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1 PARECER N º: PROCESSO N º: INTERESSADO: Representantes de bairro deste município. ASSUNTO: Pretensão da anulação do ato do Prefeito Municipal que firmou parceria com o Governo do Estado, a fim de melhorar a Segurança Pública do município. EMENTA: Anulação de ato inconstitucional firmado entre Município e Estado. I) ATO INCONSTITUCIONAL DO PREFEITO. PRINCÍPIO DA SIMETRIA II) DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇAO. III) DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. MINIMO EXISTENCIAL E RESERVA DO POSSIVEL. IV) SEGURANÇA PUBLICA. COMPETÊNCIA DOS ENTES FEDERATIVOS ESTADO/MUNICÍPIO. RELATÓRIO: Parecer referente a orientação da anulação de ato inconstitucional firmado entre Município e Estado. O ato fere direitos e princípios da CF. A verba destinada a saúde e educação - direitos de segunda geração – não podem ser desviados para qualquer que seja o fim. O ato, além de ferir direitos garantidos na CF/1988 considerados direitos de mínimo existencial – mínimo existêncial: recursos mínimos que garantem a sobrevivência com dignidade- ferem também a reserva do possível temos neste caso a diminuição de vagas em creches e educação infantil e diminuição de leitos no hospital que assegura a saúde dos munícipes; fere também o princípio da simetria; este princípio, postula que haja uma relação simétrica entre as normas jurídicas da Constituição Federal e as regras estabelecidas nas Constituições Estaduais, e mesmo Municipais. Isto quer dizer que no sistema federativo, ainda que os Estados-Membros e os Municípios tenham capacidade de auto organizar-se, esta auto-organização se sujeita aos limites estabelecidos pela própria Constituição Federal. Sendo a Constituição Federal a Luz para elaboração de todas as leis, cabe pontuar, a falta de competência do ente federativo Município. A Segurança Pública é de competência do ente federativo Estado. 2 FUNDAMENTAÇÃO: - Art. 60 CF/1988. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV - os direitos e garantias individuais. - Art. 6º da CF/1988. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) - A fundamentalidade material, por sua vez, está relacionada aos valores que informam a Constituição, especialmente os princípios previstos nos arts. 1º a 4º, dentre os quais está a dignidade da pessoa humana. - Ana Paula de Barcellos adota uma posição rígida de mínimo existencial. Para a autora, o mínimo existencial constitui o conteúdo mais essencial do princípio da dignidade da pessoa humana, que, por esse motivo, deve ser aplicado como uma regra, sem margem à ponderação, conforme explica: “... uma fração do princípio da dignidade da pessoa humana, seu conteúdo mais essencial, está contida naquela esfera do consenso mínimo assegurada pela Constituição e transformada em matéria jurídica. É precisamente aqui que reside a eficácia jurídica positiva ou simétrica e o caráter de regra do princípio constitucional. Ou seja: a não realização dos efeitos compreendidos nesse mínimo constitui uma violação ao princípio constitucional, no tradicional esquema do “tudo ou nada”, podendo-se exigir judicialmente a prestação equivalente. Não é possível ponderar um princípio, especialmente o da dignidade da pessoa humana, de forma irrestrita, ao ponto de não sobrar coisa alguma que lhe confira substância; também a ponderação tem limites”. - Art. 144 da CF/1988 A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; 3 IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. - Art. 30 CF/1988. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; CONCLUSÃO: - Perante o artigo 60 da CF/1988, é inaceitável a diminuição ou extinção de um direito garantido e positivado. - A saúde e educação são DIREITOS sociais e positivados na CF/1988. - A dignidade da pessoa humana deve ser tutelada com rigidez. - Segundo entende Barcellos, a reserva do possível pode conviver com o mínimo existencial, mas em primeiro lugar devem ser atendidas as demandas relacionadas a esse mínimo, para que só então possa haver discussão sobre a aplicação dos recursos públicos remanescentes: 4 “A meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular, pode ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa dignidade (o mínimo existencial) estar-se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos gastos públicos. Apenas depois de atingi-los é que se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em que outros projetos se deverá investir. O mínimo existencial, como se vê, associado ao estabelecimento de prioridades orçamentárias, é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível.” - O artigo 144 deixa bem claro que a Segurança Pública é competência e dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. O Poder de polícia é do Estado e é ele quem decide onde colocar suas policias, se na alfandega, se nas fronteiras, se em metrópoles, para investigação de alguns casos. A segurança Pública tem abrangência geral e não local. No tocante segurança local o município tem autonomia para criar sua própria guarda, grupos associações de apoio e campanhas de conscientização sobre segurança pública nas escolas e dentro da comunidade fazem parte do programa de segurança pública local. - No artigo 30 da CF/1988 podemos observar dentre as competências do município que a segurança pública não é citada. Fica claro que a saúde e educação devem ser prioridades no município enquanto que a segurança quem garante é o Estado, cada qual com sua competência. Diante do exposto, somos pela ab-rogação por motivo e conveniência em atendimento aos princípios constitucionais. 5 É o parecer, ora submetido a douta apreciação superior. Campinas,05 de outubro de 2015 _____________________________________ Ruan Cesar Antônio Advogado _____________________________________ Leticia de Camargo lima Advogada
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