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1 Aplicabilidade do Balanced Scorecard ao Terceiro Setor: uma Abordagem Crítica Autoria: Aline Rodrigues Fernandes, Fernanda da Vitória Lebarcky, Pedro Xavier da Penha Resumo As organizações do Terceiro Setor durante os últimos anos têm incorporado ferramentas e conceitos provenientes do Setor Privado, motivadas pela necessidade de profissionalização da sua gestão. Nesse contexto, o Balanced Scorecard (KAPLAN; NORTON, 1997) foi alvo de diversos estudos, emergindo como alternativa aplicável a essas organizações, no que se refere à avaliação do desempenho organizacional e ao gerenciamento estratégico. Destaca-se que esse setor possui particularidades e diferenças que devem ser consideradas e ponderadas na utilização da metodologia. Nesse contexto, estudos que promovam reflexões acerca de aspectos relacionados ao método, quando transposto para o âmbito das organizações sem fins lucrativos, tornam-se necessários. Diante disso, o presente artigo, sob uma perspectiva exploratória, objetiva analisar criticamente a aplicabilidade do Balanced Scorecard ao Terceiro Setor. Procura-se especificamente identificar os fatores relevantes a serem considerados na estruturação do BSC, vantagens, desvantagens e limitações da utilização da metodologia no âmbito das organizações sem finalidade lucrativa. A partir de uma abordagem qualitativa, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, a fim de identificar as principais críticas ao método (BUTLER; LLETZA; NEALE, 1997; SCHIEMANN; LINGLE, 1999; NEELY; AUSTIN, 2000; NORREKLIT, 2000; EPSTEIN; MANZONI, 2002; GOLDSZMIDT, 2003). Em seguida, as críticas foram interpretadas considerando as características, peculiaridades e necessidades do Terceiro Setor. A técnica de análise dos dados utilizada foi a análise de conteúdo (BARDIN, 1977), a partir das categorias: vantagens, desvantagens, limitações e fatores a considerar. As principais vantagens da utilização do método identificadas referem-se à melhoria da gestão, a partir do aprendizado e do alinhamento estratégico, à avaliação de desempenho e à transparência na apresentação de resultados. A principal desvantagem relaciona-se à falta de capacitação dos colaboradores das instituições. Como limitações, ressaltam-se aspectos relacionados à estrutura do BSC e à elaboração – concentrada na equipe administrativa. Alguns fatores precisam ser considerados na aplicação do BSC ao Terceiro Setor: a missão organizacional vigora em primeiro plano; as perspectivas possuem enfoques diferenciados; as especificidades organizacionais do setor, bem como as características da gestão social devem ser ressaltadas; a elaboração, fase que demanda especial atenção dos gestores sociais, deve ser desenvolvida de forma participativa, através de um projeto e de profissionais capacitados. Os resultados apontam ser aplicável a utilização do BSC em organizações do Terceiro Setor, à medida que contribui para a melhoria da gestão dessas organizações e facilita a aferição e apresentação dos resultados. Ademais, ressalta-se a contribuição do BSC para a superação dos desafios que permeiam o setor. Entretanto, enfatiza-se a necessidade de se considerar as características dessas organizações em todas as fases da metodologia e do envolvimento das pessoas para que a utilização do método seja bem sucedida. 2 1 Introdução O Balanced Scorecard (BSC) é um sistema de medição de desempenho desenvolvido na década de 90, que permite a tradução da estratégia em medidas e objetivos claros (KAPLAN; NORTON, 1997). O sistema conquistou grande popularidade nos últimos anos, devido suas características que permitem o alinhamento estratégico e o balanceamento entre as perspectivas que o constituem. A princípio, o método foi desenvolvido com o intuito de medir o desempenho das empresas de sucesso. Posteriormente, a partir de estudos e aplicações do BSC em outros contextos, os idealizadores do método comprovaram sua aplicabilidade nas organizações públicas e sem finalidade lucrativa (KAPLAN; NORTON, 1997). Durante os últimos anos, alguns estudos têm demonstrado a aplicabilidade do BSC ao Terceiro Setor (PESSOA, 2000; MÂSIH; MARINHO; SELIG, 2001; LIMBERGER; TEJERA DE RÉ; VIANNA, 2006; FERNANDES et al, 2009). As organizações sem finalidade lucrativa, emergentes da iniciativa privada e com interesses públicos compõem esse setor em ascensão (FERNANDES, 2002). No entanto, Mintzberg (apud TEODÓSIO, 2002) ressalta que a transposição de técnicas gerenciais provenientes da esfera privada não deve ser desenvolvida de maneira linear e absoluta, esbarrando nas especificidades da gestão social. O autor alerta para o fato de que ferramentas gerenciais privadas trazem conceitos e pressupostos que, em alguns casos, podem causar distorções quanto à natureza da gestão social. “Além do desajuste entre a natureza da gestão demandada no Terceiro Setor e os instrumentos gerenciais, as metas desejadas possuem focos diferentes e os resultados não podem ser mensuráveis apenas com indicadores financeiros” (FERNANDES et al, 2009, p. 1). As características apresentadas ressaltam a necessidade de estudos que explorem as particularidades e adversidades do setor na busca da construção de alternativas mais aplicáveis à sua realidade. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva apresentar uma abordagem crítica à aplicabilidade do BSC às organizações do Terceiro Setor. Procura-se explorar aspectos relacionados a questões conceituais, estruturais e gerenciais, ressaltando vantagens, desvantagens e limitações à utilização do método no âmbito das organizações sem fins lucrativos. Para isso, através de uma abordagem qualitativa (DESLANDES, 1999), foi desenvolvida uma pesquisa exploratória, a fim de contribuir para o conhecimento e a análise da utilização de metodologias gerenciais privadas no âmbito do Terceiro Setor. Quanto à estratégia de pesquisa, utilizou-se a pesquisa bibliográfica (CERVO; BERVIAN, 1996), a fim de explorar abordagens críticas de vários autores com relação ao Balanced Scorecard. A análise de dados foi feita através da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 1977). A partir da literatura, elegeu-se as seguintes categorias de análise: críticas conceituais, estruturais e gerenciais. Em seguida, as categorias foram agrupadas nas unidades de análise: vantagem, desvantagem, limitação e aspectos a considerar. Para isso, aspectos relacionados às particularidades das entidades sem fins lucrativos foram determinantes. O trabalho está organizado da seguinte maneira: na seção seguinte são abordados conceitos e particularidades do Terceiro Setor; na terceira seção, é desenvolvida uma abordagem crítica da aplicabilidade do BSC no contexto das entidades sem finalidade lucrativa e, por fim, são apresentadas as principais conclusões extraídas e sugestões para próximos estudos. 3 2 Terceiro Setor O Terceiro Setor tem demonstrado grande importância e representatividade no cenário nacional, por impactar diretamente em aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos. As organizações que o compõem atuam em diversas áreas como saúde, educação, cultura, assistência social, meio ambiente, desenvolvimento e defesa de direitos. Estudiosos ressaltam que o crescimento do setor, em abrangência e relevância, ocorre tanto no Brasil como em outros países (DRUCKER, 1997; FALCONER, 1999; FERNANDES, 2002; SANTOS, 2005). A heterogeneidade de causas em que as instituições do Terceiro Setor estão envolvidas caracteriza uma multiplicidade de ações e formatos. A colocação de Hudson (1999, p. 11) ressalta a finalidade social e demonstra a diversidade de organizações que pertencem a este segmento. Terceiro Setor consiste em organizações cujos objetivos principais são sociais, em vez de econômicos. A essência do setor engloba instituições de caridade, organizações religiosas, entidades voltadas para as artes, organizações comunitárias, sindicatos, associações profissionais e outras organizaçõesvoluntárias. Salamon (1998) apresenta as principais características do setor: organizações privadas, auto-governadas, voluntárias, voltadas para o benefício público e que não distribuem lucros. Devido às particularidades, a gestão demandada nas entidades sem fins lucrativos difere das práticas administrativas encontradas nos setores público e privado. Souza (2008, p. 77) reflete sobre alguns aspectos relacionados ao gerenciamento das organizações do Terceiro Setor: “têm liderança democrática, processos de gestão centrados na experiência dos membros, estrutura flexível e informal e processos gerenciais voltados para o alcance de resultados sociais”. Pode-se acrescentar como características marcantes do setor: relacionamento baseado em valores como proximidade, afeição, harmonia e confiança (TEODÓSIO; RESENDE, 1999; TEODÓSIO; BRUM, 2000); processos participativos de gestão, planejamento e decisão; alto nível de engajamento, especialmente dos voluntários (TENÓRIO, 2000; FALCONER, 1999; RAPOSO, 2000; ROESCH, 2002). De acordo com Hudson (1999, p. 1), “a filosofia que permeia quase todos os aspectos do Terceiro Setor é o desejo humano de ajudar outras pessoas sem a exigência de benefícios pessoais”. A colocação do autor demonstra a importância de valores como solidariedade, empatia e identificação com a causa social para a motivação dos colaboradores desse setor. Nesse sentido, os valores e a missão institucional ganham especial destaque. A missão adquire força e identidade, em um ambiente onde o trabalho é motivado por um ideal compartilhado (FALCONER, 1999; TENÓRIO, 2000; ROESCH, 2002). A maioria das organizações do Terceiro Setor, por não serem auto-sustentáveis, necessita de financiadores para a continuidade de suas atividades. Assim, os resultados e o impacto de suas ações são constantemente submetidos à avaliação. Esse contexto demanda das organizações uma busca constante na melhoria de sua gestão. Porém, a falta de profissionalização do gerenciamento dessas organizações mostra-se como um dos principais problemas do setor (FALCONER, 1999; OLIVEIRA, 1999; TENÓRIO, 2000; TEODÓSIO, 2002). Drucker (1997, p. 14) relata que "as organizações não lucrativas estão ainda dedicadas a ‘fazer o bem’. Mas já verificaram que as boas intenções não podem substituir a gestão e a liderança, a responsabilidade, o desempenho e os resultados”. A citação do autor enfatiza a importância da geração de resultados efetivos e da melhoria da gestão dessas organizações. A gestão demandada no Terceiro Setor envolve alguns desafios: legitimidade, sustentabilidade, capacidade de articulação, utilização de indicadores de desempenho, transformação de doadores em contribuintes, criação de objetivos e identidades comuns, 4 expansão das ações sociais, accountability (transparência) e qualidade dos serviços (DRUCKER, 1997; FALCONER, 1999; TENÓRIO, 1999; SALAMON, 2005). Matos (2005) acrescenta as limitações de recursos humanos, financeiros e da infraestrutura como dificuldades que precisam ser superadas. Pode-se citar ainda a grande complexidade ambiental em que as entidades sem finalidade lucrativa estão inseridas. O’Neill (apud FALCONER, 1999) argumenta que uma nonprofit organization é tipicamente mais complexa do que uma organização empresarial. A complexidade apresentada pelo autor reside no tipo e variedade de serviços prestados, na relação constante com múltiplos públicos e na dependência de fontes variadas de recursos. Diante disso, discute-se a importância da gestão estratégica das instituições do Terceiro Setor. Drucker (1997) reconhece a importância da gestão, da liderança, da responsabilidade, do desempenho, dos resultados e da missão para as organizações sem fins lucrativos. Ademais, ele declara que “na gerência de uma instituição sem fins lucrativos, a missão e o plano são boas intenções. As estratégias são os tratores”. (DRUCKER, 1997, p. 42). Na concepção de Hudson (1999, p. 17), a “criação de uma visão clara, em toda organização, de sua missão, de objetivos e do desenvolvimento de planos e estratégias” é essencial para a tomada de decisão e para a sobrevivência das organizações sem fins lucrativos. Esse enfoque estratégico pode possibilitar a melhoria no gerenciamento da demanda ilimitada de serviços, da dificuldade de obtenção de recursos e das diferentes expectativas de financiadores e usuários. Os desafios que permeiam o setor, a complexidade ambiental e a crescente necessidade de gestão profissional fazem com que instituições sem fins lucrativos introduzam ferramentas gerenciais provenientes da esfera privada em seu cotidiano. Hudson (1999) e Tenório (2000) consideram que técnicas, conceitos e abordagens do setor empresarial podem ser adaptadas ao contexto do Terceiro Setor, ao considerar que se tratam de elementos neutros e o que importa é o propósito pelo qual eles seriam utilizados. Ao considerar as particularidades do Terceiro Setor, seus desafios e necessidades de melhoria na gestão, acredita-se que metodologias que facilitem a visualização de pontos críticos de sucesso e que possibilitem a gestão estratégica do desempenho, tornam-se importantes para o desenvolvimento do setor. Nesse contexto, ressalta-se o Balanced Scorecard como alternativa aplicável à gestão social. Mâsih, Marinho e Selig (2001, p. 6), com relação à aplicabilidade do método ao Terceiro Setor, concluem que: O Balanced Scorecard mostrou-se adequado e eficiente para o gerenciamento de instituições sem fins lucrativos. Observa-se que, através da estruturação do BSC para a instituição em análise, foi possível reunir e estratificar as informações necessárias para o gerenciamento estratégico da organização. Apesar de defenderem a aplicabilidade do BSC no âmbito das organizações sem fins lucrativos, há concordância que sua aplicação necessita de adequações que considerem as particularidades do setor (PESSOA, 2000; MÂSIH; MARINHO; SELIG, 2001; LIMBERGER; TEJERA DE RÉ; VIANNA, 2006; FERNANDES et al, 2009). Assim, análises e reflexões críticas devem ser feitas no intuito de identificar potencialidades e limitações da metodologia, quando utilizada no contexto do Terceiro Setor. A próxima seção se dedica a analisar criticamente alguns aspectos do BSC identificados na literatura. A pretensão não é esgotar o assunto; pelo contrário, pretende-se apenas contribuir para o início de uma discussão acerca de aspectos relacionados à aplicabilidade do BSC às organizações sem finalidade lucrativa. 5 3 Abordagem crítica ao Balanced Scorecard no Terceiro Setor O Balanced Scorecard é um sistema de medição de desempenho que, através de indicadores financeiros e não-financeiros, traduz a estratégia em objetivos e medidas claros (KAPLAN; NORTON, 1997). O método é resultado de um estudo realizado na década de 90 por Kaplan e Norton, que buscavam um scorecard multidimensional. Calcado nas perspectivas Financeira, Clientes, Processos Internos, Aprendizagem e Crescimento, o Balanced Scorecard equilibra objetivos de curto e longo prazos, permitindo identificar relações entre as perspectivas e a estratégia organizacional. O trabalho foi motivado pela crença de que os métodos existentes para a avaliação do desempenho empresarial, em geral apoiados nos indicadores contábeis e financeiros, estavam se tornando obsoletos. No novo contexto de grande competição e concorrência global, esses indicadores eram incapazes de medir atividades relacionadas aos ativos intangíveis como habilidades, competências, tecnologia da informação e direcionadas aos clientes, desenvolvimento de produto e qualidade. A implementação do BSC compreende algumas fases: traduzir a estratégia em objetivos específicos, elaborar mapas estratégicos com indicadores articulados e que se reforcem mutuamente, revisar relações de subordinação entre as áreas organizacionais, traçar metas para cada indicador, formalizar e especificar medidas táticas e operacionais orientadaspara tais metas, verificar a evolução dos indicadores e reavaliar cada perspectiva ao longo do tempo. Embora a aplicação inicial do BSC estivesse voltada para empresas com fins lucrativos, Kaplan e Norton reconhecem a possibilidade da metodologia melhorar a administração de empresas públicas e instituições sem fins lucrativos que lidem com ativos intangíveis (KAPLAN; NORTON, 1997). Ressalta-se que a aplicação da metodologia não deve ser feita de maneira linear, sem reflexões acerca das peculiaridades e diferentes enfoques demandados na gestão social. A Figura 1 sintetiza as principais abordagens do BSC a serem analisadas nesse estudo e apresenta seus reflexos, quando analisadas no âmbito do Terceiro Setor. Durante a classificação dos fatores identificados na literatura, os mesmos foram agrupados em: vantagem, desvantagem, limitação e aspectos a considerar. De acordo com Ottoboni e Pamplona (2001), a principal contribuição do modelo é o destaque dado à necessidade de se vincular as medidas de desempenho à estratégia organizacional, permitindo a criação de valor. No contexto das organizações do Terceiro Setor, essa vinculação permitida pela metodologia facilita o entendimento da organização e de seus pontos críticos, além de propiciar o alinhamento da estratégia a objetivos e metas específicos. Além disso, o desafio que envolve a necessidade de criação de objetivos e identidades comuns pode ser superado. Para Kaplan e Norton (2001a), o aspecto mais inovador do Balanced Scorecard é a sua capacidade de gerar aprendizado estratégico, à medida que a monitoração dos indicadores de desempenho possa assumir a forma de teste de hipótese das relações de causa e efeito modelado no mapa estratégico. A partir do estudo das relações entre os indicadores e seu impacto no resultado, pode-se revisar a estratégia e criar, assim, um ciclo de aprendizado. Para as entidades sem finalidade lucrativa, a utilização de indicadores de desempenho apresenta um desafio que precisa ser vencido, já que o aprendizado estratégico propiciado através do uso de medidas mostra-se fundamental para a sobrevivência no longo prazo. A partir da identificação de projetos, atividades ou programas não consistentes com a missão, pode-se partir para a identificação de novos modelos de intervenção. Além disso, o monitoramento de questões relativas à captação, por exemplo, pode indicar a necessidade de novos financiadores. 6 Enfoque Crítica/ Abordagem Autores Terceiro Setor Criação de valor Ottoboni; Pamplona, 2001 Acompanhamento e sustentação da estratégia; Comunicação da estratégia em todos os níveis da empresa Abreu et al, 2004 Gerenciamento estratégico Mâsih; Marinho; Selig, 2001 Vinculação das medidas de desempenho à estratégia organizacional Ligação entre a estratégia e a ação Limberger; Tejera De Ré; Vianna, 2006 Vantagem Teste de hipótese das relações de causa e efeito Aprendizado estratégico Kaplan; Norton, 2001a Vantagem Comunicação de resultados e vetores de desempenho Foco, motivação e responsabilidade significativos Pessoa, 2000 Vantagem Facilidade na aferição e na apresentação de resultados Transparência e credibilidade Fernandes et al, 2009 Vantagem Lógica prescritiva Dimensões descritivas e emergentes do processo de estratégia são pouco exploradas Attadia; Canevarolo; Martins, 2003 Limitação Fases de elaboração Informações genéricas Roest, 1997 Vantagem Não há uma perspectiva que monitore o ambiente externo Neely; Gregory; Platts, 1995; Norreklit, 2000 Ambiente externo Ausência de medidas de satisfação dos stakeholders Butler; Lletza; Neale, 1997 Limitação Utilização diferenciada das perspectivas para monitorar o desempenho Schiemann; Lingle, 1999 Aspectos a considerar A missão organizacional deve vigorar em primeiro plano Kaplan; Norton, 2001a Aspectos a considerar Falta de detalhamento quanto à incorporação de novas perspectivas Norreklit, 2000 Limitação Perspectivas Foco diferenciado nas Perspectivas Financeira e dos Clientes Kaplan; Norton, 1997 Aspectos a considerar Falta detalhamento sobre a elaboração e a coleta de dados que compõem os indicadores Neely ; Austin, 2000; Sanger, 1998 Aspectos a considerar Dificuldade no desenvolvimento de medidas não financeiras Fabian, 1998 Limitação Indicadores de desempenho A definição dos indicadores deve considerar as especificidades organizacionais Goldszmidt, 2003 Aspectos a considerar Questionamento quanto à habilidade dos executivos articularem uma visão clara e comum da estratégia Epstein; Manzoni, 2002 Desvantagem Falta de informações quanto à tecnologia de informação Fabian, 1998 Limitação Necessidade de um projeto piloto Roest, 1997; Hikage; De Carvalho; Laurindo, 2003 Aspectos a considerar Aspectos gerenciais Elaboração do BSC apenas pela administração Goldszmidt, 2003 Limitação Figura 1: Síntese das críticas ao Balanced Scorecard Fonte: Elaborado pelos autores, 2010 Nessa perspectiva, Pessoa (2000) afirma ainda que o Balanced Scorecard pode proporcionar foco, motivação e responsabilidade significativos em instituições públicas e sem fins lucrativos, ao oferecer a base lógica para a existência dessas organizações, e ao 7 comunicar externa e internamente os resultados e os vetores de desempenho. As contribuições abordadas pelo autor demonstram potencial importância na superação do desafio da legitimação. Os colaboradores do Terceiro Setor, por estarem envolvidos com causas de interesse social, geralmente, apresentam maior nível de motivação e responsabilidade quanto à missão. A utilização do BSC poderia maximizar esses fatores ao evidenciar as relações estratégicas da organização e as ações individuais a serem empreendidas. Além disso, a comunicação dos resultados organizacionais mostra-se como extremante importante para a continuidade de parcerias e financiamentos. “A transparência na comunicação dos resultados organizacionais aos stakeholders é um veículo para a credibilidade e é cada vez mais considerada como fundamental pelos diversos parceiros e grupos de interesse nas organizações do Terceiro Setor” (FERNANDES et al, 2009, p. 1). Os autores discutem a utilização do BSC como facilitador no processo de prestação de contas dessas organizações. A presença de um sistema de avaliação de desempenho como o BSC possibilita o gerenciamento estratégico das entidades, bem como facilita a aferição e a apresentação de resultados aos diversos públicos de interesse, o que poderia contribuir para a superação do desafio da accountability. Abreu et al (2004) identificaram algumas vantagens relacionadas à utilização do BSC. A primeira vantagem relaciona-se ao acompanhamento e sustentação da estratégia. A segunda, refere-se à comunicação da estratégia em todos os níveis da empresa. As vantagens identificadas estão diretamente relacionadas ao conteúdo estratégico da organização, o que reflete sua importância para o desenvolvimento do BSC. No contexto do Terceiro Setor, a estratégia organizacional nem sempre é definida. Isso demanda um processo anterior de definição e consenso com relação ao conteúdo estratégico, para então direcionarem o processo de elaboração do sistema. Segundo Mâsih, Marinho e Selig (2001), através da estruturação do BSC em uma organização sem fins lucrativos, foi possível reunir e estratificar as informações necessárias para o gerenciamento estratégico. Contudo, os autores ponderam que para maximizar os resultados de sua utilização são necessárias adaptações, as quais não afetam a estrutura original do BSC e nem expõem a riscos os ganhos obtidos a partir de sua utilização. Limberger, Tejera De Ré e Vianna (2006) também consideram a utilização do BSC vantajosa para o Terceiro Setor. Os autores relatam que: O BSC revelou-se uma ferramenta de gestão estratégica muito útil para as organizações do Terceiro Setor,principalmente por permitir a ligação entre a estratégia e a ação, fase em que muitas organizações encontram empecilhos e dificuldades. Além disso, o BSC propicia um mecanismo de mensuração que permite às organizações, a partir de análises sobre o desempenho, desencadear medidas de ajuste ou de mudança de curso de ação (LIMBERGER; TEJERA DE RÉ; VIANNA, 2006, p. 8). Apesar das contribuições apresentadas, a literatura apresenta diversas críticas ao método. Segundo Attadia, Canevarolo e Martins (2003), a análise crítica do Balanced Scorecard deve ser pautada em três fatores: conceituais, estruturais e gerenciais. CRÍTICAS CONCEITUAIS As críticas conceituais estão relacionadas à constituição do BSC, que segundo os autores, foi desenvolvida sob uma lógica prescritiva da estratégia, formada pelas escolas do design, do planejamento e do posicionamento (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). 8 O ponto central da crítica é que, devido a sua natureza prescritiva, as dimensões descritivas e emergentes do processo de estratégia, são pouco exploradas (ATTADIA; CANEVAROLO; MARTINS, 2003). Os autores comentam que o fato de o BSC ser criado em um contexto prescritivo não apresenta necessariamente um aspecto negativo, mas limitante enquanto sistema de gestão de desempenho, pois fatores ligados à visão descritiva como empreendedorismo, jogo de poder, influência da cultura, importância da liderança e as estratégias emergentes são pouco explorados. No caso das organizações do Terceiro Setor, as críticas conceituais tornam-se ainda mais presentes. Em um contexto de muitas mudanças e de complexidade ambiental, as estratégias são constantemente reformuladas. Além disso, fatores subjetivos relacionados a poder, cultura organizacional e liderança são determinantes para o desenvolvimento do trabalho. Segundo Kaplan e Norton (1997, p. 9), o processo de elaboração do scorecard acontece através das seguintes etapas: “esclarecer e traduzir a visão e a estratégia; comunicar e associar objetivos e medidas estratégicas; planejar, estabelecer metas e alinhar iniciativas estratégicas; melhorar feedback e o aprendizado estratégico”. Observa-se que as fases envolvidas na estruturação da metodologia envolvem certa maturidade gerencial e processos estruturados. No caso das entidades sem fins lucrativos, o maior ponto fraco identificado por diversos autores está na deficiência da gestão. Essa realidade pode dificultar e até mesmo inviabilizar a implementação da metodologia, caso não haja uma equipe qualificada para dirigir o processo. Roest (1997) critica a falta de informações sobre como a alta administração deve conduzir o processo de elaboração e implementação do BSC. O autor acrescenta que as explicações dos idealizadores da metodologia não são claras sobre a tradução dos objetivos estratégicos em ações, planos e medidas de desempenho. Acredita-se que a falta de explicações detalhadas é justificada pela flexibilidade oportunizada pelo método. Essa característica torna-se favorável ao Terceiro Setor, já que possibilita a utilização do BSC em qualquer organização respeitando suas diferenças e necessidades de adequações. CRÍTICAS ESTRUTURAIS As críticas estruturais relacionam-se à configuração do modelo e seus elementos: perspectivas, balanceamento das medidas de desempenho, relacionamentos de causa e efeito e mapa estratégico (ATTADIA; CANEVAROLO; MARTINS, 2003). Neste aspecto, os autores destacam as dificuldades em definir medidas de desempenho não-financeiras, criar medidas de desempenho preditivas, integrar perspectivas por meio de relações de causa e efeito e utilizar o mapa estratégico. Com relação às perspectivas, os autores atentam para o fato de que não há uma perspectiva que monitore o ambiente externo – concorrentes (NEELY; GREGORY; PLATTS, 1995), fornecedores e governo (NORREKLIT, 2000). Butler, Letza e Neale (1997) corroboram a idéia ao criticar a ausência de medidas de satisfação dos stakeholders. Essa crítica impacta fortemente no setor sem fins lucrativos, já que o ambiente possui vital importância na troca de informações, arrecadação de recursos e captação de voluntários. Monitorar o ambiente, a fim de identificar oportunidades e ameaças torna-se fundamental no cenário de escassez e demandas ilimitadas que a maioria das organizações do Terceiro Setor vivencia. Segundo Schiemann e Lingle (1999), é preciso analisar se a empresa deve devotar igual atenção a cada uma das perspectivas, pois estratégias diferentes enfatizam áreas distintas de desempenho, que por sua vez implicam na utilização diferenciada das perspectivas para monitorar o desempenho. A colocação dos críticos pode ser analisada no âmbito do Terceiro 9 Setor. Apesar de considerar a importância da visualização sistêmica proporcionada pelo balanceamento das perspectivas, entende-se que, em algumas situações, talvez, elas não deveriam ter a mesma atenção dos gestores. Dependendo do momento ou necessidade da entidade, alguma perspectiva poderia se sobrepor às demais. Ao considerar as especificidades do Terceiro Setor, acrescenta-se alguns fatores que devem ser ponderados na estruturação do Balanced Scorecard. O primeiro fator considerado diz respeito às perspectivas. Com relação à hierarquia, a missão organizacional deve vigorar em primeiro plano (KAPLAN; NORTON, 2001a). Quanto à escolha e ao conteúdo das perspectivas, as tradicionais – Financeira, Clientes, Processos Internos, Aprendizagem e Crescimento – podem não contemplar todos os fatores importantes de se monitorar em uma organização sem fins lucrativos. Isso pode demandar novas perspectivas ou a substituição das existentes. Porém, apesar de o modelo permitir a inclusão de novas perspectivas, os autores não discutem como se daria sua incorporação à metodologia e como ficariam as relações de causa e efeito entre as medidas de desempenho (NORREKLIT, 2000). Além disso, há particularidades nas perspectivas Financeira e Clientes. A perspectiva Financeira deve ser interpretada como meio e não como fim. Essa perspectiva no Terceiro Setor pode ser entendida como um fator limitante aos serviços sociais. Kaplan e Norton (1997) ressaltam que, no caso de empresas públicas e instituições sem fins lucrativos, a perspectiva financeira do Balanced Scorecard não é tratada como objetivo. Nesse caso, as metas da perspectiva Financeira devem estar relacionadas com a limitação dos gastos e sua compatibilidade com orçamentos prévios. Pessoa (2000) aborda esse ponto ao afirmar que as empresas públicas e instituições sem fins lucrativos devem medir seu desempenho pelo grau de eficiência e eficácia com que atendem às necessidades de seus participantes. Com relação às finanças, o autor defende a idéia de que o capital será favorecedor ou inibidor, mas raramente será o objetivo básico dessas organizações. Indicadores como captação de recursos, otimização e redução de custos seriam aplicáveis nessa perspectiva. Quanto à perspectiva Clientes, a particularidade reside no fato de que há vários clientes atendidos pelas organizações sem fins lucrativos – beneficiários, financiadores/doadores e sociedade. Nesse contexto, essa perspectiva precisa contemplar tais clientes, a fim de maximizar sua satisfação. Indicadores como impacto social, satisfação, credibilidade e transparência poderiam ser contemplados nessa perspectiva. Outro fator importante relaciona-se à motivação para o cumprimento de metas. No setor privado, geralmente, as empresas alinham seus sistemas de remuneração aos resultados almejados. No caso das organizações sem fins lucrativos, onde a maioria dos colaboradores são voluntários, o enfoque da sensibilização precisa estar voltado à identificação com a missão. É importante que as pessoas estejam envolvidas com o propósito organizacional e que percebam sua contribuição no processo. Quanto aos indicadores, Neely e Austin (2000) ressaltam que não há um detalhamento de como deve sero processo de elaboração das medidas de desempenho. Sanger (1998) acrescenta a falta de especificação sobre como os dados que compõem cada tipo de medida devem ser coletados. A falta de detalhamento, criticada pelos autores, é justificável quando se entende que cada organização terá que desenvolver seu próprio sistema. O processo de elaboração das medidas bem como sua forma de coleta devem ser identificados em cada organização no momento da formulação do BSC. Entende-se que, nas organizações do Terceiro Setor, esse processo deve ser desenvolvido de maneira participativa e que contemple um projeto para a elaboração do sistema, com fases, datas e responsáveis definidos. Há grande dificuldade por parte das empresas ao desenvolverem e implementarem novas medidas, principalmente não financeiras (FABIAN, 1998). As organizações do Terceiro Setor, por lidarem com aspectos subjetivos e nem sempre quantificáveis, possuem 10 dificuldade maior no processo de identificação de medidas. Tal característica dificulta a definição e o monitoramento dos indicadores de desempenho. Como resultado, há um esforço em ações dispersas e individualizadas, fora do foco original das instituições. Goldszmidt (2003) destaca que o BSC não deve ser visto como uma ferramenta genérica, mas sim, deve-se definir os indicadores da empresa levando em conta as suas especificidades. Para isso, as características organizacionais, a cultura, os valores e a missão devem ser ressaltadas. No âmbito das entidades sem fins lucrativos, a elaboração das medidas deve ser conduzida considerando, além dos fatores abordados pelo autor, as particularidades da gestão social. As críticas estruturais do BSC não são desconsideradas, mas acredita-se que não inviabilizam ou desqualificam sua contribuição para o Terceiro Setor. O momento de pensar a organização, sua missão, sua estratégia, seus objetivos e planos de ação podem ser extremamente valiosos para a gestão como um todo. À medida que se tornam claros esses elementos e que há uma visão compartilhada dos envolvidos, a proposta da organização bem como seus planos futuros ficam bem mais consistentes para todos. Nesse contexto, o mapa estratégico assume especial importância, já que demonstra as inter-relações existentes entre as perspectivas e das perspectivas com a estratégia e a missão organizacional. Para as instituições sem fins lucrativos, essa vantagem do método é particularmente crucial, já que proporcionar uma visão compartilhada significa aumentar o grau de fortalecimento das parcerias com stakeholders. Isso contribui para a superação do desafio da sustentabilidade que permeia o Setor. CRÍTICAS GERENCIAIS As críticas gerenciais referem-se às falhas na gestão que impedem a implementação efetiva do BSC (ATTADIA; CANEVAROLO; MARTINS, 2003). Nesta crítica, os autores enfatizam a necessidade de que a elaboração do BSC seja plenamente apoiada pela alta direção, sendo, entretanto, conduzida por uma equipe multidepartamental, estimulando o comprometimento de todos. Fernandes (2003) também destaca que o sucesso do BSC depende da integração operacional na empresa. Para o autor, a integração possibilita a consistência na apuração dos indicadores de desempenho. No contexto do Terceiro Setor, a concepção do BSC de forma compartilhada por uma equipe multidepartamental torna-se primordial, já que possibilita a inclusão de diversas percepções da realidade organizacional, o que torna o sistema mais realista. Epstein e Manzoni (2002) questionam a habilidade dos executivos articularem uma visão clara e comum da estratégia da empresa, capaz de permitir a construção do BSC. A crítica é calcada na dificuldade em se estabelecer consenso entre os membros da organização quanto à estratégia. No caso das entidades sem finalidade lucrativa, pode-se citar ainda a problemática da falta de clareza da estratégia e dos objetivos organizacionais. Esse ponto dificulta desde a estruturação do modelo até o acompanhamento da estratégia. Se não há uma estratégia definida e quais os objetivos almeja-se alcançar, a gestão estratégica através do BSC será impossibilitada. Norreklit (2000) atenta para o fato de que a metodologia não aborda informações sobre como elaborar uma estratégia e que não há informações sobre como lidar com estratégias emergentes. Avalia-se esse fator como problemático no Terceiro Setor, já que se trata de organizações que vivem em um ambiente muito dinâmico e precisam se adequar rapidamente a novas circunstâncias. Em contraponto, Kaplan e Norton (2001b) ressaltam que o BSC é uma ferramenta para implementação e não para formulação de estratégias. 11 Fabian (1998) ressalta a falta de informações sobre como a tecnologia de informação deve ser utilizada pelos gestores ao implementarem o BSC. Quando se tratam das organizações sem fins lucrativos, há uma problemática maior: a falta de equipamentos e de pessoas capacitadas para utilizá-los. A maioria dessas organizações no Brasil sofre de limitação estrutural – estruturas simples, colaboradores e recursos insuficientes, baixa qualificação. Essa situação caracteriza uma dificuldade na implantação do BSC, que demanda pessoas diretamente envolvidas com o acompanhamento e alimentação do sistema, além de tecnologias para armazenagem de dados. Outro complicador do Setor é a falta de capacitação gerencial dos colaboradores. Isso pode dificultar o acompanhamento dos indicadores e metas, a definição de planos de ação e a melhoria contínua através da utilização do BSC. Os idealizadores não discutem se é necessário fazer um programa piloto do BSC, antes de implementá-lo em toda a organização (ROEST, 1997). Acredita-se que a elaboração de um projeto do BSC no âmbito das entidades do Terceiro Setor contribui para o sucesso da implementação, já que possibilita o delineamento da metodologia, a identificação de falhas e a definição de pessoas responsáveis. A idéia de que o processo de implementação do BSC deve estar fundamentado no gerenciamento do projeto e de uma metodologia de implantação é compartilhada por Hikage, De Carvalho e Laurindo (2003). Os mesmo autores sugerem uma metodologia de implantação composta por quatro fases: (i) disseminação do conceito do BSC; (ii) Brainstorming para definição e consolidação da visão, missão e objetivos da empresa; (iii) definição do projeto de implementação; e (iv) definição e escolha de indicadores estratégicos. Goldszmidt (2003) enfatiza que, dentre as falhas mais graves às quais o BSC está sujeito, o fato de que a metodologia é elaborada pela administração e posteriormente é disseminada pela organização, sendo refinada e adaptada a cada grupo, é o mais crítico. Este ponto pode apresentar uma limitação do BSC apenas para a perspectiva da gerência, o que pode impactar em um sistema não realista. Acredita-se que nas organizações do Terceiro Setor a elaboração do BSC precisa ser compartilhada para que tenha sucesso. Alguns pontos devem ser ressaltados: (i) não existe uma hierarquia formal que caracterize um processo top-down; (ii) a democracia e a participação são características fortes da gestão social; (iii) a motivação para o cumprimento de metas deve estar alinhada à identificação com a causa e com a consciência da importância da metodologia para o desenvolvimento da organização. Diante disso, entende-se que a elaboração do BSC nessas organizações deve ser conduzida de modo participativo, através de um projeto, com o direcionamento de profissionais capacitados. A sensibilização quanto à importância do sistema bem quanto às vantagens envolvidas em sua utilização torna-se veículo para o comprometimento dos colaboradores. Face a isso, é importante que o desenvolvimento do sistema seja resultado de um trabalho em equipe, em que as pessoas participem de todo o processo. Esse fator deve ter atenção especial já que a implantação de um sistema de gestão não se justifica sem o contínuo acompanhamento e alimentação,que depende sobremaneira do empenho dos atores envolvidos. Costa (2001) conclui que o BSC não contribui com conceitos novos, mas possibilita momentos de reflexão sobre temas antigos, atenta para pontos que estavam esquecidos ou mal compreendidos e mostra como conhecimentos estabelecidos podem ser aplicados aos tempos modernos, para atender às exigências impostas pelo ambiente. A contribuição salientada pelo autor caracteriza o processo de aprendizado estratégico, tão necessário para o crescimento e desenvolvimento do Terceiro Setor. 12 4 Considerações Finais O Balanced Scorecard apresenta-se como uma metodologia aplicável e vantajosa ao Terceiro Setor, à medida que pode contribuir para o gerenciamento estratégico, planejamento, avaliação do desempenho organizacional, identificação de pontos críticos e apresentação de resultados. Acrescenta-se ainda o potencial da metodologia na superação dos desafios que permeiam o setor. Entretanto, sua aplicação deve ser feita a partir de reflexões acerca das adaptações necessárias, a fim de contemplar as particularidades das organizações sem fins lucrativos. A partir da análise das abordagens teóricas, pode-se observar que a aplicação do BSC nas organizações do Terceiro Setor envolve vantagens, desvantagens, limitações e alguns fatores devem ser considerados. As principais vantagens relacionam-se a: criação de valor no longo prazo; acompanhamento e sustentação da estratégia; aprendizado e alinhamento estratégico; flexibilidade e adequação aos diversos formatos organizacionais; transparência e credibilidade na avaliação de desempenho. Tais fatores encontram-se estreitamente vinculados à melhoria da gestão e à superação dos desafios que permeiam o setor. As desvantagens referem-se a fatores que dificultam a efetividade da aplicação do BSC no âmbito das organizações sem fins lucrativos, devido a características do setor. Como principais desvantagens, ressalta-se a necessidade de certa maturidade gerencial e de processos estruturados, além de gestores capacitados para a condução do processo. As desvantagens podem ser superadas, ao considerar que o setor tem se empenhado para a melhoria de sua gestão. Quanto à capacitação, acredita-se que treinamentos anteriores destinados à equipe responsável pela aplicação do método seriam essenciais. No que se refere às limitações, fatores relacionados às restrições do método no contexto em estudo, observa-se que os aspectos estruturais destacam-se. A falta de clareza no tratamento de questões emergentes da estratégia, a ausência de uma perspectiva que monitore o ambiente, a falta de informações com relação à incorporação de novas perspectivas e à utilização de tecnologias, a dificuldade envolvida no desenvolvimento de medidas não financeiras e a elaboração do BSC concentrada apenas na administração foram as principais limitações encontradas. Na análise, emergiram alguns fatores que precisam ser considerados na aplicação do BSC no Terceiro Setor: a missão organizacional vigora em primeiro plano; as perspectivas possuem enfoques diferenciados; as especificidades organizacionais do setor, bem como as características da gestão social devem emergir no processo; a elaboração da metodologia deve ser desenvolvida de forma participativa, através de um projeto e de profissionais capacitados. Ressalta-se a elaboração do BSC como a etapa que demanda maior atenção dos gestores sociais. Se o planejamento da metodologia estiver associada à participação dos colaboradores, a possibilidade de se chegar em um sistema mais realista da organização torna- se maior. Isso pode ser justificado pela multiplicidade de perspectivas que emergirão no processo, que não será limitado à equipe administrativa. Além disso, enfatiza-se a importância do envolvimento das pessoas para o sucesso da utilização do sistema. A participação e a conscientização quanto à relevância e aos impactos positivos gerados a partir do uso da metodologia podem propiciar um ambiente favorável ao desenvolvimento organizacional, em que os objetivos estratégicos, as metas e as iniciativas serão compartilhados. O presente estudo, de caráter exploratório, contribui para o início da discussão acerca de reflexões necessárias à aplicabilidade do BSC ao Terceiro Setor. Nesse sentido, sugere-se o desenvolvimento de futuras pesquisas, no contexto do setor sem fins lucrativos, que explorem aspectos não discutidos nesse trabalho – avaliação do impacto causado pela utilização do sistema, dificuldades encontradas pelas organizações, desenvolvimento de indicadores de impacto social, dentre diversas outras abordagens. Ademais, estudos empíricos relacionados 13 às etapas de planejamento, implementação, manutenção e avaliação do BSC são necessários para o avanço do conhecimento. Ressalta-se que houve dificuldade dos pesquisadores na identificação de trabalhos críticos do BSC, tendo como enfoque as organizações sem fins lucrativos. Tal fato reafirma a necessidade da emergência de estudos nesse âmbito. 5 Referências ABREU, F.C.; SCHNEIDER, L.C.; MIRANDA, R. G.; TONDOLO, V. A. G. Vantagens e desvantagens do uso do Balanced Scorecard: o caso CARRIS. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 24.; 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ENEGEP, 2004. 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