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-----====:========:::::::::::::==:::;::;::;;;;:::;:;:::::;;;::;;;;;;::==-----------:'~~~~~ ---=------- -- - --~-------------------------"., 99 Capítulo 111 Abordagens teóricos sobre o Estado em suo relação com o sociedade e com o político social 1. Situando um enigma Um fato que chama a atenção no estudo da relação entre Estado e sociedade é o tardio interesse teórico para com o Estado em ação, isto é, para com aquele tipo de Estado dotado de obrigações positivas que inevi- tavelmente o impelem a exercer regulações sociais por meio de políticas. Tal fato não deixa de ser intrigante, pois, se do ponto de vista da liberdade essa ingerência pode ser indesejável, do ponto de vista da aqui- ição de condições básicas para o exercício dessa liberdade, ela é neces- ária. Ademais, ao se privilegiar a igualdade substantiva (e não mera- mente formal), a ingerência do Estado faz-se imprescindível. Afinal, não s persegue a igualdade sem o protagonismo estatal na aplicação de m didas sociais que reponham perdas moralmente injustificadas. Da m sma forma, não se consubstanciam direitos sociais sem políticas pú- licasque os concretizem e liberem indivíduos e grupos tanto da condi- - de necessidade quanto do estigma produzido por atendimentos so- l i~i d scomprometidos com a cidadania. É o Estado, além disso, que, .io m m tempo m qu limita a desimpedida ação individual pode g li' I rir dir ito i I. I vi. t que a sociedade lhe confere poderes ex- 1111. iv . I' r 11 di'. 1 r nti . Na prática, a ingerência do Es- POTYARA PEREIRA 100 tado na realidade social é tão antiga, que só quem não esteja disposto a reconhecê-Ia, não a percebe, Mesmo nos regimes liberais mais ortodoxos, expressamente avessos à intervenção estatal, o Estado sempre interveio politicamente para atender demandas e necessidades, seja da esfera do trabalho, seja da esfera do capital. A esse respeito Polanyí (1980: 144) é certeiro na observação de que os chamados mercados livres jamais fo- ram verdadeiramente livres, visto que eles não funcionariam se seguis- sem o seu próprio curso, As indústrias e os comércios, diz ele, especial- mente os mais importantes, sempre foram contemplados "com tarifas protetoras, com exportações subsidiadas e com subsídios indiretos dos salários" (p. 144). O próprio laíssez-jaíre, considerado um dogma do pen- samento liberal, foi sustentado pelo Estado mediante farta legislação, que "repelia regulamentações restritivas", e robusta burocracia estatal aparelhada "para executar as tarefas estabelecidas pelos adeptos do li- beralismo" (idem) .. Não há, portanto, expÍicação fácil para o fato de o papel ativo do Estado, imbricado à sociedade e mediado por políticas de intervenção (sociais e econômicas), só recentemente vir merecendo tratamento ana- lítico mais amplo e consistente - especialmente no que diz respeito ao contexto social. Ao certo, sabe-se que esta tendência remonta a pensa- dores sociais clássicos e que ela não é exclusiva de uma tradição teórica particular, Pelo contrário, guardadas as devidas diferenças, tanto mar- xistas (notórios críticos da regulação social do Estado) como não-marxis- tas, deixaram, por muito tempo, no limbo essa instigante questão, como será visto, a seguir, com o intuito de fornecer informações sobre as difi- culdades teóricas que, desde os clássicos, o Estado Social enfrenta. 2. Resistências teóricas (clássicas e contemporâneas) ao Estado social s retroceder ao pensamento social d se \11) 1I ir tê tt I I it \ I r ri 1 to I' '111 I POLíTICA SOCIAL 101 :m sua rel~ção com a sociedade. Isso decorria tanto do fato de, naquela e?oca, a açao estatal ser socialmente restrita, quanto, implícita ou expli- cItamen.te, haver reservas intelectuais a respeito da possibilidade de o Estado mterferir nos assuntos da sociedade Além disso c, " ., omo sempre soi acontecer, havia a pr~ocupação analítica de se centrar em fatos que estava~ na or~e~ do dia, como as extraordinárias transformações e e:pansa~. econorrucas - temporariamente interrompidas pelas revolu- çoes políticas de 1848 - que constituíram a verdadeira mola propulsora do capitalismo. Como observa Hobsbawm (2005' 21)" .ibit. ,a su 1 a, vasta e aparentemente ilimitada expansão da economia capitalista mundial" fav~~e:~u espetacularmente o surgimento de uma nova ordem social e de idéias e credos" prontos a "legitimá-Ia e ratificá-Ia", Estabeleceu-se co~ isso, o triunfo do liberalismo burguês sobre ideais socialistas o~ ~oclal-democratas, embora "os homens que oficialmente presidiram os mteresses da burguesia [fossem] profundamente reacionários" (Bismarck n~ ~lema~a; Napoleão IlI, na França) - e usaram o Estado como co~ mitê ~X~CUhVOda classe dominante, como, em 1848, Marx e Engels de- nun~Ianam: em seu famoso Manifesto do Partido Comunista. Não é de admrr~r, pOlS, que entre eminentes pensadores sociais do século XIX - como Emile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, para citar os mais visi- t~dos ~ um possível Estado Social representasse sério perigo ao exercí- CIOda liberdade ou da emancipação dos indivíduos, grupos ou classes subalternos. . ?a ~~rte de Durkheim (1858-1917) - um dos criadores da sociolo- g~a Cl~nhfIca, ou de uma ciência positiva da sociedade, e da teoria fun- c~onahsta - é bastante conhecida a resistência em admitir a importân- Cl~ ~a presença de uma organização estatal forte nas sociedades indus- triais modernas, pelos perigos de controle autoritário que ela poderia ,x rcer. Para ele, o fato de o Estado não ser suficientemente capaz de lidar com o problema da "anemia"! ou "pobreza da moralidade" na I, en , 10 1\11 lu,I", 11110, I' rníz s gr gas (5 m lei) usado par teriI I ' a carac enzar comportamen- \I n (J (1'1'11111111"111,1'111 I' ""Iplo). Jlo t ri rm nt o onc it ' ,I I ' 1o pass li a s r utilizado por ou- 111 \I' 10 \1 ,\11111111 11111'11r>. l! 'I 11111 1170) " 1'0 d Irrnor 0111 01'101 tos dcsvl . -, "" n n os VI nt m r lação 102 POTYARA PEREIRA Europa moderna, exigia que se organizassem corporações profissionais, que se opusessem à moral do progresso fundado no individualismo, e à supremacia estatal. Nesse sentido, as corporações funcionariam como órgãos intermediários entre o Estado e os "particulares" (os indivíduos). Sua principal função seria a de corrigir "patologias" causadas pela espe- cialização e pelo aperfeiçoamento crescentes requeridos pela sociedade industrial. E isso só seria possível por meio da organização de um con- junto articulado e solidário de maneiras de ser, agir e pensar (equivalen- te ao das sociedades simples), relacionado aos quadros da vida econô- mica e sobre ela exercendo poder moral. É tendo em vista essa finalida- de que Durkheim julga as corporações como mediação imprescindível para evitar possíveis abusos de poder do Estado. A serventia dessas corporações consistiria não nos serviços econômicos que poderiam pres- tar, mas na influência moral que poderiam exercer - posto que só esse poder moral seria capaz de úconter os egoísmosindividuais, de manter no coraçãodos trabalhadores um mais vivo sentimento de solidariedade comum, de impedir que a lei do mais forte se aplique tão brutalmente às relaçõesindustriais e~comer- ciais (Durkheim, 1977:17). Caracterizando-se, também, como versão pessimista a respeito da intervenção social do Estado, o pensamento do alemão Max Weber (1864- 1920)- um dos nomes mais influentes no estudo do desenvolvimento do capitalismo, da racionalização e da compreensão da ação humana (inauguradora da sociologia compreensiva ou interpretativa, com base em tipos ideais) - não privilegia, igualmente, a intervenção social do Estado, embora não compartilhe da visão funcionalista de Durkheim. Mas esse desprivilegiamento não se deve a um desconhecimento de sua a finalidades e normas previstas por determinados grupos ou sociedades. Com outras conotações, o conceito vem significando contestação, revolta, anarquismo, reformismoe até mesmo exclusão sacia! que, segundo Gough (2000), atualmente resgata a sociologia de Durkheirn para explicar o fenômeno da aparent excludência de indivfduo grupos d s v810r S, 11 rm A,01 rtunld d 5, pol!tl llA dlrcttos pr ivnl , 11! R nos AOI 'dod '8 01 Itnllst'oH ont mp I' 11(1[18, POLíTICA SOCIAL 103 parte da realização de políticas sociais na Alemanha - considerada ber- ço dessa exp~riência sob a égide de Bismarck - mas a uma convicção p~ssoal refletida no seu propósito intelectual de se ocupar do desenvol- vIm~nto de ,teorias, deixando aos políticos a formulação e aplicação de medidas práticas." Eis porque a teoria de Weber sobre o Estado tem um cunho mais conceitual e analítico, .coerentemente com sua postura científica de pro- curar co~ecer a realidade por meio da apreensão do sentido que os atores atnbuem às suas próprias ações. É daí que ele retira elementos pa~a a construção de seus tipos ideais, conferindo ao seu método caráter emmentemente analítico e generalizante. Além disso, o desinteresse weberiano pela política social evidencia uma ~oncepção de Estado (especialmente do Estado moderno) que o asso~a a uma ~rganização política repressora, destinada a perpetuar re~a~oesde dommação e sujeição por meio dos aparelhos militar e buro- ~rahco, tal como acontecia com o Estado prussiano de sua época. Por I~SO,pa~~ ele, o ~~e diferenciava o Estado dos demais tipos de organiza- ç~o SOCIaISe políticas, era um poder peculiar: o monopólio legal da uiolên- Cl~. ~ra o e~ercício racional-legal desse monopólio - que, na verdade, nao e.o ~elO normal, nem o único meio de que se vale o Estado _ que constituí, segundo ele, o elemento definidor do poder estatal e garante o domínio continuado de homens sobre homens em um dado território. Ou melhor, o Estado para Weber é a única fonte do direito à violência sustenta~o .pelo .consentimento dos dominados e por um quadro jurídi~ co e.admImstrahv~ que lhe confere poder, racionalidade e legitimidade. ASSIm,quanto mais desenvolvida e industrializada se torna uma socie- dade mais ela tende a exigir o domínio racional-legal próprio do Estado ~. Segundo .Gabriel COM (1979, p. 72), Weber, no início do século XX e no auge do Estado prussiano, participou da Associação de Política Social fundada pelos adeptos do chamado "S . lis d Cát d· rr C . . OC1a- .mo e are ~a. ontudo, posicionou-ss contra os objetivos principais dessa Associação que eram d r aliz r pr mover ações para enfrentar grandes problemas sociais na Alemanha da p CA, 11 S 'li V('I' (' IAHt)Ih u tou o afastamento da Associação _ esta deveria dedicar-se à p sq~ilsn \'1(\111(("I 1'1111'1'II'II1HII'-H',O xarn mp(ric d probl fr' , . dll'PI'o . mas sp I os para fins práticos 104 POTYARA PEREIRA moderno, indicando que a razão estatal é histórica, a despeito da ten- dência de se tornar cada vez mais burocratizada para evitar que a socie- .dade seja manipulada por interesses pessoais. Demonstrando também desconfiança em relação ao Estado, Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895) igualmente minimizaram a importân- cia dessa Instituição e de sua capacidade de proporcionar bem-estar so- cial- só que guiados por outros pressupostos. De acordo com a teoria marxiana do Estado, este seria um elemento da superestrutura e, como tal, um fenômeno transitório. Assim, da mesma forma como o Estado não existiu nas sociedades primitivas, quando não se conhecia a divisão do trabalho e a estrutura de classes, ele deixaria de existir numa socie- dr-de comunista futura quando novamente estaria ausente a divisão de classes sociais. Sendo assim, o Estado só seria necessário onde uma clas- se dominante, possuidora dos meios de produção (proprietários de es- cravos, senhores feudais e capitalistas) se apropriasse do produto do trabalho da classe explorada (escravos, servos da gleba e proletários). Aí o Estado funcionaria como um aparato coletivo e, portanto, um instru- mento de reprodução das relações dominantes. Implícita nessas postulações clássicas está, portanto, a idéia de que a política social, associada a um Estado ativo, necessariamente não pro- move e nem emancipa quem se encontra em posição socialmente desi- gual. Pelo contrário, ela funciona como um meio para manter a desi- gualdade e perpetuar a dominação do Estado como um instrumento manejável pelos grupos no poder. Entretanto, as transformações econômicas, sociais e políticas, rela- cionadas ao avanço industrial, criaram condições objetivas para o com- prometimento inadiável do Estado com os problemas resultantes das desigualdades sociais. "Em certa medida" - salienta Gouldner (1970: 78) -"0 crescimento mesmo do Estado Benfeitor [Social] significa que o problema tem se tomado tão grande e complexo que já não é possível deixá-lo sob o controle do mercado e de outras instituições tradicionais". Em vista disso, e diferente da assistência tradicional, cada v 7, n i a traté ia d E tad c n i tiu m ptar nã p 1 i ] 111 1110 I, I I r A POLÍTICA SOCIAL 105 das pessoas consideradas improdutivas, mas pela sua "reintegração" ao processo produtivo. Afinal, "por baixo e em volta dos empresários capita- listas, os 'trabalhadores pobres', descontentes e sem lugar, agitavam-se e insurgiam-se" (Hobsbawm, 2005), no rastro das revoluções de 1848.3 Tal estratégia de inserção dos pobres no processo produtivo, em atenção às reivindicações das massas, não se deu, porém, sem dificul- dades; pois, se por um lado ela confirmava que a burguesia reconhecia as desigualdades sociais como o resultado de contradições estruturais do sistema capitalista, por outro despertava o temor liberal de esvazia- mento de sua fundamentação teórica e ideológica e de seu processo de acumulação via espoliação do trabalho. Afinal, transformar a área social - que engloba a educação, a saúde, a habitação, a previdência social, a assistência - em esfera de responsabilidade pública, significaria afron- tar o mito do iaiseez-faire. Isso conduziu a constantes reavaliações das teorias clássicas, que se viram instadas a repensar seus postulados. Mas, enquanto às teorias não-marxistas, especialmente as de corte funcional, era endereça da urna pressão em busca de contribuições justificadoras da participação do Es- tado na ordem social, às teorias marxistas abriram-se perspectivas de reflexões críticas sobre os novos arranjos do capitalismo, incluindo o Estado, para se manter dominante. Mesmo assim, ambas as modernas reformulações (marxistas e não marxistas) concederam ao Estado Social importância marginal. Autores 3. Conhecido como a "primavera dos povos", o período em que ecJodiram os movimentos revolucionários de 1848 na Europa, a partir da França, teve como marca principal a revolta das massas "prontas para transformar revoluções moderadamente liberais em revoluções sociais" (Hobsbawm, p. 20). Com efeito, em meio à crise econômica, desemprego e insegurança social - numa época em que o mundo se tornou efetivamente capitalista industrial - as reivindicações revolucionárias francesas por sufrágio universal, democracia e direitos trabalhistas, deram a im- pressão de ter chegado o momento da derrocada da velha ordem social européia e da ascensão de um socialismo "potencialmente global" (Hobsbawm, p. 28). Afinal, os movimentos de 1848 se alas- traram por v ri s paí 5 da Europa (Alemanha, Grécia, Hungria, Bélgica, Polônia, Itália) e esten- d rarn s us t 'I I uloa, H 'HlInd H bsbawm até Pernambuco (Brasil), com a insurreição de 1848, e, mais t rde, ol 1l111111.\ IIFln I n ta tarnb rn a informação de que foi com as revoluções euro- I I H,I.I' I~II~, Ijlll 111\ 1\ 1I',llhllh idnr l rnou c 118 I 11 10 si em classe, POTYARA PEREIRA 06 =uncionalistas como Parsons (1902-1979) e seu discípulo e colaborador 3melser - embora tenham incorporado em seus esquemas conceituais 2 analíticos elementos explicativos para dar conta de fatos sociais emer- gentes _ demonstraram escassa preocupaçãocom a análise do be~- .estar, ainda que Smelser tenha dado mais atenção a esse aspecto. Parti- cularmente nesse autor percebe-se a disposição de aceitar e realçar o n=>apelpreponderante do Estado na ordem social, em contraposição às primeiras postulações parsonianas de que os sistemas sociais funciona- ::riam melhor se obedecessem à lógica da auto-regulação das relações sociais em economias de mercado. Contudo, em que pesem esses pequenos avanços teóricos e a pró- pria revisão de Parsons de seus supostos funcional-sistêmicos, admitin- do ~e a estabilidade social só poderia ser mantida por uma administr~- ção oriunda do subsistema político e do governo, o que se tem em mate- ria de análise funcionalista da política social é pequeno. E não poderia ser de outra forma, já que o interesse teórico pela expansão do interven- cionismo estatal, voltado para a correção e/ou redução de desigualda- des sociais, significaria admitir a existência de desequihbrios intrínsecos ao sistema e contradizer sua própria teoria. Não obstante, é possível detectar no pensamento parsoniano algu- mas inovações. Contra seus primeiros arranjos conceituais, que não con- templavam o caráter impositivo da ação social intencional e desconfia- vam do Estado Social que surgia nos Estados Unidos com as reformas do New Deal, durante a Grande Depressão dos anos 1930, ele teve que refletir sobre a realidade desse Estado. Mas o fez sempre privilegiando aspectos sócio-culturais e conferindo a eles a responsabilidade pelo agra- vamento dos problemas sociais. Assim, por exemplo, atribuía aos defei- tos dos sistemas de socialização a proliferação desses problemas, dedu- zindo que o seu ajustamento sístêmico exigia novos programas de edu- cação e até medidas policiais ou castigos mais eficazes. Isso, certamente, como lembra Gouldner (p. 317), impregnava o seu quadro explicativo de tensões e impasses, já que ele não se "prestava ao manejo instrumen- tal de populações adultas nas sociedades índustriai " m d mas. A - sim, a me mo t mpo m qu a t oria par nian " li ) 1(\ t r- POLíTICA SOCIAL 107 Estado Social", tornou-se difícil fazê-Ia dada a sua ênfase na manuten- ção da ordem social (que teimava em mudar) por ajustamento. A presença insofismável do Estado Social exigiu também reavalia- ções na concepção marxista desse Estado, detectadas nas análises pio- neiras de autores contemporâneos como [ohn Saville, James O'Connor e o primeiro Claus Offe, dentre os mais diretamente envolvidos com a temática da política social. Tais autores, em vez de se prenderem à no- ção de Estado restrito, presente no pensamento marxiano do século XIX, passaram a considerar um arco mais amplo de intervenção estatal, dan- do importância ao seu caráter contraditório e a sua dimensão política ativa. Um pensador marxista que pode ser considerado referência des- sa nova abordagem (embora não ao estudo da política social) é Anto- nio Gramsci, sobre quem recai o mérito de ter teorizado a respeito do Estado ampliado e da autonomia relativa deste, no que foi seguido e aperfeiçoado (em certos aspectos) por Nicos Poulantzas. Com isso, não se quer dizer que esses estudiosos contemporâneos da relação entre Estado Social e sociedade tenham rechaçado a perspectiva de "bem- estar social" de Marx.' mas sim que, confrontados com fenômenos e processos inusitados no século XX, passaram a atualizar e ampliar o legado teórico marxista, mesmo não apresentando uma contribuição homogênea. De qualquer modo, ainda que analisando o Estado Social de forma incipiente, esses marxistas contemporâneos começaram a tecer conside- rações teóricas sobre ele e não somente contra ele. Assim, partindo da indefectível refutação ao pensamento social-democrata de que o bem- estar social foi produto do movimento socialista e representou uma alte- ração significativa no regime capitalista (Saville, principalmente), a lite- ratura marxista foi se preocupando com questões mais densas. Passou a pôr em relevo a autonomia relativa do Estado e as contradições - prin- cipal e secundária - na relação entre Estado e Sociedade (a guisa de 4. Na verdade Marx postula um conceito global de bem-estar, contrapondo ao Estado de Bem- Estar a Sociedade de Bem-Estar, ou seja, a sociedade pós-revolucionária onde seria alcançado o verdadeiro igualitarismo ou a pa sag m d tado d n idad para o de liberdad igualitária. 108 POTYARA PEREIRA Poulantzas); as contradições e crises fiscais do Estado (O'Connor) e os mecanismos internos que garantem ao Estado o caráter de classe (Claus Offe).Contudo, como será visto com mais detalhes neste capítulo, a con- tribuição marxista para a política social carece de mergulhos mais fun- dos na origem, desenvolvimento, versatilidade, institucionalidade, fi- nanciamento, fiscalidade, ideologias e implicações econômicas e políti- cas da política social - não obstante esforços denodados e amplamente reconhecidos de autores, como Ian Gough que, nos anos 1970,fez uma radiografia da economia política do Estado de Bem-estar europeu e es- tudou a política social por um ângulo mais complexo. Não foi à toa que, nos fins dos anos 1970,circulou na Europa, a partir da Inglaterra, o ter- mo O'Goffe como um amálgama (acrossemia)" dos nomes O'Connor, Cough e Offe para identificar" a "lenda" (O'Goffe's tale) neo-marxista dominante no campo da política social. Esta é a razão porque vale a pena falar separadamente, e com mais informações, do conteúdo das abordagens não marxista e marxista do Estado vis-à-vis a sociedade e a política social, retomando aos clássicos. 3. A abordagem não-marxista e a questão do Estado social Como já foi dito, as abordagens não-marxistas, sejam funcionais, sejam compreensivas, não se ocuparam diretamente de examinar o Es- tado em ação, mormente na esfera social. Retomando Durkheim, veremos que ele, apesar de fazer menções ao Estado interventor e de se contrapor às idéias de outro pensador não marxista - Herbert Spencer (1820-1903)- sobre esse tema, muito pou- co avançou teoricamente. 5. Redução de palavras, nomes, expressões a letras ou sílabas iniciais para criar um. novo termo composto. 6. Fato mencionado na aula inaugural proferida por Oath/UK, m 21 de jan ir d 1999. POLíTICA SOCIAL 109 De fato, se se quiser encontrar na obra dos clássicos de inspiração funcional maiores considerações sobre a questão do Estado, e de suas implicações no âmbito do bem-estar social, será por Spencer que se de- verá começar. Foi este quem, efetivamente, mais escreveu contra o inter- vencionismo estatal, defendendo, segundo Mishra (1989),uma espécie de política social do laissez-faire. Embora não se pretenda enveredar por Spencer nesta reflexão, é válido apresentar pontos-chave de seu discurso anti-social, pois alguns deles encontram campo fértil no pensamento liberal contemporâneo. Em sua opinião, os processos que se verificam na sociedade vin- culam-se a ordenamentos sociais "espontâneos" que surgem de forma "natural". Sendo assim, os homens não deveriam intervir intencional- mente nesses processos, haja vista que existem na sociedade mecanis- mos inatos de controle que os habilitam a selecionar, com acerto, os mais aptos. Por essa perspectiva, qualquer medida adotada pelo Estado para proteger aqueles que se revelam inferiores por estupidez, vício e ociosi- dade, poderá produzir conseqüências desastrosas, já que só a natureza possui uma lógica racional e detém o segredo do enigma de como flui o progresso. Por isso, interferir nesse processo é violentar a evolução na- tural. E dentre as atividades que, para ele, não deveriam ser realizadas pelo Estado, incluem-se aquelas caracterizadas como áreas não produti- vas como a educação e a saúde. Todavia, os argumentos de Spencer, a despeito de pretenderem ser uma justificação científica do princípio do laissez-jaire. fortalecendo o ideário liberal-burguês, foram apresentados mais em tom de polêmica,envolvendo juízos de valor. Assim, empenhado em atacar a intervenção do Estado e em ressaltar as virtudes do laiesez-faire, ele pouco explicou a natureza das instituições de bem-estar. No que concerne, porém, ao caráter e às funções do Estado, ele forneceu um esquema explicativo, consoante com os princípios do darwinismo, que, apesar de polêmico, marcou a sua presença no campo d conhecimento ociológico. Para ele, o Estado, como aparelho regula- r, t nd ria r r ir na medida em que a sua feição industrial se 110 POTYARA PEREIRA distanciasse da sua feição militar, ficando as suas funções reduzidas à mera administração da Justiça (Durkheim, p. 252). Tal pensamento está . de acordo com a sua lei da evolução, segundo a qual o progresso resulta da integração da matéria e de concomitante dissipação do movimento; neste processo, a matéria passa de uma homogeneidade indefinida e incoerente a uma heterogeneidade definida e coerente, e o movimento retido sofre uma transformação paralela (Spencer, 1905). Em suma, a evolução é a passagem do simples para o complexo, através de diferen- ciações sucessivas (Spencer, 1896). Foi com base nessa lógica que ele estabeleceu a distinção entre a sociedade de "tipo militar" e a sociedade de "tipo industrial". A primei- ra era caracterizada pelo poder absoluto dos superiores sobre os subor-c, dinados; pelo império da lei baseada na religião e nas crenças coletivas; pela centralização e ausência de liberdade e garantias individuais e, por- tanto, pela submissão dos indivíduos ao Estado. Trata-se, como enfatiza Durkheim, "de um despotismo organizado que aniquilaria os indiví- duos" (p. 224). Em contraposição, na sociedade industrial predominaria a descentralização, o governo representativo, a livre iniciativa e a liber- dade contratual entre os homens, indicando que a vontade dos-indiví- duos é soberana e que o Estado existe para servi-los. Neste caso, a solidariedade socialnão seria (...) outra coisa senão o acordo de que os contratos são expressãonatural. O tipo de relaçõessociaisseria a relação econômica,desembaraçada de qualquer regulamentaçãoe tal qual como resultasse da iniciativa inteiramente livre das partes. Numa palavra, a sociedadenão seria senão o relacionarde indivíduos trocando os produ- tos de seu trabalho, e sem que nenhuma açãopropriamente socialviesse regular essa troca (Durkheim,p. 234-5). Ora, é justamente contra a idéia evolutiva e ao individualismo exa- cerbado de Spencer que Durkheim se posiciona. Se,em princípio - como esclarece na Divisão do Trabalho Social - Durkheim admite, como Spencer, que "o lugar do indivíduo na sociedade, inicialmente nulo, ia aumentando com a civilização" (p. 224), em suas concJu õe opõ - POLíTICA SOCIAL 111 frontalmente ao raciocínio spenceriano. Isso porque, em vez de atribuir a anulação do indivíduo nas sociedades primitivas à dominação de uma autoridade despótica - dado o constante estado de guerra em que se encontram essas sociedades - Durkheim a explica pela completa au- sência de qualquer centralização. Por esta ótica, o Estado resultaria" dos próprios progressos da divisão do trabalho e da transformação que teve como efeito fazer passar as sociedades do tipo segmentar ao tipo orga- nizado" (p. 255). Essa passagem, segundo a lógica durkheimiana, ocor- re da seguinte forma: quando a sociedade de tipo segmentar perde a vitalidade em decorrência do desaparecimento progressivo da sua orga- nização peculiar, ela é absorvida pelo órgão central. E isso é assim por- que este órgão, ao não encontrar mais as resistências que freavam a sua expansão, desenvolve-se e atrai para si funções antes desempenhadas pelos órgãos locais. Desse modo, quanto mais vasta e diferenciada for a sociedade, mais completa será esta fusão - o que, em outras palavras, significa que o órgão central será mais volumoso quanto mais as socie- dades forem avançadas. Todavia, diz Durkheim, "não queremos dizer que normalmente o Estado absorve em si todos os órgãos reguladores da sociedade, quaisquer que eles sejam, mas somente aqueles que são da mesma natureza dos seus, isto é, que presidem a vida geral" (p. 256). As funções econômicas, por exemplo, não estariam absorvidas no Esta- do, embora possam estar submetidas à sua ação. Com isso ele queria salientar que é possível a existência de um conjunto de funções distintas e relativamente autônomas ao Estado, sem que a sua coerência seja des- truída. A função do Estado estaria vinculada às normas jurídicas que determinam a natureza e as relações das funções estratificadas, graças à divisão do trabalho. O Estado seria "o 'órgão do pensamento social', concentrado, deliberado e reflexivo, distinto da obscura consciência co- letiva" (Durkheim, 1950:95), difundida por toda a sociedade. Assim, ao contrário do que propugnava Spencer, Durkheim enten- dia o Estado como o órgão em relação ao qual, nas sociedades avança- das, a situação de dependência do indivíduo vai aumentando, embora a liberdade deste de crer, querer e agir, seja maior do que nas sociedades impl . E i daria porque cada corpo de normas jurídicas, que cabe 112 POTYARA PEREIRA ao Estado administrar, está acompanhado por um corpo de normas morais. São estas que refreiam os apetites, regulam e conectam as espe- cializações profissionais, fazendo com que os homens aceitem volunta- riamente funções e recompensas desiguais. Está incluída aí a idéia de primazia da consciência coletiva sobre a individual, mas agora configu- rada na ação do Estado e no papel fundamental das crenças e sentimen- tos coletivos, mormente da moral e da religião, o que demonstra que, em se tratando do Estado, o conceito de consciência coletiva de Durkheim foi sendo substituído pelo de representação coletiva. É esse conceito (li- gado à concepção de que é pela representação que o grupo se concebe a si mesmo em sua relação com os objetos que o afetam) que permitiria distinguir melhor" entre crenças cognitivas e crenças morais, entre di- Jferentes crenças e sentimentos e entre crenças e sentimentos associa- dos a estágios diferentes do desenvolvimento de uma sociedade" (Luckes, 1977: 18). Vê-se, assim, que a principal discordância entre Spencer e Durkheim não recai tanto na expansão do Estado, mas nas conseqüências dessa expansão. No que diz respeito a este fato, sou inclinada a acreditar, com Mishra, que Durkheim aí se posiciona de forma dilemática, pois se, como filósofo, parecia não ver com bons olhos o aumento das atividades esta- tais, confiando mais nas corporações (revelando uma nostalgia pelas sociedades simples), como cientista social ele teria que reconhecer e ex- plicar esse fato. E foi como cientista - mais precisamente, como sociólo- go - que ele se contrapôs a Spencer. Rejeitando a visão contratual e utilitária deste, referente à ordem social nas sociedades industriais, as- sim como a sua noção do jogo livre dos interesses individuais, Durkheim acredita que a regulação social efetuada por um órgão central modera- dor constrangeria os indivíduos na defesa de interesses próprios. Con- tudo, embora se subentenda do seu raciocínio que as sociedades moder- nas poderiam executar a solidariedade sem atender à questão da desi- gualdade social, ele pouco se deteve neste aspecto. Sua preocupação principal residiu mais em descobrir os meios de restringir os desejos dos homens e de seus apetites individuais do que pensar na formas do atendimento de suas necessidades. POLíTICA SOCIAL 113 Diferente de Durkheim, a preocupação de Weber volta-se para ou- tra direção e envolve concepções distintas no que conceme aos valores morais e à inserção dos indivíduos na cultura utilitária, própria do Esta- do moderno. Destarte, ao destacar a importância das idéias em geral e da ética religiosa em particular, como influências fundamentais sobre o desenvolvimento do mundo ocidental, ressalta a importância e a auto- nomia das idéias dos indivíduossobre a sociedade. Isso não só contra- diz o pensamento de Durkheim - segundo o qual a ação social é expli- cada pelas funções que desempenha no atendimento de certas necessi- dades da sociedade - como se choca com a máxima de Marx de que a consciência é determinada pela existência. É com base nesses pressupostos que Weber, em vez de considerar os valores morais como fatores restritivos dos apetites humanos - como faz Durkheim - os vê como estimuladores dos esforços individuais para alterar padrões sociais estabelecidos. Portanto, se a preocupação de Durkheim com o desenvolvimento do Estado moderno, correspon- dente ao crescimento da industrialização, era com a destruição da or- dem social, a de Weber era com a rotinização da vida humana em decor- rência do domínio da burocracia total. A este causava temor, não a pos- sibilidade de desordem social, mas a predominância de uma ordem social tão poderosa que inibisse o indivíduo de participar com paixão da sua vida e do seu destino. Em suma, ao mesmo tempo em que Weber confiava na importân- cia da eficiência e da racionalidade da peculiar burocracia do Estado moderno - já que isso garantiria o fortalecimento e autonomia da na- ção - ele temia a sua supremacia sobre a vontade dos indivíduos. A possibilidade de que isso viesse a acontecer se explica pela se- guinte síntese do raciocínio weberiano: o quadro administrativo típico da dominação racional-legal, ou seja, a burocracia, constitui um elemen- to intermediário entre dominantes e dominados, tendo em vista assegu- rar a adequada efetivação do mandato dos dominantes. Contudo, como st burocracia nã x Ice a mediação entre os dois termos, no sentido I' 'f 11 um a utro , m con eqüência, desapare- 114 POTYARA PEREIRA cer, estabelece-se a possibilidade do instrumento apropriar-se da com- petência e do poder daqueles que o usam e transformar-se de meio em , fim. Neste caso, os dominantes perdem grande parte do controle exter- no sobre a burocracia, ao mesmo tempo em que os dominados passam a ser, em grande medida, submetidos aos seus desígnios. E isso, para um intelectual que privilegiava a participação do indivíduo na história da humanidade, não deixava de causar certo desencanto. Percebe-se que as teorias até aqui apresentadas, apesar de terem levado em conta o Estado, o seu crescimento e a sua complexidade, não se ocuparam de suas políticas e institucionalidades, sobretudo daquelas voltadas para proteção social. Dessa forma, tem-se a impressão de que, nlo que tange a este particular, tais teorias são relevantes apenas como marcos referenciais às formulações que condenam a intervenção estatal, as quais reaparecem nas concepções contemporâneas tratadas a seguir. Tomando Parsons como um expoente contemporâneo do pensa- mento sociológico, no marco da análise não-marxista, constata-se que as suas preocupações com o Welfare State só ocorreram a partir da década de 1960. Antes disso (fins da década de 1930), seu interesse teórico assenta- va-se no propósito de criar um quadro conceitual geral para a análise da ordem social, sem basear-se em evidências empíricas. Combinando o voluntarismo, de inspiração weberiana, com a visão durkheimiana se- gundo a qual os ordenamentos sociais são vistos como um sistema de elementos inter-atuantes, Parsons concebeu um esquema explicativo do caráter sistêmico da sociedade, sem relegar ao segundo plano os indiví- duos. Desse modo, contrariando Durkheim, não privilegiou o social so- bre o individual, nem a consciência comum sobre as orientações subjeti- vas das pessoas. Mas, seguindo Weber, destacou o papel das idéias como estimuladoras das ações, se bem que dentro de uma ótica mais otimista acerca do potencial positivo dessas idéias. Entretanto, como esclarece Gouldner (p. 134), depois da Segunda Guerra Mundial, a teoria de Parsons, assim como, de modo geral, as teorias vinculada à tradição d análi funcional, pa ou a v 1 riz r -.-_------- -- POLíTICA SOCIAL 115 aspecto social." Tanto foi assim que, em o "Sistema Social", livro publi- cado em 1951, Parsons deu ênfase à índole da interdependência sistêmi- ca das f~rças estab.iliz~doras do sistema, bem como aos mecanismos que o mantem em equilíbrio, tornando subsidiário o caráter estimulante dos valore~ e idéias. Foi. a partir daí que ele destacou a existência de quatro requerunentos funcionais necessários à sobrevivência de uma socieda- de ou de qualquer sistema social: a manutenção de padrões, a obtenção de metas, a adaptação e a integração. À manutenção de padrões relaciona o sistema cultural já que este, segundo. P~r~ons, s~ organiza em torno das características de comple- xos de significado SImbólico, que contribuem para a continuidade dos padrões de valores básicos. . À obtenção de metas relaciona a personalidade dos indivíduos, pois o SIstema de personalidade é a "agência primordial dos processos de ação" (Parsons, 1974: 14). Ao organismo conductual relaciona a adaptação, visto que se trata de um subsistema que inclui um conjunto de condições a que as ações devem adaptar-se e com- preende o mecanismo primário de inter-relação com o ambiente físico, sobretudo mediante a entrada e o processamento de informação no siste- ma nervoso central e a atividade motora para enfrentar-se as exigências do ambiente físico (Parsons, p. 15). .~ integr~ção relaciona o sistema social, destacando-se neste pré- requisito funcional a preocupação com a coordenação das unidades cons- titutivas do sistema e com o estabelecimento da harmonia e cooperação entre as partes. ~, "Mais ou men~s nessa mesma ~poca, também a versão do funcionalismo oferecida por Robelt~. Merton marufestou uma tendencia a restaurar o utilitarismo social. Merton encarou as ~nentaçoes subjetivas das pessoas (o componente voluntarista) de uma maneira totalmente 'secula- J'1zad~';ao Considerá~las como só um entre muitos fatores analíticos, desprovido de todo pathos sp ia], adotou explicitamenta como pOI1tOde partida as conseqüências funcí . d di • r ' lOnalS e lversasI outos 80 I IS' ( ouldn I~ p, 134). --~==---------------------------------------------------~---- 116 POTYARA PEREIRA Analisadas por essa lógica, as instituições de bem-estar pertencem ao subsistema integrativo, já que a sua principal função consiste em . manter o conflito e a desarmonia social em níveis mais baixos possíveis. Este é um raciocínio que permeia grande parte das análises atuais sobre política social. Mas a intervenção social institucionalizada, com vista ao bem- estar, é um fato que entrou posteriormente nas elaborações teóricas de Parsons e, mesmo assim, de forma tangencial. Na verdade, tal assunto só veio a merecer maiores considerações na obra de seu discípulo Smelser. u Consoante com o esquema sistêmico parsoniano, pode-se deduzir que o bem-estar assumido pelo Estado trata-se de um evento relaciona- do às mudanças nos arranjos institucionais prevalecentes e, como tal, algo que deve ser explicado dentro do processo de diferenciação social, responsável pela maior especialização das funções de integração. Essa explicação conduz, necessariamente, a se procurar relacionar a teoria parsoniana com a realidade histórica do Estado Socialnos Estados Uni- dos, pois, se esta teoria relutava em reconhecer relevância ao Welfare State - que ganhava corpo na própria pátria de Parsons -- é interessan- te saber o que o levou, posteriormente, a mudar de idéia. Sabe-se que na década de 1930,durante a Grande Depressão eco- nômica, a teoria de Parsons quase nada tinha a ver com os requeri- mentos exigidos por um incipiente Estado Social. "Como não acredita- va ser possível resolver a crise com os intentos da ajuda social do New Deal, a sociologia voluntarista de Parsons se orientou a determinar que era necessário integrar a sociedade apesar das privações gerais" (Gouldner, p. 137). Contudo, as marcas da Grande Depressão continuaram nosEsta- dos Unidos, mesmo após a Segunda Guerra Mundial, no início dos anos 1940,e a conseqüente prosperidade econômica americana. "A legislação do New Deal havia promovido novas expectativas e novos interesses criados entre os profissionais da classe média, assim como da class operária que havia captado um vislumbre do que o t d podia faz r POLíTICA SOCIAL 117 por ela" (Gouldner, p. 136).Foi aí que o Estado social ganhou visibilida- de nos Estados Unidos e se impôs como fato social aos cientistas sociais. Em vista disso, o enfoque sistêmico de Parsons teve de incorporar novos elementos, até então não estudados de forma sistemática, tais como: o poder, o governo e sua relação com os direitos de cidadania. Nesta fase aparece de maneira mais clara a sua disposição de privilegiar o sis- tem~sobre os indivíduos, em vista de sua manutenção, apoiado no con- sentImento de seus integrantes. Essa visão da solidariedade societal correspondia ao interesse prático do Estado Bem-Feitor em achar maneiras de obter lealdade e conformidade e a sua premissa operativa segundo a qual a estabilidade da sociedade se reforça mediante a conformidade às expectativas "legítimas" de estratos sociais despossuídos, dos quais se espera, por sua vez, que aceitem vo- luntariamente a ética convencional (Gouldner, op. cit., p. 138). Esta é a razão porque, só depois da Segunda Guerra Mundial, Parsons se interessou por teorias como a do inglês T.H. Marshall, que incluía nos direitos de cidadania os direitos sociais, reconhecendo, da mesma forma que o autor inglês, serem estes alvo de atenção pública. Além disso, admite ser necessária a existência de um governo mais forte do que os tradicionalmente existentes e a confiança nele depositada pelo povo (Parsons, 1960). Iss~, sem dúvida, representou uma mudança significativa nos pon- tos de VIstade Parsons, embora não indique uma reestruturação de seu esquema teórico. Na verdade, mesmo admitindo novas categorias ana- líticas, os seus quatro pré-requisitos funcionais permaneceram os mes- mos para todas as sociedades, em qualquer momento histórico. O que mudou foram as suas explicações dos arranjos institucionais por meio dos quais novas e diferentes funções seriam executadas, como pode ser at stado na sua análise sobre poder. !\í, Ib 1st 'I u xame girou em torno do sistema político, como um t rica m nt rr pond nt ao da conomia, dando gran- POTYARA PEREIRA 118 de ênfase à comparabilidade entre o conceito econômico de mediação (no sentido de distribuição) e o de poder político. Neste particular tem-se a impressão de que ele pretendeu solucionar o velho dilema referente à natureza do poder, que é o de definir se ele é um fenômeno de coerção ou de consenso. Na sua ótica, entretanto, o poder seria as duas coisas, já que, em sua estrutura lógica, é um meio generalizado do processo polí- tico, tal como o dinheiro é um meio generalizado do processo econômi- co. Sendo assim, o· poder é por ele considerado um meio simbólico ge- neralizado que circula e opera no processo de interação social, não lhe interessando saber quem é dominante e dominado, qual o grau de poder do d9minante, ou que conseqüências decorrem dessa polarização. O que mais lhe interessa demonstrar é que o poder, como o dinheiro, é um insumo (input) que pode ser combinado com outros elementos para pro- duzir certos tipos de produtos (outputs) funcionais (Gouldner). Percebe-se, assim, que mesmo sofisticando a sua análise a respeito do poder, a íntegração social continua sendo uma necessidade imperio- sa em sua teoria, à qual devem estar submetidos todos os fatos sociais emergentes, inclusive o bem-estar. Demonstrando maior preocupação com a análise do bem-estar, Smelser desenvolveu um raciocínio que, embora continue privilegian- do a integração social, encara o desenvolvimento como uma relação con- flituosa entre diferenciação e integração, redundando na união entre estruturas diferenciadas de sociedades, sobre novas bases. Assim, para Smelser, a mudança da indústria doméstica para a da produção fabril, por exemplo, criou problemas de integração. Os meca- nismos integradores que funcionavam no âmbito doméstico, mediados por parentes, vizinhos e conjuntos pré-modernos de relações, tornaram- se obsoletos ante o desenvolvimento industrial. Contudo, esse processo deu nascimento a várias instituições e organizações que, embora dife- rentes das anteriores, cumpriram função integradora tão eficaz quanto à exercida por aquelas. É o caso das Agências de Recrutamento e Inter- câmbio, dos Sindicatos, da regulação do governo por meio de políticas _ in lu iv a ia] -, da 5 i dad d o p raçã (Mi hra. 1 ). POLíTICA SOCIAL 119 Implícita nessa visão de mudança, via processo de diferenciação e recomposição da integração sobre novas bases, está a análise do bem- estar como mecanismo integrador nas sociedades complexas, mas em interdependência com as demais funções básicas do sistema. Desse modo, nas sociedades industrializadas, diferentes instituições desenvolvem o bem-estar como reforço adicional à família e aos grupos de parentesco, que ainda permanecem como uma estrutura importante de suporte aos indivíduos. Esta é a razão porque várias organizações formais e infor- mais, de cunho religioso ou laico, oferecem resposta às necessidades que, nas sociedades primitivas, dada a ausência de especialização, eram supridas pela comunidade e pelo parentesco. Nesse estágio de desen- volvimento, a religião, segundo Smelser, assumia um papel importante no processo de integração, pois é justamente ela - como organização e conjunto de crenças - que simboliza e articula a idéia de comunidade. Nessa fase, portanto, ela apresenta funções diferentes das que exercia nas sociedades simples, nas quais era vista mais como conjunto de cren- ças do que organização preocupada com o bem-estar (Mishra). Todavia, na sociedade industrial, conforme salienta Smelser, novas modificações foram introduzidas. Aumentou a especialização no traba- lho ao tempo em que se intensificaram a complexidade social, a mobili- dade espacial e ocupacional, fazendo com que a família, a comunidade e a própria igreja se enfraquecessem como organizações integradoras. Em compensação, novas estruturas especializa das e institucionalizadas sur- giram e se ocuparam do bem-estar, vinculadas não só ao Estado, mas também à empresa e a várias associações voluntárias. Foi nesse estágio que se destacou a intervenção do Estado Social, acompanhada da ação assistencial de organizações particulares como o mecanismo integrador por excelência da sociedade industrializada. Esta é a visão funcional mais divulgada do papel do Estado Social, chegando a influenciar análises que, mesmo se auto denominando de antifuncionais, enredaram-se nas malhas do raciocínio linear e evolutivo , .t ra d senvolvido por significativa parcela dos mais atuais esfor- ri POTYARA PEREIRA 120 4. Abordagem marxista e a questão do Estado social Alicerçada em outros pressupostos, a teoria aqui chamada de m~r- xista coincide, pelo menos num ponto, com as teorias tratadas na seçao anterior: seu pequeno interesse pela análise do Estado Social. Mas, antes de se apreciar a contribuição que essa teoria, ainda que indiretamente, legou ao estudo da política social, convém fazer um es- clarecimento a respeito do que se está denominando de abordagem marxista. Trata-se, sem dúvida, do próprio pensamento de Marx e da- queles autores que, mesmo introduzindo em seus estudos novas cate- gorias::deanálise, mantêm suas idéias básicas alicerçadas no pensamen- to marxiano." Partindo de Marx, tem-se que a discussão a respeito do bem-estar desloca-se do âmbito do Estado para o da sociedade. Isso porque, pre- vendo a extinção do Estado, Marx não vê como se daria o bem-estar ~o marco das atividades estatais. O Estado, para ele, tem o mesmo efeito dominador em qualquer regime, não importam as formas~e g~vemo que venha a apresentar: é sempre um instrumento de domm:çao e de manutenção da estrutura de classes. Assim, somente quando o Estad~ for superado e substituído por uma sociedade sem classes, conhecer-se-a o bem-estar. Entretanto, além de suas convicções intelectuais e políticas contra o Estado e, conseqüentemente, contra o capitalismo, um outro fato deve ter contribuído para o desinteresse de Marx pela análise do Esta~o ~o- cial: em sua época, tanto as instituições de bem-estar quanto as propn~s políticas sociais eram escassamente desenvolvidas, a~esar da.,expressao que a intervenção estatal vinha ganhando desde os fins do seculo XIX. 8. Tal ressalva justifica-se dada a multiplicidade de tendências ma~xistas que se desenvolve- ram através dos tempos _ cada uma delas julgando-se a vercladcira intérprete de Mar~ ~ a pont~ de o marxismo se constituir, hoje em dia, em campo de disputas entre correntes ~ompetltJ.vas. É. por . o ciente de que a escolha dos autores que irei analisar não esteja unune a críticas, ISSO que, mesm .. - d f'd acredito que a convergência de postulados básicos é o melhor critério de id ntificaçã a 1111 a- d s ntr fundad r s s gllidor s d 88 para ligrn . POLíTICA SOCIAL 121 Com efeito, se se quiser detectar o interesse de Marx por algum aspecto relacionado à ação interventora do Estado, no campo social, será na legislação fabril que se deverá deter (Mishra). Aí ele parece ter sido ímpar, dentre os principais teóricos clássicos, no empenho em analisar com detalhes os Atos de Fábrica e retirar frutíferas ilações a respeito das possibilidades de desenvolvimento do bem-estar nas sociedades capita- listas. Foi nesse trabalho, caracterizado como uma espécie de estudo de caso, que Marx dá a impressão de reconhecer na legislação fabril um passo positivo em direção a reformas sociais no capitalismo. Para ele, de fato, a legislação fabril foi a primeira reação consciente e sistemática dos trabalhadores contra as condições espoliadoras de vida e de trabalho a que estavam subjugados (Marx, 1975a: 402), não importa que outros grupos e classes sociais tenham apoiado (estrategicamente) tal legisla- ção - como foi o caso da aristocracia agrária. O significativo para ele foi a ação da classe trabalhadora na conquista dessa legislação. No entanto, essa postura de Marx em relação ao caráter reformista da legislação fabril constitui um ponto polêmico quando a comparamos com as suas propostas de mudança revolucionária." Como diz Mishra, um exame menos atento, neste particular, parece indicar que Marx pos- sui duas visões de mudança: uma, revolucionária, resultante do con- fronto entre forças produtivas e relações de produção (com superação desta) e, outra, reformista que, no caso da legislação fabril, parece indi- car um processo desenvolvimentista em que as mudanças se dariam gradualmente, mediante a ação da classe trabalhadora dentro da pró- pria lógica do sistema capitalista. De fato, Marx encara com otimismo as reivindicações dos trabalha- dores contra o Estado, no século XIX,para que este criasse medidas 9. "Por reformismo entende-se (...) uma corrente política dentro do movimento operário que nega a necessidad d luta de classe, da revolução socialista e da ditadura do proletariado e pensa que pode cons gulr o socialismo unicamente com reformas, em colaboração com outras classes ( ... ). 01110 X rnplu ~I H 11'II1Wli'(1~ OIT·nt s reformistas, têm-se, entre outras, a dos bernsteinianos \ I nutsktanos, no i\h\lllilllhll; u ilt'onol1'\lstas os 111 nch viques na Rússia: e os austromarxístas, na Ali ll'll1" (I<. \1'1\11111, I 1/7 11) 122 POTYARA PEREIRA limitadoras dos abusos nas relações de trabalho da época, mas o faz com reservas. Para ele, tal mobilização trabalhista representou um passo ini- cial para a explicitação de contradições no capitalismo, cujo enfrenta- mento era considerado um caminho histórico importante para a disso- lução dessa forma de produção e estruturação de uma nova forma (Mar x, . p. 90). Com isso, toma-se evidente que, na visão de Marx, a legislação por si só não traria a justiça almejada pelos trabalhadores, já que ela seria administrada por frações da burguesia que fazem parte do próprio Estado como seu comitê executivo. Daí as denúncias por ele feitas ao descumprimento das leis com a complacência do Estado, bem como das manipulações e das formas capciosas de se apurar irregularidades, pra- ticadas pelas autoridades parlamentares, em detrimento dos interesses dos trabalhadores. c Disso resultou o seu ceticismo não só a respeito da eficácia da legis- lação fabril, mas de toda e qualquer medida de bem-estar realizada numa sociedade de classes, porque, neste tipo de sociedade, a ausência de pro- teção social efetiva das massas, ou mesmo dos trabalhadores, constitui um fenômeno próprio do modo de produção capitalista. Por isso, neste sistema, haverá sempre pobres, não obstante a utopia das reformas das condições burguesas de exploração. Seguridade para todos, no seu pon- to de vista, só ocorrerá quando existir a propriedade coletiva dos meios de produção, o que significa que, do produto total do trabalho se obte- nham os meios para o sustento dos incapazes de trabalhar e para a ma- nutenção de instituições como escolas e hospitais (Marx, 1975b). Contudo, ao mesmo tempo em que ressalta o poder do Estado so- bre a classe trabalhadora e o controle que aquele exerce sobre esta, por meio de medidas reguladoras de reprodução social, Marx deixa claro na sua análise sobre o Estado que este é necessário ao movimento histórico que conduzirá a uma sociedade sem classes. Em outros termos, coeren- te com a sua idéia central de que a passagem para o socialismo se daria quando se concretizassem todas as etapas do processo de formação do capitalismo, ele vê a existência do Estado burguês - resultante da rela- ção entre forças econômicas e formas políticas - C011'1O uma up I' tru- tura imp rt nt que, a gOl!' ntir r pr li. d. ) ~it I POLíTICA SOCIAL 123 acumulação, acentua as contradições do sistema capitalista, contribuin- do para a sua deterioração. E mais, que nesse contexto relacional entre estrutura e superestrutura, o Estado não se constitui um fato supérfluo e separado da sociedade civil. Na verdade, a sociedade civil, isto é, as relações econômicas, vivem no quadro de um Estado determinado, na medida em que o Estado garante aquelas relações econômicas. Pode-se dizer que o Estado é parte essen- cial da estrutura econômica, é um elemento essencial da estrutura econô- mica, justamente porque a garante (Gruppi, 1987:27). Há, portanto, na dinâmica do funcionamento do Estado capitalista, a existência de contradições, assim configuradas: a máquina estatal ser- ve amplamente aos interesses da classe dominante, mas a sua própria universalização exige que ele dê atenção à sociedade como um todo. Assim, da mesma forma que ele ajuda a explorar os trabalhadores, tem de atender as suas reivindicações. Está implícita neste raciocínio a idéia da existência de dois níveis de contradições que vão ser exploradas pelos seus seguidores, especial- mente Poulantzas (1981): o das contradições principais, resultantes da luta entre classes antagônicas, e o das contradições secundárias, resultantes das relações contraditórias entre classes e frações de classes no próprio seio do Estado. Estas contradições são aguçadas pelas principais que, por sua vez, são as responsáveis reais pelas mudanças revolucionárias que de- verão ocorrer no sistema capitalista, redundando na sua extinção. E foi a este tipo de contradição que Marx deu maior atenção. Vê-se, então, que a idéia de revolução em Marx é a pedra angular de sua teoria e está presente, de forma coerente, em toda a sua obra, in- cluindo os escritos de sua juventude. Tal idéia parte do princípio da crítica desenvolvido pela esquerda h geliana, mas tomado por Marx em sentido mais amplo e dentro dap r p tiva mat rialista. Para Marx, o poder material deve ser destruí- I p r m t ri I, viabilizando-s tal destruição pela "práxis revo- I I i /1. I'i li, Gi, I )1' lU I no nt vi t , a r v lução precisa de 124 POTYARA PEHIIKI\ um protagonista que seja capaz de empreender o ato da auto-realização do homem. Esse protagonista é o proletariado que, por ser injustiçado, converte-se em libertador dos oprimidos, depois de superada a sua auto- alienação. Nessa postura humanística do jovemMarx, detectável em suas obras A Questão Judaica e a Crítica à Filosofia do Direito de Hegel, já se vislumbra o princípio da luta de classes que, posteriormente, vai constituir um dos fundamentos de sua postura revolucionária. Mas, nessa postura perce- be-se, também, ao lado da perspectiva objetiva da revolução, um rasgo subjetivo, haja vista que, no seu entender, a revolução é determinada por condições materiais, porém reforçada por elementos imateriais en- tre os quais a vontade. Esta é uma outra questão polêmica em torno de Marx, já que a sua referência à vontade no processo revolucionário tem sido alvo das mais diferentes interpretações. Porém, o que é nítido e pacífico em sua obra é a concepção de que a revolução é o resultado de um processo histórico que se desenvolve dialeticamente, graças ao choque entre forças produtivas e relações de produção, sem descartar o papel das forças vivas no movimento da his- tória. Disso se conclui que a história e a vontade são dois elementos presentes na teoria revolucionária de Marx e do marxismo, podendo ser detectados, juntos ou não, em várias passagens do pensamento do mes- tre e de seus seguidores, o que afasta qualquer laivo de mecanicismo nestes autores. Assim, na polêmica travada com Proudhon em A Miséria da Filosofia, Marx fala da oposição entre proletariado e burguesia como a luta de classe contra classe que, levada a sua mais alta expressão, signi- fica a revolução total na qual aparece o choque do "homem contra o homem como última solução". E no prólogo de O Capital, ele fala da lei econômica do movimento da moderna sociedade como uma tendência que não comporta saltos nem variações fora das fases naturais de seu desenvolvimento. Com Engels, Marx refere-se à revolução como um processo com- posto de elementos econômicos, culturais e políticos que s influenciam mutuamente, t ndo, porém, no econômico, o det rmii < t prin ipal. 1'01 III( A ~ IAL 125 Nesse sentido, são as modificações das forças produtivas que revolucio- nariam o processo de trabalho, derivando daí repercussões sobre outras instâncias. Todavia, essas modificações não são produtos de processos naturais que se realizam independentemente da vontade; para que haja t~ansformação das forças produtivas, é necessária a participação cons- CIentedas classes subalternas. A mobilização das massas trabalhadoras, imersas no progresso econômico, dá-se justamente pela tomada de cons- ciência da miséria crescente do proletariado nessa situação de progres- so. A necessária e crescente consciência do homem no processo de traba- lho se converte na consciência do processo de trabalho. Daí que o cho- que entre as forças produtivas e relações de produção se caracteriza tanto como um processo revolucionário que se dá objetivamente como uma ação subjetivamente conduzida. _ Dessas colocações deduz-se que, para Marx, a pobreza e a riqueza sao resultantes do modo de produção de uma dada sociedade e que, sob a exploração capitalista, o bem-estar é sempre uma conquista da classe trabalhadora. Isso porque, no sistema capitalista, a gestão da riqueza deixada à mercê dos mecanismos impessoais do mercado, não leva em conta as necessidades humanas e o princípio da cooperação. Pelo con- trário, impera, sob tal regime, a coerção e a competição. Sendo assim, os valores do bem-estar não podem fazer parte desse tipo de sociedade. Para que haja prevalência desses valores torna-se necessário que a pro- dução seja regida por um critério social e a distribuição pelos imperati- v?s das necessidades humanas. Isso, por seu turno, requererá que o domí- mo do mercado, da propriedade privada dos meios de produção e da produção para o lucro seja extinto e haja o controle comunal sobre as condições de trabalho e de vida. As condições para tal transformação, segundo Marx, já estão presentes na própria sociedade capitalista, de- vendo apenas ser acionadas. Esta deve ter sido a razão por que Marx prestou pouca atenção às Poor Laws e às políticas de saúde, de educação pública, e d habitação, realizadas no século XIX,preferindo, ao contrá- rio, encar I' OS pr 1 mas que as ensejaram como peças de acusação con- tra o L t n 11 H li t contra a plausibilidade das reformas sociais. M" 11)( \I ('I, ( li! lu t I nt aí o mbrião de uma possível teoria -------------------==-~-==========------------ 126 POTY ARA PEREIRA marxista da sociedade de bem-estar que, embora negadora do Estado, encontra-se na base desta Instituição. Está aí também a explicação fun- damental para que se possa entender os dilemas e as limitações da polí- tica social no capitalismo, trabalhados mais profundamente pelos segui- dores de Marx. Pode-se dizer que foi a partir dos anos 1960 que houve no campo marxista um despertar de interesse teórico pela intervenção social do Estado e, conseqüentemente, pelo chamado Estado de Bem-Estar. Afi- nal, as mudanças verificadas na estrutura e nas competências do Esta- do, inexistentes na época de Marx, precisavam agora ser explica das, dando-se ênfase aos aspectos políticos e sociais presentes no funciona- mento do Estado capitalista. Assim, os desenvolvimentos teóricos mar- xistas têm procurado compensar a falta de teorização acerca das insti- tuições políticas com um debate que, não muito diferente das preocupa- ções liberais a respeito da controvérsia entre elitismo versus pluralismo, visualiza o Estado ora como um Estado capitalista tout court, ora como um Estado na sociedade capitalista, rechaçando as duas principais pos- turas hoje consideradas limitadas: a que considera a mudança política como puro resultado' da ação das classes sociais; e a que vê o Estado como o condutor de todo o processo de mudança porque as classes so- ciais são débeis. No cerne dessas preocupações está, sem dúvida, a postura teórica e metodológica de, ao rechaçar as polaridades entre Estado e Sociedade, ou a mera luta de classes contra classes, delinear o espaço ou as arenas dentro das quais ocorrem relações contraditórias de poder, ou relações de forças decorrentes das contradições principais e secundárias, a guisa de Poulantzas (1981), bem como a maneira como se dão essas relações. Por essa visão, não apenas deverá ser privilegiado o processo histórico da intervenção do Estado - como já é usual nas análises mais recentes do desenvolvimento político, por parte daqueles que começaram a ne- gar a eficácia explicativa das teorias sistêmicas" - mas analisar as cone- 10.É o os d l luntlngt n, Apt 1',Barrlngto: Moor )1'., ntr LI!!' s, POLíTICA SOCIAL 127 xões entre os que têm poder (dentro do aparato do Estado) e os que se encontram alijados dele. Ou seja, interessa saber quais são e como se dão os mecanismos específicos de poder no contexto do capitalismo avançado. A descoberta dos trabalhos de Gramsci foi, inegavelmente, o fator decisivo para a adoção dessa postura analítica. Foi a partir dele que se começou a questionar a validade de se pensar a esfera política como uma dedução quase que automática da infra-estrutura econômica. Com Gramsci foi possível conceber o Estado como uma esfera passível de possuir autonomia, mesmo que relativa, colocando-se acima e além da sociedade civil em situações de crise de hegemonia e, portanto, de insta- bilidade. Mas, tal autonomia, ao mesmo tempo em que decorre da capa- cidade organizacional do Estado frente às forças sociais conflitantes, re- sulta também do apoio que este recebe dos estratos sociaismais impor- tantes sediados no pacto de dominação. Sendo assim, tal autonomia não pode ser vista dissociada da sociedade. Foi com base nessas formulações que grande parte dos marxistas preocupados com a questão do bem-estar desenvolveu as suas reflexões. Uma das mais antigas análises marxistas sobre o welfare state é de [ohn Saville (Mishra, 1982). Combatendo, como já comentado, a visão social-democrata do welfare state do segundo pós-guerra, de que este seria um produto do movimento socialista e que, no que tange à seguri- dade e à igualdade, teria alcançado avanços significativos, apresenta argumentos que contradizem essa visão. Para ele, o desenvolvimento do Estado Social é o resultado da interação de três principais fatores: a luta da classe trabalhadora contra a sua exploração; a necessidade do capitalismo industrial em possuir uma força de trabalho cada vez mais produtiva; e o reconhecimento da classe proprietária de que é necessá- rio pagar um preço pela segurança política do regime. Eis porque, mes- mo sendo um resultado da luta operária - fato que Saville, como mar- xi ta, enfatiza - as políticas de bem-estar, a seu ver, não deixam de ser um rranjo da burocracia estatal (e, portanto, da classe média que a com- ) rvi d a urnulação da estabilidade política. Sendo assim, POTYARA PEREIRA 128 , . _ absolutamente, a estrutura de classe além de tais polIt~ca~nao ~feta:;: oneram a classe trabalhadora, já que da sociedade capitalIsta, e as ai (5 -U 1996). _ de parte, financiadas por essa classe aVI e, sao, em gran ff elegeram como De forma semelhante, autores c~mo Ddo~~W' J:a~chegam à mes- /1' texto norte-amencano 'foco de ana ise o con. _ d E t do inclusive na esfera social, ma conclusão de que a mtervençao o s a, .' visa à manutenção e à reprodução do sistema capitalIsta. .' . torno do intervenClOnlSmO C t do os argumentos marXIstas em on u, ando-se mais complexos e passaram a incorporar ca- estatal foram tom _ I' 'tas na teoria de Marx e/ . ar nao estarem exp lCI tegorias analíticas que, P lvi t dessa teoria. É o caso de - .d d s desenvo VImen os Engels, sao const era a d d 'd/ gramsciana de autonomia relativa Ia retoma a a 1 em dPou antzas, com f A •a às crises fiscais do Esta o d O'C nnor com a sua re erenctdo Estado; e o, fl - sobre os mecanismos se- Cl Off com a sua re exaobem-feitor; de auss e,. _ t 1 de Gough considerado por d dommaçao esta a , e , letivos do processo, e lh b dagem marxista da economia 5aville (1996) o realizador da me or a or política do Welfare State, nos fins dos anos 1970. O'C Vejam-se, sucintamente, as contribuições de poulandtzasg:andeo:~~ . -:=J d rimeiroll Claus Offe - que eu para, a segillr, falar-se o P d ( lhe garantem caráter de elas- ção aos processos internos:od~:t~e:_~~:xistas europeus que, como já se) - e de Ian Gough, u Off m grupo de críticos do sistema .' f omO'Connore eu . mdIcado, ormou ~ O'G ffe _ amálgama (acrossemia) das pn- capitalista, conheCIdo como o A meiras sílabas dos sobrenomes dos tres autores- . d fIações marxianae e(1981' 91) extrapolando as ormupoulantzas ., t . 1 a'dID1'te-o em certos casos, tal do é d to da base ma erra , 'que o Esta o e pro u . relativa Desse modo, argu-. dotado de autonomIa .como GramsCl, como , . . trumento de capitalis- d - 'um utenslho ou um ms menta que o Esta o nao e lh do Estado mas está compro- ..' param o apare o ,tas indIVIduaIs que ocu . te) com os interesses da classe metido (mais política do que economlcamen . Hoie ele defende um socialism que nã romp 11. Claus Offe identificado c.orn~:.:rx:::~~mo ~6s-industrial (v r tuu , I 8). om a lógico 10 m r ado, d nomllla ' e POLÍTICA SOCIAL 9 129 capitalista. Nesta perspectiva, o Estado capitalista expressa um caráter de classe, possibilitando, dessa forma, a dominação política da burgue- sia sobre a sociedade, já que esta seria incapaz de governar diretamente. Em vista disso, a autonomia do Estado não se daria como algo externo às classes representadas no bloco no poder, mas resultaria da dinâmica interna do Estado ou das contradições secundárias presentes no seu in- terior - que contrapõem frações de classes entre si. Esta autonomia semanifesta concretamentepelas diversasmedidas con- traditórias que cada uma dessas classese frações,pela estratégia especí- fica de sua presença no Estado e pelo jogo de contradiçõesque resulta disso, conseguem introduzir na política estatal, mesmo sob a forma de medidas negativas: a saber,por meiode oposiçõese resistênciasà tomada ou execuçãoefetivade medidas em favor de outras fraçõesno bloco do poder (é, particularmenteo caso,hoje em dia, das resistênciasdo capital nãomonopolistafrenteao capitalmonopolista).Essaautonomiado Esta- do em relaçãoa tal ou qual fraçãodo blocono poder existe,pois, concre- tamente comoautonomia relativa de tal ou qual setor, aparelho ou rede do Estado em relaçãoaos outros (Poulantzas, p. 155-6). Mais interessado em apontar as contradições e crises do Estado de Bem-Estar, O'Connor (1977) argumenta qu~ as duas principais funções por ele assumidas - a acumulação, visando o crescimento econômico mais generalizado, e a legitimação, visando à criação de condições de harmonia social- são mutuamente contraditórias. Isso porque, enquan- to que os gastos do Estado relacionados às primeiras funções tendem a crescer, as possibilidades de se levantar recursos adequados e suficien- tes para arcar com esses gastos tendem a diminuir, já que o excedente econômico continua sendo apropriado pelos grupos privados. Há, por- tanto, uma tendência dos gastos públicos a crescer mais rapidamente do que os meios para financiá-los, gerando crise fiscal. Tal crise, entre- tanto, tende a exacerbar-se pela pressão de vários interesses específicos br o orçamento público, visto que não só os pobres, os desemprega- trabalhadores exigem participação nos gastos estatais, mas tam- raç a indústrias. E desde que tais exigências são rea- ;0 POTYARA PEREIRA .zadas por meio do sistema político (e não só do mercado) não há o quilíbrio idealizado; há, sim, crise e instabilidade fiscal, ameaçando a ,iópria base produtiva. Essa é, segundo Mishra (1989), uma das raras contribuições à eco- iomia política do Estado Social, de corte marxista. Offe, por sua vez, no intento de ir mais além das explanações ge- "ais sobre o papel do Estado capitalista e das relações de poder tratadas oor outros autores contemporâneos, construiu um modelo de análise da estrutura interna do Estado e da sua racionalidade administrativa (Offe, L972). Este autor introduz a idéia da dominação estatal através de processos seletivos, o que implica dizer que o Estado tem que extrair de interesses muito limitados e específicos dos grupos dominantes um interesse de classe geral, ao mesmo tempo em que assegura a exclusão de interesses anticapitalistas - o 'segundo mecanismo seletivo (Boschi, 1979: 44). Em outras palavras, esses mecanismos que envolvem uma ampla gama de arranjos institucionais dentro do aparelho do Estado, op'~ram em um sistema hierarquizado de filtro contendo quatro níveis (estrutu- ra, ideologia, processo e repressão) cada um servindo para excluir os ele- mentos não filtrados :f)elas instâncias anteriores. Assim, a estrutura de cada sistema político constitui um espaço consolidado institucionalmente onde coexistem formalmente premissas e bloqueios à ação institucional. Dessa forma, ela inclui elementos como garantias constitucionais à pro- priedade privada, excluindo, portanto, uma ampla variedade de políti- cas anti-capitalistas da agenda do Estado. Se, porém, algumas políticas escapam à estrutura, elas podem ser controladas por mecanismos ideológicos caracterizados por normas ideo- lógicas e culturais que restringem certas medidas sancionadas pela es- trutura. Desse modo, "somente uma parte da política estruturalmente possível pode ser atualizada, no contextodas restrições normativas vi- gentes" (Offe, P: 15). Além disso, regras pr u i, u s ja, procedi- m nto d t ma d d i ã P llti ti ri! I 01 II 'I) me i nt qus i -- ----------------------- POLíTICA SOCIAL 131 é assegurad~ tratamento preferencial a certos temas e grupos de interes- ses, e~ detrimento de outros. Relacionado a esse procedimento está o conceIto de não-decisão, segundo o qual uma série de questões nunca chega à arena decisória ~elevante, sendo, por isso, eliminada ou relega da a segundo plano pelo SIstema político. Finalmente, o aparelho repressivo entra em cena para excluir cer- tas alte~nati~as que escapam ao controle dos demais níveis, por meio da repressao direta realizada por órgãos policiais, exército ou justiça. . Para da~ ~onta .desse tipo de explicação, Offe dá especial atenção ao SIstema administrativo, embora não menospreze o sistema econômico e o político. Resulta clara, assim, a sua ênfase no funcionamento do apa- rel~o do Est~do corno uma forma de apreender os arranjos institucio- nals. que estao por trás da definição de determinadas políticas. Nesse sen~l~o, ele oferece também uma análise dos mecanismos de seleção pOSItIVOSdo Estado caso essa seleção favoreça determinada classe. Con- tudo, a seu ver, dadas às contradições internas ao Estado, é difícil o esta- belecimento de um: política no in~eresse de todas as classes ou frações ~e classe ~ue co~poem o Estado. E por isso que o Estado tende a plane- Jar com VIsta ao rnteresse do capitalismo como um todo, o que determi- na a sua natureza de classe. . Em que pese as dificuldades de demonstrar empiricamente o fun- cionamenro desses mecanismos, em períodos não atravessados por cri- ses, Offe mostra que tais mecanismos transformam o "Estado na socie- dade capitalista" em um "Estado capitalista". No que se refere ao Welfare State, Offe, assim como os demais auto- res marxistas revisados, entende que, nas sociedades capitalistas avan- çadas, (independentemente de elas serem Estados de Bem-Estar adian- t~dos ou atrasados) há a coexistência contraditória da pobreza e da afluên- CIa e, conseqü;n.temente, da lógica da produção industrial voltada para o lucro, e da lógica das necessidades humanas, sem que a política social resolv~ es:a contradição. ~fetivamente, se o desenvolvimento da políti- ca ~lal nao pode ser explIcado, exclusivamente, a partir das necessida- in] 1" d d ..man as SOCIaIS,mas pela transformação dessas exi- 132 POTYARA PEREIRA gências em políticas, pela máquina estatal, resulta óbvio que tais políti- cas não podem cumprir sua promessa de igualdade, de socialização dos bens produzidos na sociedade e nem estimular sentimentos de confian- ça, lealdade e esperança por parte dos despossuídos. Tal socialização, quando há, tende a visar muito mais as empresas, o que, procedendo-se uma avaliação de quem mais se beneficia com a política social, desco- bre-se que o Welfare State é melhor definido" como o capitalismo para os pobres e socialismo para os ricos" (p. 213). Quanto a Gough (1979, edição inglesa; 1982, edição espanhola), sua abordagem da economia política do bem-estar fez ressurgir, conforme Cabrero (1982), estudos dessa natureza no âmbito da política social. Sua grande contribuição consistiu em reorientar o predomínio da análise marxista, de corte funcional, a respeito das origens, processamento e conseqüências da chamada crise do Estado de Bem-Estar, nos fins dos anos 1970, dando realce ao seguinte fato: de que o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar nas sociedades capitalistas avançadas reflete a na- tureza da dinâmica dessas sociedades e de suas contradições. São essas contradições, segundo ele, que permitem considerar o Estado de Bem- Estar como um instrumento a serviço tanto dos interesses dos capitalis- tas quanto das lutas políticas da classe trabalhadora organizada - rom- pendo com a visão de que este Estado estaria apenas comprometido com a burguesia. Nesse aspecto, Gough, à semelhança de O'Connor e Offe, com os quais constituiu uma corrente de pensamento afim, confir- ma o que sobre a sua produção se expressou Peter Leonard (1979): todo trabalho marxista sensato e cuidadoso a respeito do Estado e da economia tem que evitar cair tanto no funcionalismo quanto no volunta- rismo, ou seja, tem que evitar contemplar o Estado de Bem-Estar como totalmente opressivo ou como um bastião do socialismo dentro de uma economia capitalista (p. 4). Além disso, do ponto de vista metodológico, Gough demonstrou que o estudo da política social imprescinde do conhecimento crítico da relação entr conomia hi tóri ,a im m da c mpr li ~ t, I i --------------------=-. POLíTICA SOCiAL 133 do movim:nto do capital, por meio da qual o processo de constituição e desenvolvImento dessas políticas - incluindo as lutas de classes - pode ser adequadam~nte captado. Não foi à toa, pois, que este autor elegeu como seu paradIgma de análise o materialismo histórico. * * * São estas, para efeitos de introdução à análise das teorias sociais das políticas de bem-estar, as principais abordagens (marxistas e não- marxistas) selecionadas, dada a sua presença, direta ou indireta, nas di- ferentes tematizações dessa matéria ao longo do tempo. Mas, além des- tas, outras aproximações teóricas, de cunho mais político, são compul- sadas no estudo da relação contraditória entre Estado e sociedade, da qual ~ecorre a política social como processo contraditoriamente estraté- gico. E com o objetivo de abarcar um arco mais amplo de análise sobre a~ preco~d~ções para o surgimento da política social que se desenvolve- ra, no proximo capítulo, uma reflexão sobre o Estado versus Sociedade pondo de relevo, igualmente, as principais análises clássicas e contem- porâneas. . E isso será feito com a intenção de fornecer explicações teóricas mais amplas sobre um tema que, de regra, tem sido pensado e tratado de forma pragmática.
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