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1'1•0J to gl'áfico Kmia 1-Carumi Terasaka
lm 11,4cm 'í'IP Bridg man/ Keystone. Bruce
N1 1111111111 , A11thro!S cio (Rincle Spinning), 1992.
l l11111hurf.11: r Kunstha lle, Hamburgo, Alemanha.
NOVAS MÍDIAS
NA ARTE
CONTEMPORÂNEA
..
'
NOVAS MÍDIAS
NA ARTE
CONTEMPORÂNEA
Michael Rush
Tradução: Cáss ia Maria Nasser
Revisão da tradução: Marylene Pinto Michael
Martins Fontes
São Paulo 2006
A Bill Castellino
Agradecimentos
A ajuda e orientação generosas, gostaria de agradecer a John
Hanhardt, David Ross, Graham Leggat, Lorie Zippay, Barbara Lon -
don, Tony Conrad, Jeffrey Shaw, Dan Sandin, Timothy Druckrey,
Vito Acconci, George Fifield, Grahame Weinbren, Regina Cornwell,
Galen Joseph-Hunter e o staff de Electronic Arts Intermix, Alexan
dra Anderson-Spivey, Albert Sabatini, Pauline Hubner, Philip Wat
son e, sobretudo, Nikos Stangos.
Esta obra foi publicada originalme11te em inglês com o tft11lo
NEW MEDIA IN LATE 20' "-CENTURY ART
por Thames a11d Hudson.
Copyright © 1999 Tliames mui /-J11dso11 Ltd, Londres .
Copyrigltt © 2006, Livraria Martin s Fontes Editora Ltda.,
São Paulo, para n presente ediçílo.
l ' edição 2006
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rush, Michael
Novas mídias na arte contemporânea / Michael Rush ;
tradução Cássia Maria Nasser; revisão da tradução Maryle
ne Pinto Michael. - São Paulo : Martins Fontes, 2006. - (Co
leção a)
Título original: New media in late 20th-century art.
ISBN 85-336-231.3-5
1. Arte moderna - Século 20 2. Movimentos artísticos 3. Mul
timídia (Arte) L Título . n. Série.
06-5349 CDD-709.0407
Índices para catálogo sistemático:
1. Multimídia : Arte contemporânea 709.0407
2. Novas mídias : Arte conternporânea 709.0407
Todos os direitos desta edição para o Brasil reservados à
Livraria Martins Fontes Editora Ltda.
Rua Conselheiro Ramalho, 330 01325-000 São Paulo SP Brasil
Te/. (11) 3241.3677 Fax (11) 3101.1042
e-mail: info@martinsfontes.com.br http://www.martinsfontes.com.br
1-3 (página do titulo) Pipi lotti Rist,
três cenas de /'m not the Girl Who Misses Much [Não sou a garota que sente
fa lta de muita coisa], 1986.
SUMÁRIO
Introdução..... ... .......... ........ .. .... .................................. 1
Arte temporal 3; Filme e cinema de vanguarda I 9;
De Duchamp e Cage ao Fluxus 14; Filme e cinema
de vanguarda II 21
1. Meios de comunicação de massa e
performance . . . .. . . . . .. .. . .. . .. . . . ..... ... ... .. .. . . .. .. . .. . .. . . . . . . . 30
Performances multimídia dos anos 60 30; Perfor
mances de" estúdio" 39; Gutai japonês e acionismo
vienense 47; Sexo e performance com meios de co
municação de m assa 52; Tendências conceituais e
minimalistas 55; Política, pós-modernismo e o novo
espetáculo 58
2. Videoarte .. . . .. . . . .. .. . ..... ... .. . . . .. ... .. . . .. . . . .. . . . . . .. . . . . . . . . .. . 72
Um novo m eio de expressão 72; Vídeo conceitua! 86;
Narrativas pessoais 101
3. Videoinstalação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Espaço escultural e vigilância 111; Explorar a política
119; Explorar o lírico 132; Explorar identidades 142
4. Arte digital . .. .. ... ... .. .. . ... ... .. . .. .. . . . . .. . . . .. ... .. ... . . . . . . . .. . 162
Arte computadorizada 165; Fotografia alterada digi
talmente 175; Arte da Web 186; Arte digital interati-
va 192; Realidade Virtual 202
Bibliografia...... ............. .. ....... .... .... .................. ........... 213
Lista de ilustrações..... ...... ... ... .. .... ... .. ....... .. .... ............ 215
Índice remissivo ............ ............. ....... .... ... .... ........... ,. .. 221
-- .-
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111111111,11 11 11 11 (>( m em te las desde
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arte, à política do dia, ou à política do eu. A maneira pela qual a ex
pressão é transmitida e o meio é usado para atingi-lo levaram a tal
proliferação de materiais que um crítico, Arthur Dan to, ·declarou" o
fim da arte" como a conhecíamos. "Chegou ao fim", ele escreve,
"quando a arte, como costumava ser, reconheceu que não havia
nenhuma maneira especial segundo a qual uma obra de arte de
via se apresentar."
A vanguarda final do século XX, se é que devemos chamá-la
assim, é aquela arte que engaja a revolução mais duradoura em um
século permeado por revoluções: a revolução tecnológica. Iniciada
por invenções fora do mundo artístico, a arte baseada na tecnolo
gia (englobando uma variedadeArt Make-up
[Maquiagem de arte], eles o mostram aplicando diversas cores à
pele para mascarar sua identidade. Este tema veio à tona, mais tar
de, em seus vídeos com palhaços. Nauman usava freqüentemente
o palhaço como um ícone em performances com vídeo que ilustram
o interesse do artista em linguagem e os extremos do comporta
mento humano. O palhaço em Clown Torture [Tortura do palhaço] 41
(1987) era forçado a ficar em uma perna só e, em outra ocasião, a
equilibrar dois aquários e um balde de água, enquanto gritava o
tempo todo"Não, não, não"e"sinto muito, sinto muito". Este inte
resse em comportamentos extremos reflete o grande interesse de
Nauman por Beckett, cujas narrativas sucintas quase sempre mos
tram pessoas em situações impossíveis: presas em latas de lixo ou
enterradas na areia até o pescoço. A performance com vídeo de
Nauman, Slow Angle Walk [Caminhada angular lenta] (1968), à
qual ele deu o subtítulo Beckett Walk [Caminhada de Beckett], mos-
tra o artista fazendo uma caminhada forçada no estúdio. Ele ergue
a perna esticada, depois gira o corpo 180 graus antes de deixá-la
tocar o chão. Pode-se imaginar Buster Keaton, que Beckett esco
lheu como ator em seu único filme, intitulado Film [Filme] (1964),
inventando tal movimento. Ações destrutivas, como aquelas da ita
liana Gina Pane que cortou os dedos dos pés em sua escultura para
a performance Le corps pressenti (1975), ressurgem na obra do artista
Pier Marton (1950-), cuja série Performance for Vídeo [Performance
para vídeo] (1978-82) continha seqüências onde Marton batia em
si mesmo com um violão até este se desintegrar. Representações de
extremos de linguagem e gestos lembram a idéia de Bertolt Brecht
de alienação no teatro como meio paradoxal de atrair o público
para mais perto da peça. Ao excitar as emoções dos espectadores,
mesmo negativamente, o artista os envolve com a ação ou narrativa.
41. (d ireita) Bruce Nauman, cena
de Slow Angle Walk (Beckett
Walk) [Caminhada angular lenta
(Caminhada de Becket!)], 1968.
Em sua obra de vídeo e
performance, Nauman estava
interessado em apresentar ao
espectador um processo
esclarecedor, e não uma obra de
arte comp leta, objetiva. Palhaços
e pessoas pegas em situações
extremas também refletem o
interesse de Nauman na obra do
escritor Samuel Becket!.
42, 43. (página ao lado) Bruce
Nauman, duas cenas de Clown
Torture [Tortura do palhaço),
1987.
44 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Acconci, cujo envolvimento com os meios de comunicação de
massa engloba vídeo single-channel (uma fita e um monitor), insta
lação e performance, expressou a essência de sua arte performáti
ca em um ensaio de 1979, Steps Into Perfonnance (And Out):
Se me especializasse em um meio de expressão eu estaria determi
nando uma área para mim mesmo, uma área da qual teria de me li
bertar, constantemente, à medida que um meio de expressão fosse
substituído por outro - assim, em vez de me voltar para a."área", eu
voltaria 'minha atenção para o "instrumento", focar-me-ia em mim
mesmo como o instrumento que atuaria em qualquer área disponível.
Acconci via a cena de vídeo ou de filme como algo que o sepa
rava do mundo externo, colocando-o em uma "câmara de isola
mento", como ele dizia, onde se conectava intimamente com seu
material básico, o corpo. Fez seu primeiro vídeo, Corrections [Cor
reções], em 1970, a pedido do curador e escritor americano Wil
loughby Sharp, que fundou a efêmera Avalanche, uma revista dedi
cada à arte corporal, à arte processual e ao vídeo. Corrections refletia
seu interesse no imediatismo do vídeo. Podendo se ver no monitor
enquanto gravava, Acconci tenta queimar uma mecha de cabelo da
nuca, usando a imagem no monitor corno guia . Anteriormente, na
quele mesmo ano, fez um filme de 8 mm, Three Adaptation States
[Três estados de adaptação], uma gravação simples de movimentos
em seu estúdio, que ele viu como sua transição da página (havia
sido poeta) para a arte."Tive de deixar a página", diz ele,"e ao me
nos cheguei ao chão." Em Centers [Centros) (1971), sozinho em seu
estúdio com uma filmadora fixa, ele aponta para a lente em um
46 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
gesto que vira a câmera de volta para o espectador. Fica em pé, de
olhos vendados, em Contacts (Contatos] (1971), com uma mulher
ajoelhada diante dele, mantém a mão diante de diversas partes de
seu corpo, sem contudo tocá- lo. Novamente, uma câmera fixa re
gistra suas tentativas de dizer o nome das partes de seu corpo à
medida que ela move a mão em torno dele.
Acconci não gostava do termo"performance" devido a suas as
sociações com o teatro: "Odiávamos a palavra 'performance'. Não
podíamos, não denominaríamos o que fazíamos de 'performan
ce' .. porque performance tinha um lugar, e esse lugar, por tradi
ção, era um teatro, um lugar ao qual se ia como se ia a um museu. "
Contudo, apresentou-se em público. Em Pryings [Espreitadas]
(1971) e Pull [Tração] (1971), Acconci e Kathy Dillon empenham-se
em uma batalha de desejo e resistência enquanto Acconci tenta
manter as pálpebras dela abertas, ou cada um deles tenta hipnoti
zar e controlar o outro com jogos visuais.
Acconci trouxe suas investigações do tempo e do corpo para o
espaço das galerias quando, em 1971, colaborou com Dennis Op
penheim e Terry Fax na galeria Reese Paley em Nova York. Fitando
um enorme relógio de parede, de costas para o público, Acconci
realizou movimentos particulares enquanto os outros artistas ja
ziam no chão perto de um monitor de vídeo e sistema acústico. Em
seu Command Pe1jormance [Performance de comando], 1974, Ac
conci confronta o espectador da galeria, ao incorporá-lo ao am
biente de vídeo. Em uma sala estreita, o espectador senta-se em
um banquinho diante de um monitor localizado no chão. O moni
tor mostra uma fita de Acconci, também deitado no chão, de cos
tas, força ndo a cabeça em direção à câmera, implorando ao espec
tador que o seduza, em um monólogo divagante que repete frases
como: "Venha, meu bem, conquiste-me." Em outro monitor atrás
do banquinho aparece uma imagem do espectador que está sendo
filmado por uma câmera presa à parede acima do banquinho. To
dos tornam-se voyeurs nesta dança de sedução múltipla.
Naquela época Nam June Paik também estava trabalhando
com meios de comunicação de massa e performance. Durante seu
período no Fluxus no início dos anos 60, em várias colaborações
com a música Charlotte Moorman, Paik criou performances musi
cais e com vídeo que contestavam a maneira tradicional de tocar e
ouvir música. Em TV Bra (Sutiã na TV] (1968), Moorman é filmada
sem sutiã, tocando violino, e usando dois espelhos circulares sobre
os seios, que refletiam câmeras focadas em seu rosto. Ele e Moor
man foram presos em 1967 pela apresentação dela sem sutiã em
Sextronique, onde as costas de Paik, sem camisa, tornaram-se o
"baixo" para o arco de Moorman."Eu queria agitar as águas monó
tonas compostas por mulheres e homens assexuados, trajando ter
nos pretos, que tocavam música", disse ele certa vez. Paik e Moor
man colaboraram em vários desses projetos, inclusive Concerto for 11'1
1 1 I / (('Squerda) Vito. Acconci,
, 1111e / li nd [Segunda mão ou
l ,111 l1 l1c1 rios segundos],
I' 11t11 111,111ce na Galeria Reese
·1 1h y, 1enfatizar", escreveu em 1962, antes de
sua apresentação na Galeria Pa rnass em Wupperta[,"que meu tra
b~lho não é pintura, nem escultu ra, mas sim um a arte temporal:
nao gosto de nenhum gênero em especial. "
Embora Paik tenha aba ndonado a performa nce ao vivo nos
anos 80, voltando-se para construções maciças de vídeo com vários
monitores, sua ligação com a perform ance continua óbvia. É como
se tivesse feito do monitor um artista por seu próprio mérito. Ele in
jeta uma vida tão fren ética em suas instalações, com imagens cor
rendo pelas tel.as, que as esculturas com vídeo mais parecem orga
msmos mecamzados do que monitores inertes. Na verdade, desde
1964 ele fez vários "videorobôs", inclusive Family of Robot, Aunt (Fa
mília de robô, tia] (1986) e Family of Robot, Uncle [Família de robô,
tio] (1986), nos quais a principal impressão visual é criada pelos apa
relhos de televisão, e não pelas imagens neles contidas. Ele agora
ena o que se pode denominar instalações feitas para performances.
Gutai japonês e acionismo vienense
O grupo Gutai de pintores e artistas foi proeminente no Japão
de 1954 a 1958, embora tenha existido até 1972. Em resposta à de
vastação da Segunda Guerra Mundial, os artistas do Gutai expres
saram um envolvimento violento com seu material. Filmes como
50. (página ao lado) Nam June
Paik, Family of Robot, Aunt and
Une/e [Famíl ia de robô, tia e tio),
1986. Paik ficou fascinado pela
idéia cientifica de que o cérebro
humano cresceu apenas depo is
que o homem começou a
caminhar ereto. Por volta de
1986 ele havia criado uma
famíl ia de robôs, inclu indo avós,
t ia e tio, pais e três filhos.
49. (d ireita) Nam June Pa ik,
Concerto for TV, Ceifo and Video
Tape. TV Cello Premiere
[Concerto para TV, violoncelo e
vídeo. Primeira apresentação de
violoncelo pa ra TV], 1971. Nam
June Paik contesta
constantemente a idéia de
"realidade" da imagem de
televisão, ao colocar aparelhos
de TV em posições inesperadas
ou ao distorcer as imagens
na tela.
48 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Guiai on Stage [Gutai no palco] (1957) e Gutai Painting [Pintura Gu
tai] (1960) mostram artistas" atirando" em telas com flechas embe
bidas em tinta, atingindo-as com luvas de boxe cheias de tinta, ou
espatifando pinturas com seus próprios corpos. Embora ansioso
para que suas ações antiarte fossem vistas e filmadas, o grupo Gu
tai permaneceu envolvido com a pintura em vez de explorar novos
meios de expressão. Foi apenas mais tarde que, no Japão, grupos
como o Dumb Type empenharam-se totalmente nos meios de co
municação de massa dos quais os japoneses, principalmente a
Sony Corporation, tinham sido pioneiros .
A expressão pós-guerra mais {adical de performance com meios
de comunicação de massa foi a dos Wiener Aktionisten, os acionistas
vienenses, principalmente Hermann Nitsch (1938-), Otto Muehl
(1925-), Kurt Kren (1929-) eValie Export (1940-), muitos dos quais
começaram como pintores. Repelidos pela guerra, pelo nazismo e
seu legado, embora rejeitassem o modernismo aceito pelos museus,
esses artistas procuraram fazer uma arte sensacional em termos
programáticos. Buscavam inspiração tanto no entendimento de
Freud do inconsciente quanto nas práticas artísticas liberais adota
das pelo Fluxus. Com exceção de Valie Export, cujo âmbito artístico
talvez tenha sido o mais amplo de todos, estendendo-se a escultu
ra, vídeo, film e, fotografia, instalação e performance, os acionistas
exa ltavam a "destruição" como via primária para a liberdade artísti
ca e socia 1. "Não posso imaginar nada significativo onde nada seja
sacrificado, d struído, desmembrado, queimado, perfurado, ator
mentado, assed iado, torturado, massacrado ... esfaqueado, destruí
do ou ani qu ilado", escreveu Muehl em 1963.As ações oriundas des
sa maneira de pensa r quase sempre envolviam mutilação corporal,
sexo sadomasoqu ista, esquartejamento de animais e práticas misó
ginas, todas executadas para a câmera, às vezes com observadores
(público), quase sempre em. Em Funebre (1966), uma das primeiras
ações filmadas por Muebl, Ltm corpo nu jaz em uma cama, e é bor
rifado com pigmento e manipulado por outras figuras nuas. Muehl
li
1
1
50 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
fez as performances de Yves Klein no início dos anos 60 com mode
los nus e tinta parecerem inocentes jogos de salão. Mais extremo foi
Scheiss-Kerl [Homem-merda], 1969, um filme de 16 mm que mos
tra graficamente atos de coprofilia. Um comportamento tão extremo
em filme viria à tona novamente nos anos 80, na obra dos america
nos Paul McCarthy e Ron Athey.
Para Muehl, atos normalmente vistos como perversos ou de
gradantes eram, de fato, formas de escapar às limitações impostas
pelos padrões sociais. Por volta de 1971 ele abandonou a arte e as
ações para formar uma comunidade, que existe até hoje, na qual a
livre expressão sexual e interações desinibidas são a regra. Quando
foi descoberto que algumas dessas práticas envolviam crianças,
Muehl ficou na prisão por sete anos, de 1991 a 1998. Suas trans
gressões e práticas supostamente utópicas eram, obviamente, into
leráveis para a sociedade que ele achava estar tentando libertar.
Kurt Kren, que colaborou como cineasta com vários artistas
acionistas, estava particularmente interessado nas capacidades téc
nicas de edição e manipulação de imagens. Ele fazia filmes experi
mentais desde os anos 50, os quais eram estruturalmente influen
ciados por práticas musicais em série do mesmo período. As técnicas
de edição rápida e de repetição de fotogramas acentuavam as qua
lidades materiais do filme, ao mesmo tempo que proporcionavam
um novo vocabulário para" tempo", conforme experimentado pelo
espectador. Kren foi atraído pela complexidade visual das ações de
Gunther Brus (1938-) e Muehl, e viu nelas o potencial para criar
seu tipo próprio de colagem em filme. Segundo a descrição do his
toriador de arte Huber Klocker: "Os filmes de Kren são meios de
expressão de armazenamento pictórico semelhante à colagem, or
ganizados em uma nova forma de espaço e tempo, que comprime
a massa pictórica como uma máquina, convertendo-à em pura
energia." O filme colorido de 3 minutos Leda and the Swan [Leda e
o cisne] (1964), uma das ações gráficas de Muehl, torna-se, nas
mãos de Kren, uma ária sincopada de caos e abstração.
Valie Export, que participou do final do acionismo, criou perfor
mances, vídeos, filmes e eventos com meios de comunicação de
massa desde meados dos anos 60, análises destemidas e quase
sempre gráficas do papel da mulher na sociedade. Ela fundou a
Austrian Filmmakers Co-operative e seus primeiros experimentos
com performance e filme (Menstruationsfilm, 1966, Orgasmus, 1966)
colocaram-na na vanguarda da performance feminista, opondo-se
fortemente ao abuso de mulheres encontrado entre outros acionis
tas como Muehl. Seus filmes e performances feministas, bem como
seus primeiros experimentos em fo tografia arranjada, também são
marcados por investigações tecnologicamente sofisticadas no cam
po da percepção, da imagem fo tográfica e filmada, e da linguagem
corporal. Por volta do início dos anos 70, ela já usava o vídeo em
performances como Bewegungsimaginationen [Imaginação do movi-
MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E PERFORMANCE 51
mentol, 1974, que apresenta imagens filmadas e vídeo ao vivo. Já
em meados dos anos 80, ela combinava meios de expressão (foto
grafia arranjada, vídeo e filme de 16 mm) em obras como Syntagma 51
(1983). O objetivo a longo prazo de Export era resgatar a figura fe
minina na arte. "No filme", ela diz, "o corpo feminino torna-se a
imagem da mulher até que a história do filme e a história do cor-
po da mulher sejam pra ticamente uma só."
Enquanto os acionistas vienenses exercitavam supostamente
sua liberação do socialismo nacional, artistas do bloco oriental de
dicavam-se a atividades secretas que, quando descobertas, eram
punidas com a prisão. Câmeras e vídeos eram ferramentas de vigilância usadas para espionar cidadãos e não deviam ficar nas mãos
de indivíduos, muito menos de artistas, que poderiam usá-las de
forma subversiva. Entre os grupos artísticos mais isolados do leste
europeu estavam os romenos, aos quais era proibido qualquer tipo
de reunião pública sem autorização. Assim, as performances, tais
como eram, consistiam principalmente em ações particulares. Ion
Grigorescu criou vários filmes de curta metragem e ensaios foto
gráficos que exploravam seu sentido de identidade fraturado pelas
mentiras e códigos secretos necessários para a sobrevivência em
um Estado totalitário. Em filmes Super-8 como Boxing [Boxe]
(1977), Man as Center of the Universe [O homem como centro do
universo] (1978) e Dialogue with Nicolae Ceausescu [Diálogo com
Nicolae Ceausescu] (1978), ele filma a si mesmo no isolamento de
seu próprio quarto ou em um campo distante, refletindo o confina
mento extremo de sua situação. Usava freqüentemente várias ima
gens de si mesmo dentro da tela para sugerir o eu fragmentado e a
eliminação de identidade pessoal imposta pelo governo.
Tibor Hajas (1946-80) ainda era pouco conhecido fora de sua
Hungria natal, mas suas performances fotográficas, nos anos 70,
eram tão perigosas quanto subversivas. Em Oark Flash [Clarão es
curo] (1976), ele pendia do teto de uma sala escura, preso por uma
corda amarrada em torno das mãos. Segurando uma câmera em
uma das mãos amarradas, tentou fotografar clarões de luz que oca
sionalmente perfuravam a escuridão. Ao final da performan ce ha
via um enorme clarão de magnésio enquanto Hajas, agora incons
ciente, era libertado da corda.
Já o quadro vivo em que se combinavam a performance l' os
meios de comunicação de massa criado pelo famoso arti sta nl1•
mão Gerhard Richter, do pós-guerra, e por Konrad Fischer, seu II H
sistente, com a colaboração do pintor Sigmar Po]ke, era r ln liv.i
mente conservador em comparação com a obra de Hajas. )1 11 111111
organizaram A Demonstration for Capítalist Realis111 [Ma ni Íl'ci l11 ~·1 111
em favor do realismo capitalista] (1963), durante a qu iJ I oc t1 p11 1111
um canto totalmente decorado de um a loja de 111 óvc is 1• 1·1·11111111111
maram um aparelho de televisão co111 i1m1g' ns d ' lt•111 1111 l11!t11
Aqui pode-se fazer certas ligações vi. uaiH m m '/ 'V 1 >,• 111///11,1:11 d1 1
51. Va lie Export, Syntagma,
1983. Este filme começa com a
cena de duas mãos femininas
forçando para abri r espaço entre
duas tiras de celulóide. As mãos
com unhas bem-fe itas começam,
então, a "falar", em linguagem
de sinais, o nome do fi lme.
52. Richard Hamilton, Just what
is it that makes today's homes so
different, so appealing? [O que
exatamente torna os la res atuais
tão diferentes, tão atraentes?],
1956.
52 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEM PORÂNEA
Vostell e a colagem de Richard Hamilton, Just what is it that rnakes
today's hornes so different, so appealing7 [O que exatame_nte torna os
lares atuais tão diferentes, tão atraentes?] (1956), desafiando a apa
rente tranqüilidade da vida doméstica com implicações de subleva
ção social e política.
Sexo e performance com meios
de comunicação de massa
A historiadora de arte Moira Roth estabelece o vínculo entre arte
performática feminista e o chamado"teatro de rua", no qual haviam
se engajado a tivistas feministas, como a interrupção do concurso ?e
beleza Miss América em 1968. A revolta feminista contra os papeis
aos quais os sexos se achavam limitados fazia parte de um_ mo~elo
cultural de movimentos de liberação em todo o mundo, que mcluiam
estudantes, pessoas de cor e homossexuais. Com Jonas e Sclmee
mann como modelos, artistas feministas adotaram os meios de co
municação de massa como parte de suas ações para performances;
Em seu Video Live Pe1formances [Performances ao vivo com v1-
deo] dos anos 70, a artista alemã Ulrike Rosenbach (1944-) mon-
1i l C, rhard Richter e Kon rad
11 1 l1 11 r, A Demonstration for
1 //1/ln/ist Realism [Manifestação
, 111 l 1vor do rea lismo capita lista],
l '111 l , Gerhard Richter e Konrad
11 , linr formam um quadro vivo
1111 11111 a loja de móveis
, 111 p1,111Lo imagens de teor
1111 111 1c o aparecem em uma tela
h IV
MEIOS DE COMUNICAÇÃO DL MIi', !\ 1 1'1 HI ()IIM/\NC 1 ~
tou quadros gráficos, que eram executados ap •11 ns pu1,1a d nwrn .
Suas performances públicas multimídia, que, cm sunCombinando ação ao vivo no palco e
um filme computadorizado tridimensional (feito por Jeffrey Kleisc1·
e Diana Walczak), a obra oscila entre ilusão e realidade, tudo sob a
ação de um painel de controle computadorizado.
O compositor americano Robert Ashley (1930-) cria óperas x
perimentais desde os anos 70, que combinam música motivada
pelo som de um texto falado e imagens de vídeo projetadas, in cor
porando imagens abstratas, imagens apropriadas (às vezes de prn
gramas de televisão) e palavras. Music with Roots in the Aether [M ú
sica com raízes no éter] (1976) foi um trabalho de 14 horas, base.:,
do na música e obra de compositores contemporâneos, n tre OH
quais Philip Glass, Alvin Lucier e Steve Reich. Dust [Pó], de Ash lvy
(1999), uma meditação fragmentada sobre a solidão na A1rn.\icn
contemporânea, incorporou cinco telas eletrolurninescentes, hl•111
corno uma grande tela horizontal acima da área de perfon11n 1w1•,
sobre as quais foi projetada urna série de imagens vertiginos, H l'i11
boradas pelo artista japonês Yukihiro Yoshihara. Para Wil son 1' Â H
hley, bem corno para muitos outros artistas que in oq m11 111 11
meios de comunicação de massa à sua obra, o víd o o íi l11w 11111
porcionam elementos arquitetônicos adicionais ao 0111bi1•1111 • il11
palco e permitem maior manipulação do tempo.
56 . Robert Wilson, Deafman
Glance [Vislumbre do surdo],
1971.
56 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Eiko e Koma, dançarinos japoneses associados ao minimalismo
e ao teatro japonês de vanguarda, usaram tanto o filme quanto o
vídeo em seu projeto de 1998 para o Museu Whitney, Breath [Res
piração], onde apareceram ao vivo em meio a um ambiente de pro
jeção de vídeo e filme. Paisagens fluidas de formas da natureza e
fo rmas mutáveis de seus corpos em movimento sugeriam relações
entre o corpo vivo e a imagem filmada"ao vivo".
A natureza maleável das percepções que os espectadores têm
da realidade é preponderante na obra de Douglas Davis (1933-). Em
1977, como parte de documenta vi, Davis planejou uma transmissão
internacional via satélite para mais de 25 países. Davis, que estava
em Caracas, Venezuela, apresentou The Last Nine Minutes, no qual
falou com o público sobre a distância espacial/temporal entre eles.
Foram incluídas na transmissão performances de Nam June Paik e
Charlotte Moorman (TV Bra, TV Cello e TV Bed [Sutiã na TV, Violon
celo na TV e Cama na TV]) e uma performance/palestra de Joseph
Beuys sobre uma de suas teorias utópicas de arte. Davis ampliou
esta mesma prática em 1981 com Double Entendre, outra performan
ce ao vivo, via satélite, ligando o Museu Whitney em Nova York ao
Centro Georges Pompidou em Paris, na qual Davis examina um
caso de amor transatlântico. Ao mesmo tempo, ele contesta idéias
de conexão eletrônica, limites sexuais e culturais bem como teorias
da linguagem; tudo isso baseado em um texto do teórico francês
Roland Barthes, A Lover's Discourse [Fragmentos de um discurso
amoroso] (publicado pela primeira vez na França em 1977).
A ligação intelectual com arquitetura, teorias de espaço públi
co e privado e questões de percepção levou Dan Graham (1942-)
l,11 lm ) Dan Gra ham,
1 /i 1111111nce/Audience/Mirror
11 i/111 11 11111ce/Público/Espelho], 1977.
( il111lxo) Robert Wilson e
1111 111 11 il,1 s, Monsters of Grace
li (1111, 11 0s da Graça], 1998. Para
li 111 1, (,)S lementos de design
11 11 1, l!'ntam meramente a
1 1 1 11 1! 1~ sao a obra, o próprio
1111 111!0 de seu teatro. "Ouça
l1111 1u11 11s", diz ele.
MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E PERFOHMJ\N 1 7
a criar obras de performance e instalação que envolviam os es pL'l'
tadores, ao focarem diretamente sua posição de observadores m
determinado espaço e tempo. Espelhos, sistemas de vídeo de ci1·
cuito fechado e ambientes complexos de observação são freqüen
temente usados por ele para envolver o espectador em suas idéias
sobre público e espaço físico. Em Performance!Audience!Mirror [Ar
tista/Público/Espelho] (1977), Graham posicionou-se em um espaço
para performance, de costas para um espelho, de frente para o pC1-
blico. Ele analisou os movimentos do público e seu possível signi
ficado e, depois, virou de frente para o espelho, analisou seus mo
vimentos e os do público quando"filtrados"pelo espelho. Questões
de subjetividade/objetividade, o observador e o observado, público
~ artista fo ram tratadas como relações variáveis e muito subjetivas.
A medida que seu uso de tecnologia de vídeo foi ficando mais so
fisticado, Graham começou a incorporar o vídeo aos seus ambien
tes espelhados. Em 1983, Pe1formance and Stage Set Utilizing Two
Way Mirrar and Video Time Delay [Performance e montagem de pal
co com espelho dupla -face e vídeo de reprodução diferida], criado
para sua retrospectiva no Kunsthalle de Berna, consistia em músi
cos e público sentados de frente'um para o outro, com um enorme
espelho dupla-face no meio. Um vídeo filmado ao vivo era proje
tado sobre o espelho com um atraso de seis segundos, criando um
caleidoscópio virtual de imagens com percepção deformada, e du
rante essa projeção o público observava os artistas apenas através
do filtro do espelho e do vídeo, enquanto também via a si mesmo
e aos artistas com um atraso temporal. Esta sensação de desorien
tação contestava a postura do público como observador. Graham
1 ,
59. Dan Graham, Three Linked
Cubes/Interior Design for a Space
Showing Vídeos [Três cubos
conectados/Projeto de interiores
para um espaço de mostra de
vídeos]. 1986.
60. T. R. Uthco e Ant Farm (Doug
Hall, Chip Lord, Doug Michels,
Judy Procter), The Eternal Frame
[O fotograma eterno]. 1975.
Cada fotograma do f ilme
amador de 8 mm, de Abraham
Zapruder, do assassinato do
presidente Kennedy, foi objeto
de mais especulações que
qualquer outro filme na história.
58 NOVAS M ÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
continua a criar ambientes de observação, por exemplo, Three Lín
ked Cubes/Interior Design for a Space Showíng Vídeos [Três cubos c~
nectados/Projeto de interiores para um espaço de mostra de Vl
deos] (1986), um espaço com vidro transparente e espelhado, apr_e
sentado na exposição de 1997 no Museu Guggenheim, Rooms wzth
a Víew: Environments for Vídeos [Salas com uma vista: amb1ente_s
para vídeos], e uma versão atualizada deste, New Space Showmg Vz
deos [Novo espaço para mostra de vídeos] (1995). Em ambos os ca
sos, os alJ)bientes permitem ao espectador v:r e ser visto; o espec
tador torna-se, ao mesmo tempo, artista e publico.
Política, pós-modernismo e o novo espetáculo
As práticas interativas de Graham refletem as teoria_s da Situa
tionist International, uma coletiva informal de artistas e intelectuais
europeus, cujo principal porta-voz, Guy Debord (1931-94), teve
profunda influência sobre artistas na Europa Ocidental e nos Est~
dos Unidos. Central ao pensamento situacionista (uma combmaçao
de marxismo, psicanálise e existencialismo) era que a teona p~de, e
deve, ser O foco de" ações artísticas" de artistas e outros md1V1duos
envolvidos. Guiados por Debord, principalmente em seu :nsaio de
1967 "The Society of the Spectacle" [A sociedade do espetaculo], os
situacionistas, sobretudo por meio de escritos, agitaram em f~vor do
controle popular de espaços urbanos. Uma de suas pubhcaçoes, 0 11
the Poverty of Student Life [A pobreza da V1da _estudantil] (1966~67),
prenunciou as revoluções estudantis mundiais_ de 1968. Arhstas
como Graham e Douglas Hall retrataram vanaçoes sobre os mani
festos situacionistas em sua obra. Hall tornou-se d1Ietam_ente asso
ciado ao teatro político como um dos fundadores da coletiva de per
formance multimídia T. R. Uthco, de São Francisco. Imciado em
MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE M ASSA E 1 ~Rl·0 11Mi\Nao vivo, fihnes de arqL1ivo do
assassinato real e filmagens das reações de espectadores à" repmd u
ção" do evento, este projeto tornou-se um registro mordaz do fa scí
nio americano por mitos, heróis e imagens televisuais.
Hall também parodiou a política americana em sua performan e
com vídeo The Speech [O discurso] (1982), durante a qual apresentou
um discurso de campanha política vazio e repleto de lugares-comun ,
de pé em um palai1que, cercado pela "imprensa" e "simpatizantes".
Em Amaril/o News Tapes [As fitas dos noticiários de Amarillo J (1980)
Thís Is the Truth [Esta é a verdade] (1982), Hall contestou a própria no
ção de "verdade" no contexto dos meios de comunicação de massa,
enquanto engajava sua inquirição consta11te sobre o poder da lingua
gem no contexto do "espetáculo público". Sem se desculpar pela fal
ta de conteúdo intelectual, Mike Smith (1942-), em suas performa11-
ces, vídeos e instalações desde o final dos anos 70, dá alfinetadas na
banalidade da televisão comercial dos Estados Unidos na pessoa de
seu personagem fictício"Mike". ,Sem idéias próprias, Mike é um re
ceptáculo vazio que acolhe tudo o que a televisão tem a oferecer.
Smith criou várias comédias na forma de performance, apresentando
seu humor conceitua] e inexpressivo em obras como Down ín the Rec
Roam [Na sala de recreação] (1979), Secret Horror [Horror secreto]
(1980) e Mike Builds a Shelter [Mike constrói um abrigo] (1985). 6'1-65
Esse"humor conceitual"ficou evidente desde o final dos anos 60
e atingiu a apoteose no pós-modernismo dos anos 80. Embora es
tudiosos ainda questionem as definições de pós-modernismo, cer-
tas tendências na prática de artistas nos ajudam a defini-lo. No tea-
tro multimídia, as obras hipercinéticas do Wooster Group de Nova
York são representativas da performance pós-moderna. O grupo
oferece interpretações de peças clássicas - como Emperor fones [O
imperador Jones] de Eugene O'Neill, apresentada pelo grupo pela
primeira vez em 1994, Hairy Ape [Macaco peludo], 1995, ou Hou
se!Lights [Casa/Luzes], 1997, baseada em Dr. Faustus Lights the Lights 66
[Dr. Fausto acende as luzes] de Gertrude Stein - combinadas com
meios de expressão modernos. Os textos originais das peças, embo-
ra intactos, ficam quase irreconhecíveis no meio do grande número
de decibéis, vozes amplificadas e artistas ao vivo competindo pela
atenção dos espectadores com versões em vídeo de si mesmos mos
tradas em vários monitores espalhados pelo palco. Ao capitaliza r a
singularidade de O'Neill ou Stein, proporcionam a representaç5o
gráfica do que o crítico e teórico social Fredric Jameson cita 1110 o
artista pós-moderno "apoderando-se de suas idiossincrasias t' t'X
centricidades para produzir uma imitação que ridiculariza o 01 lgl
na!". Mas, em vez de participar da banalidade da cultu ra loH 11Wlrn
de comunicação de massa, esses artistas (liderados I or l ,iil l ,1•
Compte, que dirige a maioria de suas produções), na Vl'rd 1d •, t• Ia não eclipsar a ação
no palco." La Fura deis Baus, o grnpo internacional de performan
ce fundado em Barcelona em 1979, contestou abertamente os
meios de comunicação de massa em seu fantasmagórico F@usto:
Version 3.0 [F@usto: Versão 3.0] (1998). Corpos ensangüentados, o
fogo do inferno projetado em telas enormes e atores pendendo do
teto ou flutuando no ar em" úteros" mecanizados, cheios de água,
compunham representações gráficas ousadas para ilustrar a histó
ria de Goethe sobre o pacto entre o homem e o demônio.
Lepage afirma gue foi influenciado pelos métodos de trabalho
improvisados do diretor de teatro britânico Peter Brook (1925-), cuja
companhia internacional com sede em Paris criou obras quase sem
pre baseadas em fontes clássicas e literárias (por ex., The Mahabara
ta, uma epopéia de nove horas de duração, desenvolvida ao longo
de vários anos na década de 80) . Embora Brook tivesse sido também
diretor de cinema no início da carreira, ele não é associado aos
meios de comunicação de massa. Contudo, fez uso significativo de
vídeo ao vivo, de grande formato, em sua produção de 1992, The
Man Who [O homem que], basea3o no livro de Oliver Sacks, The Man
72. (direita) Peter Brook, The
Man Who [O homem que].
1992. Na adaptação feita por
Brook de The Man Who Mistook
His Wife for a Hat [O homem
que confundiu sua mulher com
um chapéu]. de Oliver Sacks, as
imagens de vídeo funcionam
como mecanismos espelhados
para o personagem cent ra l, que
esquece os acontecimentos
assim que eles ocorrem.
73. (pág ina ao lado, acima) Ping
Chong, Deshima, 1993.
74. (página ao lado, abaixo)
Kristin Lucas, Host [Anfitriã].
1997. A fi lmadora funciona
como uma extensão do próprio
corpo para Kristin Lucas, que
g ralmente prende pequenas
câmeras e projetores à cabeça
durant performances ao vivo.
66 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Who Mistook His Wife for a Hat [O homem que confundiu sua mu
lher com um chapéu], sobre um homem com lesão cerebral.
Outras companhias de teatro experimental que quase sempre
usam meios de comunicação de massa em seu trabalho incluem
grupos como Squat Theater (fundado na Checoslováquia), Dumb
Type do Japão, Impossible Theater (uma coletiva americana dos
anos 80, cujo uso de métodos sofisticados com meios de comuni
cação de massa em produções como Social Amnesia [Amnésia so
cial] , 1986, te.ve como objetivo criticar a tecnologia) e companhias
associadas aos espaços al ternativos para performances, como La
MaMa ETC em Nova York, para as quais artistas como Ping Chong,
com formação em film e e dança, e o autor deste livro, com forma
ção em teatro e fo tografia, usam meios de comunicação de massa
como elementos poéticos em obras abstra tas que combinam músi
ca, dança e textos em ambientes visuais imagistas.
Embora o uso sofisticado de meios de comunicação de massa
tenha entrado em produções teatrais experimentais nos anos 80,
grande parte da performance de baixa tecnologia é praticada por
artistas mais jovens, cujas apresentações despojadas mais parecem
eventos do Fluxus do que teatro. Nos Estados Unidos, Kristin Lu
cas (1969-) representa uma linhagem jovem entusiasmada para
quem a filmadora da linha Hi-8 funciona como objet trouvé, permi
tindo a criação de colagens com meios de comunicação de massa
(ou "improvisações com vídeo", como ela gosta de chamá-las), ,
elegantes em sua simplicidade. Ao prender uma câmera ou peque
no projetor a um capacete, Lucas, quase sempre trajando macacão
alaranjado de operário, como em Host [Anfitriã] (1997), faz perfor
mances em tempo real, projetando sobre as paredes de galerias ou
de espaços temporários para performances, imagens recentemen
te filmadas de encontros com policiais ou com outras pessoas que
ela conhece.
No final dos anos 90, técnicas multimídia, iniciadas tão espon
taneamente por grupos experimentais de teatro e dança no final
dos anos 60, tinham se infiltrado em espetáculos realizados em es
tádios e no teatro convencional, especialmente em shows de rock
75. Montagem na Broadway
do musical Tommy, 1995.
A tecnologia de vídeo tornou-se
marca registrada de shows de
rock e de muitas produções
teatrais comerciais em grande
escala, por exemplo, Tommy do
grupo The Who.
68 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
O musical da Broadway, Tommy, composto como ópera-rock pelo
grupo The Who nos anos 70 e apresentado na Broadw~y. em 1995,
mostrava várias projeções de vídeo em torno do proscerno do tea
tro. Agora quase todo show de rock apresenta projeção de vídeo ao
vivo dos artistas, expandindo o ca1::po de visão par~, grandes mu;,
tidões, além de aumentar a sensaçao de um evento s1gmficativo ,
hipercinético, que ocorre no palco. . , . .
Atrás das cenas da maioria das performances multim1d1a do fi
nal do século estão os painéis de controle digital que, com o toque
de um botão, comandam iluminação, som, vídeos, filmes e muito
mais. Os vídeos usados são feitos cada vez mais em câmeras digi-
/l 1 (tl baixo) Foirades/Fizzles de
n11111el Beckett, adaptado e
il lrlf) ldo por Michael Rush, 1994.
li1 111gcns animadas e congeladas
,11 1 r• centam camadas de tempo
11 111 mória às vozes dos
11111 1,onagens de Beckett.
11
, IJlnas seguintes:
I / , Robert Lepage, Need/es and
, !/1/um [Agulhas e ópio], 8-12
d,,, mbro, 1992.
MEIOS DE COMUNICAÇAO DE MASSA I i' l lU OHMN li 1
tais e editados com tecnologia computadorizad a ligilnl. l(11 i1 1 11,p 11
pamento compara-se à filmadora Portapak, trinta e nos 11 11 11 11111
meio relativamen te barato consegue efeitos que, oul t'Ol'll , q 11 11111
produtores comerciais poderiam custear. É esta disp nibilitl 11tl1 1 ti,•
tecnologia acessível que sempre manteve um paralelo 01111 1· 11 ti,
senvolvimento da arte e os meios de comunicação d' 11111: 1Hr1 À• 1
mesmo tempo que artistas filmavam suas performan C'~ 011 1111 ·111
paravam filme e vídeo ao teatro e à arte performática, oul1111 111
ziam vídeos single-channel que eram, freqüentemente, n1fi[1111tl11
pessoais a um meio de expressão que raramente profcssavn 111•1 111
tístico: a televisão.
2. VIDEOARTE
Um novo meio de expressão
Talvez os críticos ainda estivessem (na verdade, ainda estão)
debatendo a viabilidade estética de Fountain [Fonte] (o urinol de
cabeça para baixo enviado a uma exposição de arte em 1917) de
Marcel Duchamp em meados dos anos 60, mas já naquela época as
fronteiras da arte tinham sido tão ampliadas que não existiam mais
"limites". Na verdade, objetos manufaturados como Fonte foram
apenas o começo. Em Nova York os Happenings de Allan Kaprow,
Claes Oldenburg e Jim Dine, as telas com diversos materiais (com
camas, galinhas recheadas e cabos) de Robert Rauschenberg, as
instalações corporais de Carole Schneemann e os painéis de néon
de Dan Flavin são apenas alguns exemplos da multiplicidade das
obras de arte em exposição naquela época. A máxima do crítico
Clement Greenberg de que o significado da arte (que para ele sig
nificava pintura ou escultura) deveria ser encontrado no próprio
objeto agora era contestada pela idéia de que, na prática da arte, o
conceito e o contexto eram o fundamental.
O minimalismo e o conceitualismo, seu produto, eram as for
mas dominantes do período."Desembaraçados da condição de ob
jeto", escreveu a crítica de arte Lucy Lippard,"os artistas ficaram
livres para deixar a imaginação correr solta." Nas artes visuais, re
jeitou-se o ilusionismo em favor de uma simplicidade despojada,
mais próxima do desenho industrial que do pictorialismo. Esta ati
tude refletiu a crescente tendência, na arte, de eliminar as fronteiras
entre ela e o cotidiano, ou, segundo a história, entre"alta" e"baixa"
arte. E, além dos limites do mundo da arte, o meio que predomina
va na cultura de massa nessa época era a televisão.
As histórias da arte do período começam quase sempre com
Flag [Bandeira] (1954-55) de Jasper Johns, Stripe Painting [Pintura
de listras] (1959) de Frank Stella ou Brillo Boxes(1964) de Andy
Warhol, e não com algum debate de videoarte. Em parte isto acon
tece porque deve-se considerar a videoarte, que surgiu em meados
dos anos 60, partindo do ponto de vista de um mundo cada vez
mais dominado pelos meios de comunicação de massa, sobretudo
a televisão; e isto, para muitos críticos, está bem longe das preocu
pações da arte. Contudo, como observa a curadora do Museu de
Arte Moderna de São Francisco, Christine Hill, "uma idéia funda
mental defendida pela primeira geração de videoartistas era que,
para existir uma relação crítica com a sociedade televisual, era pre
so primeiramente participar de forma televisual".
li,:"'' Mr. ~J,t1,,'.ma:,t1 l,ip hi1H1tl/-Cnil B. ~ Mill• - voj{,yi"l
M"&'u.,m.v B1i-P1a1deoarte. Aparentemente, Paik pegou a fita m imag ns lo f 'np11,
79. TVTV, Four More Years [Mais
quatro anos], 1972. A aparência
das entrevistas com câmeras
portáteis, de baixa tecnologia,
logo passou a ser admirada pelo
noticiário da televisão
convencional por causa do
caráter imediato e autêntico
que sugeriam.
76 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
filmadas de um táxi, e naquela noite mostrou os resultados em um
ponto de encontro de artistas, o Cafe à GoGo, concretizando assim
a primeira apresentação de videoarte. O que leva a filmagem do
Papa, por Paik, a ser classificada como videoarte? Basicamente, con
sidera-se que ela seja arte porque um artista reconhecido (Paik), as
sociado à performance e à música experimental, fez o vídeo como
uma extensão de sua prática artística. Ao contrário de um jornalis
ta fazendo seu trabalho com o Papa, Paik criou um produto tosco,
não comercial, uma expressão pessoal. Ele não estava " cobrindo" a
notícia da visita do Papa, mas captando uma imagem que, para ele,
possuía valor cultural e artístico. É provável, de uma perspectiva
histórica, que a filmagem do Papa feita por Paik tenha recebido a
designação de" o primeiro" trabalho de videoarte nos Estados Uni
dos, em grande parte devido à subseqüente designação de Paik
como o primeiro videoartista mais prolífico e influente. Além disso,
ele tornou-se o primeiro "porta-voz" de videoarte. "Assim como a
técnica de colagem substituiu a tinta a óleo", disse ele,"também o
tubo de raios catódicos substituirá a tela."
Aqui, o que está em questão é a intenção do artista, ao contrá
rio da intenção do executivo de televisão, do cineasta comercial ou
mesmo do videomaker: a obra não é um produto para venda ou con
sumo de massa. A estética de videoarte, por mais intencionalmente
VII li l 11\IUI 11
informal que possa ser, exige um ponto de J rlldu nil í111 lc11, 11111
parte dos videoartistas, semelhante ao do empr ' ' 11 llnwnlo 1•1111111
coem geral. O vídeo, como forma de arte, deve ser d isl inguldo tl1 H
usos de vídeo, mesmo os executados de modo artís ti co, l' l11 d1w11
mentários, notícias e outros campos significativos, ou s jn, nd11 11111
dos. "Arte" e "artístico" são termos distintos, embora ligados, q111•
existem para nos ajudar a diferenciar entre o que pode, ou niio, r11•1
considerado arte. Técnicas artísticas podem dar vida à televisão L'O
mercial, propaganda etc., mas não são, em si mesmas, o que nor
malmente chamaríamos de arte. A arte está na intenção do arliSlii :
fazer ou conceber algo sem a limitação de algum outro objetivo. Â
intenção dos videógrafos ativistas, por mais artística que foss sun
execução, não era criar um momento de expressão pessoal qual
quer que fosse sua aplicação prática (aqui, uma alternativa para a
reportagem tradicional).
Certamente isto não quer dizer que a única análise histórica le
gítima de videoarte deva começar com aqueles artistas oriundos d
meios de expressão mais tradicionais, como a pintura ou a música,
e que incorporaram o vídeo a uma cultura artística essencialmen te
pictórica. Mas precisamos reêonhecer, como destaca John Ha
nhardt, curador do Museu Guggenheirn em Nova York, que é a cul
tura museológica conservadora que se tornou a fonte corroborante
máxima para todas as obras de arte . Os artistas reconhecidos por
esse sistema, na maioria das vezes, vieram de meios de expressão
estabelecidos: a pintura e a escultura.
Paik, que estudou estética e música no Japão nos anos 50, é cla
ramente representativo do videoartista, ao contrário do ativista ou
repórter. Nascido na Coréia, mudou-se para Nova York em 1964
(vindo da Alemanha, onde fora estudante) especificamente, como
ele diz, por causa de John Cage, cujo trabalho experimentai em
música e performance causou enorme impacto sobre muitos artis-
tas jovens na época. Enquanto vivia na Alemanha Ocidental, co
nheceu Cage e outros artistas do Fluxus e participou do que ele
considerou o primeiro festival Fluxus, o Fluxus Intemational Festival
of Very New Music, realizado no auditório do Stãdtisches Museum
em Wiesbaden. No festival, Paik"encenou"um"roteiro" do compo-
sitor LaMonte Young que consistia inteiramente na instrução: "De
senhe uma linha reta e siga-a."Paik mergulhou a cabeça, as mãos HII, HI
e a gravata em um recipiente com tinta e suco de tomate, e, com
eles, produziu um rastro sobre uma tira comprida de papel, colocado
na horizontal. Posteriormente, retomou a esta linha reta única 111
seu Video Buddha em 1968, que apresenta o Buda sentado diant dt•
uma tela de TV, na qual aparece apenas uma linha horizontal pl'l' ln,
Para Paik e outros praticantes do início da videoarte, in luHiVl'
Dan Graham, Bruce Nauman, Joan Jonas e John Bald ssari, íol 11
capacidade de transmissão instantânea da i1nage111 pel ví il'O q111•
mais os atraiu, além de seu preço rela tivam 'nt a ssív L l\11'11 •11
78 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
ses artistas, todos eles preocupados com temas referentes ao tem
po (e, freqü entemente, também à memória), a espontaneidade e a
instantaneidade do vídeo foram cruciais. O vídeo registrava e re
velava o tempo instantâneo, ao passo que o filme tinha que ser
tratado e processado. Segundo Graham, "o vídeo devolve dados
originais ao ambiente imediato, em tempo presente .. º filme é
contemplativo e 'distante', afas ta o observador da realidade pre
sente e faz dele um espec tador". Além disso, à medida que foram
formulados meca nismos de projeção múltipla, especialmente por
Paik, foi possível rep1·esentar a percepção quase sempre caótica e
aleatória de várias imagens competindo constantemente por nos
sa atenção.
O vídeo também proporcionou uma sensação de intimidade
gera lmente im pere ptível no filme. Nas mãos de artistas como Vito
Acconci e Bruce Naurna:n, que literalmente viravam a câmera para
si mesmos em situações fabricadas (Acconci) ou no estúdio (Nau
man, Howard Fried) , vídeo tornou-se uma extensão do gesto ar
tístico há tanto tempo associado à pintura, e principalmente aos
expressionistas abstratos, que nfatizaram o próprio ato físico de
11 (pl'ig ina ao lado, esquerda)
l l 11 11 l11 ne Paik, Zen for Head
1 11 11 p.ira a cabeça], 1962.
1 (p,\q ina ao lado, direita)
11111 1 lt lllC Paik apresentando
11111111':/tion 1960 #10
1 ,,11q imiçao 1960 n? 10] de La
11111111 Young para Bob Morris
li li II ti 11 \Cu Zen for Head nos
1111 11 111 /crnationale Festspiele
1 111 1111 Musik [Festiva is
,111, 11 1111 kmais do Fluxus de
111 11 l l{lf nte], Wiesbaden,
1111111! ,1, 1962.
1,l11 11llil) Nam June Paik,
1 1111 , 11 d TV na galeria
111 1 , 11111 Wuppertal , 1963.
l11il111 11 1lrn nas telas de TV
1 1 1lf 11 1IINia, na verdade, a
11 11 l1 ,1 lt 11 ilgcm a aparecer
1111111110 ,1parelho de
1 11 110 fina l dos anos 30.
VlltJ11 111
pintar. Com o vídeo, era possível gravar o gt'~l11 d() 11 1!!11 1111• 1tl 111 1
var seu corpo no ato da criação.
Na época em que comprou sua Portapak, l'nik j11 t•11 l11 v1 11•11 v1 ti
vido com o uso da televisão em sua arte. Em 19/,,, 11li 1
uma caixa de madeira atrás de uma tela branca. "Declara -se que ()
aparelho de TV é a escultura d9 século XX", disse ele na época dn l'X
83. Nam June Paik, Zen for TV
[Zen para TV], 1963-75.
80 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
posição, parecendo tão confiante quanto Paik havia sido sobre a mor
te da tela de pintura. Seu entusiasmo inicial proporcionou um ponto
de convergência para a nova arte eletrônica.Vostell e Paik recolocaram
o monitor em outro contexto, inaugurando assim uma nova maneira
de ver a pequena tela divorciada do local usual, comercial, dentro dos
lares. Agora que a televisão estava liberada, por assim dizer, do con
trole dos produtores comerciais, os artistas podiam analisar o que co
locariam nela para substituir a maioria do conteúdo comercial.
Uma atitude crítica em relação à televisão dominou a videoar
te desde sua origem até meados dos anos 80. Como os artistas de
filmes do Fluxus antes deles, os videoartistas encarregaram-se de
comentar, freqüentemente no tom irônico do pós-modernismo, as
guerras culturais em torno da televisão e sua prevalência no am
biente doméstico do século XX. Television Delivers People [A televi
são liberta] (1973), de Richard Serra (1939-), apresenta um texto
criticando a televisão como entretenimento comercial. Para enfati
zar sua crítica cultural, Serra usa uma trilha sonora de musak, uma
música híbrida e insípida tocada em elevadores e shopping centers
no mundo todo. Em uma série de teipes do início dos anos 70, en
tre os quais Studies in Black and White Videotape [Estudos em video
teipe em preto-e- branco) (1971), Talk-Out (1972) e Street Sentences
11•1 Wolf Vostell, TV De-coll!age
N11. t, 1958.
VIDEOARTE 81
[Sentenças de rua) (1972), o artista e crítico americano Douglas
Davis (1933-) aproveitou sugestões recebidas sobre o uso do tem
po e do espaço pela televisão, ao romper a"quarta parede" e abor
dar diretamente o espectador. Como Acconci, ele desmascara a su
posta intimidade deste meio de comunicação de massa e o revela
como o dispositivo de distanciamento que de fato é. Taka Iimura
(1937-) lutou com a natureza ilusória da linguagem e da imagem
filmada em seus vídeos, do início dos anos 70, que alteram a per
cepção. Em Double Portrait [Retrato duplo] (1973), retardando are
produção de áudio e invertendo a de imagem, Iimura expõe a"rea
lidade" questionável das imagens eletrônicas.
Os efeitos entorpecentes dos comerciais de televisão são entre
meados com imagens de guerra perturbadoras em Das Softiband [O
teipe Softi] do artista alemão Klaus vom Bruch (1952-). Repetições
aparentemente intermináveis de um comercial de lenços faciais
enfatizam o poder da televisão para banalizar até mesmo os even
tos mais pungentes, enquanto filmes de guerra de arquivos compe
tem, com o comerci al, pa ra conquistar a atenção do espectador.
Críticas culturais e de meios"de comunicação de massa chegam
a uma síntese kafkiana nos vídeos do artista japonês Mako ldernit
su (1940-) sobre membros de uma família que são torturados e
/
Abaixo, em sentido horário a
partir do canto superior
esquerdo:
85. Douglas Davis, Video against
Video [Vídeo contra vídeo],
1972.
86. Douglas Davis, Street
Sentences [Sentenças de rua ],
1972.
87 . Douglas Davis, Talk Out,
1972.
88. Douglas Davis, Studies in
8/ack and Wh ite Videotape
[Estudos em videoteipe em
preto-e-branco], 1971.
82 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
nunca conseguem escapar ao olho vigilante da mãe porque ela está
sempre espreitando-os por meio de um monitor de televisão, aon
de quer que vão. Idemitsu expressa a natureza rígida da vida japo
nesa por meio de novelas de televisão melodramáticas que passam
continuamente no fundo de suas narrativas psicológicas como HI
DEO, It's Me, Mama [HIDEO, sou eu, a mamãe] (1983) e na trilogia
Great Mother [Grande Mãe] (1983-84).
Além de criticar a televisão, vários dos primeiros videoartistas
adotaram a tecnologia da câmera e criaram meios de expressão
inovadores que eram tanto usados por outros artistas, quanto co
mumente usurpados pela propaganda e pelos meios de comunica
ção de massa convencionais. O americano Ed Emshwiller (1925-
90), pintor expressionista abstrato, cineasta e professor, analisou as
apacidades de sintetizadores de vídeo e sistemas computadoriza
dos com suas próprias estratégias eletrônicas e artísticas originais.
Em Scape-mates [Companheiros de fuga] (1972), Emshwiller uti li
zou uma forma de animação computadorizada que resultou em
uma dança quase psicodélica de elementos abstratos e figurativos.
Anteriormente, naquele mesmo ano, ele pegou seus próprios dese
nhos em preto-e-branco e, com a ass istência de engenheiros da
Dolphin, uma das primeiras corporações envolvidas em imagem
computadorizada nos Estados Unidos, criou Thermogenesis [Termo-
, li Mako ldemitsu, HIDEO, lt's
~ /11, Mama [HIDEO, sou eu, a
1111 1111 e], 1983. Mais de quinze
111111 à frente do famoso f ilme
//111 11 n, no qual a vida do
111 111onagem principal é filmada
1 li 1p rcebidamente e projetada
1111 1parelhos de TV em todo o
1111111clo; Mako ldemitsu criou um
p111 11onagem chamado Hideo,
1p 11 1 é constantemente
1111•1( rvado e julgado pe la mãe, a
ljllilÍ parece em telas de vídeo
111111 quer que ele esteja.
VIDEOARTE 83
gênese], uma obra em vídeo que dança com imagens em um am
biente sonoro feito com um sintetizador acústico Moog em colabo
ração com o próprio Robert Moog.
Dan Sandin, cujo interesse pelo vídeo nasceu do seu envolvi
mento com protestos estudantis no final dos anos 60, desenvolveu
o Processador de imagens em 1973. O PI, como é chamado, é um
computador analógico para a manipulação de imagens de vídeo.
Em seu Spiral PTL, Sandin usa o PI para mover uma espiral linear
fei ta de pontos em ritmo musical, com o acompanhamento de uma
trilha sonora composta de barulho de água corrente e zumbidos
eletrônicos. Em um espírito decididamente abstrato, o artista ame
ricano Keith Sonnier (1941 -) usou uma versão precoce de um scan
ner computadorizado, o Scanimate, para criar colagens de diversas
imagens sensuais. Painted Foot: Black Light [Pé pintado: luz negra]
(1970) e Calor Wipe (1973) mostram intensa experimentação formal
com luz e cor.Animation II [Animação II] (1974) é uma gravação de 91
formas e cores abstratas que servem como metáforas para as pro
priedades de tinta e pinturas.
O casal Steina e Woody Vasulka, que imigrou para os Estados
Unidos em 1965 (ela nascida na Islândia em 1940 e ele na Checoslo
váquia em 1937), também se sobressai entre os primeiros inovadores
tecnológicos de videoarte. Tomando as rédeas da televisão comercial,
90. Ed Emshwi ller,
Thermogenesis [Termogênese],
1972.
91. Keith Sonnier, Animation li
[Animação li ]. 1974.
eles se propuseram a aprimorar a tecnologia de vídeo, criando meca
nismos, para artistas, sobretudo nos campos de processamento digital
e eletrêmico de imagens. Ao manter a antiga prática artística da explo
ração Constante das ferramentas de seu meio de expressão, o casalVa
sulka Cjemonstrou possuir paixão pelo entendimento do funciona
mento interno do vídeo: energia elétrica organizada sob a forma de
voltagl':>ns e freqüências em um evento temporal.
Cc:imo pintores envolvidos com os conteúdos de sua paleta, es
ses inc:ivadores investigaram o vídeo da mesma maneira que os co
loristas ou artistas abstratos fizeram com a pintura. Distinguindo
se do~ engenheiros elétricos da televisão comercial, eles estavam
, ,l11l11a e Woody Vasu lka,
,./1/1111 Vi yage, 1973.
VII >l ( li\1111 li
interessados no funcionamento artístico dos rn eca ni. ·111[Lar] (1973), na qual o casa l in orpor:1 :1 1 I is
ticamente técnicas de colorização e imagem eletrôn ica pora gl,11 1111
rizar objetos cotidianos, e Golden Voyage [Viagem dourada 1 ( 197:1),
uma homenagem a Magritte, com vários níveis, eles inv nl an111
novos meios de manipulação eletrônica que alteraram a per pçflo
dos espectadores, como o Pontilhismo e o Impressionismo íizernm
na pintura um século antes. Vocabulary [Vocabulário] (1973-74) rc
sultou de suas experiências com a manipulação digi tal de irn ag •ns
que lembram muito as imagens computadorizadas e flutuantes dos
dias de hoje, vistas em toda parte, em telas de computadores e na
televisão. Usando a imagem de uma mão filmada em cl ose-u1
como metáfora para a criação artística, os artistas produzem urna
escultura eletrônica da qual a luz emerge e pela qual outros obje
tos são moldados e impregnados com vida própria.
Nam June Pai.k, que influe11ciou praticamente toda a videoart ,
contribuiu com uma das primeiras tecnologias inovadoras com seu
sintetizador Pai.k/Abe, um mecanismo para colorização e manipula
ção de imagens, desenvolvido com o engenheiro eletrônico Shuya
Abe. Suite 212 [Suíte 212] (1975, reeditado em 1977) é o caderno pes
soal de Pai.k sobre Nova York. Basicamente urna colagem elctrônicn
monumental de imagens alteradas, acentuadas por cores es tontean
tes, esta obra abriu espaço para as investigações posteriores de l"aik
sobre imagens e cultura, cujo exemplo clássico é Butterfly [Borbole 111,
ta] (1986), um amálgama vibrante de música e colagem de imagens.
1 1
86 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Vários artistas, seguindo os passos de Paik e do casal Vasulka,
incorporaram tecnologia sofisticada às suas críticas de tecnologia.
MaxA!my (1948-), um artista de Los Angeles, usa animação com
putadorizada e efeitos digitais em suas interpretações pós-moder
nas de um mundo desumanizado pela tecnologia. Em Leaving the
20th Century [Deixando o século XX] (1982), Almy cria uma paisa
gem futurista, na qual as relações humanas e as tentativas de co
municação fracassam completamente. Neste experimento do início
da videoar.te computadorizada, a viagem no tempo é realizada por
meio do chip de computador.
A televisão também beneficiou os artistas. As estações públicas
de televisão nos Estados Unidos e na Europa fomentaram a experi
mentação, permitindo o acesso a estúdios bem equipados. Come
çando no final dos anos 60, a estação pública de televisão de Boston,
WGBH, com recursos da Fundação Rockefeller, produziu a New Te
levision Workshop sob a liderança de Fred Barzyk. Em 1969, seis ar
tistas (Nam June Paik, Allan Kaprow, Otto Piene, James Seawright,
Thomas Tadlock e Aldo Tambellini) fizeram vídeos usando equipa
mentos da WGBH para um programa chamado"The Medium is thc
Medium" [O meio é o meio], transmitido em todo o país. Essa foi a
divulgação mais ampla que a nova prática de videoarte já recebeu.
Robert Zagone, trabalhando na estação de televisão pública
KQED em São Francisco, criou a desintegração misteriosa de for
mas abstratas por meio de técnicas de feedback com várias câme
ras em Videospace (1968). Além disso, reproduziu um estado onírico
no teipe, de diversos níveis, de um dançarino, Untitled [Sem título]
(1968), que parece uma versão atualizada e animada de um cronó
grafo de Muybridge . Os artistas suecos Ture Sji:ilander, Lars Weck e
Bengt Modin produziram Monument [Monumento] (1967), um
programa para a televisão experimental que combinava filmes pré
gravados, slides e videoteipes em um processo que distorcia ima
gens durante a transmissão da imagem, do teipe para a televisão.
Depois de vê-las pela primeira vez, o historiador Gene Youngblood
disse: "Vemos os Beatles, Charlie Chaplin, Picasso, Mona Lisa, o rei
da Suécia e outras figuras famosas deformadas por um tipo ti l'
doença eletrônica insana."
TeleTapes (1981), de Peter d'Agostino (1945-), produzido pelo
influente Laboratório de Televisão da Estação Pública de Televis5o
de Nova York, WNET, incorpora jogos de cartas, truques e uma a111
pia variedade de efeitos televisivos, para confrontar o espectado1
com a" realidade experiencial" e a" realidade televisual" .
Vídeo conceituai
Algumas outras investigações iniciais em videoarte vieram d1 1
artistas que já praticavam suas próprias formas de arte conccitu.il 11
minimalista, misturadas à forte influência da arte performci lirn
11 1111de práticas de fotografia, filme, ví
deo, realidade virtual e muito mais, entre outras) direcionou a arte
para áreas outrora dominadas por engenheiros e técnicos.
Curiosamente, embora a nova tecnologia envolva uma grande
quantidade de máquinas, cabos e densos componentes físicos e
matemáticos, a arte nascida do casamento entre arte e tecnologia
talvez seja a mais efêmera de todas: a arte temporal. Diz-se que uma
fotografia capta e preserva um momento do tempo; uma imagem
criada no computador não reside em nenhum lugar ou tempo. Ima
gens, digitalizadas no computador, depois editadas, montadas, apa
gadas ou embaralhadas, dão a impressão de levar a um colapso as
fronteiras normais de passado, presente e futuro.
De todos os novos materiais e meios de expressão introduzidos
na arte neste século, este livro investigará as tendências dominan
tes em meios de comunicação de massa e performance, videoarte,
arte digital e videoinstalação, inclusive manipulações fotográficas,
realidade virtual e outras formas interativas. Artistas que empre
gam estes novos meios de expressão, não se intimidando com a
mudança tecnológica, vêem-se como parte dessa mudança e que
rem participar dela. Entusiasmam-se com as possibilidades da tec
nologia, sem deixar que ela os aliene. O filme e a televisão infor
maram sua experiência cotidiana, mas, ao contrário dos que buscam
usos comerciais para tecnologias, esses artistas procuram fazer de
clarações pessoais sem levar em con_sideração o valor comercial do
11 I I IMne-Jules Marey, Gymnast
/11 1111 1/ng o ver a Chair [Ginasta
i1 1,1mlo sobre uma cadeira],
1111 L
que fazem. Como outros artistas que trabalham com tinta, ma lei
ra ou aço, estes exploram, e quase sempre subvertem, tanto o po
tencial crítico quanto o tecnológico dos novos meios de expressão.
O fato de que os avanços tecnológicos originaram-se de algun d s
artistas que investigaram os usos de meios de comunicação 1
massa em sua obra é, em si, um subproduto interessante.
Embora o uso de novos meios de expressão em arte tenha real
mente sua história, não é fáciYtraçá-la. Ela ainda tem de ser escri
ta, principalmente porque está em constante desenvolvimento. Ist
não significa que não possamos tentar resgatar uma história ou, ao
menos, uma síntese de suas diversas abordagens; pois é dever da
história da arte sugerir conexões e apontar o caminho para a com
preensão histórica, mesmo dentro das fronteiras do que seria uma
descrição geral limitada.
A maneira mais simples de delinear a história de novos meios
de expressão na arte seria traçar o desenvolvimento da própria tec
nologia (por exemplo, de Marey e Muybridge em fotografia, a Ed i
son e os irmãos Lumiere no cinema, e assim por diante), mas en tão
tudo o que teríamos seria uma cronologia semelhante àquela ded i
cada ao desenvolvimento da aviação. Embora certos artistas e movi
mentos de grande importância na arte do século XX se apresentem
como precursores de artistas que trabalham com meios tecnológicos
de expressão (por exemplo, que ramo de arte contemporânea não
citaria Marcel Duchamp como predecessor?), com esta arte é im
possível qualquer narrativa linear simples. Além de ainda esta rm s
no meio da história, ela própria começou e continua com atividades
simultâneas entre vários tipos de artistas em lugares distin tos no
mundo. Por essas razões, uma abordagem temática parec mnis
adequada do que uma abordagem estritamente cronológica.
Arte temporal
A partir da metade do século, como disse a críti a · curndrn 11
Anne-Marie Duguet, "o tempo surgiu não apcnns ' Omo l l'l l l l 11•
corrente, mas também como parâm tro consl iluin l ' dn p111pil,
6. Eadweard Muybridge,
Descending Stairs and Turning
Around [Descendo a escada e
virando-se) da série Animal
Locomotion [Locomoção an imal],
1884-85.
7. Eadweard Muybridge,
La Nature: Studies in Animal
Locomotion [A natureza: estudos
de locomoçáo animal]. 1878.
6 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
natureza de uma obra de arte" . Com o aparecimento de perfor
mances, eventos, Happenings, instalações, depois vídeos, a tempo
ralidade da forma artística passou a ser central. Atualmente, a arte
interativa computadorizada proporciona e requer uma suspensão
do tempo, enquanto o observador celebra um contrato com a má
quina que inicia e sustenta a ação artística.
A história da arte com meios de comunicação de massa do final
do século XX está inextricavelmente ligada ao desenvolvimento da
fotografia no decorrer do século. ~nemória, tanto pessoais
quanto históricos, são a substância da fotografia e, com a imagem
fixa e animada, artistas e amadores passaram a adotar uma nova
maneira de visualizar o tempo. A representação envolve claramen
te o es12aço (o espaço ocupado pelo objeto representado e o espaço
c[a própria pintura ou escultura; a disposição da imagem etc.). O
tempo, todavia, é menos óbvio, e é aí que a revolução criada pela fo
tografia e sua prima agora maior, a fotografia animada - o filme -
assume seu lugar de importância. Com a fotografia, os seres hu
manos começaram a participar da manipulação do tempo em si:
capturando-o, reconfigurando-o e criando variações com intervalos
de tempo, avanço rápido, câmara lenta, e todas aquelas outras frases
relacionadas ao tempo, próprias da arte e da ciência da fotografia.
O filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) influenciou for
temente a preocupação deste século com o tempo entre artistas de
todos os tipos: fotógrafos, pintores, escritores, coreógrafos, videó
grafos. Bergson colocou o tempo no centro da metafísica; para ele,
a realidade consistia em fluxo, essencialmente o movimento do
tempo. "A essência do tempo é o fato de ele passar", escreveu em
seu livro bastante influente, Matéria e memória (1896)."0 que cha
mo de 'meu presente' tem um pé em meu passado e outro no fu
turo."Essas idéias foram adotadas por artistas e críticos, e em todo
o mundo ocidental até mesmo revistas populares discutiam as
idéias de Bergson sobre tempo porque abordavam a fome univer
sal de entendimento. Para os artistas, que sempre foram fascinados
com o corpo no espaço e no tempo, ele tornou -se a musa que
defendia a interação entre intuição e percepção. Ironicamente, em -
bora suas idéias fossem importantes para os artistas, Bergson des
prezava a introdução de tecnologia nas artes, acreditando que a
percepção pura permitida pela intuição, sem a ajuda de máquinas,
era o que importava.
Desde os primórdios da fotografia, contudo, arte e tecnologia
coexistiram em um vínculo essencial que beneficiou ambas por
mais de cem anos. Etienne-Jules Marey (1830-1904), cientista e
médico cuja permanência no College de France seguiu-se à de
Bergson no início da década de 1900, e Eadweard Muybridge
(1830-1904), artista, foram os pioneiros da fotografia instantânea,
ou"cronofotografia", que teve efeito profundo sobre artistas, desde
os futuristas, sobretudo Giacomo Baila, a Marcel Duchamp, Kurt
8. Giacomo Baila, Dynamism of a
Dog on a Leash [Dinamismo de
um cão em uma coleira]. 1912.
Bai la cria a ilusão de movimento
por meio de uma série de
minúsculas diagonais radiantes.
8 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Schwitters e cineastas de vanguarda de meados do século como
Hollis Frampton e Stan Brakhage. Seurat, Degas e muitos outros
artistas também eram dotados de habilidade com a máquina foto
gráfica para captar movimento sucessivo em fotogramas, mas seu
interesse não era diretamente visível em suas telas. Artistas como os
futuristas, que propunham uma ~ética Jnecanicista, adotaram a
tecnologia fotográfica e aplicaram-na à pintura. Em meados do sé
culo, como veremos, foram os avanços tecnológicos em filme e ví
deo que f9ram adotados por artistas para criar o que hoje conhece
mos como arte multimídia.
As fotografias de cavalos em movimento feitas por Muybridge
em 1878 foram as primeiras a captar o que parecia ser a seqüência
real e discreta de_movimento. Muybridge concebeuperformances narcisistas de Acconci em vídeo são o realce perfeito
para os obcecados por celebridades, cujos hábitos são alimentados
pela televisão s n acionalista.
Se Acconci reve lou a falsa intimidade da imagem televisual a
partir de uma p rspectiva masculina, nos anos 70 várias artistas
chamaram a atençã para a representação de mulheres, comum em
televisã , film s p rnografia . Um grito de batalha comumente
ouvid ," t ma pessoa l ' político", resultou na abertura mais am
pla d di urs artístico para incluir perspectivas femininas. Ques
t- s d g' n 1· , s xualidade (homossexual e heterossexual) e o pa
p I d s rnu lh r na arte e na sociedade tomaram conta da arte.
Joan J nas (1 9 6-) é conhecida por suas performances, e o
grand v lum d suas bras em vídeo vem definir a complexidad
d 111 i I xpr são. Vertical Rol/ [Faixa vertical] (1972), que se
r fer a um sinal letr " nico interrompido que faz com que a ima
ge m t J visual fiqu r !ando incessantemente, utiliza o poder da
r p tição, tantas vez s vista em coreografia e na escultura minima
lista, para fragmentar e desorientar as percepções do corpo femin i
no. Enquanto Jonas é filmada, ora corno dançarina de dança do
ventre, ora como estrela de cinema dos anos 30, sua imagem é in
terrompida pela incessante rolagem eletrônica. O tempo todo eln
bate uma colher contra o que parece ser a frente da câmera, umo
metáfora simples para a vida doméstica, com o fim de desorientar
ainda mais o espectador e transmitir a fúria que ela sente.
111 1 (nbaixo) Joan Jonas,
• 11,1,111 /c Honey's Vertical Rol/
li 11 11 vertical de Organic Honey],
1 · 1 /J Copyright © 1976,
1 1111•1 Ir Mangolte, todos os
ll11 ll11~ de reprodução
' r IVIKlos.
'11' ( li rei ta) Joan Jonas, Organic
1 •111 V'I Vertical Rol/ [Fa ixa
11 11 ,11 ele Organic Honey],
' 1 ' 1 lonas, como Acconci
11 111i ltl a relação entre o '
111 r l,11lor e a imagem televisual
, ,11 1!1indir qualquer sentido
111 11p •ctiva por meio do uso
i l 1111, espe lhos.
VIDLOAI( 11
De um modo mais excêntrico, em Left Side, Right Side [Lni/1, ""
querdo, lado direito] (1972), Jonas apresenta truques com n 1, 11111,
ra e um e_spelho, para confundir ainda mais a percepção de csq11 ,,1
da e d1Ie1ta quando se olha urna imagem invertida. Jonas x111 ,,1,1,1
este ~!lema, repetindo ,~ te1;1po todo: "Este é meu lado esq ul' id11,
e~te e meu, lado dJieito , ate que o espectador não consegul' 11 111 111
dizer qual e realmente seu lado esquerdo ou direito. Como Arei 111
c1, ela transforma o meio de expressão em si mesmo, confundi,ido
a perspectiva_ convencional e criando, ao mesmo tempo, uma pnl
sagem fem1rnsta, pessoal e surpreendente, ao usar o próprio coi po
de _uma forma que o corpo da mulher era raramente visto nmi
meios de comunicação de massa convencionais. "Trabalhar com vi
deo", diz ela, "_permitiu que eu desenvolvesse minha própria li n
guagem, uma lmguagem poética. O vídeo foi algo para eu escalar l'
explorar como elemento espacial e comigo dentro dele."
111
103. (aba ixo) Joan Jonas, Left
Side, Right Side [Lado esquerdo,
lado direito], 1972. Jonas, como
Acconci, perturba a relação entre
o espectador e a imagem
televisual ao confundir qualquer
senso de perspectiva com o uso
de vários espelhos. "Desde o
início", diz ela, "o espelho me
ofereceu uma metáfora para
minhas investigações, bem como
um mecanismo pa ra alterar o
espaço ... e refletir o público,
trazendo-o para dentro do
espaço."
104. (página ao lado, acima)
Hannah Wilke, Gestures
[Gestos], 1973. O que, a
princípio, parece um comercial
de cosmético transforma-se em
sátira grotesca da imagem
feminina idea lizada .
92 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
A artista alemã Hannah Wilke (1940-1993) também trabalhou
a dinâmica da artista e seu corpo em relação aos retratos convcn
cionais de mulheres, como em Gestures [Gestos] (1973) . Nesta ob1 o1
ela dá um close-up em seu rosto e passa a realizar gestos sexuJI
mente sugestivos com os dedos e a língua. Aos poucos, eles se to1
nam grotescos conforme ela distorce o rosto, desmistificando assi11 1
o corpo feminino como mostrado na tela. De modo semelhante, 11
artista americana Lynda Benglis (1941-) em Now [Agora] (197:1)
projetou irpagens pré-filmadas de si mesma, com close-up da fan ·,
e representou em tempo real para a câmera, interagindo com s1111
própria imagem, explorando as possibilidades deste novo meio dl'
expressão, ao mesmo tempo que se envolvia em uma crítica de S\' ll
uso para degradar o corpo feminino.
Dara Bimbaum (1946-), em Technology Transformation: Wond,·1·
wornan [Transformação tecnológica: Mulher maravilha] (1978-79 ,
manipulou imagens de um programa de televisão americano fn
moso nos anos 70, Mulher maravilha, e contestou o mito da mullm
como amante e trabalhadora miraculosa, belamente esculpida. 1 '01
meio da edição minuciosa de imagens únicas, Birnbaum apresc nl 11
a Mulher maravilha girando e rodando em uma orgia de imagm 1
fragmentadas e repetidas que, literalmente, desmistificam o mil 11
televisivo convencional.
' 1 il 111lxo) Dara Birnbaum,
111, 1/, 1tJV Transformation:
11/, 11v,1111an [Transformação
11 11111 1h ,1: Mu lher maravi lha]
/li) lllrnbaum usa um
,1111 11111 1 f moso de TV e
11 l 11 11illo da "m ulher
'' 11111 "
VID EO/\H 11 O
Em levantamentos históricos da arte feminista com m ios dl '
comunicação de massa, a cubana Ana Mendieta (1948-86) quasv
sempre é desprezada. Durante sua graduação no Interrnedi.a 1 '
partment da Universidade de Iowa, Mendieta criou performan cs,
vídeos e filmes que expressavam as conexões viscerais que senti a
entre seu próprio corpo e a terra. Ela se apresentava para a câm t't
distorcendo o corpo, pressionando-o contra grandes painéis de vi
dro, ou despejando grandes quantidades de sangue de animais so
bre si mesma e imprimindo parte do corpo em papel ou em outras
superfícies. Em seu filme de 1974 Burial Pyramid [Pirâmide mor
tuária], filmado na paisagem desolada de El Yaagul, México, um
monte de pedras começa a se mover como se sacudido por um ter
remoto. À medida que as pedras se deslocam, Mendieta aparece
nua sob elas, deitada de costas, movendo-as com os movimentos
do corpo. Esses videoteipes com performances, iniciados em 1972,
estão reunidos na série Body Tracks [Trilhas corporais] (1974). 106
Contudo, explorações do corpo não se limitaram às artistas. As
explorações radicais do corpo-em-risco, feitas pelo americano Chris
Burden (1950-), subverteram quaisquer noções de"alta arte"no pro
cesso de trabalho artístico. O objetivo de suas performances era cho
car os espectadores com um novo relacionamento entre o artista e o
público, no qual o espectador é envolvido nas ações extremas do ar-
106. Ana Mendieta, Body Tracks
(8/ood Sign #2) [Trilhas corpora is
(Sina l de sangue n~ 2)], 1972-74.
Em muitas de suas performances,
Mandieta usava o corpo
ensangüentado como metáfora
espiritual para o sacrifício.
94 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
tista. Os primeiros vídeos e filmes de Burden eram documentações
de suas performances quase sempre chocantes, inclusive Shoot [Tiro)
(1971), na qual uma bala é atirada em seu braço, e Through the Night
Softly [Pela noite tranqüilamente) (1973), no qual, deitado de bruços,
as mãos amarradas às costas e trajando apenas um short, ele se ar
rasta por uma rua coberta por cacos de vidro. Em Icarus [Ícaro J
(1973), ele é filmado nu, deitado no chão do estúdio, diante de al
guns amigos convidados, que atuam como testemunhas/público, en
quanto ele, por pouco, escapa de se queimar quando as cortinas que
pendem acima e em torno dele pegam fogo . Corno sempre ocorre
com esses trabalhos de videoarte, o próprio Burden os narrou, dan
do a impressão de ser um jovem conceitualista arrojado. Sua voz não
deixa transparecer nenhuma ironia. Obviamente ele acreditava que
suas ações arriscadas revelavam conhecimentos psicológicos sobre a
relação de seu corpo com o mundoe com a arte.
Entre os primeiros artistas de videoarte que exploraram a iden
tidade espacial e pessoal por meio de performance em vídeo está
Peter Campus (1937-), cujo Dynamic Fie/d Series [Série dinâmica de
campo] (1971) apresenta o artista em seu estúdio envolvido em um
conjunto de proezas de resistência auto-impostas, como escala r
uma corda, enquanto a câmera o mostra de tantos ângulos dife
rentes que o espectador nunca sabe ao certo o que é real ou ima
ginário. Three Transitions [Três transições] (1973), de sua autoria, é
considerado um clássico. Usando o vídeo como metáfora para o eu
l 11 / , Chris Burden, Through the
N/11/11 Softly [Pela noite
l t1 1tlqüilamente], 1973. Burden
q111 111u sempre desafiava o
1111 li n so artístico ao usar o
1111 po como arte em situações
, 11 11111 s, por exemplo,
t 1 111/,indo sobre cacos de vidro
111 lovAndo um tiro no braço.
11111 /1 ter Campus, Dynamic
11 /1 / ',ories [Série dinâmica de
11 111111 1. 1971 .
externo e interno, Campus cria ilusões de transformação nas quais
aparece esfaqueando-se nas costas, apagando a superfície de se u
rosto ou escalando as próprias costas quebradas.
Bruce Nauman (1941-) também fez vídeos usando o próp rio
corpo: em Wall!Floor Positions [Posições na parede/no chão] (1 968), 1111/ 11
assum: poses esculturais na parede e no piso do estúdio. O espec
tador e convidado para um encontro voyeurístico com o artista ('111
s~u. espaço de trabalho, enquanto ele define o espaço físico do !'H
tud10,com o corpo. Várias dessas fitas, que são encenações lil l'f'11i H
dos titulos (Bouncing in the Comer no. 1, Revolving Upsidr D0w11
1
Stampzng zn the Studio [Pulando no canto n~ 1, Girand o de rn iw1; 1 11 1
para baixo, Sapateando no estúdio], todos de 1968), reve la m o 1'111
po como material escultural, conforme ele se d esloca p lo l'H i1í d l11
em diversas configurações. Esses teipes também r fl t n, 11 p1 ·11 1l, •1 1
96 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
comum, entre os primeiros videoartistas, de simplesmente deixar_ o
teipe correr até o final, rejeitando, assim, deliberadamente.ª-ed1ça.o
convencional. Foi apenas em 1975 que eqmpamentos de ed1çao mais
acessíveis surgiram no mercado. ,
Nauman é um bom exemplo do artista que se voltou,r.ara o ;1-
deo como apenas mais um meio de expressão de sua pratica arhs
tica. Para Nauman e outros de sua geração novos meios de expres
são eram constante e incansavelmente buscados para "descobnr
como fazer", como ele diz. Sem interesse em simplesmente reapre
sentar problemas tradicionais com a pintura (ele ,admiravaHuman Sleep [Sono
puramente humano], 1980, e Allegory of Oblivion [Alegoria do es
quecimento], 1981) refletiam seus interesses em semiótica e psica
nálise lacaniana, enfatizando certa intimidade entre linguagem e
imagem, o eu e o outro, real ou imaginário. Feingold usou símbo
los de linguagem para representar a existência pós-moderna como
um mundo" fragmentado pela filosofia, meios de comunicação dL'
massa e arte".
Investigações intelectuais de linguagem, som e imagem, pela~
quais o cineasta Jean-Luc Godard tinha grande preferência 1108
116, 117. Ken Feingold, duas
11 1nas de Purely Human Sleep
l ',ono puramente humano]
l 1JBO. Feingold revela med~s
Ili onscientes que se insinuam
11 11 1 nossas vidas por meio de
111lliciários, propagandas e
lnlovisão.
anos 60, também se refletem na obra de Robert Cahen (1945 -), um
dos V1?e~art1stas mais influentes da França. Sua afinidade com Go
dard e rntida. em. teipes como Juste /e Temps (1983) e Boulez-Repons
(1~85) · No pnmeiro, Cahen cria wna paisagem abstrata de imagens
mult1plas que aparecem e desaparecem pela janela do trem no qual
a protagonista está sentada. Em Boulez-Repons, Cahen aplica técni
cas de processamento eletrônico para envolver uma composição
musical de Pierre Boulez em imagens de água ce'u e ' o · , arvores.
s VIdeoartistas dos anos 80 e 90 voltaram sua atenção em gran
de parte, embora não exclusivamente, para narrativas pessoais qu
refletiam a ~usca de identidade (sobretudo cultural ou sexL1al) li
berdade política. Esses desenvolvimentos quase se111p1· xpreSSíl lll
11 8. Robert Cahen, Juste /e
Temps, 1983. Imagens de Cahen
quase sempre parecem pertencer
a filmes e não a vídeos, mas ele
consegue combinar a sensação
de profundidade texturizada do
filme com o imediatismo em
tempo rea l do vídeo.
100 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
realidades econômicas. Artistas da Europa ocidental, América do
Norte e alguns do Japão, vivendo em uma época de relativa paz ('
prosperidade econômica, da qual outros se sentem excluídos, procu
raram o vídeo para transmitir seu intenso desejo de obter igualdad1·
social pessoal (no caso de mulheres e minorias sexmis e rac~ais), 8()
passo que no leste (inclusive o Leste Europeu, o Onente Med10 e o
Oriente) a luta política permanece na linha de frente da preocupa
ção econômica e artística. Em parte por razões econômicas, mas cni
grande partra de brinquedo fabricada por Fisher-Price, Benning registra os
1 t (11clma, à esquerda) Bill
111111 I Oo Not Know What lt Is I
111 / /~1 1 [Não sei como sou].
1 1111, [l sde 1975, Viola
11111 11l1ou-se em rigorosa auto
" lt 11 por meio do vídeo. Aqui
1111 ,\11 fi lma a própria imagem
1111111 d uma coruja.
1 1 (111,q,1 rda) Cheryl Donegan,
11/ l ',1 1xo oral]. 1993.
l,11 lina) Sadie Benn ing, tf
1 11!, l t tad a Diary [Se toda
11 il I ilvl'~ e um diário]. 1990.
Ih li 1111lng, aos 16 anos de
1 li 111,ou uma câmera de
,1111111111 10 11ara fazer um
11 1111 11 1 li • ~cu despertar sexual.
sentimentos de uma jovem que chega à maturidade sexual, em tei-
pes corno A New Year [Um novo ano] (1989) , If Every Girl Had 11 121,
Diary [Se toda garota tivesse um diário] (1990) e Flat is Beautif11/
[Ter peito achatado é bonito] (1998). Living Inside [Vivendo encer
rada] (1989) registra o período de três semanas d e Benning quan -
do ela abandonou os estudos aos 16 anos de idade e se filmou no
quarto sozinha. A inocência e o patético se unem nesta história ela
adolescente sentindo-se urna estranha. As incongruências da vida
mais "adulta" são exploradas pelos teipes com performances le
Phyllis Baldino, nos quais ela constrói e destrói objetos cotidianos
diante de uma câmera que film a continuamente. Seu qt1 esti on;;i
menta da preocupação feminina estereotipada com a rnaqui agc111
é mostrado em Cosmetic!Not Cosmetic [Com cosm ético/Sem cosm0
tico] (1993-94), em que ela destrói uma caixa de maquiagcm 0111
uma furadeira elétrica, mesmo estando toda"maquiada" traj ,111
do uma combinação de cetim.
Já os videoartistas homens dos anos 90 parecem ter Sl'guid11
um caminho mais lírico em sua abordagem de questões ck id1•11\1
dade. Sua obra é menos furiosa, quase sempre exprcss.i ndo 1111
seios. O coreano Seoung Cho explora atividades dom ' si irnH, 111 1111
de forma reflexiva e criativa. Em seu teipe de 1996, ro/Ji1 n,1111 til 1111 • 1 11,
[robinson ou eu], a tividades rituais corno beber c há ou !modo que outros tipos de arte de instalação que ex
pandem o processo criativo para além do :stúdio até o espaço so
cial, a instalação com meios de comurncaçao de massa, segundo a
percepção de Gary Hill, é o reconhecimen~o do espaço ext:rno ao
monitor. De igual importância é o ponto ate onde a mstalaç~o apri
mora a exploração de" tempo", um conceito central para videom
VIDEOINSTALAÇ;\(J 111
tistas. Se o tempo pode ser manipulado de várias form as clcnl ro d11
vídeo single-channel, as possibilidades aumentam dramatica nwn 11•
em videoinstalações que utilizam diversos monitores ou supcrfídvH
de projeção, e quase sempre vários teipes, aumentando em gra ndv
número a quantidade de imagens.
Espaço escultural e vigilância
Videoinstalações com o uso de multimídia surgiram pra tica
mente ao mesmo tempo que a videoarte feita com vídeo single
channel, até mesmo um pouco antes. TV De-coll!ages do artista ale- H11
mão Wolf Vostell (iniciada em 1958), hoje seria considerada uma
instalação, consistindo sua composição em um grupo de aparelhos
de televisão que mostravam imagens distorcidas e estavam coloca
dos sobre móveis e mesas na vitrine de urna loja de departamentos
parisiense. Do mesmo modo que outras práticas do Fluxus naque-
le período, Vostell questionava tanto os materiais de arte quanto as
práticas culturais, neste caso a intrusão ubíqua da televisão na vida
cotidiana. Ao refletir sobre sua"obra, Vostell observou:
Marcel Duchamp declarou que os objetos manufaturados são arte,
e os futuristas apresentaram ruídos corno arte - é urna característi
ca importante de meus esforços e de meus colegas definir, como
arte, o evento total, compreendendo ruído/objeto/movimento/cor/
&psicologia - urna mistura de elementos para que a vida (homem)
possa ser arte.
Vostell declarou, assim, a base essencial do que posteriormente a
crítica americana Lucy Lippard denominou a " desmaterialização cio
objeto de arte": obra na qual a forma material é secundária às noções
ou idéias que estão por trás da arte. Arraigada nesta abordagem con
ceituai, e incorporando as práticas da performance, da arte corpo
ral e da arte acústica, bem corno outros aspectos do Fluxus, surgiu a
instalação multimídia, tanto como resposta à inclusão de idéias e
objetos diversos no domínio da arte, quanto como contestação às
instituições que dominavam os meios de comunicação de massa, so
bretudo a televisão e sua companheira, a publicidade. Este " evento
total" do qual falou Vostell, refletindo a influência da performance cm
videoarte, reconheceu que a arte ocorre em um contexto. Em pouco
tempo, o contexto transformou-se em conteúdo, enquanto efcilos
esculturais eram incorporados à apresentação de vídeo.
Abordagens esculturais eram e continuam sendo utilizadas po1
Nam June Paik para obter efeitos dramáticos. A exposição d J>nik
em 1963 em Wuppertal, na Galeria Parnass, continha a par lh os dl' 11'
televisão no piso da galeria, sobre os quais ele projetava im, g1•11:1
distorcidas, na tentativa de perturbar a complacência los l'S IWl'i ll
dores diante do aparelho de TV. "A TV nos atacou a vida Lodn", di 11
se Paik, "agora estamos contra-atacanclo l" A preo LI/ 01,'iio dl• l '1111
129. Nam June Paik, Electronic
Superhighway [Via expressa
eletrônica]. 1995. A reg ião
continental dos Estados Unidos é
formada por 313 TVs; o Alasca -
24 TVs; o Havaí - 1 TV por ilha.
Cinqüenta aparelhos de
reprodução de discos laser. 50
discos· laser, aproximadamente
60 amplificadores de distribu ição
de vídeo e 20 vent iladores, 1
f ilmadora, andaimes, " fronteiras
de estados" fabricadas em aço,
néon, sistema acústico de 200
watts. A via expressa de Paik é
perm eada pelos detritos da
cultura de meios de
omunicação de massa, mas
suas imagens ainda mostra m
ai rla de guerras e revoluções
cullL11ais.
112 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
com as imagens televisuais é visível em muitas de suas videoescul
turas, de Vídeo Jung/e [Selva de vídeo] (1977), em que aparelhos de
TV foram arrumados em n'ieio a uma flora selvagem, a Electronir
Superhighway: Bill Clinton Stole My Idea [Via expressa eletrônica:
Bill Clinton roubou minha idéia], sua obra maciça na Bienal de Ve
neza em 1993. Dúzias de monitores lotaram o pavilhão alemão do
piso ao teto, projetando um bombardeio de imagens do que pare
eia ser um banco de dados universal: do mundano ao político, de
cenas da natureza a explosões nucleares .
1 Ili Nam June Pa ik, Electronic
1// ll!fhighway [Via expressa
li li !'\nica]. 1993. Parte do
1 11,11090 de vídeo " de Paik
111,1!111.ildo para a exposição
111111 1,in le nacional The Electronic
1//IPthighway, que estreou no
l li1u1u de Arte em Fort
11111 l111dale, Flórida.
131. Shigeko Kubota.
Duchampiana: Nude Descending
tl Staircase [Nu descendo uma
r••,cndaria]. 1976. Participante
1illvn cio movimento artístico
l11lr111111 lon I Fluxus, Kubota
l111111111111q(li Marcel Duchamp e
1111111 r 11(11 , q,10 x reeram forte
1111111 111 l11 •1C1i11r1 s , rtisl s do
1111~11 .
114 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Shigeko Kubota (1937-), que participou do Fluxus com John
Cage, Paik e outros, criou uma grande série de obras, variando do
escultural ao estilo de diário (incluindo-se anotações em vídeo de
uma viagem pela Europa no início dos anos 70 (Europe on 1/2 Inch a
Day [Europa, 1/2 polegada por dia], 1972). Ela incorpora freqüentes
referências da história da arte, como em sua homenagem a Marcel
Duchamp, Nude Descending a Staircase (1976), onde a imagem de
uma mulher nua se move de tela em tela em uma série de monito
res configurados em escadaria. A influência de Paik também é óbvia
na obra do artista nova -iorquino Ray Rapp (1948-), cujas videoes
cultura imprevisíveis, que quase sempre incorporam vários apare
lhos de TV, referem -se a Marcel Duchamp, Richard Artschwager, Jo
seph Beuys, Mer t Oppenheim e outros. Em Fur Wrap [Invólucro de
1 li. . Ray Rapp, TV Furniture
l 1v1obllia de TV], 1997. Rapp dá
111 11 loq ue tecnológico às obras
11111rlcrnistas clássicas como
1 J/1/ocl [Objeto]. de Meret
1 11111 nheim, de 1936.
pele] (1997), vê-se o vídeo de um artista transpirando dentro de um
aparelho de TV desmontado, embrulhado em pele, uma alusão ao
Object [Objeto] (1936) de pele de Oppenheim.
Outras práticas anteriores de videoinstalação envolviam a parti
cipação do espectador, embora involuntária, por meio de câmeras de
vigilância. A primeira instalação de Les Levine, Slipcover (1966), na
Galeria de Arte de Toronto, mostrava aos espectadores imagens fil
madas de si mesmos em uma série de monitores. Nunca antes reali
zada, esta experiência foi, ao mesmo tempo, assustadora e empolgante.
Bruce Nauman que, como vimos, é outro dos primeiros videoartistas
a usar o vídeo single-channel, apresentou Video Conidor [Corredor de
vídeo] em 1968. Este recinto claustrofóbico consistia ein duas paredes
paralelas do chão ao teto fom1ando um túnel, com dois monitores,
um sobre o outro, ocupando uma das extremidades do espaço. O es
pectador caminha pelo corredor para ver os vídeos que, na verdade,
passam a ser cenas simultâneas de vigilância exercida sobre ele. O
impacto do vídeo depende do contexto de deslocame nto e até mes
mo do medo, criado pelas construções de alvenaria.
A crítica Margaret Morse, ao conhecer Video Corrídor, a primei
ra videoinstalação que tinha visto, escreveu:"Para mim foi como s
133. (acima) Bruce Nauman,
Performance Corridor [Corredor
para performance]. 1968-70.
134. (acima, à di reita) Bruce
Nauman, cena de Wa/k with
Contrapposto [Caminhada com
contraposto]. 1968.
135 . (d ireita) Dieter Froese, Nota
Model for Big Brother's Spy Cyc/e
[Não é um modelo para o ciclo
de espionagem do Big Brother]
(Unpraez ise Angaben), 1987.
meu corpo tivesse descolado de minha própria imagem, como se c1
base de minha orientação no espaço tivesse sido retirada de sob
meus pés ." No início dos anos 70, Nauman explorou a vigilânciaem vídeo em outras obras. Em Corridor Installation [Instalação no
corredor] (1970), uma série de paredes dividiu as Galerias Nicholas
Wilder em Los Angeles em seis corredores, dos quais apenas tr's
eram transitáveis. Visitantes tentando desvendar o labirinto eram
filmados, sempre de costas, por câmeras montadas na parte supc
rior das paredes, e as imagens eram projetadas em monitores exis
tentes em todas as passagens.
Peter Campus (1937-), que ao lado de Nauman e Acconci ro i
um influente videoartista da primeira geração, explorou aspectoH
psicológicos de percepção em instalações interativas como Negali
ve Crossing [Travessia negativa] (1974), na qual os visitantes sabia 111
que eram filmados executando ações diante de um espelho, quv
então eram projetadas em grandes telas.
A técnica de vigilância foi utilizada pelo alemão Dieter Frocsl'
(1937-) em Not a Model for Big Brother's Spy Cycle [Não é um modl'
lo para o ciclo de espionagem do Big Brother], 1987, onde o artis l11
combinou circuito fechado de televisão com um vídeo pré-gravado
em dois canais. Os espectadores eram filmad os quando entrava 111
na sala de instalação, os corpos projetados em monitores enquan l11
observavam outros sendo entrevistados sobre atividades políticas.
O interesse em vigilância surgiu não apenas de revelações púb ll
cas na imprensa sobre práticas reais de policiamento, mas tarnbr lll
da própria natureza da televisão, que parece estar observando cons
tantemente o espectador, mesmo quando este a observa. As insla l11
ções de "arte vigilante" confrontaram diretamente esta qualidnd1•
reflexiva da televisão e devolveram a responsabilidade de ver ao l'il
pectador, que se entrega a um relacionamento passivo com a tela d1 •
TV. As videoinstalações assumiram o papel ativo de energizar o l'fl
pectador para que reagisse ao objeto visto. Ao mostrar os próp1i1111
espectadores, os artistas engajavam-nos intencionalmente de fr>111111
136. David Goldenberg,
Microwave and Freezerstills
[Microondas e cenas
congeladas]. 1992. Câmeras de
vigilância, onipresentes na
cultura contemporânea (em
lojas, bancos, parq ues etc.),
surgi ram nas galerias de arte nos
anos 70, prenunciando o que
estava por vir
118 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
bastante direta, às vezes até o ponto de fúria ou choque. Ainda mais
importante, o espectador tornava-se um artista perforrnático, urna
maneira totalmente nova de assistir à televisão. Ao contrário das es
tratégias para performances em Happenings, em que os espectadores
iam ao evento esperando tornar-se parte dele, o espectador de uma
obra instalada no museu não suscita essa expectativa. A privacidade
de ver é invadida e, voluntariamente ou não, o espectador passa a ser
observado não apenas por si mesmo, mas também por outros.
Por ser um meio de expressão temporal (a gravação em tempo
real), a videoarte permite várias manipulações da experimentação
do tempo. Não há maneira mais imediata de sentir o tempo pre
sente do que quando nos vemos, subitamente, em um monitor no
meio de urna expos ição. O intervalo de tempo também pode pro
porcionar a xperiência imediata do tempo que acabou de passar,
por exemplo, quando a imagem anteriormente gravada do espec
tador aparece em um monitor e sua imagem atual, em outro. Em
urna exposição realizada em 1992 no London Museum of Installa
tion, David Goldenberg fez com que suas câmeras monitorassem
espectadores que podiam ver a própria imagem em salas espelha
das nas quais não lhes era permitido entrar. Passado, presente e fu
turo sofreram um colapso em um redemoinho de autoprojeções.
l 1n11 k Gillette em
1 il 1111,1~11o com Ira Schneider,
, i,1 /r•, 1969. Wipe Cycle
11 ,11 111111 sistema de circuito
11 1tl 11 d!' televisão que filmava
1 111 11 , d.i galeria, integrando-
' 11 11 1 , Informação vista nos
111111111,,
VIDEOINSTALAÇ/\.0 11
Explorar a política
Embora Doug Hall e Sally Jo Fifer, em seu livro Jlluminating Vi
deo (Vídeo iluminado] (1990), alertem que a videoarte contesta a
classificação de termos consagrados na história da arte, existem
tendências reconhecidas em videoinstalação. Intimamente ligadas
às primeiras instalações esculturais de Vostell e Paik estão as insta
lações de vários canais, com teor político, dos artistas americanos
Les Levine, Frank Gillette, e dos cineastas de documentários John
Reilly, Arthur Ginsberg e Skip Sweeney. ,
Como se respondendo ao crítico francês do final do seculo
XVIII, Saint-Simon, que instigava os artistas a se transformarem na
vanguarda da sensibilidade política, os artistas dos anos 60 e 70
reagiram à inquietação política de várias maneiras, entre _as quais
performances, eventos e instalações, fomentando a interaçao de fa
zer e ver a arte.
A instalação de Frank Gillette, Wipe Cycle (1969), produzida em
colaboração com Ira Schneider e apresentada na influente exposição
TV as a Creative Medium [TV corno meio criativo], na galeria Howard
Wise em Nova York, resultou dos experimentos de Gillette co::n feed
back e reprodução retardada de imagens. Integrando infonnaçoes gra
vadas anteriormente com uma alin1entação ao vivo da irnagem do es
pectadot~ Gillette contestou a maneira passiva tradicional de assistir à
televisão. "A função mais importante de Wipe Cycle", disse Sc~ne1der
ao crítico Gene Youngblood, "foi integrar o público às infonnaçoes. Foi
o sistema de feedback ao vivo que permitiu ao espectador ficar dentro
do ambiente para ver a si mesmo, não apenas agora, no tempo e no
espaço, mas também oito segundos e dezesseis segundos a trás;" Gil:
lette acrescentou: "Foi uma tentativa de demonstrar que o indiVJduo e
informação tanto quanto as manchetes de amanhã."
138. John Reilly e Stefan Moore,
cena de The lrish Tapes [Teipes
irlandeses], 1974.
139. Dara Birnbaum, PM
Magazine [Revista PMJ, 1982.
120 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Membros dos grupos de vídeo underground dos Estados Uni
dos, como TVTV e GlobalVillage, faziam instalações ocasionalmen
te como parte de seu trabalho com vídeo. John Reilly, um dos fun
dadores de Global Village, criou uma instalação de vários canais de
seu polêmico trabalho Irish Tapes [Teipes irlandeses] em 1974.
Bombardeando o espectador com imagens do conflito na Irlanda
do Norte, em várias telas, Reilly criou uma instalação vigorosa,
aprimorando seu objetivo de apresentar o maior número possível
de imagens çle suas centenas de horas de teipes não editados.
À med ida que o uso do vídeo em instalações aumentava, as dis
tinçõ s entre artistas e ativistas dissipavam-se, e muitos artistas en
gajavam-se em críticas da sociedade e dos meios de comunicação de
massa dentro do contexto de sua arte. Dara Birnbaum (1946-), que
co nqu is tou grande destaq ue com o vídeo single-channel anterior
mente mencionado Technology 'fransfonnation: Wonderwoman (1978- 111
1 li) , Dara Birnbaum, Rio
1 1i /11owa//, 1 989. Perspectiva da
111•,li1 lação de videowa/1 no
, 1111l cxto do espaço público, Rio
li11pping Entertainment
, 11111p lex, Atlanta, Geórgia, EUA
li11•, lo1lação permanente ao ar
11,111), A videoarte deixa as
11 i11 •rlas e chega ao espaço
11111illco com a obra de vários
1111111ltores de Birnbaum.
VIDEOIN 1/\1 /\C, i\() 1l 1
79), criou várias instalações que engajam a política da telcvis5o: 11M
Magazine [Revista PM] (1982-89), um ataque virtual de imag ns bn
nais, usurpadas dos meios de comunicação de massa; e a política
mundial, Tiananmen Square: Break-In Transmission [Praça Tiananmen:
plantão jornalístico] (1990), um breve exame do papel dos meios de
comunicação de massa nas revoltas estudantis amplamente divul ga
das na China em 1989. Birnbaum foi uma das primeiras a fazer "pa
redes" de vídeo (videowalls) à moda dos vendedores de aparelhos de
TV que os empilham uns sobre os outros para expô-los nas lojas. Seu
Rio Videowall (1989) instalado em um shopping center em Atlanta,
Geórgia, é uma videoinstalação permanente, ao ar livre, consistindoem 25 monitores. A enormidade estrutural de instalações como esta
confere novo peso à união entre escultura e arquitetura nos meios da
instalação. Além disso, a imagem de vídeo em movimento expande
a noção do campo da escultura, tornando-o mais fluido e ativo.
11 (1•1querda) Judith Barry/Brad
1 1,111 , Hard Ce/1, 1994.
,1 11lorcs de computador
, 11 t,1dos funcionam como
, 111l~mos de projeção para
11 , l 'ulS entre máquinas e seres
1111,1110s filmadas em vídeo.
1 ' t, 11 lma) Fabrizio Plessi,
11 , 1985. Sugerindo que a
,1, , ,1corre para todas as
, 1 , ,M mesmo para
1pi1 11,1•, , Fabrizio Plessi
111, 111p l,1 aqui o fim da
111,!1,ql,1.
111111 •,11guin tes:
111111 111 Barry/Brad Miskell,
, / 1 , ,/f, 1994 (deta lhe).
A função pública da arte e cl.os meios de comunicação de mas
sa foi submetida a um amplo escrutínio nas instalações da artista
americana Judith Barry (1954-). Oriunda do movimento femini sta
dos anos 70, Barry examinou ques tões de identidade feminina em
seus vídeos iniciais como Kaleidoscope [Caleidoscópio] (1979), no
qual personagens da família debatem a teoria feminista. Seu reper
tório de temas expandiu-se para incluir instalações de grande es
cala que abrangem todo o espectro de tecnologias modernas. Em
Hard Cell (1994), monitores de vídeo, projetores, computadores
descartados, um desfibrilador e outros detritos da era moderna
saem de um caixote corroído. Um verdadeiro túmulo, escavado em
um local para antigos aparelhos de televisão, foi fabricado pelo ita
liano Fabrizio Plessi (1940-) na Bienal de Veneza em 1986 em sua
instalação Bronx. Ele colocou 26 aparelhos de televisão de cabeça
para baixo em contêineres de metal enfe rrujado e enfiou pás nas
telas. As pás eram, por sua vez, refletidas em uma projeção de água
azul em cada um dos aparelhos. Plessi, para começar, vê a câmera
portátil simplesmente corno parte de sua prática artística, como n
tinta ou a madeira. "A TV é um material que o artista submete às
suas idéias poéticas", disse Plessi em relação à sua obra, sobretudo
a instalação Matria Prima (1989). "Um momento de descanso, Jt,
pensamento, um fóssil silencioso, no fim a tecnologia cessa. Sut1
forma não é diferente da forma no mármore." Development Pln11 lo
Build A/bania [Plano ele desenvolvimento para construir a AlbâniuJ
(1992), do artista americano Peter Fend (1950-), apresenta vú ri, 1H
monitores de vídeo com transmissões ao vivo, via satélite, ci o solo
da Albânia e partes da Iugoslávia . Fend considera suas instllli1 \'0t'H
como" estações de trabalho" para urna redistribu ição globa I dt' l li 1
der e recursos.
11·1, (esquerda) Willie Doherty,
11/ 1111~ de desolação deixados pela
q11111ra em sua Irlanda natal.
1 li ,, (abaixo) Fabrice Hybert,
111, l,r lcJção no pavilhão francês da
111,111,11 de Viena em 1997.
1 lyl 11•rt, outrora participante nos
llll1ll'S de Andy Warhol,
111 1111stituiu um estúdio de
11 l,•vls~o em uma instalação fei ta
1, 11, 1 uma performance.
VIDEOINSTALAÇÃO 127
A desordem política há tanto tempo existente na Irlanda do Nor
te é o tema das instalações do artista irlandês Willie Doherty At the
End of the Day [Ao final do dia] (1994) e Somewhere Else [Em algum
outro lugar] (1998). Doherty usa paredes inteiras para a projeção de
imagens de carros incendiados, estradas que não levam a lugar a l
gum, escuridão total e gravações repetitivas de frases como"Ao final
do dia não haverá volta", para ilustrar o lado patético da guerra.
Visando diretamente os meios de comunicação de massa con
temporâneos, temos o artista canadense Stan Douglas (1960-), cuja
instalação suave e tranqüila Evening [Noite] (1994), reencena o ri
tual da família assistindo ao noticiário noturno nos anos 60 e 70.
Usando imagens de arquivo do período como fundo, e atores/re
pórteres em primeiro plano, Douglas mostra os "âncoras" sorrindo
independentemente dos horrores (histórias da guerra do Vietnã, le
vantes inter-raciais) que possam estar relatando.
A onipresença das notícias transmitidas em rede, elevada a um
nível internacional sem precedentes pela Cable News Network
(CNN) de Ted Turner, que pode ser vista em praticamente todos os
países do mundo, torna a imagfm de um evento mundial (crianças
morrendo de fome na Somália; guerra no Iraque; a morte da prin -
cesa Diana) instantaneamente reconhecida no mundo todo. Mui
tos artistas internacionais refletem em suas videoinstalações essa
preocupação com a imagem da notícia. O artista francês Fabrice
Hybert criou todo um estúdio de transmissão completo, com mo
nitores, móveis, salas de controle e edição, na Bienal de Veneza de
1·
1
1
1,
1
1
147. Marcel Odenbach, Eine
Faust in der Tasche Machen
[Punho cerrado dentro do bolso],
1994. O uso de vá rios monitores
em uma instalação sugere um
ambiente escultural
artisticamente distante da
atmosfera de "sala de estar"
associada ao monitor individual.
148. Chantal Ackerman,
Bordering on Fiction: Chanta/
Ackerman's 'D'Est' [A beira da
ficção: "D'Est" de Chantal
Ackerman], 1993/1995.
Projeções em grandes telas que
se encontram em cantos ou se
cruzam em paredes tornaram-se
comuns em videoinstalações no
final dos anos 90.
1 11 I ~ 1 (aba ixo, da esquerda
1111,i ,1 direita)
1 l,11l11a Abramovic, Ba/kan
, 11, 1c1ue (Father) [Barroco
1111, ,1nico (Pai)], 1997.
11111 11a Abramovic, Ba/kan
' 11,1r1ue (Marina Abramovic),
l '1' 1/ ,
11,11111,1 Abramovic, Balkan
1 11111111e (Mother) [Barroco
1 11,, 11ico (Mãe)], 1997. As
111 1, 1i,1çôes de Abramovic, com
111,1', leias, são uma reação
1 · 1 ,11 11,1llssima às batalhas
11111 , t•, em sua terra natal, a
111llq,1 Iugoslávia.
VIDEOINSTALAÇA 1:;>1)
1997. Atuando dentro da própria instalação, Hybert realizou cnlrl'
vistas, fez comerciais e "reuniões de produção" nesse loca l qut'
substituía o local de transmissão.
Eine Faust in der Tasche Machen [Punho cerrado dentro do bo l
so], uma instalação de 1994 do artista alemão Marcel Odenbach
(1953-), mostra como sete países (Alemanha, EUA, Inglaterra, Fran
ça, Itália, Tchecoslováquia e México) mantiveram a ordem durante
as revoluções políticas de 1968. Sete monitores, enfileirados um ao
lado do outro, mostravam clips de notícias da época, em cada país,
intercalados com imagens de arquivos da queima de livros pelo Ter
ceiro Reich. Esta estratégia de vários monitores foi usada pela artis
ta belga Chantal Ackerman (1950-) em uma desconstrução de vídeo
de seu filme de 35 mm D'Est, em 1993. Ackerman dispôs 24 moni
tores em oito conjuntos de três e projetou fragmentos de seu diário,
transformado em filme, de uma viagem pela Europa Oriental, a ter
ra natal de seus pais e avós. Ao filmar pela janela aberta de um car
ro andando lentamente, ela registra em detalhes so111brios o coti
diano de pessoas caminhando para ir trabalhar, esperando o ônibus
ou em pé, na fila do pão. Em sev projeto contínuo de vídeo Xeno
logif Immigrant Instruments [Xenologia: instrumentos imigrantes]
(iniciado em 1992), o artista Krzysztof Wodiczko (1943-), de origem
polonesa, combina entrevistas com imigrantes em diversos países
com imagens das mesmas pessoas andando de metrô ou em pé,
diante de prédios públicos, nos países que haviam adotado recente
mente. A artista turca Sukran Aziz adota outra abordagem para a
experiência de imigrantes em sua instalação Reminiscences [Remi
niscências] (1998). Entrevistas com pessoas, gravadas em vídeo em
Istambul, Nova York, Paris e outras cidades, são projetadas em pare
des, enquanto do teto pendem centenas de 111inúsculos alto-falan
tes escondidos em recipientes metálicos, que revelam conversas so
bre lembranças e mudanças, gravadas anteriormente.
O artista escocês Douglas Gordon (1966-) reexamina arquivos
de imagens filmadas,extraindo-as e dissecando-as, freqüentemente
152. Douglas Gordon, Hysterical
[Histérico], 1995.
130 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂN EA
em câmera lenta, e, no processo, revela aspectos psicológicos e so
cioculturais históricos. Hysterical [Histérico J (1995) reciclou um fil
me médico da virada do século, no qual uma mulher mascarada,
aparentemente sofrendo de histeria, era maltratada por médicos
supostamente empenhados em uma cura. Em Through the Looking
Glass [Através do espelho] (1999), ele seleciona uma cena de 71 se
gundos do filme Taxi Driver de Martin Scorcese, no qual o perso
nagem principal fa la consigo mesmo no espelho e "ensaia" uma
confrontação com um inimigo anônimo. Na instalação de Gordon,
o personagem, Travis Bickle, representado por Robert de Niro, é
projetado nas paredes opostas de uma galeria, e repete: "Você está
falando co migo?" enquanto retira uma pistola automática de sob a
ca mi sa e a aponta para a câmera. O espectador se vê em meio a um
ato aleatório de violência, cometido por um louco armado.
Sempre englobando um grande número de questões sociais e
críticas em sua arte multidisciplinar, a artista e música Laurie An
derson abordou nossa relação com a tecnologia moderna em Dan
cing in the moonlight with her wigwam hair [Dançando ao luar com
l 11 l . Laurie Anderson, Your
1, 1//unate One $ Animatronic
I' 111 ot de Dancing in the
11111onlight with her w1gwam hair
l 111 11 íeliz papagaio an imatrônico
, h• 'G 1, de Dançando ao luar com
, , lundamente, depois
111111qulha de novo, sugerindo o
, li lo recorrente de nascimento
, 1@rte .
VIDEOINSTALAÇÂO 135
se sobre o mar Báltico e depois pondo-se sobre as águas de Vene
za é gerada, reflete-se num espelho colocado no fundo de uma pa
nela e projeta-se sobre a parede.
A obra de Bill Viola, talvez mais do que qualquer outra, repre
senta a tendência para o lirismo na arte. Desde o início dos anos 70,
Viola cria uma grande variedade de instalações e vídeos single
channel. Ele próprio descreve seus vídeos como poemas visuais, nos
quais aborda questões de identidade e significância espiritual no
mundo moderno. Desde meados dos anos 80, a instalação tornou
se seu meio favorito de apresentação. Suas explorações de luz e
forma, aliadas aos seus interesses por materiais de origem espiri
tual (o Alcorão, textos budistas e misticismo sufi), encontram ex
pressão em projeções de grande formato expostas em várias partes
do mundo. Com Slowly Turning Narrative [Narrativa giratória lenta]
(1992), Viola utilizou uma superfície de projeção espelhada, girató
ria, para sugerir uma mente em constante movimento, absorvida
em si mesmo. O artista pretendia que "a sala e todos ali presentes
se tornassem uma tela de projeção continuamente mutável, englobando imagens e reflexões" como vistas pela mente do homem, re
presentado na parede giratória ."Em Stations [Estações] (1994), uma
160. (esquerda) Bill Viola, The
r rossing [A travessia], 1996
(detalhe).
161. (abaixo) Bill Viola, The
\ /opping Mind [A mente
pclralisada], 1991.
l I qüentemente, Viola
111 eocupa-se com a passagem
do tempo. Aqui, imagens
1 ringeladas aparentemente
l1,1nqüilas explodem em
1,1ovimento e som violentos,
,r11quanto o art ista tenta "deter a
111t1rcha do tempo" visualmente.
VIDEOINSTALAÇAQ 1 I
videoinstalação acústica computadorizada, com cinco canais, ns
imagens são projetadas em lajes verticais de granito que, por suu
vez, refletem-se em lajes espelhadas colocadas no piso, perpen di
culares às de granito. Corpos parecem cair no ar ou tombar na água
nesta interpretação das Estações da Via Sacra. Fire, Water, Breath
[Fogo, água, respiração] (1996), uma instalação de três partes, uma
das quais intitulada The Messenger [O mensageiro], foi projetada
inicialmente no teto da catedral de Durham na Inglaterra e apre
senta o homem em contato e/ou conflito com os três elementos bá
sicos: um homem nu submerge na água, sobe à superfície, respira
fundo e volta a mergulhar. Em seu contexto original no domo da
igreja, os espectadores também são abrangidos pela imagem pro
jetada e pelos sons que acompanham este ritual. Em um contexto
de museu, oposto ao The Messenger, Viola colocou The Crossing [A
travessia], duas projeções, do piso ao teto, de um homem gradati
vamente consumido pelas chamas, e afogando-se lentamente em
gotas de água que se acumulam sobre ele. Embora essas imagens
possam parecer horripilantes, com Viola há sempre a sensação de
162. Gary Hill, Tal/ Ships [Navios
de mastros], 1992. Hill utiliza
tecnologia interativa em Tal/
Ships. Visitantes do espaço da
estreita ga leria acionam as
projeções de imagens m telas
suspensa no spaço.
138 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
que, de alguma forma, uma redenção também está ocorrendo. Câ
mera lenta, sons profundamente penetrantes, rica coloração e
grande escala contribuem para uma experiência cinemática do ho
mem imerso na natureza.
A retrospectiva de Viola em 1997 no museu Whitney de Arte
Americana em Nova York demonstrou a veia romântica do artista
em dia com a era da arte eletrônica. Como o videoartista pioneiro
Nam June Paik, Viola estudou música e design acústico. Toda a sua
obra coloca o spm e a imagem em um mesmo nível. The Stopping
Mind [A mente paralisada] (1991), uma instalação de quatro telas, Hil
e a primeira que o visitante encontrava na re trospectiva Whitney,
apresenta uma voz quase inaudível, murmurando frases so~re o
corpo e a perda de sensações, enquanto imagens (close-up de arvo
res, prados), outrora congeladas, movem-se subitamente e dep01s
param. Explosões sonoras acompanham o movimento. Esta obra
serve ao espectador como uma prévia do que está por vir: choques
VIDl:OIN . 11\I i\(, i\() 1 11
inesperados de imagens e ruídos que despertam nossns nw11lt•r
para outras maneiras de perceber o momento presente. E os d,•
Jean-Luc Godard e Samuel Beckett se fazem presentes quando
Viola engaja um de seus temas comuns: um único homem suplan
tado pela enormidade da natureza - uma natureza que pode, às ve
zes, consumi-lo, como acontece em The Crossing.
Para os místicos dos tempos antigos, que Viola reverencia, o
fogo e a água são símbolos de um amor que tudo consome, que
aniquila o antigo eu em uma nova união contemplativa. Isto é mais
evidente em Roam for St. John of the Cross [Sala para São João da
Cruz] (1983), uma imaginada recriação da cela na qual o místico
carmelita do século XVI foi preso pela Inquisição. Ouve-se uma voz
recitando os poemas do santo em espanhol, alguns dos quais falam
de vôos da alma em êxtase na noite escura e sobre montanhas co
bertas de neve. Em determinado momento, urna montanha se
move violentamente, acompanhada por um estrondo, como em
163. Mary Lucier, Last Rites
(Positano) [Últimos sacramentos
(Positano)]. 1995. Lucier relembra
detalhes da vida da mãe nos
Estados Unidos e na Itália, ao
dispor móveis, fotos e vídeos em
um espaço construído como um
sonho.
140 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
um terremoto. Durante aquele mesmo ano Viola confinou-se em
um quarto de uma casa, onde tentou ficar acordado por três dias. A
crônica filmada desse confinamento auto-imposto, Reasons for
Knocking at an Emphj House [Razões para bater à casa vazia], ilustra
como a passagem do tempo pode ser árdua."Minha obra", diz Vio
la," é centrada em um processo de realização e descoberta pessoal.
O vídeo é uma parte de meu corpo; é intuitivo e inconsciente."
1154. Mary Lucier, Ohio at
e ilverny [Ohio em Giverny],
1983. Lucier elogia sua terra
11e1ta l. associando-a com a
l,1mosa casa de Monet em
e ilverny.
VIDEOINSTALAÇÂO 141
Gary Hill considerou sua primeira videoinstalação, Hole in lhe
Wa/l [Buraco na parede] (1974), uma transição da escultura para o
vídeo. Ele filmou a si mesmo derrubando a parede de uma galeria
e projetou a fita em um monitor colocado na abertura resultante.
Onde poderia ter havido uma escultura, ele colocou, em suas pala
vras," a memória em vídeo de urna performance". Desde o início,
Hill preocupou-se com a poesia da linguagem e da imagem. Suas
projeções em telas múltiplas, intelectualmente rigorosas, quase
sempre fazem referência à semiótica, à filosofi a de Ludwig Witt
genstein, à teoria pós-moderna francesa e à história do cinema. Ta/l
Ships [Navios de mastros] (1992) é uma instalação intera tiva con- 162
sistindo em várias superfícies de projeção, cujas imagens de diver-
sas pessoas são desencadeadas pela entrada de um espectador na
sala onde se encontra a instalação . À medida qu e o visitante entra,
figuras aparecem como se"do nada", aproximando-se dele e mur
murando frases quase inaudíveis.Linguagem, imagem e uma forte
sensação de desconhecido são características das videoinstalações
da artista americana Susan Hiller (1940-), que as cria desde 1983.
Wild Talents [Talentos selvagens] (1997), inspirada pelas conhecidas
habilidades telepáticas e telecinéticas do médium polonês Stefan
Ossowiecki, incorporou fragmentos de film es americanos e euro
peus dos anos 60 até os dias atuais, principa lmente do gênero de
horror, que mostravam os poderes sobrenaturais de crianças. Utili
zando a estratégia minimalista da repetição, a instalação de Hiller,
que ocupava dois cantos de urna parede da galeria, criou um ritual
hipnotizador na interseção entre crenças religiosas popu lares e os
meios de comunicação de massa .
Luz e paisagem (tanto internas quanto externas) permeiam as
videoinstalações da artista americana Mary Lucier (1944-). Em
142 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
obras como Ohio at Givemy [Ohio em Giverny] (1983) e Wildemess
(1986), Lucier presta homenagem a Monet e aos iluministas ame
ricanos do século XIX. Em duas obras anteriores, Dawn Bum (1975)
e Bird's Eye (1978), ela apontou um laser diretamente parno olho
da câmera, queimando o vidicon. Depois, mudou o compnme~to
focal da lente e deslocou o laser, na tentativa de" gravar" alteraçoes
na luminosidade, associando assim seu trabalho tecnológico às ob
servações dos impressionistas sobre a luz. Oblique House (Valdez)
[Casa oblíqua (Valdez)], 1993, mostrou o interior vazio, remaneia
do, de uma ·antiga concessionária de automóveis em Rochester,
Nova York, que Lucier transformou em uma casa de placas de_ges
so sem janelas, apenas com monitores. Para Lucier, este ambiente
arquitetônico estava "ligado a imagem e som: do lado _de fora: a
casa não tem janelas; dentro dela, monitores de telev1sao func10-
nam como janelas através das quais não se vê uma paisagem, po
rém, a parte mais íntima da alma humana".
Explorar identidades
Seguindo a iniciativa dos primeiros a usarem o vídeo single
channel Goan Jonas, Vito Acconci, Hannah Wilke, Dara Birnbaum),
os artistas que criavamvideoinstalações no final do _século usaram,o
meio para um exame cada vez mais profundo de s1 mesmos. A ca
mera tem a propriedade especial de ser um condutor para imagens
do eu em tempo real; quando colocada em determinado ambiente,
corno uma instalação, ela tem o poder de representar uma perspec
tiva abrangente do eu. Como Tracey Moffatt (1960-), uma artista
australiana de meios de comunicação de massa, declarou corai osa
mente: "Não estou preocupada com verossimilhança .. . não estou
preocupada em captar a realidade; estou preocupada em criá_-la."_
O ambiente de instalação também permite maior part1c1paçao
do espectador no processo de"completar o objeto de arte", segundo
a famosa frase de Duchamp. Em muitas instalações, o espectador
entra de fa to na obra de arte em um sentido literal para vivenciá
la. Para artistas ocupados com questões de identidade, esta fusão
fundamental de observador e observado é bastante pertinente. O
colapso de fronteiras também reflete a influência que certos artis
tas sofreram do ambiente psicoterápico inspirado por Lacan l'
Freud, tão dominante nos círculos de crítica de arte dos anos 70.
Combinado ao princípio do conceitualismo de que artistas seriam
responsáveis pelo contexto de sua arte, isto alimentou diretame1~ll'
o novo realismo da instalação, no qual o mundano e o pessoal sao
reinventados de muitas maneiras diretas .
À medida que as capacidades técnicas dos meios de comunicn
çã.o de massa expandiram-se, a integração de diversos : lemenluma maneira
de representar a velocidade de um cavalo correndo por meio da
ação de várias máquinas fotográficas (12, neste caso), enfileiradas e
preparadas para disparar em seqüência quando o cavalo passasse
correndo. Ele prendeu um pedaço de cordão ao obturador e o esti
cou através do caminho do cavalo. À medida que o cavalo passava
correndo diante das máquinas fotográficas de Muybridge, seus
INTRODUÇÃO 9
movimentos sobre o cordão acionavam os obturadores, criando
cada um deles uma imagem a 1/200 de segundo. As imagens resul
tantes, quando colocadas em seqüência, mostravam o cavalo no
que parecia ser um movimento rápido contínuo. Muybridge che
gou a usar 24 máquinas fotográficas na tentativa de aperfeiçoar a
captação de movimento. Os resultados de seus esforços compreen
dem os onze volumes de Studies in Animal Locomotíon [Estudos de 7
locomoção animal] (1888). Inicialmente, o objetivo de suas fotogra
fias era complementar estudos científicos, mas logo foram adota
das por artistas em seus estudos de movimento humano e animal.
Em 1911, o futurista Cario Carrà representou o movimento
em Funeral of the Anarchist Gallí [Funeral do anarquista Galli], e em
1912 Giacomo Balia pintou o extraordinário Dynamism of a Dog on
a Leash [Dinamismo de um cão em uma coleira]. Umberto Boccio
ni, como eles, voltou-se para os estudos fotográficos para aprender
como a representação de movimento era feita por meio da repeti
ção. Seu Dynamism of a Cyclist [Dinamismo de um ciclista] (1913)
oferece provas do drama na seqüência dinâmica de imagens.
Nude Descending a Staircase, N? 2 [Nu descendo uma escadaria, rn
nº 2] (1912) de Marcel Duchamp, uma das pinturas mais polêmicas
da época, inspirou-se diretamente em vários dos estudos de Muy
bridge, ta lvez de modo especial em Ascending and Descending Stairs
[Subindo e descendo uma escada] (1884-85), no qual pode-se ver
uma mulher carregando um balde d' água, enquanto sobe e, depois,
desce os degraus.
Filme e cinema de vanguarda 1
Por mais revolucionários que esses" estudos sobre tempo" pos
sam ter parecido, outro meio de captar movimento evoluía do ou
tro lado do Atlântico, movimen to esse que marcaria o surgimento
de uma das maiores influências artísticas do século: o cinema. Tan
to o cinema popular quanto o de vanguarda do início do século vi
rié!rn a ter um profundo impacto sobre a arte dos meios de comu
nicação de massa em meados do século.
O cinema desenvolveu-se nos laboratórios do inventor ameri
cano Thomas Edison (1847-1931) que designou seu assistente, Wil
liam Kennedy Laurie Dickson (1860-1935), para usar o fonógraro
como modelo para fazer imagens animadas que pudessem ser ob
servadas através de um visor. Em 1890, Dickson fez uma máqui nil
fotográfica de imagens animadas chamada cinematógrafo, que, u111
ano depois, foi seguida pelo visor cinetoscópio. Em 1895, vári o11
inovadores, começando com os irmãos Lumiere, tinham projetad(I
imagens filmadas em telas para um público pagante. Em rápida su
cessão, o francês George Melies (1861 -1938), freqü entemente h11
mado de "o primeiro artista da tela", introduziu fusões, fotogrn ll t
com intervalo de tempo e iluminação artística (a essência da i111'
9. (acima) Eadweard Muybridge,
Ascending and Descending
Stairs [Subindo e descendo
uma escada] da série Animal
Locomotion [Locomoção
animal], 1884-85.
1 O. (di reita) Marcel Duchamp,
Nude Descending a Staircase,
No. 2 [Nu descendo uma
escadaria, n~ 2], 191 2. Duchamp
abstra iu os estudos de
movimento de Muybridge em
suas próprias investigações de
tempo e da quarta dimensão.
12 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
rnatografia) em filmes corno Cinderella (1899) e The Dreyfus Affair
[O caso Dreyfus] (1899). Muito parecido com urna cena cortada de
um filme de ficção científica dos anos 50, A Trip to the Moon [Via
gem à Lua], de Melies, em 1902, mostra um"foguete"pousando no
olho do"homem na lua". Em 1903, Edwin S. Porter do laboratório
de Edison fez The Great Train Robbery [O grande roubo do trem], no
qual foram usadas, pela primeira vez, técnicas de edição para im
primir continuidade e criar tensão narrativa.
A art~ da filmagem atraiu imediatamente vários profissionais
que fizeram contribuições duradouras à forma. Já em 1915, o ame
ricano D. W. Griffith (1875-1948) fez o épico The Birth of the Nation
[Nascimento de uma nação] seguido, apenas um ano depois, por
Intolerance [Intolerância], um entrelaçamento de quatro narrativas
expondo os perigos da hipocrisia no decorrer da história. Na cate
goria desses primeiros diretores, cuja obra ainda é citada como re
ferência por artistas no cinema internacional, devem ser incluídos
os franceses Louis Feuillade e Abel Gance (1889-1981), os alemães
F. W. Murnau (1888-1931) e Fritz Lang (1890-1976), o sueco Victor
Sjóstrõm, o britânico Charlie Chaplin (1889-1977) e o russo Sergei
Eisenstein (1898-1948).
A obra de Eisenstein é um produto óbvio da interação dinâmica
entre arte, tecnologia e vida durante o período de vanguarda sovié
tica (mais ou menos de 1915 a 1932). Ele representou um novo tipo
de artista de meios de comunicação de massa com conhecimentos
em matemática, engenharia e arte, e foi, durante muitos anos na ju
ventude, um designer teatral com o díretor russo de vanguarda Vse
volod Meyerhold (18 7 4-1940). Eisenstein, expressando seus vínculos
com o construtivismo e o cubismo, aperfeiçoou as técnicas de mon
tagem cinemática (iniciadas por D. W. Griffith), que lhe permitiram
manipular respo$tas emocionais por meio dos processos vibrantes
da edição de filmes. Eisenstein procurou novas maneiras de ver o
que se compararia à nova imagem mundial sob o marxismo. Sua arte
sobreviveu obviamente à luta política que a nutriu. O crítico de cine
ma Stanley Kaufman, ao escrever sobre The Battleship Potemkin [O
Encouraçado Potemkin] (1925), observou que Eisenstein"sentiu que
uma nova sociedade significava um novo tipo de visão; que a manei
ra como as pessoas viam as coisas devia ser alterada; que era inade
quado apresentar novo material a olhos antigos".
De certa maneira, tendo em vista seus conhecimentos de tec
nologia de engenharia, Eisenstein é o perfeito paradigma para o ar
tista tecnológico. Ele considerava seu cinema totalmente utilitário,
racional e materialista, alegando que aplicava meramente o que
aprendera em matemática e engenharia à confecção de seus filmes.
Se a vanguarda russa pode ser caracterizada pela tensão entre o
ponto de vista de Vladimir Tatlin sobre a arte como processo indus
trial e o" sentimento puro" de arte baseado na estética, de Kazimir
Malevich e Vassili Kandinski, Eisenstein fica ao lado de Ta tlin. Con -
11 111 rf:joi Eisenstein, cena de
11 / 111 tJUraçado Potemkin, 1925.
1 lhli1No final dos anos 80, graças, principalment ', às inovaçlwi1rd Stewart, lntercourse
li l11l,1ç~o sexual], 1993.
VIDEOINSTALAÇÃO 153
à qual a crítica Mareia Vetrocq referiu-se como uma "Kristallnach l
feminista" . Em duas telas grandes posicionadas no canto de uma
parede, Rist justapôs cenas de flores vermelhas de haste longa, qu e
mudavam lentamente com os movimentos de uma mulher vestida
com glamour, andando ostensivamente pela rua, enquanto canta
rolava de boca fechada e quebrava vidros de carros. O cenário de
Rist, dando atenção excessiva aos padrões de cor vermelha, esten
de a ideologia feminista que ela professou anteriormente no frené-
tico I'rn Not the Girl Who Misses Much (1986). 1-3
A equipe escocesa de Stephanie Smith e Edward Stewart mis-
tura as relações entre os sexos em suas instalações Intercourse [Re
lação sexual] (1993) e Sustain (Sustentar) (1995). Questões de do- 176
minação e submissão, violência e desejo, são exploradas enquanto
o casal filma a si mesmo em rituais particulares.
Membro da nova onda de videoartistas britânicos jovens que
surgiu no final dos anos 90 (entre os quais Keith Piper [1960-] e
l /1, ',t11pl1,111l1 • Smilh e Edward
1,l11w, 11 I, \ 11•,/,1i11 ISuslenlarJ,
1'111',
177, 178. Pipilotti Rist, duas cenas de Ever Is Over AI/ [O que
sempre está acima de tudo], 1997. Rist justapõe imagens
coloridas, bucól icas, de um jardim com o gesto casual e
violento de uma mulher quebrando vidros de ca rros em uma
rua segura e limpa na Suíça.
179. Steve McQueen, Bear,
1993. As projeções silenciosas,
de grande escala, de McQueen
(geralmente estreladas pelo
próprio artista) envolvem o
espectador com imagens fortes,
mas quase sempre complicadas,
do homem negro.
158NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Sonia Boyce [1962-]), Steve McQueen (1966-) chegou ao_pon50 de
criar novas imagens para o homem negro em sua combmaçao de
videoinstalações e filme.
Em projeções sobre paredes inteiras como Bear (1993), na qual
dois homens nus (um deles é McQueen) travam uma luta de boxe,
mais um pas de deux divertido do que um combate,_ e Ft~e Easy P1e
ces [Cinco peças simples] (1995), uma narrativa erngmat1ca e frag
mentada, McQueen substitui imagens conhecidas do homem
negro na área de esportes e de notícias por personagens mai~, com
plexos e completos. É como se ele estivesse preenchendo os _esp~
ços vazios" nas representações do negro nos meios de comurncaçao
de massa contemporâneos, espaços dos quais fala o h1s;or;,ador de
cinema americano Ed Guerrero: aquela "terra de nmguem_ ,entre o
atleta ou O pop star glorioso e o bandido anônimo no not1c1ano no
turno. McQueen cria para si mesmo um personagem monumental
em Deadpan [Rosto inexpressivo J (1997), um filme de 4 mmutos no
qual se apropria de um momento cômico de um film e de Bustc1
Keaton, Steamboat Bill, Jr. [Marinheiro de encomet~da] ~1928),
transformando-o em um hino de louvor à determmaçao e a reso-
lução do negro . . . . . .
Em meados dos anos 90, câmeras d1grtais tornaram-s: mais
, · 'd. sso que alguns considera m acessíveis para o usuano me 10, um pa .
como a "cinematização" do vídeo. Acompanhada por equ1pamen
1 1ql11 as seguintes:
.11 11 Rodney Graham, Vexation
l /,1111/ lllha da afl ição]. 1997.
1 ,1,1 11.im filma esta curta
-111 1, illva em Cinemascope,
111l 1111dindo ainda mais as
11, 1111 1 Iras entre arte e f ilme
11 111 111 ial.
VIDEOINSTALAÇÃO 159
tos de edição mais sofisticados, sobretudo sis temas digitais não li
neares corno Avid, a produção de vídeos desenvolveu vínculos ma is
estreitos com o cinema. Artistas como Barney representam a ten
dência de imitar a experiência panorâmica da grande tela do cine-
ma ao se voltarem para projeções em paredes ou telas inteiras do
que seriam, basicamente, vídeos single-channel, denominando este
trabalho de "instalação", ao contrário do ambiente de objetos ou
monitores múltiplos comumente usado em instalações. Cremaster 5
de Barney, de fato, foi mostrado em um cinema enquanto a"insta
lação" em si, consistindo em grande parte em cenário e adereços do
conjunto vídeo/filme, foi exposta em uma galeria. Para outros artis-
tas, como Steve McQueen e Pipilotti Risti, a projeção de um teipe
de cada vez na parede inteira de uma galeria continua sendo a for-
ma mais desejável de exposição porque situa a obra em um contex-
to artístico, embora sugira a escala de cinema. Mas outros,como o
artista conceituai canadense Rodney Graharn (1949-), já estão
usando câmeras Cinemascope para narrativas curtas, pessoais, mos
tradas como -ü:1sta]ações. O opulento Vexation Island [Ilha da afli- 180
ção J de Grahamr•Criado para o pavilhão de seu país na Bienal de Ve
neza em 1997, é uma recontagém de 9 minutos da história de
Robinson Crusoé que ele, como outros artistas conceituais que fi
caram famosos nos anos 70, associa às teorias do filósofo francês
Gilles Deleuze sobre a violência. Para o entusiasta de arte bem-dis
posto, Vexation Island pode ser um fragrnento atraente, como um
segmento de urna longa dança de Pina Bausch ou um relevo de
uma enorme tela de Rauschenberg. O uso minucioso, feito por
Graham, de estratégias conhecidas como repetição, câmera lenta e
variação de planos afasta o filme das práticas do cinema normal,
narrativo, transportando-o para a companhia de Godard e Warhol.
À medida que os elementos de produção cinemática invadem
a videoarte, a atitude estética que enfatiza a intenção do artista é
reafirmada. O que separa o artista de meios de comunicação de
massa, conforme aqui definido, do cineasta comercial é a intenção
existente por trás da obra e sua natureza intensamente pessoal (al
guns poderiam dizer particular) que a exclui do consumo de mas
sa. No futuro, todavia, à medida que equipamentos de filmagem
tornarem-se mais acessíveis, é provável que, como aconteceu com
o filme Super-8 e o pesado vídeo Betamax, o filme substitua o ví
deo na preferência dos artistas. Vídeos single-channel e instalações
com vários canais poderão, muito bem, transformar-se em artefa
tos históricos. Para permanecerem viáveis, os videoartistas terão de
manter sua conexão singular com o vídeo como arte em "tempo
real", sem tentar imitar a ilusão do cinema.
1 H 1 , lm, em gerada em
w 11 1putador usada para anunciar
,1 ll1 •, \11l,1çêo Dai Vivo de Laurie
/\1 H 1111 1,011 na Fondazione Prada
11111 Mll íl , Com o advento de
\1 11 11 11 \oql,1 dltJi lal, ocorreu uma
11111 111111~11 l1111tl,1mcntal na
1 1 l,1~, 11 11 \11'1( c•pç/\o d imagens.
11111,1, 11 ll 1111qt11111 ocl ria ser
11h11l,1 ,1 p111 l l1 Ili' 1n'1111 1ros
1i11111111 1 11 i) 1, 11 111 11 lp11l,1tlo
11111111 1,11 11111 111111111111 ,
4. ARTE DIGITAL
No final do século XX, pode-se afirmar que a percepção sim
plista do desenvolvimento da arte moderna, em função de"movi
mentos", não é mais cabível. O uso de desenvolvimentos tecnoló
gicos como novos meios de expressão para fazer arte, entre outras
razões, tornou inaplicável essa maneira de ver as coisas - exata
mente como, no final do século XIX, etapas de evolução estilística
(classicismo, romantismo etc.) não mais serviam como classifica
ções e descrições da arte que tivessem alguma utilidade. Os "is
mos" comuns associados à arte deste século (cubismo, surrealismo,
conceitualismo etc.), que se referem às práticas "intra-arte", nas
quais um movimento reage ao anterior, chegaram ao fim, e hoje
qualquer descrição de produção de arte que não dê espaço ao tec
nológico está incompleta. Não há "ismo" associado à arte digital,
um termo que se refere à imagem computadorizada. A aliança oca
sionalmente conturbada entre arte e tecnologia amadureceu: a
marcha inexorável do mundo para uma cultura digital (ou compu
tadorizada) inclui a arte em seus passos. A arte digital é um meio
mecanizado cujo potencial parece ilimitado. Segundo o escritor e
curador George Fifield:"A possibilidade de reposicionar e combinar
sem esforço imagens, filtros e cores, dentro do espaço sem atrito ou
gravidade da memória do computador, dá aos artistas uma liberda
de para criar imagens jamais imaginadas."
O ensaio de Walter Benjamin, The Work of Art in the Age of Me
chanical Reproduction [A obra de arte na era da reprodução mecâni
ca], escrito em 1936, continua sendo uma referência essencial em
qualquer tentativa de desenvolver uma linguagem para abordar
questões de arte na era tecnológica. Para Benjamin, a tecnologia,
sobretudo a da câmera fotográfica e cinematográfica, levantou
questões de autoria e da própria singularidade do objeto de arte
cuja" aura" se perde na reprodução . Se uma imagem pode ser facil
mente reproduzida, onde fica a arte? A questão de "reproduzir"
imagens com câmeras fotográficas ou cinematográficas tem pouco
a ver com as capacidades agora radicalmente novas de criar um.J
obra que não tenha referencial em um mundo não digital; de fato,
que não tenha referencial no mundo tridimensional como o conhc
cernas. A"reprodução" é para o mundo digital o que o balão de ar
quente foi outrora para a aviação. Ao usar a tecnologia digital, os
artistas agora conseguem introduzir novas formas de "produção",
não de "reprodução". A "realidade virtual", por exemplo, um dos
resultados mais enigmáticos da tecnologia digital, não é uma mcni
tradu ção de dados em imagens de tamanho natural que imitam ,1
Fondazione Prada Carcere di San Vittore Giugno/Luglio 1998
ondazione Prada 20135 Milano. via Spar1aco 8. Tel. 02.54670216/0202 Fax 02 .54670258
164 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
realidade; é a própria realidade. De acordo com o arquite:o e críti:
co Paul Virilio: "Estamos entrando em um mundo onde nao havera
uma, mas duas realidades: a real e a virtual. Não há simulação, mas
substituição."O argumento de Benjamin sobre a reprodutibilidade,
presciente quando ele o apresentou no final do: anos ,30, re~ere-sc
à" aura" e singularidade do objeto de arte e tambern esta relacionad_o
às representações de espaço por meio dous~ das leis ,~e persp~ctt~
va, uma preocupação dos artistas desd: o seculo X:V. Perspectiva,
e"reprodutibilidade", para Benjamin, sao concei_t?s relac10na~os .ª
representação do real; mas não exist7m mais ideias ;ncontest_ave1s
do" real". O mundo digital, que vai alem da mera ausenc1a de linea
ridade introduzid~ na arte pelo cub~smo, está se tomando uma
nova realidade para a qual ainda preosa ser desenvolVJda uma lin-
guagem estética e crítica. , . ,
A tecnologia digital, cuja ferramenta bas1ca e o computador,
abrange todas as áreas da arte contemporânea tecnologicamente
envolvida, de filmes a fotografia, música sintetizada, CD-ROMs
muito mais. O novo poder que a tecnologia digital confere à ima
gem a torna infinitamente maleável. Antigamente, a informa~ão vi
sual era estática no sentido de que a imagem, embora passive! de
edição em filme ou capaz de ser incorporada ª. outras em _uma
montagem, era fixa. Uma vez transferida para a linguagem digita l
no computador, pode-se modificar cada elemento da imagem. No
computa~or, a imagem transforma-se ,~m"informação", e tod~s ~s
informaçoes podem ser manipuladas. Pela pnme1ra vez na histo
ria", diz Peter Weibel, diretor do lnstitute for New Media em Sta
delschule, Frankfurt-am-Main,"a imagem é um sistema dinâmico."
Este capítulo não pode abordar todo o âmbito da tecnologia di
gital em todas as formas de arte. Ele te!1tará ap_enas enfatizar aqu
las práticas computadorizadas que vanos artistas represen_tatt~o.
estão usando para produzir uma arte que afasta no~sas_ deft~1ç??H
ainda mais da tela, em direção a mundos mimagmaveis no 1rnc10
do século XX ou mesmo quando ele já passava da metade. Tão
grande é a velocidade com que novas formas de arte digital est?o
sendo criadas que, quando este livro for pubh:a_do, o trabal_ho dt8
cutido poderá parecer ultrapassado, e seu mento, esmaeci90. ( 11
dias de manifestos e previsões se foram. Quaisquer declaraçoes so
bre"a maneira como as coisas serão" estarão ultrapassadas quando
forem impressas, ou mesmo enviadas por correio eletrônico.
Referindo-se ao computador eletrônico totalmente digital, qw•
foi introduzido em Moore College of Electrical Engineering na 111
ladélfia em 1946, Charles Steinback, diretor do Centro lntemacio
nal de Fotografia, em Nova York, escreve:
Cerca de 45 anos após sua introdução, esta maravilha tecnol61-1lr11
assumiu incontáveis funções na cultura - colocando-seno cc11 l111
do que poderíamos deno~inar a segunda transforma'i:ão tecnolque produziu Catalog [Catálogo] (1961). Um curta-me
tragem composto por imagens abstratas computadorizadas, Cat~log
foi criado com antiquados equipamentos militares de computaçao.
188. Michael Gaumn itz, Portrait
of Jean-Luc Godard [Retrato de
Jean-Luc Godard] (1986) da série
Sketches, Portraits and Homages
!Esboços, retratos e
homenagens], 1985-89.
Além de filmar imagens abstratas, alguns dos primeiros artis
tas de computador tentaram reinventar a imagem animada tão co
nhecida dos cinéfilos desde os filmes de Disney. A animação sem
pre teve seus praticantes da chamada alta arte. O filme animado de
1967, Hummingbird [Beija-flor], do americano Charles Csuri, feito
em colaboração com o programador James Schaffer, mostrava uma
imagem do pássaro dissolvendo-se, depois sendo reconstituída,
tudo por meio de um programa de computador. A animação con
tinua a desempenhar um papel importante na arte computadoriza
da. Segundo o que artistas corno o sul-africano William Kentridge
demonstram em vídeo e filme, a animação pode ser o lócus para
uma extraordinária experimentação contextual e formal. Entre 1985
e 1989, o artista francês Michael Gaumnitz criou uma série de ani
mações pessoais no computador intitulada Sketches, Portraits and
Homages [Esboços, retratos e homenagens]. Utilizando as técnicas
facilmente disponíveis de colar, apagar, deslocar e multiplicar, o ar
tista desenvolveu uma "paleta eletrônica", com a qual improvisou
temas relacionados às lembranças pessoais.
O uso inovador da tecnologia por artistas, também evidente nos
primórdios da videoarte, levou a avanços significativos na própria
tecnologia. Em meados dos anos 70, os artistas Manfred Mohr, John
Dunn, Dan Sandin e Woody Vasulka desenvolveram um software
para a criação de imagens bi e tridimensionais. Os compositores
Herbert Brun e Lejaren Hiller inventaram ferramentas musicais
para o computador, que antecederam os sintetizadores de teclado
atualmente usados por músicos de todas as linhas.
189. Vera Moinar, Parcours
(Maquette pour un
environnement architectural),
1976.
A técnica da repetição para
evoca r aspectos temporais e
gestuais, quase sempre vistos na
arte minimalista, é facilmente
e· ssfvel com a tecnologia
dl ll 1. As repetições aparentes
cio Moinar, de fato, contêm leves
vnrln õ que sugerem a mão da
llfl l•, l trobalh ndo.
172 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Vera Moinar, considerada uma pioneira em arte computadori
zada, infundiu uma sensibilidade minimalista nas imagens compu
tadorizadas, em obras complexas, altamente controladas no com
putador, como Parcours (1976), que à primeira vista parece uma série
de esboços feitos com linhas rápidas. Ela usa o computador para
expandir seu repertório em direção a uma vanguarda que transfor
ma" o acidental ou aleatório em subversivo a fim de criar um cho
que estético e romper com o sistemático e o simétrico".
Embora outras inovações tenham ocorrido na arte computado
rizada entre meados e final dos anos 70, é consenso geral que ela
enfraqueceu-se após o primeiro surto de energia no início da década
de 70. Nos anos 80, os computadores tornaram-se mais acessíveis
e começaram a ser usados por um amplo espectro de artistas, in
clusive aqueles cujo trabalho principal era realizado em outros
meios de expressão. Em seu livro Digital Visions: Computers and Art,
ART DI 11 111 17
a escritora americana e curadora independente Cynthia Goodman,
embora enfatizando o trabalho de vários artistas já mencionados
aqui, também inclui a obra de David Hockney, Jennifer Bartlett,
Keith Haring e Andy Warhol, que tinham usado o computador, de
uma maneira ou de outra, no desenvolvimento da arte. Embora isto
demonstre o uso do computador por uma variedade de artistas,
não significa que qualquer novo meio de expressão, para ser vali
dado, tenha que ser associado a artistas já conhecidos.
A maior disponibilidade de microcomputadores nos anos 80
trouxe consigo um crescimento da arte computadorizada, que in
clui uma ampla faixa de gráficos computadorizados, animação,
imagens digitalizadas, esculturas cibernéticas, shows de laser e
eventos cinéticos e de telecomunicação, e todo tipo de arte intera
tiva que requer o envolvimento do espectador/participante. As ins
talações luminosas programadas do alemão Otto Piene (1928-),
1
1
\\
190. Otto Piene, Olympic
Rainbow [Arco-íris 111 , J/\ mrmória da
lil•ilfl1l,1011c 011\1 11 ,1 memória do
1111111111t,1t1or L 1 •111•,.
178 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
simples no qual uma imagem bidimensional é transformada em
linguagem binária matemática (ou digital) do computador. O ma
terial primário (a fotografia) torna-se maleável porque agora con
siste apenas em dígitos distintos.
É interessante que, apesar da natureza abstrata de várias das pri
meiras obras notáveis de arte computadorizada (Noll, Whitney), a
imagem representativa voltou com força total com a arte digitalmen-
te alterada nos anos 80, quando artistas exploraram superficialmente
as possibilidades mecânicas de técnicas de imagens computadoriza-das. Várias imagens digitalmente manipuladas da Mona Lisa de Leo
nardo da Vinci, por exemplo, apareceram nas obras de Jean-Pierre
Yvaral e Lillian Schwartz. Synthesized Mona Lisa [Mona Lisa sinteti- 1
1
111
zada] (1989) de Yvaral, misteriosamente semelhante a um retrato de
Chuck Close, consistia em uma reconstituição estrutural do famoso
rosto baseada em análise numérica. Mona!Leo de Schwartz (1987)
combina, no mesmo fotograma, metade do rosto de Mona Lisa com
metade do rosto de Leonardo da Vinci. Esses artistas, encantados
com a capacidade do computador para reativar uma imagem obvia
mente conhecida, talvez estejam praticando a "arte da apropriação"
(comum na obra dos anos 80 de Sherry Levine e outros), mas, ao
dar-lhe um toque tecnológico, tentam, segundo Popper, "criar fenô
menos visuais nos quais a figuração e a abstração não mais se
opõem" . Memory of History Meets Memory of the Computer [ A mernó
ria da história encontra a memória do computador] de Lera Lubli11
(1985) é outro exemplo de imagens históricas artísticas atualizadas.
Aqui a artista escaneia imagens de pinturas clássicas da Virgem Ma
ria e do Menino Jesus no computador e depois as manipula pal'll
ilustrar intenções sexuais ocultas nos quadros.
O artista americano Keith Cottingham (1965-) apóia-se excl1 1
sivamente em manipulações digitais de imagens em toda sua ob111
111111111 chwartz, Mona/Leo,
1 l 11•,rnn amento permite
11 l l ,l,1•, lroduzir fotografias
JII 111111111 m teria! impresso
• 1 Ili 1q1111q m digital do
··11111l,1drn 111
exemplo, ele cria o que parece ser um fotograma congelado de pa
péis e objetos voando pelos ares, com uma rajada de vento.
Como em qualquer meio de expressão em que a tecnologia de
sempenha um papel importante, o trabalho mais dinâmico ocorre
quando a tecnologia acompanha as visões dos artistas ou os artistas
acompanham a tecnologia. Em pintura ou escultura, o que muda na
arte são os conceitos e o uso dos materiais. Com a arte tecnológica,
o próprio mero de expressão muda radicalmente quando a tecnolo
gia muda. O entusiasmo que Muybridge sentiu ao ser capaz de cap
tar o movimento com sua" cronofotografia" é agora substituído por
um entusiasmo em alterar a realidade, em transformar o real em ilu
sório. Para alguns críticos, a arte computadorizada não possui a pro
fundidade de interesse que eles associam, por exemplo, à pintura
abstrata. Consideram-na monótona, ou como a holografia, mui to
superficial em seus truques. O crítico fotográfico americano A. D.
Coleman, reagindo à maioria do que viu em Montage 93, Festival
Internacional da Imagem, realizado em Rochester, Nova York, em
1993, disse: "De maneira geral, temos sinos, apitos e botões para
apertar: tudo aqui zumbe, tilinta, cintila, liga e desliga."
Arte da Web
A tecnologia muda rapidamente e, com isso, o campo do artis
ta expande-se. É possível que uma nova vanguarda esteja surgindo
no que chamamos de Arte Interativa, que aqui se refere à arte nn
Web, e à arte computadorizada, que requer a participação do cs
pectador para se completar. Também é possível que tal interação
possadegenerar em mero entretenimento. Após certo tempo, pou
co a separa de apenas mais um evento de alta tecnologia, impelido
pela tecnologia e não projetado e concebido artisticamente. E111
parte, isto é uma função do número de pessoas (artistas ou não)
que agora trabalham com as novas tecnologias. Se, de acordo crn 11
o especialista em arte com meios de comunicação de massa, TI
motby Druckrey, havia 5000 artistas com páginas pessoais na Inll' I
net em 1995, então, por volta do ano 2000, esse número pode 11 •1
explodido, atingindo valores de seis dígitos. Mesmo este númt'111
talvez seja conservador, considerando-se, segundo o US Dcpl1 1 I
rnent of Labor Statistics, que o uso da Internet em todo o rnu11d1 1,
atualmente, dobra a cada cem dias. Embora seja injusto aprcssill 11
avaliação crítica da arte interativa em seus estágios atuais, va 11' 11
pena considerar duas áreas principais no final do século XX: arlv 1111
Web e instalações interativas, incluindo-se os primeiros cxp1 •1 I
rnentos em realidade virtual.
A arte especificamente desenvolvida para a Web é um fcn(11111•
no tão recente que o museu Guggenheim em Nova York, rcc()f 1l11'
203. John Simon, Every lcon
[Todo ícone), 1997. A "grade",
historicamente reverenciada,
tornou-se o ponto de partida
preferido para vários artistas de
computador. Simon a usa como
um lócus para uma sucessão
interminável de t ruques visuais
calcu lados.
Given:
ARTE DIGITAL 187
cido por seu envolvimento com novos meios de· expressão, lançou
seu primeiro projeto artístico para a Web apenas no verão de 1998:
o trabalho do artista nova-iorquino Shu Lea Cheang, BRANDON,
que é um exame de questões culturais e sexuais. Embora outras
instituições, sobretudo a Ars Electronica em Linz, na Áustria, e o
Centro de Arte e Meios de Comunicação de Massa em Karlsruhe,
Alemanha, tenham apresentado projetos para a Web em conjunto
com seus festivais internacionais desde meados dos anos 90, é bom
lembrar que a Web (www) foi lançada somente em 1989. Projetada
pelo cientista inglês de informática Timothy Berners-Lee, seu obje
tivo inicial era auxiliar a comunicação internacional entre físicos
trabalhando para o European Laboratory for Particle Physics. Antes
disso, redes semelhantes tinham sido usadas exclusivamente por
instituições governamentais e universidades de pesquisa envolvi
das em projetos militares.
A arte na Web, embora cada vez mais sofisticada, incorpora em
grande parte imagens desenvolvidas fora do computador e depois
nele introduzidas por um scanner ou equipamento digital de vídeo.
Alguns artistas, contudo, por sua própria conta ou encarregados
por museus e centros de arte, estáo desenvolvendo trabalhos que
realmen te envolvem o computador corno meio de expressão. Entre
eles, destaca-se o americano John Simon, cujo Every Jean [Todo íco
ne] (1997) aborda a linguagem computadorizada diretamente em
um esquema conceitua! que dá a impressão de levar a"arte tempo
ral" aos seus limites. Ele criou uma grade quadrada de 32 por 32
quadrados, contendo um total de 1024 quadradinhos. Esses qua
dradinhos alternam-se constantemente entre luz e sombra em
A:n icon described by a. 32 X 32 grid .
Alloved:
A:ny element of the grid to be colored black or white.
ahovn:
llvery icon.
Owner: John F. Simon, Jr.
Edition Number: Artist's Proof
Stming lime: Jo.nua,y 14, 1997, 21 :00 :00
203
JOI\ • / , (di reita, de cima para
l 1111~0) Tony Oursler, Constance
1 l 11011 0 Slcphen Vitiello,
1 r111 tn1tlc Preyers [Preces
lnnlA•,11 J, 1995.
188 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
combinações infinitamente diversas, uma linha de cada vez. Só a li
nha superior possui 4,3 bilhões de variações, que levariam 16 me
ses para aparecer em um computador operando continuamente. A
segunda linha levaria seis bilhões de anos, e assim por diante. Con
siderando-se a tela como Josef Albers ou Agnes Martin, ambos ci
néticos, o"jogo artístico" de Simon, no qual ele convida o especta
dor a observar a grade enquanto ela acende e apaga, nunca pode
ser completado, mas vai bem longe na visualização de uma idéia do
infinito. Na época em que este livro foi escrito, Every Jean podia ser
encontrado em www.numeral. com/everyicon.html.
Simon auxiliou outros artistas conceituais, Jenny Holzer, La
wrence Weiner e a equipe de Kolmar e Melamid, a colocar sua arte
na Web. Holzer põe uma série de afirmativas provocantes on-/i11('
em Please Change Beliefs [Por favor, mude suas crenças] (1998).
Cada frase ("amar os animais é uma atividade substituta","o assas
sinato tem seu lado sexual") pode ser selecionada, gerando outra
frase. Cada página na tela mostra, na parte inferior, "Please Chan
ge Beliefs" ["Por favor, mude suas crenças"]. Ecoando a próprin
obra em outros meios de expressão, Lawrence Weiner, como Hol
zer, apresenta afirmativas expressivas que também podem ser sele
cionadas, gerando outras, com o objetivo de exemplificar seu en
volvimento com"realidade" e"paisagens oníricas" . A equipe russ;i
de Kolmar e Melamid criaram The Most Wanted Paintings [As pin
turas mais desejadas] (1997) que começaram com uma pesquis;i
on-line, feita com pessoas de diversos países, às quais se pergunlou
o que gostariam, ou não, de ver em um quadro. Baseando-se n,\H
preferências expressadas, os artistas então fizeram pinturas que [o
ram exibidas on-line. Uma seqüência de banalidades intenciona l:,
permeia cada urna dessas obras na Web.
O Dia Center em Nova York patrocina um projeto contínuo d1•
trabalhos de artistas da Web. O primeiro, Fantastic Prayers [Pm·1•11
fantásticas], encomendado em 1995 ao grupo americano de col,1
boradores formado pela escritora Constance DeJong, o videoarliH
ta Tony Oursler e o músico Stephen Vitiello, é um labirinto de l1•x
tos, sons e imagens fragmentados, girando em torno de uma ll'l 111
imaginária, Arcádia, cujos" moradores desconhecem lugares e l' J H 1
cas" até que uma voz misteriosa perturba sua serenidade. Ao cn l 1111
nesta página de navegação aparentemente interminável (www.dl11
center.org), encontra-se um labirinto de conexões que vari a111 d1 •
bocas desencarnadas de Oursler, das quais irrompem fra ses ("g1 111
tei de alguns"), a uma parte de O livro tibetano dos mortos, 1nd11
acessíveis com um mero clique do mouse. Após vários cliqtt l'lt1 11
ponto de partida parece perdido para sempre, enquanto a ass111'111
ção livre substitui qualquer senso de narrativa linear.
Na mesma página encontra-se Studio Visit [Visita ao esl11 dl11I
(1997) da videoartista americana Cheryl Donegan, um estC1di11 vii
tu al de idéias, pinturas digitais, vídeo e apresentações gráfi c,w. 1 >1 1
190 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
negan capta aqui o mesmo sentido de brincadeira artística que ca
racteriza seus vídeos single-channel. Aqui a artista coloca-se dentro
de grandes espirais de cores primárias, protegida por uma touca de
banho e coberta por tiras de videoteipe. As imagens intercalam-se
(elas não "metamorfoseiam" umas nas outras como nos filmes) à
medida que o visitante clica sobre elas.
O Museu de Arte Contemporânea de Montreal patrocina uma
página na internet contendo dezenas de links para arte na Web
(www.media.m!l,cm.qc .ca). Um exemplo (www.obsolete .com/
artwork) reage ao uso disseminado do ensaio de Walter Benjamin
sobre arte na era mecânica. Intitulada Walter Benjamin: The Work of
Art in the Age of Mechanical Reproduction [Walter Benjamin: A obra
de arte na era da reprodução mecânica] (1998), a página consiste
em palavras e números piscando tão rapidamente na tela que o vi
sitante não consegue lê-los. O artista ou artistas anônimos que
criaram a obra acrescentam a seguinte nota explicativa na parte in
ferior da tela do computador: "uma tradução para leitores que não
entendem o original". Evidentemente acreditam que a velocidade
da reprodutibilidade aumentou tanto desde Benjamin que até suas
palavras, quando reproduzidas, têm pouco significado. Outras pá
ginas de arte naWeb, patrocinadas pela instituição, incluem www.
caiiamind.nsad.newport.ac.uk iniciada pelo artista e educador Roy
Ascott no Center for Advanced Inquiry in the Interactive Arts, Uni
versidade do País de Gales, "Gallery 9" na página do Walker Art
Center (www.walkerart.org) e na página do Instituto de Arte Con
temporânea em Londres, www.ica.org.uk. A página, na Internet,
de The Art and Science Collaboration (www.asci.org) também
contém vários links para artistas da Web em todo o mundo, inclu
sive aqueles na Polônia e Hungria, bem como uma amostra de
nova arte na Web, constantemente atualizada.
Em sua página (www.sgg.ch/mullican), o artista americano
Matt Mullican oferece pinturas, desenhos e "pictogramas", como
ele os denomina, que são figuras computadorizadas simplificadas,
inspiradas em art déco, que podem ser acessados clicando-se nos
círculos em uma grade (a grade, pelo jeito, é um formato prático
para a arte na Web). O artista britânico Jake Tilson, que tem um él
antiga fascinação pelos aspectos técnicos de reprodução e produ
ção artística, usa a Web para suas confrontações com a aleatori
dade e a fragmentação. Sua página (www.thecooker.com), um 111
projeto contínuo iniciado em 1994, contém uma variedade eston
teante de associações humorísticas em nove projetos de arte 11íl
Web. Macro Meal [Macrorrefeição] (1994) permite ao visitante pas
sear pelo globo" escolhendo" o desjejum, almoço e jantar em lista~
de países, acompanhadas por imagens de vídeo de um restauranlt•
típico e sons que poderiam ser ouvidos em seu interior.
Após ver vários projetos de arte da Web, não resta dúvida qut•
design gráfico tem uma função essencial no desenvolvimcnlt 1
212. Matt Mullican, imagem da
obra na página da Web Up to
625 produzida para documenta x
1998. '
ARTE DIGITAL 191
) .
desta formaá rtística .. Com a indefinição das fronteiras entre arte e
trabalho mi).~ual, artistas especializados em computação gráfica,
especial~tas em caligrafia, layout e imagens multidimensionais aju
dam art1stas.v1suais de outras áreas a se adaptar ao computador. O
art1s.ta amenc~no Peter Halley representa esta nova geração. Ex
plodzng Cell [Celula explosiva] (1997), que pode ser visto na página
do Museu de Arte Moderna de Nova York na Web (www.moma
org), consiste em nove quadrados que" explodem" em um .. - .
· l 'd , . a sequen-
cia ca e1 oscop1ca de cores. Razorfish criado en1 1995 , b' , · ' , e um am-
.1ente grafico que somente poderia existir na Web. O curador ame-
ncano,~aron Betsky descreve o projeto artístico do Razorfish, RSUB,
como um mundo que mistura formas estáticas e dinâmicas que
estende em camadas, textos, imagens e campos abstratos de f~rma
aparentemente aleatória, dando força às mensagens que apresen~
tarn co~ehvarnente" . Razorfish é uma sofisticada carteira de com
pensaçao para expressão na Web.
A leitura, .percebe-se .:ºm freqüência, ressurgiu como um ele
mento essencial da expenenoa da arte intera tiva. o computador e
a Internet, ao rneno~ neste mornenfo, são dependentes de palavras
e exigem urna aptid~o de leitura que não é exigida pelos meios vi
suais de coi::iurncaçao de massa, principalmente pela televisão. o
artista alernao Frank Fietzek aborda as ambigüidades de aprender
ª lerem. The Blackboard [O quadro-negro] (1993) . Fietzek colocou
um morntor em tnlhos afixados a um quadro-negro. Enquanto sur-
) 1 3. J ke Ti lson, seleção de telas
1111 p~g ina The Cooker, 1994-99,
1111 IIIL rnet (http://www.
llioco kcr.com). Tilson, que no
1111•,•,1 1do usava todo tipo de objet
tw uv(l m seu trabalho, levou
11 111 •,011slbilidade para o
1111 11pulador, onde combina
1111 1uom de suas viagens pelo
1111 rr 111 1>a participação do público, mas
a nova arte interativa não é controlada pelo artista da maneira
como era, digamos, Eighteen Happenings in 6 Parts [Dezoito Happe
nings em 6 partes] (1959) de Kaprow, com instruções rígidas para
os participantes. Artistas interativos como os americanos Ken Fein
gold, Perry Hoberman, Lynn Hershman-Leeson, Karl Sims, Jeffrey
Shaw, Grahame Weinbren, o japonês Masaki Fujihata e os alemães
Bernd Lintermann e Torsten Belschner, para citar apenas alguns,
incentivam positivamente os espectadores a criar narrativas ou as
sociações com as obras interativas. De fato, elas são planejadas com
este objetivo em mente. Obviamente, o conteúdo disponível para
escolha permanece nas mãos do arti,sta, mas o que os participantes
fazem com ele tem muitas variações. O rigor conceituai (embora
também brincalhão) de um evento do Fluxus (por exemplo, Mirrar
[Espelho], 1963, de Mieko Shiomi, que requer que o artis ta "fiqu e
em pé na praia com as costas para o mar. Segure um espelho dian
te do rosto e olhe. Caminhe de costas para o mar e entre na água")
é substituído por uma profusão de possibilidades limitadas apenas
pelo tempo que o participante tem para dedicar-se à obra. Critica
mente, a interatividade introduz uma nova tarefa para aqueles que
tentam avaliá-la. Timothy Druckrey afirma, sem rodeios: "Se as
imagens têm que se tornar cada vez mais experimentais, então
deve-se desenvolver urna teoria de representação que responda
pela transação provocada pela participação."
Questões de representação são evidentes na obra do artista
americano Bill Seaman e do polonês Tamas Waliczky. Em sua obra,
Seaman tenta criar vínculos tecnológicos com formas históricas ar
tísticas como o tríptico, gerando para o espectador/participante ex
periências poéticas semelhantes à apreciação de pinturas, mas de
uma forma interativa. Passage Set/One Pulls Pivats at the Tip af the
Tangue (1995) é uma instalação interativa, apresentada como um
tríptico, no qual três projeções permitem ao espectador pressionar
"pontos críticos", ou textos destacados, que geram outros textos e
imagens, resultando em um poema espacial que, segundo Seaman,
reflete a sobreposição ou colisão de espaços psicológicos. Em vez
de simplesmente acamar imagens de modo aleatório, a insta lação
de Seaman permite uma leitura seqüencial, bem semelhante ao ato
de ver uma pintura ou ler um poema. Waliczky joga com a pcrsp e
tiva em sua instalação de 1994, The Way [O caminho]. À 11wdid 11
que os espectadores aproximam-se da tela de projcç5o rn lrn '1 Hl11 1111
21 5-17. Bi ll Seaman, três telas
de Passage Set!One Pulls Pivots
at the Tip of the Tangue, 1995.
Nesta insta lação interativa,
visitantes apertam "pontos
crít icos", áreas destacadas na
tela, que geram outras imagens
em um desdobramento contínuo
de textos e imagens
fragmentados.
ARTE DIGITAL 197
extremidade de um longo corredor, as imagens na tela, acionadas
pelos movimentos dos espectadores, recuam, invertendo a expe
riência normal de perspectiva.
Além disso, a interatividade proporciona, aos artistas preocu
pados com questões sociais, a oportunidade de envolver os espec
tadores de forma bastante acentuada. White Devi/ (1993) [Demônio
branco], do artista americano Paul Garrin, coloca os espectadores
no meio de um"bairro"imaginário. À medida que passam pela ga
leria, câmeras de vigilância acompanham seus movimentos e cães
horríveis surgem nos monitores de vídeo para assustá-los. Lynn
Hershman-Leeson, cujo projeto Lama (1979-83) foi o primeiro vi
deodisco interativo, cria obras de arte interativas que abordam
questões feministas de forma bastante direta. Em Roam of One's
Own: Slightly Behind the Scenes (1992), ela criou um"espetáculo eró
tico" no qual o próprio ato de olhar a instalação vertical desenca
deia uma série de imagens relacionadas à representação (quase
sempre erótica) de mulheres em meios de comunicação de massa.
O espectador torna-se um "voyeur" à medida que seu olhar ativa
imagens relacionadas a uma cama, telefone ou peça de roupa, tudo
armazenado em videodisco.
2 '18. lynn Hershman-l eeson,
Room of One's Own:Slightfy
/3 /1ind lhe Scenes, 1990-93 .
l\ lril H rshman-Leeson,
lo nolog ias digitai s "são a
p11l•,11q '111 do presente. As
li'1111lc,1~ digitai melhoram ainda
111111 ,1 e1mllbilidad de imagens
1111111l p11li11li1 •,, 1110 mo quando
1111111111111, 11 l11c h1bil, v lm nte
11111111,11"
Na instalação interativa Childhood!Hot and Cold Wars (The Ap
pearance of Natúre) [Infância/Guerras quentes e frias (A aparência
da natureza)], 1993, do artista americano Ken Feingold, um globo
repousa em uma mesa de fórmica colocada que contorna um reló
gio antigo. A face do relógio, contudo, também é uma tela sobre a
qual são projetadas imagens de vídeo, de dentro do relógio, quan
do o espectador gira o globo. O mesmo espectador pode controlar
o fluxo de imagens (centenas delas, de banais a horripilantes, sele
cionadas de imagens de 1V dos anos 50 e 60). Segundo Feingold:
"O espectador-participante interage com os programas computa
dorizados e a parte elétrica da obra, controlando a velocidade e a
direção do videolaser, o movimento dos ponteiros do relógio, e re
tardando a reprodução de áudio digitalizado."
Nestes exemplos, em que cada um depende de imagens de ví
deo anteriormente filmadas, é evidente que a videoinstalação tor
nou-se dinâmica, reduzindo o grau de separação entre o artista e o
espectador. Contudo, a autoria não desapareceu. O artista agora S!'
tornou um facilitador da experiência da arte com a obra interativu
passando a ser, de certa forma, uma extensão da educação, urn11
aprendizagem criativa com participação ativa.
Alguns artistas, no entanto, são irredutíveis no que diz respl'i
to a contestar a autoria. Karl Sims, formado em biotecnologia pt'l11
Ma. sachusetts Institute ofTechnology, dedicou vários anos ao d! '
19, 220. Ken Feingold,
·, lrildhood/Hot and Cofd Wars
( / /Je Appearance of Nature)
l111 f~ncia/Guerras quentes e frias
(/1 parência da natureza)].
l '193 . Feingold considera o
, •,pectador um participante.
1111 ta instalação interativa, ao
111t ar o globo sobre a mesa, o
, •1pcctador dá início a uma
11111 nte de imagens
111presentat ivas da cultura dos
1110 50 e 60, projetadas a partir
d11 l11terior do relógio.
ARTE DIGITAL 199
senvolvimento de uma arte gráfica computadorizada que lembra a
teoria de seleção natural de Darwin.
Em duas instalações interativas complexas, Genetic Tmages [Ima- 222
gens genéticas] (1993), mostrada primeiro no Centro Pompidou em 221
Paris, e Galápagos (1995), que está em exposição permanente no In
ter-communication Center em Tóquio, Sims permite aos especta
dores criar suas próprias "formas de vida artificial" que" crescem"
dentro do computador em uma simulação rápida dos princípios
darwinianos. Em Galápagos, 12 monitores, dispostos em semicírcu-
lo e equipados com pedal, mostram uma" criatura" tridimensional
22 ·1. (acima) Karl Sims,
G, / pagos, 1995. Inspirado pela
l c ria de seleção natural de
Darwin, Sims criou um sistema
111 qu org anismos "genéticos"
pmccem se desenvolver dentro
(ln ~ u ambiente no computador
O l'SP ctador escolhe uma
dontrr vá rias gravuras simples e,
11 11 1 \ílf)lJid , ocorrem mudanças
11l 1111 lórlu q,1anto a cor, textura,
1111111,1 llcasJ.
11 1111
202 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
gerada pelo computador. O espectador escolhe um deles, pisa no
pedal e todas as outras telas se apagam. Mutações aleatórias da
criatura escolhida surgem no monitor e continuam a transformar
se em novas gerações de imagens genéticas.
Sonata (1991-93), urna experiência labiríntica em cinema inte
rativo do sul-africano Graharne Weinbren, permite que o especta
dor, ao tocar sensores infravermelhos no monitor,explore níveis de
imagens filmadas que entrelaçam personagens de um conto de
Tolstói ("A sonata de Kreutzer"), de um estudo de caso psicológico
de Freud ("Homem-lobo") e da história bíblica de Judite e Holo
fernes corno representada em pinturas do século XV até os dias de
hoje. O espectador pode retornar a qualquer uma das outras histó
rias enquanto outra é mostrada e criar urna narrativa. Sentado em
um cubo de aço aberto com um único monitor e um grande con
têiner metálico envolvendo o maquinário, o espectador, segundo
Weinbren, participa "de urna colaboração com o cineasta a cada
momento ... permitindo a apresentação dos mesmos eventos de
vários pontos de vista".
Além disso, a tecnologia interativa também foi introduzida no
mundo da dança . Na Conferência Internacional de Dança e Tecno
logia de 1999 na Universidade Estadual do Arizona, vários coreó
grafos apresentaram"tecnologia sensório-motora", na qual os mo
virnentos de dançarinos ou participantes leigos ativam iluminações
de lâmpadas fluorescentes que, por sua vez, criam padrões bascn
dos no movimento. Em Light Dance [Dança de luz] (1999) de Selh
Rifkin, por exemplo, o movimento humano torna-se a base parn
urna" tecnodança" em que os padrões luminosos, e não o indivíduo
que dança, passam a ser o foco.
Este tipo de participação só pode ser superado por outra forn111
de interatividade: a Realidade Virtual.
Realidade Virtual
Em Realidade Virtual (RV), o aspecto ainda passivo de obset v,11
a tela é substituído pela imersão total em um mundo cuja rea lid11
de existe contemporaneamente com a do observador. De certa fn1
ma, tudo o que se vê em um computador faz parte do uniV(' t:11 1
"virtual". Imagens e textos existem apenas em um mundo c01w1'
tado que aparece e desaparece com interruptores eletrôni OH, ( )
termo "realidade virtual" refere -se a uma experiência tridimc1wl1 1
nal em que o "usuário" (não podemos mais usar os termos simpl1 •~
como espectador, visitante ou mesmo espectador/participu11!1 •),
com a ajuda de dispositivos montados na cabeça, luvas de dad1 IH 1111
macacões (contendo cabos de fibra ótica), vivencia um mund1 1 111
rnulado que parece reagir aos seus movimentos.
O australiano Jeffrey Shaw, atual diretor do Center for Ali 1111il
Media em Karlsruhe, Alemanha, em sua instalação interali v11 1/i,
223-2 5. Grahame Weinbren, três
cenas de Sonata, 199 1/93. Ao
apontar para a te la em qualquer
momento, o espectador
consegue reconstruir a narrativa
de Sonata e ver perspectivas
alternadas da mesma situação.
Para Weinbren, esta é uma nova
forma de cinema, um cinema
interativo que envolve "a
colaboração entre o espectador
e o ci neasta a cada momento".
I', qlnas seguintes:
' ' >. Jeffrey Shaw, The Legible
• tly IA cidade legível], 1989-91.
111 1•, la obra inte rativa o visitante
1111111 bicicleta estaci~nária, '
111 11 erre a representação
111111iada de uma cidade
, , 1111posta por letras
l1 ldl111 nsionais, geradas por
111111putador, fo rmando palavras
, l 111•, s ao longo das ruas.
206 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Legi,ble City [A cidade legível] (contínua desde 1990), sugere como 2;11,
poderia ser um sistema de realidade virtual usando um sistema de
animação gráfica computadorizada tridimensional. Coloca-se uma
bicicleta no meio de três grandes telas de projeção e, à medida que
o espectador pedala, ele percorre uma recriação virtual de Manhat-
tan, Amsterdam ou Karlsruhe. Ruas, esquinas, placas, prédios, pala
vras, todos grandes e multidimensionais, aparecem e se dissolvem
com a rapidez dos movimentos dos pedais. The Legi,ble CitIJ é ape-
nas uma amostra do futuro da realidade virtual. Atualmente, a ex
periência baseia-se em imagens de vídeo pré-gravadas controladas
por computadores potentes, mas no futuro as interações virtuais
ocorrerão em tempo real à medida que as pessoas, acostumadas
desde pequenas ao espaço "virtual", passarem a usar suas "ferra
mentas" de realidade virtual com a mesma facilidade com que, ago-
ra, ligam o aparelho de TV ou usam o telefone.
Embora atualmente as inovações mais surpreendentes em rea
lidade virtual estejam ocorrendo na área da tecnologia médicn
(procedimentos cirúrgicos virtuais são usados para treinamento),
de que maneira os artistas provavelmente irão se envolver com este
meio? Dados os custos implicados, bem como a sofisticada tecno
logia computadorizada necessária, pouquíssimos artistas, até ago
ra, experimentaram a realidade virtual. A crítica e curadora ameri
cana Regina Comwell enfatiza que provavelmente seus esforços
não serão aceitos de imediato nas fortalezas artísticas usuais corno
museus ou galerias comerciais. "Já que o mundo artístico é vislo
como um mercado", ela escreve, "é compreensível que não tenhn
praticamente nenhum interesse em tecnologia interativa. É melho1
procurar novos espaços para acomodar essas obras hoje e no sé u
lo seguinte." Esses "novos espaços" estão, quase sempre, localizn
dos em universidades.
Dan Sandin, juntamente com Tom DeFanti, diretor do Labo
ratório de Visualização Eletrônica da Universidade de Illinois l' II\
Chicago, desenvolve ferramentas computadorizadas para uso
em vídeo desde o início dos anos 70 (seu Processador Analógico d1•
Imagens foi um exemplo famoso). Foi na universidade, no final drn1
anos 80, que Sandin, DeFanti e Carolina Cruz-Neira começaram 11
criar The Cave [A caverna]. Uma sala cúbica, com 3 m2, The Cmw,
apresentada pela primeira vez em 1992, é um ambiente virl1111l 1
consistindo em gráficos computadorizados estereográficos q111 •
reagem interativamente às ações do"usuário" que, equipado co111
óculos estereovisuais, consegue visualizar outros"companheiros d1 •
jogo" (termo usado por Sandin). A projeção estereográfica dl' :111
imagens por segundo em tempo real é feita em todas as paredes d11
espaço, enquanto o usuário manipula uma "varinha de cond1111 11
(um tipo de mouse tridimensional), programada para aci onu1 1111
imagens. Esta imersão total faz o usuário sentir como se esliv1•11111•
em um tempo e espaço recém-criados. Em The Cave todas as 111 ·111
227. Diane Gromala, The Virtual
Derv1sh. Virtual Bodies [ O dervixe
virtual: corpos virtuais], 1996.
Neste experimento em realidade
virtual, usuários sentem como se
estivessem entrando em órgãos
humanos reais. Paul Virilio alerta:
"O dia em que a realidade virtual
tornar-se mais poderosa do que a
real idade será o dia do grande
acidente. A humanidade nunca
vivenciou um acidente tão
extraordinário."
Páginas seguintes:
228. Dan Sandin, The Cave
[A caverna] "Teatro de realidade
virtual" (Protótipo feito pelo
Laboratório de visualização
eletrônica, Universidade de Illinois
Chicago, 1991; apresentado '
publicamente: SIGGRAPH 92
Chicago, 1992). Real idade '
virtual, acessada por meio de
óculos escuros estereoscópicos,
pe rmite aos usuários senti rem
como se estivessem em um
un iverso totalmente dife rente.
Para Paul Virilio, "Estamos
ntrando em um mundo onde
não haverá uma, mas duas
realidades: a real e a virtual."
ARTE DIGITAL 207
pec.tivas s~o calcu ladas do ponto de vista do usuário, mediadas por
me10 dos oculos estereoscópicos. O projeto de Sandin gerou uma
rede de. pesquis.as denominada CA VERN, que apóia a colaboração
em design e tremamento em realidade virtual.
. Ao re?etir preocupações contemporâneas com o corpo na arte do
final do seculo'. Diane Gromala, ex-diretora de arte da Apple Compu
ter, cnou Dancmg wzth the Virtual Dervish: Virtual Bodies [Dança com 0
dervixe virtual: corpos virtuais], um ambiente de realidade virtual que
ela começou a desenvolver no início dos anos 90. Trabalhando com
um coreógrafo e um cientista de computação, Gromala construiu 0
ambiente a partir de imagens computadorizadas de seu próprio cor
po, que ela manipulou e animou para representar simbolicamente a
regeneração e a degeneração contínuas. Como ela descreve:
o corpo virtual está sobrescrito com textos, meditações sobredor,
Eros e Tânatos. Cada órgão contém outro mundo surreal, virtual.
Usa~do um mostrador de vídeo estereoscópico preso à cabeça, os
usuano_s sentem-se imersos no corpo e interagem com ele. Essas
mteraçoes podem ser a de "tocar" o texto, que então muda, ou
"voar" dentro de um órgão - pfü exemplo, o coração - para encon
trar outro mundo surreal. A acústica tridimensional ajuda os usuá
nos a se localizar nos espaços virtuais surreais.
Como a maioria dos ambientes de realidade virtual estão sendo
criados em universidades e outros centros de pesquisa, costumam
210 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
ter um sabor educacional ou técnico. À medida que os equipamen
tos tornam-se mais acessíveis aos artistas, o conteúdo poderá ser
moldado para finalidades mais artísticas. . .
Podemos mencionar muitos outros exemplos de arte digital
(particularmente em acústica e música, mas também esculturas tri
dimensionais produzidas em copiadoras). Não importa quando, ~u
se os locais tradicionais de arte como museus ou galenas acettarao
a ~resença intangível da arte digital interativa, o fato é que uma
mudança irrefutável ocorreu na forma de se vivenciar a arte (para
não dizer de sua"criação). A interatividade é uma nova forma de ex
periência visual. De fato, é uma nova forma de vivenc!ar a arte _q~e
vai além do visual e chega ao tátil. Os espectadores sao essenciais,
participantes ativos nesta arte. Não mais meros espectadores, ag~
ra são usuários. Percorremos um longo caminho desde a observaçao
passiva da Mona Lisa, por exemplo, _que está expos_ta .atr~s 1e um
escudo à prova de balas e pode ser vista apenas a distancia. A me
dida que um número cada vez maior de artistas de qualidade b~s~
car o mundo digital (e isso acontecerá, pois quem pode resistir a
idéia de ter sua obra vista por milhões de pessoas com o clique do
mouse, sem esperar pela "aprovação" de galerias ou m~seus?),
ocorrerá uma reformulação do significado de arte, de estetica, do
relacionamento de artistas com vendedores e instituições - aliás,
dos relacionamentos de artistas com qualquer tipo de mercado. En
cerramos aqui com arte digital e realidade virtual porque são as
manifestações de arte mais novas e, nessa mesma medida, as mats
estranhas no mundo atual. É provável que essas tecnologias, tal
como são usadas na arte, sejam tão efêmeras quanto a câmara obs
cura ou os estereoscópios do século passado. E assim, pergunta
mos, o que existe além do digital, além do virtual? Quais serão os
novos meios de expressão da arte do final do século XXI?
ARTE DIGITAL 211
Começamos esta revisão de novos meios de expressão com
uma breve referência aos férteis experimentos de Braque e Picasso
na tela, às inovações fotográficas de Marey e Muybridge e aos ges
tos conceituais radicais de Marcel Duchamp. Depois da morte de
Duchamp, dois de seus amigos, Gianfranco Baruchello e Henry
Martin, escreveram:
Preencher as coisas com uma atmosfera absolutamente sobrecar
regada de significado é o que ele sempre fazia e que, afinal de con
tas, é a essência da arte moderna. Pega-se praticamente qualquer
coisa e preenche-se-a com todo significado que se possa atribuir
lhe, todos os significados completamente arbitrários e pessoais
possíveis, todo o mistério, todo o enigma que ela possa conter. Esta
é uma das lições mais fundamentais que Duchamp tinha para nos
ensinar.
Para alguns, isto significou a morte da arte; para outros, anun
ciou começos incomensuráveis.
Com os avanços em arte e tecnologia até o final do século XX, a
revolução provocada por Duchamp, permeando todas as formas de
arte contemporânea, concretiza'certa conclusão histórica. O adven
to da arte digital, uma arte tão além da materialidade que debates
sobre o"objeto", e muito menos sobre a tela, parecem desesperada
mente antiquados, inaugura uma nova era na qual os termos e mé
todos de avaliação tradicionais da história da arte, até mesmo os de
Duchamp, não mais se aplicam. Experiências sem espaço, sem tem
po e sem imagens entraram no domínio da arte. A interatividade,
embora ainda primitiva e dependente da fo tografia, pode gerar uma
arte cujo vocabulário ainda não existe. Os atuais ambientes artísti
cos de imersão, sem mencionar o que existe além dessas realidades
virtuais, determinam um novo discurso.
Em About Looking (1980), John Berger perguntou: "O que havia
no lugar da fotografia, antes da invenção da máquina fotográfica? A
resposta esperada é a gravura, o desenho, a pintura. A resposta mais
reveladora poderia ser: a memória. O que as fotografias fazem no
espaço foi previamente feito com a reflexão." Podeóamos perguntar
agora qual será o conteúdo da memória se não pudermos mais dis
tinguir eventos e experiências simulados dos"reais"? Talvez a fusão
do " real" e do "virtual" na arte, assim como na vida, venha a ser no
futuro o que a fusão de" arte" e" cotidiano" foi no século XX.
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Museu Whi tney, Bill Viola
(Nova York, 1997)
C3pítulo 4:(1929) . 'J2
Durante o mesmo período, a tradição secular do filme de van
guarda na França começava a se estabelecer, fortemente influencia
da pela obra de Louis Delluc '(1890-1924), que exigia um cinema
"puro", igual a"um poema sinfônico baseado em imagens", em vez
dos melodramas que, na época, dominavam os filmes americanos,
franceses e alemães. A arte abs trata, o cubismo e a colagem apare
ceram em filmes dos artistas visuais Man Ray (Retum to Reason [Re
torno à razão], 1923) e Fernand Léger (Le Ballet Mécanique [O balé
mecânico], 1924), bem como dos cineastas René Clair (Entr'acte
[Entre atos], 1924) e Luis Buií.uel (L'Age d'or [A idade do ouro], fei
to com Salvador Dalí, 1930). Abel Gance talvez tenha representado
melhor o "poema cinemático" de Dulac em filmes corno D1'. Tube's
12. Dziga Vertov, cena de The
Man with the Movie Camera
[O homem com a câmera]. 1929.
Junto com Eisenstein, Dziga
Vertov criou a "montagem
dialét ica " , ou o uso de várias
imagens, com o objetivo de
" liberar a visão das massas" na
nova Rússia.
14 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Mania [Mania do dr. Tube] (1915), ]'accuse [Eu acuso] (1919), La
Roue [A roda] (1922), e sobretudo sua obra-prima, Napoleon [Napo
leão] (1927). Outros exemplos dos primórdios do cinema de van
guarda incluem o clássico expressionista alemão The Cabine/ of 01'.
Caligari (O gabinete do dr. Caligari] (1919), dirigido por Robert Wie
ne, e A Page of Madness [Uma página de loucura] (1 926), do diretor
japonês Teinosuke Kinugasa.
Assim, n o início do século XX, a fo tografia de imagens do mo
vimento, obtida primeiro por Muybridge em 1878, evoluiu para a
"ilusão" de movimento mecanicamente produzido, que é o cinema.
Dentro de poucos anos, desenvolveu-se uma estética da imagem
poética e a imagem captada (ou filmad a), auxiliada pelas fotografias
arranjadas de László Moholy-Nagy e seu colega Alfred Stieglitz, as
sumiu uma legitimidade inegável como forma artística. Arte e tec
nologia, como representadas pela fotografia e pelo cinema, torna
vam-se eternamente interligadas enquan to a dicotomia temática
entre arte e vida dissolvia-se aos poucos diante de máquinas ubíquas.
À medida que o cinema se tornava cada vez mais dominado
por Hollywood do final dos anos 20 até o início dos anos 40, a van
guarda internacional enfraqueceu-se, de certa forma, até sua reno
vação nos Es tados Unid os nos anos 50. Enquanto isso, as artes
visuais passavam por transformações radicais sob a in fluência do
dadaísmo europeu, principalmente o praticado por Marcel Du
champ (1887-1968), cuja importância é central para a questão da
arte e dos novos meios de expressão.
De Duchamp e Cage ao Fluxus
A percepção em relação a Marcel Duchamp é, basicamente, a
percepção em relação à ar te do final do século XX, tão profunda foi
1 11 111 Mol 1CJly-Nagy,
1 /11111, 111 l ', 11pol'Lc ele luz].
11 ' 1/11 l l/1,1Arte digital
Baruchello, Gianfranco e Henry
Martin, Why Duchamp (Nova
York, 1985)
Berger, John, About Looking
(Nova York, 1980)
Coleman, A D., The Digital
Evolution (Nova York, 1988)
14 NOVA Mil IA NA ARTE CONTEMPORÂNEA
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1998
Negroponte, Nicholas, Being
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Noll, A. Michael,"The
Beginnings of Computer Art
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Memoir", Leonardo,
setembro, 1994
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Mignonneau, Art @ Science
(Nova York, 1998)
Págillas na W eb
www. [nome da página] .com
ada web
artnetweb
channelp
everyicon.html
net.art
numeral.com
razorfish
rsub
rhizome
siggraph
speed
stadium
thecooker
the thing
tractor
Págirns institucicnais de
interesse
A maioria tem grande quantidade
de links para outras páginas.
Ars Electronica, Áustria:
www.aec.at
Centro de Arte e Meios de
Comunicação de Massa,
Karlsruhe, Alemanha:
www.uni-karlsruhe.de
Dia Center, Nova York:
www.diacenter.org
The Getty Center:
www.getty.edu
Museus Guggenheim:
www.guggenheim.org
Instituto de Arte
Contemporânea, Londres:
www.ica.org.uk
Museu de Arte Contemporânea
de Montreal, Canadá:
www.media.macm.qc.ca
Museu de Arte Moderna, Nova
York: www.moma.org
Queer Arts Resource:
www.queer-arts.org
Museu Whitney de Arte
Americana, Nova York:
www.echonyc.com/-whitney
www.plexus.org/omnizone
(vários artistas)
www.eyebeam.org (vários
artistas)
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1-3 (página do título) Cena de
vídeo. Cortesia do artista e
Luhring Augustine, Nova York;
4 Acrílico, serigrafia e giz pastel
oleoso sobre tela, 160 x 121, 9
(63 x 48). Foto Larry Lame .
Cortesia galeria Barbara
Gladstone, Nova York;
5 College de France, Paris; 6, 7
Biblioteca Pública de Nova York;
8 Óleo sobre tela, 90,8 x 110
(35' /, x 43' /")- Galeria de arte
Albright-Knox, Buffalo, Nova
York. Legado de A. Conger
Goodyear. Doação de George F.
Goodyear, 1964. © DACS, 1999;
9 Biblioteca Pública de Nova
York; 1 O Óleo sobre tela, 146, 1
x 89,2 (57 1
/ 2 x 35 1
/ , ) . Museu de
Arte da Filadélfia. Coleção de
Louise e Walter Arensberg.
© Succession Marcel
Duchamp/ADAGP, Paris e
DACS, Londres, 1999; 11, 12
BFI Stills, Posters and Designs,
Londres; 13 Impressão em
preto-e-branco, 37,4 x 27,5
(14' /, x 10'/,). Museu de Arte
Moderna, Nova York. Doação
do fotógrafo. Copy Prii'lt © 1998
Museu de Arte Moderna, Nova
York. © DACS, 1999; 14 Filme
de 7 minutos feito em
colaboração com Man Ray e
Marc Allegret. © Succession
Marcel Duchamp/ADAGP, Paris
e DACS, Londres, 1999. © Man
RayTrust/ADAGP, Paris e
DACS, Londres, 1999; 15
Installation photo. Óleo, verniz,
folha de chumbo, fio de
chumbo, e poeira em duas
placas de vidro (trincado), cada
qual montada entre dois
painéis de vidro, com cinco tiras
de vidro, folha de alumínio,
moldura de aço e madeira; total
(inclusive moldura) 277,5 x
175,8 (1091
/, x 691
/,). Bride's
Domain (painel superior): 127 x
167,6; (50 x 66); Bachelor
Apparatus (painel inferior):
134,6 x 167,6 (53 x 66); traje da
noiva (moldura metálica
unindo os dois painéis): 7,6 (3).
Museu de Arte da Filadélfia.
Legado de Katherine S. Dreier,
1953. © Succession Marcel
Duchamp/ADAGP, Paris e ·'
DACS, Londres, 1999; 16 Feltro
costurado e carimbado, e. 170 x
60 (67 x 23). Edição
Schellmann, Munique. © DACS,
1999; 17 Pintura combinada:
óleo e lápis sobre almofada,
colcha e lençol em suportes de
madeira, 191 x 80 x 20 (75 x 31
x 8). Museu de Arte Moderna,
Nova York. Doação de Leo
Castelli em homenagem a
Alfred H. Barr, Jr. Fotografia ©
1999 Museu de Arte Moderna,
Nova York. © Unlimited Press,
Inc./DACS, Londres/VAGA,
Nova York 1999; 18 Idealizado e
executado porYoko Ono.
Filmado por Peter Moore.
© 1997 Yoko Ono/Cortesia de
Lenono Photograph Archive,
Nova York; 19 World Premiere,
Concertos do Fluxus em
Fluxhall/Fluxshop, cidade de
Nova York. Plástico, papel,
filme. Dimensões da caixa:
10,2 X 12,1 X 3 (4 X 43
/, X l1/,).
Película de filme de 16 mm em
branco: 1,6 x 213 (5/s x 84).
Coleção de Walker Art Center,
Minneapolis. Walker Special
Purchase Fund, 1989. Cortesia
de Peter Moore e do artista.
© Peter Moore/DACS,
Londres/VAGA, Nova York
1999; 20 Ampliações de
fotograma. Coleção Fluxus de
Gilbert e Lila Silverman,
Detroi t. Filmado por Peter
Moore. Foto Scott Hyde; 21
© 1998 Museu Andy Warhol,
Pittsburgh, PA (Carnegie
Institute). Cena de filme
cortesia do Museu Andy
Warhol; 22 © 1998 Museu
Andy Warhol, Pittsburgh, PA
(Carnegie Institute) . Cena de
filme cortesia do Muse u Andy
Warhol; 23 © Espólio de
Gregory J. Markopolous
Temenos, Inc.; 24, 25 © Robert
Beavers - Temenos, Inc.
Detalhe: The Martyrdom of St.
Hippolytus, Museu de Belas
Artes, Boston, MA; 26, 27 BFI
Stills, Posters and Designs,
Londres; 28, 29 Museu de Arte
Moderna, Nova York/Film Stills
Archive; 30 © Unlimited Press,
Inc./DACS, Londres/VAGA,
Nova York, 1999. Fotografia de
Peter Moore. © Peter
Moore/DACS, Londres/VAGA,
Nova York, 1999. Foto cortesia
de Robert Rauschenberg; 31
Cortesia do artista; 32
Performance com meios de
comunicação de massa
(detalhe). Sistema de
desligamento eletrônico:
projetores de film e de 16 mm e
8 mm, luzes motorizadas, som e
esculturas giratórias. Produzido
com a cooperação da Fundação
para Experimentos em Arte e
Tecnologia (Bi!ly Klüver) e
técnicos de Bell Telephone
216 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
l ,ilbo ra to ries (Ralph Flynn,
l{obbie Robinson, Per Biom).
1:olo: Herbert Migdoll . Cortesia
do arti sta; 33 Instalação
Multimedia: 4 unidades de
projeção de slides com sistema
motorizado d e espelhos e
d issolvência, 17 cordas
motorizadas feitas de cânhamo
ele Manilha, suspensas e
girando a partir de unidades no
te to, Códices de parede"In
Memoriam". Foto cortesia do
Novo Museu de Arte
Contemporân ea, NYC. Cortesia
do artista; 34 Foto copyright
© 1976, Babette Mangolte;
35 Perspec tiva da instalação,
MOCA, LA. Cortesia da galeria
Pat Hearn, Nova York; 36 Cena
de vídeo. Videoteipe, câmara e
performance. Cortesia da
galeria Pat Heam, Nova York;
37 Performance em the
Kitchen, Nova York. Cortesia da
galeria Pat Heam , Nova York.
Foto copyright © 1974, Babette
Mangolte; 38 Videoescultura,
caixa: 188 x 77,5 x 69,9 (74 x
301/, x 27 1/,) . Cortesia da
galeria Pat H eam, Nova York;
39 Performance em Performing
Garage, Nova York. Foto: Gabar
Szitany. Cortesia da galeria
Pat Hearn, Nova York;
40 Hamburger Kunsthalle.
Foto: Elke Walford, Hamburgo.
© ARS, Nova York e DACS,
Londres, 1999; 41 Videoteipe,
pre to-e- branco, som . 60 min.
r I etido continuamente.
o rtesia de Electronic Arts
ln te rmix, Nova York.© ARS,
Nova York e DACS, Londres,
1999; 42, 43 Instalação: dois
monito r s co loridos de 20
po l •go las, do is monitores
co lo ri loH de 25 po legadas,
qualm oito- folante , do is
videoproj ' lor ' S, qua tro
vide t ip '8 ( 'cortesia da galeria
Hayward, Londres; 51 Cena de
filme . Foto cortesia do artista.
© DACS, 1999; 52 Colagem, 26
x 24,8 (10 1/, x 9°/,). Coleção
particular. © Richard Hamilton
1999. Todos os direitos
reservados DACS;
53 Performance em
Bergeshaus, Flingestrasse 11,
Düsseldorf, 11 de outubro,
1963. © Gerhard Richter. Foto
cortesia Konrad Fischer,
Düsseldorf; 54 Performance.
Foto © Erika Kiffl. © DACS,
1999; 55 Foto: Rex Features
Ltd, Londres; 56 Performance
na Academia de Música do
Brooklyn, Nova York. Foto
© Edward Grazda, 1999;
57 dezembro, 1977, PS1, Long
Island City, Nova York. Cortesia
do artista; 58 Animação:
Kleiser-Walczak. Cortesia de
IPA. BAM Press, Nova York;
59 Foto: cortesia do artista;
60 23:50 min, preto-e-branco e
colorido. Cortesia de Electronic
Arts Intermix, Nova York;
61, 62 13:38 min., colorido,
som. Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 63 23:55
min, colo rido, som . Cortesia de
Electronic Arts In termix, Nova
York; 64, 65 13:38 min.,
colorido, som . Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Novo
York; 66 Foto © Mary Gearh ni I;
67, 68 Foto© Paula Court;
69 Next Wave. Cortesia BAM,
Nova York; 70 Foto: Dan Resl.
Cortesia BAM, Nova York; 7 1
Foto: Stephanie Berger© 1999,
os direitos autorais pertencem .1
Stephanie Berger; 72 Foto:
Gilles Abegg; 73 Barbara Cho11,
Daw n Saito. Performance em
La Mama, NYC. Projeções Jan
Hartley. Foto: Brendan Bannon .
Cortesia Ping Chang
Productions, NYC; 74 Cena d1•
vídeo, vídeo single-channel.
Produção/ p erformance de
Kristin Lucas. Foto: cortesia do
artista.© o artis ta, 1997; 75
Foto cortesia de John Arnonc;
76 Foto: Sílvia Taccani; 77
Performance como parte do
Festival New Wave de 1992.
Foto: Alastair Muir. Cortesia
BAM, Nova York; 78 Cortes ia d,·
Advertis ing Archives, Londn'H;
79 61 :28 min., pre to-e-branr11
com som. Cortesia de Eleclrn1 ill'
Arts Intennix, Nova York; 80
Tinta e tomate sobre papel, 111111
x 36 (159 x 14°/1,). Museum
Wiesbaden, Alemanha. Co111•11 !11
do Museu Wiesbaden,
Alemanha e do artista; 81 h,111
Maytick, Colônia, Alemanh.i 1•
do artis ta; 82 Foto: Georgl'
Maciunas. Cortesia de Gco1g1 •
Maciunas/Coleção Fluxus d1•
Gilbert e Lila Silverman, Dl'l 11111
e do artista; 83 Museu de /\11! •
Moderna da Fundação L11 dwl11,
Viena (ex-coleção Hah n).
Cortesia do Museu de A1'11'
Moderna da Fundação l .1 1d wl11,
Viena e do artista; 84 /\pa11 1lli 1111
de TV atrás da tela em urn ,1
caixa de madeira, 200 x , (lll
50 (79 x 118 x 20). © l /\('S,
1999. Foto: J. F. Melzian, 111 •11!111
Cortesia Fine Art Rafael Vostell,
Berlim; 85 Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York. © Douglas Davis/DACS,
LondresNAGA, Nova York,
1999; 86-88 Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York. © Douglas Davis/DACS,
LondresNAGA, Nova York,
1999; 89 Cena de vídeo, 26:49
min, colorido e som. Cortesia
de Electronic Arts Intermix,
Nova York; 90 Cena de vídeo,
11:55 min, colorido com som .
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 91 Cena
de vídeo, 25 min, colorido com
som. © ARS, Nova York e
DACS, Londres 1999; 92 Cena
de vídeo, 27:37 min., colorido
com som. Cortesia de Electronic
Arts Intermix, Nova York;
93, 94 Foto cortesia de Bengt
Modin; 95 Cena de vídeo, 18:40
min, preto-e-branco com som.
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 96 Cena
de vídeo, 2:03 min., colorido
com som. Cortesia de Electronic
Arts Intermix, Nova York e do
a rtis ta; 97-99 Cena de vídeo,
l0:17 min, colorido. Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York; 100 Cena de vídeo, 33:15
min, preto-e-branco com som.
Co rtesia de Electronic Arts
lntermix,NovaYork; 101
ortesia da Galeria Pat Heam,
Nova York. Copyright © 1976,
13abette Mangolte, todos os
lire itos de reprodução
r servados; 102 Performance
' Ill Musée Galleria, Paris.
ll a trice Helligers. Cortesia da
go l ria Pat Heam, Nova York;
103 Cena de vídeo, 2:39 min.
'ortes ia da Galeria Pat Heam,
Nova York; 104 Cortesia Ronald
11 ,1 lman Fine Arts, Nova York.
Copyright cio espólio de
1 lunna h Wilke; 105 Cena de
ví,k , o lorido, estéreo, 5:50
min. Cortesia do artista e de
Electronic Arts Intermix, Nova
York. © 1978/79; 106, 107
Cenas de vídeo. Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York; 108 Cena de vídeo. 23:42
min, preto-e-branco com som.
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 109-11
Videoteipe, 60 min, preto-e
branco com som.© ARS, Nova
York e DACS, Londres, 1999.
Foto cortesia de Video Data
Bank, Chicago; 112 © ARS,
Nova York e DACS, Londres,
1999. Foto cortesia deVideo
Data Bank, Chicago; 113 Cena
de vídeo, 18:35 min, pre to-e
branco e colorido com som .
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 114 Cena
de vídeo, 27 min, preto-e
branco com som. Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York. © ARS, Nova York e
DACS, Londres, 1999; 115 Cen a
de vídeo, 3:39 min. Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York; 116, 117 Cena de vídeo,
28:43 min, colorido com som.
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 118 Cena
de vídeo, 12:45 min, colorido
com som. Cortesia de Electronic
Arts Intermix, Nova York; 119
Mecanismo com música e cor.
Dos arquivos do Instituto
Promotei, Kazan, Tatars tan,
Rússia; 120-22 © DACS, 1999;
123 Cena de vídeo, 89 min,
colorido com som . Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York; 124 Cena d e vídeo, 2:49
min, colorido com som.
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 125 Cena
de vídeo. Foto cortesia de Video
Data Bank, Chicago; 126 Cena
de vídeo, 11 min, preto-e
branco e colorido com som .
Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York;
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 217
127 Cortesia do artista;
128 Cortesia de Maureen
Paley/Interim Art, Londres; 129
Perspectiva da instalação. EUA
continental - e. 765 x 1632 x
204 (180 x 384 x 48) . Alasca -
C. 255 X 471,3 X 85 (60 X 84 X
20). Havaí- c. 306 x 306 x 63,8
(72 x 72 x 15). Cortesia do
artista e da Galeria Holly
Solomon, N ova York; 130 Parte
do catálogo de vídeo de Nam
June Paik produzido para a
exposição nacional itinerante
The Electronic Superhighway:
Nam ]une Paik in the 90s, que
estreou no Museu de Arte em
Fort Lauderdale, Flórida em
1994. Cortesia do artista e de
Elcctronic Arts Intennix, N ova
York; 131 Cena de vídeo, 42
min. Cortesia de Electronic Arts
Intermix, Nova York; 132
Videoinstalação, TV com
compensado de pinho
man chado. Cortesia de
Frederieke Taylor/TZ' Art, Nova
York; 133 Gesso e madei ra,
243,8 X 609,6 X 50,8 (96 X 240 X
20) . M useu Solomon R.
Guggenheim, Nova York.
Coleção Panza, doação, 1992.
© Museu Solomon R.
Guggenheim, Nova York (FN
92.4162) . © ARS, Nova York e
DACS Londres, 1999, 134
Video teipe, 60 min., preto-e
branco com som.© ARS, Nova
York e DACS Londres 1999;
135 Instalação com vídeo. Foto:
Kay Hines. Cortesia do artis ta;
136 Foto cortesia do artista;
137 Cena de vídeo. Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York; 138 Instalação com canais
múltiplos. Videoteipe, 44:35
min, preto-e-branco. Cortesia
de Electronic Arts Intermix,
Nova York; 139 Videoinstalação
e canais múltiplos: 1 painel de
fotos (3 partes), impressão em
pre to-e-branco. Dimensões
li NIJVA'i Mil ll/\!> N/\ ARH CONTEMPORÂNEA
v1 11 lnwl11. M11 ,• u ele Arte
M11d1 111 111 d,• São Fra ncisco.
l\1•1•1111 ilonH 'omrn ittee Fund:
dotl\'illl d· ollcc tors Forum,
1 )mi • 1 onald G. Fisher,
l•:w lyn Walter Haas, Jr., Byron
R. Mcycr, e Norman e Norah
, ' \'O nc. © 1982-93. Foto: Ben
111ackwcll 1993. Cortesia do
artista; 140 Parede com 25
camais de vídeo, colorido,
rnudo, duas câmeras de circuito
( chado, ao vivo, SEG com
controle de brilho pré
selecionado, receptor por
sa télite, luminária de parede
personalizada. Revestimento:
aço e vidro preto opaco. 732 x
610 X 112 (288 X 240 X 44).
Foto: Dara Birnbaum © 1989.
Cortesia do artista e da galeria
Rena Bransten, São Francisco;
141, 143 Instalação com vários
meios de expressão com
projeçãode vídeo, detritos
de computadores, motores
pequenos, som. Foto cortesia
de Judith Bany; 142
Videoinstalação, Bienal de
Veneza, 1997. Cortesia do
artista; 144 Videoinstalação.
Cortesia do artista e de Matt's
Gallery, Londres; 145
Videoinstalação de tela única
com som. Dimensões variáveis.
The British School em Roma.
Foto: Mimmo Capone. Cortesia
do artista e de Matt's Gallery,
Londres; 146 © ADAGP, Paris e
DACS, Londres, 1999. Foto:
Laurent Lecat. Cortesia da
gal ria Jack Tilton, Nova York;
147 Videoinstalação. Foto:
Javi r Campano. Cortesia do
M,1se u Nacional do Centro de
Arte Rainha Sofia.© DACS,
1999; 148 Q uatro videoteipes
1nnHL rs d 1 polegada, quatro
1 2 most rs com correção de
1'111; 28 los •rcl iscs, videoteipe
11111111111' ,k 'I polegada (pa ra a
l1u1111l11 ç o ('Ol'l'1 11101, itor único-
versões em francês e inglês),
Magno" draw" disc,
internegativo de fihne de 16 mm,
dois videoteipes master
1 polegada (para a instalação
com monitor único - versões
em alemão e espanhol).
Coleção Walker Art Center,
Minneapolis, Justin Smith
Purchase Fun.d, 1995. Cortesia
da galeria Sean Kelly, Nova
York. Copyright Chantal
Ackerman & Lieurac
Productions, 1998; 149-151
Cenas de vídeo. Bienal de
Veneza, Veneza, Itália 1997.
Cortesia da galeria Sean Kelly,
Nova York.© DACS, 1999; 152
Projeção de vídeo (2 telas),
dimensões variáveis. Cortesia
da galeria Lisson, Londres; 153
© Canal Street
Communications, Nova York;
154 Vídeo 18:28 min, colorido
com som. Cortesia de Electronic
Arts Intermix, Nova York; 155,
156 Instalação para a Bienal de
Veneza em 1997, 16 min,
colorido com som. Cortesia de
Electronic Arts Intermix, Nova
York; 157 Videoinstalação/som
em 5 canais com 5 lajes de
granito, 5 projetores e 5 telas de
projeção, cada laje medindo
177,8 X 282 X 6 (70 X 111 X 3),
cada tela 177,8 x 282 (70 x 111) .
Edição 1, Museu de Arte
Moderna, Nova York. Doação
da Fundação Bohen em
homenagem a Richard E.
Oldenburg. Edição 2, Museu de
Arte Contemporânea, Zentrum
für Kunst und
Medientechnologie, Karlsruhe.
Foto: Charles Duprat. Cortesia
do artista; 158, 1 59
Videoinstalação/sorn. Edição 1:
The Chaplaincy to the Arts and
Recreation no nordeste da
Inglaterra. Edição 2: Coleção da
Fundação Bohen, doação
prometida ao Museu Solomon
R. Guggenheim, Nova York.
Edição 3: Galeria de arte
Albright-Knox, Buffalo, Nova
York. Foto: Kira Perov. Cortesia
do artista; 160 Videoinstalação/
som. Edição l: Fundação
Bohen, doação prometida
ao Museu Solomon R.
Guggenheim, Nova York.
Edição 2: Pamela e Richard
Kramlich, São Francisco. Edição
3: Museu de Arte de Dallas,
Texas. Foto: Kira Perov. Cortesia
do artista; 161 Videoinstalação/
som. Museu de Arte Moderna,
Frankfurt-am-Main, Alemanha.
Foto: Kira Perov. Cortesia do
artista; 162 Cortesia do artista e
da galeria DonaldYoung,
Seattle; 163 Perspectiva da
instalação, galeria Lennon
Weinberg, Nova York, março
abril 1995. Cortesia da galeria
Lennon Weinberg, Nova York.
Foto: David Allison; 164 Mary
Lucier, Ohio at Giverny, 1983.
Videoinstalação: dois
videoteipes, coloridos, som,
18:30 min; sete monitores,
variando de 12-21 polegadas;
iniciador sincronizado. Museu
Whitney de Arte Americana,
Nova York. Adquirido com
recursos da Fundação Louis e
Bessie Adler, Inc., Seymour M.
Klein, Presidente, e Sra.
Rudolph B. Schulhof. Cortesia
de Electronic Arts ln termix,
Nova York; 165 Perspectiva d:1
instalação da exposição
Dislocations. Museu de Arte
Moderna, Nova York. 16 de
outubro, 1991 a 7 de janeiro,
1992. Fotografia© 1998 Mu s1• 11
de Arte Moderna, Nova York;
166 Prancheta e braçadeirw1 tl 1•
plástico protético, espum8 d1•
látex, impressões em
cibacromo. 71, 1 x 26, 7 x 6,'I (' 111
x 101/, x 21/2). Foto: Larry
Lame. Cortesia da Ga l ri .1
Barbara Gladstone, Novn Vi 11 I ,
167 © 1997 Matthew Barney.
Foto: Michael James O'Brien.
Cortesia da Galeria Barbara
Gladstone, Nova York;
168 Instalação controlada por
computadores com som e
laserdisc em cinco canais.
Co-produzido com Canon
ARTLAB, Tóquio.© Canon
ARTLAB; 169 Cerâmica, vidro,
video player, videocassete,
projetor de vídeo CPJ-200, som.
C. 27,9 X 17,8 X 20,3 (11 X 7 X 8)
cada. Cortesia do artista e de
Metro Pictures, Nova York; 170
Perspectiva da instalação:
Patrick Painter Inc., Santa
Mônica, CA. Foto: Fredrik
Nilsen. Cortesia do artista e de
Patrick Painter Inc., Santa
Mônica; 1 71 Perspectiva da
instalação: Documenta X,
Kassel, Alemanha. Foto: Werner
Maschmann. Cortesia do artista
e de Patrick Painter Inc., Santa
Mônica; 172 Videoinstalação
com estrutura cilíndrica de
madeira, projetor de vídeo,
amplificador, quatro
alto-falantes. 350 x 300 x 300
(138 x 118 x 118). Cortesia do
artista. Foto: Philippe Migeat;
173Vídeo e 10 peças de roupa
em mala. Vídeo de 12 minutos
em repetição contínua de 90
minutos. Edição de 2.
Perspectiva da instalação. Foto:
David Regen. Cortesia ela
galeria Barbara Gladstone,
NovaYork.©DACS, 1999; 174
Instalação com vídeo e meios
ele expressão múltiplos (vista
superior, detalhe). Projeção de
vídeo em miniatura de banheira
1 cerâmina, pedestal
azulejado, suportes metálicos,
áudio. Dimensões da escultura
, 5,6 X 50,8 X 66 ( 14 X 20 X 26).
Jioto: Erma Estwick. Cortesia da
g~ le ri a Anna Kustera, Nova
Yo rk, Nova York.© Amy Jenkins
199 ; 175, 176Videoinstalação.
Foto: Smith/Stewart; 177, 178
Cortesia do artista e de Luhring
Augustine, Nova York; 179
Filme de 16 mm/transferência
para vídeo (cena).© o artista.
Cortesia da galeria An thony
Reynolds, Londres e da galeria
Marian Goodman, Paris/Nova
York; 180 Projeção com
repetição contínua de vídeo em
laserdisk. Laserdisk player,
amplificador AC-3, 5
alto-falantes, 1 subwoofer
[pequeno alto-falante para
reproduzir notas graves com
precisão], 156 x 366 (62 x 144).
Tela perolada Dasnap, projetor
Barco 701 S HQ. Dimensões da
instalação: 200 x 400 x 550 (79
x 158 x 217). Edição de 4.
Exposto: Bienal de Veneza, ..
pavilhão canadense, 15 de
junho 4 de novembro, 1997.
Cortesia da galeria Lisson,
Londres; 181 Cortesia do
artista e Fondazione Prada,
Milão; 182 Gráficos
computadorizados.
©A.Michael Noll, 1965;
183-86 AT&T. Reimpresso com
permissão. Coleção do Museu
de Arte Moderna, Nova York;
187 Imagens geradas em
computador. Cortesia de
European Media Art Festival
Archives, Osnabruck;
188 © ADAGP, Paris e DACS,
Londres. Foto cortesia do
artista; 189 Gráficos
computadorizados. Cortesia da
galeria Emília Suciu, Ettlingen;
190 Instalação com iluminação
na cerimônia de encerramento
da 20~ Olimpíada, Munique
9.11. 72. Foto: Wolf Huber.
Cortesia do artista;
191 © ADAGP, Paris e DACS,
Londres, 1999; 192-94 ©
William Latham; 195 Escultura
com raios laser ao ar livre. Foto:
T. Charles Erickson;
196 Instalação com múltiplos
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 219
meios de expressão com
projeção em vídeo de imagens
digitalmente alteradas. Cortesia
do artista; 197 © 1987
Computer Creations
Corporation; 198 © ADAGP,
Paris e DACS, Londres;
199 Fotografia construída
digitalmente, 156,2 x 135,3 (62
x 53). Cortesia Ronald Feldman
Fine Arts, Nova York; 200 Iris
print de arquivo
digital/impressão tipo C frontal
em negativo colorido. Cortesia
do artista; 201 Tríptico de 3
impressões digitais, 213,4 x 91,5
(84 x 36) cada uma. Dimensões
totais: 213,4 x 274,5 (84 x 108).
Cortesia do artista;
202 Transparência em caixa
com iluminação artificial.
Imagem 229 x 377 (90 x 148).
Iate Gallery, Londres. Cortesia
do artista; 203 Imagem gerada
em computador. Cortesia cio
artista; 204-7 CopyrightTony
Oursler, Constance DeJong e
Stephen Vitiello. Cortesia Dia
Center for the Arts
(www.cliacenter.org);
208-11 Copyright Cheryl
Donegan. Cortesia Dia Center
for the Arts (www.diacenter.org);
212 Cortesia do artista;
213 Cortesia do artista;
214 Mecanismo ótico
motorizado: cinco placas de
vidro pintadas (presas com
madeira e metal) girando em
torno de um eixo metálico,lâmina mais larga, posicionado
na vertical 166,3 (64) de altura;
na base 120,6 x 184,1 (48 x 73);
placa de vidro 99 x 14 (39 x 6).
Galeria de Arte da
Universidade Yale, New Haven,
Connecticut. Doação de Société
Anonyme. © Succession Marcel
Duchamp/ADAGP, Paris e
DACS, Londres, 1999;
21 5-17 Fotos de Will N ewell;
218 Instalação interativa com
O Nt !VII', Mil 1/\ N/\ ARTE CONTEMPORÂNEA
111111•, 1111 1111 1,•1 11> com i utadorizada
1•111 m l11 hornc;n!' t l ti. 'ort ia do a rtista;
1 · , 20 12s ultura interativa:
Vld,•odis os, computadores,
nl11 mínio, madeira, plástico,
r11 hos I '. tri cos. © Ken Feingold,
1993; 221 © 1997 Karl Sims;
222 © 1993 Karl Sims; 223-25
Construção da instalação
planejada por Laura Kurgan e
James Cathcart. Os atores que
aparecem nos slides são Ken
Taylor e Nicole Farmer com os
músicos Peter Winograd e
Marian Hahn. Cortesia do
artista; 226 Instalação interativa
vídeo/computador.© Jeffrey
Shaw; 227 Gromala © 1996;
228 Imagem cortesia do
Laboratório de Visualização
Eletrônica, Universidade de
Illinois, Chicago.
ÍNDICE REMISSIVO
(Os números de páginas em itálico referem-se às ilustrações)
Abe, Shuya 85
Abramovic, Marina 131-2;
Balkan Baroque(Father) 129;
Balkan Baroque (Marina
Abramovic) 129; Balkan
Baroque(Mother) 129
Acionistas vienenses 48-9
Acconci, Vito 41 -2, 44, 46, 78,
81, 87, 90, 91, 103, 116, 142,
145; Command Perforrnance
46, 47; Second Hand 47;
Theme Song 90
Ackerman, Chantal 129;
Bordering on Fiction: "D'Est" de
Chantal Ackerman 128, 129
Agostino, Peter d' 86
Ahwesh, Peggy 27
Aitken, Doug 132
Albers, Josef 188
Almy, Max 86; Leaving the 20th
Century 89
Alpert, Jon 75
Anderson, Laurie 130-1, 163;
Dancing in lhe Moonlight with
herwigwam hair 131
Anger, Kenneth 21
Ant Farm 59, 75; The Eternal
Frame 58
Arbus, Diane 151
Archipenko, Alexander 166
Artschwager, Richard 114
Ascott, Roy 190
Ashley, Robert 55
Athey, Ron 50
Aziz, Anthony 180
Aziz, Sukran 129
Baldessari, John 77, 87, 98, 170;
r Am Making Art 87, 87
11, ldino, Phyllis 103, 105
ll !l a, G iacomo 6; Dynamism of
n Dog on a Leash 8
llo ll a rd, Norman 174;
Visualization ofTime!Quarry
S1111rlial 177
Barber, George 106
Barney, Matthew 87, 145-6;
Fie/d Dressing (orifill) 144,
145; Cremaster 5145, 145,
146, 159
Barry, Judith 123; Hard Cell 122,
124-5
Barthes, Roland 56
Bartlett, Jennifer 173
Bartos, Zoltan 101
Baruchello, Gianfranco 211
Barzyk, Fred 86
Bausch, Pina 159
Beauvais, Richard e David 22
Beavers, Robert 22; Efpsychi 22;
The Painting 25
Beckett, Samuel 42-3, 63, 139;
Foirades!Fizzles 69
Belschner, Torsten 195
Belson, Jordan 21
Benglis, Lynda 92
Benjamin, Walter 162, 164, 190
Benning, Sadie 103; If Every Girl
Had a Dian; 105
Berger, John 211
Bergson, Henri 6
Berners-Lee, Timothy 187
Betsky, Aaron 191
Beuys, Joseph 16, 30, 114; Felt
Suit 17
Birnbaum, Dara 92, 120-1, 142;
PM Magazine 120; Rio
Videowall 120-1; Technology
Transformation:
Wonderwoman 92, 93, 120
Boccioni, Umberto 9
Boulez, Pierre 99
Boyce, Sonia 158
Boyle, Deirdre 75
Brakhage, Stan 8, 21, 22, 26, 132
Braque, Georges 1, 211
Brecht, Berthold 43
Brecht, George, 18; Entry-E:xit 20
Brook, Peter, 65-6; The Man
Who66
Brose, Lawrence 22; De
Profundis 22
Brown, Trisha 32, 35, 42
Bruch, Klaus vom 81
Brun, Herbert 171
Brus, Gunter 30, 50
Buíiuel, Luis 13
Burden, Chris 93-4; Through the
Night Softly 95
Burgin, Victor 180; Angelus
Novus (Street Photography)
182
Cage, John 14, 17-8, 31, 77, 114
Cahen, Robert 99; Juste le Temps
100
Campus, Peter 94, 116; Dynamic
Fie/d Series 95
Carrà, Cario 9
Cheang, Shu Lea 187
Chevalier, Miguel 174-5;
Anthropornetty 175
Chicago, Judy 150
Childs, Lucinda 31, 32
Cho, Seoung 105; robinson ar
me 106
Chang, Ping 66; Deshima 66
Chris, Cynthia 110
Clair, René 13
Close, Chuck 178
Colernan, A D. 186
Connor, Bruce 21
Coral, Giarnpaolo 174
Cornwell, Regi na 206
Cottingham, Keith 178, 180;
Untitled (Tripie) 181
Cruz-Neira, Carolina 206
Csuri, Charles 171
Cucher, Samrny 180
Cunningham, Merce 17, 18, 31
Dalí, Salvador 13, 175
Dan to, Arthur 2
Davis, Douglas 56, 81; Street
Sentences 82; Studies in Black
222 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA ÍNDICE REMISSIVO 223
and White Videotape 82; Talk Fifer, Sally Jo 119 Graham, Rodney 159; Vexation Johns, Jasper 72 Lintermann, Bernd 195 Motherwell, Robert 17
Out 82; Video Against Video 82 Fifield, George 162 Island 160-1 Jonas, Joan 35-9, 52, 77, 90, 103, Lippard, Lucy 72, 111 Muehl, Otto 30, 48, 50
Debord, Guy 58 Fischer, Konrad 51; A Greenberg, Clement 30, 72 142; Funnel 37, 38; Left Side, Liuming, Ma 101 Mullican, Matt 190; Up to 625
Degas, Edgar 8 Demonst-ration for Capitalist Griffi th, D. W. 12 Right Side 92; My New Theatre Lord, Chip 182; Awakening from 191
DeJong, Constance 188; Realism 53 Grigorescu, Ion 30, 51 II (Big Mirrar) 37, 40; Oad the Twentieth Century 182-3 Murnau, F. W. 12, 64
Fantastic Prayers 189 Fluxus 14, 18-21, 48, 66, 75, 77, Gromala, Diane 207; The Virtual Lau 36; Organic Honey's Lublin, Lera 178; Memory of Muybridge, Eadweard 3, 6-9,
Deleuze, Gilles 159 111,114, 131,143,195 Deruish 207 Vertical Rali 90, 90-1; History Meets Memory of the 14, 86, 186, 211; Descending
Delluc, Louis 13 Fontana, Lucio 30 Guerrero, Ed 158 Organic Honey's Visual Computer 178 Stairs and Turning Around 4-5;
Deren, Maya 21 Foreman, Richard 63 Gutai Group 47-8 Telepathy 37, 36; Sweeney Lucas, Kristin 66, 107; Host 66 La Nature: Studies in Animal
Dickson, William Kennedy Forgács, Péter 100; Priva/e Astray 37; Volcano Saga 37, Lucier, Alvin 55 Locomotion 9, 7; Ascending
Laurie 9 Hungary: T'he Bar/os Family Hall, Doug 58-9, 119 40-1; Wind 36 Lucier, Mary 132, 141-2; Las/ and Descending Stairs 9, 10
Dillon, Kathy 46 102 Halley, Peter 191 Judd, Donald 16 Rites (Positano) 140-1; Ohio at
Dine, Jim 72 Forti, Sim one 42 Halprin, Anne 42 Jue, Chen 101 Giverny 141 Nake, Frieder 166
Doherty, Willie 123-7; At the Fox, Terry 46 Hamilton, Richard 52; Just what Julesz, Bela 166 Nauman, Bruce 41-3, 77, 78, 95-
End of the Day 126; Frampton, Hollis 8, 21 is it that makes today's homes Maciunas, George 18, 19 6, 115, 145, 170; Anthro!Socio
Somewhere Else 126 Fried, Howard 87 so different, so appealing? 52 Kaprow, Allan 18, 30, 72, 86, Malevich, Kasimir 1 (Rinde Spinning) 42, 43; Art
Donegan, Cheryl 103, 107, 188; Froese, Dieter 116; Nota Model Hanhardt, John 77 195 Man Ray 13, 195 Make-Up 43; Clown Torture
Head 104; Studio Visit 189 for Big Brother's Spy Cycle 117 Haring, Keith 173 Kaufman, Stanley 12 Manzoni, Piero 30 43, 44; From Hand to Mouth
Douglas, Stan 127 Fujihata, Masaki 195 Hatoum, Mona 150; Corps Kentridge, William 171 Marey 211 42; Neon Temp/ates of the Left
Downey, Juan 97; Moving 97 Furuhashi, Teiji 146-7; Lovers étranger 150 King, Kenneth 22 Marey, Etienne-Jules 3, 6; Hand of My Body Taken at Ten
Druckrcy, Timothy 186, 195 146 Hay, Deborah 31, 32, 35 Kirby, Michael 35 Gymnast Jumping over a C!;zair foch Interuals 42; Performance
Duchamp, Marcel 1, 3, 6, 14, 15, Hendricks, Nelson 106 Klahr, Lewis 26 2-3 Corridor 133; Revolving
18, 19, 14-7, 72, 111, 114, 142, Gabo, Naum 166 Hershman-Leeson, Lynn 195, Klein, Yves 50 Markopoulos, Gregory 21, 22; Upside Down 95, 96; Slow
165, 211; Anemie Cinema 15, Galeyev, Bulat 100; Electronic 197; Roam of One's Own: Kleiser, Jeffrey 55 The Illiac Passion 2 4 Angle Walk (Beckett Walk) 43,
16; Etant donnés 15; Nude Painter 101 5/ightly Behind the Scenes 198 Klocker, Huber 50 Martin, Agnes 188 45; Walk with Contrapposto 116
Descending a Staircase 9, 11; Gance, Abel 12, 13 Higgins, Richard 18 Klüver, Billy 31, 32 Martin, Henry 211 Nees, George 166
Rotary G/ass Plates (Precision Garrin, Paul 197 Hill, Christine 72 Knowlton, Kenneth 170 Marton, Pier 43 Neshat, Shirin 132
Optics) 194, 195; The Large Gaumnitz, Michael 171; Hill, Gary 97-8, 110, 141; Kolmar and Melamid 188 Mathieu, Georges 30 Nitsch, Hermann 48
Glass(The Bride Stripped Bare Sketches, Portraits, and Electronic Linguistics 97, 98; Koma 56 McCarthy, Paul 50 Noll, A. Michael 166, 170;
by Her Bachelors, Even) 15, 16 Homages 171 Tal/ Ships 138, 141 Kosuth, Joseph 16 McLuhan, Marshall 74 Gaussian Quadratic 166
Duguet, Anne-Marie 3 Gehr, Ernie 22 Hiller, Lejaren 171 Kren, Kurt 48, 50 McQueen, Steve 158, 159; Bear
Dumb Type 146, 165 Gever, Martha 74 Hiller, Susan 141 Kubota, Shigeko 114; 158 O'Doherty, Brian 110
Dunn,John 171 Gibbons, Joe 26 Hoberman, Perry 195 Duchampiana: Nude Meade, Taylor 22 O'Neill, Eugene 59, 63
Gillette, Frank 75, 119; Wipe Hockney, David 173 Descending a Staircase 114 Melies, George 9, 12 O'Neill, Pat 21
Eckert, Rinde 42 Cycle 119 Holzer, Jenny 188 Kuchar, George and Mike 26 Mendieta, Ana 93, 150; Body Odenbach, Marcel 129, Eine
Edgerton, Harold 20 Ginsberg, Arthur 119 Hybert, Fabrice 127, 127 Kinugasa, Teinosuke 14 Tracks (Blood Sign #2) 94 Faust in der Tasche Machen
Ed ison, Thomas 3, 9 Giorno, John 23 Menken, Marie 21 128
Eiko 56 Glass, Philip 42, 55; Monsters of ldernitsu, Mako 81-2; HIDEO, La Fura deis Baus 65; F@usto: Meyerhold, Vsevolod 12 Oldenburg, Claes 72
Eisenstein, Sergei 12-3, 14; Grace 55, 57 It's Me, Mama 83 Version 3.0 65 Modin, Bengt 86; Monument 87 Ono, Yoko 20; Film no. 1 20
O Encouraçado Potemkin 12, 13 Godard, Jean-Luc 21, 23, 34, 98, !mura, Taka 81 Lang, Fritz 12 Moffatt, Tracey 142, 151 Oppenheim, Dennis 46
Ernshwiller, Ed 82-3; 103 139, 159; Le Mépris 26 Indiana, Robert 23 Latham, William 174; The Moholy-Nagy, László 14; Oppenheim, Meret 114
Thermogenesis 84 Goldenberg, David 118; irmãos Lumiere 3, 9 Evolution of Fonn 176 Lightprop 15 Orlan 53-4; Le Visage du 21
Export, Va li e 48, 50-1; Syntagma Microwave and Freezerstills LeCompte, Liz 59 Mohr, Manfred 171 siecle 54
5·1, 52 118 Jacobs, Ken 26-7; Window 27 Léger, Fernand 13 Moinar, Vera 172; Parcours 172 Ossowiecki, Stefan 141
Goodman, Cynthia 173 James, David 21-2, 132 Lepage, Robert 64; Needles and Monk, Meredith 42 Oursler, Tony 148, 150, 188;
Fc ingold, Ken 98, 195, 198; Gordon, Douglas 129-30; Jameson, Fredric 59 Opium 70-1; Polygraph 65; Moog, Robert 83 Fantastic Prayers 188, 189;
C/1ilc/hoocl! l-fot and Cold Wars Hysterical 130 Jenkins, Amy 148, 150; E/1/1 !.', ' The Seven Streams of lhe River Moore, Peter 19 Mansheshe 147; (e Kelly) The
(The /\ppenrance of Nature) Graham, Dan 56-9, 77-8; Jenkins, Bruce 19 Ota 65 Moorman, Charlotte 46-7, 56 Poetics Project 148
199; P11rely l !1m1an 5/eep 99 Performance! Audience!Mirror Jesurun, John 63-4; Everyt/1111,,: L vin e, Les 75, 115, 119 Morgan, Robert C. 26
Fend, Pctcr '123 57; Three Linked Cubes/Interior Tha t Rises Must Co11ve1x1· ,,, 1 1, 'v in e, Saul 26, 27 Mori, Mariko 182 Paik, Nam June 31, 36, 46-7, 56,
Feuillade, Louis ·12 Design for a Space Showing Jian, Shi 101 I , •vin e, Sherry178 Morris, Bob 79 75-80, 80, 85-6, 111-2, 114,
Fietzek, Frank '191-2 Vídeos 58 Jinsong, Wang 101 1, •Witt, Sol 16 Morse, Margaret 115-6 119, 138, 174; Butterfly 88;
224 NOVAS MIDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Concerto for TV, Cello and
Video Tape 46, 48, 56;
Electronic Superhighway 112,
112-3; Family of Robot, Aunt
and Une/e 47, 49; Sextronique
46; TV Bra 46; Zen for Film 19,
20, 21; Zen for Head 78; Zen
forTV80
Pane, Gina 43
PaperTigerTelevision 75
Paxton, Steve 32, 35
Pearlstein, Alix 107
Pezold, Friederike 53
Picasso, Pablo 1, 96, 166, 211
Piene, Otto 86, 173; Olympic
Rainbow 173
Piper, Adrian 143-4; What It 's
Like, What It Is #3 143
Piper, Keith 153
Plessi, Fabrizio 123; Bronx 123
Pollock, Jackson 1, 30
Popper, Frank 166, 178
Porter, Edwin S. 12
Prince, Richard 1; My Best VI
Raindance Corporation 75
Rainer, Yvonne 35, 42
Rapp, Ray 114; TV Fumiture 115
Rauschenberg, Robert 16, 17,
30,31-2, 72,159,165; Bed 17;
Linoleum 32; Open Score
(Bong) 31 , 32
Razorfish 191
Reich, Steve 42, 55
Re illy, John 119; The Irish Tapes
120
Richter, Gerhard 51; A
Dernonstration for Capitalist
Realism 53
Ridd le, James 20
Rifk in, Se th 202
Ris t, P ipi lo tti 103, 151-3, 159;
Ever is Over A/1151, 156, 157
Ros nbach, Ulrike 52; To Have
No Power Is to Have Power 53,
/il/.
J.lo 1 ' r, Martha 74
l{nlh, Moira 52
1{111111, Jl' iolucl lin 55
1{11 11 1!, MI ·hoe l 19
i 111'1 111 ( ll! Vl' r' 65
Sandin, Dan 83, 171, 206; The
Cave 206-7, 208-9
Schaffer, James 171
Schimmel, Paul 30
Schneemann, Carolee 35, 52,
72; Eye Body 35; Mortal Coils
32; Snows 32, 35
Schiinberg, Arnold 18
Schwartz, Lillian 170, 178;
Mona/Leo 1-79; Pixillation
168-9 ·
Sch witters, Kurt 6
Scorsese, Martin 130
Seaman, Bill 195-7; Passage
Set!One Pulls Pivots at the Tip
of the Tangue 196-7
Seawright, James 86
Serra, Richard 80, 98, 170
Shaw, Jeffrey 195,202; The
Legible CihJ 204-5
Shimamoto, Shozo 30
Shiomi, Mieko 18, 19, 195;
Dísappearing Music for Face
19, 20, 21
Shiraga, Kazuo 30
Simon, John 187-8; Every Jean
187
Sims, Karl 195, 198, 199;
Galápagos 200; Genetic Images
200-1
Sjiilander, Ture 86; Monument 87
Sjiistriim, Victor 12
Smith, Jack 21, 22
Smith, Mike 59, 63; Down in the
Rec Roam 60; Mike Builds a
Shelter 60; Secret Horror 61
Smith, Stephanie 153;
Intercourse 152; Sustain 154-5
Snow, Michael 21, 34;
Wavelength 32
Sokurov, Alexandr 106; Oriental
Elegi; 106
Sonnier, Keith 83; Animation II
84
St. Phalle, N ikki de 30
Stark, Scott 33; Acceleration 28-9
Stein, Gertrude 59, 63
Steinback, Charles 164
Stella, Frank 72
S tem berg, Josef von 22
Stewart, Edward 153; Intercourse
:152; Sus tain 154-5
Stiegli tz, Alfred 14
Sweeney, Skip 119
Tadlock, Thomas 86
Tambellini, Aldo 86
Tanaka, Atsuko 30
Tanguy, Yves 175
Taylor-Wood, Sam 107
Tilson, Jake 190; The Cooker 193
Tinguely, Jean 30; Hommage à
New York 31
Toomik, Jaan 134
Trockel, Rosemarie 151; Yvonne
151
Truffaut, François 34
Tudor, David 17
Turner, Ted 127
TVTV 75; Four More Years 76
Uthco, T. R. 58; The Etemal
Frame 58
Vanderbeek, Stan 31, 170
Vasulka, Steina e Woody 83-6,
132-4, 171; Golden Voyage 85;
Orka 133; Progeny 132
Vertov, Dziga 13, 26; The Man
with the Movie Camera 13, 14
Vertrocq, Mareia 153
Videofreex 75
Viola, Bill 101, 103, 106, 132,
135-40, 148; I Do Not Know
What It Is I Am Like 103, 104;
Stations 134, 135; The Crossi11g
136, 137, 139; The Messenger
135, 137; The Stopping Mind
136, 138
Virilio, Paul 164
Vitiello, Stephen 188; Fantaslic
Prayers 189
Vostell, Wolf 79-80, 119; TV 0 1•
coll!age 79, 81, 111
Walczak, Diana 55
Waliczky, Iamas 195
Wall, Jeff 182; A Sudden G11s/ u/
Wind 184-5
Warhol, Andy 21, 22, 72, 97,
159, 173, 174; Eat 23, 2.1; /\ 111~
23, 23; Sleep 23; 35 Jnckii':: '1 1
100 Campbell's Soup C1111 :, 1 1
Wearing, Gillian 107; I'd Like to
Teach the World to Sing 107,
108-9
Weck, Lars 86; Monument 87
Wegman, William 96- 7; Selected
Works: Reel 6 96-7
Weibel, Peter 164
Weinbren, Graham e 195; Sonata
202, 203
Weiner, Lawrence 188
Whitman, Robert 34; Prune F/at
34
Whitney, John 21, 170; Catalog
170, 170
Who, The 68; Tommy 67
Wiene, Robert 14
Wilke, Hannah 92, 142; Gestures
92,92
Williams, William Carlos 37
Wilson, Martha 192
Wilson, Robert 55, 64; Deafman
Glance 55, 56; Monsters of
Grace 55, 57
Wittgenstein, Ludwig 42, 98,
141
Wodiczko, Krzysztof 129
Wooster Group 59, 63-4; Brace
Up! 62; House!Lights 62
INDICE REMISSIVO 225
Wulke, Joy 174; Visualization of
Time-Quarry Sundial 177
Yongbin, Li 101
Yoshihara, Yukihiro 55
Young, LaMonte 77; Composition
1960 #10 79; Piano Piece for
David Tudor #2 18
Youngblood, Gene 1, 86, 119
Yvaral, Jean-Pierre 178;
Synthesized Mona Lisa 178, 180
Zagone, Robert 86
Zajec, Edward 174foi um movimento internacional de artistas, escritores,
cineastas e músicos sob a liderança de George Maciunas (1931-78),
provocador lituano que organizou os primeiros eventos do Fluxus,
inicialmente na Galeria AG em Nova York (1961) e, depois, em fes
tivais na Europa, começando em 1962. De espírito semelhante ao
dadaísmo (o manifesto de Maciunas o descreveu corno"neodadaís
mo na música, no teatro, na poesia e na arte"), o Fluxus, corno
qualquer movimento de vanguarda, era antiarte, principalmente
contra a arte como propriedade exclusiva de museus e coleciona
dores. Fez críticas à seriedade do alto modernismo e tentou, se
guindo Duchamp, afirmar o que os fluxistas consideravam ser um
vínculo essencial entre objetos cotidianos, eventos e arte. Eles ma
nifestaram essa idéia em performances minimalistas, porém aces
síveis. Um evento do Fluxus, como definido pelo artista teuto-ame
ricano George Brecht, era a menor unidade de uma situação. Um
deles, concebido pela artista Mieko Shiomi, foi descrito como "um
evento aberto" - simplesmente"um convite a abrir algo fechado".
Pediu -se aos participantes que escrevessem exatamJ;'nte o que ha
via acontecido durante o"evento". Esta simples tarefa tornou-se um
manifesto contra a arrogância da arte em museus, bem como uma
ação participativa porque as pessoas se reuniram para realizá-la.
Da mesma maneira, composições musicais minimalistas, que
John Cage denominava "roteiros", destituíram o contexto perfor
rnático ou orquestral de todo artifício e exigiam apenas atenção a
um mínimo detalhe. Piano Piece for David Tudor #2 [Peça para pia
no para David Tudor n~ 2] (1960), de LaMonte Young (1935-), con
sistia na instrução: "Abra a tampa do teclado sem fazer, com isto,
INTRODUÇÃO 19
qualquer som audível para você . Tente quantas vezes quiser." Estas
instruções mínimas, presentes em todas as performances do Flu
xus, quer da assim chamada natureza musical, quer não, abriam o
evento para interpretações, bem como para acidentes, diversos.
Tudo poderia acontecer durante um desses eventos, resultando em
ocorrências casuais e várias interpretações desejadas. Os integran
tes do público tornavam-se participantes (ou co-inspiradores), não
mais observadores passivos. Os eventos do Fluxus tornaram-se,
portanto, as incorporações perfeitas da máxima de Duchamp de
que o espectador completa a obra de arte. De fato, com o Fluxus, o
espectador não apenas completa, mas torna-se realmente a obra de
arte, com sua participação direta no evento.
Uma estética minimalista começou a se desenvolver, herdada da
poesia concreta, de manifestos dadaístas e música experimental, e
estendeu-se aos filmes também, tornando-se um elemento impor
tante no desenvolvimento da arte de meios de comunicação de
massa. Os fluxfilmes, como são denominados, compreendem apro
ximadamente quarenta filmes de curta metragem criados por di
versos artistas (poucos deles cineastas) associados ao Fluxus. Zen 19
for Film [Zen para filme] (1962~64) de Nam June Paik, um Fluxfil
me prototípico, foi apresentado em Fluxhall (o apartamento de
Maciuna em Canal Street, Nova York). Efetivamente urna instalação
dos primeiros tempos (um quadro vivo consistindo em uma tela
caseira de cinema, um piano vertical e um contrabaixo), o filme de
Paik deu as costas a todo o mecanismo de produção de filmes em
grande escala (de películas caras à iluminação, cenários, efeitos óti
cos, edição, marketing etc.). O filme não era nada mais do que apro
ximadamente 1000 pés de película de 16 mm, em branco, projeta
dos, sem processamento, sobre a tela, durante 30 minutos. Ao deixar
o filme apenas com o mínimo essencial (a película, em si), a proje
ção sem imagens de Paik tornou-se o exemplo minimalista para to
dos os Fluxfilmes que se seguiram.
O curador e roteirista americano Bruce Jenkins faz a observa
ção persuasiva de que Paik, ao subverter as expectativas usuais dos
espectadores,"instilou um aspecto de performance no contexto da
tela e, ao fazê-lo, libertou o observador das manipulações tanto do
cinema comercial quanto do cinema alternativo". Sem imagens ou
sons, o filme de Paik tornou-se a tábula rasa para as livres associa
ções do observador. A cada apresentação do filme, ocorriam inevi
tavelmente arranhões, poeira e outros eventos casuais da projeção,
tornando assim, de certo modo, o filme novo a cada vez.
O fotógrafo e artista do Fluxus Peter Moore (1932-), usa ndo
uma filmadora de alta velocidade, em câmara lenta, fez Disapµe11 ri 11g
Music for Face [Música desaparecida para o rosto] (1966). fü1st•ta l11
em outro roteiro de performance de Mieko Shiomi (qu , na í11 i1•1•,1 1,
é o seguinte: "Artistas começam a apresentação c rn um so 111 111 1 1•,
no decorrer da peça, alteram-no gradualrn nt at ' st• 11 t l1•11 1p11 11 •1•I
18. (acima) Yoko Ono, tira do
Film No. 1 (Fluxfilme nº 14)
- Lighting Piece [Peça de
iluminação], 1955/1966.
19. (aba ixo) Nam June Paik,
Zen for Film [Zen para f ilme],
1964. A estét ica escassa do
mini malismo foi adotada até
pelos art istas iconoclastas do
Fluxus. Aqu i, Nam June Paik
projetou película de f ilme em
branco em um aparelho de
televisão.
20 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
mento"), o filme apresentouYoko Ono (1933-), outra artista do Flu
xus. AB maçãs do rosto, o queixo e a boca de Ono aparecem em clo
se-up, revelan do as alterações minúsculas na expressão que ocorrem
durante o filme. Filmado em apenas 8 segundos de tempo de filme,
quando projetado em câmera lenta durou 11 minutos.
Outro fragm ento do rosto de Ono, desta vez o olho direito,
aparece em Eyeblink [Piscadela] (e. 1961), que, como o título su
gere, é o ato mais minimalista de todos. O film e de Ono, N~ 1
(e. 1964), jembrando as fotografias arranjadas de Harold Edgerton,
apresenta um fósforo que se queima lentamente, sugerindo talvez
o lado perigoso de até mesmo o mais mínimo ato.
Já em 1966, o Fluxus tinha produzido uma série de filmes que,
por sua natureza elementar (também denominada essencialista),
puseram em questão todas as associações comuns que o especta
dor faz ao assistir a um filme, entre as quais a de ele ser o observa
do (como Ono encara a câmera ao final de Disappearing Music for
Face [Música desaparecida para o rosto]. George Maciunas fez seu
filme, 10 Feet [10 pés] (1966), consistindo inteiramente em dez pés
de película em branco. Outros filmes do Fluxus incluíram Entry-Exit
[En trada-Saída] de George Brecht (1965), que consistia em uma fil
magem da palavra"Entrance" [Entrada] em uma parede totalmente
branca que desaparecia gradualmente no escuro e depois clareava
para revelar a palavra "Exit" [Saída], e Nine Minutes [Nove minutos]
de James Riddle (1966), no qual números feitos com estêncil apa
recem na tela preta a cada minuto.
INTRODUÇAo 21
Embora os filmes do Fluxus sejam, em geral, considerados I í
ticas de filmes tradicionais e até mesmo de vanguarda, eles ta111
bém geraram uma nova energia no cinema, com sua simplicidad1•
e alegria. Do nosso ponto de vista, é óbvio que os filmes do Flux11 ::
como Zen for Film [Zen para filme], de Paik, ou Wavelength [Co m 11 ' /
primento de onda] de Michael Snow, embora ostensivament1·
preocupados com o essencial do cinema e da técnica cinematog1·,í
fica são, em si mesmos, obras altan1ente poéticas e meditativas.
Embora nada na arte ou no cinema lhes parecesse sagrado, os fl u
xistas encontravam significado no material cotidiano de sua arl1'
(fosse ele seus corpos, as cordas do piano ou a película do filme).
Alguns dos alvos dos fluxistas, em termos de filme, foram os ci
neastas franceses da nova onda, extremamente influentes, especial
mente Jean-Lu c Godard (1930-) e o americano Stan Brakhagl'
(1933-). Com Godard representando o filme artístico poético/políti
co e Brakhage, o poético/pessoal, seus filmes compreendem o qu ',
para os fluxistas, eram as estratégias elitistas de ambos os pólos dn
vanguarda. Contudo, nem todos eram fluxistas, e ocinema de van
guarda floresceu em meados do século, como havia acontecido antes.
'
Fi lme e cinema de vanguarda li
O fe1v or pela experimentação cinematográfica atingiu o clímax
nos anos 50 e 60, primeiro nos Estados Unidos e, depois, na Fran
ça. Em 1923, a Eastman Kodak Company produziu filme de 16 mm
para amadores, mas mesmo ele era caríssimo para artistas mais in
dependentes. Em meados do século, quando seu uso tornou-sv
mais comum, artistas, embora ainda em número relativamente pc
queno, começaram a fazer filmes. Entre os mais influentes estão OH
americanos Stan Brakhage, Kenneth Anger, Hollis Frampton, Mny.i
Deren (nascida na Rússia), Jack Smith, Bruce Connor, Marie Me11
ken, Andy Warhol, Pat O'Neill, Jordan Belson e John Whitn ey, o cn
nadense Michael Snow e o greco-americano Gregory MarkopouloH
Em Allegories of Cinema (1989), o americano David James, his
toriador de cinema, obse1vou que a maioria desses cin aslas, ai
guns dos quais tinham migrado para o cinema oriundos d oulnn1
meios de expressão, trouxe para o cinema questões con crncnh••1
aos pintores. Entre essas, ele incluiu a representação d movi111rn
to e duração, e a expressão de "estados psicológicos xlrnortli11,1
rios". Enquanto esta poderia ser considerada referente n ~1un lq111 •1
forma artística (poesia, ficção, drama), a primeira resul1 11v11 i\1• lt1I I
cas originais de tecnologia fotográfica. A tecnologin 11 11 •ll111n,11
quando os artistas adotaram-na, mas ela veio pri ml' iro , ( '1111H1 v1•
remos em capítulos posteriores, James indica qu e orl iHl111111111• vii•
20. M ieko (Ch ieko) Sh iomi, Disappearing Music
for Face [Música desaparecida para o rosto], 1966.
22 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
ram para os meios de expressão tecnológicos, provenientes de ou
tras formas, quase sempre transferiam as preocupações que tinham
com a pintura ou escultura para o novo meio de expressão, fosse
ele cinema, vídeo ou arte digital. Naturalmente, outros artistas ado
taram o novo meio de expressão desde o início, não como uma prá
tica secundária.
Markopoulos e Warhol são bons exemplos de cada abordagem.
Gregory Markopoulos (1928-92), que na adolescência estudou com
o diretor hollywoodiano Josef von Stemberg, representa o cineasta
como poeta, uma frase que também poderíamos usar para descre
ver Stan Brakhage. Por volta de 18 anos de idade, Markopoulos co
meçou a filmagem do que é ainda considerado um clássico do ci
nema de vanguarda, a trilogia Ou Sang, De la Volupté, et De la Mort
[Sangue, Prazer e Morte] (1947-48). Em filmes subseqüentes como
Swain (1950), Twice a Man [Duas vezes homem] (1963) e The
Mysteries [Os mistérios] (1968), ele usou com originalidade cor,
composição, ritmo e estruturas temporais fraturadas. Freqüen te
mente inspirados em obras clássicas da mitologia grega, os filmes
de Markopoulos exploravam narrativas abstratas com uma econo
mia de recursos que incorporavam suas próprias invenções, inclu
sive a edição in-camera, uma abordagem radical baseada em um
único quadro e não em uma única tomada. The Illiac Passion [Pai
xão ilíaca] (1964-67), baseado em Prometeu acorrentado de Ésquilo,
apresentou diversas personalidades underground famosas dos anos
60 como figuras míticas: Andy Warhol como Posseidon, Jack Smith
como Orfeu, Taylor Meade como Espírito, Kenneth King como
Adônis e os irmãos Beauvais, Richard e David, como Prometeu e
sua consciência. Depois de mudar-se para a Europa em 1967, Mar
kopoulos fez mais de cem filmes, muitos dos quais permanecem
desconhecidos.
O uso de filme de 16 mm continua entre os cineastas de van
guarda, mas com menor freqüência, tendo sido substituído por ví
deo digital que pode ser transferido para filme. O americano nato
Robert Beavers (1949-) explora associações abstratas entre a forma
humana, a arte visual e a arquitetura em filmes como The Painting
[O quadro] (1977-97) e Efpsychi (1997). O americano Lawrence
Brose (1951-) investiga as idéias de estética e desejo de Oscar Wil
de em seu filme abstrato de 16 mm De Profundis (1997). O ameri
cano Ernie Gehr (1941-) fez 24 filmes experimentais em 16 mm
desde 1967. Em Serene Velocity [Velocidade serena] (1970) ele foca a
câmera em um corredor de um prédio de escritórios. Nada se move
neste filme de 23 minutos, exceto as lentes da câmera de Gehr, que
ele alterna entre zoom e normal, a cada quarto de segundo, dando
assim a impressão de que o corredor está tremendo.
Representando artistas que vieram para o cinema de algum ou
tro meio de expressão, Andy Warhol (1928-87), intrigado pelos fil
mes underground de seus contemporâneos Jonas Meekas e Jack
) 1. (a baixo) Andy Warhol, K1ss
ISeijoJ, 1963.
n. (abaixo à direita) Andy
Warhol, fat[Comer], 1964, com
l!obert Ind iana. Os p ri meiros
filmes de Warhol representam a
manipulação do tempo pelo
,1 rt ista. Repetição, cenas
russos, sobretudo Dziga Vertov,
Jean-Luc Godard criou um
cinema pessoal e político
construído sobre o que ele
denomina "som, imagem
e texto".
26 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTEMPORÂNEA
Negligenciados freqüentemente por críticos até há pouco tem
po, os filmes de 8 mm, introduzidos em 1932 e a alternativa menos
onerosa disponível na época, tornaram-se bastante populares en
tre amadores e artistas do pós-guerra. Seguindo os passos do filme
de 16 mm, o de 8 mm tornou-se mais um protesto contra os exces
sos de Hollywood. Compacta, barata e fácil de segurar, esta câme
ra passou a ser o meio de expressão pessoal para artistas excluídos
do sistema comercial. Além disso, atraiu artistas que fizeram carrei
ra no cinema, e não simplesmente o praticaram de maneira espo
rádica enquanto trabalhavam em seu meio de expressão principal.
Artistas como Ken Jacobs, Saul Levine, George e Mike Kuchar,
Joe Gibbons, Lewis Klahr, Robert C. Morgan e Stan Brakhage, entre
li K 'íl Jacobs, Window
l l111 111lo], 1964. Para Jacobs:
1 h li IV um curto período no
111111 o filme underground era o
111 ~11110. Havia certo brilho de
111l11l 1rldade em relação às
11~ 'H ltl que faziam o trabalho.
11111\a as enlouqueceu e a
1111 ,1 d la enlouqueceu o resto
,111 I IÔ~."
I' 111111 11 segu intes:
11 ',pintora, ela usa
freqü entemente a fotografia, o
filme e o vídeo em seu trabalho.
33. (abaixo à direita) Carolee
Schneemann, Mortal Coils
[Espirais mortais]. 1994-95.
Sixty-Ninth Regiment Armory, situado no East Side de Nova York.
Para a performance de Rauschenberg, Open Score (Bong), reuniram
se aproximadamente 500 voluntários em uma área de atuação to
talmente escura, executando gestos simples que foram registrados
por câmeras infravermelhas e projetados em três telas grandes.
Também foram mostradas projeções dos movimentos súbitos de
artistas jogando tênis com raquetes equipadas com radiotransmis
sores. Foi apenas isso que o público viu porque, quando as luzes se
acenderam, os artistas tinham desaparecido. Foi o prazer dos artis
tas diante das possibilidades oferecidas pela nova tecnologia que se
tornou o evento principal. Na performance Linoleum [Linóleo]
(1966), Rauschenberg usou um terno plástico, com instalação de
som feita por Klüver, e projetou um filme que ele fez com cenas
que encontrou sobre esportes aquáticos recreativos e manobras aé
reas militares. Suas colaborações com Klüver resultaram em EAT
(Experimentos em Arte e Tecnologia) em 1967, e em uma colabora
ção duradoura e influente entre artistas e engenheiros.
Rauschenberg e seus colaboradores, sobretudo os dançarinos
coreógrafos Trisha Brown, Deborah Hay, Steve Paxton e Lucinda
1 1
34. Robert Whitman, Prune Flat.
1965. Apresentado em
Flimmaker's Cinématheque,
Nova York. A fotografia mostra
uma reconstrução mais recente
do mesmo evento. Fotografia:
copyright ©1976, Babette
Mangolte, todos os di reitos de
reprodução reservados.
34 NOVAS MÍDIAS NA ARTE CONTE MPORÂNEA
Childs, continuaram a apresentar seus eventos em diversos espa
ços, com o próprio espaço definindo freqüentemente a natureza da
performance. A Filmmaker's Cinématheque (cujo nome reflete a
influência dos diretores de cinema franceses da nouvelle vague,
Jean-Luc Godard, François Truffaut e outros) era um desses locais.
Prune Flat (1965) de Robert Whitman (1935-) apresentou artistas
ao vivo interagindo com imagens filmadas (freqüentemente de si
mesmos) que eram projetadas sobre eles e sobre telas atrás deles.
Whitman, que começou como pintor, transpôs assim a superfície
plana da tela de pintura para a superfície plana da tela de projeção,
na qual tentou visualizar relações temporais (o passado, represen
tado pelo filme, o presente e o futuro pelos gestos dos artistas) em
um contexto espacial. No mesmo ano, o artista canadense Michael
Snow (1929-) literalmente abordou a função do cinema na arte
com Right Reader [Leitor correto], uma performance com vídeo na
qual ele ficou atrás de uma moldura acrílica como se estivesse em
um filme. Ele move os lábios seguindo o ritmo de uma gravação de
sua própria voz, na qual comenta a natureza ocasionalmente banal
dos filmes. Tem-se a impressão de que ele está falando em tempo
real, mas logo se percebe que não: a experiência toda, como film e,
é artificial, baseada em tecnologia. O uso inovador que Snow faz da
câmera em seus filmes e performances com vídeo também é notá
vel. Ele criou uma máquina esférica para girar a câmera 360 graus; e,
em Wavelength [Comprimento de onda] (1967), ele fez dos truques 31
de câmera (planos de movimentação e trave/lings com a câmera em
um carro sobre trilhos ou em um dolly) os protagonistas do filme.
MEIOS DE COMUNICAÇÂO DE MASSA E PERFORMANCE 35
Em 1967, Deborah Hay, uma das coreógrafas de Judson Church,
apresentou uma obra importante na história dos meios de comu
nicação de massa e performance. Group One [Grupo um] consistia,
parcialmente, em um filme em branco e preto projetado sobre o
canto de uma galeria. Homens e mulheres apareciam trajando ter
nos e vestidos escuros, envolvidos em padrões cotidianos de cami
nhar que, embora coreografados, mantinham a naturalidade. De
p_ois do filme, outros artistas encenaram seqüências similares ao
vivo. O resultado, para o historiador americano Michael Kirby, foi
uma nova forma de dança artística na qual pessoas e filme "foram
usados como elementos com os quais podia ser criada uma massa
humana escultural ou arquitetônica em relação a um elemento ar
quitetônico real, o canto da sala". O filme acrescentou outra ilusão
de percepção: o uso de preto e branco sugeria figuras de outro tem
po, movendo-se ao longo das paredes.
A pintora americana Carolee Schneernann (1939-) criou ações
particulares que denominou Eye Body [Corpo visual] (1963), docu
mentadas por fotografia. Nestas "naturezas-mortas" corporais, que
an,tecederam a arte performática e corporal, ela recriou imagens
rn1t1cas da deusa, usando o próprio corpo como escultura. Sua per
formance multimídia de 1967, Snows, foi urna interação elaborada 32
de filme de 8 e 16 mm, slides, escultura luminosa giratória, luzes
estroboscópicas e oito artistas de diversas raças. Sob poltronas es
colhidas aleatoriamente no Teatro Martinique de Nova York (uma
casa na Broadway), Schneemann e os engenheiros fixaram micro
fones que transferiam sinais para um sistema de chave retificadora
controlado por silicone. Qualquer movimento de um membro da
platéia naquelas poltronas ativaria o sistema que, por sua vez, ati
vana os elementos de meios de comunicação de massa.
Como Schneemann, Joan Jonas (1936-) trabalha com meios de
comunicação de massa e performance desde os anos 60 até hoje.
Enquanto universitária em Nova York, participou de oficinas de
dança com o grupo Judson Church, que incluía Trisha Brown, De
borah Hay, Steve Paxton e Yvonne Rainer. Cada um compartilhava
uma sens1b1hdade que envolvia questões performáticas, concei
tuais, culturais e psicológicas. Com formação de escultora, Jonas
sentiu-se inicialmente atraída pelos elementos esculturais presentes
na performance e no filme. Em uma entrevista de 1995, ela disse:
eu t:ouxe parn a performance minha experiência de ver o espaço
1!usono ?ª. pintura e de caminhar ao redor de esculturas e espaços
arqmtetomcos. Eu mal participava de minhas primeiras performan
ces; eu era apenas um material, ou um objeto que se movia rigida
mente, como um fantoche ou figura em pinturas medievais ...
Abandonei a escultura e entrei no espaço ... O que me atra iL1 na
performance foi a possibilidade de misturar som, movimento, ima
gem, todos os elementos distintos, para criar uma expressão 0 111
plexa. Eu não era boa em criar uma expressão ún ica, simpllongas vestes azuis e usando um chapéu pontudo de mago.
Funnel [Funil] (1974) incorporou três áreas de performance, se- 37
paradas por cortinas, onde Jonas executava rituais baseados em seu
interesse pela magia e pelas tradições dos nativos americanos do
sudoeste dos Estados Unidos. Em uma área, projetava-se um vídeo
ao vivo em um monitor, proporcionando uma visão detalhada de
toda a performance. Jonas re tornou a várias das imagens usadas
em Funnel em sua instalação de 1998 na galeria Pat Hearn de Nova
York. My New Theater II (Big Mirrar) [Meu novo teatro II (Grande 38
espelho)] é um videoteatro montado dentro de uma grande estru
tura afunilada, apoiada por dois cavaletes. Ao espiar pelo funil, o
observador vê Jonas em uma tela executando ro tinas diárias (por
exemplo, varrendo o chão) que se transformam em sapateados fre
néticos, enquanto ouve canções e textos da trilha sonora (inclusive
o poema"Big Mirrar" [Grande êspelho] de William Carlos Williams,
e canções folclóricas que falam de amigos que morreram).
Jonas continua a inovar mais de trinta anos depois de sua pri
meira obra ter causado tanta agitação, um feito raro. Após vivenciar
um "declínio", segundo ela, em meados dos anos 80, quando o
mundo artístico passava por mudanças radicais e sua antiga marca
de experimentação formal estava em baixa, Jonas ressurgiu em
1987 com uma avassaladora performance com meios de comunica
ção de massa, Vo/cano Saga [Saga do vulcão], baseada em um poema 39
islandês do século XIII; em 1994, ela criou Sweeney Astray, baseado
em um poema irlandês medieval, e encomendado pelo Stedelijk
Museum, em Amsterdam, para a retrospectiva de sua própria obra.
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37. Joan Jonas, Funnel [Fun il],
1972. Performance em The
Ki lch n, Nova York. Fotografia:
Copyright© 1974, Babette
Mnn golte, todos os direitos de
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