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~ INDUSTRlA E O ..JI..~'''-L''--LTÓRIO BRASILEIRO A ESTRUTURA REGIONAL BRASILEIRA É DE TIPO CENTRO-PERIFERIA. O Sudeste funciona como núcleo dessa estrutura, em virtude da concentração espacial da indústria. No interior do Sudeste, o estado de São Paulo e o triângulo São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte abrigam os principais polos dinâmicos da indústria no país. A industrialização do Sul evoluiu em ritmo mais lento, mas acelerou-se recentemente. Hoje, Sudeste e Sul integram suas estruturas produtivas industriais, configurando uma "região concentrada'; na expressão do geógrafo Milton Santos. As regiões periféricas apresentam polos industriais isolados. No Nordeste, os polos principais surgiram como fruto do planejamento estatal. Na Amazônia, a Zona Franca de Manaus é um enclave industrial criado por motivos geopolíticos. ao esco cent a ao A industrialização promove a concentração espacial da riqueza e dos recursos financeiros e produtivos. Na etapa inicial desse processo, os custos de transferência, isto é, o que se gasta com o deslocamento de matéria (bens e pessoas) ou informações (serviços e capitais), são extremamente elevados, devido ao fraco desenvol- vimento das redes de transporte e de comunicações. O espaço geográfico oferece um espectro limitado de opções de localização para as empresas industriais. As fábricas instalam-se nas escassas localizações que se destacam pela amplitude do mercado consumidor, pela oferta de força de trabalho ou pelos recursos naturais e matérias-primas disponíveis. Na etapa seguinte, manifesta-se a força das economias de aglomeração. Os centros industriais pioneiros recebem infraestruturas de energia, transportes e comunicações. O dinamismo industrial impulsiona o cres- cimento das cidades, provocando ampliação dos mercados consumidores e da oferta de força de trabalho. As fábricas já implantadas produzem bens intermediários (bens utilizados na produção de outros bens), que funcionam como insumos para outras fábricas. Indústria atrai indústria: em torno dos lugares pioneiros, formam-se manchas industriais cada vez mais complexas e diversificadas. Essa tendência de concentração espacial acompanhou a industrialização brasileira desde o início do século XX (reveja o capítulo 12). Em escala nacional, seu resultado foi a configuração, no Sudeste, de uma região industrial cen- tral, dinâmica e integrada (veja o mapa da página seguinte). O núcleo dessa região corresponde ao estado de São Paulo. 298 \ OCEANO ATLÂNTICO ® Capital estadual • Capital federal Maior concentração industrial DOutras concentrações industriais N A Fonte: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1992. p. XVII-? A geografia industrial depende, em grande medida, dos investimentos diretos das empresas estatais e das estratégias de desenvolvimento regional do Estado. A política governamental de implantação da siderurgia moderna, entre as décadas de 1940 e 1960, reforçou a concentração espacial da indústria no Sudeste. O poder multiplicado r da siderurgia e as infraestruturas de transportes a ela associadas aprofundaram as desi- gualdades econômicas entre a região industrial central e o restante do país. No Sul e no Nordeste, Iormaram-se regiões industriais periféricas, bastante distintas uma da outra. Na Amazônia e no Centro-Oeste, as indús- trias estabeleceram-se como enclaves isolados. Em escala regional, o movimento concentrado r gerou aglomerações industriais associadas às metrópoles e às capitais estaduais. Em certo ponto do desenvolvimento econômico, a tendência de concentração espacial da indústria arre- fece e dá lugar a movimentos de desconcentração. A evolução das tecnologias e infraestruturas de transpor~ tes e comunicações reduz significativamente os custos de transferência. O espaço geográfico torna-se mais fluido, descortinando inúmeras novas localizações atraentes para as empresas industriais. A indústria e o território brasileiro. CAPíTULO15 Nessa etapa, manifesta-se a força das deseconomias de aglomeração. Nas regiões industriais tradicionais, crescem os custos dos terrenos, assim como os impostos municipais. A força de trabalho, organizada em sindica- tos, consegue aumentos salariais. Diversos custos exter- nos, de difícil mensuração, originam-se do congestiona- mento de tráfego e da poluição ambiental e dos custos gerais de aluguéis, transportes e alimentação típicos das metrópoles. Em busca do melhor retorno para o capital, os investimentos empresariais são desviados para novas localizações. No Brasil, esse fenômeno começou a se desenvolver na década de 1970. Seus sintomas transpa~ recem na perda de participação do Sudeste na força de trabalho da indústria de transformação e no valor total da produção industrial (veja os gráficos a seguir). Participação regional na força de trabalho industrial (%) 70 69,7 ~3 60 - 53,3 50 - 40 - 30 - 20 - 20,0--n 10 210,813,0 10 - 11 ~. Acesso em: 6 mar. 2012. Os números da participação na força de trabalho industrial parecem indicar um vigoroso processo de 299 UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico desconcentração, mas as perdas relativas do Sudeste se refletem quase apenas em aumento expressivo da parti- cipação da Região Sul. Já os números da distribuição do valor da produção industrial mostram que o predomínio do Sudeste ainda é muito expressivo e que o processo de desconcentração se desacelerou na primeira década do século XXI. Em conjunto, os dados evidenciam, paralelamente a um processo limitado de desconcentração, a moderni- zação tecnológica das empresas industriais do Sudeste, que provoca redução relativa do emprego de mão de obra. Eles também indicam que a Região Sul abriga diversos focos de novos investimentos industriais. A integração do Centro-Sul As tendências de reorganização espacial da indús- tria no Brasil impulsionam a integração do Centro-Sul do país. No fim das contas, desenvolve-se um processo de "descentralização na concentração': que acentua os contrastes entre o Centro-Sul e o restante do terri- tório nacional. O geógrafo Milton Santos observou que esse processo é um aspecto da tendência mais ampla de soldagem entre as estruturas produtivas do Sudeste e do Sul. Ele sugeriu identificar uma região concentrada, formada por essas duas grandes regiões e polarizada pelo capital financeiro estabelecido no estado de São Paulo. A evolução da participação dos estados na produ- ção industrial revela com mais nitidez as direções da descentralização industrial. Desde 1975 a participação do estado de São Paulo reduziu-se de cerca de 55% para cerca de 35% do valor da produção industrial. Em termos relativos, a redução da participação do Rio de Janeiro foi ainda maior que a de São Paulo. Por outro lado, até 2003, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná experimentavam significativa ampliação da sua participação, e os dois primeiros ultrapassaram o Rio de Janeiro. Depois, as tendências gerais de des- concentração industrial interromperam o crescimento da participação desses estados (veja o gráfico acima). A liderança industrial continua, claramente, com o estado de São Paulo, apesar do recente declínio 300 Participação estadual no valor da produção industrial 60,-----------------------------------50---- 40r----------------------------------~~~_=~------E~30~---------------------------------- 20r-----------------------------------Or----------,~--------_,----------_. 1975 2003 20091985 - São Paulo - Paraná - Rio Grande do Sul - Rio de Janeiro Fontes: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Anuários Estatísticos do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 6 mar. 2012. relativo. O declínio do Rio de Janeiro é mais antigo e mais nítido. Mas os investimentos repelidos pelas dese- conomias de aglomeração de São Paulo e do Rio de Janeiro não procuram, em sua maior parte, o Nordeste. As principais decisões empresariais de localização con- duzem à implantação de novas unidades produtivas em Minas Gerais ou na Região Sul, conservando as desigualdades de riqueza entre as regiões. A região concentrada beneficia-se de vantagens extraordinárias, do ponto de vista da localização indus- trial. Nela, encontram-se os maiores e mais dinâmicos mercados consumidores, as reservas de força de trabalho de melhor qualificação e uma diversificada base industrial que oferece bens de capital e intermediários para as novas fábricas.Os investimentos repelidos pelas metrópoles são atraídos pelas cidades médias servidas por adequadas infraestruturas de transportes e comunicações. O estado de São Paulo continua a atrair grandes investimentos industriais, principalmente nos setores de alta tecnologia, enquanto unidades produtivas baseadas no uso intensivo de mão de obra são repelidas para novas localizações. Além disso, a descentralização espacial da indústria desenvolve-se paralelamente a um aproíundarnento da centralização financeira. A cidade de São Paulo ampliou sua liderança no campo das atividades bancárias e dos mercados financeiros \ em geral, reafirmando sua condição de principal polo econômico do país. A indústria automobilística ilustra o processo de "descenrralizaçâo na concentração" que configura o atual espaço industrial brasileiro (veja o boxe a seguir). A estratégia das montadoras Durante duas décadas, a produção de automóveis no Brasilconcentrou-se exclusivamente na Grande São Paulo. Em 1975, a Fiat inaugurou uma fábrica nos arredores de Belo Horizonte, mas a descentralização começou de fato na década de 1990, com investimentos dirigidos para o interior de São Paulo e para algumas áreas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. As japonesas Toyota e Honda instalaram unida- des de montagem nos arredores de Campinas (SP). A Volkswagen, a General Mocors e a Ford estabeleceram novas fábricas no vale do Paraíba paulista. A Peugeot optou pela localidade de Porm Real, no vale do Paraíba fluminense. Em São José dos Pinhais (PR), instalaram-se fábricas da Renault, Volkswagen e Nissan. A General Mocors criou uma unidade de montagem em Gravataí (RS). A estratégia das montadoras tem o objetivo de reduzir os custos de produção. Nas novas localizações, os sindi- caros têm menor poder de reivindicação. Além disso, a logística de transferência de matérias-primas e producos finais apresenta vantagens, pois não depende das con- gestionadas redes de circulação metropolitanas. Mas os novos investimentos priorizam a região concentrada. Fora dela, como exceção, aparece apenas uma montadora de automóveis da Ford, em Camaçari (BA). Passeata de 19 de Maio, durante a grande greve dos metalúrgicos do ABCO paulista, em 1980. A organização sindical no ABCO estimulou as montadoras a buscar novas localizações, distantes da metrópole paulista. A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO l5 A região industrial central o Sudeste é o dínamo industrial de todo o Brasil. No seu interior, as principais concentrações indus- triais estão associadas às aglomerações metropolita- nas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Um mapa da localização das unidades produtivas de empresas industriais, comerciais e de serviços no Sudeste revela o peso dominante do triângulo formado por essas metrópoles. Fome: THÉRY, Hervé; MELLo, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: Edusp/lmprensa Oficial, 2005. p.157. A cidade de São Paulo transformou-se no princi- pal polo industrial do país já nas primeiras décadas do século XX, em virtude de sua situação geográfica estra- tégica, como elo entre o leque de ferrovias que se abria para o Oeste cafeeiro e o porto de Santos. Sob o impulso da economia caíeeira. a capital paulista tornou-se um próspero centro de negócios de exportação e importação e de atividades bancárias, atraindo capitais e empresá- rios. O fluxo imigratório orientado inicialmente para o café gerou uma classe operária numerosa, constituída por trabalhadores italianos e espanhóis. O crescimento 301 UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico econômico do interior abria vastos mercados consu- midores para os manufaturados que começavam a ser fabricados na capital. As zonas industriais pioneiras situaram-se junto dos eixos ferroviários que ligavam a cidade ao Rio de Janeiro (Estrada de Ferro Central do Brasil), ao longo dos bairros do Belenzinho, Brás e Mooca. Outro dis- trito industrial surgiu na Lapa, junto aos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana. Com as indústrias, a cidade cresceu e se transformou. No pós-guerra, o crescimento industrial alterou os padrões de localização das unidades produtivas. A indús- tria transbordou os limites do município da capital,difun- dindo-se para as cidades vizinhas e acelerando o processo de conurbação, que será mais bem explicado no capítulo 19. Os eixos rodoviários substituíram as linhas de trem, atraindo as novas fábricas que se implantavam. Ao longo do eixo da via Anchieta, na direção da Baixada Santista, os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema passaram a abrigar as grandes montadoras automobilís- ticas. Com elas, instalaram-se as fábricas de autopeças e as metalúrgicas e, mais tarde, as indústrias químicas. O chamado ABCD transformou-se na maior aglomeração industrial da América Latina e no foco do movimento sindical brasileiro. No eixo da via Dutra, na direção do Rio de Janeiro, uma significativa aglomeração indus- trial foi criada no município de Guarulhos. Entre as rodo- vias Raposo Tavares e Castelo Branco também surgiu uma aglomeração industrial, nos municípios de Osasco e Cara- picuíba. Um extenso arco de chaminés passava a circundar a capital. O crescimento industrial do Rio de Janeiro foi impulsionado por fatores essencialmente polí- ticos. No início do século XX, a cidade era a capital do país e 302 abrigava o maior porto marítimo nacional. Contava com cerca de 900 mil habitantes, enquanto São Paulo não ultrapassava os 250 mil. Mas não polari- zava uma economia de exportação com o dinamismo das plantações cafeeiras paulistas e conheceu um crescimento industrial menos vigoroso. A industrialização do Rio de Janeiro apoiou- se na dimensão do mercado consumidor formado pela aglomeração urbana e nos atrativos oferecidos pela presença dos órgãos de governo e empresas estatais. A tradicional rivalidade entre São Paulo e Rio foi também uma expressão da rivalidade entre o capital privado e a burocracia do Estado. Assim como em São Paulo, as linhas férreas defi- niram a localização das zonas industriais, que se organi- zaram no norte da cidade, enquanto a faixa sul, na orla litorânea, abrigava os bairros residenciais de alta renda. Mais tarde, cidades vizinhas da Baixada Fluminense - como Nova 19uaçu,Duque de Caxias, SãoJoão de Meriti e Nilópolis - passaram a abrigar aglomerações industriais. Nova Iguaçu, com cerca de 800 mil habitantes, situada no eixo da via Dutra e da E. F.Central do Brasil, tem a maior aglomeração industrial da periferia do Rio de Janeiro. Duque de Caxias, com cerca de 860 mil habitantes, é um polo químico organizado em torno da refinaria de petróleo da Petrobras. r-----------------------------------------~EE: & o J Vista aérea da Refinaria Duque de Caxias(Reduc), da Petrobras, na Baixada Fluminense, em 2012. Os eixos viários e a refinaria contribuíram para a expansão demográfica dessas cidades da periferia do Rio de Janeiro (RJ). \ Na zona serrana, localiza-se outra concentração industrial fluminense. Nas cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, desenvolveu-se um polo têxtil de destaque, que conquistou parcelas expressivas do mercado nacional. Belo Horizonte nasceu em 1897, como uma cidade planejada. Sua origem está ligada a um projeto estratégico das elites mineiras, destinado a reverter o processo de decadência econômica de Minas Gerais. A expansão da economia cafeeira paulista e o crescimento do poder de atração do Rio de Janeiro contrastavam com a estagnação de Minas Gerais, que havia um século conhecera o inexorável declínio da mineração. A transferência da capital de Ouro Preto para a nova cidade foi um ato simultaneamente simbólico e estratégico. Ouro Preto recordava as riquezas perdi- das do passado; Belo Horizonte, capital sem passado, evocava a luta por um futuro de glórias. Ouro Preto, no caminho da zona da Mata mineira, situava-se em área cada vez mais influenciada pelo Rio de Janeiro; Belo Horizonte, 100 quilômetros a noroeste, pretendia ser um centro polarizador da vida econômica mineira. Desde a década de 1930 as elites mineiras direcio- naram sua atenção para o desenvolvimento industrial. Essa orientação materializou-se por meio da concessão de incentivos diversos para a atração de investimentos industriais privados e também por uma pressão per- manente sobre o governo central, destinada a garantir a instalação de um vasto parque siderúrgico estatal. As políticas de concessão de incentivos para o capital privado resultaram na vigorosa industrialização linha de produção da fábrica da Fiat, em Betim (MG), em 2011. A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO15 dos arredores de Belo Horizonte, com a formação de núcleos fabris modernos e diversificados. Contagem, com mais de meio milhão de habitantes, é o princi- pal desses núcleos, abrigando um importante parque metalúrgico e químico. A industrialização de Betim ganhou impulso definitivo com a instalação da pri- meira fábrica da Fiat no país. Implantação da grande siderurgia A Companhia Siderúrgica Belgo- Mineira, criada em 1917 como associação entre capitais privados nacionais e estrangeiros, foi até meados do século XX a única grande usina de aço do país. Situada em Sabará (MG), utilizava o minério do Quadrilátero Ferrífero e carvão vegetal para produzir mais de metade dos lingotes de aço do país. Mas a grande siderurgia brasileira nasceu a partir de duas empresas estatais: a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atual Vale, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), implantadas por Getúlio Vargas, em 1942. A CVRD encarregou-se da extração, transporte ferroviário e naval e comercialização dos minérios do Quadrilátero Ferrífero, antes de expandir suas ativi- dades para inúmeras outras jazidas do país. A CSN, financiada por empréstimos dos Estados Unidos, obedeceu a prioridades estratégicas do governo de Getúlio Vargas, que pretendia utilizá-Ia como foco de estímulo à industrialização do país e símbolo da soberania nacional. A localização da CSN foi objeto de estudos de viabilidade realizados por uma Comissão Siderúr- gica Nacional. O relatório do governador de Minas Gerais, enviado à comissão, argumentava que o fator preponderante deveria ser a proximidade das jazidas ferríferas, matéria-prima básica na fabricação do aço. Entretanto, o parecer final da comissão consagrou Volta Redonda, no vale do Paraíba fluminense, como a localização mais adequada. Os técnicos acentuaram a proximidade dos mercados consumidores, a facilidade de transporte do minério produzido na região do Quadrilátero Ferrífero, através da E. F. Central do Brasil, e a pro- ximidade dos portos do Rio de Janeiro e de Angra 303 \ UNIDADE2 • Brasil: Estado e espaço geográfico dos Reis, para receber o carvão mineral importado e o produzido em Santa Catarina. A grande usina estatal consagrou a opção pelo carvão mineral, revertendo a tendência anterior ao uso da madeira das florestas tropicais. A decisão de produzir aço no vale do Paraíba foi, ao mesmo tempo, técnica e política. Por meio dela, o Estado canalizava os investimentos futuros das empresas privadas para a então capital do país e para São Paulo. Nesse contexto, os minérios do Quadrilátero Ferrífero funcionavam apenas como retaguarda para o crescimento do eixo econômico estabelecido entre as duas principais metrópoles brasileiras. Mas começava naquele momento a luta de Minas Gerais para atrair os investimentos públi- cos na grande siderurgia para o seu território. o presidente Eurico Gaspar Outra, na inauguração da CSN, em 1946. Na década de 1950 começaram a nascer mais duas grandes siderúrgicas estatais: a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão, e a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas), em Ipatinga. A Cosipa foi planejada como siderúrgica privada, mas, durante o empreendimento, o Estado tornou-se o principal acionista. A usina entrou em funcionamento em 1965, recebendo minério de ferro pela E. F.Central do Brasil. O carvão mineral passou a desembarcar, desde 1969, no terminal portuário especializado junto da usina. 304 A Usiminas, em Ipatinga (MG), em 2011. A Usiminas surgiu pela associação de capitais estatais, dos governos federal e estadual, com um con- sórcio de investidores japoneses. A usina entrou em operação em 1963 e revelou-se a mais moderna e eficiente de todos os grandes empreendimentos side- rúrgicos estatais. Na década de 1970, a política de expansão do parque industrial brasileiro conduziu à construção de mais duas grandes usinas estatais: a Açominas, em Ouro Branco (MG), e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), em Vitória, no Espírito Santo. Essas usinas de grande porte consolidaram a opção pelo carvão mineral como combustível. As pressões das elites políticas e econômicas de Minas Gerais, amparadas nas jazidas do Quadrilátero Ferrífero, surtiram efeito: além da Usiminas e da Aço- minas, outras importantes usinas configuraram o Vale do Aço, que é a maior concentração siderúrgica do país. Em seu interior, aparecem também usinas que utilizam o carvão vegetal - entre elas a pioneira Belgo-Mineira, a Acesita e a Mannesman - proveniente da madeira de reflorestamento. A siderurgia no Sudeste estruturou-se em torno das ferrovias e portos ligados ao transporte dos miné- rios do Quadrilátero Ferrífero (veja o mapa da página seguinte ).A E. F.Central do Brasil é o principal suporte da CSN e da Cosipa. A E. F.Vitória- Minas, construída pela CVRD para o transporte dos minérios até o porto de Tubarão, gerou a concentração industrial do Vale do Aço. No litoral do Espírito Santo, junto ao porto de Praia Mole, instalou-se a CST. \ ~ Estrada de Ferro Central do Brasil - Estrada de Ferro Vitória-Minas • Quadrilátero Ferrífero t!:J Grande siderúrgica •••••••• Porto industrial da capital concentra-se em empresas de alta tecnologia, que absorvem parcela relativamente reduzida da força de trabalho. A metró- pole paulista assume, definitivamente, a característica de aglomeração baseada nos serviços e no comércio. A indústria procura novas localizações no interior do estado, configurando manchas de industrialização ao longo dos quatro principais eixos rodoviários que interligam a Grande São Paulo às cidades médias do interior (veja o mapa da página seguinte). Na década de 1990, a CVRD e as siderúrgicas estatais foram privatizadas. O conglomerado euro- peu ArcelorMittal assumiu o controle sobre a Belgo- Mineira, a Acesita e a CST. O grupo brasileiro Gerdau assumiu o controle sobre a Açominas. O grupo Vicu- nha, também brasileiro, tornou-se o acionista principal da CSN. A Usiminas, controlada por uma aliança entre o grupo japonês Nippon e os grupos brasileiros Votorantim e Camargo Corrêa, adquiriu a Cosipa. A Vale, oriunda da CVRD, desenvolveu estraté- gias de integração vertical dos negócios. Em parceria com o conglomerado alemão ThyssenKrupp, cons- truiu a Companhia Siderúrgica do Atlântico, no Rio de Janeiro. Aproveitando-se de seu controle sobre a E. F. Vitória-Minas e o complexo portuário de Tubarão, integrou a extração e o transporte de miné- rios de ferro e manganês e a produção e exportação de aço. o espaço industrial paulista O estado de São Paulo abriga a maior concentração industrial do país, localizada na Grande São Paulo. Mas o processo de descentraliza- ção iniciou-se na década de 1970, quando os índices de crescimento industrial do interior ultrapassaram os da metrópole. Em 2009, a parti- cipação da metrópole no emprego industrial do estado havia caído para 43%, enquanto sua parte no valor da produção girava em torno de 49%. 305 \ UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico OCEANO ATLÂNTICO o corredor industrial que se estende entre Campinas e Araraquara abrange os polos industriais de Americana, Limeira, Piracicaba, Rio Claro e São Carlos. Ameri- cana especializou-se na indústria têxtil, um setor fortemente atingido pela concorrência de produtores chineses, indianos e paquista- neses. São Carlos é um polo de alta tecnologia, baseado na pesquisa científica universitária, que revela forte capacidade de atração de investimentos. As vias Outra e Ayrton Senna estrutu- ram os pelos industriais do Vale do Paraíba paulista, que formam a terceira concentração industrial do estado, ocupando cerca de 5% da força de trabalho industrial e gerando 8% do valor da produção. A expansão inicial baseou-se na metalurgia, abastecida pelos bens intermediários produzidos na CSN. Depois, instalaram-se indústrias bélicas e aeronáuticas, como a Embraer, e fábricas de automóveis e caminhões. Como ocorreu com a o 90km ~ Fome: GOVERNO do Estado de São Paulo. Secretaria da Fazenda. Disponível em: . Acesso em: 19 mar. 2012. As vias Anhanguera e Bandeirantes estruturam o corredor industrial Campinas- Araraquara- Ribeirão Preto. A região de Campinas ocupa pouco mais de 20% da força de trabalho industrial, realiza 19% do valor da produção industrial do estado e apresenta crescimento fortemente concentrado no campo da alta tecnologia, abrigando empresas nacionais e transna- cionais de microeletrônica, semicondutores, telefonia e equipamentos cirúrgicos (leia o texto do boxe abaixo). As fontes da indústria A capacitação científica de Campinas iniciou-se há muito, pela criação do Instituto Agronômico, em l887, e do Instituto Biológico, em 1927. No período mais recente, o Instituto de Tecnologia de Alimentos, de 1969, e a Univer- sidade de Campinas (Unicamp), criada alguns anos depois, abriram um ciclo que abrangeu a implantação do centro de pesquisas da Telebrás,do Centro Tecnológico para Informá- tica e do Laboratório Nacional de Luz Síncroton. A força de trabalho de alta qualificação e a geração de conhecimento dessescentros científicos e tecnológicos funcionaram como poderosos fatores de atração de investimentos industriais. SãoJosédos Campos, no vale do Paraíba,abriga o Centro Tecnológico Aeroespacial, estabelecido na década de 1940, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e o Instituto de Pesquisas Espaciais,ambos da década de 1960.As indústrias bélicas e aeroespaciais surgiram como frutos dessas iniciati- vas,que definiram a vocação industrial da cidade. 306 região de Campinas, a arrancada industrial do Vale do Paraíba beneficiou-se de investimentos públicos em ciência e tecnologia. A via Castelo Branco impulsionou a industrializa- ção da região de Sorocaba. A aglomeração caracteriza- se pela indústria pesada, com predomínio das fábricas de bens intermediários e de capital. Votorantim e Mai- rinque são sedes de indústrias de cimento e de alumínio do Grupo Votorantim e dependem das receitas produ- zidas por essas empresas. Em Sorocaba encontram-se indústrias de máquinas pesadas. A região ocupa mais de 7% da força de trabalho industrial e gera cerca de 6% do valor da produção industrial do estado. O sistema Anchieta- Imigrantes liga a metrópole à aglomeração industrial da Baixada Santista, na raiz da serra do Mar. Cubatão tornou-se uma localiza- ção industrial importante com a implantação das três usinas de força da Lighr, entre as décadas de 1920 e 1950. O deslanche industrial ocorreu com a instala- ção da Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobras, em 1955. Atrás dela, vieram fábricas petroquímicas e químicas, como a Alba, a Cia. Brasileira de Estireno, a Union Carbide e a Copebrás. Mais tarde, instalaram-se as indústrias de fertilizantes. A Cosipa funcionou como base do parque meta- lúrgico da aglomeração. As limitações físicas da Bai- xada Santista, em virtude da barreira natural repre- sentada pela serra do Mar, e o forte impacto ambiental das atividades fabris tendem a limitar o crescimento industrial da área do litoral. Atualmente, a região da Baixada Santista gera pouco mais de 3% do valor da produção industrial do estado. Os três CO cios Industriais da egião S I A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO 15 Na reglao Sul, de Porto Alegre a Curitiba, estendem-se concentrações industriais cada vez mais integradas às estruturas produtivas e financeiras do Sudeste (veja o mapa abaixo). Historicamente, as empresas industriais mais importantes surgiram de capitais locais, conquistaram o mercado regional e passaram mais tarde a atuar no mercado nacional. A expansão industrial apoiou-se em fatores regionais. O fluxo imigratório que formou colônias alemãs, italia- nas e eslavas trouxe muitos artífices e trabalhadores qualificados. Um empresariado regional apareceu nas áreas coloniais. O vale do Itajaí e o nordeste catarinense ilus- tram esse modelo de industrialização. Nas cidades de Joinville, Blumenau e Brusque desenvolveram- se fábricas têxteis, de lou- ças e de brinquedos. O complexo têxtil cresceu e conquistou o mercado nacional. Outro exem- plo de expansão de uma indústria local é ofere- cido pelos estabeleci- mentos vinícolas da serra Gaúcha, implantados nas cidades de Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Nas cidades gaúchas de colo- nização alemã próximas a Porto Alegre, como Novo Hamburgo e São Leo- poldo, estabeleceram-se fabricantes de artigos de couro e calçados. . Apucarana • Campo M urão Erechim e pasSOrn~dOO RIO ~~~N DO SU~ ento Gonçalv a ta'Maria Garibal . O OCEANO ATLÂNTICO 30'S Fontes: INSTITUTO Brasileira de Capital Regional A Geografia e Estatística. Atlas Nacional Capital Regional B Digital do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, Capital Regional C 2005. 1 DVD-ROM; INSTITUTO Brasi- Outras cidades leira de Geografia e Estatística. Regiões • Principais concentrações o 85 industriais da Região Sul de Influência das Cidades, 2007. Rio de~L__..:::::::s=:....._=- ..::::::::::::::::::::::::::::::::::::__ ..J Janeiro: IBGE, 2008. N A ~ O O Metrópole 307 o \ UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico o modelo industrial da região estruturou-se sobre indústrias tradicionais, voltadaspara a fabricação de bens de consumo não duráveis, dependentes de maté- rias-primas vegetais e agropecuárias. É o que ocorre não só com a fabricação de vinhos, artigos de couro e calçados, como também com a agroindústria de óleos vegetais disseminada pelas principais cidades do inte- rior e, ainda, os frigoríficos e indústrias de fumo do Rio Grande do Sul. O importante ramo de madeira e mobiliário do Paraná, estabelecido em Curitiba e Ponta Grossa, é outra ilustração desse processo. No pós-guerra, a industrialização do Brasil meri- dional ingressou num segundo ciclo, modernizando-se e diversificando-se. A principal concentração indus- trial organizou-se na região metropolitana de Porto Alegre, onde o município de Canoas se destacou como polo metalúrgico, químico e de material elé- trico. Em Curitiba, surgiram estabelecimentos mecâ- nicos. No nordeste catarinense, em torno de Joinville, implantaram-se indústrias de cerâmica, de plásticos e metalúrgicas. Na Zona Carbonifera catarinense, em Criciúma e Siderópolis, desenvolveram-se indústrias carboquímicas. atrair investimentos está relacionada à presença de mão de obra qualificada e mercados consumidores significativos, além de custos gerais menores que os do triângulo São Paulo- Rio de Janeiro- Belo Horizonte. A integração econômica do Mercosul representa outro elemento positivo para as decisões de investimentos industriais no Brasil meridional, especialmente em virtude da modernização dos sistemas de transportes. Mas, de modo geral, o processo tende a reforçar as concentrações já existentes. No Paraná, municípios dos arredores de Curi- tiba - como São José dos Pinhais e Campo Largo - despontam como alternativas de localização no anel que circunda o estado de São Paulo. Em Santa Cata- rina, os polos de Joinville e Blumenau recebem os prin- cipais investimentos, enquanto o sudeste do estado recompõe-se da crise gerada pelo fechamento da quase totalidade das minas de carvão mineral. No Rio Grande do Sul, o panorama é mais com- plexo, em função do agravamento das disparidades eco- nômicas entre o norte e o sul do estado. O eixo dinâmico da economia gaúcha é o corredor Porto Alegre-Caxias do Sul. A capital perde participação na indústria, especiali- zando-se no comércio e nos serviços. Por outro lado, os municípios conur- bados do corredor viário Canoas- Novo Hamburgo experimentam vigoroso crescimento industrial. Mais além da metrópole, a serra Gaúcha, polarizada por Caxias do Sul, continua a diversificar seu par- que industrial, atraindo indústrias mecânicas, de máquinas agrícolas e de caminhões e ônibus. Em contraste, a concentração secundária, estruturada em torno de Pelo tas e do porto de Rio Grande, experimenta significativo declínio da sua participação na indústria do estado. A crise desse corredor tradicional está associada à decadência da agropecuária da Cam- panha Gaúcha, que sofre os efeitos da concorrência dos produtos argentinos e uruguaios. o Pala Petroquímico de Triunfo, nos arredores de Porto Alegre (RS),foi inaugurado em 1983, contribuindo para a expansão industrial da metrópole gaúcha. Fotografia de 2008. O ciclo mais recente de investimentos industriais é comandado por empresas transnacionais e por pro- cessos de fusão entre conglomerados do Sudeste e empresas da região Sul. A capacidade regional de 308 \ s e·.za a A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO15 A industrialização do Nor- deste desenrolou-se sob o signo das políticas de desenvolvimento regional conduzidas pelo governo federal. Tais políticas estimula- ram uma limitada desconcen- tração da indústria, em escala nacional, mas provocaram con- centração industrial, em escala regional. A criação da Superintendência do Desenvolvi- mento do Nordeste (Sudene), em 1960, foi o ponto de partida de um projeto de desconcentração indus- trial baseado no planejamento estatal. Através de um vasto programa de incentivos fiscais (benefí- cios como redução de alíquota de imposto, isenção de impostos, etc.), o Estado conseguiu direcionar investimentos privados do Centro-Sul para o Nor- deste. A implantação de usinas hidrelétricas de porte no rio São Francisco e a presença de mão de obra abundante e barata funcionaram como incentivos Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), da Petrobras, em Sergipe, em 2010. Os polos petroquímicos e químicos funcionam como alicerces para a diversificação industrial do Nordeste. suplementares. Na Bahia, a estratégia conduziu à criação do polo petroquímico de Camaçari e do distrito industrial de Aratu, ambos na região metropolitana de Salvador. O polo de Camaçari, estabelecido na década de 1970, gira em torno da Refinaria Landulfo Alves, da Petro- bras. O parque industrial químico representou uma mudança estrutural na economia baiana, tornando-se logo a principal fonte de receita tributária do estado. No distrito de Aratu predominam as indústrias de bens de consumo duráveis atraídas pelos incentivos da Sudene. Sob o impulso da Sudene, surgiram também polos de produção de bens intermediários, como as indústrias de fertilizantes de Sergipe e o complexo químico Salgema, atual Braskem, de Alagoas. Os insumos produzidos por esses polos são, em geral, transformados no Sudeste e, em especial, no estado de São Paulo. Em Pernambuco, os investimentos incentivados pela Sudene concentraram-se nas cidades de Jaboatão, Cabo e Paulista, que fazem parte da região metropoli- tana de Recife. Nessa aglomeração também predomi- nam as indústrias de bens duráveis, controladas por capitais sediados no Centro-Sul. O Ceará seguiu trajetória diferente. Os incentivos fiscais contribuíram para a formação de um impor- tante polo têxtil em Fortaleza, baseado principalmente em capitais locais e herdeiro da tradicional indústria doméstica de fiação e tecelagem. A modernização recente aumentou a eficiência das indústrias de fiação, que exibem competitividade internacional. A industrialização incentivada conectou a econo- mia nordestina ao Sudeste, que consome a maior parte da sua produção e fornece máquinas e equipamentos adquiridos no mercado interno. Contudo, em escala regional, essa estratégia promoveu nítida concentração geográfica de indústrias nas três metrópoles nacionais nordestinas. Na década de 1990, a abertura da economia brasileira e a redução dos incentivos da Sudene interromperam a trajetória de integração industrial do Nordeste com o Sudeste. Os governos estadu- ais nordestinos engajaram-se então em projetos de atração de novos investimentos industriais, que não 309 \ UNIDADE 2 • Brasil: Estado e espaço geográfico estão subordinados às necessidades do mercado do Sudeste, mas à lógica da economia globalizada. Nessa moldura, trata-se de produzir bens de consumo durá- veis e bens intermediários destinados à exportação. O baixo custo da mão de obra regional funciona como fator vital para a atração de capitais nacionais e internacionais. As estratégias empregadas pelos governos esta- duais abrangeram a concessão de incentivos diretos e indiretos, como a desoneração de tributos e a doa- ção de terrenos, e a implantação de infraestruturas destinadas a reduzir os custos de exportação, como os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecérn, no Ceará. O governo baiano, à custa de pesados incen- tivos, conseguiu atrair para Camaçari uma fábrica da Ford. Em Pernambuco, a perda de indústrias têxteis para o Ceará e de indústrias de calçados para a Paraíba é compensada, em parte, pelo crescimento da produção de material elétrico. Está em curso a criação de um polo de indústrias de alta tecnologia em Recife, que tem como modelo o tecnopolo esta- belecido em Campina Grande, a'capital do Agreste", na Paraíba. Vista aérea do porto de Pecém, no Ceará, em 2008. Contudo, é no Ceará que se registra o mais vigoroso crescimento industrial do Nordeste, nos setores de calçados, têxtil, eletrônico e mecânico. A política de incentivos do governo estadual orienta-se por uma perspectiva de interiorizaçâo da expansão econômica que busca reduzir o fluxo migratório para310 Fortaleza. Junto ao porto de Pecém, uma usina side- rúrgica funciona como plataforma para o nascente distrito industrial. Obras de infraestrutura viária, a construção de novos açudes e a exploração da energia eólica ajudam a atrair investimentos. A estratégia de interiorização gerou polos industriais limitados, mas promissores, em Sobral, no vale do rio Acaraú, em Iguatu, junto ao açude de Orós, e em Crato eJuazeiro do Norte, no Cariri. Os enclaves industriais amazônicos A indústria aparece na Amazônia sob a forma de enclaves, estabelecidos a partir de incentivos federais ou para explorar recursos minerais. Esses focos indus- triais não estão conectados ao mercado regional, mas aos mercados do Centro-Sul e do exterior. O mais importante enclave industrial fica na capital do Amazonas. A Zona Franca nasceu em 1967, sob a supervisão da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), vinculada ao Ministério do Interior. Com ela, era deflagrada uma operação geopolítica para a criação de um expressivo centro industrial em plena Amazônia. Sua meta consistia em reforçar o poder nacional na "região de fronteira". Indústrias da Zona Franca de Manaus (AM), em 2010. \ A estratégia tinha a meta de transformar a capi- tal do Amazonas em "porto livre" para importações e exportações. A isenção de impostos sobre importação de máquinas, matérias-primas e componentes e sobre exportação de mercadorias, aliada ao baixo custo da mão de obra local, deveria atrair empresas transnacionais e nacionais para a fabricação de bens de consumo duráveis. Sob esse ponto de vista, a Zona Franca foi um sucesso. O estado do Amazonas saltou de 145 indús- trias em 1967 para 800 em 1977, sendo 549 localiza- das em Manaus. No início da década de 1990, a Zona Franca representava 75% do PIB de todo o Estado e gerava mais de 120 mil empregos diretos e indiretos. As empresas eletroeletrônicas dominam a aglo- meração industrial, vindo em seguida as mecânicas e as de informática. Os mercados consumidores são extrarregionais: a maior parte dos celulares, eletrodo- mésticos, monitores, relógios, motocicletas e bicicletas made in Manaus destinam-se ao Centro-Sul do país. Os capitais dominantes são transnacionais e pratica- mente não se utilizam matérias-primas ou insumos regionais. A Zona Franca é uma ilha industrial cercada de florestas por todos os lados. A indústria e o território brasileiro • CAPíTULO15 A política de abertura da economia nacional, com a redução das tarifas de importação, teve impacto negativo sobre a Zona Franca. Os empregos indus- triais diretos, que chegaram a ultrapassar 75 mil em 1990, caíram para cerca de 55 mil em 2001. A crise evidenciou os riscos associados ao caráter artificial do enclave, que depende da manutenção permanente de incentivos fiscais. Contudo, ocorreu notável recupera- ção dos níveis de emprego e, em 2011, o polo industrial absorvia quase 110 mil trabalhadores. O Pará e o Maranhão abrigam enclaves metalúr- gicos ligados ao beneficiamento e à exportação de pro- dutos minerais. Em Barcarena, nas proximidades de Belém, a Alumínio do Norte do Brasil S.A. (Alunorte), controlada pela transnacional Norsk Hydro, realiza 7% da produção mundial de alumina (matéria-prima básica usada na fabricação do alumínio) e a Alumínio Brasileiro S.A. (Albras), um consórcio controlado pelo Banco Japonês para Cooperação Internacional, fabrica alumínio. Em São Luís, na ponta dos trilhos da E. F. Carajás, a Alumínio do Maranhâo S.A. (Alumar), um consórcio entre as transnacionais Alcoa, BHP Billiton e RioTintoAlcan, produz alumina e alumínio. Instalações industriais da Alumar, em São Luís (MA), em 2012. 311 \