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Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO FBDG – DIREITO PENAL I – PROF: MAYANA SALES AULA 01 – DIREITO PENAL: CONCEITO, DENOMINAÇÃO, CONTEÚDO, MODALIDADES E FUNÇÃO 1. Conceito de Direito Penal 1.1 – Formal: Conjunto de normas jurídicas que definem os delitos (crimes) e suas respectivas sanções; 1.2 – Material: Conjunto de comportamentos de alto risco que afetam os bens jurídicos mais importantes para a sociedade (análise voltada para o processo de causas de determinadas lesões); 1.3 – Sociológico: É uma forma de controle social, sendo a mais violenta, forte e rígida; OBS: As ilicitudes contempladas pelo Direito Penal correspondem às formas mais graves de infração social, tendo em vista a existência de descortesias e imoralidades. Nesse sentido, um casamento entre um pai e uma filha é considerado popularmente como uma conduta imoral, mas não corresponde a uma ilicitude e, portanto, o Direito Penal não irá intervir. 2. Denominação – Direito Penal ou Direito Criminal? Alguns teóricos sustentam a concepção de que o termo Direito Criminal é mais abrangente, extrapolando os limites das meras “penas”, mas também outras questões como as medidas de segurança. Entretanto, atualmente, Direito Penal é o termo mais utilizado e, em situações corriqueiras essas duas nomenclaturas são vistas como sinônimos – por exemplo, uma pessoa que se diz advogado criminalista e outra que se diz advogado penalista apresentam a mesma função. 3. Alocação da Teoria Geral do Direito O Direito Penal encontra-se no ramo do Direito Público, visto que intermedia relações dos cidadãos com o Estado, apresentando normas de caráter imperativo e geral. 4. Conteúdo e divisão do Direito Penal Thiago Coelho (@taj_studies) 4.1 – Parte geral: prevê tudo o que circunda a prática de um delito a) Teoria da Lei Penal – art. 1 ao art. 12; b) Teoria do delito – art. 13 ao art. 31; c) Teoria da pena – art. 32 ao art. 120; OBS: Questões como a teoria da legítima defesa (art. 25), o erro de proibição (excludente de culpabilidade), entre tantas outras, encontram-se situadas nesse ramo do Direito Penal. 4.2 – Parte especial: contempla os tipos penais, ou seja, os crimes propriamente ditos; 4.3 – Legislação Penal Especial: as legislações penais especiais correspondem àquelas que se encontram fora do Código Penal, como, a título exemplificativo, a Lei Maria da Penha (que envolve também questões cíveis) e a Lei de Drogas (que envolve o tráfico e o uso de entorpecentes) OBS: Quando há antinomias com o Código Penal, pelo critério da especialidade, a lei especial tende a prevalecer. 5. Modalidades do Direito Penal 5.1 – Objetivo x Subjetivo: O Direito Penal Objetivo corresponde ao direito positivado, ou seja, trata-se do Direito Penal propriamente dito, responsável por definir as infrações que se encontram à deriva de sanções. Por outro lado, o Direito Penal Subjetivo envolve o direito estatal de punir; OBS: O Direito Penal Objetivo determina o Direito Penal Subjetivo 5.2 - Substantivo (material) x Adjetivo (formal): O Direito Penal Substantivo corresponde ao Direito Penal propriamente dito, compreendendo as normas que determinam ilicitudes e suas sanções. Por outro lado, o Direito Penal Adjetivo corresponde ao Direito Processual Penal que, devido ao alcance da sua autonomia, provocou o desuso dessa terminologia “Adjetivo”; 5.3 – Comum x Especial: O Direito Penal Especial é aplicado por uma justiça especializada, como por exemplo, a responsável por julgar crimes eleitorais (como a realização do caixa-dois). Além da justiça eleitoral, pode-se mencionar a justiça militar como outra área pertencente ao Direito Penal Especializado; Thiago Coelho (@taj_studies) 5.4 – Geral x Local: O Direito Penal Geral é aquele que se aplica a todo território nacional, enquanto o Direito Penal Local corresponde a uma espécie de Direito Penal específico, sendo limitado na sua abrangência (é possível excepcionalmente); 6. Função do Direito Penal 6.1 – Proteção de bens jurídicos: o Direito Penal serviria para proteger os bens jurídicos, que podem ser abstratos como a vida, liberdade, dignidade pública, honra. É a visão predominante e adotada por teóricos como Roxin; 6.2 – Função de confirmação do reconhecimento normativo: Defendida por nomes como Gunther Jacobs, essa linha de pensamento refuta a concepção de que a função do Direito Penal seja de proteger bens jurídicos pois esses já são violados na ocorrência de uma ilicitude. Assim, não sendo capaz de impedir a ocorrência de delitos, o Direito Penal possui a função de confirmar o reconhecimento normativo – ou seja, de demonstrar que as normas existem e que devem ser aplicadas; 6.3 – Controle social: conforme já mencionado anteriormente, embora não seja a função predominante, o Direito Penal possui um papel de exercer controle social e moldar o comportamento dos indivíduos; 6.4 – Função de garantia: somente atua se tiver norma e gera segurança jurídica aos cidadãos; 6.5 – Função motivadora: função de “prevenir” condutas ilícitas por parte dos cidadãos. Entretanto, deve vir acompanhada de mecanismos educativos qualificados pois sua aplicabilidade vigente se distancia bastante da concepção teórica; 7. Relação do Direito Penal com outros ramos do Direito Embora se trate de uma ciência autônoma, o Direito Penal dialoga com outras áreas do saber jurídico, como, por exemplo, o Direito Constitucional, tendo em vista que a constituição prevê algumas condutas que precisam ser combatidas pelo âmbito penal como a prática do terrorismo (tipificado no Brasil em 2016). Com o Direito Tributário alguns crimes são considerados crimes tributários (sonegação de impostos, omissão de receitas, falsificação de receitas...). Além disso, pode-se citar a relação do Direito Penal com o Direito Trabalhista, visto que alguns crimes tipificados apresentação vínculo com questões trabalhistas (exploração exacerbada da mão-de-obra, não pagamentos, etc...). O Direito Penal também dialoga com práticas associadas às relações de consumo e com diversas outras áreas do âmbito jurídico. Thiago Coelho (@taj_studies) OBS: Ilícito não é sinônimo de crime, tendo em vista que, por exemplo, a inadimplência de meses de aluguel corresponde a uma ilicitude no ramo do Direito Cível mas não no ramo do Direito Penal. 8. A seleção de bens jurídicos penais A seleção de bens jurídicos é norteada pela CF/88 – liberdade, vida, honra e dignidade sexual – existindo capítulos no Direito Penal que dialogam com essas questões; A dogmática jurídico-penal: estudo das normas vinculadas ao Direito Penal bem como o estudo das interpretações dessas normas; Criminologia: o estudo do crime propriamente dito bem como os fatos a ele inerentes (vítimas, delinquentes). O pai da criminologia é Césare Lombroso – detentor de perspectivas deterministas – sendo um dos seus maiores seguidores Raimundo Nina Rodrigues; Política criminal: área do conhecimento que busca soluções visando à obtenção do controle social. Em síntese, corresponde ao estudo dos meios plausíveis para diminuir a criminalidade. A título exemplificativo pode ser citada a criação do Instituto de Desistência Voluntária; 9. Criminalização: Primária: É o ato de criar uma norma jurídico-penal (ex: a elaboração da lei Carolina Dieckmann – que teve como foco as invasões a dispositivos que acontecem sem a permissão do proprietário); Secundária: Incidência da lei sobre o ato (aplicação concreta). De acordo com Zaffaroni, a criminalização secundária possui duas características: seletividade e vulnerabilidade. Em síntese, compreende-se que o Estado seleciona, antecipadamente, os indivíduos que sofrerão as consequências mais graves, sendo estes, geralmente, os mais vulneráveis socialmente (pobrese/ou negros). Conclui-se, nessa perspectiva, que as normas, não incidem de forma igualitária sobre os indivíduos; Terciária: ingresso do sujeito no sistema penal (execução da pena). Vale salientar que estudos comprovam que mesmo após a saída do sistema penal, esses Thiago Coelho (@taj_studies) cidadãos carregam, na maioria das vezes, o estigma de ex-presidiário, lidando com inúmeros obstáculos visando à integração social; 10. A “privatização do Direito Penal” É denominada “privatização do Direito Penal” o processo de redescoberta da vítima no sistema penal como protagonista da solução do conflito. Sabe-se que a partir da ascensão do poder nas mãos do Estado, há uma preocupação maior com o réu e, por conseguinte, certa negligência com vítimas cuja vontade, muitas vezes, não é levada em consideração. Esse debate é de suma importância visto que vítimas de uma mesma infração penal podem almejar a distintas soluções. Uma das evoluções nesse cenário corresponde à atuação da Justiça Restaurativa. AULAS 02 E 03 – PRINCÍPIOS PENAIS Princípios penais: são princípios responsáveis por limitar o direito de punir do Estado (jus puniendi); 1. Princípio da legalidade (ou princípio da reserva legal) – art 5, inciso XXXIX da CF e art. 1 do CP – Defesa do nullum crimen nulla poena sine lege, ou seja, não há crime e não há pena sem lei. Em resumo, para que alguém seja punido é necessária uma lei que venha a descrever tal conduta como uma ilicitude; 2. Princípio da anterioridade – art 5, inciso XXXIX da CF e art. 1 do CP – Defesa de que essa lei seja anterior ao fato que se deseja punir, o que gera, consequentemente, maior segurança jurídica à população (tudo o que não se encontra juridicamente proibido, encontra-se juridicamente permitido); OBS: A lei penal pode retroagir apenas para beneficiar o réu. Ex: no Código Penal Militar, se prevê que a pena por roubo será aumentada em 2/3 se a violência ou ameaça for exercida com emprego de arma de fogo. Caso um individuo tenha cometido uma violência ou ameaça anterior a essa norma, poderá ocorrer, mesmo com a existência do princípio da irretroatividade, o processo da retroatividade visando a beneficiar esse réu; 3. Princípio da intervenção mínima (ultima ratio – “última razão”) – O Direito Penal só deve interferir para proteger os bens jurídicos mais relevantes, o que justifica a tese de que nem toda ilicitude corresponde a uma ilicitude penal. A título exemplificativo pode-se citar normas presentes no Código de Trânsito como o uso de cinto de Thiago Coelho (@taj_studies) segurança – não contemplado pelo Direito Penal. Entretanto, em caso de um atropelamento que culmine em óbito, o Direito Penal irá intervir – tendo em vista o ferimento de um dos principais bens jurídicos: a vida; 4. Princípio da fragmentariedade – Nem todo bem jurídico merece a proteção penal e nem toda conduta que lesa a bens jurídicos importa para o Direito Penal, tendo em vista que este deve se preocupar com fragmentos da realidade. O princípio da fragmentariedade possui forte vínculo com o princípio da intervenção mínima; 5. Princípio da subsidiariedade - O Direito Penal deve ser responsabilizado penalmente, atuando em ocasiões que os outros ramos do Direito não são suficientes. Art. 306. do Código de Trânsito: Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012); Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 6. Princípio da humanidade das penas – As penas devem estar em concordância com o princípio da dignidade da pessoa humana (art 5, inciso XLVII). Nesse sentido, há uma série de limitações no que tange à aplicação de penas como a proibição da pena de morte (salvo em caso de guerra declarada), proibição da pena de banimento, proibição de penas excessivamente abusivas ou cruéis, proibição da punição através do trabalho forçado, entre outros. Embora previsto formalmente, o princípio da humanidade das penas não é respeitado em muitas penitenciárias brasileiras, tendo em vista a infraestrutura precária, a superlotação, a presença de dormitórios pouco confortáveis, entre outros aspectos. 7. Princípio da pessoalidade ou da intranscendência (art 5, inciso XLV – CF) – A pena não pode extrapolar o condenado. Entretanto, os efeitos extrapenais (como o pagamento de indenizações) podem ser transferidos aos herdeiros na medida da transferência da herança; OBS: O não pagamento de pensão alimentícia é o único caso de prisão civil, não admitindo, portanto, a solicitação de um habeas corpus. Essa ilicitude se popularizou a partir do caso envolvendo Edilson Capetinha, ex-jogador de futebol – solucionado apenas com o pagamento da pensão alimentícia; 8. Princípio da individualização das penas (art 5, inciso XLVI – CF) – A pena precisa ser individualizada (mesmo para aqueles que praticaram uma mesma ilicitude). Nesse Thiago Coelho (@taj_studies) sentido, deve-se medir a culpabilidade em caráter individual, ou seja, a verificação das circunstâncias pessoais. Por exemplo, no caso de um furto coletivo, deve-se analisar a parcela de contribuição de cada um na prática dessa ilicitude e, a partir dos resultados obtidos, individualizar as penas; 9. Princípio do non bis in idem – O sujeito não pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato ou ter valorada duas vezes ou mais a mesma circunstância numa mesma área jurídica (no caso em questão, no âmbito penal). Nessa perspectiva, a análise do motivo que conduziu à prática de uma determinada ilicitude, o meio que possibilitou tal conduta, os antecedentes do réu (reincidente ou portador de maus antecedentes) consistem em algumas das múltiplas variáveis que podem acentuar uma sanção – desde que cada uma somente seja levada em consideração uma única vez no âmbito penal. O princípio do non bis in idem não proíbe que uma pessoa seja processada por diferentes condutas ou por uma mesma conduta em diferentes áreas do direito (civil e penal, por exemplo), mas garante que esse cidadão não seja punido mais de uma vez por um mesmo evento em um mesmo ramo; OBS: Para ser considerado reincidência, o ato deve ser cometido depois do trânsito julgado do ato anterior, mas esse segundo ato pode ser utilizado para designar maus antecedentes. 10. Princípio da proporcionalidade – A pena precisa ser compatível com o ato cometido, ou seja, uma prática de homicídio deverá apresentar uma pena mais severa em comparação com um ato de furto. Em síntese, quanto mais grave a conduta, maior será a pena; quanto menor o poder lesivo da conduta, menor será a pena. Essa proporcionalidade precisa ser respeitada abstratamente como também no plano concreto. OBS: O Código de Hamurabi foi o primeiro a retratar uma ideia de uma justiça proporcional – sendo baseado na Lei do Talião: olho por olho, dente por dente; 11. Princípio da adequação social – Uma conduta típica pode ser considerada atípica a depender do contexto social. A título exemplificativo pode-se citar a venda de CD’S piratas é tipificada penalmente, entretanto, aceita socialmente. O mesmo se pode afirmar na prática do conhecido jogo do bicho. Em síntese, há uma perda da eficácia social de algumas tipificações, podendo resultar inclusive no processo de retirada dessa tipificação normativa; Thiago Coelho (@taj_studies) 12. Princípio da lesividade – Somente devem ser punidas as condutas que trazem lesão aos bens jurídicos de terceiros ou que gerem um perigo de lesão. Nesse sentido, percebe-se que o princípio da lesividade limita materialmente o Ius puniendi. 12.1 – Princípio da materialidadedo fato – O Direito Penal se preocupa somente com a materialização de ações, ou seja, com a execução das ilicitudes e não com as idealizações/ planejamentos dessas; 12.2 – Princípio da alteridade – O Direito Penal somente se preocupa com a lesão de bens jurídicos ou perigo de lesão de bens jurídicos de terceiro, ou seja, de outras pessoas. Partindo desse pressuposto, conclui-se que o Direito Penal não se preocupa com situações de autolesões como suicídio; 12.3 – Princípio do Direito Penal do fato – O Direito Penal somente se preocupa com o fato e não com o autor do fato. Entretanto, uma parcela significativa de doutrinadores corroboraram a tese da existência de um Direito Penal do fato que leva em consideração o autor – principalmente na dosimetria da pena; 12.4 – Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos – O Direito Penal somente se preocupa com a proteção de bens jurídicos, sendo entre estes os mais relevantes para a sociedade, matéria do Direito Penal. OBS: Um crime pode ser de dano ou de perigo. O crime de dano corresponde à materialidade de uma ação (o crime propriamente dito). O crime de perigo – aquele que gera uma possibilidade de lesão - se subdivide em crime de perigo concreto (como no caso do não uso de preservativo por parte de um indivíduo durante uma relação sexual) e crime de perigo abstrato (como no caso de um indivíduo dirigir após a ingestão de doses de álcool). O segundo exemplo citado – o caso de um indivíduo dirigir após o consumo de bebida alcóolica – já se configura como um crime mesmo com o cumprimento de outras normas simultâneas – tais como o limite de velocidade, a proibição do zigue-zague, etc – tendo em vista que o teste de bafômetro se preocupa em analisar, exclusivamente, a presença de álcool no organismo do indivíduo. Vale ressaltar que o crime de perigo abstrato é alvo de duras críticas por parte de muitos doutrinadores, sustentando-se a concepção de que essa tipificação fere o princípio da lesividade, principalmente no que tange à materialização do fato; 13. Princípio da insignificância – O Direito Penal não se preocupa com lesões insignificantes, tentando evitar a punição de condutas pouco relevantes. Pode-se falar na ocorrência de atiplicalização de condutas, entretanto, esse princípio ainda é Thiago Coelho (@taj_studies) alvo de intensos debates na contemporaneidade pelo fato de estar carregado de uma dose de subjetividade; O STF tentou prescrever alguns requisitos objetivos que devem ser utilizados para nomear uma conduta como insignificante: - Mínima ofensividade da conduta; - Ausência de periculosidade social da ação; - Reduzido grau de reprovabilidade do contemporâneo; - Inexpressividade da lesão jurídica; Apesar disso, casos como furto de shampoos ainda chegam no STF, demonstrando a ineficácia das prescrições anteriormente mencionadas. Outros debates envolvendo o princípio da insignificância Momento para aplicação – Não há momento específico para a declaração de uma conduta como insignificante, podendo, inclusive, o delegado declarar uma conduta como tal. Entretanto, essa questão acerca da competência do delegado para a realização dessa ação ainda gera intensos debates entre doutrinadores; Cabimento – Não se aplica o princípio da insignificância para crimes que envolvam grave ameaça e/ou violência; Controvérsias – Reincidência – A maioria dos doutrinadores sustenta que em caso de reincidência não deve ocorrer a atuação do princípio da insignificância; Reiteração delituosa – A reiteração delituosa (sujeito já praticou determinada conduta algumas vezes) não impede a possibilidade do princípio da insignificância, embora dificulte (esse princípio não é um "cartão verde" para a prática de crimes ínfimos); Lei Maria da Penha – súmula 589 do STJ - Se há a aplicação da Lei Maria da Penha não cabe a atuação do princípio da insignificância; Crimes contra a administração pública – A percepção majoritária dos doutrinadores considera que, mesmo considerando crimes de pequena monta, o princípio da insignificância não deve atuar em crimes contra administração pública; Thiago Coelho (@taj_studies) Crimes contra a fé pública – Crimes contra a fé pública (como a circulação de moedas falsas) não são passíveis de sofrer a atuação do princípio da insignificância; Crimes ambientais – Ainda alvo de intensos debates, pode ocorrer a atuação do princípio da insignificância, embora dependa do preenchimento de requisitos conforme jurisprudência do STJ e do STF; Crimes de porte de drogas para o uso pessoal – O princípio da insignificância não é aplicado para crimes de porte drogas para o uso pessoal, uma vez que se trata de um crime de perigo abstrato; Crimes contra a ordem tributária – Até R$ 20.000,00 (vinte mil reais), o princípio da insignificância é a aplicado; OBS: Há um debate intenso entre a doutrina e a jurisprudência no que tange à aplicação do princípio da insignificância a partir do valor sentimental envolvido em um determinado patrimônio. Enquanto a doutrina adota um posicionamento mais conservador, a jurisprudência evidencia a não aplicação do princípio da insignificância devido ao valor sentimental do bem. A título exemplificativo pode-se citar a repercussão do roubo da guitarra de Bell Marques em 2011, pois embora este tenha condições de adquirir outra facilmente, o bem material era de suma importância para o cantor. Outro exemplo mais grave consistiu na não concessão do princípio de insignificância, em segunda instância, para um indivíduo que tentou furtar quatro frascos de cosméticos. AULAS 05 – TEORIAS LEGITIMADORAS E DESLEGITIMADORAS DO DIREITO PENAL 1. Teorias legimitadoras do Direito Penal: acreditam na eficácia do Direito Penal como forma de controle social. 1.1 - Teorias absolutas ou retributivas: Baseadas na ideia de retribuição do mal causado; A pena seria um fim em si mesma; Não importa se a pena é útil; Maiores expoentes: Thiago Coelho (@taj_studies) 1.1.1 - Immanuel Kant: Em síntese, para Kant, é moralmente necessária a realização da intervenção estatal em determinadas causas. Retribucionismo moral; Necessária como forma de justiça; Ratifica os postulados da Lei do Talião – justiça proporcional; 1.1.2 - Friedrich Hegel: Em síntese, de acordo com Hegel, é necessária a atuação do Direito Penal para a reafirmação do Direito por parte do Estado e, assim, demonstrar a força da ordem jurídica. Retribucionismo jurídico; Preocupa-se com a ordem jurídica; A pena seria a negação da negação do Direito; O Direito Penal seria a manifestação da vontade racional; OBS: As teorias absolutas foram fundamentais para a afirmação de princípios penais como o da culpabilidade e o da proporcionalidade – contribuindo, por conseguinte, para o pensamento de como limitar o poder de punir do Estado (Ius puniendi). Entretanto, demonstram-se, historicamente, como incompletas no que tange à resposta do seguinte questionamento: “por que está justificado castigar?” – o que culminou na instalação de sistemas autoritários de direito penal máximo. Além disso, o fato de focar no passado, de certo modo, já concorda na ineficácia do sistema penal. 1.2 - Teorias relativas ou preventivas: Olha para o futuro e, nesse sentido, baseiam-se na ideia de prevenção (primária, secundária e terciária) – podendo essa ser geral ou especial. 1.2.1 – Prevenção geral: como o próprio nome sugere, extrapola o limite que tange o infrator, abrangendo toda a sociedade. A prevenção geral subdivide-se em negativa (intuito de provocar uma coação psicológica, gerando medo na sociedade) e positiva (ratificação da existência da norma – a norma existe e precisa ser aplicada); 1.2.2 – Prevenção especial: direcionada ao infrator, subdivide-seem negativa (almeja a neutralizar o indivíduo e evitar, por conseguinte, a reincidência) e positiva (almeja a reinserção social do indivíduo por meio da reeducação); OBS: Embora cruciais para se pensar em uma ideia de prevenção, essas teorias também apresentam falhas, tendo em vista que negligenciam três principais questões: não é possível comprovar empiricamente a eficácia da coação psicológica, o conhecimento precário dos delinquentes acerca das tipificações penais e o fato de que os indivíduos pouco refletem Thiago Coelho (@taj_studies) racionalmente acerca das consequências provenientes de suas atitudes. Ademais, é difícil se calcular empiricamente a precisão do sistema penal no objetivo de reinserção social dos egressos desse sistema e até em que ponto o indivíduo é neutralizado; 1.3 – Teorias mistas (unitárias ou ecléticas): responsáveis por reunir as teorias anteriores, afirmando a dupla finalidade inerente ao Direito Penal – retributiva e preventiva. Entretanto, é evidente que nenhum dos objetivos anteriormente mencionados são alcançados em países como o Brasil, onde se percebe também o desrespeito a diversos princípios penais como o da humanidade das penas; 1.4 – Teoria dialética unificadora (Roxin): Rechaça a concepção retributiva da pena; Pauta-se na reunião dos critérios de prevenção geral e especial; Tanto no momento da previsão do crime quanto no momento da aplicação tem-se uma ideia de prevenção geral em algumas situações e ideias de prevenção especial em outras; A pena limita-se em sua magnitude pelo princípio da culpabilidade; Congrega mais de uma teoria preventiva – previsão, aplicação e execução da pena; 1.5 – Teoria agnóstica da pena (Zaffaroni): Pena = exercício do poder; De acordo com Zaffaroni, não há explicação jurídico-racional para a finalidade das penas, somente política – manter o exercício do poder; 1.6 – Teoria das janelas quebradas e o movimento da tolerância zero: fundamentada em uma analogia – se uma janela é quebrada e não há conserto, há uma tendência de um “efeito dominó”, ou seja, da quebra de outras janelas. Nesse sentido, as janelas representam os crimes e o ato de consertar janelas trata-se do Ius puniendi por parte do Estado – devendo este agir sem tolerância para impedir a ocorrência de delitos futuros. Experimento com carro: No primeiro momento, foram colocados dois carros perfeitos em locais distintos, constatando-se que no bairro de classe alta o carro continuou intacto e o carro localizado no bairro de classe baixa foi deteriorado. Nesse sentido, conclui-se que a pobreza é um fator determinante para a ocorrência de delitos. No segundo momento, quebrou-se uma janela do carro situado no bairro nobre e o carro foi completamente destruído. A conclusão final corrobora a tese de que se uma janela quebrada não for consertada, a tendência é que outras janelas sejam quebradas. Thiago Coelho (@taj_studies) 1.7 – Direito Penal do Inimigo: Jakobs diferenciou Direito Penal do cidadão – que apresenta cunho formal, baseando-se em princípios como o da dignidade da pessoa humana – do Direito Penal do Inimigo – caracterizado pela possibilidade de restrição de direitos aos infratores. A título exemplificativo pode-se citar o caso do assassinato do serial killer Lázaro Barbosa cometido por policias, em Goiás, fato que não surpreendeu a maioria da população brasileira. Em síntese, essa perspectiva legitima o Direito Penal e, inclusive, legitima a violação de direitos dos infratores. 2. Teorias deslegitimadoras do Direito Penal: não acreditam no Direito Penal como forma de controle social. 2.1 – Abolicionismo penal: defesa da abolição do Sistema Penal como um todo. 2.1.1 – O abolicionismo penal de Louk Hulsman – passando parte da vida preso na Holanda, Hulsman, sustenta a primazia das leis naturais sobre as leis sociais. Adotando uma perspectiva abolicionista irrestrita do Sistema Penal, o doutrinador partiu do pressuposto de que os conflitos devem ser resolvidos pela própria sociedade. Seriam três as razões principais para a abolição do sistema penal: O sistema penal causa sofrimentos desnecessários que são distribuídos de forma injusta, sob o ponto de vida social, ou seja, o sistema penal não atua de forma homogênea sobre os indivíduos (seletividade); O sistema penal não fornece nenhum efeito positivo em relação às pessoas que estão envolvidas no conflito, nesse sentido, há uma nítida negligência, muitas vezes, da vontade das vítimas (foco excessivo no autor); É muito difícil manter o sistema penal sob controle, o que provoca abusos e excessos na persecução penal – constituindo-se, portanto, um sistema autônomo e isolado do que muitas vezes se conhece (arbitrariedade); Ademais, Hulsman defendeu duas formas da manifestação do abolicionismo: abolicionismo institucional e abolicionismo acadêmico: Abolicionismo institucional críticas à Justiça Criminal (à instituição propriamente dita) Abolicionismo acadêmico mudança de linguagem (defesa da substituição de termos como crime, delinquente, meliante, entre outros de cunho pejorativo). Assim, de acordo com Hulsman, seria possível substituir o termo “crime”, a título exemplificativo, por situação-problema; Thiago Coelho (@taj_studies) 2.1.2 – O abolicionismo Penal de Thomas Mathiesen: Formação marxista; O Estado é uma forma de manipulação e de controle da classe dominante; O Direito Penal seria um instrumento de dominação classista; A crítica mais contundente vincula-se à pena de prisão, visto que, segundo Mathiesen, essa não ter a capacidade de promover a ressocialização dos egressos do sistema penal. Nesse sentido, a eficácia da pena de prisão no que tange a ressocialização e a evitar reincidência, seria uma falácia – constituindo-se, nesse cenário, como um instrumento de opressão com destinatários certos; Irracionalidade do sistema carcerário – o Direito Penal não incide de forma igualitária sobre todos, mas atua de forma mais severa sobre aqueles mais vulneráveis socialmente; Dá uma acentuada ênfase à figura da vítima – tendo em vista que vítimas de um mesmo crime podem apresentar desejos distintos; Deveria haver uma forma de compensação à vítima, que poderia ter: Natureza econômica – uma indenização, por exemplo; Na forma de um sistema de seguro simplificado – com a finalidade de dar segurança à vítima no futuro; Com apoio simbólico nas situações em que ocorram luto ou pesar – apoio psicológico; Criação de abrigos destinados às pessoas que necessitem de um apoio especial para sua proteção; Centros de apoio às mulheres espancadas; Direta solução dos conflitos, quando possível – busca por chegar a um consenso mais próximo daquilo que a vítima almeja; 2.1.3 – O abolicionismo penal de Nils Christie: Discute a existência de uma indústria de controle da criminalidade – formação de riquezas (sobretudo pelas grandes empresas) a partir do medo dos cidadãos (instalação de cerca elétrica, instalação de câmeras de seguranças, agentes de segurança, fornecedores de alimentos para penitenciárias...); Expansionismo do punitivismo como forma de alcançar lucro; Assim como Hulsman, defende que o Estado se apropriou de um conflito que não lhe pertence – corroborando a tese de que os conflitos devem ser solucionados pelos próprios agentes envolvidos (pela própria sociedade); A solução do conflito poderia se dar de duas formas: Thiago Coelho (@taj_studies) 1. Conferindo poder a determinada pessoa; 2. Não conferindo poder a quem quer que seja; Alguns conflitos, porém, de acordo com Christie, não precisam ser solucionados – podendo, nesse sentido, ocorrer uma convivência com esses; AULA 06 – FONTES DO DIREITO PENAL 1. Conceito: fonte do Direito Penalcorresponde à origem e à forma de manifestação do Direito Penal; 2. Fontes materiais (substanciais ou de produção): vinculam-se à origem do Direito Penal, no caso brasileiro, à União (Congresso Nacional). Excepcionalmente, os estados podem tipificar condutas desde que haja uma lei federal permitindo isso e desde que seja de assunto de interesse local; Art 22 – Parágrafo Único: Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. 3. Fontes formais (de cognição ou de conhecimento): vinculam-se à forma pela qual o Direito Penal se manifesta. 3.1 – Fonte formal imediata (direta): a lei é a fonte formal imediata do direito. Alguns doutrinadores consideram que as súmulas vinculantes também correspondem a fontes formais imediatas do Direito Penal; 3.2 – Fonte formal mediata (indireta): 3.2.1 - Constituição Federal: presença de mandatos de criminalização (contém premissas específicas que devem ser respeitadas – como a necessidade de se repreender o terrorismo e a inafiançabilidade dos crimes hediondos ou comparados a hediondos); 3.2.2 - Outro exemplo de fonte formal mediata ou indireta trata-se dos costumes, ou seja, práticas reiteradas que apresentam força de norma; Thiago Coelho (@taj_studies) Contra legem (negativo): costumes que contrariam uma determinada lei, sendo esta, portanto, desprovida de eficácia social. A título exemplificativo pode-se citar a prática do jogo do bicho; Segundum legem (interpretativo): os costumes precisam ser interpretados a partir do contexto em que se encontram inseridos visando aos seus esclarecimentos. A título exemplificativo pode-se citar o conceito de “mulher honesta” – tipificado no Código Penal brasileiro até 2005 – que em 1940 era associado à mulher virgem; Praeter legem (integrativo): costumes que são utilizados para preencher lacunas jurídicas; 3.2.3 – Princípios gerais do Direito: são postulados valorativos que servem para orientar o ordenamento jurídico, ainda que não estejam positivados, como os ideais de equidade, igualdade, justiça... 3.2.4 – Tratados internacionais: tratados que podem entrar no ordenamento jurídico como emenda constitucional ou como status supralegal; 3.2.5 – Atos administrativos: são complementos das normas penais em branco como o ato administrativo que possibilita o detalhamento de quais são as substâncias entorpecentes proibidas de uso e de tráfico no Código Penal; OBS: A jurisprudência não é considerada, para a maioria dos doutrinadores, como fonte do Direito Penal – nem imediata nem mediata – tendo em vista que um juiz pode decidir de forma contrária às decisões anteriores. O mesmo acontece com a doutrina que, embora importante, também não é considerada uma fonte do Direito Penal, pois não necessariamente o juiz precisa aderir a uma perspectiva maioritária justamente pelo fato da doutrina não apresentar uma força vinculante; AULA 07 – INTERPRETAÇÃO DA NORMA PENAL 1. Conceito de interpretação: Trata-se da busca pelo real alcance do significado da norma, tendo em que nem sempre as normas penais são claras; 2. Espécies de interpretação: Thiago Coelho (@taj_studies) 2.1 – Objetiva (voluntas legis): análise da vontade da lei, isto é, do que a lei prevê; 2.2 – Subjetiva (voluntas legislatoris): análise da vontade do legislador quando este elaborou a lei; OBS: A doutrina majoritária considera que o foco deve ocorrer na interpretação objetiva, tendo em vista a baixa importância inerente à vontade do legislador responsável pela elaboração da lei. 3. Modalidades de interpretação: 3.1 – Quanto ao sujeito que realiza: 3.1.1 – Autêntica: o próprio Código Penal conceitua quem são os atingidos por determinada norma. A título exemplificativo pode-se citar o Art. 327 do CP, responsável por definir o conceito de “funcionário público”. Art. 327 do CP: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 3.1.2 – Doutrinária: realizada pelos estudiosos do Direito, como alguns conceitos trabalhados no livro de Fábio Roque; 3.1.3 – Jurisprudencial: realizada pelo poder judiciário. A título exemplificativo pode-se citar que a maioria da jurisprudência considera incabível prescrição virtual; 3.2 – Quanto ao meio: 3.2.1 – Gramatical: análise da literalidade da palavra. A título exemplificativo pode-se citar o conceito conhecido como “mulher honesta” – utilizada para designar a mulher virgem, significado completamente distinto da palavra “honestidade” no dicionário. Honestidade: Qualidade ou caráter de honesto, atributo do que apresenta probidade, honradez, segundo certos preceitos morais socialmente válidos; Thiago Coelho (@taj_studies) Característica do que é decente, do que tem pureza e é moralmente irrepreensível; castidade; 3.2.2 – Histórica: análise do significado da norma levando em consideração o contexto histórico da sua elaboração. A título exemplificativo pode-se citar a recente tipificação do crime de stalking – contemplado, inclusive, nas redes sociais; 3.2.3 – Sistemática: análise do significado da norma dentro do sistema em que ela se encontra inserida. A título exemplificativo pode-se citar a análise do latrocínio como um crime que vai ou não a júri popular. Nesse sentido, esse não vai a júri popular por se tratar de um crime contra o patrimônio e não contra a vida; 3.2.4 – Teleológica: análise da finalidade da norma. A título exemplificativo pode-se citar a proteção da mulher como a finalidade da Lei Maria da Penha ou o benefício do idoso como a finalidade do Estatuto do Idoso; 3.3 – Quanto ao resultado: 3.3.1 – Declaratória: ao realizar a interpretação, o intérprete declara a vontade da lei, ou seja, o “juiz como a boca da lei”. A título exemplificativo pode-se citar a intepretação dada à expressão “várias pessoas” no Art. 141 (III) do Código Penal para designar três ou mais pessoas: Art. 141 do CP: As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. 3.3.2 – Restritiva: o intérprete realiza uma restrição no que o legislador almejou dizer. Nesse sentido, a norma que prevê a concepção de que a embriaguez não se encaixa na imputabilidade penal, entretanto, no caso dos alcóolatras, a imputabilidade penal pode ocorrer no caso da comprovação da patologia e da comprovação da embriaguez no momento do ato; Thiago Coelho (@taj_studies) Art 28. do CP: § 1 º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 3.3.3 – Extensiva: o intérprete amplia o alcance da norma. A título exemplificativo pode-se citar a ampliação do conceito de bigamia (contrair dois casamentos ao mesmo tempo) quando o legislador quis dizer a poligamia (que se entende a casar com várias pessoas ao mesmo tempo); 4. Intepretação analógica: corresponde a uma técnica de interpretação utilizada pelo legislador justamente pelo fato do legislador não conseguir prever todas as circunstâncias de um caso. Nesse sentido, recurso de utilizar na descrição de um crime uma cláusula casuística (exemplos seguidos de uma genérica). Ex: homicídio por meio de asfixia, ácido ou qualquer outro motivo torpe = crimes ocorridos por meio cruel (Art. 121, § 2º, III do CP). Art. 121 do CP: Homicídio qualificado § 2º Se ohomicídio é cometido: III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 5. Analogia: corresponde a uma forma de integração da norma visando a completar lacunas jurídicas existentes. Dessa forma, há uma norma jurídica para uma determinada situação que possa ser utilizada para tratar de uma outra situação – como a equiparação realizada pelo STF entre a homofobia e o racismo. Vale ressaltar que a analogia, em respeito ao princípio da legalidade, somente pode ser utilizada para beneficiar o réu (in bonam partem), sendo proibida no processo de incriminação (in malam partem). A título exemplificativo pode-se citar a seguinte situação: Mayana não é casada civilmente com o seu companheiro e, certo dia, furta-o. O Direito Penal, visando a beneficiar Mayana, realiza uma analogia com a norma que prescreve que o Direito Thiago Coelho (@taj_studies) Penal abdica de questões como essa por considerar mais eficaz de ser tratada no próprio ambiente familiar. A aplicação da analogia no Direito Penal deve acontecer quando há a presença de: Similitude fática; Lacuna legislativa; Benefício ao réu; 6. Dúvidas em matéria de interpretação: se há dúvida acerca se um indivíduo cometeu ou não um crime, a decisão ocorre em favor do réu (in dubio pro reu), tendo em vista que é mais benéfico correr o risco de inocentar um culpado a condenar um inocente. AULA 09 – CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS PENAIS Conceito: Normais penais são aquelas que trazem a regulamentação do Direito Penal – podendo ser incriminadoras ou não incriminadoras. 1. Classificação das normas penais: 1.1 – Incriminadoras: são as normas penais que criminalizam condutas, ou seja, condutas que caso praticadas são consideradas crimes. A título exemplificativo pode- se citar o recém tipificado crime de stalking. 1.1.1 - Preceito primário: parte que descreve a conduta delituosa. Ex: Matar alguém (Art. 121 do CP - crime de homicídio); 1.1.2 – Preceito secundário: parte que descreve a sanção imposta para quem praticar a conduta. Ex: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (Art. 121 do CP); 1.2 – Não incriminadoras: são aquelas normas penais que não criminalizam condutas. 1.2.1 – Permissivas: são normas que permitem a prática de determinadas condutas. 1.2.1.1 – Justificantes: são normas penais que excluem a ilicitude do fato. A título exemplificativo pode-se citar a legítima defesa – responsável pela não condenação do cunhado de Ana Hickmann; Thiago Coelho (@taj_studies) 1.2.1.2 – Exculpantes: são normas penais que excluem a culpabilidade. A título exemplificativo pode-se citar o erro de proibição – no caso de um estadunidense que acredita na possibilidade de fumar maconha no Brasil assim como ele faz nos Estados Unidos; 1.2.2 – Interpretativas: são normas que estabelecem a sua própria interpretação. A título exemplificativo pode-se citar o conceito de funcionário público estabelecido pelo Art. 327 do CP; 1.2.3 – Complementares: são normas que estabelecem princípios e regras para a aplicação das normas penais. A título exemplificativo pode-se citar o Art. 59 do CP, responsável por prever as circunstâncias que devem ser analisadas pelo juiz (culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima); 1.2.4 – Integrativas (ou de extensão): são normas que trazem uma espécie de integração do ordenamento jurídico. A título exemplificativo pode-se citar a seguinte situação: O Art. 121 do CP somente responsabiliza aqueles que praticaram homicídio e não aqueles que tentaram matar alguém. Esse artigo deve ser analisado em conjunto com o Art. 14 do CP – que estabelece a tentativa como causa de diminuição de pena. Vale ressaltar que as normas integrativas não se delimitam somente a questão do homicídio, mas também em outras circunstâncias como o furto/tentativa de furto (Art. 29 do CP – amplia a possibilidade de culpabilidade por estabelecer que a pena é proporcional à colaboração de cada um na prática do delito); 1.3 – Completas: são aquelas normas 100% descritas e que, por conseguinte, não precisam ser complementadas por nenhuma outra norma. A título exemplificativo podem ser citadas as normas referentes ao aborto – bem objetivas e explicativas; 1.4 – Incompletas (imperfeitas): são aquelas normas que precisam de algum tipo de complementação – seja a complementação de uma outra norma ou uma complementação interpretativa/valorativa; 1.4.1 – Tipo penal aberto: necessita de uma interpretação por parte do julgador. A título exemplificativo pode-se citar o Art. 121 do CP, § 3º - discorre sobre o homicídio culposo, ou seja, aquele praticado por imprudência, negligência ou imperícia. Entretanto, esses conceitos de imprudência, negligência ou imperícia Thiago Coelho (@taj_studies) são analisados mediante interpretação do juiz – como no caso de um indivíduo que atropela um pedestre que se recusou a utilizar a passarela construída para a realização do seu deslocamento; 1.4.2 – Norma penal em branco: trata-se de uma norma incriminadora incompleta e que precisa de complemento no seu preceito primário; 2. Classificação da norma penal em branco: 2.1 - Norma penal em branco homogênea (imprópria ou em sentido lato): o complemento é realizado por uma norma de mesma hierarquia. Essa norma penal em branco homogênea se subdivide em homovitelina – quando o complemento é oriundo do próprio ramo do Direito (ex: o Art. 304 do CP) – e heterovitelina – quando o complemento é oriundo de outro ramo jurídico (ex: o Art. 237 do CP, que discorre sobre a nulidade do casamento, deve ser analisado em conjunto com o Código Civil); 2.2 - Norma penal em branco heterogênea (em sentido estrito ou própria): norma penal cujo complemento é realizado por uma norma de hierarquia inferior. A título exemplificativo pode-se citar regulamentos e portarias que complementam o Art. 334 do CP (que discorre sobre a importação e exportação de mercadoria proibida). Alguns doutrinadores (pensamento minoritário) consideram inconstitucional essa questão pois, supostamente, feriria o princípio da legalidade. Entretanto, o pensamento majoritário considera constitucional pelo fato da norma penal em branco prever o núcleo das condutas que não podem ser praticadas; 2.3 - Norma penal em branco inversa (às aversas, invertida): corresponde àquela norma que precisa de complemento no preceito secundário. A título exemplificativo pode-se citar o Art. 304 do CP: Fazer uso dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena – a cominada à falsificação ou à alteração; OBS: Vale ressaltar que o Art. 304 do CP corresponde a uma norma penal em branco propriamente dita e em branco inversa (às versas, invertida) em virtude da necessidade de complemento tanto no preceito primário quanto no preceito secundário. 2.4 – Norma penal em branco ao quadrado: corresponde àquela norma cujo complemento necessita de complemento – constituindo uma situação extremamente rara. A título exemplificativo pode-se citar a Lei de Crimes Ambientais que precisa ser complementada pelo Código Florestal e este Código Florestal precisa ser complementado por um ato do poder executivo. Art. 38 da Lei de Crimes Ambientais: Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Thiago Coelho (@taj_studies) Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. AULA 11 – CONFLITO APARENTE DE NORMAS 1. Conceito: conflito aparente denormas: ocorre quando, aparentemente, para um mesmo fato, mais de uma norma poderá ser aplicada. Uma mãe que mata seu filho recém-nascido sob influência do estado puerperal (logo após o parto) norma que prevê o crime de infanticídio (Art. 123 do CP) e a norma que prevê o crime de homicídio (Art. 121 do CP). Nesse sentido, devendo respeitar ao princípio do non in bis idem, a mãe não pode responder, simultaneamente, ao crime de infanticídio e ao crime de homicídio; Por outro lado, no caso do assassinato da atriz Daniella Perez através de mais de quarentena facadas realizadas pelo ex-ator Guilherme de Pádua, é perceptível a existência de dois fatos distintos – as lesões corporais antes da morte e o assassinato. 2. Requisitos: Unidade de fatos: As normas devem tratar do mesmo fato; Pluralidade de leis penais em vigor: As normas em conflito se encontram em vigência no momento da análise (como no caso das normas relacionadas ao infanticídio e ao homicídio) 3. Finalidade: Evitar o bis in idem, ou seja, que a pessoa seja punida duas vezes pelo mesmo fato; Manter a coerência do ordenamento jurídico, isto é, visa à manutenção da segurança jurídica; 4. Princípios para a solução do conflito aparente de normas: Thiago Coelho (@taj_studies) 4.1 - Especialidade: A norma especial prevalece sobre a norma geral. Por exemplo, ainda no caso destacado, o crime de infanticídio corresponde a um homicídio de cidadãos específicos: crianças (norma especial = norma geral + elemento especializante) e, por conseguinte, deve prevalecer na análise do caso concreto. Daí a justificativa para a nomenclatura “conflito aparente” de normas. A mãe de Bruno, sendo funcionária pública, após subtrair determinado bem, responderá ao crime de peculato (Art. 312 do CP) - crime de furto praticado por funcionário público no exercício de sua função ou em razão dela. Nesse sentido, há, novamente, no crime de peculato, uma norma geral (furto) somada a um elemento especializante (ser funcionária pública). A situação apresentada é distinta da hipótese da professora Mayana subtrair o tablet situado em uma das salas da Faculdade Baiana de Direito, tendo em vista que ela responderá ao crime de furto pelo fato de não ser funcionária pública (não há, aqui, um elemento especializante); A pena que se encontra vinculada à norma não é fator determinante para a seleção de qual norma irá prevalecer. Isso é ilustrado no fato de que, considerando os dois exemplos trabalhados, prevaleceram o crime de infanticídio (02 a 06 anos de reclusão) em relação ao crime de homicídio (06 a 20 anos de reclusão) e o crime de peculato (02 a 12 anos de reclusão) em relação ao crime de furto (01 a 04 anos de reclusão); OBS: É o princípio com maior relevância na contemporaneidade, sendo os outros utilizados quando este não for suficiente. Ademais, o princípio da especialidade corresponde ao único capaz de ser aplicado em abstrato, divergindo-se dos demais que exigem uma análise pautada no caso concreto. 4.2 - Subsidiariedade: Uma das normas em conflito somente será aplicada se um crime mais grave não acontecer. Aqui é perceptível uma relação de gravidade, devendo-se analisar o caso concreto para decidir qual norma será aplicada. Considerando a situação hipotética de Bianca foi forçada a dançar em público após ameaça da professora Mayana. Nessa perspectiva, há a atuação do princípio da subsidiariedade devido a não ocorrência de nenhum fato mais grave ao constrangimento ilegal. Entretanto, em uma outra situação abstrata, João forçou uma garota a se relacionar sexualmente com ele. Embora tenha ocorrido um crime de constrangimento ilegal (Art. 146 do CP), prevalecerá na análise o crime de estupro devido à maior gravidade (Art. 123 do CP). Thiago Coelho (@taj_studies) 4.3 - Consunção ou absorção: Pode ser aplicado em quatro situações: Crime complexo: É aquele que reúne elementos de mais de um tipo penal. No Art. 147 do CP é previsto o crime de ameaça, no Art. 155 do CP tem-se o crime de furto e, no Art. 157 tem-se o crime de roubo (crime complexo por unir os conteúdos dos artigos 147 e 155). Nesse sentido, um indivíduo que subtrai determinado bem através de grande ameaça, responderá ao crime de roubo. Crime progressivo: Crime de ação de passagem. A título exemplificativo é possível realizar um resgate do homicídio da atriz Daniella Perez proveniente de mais de quarentena facadas. Apesar de antes do homicídio terem ocorrido profundas lesões corporais à atriz, o crime de homicídio se sobrepõe na análise; Progressão criminosa: Mudança de dolo - quando o sujeito começa a praticar o ato ele apresenta uma intenção e, no decorrer da ação, ele muda o dolo e resolve cometer, por exemplo, um crime mais grave. Essa particularidade é considerada rara no âmbito do Direito Penal, tendo em vista que, geralmente, há a análise de uma única intenção desde o início. Por exemplo, nem todo tiro apresenta intenção de matar, mas essa intepretação deve ocorrer a luz do caso concreto, já que a intenção de um indivíduo que dispara um único tiro contra a perna de outrem é distinta da intenção de um indivíduo que dispara quinze vezes contra a cabeça de outrem. Fatos impuníveis: Por exemplo, um indivíduo que entra em um domicílio sem consentimento dos residentes e furta um determinado bem, responderá ao crime de furto (Art. 155) e não ao crime de invasão de domicílio (Art. 150 do CP) pelo fato do crime de invasão de domicílio ser considerado um antefato impunível. Nessa perspectiva, é nítido que a invasão de domicílio correspondeu apenas ao meio pelo qual o infrator conseguiu para atingir o seu objetivo, visto que um furto pode ocorrer sem, necessariamente, a invasão de domicílio, isto é, com a entrada e permanência consentida pelos residentes; O que o indivíduo realiza depois do ato ilícito não é objeto de averiguação por parte do Direito Penal. Por exemplo, um indivíduo que rouba um celular, geralmente, possui o objetivo de vendê-lo. Essa venda focada no vendedor é Thiago Coelho (@taj_studies) irrelevante para o Direito Penal pelo fato de constituir um pós-fato impunível (tendo em vista que aquele que compra responderá, se descoberto, ao crime de receptação – Art. 180 do CP); OBS: A súmula 17 do STJ considera a falsidade documental como um antefato para a prática de estelionato (Art. 171 do CP). Quando a falsidade documental continua provocando lesões que não se exauriram no primeiro estelionato, não ocorrerá a absolvição. AULA 12 – LEI PENAL NO TEMPO, SUCESSÃO E COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS 1. Lei Penal no tempo: 1.1 - Tempo do crime – teorias: 1.1.1 - Atividade: De acordo com essa teoria, o tempo do crime é o momento da ação ou omissão independente do momento do resultado; 1.1.2 – Resultado: De acordo com essa teoria, o tempo do crime é o momento do resultado (divergindo-se, assim, da teoria anterior); 1.1.3 – Ubiquidade (mista): De acordo com essa teoria, tanto o momento da ação quanto o momento do resultado são integrantes do tempo do crime; O Código Penal brasileiro adota a teoria da atividade para determinar o tempo do crime. A adoção da teoria da atividade apresenta bastante repercussão prática como, por exemplo, no caso de um indivíduo que cometeu um crime em 2020 e a legislação que tipificava esse crime mudou em 2021 – o indivíduo será julgado com base na norma vigente até 2020. 1.2 – Conflito de leis penas no tempo: Extra-atividade da lei penal: consiste na capacidade da lei penal de se movimentar no tempo 1.2.1 – Retroatividade: Capacidade que a lei penal tem de voltar no tempo para alcançar um fato ocorrido antes da sua vigência. Nesse sentido, a lei penal Thiago Coelho (@taj_studies) retroagepara beneficiar o réu a fim de se alcançar um fato ocorrido no momento anterior à elaboração da norma recente. Por exemplo, uma nova legislação determinou o aumento da pena em caso de roubo praticado através da arma de fogo, revogando a disposição anterior que tratava de armas no geral. Assim, não abrangendo os indivíduos que cometeram roubo através de outras armas, a lei revogadora não pode retroagir para prejudicar o réu; 1.2.2 – Ultra-atividade: Capacidade que a lei penal possui de ser aplicada em um fato no momento da sua vigência mesmo após a sua revogação. 2. Sucessão de leis penais: 2.1 – Novatio legis incriminadora: Trata-se da nova lei incriminadora, criada a partir do surgimento de novas necessidades da sociedade. Dessa forma, uma conduta que antes era indiferente para o Direito Penal passa a ter importância em virtude da sua elevação à categoria de crime – como, por exemplo, a recente tipificação do crime de stalking em 31 de março deste ano. Outros exemplos podem ser citados como a Lei Carolina Dieckmann de 2012 e a Lei de importunação sexual de 2018; 2.2 – Novatio legis in pejus: Trata-se da nova lei para pior, ou seja, uma nova lei piora a situação de quem pratica determinado ato a partir de um tratamento mais rigoroso. Apesar disso, a Novatio legis in pejus não cria uma nova tipificação penal. A título exemplificativo pode-se citar o tratamento mais rigoroso desenvolvido em virtude da inserção da causa de aumento da pena para roubos cometidos através do porte de arma de fogo; 2.3 – Abolitio criminis: Trata-se da abolição do crime, isto é, do momento em que uma conduta que antes era criminalizada deixou de ser alvo de interesse do Direito Penal. A título exemplificativo pode-se citar a descriminalização do adultério no Código Penal Brasileiro em 2005. Os dois requisitos para o reconhecimento do Abolitio criminis são a revogação do artigo e a supressão material da conduta (a retirada, de fato, do Código Penal e não somente a transição da conduta para outro artigo). Destarte, a continuidade normativo típica não se confunde com a Abolitio criminis; 2.3.1 – Efeitos da Abolitio criminis: Cessão de todos os efeitos penais da sentença condenatória (como o arquivamento de processos, o arquivamento de investigações, pausa no cumprimento da pena de quem estava cumprindo, o retorno do indivíduo à condição de primário e não reincidente, etc...). Os efeitos cíveis permanecem tais como a obrigação de reparar o dano. Vale ressaltar que a Abolitio criminis pode ser aplicada, inclusive, para trânsito em julgado da sentença condenatória; Thiago Coelho (@taj_studies) 2.3.2 – Abolitio criminis temporária: Por um determinado período não se tem a incidência do tipo penal. A título exemplificativo pode-se citar a determinação do Estatuto do Desarmamento que visou a desarmar à população e, para isso, a população precisava entregar as armas sem receio de criminalização e, durante uma semana, o lança perfume foi retirado do rol de mercadorias proibidas. 2.4 – Novatio legis in mellius: Trata-se da nova lei para melhor, sendo o contrário da Novatio legis in pejus por trazer um tratamento mais benevolente para um determinado crime. Por exemplo, o Ministério Público somente pode se manifestar no caso de concordância da vítima. A Novatio legis in mellius pode ser aplicada, inclusive, para trânsito em julgado. Vale ressaltar que o juízo competente para aplicação depende do momento do processo (1º grau será o juiz de primeiro grau, em grau de recurso será o tribunal, no caso de cumprimento da pena será o juiz de execução penal e, assim por diante). 3. Combinação de leis penais: Por exemplo, em relação à Lei de Drogas, a lei de 79 determinava uma pena de 3 a 15 anos e a lei de 2006 determinou uma pena de 5 a 15 anos. A lei de 2006 apresenta uma causa de diminuição de pena para o traficante primário e/ou com bons antecedentes. Com isso alguns advogados visavam a combinar a pena mínima da lei de 79 (de três anos) com a causa de diminuição contida na lei de 2006 - dois fatores benéficos simultaneamente. Súmula 501 do STJ: entendimento de que não cabe combinação de leis penais 3.1 – Lei penal temporária e lei penal excepcional: A lei penal temporária trata-se daquela com vigência determinada – como a Lei Geral da Copa, já a lei penal excepcional é aquela criada para regular necessidades excepcionais – como no caso de uma hipotética lei elaborada para criminalizar os indivíduos que não estiverem usando máscara no cenário pandêmico atual; Ex: No caso de indivíduos que falsificaram o mascote Fuleco durante a Copa do mundo de 2014 e tiveram a audiência marcada para agosto de 2015. Apesar da revogação em dezembro de 2014, esses indivíduos serão julgados pois o ato foi realizado durante a vigência de uma norma excepcional e, por conseguinte, nenhuma decisão contrária a essa faria sentido tendo em vista que de antemão já se sabia o prazo curto de vigência do referido diploma. Thiago Coelho (@taj_studies) 3.2 – Lei penal intermediária: A lei intermediária representa aquela que não era vigente ao tempo do fato e nem ao tempo do julgamento, mas vigente durante o processo criminal; Ex: Considerando um crime de furto ocorrido em outubro de 2010 tipificado em uma lei A que previa uma pena de 1 a 4 anos. No curso do processo entrou em vigência a lei B que passou a prever uma pena de 6 meses a 2 anos para o mesmo crime e, no final do processo, entrou em vigência uma lei C que passou a prever uma pena de 1 a 3 anos para o crime de furto. Nesse sentido, a lei B será a utilizada como base para a obtenção de uma decisão, tendo em vista se tratar de uma lei penal intermediária (nesse caso, a lei B é, ao mesmo tempo, retroativa e ultrativa). 3.3 – Crime permanente e crime continuado: O crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo (dia após dia) – como no caso do sequestro do irmão de ZeZé DiCamargo por aproximadamente 90 dias na década de 1990. Ex: Consideremos a situação hipotética que, em janeiro de 2010, Bernardo possuía um depósito de drogas, o que implicava em uma sanção de 5 a 15 anos. Em junho do referido ano, entrou em vigência uma nova legislação que aumentou a pena de 6 a 20 anos. Bernardo foi preso em dezembro de 2010 quando ele ainda possuía o depósito e, nesse sentido, a sanção aplicada será baseada na lei mais recente devido ao fato do crime ainda estar em progresso (súmula 711 do STF). O crime continuado consiste em uma doutrinação doutrinária e corresponde à reunião de diversas condutas e que constituem crimes autônomos, mas que pelas características são consideradas como um crime continuado. É crucial ratificar que, conforme presente na súmula 711 do STF, enquanto durar a permanência ou a continuidade, tem-se a possibilidade da aplicação da lei mais recente, inclusive no caso dessa ser mais rigorosa. AULA 13 - LUGAR DO CRIME 1. Lugar do crime: no que tange o conhecimento do crime à distância, existem três teorias: 1.1 – Teoria da atividade: Considera-se praticado o crime no lugar da conduta. Por exemplo, se Mayana cometeu uma infração no Brasil e desviou o dinheiro para os Estados Unidos, para essa teoria, o crime foi praticado no Brasil; Thiago Coelho (@taj_studies) 1.2 – Teoria do resultado/ evento: O crime considera-se praticado no lugar do resultado. Retomando o exemplo anterior, essa teoria acata os Estados Unidos como lugar do crime; 1.3 – Teoria mista/ ubiquidade: Considera-se praticado o crime no lugar da conduta ou do resultado. Essa é a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro, em seu artigo 6º; OBS: A menos que o ato preparatório tenha sido elevado à categoria de crime, não se tem a punição de ato preparatório no Brasil; OBS: Crime plurilocal – crime percorrido emdois ou mais territórios do Brasil (SP, BA, RJ), ou seja, a preparação acontece em uma localidade nacional e a consumação ocorre em outro local do mesmo país (não se confunde com o crime à distância). Nesse sentido, no caso hipotético de um indivíduo atirar em outro na cidade de Salvador e este vir a falecer no Rio de Janeiro, não é aplicada a teoria da ubiquidade; OBS: No caso de um crime à distância com ato preparatório punível no Brasil, apesar de gerar questionamentos, não ocorre o bis in idem tendo em vista que as penas não são somadas. 2. Principiologia: No ordenamento pátrio, com o fito de solucionar a colisão de jurisdições, emergem seis normas principiológicas: 2.1 – Princípio da territorialidade: Aplica-se a lei penal do local do crime (não importará a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem-jurídico tutelado). O espaço jurídico trata-se de uma extensão do território nacional, como, por exemplo, em um assassinato cometido dentro de um avião da FAB que sobrevoava os Estados Unidos: é considerado crime praticado no Brasil; 2.2 – Princípio da nacionalidade ativa: Leva em consideração a nacionalidade do agente (não importa o local do crime, a nacionalidade da vítima ou nacionalidade do bem-jurídico tutelado); 2.3 – Princípio da nacionalidade passiva: Aplica-se a lei da nacionalidade da vítima (não importa a nacionalidade do agente, do bem jurídico ou o local do crime) 2.4 – Princípio da defesa (ou real): Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (não importa a nacionalidade dos envolvidos ou local do crime). Thiago Coelho (@taj_studies) Por exemplo, se ocorre um crime no qual o Banco do Brasil é vítima mesmo que fora do Brasil, será aplicada a norma brasileira pelo fato de ter ocorrido a lesão de um bem jurídico brasileiro; 2.5 – Princípio da justiça universal/ justiça cosmopolita: O agente fica sujeito à lei penal do país em que ele for encontrado (não importa o local do crime, a nacionalidade dos envolvidos ou do bem jurídico tutelado). Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação na repressão e determinados delitos de alcance transnacional; 2.6 – Princípio da representação/ do pavilhão/ da bandeira/ da substituição/ da subsidiariedade: A lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro e não sejam julgados (inércia do país estrangeiro). Assim, não importarão os sujeitos, a nacionalidade do bem jurídico e nem o local do crime. Deve-se levar em consideração o local em que a embarcação se encontra. 3. Conceitos gerais: 3.1 – Territorialidade: Local do crime no Brasil. Lei aplicável será a brasileira; 3.2 – Extraterritorialidade: Local do crime no estrangeiro. Lei aplicável será a brasileira; 3.3 – Intraterritorialidade: Local do crime no Brasil. Lei aplicável será a estrangeira (Ex: Imunidade diplomática); 3.4 – Território nacional: Espaço geográfico + espaço jurídico (por ficção, equiparação dada pelo Código) – Art. 5º do CP; OBS: Se públicas ou a serviço do governo estrangeiro (como diplomatas), não se aplica a lei brasileira (princípio da reciprocidade); Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo Thiago Coelho (@taj_studies) brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Em regra é aplicada a regra da territorialidade com base no Código Penal brasileiro, salvo algumas exceções. 4. Conclusões do Art. 5º do CP: 4.1 – Quando o navio ou aeronave brasileiro for público, ou estiver a serviço do governo brasileiro, quer se encontra em território nacional ou estrangeiro, é considerado parte do nosso território; 4.2 – Se privado, quando em alto-mar ou espaço aéreo correspondente, segue a lei da bandeira que ostenta; 4.3 – Quando estrangeiro, em território brasileiro, desde que privado, é considerado parte de nosso território; OBS: Teoria da inviolabilidade da embaixada (STF – CELSO DE MELLO) – normalmente as pessoas que se encontram na embaixada são dotadas de imunidade, sendo, portanto, a embaixada inviolável (aplica-se a norma estrangeira); 5. Extraterritorialidade: Em casos excepcionais, a nossa lei poderá extrapolar os limites do território, alcançando crimes cometidos exclusivamente no estrangeiro (Art. 7 do CP); 5.1 – Extraterritorialidade incondicionada (Art. 7, I, do CP): Thiago Coelho (@taj_studies) Crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (princípio da defesa/ real); Crimes contra o patrimônio público brasileiro (princípio da defesa/ real); Crime contra a Administração Pública (princípio da defesa/ real); Genocídio (princípio da nacionalidade ativa); Art. 7, § 1º do CP - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 5.2 – Extraterritorialidade condicionada (Art. 7, II, do CP): Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir (princípio da justiça universal); Crimes praticados por brasileiro (princípio da nacionalidade ativa); Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, marcantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e não sejam julgados (princípio da representação); Art. 7, § 2º do CP - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: Entrar o agente no território nacional - o agente não precisa permanecer no território nacional (espaço geográfico + jurídico); Se o fato punível no país em que foi praticado o ato (deve ser crime no Brasil e no país que foi praticado o ato); Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei autoriza a extradição (Lei da Migração); Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter cumprido a pena; Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável; 5.3 – Extraterritorialidade hipercondicionada (Art. 7, § 3º do CP): crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (princípio da nacionalidade passiva); Art. 7, § 3º do CP - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) Não foi pedida ou foi negada a extradição; Houve requisição do Ministro da Justiça; Thiago Coelho (@taj_studies) 6. Pena cumprida no estrangeiro: Art. 8º do CP: A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é comutada, quando idênticas O exposto anteriormente atenua o bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato); É possível que o agente seja processado, julgado e condenado, tanto pela lei brasileira como pela estrangeira (em especial nos casos de extraterritorialidade);AULA 14 – APLICAÇÃO DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS 1. Imunidade: 1.1 – Conceito: A imunidade é uma prerrogativa inerente a algumas funções. Ela objetiva que algumas pessoas exerçam suas funções sem qualquer pressão ou medo de retaliação. Assim, a finalidade é o exercício livre da função. 1.2 – Espécies de imunidades: 1.2.1 – Material (substancial ou real): Uma conduta que para outras pessoas seria um delito, para os detentores de imunidade, essa conduta não será considerada ilícita (atipicidade da conduta); 1.2.2 – Formal (processual ou relativa): O indivíduo pratica uma ação que é considera delituosa, mas o agente não pode ser processado ou preso por tal atitude. 1.3 – Imunidades diplomáticas: 1.3.1 – Objetivo: Os diplomatas defendem os interesses do seu país em outros países, sendo a imunidade extremamente importante para que os diplomatas exerçam suas funções sem nenhum risco de pressão e do sofrimento de retaliação; Thiago Coelho (@taj_studies) 1.3.2 – Princípio da reciprocidade: Os países que aderiram à Convenção de Viena pactuaram uma imunidade recíproca. Nesse sentido, o diplomata estadunidense no Brasil possui imunidade e vice-versa, ou seja, o diplomata brasileiro é portador de imunidade nos Estados Unidos; 1.3.3 – Convenção de Viena: Art. 29 – A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão. O Estado acreditado trata-lo-á com o devido respeito e adotará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade. Art. 31 – O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. OBS: Acreditante é o que manda e acreditado é o que recebe. Ex: O Brasil (acreditante) enviou um diplomata para os Estados Unidos (acreditado); 1.4 – Imunidade apenas para as infrações penais cometidas no exercício da função? Considere a seguinte situação hipotética: Felipe, diplomata estadunidense no Brasil, durante uma festa em Lauro de Freitas, brigou com um camarada em prol da conquista de uma jovem. A imunidade diplomática de Felipe se estende também para atividades distintas da função exercida por Felipe, isto é, a imunidade é geral. Ele poderá ser responsabilizado sim, todavia, apenas no seu país de origem (Estados Unidos) e não com base na legislação brasileira. Essa imunidade geral recebe uma grande quantidade críticas por parte de penalistas. 1.5 – Natureza jurídica e renúncia 1.5.1 – A imunidade é formal e não material: O imune será processado, se for o caso, no país acreditante (princípio da intraterritorialidade). A imunidade não é material pois o crime continua existindo – o Brasil pode impedir a continuação da ação mas não pode prender o imune nem processá-lo. 1.5.2 – A imunidade é renunciável? A imunidade não é renunciável pelo diplomata mas o país acreditante pode renunciar. Por exemplo, se um diplomata turco comete o Thiago Coelho (@taj_studies) crime de tráfico de drogas aqui no Brasil, caso a Turquia renuncie a imunidade, esse indivíduo poderá ser processado com base na legislação brasileira. 1.6 – Quem é portador da imunidade: Extensão da imunidade aos chefes de governo estrangeiro e os respectivos ministros de relações exteriores. Extensão da imunidade dos agentes diplomáticos aos: 1.6.1 – Membros da família de um agente diplomático que com ele vivam: gozarão dos privilégios e imunidade mencionados nos Arts. 29 e 36, desde que não sejam nacionais do estado acreditado. Felipe, diplomata estadunidense, veio para o Brasil juntamente com sua esposa estadunidense e seus dois filhos de mesma nacionalidade – todos esses são portadores de imunidade. Entretanto, se Felipe veio sozinho e aqui se casou com uma brasileira, tendo dois filhos no território nacional – só Felipe é imune. 1.6.2 – Membros do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como os membros de suas famílias que com eles viviam, desde que não sejam nacionais do estado acreditado nem nele tenham residência permanente. Nesse sentido, quem tem residência permanente (quem se instalou no Brasil) – em relação à esposa, ao marido e aos filhos – não é detentor de imunidade. 1.6.3 – Membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente, gozarão de imunidades quanto aos atos praticados no exercício de suas funções (imunidade mais restrita). Ex: A imunidade penal não se estende aos empregados particulares dos agentes diplomáticos, ainda que não sejam brasileiros – tendo em vista que esses exercem atividades em um contexto particular e não no contexto da missão (ex: motoristas, secretários, entre outros – não são detentores de imunidade); 1.6.4 - A imunidade em relação ao cônsul: O cônsul é detentor de imunidade, entretanto, somente em relação ao exercício das suas funções. Conclusão – São detentores de imunidade: Chefe de Governo ou do Estado Estrangeiro e sua família e membros de sua comitiva; Embaixador e sua família; Thiago Coelho (@taj_studies) Os funcionários do corpo diplomático e sua família; Cônsul, apenas em relação ao exercício das funções. OBS:. A embaixada de outro país é território do país em que se encontra, o que há é a imunidade inerente a alguns indivíduos em virtude das suas respectivas funções. Se um brasileiro furtar um material dentro de uma embaixada americana, será aplicada a lei brasileira por se tratar de território nacional 1.7 – Imunidades parlamentares: Os parlamentares são detentores de imunidade material e formal, entretanto a imunidade material é bastante limitada. 1.7.1 – Imunidade material do parlamentar Previsão no Art. 53, caput, CF: Os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Nesse sentido, um indivíduo durante a prestação de um voto, caso venha a ofender alguém, essa ação não é considerada crime, mas se esse vier a matar alguém, não é detentor de imunidade. Os artigos 27, § 1º e Art. 29, VIII, estendem as imunidades dos parlamentares federais aos deputados estaduais e vereadores, respectivamente. OBS: Para que se possa falar em imunidade material é imprescindível que a manifestação do parlamentar esteja relacionada ao exercício do seu mandato. Sendo assim, o parlamentar que se afasta de sua função não mantém a inviolabilidade. Por conta desse entendimento, ocorreu o cancelamento da súmula 4 do STF que previa: “Não perde a imunidade parlamentar o congressista nomeado Ministro do Estado”. Essa imunidade parlamentar se estende aos suplentes? Não, tendo em vista que esses não se encontram no exercício da função – sendo, portanto, desprovido de imunidade material. Essa imunidade parlamentar se estende aos corréus (um assessor que auxilia na prática de um delito)? Não, conforme a súmula 245 do STF. Essa imunidade é irrenunciável? Não, assim como o evidenciado na imunidade diplomática. Thiago Coelho (@taj_studies) OBS: A realização de entrevistas é considerada parte do exercício da função. Além disso, há a presunção do exercício da função, quando, por exemplo, um parlamentar entra no Congresso Nacional. OBS: A manifestação nas redes sociais de cunho político – como o Twitter – tem sido considerada como parte da imunidade material. OBS: A natureza jurídica da imunidade parlamentar para o STF consiste na atipicidade do fato, ou seja, a ação que designaria crime para um indivíduo comum não será considerada crime para um parlamentar. 1.7.2 – Imunidade formal do parlamentar: 1.7.2.1 – Imunidade formal para a prisão: O Art. 53, § 2º da CF/88 - Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante
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