Proposição 6 As retas r1 : ax+ by = c e r2 : a′x+ b′y = c′ são paralelas ou coincidentes se, e somente se, existe λ 6= 0 tal que (a′, b′) = λ(a, b), isto é, se e somente se, seus vetores normais são múltiplos. Demonstração Suponhamos que a′ = λa, b′ = λb, c′ 6= λc e λ 6= 0. Se P = (x, y) ∈ r1, ou seja, ax+ by = c, então λax+ λby = λc⇐⇒ a′x+ b′y = λc 6= c′. Provamos assim que se P = (x, y) ∈ r1, então P = (x, y) /∈ r2, ou seja, que r1 ∩ r2 = ∅. Por outro lado, se a′ = λa, b′ = λb, c′ = λc e λ 6= 0, então ax+ by = c⇐⇒ λax+ λby = λc⇐⇒ a′x+ b′y = c′, ou seja, as retas r1 e r2 são coincidentes. Suponhamos agora que r1 ∩ r2 = ∅ ou r1 = r2, ou seja, que r1 e r2 são retas paralelas ou coincidentes. Considere o sistema: { ax+ by = c a′x+ b′y = c′ Se ∣∣∣∣∣ a b a′ b′ ∣∣∣∣∣ = ab′ − a′b 6= 0, o sistema possui uma única solução dada por: x = cb′ − c′b ab′ − a′b e y = c′a− ca ab′ − a′b . Logo, como as retas são paralelas ou coincidentes, devemos ter ab′−a′b = 0. Isto signi�ca que os vetores (a, b) e (a′, b′) são múltiplos, ou seja, existe λ ∈ R tal que (a′, b′) = λ(a, b). Como (a, b) 6= (0, 0) e (a′, b′) 6= (0, 0), devemos ter λ 6= 0. 16 Unidade 3Equações da reta no plano Corolário 7As retas r1 : ax+ by = c e r2 : a ′x+ b′y = c′ são coincidentes se, e somente se, existe λ ∈ R, λ 6= 0, tal que (a′, b′) = λ(a, b) e c′ = λc . DemonstraçãoPelo teorema acima, se as retas são coincidentes, existe λ 6= 0 tal que a′ = λa e b′ = λb. Seja (x0, y0) um ponto da reta r. Como r1 = r2, as coordenadas x = x0 e y = y0 satisfazem também a equação de r2. Logo, c′ = a′x0 + b′y0 = λax0 + λby0 = λc , isto é c′ = λc. Reciprocamente, se existe λ ∈ R, λ 6= 0, tal que λa = a′ , λb = b′ e λc = c′, é claro que as equações de r1 e r2 representam a mesma reta, isto é, r1 = r2. Como consequência do corolário anterior e da proposição 6, obtemos: Corolário 8As retas r1 : ax + by = c e r2 : a′x + b′y = c′ são paralelas se, e somente se, existe λ ∈ R, λ 6= 0, tal que (a′, b′) = λ(a, b) e c′ 6= λc . Exemplo 9Determine a equação cartesiana da reta r2 paralela à reta r1 : x− 2y = 3 que passa pelo ponto A = (2, 2). Solução. Seja r2 : ax + by = c a equação cartesiana da reta r2. Pela proposição 6, existe λ 6= 0 tal que (a, b) = λ(1,−2), onde (1,−2) é o vetor normal à reta r1. Podemos tomar, sem perda de gene- ralidade, λ = 1, ou seja, (a, b) = (1,−2). Como r2 : x−2y = c e o ponto A = (2, 2) ∈ r2, devemos ter c = 2−2×2 = −2. 17 Unidade 3 Paralelismo e perpendicularismo entre retas Figura 3.18: Exemplo 9. Logo, x− 2y = −2 é a equação cartesiana da reta r2. Exemplo 10 Veri�que se as retas r1 : x+ 2y = −1, r2 : 2x+ 4y = 2 e r3 : 3x+ 6y = −3 , são paralelas ou coincidentes. Solução. Multiplicando a equação de r1 por 2, obtemos r1 : 2x + 4y = −2. Como −2 6= 2, temos r1 ‖ r2. Multiplicando a equação de r1 por 3, obtemos a equação de r3. Logo, r1 = r3. Além disso, r2 ‖ r3. Definição 9 O ângulo ∠(r1, r2) entre duas retas r1 e r2 se de�ne da seguinte maneira: • se r1 e r2 são coincidentes ou paralelas, então ∠(r1, r2) = 0, • se as retas são concorrentes, isto é, r1∩ r2 = {P}, então ∠(r1, r2) é o menor dos ângulos positivos determinados pelas retas. 18 Unidade 3Equações da reta no plano Figura 3.19: ∠(r1, r2) = θ. Em particular, 03Equações da reta no plano Sejam r1 e r2 retas perpendiculares. Se r1 é horizontal, r1 : y = b, então r2 é vertical, r2 : x = c, e vice-versa. Figura 3.21: Retas horizontais e verticais são perpendiculares. A proposição abaixo nos diz quando duas retas não verticais e não horizontais são perpendiculares. Proposição 12Sejam r1 : y = mx + n e r2 : y = m′x + n′ duas retas tais que m 6= 0 e m′ 6= 0. Então, r1 ⊥ r2 se, e somente se, mm′ = −1. DemonstraçãoComo r1 : mx−y = −n e r2 : m′x−y = −n′ temos, pela proposição 10, que r1 ⊥ r2 se, e somente se, seus vetores normais −→v = (m,−1) e −→w = (m,−1) são ortogonais. Logo, r1 ⊥ r2 ⇐⇒ 〈−→v ,−→w 〉 = mm′ + 1 = 0⇐⇒ mm′ = −1. Exemplo 14Determine a equação da reta r2 que passa pelo ponto A e é perpendicular à reta r1, onde: (a) r1 : y = 3 , A = (2, 5) ; (b) r1 : y = 2x− 5 , A = (2,−1) . Solução. (a) Como r1 é horizontal, r2 deve ser vertical e a sua equação da forma r2 : x = n. Sendo que A = (2, 5) ∈ r2, devemos ter 2 = n e, portanto, r2 : x = 2. 23 Unidade 3 Paralelismo e perpendicularismo entre retas Figura 3.22: Reta r1 vertical, r2 ⊥ r1. (b) Como r1 é não vertical e não horizontal, a equação de r2 deve ser da forma r2 : y = mx+ n, onde 2m = −1 pela proposição 12. Isto é, m = −1 2 e, portanto, r2 : y = −1 2 x+ n. Para determinar o valor de n usamos que A = (2,−1) ∈ r2. Ou seja, as coordenadas de A devem satisfazer a equação de r2: −1 = −1 2 × 2 + n =⇒ n = 0 . Assim, r2 : y = −1 2 x é a equação procurada. Figura 3.23: Reta r1 : y = − 1 2 x+ 2 , r2 ⊥ r1. Exemplo 15 Determine as equações cartesianas das retas perpendiculares à reta r que passa pelos pontos A = (1, 1) e B = (2, 4). Solução. A reta r tem inclinação m = 4− 1 2− 1 = 3. As retas perpendiculares 24 Unidade 3Equações da reta no plano a r devem, portanto, ter inclinação m′ = − 1 m = −1 3 . Logo, a equação a�m de uma reta perpendicular a r é r′d : y = −1 3 x+ d . Variando d ∈ R, obtemos a equação de qualquer reta perpendicular à reta r. Figura 3.24: Reta passando pelos pontos A e B e algumas retas da família r′d : y = − 1 3 x+ d. Escrevemos o valor d como subíndice em r′d para indicar que a reta em questão depende do valor d. Ou seja, mudar o valor de d signi�ca considerar outra reta também perpendicular a r. A equação da reta r′d se escreve na forma cartesiana como: r′d : 1 3 x+ y = d , ou seja, r′d : x+ 3y = −3d . Nesta equação d é um número real qualquer, assim como −3d. Portanto, fazendo c = −3d, a família de retas perpendiculares à reta r pode ser reescrita na forma: r′c : x+ 3y = c , onde c ∈ R é um número real arbitrário. Exercícios 1. Veri�que se os pontos P = (3, 2), Q = (1, 3) e R = (6, 4) são colineares. 2. Considere os pontos A = (2, 4), B = (4, 5) e C = (5, 2). (a) Encontre a equação cartesiana da reta r que passa pelos pontos A e C. (b) Encontre a equação cartesiana da reta s que passa por B e é perpendi- cular à reta r. 25 Unidade 3 Paralelismo e perpendicularismo entre retas (c) Encontre a altura h do triângulo ABC em relação à base AC. 3. Considere os pontos A = (0, 3), B = (2, 1), C = (0,−2) e D = (3, 3). Veri�que que os segmentos AB e CD se interceptam e determine o ponto de interseção. 4. Sejam r a reta que passa pelos pontos A = (2, 3) e B = (3, 4) e l a reta que passa pelos pontos C = (6, 0) e D = (1,−3). Veri�que que as retas r e l são concorrentes e determine o ponto P de interseção. O ponto P pertence ao segmento AB, à semirreta −−→ AB ou à semirreta oposta a −−→ AB ? O ponto P pertence ao segmento CD, à semirreta −−→ CD ou à semirreta oposta à −−→ CD ? 5. Encontre as equações paramétricas da reta r que passa pelo ponto P = (1, 3) e é paralela à reta s : 2x + 4y = −4. Faça um esboço das retas r e s. 6. Encontre o ponto P de ordenada −4 sobre a reta s perpendicular à reta r : { x = 1− 2t y = 2 + 3t , t ∈ R, que passa por (−2, 5). 7. Mostre que as retas y = ax− 4− 2a passam pelo mesmo ponto, para todo a ∈ R, e encontre este ponto. 8. Calcule a equação a�m da reta: (a) r1 paralela à reta s1 : 4x− 3y = 1 que passa pelo ponto (6, 2); (b) r2 perpendicular à reta s2 : y = 2x− 1 que passa pelo ponto (4, 0); (c) r3 perpendicular à reta s3 : x = 5 que passa pelo ponto (2, 4). 9. Determine a equação paramétrica da reta r paralela à reta s : y = 3x − 2 que passa pelo médio do segmento AB, onde A = (3,−4) e B = (9, 8). 10. Dadas as equações paramétricas das retas abaixo, diga quais delas represen- tam a mesma reta: r1 : { x = 2t+ 1 y = −2t+ 4 , t ∈ R ; r2 : { x = −6t+ 3 y = 12t+ 2 , t ∈ R ; r3 : { x = t+ 2 y = −t+ 3 , t ∈ R. 26 Unidade 3Equações da reta no plano 11. Mostre que as retas r : x+2y = 16, s : y = 2x−2, t : { x = t+ 1 y = 2t+ 8 , t ∈ R e p : y = −x 2 + 12 formam um quadrado. 12. Considere o paralelogramo de vértices A = (1, 1), B = (4, 3), C = (5, 4) e D. Encontre a equação da reta r que passa por D e é paralela à diagonal de ABCD que não passa por D. 13. Discuta a posição relativa das retas: r : 4mx−my = 3, s : 12x− 3my = m, em função de m ∈ R. 14. Esboce a família de retas descritas pela equação 5y = λx + 5, onde 0 ≤ λ ≤ 5. 15. Para que valores de λ ∈ R as retas (λ−1)x+6y = −1 e 4x+(λ+1)y = 1 são paralelas ? 16. Encontre todas as retas que são perpendiculares à reta s : 3x+ 4y = 1. 17. Determine, em função de um único parâmetro, dando seu domínio de vari- ação, uma equação que descreva a família de todas as retas que têm a seguinte propriedade: o triângulo formado pelas retas e pelos eixos coorde- nados tem área 2 e está situado no primeiro quadrante. 18. Sejam m e n dois números reais não nulos e P = (x, y) um ponto. (a) Mostre que quando P descreve uma reta r, então os pontos Q =( x m , y n ) também descreve uma reta s. (b) Se a equação de s é αx+ βy = γ, encontre a equação de r. 19. Sejam r1 : ax+ by = c e r2 : a′x+ b′y = c′ duas retas concorrentes em um ponto P . Mostre que a reta r′′ : a′′x + b′′y = c′′ passa pelo ponto P se, e somente se, existem números s e t tais que a′′ = sa + ta′, b′′ = sb + tb′ e c′′ = sc+ tc′. 27 Unidade 3 Paralelismo e perpendicularismo entre retas 20. Sejam P = (−1, 3) e Q = (2, 2). (a) Determine a equação a�m da reta r que passa por P e Q. (b) Determine as coordenadas dos pontos que estão sobre a reta r e cuja distância ao ponto Q é o dobro da distância ao ponto P . (c) Determine as coordenadas dos pontos que estão sobre a reta r e cuja distância ao ponto Q é λ vezes a distância ao ponto P , onde λ > 0. 21. Seja P o paralelogramo ABDC cujas diagonais estão sobre as retas r1 : { x = t+ 1 y = −t+ 1 , t ∈ R e r2 : { x = −2t+ 1 y = t+ 2 , t ∈ R. Sabendo que A = (1, 1) e que AB ⊂ r, onde r é uma reta paralela ao vetor (2, 1), determine os vértices B,C e D de P . 22. Considere o retângulo ABDC, o ponto E ∈ AB e o ponto F ∈ BD tais que |AB| = 4, |AC| = 3, |AE| = 2 e |FD| = 1. Escolhendo um sistema de eixos ortogonais adequado, determine o cosseno do ângulo formado pelas retas r e l, e calcule a distância do vértice C ao ponto P , onde r é a reta que contém o segmento AF , l é a reta que contém o segmento CE e {P} = CE ∩ AF . 23. Seja ABC um triângulo qualquer. Mostre, usando um sistema de eixos orto- gonais adequado, que as alturas AD,BE e CF relativas aos lados BC,AC e AB, respectivamente, se interceptam num ponto, chamado ortocentro do triângulo. 24. Mostre que a equação cartesiana da reta r que corta o eixo-horizontal no ponto de abscissa a e o eixo-vertical no ponto de ordenada b, com a e b diferentes de zero, é dada por x a + y b = 1. 25. Uma reta r que passa pelo ponto P = (2, 4/3) forma com os semieixos co- ordenados positivos um triângulo de perímetro 12. Determine sua equação. Dica: Utilize o exercício anterior. 26. Mostre que dados três pontos A,B e C não colineares existe um, e apenas um círculo que passa por esses pontos, ou seja, um círculo circunscrito ao triângulo ABC. 28 Unidade 3Equações da reta no plano Com isso, �ca provado que as mediatrizes dos ladosde um triângulo se interceptam num ponto, chamado circuncentro, que é o centro do círculo circunscrito ao triângulo. 27. Sejam os pontos A = (1, 2), B = (3, 0) e C = (−5,−2). Determine a equação cartesiana do círculo circunscrito ao triângulo ABC. � 29 4 1 Posição relativa entre retas e círculos e distâncias Sumário 4.1 Distância de um ponto a uma reta . . . . . . . . . . 2 4.2 Posição relativa de uma reta e um círculo no plano 4 4.3 Distância entre duas retas no plano . . . . . . . . . 11 Unidade 4 Distância de um ponto a uma reta Nesta unidade faremos uma demonstração algébrica de um resultado bem conhecido da Geometria Euclidiana que nos dá as possíveis posições relativas entre uma reta e um círculo em função da distância do centro do círculo a reta. Mas, antes vamos deduzir uma fórmula para calcular a distância de um ponto a uma reta e outra, para encontrar a distância entre duas retas paralelas. 4.1 Distância de um ponto a uma reta Dados um ponto P e uma reta r no plano, já sabemos calcular a distância de P a cada ponto P ′ ∈ r. Agora vamos ver como calcular a distância de P à reta r. Definição 1 De�nimos a distância, d(P, r), do ponto P à reta r por d(P, r) = min{d(P, P ′) |P ′ ∈ r} Dizemos que um ponto P ? ∈ r realiza a distância de P à reta r, se d(P, P ?) ≤ d(P, P ′) ,para todo P ′ ∈ r. Figura 4.1: P ? realiza a distância de P à reta r. Usando o teorema de Pitágoras é fácil veri�car que o ponto P ? que realiza a distância do ponto P à reta r é o pé da perpendicular a r que passa pelo ponto P . Assim, d(P, r) = min{d(P, P ′) |P ′ ∈ r} = d(P, P ?) . 2 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias Teorema 2Sejam r : ax+ by = c uma reta e P = (x0, y0) um ponto no plano. Então a distância de P a r é dada por d(P, r) = | ax0 + by0 − c |√ a2 + b2 DemonstraçãoSeja s a reta perpendicular à reta r : ax + by = c que passa pelo ponto P = (x0, y0). Como −→u = (a, b) ⊥ r, temos que −→u ‖ s. Logo, s : { x = x0 + at y = y0 + bt ; t ∈ R, são as equações paramétricas de s. Figura 4.2: Demonstração do teorema 2. Seja P ∗ o pé da perpendicular a r que passa por P , ou seja, {P ∗} = r ∩ s. Então, P ∗ = (x0 + at∗, y0 + bt∗), para algum t∗ ∈ R, e a(x0 + at∗) + b(y0 + bt∗) = c ⇐⇒ (a2 + b2)t∗ + ax0 + by0 = c ⇐⇒ t∗ = c− (ax0 + by0) a2 + b2 . Como d(P, r) = d(P, P ∗) = || −−−→ PP ∗ || e −−−→ PP ∗ = (a, b)t∗, temos: d(P, r) = |t∗| · ||(a, b)|| = |ax0 + by0 − c| a2 + b2 √ a2 + b2 d(P, r) = |ax0 + by0 − c|√ a2 + b2 . 3 Unidade 4 Posição relativa de uma reta e um círculo no plano 4.2 Posição relativa de uma reta e um círculo no plano Na unidade anterior, estudamos as posições que duas retas podem ter no plano. Abordaremos agora as posições relativas entre círculos e retas do ponto de vista algébrico. Para isso, lembramos da Geometria Plana, que um círculo C e uma reta r no plano podem estar em três posições relativas (uma em relação à outra): (a) r ∩ C consiste de dois pontos: a reta r é dita secante ao círculo C. (b) r ∩ C consiste de exatamente um ponto: a reta r é dita tangente ao círculo C. Neste caso, o ponto de interseção é chamado ponto de tangência de r com C. (c) r ∩ C = ∅: a reta r é dita exterior ao círculo C. No seguinte teorema estabelecemos uma propriedade que caracteriza a tangên- cia de uma reta a um círculo. Teorema 3 Se a reta r é tangente no ponto P (ponto de tangência) ao círculo C de centro A e raio α > 0, então a reta que passa por A e P é perpendicular à reta r. Demonstração Seja OXY o sistema de eixos ortogonais que tem origem no ponto A e eixo−OX positivo contendo o ponto P . A escolha desse sistema de eixos ortogonais visa facilitar a demonstração do teorema. 4 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias Figura 4.3: Escolha do sistema de coordenadas. Neste sistema de coordenadas, A = (0, 0) e P = (α, 0). Para demonstrar o teorema, basta mostrar que a equação da reta r no sistema de coordenadas escolhido é r : x = α. Suponhamos, raciocinando por ab- surdo, que r não é vertical. Isto é, r : y = ax+ b. Como P = (α, 0) ∈ r, devemos ter 0 = aα + b. Logo b = −aα e a equação de r é r : y = ax− aα , ou melhor, r : y = a(x− α) . Consideremos o sistema: { y = a(x− α) x2 + y2 = α2 , (4.1) onde x2+y2 = α2 é a equação do círculo C no sistema de coordenadas escolhido. Um ponto é comum à reta r e ao círculo C se, e somente se, suas coorde- nadas satisfazem as duas equações do sistema (4.1). Substituindo y da primeira equação na segunda, obtemos: x2 + a2(x− α)2 = α2 ⇐⇒ x2 − α2 + a2(x− α)2 = 0 ⇐⇒ (x− α)(x+ α) + a2(x− α)2 = 0 ⇐⇒ (x− α) [ x+ α + a2(x− α) ] = 0 . Então, x = α ou x+ α + a2(x− α) = 0 ⇐⇒ x = α ou x = α(a2 − 1) 1 + a2 . Logo, o sistema (4.1) tem duas soluções: P = (α, 0) , correspondente a x = α; P ′ = ( α(a2 − 1) 1 + a2 ,− 2aα 1 + a2 ) , correspondente a x = α(a2 − 1) 1 + a2 (veri�que!). Mas isso é absurdo, pois a reta r e o círculo C são tangentes. Assim, a hipótese de que r é uma reta não vertical é falsa. Isto conclue a prova do teorema. 5 Unidade 4 Posição relativa de uma reta e um círculo no plano Exemplo 1 Sabendo-se que o círculo C está centrado em Q = (2, 4) e que o ponto P = (2,−1) ∈ C, dê a equação da reta r tangente a C que passa por P . Encontre também a outra reta tangente a C e paralela a r. Solução. A equação do círculo C é C : (x− 2)2 + (y − 4)2 = R2 , onde R > 0 é o raio. Como P = (2,−1) ∈ C, temos (2− 2)2 + (−1− 4)2 = R2 , ou seja, R2 = 25. Portanto, C tem raio R = 5 e sua equação é C : (x− 2)2 + (y − 4)2 = 25 . Pelo teorema anterior, a reta r tangente a C no ponto P é perpendicular à reta s que contém os pontos Q e P . A reta s é vertical, pois os pontos Q e P têm abscissas iguais a 2. Portanto, sua equação é s : x = 2 e a reta r deve ser horizontal. Como P = (2,−1) ∈ r, todos os pontos de r devem ter ordenadas iguais a −1. Isto é, r : y = −1 é a equação procurada da reta r. Seja agora r′ a outra reta tangente a C paralela à reta r. Como r′ : y = a, para algum a ∈ R, e r ∩ C consiste de apenas um ponto, a equação (x− 2)2 + (a− 4)2 = 25 , deve ter apenas uma solução para x. Mas isso ocorre somente quando 25 − (a − 4)2 = 0 ⇐⇒ a − 4 = ±5 ⇐⇒ a = 4 + 5 = 9 ⇐⇒ a = 4 − 5 = −1. A segunda possibilidade corresponde a reta r : y = −1 e a primeira a reta r′ : y = 9 procurada. 6 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias Figura 4.4: Circunferência C e tangentes horizontais. Teorema 4Sejam r : ax + by = c uma reta e C um círculo de centro A = (x0, y0) e raio α > 0. Então, (a) C ∩ r = ∅ se, e somente se d(A, r) > α. (b) C ∩ r consiste de um único ponto se, e somente se, d(A, r) = α. (c) C ∩ r consiste de exatamente dois pontos se, e somente se, d(A, r) α. Figura 4.6: d(A, r) = α. Figura 4.7: d(A, r) 0. Vamos analisar o sistema 4.2 quanto ao número de soluções: • Se b 6= 0, então a primeira equação de (4.2) nos dá y = −a b x+ c b . Em particular, a reta r não é vertical. Substituindo essa expressão de y na segunda equação do sistema (4.2), obtemos: (x− x0)2 + ( −a b x+ c b − y0 )2 = α2 ⇐⇒ (x− x0)2 + ( −1 b [a x− c+ y0b] )2 = α2 ⇐⇒ (x− x0)2 + ( −1 b )2 [a x− c+ y0b] 2 = α2 ⇐⇒ (x− x0)2 + 1 b2 (a x− c+ y0b) 2 = α2 ⇐⇒ b2(x− x0)2 + (a x− c+ y0b) 2 = α2b2 ⇐⇒ b2(x− x0)2 + (a x−ax0 + ax0 + by0 − c)2 = α2b2 ⇐⇒ b2(x− x0)2 + (a (x− x0) + [ax0 + by0 − c])2 = α2b2 Fazendo x′ = x− x0 e Q0 = ax0 + by0 − c, temos b2(x′)2 + (a (x′) +Q0) 2 = α2b2 ⇐⇒ b2(x′)2 +a2 (x′)2 + 2ax′Q0 +Q2 0 = α2b2 ⇐⇒ (a2 + b2) (x′)2 + 2aQ0x ′ + (Q2 0 − α2b2) = 0 . Esta última equação (de grau dois) terá uma única solução para x′ (e, portanto, uma única solução para x) se, e somente se, o seu discriminante é igual a zero, isto é, ∆ = (2aQ0) 2 − 4 (a2 + b2) (Q2 0 − α2b2) = 0. Ou seja, 8 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias 4a2Q2 0 − 4a2Q2 0 + 4a2b2α2 − 4b2Q2 0 + 4α2b4 = 0 4a2b2α2 − 4b2Q2 0 + 4α2b4 = 0 4b2 (a2α2 −Q2 0 + α2b2) = 0 a2α2 −Q2 0 + α2b2 = 0, pois b 6= 0 α2 (a2 + b2)−Q2 0 = 0 α2 (a2 + b2) = Q2 0 α2 = Q2 0 a2 + b2 , Lembrando que Q0 = ax0 + by0 − c e extraindo a raiz quadrada, obtemos: α = |ax0 + by0 − c|√ a2 + b2 = d(A, r) . Logo, r ∩ C consiste de um único ponto, isto é, r é tangente a C se, e somente se, α = d(A, r). Analogamente, temos que o sistema (4.2): • não tem solução ⇐⇒ ∆ 0⇐⇒ α > d(A, r). Ou seja, a reta r é exterior ao círculo C se, e somente se, α d(A, r). O caso em que r : x = c é uma reta vertical �ca como exercício. Exemplo 2Calcule a distância do ponto P = (1,−1) à reta r : x+ 2y = 1. Solução. 9 Unidade 4 Posição relativa de uma reta e um círculo no plano Figura 4.8: Exemplo 2. Vamos resolver o problema de três maneiras: (1) Usando a fórmula obtida no teorema 4: sendo x0 = 1, y0 = −1, a = 1, b = 2 e c = 1, temos d(P, r) = |1× 1 + 2× (−1)− 1|√ 12 + 22 = |1− 2− 1|√ 1 + 4 = 2√ 5 . (2) Vamos achar α ≥ 0 de modo que o sistema{ x+ 2y = 1 (x− 1)2 + (y + 1)2 = α2 , tenha uma única solução, ou seja, de maneira que a reta r seja tangente ao círculo de centro P e raio α. Substituindo x = 1− 2y na segunda equação, obtemos (1− 2y − 1)2 + (y + 1)2 = α2 . Então, 4y2 + y2 + 2y + 1 = α2, isto é, 5y2 + 2y + (1− α2) = 0. Essa equação possui uma única solução se, e somente se, o seu discriminante é igual a zero: ∆ = 22 − 4× 5× (1− α2) = 0 4− 20(1− α2) = 0 1− 5(1− α2) = 0 1− 5 + 5α2 = 0 α2 = 4 5 =⇒ α = 2√ 5 . 10 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias Portanto, d(P, r) = α = 2√ 5 . (3) Seja r′ a reta que passa pelo ponto P = (1,−1) e é perpendicular à reta r : x+ 2y = 1. Como r tem inclinação m = −1 2 , a reta r′ tem inclinação n = − 1 m = − 1 −1/2 = 2. Logo, a equação de r′ deve ser r′ : y = 2x+ d. Sendo P = (1,−1) ∈ r′, temos −1 = 2 × 1 + d =⇒ d = −1 − 2 = −3. Assim, r′ : y = 2x − 3. Note, também, que a equação de r se escreve: r : y = −1 2 x+ 1 2 . Seja r ∩ r′ = {P ?}. Se P ? = (x, y), então 2x− 3 = −1 2 x+ 1 2 , ou seja, ( 2 + 1 2 ) x = 1 2 + 3. Portanto, x = 2 5 × 7 2 = 7 5 e y = 2× 7 5 − 3 = −1 5 . Logo, P ? = ( 7 5 ,−1 5 ) . Finalmente, d(P, r) = d(P, P ?) = √( 7 5 − 1 )2 + ( −1 5 + 1 )2 = √( 2 5 )2 + ( 4 5 )2 = √ 4 + 16 52 = 2√ 5 , concluindo, assim, o cálculo desejado. 4.3 Distância entre duas retas no plano Definição 5De�nimos a distância entre r e r′ como sendo a menor distância entre um ponto de r e um ponto de r′. Isto é, d(r, r′) = min{d(P, P ′) |P ∈ r e P ′ ∈ r′} Pela de�nição anterior, podemos concluir que d(r, r′) = 0 se, e somente se, r e r′ são coincidentes ou concorrentes. 11 Unidade 4 Distância entre duas retas no plano Consideremos, então, duas retas paralelas r e r′. Sabemos que, dado R ∈ r, existe um único ponto R? ∈ r′, pé da perpendicular a r′ traçada por R, tal que d(R,R′) ≥ d(R,R?) , para todo R′ ∈ r′ . Como r ‖ r′, temos d(Q,Q?) = d(P, P ?), quaisquer que sejam P,Q ∈ r, pois QPP ?Q? é um retângulo. Então, d(Q,Q′) ≥ d(Q,Q?) = d(P, P ?) = d(P, r′) , quaisquer que sejam Q ∈ r e Q′ ∈ r′. Figura 4.9: Distância entre duas retas paralelas. Logo, qualquer que seja P ∈ r, d(r, r′) = d(P, r′). Como conseqüencia do teorema 2, temos o seguinte corolário. Corolário 6 Sejam r : ax + by = c e r′ : ax + by = c′ retas paralelas (c 6= c′) ou coincidentes (c = c′). Então, d(r, r′) = | c− c′ |√ a2 + b2 Demonstração Seja P = (x0, y0) um ponto da reta r. Então d(r, r′) = d(P, r′) = |ax0 + by0 − c′|√ a2 + b2 . Como ax0 + by0 = c, obtemos d(r, r′) = |c− c′|√ a2 + b2 . 12 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias Exemplo 3Determine as equações das retas paralelas à reta r : x+ 2y = 2 que distam 5 unidades de r. Solução. Seja s : x+ 2y = c uma reta paralela à reta r. Temos, d(r, s) = 5⇐⇒ |c− 2|√ 22 + 12 = 5⇐⇒ |c− 2| = 5 √ 5 . Logo c = 2 + 5 √ 5 ou c = 2− 5 √ 5, ou seja, s1 : x+ 2y = 2 + 5 √ 5 e s2 : x+ 2y = 2− 5 √ 5 , são as retas paralelas a r que distam 5 unidades da reta r. Vejamos outra solução para o mesmo problema sem usar a fórmula da dis- tância entre duas retas paralelas. Seja t : y = 2x a reta perpendicular à reta r que passa pela origem. Logo, r ∩ t = {P}, onde P = (2/5, 4/5) (veri�que!). Sejam (x, 2x) os pontos pertencentes à reta t que distam 5 de r, ou seja, d ( (x, 2x) , ( 2 5 , 4 5 )) = 5 . Então, ( x− 2 5 )2 + 4 ( x− 2 5 )2 = 25 ⇐⇒ 5 ( x− 2 5 )2 = 25⇐⇒ x = ± √ 5 + 2 5 . Como t : y = 2x, os pontos ao logo de t que estão a distância 5 de P são: P1 = (√ 5 + 2 5 , 2 √ 5 + 4 5 ) P2 = ( − √ 5 + 2 5 ,−2 √ 5 + 4 5 ) . Consideremos agora as retas s1 e s2 paralelas à reta r que passam por P1 e P2, respectivamente. Como d(s1, r) = d(P1, P ) = 5 d(s2, r) = d(P2, P ) = 5, s1 e s2 são as retas paralelas a r que distam 5 unidades de r, e suas equações são: s1 : x+ 2y = 5 √ 5 + 2 5 + 2 ( 10 √ 5 + 4 5 ) = 5 √ 5 + 2 s2 : x+ 2y = −5 √ 5 + 2 5 + 2 ( −10 √ 5 + 4 5 ) = −5 √ 5 + 2. 13 Unidade 4 Distância entre duas retas no plano Figura 4.10: Retas a distância 5 de r. Exercícios 1. A distância da reta 4x− 3y + 1 = 0 ao ponto P é 4. Se a ordenada de P é 3, determine sua abscissa. 2. Um ponto se move de maneira que sua distância ao ponto (1,−1) é sempre igual a duas vezes a distância à reta 3x− 2y+ 6 = 0. Determine a equação de seu lugar geométrico. 3. Sabendo-se que o círculo C está centrado em (1, 3) e que o ponto P = (−1, 1) ∈ C, encontre a equação da reta r tangente a C que passa por P . Encontre também a reta tangente a C e paralela a r. 4. Encontre as equações das retas paralelas à reta r : 2x + y = 1 que distam 3 de r. 5. Encontre, se possível, λ ∈ R para que d(r, P ) = 3, onde: (a) r : x− y = 3 e P = (2λ, λ), onde λ ≥ 0. (b) r : λx = y e P = (2, √ 3). 6. Determine a equação do lugar geométrico de um ponto que se move de maneira que sua distância a reta 4x − 3y + 12 = 0 é sempre igual a duas vezes sua distância ao eixo OX. 14 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias 7. Mostre que a reta y = ax + b é tangente ao círculo x2 + y2 = R2 se, e somente se, b2 = (1 + a2)R2. 8. Encontre as retas que passam pelo ponto (2, 7) e tangenciam o círculo de centro em (3, 0) e raio 3. 9. Calcule a distância: (a) da reta 2y = x+ 1 ao ponto P = (2,−1). (b) da reta x+ y = 2 a reta x+ y = 3. 10. Considere o sistema não linear { y = 2x+ 1 (x− 2)2 + (y − 1)2 = R , onde R ∈ R. Faça uma análise do número de soluções desse sistema em função do parâmetro R. 11. Suponha que a reta r : 3x− 2y = 1 tangencia um círculo C com centro no ponto (2, 3). (a) Calcule o raio do círculo C. (b) Calcule o ponto de tangência da reta r com a circunferência C. (c) Determine a reta que tangencia C e é paralela a r. 12. Sejam r e r′ duas retas concorrentes no plano. Dizemos que uma reta s é bissetriz de r e r′ quando os ângulos entre r e s e entre r′ e s são iguais. Se s e s′ são as bissetrizes das retas concorrentes r e r′, mostre que s ∪ s′ = {P | d(P, r) = d(P, r′)}. 13. Considere as retas r1 : a1x+b1y = c1 e r2 : a2x+b2y = c2, onde a 2 1+b21 = 1 e a22 + b22 = 1. Mostre que as duas bissetrizes dos ângulos formados por r1 e r2 são (a1 − a2)x+ (b1 − b2)y = c1 − c2 e (a1 + a2)x+ (b1 + b2)y = c1 + c2. Dica: Utilize o exercício anterior. 14. Sejam as retas r1 : 4x+ 3y = 0 e r2 : 3x+ 4y = 0. Determine as equações dos círculos de raio igual a 7/5 que são tangentes às retasr1 e r2. 15 Unidade 4 Distância entre duas retas no plano 15. Considere o ângulo PR̂Q cujos lados são as semirretas −−→ RP e −−→ RQ . Deter- mine, em função de um parâmetro, os pontos da semirreta que bissecta esse ângulo. Resolva também o caso particular em que P = (3, 1), R = (2, 4) e Q = (−1, 2). 16. Encontre a equação cartesiana do círculo inscrito ao triângulo ABC, onde A = (3, 4), B = (6,−2) e C = (4, 6). 17. Sejam r uma reta e A um ponto não pertencente a r. O ponto simétrico do ponto A em relação à reta r é o ponto A′ tal que r é a mediatriz do segmento AA′. Determine as coordenadas de A′ sabendo que r : ax+by = c e A = (x0, y0). Faça o caso particular em que r : y = 2x+ 1 e A = (4, 1). 18. Sejam r e s duas retas concorrentes. A reta obtida re�etindo a reta s em relação à reta r é a reta s′ tal que r é uma das bissetrizes de s e s′. Supondo que r : ax + by = c, s : a′x + b′y = c′ e r ∩ s = {(x0, y0)}, determine a equação da reta s′. Resolva o caso particular em que r : x + 3y = 3 e s : 2x+ y = 1. 19. Considere as retas paralelas r e s. A re�exão da reta s em relação à reta r é a reta s′ paralela à reta r, diferente de s, tal que d(s′, r) = d(s, r). Supondo que r : ax + by = c e s : ax + by = c′, encontre c′′ ∈ R, em função de c e c′, de modo que s′ : ax+ by = c′′. Faça o caso particular em que r : 3x+ 2y = 2 e s : 3x+ 2y = 4. 20. Considere as retas r1 : 3x + 4y = 2 e r2 : 3x + 4y = −3. Determine, em função de um parâmetro, a equação da família de círculos tangentes às retas r1 e r2. Se o centro do círculo pertence à reta l : x + y = 1, encontre sua equação. 21. (Posição relativa entre dois círculos) Sejam C1 e C2 dois círculos de centro A1 e A2 e raios r1 e r2, respectivamente. Sendo c = d(A1, A2), mostre que: (a) C1∩C2 é vazio se, e somente se, c > r1+r2 ou r1 > r2+c ou r2 > r1+c. (b) C1 ∩ C2 consiste de um único ponto se, e somente se, c = r1 + r2 ou r1 = r2 + c ou r2 = r1 + c. 16 Unidade 4Posição relativa entre retas e círculos e distâncias (c) C1∩C2 consiste de dois pontos se, e somente se, c 0 . . 15 5.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 5.8 Exercícios Suplementares . . . . . . . . . . . . . . . 20 5.9 Solução de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Unidade 5 Introdução 5.1 Introdução Os historiadores atribuem ao matemático Menaecmus (380 � 320 A.C. aproximadamente), discípulo de Eudóxio na Academia de Platão, a descoberta das curvas cônicas ou seções cônicas quando trabalhava na resolução do problema da duplicação do cubo. Foi ele o primeiro a mostrar que as elipses, as parábolas e as hipérboles são obtidas como seções de um cone quando cortado por planos não paralelos à sua base. Figura 5.1: Apolônio de Perga Nos escritos de Pappus de Alexandria, credita- se ao geometra grego Aristeu (370 � 300 a.C.) a publicação do primeiro tratado sobre seções cônicas. Mais tarde, o astrônomo e matemático gregoApolônio de Perga (262-190 a.C.) recompilou e aprimorou os resultados conhecidos até então sobre o assunto na sua obra Seções Cônicas. A denominação das cur- vas não foi devida a Menaecmus. As curvas somente foram nomeadas na obra de Apolônio, mas os nomes parábola e hipérbole foram usados antes dele. Foi Apolônio quem considerou as curvas como seções do cone duplo, com o qual a hipérbole adquiriu outro ramo, tal qual conhecemos hoje em dia. A obra Seções Cônicas de Apolônio e os Elementos de Euclides constituem o ápice da matemática grega. Figura 5.2: Elipse Figura 5.3: Hipérbole Figura 5.4: Parábola A motivação principal de Pierre de Fermat na elaboração da sua obra Ad locos planos et solidos isagoge (1636), no qual estabelece um sistema de coordenadas na Geometria Euclidiana (equivalente ao de Descartes), aconteceu quando restaurava a obra perdida de Apolônio, Plane Loci, seguindo o delinea- 2 Unidade 5Elipse mento feito por Pappus de Alexandria (290 � 350 aproximadamente). De posse da teoria de equações de François Viète, Fermat fez uso sistemático da linguagem algébrica para obter as demonstrações dos teoremas enunciados por Pappus na sua descrição da obra de Apolônio. A aplicação da Álgebra com- binada com a natureza particular dos lugares geométricos estudados em Plane Loci e as técnicas usadas nas demonstrações dos resultados, revelaram a Fermat que todos os lugares geométricos discutidos por Apolônio poderiam se exprimir na forma de equações algébricas com duas variáveis, cuja análise, usando a teoria de Viète, produziria as propriedades fundamentais do lugar geométrico assim como a natureza da sua construção. Fermat aplicou os mesmos procedimentos ao estudar a obra Cônicas de Apolônio e, através das propriedades que de�nem as seções cônicas, obteve suas equações. Seus estudos e análise deram lugar a sete equações que ele podia obter como formas irredutíveis a partir da equação geral do segundo grau com duas variáveis que, escrita na linguagem atual, é: Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0. (5.1) Segundo os valores dos coe�cientes dessa equação, Fermat classi�cou os lu- gares geométricos obtidos na seguinte nomenclatura: reta, hipérbole equilátera, par de retas concorrentes, parábola, círculo, elipse e hipérbole axial. Nosso objetivo, neste e nos próximos três capítulos, é estudar a equação (5.1) nos casos em que A 6= 0 ou B 6= 0 ou C 6= 0. Para isso, de�niremos, geometricamente, uma elipse, uma hipérbole e uma parábola, que são os prin- cipais lugares geométricos obtidos dessa equação. O primeiro lugar geométrico que estudaremos corresponde à seção cônica denominada elipse. 5.2 Elipse Definição 1Uma elipse E de focos F1 e F2 é o conjunto dos pontos P do plano cuja soma das distâncias a F1 e F2 é igual a uma constante 2a > 0, maior do que a distância entre os focos 2c ≥ 0. Ou seja, sendo 0 ≤ creta não focal é a reta `′ perpendicular a ` que passa pelo centro C. • A elipse intersecta a reta não focal `′ em exatamente dois pontos, B1 e B2, denominados vértices da elipse sobre a reta não focal (Figura 5.6). 4 Unidade 5Elipse `′ ` F1 F2C A2A1 B1 B2 cc a−ca−c b b aa a a Figura 5.6: Elementos da elipse sobre as retas focal e não focal De fato, como `′ é a me- diatriz do segmento F1F2, temos que B ∈ `′∩E se, e somente se, d(B,F1) = d(B,F2) = a. Logo, pelo teorema de Pitá- goras, `′∩E consiste de dois pontos, B1 e B2, em `′, que distam b = √ a2 − c2 do cen- tro C da elipse. • O eixo não focal da elip- se é o segmento B1B2 de comprimento 2b, onde b2 = a2 − c2. • O número e = c a é a excentricidade da elipse. Note que 0 ≤ e a2 − a2 =⇒ a2 + cx > 0. • y2 b2 ≤ x2 a2 + y2 b2 = 1 =⇒ y2 ≤ b2 =⇒ −b2 + y2 ≤ 0 =⇒ (x+ c)2 + y2 = x2 + 2cx+ c2 + y2 a2 − x21 ⇐⇒ b a √ a2 − x20 > b a √ a2 − x21 ⇐⇒ f(x0) > f(x1). Outra maneira de veri�car que f(x) é decrescente é calculando sua primeira derivada e veri�cando que ela é sempre negativa para x ∈ (0, a): f ′(x) = − bx a √ a2 − x2 O O Y X Y X P xo yo xo+x x yo+y y Figura 5.12: P =(x, y) O X Y =(x0+x, y0+y)OXY Sejam OXY um sistema de eixos or- togonais, O = (x0, y0) um ponto no plano e OX Y o sistema cujos eixos OX e OY são paralelos aos eixos OX e OY e têm o mesmo sentido destes eixos, res- pectivamente. Designamos por (x, y) as coordenadas do ponto P no sistema de eixos OX Y e por (x, y) as coordenadas de P no sistema de eixos OXY . Se −→e1 e −→e2 são os vetores unitários na direção e sentido, respectivamente, dos eixos OX e OY (e, portanto, dos eixos OX e OY ) segue, da Proposição 13 do Capítulo 2, que: −−→ OP = x−→e1 + y−→e2 , −−→ OP = x−→e1 + y−→e2 e −−→ OO = xo −→e1 + yo −→e2 . Como −−→ OP = −−→ OO + −−→ OP , temos: x−→e1 + y−→e2 = (xo −→e1 + yo −→e2 ) + (x−→e1 + y−→e2 ) = (x+ xo) −→e1 + (y + yo) −→e2 . Logo, as coordenadas do ponto P nos sistemas OXY e OX Y são relacio- nadas pelas fórmulas (Figura 5.12):x = x+ x0 y = y + y0. O exemplo a seguir mostra como uma simples translação do sistema de eixos ortogonais pode facilitar a solução de um problema geométrico. 11 Unidade 5 Elipse com centro no ponto O = (x0, y0) Exemplo 5 O O Y X Y X P 1 2 1+x x 2+y y Figura 5.13: x3 − 3x2 − y2 + 3x+ 4y − 5 = 0 . Faça um esboço da curva x3 − 3x2 − y2 + 3x+ 4y − 5 = 0 , escrevendo a equação nas coordenadas x e y do sistema de eixos OX Y obtido quando o sistema OXY é transladado para a origem O = (1, 2). Solução. Fazendo x = x+1 e y = y+2 na equação dada, obtemos: (x+ 1)3 − 3(x+ 1)2 − (y + 2)2 +3(x+ 1) + 4(y + 2)− 5 = 0 . Simpli�cando esta identidade, temos x3 = y2. Então, y = ±x3/2 e x ≥ 0. Fazer agora o esboço da curva é bem mais simples (ver Figura 5.13). 5.5 Elipse com centro no ponto O = (x0, y0) Por uma translação dos eixos coordenados vamos obter a equação de uma elipse E cuja reta focal é horizontal ou vertical. Seja OX Y o sistema de eixos ortogonais obtido transladando o sistema OXY para a nova origem O. Caso I. Reta focal paralela ao eixo OX Como O = (x0, y0) é o centro, ` : y = y0 é a reta focal e F1 = (x0−c, y0) e F2 = (x0 + c, y0) são os focos da elipse (pois d(F1, O) = d(F2, O) = c), temos que um ponto P = (x, y) = (x+x0, y+ y0) pertence à elipse se, e somente se, d(P, F1) + d(P, F2) = 2a , ou seja, ⇐⇒ d((x+ x0, y + y0), (x0 − c, y0)) + d((x+ x0, y + y0), (x0 + c, y0)) = 2a ⇐⇒ d((x, y), (−c, 0)) + d((x, y), (c, 0)) = 2a ⇐⇒ x2 a2 + y2 b2 = 1⇐⇒ (x− x0) 2 a2 + (y − y0) 2 b2 = 1 . Portanto, a forma canônica da equação da elipse E com centro no ponto (x0, y0) e eixo focal paralelo ao eixo OX é: 12 Unidade 5Elipse E : (x− x0) 2 a2 + (y − y0) 2 b2 = 1 , onde b2 = a2 − c2 Os elementos dessa elipse são: • Reta focal: ` : y = y0; • Reta não focal: `′ :x=x0; • Focos: F1 = (x0 − c, y0) e F2 = (x0 + c, y0); • Vértices sobre a reta focal: A1 = (x0 − a, y0) e A2 = (x0 + a, y0); • Vértices sobre a reta não focal: B1 = (x0, y0 − b) e B2 = (x0, y0 + b); O esboço da elipse é mostrado na Figura 5.14. O O X X YY F1 F2 A1 A2 B1 B2 xo x o + c x o − c x o + a x o − a yo yo+b yo−b Figura 5.14: E : (x−x0) 2 a2 + (y−y0) 2 b2 = 1 . O O X X YY F1 F2 A1 A2 B1 B2 xo yo+c yo−c yo+a yo−a yo x o + b x o − b Figura 5.15: E : (x−x0) 2 b2 + (y−y0) 2 a2 = 1 . Caso II. Reta focal paralela ao eixo OY Procedendo como no caso anterior, veri�ca-se que a forma canônica da equação da elipse E com centro no ponto (x0, y0) e eixo focal paralelo ao eixo OY é: E : (x− x0) 2 b2 + (y − y0) 2 a2 = 1 , onde b2 = a2 − c2 Os elementos dessa elipse são: • Reta focal: ` : x = x0; • Reta não focal: `′ : y = y0 • Focos: F1=(x0, y0−c) e F2=(x0, y0+c); • Vértices sobre a reta focal: A1=(x0, y0−a) e A2=(x0, y0+a); • Vértices sobre a reta não focal: B1 = (x0 − b, y0) e B2 = (x0 + b, y0). O esboço da elipse é mostrado na Figura 5.15. 13 Unidade 5 Elipse com centro no ponto O = (x0, y0) Exemplo 6 Os focos de uma elipse E são (3, 8) e (3, 2), e o comprimento de seu eixo não focal é 8. Determine a equação de E , seus vértices e sua excentricidade. Solução. Como F1 = (3, 2) e F2 = (3, 8) são os focos da elipse, sua reta focal é ` : x = 3 (paralela ao eixo OY ) e seu centro é C = F1 + F2 2 = (3, 5). Além disso, 2b = 8, isto é, b = 4, c = d(C,F1) = d(C,F2) = 3 e a = √ b2 + c2 =√ 42 + 32 = √ 16 + 9 = 5. Portanto, e = c a = 3 5 ; A1 = (3, 0) e A2 = (3, 10) são os vértices sobre a reta focal; `′ : y = 5 é a reta não focal; B1 = (−1, 5) e B2 = (7, 5) são os vértices sobre a reta não focal e sua equação é: E : (x− 3)2 16 + (y − 5)2 25 = 1. Exemplo 7 A equação de uma elipse é E : x2 + 4y2 + 2x − 12y + 6 = 0. Encontre a equação da elipse na forma canônica, seu centro, seus vértices, seus focos e sua excentricidade. Solução. Completando os quadrados na equação de E , temos: E : (x2 + 2x) + 4(y2 − 3y) = −6 E : (x2 + 2x + 1) + 4 ( y2 − 3y + 9 4 ) = −6 + 1 + 4× 9 4 = 4 E : (x+ 1)2 + 4 ( y − 3 2 )2 = 4 E : (x+ 1)2 4 + ( y − 3 2 )2 = 1 . Esta última equação é a forma canônica de E . Assim, C = ( −1, 3 2 ) é o centro de E , a = 2, b = 1 e c = √ a2 − b2 = √ 22 − 12 = √ 3. Logo, e = c a = √ 3 2 é a excentricidade de E . A reta focal de E é ` : y = 3 2 , paralela ao eixo OX, e a reta não focal é `′ : x = −1, paralela ao eixo−OY . Os focos da elipse são F1 = ( −1− √ 3, 3 2 ) e F2 = ( −1 + √ 3, 3 2 ) ; os vér- tices sobre a reta focal sãoA1 = ( −1− 2, 3 2 ) = ( −3, 3 2 ) eA2 = ( −1 + 2, 3 2 ) =( 1, 3 2 ) e os vértices sobre a reta não focal são B1 = ( −1, 3 2 − 1 ) = ( −1, 1 2 ) e B2 = ( −1, 3 2 + 1 ) = ( −1, 5 2 ) . 14 Unidade 5Elipse 5.6 Equação do segundo grau com B = 0 e AC > 0 Consideremos a equação da elipse E de centro no ponto (x0, y0) e reta focal paralela ao eixo OX: E : (x− x0) 2 a2 + (y − y0) 2 b2 = 1 . Desenvolvendo essa equação, obtemos: b2x2 + a2y2 − 2b2x0x− 2a2y0y + b2x20 + a2y20 − a2b2 = 0 , que é da forma Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0 , com A = b2, B = 0, C = a2, D = −2b2x0, E = −2a2y0 e F = b2x20+a 2y20− a2b2. Então, B = 0 e A e C têm o mesmo sinal. O mesmo vale para a equação da elipse com centro no ponto (x0, y0) e reta focal paralela ao eixo OY . Reciprocamente, temos: Proposição 4Se os coe�cientes A e C da equação do segundo grau Ax2 + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0 (5.6) têm o mesmo sinal, então a equação representa um dos seguintes conjuntos: • uma elipse com eixos paralelos aos eixos coordenados; • um ponto; • o conjunto vazio. DemonstraçãoDividindo a equação (5.6) por AC, obtemos: x2 C + y2 A + D AC x+ E AC y + F AC = 0 , ou seja, x2 + D A x C + y2 + E C y A = − F AC . Completando os quadrados, temos: x2 + D A x+ D2 4A2 C + y2 + E C y+ E2 4C2 A = − F AC + D2 4A2C + E2 4AC2 . 15 Unidade 5 Equação do segundo grau com B = 0 e AC > 0 Isto é,( x+ D 2A )2 C + ( y2 + E 2C )2 A = C2D2 +ACE2 − 4AFC2 4A2C3 = M 4A2C3 (5.7) onde M = C2D2 + ACE2 − 4AFC2. Se M = 0, a equação (5.7) representa o ponto ( − D 2A ,− E 2C ) , pois A e C têm o mesmo sinal. Se M 6= 0, podemos escrever a equação (5.7) na forma: ( x+ D 2A )2 M 4A2C2 + ( y2 + E 2C )2 M 4ACC2 = 1. (5.8) Como AC > 0, a equação (5.8) representa uma elipse de eixos paralelos aos eixos coordenados e centro no ponto ( − D 2A ,− E 2C ) , se M > 0. Se M 0, representa um ponto ou o conjunto vazio são denominados casos degenerados da elipse. Exemplo 8 Veri�que se as equações abaixo representam uma elipse ou uma elipse de- generada. Caso seja uma elipse, determine seus principais elementos. (a) 25x2 + 9y2 − 225 = 0. Solução. Como 25x2+9y2 = 225, obtemos, dividindo por 225, que a equação x2 9 + y2 25 = 1 representa uma elipse com: • a = 5, b = 3 e c = √ 25− 9 = 4; • centro: C = (0, 0); • reta focal: ` = eixo−OY : x = 0;pares ordenados de números reais do conjunto R2 = {(a, b); a, b ∈ R} da seguinte maneira: Ao ponto P ∈ π fazemos corresponder o par ordenado (a, b) se P não está sobre os eixos, a é a abscissa do pé da perpendicular ao eixo-OX por P e b é a ordenada do pé da perpendicular ao eixo-OY por P . O X Y π (0, 0) (2, 0) (0,− √ 2) (4, 2) (−3, 3) (− √ 3,−2) (π,−2) Figura 1.9: Pontos no plano π Os números a, b ∈ R do par or- denado (a, b) associado ao ponto P são as coordenadas cartesianas do ponto P , a é a abscissa ou primeira coordenada de P e b é a ordenada ou segunda coordanada de P . Na Figura 1.9 ilustramos alguns pontos do plano π com suas co- ordenadas em relação ao sistema OXY . Reciprocamente, ao par ordena- do (a, b) ∈ R2 associamos o ponto P do plano π dado pela interseção da perpendicular ao eixo-OX que passa pelo ponto de abscissa a, com a per- pendicular ao eixo-OY que passa pelo ponto de ordenada b. Sabendo que (a, b) = (a′, b′) em R2 se, e somente se, a = a′ e b = b′, é simples veri�car que a correspondência ponto do plano π ←→ par ordenado de R2 é uma bijeção, isto é, uma correspondência biunívoca. Notação: Se P ∈ π corresponde a (a, b) ∈ R2, escrevemos P = (a, b). Observe que os pontos do eixo-OX têm coordenadas (x, 0) e os pontos do eixo-OY tem coordenadas (0, y). 7 Unidade 1 Distância entre pontos do plano + Para Saber Mais - Sistemas de Coordenadas - Clique para ler 1.4 Distância entre pontos do plano Sejam P = (a, b) e Q = (c, d) pontos no plano π dados pelas suas coorde- nadas em relação a um sistema de eixos ortogonais OXY dado. O X Yπ P Q R a b c d Figura 1.10: Distância entre pontos no plano π Seja R = (c, b) (Figura 1.11). A distância de P a Q, que desig- namos d(P,Q), é a medida da hi- potenusa PQ do triângulo retân- gulo 4PQR de catetos PR e QR. Sendo a distância entre dois pon- tos de um eixo medida pelo módulo da diferença das suas coordenadas, as medidas desses catetos são, res- pectivamente, |PR| = |a − c| e |QR| = |b − d|. Do teorema de Pitágoras, obtemos: d(P,Q) = |PQ| = √ |PR|2 + |QR|2 = √ (a− c)2 + (b− d)2. (1.1) Assim, a distância de P = (a, b) a Q = (c, d) é a raiz quadrada da soma dos quadrados das diferenças das coordenadas correspondentes. Exemplo 2 Calcule a distância do ponto A = (−1, 2) ao ponto B = (2,−3). Solução. Temos: d(A,B) = √ (2− (−1))2 + (−3− 2)2 = √ 9 + 25 = √ 34. Exemplo 3 Determine m ∈ R para que os pontos P = (m, 1) e Q = (2m,−m) estejam a distância 1. Solução. Temos: 8 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano d(P,Q) = √ (2m−m)2 + (−m− 1)2 = √ 2m2 + 2m+ 1 = 1 ⇐⇒ 2m2 + 2m+ 1 = 1 ⇐⇒ m(m+ 1) = 0 ⇐⇒ m = 0 ou m = −1. Exemplo 4Se A = (1, 3), determine os pontos P do eixo-OX tais que d(P,A) = 5. Solução. O ponto P é da forma (x, 0) para algum x ∈ R. Logo, d(A,P ) = √ (x− 1)2 + (0− 3)2 = 5 ⇐⇒ (x− 1)2 + 9 = 25⇐⇒ (x− 1)2 = 16 ⇐⇒ x− 1 = ±4⇐⇒ x = 5 ou x = −3 ⇐⇒ P = (5, 0) ou P = (−3, 0). O cálculo de distâncias permite obter uma caracterização algébrica do círculo no plano, do ponto médio e da mediatriz de um segmento no plano. Definição 4O círculo C de centro no ponto A ∈ π e raio r > 0 é o conjunto que consiste dos pontos do plano π situados à distância r do ponto A, ou seja: C = {P ∈ π | d(P,A) = r}. O X Y P A C π a x b y r Figura 1.11: Círculo C de centro A e raio r Se A = (a, b) num sistema de eixos ortogonais OXY no plano π, P = (x, y) ∈ C ⇐⇒ d(P,A) = r ⇐⇒ d(P,A)2 = r2 ⇐⇒ (x− a)2 + (y − b)2 = r2. Assim, associamos ao círculo C a equação (x−a)2+(y− b)2 = r2, que relaciona a abscissa com a or- denada de cada um de seus pon- tos. Propriedades geométricas do círculo são deduzidas por métodos algébricos estudando sua equação. 9 Unidade 1 Distância entre pontos do plano Exemplo 5 Determine o centro e o raio do círculo dado pela equação: (a) C : x2 + y2 − 4x+ 6y = 0. (b) C : x2 + y2 + 3x− 5y + 1 = 0. Solução. (a) Completando os quadrados, obtemos: x2 − 4x+ y2 + 6y = 0 (x2 − 4x+4) + (y2 + 6y+9) = 0+4+9 (x− 2)2 + (y + 3)2 = 13. Portanto, o círculo C tem centro no ponto A = (2,−3) e raio r = √ 13. (b) Completando os quadrados, obtemos: x2 + 3x+ y2 − 5y = −1( x2 + 3x+ 9 4 ) + ( y2 − 5y+ 25 4 ) = −1+9 4 + 25 4( x+ 3 2 )2 + ( y − 5 2 )2 = 30 4 . Assim, C é o círculo de centro no ponto A = ( −3 2 , 5 2 ) e raio r = √ 30 2 . No seguinte exemplo veremos que as coordenadas do ponto médioM de um segmento AB no plano π são os valores médios das respectivas coordenadas dos pontos A e B. Exemplo 6 Se A = (x1, y1) e B = (x2, y2) são pontos no plano π representados pelas suas coordenadas em relação um sistema de eixos ortogonais OXY , então, M = ( x1 + x2 2 , y1 + y2 2 ) . é o ponto médio do segmento AB. 10 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano O X Y π A B C D M x1 xM x2 y1 yM y2 Figura 1.12: M é o ponto médio do segmento AB Solução. Sejam M = (xM , yM) o ponto médio do segmento AB, C = (xM , y1) e D = (xM , y2). Como 4AMC e 4BMD são triângulos congruentes (AAL), • d(A,C) = d(B,D) =⇒ |xM − x1| = |x2 − xM | =⇒ xM = valor médio entre x1 e x2 =⇒ xM = x1 + x2 2 . • d(C,M) = d(D,M) =⇒ |yM − y1| = |y2 − yM | =⇒ yM = valor médio entre y1 e y2 =⇒ yM = y1 + y2 2 . No seguinte exemplo vamos usar coordenadas e a distância no plano para dar uma caracterização algébrica dos pontos que pertencem à mediatriz de um segmento dado. Exemplo 7Seja R o conjunto dos pontos equidistantes dos pontos A e B no plano π: R = {P ∈ π | d(P,A) = d(P,B)}. Mostre, algebricamente, que R é a mediatriz do segmento AB, isto é, R é a reta perpendicular ao segmento AB que passa pelo seu ponto médio M . Solução. Consideremos um sistema de eixos ortogonais OXY de modo que o eixo−OX seja a reta que passa pelos pontos A e B, com origem no ponto médio M do segmento AB e orientada de modo que A esteja à esquerda de B (�gura 1.14). Neste sistema de eixos, A e B têm coordenadas (−x0, 0) e (x0, 0), respec- tivamente, para algum número real x0 > 0. Então, P = (x, y) ∈ R ⇐⇒ d(P,A) = d(P,B)⇐⇒ d(P,A)2 = d(P,B)2 ⇐⇒ (x− (−x0))2 + (y − 0)2 = (x− x0)2 + (y − 0)2 ⇐⇒ (x+ x0)) 2 + y2 = (x− x0)2 + y2 ⇐⇒ x2 + 2xx0 + x20 + y2 = x2 − 2xx0 + x20 + y2 ⇐⇒ 2xx0 = −2xx0 ⇐⇒ 4xx0 = 0 ⇐⇒ x = 0⇐⇒ P ∈ eixo−OY . 11 Unidade 1 Distância entre pontos do plano π R A B M P Figura 1.13: Mediatriz e ponto médio de AB π R A −xo B xo M=O P X Y Figura 1.14: Escolha do sistema de eixos ortogonais Portanto, R = {(x, y) ∈ R2 |x = 0} = eixo − OY corresponde, geomet- ricamente, à reta perpendicular ao segmento AB que passa pelo ponto médio M do segmento AB. θ A BC a b c c2=a2+b2−2ab cos θ Figura 1.15: Lei dos Cossenos No seguinte exemplo vamos caracteri- zar, em termos de coordenadas, os pontos obtidos a partir de um ponto dado apli- cando uma rotação de 90◦ com respeito à origem. Para isso precisamos lembrar do se- guinte resultado (Figura 1.15): Lei dos Cossenos: Se 4ABC é um triângulo, θ = ÂCB é o ângulo no vér- tice C e a, b e c são os comprimentos dos lados opostos aos vértices A, B e C, respectivamente, então: c2 = a2 + b2 − 2ab cos θ. Exemplo 8 Seja P = (x, y) 6= O um ponto do plano π. Então, os pontos P ′ = (−y, x) e P ′′ = (y,−x) são obtidos a partir do ponto P rotacionando de 90◦ o segmento OP em torno da origem. 12 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano P P ′ X Y O x−y y x θ π Figura 1.16: Posição dos pontos P e P ′ Convenção: a rotação de 90◦ que leva o ponto P = (x, y) no ponto P ′ = (−y, x) tem sentido positivo e a rotação de 90◦ que leva o ponto P no ponto P ′′ = (y,−x) tem sentido negativo. Solução. Como d(P,O)2 = (x− 0)2 + (y − 0)2 = x2 + y2 d(P ′, O)2 = (−y − 0)2 + (x− 0)2 = y2 + x2, o triângulo 4POP ′ é isósceles. Além disso, d(P, P ′)2 = (−y − x)2 + (y − x)2 = y2 + 2xy + x2 + x2 − 2xy + y2 = 2(x2 + y2) = (x2 + y2) + (x2 + y2) = d(P,O)2 + d(P ′, O)2. Pela Lei dos Cossenos, se θ = P̂OP ′ (Figura 1.16), d(P, P ′)2 = d(P,O)2 + d(P ′, O)2 − 2d(P,O) d(P ′, O) cos θ, logo, cos• reta não focal: `′ = eixo−OX : y = 0; • vértices sobre a reta focal: A1 = (0,−5) e A2 = (0, 5); • vértices sobre a reta não focal: B1 = (−3, 0) e B2 = (3, 0); • focos: F1 = (0,−4) e F2 = (0, 4). 16 Unidade 5Elipse (b) 4x2 + 9y2 − 40x+ 36y + 100 = 0. Solução. Completando os quadrados, obtemos: 4(x2 − 10x) + 9(y2 + 4y) = −100 ⇐⇒ 4(x2 − 10x+ 25) + 9(y2 + 4y + 4) = −100 + 4× 25 + 9× 4 ⇐⇒ 4(x− 5)2 + 9(y + 2)2 = 36 ⇐⇒ (x− 5)2 9 + (y + 2)2 4 = 1 . Logo, a equação representa uma elipse com: • a = 3, b = 2 e c = √ 9− 4 = √ 5; • centro: C = (5,−2); • reta focal: ` : y = −2, paralela ao eixo−OX; • reta não focal: `′ : x = 5, paralela ao eixo−OY ; • vértices sobre a reta focal: A1 = (2,−2) e A2 = (8,−2); • vértices sobre a reta não focal: B1 = (5,−4) e B2 = (5, 0); • focos: F1 = (5− √ 5,−2) e F2 = (5 + √ 5,−2). (c) 36x2 + 9y2 − 108x+ 6y + 82 = 0. Solução. Completando os quadrados, obtemos: 36(x2 − 3x) + 9 ( y2 + 6 9 y ) = −82 ⇐⇒ 36 ( x2 − 3x+ 9 4 ) + 9 ( y2 + 2 3 y + 1 9 ) = −82 + 36× 9 4 + 9× 1 9 ⇐⇒ 36 ( x− 3 2 )2 + 9 ( y + 1 3 )2 = −82 + 81 + 1 ⇐⇒ 36 ( x− 3 2 )2 + 9 ( y + 1 3 )2 = 0 . Assim, apenas o ponto ( 3 2 ,−1 3 ) satisfaz à equação dada, isto é, a equação representa um ponto. (d) 9x2 + 4y2 + 18x− 9y + 25 = 0. Solução. Completando os quadrados, obtemos: 9(x2 + 2x) + 4 ( y2 − 9 4 y ) = −25 ⇐⇒ 9(x2 + 2x+ 1) + 4 ( y2 − 9 4 y + 81 64 ) = −25 + 9× 1 + 4× 81 64 ⇐⇒ 9(x+ 1)2 + 4 ( y − 9 8 )2 = −16 + 81 16 = −175 16 . Como −175 16 c . Mostre que {(x, y) ∈ R2 ; ax + by > c} é o semiplano para o qual o vetor (a, b), normal à reta r, aponta. 8. Sejam E a elipse e R a região do plano dadas por: E : 25x2 + 16y2 − 150x− 32y − 159 = 0 e R : 4x+ 3y ≥ 1 5x− 3y ≤ 12 |y| ≤ 5. (a) Determine todos os elementos da elipse E . (b) Faça um esboço detalhado da região do plano obtida pela interseção de R com a região focal determinada por E . 9. Obtenha todos os elementos da elipse E : x2 + 9y2 − 6x = 0 e faça um esboço detalhado da região obtida pela interseção da região focal de E com o interior do círculo C : (x− 8)2 + y2 − 25 = 0. 10. Sejam F1 e F2 pontos do plano tais que d(F1, F2) = 2c > 0 e a > 0 um número real positivo. Considere o conjunto C = {P ; d(P, F1) + d(P, F2) = 2a}. Vimos no texto que se a > c, então C é uma elipse. Determine o conjunto C quando a = c e quando a 0 e d(A1, A2) = 2a > 0, então: (a) a− c ≤ d(P, F1) ≤ a+ c para todo ponto P ∈ E ; (b) d(P, F1) = a− c se, e só se, P = A1. (c) d(P, F1) = a+ c se, e só se, P = A2. 7. Encontre as retas de inclinação 3 que são tangentes à elipse 4x2− 2y2 = 9. 8. Considere a elipse E : x2 a2 + y2 b2 = 1 e o círculo C : x2+y2 = a2. Prove que um ponto P = (xo, yo) pertence à elipse E se, e só se, o ponto P ′ = ( xo, a b yo ) pertence ao círculo C. Conclua que r é a reta tangente à elipse no ponto (xo, yo) ∈ E se, e só se, r = {( x, a b y ) ; (x, y) ∈ r } é uma reta que é tangente a C no ponto ( xo, a b yo ) ∈ C. Daí, já sabendo como determinar a reta tangente a C no ponto (xo, a b yo), mostre que b2xox + a2yoy = a2b2 é a reta tangente a E no ponto (xo, yo). 9. Seja P um ponto da elipse E de focos F1 e F2. Mostre que os segmentos PF1 e PF2 formam ângulos iguais com a reta tangente a E em P , e que a reta normal a E em P é a bissetriz do ângulo F̂1PF2. 10. Construções da elipse usando o GeoGebra. (a) Numa tela do GeoGebra: • escolha dois pontos F1 e F2; • trace a semirreta de origem F1 passando por F2; • trace um círculo de centro F1 contendo F2 no seu interior; • escolha um ponto D no círculo não pertencente à semirreta ⇀ F1F2; • trace os segmentos DF1 e DF2; • trace a mediatriz do segmento DF2 e determine o ponto P onde ela intersecta o segmento DF1; 21 Unidade 5 Exercícios Suplementares • Note que o ponto P pertence à elipse de focos F1 e F2 com 2a = d(F1, D). (De fato, como o ponto P pertence à mediatriz de DF2, temos d(P,D) = d(P, F2) e, portanto, 2a= d(F1, D) = d(F1, P ) + d(P,D) = d(F1, P ) + d(P, F2)). Habilite o rastro no ponto P para desenhar a elipse, movendo o ponto D ao longo do círculo. (b) Numa tela do GeoGebra: • trace a reta que passa por dois pontos A e B; • trace dois círculos concêntricos de centro A; • escolha um ponto C no círculo exterior; • trace o segmento AC e determine sua interseção D com o círculo interior; • determine a interseção P da perpendicular à reta AB que passa por C com a paralela à reta AB que passa por D; • prove que o ponto P pertence a uma elipse de centro A cujos semieixos tem comprimentos iguais aos raios dos círculos dados. • habilite o rastro no ponto P e desenhe a elipse que o contém, movendo o ponto C ao longo do círculo. Para Saber Mais 1. O Exercício 9 é o princípio de re�exão da elipse. Como consequência dele, todo feixe de luz, ou onda sonora, que parte de um dos focos, atinge o outro foco. 2. O termo foco foi empregado pela primeira vez em 1604 por Johannes Kepler (1571 � 1630). Analisando a enorme coleção de dados e observações astronômicas de Thcho Brahe (1546 � 1601), de quem se tornou assistente, Kepler concluiu que a órbita de Marte é uma elipse tendo o Sol num dos focos. Esta é a primeira lei do movimento planetário ou primeira lei de Kepler. Esse resultado, juntamente com a segunda lei de Kepler (o segmento que liga o planeta Marte ao Sol descreve áreas iguais em tempos iguais) foram publicados na sua obra Astronomia Nova (1609). Posteriormente, Kepler con�rmou que as mesmas propriedades eram válidas para as órbitas dos outros planetas. A 22 Unidade 5Elipse terceira lei de Kepler (para quaisquer dois planetas, a razão dos quadrados dos seus períodos é igual à razão dos cubos dos raios médios das suas órbitas) foi publicada no seu segundo, e mais elaborado, tratado astronômico, Harmonices mundi livri (1619). Figura 5.16: Kepler A terceira lei de Kepler foi um elemento de fundamental importância para Isaac Newton (1643 � 1727) concluir, em 1666, a lei do qua- drado inverso (dois corpos são atraídos por uma força proporcional ao inverso do quadrado da dis- tância entre eles). Newton con�rmou as outras duas leis de Kepler como consequência da ação das forças centrípetas atuantes sobre os corpos no movimento, como aparece na que é considerada a maior publicação cientí�ca de todos os tempos, o Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica de Newton, publicado em 1687. 3. A Terra se movimenta seguindo uma órbita elíptica que tem o Sol num dos focos. Em relação ao Exercício 6, se F1 é o foco correspondente ao Sol, a posição que a Terra ocupa quando está no vértice A1 é a mais próxima do Sol e a posição que ocupa quando está no vértice A2 é a mais afastada do Sol. Essas posições correspondem ao Periélio (A1) e Afélio (A2) da órbita da Terra. É importante observar que as estações não são determinadas pela posição da terra ao longo da órbita e sim pela inclinação do seu eixo de rotação em relação ao plano que contém a órbita. 23 Unidade 5 Solução de Exercícios 5.9 Solução de Exercícios Solução do Exercício 8: Sejam r : ax+ by = c e r′ : ax+ by = c′ duas retas paralelas. Considere a reta ` = { t(a, b) ; t ∈ R} perpendicular às retas r e r′ que passa pela origem. Então, c 0 ⇐⇒ −−→ PP ′ = (t′ − t)(a, b) é um múltiplo positivo de (a, b). Provamos, assim, que {(x, y) ∈ R2 ; ax + by > c} é o semiplano determi- nado pela reta r para o qual o vetor (a, b), normal a r, aponta. Figura 5.17: Semiplanos determinados por r. � 24 6 1 Hipérbole Sumário 6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 6.2 Hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 6.3 Forma canônica da hipérbole . . . . . . . . . . . . . 6 6.3.1 Hipérbole com centro na origem e reta focal co- incidente com o eixo OX . . . . . . . . . . . . . 6 6.3.2 Esboço da Hipérbole . . . . . . . . . . . . . . . . 7 6.3.3 Hipérbole com centro na origem e reta focal co- incidente com o eixo OY . . . . . . . . . . . . . . 8 6.4 Hipérbole com centro no ponto O = (xo, yo) . . . . 11 6.5 Equação do segundo grau com B = 0 e AC 0, menor do que a distância entre os focos 2c > 0. H = {P | | d(P, F1)− d(P, F2) | = 2a } , 0 2a. E se P pertence à semirreta de origem F2 que não contém F1 e d(P, F1) = x (Figura 6.2 (b)), então P /∈ H, pois: |d(P, F1)− d(P, F2)| = |(x+ 2c)− x| = 2c > 2a. Seja, então, A1 ∈ F1F2 ∩H tal que d(A1, F1) = x e 0 1, pois c > a. CF1F2 A1 A2 ` `′ B2 B1 Assíntotas Retângulo de base Figura 6.7: Retângulo de base e assíntotas da hipérbole • O retângulo de base da hipér- bole H é o retângulo cujos lados têm A1, A2, B1 e B2 como pontos médios. As retas que contêm as diagonais do retângulo de base são as assíntotas de H (Figura 6.7). Portanto, as assíntotas de H são as retas que passam pelo centro da hipérbole e tem inclinação ± b a em relação à reta focal. Assim, ` e `′ são as bissetrizes das assíntotas. 4 Unidade 6Hipérbole Pelo teorema de Pitágoras, as diagonais do retângulo de base da hipérbole H têm comprimento 2c, pois a distância do centro C de H a qualquer vértice do retângulo de base é igual a c. • Uma hipérbole é equilátera, se o comprimento do eixo focal for igual ao comprimento do eixo não focal, isto é, a = b. O retângulo de base de uma hipérbole equilátera é um quadrado e as assín- totas se intersectam perpendicularmente. • Duas hipérboles são conjugadas se o eixo focal de cada uma é o eixo não focal da outra. Duas hipérboles conjugadas possuem o mesmo retângulo de base, o mesmo centro, as mesmas assíntotas e os focos estão a uma mesma distância do centro. Observação 2A hipérbole é simétrica em relação à reta focal, à reta não focal e ao centro. (a) Simetria de H em relação à reta focal. Se P ∈ H e P ′ é o simétrico de P em relação à reta focal, então (Figura 6.8): 4F1PQ ≡ 4F1P ′Q e 4F2PQ ≡ 4F2P ′Q . Em particular, |F2P | = |F2P ′| e |F1P | = |F1P ′|. Logo, |d(P ′, F1)− d(P ′, F2)| = |d(P, F1)− d(P, F2)| = 2a =⇒ P ′ ∈ H . C A1 A2 F1 F2 P P ′ Q ` `′ Figura 6.8: Simetria da hipérbole em relação à reta focal A simetria em relação à reta não focal se veri�ca de maneira análoga. 5 Unidade 6 Forma canônica da hipérbole (b) Simetria de H em relação ao centro. Se P ∈ H e P ′′ é o simétrico de P em relação ao centro (Figura 6.9), então: 4F1CP ≡ 4F2CP ′′ e 4PCF2 ≡ 4P ′′CF1 . Em particular, |F2P | = |F1P ′′| e |F1P | = |F2P ′′|. Logo, |d(P ′′, F2)− d(P ′′, F1)| = |d(P, F1)− d(P, F2)| = 2a =⇒ P ′′ ∈ H . C A1 A2 F1 F2 P P ′′ ` `′ Figura 6.9: Simetria da hipérbole em relação ao centro 6.3 Forma canônica da hipérbole Como �zemos para a elipse, vamos obter a equação da hipérbole em relação a um sistema de eixos ortogonais OXY nos casos em que o eixo focal é o eixo OX ou o eixo OY . 6.3.1 Hipérbole com centro na origem e reta focal co- incidente com o eixo OX Neste caso, F1 = (−c, 0); A1 = (−a, 0); B1 = (0,−b) F2 = (c, 0); A2 = (a, 0); B2 = (0, b). Logo, P = (x, y) ∈ H ⇐⇒ |d(P, F1)− d(P, F2)| = 2a 6 Unidade 6Hipérbole ⇐⇒ d(P, F1)− d(P, F2) = 2a (ramo direito de H) ou d(P, F1)− d(P, F2) = −2a (ramo esquerdo de H) ⇐⇒ √ (x+ c)2 + y2 − √ (x− c)2 + y2 = 2a (ramo direito de H) ou√ (x+ c)2 + y2 − √ (x− c)2 + y2 = −2a (ramo esquerdo de H). Continuando o desenvolvimento de maneira análoga ao caso da elipse, e lembrando que b2 = c2 − a2, chegamos à conclusão que P = (x, y) ∈ H ⇐⇒ (c2 − a2)x2 − a2y2 = a2(c2 − a2) ⇐⇒ b2x2 − a2y2 = a2b2 ⇐⇒ x2 a2 − y2 b2 = 1 (6.1) Esta última equação é a forma canônica da equação da hipérbole H de centro na origem e reta focal coincidente com o eixo−OX. Como as assíntotas de H são as retas que passam pela origem (centro) e têm inclinação ± b a em relação ao eixo−OX (reta focal), suas equações são y = ± b a x, ou seja, bx− ay = 0 e bx+ ay = 0. 6.3.2 Esboço da Hipérbole C A1 A2F1 F2 a b X Y Grá�co de f(x) Figura 6.10: Grá�co da função f(x) SejamH uma hipérbole eOXY um sistema de eixos ortogonais no qual O é o centro e o eixo OX é a reta focal de H. Nesse sistema, a equação de H é a equação (6.1). Dessa equação, obtemos y = ± b a √ x2 − a2, com x ≥ a ou x ≤ −a. Considere a função f : [a+∞) −→ R x 7−→ f(x) = y = b a √ x2 − a2, cujo grá�co é a parte de H situada no primeiro quadrante (Figura 6.10). Temos que f(a) = 0 e f(x) é crescente e côncava, pois 7 Unidade 6 Forma canônica da hipérbole f ′(x) = bx a √ x2 − a2 > 0 e f ′′(x) = −ab (x2 − a2)3/2 0 e 16× 4− 25× 36pode ser escrita na forma H : x2 4 − y2 9 = 1, tem centro na origem, reta focal = eixo−OX, a = 2, b = 3 e c = √ a2 + b2 = √ 13. Então, a hipérbole H′, conjugada da hipérbole H, tem centro na origem, a′ = b = 3, b′ = a = 2, c′ = c = √ 13 e reta focal = eixo−OY . Logo, H′ : y 2 9 − x 2 4 = 1 é a equação da hipérbole conjugada da hipérbole H, F1 = (0,− √ 13) e F2 = (0, √ 13) são seus focos, A1 = (0,−3) e A2 = (0, 3) são seus vértices e e = c a = √ 13 3 é a sua excentricidade. 6.4 Hipérbole com centro no ponto O = (xo, yo) Caso I. Reta focal paralela ao eixo−OX Como o centro O = (xo, yo) pertence à reta focal, temos que ` : y = yo é a equação cartesiana da reta focal. Além disso, como d(F1, O) = d(F2, O) = c, onde F1 e F2 são os focos da elipse, temos que F1 = (xo − c, yo) e F2 = (xo + c, yo). Seja P = (x+ xo, y + yo) um ponto pertencente à hipérbole, onde x = x+ xo e y = y + yo são suas coordenadas no sistema OXY , e x, y são suas coordenadas no sistema OX Y , obtido transladando o sistema OXY para a origem O = (xo, yo). Então, P pertence à hipérbole se, e somente se, |d(P, F1)− d(P, F2)| = 2a ⇐⇒ |d((x+ xo, y + yo), (xo − c, yo))− d((x+ xo, y + yo), (xo + c, yo))| = 2a ⇐⇒ |d((x, y), (−c, 0))− d((x, y), (c, 0))| = 2a ⇐⇒ x2 a2 − y2 b2 = 1⇐⇒ (x− xo)2 a2 − (y − yo)2 b2 = 1 . Logo, a forma canônica da equação da hipérbole com centro no ponto (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo−OX é: (x− xo)2 a2 − (y − yo)2 b2 = 1 , onde b2 = c2 − a2 11 Unidade 6 Hipérbole com centro no ponto O = (xo, yo) O O A1 A2F1 F2 yo xo B2 B1 X Y X Y Figura 6.14: Grá�co de H : (x−xo) 2 a2 − (y−yo) 2 b2 = 1 Os elementos de H são: • focos: F1 = (xo−c, yo) e F2 = (xo + c, yo); • reta focal: ` : y = yo; • vértices:A1 = (xo − a, yo) e A2 = (xo + a, yo); • reta não focal: `′ : x = xo; • vértices imaginários: B1 = (xo, yo − b) e B2 = (xo, yo + b); • assíntotas: y−yo = ± b a (x−xo), ou seja, b(x − xo) − a(y − yo) = 0 e b(x− xo) + a(y − yo) = 0 . Caso II. Reta focal paralela ao eixo−OY Procedendo como no caso anterior, veri�ca-se que a forma canônica da equação da hipérbole com centro no ponto (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo−OY é: (y − yo)2 a2 − (x− xo)2 b2 = 1 , onde b2 = c2 − a2 O O B1 B2 F1 F2 yo xo A2 A1 X Y X Y Figura 6.15: Grá�co de H : (y−yo) 2 a2 − (x−xo) 2 b2 = 1 Os elementos de H são: • focos: F1 = (xo, yo−c) e F2 = (xo, yo + c); • reta focal: ` : x = xo; • vértices: A1 = (xo, yo − a) e A2 = (xo, yo + a); • reta não focal: `′ : y = yo; • vértices imaginários: B1 = (xo − b, yo) e B2 = (xo + b, yo); • assíntotas: x−xo = ±b/a(y−yo), ou seja, a(x − xo) − b(y − yo) = 0 e a(x− xo) + b(y − yo) = 0. 12 Unidade 6Hipérbole Exemplo 6Determine o ângulo agudo de interseção das assíntotas da hipérbole 9x2 − y2 − 36x− 2y + 44 = 0. Solução. A equação da hipérbole se escreve na forma: 9(x2 − 4x)− (y2 + 2y) = −44 9(x− 2)2 − (y + 1)2 = −44 + 36− 1 = −9 (y + 1)2 9 − (x− 2)2 = 1 . Logo, C = (2,−1) é o centro, a reta focal é ` : x = 2, paralela ao eixo−OY , a = 3, b = 1, c = √ a2 + b2 = √ 10 e as assíntotas são x− 2 = ±1 3 (y + 1), ou seja, y = 3x− 7 e y = −3x+ 5. Assim, tg β = 3, tgα = −3, θ = α− β e tg θ = tgα− tg β 1 + tgα tg β = −6 1− 9 = 3 4 , onde β e α são os ângulos que as retas y = 3x − 7 e y = −3x + 5 fazem, respectivamente, com o semieixo OX positivo, e θ é o ângulo agudo entre as assíntotas. Exemplo 7Encontre a equação da hipérbole que passa pelo ponto (6, 2) e tem as retas r : 2x+ y = 3 e s : 2x− y = 1 por assíntotas. Solução. O centro C = (x, y) da hipérbole é o ponto de interseção das assíntotas, isto é, (x, y) é a solução do sistema:{ 2x+ y = 3 2x− y = 1 . Logo, C = (1, 1) é o centro. A reta focal ` e a reta não focal `′ são as bissetrizes das assíntotas, ou seja, (x, y) ∈ ` ∪ `′ ⇐⇒ d((x, y), `) = d((x, y), `′) ⇐⇒ |2x+ y − 3|√ 5 = |2x− y − 1|√ 5 ⇐⇒ 2x+ y − 3 = ±(2x− y − 1) ⇐⇒ y = 1 ou x = 1. Portanto, a reta focal é a reta x = 1 ou a reta y = 1. Vamos analisar os dois casos possíveis. • Caso I: Reta focal ` : y = 1, paralela ao eixo−OX. Neste caso, H : (x− 1)2 a2 − (y − 1)2 b2 = 1 e b a = 2, ou seja, b = 2a. 13 Unidade 6 Equação do segundo grau com B = 0 e AC 0 e Co par de retas, 3x+ 4y = −31 e 3x− 4y = 1, que se cortam no ponto (−5,−4). 16 Unidade 6Hipérbole Para Saber MaisQuando duas frentes de onda circulares se encontram, o fazem formando hipérboles como vemos na Figura 6.16. Figura 6.16: Interseção de frentes de onda circulares É nesse fato que se baseia o sistema de localização LORAN (LOng RAnge Navigation) onde os círculos concêntricos são sinais de rádio. 6.6 Exercícios 1. Determine a equação da hipérbole que passa pelos pontos (1,−3) e (4, 6), com centro na origem e reta focal igual ao eixo OX. 2. Considere a hipérbole H : x2 a2 − y2 b2 = 1. (a) Determine os pontos P1 e P2 onde H intersecta a perpendicular à reta focal que passa por um dos focos. (b) Veri�que que d(P1, P2) = |P1P2| = 2b2 a . Esse número é o latus rectum de H. O semi latus rectum é o número b2 a . 3. Determine a equação na forma canônica, os vértices, o centro, os focos, a reta focal, a reta não focal, os vértices imaginários, a excentricidade, as assíntotas, o latus rectum e o esboço da hipérbole H. (a) H : 9x2 − 16y2 − 144 = 0; (b) H : 4x2 − 45y2 = 180; 17 Unidade 6 Exercícios (c) H : 49y2 − 16x2 = 784; (d) H : 9x2 − 16y2 − 36x− 32y − 124 = 0; (e) H : 3x2 − 4y2 + 12x+ 8y − 4 = 0; (f) H : x2 − y2 − 6x+ 8y + 5 = 0. 4. Obtenha o lugar geométrico dos pontos cujo módulo da diferença das dis- tâncias aos pontos (0, 3) e (0,−3) é igual a 5. 5. Encontre o lugar geométrico dos pontos cujo produto das distâncias às retas 3x− 4y + 1 = 0 e 3x+ 4y − 7 = 0 é 144 25 . 6. Ache a equação da hipérbole conjugada à hipérbole de centro na origem com um vértice em (3, 0) e uma assíntota 2x− 3y = 0. 7. Determine, caso existam, os valores de λ ∈ R para os quais a equação dada representa uma hipérbole, incluindo o caso degenerado. (a) (λ− 1)x2 + (λ− 3)y2 = λ− 2; (b) (λ− 1)(λ− 2)x2 + (λ− 2)y2 − 2λ(λ− 2)y = 3λ2 − λ3; (c) (λ− 2)x2 + 2(λ− 2)x+ (λ+ 2)y2 = λ2 − 3λ+ 3; (d) (λ2 − 1)x2 + 2(λ2 − 1)(λ− 1)x+ (λ2 − 4)y2 = (λ− 1)2. 8. (a) Uma hipérbole divide o plano em três subconjuntos disjuntos: a própria hipérbole, a região que contém seus focos, denominada região focal, e a região que contém seu centro, a região não focal. Descreva a região focal e a região não focal mediante desigualdades, no caso em que a hipérbole tem centro no ponto (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo OX. (b) Veri�que se os pontos (5, 3), (−1,−2) e (−8, 4) pertencem à hipérbole H : 4x2 − 9y2 + 20x− 11 = 0, à região focal ou à região não focal de H. 9. Sejam C1 : 4x2 + y2 − 24x+ 32 = 0 e C2 : x2 − 4y2 − 6x+ 5 = 0. (a) Determine as equações canônicas de C1 e C2 e seus elementos. (b) Faça um esboço detalhado da região R : 4x2 + y2 − 24x+ 32 ≥ 0 x2 − 4y2 − 6x+ 5 ≤ 0 |y| ≤ 2. 18 Unidade 6Hipérbole 10. A reta tangente a uma hipérbole H num ponto P ∈ H é a única reta não paralela às assíntotas que intersecta H só nesse ponto. Mostre que a reta tangente à hipérbole H : b2x2 − a2y2 = a2b2, em um ponto P = (xo, yo) sobre a curva, tem por equação b2xox− a2yoy = a2b2 . 11. Determine os valores de m ∈ R para os quais as retas da família rm : y = mx− 1 são tangentes à hipérbole H : 4x2 − 9y2 = 36. 6.7 Exercícios Suplementares 1. Encontre o lugar geométrico dos pontos cuja distância ao ponto (0, 6) é igual a 3/2 da distância à reta y − 8/3 = 0. 2. Determine a equação da hipérbole H (a) de latus rectum 18 e distância entre seus focos igual a 12. (b) centrada na origem, de excentricidade 2 √ 3, latus rectum 18 e eixo focal sobre o eixo OY . (c) centrada na origem e eixos sobre os eixos coordenados, que passa pelos pontos (3, 1) e (9, 5). (d) de vértices (±6, 0) e assíntotas 7x± 6y = 0. 3. Encontre a equação e os elementos principais da hipérbole que passa pelo ponto Q = (−1,−5) e tem os eixos coordenados como assíntotas. 4. Sejam F1 e F2 dois pontos do plano tais que d(F1, F2) = 2c > 0 e a > 0 um número real positivo. Considere o conjunto C = {P ; |d(P, F1)−d(P, F2)| = 2a}. Como foi visto no texto, C é uma hipérbole se a c. 5. Mostre que uma hipérbole não intersecta suas assíntotas e que qualquer reta paralela a uma assíntota intersecta a hipérbole em exatamente um ponto. 6. (Princício de re�exão das hipérbole) Seja P um ponto de uma hipérbole H de focos F1 e F2. Mostre que a reta 19 Unidade 6 Exercícios Suplementares tangente a H em P é a bissetriz do ângulo F̂1PF2. Assim, todo raio que parte de um ponto Q, pertence à reta que passa por F1 e P e situado na região não focal de H, será re�etido no ponto P pela hipérbole num raio que intersecta o outro ramo da hipérbole no ponto de interseção, diferente de P , de H com a reta r2 que passa por F2 e P . 7. Neste exercício apresentamos duas construções da hipérbole, usando o Geo- Gebra. (a) Numa janela do GeoGebra: • escolha pontos F1 e F2 e trace a semirreta r de origem F1 passando por F2; • escolha um ponto A na semirreta r entre F1 e F2; • trace o círculo C de centro F1 que passa pelo ponto A; • escolha um ponto B no círculo C diferente de A; • trace a reta s que passa por F1 e B; • trace a mediatriz m do segmento BF2; • determine o ponto P dado pela interseção da reta s com a mediatriz m; • prove que o ponto P descreve uma hipérbole de focos F1 e F2, quando o ponto B se move ao longo do círculo C. Habilite o rastro no ponto P e mova o ponto B para desenhar a hipérbole. (b) Numa janela do GeoGebra: • trace a reta r passando por dois pontos A e B; • escolha um ponto C entre A e B na reta r; • trace os círculos CB e CC de centro A passando por B e C, respectiva- mente; • escolha um ponto D no círculo CB não pertencente à reta r; • trace a semirreta s de origem A passando por D; • determine as interseções EB e EC de s com as perpendiculares a r pas- sando por B e C respectivamente; 20 Unidade 6Hipérbole • determine as interseções P1 e P2 da reta r com o círculo C de centro A que passa por EB; • trace as retas r1 e r2, perpendiculares a r que passam pelos pontos P1 e P2, respectivamente. • trace a reta r3 paralela a r que passa pelo ponto EC ; • determine e habilite o rastro nos pontos Q1 e Q2 obtidos pela interseção de r3 com r1 e r2, respectivamente; • quando o ponto D se move ao longo do círculo CB, os pontos Q1 e Q2 descrevem os ramos de uma hipérbole de centro no ponto A, cujos vértices são os pontos de interseção de r com o círculo CB. Para Saber MaisO princício de re�exão das cônicas, conhecido desde a época dos gregos, tem sido muito explorado desde o século XVII na construção de telescópios. Em particular, o telescópio re�etor de Cassegrain, inventado pelo francês Guil- laume Cassegrain no ano de 1672, se utiliza de um espelho re�etor primário parabólico e de um espelho secundário hiperbólico. Esse é o modelo usado no telescópio espacial Hubble que orbita a Terra desde 1990. ra io s lu m in o so s espelho primário parabólico espelho secundário hiperbólico Figura 6.17: Telescópio de Cassegrain Figura 6.18: Telescópio espacial Hubble 21 Unidade 6 Solução de Exercícios 6.8 Solução de Exercícios Solução do Exercício 10: Seja r : { x = xo +mt y = yo + nt ; t ∈ R, a reta tangente à hipérbole H no ponto P = (xo, yo) ∈ H. Então, Q = (xo +mt, yo + nt) ∈ H ∩ r ⇐⇒ b2(xo +mt)2 − a2(yo + nt)2 = a2b2 ⇐⇒ b2(x2o + 2mxot+m2t2)− a2(y2o + 2nyot+ n2t2) = a2b2 ⇐⇒ (b2m2 − a2n2)t2 + (2xomb 2 − 2yona 2)t+ b2x2o − a2y2o − a2b2 = 0 ⇐⇒ (b2m2 − a2n2)t2 + (2xomb 2 − 2yona 2)t = 0 , (6.4) pois b2x2o − a2y2o = a2b2. Como b2m2 − a2n2 = (bm − an)(bm + an), temos que b2m2 − a2n2 = 0 ⇐⇒ bm − an = 0 ou bm + an = 0 ⇐⇒ ∣∣∣∣m n a b ∣∣∣∣ = 0 ou ∣∣∣∣m n −a b ∣∣∣∣ = 0 ⇐⇒ (m,n) ‖ (a, b) ou (m,n) ‖ (−a, b). Além disso, como as assíntotas r+ : bx − ay = 0 e r− : bx + ay = 0 são perpendiculares, respectivamente, aos vetores (b,−a) e (b, a), temos que (a, b) e (−a, b) são vetores paralelos às retas r+ e r−, respectivamente. Logo, b2m2 − a2n2 = 0 se, e somente se, r é paralela à assíntota r+ ou à assíntota r− da hipérbole.Então, b2m2 − a2n2 6= 0, pois, por de�nição, r não é paralela às assíntotas. Como b2m2 − a2n2 6= 0 e r ∩ H consiste de um único ponto, temos, por (6.4), que: 2xob 2m− 2yoa 2n = 0 , ou seja, (m,n) ⊥ (2xob 2,−2yoa 2). Sendo o vetor (xob 2,−yoa2) perpendicular à reta r, P = (xo, yo) ∈ r e b2x2o − a2y2o = a2b2, a equação de r é dada por: r : b2xox− a2yoy = b2x2o − a2y2o = a2b2. Solução do Exercício 11: 22 Unidade 6Hipérbole A reta rm é tangente a H se, e somente se, rm ∩H consiste apenas de um ponto e rm não é paralela às assíntotas. Como a hipérbole H : x2 9 − y2 4 = 1 tem centro na origem, reta focal = eixo−OX, a = 3 e b = 2, suas assíntotas, y = ±2 3 x, têm inclinação ±2 3 em relação ao eixo−OX. Logo, m 6= ±2 3 , ou seja, 9m2 − 4 6= 0. Além disso, rm ∩H consiste de um único ponto. Isto é, a equação 4x2 − 9(mx− 1)2 = 36⇐⇒ (4− 9m2)x2 + 18mx− 45 = 0 tem apenas uma solução. Assim, o discriminante da equação de grau 2 (4 − 9m2 6= 0) acima é igual a zero, ou seja: ∆ = (18m)2 + 4× 45(4− 9m2) = 0 ⇐⇒ 18m2 + 10(4− 9m2) = 0 ⇐⇒ −72m2 + 40 = 0 ⇐⇒ m2 = 40 72 ⇐⇒ m2 = 5 9 ⇐⇒ m = ± √ 5 3 . Portanto, y = √ 5 3 x− 1 e y = − √ 5 3 x− 1 são as retas da família rm que são tangentes à hipérbole H. Solução do Exercício Suplementar 7: Seja ρNeste caso, F = (0,−p) e L : y = p, onde 2p = d(F,L). Logo, P = (x, y) ∈ P se, e somente se,√ x2 + (y + p)2 = |y − p| ⇐⇒ x2 = −4py 5 Unidade 7 Formas canônicas da parábola Exemplo 1 Determine a equação da parábola P com vértice V na origem, cujo foco é o ponto: (a) F = (3, 0). Solução. Temos p = d(V, F ) = 3 e reta focal = eixo OX. Como o foco F está à direita do vértice, temos que a diretriz é a reta L : x = −3 e a equação da parábola é P : y2 = 12x. (b) F = (0,−2). Solução. Temos p = d(V, F ) = 2 e reta focal = eixo OY . Como o foco F está abaixo do vértice, temos que a diretriz é a reta L : y = 2 e a equação da parábola é P : x2 = −8y. Exemplo 2 ` F Y X 2 −2 V L : y=2 (4,−2) 4 P Figura 7.9: Parábola P : x2 = −8y Uma parábola P passa pelo ponto (4,−2), tem vértice V na origem e o eixo OY como reta focal. Encontre sua equação, seu foco F e a equação da sua diretriz L. Solução. Temos P : x2 = ±4py, com p = d(V, F ) > 0. Como (4,−2) ∈ P , vemos que P : x2 = −4py e 16 = 8p. Logo, p = 2, F = (0,−2), L : y = 2 e P : x2 = −8y é a equação da parábola. Exemplo 3 Um círculo C, centrado no ponto C = (4,−1), passa pelo foco F da parábola P : x2 = −16y. Mostre que a diretriz L da parábola é tangente ao círculo C. Solução. A reta focal da parábola P é o eixo OY , o vértice é a origem, o foco está abaixo da diretriz e 4p = 16. Então, F = (0,−4) e L : y = 4. A equação do círculo é: C : (x− 4)2 + (y + 1)2 = r2. Como F = (0,−4) ∈ C, temos 16 + 9 = r2, ou seja, r = 5. Então, 6 Unidade 7Parábola (x, y) ∈ C ∩ L ⇐⇒ (x− 4)2 + (4 + 1)2 = 52 ⇐⇒ (x− 4)2 = 0⇐⇒ x = 4⇐⇒ (x, y) = (4, 4). Logo, L tangencia C no ponto (4, 4) (Figura 7.10). ` F Y X −4 4 4 −1 V L : y=4 (4,−1) P C Figura 7.10: Parábola P e círculo C tangenciando a diretriz L 7.3.3 Parábola com vértice V = (xo, yo) e reta focal pa- ralela ao eixo OX Da mesma forma como �zemos para a elipse e a hipérbole nos capítulos anteriores, para obtermos a forma canônica da parábola P de vértice no ponto V = (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo OX, vamos considerar o sistema de eixos ortogonais OX Y , com origem O = V = (xo, yo) e eixos OX e OY que têm a mesma direção e mesmo sentido dos eixos OX e OY , respectivamente. Caso I. O foco F está à direita da diretriz L. Sabemos que, no sistema de coordenadas OX Y , a equação da parábola é P : y2 = 4px; o foco é F = (p, 0); o vértice é V = (0, 0); a diretriz é L : x = −p e a reta focal é ` : y = 0. 7 Unidade 7 Formas canônicas da parábola PL ` X X Y Y O O V F P xo x o + p x o − p yo y+yo x + x o y x Figura 7.11: P : (y − yo)2 = 4p(x− xo) Como x = x+ xo e y = y + yo, a equação da parábola P é: P : (y − yo)2 = 4p(x− xo) e seus elementos são: • foco: F = (xo + p, yo); • vértice: V = (xo, yo); • diretriz: L : x − xo = −p, ou seja, L : x = xo − p; • reta focal: ` : y − yo = 0, ou seja, ` : y = yo. Caso II. O foco F está à esquerda da diretriz L. Neste caso, a equação da parábola no sistema OX Y é y2 = −4px, e seus elementos são: foco F = (−p, 0); vértice V = (0, 0); diretriz L : x = p e reta focal ` : y = 0. Passando para as coordenadas x, y do sistema OXY , a equação da parábola �ca na forma: LP ` X X Y Y O O V F P xo x o + p x o − p yo y+yo x + x o y x Figura 7.12: P : (y − yo)2 = −4p(x− xo) P : (y − yo)2 = −4p(x− xo) e seus elementos são: • foco: F = (xo − p, yo); • vértice: V = (xo, yo); • diretriz: L : x− xo = p, ou seja, L : x = xo + p; • reta focal: ` : y − yo = 0, ou seja, ` : y = yo. 7.3.4 Parábola com vértice V = (xo, yo) e reta focal pa- ralela ao eixo OY Como no caso anterior, considerando o sistema de eixos ortogonais OX Y , com origem O = V = (xo, yo) e eixos OX e OY que têm a mesma direção e o mesmo sentido dos eixos OX e OY , respectivamente, podemos obter as equações e os elementos das parábolas com vértice V = (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo OY . 8 Unidade 7Parábola Caso I. O foco F está acima da diretriz L. Neste caso, o foco é F = (xo, yo + p); a diretriz é L : y = yo − p; a reta focal é ` : x = xo e a equação da parábola é: (x− xo)2 = 4p(y − yo) L P` X X Y Y O O V F P xo yo yo+p yo−p y+yo x+xo x y Figura 7.13: P : (x− xo)2 = 4p(y − yo) L P ` X X Y Y O O V F P xo yo yo+p yo−p y+yo x+xo x y Figura 7.14: P : (x− xo)2 = −4p(y − yo) Caso II. O foco F está abaixo da diretriz L (Figura 7.14). Neste caso, o foco é F = (xo, yo − p); a diretriz é L : y = yo + p; a reta focal é ` : x = xo e a equação da parábola é: (x− xo)2 = −4p(y − yo) Exemplo 4Determine a equação da parábola P de vértice V = (3, 4) e foco F = (3, 2). Encontre também a equação de sua diretriz. L :y=6 P ` :x = 3 V F X Y O 6 4 3 2 Figura 7.15: P : (x− 3)2 = −8(y − 4) Solução. Como V = (3, 4) e F = (3, 2), ` : x = 3 é a reta focal e F está abaixo de V , ou seja, abaixo da diretriz L. Logo, a equação da parábola é da forma: P : (x− 3)2 = −4p(y − 4). Sendo p = d(V, F ) = 2, temos que L : y = 6 é a dire- triz e P : (x−3)2 = −8(y−4) é a equação da parábola. 9 Unidade 7 A equação geral do segundo grau com B = 0 e AC = 0 Exemplo 5 Encontre a equação da parábola P com reta focal paralela ao eixo OX, que passa pelos pontos ( 3 2 ,−1 ) , (0, 5) e (−6,−7). Solução. Como a reta focal da parábola P é paralela ao eixo OX, sua equação deve ser da forma P : (y − yo)2 = ±4p(x − xo), que se escreve também na forma: P : y2 +Dx+ Ey + F = 0 . Substituindo as coordenadas dos pontos dados nessa equação, temos: 3 2 D − E + F = −1 5E + F = −25 −6D − 7E + F = −49 . Resolvendo o sistema, obtemos D = 8, E = −2 e F = −15. Portanto, a equação da parábola é y2 + 8x− 2y − 15 = 0 , isto é, y2 − 2y + 1 = 15− 8x+ 1 , ou, ainda, P : (y − 1)2 = −8(x− 2). Assim, a parábola P tem vértice V = (2, 1) e reta focal ` : y = 1, paralela ao eixo OX. Como 4p = 8, isto é, p = 2, e o foco F está à esquerda da diretriz, segue que F = (0, 1) e L : x = 4 é a diretriz de P . 7.4 A equação geral do segundo grau com B = 0 e AC = 0 Consideremos a equação canônica da parábola de vértice V = (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo OX: (y − yo)2 = ±4p(x− xo) . Desenvolvendo e agrupando os termos dessa equação, obtemos: y2 ∓ 4px− 2yoy + y2o ± 4pxo = 0 . Esta equação é da forma Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0, onde A = 0, B = 0, C = 1, D = ∓4p, E = −2yo e F = y2o ± 4pxo. 10 Unidade 7Parábola Analogamente, desenvolvendo a equação da parábola de vértice V = (xo, yo) e reta focal paralela ao eixo OY (x− xo)2 = ±4p(y − yo) , obtemos a equação x2 − 2xox∓ 4py + x2o ± 4pyo = 0 , que é da forma Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0, onde A = 1, B = 0, C = 0, D = −2xo, E = ∓4p e F = x2o ± 4pyo. No primeiro caso, A = 0, B = 0 e C 6= 0 e, no segundo caso, A 6= 0, B = 0 e C = 0. Portanto, em qualquer caso, B = 0 e AC = 0. Reciprocamente, temos a seguinte proposição: Proposição 3Seja a equação do segundo grau com B = 0: Ax2 + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0. (7.1) Se A = 0 e C 6= 0, esta equação representa um dos seguintes conjuntos: • uma parábola cuja reta focal é paralela ao eixo OX, se D 6= 0; • um par de retas paralelas ao eixo OX, se D = 0 e E2 − 4CF > 0; • uma reta paralela ao eixo OX, se D = 0 e E2 − 4CF = 0; • o conjunto vazio, se D = 0 e E2 − 4CF2C e y = −E − √ E2 − 4CF 2C , se E2 − 4CF > 0; • uma reta paralela ao eixo OX, y = − E 2C , se E2 − 4CF = 0; • o conjunto vazio, se E2 − 4CF 0, a equação (c) representa o par de retas y = −7± 11 6 , ou seja, y = −3 e y = 2 3 , paralelas ao eixo OX. (d) 9x2 + 42x+ 49 = 0 Solução. Como B = C = E = 0 e seu discriminante é 422 − 4 × 9 × 49 = 1764 − 1764 = 0, a equação (d) representa a reta x = −42 18 = −21 9 = −7 3 , paralela ao eixo OY . (e) 3y2 − 2y + 1 = 0 Solução. Como A = B = D = 0 e seu discriminante é 4 − 12 = −8 0. Temos que: F = (p, 0) é o foco de P e −−→ PF = (p − xo,−yo) é um vetor paralelo à reta s; o vetor (1, 0) é paralelo à reta r e, pelo exemplo anterior, −→n = (yo,−2xo) é um vetor paralelo à reta η, normal a P no ponto P = (xo, yo). 15 Unidade 7 A equação geral do segundo grau com B = 0 e AC = 0 Sejam θ1 o ângulo entre −−→ PF e −→n , e θ2 o ângulo entre −→n e o vetor (1, 0). Então, cos θ1 = xoyo + pyo√ y2o + 4x2o √ (p− xo)2 + y2o e cos θ2 = yo√ y2o + 4x2o . Como xo + p > 0 e (p− xo)2 + y2o = p2 − 2xop+ x2o + y2o = p2 − 2xop+ x2o + 4pxo = p2 + 2xop+ x2o = (xo + p)2 , temos que xo + p = √ (p− xo)2 + y2o . Logo, cos θ1 = xoyo + pyo√ y2o + 4x2o √ (p− xo)2 + y2o = (xo + p)yo (xo + p) √ y2o + 4x2o = yo√ y2o + 4x2o = cos θ2 . Portanto, θ1 = θ2. Exemplo 10 Ache a equação da reta tangente à parábola P : x2 = y + 1 paralela à reta r : 2x− y = 0, e o ponto de tangência. Solução. Seja rm : 2x− y = m uma reta paralela à reta r. Como rm não é paralela ao eixo OY (reta focal), segue que rm é tangente a P se, e só se, rm ∩ P consiste de um único ponto, ou seja, a equação x2 = 2x−m+ 1 possui uma única solução. Logo, o discriminante da equação x2 − 2x+m− 1 = 0 é igual a zero, ou seja, ∆ = 4− 4(m− 1) = 0. Então, m = 2 e 2x−y = 2 é a reta tangente a P paralela à reta 2x−y = 0. Como o ponto de tangência P = (x, y) é o ponto de interseção da reta 2x− y = 2 com a parábola x2 = y + 1, temos x2 = 2x− 2 + 1 = 2x− 1, ou seja, x2 − 2x+ 1 = 0. Portanto, x = 1 e y = 2x − 2 = 0, isto é, (1, 0) é o ponto onde a reta 2x− y = 2 tangencia a parábola P : x2 = y + 1. 16 Unidade 7Parábola 7.5 Exercícios 1. Determine a equação da parábola e seus principais elementos, sabendo que ela tem vértice na origem, (a) passa pelo ponto (9, 6) e tem reta focal paralela ao eixo OX; (b) passa pelo ponto (4,−8) e tem reta focal paralela ao eixo OY ; (c) e foco no ponto (0,−3); (d) e diretriz L : x− 7 = 0. 2. O raio focal de um ponto P da parábola P é a distância de P ao foco F de P . (a)Mostre que o raio focal do ponto P = (p1, p2) da parábola P : y2 = 4px é p1 + p. (b) Calcule o raio focal do ponto M de ordenada 6 da parábola P : y2 = 12x. 3. Encontre as equações das parábolas cuja reta focal é paralela a um dos eixos coordenados, têm vértice no ponto V = (2, 1) e parâmetro 2p = 3. Mostre que o outro ponto onde as parábolas se intersectam pertence à reta x− y − 1 = 0. 4. Seja f : R −→ R, f(x) = ax2 + bx + c, uma função quadrática de uma variável, onde a, b, c ∈ R e a 6= 0. Mostre que o grá�co de f , Gr(f) = {(x, y) ∈ R2 ; y = ax2 + bx+ c e x ∈ R}, é uma parábola e determine seus principais elementos. 5. Ache os elementos principais das parábolas (a) x2 = 6y + 2; (b) y2 = 4− 6x; (c) y = 1 4 x2 + x+ 2; (d) y = 4x2 − 8x+ 7; 6. Determine a equação da parábola P que tem: (a) foco F = (7, 2) e diretriz L : x− 5 = 0. 17 Unidade 7 Exercícios (b) vértice V = (6,−3) e diretriz L : 3x− 5y + 1 = 0; (c) vértice V = (2, 3), reta focal paralela ao eixo OY e passa pelo ponto P = (4, 5); (d) reta focal paralela ao eixo OX e passa pelos pontos (−2, 1), (1, 2) e (−1, 3). 7. Classi�que, em função do parâmetro λ ∈ R, a família de cônicas: Cλ : x2 + (λ− 2)y2 + 2λx+ 2(λ−2)y + 3λ− 3 = 0, encontrando, nos casos não degenerados, a equação da reta focal de Cλ. 8. Seja a parábola P : y2 = 4x. Determine o valor do coe�ciente angular k da reta rk : y − xk = 2 de modo que: (a) P ∩ rk tenha dois pontos distintos; (b) P ∩ rk tenha exatamente um ponto; nesse caso rk é tangente a P ; (c) P ∩ rk = ∅. 9. Determine a reta tangente à parábola (a) y2 = 8x que é paralela à reta 2x + 2y = 3, indicando o ponto de tangência; (b) x2 = 16x que é perpendicular à reta 2x + 4y = 7, indicando o ponto de tangência. 10. Seja P uma parábola de diretriz L e vértice V . Prove que d(P,L) ≤ p, para todo P ∈ P , e que a igualdade ocorre se, e só se, P = V , onde 2p é o parâmetro de P . Isto é, o vértice V é o ponto da parábola mais próximo da diretriz L 18 Unidade 7Parábola 7.6 Exercícios Suplementares 1. O latus rectum de uma parábola P é o comprimento da corda de P perpendicular à reta focal que passa pelo foco da parábola. Calcule o latus rectum das parábolas do Exercício 1. 2. Seja C um arco parabólico que tem 18 metros de altura e 24 metros de base. Encontre a altura de um ponto de C situado a 8 metros da reta focal de C. 3. Determine a equação da parábola cujo latus rectum (corda perpendicular à reta focal que passa pelo foco) é o segmento AB, onde A = (3, 5) e B = (3,−3). 4. Encontre a equação da parábola de vértice sobre a reta 7x + 3y − 4 = 0 e de reta focal paralela ao eixo OX, que passa pelos pontos (3,−5) e ( 3 2 , 1 ) . 5. Encontre o ponto da parábola P : y2 = 64x mais próximo da reta 4x+3y = 14. 6. Obtenha as retas tangentes à parábola P : y2 = 36x que passam pelo ponto (−2, 1). Determine também a reta que contém a corda que passa pelos pontos de tangência. 7. (a) Determine, caso existam, os pontos de interseção da parábola P : y2 = 24x com a elipse E : x2 100 + y2 225 = 1. (b) O complementar de uma parábola no plano consiste de duas regiões: a região focal, que contém o foco, e a região não focal, que contém a diretriz. Faça um esboço da interseção da região focal da parábola P com a região focal da elipse E do item anterior. 8. Mostre que se duas parábolas, com retas focais perpendiculares entre si, se intersectam em quatro pontos, então estes pontos pertencem a um círculo. 9. Prove que duas parábolas que têm a mesma reta focal e o mesmo foco localizado entre os vértices das parábolas, se intersectam perpendicularmente (isto é, as tangentes nos pontos de interseção são perpendiculares). 19 Unidade 7 Exercícios Suplementares 10. Vamos descrever um procedimento para efetuar a construção da parábola usando o GeoGebra: • numa janela do GeoGebra, trace a reta a por dois pontos A e B (diretriz da parábola). • escolha um ponto C, para ser o foco da parábola, fora da reta a; • escolha um ponto D na reta a; • trace a reta mediatriz b do segmento CD; • trace a reta c perpendicular à diretriz a que passa pelo ponto D; • determine a interseção E da mediatriz b com a reta c; • habilite o rastro no ponto E; • descreva a parábola de foco C e diretriz a, movendo o ponto D na diretriz. � 20 8 1 Equação Geral do Segundo Grau em R2 Sumário 8.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 8.2 Autovalores e autovetores de uma matriz real 2× 2 2 8.3 Rotação dos Eixos Coordenados . . . . . . . . . . . 5 8.4 Formas Quadráticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 8.5 Equação Geral do Segundo Grau em R2 . . . . . . . 18 8.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 8.7 Exercícios Suplementares . . . . . . . . . . . . . . . 29 Unidade 8 Introdução 8.1 Introdução Dada uma função f : R2 −→ R, o conjunto f−1(c) = {(x, y) ∈ R2 ; f(x, y) = c} é a linha de nível c da função f , onde c ∈ R. Se f : R2 −→ R é a função linear f(x, y) = ax+by, onde (a, b) 6= (0, 0), as linhas de nível de f são as retas do plano perpendiculares ao vetor −→v = (a, b), pois f−1(c) = {(x, y) ∈ R2 ; ax+ by = c}, para todo c ∈ R. Provaremos, neste capítulo, que as curvas de nível de uma função quadrática de duas variáveis, ou seja, de uma função f : R2 −→ R, dada por f(x, y) = Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F , onde A 6= 0, B 6= 0 ou C 6= 0, são as cônicas ou as cônicas degeneradas. Para isso, baseado no estudo das linhas de nível de f , feito nos três capí- tulos anteriores, quando B = 0, basta mostrar que existe um sistema de eixos ortogonais OX Y , obtido por uma rotação positiva dos eixos OX e OY , para o qual a função f , nas coordenadas x e y, se escreve na forma f(x, y) = λ1x 2 + λ2y 2 +Dx+ Ey + F . No caso particular em que se tem D = E = F = 0, a função quadrática f(x, y) = Ax2 +Bxy + Cy2 é um polinômio homogêneo de segundo grau (todos os termos têm grau 2). Estes polinômios são chamados formas quadráticas de duas variáveis. 8.2 Autovalores e autovetores de uma matriz real 2× 2 Sejam A = ( a11 a12 a21 a22 ) uma matriz real do tipo 2 × 2 e −→u = (x, y) um vetor em R2. De�nimos A−→u como sendo o vetor (a11x + a12y, a21x + a22y), ou seja, A−→u = (a11x+ a12y, a21x+ a22y) . 2 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 Observação 1A operação de�nida acima satisfaz à seguinte propriedade: A(λ−→u + µ−→v ) = λA−→u + µA−→v , para quaisquer vetores −→u e −→v em R2 e números reais λ e µ. A prova desta propriedade pode ser feita como exercício. Um número real λ é um autovalor da matriz A se existir um vetor −→u não nulo tal que A−→u = λu. Seja λ um autovalor da matriz A. Um vetor −→u = (x, y) é um autovetor de A relativo ao autovalor λ se A−→u = λu, ou seja,{ a11x+ a12y = λx a21x+ a22y = λy ⇐⇒ { (λ− a11)x− a12y = 0 −a21x+ (λ− a22)y = 0 (8.1) Observação 2O vetor nulo é um autovetor relativo a qualquer autovalor, mas um número real só é um autovalor se ele possuir um autovetor não nulo. Observação 3Se −→u é um autovetor relativo ao autovalor λ da matriz A, então µ−→u é um autovetor relativo ao autovalor λ, para todo µ ∈ R. E se −→v é outro autovetor relativo ao autovalor λ, então −→u +−→v é um autovetor relativo ao autovalor λ. Com efeito, como A(µ−→u ) = µA−→u e A(−→u + −→v ) = A−→u + A−→v (pela Observação 1), temos que: • A(µ−→u ) = µA(−→u ) = µ(λ−→u ) = λ(µ−→u ), • A(−→u +−→v ) = A(−→u ) +A(−→v ) = λ−→u + λ−→v = λ(−→u +−→v ). Na linguagem de Álgebra Linear, isso signi�ca que o conjunto {−→u ; A−→u = λ−→u } é um subespaço vetorial do espaço vetorial R2. Então, um real λ é um autovalor da matriz A se, e somente se, o sistema 8.1 tem uma solução não trivial (x, y) ((x, y) 6= (0, 0)). Mas, pela Proposição 29 do Capítulo 1, o sistema tem uma solução não trivial se, e só se, det ( λ− a11 −a12 −a21 λ− a22 ) = 0. 3 Unidade 8 Autovalores e autovetores de uma matriz real 2× 2 Com efeito, (λ − a11,−a21)x + (−a12, λ − a22)y = 0 possui uma solução (x, y) 6= (0, 0) se, e só se, um dos vetores (λ− a11,−a21) e (−a12, λ− a22) é múltiplo do outro. O polinômio p : R −→ R, dado por p(λ) = det ( λ− a11 −a12 −a21 λ− a22 ) = (λ− a11)(λ− a22)− a12a21, é denominado polinômio característico da matriz A. Obtemos, assim, o seguinte resultado. Proposição 4 Os autovalores de uma matriz A são as raízes reais do polinômio carac- terístico da matriz A. Exemplo 1 Determine, caso existam, os autovalores e os autovetores correspondente da matriz: (a) A = ( 4 2 −3 4 ) . Solução. O polinômio característico da matriz A é p(λ) = det ( λ− 4 −2 3 λ− 4 ) = (λ− 4)2 + 6 = λ2 − 8λ+ 22. Como o discriminante ∆ = 64−88 = −24 da equação p(λ) = 0 é negativo, a equação não possui raízes reais. Logo, a matriz A não tem autovalores. (b) B = ( 1 6 1 2 ) . Solução. Seja p(λ) = det ( λ− 1 −6 −1 λ− 2 ) = (λ− 1)(λ− 2)− 6 = λ2 − 3λ− 4 o polinômio característico da matriz B. Sendo λ1 = 3 + √ 9 + 16 2 = 4 e λ2 = 3− √ 9 + 16 2 = −1 as raízes (reais) da equação p(λ) = 0, temos que λ1 = 4 e λ2 = −1 são os autovalores da matriz B. Os autovetores −→u1 = (x, y) relativos ao autovalor λ1 = 4 são as soluções do sistema 4 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 { (λ1 − 1)x− 6y = 0 −x+(λ1 − 2)y = 0 ⇐⇒ { 3x− 6y = 0 −x+ 2y = 0 ⇐⇒ x = 2y. Logo, todo autovetor relativo ao autovalor λ1 = 4 é da forma −→u1 = y(2, 1), y ∈ R. Assim, ( 2√ 5 , 1√ 5 ) e ( − 2√ 5 ,− 1√ 5 ) são os autovetores unitários relativos ao autovalor λ1 = 4. E os autovetores −→u2 = (x, y) relativos ao autovalor λ2 = −1 são as soluções do sistema{ (λ2 − 1)x− 6y = 0 −x+ (λ2 − 2)y = 0 ⇐⇒ { −2x− 6y = 0 −x− 3y = 0 ⇐⇒ x = −3y, isto é, −→u2 = (−3y, y) = y(−3, 1), y ∈ R. Portanto, ( − 3√ 10 , 1√ 10 ) e( 3√ 10 ,− 1√ 10 ) são os autovetores unitários relativos ao autovalor λ2 = −1. 8.3 Rotação dos Eixos Coordenados Seja OXY um sistema de eixos ortogonais. Dado θ ∈ [0, 2π), seja OX Y o sistema obtido girando os eixos OX e OY do ângulo θ no sentido positivo (que vai de OX para OX). Então, −→v1 = (cos θ, sen θ) e −→v2 = (− sen θ, cos θ) são os vetores unitários na direção e no sentido dos eixos OX e OY , respecti- vamente. Figura 8.1: Ângulo θ entre os eixos OX e OX. 5 Unidade 8 Rotação dos Eixos Coordenados Considere um ponto P do plano. Como os vetores −→v1 e −→v2 são ortonormais (=⇒ −→v1 e −→v2 não são múltiplos), existem números reais x e y de modo que −−→ OP = x−→v1 + y−→v2 . Logo, (x, y) são as coordenadas do ponto P com respeito ao sistema OX Y , pois Proj−→v1 −−→ OP = x−→v1 e Proj−→v2 −−→ OP = y−→v2 . Figura 8.2: P = (x, y)OXY = (x, y)OX Y . Sejam (x, y) as coordenadas do ponto P em relação ao sistema OXY , isto é, −−→ OP = x−→e1 + y−→e2 , onde −→e1 = (1, 0) e −→e2 = (0, 1) são os vetores unitários na mesma direção e no mesmo sentido dos eixos OX e OY , respectivamente. Então, x−→e1 + y−→e2 = x−→v1 + y−→v2 (8.2) ⇐⇒ { x = x + y y = x + y e { x = x + y y = x + y ⇐⇒ { x = x cos θ − y sen θ y = x sen θ + y cos θ (8.3) e { x = x cos θ + y sen θ y = −x sen θ + y cos θ (8.4) 6 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 ⇐⇒ (x, y) = ( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) (x, y) (8.5) e (x, y) = ( cos θ sen θ − sen θ cos θ ) (x, y). (8.6) A matriz B = ( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) é amatriz de passagem das coordenadas (x, y) para as coordenadas (x, y) e, por sua vez, Bt = ( cos θ sen θ − sen θ cos θ ) é a matriz de passagem das coordenadas (x, y) para as coordenadas (x, y), onde Bt é a transposta da matriz B, ou seja, as colunas da matriz Bt são as linhas da matriz B. Observe que a primeira e a segunda colunas da matriz B são as coordenadas dos vetores −→v1 e −→v2 no sistema OXY , respectivamente, e a primeira e a segunda colunas da matriz Bt são as coordenadas dos vetores −→e1 e −→e2 no sistema OXY , respectivamente. Com efeito, pela identidade 8.2 e pelas equações 8.3 e 8.4, segue que −→v1 = cos θ~e1 + sen θ~e2 , −→v2 = − sen θ~e1 + cos θ~e2 (8.7) −→e1 = cos θ~v1 − sen θ~v2 , −→e2 = sen θ~v1 + cos θ~v2 (8.8) Temos também que BtB = BBt = I, onde I = ( 1 0 0 1 ) é a matriz identidade do tipo 2×2. Assim, a matriz de passagem do sistema OXY para o sistema OX Y tem a propriedade de que sua transposta é também sua inversa. As matrizes com esta propriedade são chamadas matrizes ortogonais. Exemplo 2Dado um sistema de eixos ortogonais OXY , considere o sistema de eixos ortogonais OX Y obtido pela rotação positiva de 45o dos eixos OX e OY em torno da origem. Uma hipérbole nas coordenadas x e y tem centro na origem, um de seus vértices no ponto ( √ 2, 0) e a reta y = 2x como uma de suas assíntotas. 7 Unidade 8 Rotação dos Eixos Coordenados (a) Determine a equação da hipérbole nas coordenadas x e y e nas coordenadas x e y. (b) Obtenha o centro, os vértices, os vértices imaginários e as assíntotas da hipérbole nas coordenadas x e y. (c) Faça um esboço da curva no sistema de eixos OXY , indicando todos os elementos encontrados no item (b). Solução. (a) Nas coordenadas x e y, a reta focal ` é o eixo−OX, pois o centro C = (0, 0) e o vértice V = ( √ 2, 0) pertencem ao eixo−OX. Além disso, a = d(C, V ) = √ 2 e b a = 2, pois y = 2x é uma assíntota da hipérbole. Então, b = 2a = 2 √ 2, e H : x2 2 − y2 8 = 1 é a equação da hipérbole nas coordenadas x e y. Usando as relações de mudança de coordenadas (ver 8.4), x = cos 45o x+ sen 45o y = √ 2 2 (x+ y) y = − sen 45o x+ cos 45o y = √ 2 2 (−x+ y), (8.9) obtemos que a equação da hipérbole nas coordenadas x e y é: 1 2 × 2 4 (x+ y)2 − 1 8 × 2 4 (−x+ y)2 = 1 ⇐⇒ 4(x+ y)2 − (−x+ y)2 = 16 ⇐⇒ 4(x2 + 2xy + y2)− (x2 − 2xy + y2) = 16 ⇐⇒ 3x2 + 10xy + 3y2 = 16 ⇐⇒ 3x2 + 10xy + 3y2 − 16 = 0 (b) Nas coordenadas x e y, a hipérbole tem: centro C = (0, 0); vértices: A1 = (− √ 2, 0) e A2 = ( √ 2, 0); vértices imaginários: B1 = (0,−2 √ 2) e B2 = (0, 2 √ 2);reta focal: ` : y = 0; reta não focal: `′ : x = 0; assíntotas: y = ±2x. Por (8.9), obtemos que ` : −x + y = 0 é a reta focal; `′ : x + y = 0 é a reta não focal e √ 2 2 (−x + y) = ±2 × √ 2 2 (x + y), isto é, r− : y = −3x e r+ : y = −1 3 x são as assíntotas da hipérbole nas coordenadas x e y. 8 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 E, pelas relações de mudança de coordenadas (ver 8.3), x = cos 45o x− sen 45o y = √ 2 2 (x− y) y = sen 45o x+ cos 45o y = √ 2 2 (x+ y) , obtemos que C = (0, 0) é o centro, A1 = (−1,−1) eA2 = (1, 1) são os vértices, e B1 = (2,−2) e B2 = (−2, 2) são os vértices imaginários da hipérbole nas coordenadas x e y. (c) Na �gura 8.3 mostramos o esboço da hipérbole H. Figura 8.3: Hipérbole H : 3x2 + 10xy + 3y2 − 16 = 0. Para Saber MaisConsideremos agora o sistema OX Y obtido por uma rotação positiva de ângulo θ do sistema OXY , seguida de uma translação dos eixos que leva o ponto O = (0, 0) no ponto O′ = (x0, y0), onde (x0, y0) são as coordenadas de O′ no sistema OXY . Seja OX Y o sistema obtido apenas por uma rotação positiva de ângulo θ dos eixos OX e OY . Se P = (x, y) é um ponto no sistema OXY , então (x, y) = (x cos θ + y sen θ,−x sen θ + y cos θ) são as coordenadas de P no sistema OX Y . Em particular, (x0, y0) = (x0 cos θ + y0 sen θ,−x0 sen θ + y0 cos θ) são as coorde- nadas de O′ no sistema OX Y . Logo, pela mudança de coordenadas dada por uma translação (vista do Capítulo 5), temos que 9 Unidade 8 Rotação dos Eixos Coordenados x′ = x− x0 e y′ = y − y0, onde (x′, y′) são as coordenadas de P no sistema O′X ′Y ′. Figura 8.4: Sistemas OXY , OX Y e OX′Y ′. Assim, { x′ = (x cos θ + y sen θ)− (x0 cos θ + y0 sen θ) y′ = (−x sen θ + y cos θ)− (−x0 sen θ + y0 cos θ) ⇐⇒ { x′ = (x− x0) cos θ + (y − y0) sen θ y′ = −(x− x0) sen θ + (y − y0) cos θ (8.10) Multiplicando a primeira equação de 8.10 por cos θ, a segunda, por − sen θ, e somando as equações encontradas, obtemos que (x− x0) cos2 θ + (y − y0) sen2 θ = x′ cos θ − y′ sen θ ⇐⇒ (x− x0)(cos2 θ + sen2 θ) = x′ cos θ − y′ sen θ ⇐⇒ x = x′ cos θ − y′ sen θ + x0. De modo análogo, podemos mostrar que y = x′ sen θ + y′ cos θ + y0. Portanto, as equações{ x = x′ cos θ − y′ sen θ + x0 y = x′ sen θ + y′ cos θ + y0 (8.11) nos dão (x, y) em função de (x′, y′). 10 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 Exemplo 3 Seja r : √ 3x + y = 4 a equação de uma reta no sistema OXY . Escreva a equação desta reta no sistema O′X ′Y ′ obtido da rotação positiva de ângulo θ = π/6 do sistema OXY , seguida da translação que leva o ponto = (0, 0) no ponto O′ = ( √ 3, 1). Solução. Pelas equações 8.11, temos que:{ x = x′ cos(π/6)− y′ sen(π/6) + √ 3 y = x′ sen(π/6) + y′ cos(π/6) + 1 ⇐⇒ x = √ 3 2 x′ − y′ 2 + √ 3 y = x′ 2 + √ 3 2 + 1 Logo, a reta r : √ 3x+ y = 4, nas coordenadas x′ e y′, é dada por: r : √ 3 (√ 3 2 x′ − y′ 2 + √ 3 ) + ( x′ 2 + √ 3 2 y′ + 1 ) = 4 ⇐⇒ r : 3x′ 2 − √ 3 2 y′ + 3 + x′ 2 + √ 3 2 y′ + 1 = 4 ⇐⇒ r : 2x′ + 4 = 4⇐⇒ r : x′ = 0. Ou seja, a reta r, no sistema O′X ′Y ′, é o eixo O′Y ′. Figura 8.5: Sistemas OXY e O′X′Y ′. 11 Unidade 8 Formas Quadráticas Observação 5 Seja −→v um vetor com coordenadas (α, β) no sistema OXY e (α′, β′)θ = 0 e o triângulo 4POP ′ é retângulo em O. Isso signi�ca que o ponto P ′ é obtido a partir do ponto P rotacionando o segmento OP de 90◦ em torno da origem (Figura 1.17). P P ′ X Y O x−y y x π Figura 1.17: P ′ obtido rotacionando P de 90◦ P P ′′ X Y O x y y −x π Figura 1.18: P ′′ obtido rotacionando P de −90◦ Análogamente, se prova que o ponto P ′′ = (y,−x) é obtido a partir do ponto P rotacionando o segmento OP de 90◦ em torno da origem no sentido 13 Unidade 1 Equipolência de segmentos orientados negativo (Figura 1.14) + Para Saber Mais - Fermat e Descartes - Clique para ler 1.5 Equipolência de segmentos orientados Figura 1.19: Bellavitis (1803-1880) Os métodos algébricos da Geometria cartesiana de Fermat e Descartes in�uenciaram enormemente a matemática ao longo de quase 200 anos até que foram necessários metodos mais diretos e livres de coordenadas na geometria. Em 1832 Giusto Bellavitis publica um tra- balho onde é apresentado o conceito de equipolên- cia entre segmentos que é, basicamente, a noção de vetor que conhecemos e que foi formalizada em 1844 por Hermann Grassmann no seu Die Lin- eale Ausdehnungslehre, ein neuer Zweig der Mathematik (Teoria de Extensão Linear, um novo ramo da Matemática) + Para Saber Mais - Sobre paralelogramos. - Clique para ler A B A B Figura 1.20: Segmentos com sentidos opostos Seja AB um segmento orientado de origem A e extremidade B. Isto é, no segmento AB estabelecemos um sen- tido de percurso (orientação) deA para B. Nessa situação, dizemos que o seg- mento BA está orientado com o sentido de percurso oposto ao do segmento AB (Figura 1.20). Bellavitis classi�cou os segmentos orientados do plano a par- tir da relação de equipolência: 14 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano Definição 5Dizemos que os segmentos orientados AB e CD são equipolentes, e escrevemos AB ≡ CD, quando satisfazem às seguintes três propriedades: (a) têm o mesmo comprimento; (b) são paralelos ou colineares; (a) têm o mesmo sentido A B C D (a) A B D C (b) Figura 1.21: Segmentos colineares AB e CD com (a) o mesmo sentido (b) sentidos opostos A B C D (a) A B D C (b) Figura 1.22: (a) AB ≡ CD (b) AB 6≡ CD Note que dois segmentos colineares AB e CD (Figura 1.21) têm o mesmo sentido quando induzem o mesmo sentido de percurso na reta que os contêm. Se AB e CD são segmentos paralelos e de comprimento igual, então AB e CD têm o mesmo sentido quando ABDC é um paralelogramo. Assim, na Figura 1.22 (a), AB ≡ CD, porque ABDC é um paralelogramo e, na Figura 1.22 (b), AB 6≡ CD, porque ABDC não é um paralelogramo. A seguinte proposição fornece um critério para veri�car quando dois seg- mentos são equipolentes. Proposição 6AB ≡ CD ⇐⇒ ponto médio de AD = ponto médio de BC. + Para Saber Mais - Prova da proposição 6. - Clique para ler Da Proposição 6 resulta que, se A, B, C e D são pontos no plano, então: AB ≡ CD ⇐⇒ AC ≡ BD. A seguinte proposição nos diz que qualquer ponto do plano é a extremidade inicial de um segmento orientado equipolente a um segmento orientado dado. 15 Unidade 1 Vetores no plano Proposição 7 Dados os pontos A, B e C, existe um único ponto D tal que AB ≡ CD. + Para Saber Mais - Prova da Proposição 7. - Clique para ler Vamos caracterizar a equipolência em termos de coordenadas. Para isso, consideremos um sistema de eixos ortogonais OXY no plano, e sejam A = (a1, a2); B = (b1, b2); C = (c1, c2) e D = (d1, d2) pontos do plano expressos em coordenadas com relação ao sistema dado. Proposição 8 AB ≡ CD ⇐⇒ b1 − a1 = d1 − c1 e b2 − a2 = d2 − c2. Demonstração Pela Proposição 6, AB ≡ CD ⇐⇒ ponto médio de AD = ponto médio de BC ⇐⇒ ( a1 + d1 2 , a2 + d2 2 ) = ( b1 + c1 2 , b2 + c2 2 ) ⇐⇒ (a1 + d1, a2 + d2) = (b1 + c1, b2 + c2) ⇐⇒ a1 + d1 = b1 + c1 e a2 + d2 = b2 + c2 ⇐⇒ b1 − a1 = d1 − c1 e b2 − a2 = d2 − c2. como queríamos demonstrar. Exemplo 9 Dados os pontos A = (1, 2), B = (3,−2) e C = (−2, 0), determine as coordenadas do ponto D = (x, y) de modo que AB ≡ CD. Solução. Pela proposição 8, temos AB ≡ CD ⇐⇒ 3− 2 = x− (−2) e − 2− 2 = y − 0 ⇐⇒ x = −1 e y = −4 ⇐⇒ D = (−1,−4). + Para Saber Mais - Relação de equivalência - Clique para ler 1.6 Vetores no plano A relação de equipolência permite classi�car os segmentos orientados do plano mediante a seguinte de�nição. 16 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano Definição 9Sejam A e B pontos no plano. O vetor −→v = −−→ AB é o conjunto de todos os segmentos orientados equipolentes a AB. Cada segmento equipolente a AB é um representante do vetor −−→ AB (Figura 1.23). Observação 10 A B Figura 1.23: Representantes de −−→ AB (a) Os segmentos orientados AB e CD são equipolentes se, e somente se, representam o mesmo vetor. Isto é, AB ≡ CD ⇐⇒ −−→ AB = −−→ CD . (b) Dado um ponto A no plano, o vetor −→ 0 = −−→ AA é o vetor nulo. Note que −→ 0 = −−→ BB , qualquer que seja o ponto B no plano. (c) Pela Proposição 7, dado um ve- tor −→v e um ponto qualquer C, existe um único ponto D tal que −→v = −−→ CD . Isto é, qualquer ponto do plano é origem de um único segmento orientado representante do vetor −→v . Na prática, os vetores são manipulados através das suas representações em relação a um sistema de eixos ortogonais dado. Definição 11Dados A = (a1, a2) e B = (b1, b2), os números b1 − a1 e b2 − a2 são as coordenadas do vetor −→v = −−→ AB e escrevemos −→v = (b1 − a1, b2 − a2). Note que, se AB ≡ CD, então, pela Proposição 8, −−→ AB = (b1 − a1, b2 − a2) = (d1 − c1, d2 − c2) = −−→ CD . Isto é, as coordenadas de um vetor são calculadas usando qualquer segmento orientado que o represente. Exemplo 10Sejam A = (1, 2), B = (3, 1) e C = (4, 0). Determine as coordenadas do vetor −→v = −−→ AB e as coordenadas do ponto D tal que −→v = −−→ CD . Solução. Temos −→v = −−→ AB = (3− 1, 1− 2) = (2,−1) . Além disso, se D = (d1, d2), segue que 17 Unidade 1 Vetores no plano −→v = −−→ AB = −−→ CD ⇐⇒ AB ≡ CD ⇐⇒ (2,−1) = (d1 − 4, d2 − 0) ⇐⇒ 2 = d1 − 4 e − 1 = d2 − 0 ⇐⇒ d1 = 2 + 4 = 6 e d2 = −1 + 0 = −1 . Portanto, D = (6,−1). Da observação 10 (c), temos que se −→v é um vetor e AB é um dos seus representantes, então existe um único ponto P tal que −→v ≡ −−→ OP = −−→ AB . Assim, se A = (a1, a2), B = (b1, b2) e P = (x, y): AB ≡ OP ⇐⇒ (b1 − a1, b2 − a2) = (x− 0, x− 0) = (x, y) Ou seja, vale a seguinte proposição: Proposição 12 Seja OXY um sistema de eixos ortogonais no plano. Para todo vetor −→v existe um único ponto P tal que −→v = −−→ OP . Além disso, as coordenadas do ponto P coincidem com as coordenadas do vetor −→v . Exemplo 11 Dados A = (−1, 2) e B = (4, 1), determine o ponto P tal que −−→ OP = −−→ AB . Solução. Pela Proposição 12 (Figura 1.24), P = (4− (−1), 1− 2) = (4 + 1,−1) = (5,−1). X Y A −1 2 1 B 4 P 5 −1 Figura 1.24: AB ≡ OP , Exemplo 11 Observação 13 É importante lembrar que a escolha de um sistema de eixos ortogonais nos permite identi�car pontos do plano com pares ordenados de números reais em R2. A Proposição 12 nos permite estabelecer outra identi�cação em que a cada vetor do plano corresponde, também, um par ordenado em R2: 18 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano Ponto do plano ←→ Vetor do plano ←→ Par ordenado em R2 P ←→ −−→ OP ←→ (p1, p2) Exercícios 1. Veri�que que a correspondência que a cada ponto de uma reta r faz corre- sponder a sua coordenada em R é uma correspondência biunívoca. 2. Usando apenas semirretas construa uma de�nição do conceito de "Y está à direita de X". 3. Sejam A e B dois pontos distintos do eixo E com coordenadas a e b, res- pectivamente. Determine as coordenadas dos pontos X1, X2, . . . , Xn−1 do eixo E que dividem o segmento AB em n segmentos de igual comprimento. 4. Um ponto G divide o segmento AB do eixo E em média e extrema razão se d(A,B) d(A,G) = d(A,G) d(G,B) . Determine a coordenada g de G em termos das coordenadas a e b de A e B, respectivamente. 5. Mostre que o conjunto A = {P = (x, y) |x3 + y3 = 1} não intersecta o terceirono sistema O′X ′Y ′. Então, { α′ = α cos θ + β sen θ β′ = −α sen θ + β cos θ (8.12) ⇐⇒ { α = α′ cos θ − β′ sen θ β = α′ sen θ + β cos θ (8.13) De fato, seja P o ponto tal que −→v = −−→ O′P . Se P = (x, y) no sistema OXY e P ′ = (x′, y′) no sistema O′X ′Y ′, temos que α = x− x0, β = y − y0, α′ = x′ e β′ = y′. Logo, por 8.10 e 8.11, obtemos as fórmulas 8.12 e 8.13, respectivamente. 8.4 Formas Quadráticas Dada uma forma quadrática f : R2 −→ R, f(x, y) = Ax2 +Bxy +Cy2, a matriz real do tipo 2× 2, A = ( A B/2 B/2 C ) é a matriz de f . Uma matriz ( a11 a21 a12 a22 ) real do tipo 2× 2 é simétrica se a12 = a21. Note que a matriz de qualquer forma quadrática é simétrica. Assim, para quaisquer (x, y) ∈ R2, f(x, y) = (8.14) Com efeito, = 〈( A B/2 B/2 C ) (x, y), (x, y) 〉 = = Ax2 + (B/2)yx+ (B/2)xy + Cy2 = Ax2 +Bxy + Cy2 = f(x, y). 12 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 Para provarmos o resultado principal deste capítulo, precisamos da proposição seguinte . Proposição 6Sejam B = ( b11 b12 b21 b22 ) um matriz real do tipo 2 × 2 e Bt = ( b11 b21 b12 b22 ) sua matriz transposta. Então, =, para quaisquer vetores −→u = (x, y) e −→v = (z, w) em R2. DemonstraçãoDe fato, = = b11xz + b12yz + b21xw + b22yw = x(b11z + b21w) + y(b12z + b22w) = . Precisamos também lembrar que o produto de duas matrizes do tipo 2× 2, M = ( m11 m12 m21 m22 ) e N = ( n11 n12 n21 n22 ) , é a matrizMN do tipo 2× 2, dada abaixo: M = ( m11n11 +m12n21 m11n12 +m12n22 m21n11 +m22n21 m21n12 +m22n22 ) . Assim, o ij−ésimo elemento da matriz produto MN é o produto interno do i−ésimo vetor linha, (mi1,mi2), da matriz M pelo j−ésimo vetor coluna, (n1j, n2j), da matriz N . É fácil veri�car, embora trabalhoso, que o produto de matrizes é associativo, isto é, (MN )Q = M(NQ), quaisquer que sejam as matrizesM,N e Q do tipo 2× 2. 13 Unidade 8 Formas Quadráticas Teorema 7 Seja A = ( A B/2 B/2 C ) uma matriz simétrica real do tipo 2× 2. (a) As raízes λ1 e λ2 do polinômio característico de A são reais. Isto é, a matriz A tem dois autovalores λ1 e λ2, que têm multiplicidade um se λ1 6= λ2, e multiplicidade dois se λ1 = λ2. (b) Existe um par −→u1 e −→u2 de autovetores ortonormais relativos aos autoval- ores λ1 e λ2, respectivamente. (c) Se B = ( a1 a2 b1 b2 ) é a matriz do tipo 2× 2 cuja primeira coluna é formada pelas coordenadas do vetor −→u1 = (a1, b1) e a segunda, pelas coordenadas do vetor −→u2 = (a2, b2), então BtAB = ( λ1 0 0 λ2 ) . (8.15) Demonstração (a) O polinômio característico da matriz A é p(λ) = det ( λ− A −B/2 −B/2 λ− C ) = (λ− A)(λ− C)− B2 4 = λ2 − (A+ C)λ+ AC − B2 4 . Como o discriminante da equação p(λ) = 0, ∆ = (A+ C)2 − 4(AC −B2/4) = A2 + 2AC + C2 − 4AC +B2 = (A− C)2 +B2, é não negativo, as suas raízes λ1 e λ2 são reais. (b) Se ∆ = 0, temos que A = C e B = 0 e, portanto, λ = A = C é a única raiz de p(λ) = 0. Neste caso, A = ( λ 0 0 λ ) e −→e1 = (1, 0),−→e2 = (0, 1) são autovetores ortonormais relativos ao autovalor λ de multiplicidade dois. Se ∆ > 0, a equação p(λ) = 0 tem duas raízes reais λ1 e λ2 distintas. Sejam −→u1 e −→u2 vetores não nulos tais que A−→u1 = λ1 −→u1 e A−→u2 = λ2 −→u2 , isto é, −→u1 e −→u2 são autovetores não nulos associados aos autovalores λ1 e λ2, 14 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 respectivamente. Podemos supor, pela Observação 3, que −→u1 e −→u2 são vetores unitários (isto é, ||−→u1 || = ||−→u2 || = 1). O vetor −→u1 é ortogonal ao vetor −→u2 . De fato, pela Proposição 6 , = =⇒ = =⇒ λ1 = λ2 =⇒ (λ1 − λ2) = 0 =⇒ = 0. (c) Como A−→u1 = (Aa1 + (B/2)b1, (B/2)a1 + Cb1) = (λ1a1, λ1b1) e A−→u2 = (Aa2 + (B/2)b2, (B/2)a2 + Cb2) = (λ2a2, λ2b2), segue que AB = ( A B/2 B/2 C )( a1 a2 b1 b2 ) = ( λ1a1 λ2a2 λ1b1 λ2b2 ) . Além disso, sendo ||−→u1 ||2 = a21 + b21 = 1, ||−→u2 ||2 = a22 + b22 = 1 e = a1a2 + b1b2 = 0, obtemos que: BtAB = ( a1 b1 a2 b2 )( λ1a1 λ2a2 λ1b1 λ2b2 ) = ( λ1(a 2 1 + b21) λ2(a1a2 + b1b2) λ1(a1a2 + b1b2) λ2(a 2 2 + b22) ) = ( λ1 0 0 λ2 ) . Observação 8Note que B = 0 ⇐⇒ −→e1 = (1, 0) (ou −→e2 = (0, 1)) é um autovetor da matriz A. Neste caso, A e C são os autovalores e −→e1 = (1, 0),−→e2 = (0, 1) são autovetores relativos aos autovalores A e C, respectivamente, da matriz A. Seja θ ∈ [0, 2π) o ângulo que o vetor −→u1 faz com o eixo OX no sentido positivo, isto é, −→u1 = (cos θ, sen θ). Tomemos −→u2 = (− sen θ, cos θ), obtido de −→u1 por uma rotação positiva de π 2 . 15 Unidade 8 Formas Quadráticas Figura 8.6: Sistemas de eixos ortogonais OXY e OX Y . Seja OX Y o sistema cujos eixos OX e OY têm a mesma direção e o mesmo sentido dos vetores −→u1 e −→u2 , respectivamente. Assim, por 8.5, a forma quadrática f(x, y) =, nas co- ordenadas x e y do sistema OX Y , é dada por: f(x, y) =. Daí, sabendo que AB(x, y) = A(B(x, y)) e (BtAB)(x, y) = Bt(AB(x, y)) = Bt(A(B(x, y))), concluímos, pela Proposição 6 e pelo Teorema 7, que f(x, y) = = = = λ1x 2 + λ2y 2. (8.16) Para Saber Mais SeM = ( m11 m12 m21 m22 ) , N = ( n11 n12 n21 n22 ) são duas matrizes do tipo 2×2 e −→u = (x, y) é um vetor, então MN (x, y) =M(N (x, y)). Com efeito, M(N (x, y)) = M(n11x+ n12y, n21x+ n22y) = (m11(n11x+ n12y) +m12(n21x+ n22y), m21(n11x+ n12y) +m22(n21x+ n22y)) = ((m11n11 +m12n21)x+ (m11n12 +m12n22)y, (m21n11 +m22n21)x+ (m21n12 +m22n22)y) = (MN )(x, y). Exemplo 4 Seja a forma quadrática f(x, y) = 3x2 + 2xy + 3y2, com A = C = 3 e B = 2. 16 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 Então A = ( 3 1 1 3 ) é a matriz da forma quadrática e p(λ) = det ( λ− 3 −1 −1 λ− 3 ) = (λ− 3)2 − 1 = λ2 − 6λ+ 8 = 0 é a sua equação característica, cujas raízes são λ1 = 4 e λ2 = 2. Isto é, λ1 = 4 e λ2 = 2 são os autovalores da matriz A. Os autovetores (x, y) relativos ao autovalor λ1 = 4 são as soluções do sistema{ (λ1 − 3)x− y = 0 −x+ (λ1 − 3)y = 0 ⇐⇒ { x− y = 0 −x+ y = 0 ⇐⇒ x = y. Portanto, −→u1 = ( 1√ 2 , 1√ 2 ) = ( cos π 4 , sen π 4 ) é um autovetor unitário relativo ao autovalor λ1 = 4. Como o autovetor −→u2 relativo ao autovalor λ2 = 2 é ortogonal ao autovetor −→u1 , basta tomar −→u2 = ( − 1√ 2 , 1√ 2 ) =( − sen π 4 , cos π 4 ) . Seja OX Y o sistema de eixos ortogonais obtido girando os eixos OX e OY , no sentido positivo, do ângulo θ = π/4. Nas coordenadas x e y deste sistema de eixos, a forma quadrática é dada por f(x, y) = λ1x 2 + λ2y 2 = 4x2 + 2y2. Portanto, a linha de nível m de f é o conjunto vazio, se m 0. No sistema de eixos OX Y , a origem é o centro, a = √ m√ 2 , b = √ m 2 , c = √ m 2 , a reta focal é o eixo−OY , a reta não focal é o eixo−OX, ( 0,− √ m√ 2 ) e ( 0, √ m√ 2 ) são os vértices sobre a reta focal, ( − √ m 2 , 0 ) e (√ m 2 , 0 ) são os vértices sobre a reta não focal, e ( 0,− √ m 2 ) e ( 0, √ m 2 ) são os focos da elipse x2 m/4 + y2 m/2 = 1. 17 Unidade 8 Equação Geral do Segundo Grau em R2 Figura 8.7: Linha de nível 4 de f . Pela mudança de coordenadas (ver 8.5 e 8.6), (x, y) = ( 1/ √ 2 −1/ √ 2 1/ √ 2 1/ √ 2 ) (x, y), (x, y) = ( 1/ √ 2 1/ √ 2 −1/ √ 2 1/ √ 2 ) (x, y), obtemos que C = (0, 0) é o centro, ` : x+y = 0 é a reta focal, `′ : −x+y = 0 é a reta não focal, A1 = (√ m 2 ,− √ m 2 ) e A2 = ( − √ m 2 , √ m 2 ) são os vértices na reta focal, B1 = ( − √ m 2 √ 2 ,− √ m 2 √ 2 ) e B2 = (√ m 2 √ 2 , √ m 2 √ 2 ) são os vértices na reta não focal, e F1 = (√ m 2 √ 2 ,− √ m 2 √ 2 ) e F2 = ( − √ m 2 √ 2 ,√ m 2 √ 2 ) são os focos da elipse nas coordenadas x e y. 8.5 Equação Geral do Segundo Grau em R2 Consideremos a equação geral do segundo grau nas variáveis x e y: Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0. (8.17) Esta equação é da linha de nível zero da função quadrática 18 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 f(x, y) = Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F . Seja, como na seção anterior, o sistema OX Y de eixos ortogonais cu- jos eixos OX e OY têm a mesma direção e o mesmo sentido dos autove- tores −→u1 e −→u2 , relativos aos autovalores λ1 e λ2, respectivamente, da matriz A = ( A B/2 B/2 C ) . Então, por 8.16, a função quadrática f , nas coordenadas x e y, assume a seguinte forma: f(x, y) = λ1x 2 + λ2y 2+ +F =⇒ f(x, y) = λ1x 2 + λ2y 2+ +F =⇒ f(x, y) = λ1x 2 + λ2y 2 +Dx+ Ey + F, onde D = e E =. Nos capítulos anteriores, provamos que a equação λ1x 2 + λ2y 2 +Dx+ Ey + F = 0, (8.18) que é a equação 8.17 nas coordenadas x e y, representa uma elipse ou uma elipse degenerada se λ1λ2 > 0, uma hipérbole ou uma hipérbole degenerada se λ1λ2 0; • uma parábola, um par de retas paralelas, uma reta ou o conjunto vazio se I = 0. 20 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 Reordenando, quando B 6= 0, os autovalores λ1 e λ2 (se necessário), pode- mos supor que θ ∈ (0, π/2). Vamos determinar agora o ângulo θ, em função dos coe�cientes A,B e C da equação 8.17. Temos que:( cos θ sen θ − sen θ cos θ )( A B/2 B/2 C )( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) = ( λ1 0 0 λ2 ) =⇒ ( A cos θ + (B/2) sen θ (B/2) cos θ + C sen θ −A sen θ + (B/2) cos θ −(B/2) sen θ + C cos θ )( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) = ( λ1 0 0 λ2 ) =⇒ (A cos θ + (B/2) sen θ)(− sen θ) + ((B/2) cos θ + C sen θ) cos θ = 0 =⇒ −A cos θ sen θ − (B/2) sen2 θ + (B/2) cos2 θ + C sen θ cos θ = 0 =⇒ (B/2)(cos2 θ − sen2 θ) + (C − A) sen θ cos θ = 0 =⇒ B cos 2θ + (C − A) sen 2θ = 0. Então, quando B 6= 0, θ = π/4, se A = C e tan 2θ = B A− C , se A 6= C Sendo 1 + tan2(2θ) = sec2(2θ), segue que cos 2θ = 1√ 1 + tan2(2θ) , se B A− C > 0 cos 2θ = − 1√ 1 + tan2(2θ) , se B A− C 2, a reta focal da hipérbole é a reta y = −1, paralela ao eixo−OX, e se m`′ : − √ 6x + 2y = − √ 10 é a reta não focal e r± : 2(2x+ √ 6y) = ±(− √ 6x+ 2y+ √ 10) (⇐⇒ r± : (4± √ 6)x+ (2 √ 6∓ 2)y = ± √ 10) são as assíntotas da hipérbole nas coordenadas x e y. 24 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 Exemplo 6Seja a função quadrática f(x, y) = x2 + 2 √ 2xy + 2y2 + 6 √ 3x + 3, com A = 1, B = 2 √ 2, C = 2, D = 6 √ 3, E = 0 e F = 3. A matriz A = ( 1 √ 2√ 2 2 ) é a matriz de f . Portanto, p(λ) = det ( λ− 1 − √ 2 − √ 2 λ− √ 2 ) = (λ− 1)(λ− 2)− 2 = λ2 − 3λ = 0, é sua equação característica, cujas raízes são λ1 = 3 e λ2 = 0. Ou seja, λ1 = 3 e λ2 = 0 são os autovalores da matriz A. Os autovetores (x, y) da matriz A relativos ao autovalor λ1 = 3 são as soluções do sistema{ (λ1 − 1)x− √ 2y = 0 − √ 2x+ (λ1 − 2)y = 0 ⇐⇒ { 2x− √ 2y = 0 − √ 2x+ y = 0 ⇐⇒ y = √ 2x. Logo, −→u1 = ( 1√ 3 , √ 2√ 3 ) é um autovetor unitário relativo ao autovalor λ1 = 3 e, portanto, −→u2 = ( − √ 2√ 3 , 1√ 3 ) é um autovetor unitário relativo ao autovalor λ2 = 0. Seja OX Y o sistema de eixos ortogonais obtido girando os eixos OX e OY , no sentido positivo, do ângulo θ ∈ (0, π/2) tal que cos θ = 1√ 3 e sen θ = √ 2√ 3 (⇐⇒ tan 2θ = B A− C = −2 √ 2.) Nestas coordenadas, a função quadrática se escreve como f(x, y) = 3x2+ +3 ⇐⇒ f(x, y) = 3x2 + 6x− 6 √ 2y + 3 ⇐⇒ f(x, y) = 3(x2 + 2x)− 6 √ 2y + 3 ⇐⇒ f(x, y) = 3(x+ 1)2 − 6 √ 2y. Então, a linha de nível 6 √ 2m,m ∈ R, de f é a parábola (x+ 1)2 = 2 √ 2(y +m), que tem vértice V = (−1,−m), p = √ 2/2, reta focal ` : x = −1, foco F = (−1,−m+ √ 2/2) e diretriz ` : y = −m− √ 2/2, nas coordenadas x e y. 25 Unidade 8 Equação Geral do Segundo Grau em R2 Pela mudança de coordenadas, (x, y) = ( 1/ √ 3 − √ 2/ √ 3√ 2/ √ 3 1/ √ 3 ) (x, y) = ( x− √ 2y√ 3 , √ 2x+ y√ 3 ) (x, y) = ( 1/ √ 3 √ 2/ √ 3 − √ 2/ √ 3 1/ √ 3 ) (x, y) = ( x+ √ 2y√ 3 , − √ 2x+ y√ 3 ) , temos que que V = ( −1 + √ 2m√ 3 , − √ 2−m√ 3 ) é o vértice, ` : x+ √ 2y = − √ 3 é a reta focal, F = (√ 2(m− √ 2)√ 3 , −(2m+ √ 2) 2 √ 3 ) é o foco e ` : − √ 2x+ y = −m √ 3− √ 6/2 é a diretriz da parábola nas coordenadas x e y. Figura 8.9: Linha de nível zero de f . 26 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 8.6 Exercícios 1. Obtenha os autovalores (caso existam) e os respectivos autovalores unitários da matriz: (a) A = ( 3 4 −6 2 ) ; (b) A = ( 1 5 2 4 ) ; (c) A = ( 2 3 3 2 ) . 2. Descreva geometricamente a linha de nível zero da função f : R2 −→ R, dada por f(x, y) = x4 − y4 − 2x3 + 2xy2 − 3x2 + 3y2. 3. Sejam OXY um sistema de eixos ortogonais e OX Y o sistema de eixos ortogonais obtido pela rotação positiva de ângulo θ dos eixos OX e OY , onde cos θ = 4/5 e sen θ = 3/5. Uma parábola, nas coordenadas x e y, tem foco no ponto F = (12/5, 16/5) e vértice no ponto V = (12/5,−9/5). (a) Determine a equação da parábola nas coordenadas x e y e nas coorde- nadas x e y. (b) Obtenha o foco, o vértice, a reta focal e a diretriz da parábola nas coordenadas x e y. (c) O ponto P = (1, 7), nas coordenadas x e y, pertence à região focal ou à região não focal da parábola? (d) Faça um esboço da curva no sistema de eixos OXY , indicando seus elementos e o ponto P . 4. Encontre os autovalores da matriz das formas quadráticas abaixo. Descreva suas linhas de nível e, caso seja uma cônica não degenerada, obtenha os seus principais elementos nas coordenadas x e y. (a) f(x, y) = xy (b) f(x, y) = 5x2 + 6xy + 5y2 (c) f(x, y) = 4x2 − 12xy + 9y2 (d) f(x, y) = 21x2 − 10 √ 3xy + 31y2 (e) f(x, y) = −39x2 + 50 √ 3xy + 11y2 27 Unidade 8 Exercícios 5. Para cada uma das equações abaixo, identi�que a cônica que ela representa, encontrando, nos casos não degenerados, os seus principais elementos. Faça também um esboço da curva. (a) x2 − 2xy + y2 + 4y = 0 (b) 7x2 − 6 √ 3xy + 13y2 − 16 = 0 (c) 7x2 − 48xy − 7y2 − 30x− 40y + 75 = 0 (d) 3x2 + 2 √ 3xy + y2 − (12 √ 3 + 8)x− (12− 8 √ 3)y + 52 = 0 (e) 13x2 − 18xy + 37y2 + 20 √ 10x− 20 √ 10y + 40 = 0 (f) −7x2 + 8xy − y2 + √ 5x+ √ 5y = 0 6. Mostre que uma equação do segundo grau Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0 representa um círculo, se e somente se, A = C(6= 0), B = 0 e D2 + E2 > 4AF . Lembre que um círculo é uma elipse com eixos focais e não focais de iguais comprimentos. 7. Considere a mudança de coordenadas (rotação dos eixos) dada por x = x cos θ − y sen θ, y = x sen θ + y cos θ. Obtenha a equação do cír- culo (x− a)2 + (y − b)2 = r2 nas coordenadas x e y. 8. Seja OXY um sistema de eixos ortogonais, e considere o sistema OX Y obtido girando os eixos OX e OY de um ângulo θ, θ ∈ [0, π/2), no sentido positivo. Mostre que se Aθx 2 +Bθxy + Cθy 2 +Dθx+ Eθy + Fθ = 0 é a equação de segundo grau Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0, nas coordenadas x e y, então Aθ+Cθ = A+C e B2 θ−4AθCθ = B2−4AC, para todo θ ∈ [0, π/2). Conclua que o indicador e o polinômio característico de uma equação do segundo grau são invariantes por rotação dos eixos. 28 Unidade 8Equação Geral do Segundo Grau em R2 8.7 Exercícios Suplementares 1. Sejam O′ = (3, 2), P = (4, 4) e Q = (1, 3) pontos num sistema de eixos ortogonais OXY . Considere o sistema O′X ′Y ′ tal que o ponto P pertence ao semieixo positivo O′X ′ e o ponto Q pertence ao semieixo positivo O′Y ′. Obtenha as coordenadas x′ e y′ do ponto R = (8, 2) e do vetor−→v = (−1, 3). 2. Seja r : ax+by = c uma reta num sistema de eixos ortognais OXY . Mostre que, mediante uma rotação positiva seguida de uma translação, podemos obter um sistema de eixos ortogonais O′X ′Y ′ no qual a equação de r é x′ = 0. 3. Sejam OXY e O′X ′Y ′ dois sistemas de eixos ortogonais quaisquer. Se θ é o ângulo que o eixo O′X ′ faz com o eixo OX no sentido positivo, então o ângulo φ que o eixo O′Y ′ faz com o eixo OY no sentido positivo pode ser φ = θ ou φ = θ + π. No primeiro caso, φ = θ, estudado no texto, dizemos que os sistemas OXY e O′X ′Y ′ têm a mesma orientação. No segundo caso, φ = θ + π, mostre que as fórmulas de mudança de coordenadas são:{ x = x′ cos θ + y′ sen θ + x0 y = x′ sen θ − y′ cos θ + y0 ⇐⇒ { x′ = (x− x0) cos θ + (y − y0) sen θ y′ = (x− x0) sen θ − (y − y0) cos θ, onde (x, y) e (x0, y0) são as coordenadas de um ponto P e do ponto O′, respectivamente, no sistema OXY , e (x′, y′) são as coordenadas de P no sistema O′X ′Y ′. 29 9 1 Transformações geométricas planas Sumário 9.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 9.2 Transformações no plano . . . . . . . . . . . . . . . 2 9.3 Transformações lineares . . . . . . . . . . . . . . . . 5 9.4 Operações com transformações . . . . . . . . . . . 12 9.5 Isometrias no plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 9.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Unidade 9 Introdução 9.1 Introdução Nos Capítulos 5, 6, 7 e 8, vimos que dada uma equação do segundo grau Ax2 +Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0, (9.1) existe um sistema de eixos ortogonais OX Y , obtido após uma rotação e/ou uma translação do sistema OXY , tal que a equação nas coordenadas x e y �ca na forma canônica. Neste capítulo, estudaremos as transformações geométricas do plano. Den- tre elas, a translação TP0 que leva a origem no ponto P0 e a rotação Rθ de ângulo θ em torno da origem. Embora haja uma analogia entre essas transfor- mações e as mudanças de coordenadas estudadas anteriormente, há também uma diferença. Nas transformações de translação e rotação mantemos �xos os eixos e transladamos e rotacionamos os pontos, enquanto que na mudança de coordenadas mantemos �xos os pontos e movemos os eixos. 9.2 Transformações no plano Definição 1 Uma transformação no plano π é uma função T : π −→ π que a cada ponto P ∈ π associa o ponto T (P ) ∈ π chamado imagem de P por T . Ao longo deste capítulo, vamos �xar um sistema de eixos ortogonais OXY no plano π. Desta maneira, uma transformação T de π em π pode ser vista como uma aplicação de R2 em R2 que a cada pontoP = (x, y) ∈ R2 associa o ponto P ′ = T (P ) = (x′, y′) ∈ R2. Ou, dependendo das propriedades de T , que queremos enfatizar, podemos interpretar T como uma transformação de R2 em R2 que a cada vetor −→v = (x, y) associa o vetor −→v ′ = T (−→v ) = (x′, y′). Definição 2 Dizemos que as transformações T e L são iguais, e escrevemos T = L, quando T (P ) = L(P ) para todo ponto P . Exemplo 1 (a) A transformação identidade, que designamos I, é a transformação que a cada ponto P do plano associa ele próprio, isto é, I(P ) = P , para todo ponto P . 2 Unidade 9Transformações geométricas planas (b) Seja P0 um ponto do plano. A transformação T que a todo ponto P do plano associa o ponto P0, T (P ) = P0, é a transformação constante de valor P0. (c) Seja O a origem do sistema OXY . A translação até o ponto P0 é a transformação TP0 do plano que a cada ponto P associa o ponto P ′ = TP0(P ) tal que −−→ PP ′ = −−−→ OP0 . O X Y P0P TP0(P ) Figura 9.1: Translação TP0 Se P0 = (xo, yo) e P = (x, y), então P ′ = TP0(P ) = (x′, y′), onde: (x′−x, y′−y)= (xo−0, yo−0) = (xo, yo). Portanto, TP0(P )=P ′ = (x′, y′) = (xo + x, yo + y). Outra forma de descrever uma translação é dando seu vetor de translação: a translação pelo vetor −→v é a transformação dada por T−→v (P ) = P ′, onde −−→ PP ′ = −→v . Escrevemos a translação pelo vetor −→v como T−→v (P ) = P +−→v . Então, se −→v = (a, b), T−→v (x, y) = (x+ a, y + b), para todo (x, y) ∈ R2. O X Y P0 P RP0(P ) Figura 9.2: Re�exão RP0 (d) Dado um ponto P0 do plano, a transformação RP0 que a cada ponto P do plano as- socia o ponto P ′ = RP0(P ), pertencente à reta que passa por P0 e P , tal que −−−→ P0P ′ = − −−−→ P0P é a re�exão em relação ao ponto P0. Se P0 = (xo, yo) e P = (x, y) é um ponto do plano, então P ′ = RP0(P ) = (x′, y′) é o ponto tal que 3 Unidade 9 Transformações no plano (x′ − xo, y′ − yo) = −(x− xo, y − yo), isto é, RP0(P ) = (2xo − x, 2yo − y). Note que, se P0 = (0, 0), então R(0,0)(x, y) = (−x,−y), para todo (x, y). (e) A projeção ortogonal sobre uma reta ` no plano é a transformação, designada Proj`, que a cada ponto P do plano associa o ponto P ′ onde a reta ` intersecta a reta perpendicular a ` que passa pelo ponto P . O X Y Proj`(P ) P ` Figura 9.3: Projeção ortogonal Proj` Se ` é uma reta que faz um ân- gulo α, no sentido positivo, com o eixo OX, então (cosα, senα) é um vetor paralelo a ` e ` : − senαx+ cosα y = c é a sua equação cartesiana para algum c ∈ R. Se P = (xo, yo) é um ponto do plano, então `⊥ : cosαx+ senα y = cosαxo + senα yo é a reta perpendicular a ` que passa pelo ponto P0. Então, se P ′ = Proj`(P ) = (x′, y′), temos que (x′, y′) é a solução do sistema − senαx′ + cosα y′ = c cosαx′ + senα y′ = cosαxo + senα yo. Resolvendo esse sistema, obtemos P ′ = Proj`(P ) = (cos2 αxo + cosα senα yo − c senα, cosα senαxo + sen2 α yo + c cosα). Ou seja, P ′ = Proj`(P ) = (cos2 αxo + cosα senα yo, cosα senαxo + sen2 α yo) +c(− senα,+ cosα). (9.2) 4 Unidade 9Transformações geométricas planas Em particular, se ` é o eixo OX, então α = 0 e c = 0. Assim, a projeção Px = Proj` é dada por Px(xo, yo) = (xo, 0). De modo análogo, a projeção Py sobre o eixo OY (α = π/2 e c = 0) é a transformação Py(xo, yo) = (0, yo). O X Y Proj`(P ) P R`(P ) ` / / Figura 9.4: Re�exão R` (f) A re�exão R` em relação à reta ` é a transformação que a cada ponto P associa o ponto P ′ = R`(P ) tal que ` é a mediatriz do segmento PP ′. Ou seja, P ′ = (x′, y′) é o ponto do plano tal que Proj`(P ) é o ponto médio do segmento PP ′. Logo, se P = (x, y) e ` : − senαx+cosα y = c, temos, pelo item anterior, que: R`(x, y) = (x′, y′) = 2Proj`(x, y)− (x, y) ⇐⇒ R`(x, y) = (2 cos2 αx+ 2 cosα senα y − 2c senα− x, 2 cosα senαx+ 2 sen2 α y + 2c cosα− y) ⇐⇒ R`(x, y) = ((2 cos2 α− 1)x+ 2 cosα senα y − 2c senα, 2 cosα senαx+ (2 sen2 α− 1)y + 2c cosα) ⇐⇒ R`(x, y) = (cos 2αx+ sen 2α y, sen 2αx− cos 2α y) +2c(− senα, cosα). (9.3) 9.3 Transformações lineares Definição 3Uma transformação T é uma transformação linear se • T transforma uma soma de vetores na soma de suas imagens: T (−→u +−→v ) = T (−→u ) + T (−→v ), para todos os vetores −→u e −→v ; • T transforma o múltiplo de um vetor no mesmo múltiplo da sua imagem: T (λ−→u ) = λT (−→u ), para todo vetor −→u e para todo λ ∈ R. 5 Unidade 9 Transformações lineares Observação 4 (a) Pela identi�cação entre pontos e vetores, num sistema de eixos OXY , toda transformação linear pode ser vista também como uma transformação de pontos do plano. De fato, se T é uma transformação linear (de vetores) e P é um ponto no plano, de�nimos T (P ) = Q, onde Q é o ponto tal que T ( −−→ OP ) = −−→ OQ . (b) Uma transformação linear deixa sempre o vetor zero �xo: T ( −→ 0 ) = −→ 0 . Com efeito, sendo T linear: T (−−→v ) = T (−1−→v ) = −1T (−→v ) = −T (−→v ), e T ( −→ 0 ) = T (−−→v +−→v ) = T (−−→v ) + T (−→v ) = −T (−→v ) + T (−→v ) = −→ 0 . Portanto, se uma transformação não deixa �xo o vetor nulo −→ 0 , ou seja, não deixa a origem �xa, então não é uma transformação linear. Exemplo 2 (a) A transformação que a cada vetor −→v associa o vetor nulo −→ 0 é linear e é chamada transformação linear nula ou transformação zero. (b) A transformação identidade I que a cada vetor associa ele próprio (ou que a cada ponto associa ele próprio) é uma transformação linear. (c) A re�exão com respeito à origem é uma transformação linear. De fato, na linguagem vetorial, a re�exão é dada por T (−→v ) = −−→v . Assim, T (−→u +−→v ) = −(−→u +−→v ) = −−→u −−→v = T (−→u ) + T (−→v ), e T (λ−→v ) = −λ−→v = λ(−−→v ) = λT (−→v ), para todos λ ∈ R e −→u e −→v vetores do plano. (d) Se k ∈ R, a transformação, T (−→v ) = k−→v é linear. Com efeito, para quaisquer −→u e −→v vetores do plano e λ ∈ R, temos: T (−→u +−→v ) = k(−→u +−→v ) = k−→u + k−→v = T (−→u ) + T (−→v ), T (λ−→v ) = k(λ−→v ) = kλ−→v = λ(k−→v ) = λT (−→v ). Note que ‖T (−→v )‖2 = 〈T (−→v ), T (−→v )〉 = 〈k−→v , k−→v 〉 = k2〈−→v ,−→v 〉 = k2‖−→v ‖2. 6 Unidade 9Transformações geométricas planas Portanto, ‖T (−→v )‖ = |k| ‖−→v ‖. Ou seja, T multiplica o tamanho dos vetores por |k|. A transformação T é chamada homotetia de razão k. A homotetia de razão k = 1 é a transformação identidade e a homotetia de razão k = −1 é a re�exão com respeito à origem, pois leva cada vetor −→v no seu simétrico −−→v . Note que uma homotetia de razão k com |k| 1, a homotetia aumenta o tamanho dos vetores não nulos, ou seja, aumenta a distância entre dois pontos e por isso é também chamada expansão linear uniforme. (e) A projeção ortogonal sobre uma reta ` que passa pela origem é uma trans- formação linear. Com efeito, se ` é a reta paralela ao vetor unitário −→u que passa pela origem, temos, na linguagem vetorial, que a projeção ortogonal do vetor −→v sobre a reta ` é dada por Proj`( −→v ) = Proj−→u ( −→v ) = 〈−→u ,−→v 〉−→u . Então, para todos os vetores −→v e −→w e para todo λ ∈ R: Proj`( −→v +−→w ) = 〈−→u ,−→v +−→w 〉−→u = (〈−→u ,−→v 〉+ 〈−→u ,−→w 〉)−→u = 〈−→u ,−→v 〉−→u + 〈−→u ,−→w 〉−→u = Proj`( −→v ) + Proj`( −→w ), e Proj`(λ −→v ) = 〈−→u , λ−→v 〉−→u = λ〈−→u ,−→v 〉−→u = λProj`( −→v ). (f) A re�exão com respeito a uma reta que passa pela origem é uma transfor- mação linear. Se −→u é um vetor unitário na direção da reta ` que passa pela origem, então, na linguagem vetorial, a re�exão do vetor −→v em relação a ` é dada por: R`( −→v ) = 2Proj−→u ( −→v )−−→v . Fica como exercício provar que R` é uma transformação linear. 7 Unidade 9 Transformações lineares (g) As translações por vetores não nulos não são transformações lineares pois não �xam o vetor nulo (não deixam a origem �xa). (h) A transformação T (x, y) = (x2, 0) não é linear, pois T (1, 0) = (12, 0) = (1, 0) e T (2(1, 0)) = T (2, 0) = (22, 0) = (4, 0) 6= (2,0) = 2(1, 0) = 2T (1, 0). Proposição 5 Uma transformação T : R2 −→ R2 é linear se, e só se, existem números reais a, b, c e d tais que: T (x, y) = (ax+ cy, bx+ dy), para todo (x, y) ∈ R2. Demonstração Sejam a, b, c e d os números reais dados por T (−→e1 ) = T (1, 0) = (a, b) e T (−→e2 ) = T (0, 1) = (c, d). Então, se T é linear, T (x, y) = T (x−→e1 + y−→e2 ) = xT (−→e1 ) + y T (−→e2 ) = x (a, b) + y (c, d) = (ax+ cy, bx+ dy), para todo vetor (x, y) ∈ R2. Reciprocamente, se existem números reais a, b, c e d de modo que T (x, y) = (ax+ cy, bx+ dy), para todo (x, y) ∈ R2, é fácil veri�car que T é linear. A matriz MT = ( a c b d ) real do tipo 2x2, cuja primeira coluna é o vetor T (−→e1 ) = (a, b) e cuja segunda coluna é o vetor T (−→e2 ) = (c, d), é a matriz da transformação linear T . Observe, pela de�nição dada no Capítulo 8, que T (−→u ) =MT −→u , para todo vetor −→u . Exemplo 3 (a) A transformação linear nula se representa pela matriz nula: ( 0 0 0 0 ) . (b) A matriz associada à transformação identidade é a matriz identidade que designamos também por I. Com efeito, I(1, 0) = (1, 0) e I(0, 1) = (0, 1), logo: MI = I = ( 1 0 0 1 ) . 8 Unidade 9Transformações geométricas planas (c) Se T (x, y) = (−x,−y) é a re�exão com respeito à origem, então T (1, 0) = (−1, 0) e T (0, 1) = (0,−1). Assim, a matriz que representa T é MT = ( −1 0 0 −1 ) . (d) Seja ` a reta paralela ao vetor unitário −→u = (cosα, senα) que passa pela origem. Então, por (9.2), ( cos2 α cosα senα cosα senα sen2 α ) é a matriz da transformação Proj` e, por (9.3), ( cos 2α sen 2α sen 2α − cos 2α ) é a matriz da transformaçao R`. (e) Um cissalhamento ao longo do eixo OX no plano é uma transformação linear dada por uma matriz da forma Ck = ( 1 k 0 1 ) . Isto é, se −→v = (x, y), então: Ck( −→v ) = (x+ ky, y), isto é, Ck(x, y) = (x+ ky, y). Note que, Ck( −→e1 ) = Ck(1, 0) = (1, 0) = −→e1 Ck( −→e2 ) = Ck(0, 1) = (k, 1) = k−→e1 +−→e2 , ou seja, Ck deixa os pontos do eixo OX �xos e desloca todos os outros pontos do plano paralelamente ao eixo OX por um fator de k. O cissalhamento ao longo do eixo OY se de�ne de forma análoga. (f) A transformação linear T (x, y) = (ax, by) é chamada transformação diagonal. Uma homotetia de razão k é uma transformação diagonal com a = b = k. A transformação T se representa pela matriz diagonal MT =( a 0 0 b ) e o seu efeito é de mudar a escala dos objetos do plano a razão a ao longo do eixo OX e b ao longo do eixo OY . Uma transformação diagonal T de razões a 6= 0 e b 6= 0, com a 6= b, transforma o círculo unitário C na elipse E de semi-eixos de comprimentos |a| (semi-eixo paralelo ao eixo OX) e |b| (semi-eixo paralelo ao eixo OY ). 9 Unidade 9 Transformações lineares Com efeito, se (x, y) ∈ C, então x2 + y2 = 1 e, sendo T (x, y) = (ax, by) = (x′, y′), temos: (x′)2 a2 + (y′)2 b2 = (ax)2 a2 + (bx)2 b2 = x2 + y2 = 1, isto é, (x′, y′) ∈ E . Reciprocamente, se (x′, y′) ∈ E , o ponto (x, y) = ( x′ a , y′ b ) pertence ao círculo unitário e é levado por T no ponto (x′, y′). Definição 6 A rotação de ângulo θ em torno do ponto P0 é a transformação Rθ,P0 : R2 −→ R2 que a cada ponto P do plano associa o ponto P ′ obtido pela rotação de ângulo θ, no sentido positivo, do ponto P em torno do ponto P0. O X Y Rθ,O(P ) P ϕ θ / / Figura 9.5: Rotação Rθ,O Determinemos primeiro a rotação Rθ,O : R2 −→ R2 em torno da origem. Sejam P = (x, y) um ponto e (x′, y′) = Rθ,O(x, y) sua imagem. Se ϕ é o ângulo que o vetor −−→ OP faz com o eixo OX no sentido positivo, então P = (x, y) = (| −−→ OP | cosϕ, | −−→ OP | senϕ) e, portanto, Rθ,O(x, y) = (| −−→ OP | cos(θ + ϕ), | −−→ OP | sen(θ + ϕ)) ⇐⇒ Rθ,O(x, y) = (| −−→ OP | (cos θ cosϕ− sen θ senϕ), | −−→ OP | (cos θ senϕ+ sen θ cosϕ)) ⇐⇒ Rθ,O(x, y) = (| −−→ OP | cosϕ cos θ − | −−→ OP | senϕ sen θ, | −−→ OP | senϕ cos θ + | −−→ OP | cosϕ sen θ) ⇐⇒ Rθ,O(x, y) = (x cos θ − y sen θ, y cos θ + x sen θ). Logo, Rθ,O(x, y) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ) (9.4) 10 Unidade 9Transformações geométricas planas é uma transformação linear e ( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) é a matriz que a representa. Seja agora a rotação Rθ,P0 de ângulo θ em torno do ponto P0 = (xo, yo). Se P = (x, y) é um ponto de R2, então Rθ,P0(P ) é o ponto P ′ tal que −−−→ OP ′ = −−−→ OP0 +Rθ,O( −−−→ P0P ). Ou seja, Rθ,P0(x, y) = ((x− xo) cos θ − (y − yo) sen θ + xo, (x− xo) sen θ + (y − yo) cos θ + yo). (9.5) O X Y P ′=Rθ,P0(P ) P P0 θ / / Figura 9.6: Rotação Rθ,P0 Uma propriedade importante das transformações lineares é a seguinte. Proposição 7Toda transformação linear leva retas em retas. DemonstraçãoSejam T uma transformação linear, r a reta paralela ao vetor −→v que passa pelo ponto P , −→v ′ = T (−→v ) e P ′ = T (P ), isto é, −−→ OP ′ = T ( −−→ OP ). A�rmamos que T leva a reta r na reta r′ que passa pelo ponto P ′ e é paralela ao vetor −→v ′. Com efeito, um ponto Q pertence a r se, e só se, −−→ PQ = t−→v , para algum t ∈ R. Ou seja, −−→ OQ = −−→ OP + t−→v . Seja Q ∈ r arbitrário e seja Q′ = T (Q). Então, pela linearidade de T , temos: −−−→ OQ′ = T ( −−→ OQ ) = T ( −−→ OP + t−→v ) = T ( −−→ OP ) + tT (−→v ) = −−→ OP ′ + t−→v ′. Portanto, Q′ pertence à reta r′. 11 Unidade 9 Operações com transformações 9.4 Operações com transformações As operações entre funções se aplicam também às transformações lineares, assim, podemos somar duas transformações lineares, multiplicar uma transfor- mação linear por um escalar e compor duas transformações lineares para gerar novas transformações que também são lineares: Definição 8 Sejam S e T transformações lineares do plano e λ ∈ R. De�nimos as transformações: (a) Soma de S e T , designada S + T : (S + T )(−→v ) = S(−→v ) + T (−→v ). (b) Produto de λ ∈ R por T , designado λT : (λT )(−→v ) = λ(T (−→v )). (c) Composta de S e T , designada S ◦ T : (S ◦ T )(−→v ) = S(T (−→v )). É fácil veri�car que as transformações S+T , λT e S ◦T são lineares. Além disso, se veri�ca que a soma é associativa, comutativa, possui um elemento neutro aditivo (a transformação nula) e que toda transformação T possui um inverso aditivo −T , e que o produto de transformações por escalares é dis- tributivo em relação à soma. Todas essas propriedades são consequência das correspondentes propriedades das operações de adição de vetores e de multipli- cação de vetores por escalares (ver Exercícios). Exemplo 4 (a) Se T é uma transformação linear e λ ∈ R, a transformação λT é a com- posta da homotetia H de razão λ com a transformação T . Com efeito, λT (−→v ) = λ(T (−→v )) = H(T (−→v )) = H ◦ T (−→v ), para todo vetor −→v . (b) A composta Rθ ◦ Rϕ da rotação de ângulo θ em torno da origem com a rotação de ângulo ϕ em torno da origem é a rotação de ângulo θ + ϕ em torno da origem. De fato, como Mθ = ( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) e Mϕ = ( cosϕ − senϕ senϕ cosϕ ) são 12 Unidade 9Transformações geométricas planas as matrizes das rotações Rθ e Rϕ, respectivamente, então: (Rθ ◦Rϕ)(x, y) = Rθ(Rϕ(x, y)) =Rθ(x cosϕ− y senϕ, x senϕ+ y cosϕ) = ( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) (x cosϕ− y senϕ, x senϕ+ y cosϕ) = (cos θ (x cosϕ− y senϕ)− sen θ (x senϕ+ y cosϕ), sen θ (x cosϕ− y senϕ) + cos θ (x senϕ+ y cosϕ)) = ((cos θ cosϕ− sen θ senϕ)x− (cos θ senϕ+ sen θ cosϕ)y, (sen θ cosϕ+ cos θ senϕ)x+ (cos θ cosϕ− sen θ senϕ)y) = (cos(θ + ϕ)x− sen(θ + ϕ)y, sen(θ + ϕ)x+ cos(θ + ϕ)y). Ou seja, (Rθ ◦Rϕ)(x, y) = Rθ+ϕ(x, y), para todo (x, y) ∈ R2. (c) A re�exão R` com respeito a uma reta ` que passa pela origem é dada por R`( −→v ) = 2Proj`( −→v )−−→v . Portanto, R` é a soma de duas transformações lineares. A primeira, 2Proj` é a composta H ◦ Proj` da homotetia H de razão 2 com a projeção ortogonal Proj` sobre a reta `, e a segunda é a re�exão com respeito à origem −I(−→v ) = −−→v . (d) Uma transformação linear T é chamada nilpotente quando existe um inteiro positivo n tal que a composta de T com si própria n vezes é a transformação nula.As transformações T (x, y) = (y, 0) e S(x, y) = (0, x) são nilpotentes, pois, T ◦ T (x, y) = T (y, 0) = (0, 0) e S ◦ S(x, y) = S(0, x) = (0, 0), para todo (x, y) ∈ R2. Note que T = R ◦ Py e S = R ◦ Px, onde R é a re�exão com respeito à reta y = x e Px e Py são as projeções ortogonais sobre os eixos OX e OY , respectivamente. 13 Unidade 9 Operações com transformações Observação 9 A operação de composição de duas transformações S e T do plano está de�nida também quando elas não são lineares por: (S ◦ T )(P ) = S(T (P )), para todo ponto P do plano. A transformação identidade é o elemento neutro da operação de composição, pois, como I ◦ T (P ) = T (P ) e T ◦ I(P ) = T (P ), para toda transformação T e todo ponto P , temos I ◦ T = I e T ◦ I = T . A composição de transformações é associativa. De fato, sejam R, S, T : R2 −→ R2 três transformações. Então, para todo ponto P , (R ◦ (S ◦ T ))(P ) = R((S ◦ T )(P )) = R(S(T (P ))) = (R ◦ S)(T (P )) = ((R ◦ S) ◦ T )(P ). Isto é, R ◦ (S ◦ T ) = (R ◦ S) ◦ T . Exemplo 5 O X Y ~v R`,~v(P ) P R`(P ) ` Figura 9.7: Re�exão com deslizamento R`,−→v A re�exão com deslizamento é a transformação R`,−→v que con- siste na re�exão R` em torno de uma reta ` seguida de uma translação T−→v ao longo de um vetor não nulo −→v paralelo a `. Ou seja, R`,−→v = T−→v ◦R`. Se ` : − senαx + cosα y = c e −→v =λ(cosα, senα), com λ 6= 0, temos, por (9.2), que para todo (x, y) ∈ R2, R`,−→v (x, y) = (cos 2αx+ sen 2α y, sen 2αx− cos 2α y) +2c(− senα, cosα) + λ(cosα, senα). 14 Unidade 9Transformações geométricas planas Definição 10Uma transformação T é invertível quando existe uma transformação S tal que S ◦ T = I e T ◦ S = I. A transformação S é chamada inversa de T e se designa T−1. Observação 11Note que uma transformação T é invertível se, e só se, é injetora e sobre- jetora, ou seja, T é bijetora. Se T é uma transformação invertível, então T−1 é também uma transfor- mação invertível e (T−1)−1 = T . Proposição 12A inversa de uma transformação, quando existe, é única. DemonstraçãoSeja T uma transformação linear invertível e sejam U e V transformações tais que: U ◦ T = T ◦ U = I e V ◦ T = T ◦ V = I. Logo, pela associatividade da composição, (U ◦ T ) ◦ V = I ◦ V = V ⇐⇒ U ◦ (T ◦ V ) = V ⇐⇒ U ◦ I = V ⇐⇒ U = V. Exemplo 6(a) A translação T−→u pelo vetor −→u 6= 0 não é uma transformação linear, mas é uma transformação invertível e sua inversa é a translação T−−→u pelo vetor −−→u . Com efeito, para todo vetor −→v , temos: T−−→u ◦ T−→u (−→v ) = T−−→u ( −→v +−→u ) = (−→v +−→u )−−→u = −→v + (−→u −−→u ) = −→v = I(−→v ), T−→u ◦ T−−→u (−→v ) = T−→u ( −→v −−→u ) = (−→v −−→u ) +−→u = −→v + (−−→u +−→u ) = −→v = I(−→v ). (b) Uma homotetia H de razão k não nula é invertível. Com efeito, se S é a homotetia de razão 1 k , temos: S ◦H(−→v ) = S(k−→v ) = 1 k (k−→v ) = ( 1 k k )−→v = −→v = I(−→v ) H ◦ S(−→v ) = H ( 1 k −→v ) = k ( 1 k −→v ) = ( k 1 k )−→v = −→v = I(−→v ). Logo, H−1 = S é a homotetia de razão 1 k . 15 Unidade 9 Isometrias no plano (c) A re�exão R` em relação a uma reta ` é invertível e sua inversa é a própria R`. Isso segue diretamente da de�nição geométrica de R`. Proposição 13 Sejam T : R2 −→ R2 uma transformação linear e MT = ( a c b d ) a matriz que a representa. Então, T é invertível se, e só se, detMT 6= 0. Neste caso, T−1 é a transformação linear representada pela matriz MT−1 = 1 ad− bc ( d −c −b a ) , que é a matriz inversa da matriz MT . Demonstração Sejam (x′, y′) ∈ R2. Então, existe um único (x, y) ∈ R2 tal que T (x, y) = (x′, y′) se, e só se, o sistema ax+ cy = x′ bx+ dy = y′ possui uma única solução. Mas isso ocorre se, e só se, det ( a c b d ) = ad− bc 6= 0. Como a solução do sistema é x = dx′ − cy′ ad− bc e y = −bx′ + ay′ ad− bc , temos que T−1(x′, y′) = ( dx′ − cy′ ad− bc , −bx′ + ay′ ad− bc ) e MT−1 = d ad− bc −c ad− bc −b ad− bc a ad− bc . 9.5 Isometrias no plano Definição 14 Uma transformação T do plano é uma isometria quando d(T (P ), T (Q)) = d(P,Q), para quaisquer pontos P e Q. Isto é, T é uma isometria se preserva distâncias. 16 Unidade 9Transformações geométricas planas As isometrias são muito importantes pois nelas se traduz o conceito de con- gruência: dois objetos geométricos são congruentes quando existe uma isome- tria que transforma um no outro. As isometrias são os movimentos rígidos da Geometria Euclidiana. Antes de classi�carmos todas as isometrias do plano, vejamos algumas pro- priedades básicas desse tipo de transformações. Proposição 151. Toda isometria leva pontos distintos em pontos distintos. 2. Toda isometria leva pontos colineares em pontos colineares preservando a relação de um ponto estar entre outros dois e, consequentemente, leva retas em retas. 3. Toda isometria preserva a relação de paralelismo entre retas. Isto é, leva retas paralelas em retas paralelas. 4. Toda isometria preserva a relação de perpendicularidade entre retas. Isto é, leva retas perpendiculares em retas perpendiculares. 5. Toda isometria preserva ângulos. Isto é, se A, B e C são pontos não colineares, e A′ = T (A), B′ = T (B) e C ′ = T (C), então ÂBC = Â′B′C ′. 6. A composta de duas isometrias é uma isometria. 7. Toda isometria é uma transformação invertível e a inversa é também uma isometria. Demonstração1. Equivalentemente, vamos mostrar que, se P e Q são pontos do plano tais que T (P ) = T (Q), então P = Q. Com efeito, se T (P ) = T (Q), temos d(T (P ), T (Q)) = 0. Logo, d(P,Q) = d(T (P ), T (Q)) = 0 e, portanto, P = Q. 2. Sejam P , Q e R pontos colineares distintos entre si tais que Q está entre P e R. Então, d(T (P ), T (R)) = d(P,R) = d(P,Q) + d(Q,R) = d(T (P ), T (Q)) + d(T (Q), T (R)). 17 Unidade 9 Isometrias no plano Logo, os pontos T (P ), T (Q) e T (R) são colineares e T (Q) está entre T (P ) e T (R). Segue daí que T leva a reta que passa por P e Q na reta que passa por T (P ) e T (Q). 3. Sejam r1 e r2 retas paralelas. Suponhamos, por absurdo, que as retas T (r1) e T (r2) se intersectam e seja P̃ ∈ T (r1) ∩ T (r2). Então, existem pontos P1 ∈ r1 e P2 ∈ r2 tais que T (P1) = P̃ = T (P2). Pelo item 1, temos que P1 = P2, o que é absurdo, pois r1 ∩ r2 = ∅. 4. Sejam r e s retas perpendiculares se intersectando no ponto A. Sejam r′ = T (r) e s′ = T (s). Então, A′ = T (A) ∈ r′ ∩ s′. Sejam B ∈ r e C ∈ s pontos diferentes de A e os pontos B′ = T (B) ∈ r′ e C ′ = T (C) ∈ s′ diferentes de A′. Como T é uma isometria, d(A′, B′) = d(A,B), d(A′, C ′) = d(A,C), d(B′, C ′) = d(B,C), e o triângulo 4ABC é retângulo em A, temos, pelo Teorema de Pitágoras, d(B′, C ′)2 = d(B,C)2 = d(A,B)2 + d(A,C)2 = d(A′, B′)2 + d(A′, C ′)2. Logo, o triângulo 4A′B′C ′ é retângulo em A′. Consequentemente, a reta r′ = T (r) que passa por A′ e B′ intersecta perpendicularmente a reta s′ = T (s) no ponto A′ = T (A). 5. Sejam A, B e C pontos do plano e sejam A′ = T (A), B′ = T (B) e C ′ = T (C). Como T é uma isometria, os triângulos 4ABC e 4A′B′C ′ são congruentes, pelo critério LLL. Em particular, ÂBC = Â′B′C ′. 6. Sejam S e T isometrias. Dados pontos arbitrários P e Q no plano, temos: d(S◦T (P ), S◦T (Q)) = d(S(T (P )), S(T (Q))) = d(T (P ), T (Q)) = d(P,Q). Isto é, S ◦ T é também uma isometria. 7. Seja T uma isometria no plano. Pelo item 1, T é uma transformação injetora (leva pontos distintos em pontos distintos). Para veri�carmos que T é invertível, basta veri�car que T é uma transformação sobrejetora. Isto é, que para todo ponto P ′, existe um ponto P tal que T (P ) = P ′. 18 Unidade 9Transformações geométricas planas O X Y P x y O ′ P ′ X ′ Y ′ x y Figura 9.8: Ação da isometria T Consideremos um sistema de eixos ortogonaisOXY no plano. SejaO′=T (O) e sejam O′X ′=T (OX) e O′Y ′=T (OY ) as im- agens dos eixos OX e OY pela isometria T . Como T preserva perpendicu- laridade, O′X ′Y ′ é um sistema de eixos ortogo- nais. Além disso, como T preserva distâncias e a relação de ordem entre pontoscolineares e leva retas paralelas em retas paralelas, temos que T leva um ponto P = (x, y) num ponto P ′ cujas coordenadas no sistema O′X ′Y ′ são as mesmas que as coordenadas do ponto P no sistema OXY . Assim, dado um ponto P ′ no plano com coordenadas (x, y) em relação ao sistema O′X ′Y ′, o ponto P do plano com coordenadas (x, y) no sistema OXY é tal que T (P ) = P ′. Portanto, T é uma transformação sobrejatora e, pelo item 1, T é bijetora. A inversa T−1 é de�nida da seguinte maneira: dado um ponto P ′ no plano, como T é sobrejetora, existe um ponto P no plano tal que T (P ) = P ′. Há apenas um ponto com essa propriedade porque T é injetora. De�nimos, então, T−1(P ′) = P . A transformação T−1 assim de�nida é uma isometria, pois se P ′ = T (P ) e Q′ = T (Q), então d(T−1(P ′), T−1(Q′)) = d(P,Q) = d(T (P ), T (Q)) = d(P ′, Q′). Portanto, T−1 é uma isometria. Exemplo 7(a) A transformação identidade I(P ) = P é uma isometria. (b) Uma translação é uma isometria. De fato, se P ′ = T−→v (P ) e Q′ = T−→v (Q), então −−→ PP ′ = −→v = −−−→ QQ′ . Isto é, os segmentos PP ′ e QQ′ 19 Unidade 9 Isometrias no plano são equipolêntes e, portanto, PP ′Q′Q é um paralelogramo. Em particu- lar, d(P ′, Q′) = d(P,Q). Proposição 16 Seja T : R2 −→ R2 uma isometria tal que T (O) = O. Então, ‖T (−→v )‖ = ‖−→v ‖ e 〈T (−→v ), T (−→w )〉 = 〈−→v ,−→w 〉 para quaisquer vetores −→v e −→w em R2. Demonstração Se −→v = −−→ OP , −→w = −−→ OQ , P ′=T (P ) e Q′=T (Q) temos que T (−→v ) = −−→ OP ′ e T (−→w ) = −−−→ OQ′ . Logo, ‖T (−→v )− T (−→w )‖ = ‖ −−→ OP ′ − −−−→ OQ′ ‖ = ‖ −−−→ Q′P ′ ‖ = d(Q′, P ′) = d(T (Q), T (P )) = d(Q,P ) = ‖ −−→ QP ‖ = ‖ −−→ OP − −−→ OQ ‖ = ‖−→v −−→w ‖. Ou seja, ‖T (−→v )− T (−→w )‖ = ‖−→v −−→w ‖ para quaisquer vetores −→v e −→w . Em particular, como T ( −→ 0 ) = −→ 0 , temos que ‖T (−→v )‖ = ‖−→v ‖ para todo vetor −→v . Então, 〈T (−→v )− T (−→w ), T (−→v )− T (−→w )〉 = ‖T (−→v )− T (−→w )‖2 = ‖−→v −−→w ‖2 = 〈−→v −−→w ,−→v −−→w 〉 ⇐⇒ 〈T (−→v ), T (−→v )〉 − 2〈T (−→v ), T (−→w )〉+ 〈T (−→w ), T (−→w )〉 = 〈−→v ,−→v 〉 − 2〈−→v ,−→w 〉+ 〈−→w ,−→w 〉 ⇐⇒ ‖T (−→v )‖2 − 2〈T (−→v ), T (−→w )〉+ ‖T (−→w )‖2 = ‖−→v ‖2 − 2〈−→v ,−→w 〉+ ‖−→w ‖2 ⇐⇒ 〈T (−→v ), T (−→w )〉 = 〈−→v ,−→w 〉. Isto é, 〈T (−→v ), T (−→w )〉 = 〈−→v ,−→w 〉 para todos os vetores −→v e −→w . Proposição 17 Se T : R2 −→ R2 é uma isometria tal que T (O) = T (O), então T é linear. 20 Unidade 9Transformações geométricas planas DemonstraçãoSejam −→v e −→w vetores em R2. Então, pela Proposição 16, 〈T (−→v +−→w )− T (−→v )− T (−→w ), T (−→v +−→w )− T (−→v )− T (−→w )〉 = 〈T (−→v +−→w ), T (−→v +−→w )〉 − 2〈T (−→v +−→w ), T (−→v )〉 −2〈T (−→v +−→w ), T (−→w )〉+ 〈T (−→v ), T (−→v )〉+ 2〈T (−→v ), T (−→w )〉 +〈T (−→w ), T (−→w )〉 = 〈−→v +−→w ,−→v +−→w 〉 − 2〈−→v +−→w ,−→v 〉 − 2〈−→v +−→w ,−→w 〉+ 〈−→v ,−→v 〉 +2〈−→v ,−→w 〉+ 〈−→w ,−→w 〉 = 〈−→v ,−→v 〉+ 2〈−→v ,−→w 〉+ 〈−→w ,−→w 〉 − 2〈−→v ,−→v 〉 − 2〈−→v ,−→w 〉 − 2〈−→v ,−→w 〉 −2〈−→w ,−→w 〉+ 〈−→v ,−→v 〉+ 2〈−→v ,−→w 〉+ 〈−→w ,−→w 〉 = 0. Assim, ‖T (−→v + −→w ) − T (−→v ) − T (−→w )‖2 = 0, ou seja, T (−→v + −→w ) = T (−→v ) + T (−→w ). De modo análogo, podemos mostrar que ‖T (λ−→v ) − λT (−→v )‖2 = 0 e, portanto, T (λ−→v ) = λT (−→v ) para todo vetor −→v e todo escalar λ. Provamos, então, que T é linear. Seja L : R2 −→ R2 uma isometria. Então a transformação G : R2 −→ R2, de�nida por G(−→v ) = L(−→v )−L(−→0 ), é uma aplicação tal que G( −→ 0 ) = G( −→ 0 ). Além disso, G é uma isometria, pois G = T−→w ◦ L é a composta de duas isometrias, onde T−→w é a translação pelo vetor −→w = −L(−→0 ). Logo, pela Proposição 17, G é uma isometria linear. Provamos, assim, o seguinte resultado: Proposição 18Toda isometria é a composta de uma isometria linear com uma translação. Vamos analisar agora as isometrias lineares. Seja G : R2 −→ R2 uma isometria linear e MG = ( a c b d ) a matriz que a representa, onde G(−→e1 ) = (a, b) e G(−→e2 ) = (c, d). Como ‖−→e1 ‖ = ‖−→e2 ‖ = 1 e 〈−→e1 ,−→e2 〉 = 0 e, pela Proposição 16, ‖G(−→e1 )‖ = ‖−→e1 ‖ = 1, ‖G(−→e2 )‖ = ‖−→e2 ‖ = 1 e 〈G(−→e1 ), G(−→e2 )〉 = 〈−→e1 ,−→e2 〉 = 0, temos que os vetores G(−→e1 ) = (a, b) e G(−→e2 ) = (c, d) são ortonormais. Seja θ o ângulo que o vetor (a, b) faz com o eixo OX no sentido positivo. Então, (a, b) = (cos θ, sen θ). 21 Unidade 9 Isometrias no plano Sendo o vetor (c, d) unitário e ortogonal ao vetor (a, b), temos duas possi- bilidades: (c, d) = (− sen θ, cos θ) ou (c, d) = (sen θ,− cos θ). O X Y (a, b) (c, d) θ θ Figura 9.9: (c, d) = (− sen θ, cos θ) O X Y (a, b) (c, d) θ θ Figura 9.10: (c, d) = (sen θ,− cos θ) Se (c, d) = (− sen θ, cos θ), a isometria linear G é dada por: G(x, y) = (cos θ x− sen θ y, sen θ x+ cos θ y), e se (c, d) = (sen θ, cos θ), G(x, y) = (cos θ x+ sen θ y, sen θ x− cos θ y). No primeiro caso, G(−→e2 ) = (c, d) = (− sen θ, cos θ) faz ângulo θ, no sentido positivo, com o eixo OY e, no segundo caso, G(−→e2 ) = (c, d) = (sen θ,− cos θ) faz ângulo θ + π, no sentido positivo, com o eixo OY . Então, se L(O) = (xo, yo), dizemos que a isometria L(x, y) = (x cos θ − y sen θ + xo, x sen θ + y cos θ + yo) (9.6) preserva a orientação do plano, e que a isometria L(x, y) = (x cos θ + y sen θ + xo, x sen θ − y cos θ + yo) (9.7) inverte a orientação do plano. Note que o determinante da matrizMG = ( cos θ − sen θ sen θ cos θ ) da parte linear G da isometria (9.6) que preserva orientação é+1, enquanto que o determinante 22 Unidade 9Transformações geométricas planas da matriz MG = ( cos θ sen θ sen θ − cos θ ) da parte linear G da isometria (9.7) que inverte orientação é −1. Estamos agora em condições de classi�car todas as isometrias do plano. Teorema 19As únicas isometrias do plano que preservam orientação são as translações ou as rotações em torno de um ponto. DemonstraçãoSeja L : R2 −→ R2 uma isometria que preserva a orientação do plano, L(x, y) = (x cos θ − y sen θ + xo, x sen θ + y cos θ + yo). Se θ = 0, então L(x, y) = (x+ xo, y + yo) é uma translação. Suponhamos que θ ∈ (0, 2π). Vamos mostrar que L = Rθ,P1 é a rotação de ângulo θ em torno de um ponto P1 = (x1, y1). Por (9.5), a rotação de centro P1 = (x1, y1) e ângulo θ transforma o ponto (x, y) no ponto (x′, y′) tal quex′ = (x− x1) cos θ − (y − y1) sen θ + x1 y′ = (x− x1) sen θ + (y − y1) cos θ + y1. Então, para que L seja igual a Rθ,P1 , devemos ter(x− x1) cos θ − (y − y1) sen θ + x1 = x cos θ − y sen θ + xo (x− x1) sen θ + (y − y1) cos θ + y1 = x sen θ + y cos θ + yo, para todo ponto (x, y) ∈ R2. Simpli�cando, obtemos:(1− cos θ)x1 + sen θ y1 = xo − sen θ x1 + (1− cos θ) y1 = yo, Como o determinante deste sistema (1− cos θ)2 + sen2 θ é diferente de zero, pois θ ∈ (0, 2π), ele possui apenas uma solução (x1, y1). 23 Unidade 9 Isometrias no plano Teorema 20 As únicas isometrias do plano que invertem orientação são as re�exões em torno de uma reta ou as re�exões com deslizamento. Demonstração Seja L : R2 −→ R2 uma isometria que inverte a orientação do plano, L(x, y) = (x cos θ + y sen θ + xo, x sen θ − y cos θ + yo). Se (xo, yo) = (0, 0), temos que: L(x, y) = (x cos θ + y sen θ, x sen θ − y cos θ). Então, se α = θ 2 , L(x, y) = (x cos 2α + y sen 2α, x sen 2α− y cos 2α). Logo, por (9.3), L é a re�exão em torno da reta ` : − senαx + cosα y = 0 paralela ao vetor (cosα, senα) que passa pela origem. No caso geral, L = T−→v ◦ R`, onde T−→v é a translação ao longo do vetor −→v = (xo, yo). Vamos mostrar que L = R`′,−→w é uma re�exão com deslizamento, onde `′ é uma reta paralela à reta ` e −→w é um vetor paralelo à reta `′. Sejam −→u = 〈(xo, yo), (− senα, cosα)〉(− senα, cosα) = (−xo senα + yo cosα)(− senα, cosα) a projeção ortogonal do vetor−→v = (xo, yo) sobre o vetor (− senα, cosα) normal à reta ` e −→w = 〈(xo, yo), (cosα, senα)〉(cosα, senα) = (xo cosα + yo senα)(cosα, senα) a projeção ortogonal do vetor −→v = (xo, yo) sobre a reta `. Considere o ponto Q tal que −−→ OQ = 1 2 −→u , ou seja, Q = (−c senα, c cosα), onde c = 1 2 (−xo senα + yo cosα). Então,a reta `′ paralela à reta ` que passa pelo ponto Q é dada por `′ : − senαx+ cosα y = c, 24 Unidade 9Transformações geométricas planas e a re�exão em torno dela é, por (9.3), R`′(x, y) = (x cos 2α + y sen 2α, x sen 2α− y cos 2α) +2c(− senα, cosα). Observe que 2c(− senα, cosα) é o vetor −→u . O X Y (xo, yo) Q −→u −→w ` `′ Figura 9.11: L = T~w ◦R`′ Como −→u +−→w = (xo sen 2 α− yo cosα senα,−xo cosα senα + yo cos 2 α) +(xo cos 2 α + yo cosα senα, xo cosα senα + yo sen 2 α) = (xo, yo), temos que L(x, y) = (x cos 2α + y sen 2α, x sen 2α− y cos 2α) +2c(− senα, cosα) + (xo cosα + yo senα)(cosα, senα), ou seja, L = T−→w ◦R`′ , como queriamos provar. 25 Unidade 9 Exercícios 9.6 Exercícios 1. Ache a imagem da reta r : 3x − 2y = 1 pela translação T−→v , onde −→v = (−1, 1). 2. Determine a re�exão do círculo (x − 2)2 + (y − 3)2 = 1 com respeito aos eixos coordenados e com respeito à reta x+ 3y = −2. 3. Ache um vetor −→v de modo que a translação T−→v por esse vetor, leve a curva y = ax2 + bx+ c na curva y = ax2. 4. Sejam P1 e P2 pontos do plano. Mostre que a composta das simetrias RP1 e RP2 é a translação T−→v pelo vetor −→v = 2 −−−→ P1P2 . 5. Ache e identi�que a imagem R(C) da curva C : ax2 + 2bxy + ay2 = c pela rotação R de 45◦ em torno da origem. 6. Sejam R1 a rotação de ângulo θ1 em torno do ponto P1 e R2 a rotação de ângulo θ2 em torno do ponto P2. Mostre que a composta R1 ◦R2 é igual à rotação de ângulo θ3 = θ1 + θ2 em torno de um terceiro ponto P3. 7. Veri�que que uma transformação constante é uma transformação linear se, e somente se, é a transformação linear nula. 8. Prove que: (a) a soma de duas transformações lineares é uma transformação linear; (b) o produto de um escalar λ por uma transformação linear é também uma transformação linear; (c) a composta de duas transformações lineares é uma transformação linear; (d) a composição de transformações lineares é distributiva com respeito à soma de transformações lineares; (e) a composição de transformações lineares não é em geral comutativa. Indicação: componha um cissalhamento com uma homotetia. 9. Determine: 26 Unidade 9Transformações geométricas planas (a) a imagem do círculo de centro (2, 2) e raio 1 pela homotetia de razão 1/2 e pela homotetia de razão 2; (b) a imagem da reta r paralela ao vetor −→v = (1, 2) que passa pelo ponto P = (2, 3) pelas homotetias do item anterior. 10. Sabemos que uma transformação linear leva retas em retas. Se uma trans- formação no plano leva retas em retas então ela é uma transformação linear? 11. Ache uma isometria que leve a reta 2x− 4y = −3 no eixo OX. 12. Determine a isometria T = R2 ◦ R1 dada pela re�exão R1 com respeito à reta y = x seguida da re�exão R2 com respeito à reta x = 0. 13. Determine uma transformação linear L e uma translação T−→v por um vetor −→v de modo que a transformação S = T−→v ◦ L leve o círculo C de centro na origem e raio 1 na elipse E : (x− 2)2 4 + (y − 1)2 9 = 1. 14. Considere as cônicas C dadas no Exercício 6 do Capítulo 8. Para cada uma delas, encontre uma isometria T : R2 −→ R2 de modo que T (C) seja uma elipse ou uma hipérbole com centro na origem e eixos focais paralelos aos eixos coordenados ou uma parábola com vértice na origem e reta focal paralela a um dos eixos coordenados. 15. Sejam ` e `′ retas concorrentes não perpendiculares do plano. A re�exão com respeito à reta `, paralelamente a `′, é a transformação T : R2 −→ R2 que a cada ponto P associa o ponto P ′ = T (P ) tal que PP ′ é paralelo a `′ e ` corta o segmento PP ′ no seu ponto médio. Determine a expressão de T quando ` : − cos θ x+ sen θ y = 0 e `′ : − cosϕx+ senϕy = 0, com ϕ 6= θ + π 2 . A transformação T é uma isometria? T preserva ângulo? 16. Seja T : R2 −→ R2 uma transformação. Um ponto P ∈ R2 é um ponto �xo de T se T (P ) = P . Mostre que: (a) O ponto P0 é o único ponto �xo da rotação Rθ,P0 de ângulo θ em torno de P0. (b) Os pontos �xos da re�exão R` em torno de uma reta ` são os pontos de `. 27 Unidade 9 Exercícios (c) Se −→v 6= −→0 , a translação T−→v e a re�exão com deslizamento R`,−→v não possuem pontos �xos. 17. Sejam `1 e `2 duas retas paralelas e o vetor −→v = 2 −−→ AB , com A ∈ `1, B ∈ `2 e −−→ AB ⊥ `1. Mostre que T−→v = R`2 ◦ R`1 , onde R`1 e R`2 são as re�exões em torno das retas `1 e `2, respectivamente. 18. Sejam R`1 e R`2 as re�exões em torno das retas `1 e `2 concorrentes, e θ 2 o ângulo de `1 para `2 no sentido positivo. Mostre que R`2 ◦R`1 é a rotação de ângulo θ em torno do ponto de interseção de `1 com `2. 19. Mostre que uma re�exão com deslizamento pode ser escrita como a com- posta de três re�exões. 20. Mostre que toda isometria do plano é uma re�exão, a composta de duas re�exões ou a composta de três re�exões. � 28 10 1 Curvas Planas Parametrizadas Sumário 10.1 Parametrização das cônicas . . . . . . . . . . . . . . 2 10.1.1 Parametrização do círculo . . . . . . . . . . . . . 2 10.1.2 Parametrização de uma elipse . . . . . . . . . . . 4 10.1.3 Parametrização de uma hipérbole . . . . . . . . . 7 10.1.4 Parametrização de uma parábola . . . . . . . . . 9 10.2 Parametrização de curvas planas conhecidas . . . . 12 10.2.1 Curva de Agnesi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 10.2.2 Ciclóides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 10.2.3 Epiciclóide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 10.2.4 Fólium de Descartes. . . . . . . . . . . . . . . . . 19 10.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 10.4 Solução de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Unidade 10 Parametrização das cônicas Ao estudarmos as retas no plano, vimos que a reta r que passa por dois pontos distintos P1 = (x1, y1) e P2 = (x2, y2) é dada pelas seguintes equações paramétricas: r : x = x1 + t(x2 − x1) y = y1 + t(y2 − y1) ; t ∈ R . Estas equações expressam os valores das coordenadas cartesianas x e y de um ponto qualquer da reta r em função de apenas uma variável, a variável t, denominada parâmetro. Neste capítulo veremos como obter as equações paramétricas de algumas curvas planas, dentre elas as cônicas, usando, por exemplo, relações trigonométri- cas básicas e observando as condições que um ponto deve satisfazer para per- tencer a uma curva dada. Definição 1 Seja C uma curva plana. Dizemos que uma aplicação γ : D −→ R2, γ(t) = (x(t), y(t)), é uma parametrização de C se a sua imagem γ(D) coincide com C, ou seja, C = γ(D) = {(x(t), y(t)) | t ∈ D} , onde D é um subconjunto de R (geralmente um intervalo ou uma reunião �nita de intervalos). A imagem γ(D) ⊂ R2 é também chamada traço de γ. A parametrização de uma curva plana pode ser vista como a trajetória de uma partícula móvel que se desloca em um intervalo de tempo. Neste caso, γ(t) = (x(t), y(t)) nos dá a posição que o móvel ocupa em cada instante t. 10.1 Parametrização das cônicas Nesta seção veremos como parametrizar uma elipse, uma hipérbole e uma parábola. Começaremos este estudo por um caso particular da elipse, mas extremamente importante, que é o círculo. 10.1.1 Parametrização do círculo Seja C : x2 + y2 = r2 o círculo de centro na origem e raio r > 0. 2 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Seja t a medida, em radianos, do ângulo P̂0OP (tomada no sentido posi- tivo), onde O é a origem do sistema cartesiano de coordenadas, P0 = (r, 0) é a interseção do círculo com o semieixo positivo OX e P = (x, y) ∈ C. Consideremos o ponto P ′ = (x, 0). Como o triângulo OPP ′ é retângulo em P ′, as expressões das coordenadas x e y, em função do parâmetro t, são: x = x(t) = r cos t e y = y(t) = r sen t Figura 10.1: Círculo C : x2 + y2 = r2. Fazendo t percorrer os valores do intervalo [0, 2π), obtemos todos os pon- tos do círculo. Se quisermos, podemos considerar t percorrendo todos os valores reais. Isto implica realizar um número in�nito de voltas sobre o círculo. Portanto, uma possibilidade de equações paramétri- cas para o círculo C é: C : x = r cos t y = r sent ; t ∈ R . Observe que, para quaisquer valores reais a e b, com a 6= 0, as equações x = r cos(at+ b) e y = r sen(at+ b), também são equações paramétricas para o círculo C, pois: x2 + y2 = r2 cos2(at+ b) + r2 sen2(at+ b) = r2 , para todo t ∈ R, e conforme t percorre todos os valores em [ − b a , 2π − b a ) , o ponto P = (r cos(at+ b), r sen(at+ b)) percorre todos os pontos do círculo. Em particular, para a = −1 e b = π/2, obtemos que C : x = r cos(π/2− t) = r sen t y = r sen(π/2− t) = r cos t ; t ∈ R , são equações paramétricas para o círculo C. Seja agora o círculo de centro (x0, y0) e raio r > 0 C : (x− x0)2 + (y − y0)2 = r2. 3 Unidade 10 Parametrização das cônicas Por uma translação do sistema de eixos OXY , obtemos um novo sistema de eixos OX Y , onde O = (x0, y0) é o centro do círculo. Nas coordenadas x e y do sistema OX Y , a equação cartesiana do círculo é x2 + y2 = r2, pois, nesse sistema, o círculo C tem raio r e centro na origem. Sendo x = r cos t e y = r sen t, t ∈ R, equações paramétricas de C nas coordenadas x e y, segue que: C : x = x0 + x = x0 + r cos t y = y0 + y = y0 + r sen t ; t ∈ R , são equações paramétricas do círculo C nas coordenadas x e y. Figura 10.2: Círculo C :: (x− x0)2 + (y − y0)2 = r2. Exemplo 1 Parametrize o círculo C : x2 + y2 − 4x− 6y = 12. Solução. Completando os quadrados, x2 − 4x+ y2 − 6y = 12⇐⇒ (x− 2)2 + (y − 3)2 = 12 + 4 + 9 = 25 , vemos que C é o círculo de centro C = (2, 3) e raio r = 5. Pelo visto acima, C : x = 2 + 5 cos t y = 3 + 5 sen t ; t ∈ R , são equações paramétricas do círculo C. 10.1.2 Parametrização de uma elipse Seja E : x2 a2 + y2 b2 = 1 uma elipse de centro na origem. 4 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Seja C : α2 + β2 = 1 o círculo de centro na origem e raio r = 1. Como (x, y) ∈ E se, e só se, (α, β) = ( x a , y b ) ∈ C, e C : α = cos t β = sen t ; t ∈ R e C : α = sen t β = cos t ; t ∈ R são parametrizações de C, obtemos que E : x = a cos t y = b sen t ; t ∈ R , e E : x = a sen t y = b cos t ; t ∈ R , são possíveis parametrizações da elipse E . O signi�cado geométrico do parâmetro t ∈ R pode ser visto da seguinte maneira. Sejam Ca : x2 + y2 = a2 o círculo de centro na origem e raio a e Cb : x2 + y2 = b2 o círculo de centro na origem e raio b. Figura 10.3: Círculos Ca e Cb, a > b > 0. Considere, para cada t ∈ R, os pontos Pa = (a cos t, a sen t) ∈ Ca e Pb = (b cos t, b sen t) ∈ Cb, tais que os vetores −−−→ OPa e −−→ OPb fazem um ângulo t, no sentido positivo, com o semieixo positivo OX. A interseção da reta ra : x = a cos t, paralela ao eixo−OY que passa pelo ponto Pa, com a reta rb : y = b sen t, paralela ao eixo−OX que passa pelo ponto Pb, nos dá o ponto P = (a cos t, b sen t) pertencente à elipse E : x2 a2 + y2 b2 = 1. 5 Unidade 10 Parametrização das cônicas Figura 10.4: Construção da elipse E Seja agora a elipse E : (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = 1 de centro (x0, y0). Por uma translação dos eixos coordenados, obtemos um sistema de eixos OX Y , onde O = (x0, y0) é o centro da elipse. Nas novas coordenadas x e y, a equação cartesiana da elipse �ca na forma E : x2 a2 + y2 b2 = 1 e, portanto, E : x = a cos t y = b sen t ; t ∈ R e E : x = a sen t y = b cos t ; t ∈ R são parametrizações da elipse nas coordenadas x e y. Como x = x+ x0 e y = y + y0, obtemos que: E : x = x0 + a cos t y = y0 + b sen t ; t ∈ R , e E : x = x0 + a sen t y = y0 + b cos t ; t ∈ R , são parametrizações da elipse nas coordenadas x e y. Exemplo 2 Parametrize a elipse x2 + 4y2 − 2x− 16y = −1. Solução. Completando os quadrados, x2 − 2x+ 4y2 − 16y = −1 ⇐⇒ (x− 1)2 + 4(y − 2)2 = −1 + 1 + 16 = 16 ⇐⇒ (x− 1)2 16 + (y − 2)2 4 = 1 , vemos que a elipse E tem centro no ponto (1, 2), reta focal y = 2 paralela ao eixo−OX, a = 4 e b = 2. Então, 6 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas E : x = 1 + 4 cos t y = 2 + 2 sen t ; t ∈ R , e E : x = 1 + 4 sen t y = 2 + 2 cos t ; t ∈ R são parametrizações de E . 10.1.3 Parametrização de uma hipérbole Consideremos a hipérbole H : x2− y2 = 1 equilátera (a = b = 1) de centro na origem cuja reta focal é o eixo−OX. Sejam cosh t = et + e−t 2 e senh t = et − e−t 2 , t ∈ R, as funções cosseno hiperbólico e seno hiperbólico. Os pontos (cosh t, senh t) e (− cosh t, senh t) pertencem à hipérbole H, pois, (cosh t)2 − (senh t)2 = e2t + 2 + e−2t 4 − e2t − 2 + e−2t 4 = 1 para todo t ∈ R. Figura 10.5: Grá�cos de cosh t e senh t. Além disso, variando t em R, vemos que x = cosht (x = − cosht) per- corre todos os valores em [1,+∞) (respectivamente, (−∞,−1]), enquanto y = b senh t percorre todos os valores reais. Portanto, x = cosh t y = senh t ; t ∈ R, é uma parametrização do ramo H+ de H que intesecta o semieixo positivo OX, e x = − cosh t y = senh t ; t ∈ R, é uma parametrização do ramo H− de H que intesecta o semieixo negativo OX. 7 Unidade 10 Parametrização das cônicas Figura 10.6: Grá�co de H = H+ ∪H−. Seja agora a hipérbole H : (x− x0)2 a2 − (y − y0)2 b2 = 1 de centro (x0, y0) e reta focal paralela ao eixo−OX. Considere a hipérbole H0 : α2 − β2 = 1. Como (x, y) ∈ H se, e só se, (α, β) = ( x− x0 a , y − y0 b ) ∈ H0 e α = ± cosh t β = senh t ; t ∈ R , é uma parametrização de H0, temos quex = x0 ± a cosh t y = y0 + b senh t ; t ∈ R , são equações paramétricas da hipérbole H. De modo análogo, podemos veri�car quex = x0 + b senh t y = y0 ± a cosh t ; t ∈ R , são equações paramétricas da hipérboleH : (y − y0)2 a2 − (x− x0)2 b2 = 1 de centro (x0, y0) e reta focal paralela ao eixo−OY . Exemplo 3 Parametrize a hipérbole H : x2 − 4y2 + 2x− 8y = 7. Solução. Completando os quadrados, temos: x2 + 2x− 4y2 − 8y = 7 ⇐⇒ (x+ 1)2 − 4(y + 1)2 = 7 + 1− 4 = 4 ⇐⇒ (x+ 1)2 4 − (y + 1)2 = 1 . 8 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Logo, H é uma hipérbole de centro (−1,−1), reta focal y = −1 paralela ao eixo−OX, a = 2 e b = 1. Assim, pelo visto acima, H : x = ±2 cosh t− 1 y = senh t− 1 ; t ∈ R , é uma parametrização de H. Exemplo 4Parametrize a hipérbole H : −x2 + 9y2 − 2x+ 18y − 1 = 0. Solução. Completando os quadrados, obtemos: 9(y2 + 2y)− (x2 + 2x) = 1 ⇐⇒ 9(y + 1)2 − (x+ 1)2 = 1 + 9− 1 = 9 ⇐⇒ (y + 1)2 − (x+ 1)2 9 = 1 . Logo, H é uma hipérbole de centro (−1,−1), reta focal x = −1 paralela ao eixo−OY , a = 1 e b = 3. Portanto, H : x = 3 senh t− 1 y = ± cosh t− 1 ; t ∈ R , é uma possível parametrização de H. 10.1.4 Parametrização de uma parábola As equações canônicas das parábolas se caracterizam por apresentar uma das variáveis no primeiro grau. Isso permite expressar essa variável como função da variável do segundo grau. Assim, por exemplo, na parábola P de equação (x− a)2 = k(y − b)⇐⇒ y = 1 k (x− a)2 + b , de vértice (a, b) e reta-focal paralela ao eixo−OY , escolhendo o parâmetro t como sendo x− a, a variável y se expressa como y = 1 k t2 + b. 9 Unidade 10 Parametrização das cônicas Figura 10.7: P : (x− a)2 = k(y − b) . Portanto, P tem por equações paramétricas: P : x = t+ a y = 1 k t2 + b , t ∈ R Exemplo 5 Parametrize a parábola P : y2 − 2x+ 4y = 0. Solução. Completando o quadrado: y2 + 4y − 2x = 0 ⇐⇒ (y + 2)2 = 2x+ 4 = 2(x+ 2) , vemos que P é uma parábola de vértice V = (−2,−2) e reta focal y = −2 paralela ao eixo−OX. Então, como x = (y + 2)2 2 − 2, temos que: P : x = t2 2 − 2 y = t− 2 ; t ∈ R , são equações paramétricas da parábola P . Exemplo 6 Determine uma parametrização da cônica dada pela equação do segundo grau: 9x2 − 24xy + 16y2 − 20x+ 110y − 50 = 0 . (10.1) Solução. Os coe�cientes da equação são A = 9, B = −24, C = 16, D = −20, E = 110, F = 50 e seu indicador é I = B2− 4AC = (−24)2− 4× 9× 16 = 0. Portanto, a equação é do tipo parabólico. 10 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Seja A = ( 9 −12 −12 16 ) a matriz da equação 10.1 e p(λ) = det ( λ− 9 12 12 λ− 16 ) = (λ− 9)(λ− 16)− 144 = λ2 − 25λ = λ(λ− 25) o seu polinômio característico, cujas raízes são λ1= 0 e λ2 = 25, ou seja, λ1 = 0 e λ2 = 25 são os autovalores da matriz A. Os autovetores −→u1 = (x, y) relativos ao autovalor λ1 = 0 são as soluções do sistema (λ1 − 9)x+ 12y = 0 12x+ (λ1 − 16)y = 0 ⇐⇒ −9x+ 12y = 0 12x− 16y = 0 ⇐⇒ −3x+ 4y = 0 3x− 4y = 0 ⇐⇒ x = 4y 3 . Assim, −→u1 = ( 4 5 , 3 5 ) é um autovetor unitário relativo ao autovalor λ1 = 0. E, portanto, −→u2 = ( −3 5 , 4 5 ) é um autovetor unitário relativo ao autovalor λ2 = 25. Seja OX Y o sistema obtido girando, no sentido positivo, os eixos OX e OY de ângulo θ ∈ (0, π/2) tal que cos θ = 4 5 e sen θ = 3 5 . Nas coordenadas x e y do sistema OX Y , a equação 10.1 �ca na forma 25y2 + 〈( 4/5 −3/5 3/5 4/5 ) (x, y), (−20, 110) 〉 − 50 = 0 ⇐⇒ 25y2+ −50 = 0 ⇐⇒ 25y2 − 16x+ 12y + 66x+ 88y − 50 = 0 ⇐⇒ 25y2 + 50x+ 100y − 50 = 0 ⇐⇒ y2 + 2x+ 4y − 2 = 0. Completando o quadrado, temos: y2 + 4y = −2x+ 2⇐⇒ (y + 2)2 = −2x+ 2 + 4 = −2(x− 3) . Assim, a curva representa uma parábola de vértice V = (3,−2), parâmetro p = 1 2 , reta focal ` : y = −2, foco F = ( 3− 1 2 ,−2 ) = ( 5 2 ,−2 ) e diretriz L : x = 3 + 1 2 = 7 2 . 11 Unidade 10 Parametrização de curvas planas conhecidas Portanto, x = − t 2 2 + 3 y = t− 2 ; t ∈ R , é uma parametrização da parábola nas coordenadas x e y. Então, usando a mudança de coordenadas x = 1 5 (4x−3y) e y = 1 5 (3x+4y), obtemos que: P : x = 1 5 ( 4 ( − t 2 2 + 3 ) − 3(t− 2) ) = −1 5 (2t2 + 3t− 18) y = 1 5 ( 3 ( − t 2 2 + 3 ) + 4(t− 2) ) = 1 5 ( −3 2 t2 + 4t+ 1 ) ; t ∈ R , é uma parametrização da cônica. Figura 10.8: Parábola 9x2 − 24xy + 16y2 − 20x+ 110y − 50 = 0 10.2 Parametrização de curvas planas conhe- cidas 10.2.1 Curva de Agnesi. Seja C um círculo de raio r tangente a duas retas paralelas s1 e s2. Sejam O e A os pontos de tangência de C com s1 e s2, respectivamente. Do ponto 12 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas O tracemos uma semirreta em direção à reta s2. Sejam R e Q os pontos de interseção desta semirreta com C e s2, respectivamente. Tracemos o segmento QD, perpendicular a s1, com D ∈ s1, e a reta s paralela a s1 passando por R (veja a Figura 10.9). Figura 10.9: Construção da curva de Agnesi. Seja P o ponto de interseção da reta s com o segmento QD. Os pontos P assim obtidos, traçando todas as semirretas que partem de O e intersectam C, descrevem a curva denominada curva de Agnesi. Para obtermos as equações paramétricas da curva de Agnesi, admitamos que O seja a origem do sistema de coordenadas, s1 seja o eixo OX e s2 : y = 2r. Assim, A = (0, 2r) nessas coordenadas (Figura 10.9). O nosso problema consiste em determinar as coordenadas dos pontos P = (x, y) da curva em função de apenas um parâmetro. Denotando t a medida do ângulo D̂OQ, obtemos: |OD| = |OQ| cos t e |RB| = |OR| sen t . (10.2) onde B é a projeção de R sobre o eixo OX. Note que os triângulos ORA (inscrito em um semicírculo de C) e ODQ são retângulos. No primeiro, ÔRA é o ângulo reto, a medida de ÔAR é t e, portanto, |OR| = 2 r sen t. No triângulo ODQ, temos |QD| = 2r. Logo, |OQ| sen t = 2r, ou seja, |OQ| = 2r sen t . Substituindo essas relações em (10.2), obtemos: |OD| = 2r cos t sen t = 2r cotg t e |RB| = 2r sen2 t . (10.3) 13 Unidade 10 Parametrização de curvas planas conhecidas Então, as equações paramétricas da curva de Agnesi são:x = 2 r cotg t y = 2 r sen2 t ; t ∈ (0, π) , e seu traço é mostrado na �gura 10.10: Figura 10.10: Curva de Agnesi. 10.2.2 Ciclóides Sejam C um círculo de raio r, s uma reta e P um ponto de C. Denominamos ciclóide a curva descrita pelo ponto P quando C rola sobre a reta s, sem deslizar. Para obtermos as equações paramétricas da ciclóide, admitamos que: • a reta s é o eixo OX; • o círculo C inicia o movimento estando seu centro no ponto (0, r); • o ponto P coincide com a origem do sistema de coordenadas no início do movimento. Tracemos dois círculos: C1, representando C em sua posição inicial, e C2, representando C após ter rolado alguns instantes. Veja, na Figura 10.11, a designação dos seguintes elementos: • sejam O1 e O2 os centros de C1 e C2, respectivamente; • P = (x, y) o ponto da ciclóide em C2; • A o ponto em que C2 toca o eixo OX; • Q = (x, 0) e T = (0, y) as projeções ortogonais de P sobre OX e OY , respectivamente; • M e N as projeções ortogonais de P sobre O2O1 e O2A, respectivamente; • t a medida do ângulo que O2P faz com O2A, no sentido positivo. 14 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Figura 10.11: Desenvolvimento da ciclóide. Note que o segmento OA tem o mesmo comprimento que o arco de A a P sobre o círculo C2, que consiste dos pontos de C que já �zeram contato com a reta s. Como t é a medida de ÂO2P , o comprimento do arco de C2 de A a P que já fez contato com s é rt. Logo, |OA| = rt. Então, x = |OQ| = |OA| ± |QA| = |OA| ± |O2M | = rt± r| sen t| y = |OT | = |OO1| ± |TO1| = r ± |O2N | = rt± r| cos t| , onde o sinal depende da posição de Q na semirreta ⇀ OA e da posição de T na semirreta ⇀ OO1, que, por sua vez, variam com a medida t do ângulo ÂO2P . Analisando o sinal de sen t e cos t nos intervalos [0, π 2 ], [π 2 , π], [π, 3π 2 ] e [3π 2 , 2π], obtemos as seguintes equações paramétricas da ciclóide:{ x = rt− r sen t y = r − r cos t , t ∈ R Observação 2• para t = 0, o ponto P está na sua posição inicial; • para t = π, P dista 2r do eixo OX; • para t = 2π, o círculo dá um giro completo e o ponto P volta a tocar o eixo OX. Veja como é feito o movimento na seqüência de �guras abaixo. 15 Unidade 10 Parametrização de curvas planas conhecidas Figura 10.12: t = 2π 3 . Figura 10.13: t = π . Figura 10.14: t = 3π 2 . Figura 10.15: t = 2π . Figura 10.16: Ciclóide. trocóides. 10.2.3 Epiciclóide Consideremos dois círculos, Γ e C, de raios R e r, respectivamente,tais que: • Γ e C se tocam apenas em um ponto P , • os pontos de C, diferentes de P , estão no exterior de Γ. Denominamos epiciclóide o lugar geométrico descrito pelo ponto P quando C rola sobre Γ sem deslizar. Para obtermos as equações paramétricas da epiciclóide, admitamos Γ com centro na origem, C com centro no ponto (R + r, 0) e que a posição inicial de P seja P1 = (R, 0). Nas Figuras 10.17 e 10.18, mostramos o círculo C após ter rolado, no sentido positivo, alguns instantes sobre o círculo Γ. Acompanhe, nessas mesmas �guras, a designação dos seguintes elementos: P = (x, y) o ponto da epiciclóide que, estando inicialmente na posição P1, descreve o arco de curva P1P quando C rola um ângulo de medida θ sobre Γ; A o ponto de contato entre os círculos; O2 16 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas o centro de C; B e D as projeções de O2 sobre os eixos OX e OY ; Q = (x, 0) e T = (0, y) as projeções de P sobre OX e OY ; M e N as projeções de P sobre as retas O2D e O2B, respectivamente, e seja t o ângulo ÂO2P descrito pelo ponto P com respeito à semirreta radial OO2. Figura 10.17: P descreve uma epiciclóide. Figura 10.18: P continuando o movimento. O nosso problema consiste em descrever as coordenadas do ponto P em termos de um parâmetro. Nas �guras acima, vemos que as posições relativas entre O,Q e B e entre O, T e D variam de acordo com a posição do ponto P . Isto é, de acordo com a medida t do ângulo ÂO2P . No caso em que Q está entre O e B, e T está entre O e D, �gura 10.17, temos: x = |OQ| = |OB| − |QB| = |OB| − |O2M | , y = |OT | = |OD| − |TD| = |OD| − |O2N | . (10.4) Note que, enquanto C rola sobre Γ, seu centro descreve um círculo centrado em O e de raio R+r. Sendo θ a medida do ângulo que o semieixo OX positivo faz com a semirreta OO2 (no sentido positivo), obtemos: |OB| = (R + r)cosθ e |OD| = (R + r)senθ . (10.5) Se t é a medida do ângulo que O2A faz com O2P , no sentido positivo, vemos que: N̂O2P = ÔO2B − ÂO2P = (π 2 − θ)− t = π 2 − (θ + t) . Portanto, no triângulo-retângulo PNO2, temos: |O2M | = r sen(N̂O2P ) = r sen(π 2 − (θ + t)) = r cos(θ + t) , |O2N | = r cos(N̂O2Pquadrante do plano. 6. O círculo C de centro A e raio r > 0 divide o plano em três subconjuntos disjuntos, são estes • o conjunto dos pontos do próprio círculo C: P ∈ C ⇐⇒ d(A,P ) = r; • o conjunto I dos pontos interiores a C: P ∈ I ⇐⇒ d(A,P ) r. (a) Determine se os pontos P = (1, 1), Q = (−3, 2), R = (−2,−2), S = (4,−2) pertencem ao círculo C : x2+ y2− 4x+2y = 8, ao seu interior ou ao seu exterior. (b) Determine se o círculo C1 : x2 − x+ y2 − 1 = 0 intersecta o círculo C. Caso negativo, decida se C1 está contido no interior ou no exterior de C. 19 Unidade 1 Vetores no plano 7. Um subconjunto A do plano é limitado se consiste de pontos interiores a um círculo. (a)Mostre que A é limitado se, e somente se, A consiste de pontos interiores a um círculo centrado na origem. (b) Um subconjunto A do plano é ilimitado quando não é limitado. Mostre que A é ilimitado se, e somente se, A possui pontos exteriores a qualquer círculo centrado na origem. (c) Mostre que o conjunto A do Exercício 5 é ilimitado. 8. Um subconjunto A do plano é • simétrico em relação ao eixo-OX se (x, y) ∈ A⇐⇒ (x,−y) ∈ A; • simétrico em relação ao eixo-OY se (x, y) ∈ A⇐⇒ (−x, y) ∈ A; • simétrico em relação à origem, se (x, y) ∈ A⇐⇒ (−x,−y) ∈ A. (a) Mostre que o conjunto A = {P = (x, y) |x4 + y4 = 1} é simétrico em relação aos eixos OX e OY e também em relação à origem. (b) Mostre que A é limitado. 9. Determine o centro e o raio dos círculos cujas equações são: C1 : x2 + y2 = 2x+ 4y e C2 : x2 + y2 = 4y − 8x. Veri�que que os círculos se intersectam e determine as coordenadas dos pontos de interseção. 10. Seja 4ABC um triângulo retângulo de hipotenusa BC. Calculando dis- tâncias em coordenadas mostre que o comprimento da mediana relativa ao lado BC é a metade do comprimento do lado BC. 11. Seja AB um diâmetro do círculo C e seja C um ponto de C diferente de A e B. Usando a distância em coordenadas, mostre que o triângulo 4ABC é retângulo. 12. Determine o vértice C do triângulo equilátero 4ABC, sabendo que A = (x, 0) e B = (−x, 0). 20 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano 13. Use o GeoGebra para localizar os pontos A = (−2, 2), B = (1, 1), C = (1, 3), D = (3, 4), E = (3, 2), F = (6, 1), G = (3, 1), H = (1, 0), I = (0, 4), J = (−3, 2), K = (−1, 1), L = (−3, 0), M = (−2,−3), N = (1,−1), P = (5, 0) e Q = (3, 1). Por mera inspeção, decida quais dos seguintes segmentos são equipolentes: AB, AC, CD, DF , EF , GH, EJ , IJ , KL, NM , MN , PQ. 14. Em cada caso, determine o pontoD tal que CD ≡ AB, ondeA = (−1,−1), B = (2, 3) e C é o ponto: (a) (2, 1); (b) (−2, 0); (c) (1, 3); (d) (1, 1); (e) (2, 3). 15. Determine o ponto P tal que −−→ OP = −−→ AB , onde: (a) A = (1,−1) e B = (1, 1); (b) A = (−2, 0) e B = (1, 3); (c) A = (−1,−3) e B = (0, 0); (d) A = (2,−2) e B = (2, 2). 16. Sejam A = (1,−1) e B = (4, 1) vértices do paralelogramo P = ABDC. Sabendo que as diagonais de P se cortam no ponto M = (3, 2), determine os vértices C e D. 17. Dados os pontos A = (1, 1), B = (3, 4) e C = (4, 2), determine os possíveis pontos D tais que A, B, C e D sejam os vértices de um paralelogramo. 18. Se −−→ PQ = (2, 1), determine a equação que satisfazem as coordenadas do ponto Q = (x, y), sabendo que P pertence ao círculo de centro na origem e raio 1. � 21 Unidade 1 Textos Complementares 1.7 Textos Complementares Para Saber Mais Figura 1.25: Ptolomeu Ao longo do tempo, com diversas motivações práticas, o ser humano se defrontou com a necessidade de localizar lugares e medir distâncias e áreas de regiões, valendo-se de Sistemas de Coordenadas para esses �ns. Sabe-se que os sistemas de coordenadas são usados na Astronomia e na Geogra�a, ainda que não na forma que usamos atualmente, desde a época dos gregos como Hiparco por volta de 150 a.C., sendo um dos exemplos mais famosos e relevantes o do mapa do Mundo de Claudio Ptolomeu (85�165 d.C.). Figura 1.26: Reprodução de mapa de Ptolomeu por Johannes Schnitzer, 1482. Figura 1.27: Oresme Em sua obra De con�gurationibus qualitatum et mo- tuum, Nicole Oresme (1323�1382) utiliza um sistema de coordenadas para elaborar um grá�co onde representa a variação de uma magnitude (velocidade) em termos de ou- tra (tempo). A obra de Oresme foi reproduzida ao longo de 100 anos preservando sua forma original e nela aparecem pela primeira vez os termos latitude e longitude. 22 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano Para Saber MaisA Geometria Analítica moderna foi descoberta de forma independente e quase simultânea por Pierre de Fermat em 1629 (num trabalho publi- cado apenas em 1679) e René Descartes em 1637 num trabalho denominado La Géométrie publicado em 1637 como apêndice da sua obra Discours de la méthode pour bien conduire sa raison et chercher la vérité dans les sciences � (Discurso do método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências). O fato que permitiu a descoberta foi o grau de desenvolvimento em que se encontrava a Álgebra simbólica na época, o que permitiu manipular quantidades abstratas sem o caráter de medida da Geometria grega. A obra de Descartes consistia de três partes. Na primeira são postas as bases do que viria a ser a Geometria Algébrica, permitindo um avanço considerável em relação à matemática grega. Enquanto para os gregos uma variável x signi�cava o com- primento de um segmento, um produto x · y a área de um retângulo e x · y · z o volume de um paralelepípedo, para Descartes x · x = x2 era apenas o quarto termo da proporção 1 : x :: x : x2 (leia-se 1 está para x como x está para x2). Figura 1.28: Pierre de Fermat (1601-1665) Figura 1.29: René Descartes (1596-1650) Na segunda parte do La Géométrie, Descartes faz uma classi�cação de al- gumas curvas planas e descreve um método para construir tangentes a curvas (antes da invenção do Cálculo) e na terceira parte trata da resolução de equações de grau maior ou igual a 3. Deve-se a Descartes, também, o uso de expoentes para designar as potências. 23 Unidade 1 Textos Complementares Figura 1.30: La Géométrie, página de rosto 24 Unidade 1Coordenadas e vetores no plano Para Saber MaisUm paralelogramo é um quadrilátero com lados opostos paralelos (Figura 1.31). Dado o quadrilátero ABDC, usando congruência de triângulos prova-se que as seguintes a�rmações são equivalentes: (a) O quadrilátero é um paralelogramo; (b) Seus lados opostos são congruentes; A B D C Figura 1.31: Paralelogramo ABDC, lados opostos congruentes e paralelos A B D C M Figura 1.32: As diagonais de ABDC se intersectam no ponto médio M (c) Seus ângulos opostos são congruentes; (d) Dois dos seus lados opostos são congruentes e paralelos; (e) Suas diagonais se intersectam no ponto médio de ambas. 25 Unidade 1 Textos Complementares Para Saber Mais Prova da proposição 6.Se AB ‖ CD, a equivalência é verdadeira, pois ABDC é um paralelogramo e suas diagonais cortam-se ao meio. O A a B b M m C c D d (a) m = a+d 2 = b+c 2 O A a M1 m1 B b D d M2 m2 C c (b) m1 = a+d 2 m2 = b+c 2 m1 6= m2 Figura 1.33: (a) AB ≡ CD (b) AB 6≡ CD Se AB e CD são colineares, seja r a reta que os contém provida de uma ori- entação e uma origem O escolhidas de modo que B esteja à direita de A (Figura 1.33). Sejam a, b, c e d as coordenadas de A, B, C e D na reta r em relação a uma unidade de medida escolhida. (=⇒) Se AB ≡ CD, temos a) = r cos(π 2 − (θ + t)) = r sen(θ + t) . (10.6) 17 Unidade 10 Parametrização de curvas planas conhecidas Substituindo as identidades (10.5) e (10.6) em (10.4), obtemos: x = (R + r) cos θ − r cos(θ + t) , y = (R + r) sen θ − r sen(θ + t) . (10.7) Observe que o comprimento do arco de A a P ao longo de C é igual ao comprimento do arco de P1 a A sobre o círculo Γ (lembre que C rola sobre Γ, sem deslizar). Como a medida do primeiro arco é rt e a medida do segundo é Rθ, temos rt = Rθ, de onde, t = Rθ r . Logo, substituindo t = Rθ r em (10.7), obtemos as seguintes equações paramétricas da epiciclóide, apenas em função do parâmetro θ: x = (R + r) cos θ − r cos ( θ + Rθ r ) = (R + r) cos θ − r cos (( R + r r ) θ ) , (10.8) y = (R + r) sen θ − r sen ( θ + Rθ r ) = (R + r) sen θ − r sen (( R + r r ) θ ) . Vamos veri�car agora o caso em que B está entre O e Q e T está entre O e D (Figura 10.18). No triângulo NPO2, (Figura 10.18), temos N̂O2P = t − (π 2 − θ) = (θ + t)− π 2 . Portanto: |O2M | = r sen((θ + t)− π 2 ) = −r cos(θ + t) , |O2N | = r cos((θ + t)− π 2 ) = r sen(θ + t) . Como x = |OQ| = |OB|+ |QB| = |OB|+ |O2M | , y = |OT | = |OD| − |TD| = |OD| − |O2N | , obtemos as mesmas equações paramétricas do caso anterior. Nos outros casos, em que B está entre O e Q e D está T e O, ou que Q está entre O e B e D está entre T e O, também podemos mostrar que: x = (R + r) cos θ − r cos (( R+ r r ) θ ) , y = (R + r) sen θ − r sen (( R+ r r ) θ ) . Assim, quando C rola sobre Γ, as coordenadas do ponto P satisfazem as equações (10.8), independentemente da posição de P . 18 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Conclusão: as equações paramétricas da epiciclóide são: x = (R + r) cos θ − r cos((R+r r )θ) y = (R + r) sen θ − r sen((R+r r )θ) , θ ∈ R (10.9) Observe que, quando C percorre um arco de Γ de comprimento igual a 2πr, o ponto P volta a tocar Γ. Portanto, se R r = n, onde n ∈ N, o ponto P toca Γ n vezes até coincidir com sua posição inicial na n-ésima vez. Para veri�car isto, basta observar que o comprimento de Γ contém n vezes o comprimento de C: 2πR = 2π(nr) = n(2πr) . A Cardióide é a epiciclóide com r = R (⇐⇒ θ = t). Então, por 10.9, as equações paramétricas da cardióide são:{ x = 2r cos θ − r cos(2θ) y = 2r sen θ − r sen(2θ) Figura 10.19: Cardióide R = r . 10.2.4 Fólium de Descartes. A curva chamada Fólium de Descartes é a curva cuja equação cartesiana é: C : x3 + y3 = 3axy , onde a > 0 , (10.10) 19 Unidade 10 Parametrização de curvas planas conhecidas Para fazermos um esboço detalhado desta curva, vamos primeiro parametrizá- la. Para isso, introduzimos o parâmetro t = y/x . Observe que: • se (x, y) ∈ C, então x = 0⇐⇒ y = 0,. • se t = −1 e (x, y) ∈ C, então x = −y =⇒ x3 + (−x)3 = 3ax(−x) =⇒ 0 = −3ax2 =⇒ x = 0 e y = 0 . Substituindo y = tx na equação x3 + y3 = 3axy, obtemos: x3 + (tx)3 = 3ax(tx) ⇐⇒ (1 + t3)x3 = 3atx2 . Portanto, para t 6= −1, temos que x = 3at 1 + t3 e y = tx = 3at 1 + t3 t . Assim, C : x(t) = 3at 1 + t3 y(t) = 3at2 1 + t3 ; t ∈ (−∞,−1) ∪ (−1,+∞) , é uma parametrização da Folium de Descartes. Observe que (x(0), y(0)) = (0, 0). Vamos agora veri�car algumas propriedades relativas a esta curva: 1. A curva intersecta a reta r : y = x nos pontos (0, 0) e ( 3a 2 , 3a 2 ) . Figura 10.20: r′ ⊥ r e P ′ simétrico de P em relação a r. De fato, fazendo y = x na equação (10.10), obtemos: x3 + x3 = 3axx ⇐⇒ 2x3 = 3ax2 ⇐⇒ x = 0 ou x = 3a 2 . 2. A curva é simétrica em relação à reta r : y = x. Seja P = (x0, y0) um ponto do plano e P ′ o simétrico de P em relação à reta r : x− y = 0. Seja r′ a reta perpendicular à reta r que passa pelo ponto P . Então, r′ ‖ (1,−1) e r′ : { x = s+ x0 y = −s+ y0 ; s ∈ R , 20 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas é uma equação paramétrica da reta r′. O ponto Q = (s+x0,−s+ y0) de interseção da reta r′ com a reta r têm parâmetro s dado por: s+ x0 = −s+ y0 ⇐⇒ s = y0 − x0 2 . Logo, Q = ( y0 − x0 2 + x0,− y0 − x0 2 + y0 ) = ( y0 − x0 2 + x0, x0 − y0 2 + y0 ) = ( y0 + x0 2 , x0 + y0 2 ) , e, portanto, P ′ = 2Q− P = (x0 + y0, x0 + y0)− (x0, y0) = (y0, x0) . Para veri�car que C é simétrica em relação à reta r : y = x, basta mostrar que (x, y) ∈ C se, e só se, (y, x) ∈ C, o que é evidente pela equação cartesiana de C. Observação 3 Podemos provar, de modo análogo, que o simétrico de um ponto P = (x, y) com respeito à reta y = −x é o ponto P ′ = (−y,−x). Assim, um conjunto S é simétrico com relação à reta l, quando: (x, y) ∈ S ⇐⇒ (−y,−x) ∈ S. 3. Vamos analizar agora o comportamento da curva em função do parâmetro t nos intervalos (−∞,−1) , (−1, 0] , [0, 1] e [1,+∞). (A) Para t ∈ (−∞,−1): 1 + t3 0 e y(t) 0, x(t) 0; (x(0), y(0)) = (0, 0) e lim t→−1+ (x(t), y(t)) = (−∞,+∞) . (C) Para t ∈ [0, 1]: 1 + t3 > 0; x(t) > y(t) > 0 se t ∈ (0, 1); x(0) = y(0) = 0 e x(1) = y(1) = 3a 2 . 21 Unidade 10 Parametrização de curvas planas conhecidas (D) Para t ∈ (1,+∞): 1 + t3 > 0; y(t) > x(t) > 0; lim t→+∞ (x(t), y(t)) = lim t→+∞ ( 3a 1/t+ t2 , 3a 1/t2 + t ) = (0, 0) . 4. A curva está contida no semiplano x+y+a > 0 e d((x(t), y(t)), r) −→ 0 quando t −→ −1±, onde r é a reta x+y+a = 0. Então, r é uma assíntota da curva. De fato: • x(t) + y(t) + a = 3at 1 + t3 + 3at2 1 + t3 + a = 3at+ 3at2 + a+ at3 1 + t3 = a t3 + 3t2 + 3t+ 1 1 + t3 = a (t+ 1)(t2 + 2t+ 1) (t+ 1)(t2 − t+ 1) = a t2 + 2t+ 1 t2 − t+ 1 = a(t+ 1)2 t2 − t+ 1 > 0 , (10.11) pois (t+1)2 > 0 para todo ∈ R−{−1} e t2− t+1 > 0 para todo t ∈ R. • lim t→−1± d((x(t), y(t)), r) = lim t→−1± |x(t) + y(t) + a|√ 2 = lim t→−1± a(t+ 1)2√ 2 (t2 − t+ 1) = a · 0√ 2 · 3 = 0 . (10.12) Usando as informações acima, podemos traçar a curva: Figura 10.21: Folium de Descartes obtido com a = 1. 22 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas 10.3 Exercícios 1. Para cada uma das curvas abaixo, determine sua equação cartesiana e esboce-a. (a) C : x = t2 y = t3 ; t ∈ R (b) C : x = t2 y = 2t2 ; t ∈ R (c) C : x = t4 y = 2t2 ; t ∈ R (d) C : x = cos2(πt 2 ) y = sen2(πt 2 ) ; t ∈ R 2. As curvas (isto é, as trajetórias) descritas em cada um dos itens abaixo são idênticas? (a) C1 : x = t+ 1 t y = t− 1 t ; t ∈ R− {0} e C2 : x = et + e−t y = et − e−t ; t ∈ R (b) C1 : x = t+ 1 t y = t− 1 t ; t > 0 e C2 : x = et + e−t y = et − e−t ; t ∈ R 3. Considere o círculo C : (x− x0)2 + (y − y0)2 = r2 de centro (x0, y0) e raio r > 0. Parametrize a parte superior de C (isto é, (x, y) ∈ C; y ≥ y0) de duas maneiras diferentes. 4. Seja a hipérbole H : (x− x0)2 a2 − (y−y0)2 b2 = 1 de centro (x0, y0) e reta focal paralela ao eixo−OX. Mostre que H+ : x = a sec t+ x0 y = b tan t+ y0 ; t ∈ ( −π 2 , π 2 ) , H− : x = −a sec t+ x0 y = b tan t+ y0 ; t ∈ ( −π 2 , π 2 ) são parametrizações dos ramos H+ e H− de H que intersectam o semieixo OX positivo e semieixo OX negativo, respectivamente. 5. Parametrize as cônicas de duas maneiras diferentes. (a) x2 − 4y2 + 4x+ 8y − 4 = 0 23 Unidade 10 Exercícios (b) x2 + 4y2 + 4x− 8y + 4 = 0 (c) −4x2 + y2 − 8x+ 4y − 4 = 0 (d) 4y2 + 8x+ 8y − 4 = 0 6. Encontre equações paramétricas para as cônicas dadas pelas equações do segundo grau do exercício 6 do Capítulo 8. 7. A involuta de um círculo de raio a é a curva descrita pela extremidade de um �o quando o �o (mantido tenso) é desenrolado de um carretel de raio a (ver �gura 10.22). Determine equações paramétricas para tal involuta sabendo que o centro do carretel (isto é, do círculo) está na origem e que o �o começa a ser desenrolado no ponto A = (a, 0). Figura 10.22: Exercício 7 Note que o segmento OT é perpendicular ao segmento TP . 8. Considere o círculo da �gura 10.23. Sejam OA o diâmetro sobre o eixo OX, AB um segmento tangente ao círculo em A, eC o ponto em que o segmento OB intercepta o círculo. Se P está sobre o segmento OB e OP = CB, obtenha as equações paramétricas do lugar geométrico descrito por tais pontos P . Esta curva é denomidada Cissóide de Diocles. Determine também a equação cartesiana, mostre que a reta x = 2a é uma assíntota e faça um esboço da curva. 24 Unidade 10Curvas Planas Parametrizadas Figura 10.23: Exercício 8 9. Consideremos dois círculos Γ e C, de raios R e r, respectivamente, tais que: r y(t), pois t > t3, e lim t→−∞ (x(t), y(t)) = lim t→−∞ ( 1 1/t+ t3 , 1 1/t3 + t ) = (0, 0) . B. para t ∈ (−1, 0) ∪ (1,+∞), x(t) 0 e t = − √ y x se x 0 ; • x = − √ y/x 1 + y2/x2 ⇐⇒ x = −x2 |y| 1/2 |x|1/2 x2 + y2 ⇐⇒ x2 + y2 = −x |y| 1/2 |x|1/2 ⇐⇒ x2 + y2 = |x| √ |y|√ |x| = √ |x| |y| = √xy , se x+ 2πk) representam o mesmo ponto do plano. Além disto, como (ρ, θ) = (−ρ, θ + π) se ρ 0. Assim, (ρ, θ) = (ρ, θ + 2πk) = (−ρ, θ + (2n + 1)π) quaisquer que sejam k, n ∈ Z e ρ ∈ R. Nisso, o sistma polar difere do sistema cartesiano, no qual existe uma cor- respondência biunívoca entre as coordenadas e os pontos do plano. Mas, se o ponto P não for a origem e se restringimos ρ e θ aos intervalos (0,+∞) e [0, 2π), respectivamente, existirá apenas um par de coordenadas polares (ρ, θ) para P . Exemplo 1Os pontos P1 = (1, 0◦), P2 = (4,−π/4), P3 = (−1, 0◦) e P4 = (−2, π/3) estão ilustrados na �gura 11.3. O A P1 P2 P3 P4 π 3 π 4 Figura 11.3: Pontos P1, P2, P3 e P4 no sistema Oρ θ Podemos representar esses pontos também com as seguintes coordenadas polares: P1 = (1, 360◦k) = (−1, 360◦n + 180◦); P2 = (4,−π/4 + 2πk) = (−4,−π/4 + π + 2πn) = (−4, 3π/4 + 2πn), P3 = (−1, 360◦k) = (1, 180◦ + 360◦n) e P4 = (−2, π/3 + 2πk) = (2, π/3 + π + 2πn) = (2, 4π/3 + 2πn) = (2, 240◦ + 360◦n) para todos k e n inteiros. 3 Unidade 11 Coordenadas Polares Exemplo 2 O A P C θ ρ= 3 Figura 11.4: Círculo C O conjunto C dos pontos P = (ρ, θ) que satsifazem a equação ρ = 3 é o con- junto dos pontos cuja distância ao pólo O é igual a 3. Ou seja, C = {(ρ, θ) ; ρ = 3 e θ ∈ R} é o círculo de centro O e raio igual a três. Observação 2 A equação ρ = −3 também é uma equação polar do círculo acima. Em geral, ρ = a é a equação polar de um círculo de raio |a| centrado na origem. Exemplo 3 AO θ0= π 4 r Figura 11.5: Reta r : θ = π/4 Seja r o conjunto dos pontos P = (ρ, θ) do plano que satisfa- zem a equação polar θ = π 4 , ou seja, r = {(ρ, θ) ; ρ ∈ R e θ = π/4}. Então, r é a reta que passa pelo póloO e tem inclinação θ0 = π/4 com respeito ao eixo polar. Observação 3 Qualquer reta que passa pelo pólo O tem equação polar da forma θ = θ0, onde θ0 é uma constante. Além disso, θ = θ0 + 2πk e θ = θ0 + (2k + 1)π, k ∈ Z, representam a mesma reta no plano. Vamos obter agora a equação polar de uma reta r que não passa pelo pólo. Proposição 4 Seja Oρ θ um sistema de coordenadas polares no plano. Sejam r uma reta que não passa pelo pólo O, λ a distância do pólo a r e α o ângulo que o eixo polar forma com a semirreta de origem no pólo que é perpendicular a r (Figura 11.6). Então, um ponto P de coordenadas polares (ρ, θ) pertence a r se, e somente se: ρ cos(θ − α) = λ (11.1) 4 Unidade 11Curvas Planas em Coordenadas Polares AO α Q r λ= d( O , r ) Figura 11.6: Reta r no sistema Oρθ DemonstraçãoSeja Q o ponto de interseção de r com a perpendicular a r contendo o pólo. Sabemos que P = (ρ, θ) pertence a reta r se, e somente se, a projeção ortogonal do vetor −−→ OP sobre o vetor −−→ OQ coincide com −−→ OQ , isto é: P ∈ r ⇐⇒ Proj−−→ OQ −−→ OP = −−→ OQ . Seja β = P̂OQ. Então, β = θ−α ou β = α−θ, dependendo da posição do ponto P (veja as �guras 11.7), onde P = (| −−→ OP |, θ) e Q = (| −−→ OQ |, α) são os pontos no sistema Oρθ. Note que cos β está bem de�nido, pois cos(θ − α) = cos(α− θ). AO α β Q P θ r AO α β Q P θ r Figura 11.7: Nas �guras acima, a medida do ângulo α é tomada de OA para OQ e a medida do ângulo θ é tomada de OA para OP Como | −−→ OP | = ρ , | −−→ OQ | = λ , cos β = cos(θ − α) = cos(α− θ), e Proj−−→ OQ −−→ OP = ‖ −−→ OP ‖ ‖ −−→ OQ ‖ cosβ ‖ −−→ OQ ‖2 −−→ OQ = 1 λ ‖ −−→ OP ‖(cos β) −−→ OQ , concluímos: 5 Unidade 11 Coordenadas Polares Proj−−→ OQ −−→ OP = −−→ OQ ⇐⇒ 1 λ ‖ −−→ OP ‖ cos β −−→ OQ = −−→ OQ ⇐⇒ 1 λ ‖ −−→ OP ‖ cos β = 1⇐⇒ | −−→ OP | cos β = λ ⇐⇒ ρ cos(θ − α) = λ . Exemplo 4 AO π 4 r Figura 11.8: r : ρ cos(θ − π/4) = 3 Seja Oρ θ um sistema de coorde- nadas polares no plano. A equação po- lar da reta r cuja distância ao pólo é igual a 3 tal que o ângulo que a semir- reta perpendicular a r, com origem no pólo, forma com o eixo polar tem me- dida π/4, é: r : ρ cos(θ − π/4) = 3 . 11.1.1 Relações entre coordenadas polares e coorde- nadas cartesianas. X Y AO θ x = ρ cos θ y=ρ sen θ P ρ Figura 11.9: Sistemas de coordenadas; polar Oρθ e carte- siano OXY Seja Oρ θ um sistema de co- ordenadas polares no plano. Con- sideremos o sistema cartesiano or- togonal OXY tal que o eixo po- lar seja o semieixo positivo OX e o eixo−OY seja obtido rotacio- nando OX de 90o no sentido po- sitivo. Admitamos a mesma unidade de medida nos dois sistemas (Figura 11.9). Seja P 6= O um ponto no plano tal que P = (ρ, θ), no sistema Oρ θ, e P = (x, y), no sistema OXY . Então, as relações entre essas coordenadas são dadas por: x = ρ cos θ e y = ρ sen θ (11.2) 6 Unidade 11Curvas Planas em Coordenadas Polares Dessas relações, obtemos: x2 = ρ2 cos2 θ , y2 = ρ2 sen2 θ , cos θ = x ρ , sen θ = y ρ e y x = sen θ cos θ = tg θ , de onde concluímos: cos θ = x√ x2 + y2 , sen θ = y√ x2 + y2 , ρ = √ x2 + y2, e tg θ = y x (11.3) De fato, para obter a primeira relação, basta observar que: x2 + y2 = ρ2(cos2 θ + sen2 θ) = ρ2 , o que implica ρ = |ρ| = √ x2 + y2 , pois ρ ≥ 0. As duas relações seguintes são substituições diretas da expressão de ρ em cos θ = x ρ e sen θ = y ρ . Podemos considerar também ρ′ = −ρ = − √ x2 + y2. Neste caso, devemos considerar o ângulo θ′ tal que cos θ′ = − x√ x2 + y2 e sen θ′ = − y√ x2 + y2 para continuarem válidas as igualdades x = ρ′ cos θ′ e y = ρ′ sen θ′. Como cos θ′ = − cos θ e sen θ′ = − sen θ, vemos que θ′ = θ + π, o que justi�ca a convenção feita anteriormente que (ρ, θ) e (−ρ, θ+π) representam o mesmo ponto em coordenadas polares. Convenção: Daqui em diante, sempre que �zermos referência a um sistema polar Oρ θ e a um sistema cartesiano OXY , no mesmo contexto, admitiremos que o semieixo OX positivo é o eixo polar, caso este último não tenha sido de�nido explicitamente. Exemplo 5 X Y O P2 1 1 Figura 11.10: P = (2, π/2)Oρθ e P = (0, 2)OXY Determine as coordenadas cartesianas ou polares dos seguintes pontos: (a) P = (ρ, θ) = (2, π/2). Solução. Como ρ = 2 e θ = π/2, temos que x = ρ cos θ=2 cos π 2 =0 y = ρ sen θ=2 sen π 2 =2 são as coordenadas cartesianas de P . 7 Unidade 11 Coordenadas Polares X Y O P1 1 θ= π 4 ρ= √ 2 Figura 11.11: P = (1, 1)OXY e P = ( √ 2, π/4)Oρθ (b) P = (x, y) = (1, 1). Solução. Sendo x = 1 e y = 1, temos que ρ = √ x2 + y2 = √ 12 + 12 = √ 2, cos θ = 1√ 2 e sen θ = 1√ 2 . Então, θ = π/4 ou θ = π/4 + 2πk, k ∈ Z, e P = (ρ, θ) = ( √ 2, π/4) = ( √ 2, π/4 + 2πk) = (− √ 2, 3π/4 + 2πk), k ∈ Z, é o ponto P dado em coordenadas polares. X Y O P −1 − √ 3 π 3 4π 3 Figura 11.12: P = (−2, π/3)Oρθ e P = (−1,− √ 3)OXY (c) P = (ρ, θ) = (−2, π/3). Solução. Sendo P = (−2, π/3) = (2, π/3 + π) = (2, 4π/3), temos que x = −2 cosπ/3 = 2 cos 4π/3 = −1 , y = −2 senπ/3 = 2 sen 4π/3 = − √ 3 são as coordenadas cartesianas do ponto P . X Y O P5 4 θ=θ0 ρ= √ 41 Figura 11.13: P = (4, 5)OXY e P = ( √ 41, θ0)Oρθ (d) P = (x, y) = (4, 5). Solução. Como x = 4 e y = 5, temos que ρ = √ 42 + 52 = √ 16 + 25 = √ 41 cos θ0 = 4√ 41 sen θ0 = 5√ 41 . Portanto, (ρ, θ)=( √ 41, θ0)=(− √ 41, θ0 + π) é o ponto P dado em coordenadas polares. Exemplo 6 Seja r o lugar geométrico de�nido pela equação polar θ = 3π 4 . Sabemos, pela de�nição de coordenadas polares, que r é o conjunto de todos os pontos P = (ρ, 3π/4), com ρ ∈ R, tais que o ângulo entre o semieixo 8 Unidade 11Curvas Planas em Coordenadas Polares positivo OX e o vetor −−→ OP é 3π 4 , se ρ > 0, ou 7π 4 , se ρλ de uma reta que passa pela origem, temos que r : ρ cos θ = a, pois α = 0 e λ = a se a > 0 ou, α = π e λ = −a se a 0 X Y O Aa r π Figura 11.16: r : x = a, a 0. X Y O P θ a aρ= 2a cos θ x=ρ cos θ y=ρ sen θ Figura 11.18: ρ = 2 a cos θ . Utilizando as relações (11.3) para obter a equação correspon- dente no sistema cartesiano, temos (Figura 11.18): ρ = 2 a cos θ ⇐⇒ ± √ x2 + y2 = 2a ±x√ x2 + y2 ⇐⇒ x2 + y2 = 2ax . Completando o quadrado na úl- tima equação, obtemos: (x− a)2 + y2 = a2 , que é a equação do círculo de cen- tro (a, 0) e raio a. Em geral, o círculo no plano é caracterizado em termos das coordenadas polares de acordo com a seguinte proposição. 10 Unidade 11Curvas Planas em Coordenadas Polares Proposição 5Sejam Oρ θ um sistema de coordenadas polares no plano, P0 = (ρ0, θ0)Oρθ um ponto desse plano e r um valor positivo. Então o conjunto dos pontos P = (ρ, θ)Oρθ que pertencem ao círculo de centro P0 e raio r satisfazem a seguinte equação em coordenadas polares: ρ2 + ρ20 − 2 ρ0 ρ cos(θ − θ0) = r2 DemonstraçãoConsideremos o sistema de coordenadas cartesianas OXY tal que o eixo OX positivo coincida com o eixo polar e o eixo OY seja obtido rotacionando o eixo OX de 90o no sentido positivo. No sistema OXY , temos: P0 = (ρ0 cos θ0, ρ0 sen θ0)OXY e P = (ρ cos θ, ρ sen θ)OXY . Sabemos que o círculo de centro P0 e raio r é o conjunto dos pontos do plano cuja distância a P0 é igual a r . Então: d(P, P0) = r ⇐⇒ √ (ρ cos θ − ρ0 cos θ0)2 + (ρ sen θ − ρ0 sen θ0)2 = r ⇐⇒ ρ2 cos2 θ + ρ20 cos2 θ0 − 2ρ0 ρ cos θ0 cos θ + ρ2 sen2 θ +ρ20 sen2 θ0 − 2ρ0 ρ sen θ0 sen θ = r2 ⇐⇒ ρ2 (cos2 θ + sen2 θ) + ρ20 (cos2 θ0 + sen2 θ0) −2 ρ0 ρ (cos θ0 cos θ + sen θ0 sen θ) = r2 ⇐⇒ ρ2 + ρ20 − 2 ρ0 ρ cos(θ − θ0) = r2 . Observação 6No desenvolvimento acima, calculamos a expressão da distância entre dois pontos em termos de coordenadas polares. Isto é, se P0 = (ρ0, θ0) e P1 = (ρ1, θ1), então: d(P0, P1) = √ ρ20 + ρ21 − 2ρ0ρ1 cos(θ0 − θ1) Exemplo 10Seja C um círculo que contém a origem e tem centro C = (a, b). Então, a sua equação cartesiana é x2 + y2 − 2ax− 2by = 0. (11.4) Pelas mudanças de coordenadas (11.2), temos que a equação (11.4), em coor- denadas polares é 11 Unidade 11 Coordenadas Polares ρ2 − 2aρ cos θ − 2bρ sen θ = 0 ⇐⇒ ρ(ρ− 2a cos θ − 2b sen θ) = 0 ⇐⇒ ρ = 0 ou ρ = 2a cos θ + 2b sen θ. Como a equação ρ = 0 representa apenas a origem, que também satisfaz à equação ρ = 2a cos θ + 2b sen θ, pois O = (0, θ0), onde θ0 é tal que cos θ0 = b√ a2 + b2 e sen θ0 = −a√ a2 + b2 , obtemos que ρ = 2a cos θ + 2b sen θ (11.5) é uma equação polar de C. Quando b = 0, a equação (11.5) torna-se ρ = 2a cos θ que é uma equação polar do círculo C de centro (a, 0) e raio igual a |a|. Portanto, neste caso, C é tangente ao eixo OY na origem. X Y O a 2a C Figura 11.19: C : ρ = 2a cos θ, a > 0 X Y Oa 2a C Figura 11.20: C : ρ = 2a cos θ, a 0 X Y O b 2b C Figura 11.22: C : ρ = 2b sen θ, b 0⇐⇒ sen2 θθ) ∈ C ⇐⇒ (ρ, π/2−θ+2πk) ∈ C ou (−ρ, 3π/2− θ + 2πk) ∈ C, para algum k ∈ Z (Figura 11.27). • à reta θ = 3π/4 quando: (ρ, θ) ∈ C ⇐⇒ (ρ, 3π/2−θ+2πk) ∈ C ou (−ρ, π/2− θ + 2πk) ∈ C, para algum k ∈ Z (Figura 11.28). 15 Unidade 11 Coordenadas Polares X Y O (x, y) (y, x) θ θ θ ρ ρ Figura 11.27: Simetria em relação à reta θ = π/4 X Y O (x, y) (−y,−x) θ θ θ ρ ρ Figura 11.28: Simetria em relação à reta θ = 3π/4 Exemplo 12 A curva C : ρ = 1− cos θ é simétrica com respeito ao eixo polar (eixo OX), pois (ρ, θ) ∈ C se, e só se, (ρ,−θ) ∈ C. De fato, como cos(−θ) = cos θ, temos ρ = 1− cos θ = 1− cos(−θ). Mas, as coordenadas polares (−ρ, π − θ), que é outra representação do ponto (ρ, θ), não satisfaz à equação polar de C, pois, caso contrário, teríamos −ρ = 1− cos(π − θ) = 1 + cos θ, uma contradição, uma vez que ρ = 1− cos θ. O esboço desta curva será feito no Exemplo 13, item (a). Para testar as simetrias, é preferível, como mostra o exemplo acima, usar as coordenadas cartesianas de um ponto, devido à multiplicidade de possibilidades em coordenadas polares. No exemplo 13 faremos o esboço �aproximado� de algumas curvas dadas por suas equações em coordenadas polares. Apenas �aproximado�, porque, para fazermos um esboço ideal, precisaríamos analisar em quais intervalos do eixo OX (ou do eixo OY ) a curva é uma função crescente ou decrescente e convexa ou côncava da variável x (ou, respectivamente, da variável y). Exemplo 13 Faça um esboço da curva: (a) C : ρ = 1− cos θ. Solução. Primeiro observe que ρ ≥ 0 para todo θ. Substituindo ρ =√ x2 + y2 e cos θ = x√ x2 + y2 na equação polar de C, obtemos a equação 16 Unidade 11Curvas Planas em Coordenadas Polares cartesiana da curva: C : √ x2 + y2 = 1− x√ x2 + y2 ⇐⇒ C : x2 + y2 = √ x2 + y2 − x ⇐⇒ C : (x2 + y2 + x)2 = x2 + y2. Como (x, y) ∈ C ⇐⇒ (x,−y) ∈ C, a curva é simétrica com respeito ao eixo OX. Então, para esboçá-la, basta analisar ρ = 1 − cos θ para θ ∈ [0, π], pois a função cos θ é periódica de período 2π. Uma vez que a função cos θ é decrescente no intervalo [0, π], variando de 1 a −1 quando θ varia de 0 a π, e cos π 2 = 0, segue que ρ é decrescente no intervalo [I0, π], ρ = 0 se θ = 0, ρ = 1 se θ = π 2 , e ρ = 2 se θ = π. Assim, o esboço de C, no intervalo [0, π], é o mostrado na Figura 11.29. X Y O C −2 1 Figura 11.29: Curva C com θ ∈ [0, π] Pela simetria em relação ao eixo OX, o esboço de C é o dado na Figura 11.30. X Y O C −2 1 Figura 11.30: Curva C com θ ∈ [0, 2π] É possível mostrar que ρ = 1− cos θ é a equação polar de uma cardióide, estudada no Capítulo 10, tal que os círculos Γ e C têm raios iguais a 1 e 17 Unidade 11 Coordenadas Polares Γ está centrado no ponto (−1, 0). (b) C : ρ = 1 + sen 2θ . Solução. Pela relação trigonométrica sen 2θ = 2 sen θ cos θ , obtemos que ρ = 1 + 2 sen θ cos θ . Além disso, como ρ ≥ 0 para todo θ ∈ R, temos que √ x2 + y2 = 1 + 2xy x2 + y2 ⇐⇒ (x2 + y2)3/2 = x2 + y2 + 2xy = (x+ y)2. (11.7) é a equação cartesiana da curva. Por (11.7), é fácil veri�car que a curva C é simétrica em relação à reta y = x (isto é, (x, y) ∈ C ⇐⇒ (y, x) ∈ C) e à reta y = −x (isto é, (x, y) ∈ C ⇐⇒ (−y,−x) ∈ C). Logo, basta analisar a curva ρ = 1+sen 2θ para θ no intervalo I = [ −π 4 , π 4 ] . Temos que sen 2θ é uma função crescente que varia de −1 a 1 no intervalo I, sendo igual a zero para θ = 0. Logo, ρ = 1 + sen 2θ é uma função crescente de θ no interalo I tal que ρ = 0 se θ = −π/4, ρ = 1 se θ = 0 e ρ = 2 se θ = π/4. Então, o esboço de C no intervalo I é o mostrado na Figura 11.31. X Y O 1 ρ= 2 π 4 Figura 11.31: Curva C no intervalo [ −π 4 , π 4 ] Pelas simetrias da curva, é fácil ver que o esboço de C é o mostrado na Figura 11.32. 18 Unidade 11Curvas Planas em Coordenadas Polares X Y O 1−1 π 4 2 2 Figura 11.32: Curva C : ρ = 1 + sen 2θ (c) C : ρ = 1 + 2 cos θ . Solução. Neste exemplo, ρ pode assumir valores negativos e positivos. Logo, ρ = ± √ x2 + y2 e cos θ = ±x√ x2 + y2 . Substituindo ρ e θ na equação dada, obtemos que ± √ x2 + y2 = 1± 2x√ x2 + y2 ⇐⇒ x2 + y2 = ± √ x2 + y2 + 2x ⇐⇒ (x2 + y2 − 2x)2 = x2 + y2 é a equação cartesiana da curva. É fácil veri�car que esta curva é simétrica em relação ao eixo−OX, mas não é simétrica em relação ao eixo−OY . Portanto, para esboçá-la, basta variar o parâmetro θ no intervalo [0, π]. Para θ ∈ [0, π], temos: • ρ = 1 + 2 cos θ = 0 se, e só se, cos θ = −1 2 , ou seja, ρ = 0 se, e só se, θ0 = π − π 3 = 2π 3 ; • ρ > 0 se, e só se, −1 2 a região R do plano dada pelo sistema de inequações: R : x2 12 ≤ y ≤ 1 2 √ 16− x2 0 ≤ x ≤ 2 √ 3. Faça um esboço de R e descreva-a como reunião de regiões na forma:ρ1(θ) ≤ ρ ≤ ρ2(θ) θ1 ≤ θ ≤ θ2, onde (ρ, θ) são as coordenadas polares de um ponto de R. 10. Descreva a região R como uma reunião de regiões na formaρ1(θ) ≤ ρ ≤ ρ2(θ) θ1 ≤ θ ≤ θ2, onde (ρ, θ) são as coordenadas polares de um ponto de R, sendo: (a) R a região interior a ambas as curvas C1 : ρ = 4 √ 3 cos θ e C2 : ρ = 4 sen θ. (b) R a região limitada pelo círculo x2 + (y − 1)2 = 1 e pelas retas y = x, y = −x e x = 2, que contém o ponto (1, 0), onde (x, y) são as coordenadas cartesianas de um ponto. � 23 12 1 Cônicas em Coordenadas Polares Sumário 12.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 12.2 De�nição geral de uma cônica . . . . . . . . . . . . 2 12.3 Equação polar das cônicas . . . . . . . . . . . . . . 8 12.4 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Unidade 12 Introdução 12.1 Introdução No Capítulo 7 de�nimos uma parábola em termos de seu foco e de sua diretriz, enquanto que, nos Capítulos 5 e 6, de�nimos uma elipse e uma hipér- bole, respectivamente, em termos de seus focos. Nesta unidade daremos uma de�nição geral que engloba os três tipos de cônicas em termos de um foco e da diretriz correspondente a esse foco. Usando a de�nição geral de uma cônica e escolhendo um sistema de coor- denadas polares com origem no foco e eixo polar perpendicular ou paralela à diretriz, veremos, na seção 12.3, que uma cônica nessas coordenadas polares assume uma forma bem simples. 12.2 De�nição geral de uma cônica Teorema 1 Sejam F um ponto do plano, L uma reta do plano tal que F /∈ L e e um número real positivo. Então, o conjunto C = { P ∣∣ d(P, F ) = e d(P,L) } é uma elipse se e 1, de foco no ponto F e excentricidade e. Figura 12.1: Sistema OXY escolhido. Demonstração Note que se e = 1, então C = { P ∣∣ d(P, F ) = d(P,L) } é uma parábola de foco F e diretriz L, de acordo com a de�nição de parábola dada no Capítulo 7. Suponhamos que 0 0. Temos, então, que: P = (x, y) ∈ C ⇐⇒ √ x2 + y2 = e |x−m| ⇐⇒ x2 + y2 = e2(x−m)2 ⇐⇒ x2 + y2 = e2(x2 − 2mx+m2) ⇐⇒ (1− e2) ( x2 + 2me2 1− e2 x ) + y2 = m2e2 2 Unidade 12Cônicas em Coordenadas Polares ⇐⇒ (1− e2) ( x+ me2 1− e2 )2 + y2 = m2e2 + (1− e2)m2e4 (1− e2)2 ⇐⇒ (1− e2) ( x+ me2 1− e2 )2 + y2 = m2e2 ( 1 + e2 1− e2 ) ⇐⇒ (1− e2) ( x+ me2 1− e2 )2 + y2 = m2e2 1− e2 ⇐⇒ ( x+ me2 1− e2 )2 m2e2 (1− e2)2 + y2 m2e2 1− e2 = 1 . • Se 0 m2e2 1− e2 . Logo, a = me 1− e2 , b = me√ 1− e2 e, portanto, c2 = a2 − b2 = m2e2 1− e2 ( 1 1− e2 − 1 ) = m2e2 1− e2 ( e2 1− e2 ) ⇐⇒ c2 = m2e4 (1− e2)2 ⇐⇒ c = me2 1− e2 . Além disso, • c a = me2 1− e2 × 1− e2 me = e é a excentricidade. • C = ( −me2 1− e2 , 0 ) é o centro. • F1 = C + (c, 0) = (0, 0) = F é um foco. • L : x = +m é perpendicular à reta focal = eixo−OX e d(C,L) = |x−m| = ∣∣∣∣− me2 1− e2 −m ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ me21− e2 +m ∣∣∣∣ = m ∣∣∣∣e2 + 1− e2 1− e2 ∣∣∣∣ = m 1− e2 = a e . Observe que o foco F está entre o centro C e o ponto M = (m, 0), pois a abscissa m de M é positiva e a abscissa − me2 1− e2 de C é negativa, onde M é o ponto de interseção de L com a reta focal. • Se e > 1, então 1 − e2 0 e m2e2 1− e2 L1 : y = −a e = −7 3 e L2 : y = a e = 7 3 , correspondentes aos fo- cos F1 e F2, respectivamente, e assíntotas: r± : x = ± √ 2√ 7 y. (c) 9x2 − 18x+ 25y2 − 50y = 191. Solução. Completando os quadrados na equação, temos: 9(x2 − 2x) + 25(y2 − 2y) = 191 ⇐⇒ 9(x2 − 2x+ 1) + 25(y2 − 2y + 1) = 191 + 9 + 25 ⇐⇒ 9(x− 1)2 + 25(y − 1)2 = 225 ⇐⇒ E : (x− 1)2 25 + (y − 1)2 9 = 1 . 7 Unidade 12 Equação polar das cônicas Figura 12.8: Elipse E : 9x2 − 18x+ 25y2 − 50y = 191. Assim, a cônica é a elipse com centro C = (1, 1); reta focal ` : y = 1, paralela ao eixo−OX; a2 = 25, b2 = 9, c2 = a2 − b2 = 25 − 9 = 16; vértices sobre a reta focal: A1 = (1− a, 1) = (−4, 1) e A2 = (1 + a, 1) = (6, 1); focos: F1 = (1 − c, 1) = (−3, 1) e F2 = (1 + c, 1) = (5, 1); vértices sobre a reta não-focal: B1 = (1, 1 − b) = (1,−2) e B2 = (1, 1 + b) = (1, 4); reta não- focal `′ : x = 1, paralela ao eixo−OY ; excentricidade: e = c a = 4 5 ; diretrizes: L1 : x = 1 − a e = 1 − 25 4 = −21 4 e L2 : x = 1 + a e = 1 + 25 4 = 29 4 , correspondentes aos focos F1 e F2, respectivamente. 12.3 Equação polar das cônicas Seja C uma cônica de excentricidade e > 0. Consideremos um sistema de coordenadas polares em que um foco F da cônica é a origem O e o eixo polar ⇀ OA está contido na reta focal de C. Designamos L a diretriz associada ao foco F e seja h = d(F,L). Segundo a de�nição geral de uma cônica, P = (ρ, θ) ∈ C ⇐⇒ d(P, F ) = e d(P,L)⇐⇒ ρ = e d(P,L) . Temos dois casos a considerar. • Se L não intersecta o eixo polar, então d(P,L) = h+ ρ cos θ. Neste caso, P = (ρ, θ) ∈ C se, e somente se, ρ = e(h+ ρ cos θ)⇐⇒ ρ = eh 1− e cos θ . 8 Unidade 12Cônicas em Coordenadas Polares Figura 12.9: L não intersecta ⇀ OA . • Se L intersecta o eixo polar, então d(P,L) = h− ρ cos θ. Neste caso, P = (ρ, θ) ∈ C se, e somente se, ρ = e(h− ρ cos θ)⇐⇒ ρ = eh 1 + e cos θ . Figura 12.10: L intersecta ⇀ OA . Ou seja, a equação polar de C, nesse sistema, Oρ θ é C : ρ = eh 1± e cos θ (12.1) na qual tomamos o sinal positivo (+) se a diretriz L intersecta o eixo polar, e o sinal negativo (−) se L não intersecta o eixo polar. De modo análogo, se o eixo polar ⇀ OA, com origem O = F , for escolhido de modo a ser paralelo à diretriz L, ou seja, perpendicular à reta focal, podemos mostrar que a equação polar da cônica é dada por C : ρ = eh 1± e sen θ (12.2) na qual tomamos o sinal positivo (+) se a diretriz L intersecta a semirreta ⇀ OB , onde ⇀ OB é a rotação de π/2 do eixo polar ⇀ OA, no sentido positivo. Caso contrário, tomamos o sinal negativo (−). 9 Unidade 12 Equação polar das cônicas Figura 12.11: L não intercepta ⇀ OB . Figura 12.12: L intercepta ⇀ OB . Para Saber Mais Como foi mencionado no Capítulo 5, Isaac Newton, em seu Principia Mathematica, de 1687, mostrou as três leis de Kepler a partir de duas leis de sua autoria, a Segunda Lei do Movimento e a Lei Universal da Gravitação. Para isso, usou o cálculo vetorial e o cálculo diferencial para chegar a conclusão que a equação do movimento de um planeta em todo do Sol tem equação polar ρ = eh 1 + e cos θ , num sistema de coordenadas polares com o Sol no pólo. Como a órbita de um planeta é uma curva limitada, a cônica descrita por um planeta só pode ser uma elipse, provando, assim, a primeira lei de Kepler. Exemplo 2 Seja P uma parábola com foco F na origem O e vértice V no ponto (4, π) com respeito a um sistema de coordenadas polares Oρ θ. Figura 12.13: ρ = 8 1−cos θ . Como o foco F = (0, 0) e o vértice V = (4, π) pertencem à reta focal, o eixo polar ⇀ OA está contido na reta fo- cal. Além disso, como o vértice está à esquerda de O, a diretriz L de P não corta o eixo polar. Logo, a equação polar de P é da forma 12.1 com sinal negativo no de- nominador, excentricidade e = 1 e h = d(F,L) = 2p = 8, pois p = d(V, F ) = 4. Assim, a equação polar de P é ρ = 8 1− cos θ 10 Unidade 12Cônicas em Coordenadas Polares e a equação de sua diretriz L é r cos θ = −8. Exemplo 3Considere a cônica C de equação polar ρ = 2 3− cos θ . Multiplicando o numerador e o denominador da equação polar por 1 3 , obte- mos C : ρ = 2 3 1− 1 3 cos θ . Então, por 12.1, a excentricidade de C é e = 1 3 . Logo, C é uma elipse. Além disso, por 12.1, o sistema polar Oρ θ considerado tem origem O num dos focos F1 de C e eixo polar ⇀ OA contido na reta focal de modo que a diretriz L1, correspondente ao foco F1, não intercepta o eixo polar. Portanto, estamos na situação mostrada na �gura 12.14. Figura 12.14: Posição dos focos F1 e F2, dos vértices A1, A2, B1 e B2 e das diretrizes L1 e L2 de C. Fazendo θ = 0 na equação de C, obtemos ρ = 1. Logo, segundo o esquema da �gura 12.14, A2 = (1, 0). Para obter o outro vértice A1 sobre a reta focal, devemos fazer θ = π na equação de C. Assim ρ = 1 2 e A1 = (1 2 , π). A distância entre os vértices é 2a = d(A1, A2) = 1 + 1 2 = 3 2 , de onde concluímos que a = 3 4 é a medida do semieixo focal da elipse. Sendo e = c a , obtemos c = e a = 1 3 · 3 4 = 1 4 . Portanto, o centro C da elipse C tem coordenadas polares C = (c, 0)Oρ θ = (1 4 , 0) . Conhecendo o centro C = (1 4 , 0) e a distância do centro aos focos, c = d(C,F2) = d(C,F1) = 1 4 , podemos obter as coordenadas polares do outro foco: F2 = ( 1 4 + 1 4 , 0 ) = ( 1 2 , 0 ) . Logo, L1 : ρ cos θ = −a e + c = −9 4 + 1 4 = −2 e L2 : ρ cos θ = a e + c = 11 Unidade 12 Equação polar das cônicas 9 4 + 1 4 = 5 2 são as diretrizes correspondentes aos focos F1 e F2, respectivamente, no sistema polar Oρ θ. Finalmente, como a medida do semieixo não focal é b = √ a2 − c2 =√ 9/16− 1/16 = √ 8/16 = √ 2/2, temos que B1 = (ρ0,−θ0) e B2 = (ρ0, θ0), onde ρ = √ c2 + b2 = √ 1/16 + 2/4 = √ 9/16 = 3/4, cos θ0 = c a = 1/4 3/4 = 1 3 e sen θ0 = b a = √ 2/2 3/4 = 2 √ 2 3 . Exemplo 4 A equação polar de uma cônica C, num sistema de coordenadas Oρ θ, é ρ = 3 3 + 6 sen θ . Dividindo o numerador e o denominador da equação por 3, obtemos a equação H : ρ = 1 1 + 2 sen θ , (12.3) que é da forma 12.2 com sinal positivo (+) no denominador e excentricidade e = 2. Como e > 1, a cônica C é uma hipérbole com um dos focos F1 na origem do eixo polar ⇀ OA. Se ⇀ OB é a semirreta obtida girando o eixo polar ⇀ OA de π/2, no sentido positivo, temos, por 12.3, que ⇀ OB está sobre a reta focal de H e a diretriz L1, correspondente ao foco F1 = O, corta a semirreta ⇀ OB . Figura 12.15: Posições de F1, F2, A1, A2, B1, B2, C, L1, L2 no sistema Oρ θ. Sejam C o centro, A1 e A2 os vértices, B1 e B2 os vértices imaginários e F2 o outro foco de H. A �gura 12.15 ilustra a posição desses pontos e das diretrizes L1 e L2 correspondentes aos focos F1 e F2, respectivamente. Como ed(F1,L1) = 1 e, por outro lado, d(F1,L1) = d(F1, C)− d(C,L1) = c− a/e = ae− a/e = a ( e2 − 1 e ) , obte- mos que 1 e = a ( e2 − 1 e ) ⇐⇒ a = 1 e2 − 1 = 1 3 . 12 Unidade 12Cônicas em Coordenadas Polares Assim, c = ae = 2 3 e b = √ c2 − a2 = √ 3 3 . Logo, C = (2/3, π/2) é o centro, A1 = (2/3−1/3, π/2) = (1/3, π/2) e A2 = (2/3+1/3, π/2) = (1, π/2) são os vértices da hipérbole nas coordenadas polares Oρ θ. Pela �gura 12.15, podemos ver que d(B1, F1) = d(B2, F1) = √ b2 + c2 =√ 3/9 + 4/9 = √ 7/3 e que o ângulo θ0 que ⇀ OB2 faz com ⇀ OA é tal que tan θ0 = c b = 2/3√ 3/3 = 2√ 3 . Então, B1 = ( √ 7/3, π − θ0) e B2 = ( √ 7/3, θ0) são os vértices imaginários de H no sistema Oρ θ. Além disso, F2 = (2c, π/2) = (4/3, π/2) é o outro foco, L1 : ρ sen θ = c− a e = 1 2 é a diretriz correspondente ao foco F1 e L2 : ρ sen θ = c+ a e = 5 6 é a diretriz correspondente ao foco F2. Figura 12.16: As assíntotas r± de H. As assíntotas r± de H são as re- tas que passam pelo centro C = (2/3, π/2) e têm coe�cientes angulares tanϕ± = ± b a = ± √ 3 com respeito à semirreta ⇀ OB . Ou seja, ϕ+ = π/3 e ϕ− = π − π/3 = 2π/3 são as inclinações das as- síntotas com respeito a ⇀ OB . Então, θ+ = ϕ− = 2π/3 e θ− = ϕ+ = π/3 são as inclinações das retas normaisàs assíntotas r+ e r−, respectivamente, com respeito ao eixo polar ⇀ OA. Figura 12.17: H : 1 1+2 sen θ . Portanto, pela Proposição 6 do Capí- tulo 11, r+ : ρ cos(θ − 2π 3 ) = 2 3 cos ( π 2 − 2π 3 ) = √ 3 3 e r− : ρ cos(θ − π 3 ) = 2 3 cos ( π 2 − π 3 ) = √ 3 3 são as equações polares das assíntotas no sistema Oρ θ. 13 Unidade 12 Exercícios 12.4 Exercícios 1. Encontre os focos e as diretrizes correspondentes das cônicas C. Obtenha também os demais elementos e faça um esboço das cônicas. (a) C : 4x2 + 3y2 − 16x+ 6y + 7 = 0 (b) C : −x2 + 5y2 + 4x− 10y − 19 = 0 2. Sejam o sistema cartesiano OXY e o sistema polar Oρ θ tal que o eixo polar ⇀ OA é o semieixo OX positivo. Encontre a equação polar e os principais elementos, em coordenadas polares, da cônica C com um dos focos F na origem O tal que: (a) C é uma hipérbole de excentricidade e = 7 4 e a diretriz y = 6 corres- pondente ao foco F = O. (b) C é uma parábola de diretriz x = 4. (c) C é uma elipse de excentricidade e = 3 4 e diretriz x = −5 correspondente ao foco F = O. (d) C é uma hipérbole com vértices em (1, π/2) e (3, π/2). (e) C é uma parábola de vértice em (4, 3π/2). (f) C é uma elipse com vértices em (3, 0) e (1, π). 3. Determine os principais elementos e esboce a cônica C, cuja equação polar é dada por: (a) C : ρ = 1 1 + sen θ (b) C : ρ = 10 4 + 5 cos θ (c) C : ρ = 3 4− 8 cos θ (d) C : ρ = 5 2− 2 cos θ (e) C : ρ = 12 4− sen θ (f) C : ρ = 1 1− 2 sen θ 14 Unidade 12Cônicas em Coordenadas Polares 4. Mostre que a equação polar de uma elipse com diretriz ρ cos θ = −d, d > 0, correspondente ao foco F = O na origem do sistema polar Oρ θ, pode ser escrita na forma C : ρ = a(1− e2) 1− e cos θ , onde 2a é o comprimento do eixo focal da elipse. 5. As órbitas de alguns planetas ao redor do Sol são elípticas, com o Sol num dos focos. As posições de um planeta que estão mais próximas ou mais afastadas do Sol são chamadas periélio e afélio do planeta, respectivamente. Use o exercício 4 para mostrar que a distância de um planeta no periélio até o Sol é a(1− e) e que a distância de um planeta no afélio ao Sol é a(1+ e). 6. Encontre uma equação polar aproximada para a órbita elíptica da Terra ao redor do Sol (em um foco), sabendo que a excentricidade é cerca de 0, 017 e o comprimento do eixo focal é cerca de 2, 99×108Km. Obtenha também as distâncias da Terra ao Sol no periélio e no afélio. 7. O planeta Mercúrio percorre uma órbita elíptica em torno do Sol com ex- centricidade 0, 26. Sua distância mínima do Sol é 4, 6×107Km. Obtenha a distância máxima do planeta ao Sol e a equação polar de sua órbita elíptica. 15 13 1 Coordenadas e vetores no espaço Sumário 13.1 Coordenadas no espaço . . . . . . . . . . . . . . . . 2 13.2 Distância entre dois pontos do espaço . . . . . . . . 6 13.3 Vetores no espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 13.4 Operações com vetores no espaço . . . . . . . . . . 13 13.5 Colinearidade e coplanaridade de pontos no espaço 17 13.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Unidade 13 Coordenadas no espaço 13.1 Coordenadas no espaço X Y Z O Figura 13.1: Eixos do sistema OXY Z no espaço E Neste capítulo começaremos o nosso estudo da Geometria Analítica Espacial. Primeiro vamos esten- der as noções de coordenadas, distância e vetor, vistas no plano no Capítulo 1, ao espaço eucli- diano. Como dissemos naquele capítulo, assumiremos que o leitor conheça os principais axiomas e resultados da Geometria Eucli- diana no espaço, relativos aos seus elementos básicos1 . Definição 1 Um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E da Geometria Euclidiana consiste de três eixos mutuamente perpendiculares, OX, OY e OZ, com a mesma origem O (Figura 13.1). X Y Z O πXZ πY Z πXY Figura 13.2: Planos cartesianos no espaço E Escolhido um sistema de eixos ortogonaisOXY Z no espaço E , há três planos especiais, chamados planos cartesianos (Figura 13.2): • πXY , o plano que con- tém os eixos OX e OY ; • πXZ , o plano que con- tém os eixos OX e OZ; • πY Z , o plano que contém os eixos OY e OZ. Em analogia ao feito no plano no Capítulo 1, um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E estabelece uma correspondência biunívoca entre os pontos P do espaço E e os ternos ordenados de números reais (x, y, z). Isto é, cada ponto do espaço corresponde exatamente a um terno ordenado de números 1Ver Introdução à Geometria Espacial, Carvalho, Paulo C. P., Ed. SBM (1993). 2 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço reais, e cada terno ordenado de números reais corresponde exatamente a um ponto de E . Se o ponto P está em correspondência com o terno (x, y, z), dizemos que x, y e z são as coordenadas de P em relação ao sistema de eixos ortogonais OXY Z. Estas coordenadas são obtidas da seguinte forma: • coordenada x: coordenada no eixo OX do ponto de interseção deste eixo com o plano π′ que passa pelo ponto P e é paralelo ao plano πY Z . • coordenada y: coordenada no eixo OY do ponto de interseção deste eixo com o plano π′′ que passa pelo ponto P e é paralelo ao plano πXZ . • coordenada z: coordenada no eixo OZ do ponto de interseção deste eixo com o plano π′′′ que passa pelo ponto P e é paralelo ao plano πXY . X Y Z P x πY Z π′ Figura 13.3: Coordenada x de P X Y Z P y πXZ π′′ Figura 13.4: Coordenada y de P X Y Z P z πXY π′′′ Figura 13.5: Coordenada z de P Designamos por R3 o conjunto de todos os ternos ordenados (x, y, z) de números reais. A escolha de um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E determina uma correspondência biunívoca entre E e R3. A bijeção E −→ R3 é obtida associando-se a cada ponto P ∈ E o terno (x, y, z) ∈ R3 formado pelas coordenadas de P relativas ao sistema OXY Z Uma vez escolhido um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E , identi�camos cada ponto P ∈ E pelas suas coordenadas (x, y, z) e escrevemos: P = (x, y, z). Com esta identi�cação, observamos que: • a origem do sistema de eixos ortogonais é o ponto O = (0, 0, 0). • os eixos do sistema são os conjuntos: eixo OX = {(x, 0, 0) |x ∈ R}; eixo OY = {(0, y, 0) | y ∈ R}; eixo OZ = {(0, 0, z) | z ∈ R}. 3 Unidade 13 Coordenadas no espaço • os planos cartesianos são os conjuntos: πXY = {(x, y, 0) |x, y ∈ R}, ou seja, πXY : z = 0; πXZ = {(x, 0, z) |x, z ∈ R}, ou seja, πXZ : y = 0; πY Z = {(0, y, z) | y, z ∈ R}, ou seja, πY Z : x = 0. Um sistema de eixos ortogonais no espaço E permite descrever os subconjun- tos do espaço por meio das coordenadas de seus pontos. Vejamos, por exemplo, como caracterizar outros planos e algumas retas por equações que envolvem as coordenadas dos pontos neles contidos: X Y Z O c πXY π :z= c Figura 13.6: Plano horizontal π • Um plano π é horizontal se co- incide ou é paralelo ao plano πXY (Figura 13.6). Nesse caso, se o ponto de interseção do plano π com o eixo OZ é (0, 0, c), então a ter- ceira coordenada de qualquer pon- to P ∈ π é igual a c, ou seja, π = {(x, y, c) |x, y ∈ R}. Assim, a equação do plano π é: π : z = c. • Analogamente, os planos paralelos aos planos πXZ e πY Z têm equações y = b e x = a, com b 6= 0 e a 6= 0, respectivamente. X Y Z b πXZ π :y= b Figura 13.7: π : y = b X Y Z a πY Z π :x=a Figura 13.8: π : x = a • Uma reta r no espaço, que é paralela a um dos eixos coordenados, intersecta o plano cartesiano complementar em apenas um ponto. As coordenadas deste ponto determinam as coordenadas de todos os pontos da reta r. 4 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço De fato, se r1 é uma reta paralela ao eixo OZ e r1∩πXY = {Q1 = (a, b, 0)}, então qualquer outro ponto Q = (x, y, z) ∈ r1 tem x = a, y = b e z ∈ R (Figura 13.9). Portanto, r1 = { (a, b, z) ; z ∈ R } e suas equações são: r1 : { x = a y = b. X Y Z a b c r1 P Q1 Figura 13.9: r1 ‖ eixo OZ X Y Z a b c r2 P Q2 Figura 13.10: r2 ‖ eixo OY X Y Z a b c r3 P Q3 Figura 13.11: r3 ‖ eixo OX De modo análogo: • Se r2 ‖ eixo OY er2 ∩ πXZ = {Q2 = (a, 0, c)}, então (Figura 13.10) r2 = {(a, y, c) ; y ∈ R}, ou seja, r2 : { x = a z = c . • Se r3 ‖ eixo OX e r3 ∩ πY Z = {Q3 = (0, b, c)}, então (Figura 13.11) r3 = {(x, b, c) ; x ∈ R}, ou seja, r3 : { y = b z = c . Definição 2Um plano π é vertical quando contém ou é paralelo ao eixo OZ. Isto é, π é um plano vertical se, e somente se, eixo OZ ⊂ π ou eixo OZ ∩ π = ∅. X Y Z O P r πXY π Figura 13.12: π ‖ eixo OZ e r = π ∩ πXY Por exemplo, os planos π : x = a, a ∈ R, assim como os planos π : y = b, b ∈ R, são planos verticais. A intersecção de um plano vertical π com o plano πXY é uma reta r (Figura 13.12). Essa reta, vista exclusivamente no pla- no πXY : z = 0, é dada por uma equação da forma αx+ βy = d, com α2 + β2 6= 0. Mas, no espaço, a reta r = π ∩ πXY é dada por duas equações: r : { αx+ βy = d z = 0 . 5 Unidade 13 Distância entre dois pontos do espaço Ou seja, um ponto pertence à reta r se, e somente se, as suas coordenadas satisfazem, simultaneamente, às duas equações acima. Por outro lado, como a direção do eixo-OZ é parelela ao plano π, ele é formado pela união de todas as retas paralelas ao eixo-OZ que passam por um ponto de r. Portanto, o plano π é dado por π = { (x, y, z) ∈ R3 ∣∣αx+ β y = d e z ∈ R } , e sua equação é: π : αx+ β y = d. Observação 3 Não confunda! No espaço, uma equação da forma αx+ βy = d repre- senta um plano vertical, ao passo que, no plano πXY , esta equação representa uma reta. Procedendo de forma análoga com os outros dois eixos, temos que: eixo OX ‖ π ou eixo OX ⊂ π ⇐⇒ π : βy + γz = d, onde β2 + γ2 6= 0; eixo OY ‖ π ou eixo OY ⊂ π ⇐⇒ π : αx+ γz = d, onde α2 + γ2 6= 0; eixo OZ ‖ π ou eixo OZ ⊂ π ⇐⇒ π : αx+ βy = d, onde α2 + β2 6= 0. 13.2 Distância entre dois pontos do espaço Sejam P = (a, b, c) e Q = (a′, b′, c′) pontos no espaço E . X Y Z O P Q a a′ b b′ c c′ R S T U Figura 13.13: Cálculo de d(P,Q) Começamos observando que se P e Q estão sobre uma reta paralela a um dos eixos coorde- nados, então eles têm duas coor- denadas iguais e a distância en- tre eles é o módulo da diferença das coordenadas diferentes. Suponhamos que P e Q não estão sobre uma reta paralela a um dos eixos coordenados. Para o cálculo da distância de P a Q, vamos considerar os pontos auxiliares (Figura 13.13): R = (a, b, c′), S = (a, b, 0), T = (a′, b′, 0) e U = (a′, b, 0). 6 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço Como, pela observação feita acima, d(S, U) = |a′ − a| e d(U, T ) = |b′ − b|, obtemos, pelo teorema de Pitágoras aplicado ao triângulo 4SUT , que: d(S, T )2 = d(S, U)2 + d(U, T )2 = |a′ − a|2 + |b′ − b|2 = (a′ − a)2 + (b′ − b)2 . Sendo os segmentos ST e RS lados opostos de um retângulo, temos: d(R,Q)2 = d(S, T )2 = (a′ − a)2 + (b′ − b)2 . Além disso, d(P,R) = |c′ − c|, pois os pontos P e R estão sobre uma mesma reta paralela ao eixo OZ. Finalmente, como o triângulo 4PRQ é retângulo, d(P,Q)2 = d(P,R)2 + d(R,Q)2 = (c′ − c)2 + (a′ − a)2 + (b′ − b)2 , ou seja, d(P,Q) = √ (a′ − a)2 + (b′ − b)2 + (c′ − c)2 . (13.1) No plano, vimos que o conjunto dos pontos que equidistam de um ponto dado formam um círculo. No espaço temos: Definição 4A esfera S de centro C e raio r > 0 é o conjunto formado por todos os pontos P ∈ E cuja distância ao centro C é igual a r: S = {P ∈ E | d(P,C) = r} . X Y Z O C P =(x, y, z) a b c S Figura 13.14: Esfera S de centro C = (a, b, c) e raio r Sejam C = (a, b, c) e P = (x, y, z) as coordenadas do centro C e de um ponto genérico de S em relação a um sistema de eixos ortogonais OXY Z. Então, P ∈ S ⇐⇒ d(P,C)=r ⇐⇒ √ (x− a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 =r. 7 Unidade 13 Distância entre dois pontos do espaço Elevando ao quadrado ambos os lados desta última identidade, obtemos a equação da esfera S no sistema de eixos OXY Z: S : (x− a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 = r2. Exemplo 1 Mostre, completando os quadrados, que a equação de segundo grau x2 + y2 + z2 − 2x+ 4y − 6z = 1, representa uma esfera S. Determine o centro e o raio de S. Solução. Completando os quadrados na equação, temos: x2 + y2 + z2 − 2x+ 4y − 6z = 1 ⇐⇒ (x2 − 2x) + (y2 + 4y) + (z2 − 6z) = 1 ⇐⇒ (x2 − 2x+1) + (y2 + 4y+4) + (z2 − 6z+9) = 1+1+4+9 ⇐⇒ (x− 1)2 + (y + 2)2 + (z − 3)2 = 15. Portanto, a equação representa a esfera S de centro C = (1,−2, 3) e raio r = √ 15. Exemplo 2 Determine as coordenadas do ponto médio M do segmento AB, onde A = (a, b, c) e B = (a′, b′, c′). Solução. Seja M = (mx,my,mz) o ponto médio do segmento AB (Figura 13.15), isto é, |AM | = d(A,M) = d(M,B) = |MB|. X Y Z O A B M C D E F G H I J K L P Q a b c a′ b′ c′ mx my mz Figura 13.15: Ponto médio do segmento AB Pelo critério ALA, os triângulos 4ACM e 4MDB são congruentes. Em particular, |CM | = |DB|. Logo, |EF | = |CM | = |DB| = |FG|. 8 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço De novo, pelo critério ALA, os triângulos 4EHF e 4FIG são congru- entes. Logo, |EH| = |FI| e, portanto, mx = a+ a′ 2 . Analogamente, |HF | = |IG|, donde my = b+ b′ 2 . Pelo mesmo argumento, os triângulos 4JPK e 4KQL são congruentes, logo |JP | = |KQ| e, portanto, mz = c+ c′ 2 . Finalmente, as coordenadas do ponto médio M do segmento AB são: M = (mx,my,mz) = ( a+ a′ 2 , b+ b′ 2 , c+ c′ 2 ) . Exemplo 3Determine o conjunto, M = {P ∈ E | d(P,A) = d(P,B)} , dos pontos equidistantes a dois pontos distintos A e B no espaço. X Y Z O A B M P Q r −r M Figura 13.16: ConjuntoM dos pontos equidistantes de A e B Solução. Note que o ponto médio M do segmento AB pertence ao conjunto M. SejaOXY Z um sistema de eixos ortogonais no espaço tal que O = M e o seg- mentoAB esteja contido no eixoOX, comA no semieixo positivo OX. Então, A = (r, 0, 0) e B = (−r, 0, 0), para algum número real r > 0. Assim, P = (x, y, z) ∈M se, e somente se, d(A,P ) = d(B,P )⇐⇒ d(A,P )2 = d(B,P )2 ⇐⇒ (x− r)2 + (y − 0)2 + (z − 0)2 = (x− (−r))2 + (y − 0)2 + (z − 0)2 ⇐⇒ x2 − 2xr + r2 = x2 + 2xr + r2 ⇐⇒ −2xr = 2xr ⇐⇒ 4xr = 0 ⇐⇒ x = 0 (pois r 6= 0)⇐⇒ P = (0, y, z) ∈ πY Z . Portanto, M = πY Z . Geometricamente, M é o plano perpendicular ao segmento AB que passa pelo seu ponto médio. 9 Unidade 13 Vetores no espaço 13.3 Vetores no espaço A noção de vetor no espaço de�ne-se da mesma maneira que no plano, continuando válidas as principais propriedades, salvo alguns acréscimos. Para de�nir a relação de equipolência no espaço, começamos observando que, no espaço, duas retas são paralelas quando estão contidas no mesmo plano e não se intersectam. De fato, no espaço há situações em que duas retas não se intersectam e não são paralelas. Pense, por exemplo, em duas ruas, sendo uma delas um viaduto que passa por cima da outra transversalmente! Definição 5 Os segmentos orientados AB e CD no espaço são equipolentes, e es- crevemos AB ≡ CD, quando satisfazem às seguintes condições: • AB e CD têm igual comprimento: |AB| = d(A,B) = d(C,D) = |CD|. • AB e CD estão contidos em retas paralelas ou na mesma reta. • AB e CD têm o mesmo sentido. X Y Z A B M C D Figura 13.17: Paralelogramo ABDC: AB ≡ CD Se AB e CD satisfazem às duas primeiras propriedades, a ter- ceira signi�ca, no caso em que A, B, C e D não são colineares, que ABDC é um paralelogramo no plano que contém os pontos A, B, C e D. Como foi feito no plano, podemos mostrar que AB ≡ CD se, e só se, o ponto médio deAD coincide com o ponto médio de BC. A relação de equipolência entre segmentos do espaço é também uma relação de equivalência, isto é, satisfaz às seguintes propriedades: 1. Re�exividade: Todo segmento é equipolente a si próprio: AB ≡ AB. 2. Simetria: Se AB ≡ CD, então CD ≡ AB. 3. Transitividade: Se AB ≡ CD e CD ≡ EF , então AB ≡ EF . Estas propriedades podem ser veri�cadas usando a Proposição 6 abaixo. 10 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço X Y Z A B P ~v Figura 13.18: Equipolentes ao segmento AB, ~v = −−→ AB Sendo a equipolência uma re- lação de equivalência, podemos dividir o conjunto dos segmen- tos orientadosdo espaço em sub- conjuntos chamados classes de equivalência pela relação de equipolência, ou simplesmente, classes de equipolência. Cada classe de equipolência é denomi- nada um vetor do espaço. Us- amos a mesma notação adotada para vetores no plano para designar o conjunto de todos os segmentos orientados que são equipolentes ao segmento AB: −→v = −−→ AB = {CD |AB ≡ CD}. Note que, AB ≡ CD ⇐⇒ −−→ AB = −−→ CD . Como no plano, o vetor representado por um segmento cuja origem é igual à extremidade é chamado vetor nulo ou vetor zero: −→ 0 = −−→ AA = −−→ BB = −−→ CC = . . .. Além disso, todo ponto P do espaço é origem de um segmento orientado representante de um vetor dado −→v = −−→ AB qualquer (Figura 13.18). Ou seja, dado um vetor −→v = −−→ AB e um ponto P ∈ E , existe um único ponto Q ∈ E tal que −→v = −−→ PQ . Para veri�car esta propriedade, quando A, B e P não são colineares, basta considerar o plano que contém os pontos A, B e P . Neste plano, o problema de determinar o ponto Q já foi resolvido quando estudamos vetores no plano. Notação: Dado um ponto P no espaço e um vetor −→v , designamos Q = P+−→v o único ponto do espaço tal que −→v = −−→ PQ . Proposição 6Sejam A = (a, b, c), B = (a′, b′, c′), C = (x, y, z) e D = (x′, y′, z′) pontos do espaço dados pelas suas coordenadas com respeito a um sistema de eixos ortogonais OXY Z. Então, AB ≡ CD se, e somente se, a′ − a = x′ − x, b′ − b = y′ − y e c′ − c = z′ − z . 11 Unidade 13 Vetores no espaço Demonstração Temos que AB ≡ CD se, e somente se, o ponto médio AD coincide com o ponto médio BC, ou seja, se, e só se:( a+ x′ 2 , b+ y′ 2 , c+ z′ 2 ) = ( a′ + x 2 , b′ + y 2 , c′ + z 2 ) ⇐⇒ a+ x′ 2 = a′ + x 2 , b+ y′ 2 = b′ + y 2 e c+ z′ 2 = c′ + z 2 ⇐⇒ a+ x′ = a′ + x , b+ y′ = b′ + y e c+ z′ = c′ + z ⇐⇒ a′ − a = x′ − x , b′ − b = y′ − y e c′ − c = z′ − z . generalizando, assim, o resultado já conhecido no plano. Definição 7 Sejam A = (a, b, c) e B = (a′, b′, c′) pontos no espaço. Os números reais a′ − a, b′ − b e c′ − c são as coordenadas do vetor −−→ AB no sistema de eixos ortogonais OXY Z. Escrevemos: −−→ AB = (a′ − a, b′ − b, c′ − c). Observação 8 Pela proposição anterior, as coordenadas de um vetor podem ser calculadas usando qualquer segmento orientado que o represente. Em particular, dado um vetor −→v = (α, β, γ), o ponto P = (α, β, γ) satisfaz −→v = −−→ OP . O vetor −−→ OP é o representante na origem do vetor −→v . Exemplo 4 Considere os pontos A = (1, 4, 0), B = (−1, 1,−1) e C = (3, 5,−10). Encontre as coordenadas do vetor −→v = −−→ AB , do ponto D e do ponto P tais que −→v = −−→ CD = −−→ OP . Solução. Temos −→v = −−→ AB = (−1− 1, 1− 4,−1− 0) = (−2,−3,−1). Seja D = (x, y, z) o ponto procurado. Como −−→ AB = −−→ CD ⇐⇒ AB ≡ CD, temos, pela Proposição 6, que: −1− 1 = x− 3 , 1− 4 = y − 5 − 1− 0 = z − (−10) . Assim, D = (1, 2,−11). E, pela Observação 8, P = (−2,−3,−1) é o ponto tal que −→v = −−→ OP . 12 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço 13.4 Operações com vetores no espaço Vamos de�nir agora as operações de adição de vetores no espaço e multi- plicação de um vetor espacial por um número real. O processo é análogo ao efetuado para de�nir estas operações para vetores no plano e as propriedades são basicamente as mesmas, por isso muitos detalhes serão omitidos. Definição 9Sejam −→u e −→v vetores no espaço E . Seja A um ponto qualquer no espaço e sejam AB e BC segmentos orientados representantes dos vetores −→u e −→v , respectivamente. O vetor soma dos vetores −→u e −→v , que designamos por −→u +−→v , é o vetor representado pelo segmento orientado AC. A B C −→u −→v −→u + −→v Figura 13.19: Soma de vetores no espaço Note que a soma de dois ve- tores no espaço recai na soma de vetores num plano, pois os pon- tos A, B e C estão contidos num mesmo plano do espaço (Figura 13.19). Como foi feito para vetores no plano, podemos veri�car que a de�nição do vetor soma não depende da es- colha do ponto A ∈ E . Isto é, o vetor soma está bem de�nido. Na prática, a adição de vetores se efetua em relação às coordenadas dos vetores parcelas num sistema de eixos ortogonais �xado. Seja um sistema de eixos ortogonais OXY Z, com respeito ao qual −→u = (a, b, c) e −→v = (a′, b′, c′). Então, o vetor soma −→u +−→v é dado em termos de coordenadas como: −→u +−→v = (a, b, c) + (a′, b′, c′) = (a+ a′, b+ b′, c+ c′) A demonstração deste fato é análoga àquela feita para vetores no plano. Exemplo 5Sejam A = (3, 2, 0), B = (0, 3,−2) e C = (4, 3, 2) pontos do espaço. Obtenha o ponto D tal que −−→ AD = −−→ AB + −−→ AC . 13 Unidade 13 Operações com vetores no espaço X Y Z O A B C D−→u −→v −→u + −→v 1 2 2 −2 3 3 4 4 Figura 13.20: Exemplo 5 Solução. Temos, −−→ AB =(0− 3, 3− 2,−2− 0) = (−3, 1,−2) −−→ AC =(4− 3, 3− 2, 2− 0) = (1, 1, 2). Logo, −−→ AB + −−→ AC =(−3, 1,−2)+(1, 1, 2) = (−2, 2, 0). Além disso, se D = (d1, d2, d3) é a extremidade do representante AD do vetor soma −−→ AB + −−→ AC com origem no ponto A, então d1 − 3 = −2, d2 − 2 = 2 e d3 − 0 = 0. Portanto, D = (1, 4, 0). Propriedades da adição de vetores no espaço Sejam −→u , −→v e −→w vetores no espaço. 1. Comutatividade: −→u +−→v = −→v +−→u . 2. Existência de elemento neutro: O vetor zero, −→ 0 = −−→ AA = −−→ BB = . . ., representado por qualquer segmento nulo, é o único vetor tal que −→u + −→ 0 = −→u qualquer que seja o vetor −→u . Em coordenadas: −→ 0 = (0, 0, 0). A B C D −→u −→v −→w −→u + −→v −→v +−→w −→u + −→v + −→w Figura 13.21: Associatividade da adição de vetores 3. Existência de inverso adi- tivo: Dado um vetor −→u , existe um único vetor, que é designado −−→u e chamado inverso aditivo (ou simétrico) de −→u , tal que −→u + (−−→u ) = −→ 0 . Note que se −→u = −−→ AB , então −−→u = −−→ BA . 4. Associatividade: (−→u +−→v ) +−→w = −→u + (−→v +−→w ) . Definição 10 A subtração do vetor −→v pelo vetor −→u é a soma de −→v com o inverso aditivo de −→u , que escrevemos −→v −−→u . Se −→u = −−→ AB e −→v = −−→ AC , então: −→v −−→u = −→v + (−−→u ) = −−→ AC + −−→ BA = −−→ BA + −−→ AC = −−→ BC . 14 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço Sabemos que se A, B, C são pontos não colineares do plano, então o ponto D é o quarto vértice do paralelogramo ABDC se, e somente se, −−→ AD = −−→ AB + −−→ AC . No espaço temos a seguinte observação: Observação 11Se A, B, C e D são pontos não coplanares no espaço, então −−→ AB + −−→ AC = −−→ AE , −−→ AB + −−→ AD = −−→ AF , −−→ AC + −−→ AD = −−→ AG , −−→ AB + −−→ AC + −−→ AD = −−→ AH , se, e somente se, A, B, C, D, E, F , G eH são os vértices de um paralelepípedo no espaço (Figura 13.22). A B C D E F G H Figura 13.22: Paralelepípedo A operação de multiplicação de um número real por um vetor no espaço se de�ne da mesma forma que no plano. Definição 12Sejam −−→ AB um vetor do espaço e λ um número real. O produto de λ por −−→ AB é o vetor −−→ AB′ = λ · −−→ AB , tal que: • A, B e B′ são colineares, • |AB′| = d(A,B′) = |λ| · d(A,B) = |λ| · |AB| , • os segmentos AB e AB′ têm o mesmo sentido se λ > 0 e sentidos opostos se λnão colineares. A B C D |AB| (a) r r A B C D|AB| (b) Figura 1.34: AB ≡ CD (a) A, B e C colineares. O círculo de centro C e raio |AB| intersecta a reta que contém os pontos A, B e C em exata- mente dois pontos, mas apenas um deles, D na Figura 1.34(a), é tal que AB e CD têm o mesmo sentido. (b) A, B e C não colineares. Seja r a reta que passa por C e é paralela à reta que contém A e B.O círculo de centro C e raio |AB| intersecta a reta r em ex- atamente dois pontos, mas só um, D na Figura 1.34 (b), é tal que ABDC é um paralelogramo. Ou seja, AB ≡ CD . 27 Unidade 1 Textos Complementares Para Saber Mais (a) Uma relação de equivalência ∼ entre os elementos de um conjunto A é uma relação tal que, para todos a, b, c ∈ A valem as seguintes propriedades: • Re�exiva: a ∼ a; • Simétrica: a ∼ b⇐⇒ b ∼ a; • Transitiva: Se a ∼ b e b ∼ c então a ∼ c; Uma relação de equivalência permite classi�car os elementos de A, uma vez que ele �ca subdividido de maneira natural em subconjuntos denominados classes de equivalência formadas por elementos que são relacionados, ou seja, equivalentes entre si. A B C D E F Figura 1.35: Transitividade da equipolência (b) Da Proposição 8 segue que a re- lação de equipolência é uma relação de equivalência no conjunto de todos os segmentos orientados do plano. Isto é: • AB ≡ AB, para todo segmento AB; • AB≡CD=⇒CD≡AB; • A equipolência é transitiva: AB ≡ CD e CD ≡ EF =⇒AB ≡ EF . 28 2 1 Operações com vetores no plano Sumário 2.1 Operações com vetores . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2.2 Propriedades das operações com vetores . . . . . . 8 2.3 Combinação linear de vetores . . . . . . . . . . . . . 12 2.4 Produto interno, de�nição . . . . . . . . . . . . . . 15 2.5 Área de paralelogramos e triângulos . . . . . . . . . 27 2.6 Textos Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Unidade 2 Operações com vetores 2.1 Operações com vetores Vamos de�nir duas operações no conjunto de vetores do plano, uma opera- ção de adição e uma operação de multiplicação de vetores por números reais. Definição 1 A B C −→u −→v −→u + −→v Figura 2.1: Adição ~u+ ~v A operação de adição de vetores que a cada par de vetores −→u e −→v as- socia um novo vetor, designado −→u +−→v e chamado soma dos vetores −→u e −→v , se de�ne como segue: Se −→u = −−→ AB , seja C o único ponto tal que −→v = −−→ BC . O vetor soma de −→u com −→v é o vetor −−→ AC (Figura 2.1): −→u +−→v = −→ A C. Para Saber Mais A adição de vetores é uma operação bem de�nida, isto é, a de�nição da soma do vetor −→u = −−→ AB com −→v = −−→ BC não depende da escolha do ponto A Observação 2 A B C D P Q R S −→u −→u −→u −→v −→v −→v −→ u + −→ v Figura 2.2: ~u+~v representado pela diagonal PS Outra forma geométrica de visualizar a soma de dois vetores no plano é feita da seguinte maneira: sejam −→u = −−→ AB e −→v = −−→ CD vetores no plano que não são parelelos, P um ponto escolhido no plano e Q e R tais que −→u = −−→ PQ e −→v = −−→ PR . Se P é o paralelogramo PQSR, então o vetor soma −→u +−→v é −−→ PS , onde PS é a diagonal de P com origem no vértice P . Com efeito, sendo −→u = −−→ PQ e −→v = −−→ PR = −−→ QS , temos −→u +−→v = −−→ PQ + −−→ QS = −−→ PS . Adição de vetores em coordenadas. Na prática a operação de adição de vetores é realizada através da representação por meio de coordenadas em relação a um sistema de eixos ortogonais. Na seguinte proposição, vemos que a adição de vetores é efetuada somando as coordenadas correspondentes das parcelas. 2 Unidade 2Operações com vetores no plano Proposição 3Sejam −→u = (u1, u2) e v = (v1, v2) vetores do plano expressos em termos de coordenadas em relação a um sistema de eixos ortogonais �xo OXY , então: −→u +−→v = (u1 + v1, u2 + v2). Demonstração X Y P u1 u2 Q v1 v2 S w1 w2 O −→u −→v −→u + −→v Figura 2.3: Adição de vetores em coordenadas Sejam P = (u1, u2) e Q = (v1, v2) tais que−→u = −−→ OP e−→v = −−→ OQ (Proposição 12, Capítulo 1). Seja S = (w1, w2) o ponto tal que −→v = −−→ PS . Da Proposição 8 do Capítulo 1, obte- mos: (v1 − 0, v2 − 0) = (w1 − u1, w2 − u2), logo, S= (w1, w2) = (u1 + v1, u2 + v2) −→u +−→v = −−→ OP + −−→ OQ = −−→ OP + −−→ PS = −−→ OS = (u1 + u2, v1 + v2). Outra operação que de�niremos no conjunto de vetores do plano é a ope- ração de multiplicação de vetores por escalares, que a cada vetor −→v e a cada número real λ ∈ R (também chamado escalar) associa o vetor λ−→v , chamado produto do escalar λ pelo vetor −→v . Definição 4 A A A B B B C C C ~v ~v ~v (a) (b) (c) Figura 2.4: AC representando λ~v para: (a) λ > 1; (b) 0 0, e sentidos opostos se λ 1. Temos |λ− 1| = λ− 1 e: d(A,B) + d(B,C) = d(A,B) + (λ− 1)d(A,B) = λd(A,B) = d(A,C). Assim, A, B e C são colineares e B está entre A e C Caso 4. λ 0 e |λ− 1| = (1− λ), temos: d(C,A) + d(A,B) = −λd(A,B) + d(A,B) = (1− λ)d(A,B) = d(C,B), 4 Unidade 2Operações com vetores no plano logo, C, A e B são colineares e A está entre C e B. Pelo provado acima, as semirretas ⇀ AB e ⇀ AC coincidem quando λ > 0, e são opostas quando λ 0 e sentidos opostos se λY Z A B C D D′′ D′ 1 1 −1 2 2 −2 1 −3 3 33 3 4 5 Figura 13.23: Exemplo 6 Como C = (1, 1, 0), as coordenadas dos pontos D = (d1, d2, d3) , D′ = (d′1, d ′ 2, d ′ 3) e D′′ = (d′′1, d ′′ 2, d ′′ 3) , satisfazem: −−→ CD = −−→ AB ⇐⇒ d1 − 1 = 2 d2 − 1 = 1 d3 − 0 = 1; −−−→ CD′ =−2 −−→ AB ⇐⇒ d′1 − 1 = −4 d′2 − 1 = −2 d′3 − 0 = −2; −−−→ CD′′ =2 −−→ AB ⇐⇒ d′′1 − 1 = 4 d′′2 − 1 = 2 d′′3 − 0 = 2. Portanto, D = (3, 2, 1), D′ = (−3,−1,−2) e D′′ = (5, 3, 2). 16 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço Propriedades da multiplicação de um escalar por um vetor Sejam −→u , −→v e −→w vetores do espaço e λ, µ ∈ R. Escrevendo os vetores em coordenadas, é fácil veri�car que a multiplicação de um escalar por um vetor satisfaz às seguintes propriedades. 1. Associatividade: λ · (µ · −→a ) = (λ · µ) · −→a ; 2. Distributividade: λ · (−→a + −→ b ) = λ · −→a + λ · −→ b (λ+ µ) · −→a = λ · −→a + µ · −→a ; 3. Elemento neutro multiplicativo: 1 · −→a = −→a . Em particular, o inverso aditivo −−→u do vetor −→u se obtém multiplicando −→u por −1. De fato, −→u + (−1)−→u = (1 + (−1))−→u = 0−→u = −→ 0 . 13.5 Colinearidade e coplanaridade de pontos no espaço Sabemos que três pontos A, B e C no espaço são colineares se eles per- tencem a uma mesma reta. Nesta seção vamos analisar a colinearidade de pontos no espaço usando vetores. Para isso, precisamos da seguinte de�nição. Definição 14O vetor −→v é múltiplo do vetor −→u quando existe λ ∈ R tal que −→v = λ−→u . Observação 15(a) Todo vetor é múltiplo de si próprio (neste caso, λ = 1). (b) O vetor zero −→ 0 é múltiplo de qualquer vetor. De fato, dado um vetor arbitrário −→u , temos −→ 0 = 0−→u . Em contrapartida, nenhum vetor não nulo pode ser múltiplo do vetor zero. (c) Se −→v 6= 0 e −→v = λ−→u , então λ 6= 0 e −→u = 1 λ −→v . Assim, −→v é múltiplo de −→u se, e somente se, −→u é múltiplo de −→v , quando −→u e −→v são vetores não nulos. Proposição 16Se −→u = (x1, y1, z1) e −→v = (x2, y2, z2) são vetores do espaço, então um dos vetores −→u ou −→v é múltiplo do outro se, e somente se, x1y2 − x2y1 = x1z2 − x2z1 = y1z2 − y2z1 = 0 . 17 Unidade 13 Colinearidade e coplanaridade de pontos no espaço Demonstração (=⇒) Se −→v é múltiplo de −→u , existe λ ∈ R tal que −→v = λ−→u . Logo, −→v = (x2, y2, z2) = λ(x1, y1, z1) = (λx1, λy1, λz1) = λ−→u , ou seja, x2 = λx1 , y2 = λy1 , z2 = λz1 . (13.2) Multiplicando a primeira das identidades (13.2) por y1 e a segunda por x1, obtemos: y1x2 = λx1y1 = x1y2 =⇒ x1y2 − x2y1 = 0. Multiplicando a primeira das identidades (13.2) por z1 e a terceira por x1, obtemos: x2z1 = λx1z1 = x1z2 =⇒ x1z2 − x2z1 = 0. Finalmente, multiplicando a segunda das identidades (13.2) por z1 e a ter- ceira por y1, obtemos: y2z1 = λy1z1 = y1z2 =⇒ y1z2 − y2z1 = 0. (⇐=) Reciprocamente, suponhamos que x1y2 − x2y1 = x1z2 − x2z1 = y1z2 − y2z1 = 0. Se −→u = −→ 0 = (0, 0, 0), então −→u = 0−→v , isto é, −→u é múltiplo de −→v . Assim, podemos supor que −→u = (x1, y1, z1) 6= (0, 0, 0) = −→ 0 , isto é, uma coordenada de −→u é diferente de zero. Se x1 6= 0, seja λ = x2 x1 . A�rmamos que −→v = λ−→u . De fato, como x1y2 − x2y1 = 0, segue que y2 = x2 x1 y1. E, uma vez que x1z2 − z1x2 = 0, temos z2 = x2 x1 z1. Logo, λ−→u = x2 x1 (x1, y1, z1) = ( x2 x1 x1, x2 x1 y1, x2 x1 z1 ) = (x2, y2, z2) = −→v . Os casos y1 6= 0 e z1 6= 0 são tratados da mesma maneira. Observação 17 (a) Para mostrar que dois vetores −→u e −→v não são múltiplos, basta veri�car que um dos números x1y2 − x2y1, x1z2 − x2z1 ou y1z2 − y2z1 , é diferente de zero. (b) Os números x1y2−x2y, x1z2−x2z1 e y1z2−y2z1 são os determinantes 2× 2 que podem ser formados com as colunas da matriz 2× 3( x1 y1 z1 x2 y2 z2 ) , cujas linhas são as coordenadas dos vetores −→u e −→v . 18 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço Definição 18Dois vetores não nulos −→u e −→v são colineares quando um deles é múltiplo do outro. Esta de�nição está bem justi�cada, pois se −−→ AC = λ −−→ AB , então os pontos A, B e C estão sobre uma mesma reta. E, reciprocamente, se A, B e C são pontos distintos numa reta, então existe λ ∈ R tal que −−→ AC = λ −−→ AB , onde λ = ±d(A,C) d(A,B) com sinal positivo, caso B e C estejam do mesmo lado em relação ao ponto A na reta que os contém, e sinal negativo, caso B e C estejam em lados opostos. Portanto, A, B e C são pontos colineares⇐⇒ −−→ AB e −−→ AC são vetores múltiplos. Exemplo 7Veri�que se os pontos A = (−1, 1, 0), B = (1, 1, 1) e C = (−2,−1,−1) são colineares. X Y Z A B C −1 1 1 1 −2 −1 −1 Figura 13.24: Exemplo 7 Solução. Como −−→ AB = (x1, x2, x3) = (2, 0, 1), −−→ AC = (x2, y2, z2) = (−1,−2,−1), e det ( x1 y1 x2 y2 ) =det ( 2 0 −1 −2 ) =(2)(−2)− (0)(−1) =−4 6= 0, os pontos dados não são colineares. Exemplo 8Mostre que os pontos A = (0, 1, 0), B = (1, 1, 1) e C = (−2, 1,−2) são colineares. Solução. Temos −−→ AB = (x1, x2, x3) = (1, 0, 1) e −−→ AC = (y1, y2, y3) = (−2, 0,−2). A matriz 2× 3 que tem por linhas as coordenadas destes vetores é( x1 x2 x3 y1 y2 y3 ) = ( 1 0 1 −2 0 −2 ) , e os determinantes 2× 2 formados com as colunas desta matriz são: 19 Unidade 13 Colinearidade e coplanaridade de pontos no espaço det ( x1 x2 y1 y2 ) = det ( 1 0 −2 0 ) = 1(0)− (−2)(0) = 0 , det ( x1 x3 y1 y3 ) = det ( 1 1 −2 −2 ) = 1(−2)− 1(−2) = 0 , det ( x2 x3 y2 y3 ) = det ( 0 1 0 −2 ) = 0(−2)− 1(0) = 0 . Portanto, −−→ AB e −−→ AC são múltiplos, ou seja, os pontos A, B e C são colineares. De fato, −−→ AC = −2 −−→ AB . Sabemos que três pontos A, B e C não colineares determinam um único plano π no espaço. O teorema abaixo nos permite saber quando um quarto ponto D pertence ou não a este plano. Definição 19 Um vetor −→v é uma combinação linear dos vetores −→v1 , −→v2 , . . . , −→vn , quando é soma de múltiplos desses vetores. Isto é, −→v é uma combinação linear de −→v1 , −→v2 , . . . , −→vn , se existem λ1, λ2, . . . , λn ∈ R tais que −→v = λ1 −→v1 + λ2 −→v2 + . . .+ λn −→vn . Teorema 20 Sejam A, B e C pontos não colineares no espaço e seja π o plano que eles determinam. O ponto D pertence ao plano π se, e somente se, o vetor −−→ AD é combinação linear dos vetores −−→ AB e −−→ AC . Isto é, D ∈ π ⇐⇒ existem x, y ∈ R tais que −−→ AD = x −−→ AB + y −−→ AC . Demonstração A B C DD1 D2 r2 r1 π Figura 13.25: A, B, C e D coplanares (=⇒) Suponhamos primeiro que D ∈ π. Seja r1 a reta paralela a −−→ AC que passa por D e seja r2 a reta paralela a −−→ AB que passa por D. Então, r1 está contida no plano π e intersecta a reta que contém os pontosA eB num pontoD1. Analoga- mente, r2 está contida no plano π e intersecta a reta que contém os pontos A e C num ponto D2. 20 Unidade 13Coordenadas e vetores no espaço Como os pontos A, B e D1 são colineares, existe x ∈ R tal que −−−→ AD1 = x −−→ AB . Também, como A, C e D2 são colineares, existe y ∈ R tal que −−−→ AD2 = y −−→ AC . Logo, sendo AD1DD2 um paralelogramo, −−→ AD = −−−→ AD1 + −−−→ AD2 = x −−→ AB + y −−→ AC . (⇐=) Suponhamos agora que −−→ AD é combinação linear dos vetores −−→ AB e −−→ AC . Isto é, existem x, y ∈ R tais que −−→ AD = x −−→ AB + y −−→ AC . Seja OXY Z um sistema de eixos ortogonais no espaço tal que a origem O é o ponto A e os eixos OX e OY estejam sobre o plano π. Assim, neste sistema de eixos, π = πXY . Sendo as terceiras coordenadas de A, B e C iguais a zero e −−→ AD = x −−→ AB + y −−→ AC , concluímos que a terceira coordenada do pontoD é também igual a zero (Figura 13.26). Logo, D ∈ πXY = π. X Y Z A B C D D1 D2 r1 r2 π=πXY Figura 13.26: Sistema OXY Z e D ∈ πXY Exemplo 9Sejam A = (1, 2, 3) , B = (2, 3, 4) , C = (3, 4, 6) , D = (1, 1, 2) e E = (4, 5, 2) pontos do espaço. Mostre que: (a) A, B e C não são colineares e, portanto, determinam um plano π. (b) D não pertence ao plano π. (c) E pertence ao plano π. 21 Unidade 13 Colinearidade e coplanaridade de pontos no espaço Solução. Temos −−→ AB = (1, 1, 1), −−→ AC = (2, 2, 3),). 5 Unidade 2 Operações com vetores Proposição 8 Um ponto P pertence à reta r que passa pelos pontos A e B se, e somente se, para algum λ ∈ R: −−→ AP = λ −−→ AB . Demonstração Pela de�nição da multiplicação de λ ∈ R pelo vetor −−→ AB , o ponto P tal que −−→ AP = λ −−→ AB pertence à reta r. Reciprocamente, seja P um ponto pertencente à reta r e seja µ = d(A,P ) d(A,B) . AA BB P P r r Figura 2.7: Sentido de percurso de A para B Se o sentido de percurso de A para P coincidir com o sentido de A para B, então −−→ AP = λ −−→ AB , onde λ = µ, pois o ponto P é o único ponto da semirreta de origem em A que passa por B tal que d(A,P ) = µ d(A,B). Se o sentido de percurso, ao longo de r, de A para P , for oposto ao sentido de A para B, então −−→ AP = λ −−→ AB , onde λ = −µ, pois o ponto P é o único ponto da semirreta de origem A oposta à semir- reta de origem A que passa por B tal que d(A,P ) = µ d(A,B). Exemplo 1 Sejam −→u = (3,−1) e −→v = (1, 2), determine (a) −→α = −−→u −−→v ; (b) −→ β = −2−→u +−→v ; (c) −→γ = 1 2 −→u + 2−→v . Solução. Temos (a) −→α = −−→u −−→v = −(3,−1)− (1, 2) = (−3, 1) + (−1,−2) = (−4,−1); (b) −→ β = −2−→u +−→v = −2(3,−1) + (1, 2) = (−6, 2) + (1, 2) = (−5, 4); (c) −→γ = 1 2 −→u + 3−→v = 1 2 (3,−1) + 3(1, 2) = ( 3 2 ,−1 2 ) + (3, 6) = ( 9 2 , 11 2 ) . 6 Unidade 2Operações com vetores no plano X Y 3 −1 1 2 −→u −→v 1 2 −→u + 2 −→v− 2 −→u + −→v −−→u − −→v Figura 2.8: Exemplo 1 Exemplo 2 Sejam A = (−1, 0), B = (0, 1), C = (1, 2), D = ( −1 2 , 1 2 ) . Veri�que que os quatro pontos pertencem a uma reta r. O X Y A B C D Q Figura 2.9: Reta r contendo A, B, C e D Solução. Basta determinar λ, µ ∈ R tais que −−→ AC = λ −−→ AB e −−→ AD = µ −−→ AB . Escrevendo essas identidades em coorde- nadas, temos: −−→ AC = λ −−→ AB ⇐⇒ (1− (−1), 2− 0) = λ(0− (−1), 1− 0) ⇐⇒ (2, 2) = λ(1, 1)⇐⇒ λ = 2. −−→ AD = µ −−→ AB ⇐⇒ (−1 2 − (−1), 12 − 0) = µ(0− (−1), 1− 0) ⇐⇒ (12 , 1 2) = µ(1, 1)⇐⇒ µ = 1 2 . Exemplo 3Sejam A = (a1, a2) e B = (b1, b2) são pontos distintos arbitrários no plano. Usando vetores, determinar o ponto médio do segmento AB. Solução. Devemos determinar o ponto M = (x, y) que divide o segmento AB em dois segmentos de igual comprimento, isto é, AM ≡ MB, ou ainda, −−−→ AM = −−−→ MB . Como −−−→ AM + −−−→ MB = −−→ AB , temos −−−→ AM = 1 2 −−→ AB . 7 Unidade 2 Propriedades das operações com vetores X Y A a1 a2 B b1 b2 My x x = 1 2 (a1 + b1) y = 1 2 (a2 + b2) Figura 2.10: Ponto médio de AB A identidade anterior se escreve: (x− a1, y − a2) = 1 2 (b1 − a1, b2 − a2) ⇐⇒ x− a1 = 1 2 (b1 − a1) e y − a2 = 1 2 (b2 − a2) ⇐⇒ x = a1 + 1 2 (b1 − a1) e y = a2 + 1 2 (b2 − a2) ⇐⇒ x = 1 2 (a1 + b1) e y = 1 2 (a2 + b2). Portanto, o ponto médio do segmentoAB é M = ( a1 + b1 2 , a2 + b2 2 ) . 2.2 Propriedades das operações com vetores A adição de vetores e a multiplicação de vetores por escalares satisfazem propriedades similares às propriedades aritméticas das operações numéricas. Isso permite converter problemas geométricos em problemas algébricos e vice-versa, segundo veremos mais adiante. Propriedades da adição de vetores. Sejam −→u , −→v e −→w vetores no plano. Valem as seguintes propriedades. • Comutatividade: −→u +−→v = −→v +−→u . • Associatividade: −→u + (−→v +−→w ) = (−→u +−→v ) +−→w . • Existência de elemento neutro aditivo: o vetor zero −→ 0 (ou vetor nulo) é tal que −→u + −→ 0 = −→u . • Existência de inversos aditivos: para cada vetor −→u existe um único vetor, que designamos −−→u , o simétrico aditivo de −→u , tal que −→u + (−−→u ) = −→ 0 . + Para Saber Mais - Veri�cação das propriedades da adição. - Clique para ler 8 Unidade 2Operações com vetores no plano Observação 9(a) −→ 0 = (0, 0) são as coordenadas do vetor nulo. (b) Se −→u = −−→ AB , −→v = −−→ AC e −→u + −→v = −−→ AD , então −→v − −→u = −−→ BC e os segmentos BC e AD se cortam ao meio. Propriedades da multiplicação de escalares por vetores. Sejam−→u e−→v vetores no plano e λ, µ ∈ R. Valem as seguintes propriedades. • Associatividade: λ(µ−→v ) = (λµ)−→v . • Existência de elemento neutro multiplicativo: O número 1 ∈ R é tal que 1−→u = −→u . • Propriedades distributivas: λ(−→u + −→v ) = λ−→u + λ−→v e (λ + µ)−→u = λ−→u + µ−→u . A associatividade e as propriedades distributivas são veri�cadas usando co- ordenadas e as propriedades análogas que já conhecemos nos números reais. Além disso, λ−→u = −→ 0 se, e somente se, λ = 0 ou −→u = −→ 0 . Também, λ = 1 é o único escalar tal que λ−→u = −→u . Vejamos agora algumas aplicações geométricas interessantes das operações com vetores. Exemplo 4Veri�que que os pontos médios dos lados de um quadrilátero no plano são os vértices de um paralelogramo. A B C D X Y Z W Figura 2.11: Exemplo 4 Solução. SejaABCD um quadrilátero (Figura 2.11) e sejam X, Y , Z e W os pontos médios dos lados AB, BC, CD e DA, respectivamente. Sabendo que XY ZW é um pa- ralelogramo se, e só se,XY ≡ WZ, basta veri�car que −−→ XY = −−−→ WZ . Pelo Exemplo 3: −−→ AX = −−→ XB = 1 2 −−→ AB ; −−→ BY = −−→ Y C = 1 2 −−→ BC ; −−→ DZ = −−→ ZC = 1 2 −−→ DC ; e −−−→ AW = −−−→ WD = 1 2 −−→ AD . Logo, 9 Unidade 2 Propriedades das operações com vetores −−→ XY = −−→ XB + −−→ BY = 1 2 −−→ AB + 1 2 −−→ BC = 1 2 ( −−→ AB + −−→ BC ) = 1 2 −−→ AC . Analogamente −−−→ WZ = −−−→ WD + −−→ DZ = 1 2 −−→ AD + 1 2 −−→ DC = 1 2 ( −−→ AD + −−→ DC ) = 1 2 −−→ AC . Portanto, −−→ XY = 1 2 −−→ AC = −−−→ WZ . Exemplo 5 A B C Z X Y G Figura 2.12: Baricentro do triângulo ABC. O baricentro de um triângulo é o pon- to onde as retas que contêm as media- nas se intersectam. Lembre que uma me- diana é o segmento que liga um vértice ao ponto médio do seu lado oposto. Na Figura 2.12, os segmentos AX, BY e CZ são as medianas do triângulo ABC e G é seu baricentro. Nesse exemplo damos outra caracteriza- ção do baricentro de um triângulo. (a) Seja P um ponto do plano. Então, o ponto G tal que: −−→ PG = 1 3 (−−→ PA + −−→ PB + −−→ PC ) (2.1) não depende da escolha do ponto P mas apenas dos pontos A, B e C. A B C P P ′ G=G′ Q′ Q −−−→ P ′Q′ = 3 −−−→ P ′G′ −−→ PQ = 3 −−→ PG Figura 2.13: G depende apenas dos vértices Solução. Seja P ′ outro ponto do plano e seja G′ o ponto tal que −−−→ P ′G′ = 1 3 (−−→ P ′A + −−−→ P ′B + −−→ P ′C ) . Usaremos as operações de adição de vetores e multiplicação de vetores por escalares para veri�car que G = G′. Como −−→ P ′A = −−→ P ′P + −−→ PA , −−−→ P ′B = 10 Unidade 2Operações com vetores no plano −−→ P ′P + −−→ PB e −−→ P ′C = −−→ P ′P + −−→ PC , −−−→ P ′G′ = 1 3 (−−→ P ′A + −−−→ P ′B + −−→ P ′C ) = 1 3 (−−→ P ′P + −−→ PA + −−→ P ′P + −−→ PB + −−→ P ′P + −−→ PC ) = 1 3 ( 3 −−→ P ′P + −−→ PA + −−→ PB + −−→ PC ) = −−→ P ′P + 1 3 (−−→ PA + −−→ PB + −−→ PC ) = −−→ P ′P + −−→ PG = −−→ P ′G , isto é, G = G′. (b) Em particular, fazendo P = G vemos que o ponto G, caracterizado por −−→ GA + −−→ GB + −−→ GC = −→ 0 . (2.2) é o baricentro do triângulo ABC. Isto é, as medianas AX, BY e CZ do triângulo ABC se intersectam no ponto G dado por (2.2). Solução. Basta mostrar que o ponto G, caracterizado pela identidade (2.2), pertence às retas que contêm as medianas do triângulo ABC. Por exemplo, veri�quemos que G pertence à reta que contém a mediana AX. SejaD o ponto tal queGBDC é um paralelogramo, ou seja, −−→ GB + −−→ GC = −−→ GD e as diagonais GD e BC se cortam ao meio no ponto X. Logo, −−→ GD = 2 −−→ GX . Pela identidade (2.2) concluímos que A, G e X são colineares, pois: 11 Unidade 2 Combinação linear de vetores A B C D Z Y X G Figura 2.14: G, A e X são colineares −→ 0 = −−→ GA + −−→ GB + −−→ GC = −−→ GA + −−→ GD = −−→ GA + 2 −−→ GX . Da mesma forma se veri�ca que B, G e Y são colineares e que C, G e Z são colineares. Portanto, G é o baricentro do triângulo ABC. 2.3 Combinação linear devetores Definição 10 (a) O vetor −→v é múltiplo do vetor −→u se existe λ ∈ R tal que −→v = λ−→u . (b) O vetor −→v é combinação linear dos vetores −→v1 , −→v2 , . . ., −→vn quando existem números reais λ1, λ2, . . ., λn, tais que −→v = λ1 −→v1 + λ2 −→v2 + · · ·+ λn −→vn . Algumas observações básicas a respeito da De�nição 10: Observação 11 1. O vetor nulo −→ 0 é múltiplo de qualquer vetor −→u , uma vez que −→ 0 = 0−→u . 2. Um vetor não nulo não é múltiplo do vetor nulo, pois λ −→ 0 = −→ 0 , ∀ λ ∈ R. 3. Se −→v 6= −→0 é múltiplo de −→u , então −→u é também múltiplo de −→v . De fato, se λ ∈ R é tal que −→v = λ−→u 6= −→0 , temos λ 6= 0 e −→u 6= −→0 . Logo, −→u = 1 λ −→v . 4. O vetor −→v é combinação linear dos vetores −→v1 ,−→v2 , . . . ,−→vn quando é soma de múltiplos desses vetores. Assim, o item (b) na De�nição 10 generaliza o item (a). 5. Se A, B e C são pontos distintos do plano, então −→v = −−→ AC é múltiplo de −→u = −−→ AB se, e somente se, A, B e C são colineares. 12 Unidade 2Operações com vetores no plano Exemplo 6O vetor −→u = (1, 0) não é múltiplo de −→v = (1, 1) e é múltiplo do vetor −→w = (3, 0). Solução. Se −→u fosse múltiplo de −→v , existiria λ ∈ R tal que −→u = λv, ou seja, (1, 0) = λ(1, 1) = (λ, λ). Então, λ = 1 e λ = 0, absurdo. Portanto, −→u não é múltiplo de −→v . Por outro lado, escrevendo −→u = λ−→w , temos (1, 0) = λ(3, 0) se, e só se, 1 = 3λ, ou seja, λ = 1 3 e −→u = 1 3 −→w . A seguinte proposição fornece um critério para determinar quando um vetor é múltiplo de outro. Proposição 12Um dos vetores −→u = (a, b) e −→v = (a′, b′) é múltiplo do outro se, e só se,∣∣∣∣a b a′ b′ ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣a a′ b b′ ∣∣∣∣ = ab′ − ba′ = 0 . Demonstração(=⇒) Se −→v = λ−→u para algum λ ∈ R, temos: (a′, b′) = λ(a, b) = (λa, λb) =⇒ a′ = λa e b′ = λb. Logo, ab′ − ba′ = a(λb)− b(λa) = 0. (⇐=) Suponhamos que ab′ − ba′ = 0. Consideremos separadamente os casos a 6= 0 e a = 0. Caso a 6= 0: ab′ − ba′ = 0 =⇒ b′ = b a′ a . Logo: a′ a −→u = a′ a (a, b) = ( a′ a a, a′ a b ) = (a′, b′) = −→v . Caso a = 0: ba′ = 0 =⇒ b = 0 ou a′ = 0. Logo:b = 0 =⇒ −→u = (0, 0) = −→ 0 =⇒ −→u = 0−→v . a′ = 0 e b 6= 0 =⇒ (0, b′) = b′ b (0, b) =⇒ −→v = b′ b −→u . Em qualquer caso, um dos vetores é múltiplo do outro. Exemplo 7Os vetores −→u = (1, 2) e −→v = (3, 6) são múltiplos um do outro? Solução. Como ∣∣∣∣1 2 3 6 ∣∣∣∣ = 6− 6 = 0, um vetor é múltiplo do outro. Note que −→v = 3−→u . 13 Unidade 2 Combinação linear de vetores Proposição 13 Se nenhum dos vetores −→u e −→v é múltiplo do outro, então todo vetor do plano se escreve de uma única maneira como combinação linear de −→u e −→v . Isto é, para cada vetor −→w existem λ, µ ∈ R, determinados de forma única por −→w , tais que −→w = λ−→u + µ−→v . Demonstração Sejam−→u = (a, b) e−→v = (a′, b′). Dado o vetor−→w = (a′′, b′′), determinemos λ, µ ∈ R tais que O X Y −→u λ−→u −→v µ−→v −→w =λ −→u +µ −→v Figura 2.15: ~w = λ~u+ µ~v −→w = λ−→u + µ−→v . Em coordenadas, essa condição é (a′′, b′′) = λ(a, b) + µ(a′, b′) = (λa+ µa′, λb+ µb′). Ou seja, os números λ e µ devem ser solução do sistema:{ λa+ µa′ = a′′ λb+ µb′ = b′′ . A solução desse sistema é única, pois ab′ − ba′ 6= 0 (Proposição 12). Resolvendo o sistema obtemos: λ = a′′b′ − b′′a′ ab′ − ba′ e µ = ab′′ − ba′′ ab′ − ba′ . Para Saber Mais O plano é um espaço de dimensão 2 (bidimensional). Isso signi�ca que são su�cientes dois parâmetros (como λ e µ) para determinar todos os vetores (pon- tos) do plano uma vez conhecidos dois vetores −→u e −→v que não sejam múltiplos um do outro. Os parâmetros λ e µ podem ser pensados como coordenadas em relação aos vetores −→u e −→v . Vetores como −→u e −→v que não são múltiplos um do outro são denominados, na terminologia da Álgebra Linear, linearmente independentes. Exemplo 8 Veri�que que qualquer vetor do plano se escreve como combinação linear dos vetores −→u = (2,−1) e −→v = (−3, 2). Escreva o vetor −→w = (1, 1) como combinação linear de −→u e −→v . Solução. Os vetores −→u e −→v não são múltiplos um do outro, pois∣∣∣∣∣ 2 −1 −3 2 ∣∣∣∣∣ = 4− 3 = 1 6= 0. 14 Unidade 2Operações com vetores no plano Sendo assim, qualquer vetor do plano se escreve de forma única como com- binação linear de −→u e −→v . Determinemos λ, µ ∈ R tais que: −→w = λ−→u + µ−→v . Em coordenadas, essa equação se escreve na forma: (1, 1) = λ(2,−1) + µ(−3, 2) = (2λ− 3µ,−λ+ 2µ), ou seja, 2λ− 3µ = 1 −λ+ 2µ = 1 . Resolvendo esse sistema, obtemos λ = 5 e µ = 3. Portanto, −→w = 5−→u +3−→v . 2.4 Produto interno, de�nição Daremos primeiramente uma de�nição geométrica do produto interno en- tre dois vetores e posteriormente iremos obter a expressão do produto interno em termos das coordenadas dos fatores em relação a um sistema de eixos orto- gonais. Para a abordagem geométrica precisamos de dois conceitos preliminares, a noção de norma de um vetor e a noção de ângulo entre dois vetores. + Para Saber Mais - Josiah W. Gibbs - Clique para ler Seja OXY um sistema de eixos ortogonais no plano. Definição 14A norma ou comprimento do vetor −→v é o número ‖−→v ‖ dado pelo comprimento de um segmento representante de −→v . Observação 15(a) A norma de um vetor independe da escolha do segmento representante. Com efeito, se −→v = −−→ AB = −−→ CD então AB ≡ CD e, portanto, d(A,B) = d(C,D) = ‖−→v ‖. (b) Se A = (a1, a2), B = (b1, b2) e −→v = −−→ AB , então ‖−→v ‖ = √ (b1 − a1)2 + (b2 − a2)2. 15 Unidade 2 Produto interno, definição (c) Se P = (x, y) é o ponto tal que −→v = −−→ OP , então: ‖−→v ‖ = d(O,P ) = √ x2 + y2. Exemplo 9 Dados A = (−1, 2) e B = (4, 1), determinar a norma do vetor −→v = −−→ AB . Solução. Temos ‖−→v ‖ = √ (4− (−1))2 + (1− 2)2 = √ 52 + (−1)2 = √ 26. Observação 16 (a) Temos ‖−→v ‖ = 0⇐⇒ −→v = −→ 0 . Além disso, −→v 6= −→0 ⇐⇒ ‖−→v ‖ > 0. (b) Se −→v é um vetor e λ ∈ R, então ‖λ−→v ‖ = |λ| ‖−→v ‖. De fato, se −→v = (x, y), temos λ−→v = (λx, λy) e, portanto, ‖λ−→v ‖ = √ (λx)2 + (λy)2 = √ λ2(x2 + y2) = √ λ2 √ x2 + y2 = |λ| ‖−→v ‖. (c) Um vetor é chamado unitário se sua norma é igual a 1. (d) Se −→v 6= −→0 , o vetor −→v ‖−→v ‖ é um vetor unitário, chamado normalizado do vetor −→v , com igual direção e sentido que v. De fato, os vetores têm a mesma direção (são paralelos) pois um é múltiplo do outro. Pelo item (b), temos:∥∥∥∥ −→v‖−→v ‖ ∥∥∥∥ = ∥∥∥∥ 1 ‖−→v ‖ −→v ∥∥∥∥ = ∣∣∣∣ 1 ‖−→v ‖ ∣∣∣∣ ‖−→v ‖ = 1 ‖−→v ‖ ‖−→v ‖ = 1, e como 1 ‖−→v ‖ > 0, os vetores −→v e −→v ‖−→v ‖ têm o mesmo sentido. (e) Se −→v 6= 0, o vetor − −→v ‖−→v ‖ é também unitário e tem a mesma direção que −→v , mas não o mesmo sentido. Exemplo 10 Determinar o normalizado do vetor −→u = (3,−2). Solução. Como ‖−→u ‖ = √ 32 + (−2)2 = √ 13, o normalizado de −→u é o vetor: −→u1 = −→u ‖−→u ‖ = 1√ 13 (3,−2) = ( 3√ 13 , −2√ 13 ) . 16 Unidade 2Operações com vetores no plano Exemplo 11Determinar os vetores unitários paralelos ao vetor −→v = (1,−2). Solução. Temos −→v 6= 0 e ‖−→v ‖ = √ 12 + (−2)2 = √ 5. Portanto os vetores unitários paralelos ao vetor −→v são: −→v1 = ( 1√ 5 ,− 2√ 5 ) e −→v2 = −−→v1 = ( − 1√ 5 , 2√ 5 ) . Antes de de�nirmos o produto interno precisamos também do conceito de ângulo entre dois vetores. Definição 17Sejam −→u e −→v vetores não nulos no plano. De�nimos o ângulo entre −→u e −→v como sendo o menor ângulo entre os segmentos AB e AC representantes de −→u e −→v , respectivamente. Designamos θ = ∠(−→u ,−→v ) a medida do ângulo entre −→u e −→v . −→u −→u −→v −→v A B C θ=∠(−→u ,−→v ) −→v −→v −→u −→u A B C θ=∠(−→u ,−→v ) Figura 2.16: Ângulo entre dois vetores −→v −→v −→v −→v −→u −→u −→u −→u λ−→u λ−→u λ−→u λ−→u µ−→v µ−→v µ−→v µ−→v θ θ θ θ θπ − θ π − θ λµ > 0 λµ > 0 λµ), se λµ > 0 ∠(λ−→u , µ−→v ) = π − ∠(−→u ,−→v ), se λµvetor −→v 6= 0 é dada por: Proj−→v −→u = 〈−→u ,−→v 〉 ‖−→v ‖2 −→v . Em particular, se o vetor −→v é unitário, temos: Proj−→v −→u = 〈−→u ,−→v 〉−→v . Exemplo 15Determine a projeção do vetor −→u = (3, 2) na direção do vetor −→v = (2, 2). Solução. Proj−→v −→u = 〈−→u ,−→v 〉 ‖−→v ‖2 −→v = 3 · 2 + 2 · 2 22 + 22 (2, 2) = 10 8 (2, 2) = ( 5 2 , 5 2 ) . Um problema que pode ser abordado com a noção de projeção é o de determinar os vetores que fazem ângulo θ com um vetor dado. 23 Unidade 2 Produto interno, definição Observação 31 Sejam −→v e −→w vetores LI do plano (em particular são vetores não nulos). Sabemos que para cada vetor −→u existem únicos números reais λ e µ tais que: −→u = λ−→v + µ−→w . −→u −→v −→w Proj−→u −→w Proj−→v −→w Figura 2.23: Projeções do vetor ~w Quando os vetores −→v e −→w são perpendiculares, os números λ e µ são: λ = 〈−→u ,−→v 〉 ‖−→v ‖2 e µ = 〈−→u ,−→w 〉 ‖−→w ‖2 , e quando −→v e −→w são ortonormais, os números λ e µ são: λ = 〈−→u ,−→v 〉 e µ = 〈−→u ,−→w 〉. Isto é, −→u é a soma de suas pro- jeções nas direções de −→v e −→w : −→u = Proj−→v −→u + Proj−→w −→u . Com efeito, sendo 〈−→v ,−→w 〉 = 0, temos: 〈−→u ,−→v 〉 = 〈λ−→v + µ−→w ,−→v 〉 = λ〈−→v ,−→v 〉+ µ〈−→w ,−→v 〉 = λ ‖−→v ‖2. Para Saber Mais As coordenadas do vetor −→v = (a, b) em relação a um sistema de eixos ortogonais OXY são a = 〈−→v ,−→e1 〉 , b = 〈−→v ,−→e2 〉 e −→v = a−→e1 + b−→e2 , onde −→e1 = (1, 0) e −→e2 = (0, 1) são os vetores da base canônica do R2. Proposição 32 Os vetores unitários −→u1 e −→u2 que fazem ângulo θ ∈ (0, π) com um vetor unitário −→v do plano são dados por: −→u1 = cos θ−→v + sen θ−→w −→u2 = cos θ−→v − sen θ−→w , onde −→w é um vetor unitário ortogonal a −→v . Demonstração Seja −→w um vetor unitário ortogonal a −→v . Seja −→u1 um vetor unitário tal que ∠(−→u1 ,−→v ) = θ. Então ∠(−→u1 ,−→w ) = π 2 −θ e, pela Observação 31, temos 24 Unidade 2Operações com vetores no plano −→u1 = 〈−→u1 ,−→v 〉−→v + 〈−→u1 ,−→w 〉−→w = ‖−→u1 ‖ ‖−→v ‖ cos θ−→v + ‖−→u1 ‖ ‖−→w ‖ cos ( π 2 − θ ) −→w = cos θ−→v + cos ( θ − π 2 ) −→w = cos θ−→v + sen θ−→w . −→u1 −→u2 −→v −→w −−→w θ θ Proj−→w −→u1 Proj−→w −→u2 P ro j−→v −→u1 P ro j−→v −→u2 Figura 2.24: Vetores fazendo ângulo θ com ~v O vetor −→u2 = cos θ−→v − sen θ−→w se obtem substituíndo −→w pelo vetor −−→w , que é o outro vetor unitário e ortogonal a −→v , no cálculo acima (Figura 2.24). Corolário 33Sejam −→v um vetor não nulo e θ ∈ (0, π). Seja −→w um vetor ortogonal a −→v . Então, os vetores unitários que fazem ângulo θ com −→v são: −→u1 = cos θ −→v ‖−→v ‖ + sen θ −→w ‖−→w ‖ −→u2 = cos θ −→v ‖−→v ‖ − sen θ −→w ‖−→w ‖ . 25 Unidade 2 Produto interno, definição Observação 34 (a) Em termos de coordenadas, sabemos que se −→v = (a, b), então os vetores −→w = (−b, a) e −−→w = (b,−a) são ortogonais a −→v e tem igual compri- mento que −→v . Em particular, se −→v é unitário, também o serão os vetores −→w e −−→w . Nesse caso, os vetores −→u1 e −→u2 da Proposição 32 são: −→u1 = cos θ (a, b) + sen θ (−b, a) = (a cos θ − b sen θ, a sen θ + b cos θ); (2.6) −→u2 = cos θ (a, b)− sen θ (−b, a) = (a cos θ + b sen θ,−a sen θ + b cos θ). (2.7) (b) Tomando −→w de igual comprimento que −→v no Corolário 33, obtemos, mul- tiplicando por λ = ‖−→v ‖ as expressões de −→u1 e −→u2 , vetores −→ u′1 = λ−→u1 e −→ u′2 = λ−→u2 de igual comprimento que −→v e que fazem ângulo θ com −→v . Para Saber Mais Na linguagem matricial da Álgebra Linear, as expressões (2.6) e (2.7) são: −→u1 = ( cos θ − sen θ sen θ cos θ )( a b ) −→u2 = ( cos θ sen θ − sen θ cos θ )( a b ) = ( cos(−θ) − sen(−θ) sen(−θ) cos(−θ) )( a b ) . Isto é, os vetores −→u1 e −→u2 se obtêm do vetor −→v por rotações de θ e −θ, respectivamente. Além disso, como indicado na Observação 34 (b), se −→v não é unitário, os vetores −→u1 e −→u2 , obtidos nessas expressões, têm o mesmo comprimento que o vetor −→v . Exemplo 16 Determine os vetores unitários cujo ângulo θ ∈ (0, π) com −→u = (1, 2) é tal que cos θ = 2√ 5 . Solução. Como θ ∈ (0, π) e cos θ = 2√ 5 , obtemos: sen θ = √ 1− cos2 θ = √ 1− 4 5 = 1√ 5 . Logo, pelo Corolário 33, se −→w = (−2, 1), os vetores −→u1 = cos θ−→u + sen θ−→w = 2√ 5 (1, 2) + 1√ 5 (−2, 1) = ( 0, 5√ 5 ) = ( 0, √ 5 ) , −→u2 = cos θ−→u − sen θ−→w = 2√ 5 (1, 2)− 1√ 5 (−2, 1) = ( 4√ 5 , 3√ 5 ) , 26 Unidade 2Operações com vetores no plano fazem ângulo θ com −→v e têm o mesmo comprimento que −→v . Os vetores procurados são obtidos normalizando −→u1 e −→u2 : −→u1 ‖−→u1 ‖ = 1 ‖−→v ‖ −→u1 = 1√ 5 ( 0, √ 5 ) = (0, 1) , −→u2 ‖−→u2 ‖ = 1 ‖−→v ‖ −→u2 = 1√ 5 ( 4√ 5 , 3√ 5 ) = ( 4 5 , 3 5 ) . 2.5 Área de paralelogramos e triângulos A B C D E θ −→w −→u −→ w − P ro j−→ w −→ u Figura 2.25: Cálculo da área do paralelogramo ABDC Consideremos o paralelogramo P da Figura 2.25. A área de P se obtém multiplicando a medida da base |AC pela altura |EB|. Se θ = ĈAB então, |EB| = |AB| sen θ e, portanto, Área P = |AB| |AC| sen θ. Usando a linguagem vetorial e o produto interno, vamos obter uma expressão muito simples para o cálculo da área do paralelogramo P . Se −→u = −−→ AC e −→w = −−→ AB , temos θ = ∠−→u ,−→w e, Área P = ‖−→u ‖ ‖−→w ‖ sen θ. Sendo que sen2 θ = 1− cos2 θ, temos: (Área P)2 = (‖−→u ‖ ‖−→w ‖ sen θ) 2 = ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2 sen2 θ = ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2(1− cos2 θ) = ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2 − ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2 cos2 θ = ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2 − (‖−→u ‖ ‖−→w ‖ cos θ) 2 = ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2 − 〈−→u ,−→w 〉2 . Portanto, Área P = √ ‖−→u ‖2‖−→w ‖2 − 〈−→u ,−→w 〉2 Observe, também, que: 27 Unidade 2 Área de paralelogramos e triângulos (Área P)2 = ‖−→u ‖2 ‖−→w ‖2 − 〈−→u ,−→w 〉2 = ∣∣∣∣∣∣ ‖ −→u ‖2 〈−→u ,−→w 〉 〈−→u ,−→w 〉 ‖−→w ‖2 ∣∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∣∣〈 −→u ,−→u 〉 〈−→u ,−→w 〉 〈−→u ,−→w 〉 〈−→w ,−→w 〉 ∣∣∣∣∣∣ . Temos então outra expressão para a área do paralelogramo P : Área P = ∣∣∣∣∣∣〈 −→u ,−→u 〉 〈−→u ,−→w 〉 〈−→u ,−→w 〉 〈−→w ,−→w 〉 ∣∣∣∣∣∣ 1/2 . Se −→u = (α, β) e −→w = (α′, β′) em relação a um sistema de eixos ortogonais OXY , temos ‖−→u ‖2 = α2 + β2, ‖−→w ‖2 = (α′)2 + (β′)2 e 〈−→u ,−→w 〉 = αα′ + ββ′, Logo, (Área P)2 = (α2 + β2)((α′)2 + (β′)2)− (αα′ + ββ′)2 = α2(α′)2 + α2(β′)2 + β2(α′)2 + β2(β′)2 −α2(α′)2 − 2αα′ββ′ − β2(β′)2 = α2(β′)2 + β2(α′)2 − 2αα′ββ′ = (αβ′)2 − 2(αβ′)(βα′) + (βα′)2 = (αβ′ − βα′)2 = [ det ( α β α′ β′ )]2 Portanto, a área do paralelogramo P cujos lados adjacentes são represen- tantes dos vetores −→u = (α, β) e −→w = (α′, β′) é igual ao módulo do determi- nante da matriz cujas �las são as coordenadas de −→u e −→w , respectivamente: Área P = ∣∣∣∣∣det ( α β α′ β′ )∣∣∣∣∣. É claro que, a área de P também é igual ao módulo do determinante da matriz cujas colunas são as coordenadas de −→u e −→w : Área P = ∣∣∣∣∣det ( α α′ β β′ )∣∣∣∣∣. 28 Unidade 2Operações com vetores no plano Exemplo 17Determine a área do paralelogramo ABDC, onde A = (1, 2), B = (3, 1), C = (4, 1) e D = (−2, 3). Solução. Como −−→ AB = (2,−1) e −−→ AC = (3,−1), temos: Área (ABDC) = ∣∣∣∣∣det ( 2 −1 3 −1 )∣∣∣∣∣ = |−2 + 3| = 1 . Área de um triângulo A B C D E θ −→w −→u −→ w − P ro j−→ w −→ u Figura 2.26: Triângulo 4ABC Usando o cálculo da área do pa- ralelogramo, calculemos agora a área do triângulo 4ABC de vértices A, B e C. Como o paralelogramo ABDC de lados adjacentesAB eAC é com- posto dos triângulos congruentes 4ABC e 4DCB, temos: Área (ABDC) = 2Área (4ABC) = ∣∣∣∣∣det (−−→ AB −−→ AC )∣∣∣∣∣ , onde (−−→ AB −−→ AC ) representa a matriz cujas �las são as coordenadas de −−→ AB e −−→ AC , respectivamente. Portanto, Área (4ABC) = 1 2 ∣∣∣∣∣det (−−→ AB −−→ AC )∣∣∣∣∣ . Exemplo 18Calcule a área do triângulo de vértices A = (4, 2), B = (6, 1) e C = (3, 2). Solução. Temos que −−→ AB = (2,−1) e −−→ AC = (−1, 0). Logo, Área (4ABC) = 1 2 ∣∣∣∣∣det ( 2 −1 −1 0 )∣∣∣∣∣ = 1 2 | − 1| = 1 2 , é a área procurada. Exemplo 19Determine os valores de n para que a área do triângulo 4ABC de vértices A = (1, 2), B = (3, n+ 2) e C = (n− 1, 1) seja igual a 1 2 . Solução. Temos