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HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA EHISTORIOGRAFIA BRASILEIRA E GERALGERAL PRINCÍPIOS GERAIS DAPRINCÍPIOS GERAIS DA HISTORIOGRAFIAHISTORIOGRAFIA Autor: Me. Caroline Cristina Souza Silva Revisor : Lu is Zaghi IN IC IAR 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 1/38 introdução Introdução Nesta unidade, a qual se intitula Princípios Gerais da Historiografia, serão tratados alguns parâmetros da escrita da História para o contexto do Brasil, abordando, de forma pontual e sucinta, como a historiografia brasileira da primeira metade do século XX teve influências teórico-metodológicas europeias e norte-americanas no escopo da sua produção intelectual sobre a História do Brasil. Para compreendermos esse contexto intelectual e de produções interpretativas sobre o Brasil, passaremos por uma breve contextualização do país durante o converso provisório, após a chamada Revolução de 1930, até a instauração do Estado Novo. Feito isso, nos aprofundaremos nas leituras de intelectuais, sociólogos e historiadores contemporâneos a esse contexto e trataremos das suas teses sobre o Brasil, levando em consideração as suas escolhas teórico-metodológicas para a escrita da História. Nesse sentido, conhecer as interpretações sobre o Brasil que foram realizadas por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior são de essencial importância para não só nos aprofundarmos sobre os debates historiográficos do início do século XX, mas sobretudo para refletirmos sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas nas quais o Brasil se fundamentou para a sua formação enquanto nação. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 2/38 Em 1978, Caio Prado Júnior (2011, p. 594), um dos maiores expoentes da historiografia brasileira, proferiu um depoimento sobre o Brasil, no qual dizia que “A história do Brasil sempre foi um negócio. O Brasil é ainda um país atrasado […] ou melhor: muito atrasado”. E assim como ele definiu o Brasil, as ideias de que este era um país “atrasado”, “subdesenvolvido”, “periférico” e “dependente” também inundaram o cotidiano brasileiro nos anos correntes da década de 1930. Logo, podemos dizer que ao mesmo tempo que a década de 1930 da história brasileira foi marcada por um período turbulento de reformas, levantes e contrarreformas, também esteve imbuída de tentativas de superação dessa condição econômica e social na qual se encontrava e que levantava questionamentos tanto do meio político quanto do meio intelectual. Para compreendermos o Brasil dos anos 1930, o sentido da chamada Revolução de 30 e os desdobramentos que dela surgiram, devemos levar em consideração os fatores externos e as influências deles na conjuntura brasileira. Para tanto, o contexto internacional, do qual o Brasil não estava apartado, teve forte influência na produção cultural e intelectual, na O Brasil dos anosO Brasil dos anos de 1930de 1930 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 3/38 conjuntura econômica, nas mudanças em torno das questões trabalhistas e, sobretudo, na configuração política do Estado brasileiro. Dentre esses fatores, devemos destacar as seguintes conjunturas e acontecimentos: A crise mundial de 1929; O New Deal; O fascismo europeu; A Revolução de 1917; As revoluções culturais e educacionais europeias. A crise mundial de 1929, decorrente do crash da bolsa de Nova York, fez com que os EUA - que haviam se tornado a potência econômica mundial após o término da Primeira Guerra e viviam o apogeu do capitalismo americano - repensassem a sua política econômica após o capitalismo ter entrado na crise mais profunda da sua história até então. O programa do New Deal (Novo Pacto), apresentado pelo presidente Roosevelt, propôs modificar o projeto de liberalismo econômico em voga até então nos EUA; de fato, ele apelidou a década de 1920 de “anos loucos”. Contudo, o novo programa americano objetivava maiores interferências e planejamentos do Estado na economia. O programa não teve grandes resultados para a política norte-americana, mas teve influência nos projetos político-econômicos de países da América do Sul, tais como o Brasil. Métodos semelhantes de intervenção do poder público na economia e que demonstraram uma adoção, ainda que pequena, dos métodos intervencionistas norte-americanos, foram a política de valorização do café organizada pelo governo federal, através do Conselho Nacional do Café, e o estímulo à industrialização, com a fundação da primeira usina siderúrgica em Volta Redonda, Rio de Janeiro. Além dessas políticas de intervenção, o Estado também organizou a regulamentação da legislação trabalhista e instituiu o salário mínimo. No Brasil, a crise de 1929 repercutiu diretamente na economia agrário- exportadora, fazendo com que o preço das sacas de café, seu principal produto de exportação, desabasse, levando à falência o modelo agrário- 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 4/38 exportador. “Esse acontecimento teve implicações profundas na configuração da sociedade brasileira da primeira metade do século XX” (LOPEZ; MOTA, 2008, p. 648), tendo em vista os estímulos aos projetos de semi- industrialização do país e a decorrência do êxodo rural. A migração do campo para a cidade foi um movimento resultante da baixa de produção nas fazendas e da subocupação do trabalhador rural. A mudança para as cidades, tida como a saída para a população para lutar contra a falta de emprego, a queda no poder de compra e a fome, resultou no inchaço urbano e na alta oferta de mão de obra. Segundo Lopez e Mota (2008, p. 648), no Brasil, o êxodo não era apenas do Nordeste para o Sul ou para a Amazônia; de Minas, do sertão da Bahia e mesmo do Sul, famílias dirigiam-se para as cidades, principalmente para a do Rio de Janeiro e a de São Paulo, em busca de trabalho e sobrevivência. Como podemos notar a partir do trecho acima, o movimento migratório que se iniciou na década de 1930 por conta da crise econômica internacional teve Figura 1.1 - Família de retirantes em passagem no sertão Fonte: Cândido Portinari (1944) / WIKIART. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 5/38 implicações estruturais na configuração social brasileira, na medida em que provocou a centralização de migrações de várias regiões do país para a região Sudeste, mais especificamente São Paulo e Rio de Janeiro. O Projeto de Revolução e a República Nova (1930-1937) Com a instituição de um governo provisório após a chamada Revolução de 30, as políticas de Estado distinguiram-se das do Estado oligárquico da República Velha (1889-1930) nos seguintes pontos (FAUSTO, 2012): a) centralização do poder federal; b) a atuação econômica, voltada gradativamente para promover a industrialização; c) projetos de proteção aos trabalhadores urbanos, incorporando- os, a seguir, a uma aliança de classes promovida pelo poder estatal; d) o papel central atribuído às Forças Armadas – em especial ao Exército – como suporte de criação de uma indústria de base e sobretudo como fator de garantia da ordem interna; e) criação da Justiça Eleitoral para fiscalizar as eleições. As medidas centralizadoras do governo federal tiveram início a partir da dissolução do Congresso Nacional, ou seja, Getúlio Vargas passou a ter plenos poderes no Executivo e no Legislativo. Os demais estados, por sua vez, também ficaram subordinados ao governo federal a partir da instituição do chamado Código dos Interventores, limitando a área de ação dos Estados. Estes, no período da PrimeiraRepública, apesar das disparidades na influência política, tinham autonomia para gerir administrativa e economicamente os seus respectivos territórios. A política trabalhista de Vargas também teve as suas características próprias e é considerada um dos maiores legados do seu governo. No entanto, apesar de ter sido inovadora em comparação ao período da Primeira República, o 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 6/38 principal objetivo dessa política era controlar os esforços organizatórios da classe trabalhadora e reprimir organizações que não tivessem autorização do governo federal. Essa ação tinha em si dois objetivos: o primeiro constituía enfraquecer os ainda pequenos partidos de esquerda, como, por exemplo, o PCB – Partido Comunista Brasileiro. O segundo objetivo era controlar a vida sindical, definindo o sindicato como órgão consultivo e de colaboração com o poder público. Com isso, adotou-se o princípio da unidade sindical para cada categoria (FAUSTO, 2012). No que tange a educação, já em novembro de 1930, houve a ação do governo federal em criar um sistema educativo para a fundamentação de uma educação centralizadora e uniforme. Logo, era um projeto de educação, ou seja, instituído de cima para baixo sem que houvesse uma mobilização da sociedade. Para tanto, criou-se o Ministério da Educação e Saúde. Contrário às ações impostas pelo Governo Provisório de Vargas, estourou em 1932 um movimento revolucionário que ficou conhecido como Revolução de 32. Esse movimento ganhou força a partir das discordâncias das elites regionais do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo, mas culminou com a exposição solitária apenas do estado paulista. Dessa forma, os setores sociais paulistas, como a elite cafeeira, classe média e industriais, reivindicavam a luta pela constitucionalização do país e pela autonomia de São Paulo diante dos demais estados da federação. Com isso, São Paulo partiu para a luta armada em resistência ao governo federal. O resultado desse embate foi a rendição dos paulistas na região do Vale do Paraíba. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 7/38 A bandeira da constitucionalização do país uniu tanto aqueles que esperavam retroceder à política oligárquica da Primeira República, quanto os que pretendiam estabelecer uma democracia liberal no país (FAUSTO, 2012). Com isso, embora São Paulo tenha saído derrotado dessa empreitada, o movimento de 1932 levou o governo federal a perceber que não poderia ignorar a elite paulista. E, em 1933, foi baixado o decreto chamado Reajustamento Econômico, o qual objetivou a redução do débito dos agricultores atingidos pela crise das exportações. Nesse mesmo ano, o governo provisório realizou eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, a qual teve como resultado a promulgação da Constituição de 1934. Essa nova Constituição se assemelhava à de 1891 nos aspectos referentes à federalização, mas o que ela trazia de novo carregava como inspiração os preceitos da Constituição de Weimar – República que existiu na Alemanha no período entre a Primeira Guerra Mundial e a Figura 1.2 - Combatentes paulistas em Lygiana, localidade do município de Campina do Monte Alegre, nos arredores do Rio Paranapanema, na Revolução de 1932 Fonte: Revista "O Cruzeiro" (17 de julho de 1954, p. 48) / WIKIMEDIA. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 8/38 ascensão do nazismo. Os pontos colocados na nova Constituição de 1934 eram: a) a nacionalização da economia brasileira; b) a pluralidade e autonomia dos sindicatos; c) na legislação trabalhista: essa deveria prever a proibição de diferença de salários para um mesmo trabalho, o direito ao salário mínimo, regulamentação do trabalho das mulheres e de menores de idade, descanso semanal, férias remuneradas e indenização na dispensa do emprego; d) o ensino primário gratuito e de frequência obrigatória e o ensino religioso facultativo; e) a obrigatoriedade do serviço militar; f) confirmação do voto secreto e do voto feminino. Feito isso, a Assembleia Nacional Constituinte elegeu indiretamente Getúlio Vargas para que ele exercesse o cargo do poder executivo até 1938, quando haveria eleições diretas. O Centralismo de Getúlio Vargas e o Estado Novo Diante do que foi exposto até aqui, podemos notar que o governo provisório liderado por Vargas oscilou entre o caminho para uma República liberal e democrática e o caminho do autoritarismo, que, por vezes, notamos nas ações centralizadoras e de imposições governamentais. No entanto, essa oscilação entre a democracia e um governo autoritário não se sustentou sozinha no espectro político mundial. E para compreendermos esses movimentos políticos, devemos chamar a atenção para alguns fatores externos que influenciaram a política nacional. O primeiro deles, como já visto, foi a crise do capitalismo mundial que, com o aumento do empobrecimento, desemprego e desesperança da população, expôs a democracia liberal como um sistema político incapaz de se sustentar. Com isso, o segundo fator veio como consequência do primeiro, com o surgimento de governos totalitários na Europa, como, por exemplo: Mussolini na Itália, Stalin na União Soviética e o Nazismo de Hitler na Alemanha. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6ELJ… 9/38 A polarização do mundo entre duas tendências político-ideológicas, entre fascistas e comunistas, no período pós Primeira Guerra Mundial também marcou presença em território brasileiro, quando da fundação da Aliança Integralista Brasileira e da Aliança Nacional Libertadora. O primeiro, de orientação fascista, foi fundado por Plínio Salgado e Miguel Reale. O segundo, que era voltado à esquerda e reunia em si vários grupos de posicionamento antifascistas e anti-imperialistas, era presidido por Luís Carlos Prestes, o qual liderou o levante comunista em 1935. Tendo sido derrotado, o comunismo, que era visto como um dos maiores inimigos da sociedade brasileira desde a década de 1920, fomentou a campanha propagandística contrária aos comunistas e justificou o fortalecimento do regime autoritário. Esses fatores externos tiveram influência direta na política brasileira da década de 1930, o que culminou na instauração do Estado Novo por Getúlio saibamais Saiba mais O artigo de Adalberto de Paula Paranho, intitulado Espelhos partidos: samba e trabalho no tempo do “Estado Novo” (2011), procurou abordar a música popular, através de algumas personalidades do samba que usaram a voz e a arte para fazer resistência ao regime. PARANHOS, A. Espelhos partidos : samba e trabalho no tempo do “Estado Novo”. Revista Projeto História , v. 43, dez. 2011. Acesso em: 22 abr. 2020. ACESSAR 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 10/38 https://revistas.pucsp.br/revph/article/view/7978/6686 Vargas, em 1937, através de um golpe, visando um Estado forte e autoritário posicionado de forma contrária à democracia liberal, que possuía um líder carismático e populista, e que tinha por projeto a identidade nacional coletiva. O Estado Novo foi o período da história do Brasil quando mais se teve os poderes concentrados nas mãos de um único governante. Com isso, o projeto centralizador que havia sido posto em prática desde a Revolução de 1930 se concretizou em sua plenitude. O poder do presidente teve a sua centralização máxima ao governar todo país por meio de decretos-leis (FAUSTO, 2012; LOPEZ; MOTA, 2008). A historiadora Maria Helena Capelato definiu o período do Estado Novo daseguinte forma: A reforma política se deu a partir do golpe de 10 de novembro de 1937, sob liderança de Getúlio Vargas, com apoio do Exército e de outras forças antidemocráticas. O povo foi comunicado do golpe a partir de informações obtidas no rádio. A mudança política produziu um redimensionamento do conceito de democracia norteada por uma concepção particular de representação política e de cidadania; a revisão do papel do Estado se completou com a proposta inovadora do papel do líder em relação às massas e apresentação de uma nova forma de identidade nacional: a identidade nacional coletiva (CAPELATO, 2003, p. 110). Em suma, o Estado Novo constituiu-se em uma forma de governo altamente repressiva e autoritária, a qual, sem qualquer participação popular, construiu o apoio das massas e controle das bases através do investimento na propaganda da figura paternalista de Getúlio Vargas. O DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, foi o principal órgão de articulação desse projeto, o qual também foi responsável pela promoção da censura. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 11/38 O Sistema Cultural e seus Intelectuais Como vimos no primeiro ponto deste livro, a consciência do atraso nacional sempre esteve presente no imaginário brasileiro da primeira metade do século XX e denunciava a situação crítica de miséria social na qual o país se encontrava. Essas questões contornaram a produção intelectual da década de 1930, que discutia o atraso endêmico do país e as limitações que ele trazia ao desenvolvimento nacional por meio de produções acadêmicas e literárias. Dentre alguns autores, podemos citar: Monteiro Lobato, com o livro intitulado O escândalo do petróleo; Anísio Teixeira, com Educação para a democracia; José Maria Bello, com A questão social e a solução brasileira; Manuel Bandeira, com Estrela da Manhã; José Lins do Rêgo, com Menino do Engenho; Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior, a respeito dos quais nos aprofundaremos adiante. Figura 1.3 - Com feições dos trabalhadores das fábricas, essa tela esboça a interpretação da artista sobre o período da industrialização brasileira Fonte: Tarsila do Amaral (1933) / WIKIART. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 12/38 A questão da formação e fundamentação da identidade nacional e a busca por respostas à condição de atraso do Brasil foram dois elementos essenciais que pautaram as temáticas abordadas pelos intelectuais brasileiros. O Estado Novo deu ensejo a um esforço visando articular intelectuais de várias áreas com vistas a estabelecer o que seria a nova identidade nacional brasileira a partir de uma série de parâmetros: Villa-Lobos destacou-se na produção de uma música erudita considerada autenticamente nacional; Mário de Andrade, além de discutir a nacionalidade em seus romances, redescobriu e revalorizou o barroco como expressão artística brasileira de raiz; a partir de releituras do mesmo barroco, Oscar Niemeyer desenvolveu uma nova arquitetura ousada, apontando para um futuro marcado pelo progresso; e, articulando toda essa produção, foi entregue ao ministro da Educação, Gustavo Capanema, a missão de reformular todo o currículo escolar visando a imprimir essa identidade nacional na formação de crianças e jovens. praticar Vamos Praticar A busca do Estado brasileiro por definir uma identidade nacional orientou boa parte das políticas públicas na década de 1930 realizadas nos âmbitos culturais e intelectuais, as quais estimularam a produção cultural de personalidades, como Villa-Lobos, Mário de Andrade, Oscar Niemeyer, dentre outros. O investimento na propaganda política também esteve inserido nesse projeto. Assinale a alternativa correta em relação ao que pode ser considerado como objetivo político do Estado Novo. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 13/38 a) Defender a continuidade da hegemonia da oligarquia paulista. b) Reinstaurar o sufrágio universal estabelecido no início da República Velha. c) Guiar o país para um regime de propriedade coletiva da terra, inspirada nas sociedades indígenas. d) Fundamentar teórica e culturalmente a constituição de um Estado autoritário e personalista. e) Estabelecer a unidade de projeto nacional entre a Ação Integralista e a ALN. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 14/38 Gilberto Freyre foi um dos expoentes da historiografia brasileira que procurou interpretar o passado colonial do Brasil para compreender a lógica das estruturas sociais presentes na sociedade do país, assim como os aspectos culturais imbuídos nas relações sociais. Três títulos formam a principal produção intelectual composta pelo intelectual: Casa-Grande e Senzala (1933), Sobrados e Mucambos (1936) e Ordem e Progresso (1957). Do ponto de vista metodológico e historiográfico, a obra de Gilberto Freyre trouxe para a produção brasileira uma renovação daquilo que se era produzido desde o século XIX com as pesquisas provenientes do IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. De sua parte, as produções historiográficas do século XIX, encabeçadas por nomes como João Capistrano de Abreu e Francisco Adolfo de Varnhagen, carregavam consigo a metodologia positivista da historiografia europeia do século XIX (essa escola tinha por concepção metodológica a leitura empírica do documento Gilberto Freyre e aGilberto Freyre e a Formação daFormação da SociedadeSociedade BrasileiraBrasileira 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 15/38 histórico/oficial e a escrita da história como uma repercussão factual, cronológica e episódica dos acontecimentos históricos) (CEZAR, 2011). Já o trabalho de Gilberto Freyre buscou, utilizando principalmente os jornais como fonte documental, compreender a história do Brasil a partir da metodologia proveniente da História Social e Cultural, podendo ser considerado o precursor de uma nova tendência para a historiografia brasileira; nova tendência essa que propunha um novo olhar para o passado, para a leitura dele e para sua escrita. Levando em consideração o contexto no qual Gilberto Freyre estava inserido, o sociólogo e historiador viu-se, nas décadas de 1920 e 1930, na missão de analisar e compreender a sociedade brasileira e as suas particularidades. E seria a análise dessas particularidades que o ajudaria a formular a identidade nacional fundamentada em dois pontos essenciais e provenientes da antiga sociedade colonial da América Portuguesa: a “democracia étnica e social” (ora também denominada democracia racial) e o “patriarcalismo”. Vejamos, a seguir, como se constituíram e em que se fundamentaram as teses criadas por Freyre (FREYRE, 2002). O Patriarcalismo e a Lógica das Estruturas Sociais A começar pela tese da “democracia étnica e social”, Gilberto Freyre considerava o “mestiço” como o resultado da interpenetração cultural e étnica ocorrida na sociedade brasileira entre as chamadas três raças que a iniciaram nos tempos coloniais: os índios, os negros, e os brancos europeus. O resultado dessa interpenetração sociocultural teria sido a constituição do “mestiço” como a representação da chegada da sociedade brasileira à modernidade e do processo de equilíbrios de antagonismos que existiam no período colonial (SCHNEIDER, 2012, p. 76): as culturas europeia e indígena; europeia e africana; africana e indígena; a economia agrária e pastoril; agrária e mineira, dentre outros. Mas, para Freyre, de todos os antagonismos que 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL…16/38 formaram a sociedade brasileira, o mais profundo foi o do senhor e o escravo. Para chegar a essa conclusão, Freyre comparou o passado escravocrata angariado por norte-americanos e portugueses para definir que estes teriam tido uma versatilidade maior, se comparados aos primeiros, para promover a miscigenação, pois eram desprovidos de orgulho racial se comparados aos norte-americanos. Para o sociólogo e historiador, essa característica da sociedade portuguesa, classificada como “bicontinentalidade” (por envolver Europa e África), foi a responsável por evitar os “preconceitos inflexíveis” que ocorriam na sociedade escravocrata norte-americana. Ou seja, nas palavras de Freyre, foi “a singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos e o seu passado étnico, ou antes cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África” (FREYRE, 2002, p. 80) que teriam permitido a formação de uma sociedade brasileira homogênea, única e sem preconceitos étnico-raciais. Podemos ver essa tese nas palavras do autor. Figura 1.4 - O mestiço Fonte: Candido Portinari (1934) / WIKIART. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 17/38 O escravo terrível que só faltou transportar da África para a América, em navios imundos, que de longe se adivinhavam pela inhaca, a população inteira de negros, foi por outro o colonizador europeu que melhor confraternizou com as chamadas raças inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos (FREYRE, 2002, p. 255). Como já vimos acima, o resultado dessa miscigenação foi a formação do “mestiço”, que, segundo Freyre (2002), representava a modernidade da população brasileira. Modernidade essa que seria diferente daquela que estava se desenvolvendo nas democracias liberais da Europa e dos Estados Unidos no início do século XX, das quais o autor manteve um posicionamento bastante crítico. Para ele, os valores tradicionais e conservadores da sociedade estavam correndo o risco de serem perdidos pela modernidade ocidental. Eram esses valores a representação da identidade nacional brasileira. E foi a defesa das antigas “harmonias” socioculturais que fez com que Gilberto Freyre se afastasse dos esboços democráticos que estavam sendo construídos a partir da proclamação da República, em 1889, e que terminaram com o golpe de Estado de 1937 e a instituição do Estado Novo, por Getúlio Vargas. Foi a defesa da permanência dos valores sociais coloniais, como o “paternalismo” e a ideia de “democracia étnica e cultural”, que fez com que Freyre flertasse com Estados autoritários que se configuraram no Brasil e na Espanha, por exemplo (TAVOLARO, 2017). Por isso, Freyre se posicionou de forma contrária ao processo de industrialização. À vida nos engenhos faltam as condições de permanência e o ritmo patriarcal de outrora. [...] As usinas de firmas comerciais trouxeram para a indústria do açúcar mecanismo das fábricas burguesas: as relações entre patrões que fumam charutos enormes como nas caricaturas de “Simplicius” e operários que só conhecem o patrão de vista. Dominam estas relações em vez da subserviência como que filial dos antigos trabalhadores aos senhores de engenho [...] (FREYRE, 1979, p. 79-82 apud SCHNEIDER, 2012, p. 78). 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 18/38 O trecho acima, apesar de não pertencer a nenhum dos três principais livros escritos pelo autor, resume a análise feita por ele sobre a estrutura da sociedade colonial brasileira e o conceito de “patriarcalismo”. Essa estrutura, que foi embasada no tripé latifúndio, escravidão e economia agroexportadora, teve como resultado a formulação da estrutura patriarcal da família senhorial. Nessa configuração social, o patriarca da família, o senhor de engenho, se constitui em um núcleo econômico e um núcleo de poder ao qual o seu núcleo familiar e a sociedade circundam. No núcleo familiar do patriarca estavam incluídos também os agregados, os quais eram constituídos por negros escravizados, em sua maioria, e que eram providos pelo patriarca e subordinados à sua autoridade. Figura 1.5 - “O jantar. Passatempos depois do jantar” faz uma representação do abismo social existente entre senhor e escravo desde o período colonial Fonte: Jean-Baptiste Debret (1830) / WIKIPEDIA. Em suma, as relações sociais e econômicas do modelo de sociedade colonial da América Portuguesa contornavam a figura do paters , o patriarca, que possuía autoridade nas mãos. Dessa forma, a sociedade patriarcal e o processo de miscigenação cultural e étnico com a formulação de uma “democracia étnica e social” formavam, segundo Gilberto Freyre (2012), a 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 19/38 estrutura e a identidade da sociedade brasileira, destacando-a e diferenciando-a de todas as outras. Influências Historiográficas Internacionais Ao analisar a sociedade agrária, escravocrata e patriarcal, como era a sociedade brasileira, Gilberto Freyre trouxe uma metodologia de análise documental e de escrita da história até então nunca utilizadas no âmbito intelectual brasileiro. Com isso, o sociólogo e historiador destacou em seus trabalhos as nuances dos detalhes do cotidiano da sociedade colonial, indo de encontro à história positivista do século XIX, que privilegiava a descrição de grandes eventos e de personagens considerados essenciais para a construção da História do Brasil (BLOCH, 2002; BARROS, 2010). Para tanto, Freyre inovou ao utilizar como fonte documental anúncios de jornais que tratavam da venda e fuga de escravizados. Direcionou o olhar para as questões culturais de vestimenta, modos de alimentação, as danças africanas, os abusos sexuais das escravas cometidos pelos senhores de engenho, dentre outros (FREYRE, 2002; BURKE, 1997). As influências historiográficas internacionais estiveram sob o impacto das renovações metodológicas que a New History (Nova História) - semelhante à renovação de estudos histórico-sociais que ocorria na França da década de 1930 com a Escola dos Annales - havia causado nos estudos de história social da Universidade de Columbia (EUA), na década de 1920 (BURKE, 1997, p. 05). Essa nova metodologia aproximou as pesquisas de Freyre de outras áreas, como, por exemplo, a Antropologia Social e Cultural, unindo-a com a Sociologia e a História. Essas influências teriam destacado a História do Cotidiano (em voga na Antropologia dos EUA) como o principal baluarte dos trabalhos de Gilberto Freyre sobre o Brasil e a sociedade colonial brasileira. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 20/38 praticar Vamos Praticar Uma das principais teses encampadas por Gilberto Freyre é a de que houve, na História do Brasil, o desenvolvimento de uma “democracia étnica e cultural”, que teria contribuído para a formação da sociedade brasileira no que tange às características próprias da nação. Assinale a alternativa correta que define a ideia de “democracia étnica e cultural”. a) A sujeição dos colonizadores brancos à religião e à cultura africana. b) A igualdade entre todas as raças na construção do Estado brasileiro. c) O caráter miscigenado da cultura nacional, fundamentada na imbricação entre as três etnias: indígena, africana e branca europeia. d) A junção do cristianismo europeu com o politeísmo indígena e africano para a criação de uma terceira religião, a brasileira. e) A procura dos brancos europeus por garantir a liberdade de indígenas e africanos em seus engenhos. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL…21/38 O historiador Sérgio Buarque de Holanda foi contemporâneo de Gilberto Freyre, tendo seus trabalhos recebido a influência histórico-metodológica, antropológica e culturalista presentes nos trabalhos do sociólogo brasileiro. A metodologia da História da Cultura e das mentalidades esteve presente nos seus principais trabalhos: Raízes do Brasil (1936), Visão do Paraíso (1959), Monçõe s (1945) e História da Civilização Brasileira (1960). Em seus trabalhos, Holanda também procurou compreender o Brasil e interpretá-lo de modo a pensar em problemas e soluções para ultrapassar o atraso socioeconômico no qual o país estava mergulhado desde o período colonial. Ao contrário da visão romântica traçada por Gilberto Freyre sobre a ideia de “democracia étnica e social” e sobre o “patriarcalismo” como sendo as sustentações da sociedade brasileira que a mantinham de forma única e harmônica, Sérgio Buarque de Holanda procurou denunciar o abismo social e político que tais características promoviam, impedindo que o Brasil alcançasse um modelo democrático de forma definitiva. Desse modo, as análises versadas pelo historiador iam de encontro ao autoritarismo que se Sérgio Buarque e oSérgio Buarque e o Mito do HomemMito do Homem CordialCordial 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 22/38 instalara no período do Governo Provisório e na instituição do Estado Novo por Getúlio Vargas, o qual contrastava com a lenta modernização no plano econômico e social. No entanto, a modernização do âmbito político parecia algo absolutamente difícil para uma sociedade que havia construído as suas bases na exclusão (REZENDE, 1996). Diante disso, a relação entre o Estado e a Sociedade foi o fio condutor de todos os seus trabalhos, de Raízes do Brasil , que possuía uma estrutura ensaística, a Visão do Paraíso e Monções , fundamentados nas metodologias da História Social, Cultural e das Mentalidades (HOLANDA, 2010) . Segundo a historiadora Maria Odila Dias, Sérgio Buarque de Holanda sempre foi atento às especificidades de cada conjuntura histórica, sabendo explorar as contradições que existem entre as normas oficiais e a realidade social, e procurando compreender “as instituições e os costumes, as aparências e os fatos, o formal e informal” (DIAS, 1985, p. 32). Por fim, para compreendermos o conceito de “homem cordial” que o historiador atribuiu como característica fundamental para se compreender as bases da sociedade brasileira, antes precisamos nos debruçar nos conceitos de “personalismo” e de “patrimonialismo”, os quais também fundamentaram a sua interpretação sobre o Brasil. O Patrimonialismo e a Lógica das Estruturas Sociais Os conceitos de “patrimonialismo” e “personalismo” estão inteiramente imbricados à relação entre o público e o privado nas relações sociais, políticas e econômicas da sociedade brasileira. E, para compreender essa relação, faz- se necessário realizar uma busca constante do entendimento das heranças coloniais que estruturaram essa sociedade. Por isso, Sérgio Buarque de Holanda proferiu em Raízes do Brasil o seguinte trecho: 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 23/38 [...] enquanto perdurassem intactos e, apesar de tudo, poderosos, os padrões econômicos e sociais herdados da era colonial e expressos principalmente na grande lavoura servida pelo braço escravo, as transformações mais ousadas teriam de ser superficiais e artificiosas (HOLANDA, 1987, p. 46). Isto posto, a conclusão a que Holanda chegou em seus trabalhos acadêmicos é a de que todas as relações políticas possuíam caráter privado ao invés de público, fazendo prevalecer as vontades individuais e, portanto, “personalistas” nessas relações. Essa característica da realidade social brasileira esteve presente desde o período colonial da História do Brasil, no qual via-se a esfera doméstica alcançar graus de autoridade dentro e fora dela e criando teias de relações sociais públicas que tinham o “personalismo”, ou seja, a vontade pessoal, como fator de grande importância. Lembremos também que a questão da autoridade doméstica da qual Sérgio Buarque de Holanda trata em seus trabalhos está relacionada à figura do patriarca e da estrutura patriarcal que vimos sobre os trabalhos de Gilberto Freyre. Figura 1.6 - Um nobre brasileiro beijando a mão de S. M. I D. Pedro I Fonte: Jean-Baptiste Debret (1827) / WIKIMEDIA. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 24/38 Em suma, a manutenção do “patrimonialismo” e do “personalismo” na sociedade brasileira desde o período colonial - a qual se resumia na imbricação da administração pública com as vontades de caráter privado que estavam presentes nas ações daqueles que, ao mesmo tempo que governavam e administravam a política e a economia colonial, misturavam as suas vontades e interesses privados para manterem o seu patrimônio e status quo (status social) - teria sido a causa da presença do autoritarismo na política e sociedade brasileira e teria impedido a sustentação de uma democracia legítima. A estruturação da sociedade colonial, nessa forma de organização, resultou na inexistência de espaços impessoais fundamentais para a organização de uma esfera pública dissociada das vontades particulares de quem governa e administra, e essenciais para a constituição de uma sociedade democrática, onde todos possuem espaço na construção do ambiente público (REZENDE, 1996, p. 35-36). 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 25/38 saibamais Saiba mais O seriado Filhos da Pátria: uma história da nossa história (2017) conta a história fictícia de Geraldo Bulhosa, um funcionário público do palácio imperial, influenciado por atitudes corruptas e desonestas no trabalho. O seriado procurou retratar de forma cômica o “patrimonialismo” e o “personalismo” existentes nas relações político-sociais brasileiras. Veja o trailer dessa série e saiba mais! ASS IST IR Nesse sentido, o “homem cordial” analisado por Holanda está na contrapartida da democracia, tendo em vista que ele é o resultado das relações patrimonialistas e personalistas imbricadas na sociedade brasileira, deixando transparecer características passionais e pessoais em detrimento das racionais. Ou, como definiu a socióloga Maria José de Rezende, a cordialidade como um traço ativo e fecundo do caráter brasileiro define padrões de convívio humano que se constituem em imensos obstáculos para a construção de um outro padrão de convívio: o democrático. É como se o indivíduo se defendesse da publicização das relações sociais; o que torna precária a possibilidade de luta por ideais abstratos e subjetivos (REZENDE, 1996, p. 36). As normas particularistas que se consolidaram na sociedade brasileira funcionam como impedimentos para a expansão de instituições políticas, 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 26/38 criadas em princípios neutros e abstratos, que condizem com uma sociedade que se democratiza. praticar Vamos Praticar Para Sérgio Buarque de Holanda (1987), uma das grandes razões do atraso brasileiro está naquilo que ele chama de “patrimonialismo”. Essa característica apontada pelo historiador para falar da cultura nacional estaria imbricada nas relações sociais desde o período colonial. Assinale a alternativa correta que define a ideia de “patrimonialismo” para Sérgio Buarque de Holanda. a) A procura obcecada do brasileiro por incrementar o patrimônio público, mesmo que em detrimento de seus próprios interesses. b) A procura obcecada do brasileiropor incrementar seu próprio patrimônio, o que lhe tira o interesse por executar funções públicas que poderiam distraí-lo. c) A prodigalidade com a qual o brasileiro cede seu patrimônio a terceiros. d) A racionalidade com que o brasileiro gere tanto os bens públicos quanto os privados. e) A ausência de distinção entre interesses públicos e privados na atitude de homens públicos na trajetória brasileira. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 27/38 O historiador paulistano Caio Prado Júnior, assim como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, também foi contemporâneo dos contextos políticos, sociais e econômicos decorrentes da década de 1930 em diante. E, do mesmo modo que os historiadores apresentados anteriormente, procurou interpretar a sociedade brasileira para compreender os motivos do seu atraso socioeconômico. Essas interpretações e análises estiveram expressas em algumas das suas principais obras, como, por exemplo: A questão agrária (1979), A revolução brasileira (1987), Formação do Brasil Contemporâneo (1942) e Evolução Política do Brasil (1933). Do ponto de vista metodológico e historiográfico, a obra de Caio Prado Júnior se destaca das referenciadas anteriormente por dois motivos. O primeiro deles se constitui na referência teórico-metodológica marxista, a qual embasou todos os trabalhos realizados pelo historiador, fazendo com que ele conseguisse formular uma interpretação histórica sobre a formação do Brasil enquanto nação, partindo das bases coloniais ainda presentes no cerne das estruturas políticas e econômicas. O segundo ponto que destaca o trabalho Caio Prado e aCaio Prado e a InterpretaçãoInterpretação Marxista do BrasilMarxista do Brasil 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 28/38 de Caio Prado em relação ao de Freyre e Holanda (e que se mostra como uma consequência da sua escolha teórico-metodológica para o marxismo) é o fato de ele ter procurado sempre traçar uma interpretação do Brasil na sua totalidade, ou seja, procurando compreender vários setores da sociedade para formular uma interpretação baseada no olhar sobre o todo. Logo, ao contrário de Freyre, que procura compreender o Brasil a partir da família patriarcal dos engenhos pernambucanos, e de Holanda, que busca fazer essa interpretação a partir das mentalidades, Caio Prado focou o seu olhar nas estruturas sociais, econômicas e políticas para traçar, sobretudo, uma interpretação político-econômica da formação do Brasil (RICUPERO, 1998). A interpretação do Brasil que marcou toda a obra de Caio Prado teve a ideia de “sentido da colonização” como ponto chave. Com essa tese, o historiador traçou a passagem do período colonial para a construção da nação brasileira a partir do período imperial, após a independência de Portugal. A partir do traçado dessa passagem, de um fio condutor que é posto de forma dinâmica, procurou-se compreender a formação do Brasil até a década de 1930, partindo da sua própria trajetória econômica e social. Segundo Caio Prado, Todo povo tem na sua evolução, vista a distância, um certo “sentido”. [...] Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem muitas vezes confuso e incompreensível, não deixará de perceber que ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação (PRADO JÚNIOR 2011, p. 15). Vejamos que o sentido da colonização apresentado pelo autor não se coloca como uma ideia de movimento histórico único, mas sim uma sucessão de acontecimentos que vão tecendo uma teia e formando a totalidade de um processo histórico, o qual não é imutável e pode ser transformado a partir de mudanças estruturais. Essas mudanças, no caso do Brasil, deveriam ocorrer nas estruturas que se formaram no período colonial do Brasil e que prosseguiram continuamente na sua formação como nação, impedindo que o 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 29/38 país abandonasse a sua condição histórica de atrasado e dependente economicamente dos países imperialistas europeus. Logo, a lógica do sentido da colonização teria se prolongado até a contemporaneidade por ter mantido a mesma lógica de produção, de trabalho e de concentração no país, fazendo com que o Brasil permanecesse como fornecedor de produtos tropicais ao comércio internacional (COLOMBINI, 2019). 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 30/38 Por fim, a contribuição da teoria marxista para a leitura que Caio Prado realizou sobre a formação do Brasil foi inédita por ele ter conseguido realizar a sua adaptação à singularidade latino-americana. É por conta do olhar às reflita Reflita O artigo do professor de economia Rodrigo Alves Teixeira, intitulado Capital e colonização: a constituição da periferia do sistema capitalista mundial (2006), procurou refletir sobre o trabalho de Caio Prado Júnior a respeito de como se deu a inserção do Brasil no capitalismo mundial após a independência e como ele se constituiu em um país periférico. Levando essa questão em consideração, é preciso considerar que, em nosso contexto atual, um dos maiores compradores de matéria- prima brasileira é uma outra potência em ascensão: a China. O que isso poderia dizer sobre a posição do Brasil no quadro econômico e político internacional nos anos de Caio Prado e nos nossos tempos? Fonte: Teixeira (2006, p. 539). 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 31/38 particularidades latino-americanas, tropicais e de condição de dependência europeia (situação colonial ligada ao capitalismo comercial -> situação nacional) que a teoria marxista, que apenas se encaixava ao contexto sócio- histórico europeu (feudalismo -> capitalismo mercantil -> capitalismo industrial), o permitiu compreender a condição de dominação “velada” na qual o Brasil ainda se encontrava após a independência com relação ao processo de acumulação de capital por parte dos países europeus. No entanto, essa condição não se mostrava mais por meio do capitalismo comercial, do período colonial, mas sim na lógica do capitalismo industrial, no qual o Brasil se encontrava (como vimos na contextualização da parte 1 desse livro) na configuração político-econômica agroexportadora. Em suma, a perspectiva dialética da teoria marxista utilizada por Caio Prado não viu a relação entre Colônia e Nação como sendo antagônicas, mas sim como uma relação de formação e continuidade, na qual o passado colonial teria fundamentado a nacionalidade brasileira. Logo, para mudar as condições coloniais impregnadas na estrutura social, econômica e política do Brasil, fazia-se necessária a modificação das características coloniais dessa estrutura. praticar Vamos Praticar Caio Prado Júnior (2011) desenvolveu suas pesquisas sobre o Brasil a partir de uma leitura teórico-metodológica marxista, da qual formulou uma análise relacionando o desenvolvimento econômico, político e social brasileiro do período colonial até à constituição da nação. A constituição desse fio condutor que interligava os movimentos históricos e as estruturas foi definida pelo autor como o “sentido da colonização”. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 32/38 PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil Contemporâneo . São Paulo: Companhia das Letras, 2011. Assinale a alternativa que define corretamentea ideia de “sentido da colonização” para Caio Prado Júnior. a) O destino do Brasil em ser uma potência, fruto da produção intensiva no período colonial. b) A condenação do Brasil, em sua história, a ser mero fornecedor de matéria-prima para as potências mundiais. c) O estabelecimento de uma democracia étnica no Brasil desde o período da colonização. d) O fato de o Brasil contar com uma forte indústria desde, pelo menos, o século XVIII. e) O desenvolvimento de uma agricultura de subsistência que serve como fundamento da economia nacional. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 33/38 indicações Material Complementar FILME O Homem Cordial Ano : 2018 Comentário : O filme procurou abordar e questionar a ideia de que o brasileiro possui uma postura cordial, receptiva e passiva, expondo e analisando a época dos linchamentos virtuais. Para conhecer mais sobre o filme, acesse o trailer a seguir. TRA ILER 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 34/38 LIVRO Intérpretes do Brasil: Clássicos, Rebeldes e Renegados Luiz Bernardo Pericás e Lincon Secco (org.). Editora : Boitempo ISBN : 8575593595 Comentário : Esse livro procurou traçar um amplo panorama sobre o pensamento crítico político-social brasileiro dos séculos XX e XXI. Logo, não estão presentes somente os três nomes apresentados na unidade, mas também outros pesquisadores que procuraram compreender o Brasil ao longo desses dois séculos. Ver-se-á, portanto, a presença de interpretações contemporâneas. 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 35/38 conclusão Conclusão Nessa unidade, tivemos a oportunidade de conhecer as produções historiográfica no início do século XX e que tiveram como tema central a interpretação do Brasil enquanto nação, procurando compreender as bases que fundamentaram a construção de uma identidade nacional e que também, na visão de alguns autores, teriam sido a causa para o atraso social e econômico existentes no Brasil. Vimos, portanto, que o contexto no qual as interpretações do Brasil foram redigidas teve uma influência central nos questionamentos em torno da ideia de democracia, autoritarismo, desenvolvimento econômico e exclusão social na política. Além disso, cada um dos autores apresentados trouxe interpretações e teses sobre o Brasil, as quais estiveram embasadas em conceitos como: “patriarcalismo”, “democracia étnico social”, “patrimonialismo”, “personalismo”, “homem cordial” e o “sentido da colonização”. Conceitos esses que são fundamentais para a compreensão do Brasil, da sua estrutura política, econômica, social e cultural, e que são lidos e relidos pelas produções historiográficas dos dias de hoje. referências Referências Bibliográficas 25/03/25, 21:23 Ead.br https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=eJ59Qg9ALjtmCZbBjy19zg%3d%3d&l=mk8kBdvUMmx2Yiqx3McaaQ%3d%3d&cd=uS6EL… 36/38 BARROS, J. A Escola dos Annales e a crítica ao historicismo e ao positivismo. Revista Territórios e Fronteiras , v. 3, n. 1, jan./jun. 2010. BLOCH, M. Apologia da História . Rio de Janeiro: Zahar, 2002. BURKE, P. Gilberto Freyre e a Nova História. Tempo Social , São Paulo, v. 9, n. 2, p. 01-12, 1997. CAPELATO, M. H. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In: FERREIRA, J.; DELGADO, L. A. N. O Brasil Republicano : o tempo do nacional-estatismo - Do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo - Segunda República (1930-1945) (v. 2). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. CEZAR, T. Lições sobre a escrita da História: as primeiras escolhas do IHGB. In: NEVES, L. et al . (org.). Estudos da Historiografia Brasileira . Rio de Janeiro: FGV, 2011. COLOMBINI, I. Caio Prado Júnior: o “sentido da colonização” e seus desdobramentos teóricos. Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política , São Paulo, v. 52, p. 40-64, jan./abr. 2019. DIAS, M. O. S. (org.). Sérgio Buarque de Holanda . São Paulo: Ática, 1985. FAUSTO, B. História do Brasil . São Paulo: Edusp, 2012. FREYRE, G. Casa-grande e senzala . Rio de Janeiro: Record, 2002. FREYRE, G. Sobrados e mucambos . Rio de Janeiro: Record, 1996. FREYRE, G. Tempo de aprender . São Paulo: IBRASA/INL-MEC, 1979. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil . 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