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01 Crime e Contravenção Penal

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Crime e contravenção penal: diferenças e semelhanças 
 
03/nov/2012 
Mesmo o crime e a contravenção sendo espécies 
“distintas” do gênero “infração penal”, não existe, a rigor, 
uma diferença substancial entre os dois. Entretanto, 
apresentamos algumas diferenças específicas entre crime 
e contravenção, como por exemplo o tipo de ação penal. 
Veja artigos relacionados 
A Lei de Contravenções Penais em uma visão minimalista do Direito Penal 
veja mais 
Por Lívio Silva 
1.INTRODUÇÃO 
O Direito Penal tem por objetivo principal a repressão de determinadas 
condutas, denominadas infrações penais, consideradas ofensivas aos bens 
jurídicos que o legislador considerou mais relevantes para a sociedade. Nesse 
sentido, em meio às legislações penais dos vários ordenamentos jurídicos 
dispostos ao redor do mundo ocidental, há na doutrina duas teorias sobre as 
infrações penais: a tripartida, que divide as infrações penais em crime, delito e 
contravenção penal; e, a bipartida, que considera sinônimos o crime e o delito, 
estabelecendo crime (ou delito) e contravenção penal como as duas espécies 
de infração penal. 
Segundo Prado[1], o marco inicial da teoria tripartida é o código penal francês 
de 1791, que classificava as infrações penais da seguinte maneira: os crimes, 
as infrações que violavam direitos naturais, como por exemplo a vida; os 
delitos, a exemplo da propriedade, seriam as infrações que lesavam os direitos 
originários do contrato social e, as contravenções, eram as infrações que 
infringiam disposições e regulamentos de polícia. 
Entretanto, o sistema adotado pelo nosso ordenamento jurídico é o bipartido, 
assim como o sistema alemão, como o italiano, o português e outros. Nesse 
sistema, o crime e o delito são considerados sinônimos, que juntamente com a 
outra espécie, a contravenção penal, formam as infrações penais 
(grifo) que, conforme assevera Greco[2], é como devemos chamar as 
espécies crime e contravenção penal, quando quisermos nos referir 
genericamente às mesmas. 
2. CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL 
Apesar de crime e contravenção serem espécies “distintas” do gênero “infração 
penal”, não existe, a rigor, uma diferença substancial entre os dois. Não há um 
elemento de ordem ontológica que encerre uma essência natural “em si 
mesmo”, sendo diferenciados apenas pelas suas penas, nos termos do art. 1º, 
da Lei de Introdução ao Código Penal e da Lei de Contravenções Penais[3], ou 
como leciona Nucci[4] em seu Manual de Direito Penal: “o direito penal 
estabeleceu diferença entre crime (ou delito) e contravenção penal, espécies 
de infração penal. Entretanto, essa diferença não é ontológica ou 
essencial, situando-se, tão somente, no campo da pena.” (grifo nosso) 
Todavia, em obra bastante clara e objetiva, Leandro Prado[5], destaca as 
principais diferenças entre os dois institutos jurídicos em um quadro de fácil 
consulta, vejamos: 
Ação Penal 
Crime: Pública ou privada (art. 100º, CP). 
Contravenção: Pública incondicionada (art. 17º, LCP). 
Competência 
Crime: Justiça Estadual ou Federal 
Contravenção Penal: Só Justiça Estadual, exceto se o réu tem foro por 
prerrogativa de função na Justiça Federal. 
Tentativa 
Crime: É punível (art. 14º, parágrafo único, CP). 
Contravenção: Não é punível (art. 4º, LCP). 
Extraterritorialidade 
Crime: Possível (art. 7º, CP). 
Contravenção: Lei brasileira não alcança contravenções ocorridas no exterior 
(art. 2º, LCP). 
Pena Privativa de Liberdade 
Crime: Reclusão ou detenção (art. 33º,CP). 
Contravenção: Prisão simples (art. 6º, LCP). 
Limite Temporal da Pena 
Crime: 30 anos (art. 75º, CP). 
Contravenção: 5 anos (art. 10º, LCP). 
Sursis 
Crimes: 2 a 4 anos(art. 77º, CP). 
Contravenções: 1 a 3 anos (art. 11º, LCP). 
 
“Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e 
leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução 
das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras 
de conexão e continência.Entretanto, no que diz respeito à competência das 
contravenções penais, é importante ressaltar que a mesma pertence aos 
Juizados Especiais Criminais, nos termos dos arts. 60 e 61, da Lei 9.099/95, 
conforme a seguir: 
(…) 
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, 
para os efeitos desta Lei,as contravenções penais e os crimes a que a lei 
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com 
multa.”[6] (grifo nosso) 
Todavia, mesmo diante das diferenças acima expostas, há muito mais 
semelhanças do que diferenças entre crime e contravenção penal, haja vista 
esta também constituir um fato típico e antijurídico, porém de menor potencial 
lesivo para a sociedade. Um crime-anão, na concepção formulada pelo 
consagrado Nelson Hungria. Assim, segundo Greco[7], o critério de rotulação 
de uma conduta como contravencional ou criminosa é essencialmente político. 
O que hoje é considerado crime, amanhã poderá ser uma contravenção, ou 
vice-versa. Como exemplo, o autor nos traz a criminalização da contravenção 
penal de porte de arma, consumada no art. 10, da Lei 9.437, de 20 de 
fevereiro de 1997. 
3. CONTRAVENÇÃO PENAL 
De acordo com o art. 1º, da Lei de Introdução ao Código Penal e da Lei das 
Contravenções Penais, contravenção é “a infração penal a que a lei comina, 
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa 
ou cumulativamente.” (grifo nosso). Assim, conforme acima delineado, não 
existe uma diferença ontológica entre crime e contravenção penal, ocorrendo a 
sua diferenciação apenas nas penas cominadas, que no caso da contravenção 
consiste em prisão simples ou multa; e, quando se tratar de crime, as penas 
serão dereclusão ou de detenção (grifo), quer isoladamente, quer 
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. 
A pena de prisão simples, nos termos do art. 6º, da Lei de Contravenções 
Penais[8], deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento 
especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou 
aberto (grifo) e, de acordo com o § 1º, do mesmo artigo, o condenado à 
referida pena deve ficar sempre separado dos condenados a pena de reclusão 
ou de detenção. 
Por outro lado, apesar das diferenças existentes entre contravenção de crime, 
várias normas aplicáveis aos crimes são também aplicáveis às contravenções, 
como é o caso das regras gerais do Código Penal, nos termos do art. 1º, da 
LCP. Segundo Damásio de Jesus[9], o art. 1º da LCP é um corolário do art. 12, 
CP, que tem a seguinte redação: “as regras gerais deste código aplicam-se aos 
fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso”. Um 
exemplo dessa disposição de modo diverso, presente na Lei das 
Contravenções, é o caso do instituto jurídico da tentativa de crime, presente 
no Código Penal, portanto aplicável a crimes, mas não admitida nas 
contravenções, por força da expressa previsão legal de modo diverso, disposta 
no art. 4º, da LCP. 
Nas palavras de Damásio de Jesus[10], exemplos de regras gerais presentes 
no Código Penal, aplicáveis às contravenções penais, são os princípios da 
“Legalidade”, da “abolitio criminis” e da “Retroatividade da Lei mais Benéfica”, 
previstos respectivamente no art. 1º, caput, art. 2º,caput, e art. 2º, parágrafo 
único. 
Outro instituto importantíssimo do Direito Penal, perfeitamente aplicável às 
contravenções penais, são as “Causas Excludentes de Ilicitude”, previstas no 
art. 23, CP: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de 
dever legal e exercício regular de direito. 
Partindo para as contravenções penais propriamente ditas, é interessante 
destacar o art. 32, da Lei de Contravenções Penais, que, segundo 
Nogueira[11], foi parcialmente revogado pelo novo Código de Trânsito 
Brasileiro. O art. 32 da LCP tipifica a seguinte contravenção: “Art. 32. Dirigir, 
sem a devida habilitação,veículo na via pública, ou embarcação a motor em 
águas públicas”. Assim, por ocasião da edição do novo Código de Trânsito, 
através do art. 309, do CTB: “Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a 
devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de 
dirigir, gerando perigo de dano”(grifo nosso), o legislador criminalizou a 
primeira parte do referido art. 32 da LCP: a conduta de dirigir sem habilitação. 
Entretanto, a redação do art. 309, CTB, acrescentou a elementar: “gerando 
perigo de dano”, que passou a ser o ponto de “discórdia” entre os 
doutrinadores[12], dividindo-os entre aqueles que entendiam ter o art. 32 da 
Lei das Contravenções Penais subsistido apenas no tocante à direção não 
habilitada de embarcação em águas públicas, matéria que o novo Código de 
Trânsito não tratou, e os que acreditavam ter o art. 32 da LCP permanecido 
em pleno vigor, aplicando-se aos casos residuais de direção não habilitada, 
aqueles que não se ajustem ao art. 309 do CTB. No entanto, a celeuma parece 
ter sido resolvida com a edição da Súmula 720, do STF: “O art. 309 do Código 
de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou 
o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à direção sem 
habilitação em vias terrestres”(grifo nosso). Portanto, conforme o exposto, 
temos que o delito previsto no art. 309, do CTB, derrogou o art. 32, da LCP, 
regulando por inteiro a matéria presente na primeira parte do art. 32, da LCP, 
permanecendo neste apenas a figura típica do infrator que pratica a infração 
penal de dirigir, sem a devida habilitação, veículo automotor em águas 
públicas. 
Ainda nas contravenções penais propriamente ditas, não custa tecermos 
algumas linhas sobre o jogo do bicho, aquela que talvez seja a mais 
emblemática de todas as contravenções penais. O jogo do bicho tem suas 
raízes históricas no final do Século XIX, quando o Barão de Drummond, 
fundador do zoológico do Rio de Janeiro[13], criou um sorteio vinculado ao 
ingresso do zoológico onde eram escritos o nome de um dos 25 “bichos” em 
cada ingresso e ao final do dia era sorteado um bicho, diante de que o 
vencedor ganhava 20 vezes o valor do ingresso. Como na época havia poucas 
formas de entretenimento, a popularidade do jogo aumentou 
consideravelmente, quando algumas pessoas passaram a aproveitar o 
resultado do zoológico e organizavar apostas nos armazéns e botequins da 
cidade, fato que gerou enormes confusões, não demorando para que, em 1894 
o sorteio fosse proibido pelo governo. Ainda assim, o sorteio passou a ocorrer 
na clandestinidade, espalhando-se por todo o país, tornando-se o jogo de 
apostas mais popular do Brasil, mesmo depois de ser tipificado como 
contravenção penal, em 1941, disposta na redação do art. 58, do Decreto-lei 
3.688, o jogo continuou a ser praticado em todo o país. A definição legal de 
jogo do bicho disposta no artigo 58 da Lei das contravenções Penais, foi 
alterada pelo Decreto-Lei n.º 6.259 de 1944, que traz a seguinte redação: 
“Art. 58. Realizar o denominado "jôgo do bicho", em que um dos 
participantes, considerado comprador ou ponto, entrega certa quantia 
com a indicação de combinações de algarismos ou nome de animais, a 
que correspondem números, ao outro participante, considerado o 
vendedor ou banqueiro, que se obriga mediante qualquer sorteio ao 
pagamento de prêmios em dinheiro. 
 Penas: de seis (6) meses a um (1) ano de prisão simples e multa de 
dez mil cruzeiros (Cr$ 10.000,00) a cinqüenta mil cruzeiros (Cr$ 
50.000,00) ao vendedor ou banqueiro, e de quarenta (40) a trinta (30) 
dias de prisão celular ou multa de duzentos cruzeiros (Cr$ 200,00) a 
quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) ao comprador ou ponto. 
§ 1º Incorrerão nas penas estabelecidas para vendedores ou banqueiros: 
a) os que servirem de intermediários na efetuação do jôgo; 
b) os que transportarem, conduzirem, possuírern, tiverem sob sua guarda ou 
poder, fabricarern, darem, cederem, trocarem, guardarem em qualquer parte, 
listas com indicações do jôgo ou material próprio para a contravenção, bem 
como de qualquer forma contribuírem para a sua confecção, utilização, curso 
ou emprêgo, seja qual for a sua espécie ou quantidade; 
c) os que procederem à apuração de listas ou à organização de mapas 
relativos ao movimento do jôgo; 
d) os que por qualquer modo promoverem ou facilitarem a realização 
do jôgo.”[14] (grifo nosso) 
Entretanto, não são poucos os que defendem que a conduta infracional de 
realizar o jogo do bicho, nos termos do dispositivo legal supra, deveria deixar 
de ser uma infração penal, face a ausência de reprovação social, havendo 
portanto duas posições[15]: 1) a de que a conduta não pode ser considerada 
contravenção, em face da ausência de reprovação social; e, 2) a de que os 
costumes não têm força revocatória da lei, mantendo-se a tipificação da 
conduta. Contudo, mesmo diante da “revogação social” da infração e da falta 
de fiscalização do cumprimento da lei por parte do Poder Público, que parece 
limitar-se apenas a pequenas operações policiais, ao invés de incluir a luta 
contra a referida prática infracional em uma política pública permanente de 
combate à sonegação de impostos, optamos pela manutenção da tipificação da 
prática do jogo do bicho como contravenção penal. Todavia, entendemos que a 
atribuição dos “bons costumes” como bem jurídico protegido pela norma 
encontra-se ultrapassada, dadas as mudanças ocorridas na sociedade desde a 
edição da norma em comento. O único fundamento jurídico que entendemos 
ser plausível para a manutenção da referida norma[16] é o combate à 
sonegação de impostos e à corrupção passiva, pois o que interessa de fato 
para a sociedade, no que diz respeito à prática do jogo do bicho, é o alcance 
de seus “tentáculos” e seus efeitos no Estado, que repercutem muito mais na 
área da arrecadação de impostos do que meramente nos costumes por si só. 
Prova disso é o desenrolar do caso recente do bicheiro Carlinhos Cachoeira, 
amplamente divulgado na mídia, e a imensa rede de influência presente em 
todos os ramos da administração pública que o bicheiro teria fomentado, de 
acordo com as acusações que o mesmo responde. Nesse sentido, torna-se 
imensamente importante destacar a nova redação da Lei 9.613, de 1998, a Lei 
da Lavagem de Dinheiro, modificada recentemente pela Lei 12.683, de 09 de 
julho de 2012. Ocorre que o caput do art. 1º, da lei da lavagem de dinheiro, foi 
modificado, a fim de abranger qualquer espécie de infração penal, incluindo 
assim as contravenções penais. Portanto, diante da nova Lei da Lavagem de 
Dinheiro, aquele que ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, 
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores 
provenientes, direta ou indiretamente da prática da contravenção penal do 
jogo do bicho poderá ser condenado a uma pena de reclusão, de 3 (três) a 10 
(dez) anos, e multa. Essa nova redação do art. 1º, da Lei 9.613 pode ser 
considerado um avanço promovido pelo nosso legislador, já que os efeitos 
realmente lesivos à sociedade, provocados pelo jogo do bicho, a sonegação de 
impostos e a corrupção dos agentes públicos, estão intimamente ligados com a 
lavagem do dinheiro proveniente dessa prática. 
Nessa mesma esteira, tomando por base uma conduta infracional que a 
sociedade atual tratou de “descriminalizar”, passamos a analisar brevemente a 
antiga contravenção penal de mendicância, revogada pela Lei 11.983, de 16 de 
julho de 2009. Segundo Cabette[17],a existência de uma infração penal para a 
prática da mendicância, dada a situação de extrema pobreza que atinge uma 
parcela considerável da população brasileira, há tempos já não se justificava. 
Até mesmo porque tal situação está vinculada à ineficácia do Estado em 
proporcionar educação de qualidade, qualificação profissional e oferta digna de 
empregos às grandes massasda população. Ou seja, o legislador demorou 
muito a perceber que vivemos em outro Estado e a finalmente entender que 
a criminalização da pobreza (grifo) nunca foi o caminho adequado para a 
eliminação das mazelas sociais. É bem verdade que há casos de pessoas que 
usam de má fé para explorar a solidariedade alheia, mas para essa figura 
típica já existe o crime de estelionato, disposto no art. 171, do Código Penal, 
para o caso de uma prática que cause lesividade significante a bem jurídico 
tutelado pelo Direito Penal. Ademais, usando raciocínio semelhante para as 
condutas previstas no parágrafo único do art. 60, da LCP, que tratam da 
prática da mendicância de "modo vexatório, ameaçador ou fraudulento", ou 
"mediante simulação de moléstia ou deformidade" ou "em companhia de 
alienado ou de menor de 18 anos", às quais é atribuído aumento de pena, 
temos que diante da ocorrência de uma conduta efetivamente ameaçadora aos 
bens jurídicos protegidos pela lei penal, estarão sempre disponíveis os crimes 
de extorsão (art. 158, CP), submissão de criança ou adolescente sob sua 
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento (art. 232, 
ECA), corrupção de menores (art. 244-B, ECA), entre outros. Entretanto, 
apesar do acerto do legislador quando à mendicância, vale deixar uma crítica 
ao mesmo, diante da manutenção desnecessária da contravenção de vadiagem 
em vigor. Tomando emprestadas novamente as palavras de Cabette[18]: “o 
legislador perdeu boa chance de também revogar a contravenção penal de 
vadiagem (artigo 59, LCP), por motivos bastante semelhantes àqueles acima 
aduzidos com relação à mendicância”, já que as razões pelas quais a 
mendicância foi revogada aplicam-se perfeitamente à contravenção penal de 
vadiagem. 
Após as considerações acima, sobre condutas contravencionais bastante 
conhecidas, tentaremos falar um pouco sobre o fenômeno social denominado 
Stalking[19], uma forma de violência na qual o sujeito ativo, empregando 
diversas estratégias, repetindo incessantemente as mesmas ações, invade a 
esfera de privacidade da vítima. Também conhecido como perseguição 
persistente, apesar de ocorrer com freqüência nos Estados Unidos, 
o Stalking tem sido observado em vários países ao redor do Mundo, inclusive 
sendo incluído na agenda de projetos do Escritório das Nações Unidas contra 
Drogas e Crime (UNODC) em relação à proteção da mulher contra a violência. 
Conforme assevera Wesley de Lima[20], em seu brilhante artigo, 
o Stalking consiste em um verdadeiro “cerco psicológico e social realizado de 
forma reiterada por um agente contra a sua vítima”. Para atingir seu objetivo, 
o sujeito ativo, denominado Stalker, serve-se de várias estratégias, 
caracterizadas sempre por atos constantemente repetidos que invadem a 
privacidade da vítima e causam dano psicológico, como por exemplo: várias 
ligações e/ou mensagens no celular, vários presentes sem razão especial, 
aparições constantes nos mesmos locais frequentados pela vítima, chegando 
até mesmo à prática de ameaças. Segundo Damásio de Jesus[21], a prática 
deStalking amolda-se à figura típica da contravenção penal de perturbação da 
tranquilidade, prevista no art. 65, da LCP, que dispõe da seguinte 
redação: “Art. 65. Molestar alguém ou pertubar-lhe a tranqüilidade, por acinte 
ou por motivo reprovável: Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, 
ou multa.” Todavia, dependendo da dimensão e extensão da gravidade dos 
fatos, de acordo com Wesley de Lima[22], como desdobramento do iter 
criminis, pode ocorrer a prática de outras contravenções, a exemplo da 
perturbação do trabalho ou do sossego alheios (art. 42, LCP), da importunação 
ofensiva ao pudor (art. 61, LCP) e vias de fato (art. 21, LCP). Tamanha a 
obcessão do agente para com a vítima, que o mesmo pode exceder-se de tal 
forma que passe a executar ações mais graves, recaindo sobre condutas 
criminosas, como o crime de constrangimento ilegal (art. 146, CP), de ameaça 
(art. 147, CP), lesões corporais (art. 129, CP), dentre outros. O 
fenômeno Stalking pode remeter ao Bullying, mas diferencia-se deste pois, 
naquele, o intuito do perseguidor é alcançar seus desígnios não tolerados ou 
consentidos pela vítima[23], consistindo o sofrimento da vítima apenas em 
conseqüência inevitável das estratégias usadas pelo Stalker para forçar a 
vítima a fazer o que o mesmo deseja dela. Enquanto no Bullying, a aflição e 
angústia do ofendido consistem no próprio fim pretendido pelo infrator. Não 
são poucos aqueles que, a exemplo do Bullying, pugnam pela criminalização 
do Stalking, existindo inclusive proposta já aprovada pela comissão de juristas 
do Senado[24], que pretende criminalizar as duas condutas, praticadas nos 
meios eletrônicos. 
Por fim, analisaremos brevemente a aplicação do princípio da insignificância às 
contravenções penais. Introduzido no sistema penal por ClausRoxin[25], em 
1964, tal princípio preceitua que sempre que uma lesão a bem jurídico 
tutelado pelo Direito Penal, for insignificante, de forma que se torne incapaz de 
ofender efetivamente o interesse tutelado, não haverá adequação típica. Na 
lição de Damásio de Jesus[26], há dois entendimentos, segundo vários 
julgados citados em seu trabalho, o de que é aplicável e o de que não é 
aplicável o princípio da insignificância às contravenções penais. Em nosso 
entendimento, considerando que o princípio da insignificância influencia 
diretamente a tipicidade da conduta praticada, não vislumbramos maiores 
impedimentos na aplicação do princípio da insignificância às contravenções 
penais, pois entre estas e os crimes não existem grandes diferenças 
ontológicas, sendo diferenciados muito mais pelas penas cominadas. 
Entretanto, assevera Fernando Capez[27] que: “não é possível, por exemplo, 
afirmar que todas as contravenções penais são insignificantes, 
pois, dependendo do caso concreto, isto não se pode revelar verdadeiro.” 
(grifo nosso) Em oportuno exemplo o autor alerta que andar pelas ruas 
armado com uma faca (art. 19, LCP) é um fato contravencional que não se 
deve reputar insignificante. 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Ao final de nosso estudo, sempre desprovidos da mínima pretensão de esgotar 
a matéria em comento, percorrendo a história das infrações penais, passando 
pela distinção entre contravenção penal e crime, conclui-se que mesmo o 
crime e a contravenção sendo espécies “distintas” do gênero “infração penal”, 
não existe, a rigor, uma diferença substancial entre os dois. Entretanto, 
apresentamos algumas diferenças específicas entre crime e contravenção, 
como por exemplo o tipo de ação penal, a aplicabilidade do instituto da 
tentativa, entre outras. 
Mais adiante, analisamos especificamente as contravenções penais, 
examinando algumas das mais interessantes para o Direito Penal. Nesse 
sentido, concluímos que, apesar de determinadas condutas não terem mais a 
necessidade de serem tipificadas como contravenção, fica a lição da 
importância da existência das contravenções penais para o Direito Penal, pois, 
em conjunto com o rol de crimes dispostos no Código Penal, vêm ampliar ainda 
mais o leque de proteção aos valores mais importantes da sociedade, 
defendidos pelo Direito Penal. 
REFERÊNCIAS 
[1] PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral, arts. 
1º a 120. 9. ed. atual. eampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, 
248. 
[2] GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 13. ed. Rio de Janeiro: 
Impetus, 2011, p. 136. 
[3] BRASIL. Lei de introdução ao código penal e da lei de contravenções 
penais (1941). Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3914.htm>. Acesso em: 
23 set. 2012. 
[4] NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 7. ed., rev., atual. 
eampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2011, p. 177. 
[5] PRADO, Leandro Cadenas. Resumo de direito penal, parte geral. 4. ed., 
rev. e atual.Niterói, RJ: Impetus, 2010, p. 55. 
[6] BRASIL. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais (1995). 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm> Acesso 
em: 26 set. 2012. 
[7] GRECO, op. cit, p. 137. 
[8] BRASIL. Lei das contravenções penais (1941). Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3688.htm>. Acesso em: 
23 set. 2012. 
[9] JESUS, Damásio E. de. Lei da contravenções penais anotada. 10. ed. 
ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 2. 
[10] JESUS, 2004, Ibid, p. 3. 
[[1]1] NOGUEIRA, Fernando Célio de Brito. O novo Código de Trânsito 
revogou as contravenções dos arts. 32 e 34 da LCP?. Jus Navigandi, 
Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998 . Disponível em: 
<http://jus.com.br/revista/texto/1739>. Acesso em: 27 set. 2012. 
[[1]2] NOGUEIRA, Ibid. 
[[1]3] SILVA, Ivanildo Alves da. Jogo do bicho: contravenção ou crime? 
2006. Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. Faculdade de Direito, Faculdades Metropolitanas Unidas, 
São Paulo, 1990. Disponível em: 
<http://arquivo.fmu.br/prodisc/direito/ias.pdf>. Acesso em: 03 out. 2012, p. 
18-20. 
[[1]4] BRASIL, Decreto-lei 6.259 (1944). Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del6259.htm>. 
Acesso em: 03 out. 2012. 
[[1]5] JESUS, 2004, Op. Cit., p. 184. 
[16] Cf. SILVA, 2006, Op. Cit., p. 24-27. 
[17] CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Mendicância: revogação e repercussões 
no direito penal e no processo penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 
2435, 2 mar. 2010. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/14436>. 
Acesso em: 27 set. 2012. 
[18] CABETTE, 2010, Ibid. 
[19] JESUS, Damásio E. de. Stalking. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 
1655, 12 jan. 2008. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/10846>. 
Acesso em: 27 set. 2012. 
[20] LIMA, Wesley de. Apontamentos sobre o fenômeno do stalking: uma 
realidade emergente na sociedade contemporânea. Disponível em: 
<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9706&revista_c
aderno=3>. Acesso em: 13 out. 2012. 
[21] JESUS, 2008, Op. Cit. 
[22] LIMA, Op. Cit. 
[23] CALHAU, 2010, Apud LIMA, Ibid. 
[24] Cf. AGUIARI, Vinicius. Senado define Cyberbullying e Stalking como 
crimes. Disponível em: <http://info.abril.com.br/noticias/internet/senado-
define-cyberbullying-e-stalking-como-crimes-29052012-23.shl> Acesso em: 
13 out. 2012. 
[25] CAPEZ, Fernando. Princípio da insignificância ou bagatela. Disponível em: 
<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=2009071614033828&m
ode=print>. Acesso em: 13 out. 2012. 
[26] JESUS, 2004, Op. Cit., p. 9. 
[27] CAPEZ, Op. cit.

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