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~
INDUSTRlA E O
..JI..~'''-L''--LTÓRIO BRASILEIRO
A ESTRUTURA REGIONAL BRASILEIRA É DE TIPO CENTRO-PERIFERIA. O
Sudeste funciona como núcleo dessa estrutura, em virtude da concentração espacial
da indústria. No interior do Sudeste, o estado de São Paulo e o triângulo São Paulo-Rio
de Janeiro-Belo Horizonte abrigam os principais polos dinâmicos da indústria no país.
A industrialização do Sul evoluiu em ritmo mais lento, mas acelerou-se recentemente.
Hoje, Sudeste e Sul integram suas estruturas produtivas industriais, configurando
uma "região concentrada'; na expressão do geógrafo Milton Santos.
As regiões periféricas apresentam polos industriais isolados. No Nordeste, os polos
principais surgiram como fruto do planejamento estatal. Na Amazônia, a Zona Franca
de Manaus é um enclave industrial criado por motivos geopolíticos.
ao esco cent a ao
A industrialização promove a concentração espacial da riqueza e dos recursos financeiros e produtivos. Na
etapa inicial desse processo, os custos de transferência, isto é, o que se gasta com o deslocamento de matéria
(bens e pessoas) ou informações (serviços e capitais), são extremamente elevados, devido ao fraco desenvol-
vimento das redes de transporte e de comunicações. O espaço geográfico oferece um espectro limitado de
opções de localização para as empresas industriais. As fábricas instalam-se nas escassas localizações que se
destacam pela amplitude do mercado consumidor, pela oferta de força de trabalho ou pelos recursos naturais
e matérias-primas disponíveis.
Na etapa seguinte, manifesta-se a força das economias de aglomeração. Os centros industriais pioneiros
recebem infraestruturas de energia, transportes e comunicações. O dinamismo industrial impulsiona o cres-
cimento das cidades, provocando ampliação dos mercados consumidores e da oferta de força de trabalho. As
fábricas já implantadas produzem bens intermediários (bens utilizados na produção de outros bens), que
funcionam como insumos para outras fábricas. Indústria atrai indústria: em torno dos lugares pioneiros,
formam-se manchas industriais cada vez mais complexas e diversificadas.
Essa tendência de concentração espacial acompanhou a industrialização brasileira desde o início do século XX
(reveja o capítulo 12). Em escala nacional, seu resultado foi a configuração, no Sudeste, de uma região industrial cen-
tral, dinâmica e integrada (veja o mapa da página seguinte). O núcleo dessa região corresponde ao estado de São Paulo.
298
\
OCEANO
ATLÂNTICO
® Capital estadual
• Capital federal
Maior concentração
industrial
DOutras concentrações
industriais
N
A
Fonte: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística.
Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1992. p. XVII-?
A geografia industrial depende, em grande medida,
dos investimentos diretos das empresas estatais e das
estratégias de desenvolvimento regional do Estado. A
política governamental de implantação da siderurgia
moderna, entre as décadas de 1940 e 1960, reforçou
a concentração espacial da indústria no Sudeste. O
poder multiplicado r da siderurgia e as infraestruturas
de transportes a ela associadas aprofundaram as desi-
gualdades econômicas entre a região industrial central
e o restante do país.
No Sul e no Nordeste, Iormaram-se regiões
industriais periféricas, bastante distintas uma da
outra. Na Amazônia e no Centro-Oeste, as indús-
trias estabeleceram-se como enclaves isolados. Em
escala regional, o movimento concentrado r gerou
aglomerações industriais associadas às metrópoles e
às capitais estaduais.
Em certo ponto do desenvolvimento econômico,
a tendência de concentração espacial da indústria arre-
fece e dá lugar a movimentos de desconcentração. A
evolução das tecnologias e infraestruturas de transpor~
tes e comunicações reduz significativamente os custos
de transferência. O espaço geográfico torna-se mais
fluido, descortinando inúmeras novas localizações
atraentes para as empresas industriais.
A indústria e o território brasileiro. CAPíTULO15
Nessa etapa, manifesta-se a força das deseconomias
de aglomeração. Nas regiões industriais tradicionais,
crescem os custos dos terrenos, assim como os impostos
municipais. A força de trabalho, organizada em sindica-
tos, consegue aumentos salariais. Diversos custos exter-
nos, de difícil mensuração, originam-se do congestiona-
mento de tráfego e da poluição ambiental e dos custos
gerais de aluguéis, transportes e alimentação típicos das
metrópoles. Em busca do melhor retorno para o capital,
os investimentos empresariais são desviados para novas
localizações. No Brasil, esse fenômeno começou a se
desenvolver na década de 1970. Seus sintomas transpa~
recem na perda de participação do Sudeste na força de
trabalho da indústria de transformação e no valor total
da produção industrial (veja os gráficos a seguir).
Participação regional na força de trabalho
industrial (%)
70
69,7
~3
60 - 53,3
50 -
40 -
30 -
20 -
20,0--n 10 210,813,0
10 - 11 ~. Acesso em: 6 mar. 2012.
Os números da participação na força de trabalho
industrial parecem indicar um vigoroso processo de
299
UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico
desconcentração, mas as perdas relativas do Sudeste se
refletem quase apenas em aumento expressivo da parti-
cipação da Região Sul. Já os números da distribuição do
valor da produção industrial mostram que o predomínio
do Sudeste ainda é muito expressivo e que o processo
de desconcentração se desacelerou na primeira década
do século XXI.
Em conjunto, os dados evidenciam, paralelamente
a um processo limitado de desconcentração, a moderni-
zação tecnológica das empresas industriais do Sudeste,
que provoca redução relativa do emprego de mão de
obra. Eles também indicam que a Região Sul abriga
diversos focos de novos investimentos industriais.
A integração do Centro-Sul
As tendências de reorganização espacial da indús-
tria no Brasil impulsionam a integração do Centro-Sul
do país. No fim das contas, desenvolve-se um processo
de "descentralização na concentração': que acentua os
contrastes entre o Centro-Sul e o restante do terri-
tório nacional. O geógrafo Milton Santos observou
que esse processo é um aspecto da tendência mais
ampla de soldagem entre as estruturas produtivas do
Sudeste e do Sul. Ele sugeriu identificar uma região
concentrada, formada por essas duas grandes regiões
e polarizada pelo capital financeiro estabelecido no
estado de São Paulo.
A evolução da participação dos estados na produ-
ção industrial revela com mais nitidez as direções da
descentralização industrial. Desde 1975 a participação
do estado de São Paulo reduziu-se de cerca de 55%
para cerca de 35% do valor da produção industrial. Em
termos relativos, a redução da participação do Rio de
Janeiro foi ainda maior que a de São Paulo. Por outro
lado, até 2003, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
Paraná experimentavam significativa ampliação da
sua participação, e os dois primeiros ultrapassaram o
Rio de Janeiro. Depois, as tendências gerais de des-
concentração industrial interromperam o crescimento
da participação desses estados (veja o gráfico acima).
A liderança industrial continua, claramente, com
o estado de São Paulo, apesar do recente declínio
300
Participação estadual no valor da produção
industrial
60,-----------------------------------50----
40r----------------------------------~~~_=~------E~30~----------------------------------
20r-----------------------------------Or----------,~--------_,----------_.
1975 2003 20091985
- São Paulo - Paraná
- Rio Grande do Sul - Rio de Janeiro
Fontes: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Anuários Estatísticos do Brasil. Disponível em:
. Acesso em: 6 mar. 2012.
relativo. O declínio do Rio de Janeiro é mais antigo e
mais nítido. Mas os investimentos repelidos pelas dese-
conomias de aglomeração de São Paulo e do Rio de
Janeiro não procuram, em sua maior parte, o Nordeste.
As principais decisões empresariais de localização con-
duzem à implantação de novas unidades produtivas
em Minas Gerais ou na Região Sul, conservando as
desigualdades de riqueza entre as regiões.
A região concentrada beneficia-se de vantagens
extraordinárias, do ponto de vista da localização indus-
trial. Nela, encontram-se os maiores e mais dinâmicos
mercados consumidores, as reservas de força de trabalho
de melhor qualificação e uma diversificada base industrial
que oferece bens de capital e intermediários para as novas
fábricas.Os investimentos repelidos pelas metrópoles são
atraídos pelas cidades médias servidas por adequadas
infraestruturas de transportes e comunicações.
O estado de São Paulo continua a atrair grandes
investimentos industriais, principalmente nos setores
de alta tecnologia, enquanto unidades produtivas
baseadas no uso intensivo de mão de obra são repelidas
para novas localizações. Além disso, a descentralização
espacial da indústria desenvolve-se paralelamente a
um aproíundarnento da centralização financeira. A
cidade de São Paulo ampliou sua liderança no campo
das atividades bancárias e dos mercados financeiros
\
em geral, reafirmando sua condição de principal polo
econômico do país. A indústria automobilística ilustra
o processo de "descenrralizaçâo na concentração" que
configura o atual espaço industrial brasileiro (veja o
boxe a seguir).
A estratégia das montadoras
Durante duas décadas, a produção de automóveis no
Brasilconcentrou-se exclusivamente na Grande São Paulo.
Em 1975, a Fiat inaugurou uma fábrica nos arredores de
Belo Horizonte, mas a descentralização começou de fato
na década de 1990, com investimentos dirigidos para o
interior de São Paulo e para algumas áreas de Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul.
As japonesas Toyota e Honda instalaram unida-
des de montagem nos arredores de Campinas (SP). A
Volkswagen, a General Mocors e a Ford estabeleceram
novas fábricas no vale do Paraíba paulista. A Peugeot
optou pela localidade de Porm Real, no vale do Paraíba
fluminense. Em São José dos Pinhais (PR), instalaram-se
fábricas da Renault, Volkswagen e Nissan. A General
Mocors criou uma unidade de montagem em Gravataí
(RS).
A estratégia das montadoras tem o objetivo de reduzir
os custos de produção. Nas novas localizações, os sindi-
caros têm menor poder de reivindicação. Além disso, a
logística de transferência de matérias-primas e producos
finais apresenta vantagens, pois não depende das con-
gestionadas redes de circulação metropolitanas. Mas os
novos investimentos priorizam a região concentrada. Fora
dela, como exceção, aparece apenas uma montadora de
automóveis da Ford, em Camaçari (BA).
Passeata de 19
de Maio, durante
a grande greve
dos metalúrgicos
do ABCO paulista,
em 1980. A
organização
sindical no ABCO
estimulou as
montadoras a
buscar novas
localizações,
distantes da
metrópole
paulista.
A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO l5
A região industrial central
o Sudeste é o dínamo industrial de todo o Brasil.
No seu interior, as principais concentrações indus-
triais estão associadas às aglomerações metropolita-
nas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Um mapa da localização das unidades produtivas
de empresas industriais, comerciais e de serviços
no Sudeste revela o peso dominante do triângulo
formado por essas metrópoles.
Fome: THÉRY, Hervé; MELLo, Neli Aparecida de.
Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território.
São Paulo: Edusp/lmprensa Oficial, 2005. p.157.
A cidade de São Paulo transformou-se no princi-
pal polo industrial do país já nas primeiras décadas do
século XX, em virtude de sua situação geográfica estra-
tégica, como elo entre o leque de ferrovias que se abria
para o Oeste cafeeiro e o porto de Santos. Sob o impulso
da economia caíeeira. a capital paulista tornou-se um
próspero centro de negócios de exportação e importação
e de atividades bancárias, atraindo capitais e empresá-
rios. O fluxo imigratório orientado inicialmente para o
café gerou uma classe operária numerosa, constituída
por trabalhadores italianos e espanhóis. O crescimento
301
UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico
econômico do interior abria vastos mercados consu-
midores para os manufaturados que começavam a ser
fabricados na capital.
As zonas industriais pioneiras situaram-se junto
dos eixos ferroviários que ligavam a cidade ao Rio de
Janeiro (Estrada de Ferro Central do Brasil), ao longo
dos bairros do Belenzinho, Brás e Mooca. Outro dis-
trito industrial surgiu na Lapa, junto aos trilhos da
Estrada de Ferro Sorocabana. Com as indústrias, a
cidade cresceu e se transformou.
No pós-guerra, o crescimento industrial alterou os
padrões de localização das unidades produtivas. A indús-
tria transbordou os limites do município da capital,difun-
dindo-se para as cidades vizinhas e acelerando o processo
de conurbação, que será mais bem explicado no capítulo
19. Os eixos rodoviários substituíram as linhas de trem,
atraindo as novas fábricas que se implantavam.
Ao longo do eixo da via Anchieta, na direção da
Baixada Santista, os municípios de Santo André, São
Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema
passaram a abrigar as grandes montadoras automobilís-
ticas. Com elas, instalaram-se as fábricas de autopeças e
as metalúrgicas e, mais tarde, as indústrias químicas. O
chamado ABCD transformou-se na maior aglomeração
industrial da América Latina e no foco do movimento
sindical brasileiro.
No eixo da via Dutra, na
direção do Rio de Janeiro, uma
significativa aglomeração indus-
trial foi criada no município
de Guarulhos. Entre as rodo-
vias Raposo Tavares e Castelo
Branco também surgiu uma
aglomeração industrial, nos
municípios de Osasco e Cara-
picuíba. Um extenso arco de
chaminés passava a circundar
a capital.
O crescimento industrial do
Rio de Janeiro foi impulsionado
por fatores essencialmente polí-
ticos. No início do século XX,
a cidade era a capital do país e
302
abrigava o maior porto marítimo nacional. Contava
com cerca de 900 mil habitantes, enquanto São
Paulo não ultrapassava os 250 mil. Mas não polari-
zava uma economia de exportação com o dinamismo
das plantações cafeeiras paulistas e conheceu um
crescimento industrial menos vigoroso.
A industrialização do Rio de Janeiro apoiou-
se na dimensão do mercado consumidor formado
pela aglomeração urbana e nos atrativos oferecidos pela
presença dos órgãos de governo e empresas estatais.
A tradicional rivalidade entre São Paulo e Rio foi
também uma expressão da rivalidade entre o capital
privado e a burocracia do Estado.
Assim como em São Paulo, as linhas férreas defi-
niram a localização das zonas industriais, que se organi-
zaram no norte da cidade, enquanto a faixa sul, na orla
litorânea, abrigava os bairros residenciais de alta renda.
Mais tarde, cidades vizinhas da Baixada Fluminense -
como Nova 19uaçu,Duque de Caxias, SãoJoão de Meriti
e Nilópolis - passaram a abrigar aglomerações industriais.
Nova Iguaçu, com cerca de 800 mil habitantes, situada no
eixo da via Dutra e da E. F.Central do Brasil, tem a maior
aglomeração industrial da periferia do Rio de Janeiro.
Duque de Caxias, com cerca de 860 mil habitantes, é
um polo químico organizado em torno da refinaria de
petróleo da Petrobras.
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&
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J
Vista aérea da Refinaria Duque de Caxias(Reduc), da Petrobras, na Baixada
Fluminense, em 2012. Os eixos viários e a refinaria contribuíram para a expansão
demográfica dessas cidades da periferia do Rio de Janeiro (RJ).
\
Na zona serrana, localiza-se outra concentração
industrial fluminense. Nas cidades de Petrópolis,
Teresópolis e Nova Friburgo, desenvolveu-se um
polo têxtil de destaque, que conquistou parcelas
expressivas do mercado nacional.
Belo Horizonte nasceu em 1897, como uma
cidade planejada. Sua origem está ligada a um projeto
estratégico das elites mineiras, destinado a reverter o
processo de decadência econômica de Minas Gerais. A
expansão da economia cafeeira paulista e o crescimento
do poder de atração do Rio de Janeiro contrastavam
com a estagnação de Minas Gerais, que havia um
século conhecera o inexorável declínio da mineração.
A transferência da capital de Ouro Preto para a
nova cidade foi um ato simultaneamente simbólico e
estratégico. Ouro Preto recordava as riquezas perdi-
das do passado; Belo Horizonte, capital sem passado,
evocava a luta por um futuro de glórias. Ouro Preto,
no caminho da zona da Mata mineira, situava-se em
área cada vez mais influenciada pelo Rio de Janeiro;
Belo Horizonte, 100 quilômetros a noroeste, pretendia
ser um centro polarizador da vida econômica mineira.
Desde a década de 1930 as elites mineiras direcio-
naram sua atenção para o desenvolvimento industrial.
Essa orientação materializou-se por meio da concessão
de incentivos diversos para a atração de investimentos
industriais privados e também por uma pressão per-
manente sobre o governo central, destinada a garantir
a instalação de um vasto parque siderúrgico estatal.
As políticas de concessão de incentivos para o
capital privado resultaram na vigorosa industrialização
linha de produção da fábrica da Fiat, em Betim (MG),
em 2011.
A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO15
dos arredores de Belo Horizonte, com a formação de
núcleos fabris modernos e diversificados. Contagem,
com mais de meio milhão de habitantes, é o princi-
pal desses núcleos, abrigando um importante parque
metalúrgico e químico. A industrialização de Betim
ganhou impulso definitivo com a instalação da pri-
meira fábrica da Fiat no país.
Implantação da grande siderurgia
A Companhia Siderúrgica Belgo- Mineira, criada
em 1917 como associação entre capitais privados
nacionais e estrangeiros, foi até meados do século XX
a única grande usina de aço do país. Situada em Sabará
(MG), utilizava o minério do Quadrilátero Ferrífero
e carvão vegetal para produzir mais de metade dos
lingotes de aço do país.
Mas a grande siderurgia brasileira nasceu a partir
de duas empresas estatais: a Companhia Vale do Rio
Doce (CVRD), atual Vale, e a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), implantadas por Getúlio Vargas, em
1942. A CVRD encarregou-se da extração, transporte
ferroviário e naval e comercialização dos minérios do
Quadrilátero Ferrífero, antes de expandir suas ativi-
dades para inúmeras outras jazidas do país. A CSN,
financiada por empréstimos dos Estados Unidos,
obedeceu a prioridades estratégicas do governo de
Getúlio Vargas, que pretendia utilizá-Ia como foco
de estímulo à industrialização do país e símbolo da
soberania nacional.
A localização da CSN foi objeto de estudos de
viabilidade realizados por uma Comissão Siderúr-
gica Nacional. O relatório do governador de Minas
Gerais, enviado à comissão, argumentava que o fator
preponderante deveria ser a proximidade das jazidas
ferríferas, matéria-prima básica na fabricação do aço.
Entretanto, o parecer final da comissão consagrou
Volta Redonda, no vale do Paraíba fluminense, como
a localização mais adequada.
Os técnicos acentuaram a proximidade dos
mercados consumidores, a facilidade de transporte
do minério produzido na região do Quadrilátero
Ferrífero, através da E. F. Central do Brasil, e a pro-
ximidade dos portos do Rio de Janeiro e de Angra
303
\
UNIDADE2 • Brasil: Estado e espaço geográfico
dos Reis, para receber o carvão mineral importado
e o produzido em Santa Catarina. A grande usina
estatal consagrou a opção pelo carvão mineral,
revertendo a tendência anterior ao uso da madeira
das florestas tropicais.
A decisão de produzir aço no vale do Paraíba
foi, ao mesmo tempo, técnica e política. Por meio
dela, o Estado canalizava os investimentos futuros
das empresas privadas para a então capital do país
e para São Paulo. Nesse contexto, os minérios do
Quadrilátero Ferrífero funcionavam apenas como
retaguarda para o crescimento do eixo econômico
estabelecido entre as duas principais metrópoles
brasileiras. Mas começava naquele momento a luta
de Minas Gerais para atrair os investimentos públi-
cos na grande siderurgia para o seu território.
o presidente Eurico Gaspar Outra, na inauguração da CSN,
em 1946.
Na década de 1950 começaram a nascer mais
duas grandes siderúrgicas estatais: a Companhia
Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão, e a
Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas), em
Ipatinga. A Cosipa foi planejada como siderúrgica
privada, mas, durante o empreendimento, o Estado
tornou-se o principal acionista. A usina entrou em
funcionamento em 1965, recebendo minério de ferro
pela E. F.Central do Brasil. O carvão mineral passou
a desembarcar, desde 1969, no terminal portuário
especializado junto da usina.
304
A Usiminas, em Ipatinga (MG), em 2011.
A Usiminas surgiu pela associação de capitais
estatais, dos governos federal e estadual, com um con-
sórcio de investidores japoneses. A usina entrou em
operação em 1963 e revelou-se a mais moderna e
eficiente de todos os grandes empreendimentos side-
rúrgicos estatais.
Na década de 1970, a política de expansão do
parque industrial brasileiro conduziu à construção
de mais duas grandes usinas estatais: a Açominas,
em Ouro Branco (MG), e a Companhia Siderúrgica
de Tubarão (CST), em Vitória, no Espírito Santo.
Essas usinas de grande porte consolidaram a opção
pelo carvão mineral como combustível.
As pressões das elites políticas e econômicas de
Minas Gerais, amparadas nas jazidas do Quadrilátero
Ferrífero, surtiram efeito: além da Usiminas e da Aço-
minas, outras importantes usinas configuraram o Vale
do Aço, que é a maior concentração siderúrgica do país.
Em seu interior, aparecem também usinas que utilizam
o carvão vegetal - entre elas a pioneira Belgo-Mineira,
a Acesita e a Mannesman - proveniente da madeira de
reflorestamento.
A siderurgia no Sudeste estruturou-se em torno
das ferrovias e portos ligados ao transporte dos miné-
rios do Quadrilátero Ferrífero (veja o mapa da página
seguinte ).A E. F.Central do Brasil é o principal suporte
da CSN e da Cosipa. A E. F.Vitória- Minas, construída
pela CVRD para o transporte dos minérios até o porto
de Tubarão, gerou a concentração industrial do Vale
do Aço. No litoral do Espírito Santo, junto ao porto
de Praia Mole, instalou-se a CST.
\
~ Estrada de Ferro Central do Brasil
- Estrada de Ferro Vitória-Minas
• Quadrilátero Ferrífero
t!:J Grande siderúrgica
•••••••• Porto
industrial da capital concentra-se
em empresas de alta tecnologia, que absorvem parcela
relativamente reduzida da força de trabalho. A metró-
pole paulista assume, definitivamente, a característica
de aglomeração baseada nos serviços e no comércio.
A indústria procura novas localizações no interior
do estado, configurando manchas de industrialização
ao longo dos quatro principais eixos rodoviários que
interligam a Grande São Paulo às cidades médias do
interior (veja o mapa da página seguinte).
Na década de 1990, a CVRD e as siderúrgicas
estatais foram privatizadas. O conglomerado euro-
peu ArcelorMittal assumiu o controle sobre a Belgo-
Mineira, a Acesita e a CST. O grupo brasileiro Gerdau
assumiu o controle sobre a Açominas. O grupo Vicu-
nha, também brasileiro, tornou-se o acionista principal
da CSN. A Usiminas, controlada por uma aliança
entre o grupo japonês Nippon e os grupos brasileiros
Votorantim e Camargo Corrêa, adquiriu a Cosipa.
A Vale, oriunda da CVRD, desenvolveu estraté-
gias de integração vertical dos negócios. Em parceria
com o conglomerado alemão ThyssenKrupp, cons-
truiu a Companhia Siderúrgica do Atlântico, no Rio
de Janeiro. Aproveitando-se de seu controle sobre a
E. F. Vitória-Minas e o complexo portuário de
Tubarão, integrou a extração e o transporte de miné-
rios de ferro e manganês e a produção e exportação
de aço.
o espaço industrial paulista
O estado de São Paulo abriga a maior concentração
industrial do país, localizada na Grande São Paulo.
Mas o processo de descentraliza-
ção iniciou-se na década de 1970,
quando os índices de crescimento
industrial do interior ultrapassaram
os da metrópole. Em 2009, a parti-
cipação da metrópole no emprego
industrial do estado havia caído
para 43%, enquanto sua parte no
valor da produção girava em torno
de 49%.
305
\
UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico
OCEANO
ATLÂNTICO
o corredor industrial que se estende
entre Campinas e Araraquara abrange os
polos industriais de Americana, Limeira,
Piracicaba, Rio Claro e São Carlos. Ameri-
cana especializou-se na indústria têxtil, um
setor fortemente atingido pela concorrência
de produtores chineses, indianos e paquista-
neses. São Carlos é um polo de alta tecnologia,
baseado na pesquisa científica universitária,
que revela forte capacidade de atração de
investimentos.
As vias Outra e Ayrton Senna estrutu-
ram os pelos industriais do Vale do Paraíba
paulista, que formam a terceira concentração
industrial do estado, ocupando cerca de 5%
da força de trabalho industrial e gerando 8%
do valor da produção. A expansão inicial baseou-se
na metalurgia, abastecida pelos bens intermediários
produzidos na CSN. Depois, instalaram-se indústrias
bélicas e aeronáuticas, como a Embraer, e fábricas
de automóveis e caminhões. Como ocorreu com a
o 90km
~
Fome: GOVERNO do Estado de São Paulo. Secretaria da Fazenda. Disponível em:
. Acesso em: 19 mar. 2012.
As vias Anhanguera e Bandeirantes estruturam
o corredor industrial Campinas- Araraquara- Ribeirão
Preto. A região de Campinas ocupa pouco mais de
20% da força de trabalho industrial, realiza 19% do
valor da produção industrial do estado e apresenta
crescimento fortemente concentrado no campo da alta
tecnologia, abrigando empresas nacionais e transna-
cionais de microeletrônica, semicondutores, telefonia e
equipamentos cirúrgicos (leia o texto do boxe abaixo).
As fontes da indústria
A capacitação científica de Campinas iniciou-se há
muito, pela criação do Instituto Agronômico, em l887, e
do Instituto Biológico, em 1927. No período mais recente,
o Instituto de Tecnologia de Alimentos, de 1969, e a Univer-
sidade de Campinas (Unicamp), criada alguns anos depois,
abriram um ciclo que abrangeu a implantação do centro de
pesquisas da Telebrás,do Centro Tecnológico para Informá-
tica e do Laboratório Nacional de Luz Síncroton. A força de
trabalho de alta qualificação e a geração de conhecimento
dessescentros científicos e tecnológicos funcionaram como
poderosos fatores de atração de investimentos industriais.
SãoJosédos Campos, no vale do Paraíba,abriga o Centro
Tecnológico Aeroespacial, estabelecido na década de 1940,
o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e o Instituto de
Pesquisas Espaciais,ambos da década de 1960.As indústrias
bélicas e aeroespaciais surgiram como frutos dessas iniciati-
vas,que definiram a vocação industrial da cidade.
306
região de Campinas, a arrancada industrial do Vale
do Paraíba beneficiou-se de investimentos públicos
em ciência e tecnologia.
A via Castelo Branco impulsionou a industrializa-
ção da região de Sorocaba. A aglomeração caracteriza-
se pela indústria pesada, com predomínio das fábricas
de bens intermediários e de capital. Votorantim e Mai-
rinque são sedes de indústrias de cimento e de alumínio
do Grupo Votorantim e dependem das receitas produ-
zidas por essas empresas. Em Sorocaba encontram-se
indústrias de máquinas pesadas. A região ocupa mais
de 7% da força de trabalho industrial e gera cerca de
6% do valor da produção industrial do estado.
O sistema Anchieta- Imigrantes liga a metrópole
à aglomeração industrial da Baixada Santista, na raiz
da serra do Mar. Cubatão tornou-se uma localiza-
ção industrial importante com a implantação das três
usinas de força da Lighr, entre as décadas de 1920 e
1950. O deslanche industrial ocorreu com a instala-
ção da Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobras,
em 1955. Atrás dela, vieram fábricas petroquímicas e
químicas, como a Alba, a Cia. Brasileira de Estireno, a
Union Carbide e a Copebrás. Mais tarde, instalaram-se
as indústrias de fertilizantes.
A Cosipa funcionou como base do parque meta-
lúrgico da aglomeração. As limitações físicas da Bai-
xada Santista, em virtude da barreira natural repre-
sentada pela serra do Mar, e o forte impacto ambiental
das atividades fabris tendem a limitar o crescimento
industrial da área do litoral. Atualmente, a região da
Baixada Santista gera pouco mais de 3% do valor da
produção industrial do estado.
Os três CO cios Industriais da
egião S I
A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO 15
Na reglao Sul, de Porto Alegre a Curitiba,
estendem-se concentrações industriais cada vez mais
integradas às estruturas produtivas e financeiras do
Sudeste (veja o mapa abaixo). Historicamente, as
empresas industriais mais importantes surgiram de
capitais locais, conquistaram o mercado regional e
passaram mais tarde a atuar no mercado nacional. A
expansão industrial apoiou-se em fatores regionais. O
fluxo imigratório que formou colônias alemãs, italia-
nas e eslavas trouxe muitos artífices e trabalhadores
qualificados. Um empresariado regional apareceu
nas áreas coloniais.
O vale do Itajaí e o nordeste catarinense ilus-
tram esse modelo de industrialização. Nas cidades
de Joinville, Blumenau e
Brusque desenvolveram-
se fábricas têxteis, de lou-
ças e de brinquedos. O
complexo têxtil cresceu
e conquistou o mercado
nacional. Outro exem-
plo de expansão de uma
indústria local é ofere-
cido pelos estabeleci-
mentos vinícolas da serra
Gaúcha, implantados nas
cidades de Caxias do Sul
e Bento Gonçalves. Nas
cidades gaúchas de colo-
nização alemã próximas a
Porto Alegre, como Novo
Hamburgo e São Leo-
poldo, estabeleceram-se
fabricantes de artigos de
couro e calçados.
.
Apucarana
• Campo M urão
Erechim e
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O OCEANO
ATLÂNTICO
30'S
Fontes: INSTITUTO Brasileira de
Capital Regional A
Geografia e Estatística. Atlas Nacional
Capital Regional B Digital do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE,
Capital Regional C 2005. 1 DVD-ROM; INSTITUTO Brasi-
Outras cidades
leira de Geografia e Estatística. Regiões
•
Principais concentrações
o 85 industriais da Região Sul de Influência das Cidades, 2007. Rio de~L__..:::::::s=:....._=- ..::::::::::::::::::::::::::::::::::::__ ..J Janeiro: IBGE, 2008.
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Metrópole
307
o
\
UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico
o modelo industrial da região estruturou-se sobre
indústrias tradicionais, voltadaspara a fabricação de
bens de consumo não duráveis, dependentes de maté-
rias-primas vegetais e agropecuárias. É o que ocorre
não só com a fabricação de vinhos, artigos de couro e
calçados, como também com a agroindústria de óleos
vegetais disseminada pelas principais cidades do inte-
rior e, ainda, os frigoríficos e indústrias de fumo do
Rio Grande do Sul. O importante ramo de madeira e
mobiliário do Paraná, estabelecido em Curitiba e Ponta
Grossa, é outra ilustração desse processo.
No pós-guerra, a industrialização do Brasil meri-
dional ingressou num segundo ciclo, modernizando-se
e diversificando-se. A principal concentração indus-
trial organizou-se na região metropolitana de Porto
Alegre, onde o município de Canoas se destacou
como polo metalúrgico, químico e de material elé-
trico. Em Curitiba, surgiram estabelecimentos mecâ-
nicos. No nordeste catarinense, em torno de Joinville,
implantaram-se indústrias de cerâmica, de plásticos e
metalúrgicas. Na Zona Carbonifera catarinense, em
Criciúma e Siderópolis, desenvolveram-se indústrias
carboquímicas.
atrair investimentos está relacionada à presença de
mão de obra qualificada e mercados consumidores
significativos, além de custos gerais menores que os do
triângulo São Paulo- Rio de Janeiro- Belo Horizonte. A
integração econômica do Mercosul representa outro
elemento positivo para as decisões de investimentos
industriais no Brasil meridional, especialmente em
virtude da modernização dos sistemas de transportes.
Mas, de modo geral, o processo tende a reforçar as
concentrações já existentes.
No Paraná, municípios dos arredores de Curi-
tiba - como São José dos Pinhais e Campo Largo -
despontam como alternativas de localização no anel
que circunda o estado de São Paulo. Em Santa Cata-
rina, os polos de Joinville e Blumenau recebem os prin-
cipais investimentos, enquanto o sudeste do estado
recompõe-se da crise gerada pelo fechamento da quase
totalidade das minas de carvão mineral.
No Rio Grande do Sul, o panorama é mais com-
plexo, em função do agravamento das disparidades eco-
nômicas entre o norte e o sul do estado. O eixo dinâmico
da economia gaúcha é o corredor Porto Alegre-Caxias do
Sul. A capital perde participação na indústria, especiali-
zando-se no comércio e nos serviços.
Por outro lado, os municípios conur-
bados do corredor viário Canoas-
Novo Hamburgo experimentam
vigoroso crescimento industrial.
Mais além da metrópole, a serra
Gaúcha, polarizada por Caxias do
Sul, continua a diversificar seu par-
que industrial, atraindo indústrias
mecânicas, de máquinas agrícolas e
de caminhões e ônibus.
Em contraste, a concentração
secundária, estruturada em torno
de Pelo tas e do porto de Rio
Grande, experimenta significativo
declínio da sua participação na
indústria do estado. A crise desse corredor tradicional
está associada à decadência da agropecuária da Cam-
panha Gaúcha, que sofre os efeitos da concorrência
dos produtos argentinos e uruguaios.
o Pala Petroquímico de Triunfo, nos arredores de Porto Alegre (RS),foi inaugurado em
1983, contribuindo para a expansão industrial da metrópole gaúcha. Fotografia de 2008.
O ciclo mais recente de investimentos industriais
é comandado por empresas transnacionais e por pro-
cessos de fusão entre conglomerados do Sudeste e
empresas da região Sul. A capacidade regional de
308
\
s e·.za
a
A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO15
A industrialização do Nor-
deste desenrolou-se sob o signo
das políticas de desenvolvimento
regional conduzidas pelo governo
federal. Tais políticas estimula-
ram uma limitada desconcen-
tração da indústria, em escala
nacional, mas provocaram con-
centração industrial, em escala
regional.
A criação da Superintendência do Desenvolvi-
mento do Nordeste (Sudene), em 1960, foi o ponto
de partida de um projeto de desconcentração indus-
trial baseado no planejamento estatal. Através de
um vasto programa de incentivos fiscais (benefí-
cios como redução de alíquota de imposto, isenção
de impostos, etc.), o Estado conseguiu direcionar
investimentos privados do Centro-Sul para o Nor-
deste. A implantação de usinas hidrelétricas de porte
no rio São Francisco e a presença de mão de obra
abundante e barata funcionaram como incentivos
Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), da Petrobras, em Sergipe, em 2010.
Os polos petroquímicos e químicos funcionam como alicerces para a diversificação
industrial do Nordeste.
suplementares.
Na Bahia, a estratégia conduziu à criação do polo
petroquímico de Camaçari e do distrito industrial de
Aratu, ambos na região metropolitana de Salvador.
O polo de Camaçari, estabelecido na década de 1970,
gira em torno da Refinaria Landulfo Alves, da Petro-
bras. O parque industrial químico representou uma
mudança estrutural na economia baiana, tornando-se
logo a principal fonte de receita tributária do estado.
No distrito de Aratu predominam as indústrias de
bens de consumo duráveis atraídas pelos incentivos
da Sudene.
Sob o impulso da Sudene, surgiram também
polos de produção de bens intermediários, como as
indústrias de fertilizantes de Sergipe e o complexo
químico Salgema, atual Braskem, de Alagoas. Os
insumos produzidos por esses polos são, em geral,
transformados no Sudeste e, em especial, no estado
de São Paulo.
Em Pernambuco, os investimentos incentivados
pela Sudene concentraram-se nas cidades de Jaboatão,
Cabo e Paulista, que fazem parte da região metropoli-
tana de Recife. Nessa aglomeração também predomi-
nam as indústrias de bens duráveis, controladas por
capitais sediados no Centro-Sul.
O Ceará seguiu trajetória diferente. Os incentivos
fiscais contribuíram para a formação de um impor-
tante polo têxtil em Fortaleza, baseado principalmente
em capitais locais e herdeiro da tradicional indústria
doméstica de fiação e tecelagem. A modernização
recente aumentou a eficiência das indústrias de fiação,
que exibem competitividade internacional.
A industrialização incentivada conectou a econo-
mia nordestina ao Sudeste, que consome a maior parte
da sua produção e fornece máquinas e equipamentos
adquiridos no mercado interno. Contudo, em escala
regional, essa estratégia promoveu nítida concentração
geográfica de indústrias nas três metrópoles nacionais
nordestinas.
Na década de 1990, a abertura da economia
brasileira e a redução dos incentivos da Sudene
interromperam a trajetória de integração industrial
do Nordeste com o Sudeste. Os governos estadu-
ais nordestinos engajaram-se então em projetos de
atração de novos investimentos industriais, que não
309
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UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico
estão subordinados às necessidades do mercado do
Sudeste, mas à lógica da economia globalizada. Nessa
moldura, trata-se de produzir bens de consumo durá-
veis e bens intermediários destinados à exportação.
O baixo custo da mão de obra regional funciona
como fator vital para a atração de capitais nacionais
e internacionais.
As estratégias empregadas pelos governos esta-
duais abrangeram a concessão de incentivos diretos
e indiretos, como a desoneração de tributos e a doa-
ção de terrenos, e a implantação de infraestruturas
destinadas a reduzir os custos de exportação, como
os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecérn, no
Ceará. O governo baiano, à custa de pesados incen-
tivos, conseguiu atrair para Camaçari uma fábrica
da Ford. Em Pernambuco, a perda de indústrias
têxteis para o Ceará e de indústrias de calçados para
a Paraíba é compensada, em parte, pelo crescimento
da produção de material elétrico. Está em curso a
criação de um polo de indústrias de alta tecnologia
em Recife, que tem como modelo o tecnopolo esta-
belecido em Campina Grande, a'capital do Agreste",
na Paraíba.
Vista aérea do porto de Pecém, no Ceará, em 2008.
Contudo, é no Ceará que se registra o mais
vigoroso crescimento industrial do Nordeste, nos
setores de calçados, têxtil, eletrônico e mecânico. A
política de incentivos do governo estadual orienta-se
por uma perspectiva de interiorizaçâo da expansão
econômica que busca reduzir o fluxo migratório para310
Fortaleza. Junto ao porto de Pecém, uma usina side-
rúrgica funciona como plataforma para o nascente
distrito industrial. Obras de infraestrutura viária, a
construção de novos açudes e a exploração da energia
eólica ajudam a atrair investimentos. A estratégia de
interiorização gerou polos industriais limitados, mas
promissores, em Sobral, no vale do rio Acaraú, em
Iguatu, junto ao açude de Orós, e em Crato eJuazeiro
do Norte, no Cariri.
Os enclaves industriais
amazônicos
A indústria aparece na Amazônia sob a forma de
enclaves, estabelecidos a partir de incentivos federais
ou para explorar recursos minerais. Esses focos indus-
triais não estão conectados ao mercado regional, mas
aos mercados do Centro-Sul e do exterior.
O mais importante enclave industrial fica na
capital do Amazonas. A Zona Franca nasceu em
1967, sob a supervisão da Superintendência da
Zona Franca de Manaus (Suframa), vinculada ao
Ministério do Interior. Com ela, era deflagrada
uma operação geopolítica para a criação de um
expressivo centro industrial em plena Amazônia.
Sua meta consistia em reforçar o poder nacional
na "região de fronteira".
Indústrias da Zona Franca de Manaus (AM), em 2010.
\
A estratégia tinha a meta de transformar a capi-
tal do Amazonas em "porto livre" para importações e
exportações. A isenção de impostos sobre importação
de máquinas, matérias-primas e componentes e sobre
exportação de mercadorias, aliada ao baixo custo da mão
de obra local, deveria atrair empresas transnacionais e
nacionais para a fabricação de bens de consumo duráveis.
Sob esse ponto de vista, a Zona Franca foi um
sucesso. O estado do Amazonas saltou de 145 indús-
trias em 1967 para 800 em 1977, sendo 549 localiza-
das em Manaus. No início da década de 1990, a Zona
Franca representava 75% do PIB de todo o Estado e
gerava mais de 120 mil empregos diretos e indiretos.
As empresas eletroeletrônicas dominam a aglo-
meração industrial, vindo em seguida as mecânicas
e as de informática. Os mercados consumidores são
extrarregionais: a maior parte dos celulares, eletrodo-
mésticos, monitores, relógios, motocicletas e bicicletas
made in Manaus destinam-se ao Centro-Sul do país.
Os capitais dominantes são transnacionais e pratica-
mente não se utilizam matérias-primas ou insumos
regionais. A Zona Franca é uma ilha industrial cercada
de florestas por todos os lados.
A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO15
A política de abertura da economia nacional, com
a redução das tarifas de importação, teve impacto
negativo sobre a Zona Franca. Os empregos indus-
triais diretos, que chegaram a ultrapassar 75 mil em
1990, caíram para cerca de 55 mil em 2001. A crise
evidenciou os riscos associados ao caráter artificial do
enclave, que depende da manutenção permanente de
incentivos fiscais. Contudo, ocorreu notável recupera-
ção dos níveis de emprego e, em 2011, o polo industrial
absorvia quase 110 mil trabalhadores.
O Pará e o Maranhão abrigam enclaves metalúr-
gicos ligados ao beneficiamento e à exportação de pro-
dutos minerais. Em Barcarena, nas proximidades de
Belém, a Alumínio do Norte do Brasil S.A. (Alunorte),
controlada pela transnacional Norsk Hydro, realiza
7% da produção mundial de alumina (matéria-prima
básica usada na fabricação do alumínio) e a Alumínio
Brasileiro S.A. (Albras), um consórcio controlado pelo
Banco Japonês para Cooperação Internacional, fabrica
alumínio. Em São Luís, na ponta dos trilhos da E. F.
Carajás, a Alumínio do Maranhâo S.A. (Alumar), um
consórcio entre as transnacionais Alcoa, BHP Billiton
e RioTintoAlcan, produz alumina e alumínio.
Instalações industriais da Alumar, em São Luís (MA), em 2012.
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