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CONSTRUÇÃO CIVIL Alessandra Martins Cunha André Luís Abitante Caroline Schneider Lucio Lélis Espartel Ronei Tiago Stein Vinicius Simionato Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 C756 Construção civil / Alessandra Martins Cunha ... [et al.]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 352 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-048-1 1. Construção civil. 2. Indústria da construção. I. Cunha, Alessandra Martins. CDU 69 Alvenaria: materiais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar blocos naturais de arti� ciais. Relacionar os materiais necessários para a execução das alvenarias. Identi� car o bloco ideal para alvenaria de vedação e/ou estrutural. Introdução A qualidade de uma obra é totalmente dependente da qualidade dos materiais empregados. Os principais insumos constituintes das alvenarias são: os tijolos ou blocos, a argamassa e o graute (no caso de alvenaria estrutural). São muitos os materiais existentes para a produção de tijolos e blocos, comumente denominados componentes da alvenaria. Os mais comuns e utilizados são as cerâmicas e os concretos, cada um deles com suas características e finalidades próprias. Neste capítulo você vai entender que um elemento tão versátil como a alvenaria precisa atender a várias situações, sem descuidar dos itens básicos: resistência mecânica, peso, absorção de umidade, características de isolamento e condução térmica, tipo de superfície e sua compatibi- lidade com o acabamento previsto, seja este pintura, revestimento com argamassa ou placas de algum material. Alvenaria A alvenaria é um conjunto de pedras ou blocos artifi ciais que são travados entre si, formando uma estrutura rígida. No início, para a construção de paredes e edificações, os blocos eram realmente apenas travados entre si; mais tarde, surgiu o barro como o primeiro elemento de ligação a ser usado. Na metade do século XX, era utilizada a argamassa de cal e areia. Atualmente é empregada a argamassa de cimento, cal e areia. Em substituição à cal, podem ser utilizados produtos químicos (fartos no mercado). Os aditivos ajudam a melhorar as propriedades da argamassa, como a trabalhabilidade, porém, o custo e o consumo de cimento são maiores. A argamassa de cal tem de ser preparada com antecedência, pois deve ser realizada a queima da cal. Caso contrário, continuam ocorrendo reações químicas (liberando calor) após a aplicação da argamassa. Já foram feitas experiências sobre a possibilidade da utilização de arenito em vez da cal na argamassa, mas ainda não existe consenso a respeito da proporção de arenito a ser utilizada na mistura. Quanto à natureza dos materiais empregados, as alvenarias se classificam da seguinte maneira: Alvenaria de blocos naturais: utiliza blocos encontrados na natureza, como basalto, granito, arenito, etc. Alvenaria de blocos artificiais: utiliza blocos produzidos a partir de processos industriais, como tijolo de barro, solo-cimento, blocos de concreto, tijolos sílico-calcários, placas pré-moldadas, etc. Você vai ver agora mais detalhes sobre cada uma dessas classificações. Alvenarias de blocos naturais As alvenarias de blocos naturais possuem as seguintes características e particularidades: Material: blocos de basalto, granito e arenito. Dimensões dos blocos: geralmente de 25 x 25 x 30 cm. Peso de um bloco: varia de 45 a 50 kg, pois o material tem elevado peso específico. Custo dos blocos: equivalente ao preço dos tijolos maciços comuns. Argamassa: é preciso ter muito cuidado na dosagem de cimento e areia, pois ela deverá ser compatível com o tamanho do bloco, para que não haja fuga da argamassa. A argamassa deve ser firme, sem muita água, de tal maneira que se coloque o bloco sobre ela e este se amolde sobre a argamassa. Geralmente o traço é de 1:3 de cimento (e cal) e areia. Consumo de argamassa: 50 l/m2. Consumo de blocos: 14 a 16 blocos/m2. Peso dos blocos: 700 kg/m2. Construção civil 174 Juntas: as juntas de argamassa entre os blocos deverão ter uma es- pessura de aproximadamente 2,5 cm. Quanto menor a junta, melhor. Amarração entre as fiadas: fiadas são camadas de tijolos ou pedras. As fiadas sucessivas deverão ter as juntas desencontradas. A primeira fiada deve ser bem nivelada. Transporte de blocos: é feito com carrinho de mão, padiola ou planos inclinados. Emprego das alvenarias de blocos naturais: paredes em subsolos, muro de divisa, muro de arrimo, fundações isoladas e contínuas, paredes à vista (os blocos devem ser todos do mesmo tamanho, e emparelhados com talhadeira nas 6 faces). Vantagens: possuem grande resistência, maior durabilidade e grande impermeabilidade e, especificamente no caso de muro de arrimo, têm como grande vantagem o elevado peso próprio. Desvantagem: possui excesso de peso, tornando a mão de obra muito onerosa. Além dos itens que você leu acima, existe a chamada experiência. Você deve-se ter conhecimento de qual é a dimensão, posição que melhor se encaixa o bloco na camada, em função de seu peso. Vamos fazer agora uma comparação entre a alvenaria de blocos naturais (granito ou basalto) e os tijolos maciços. Os custos do bloco se assemelham com os do tijolo maciço. Quanto ao consumo de argamassa, podemos dizer que esse aspecto é semelhante em ambos os tipos. Já a mão de obra para o transporte de blocos é maior do que a necessária para o transporte de tijolos maciços. As vantagens dos blocos são o melhor isolamento térmico e acústico e a maior resistência e durabilidade. Um bloco corresponde a até 10 tijolos maciços. Existe ainda o tijolo de barro cru, também conhecido como “Adobe”, que foi muito utilizado na antiguidade, mas hoje praticamente caiu em desuso, pois precisa de cuidados especiais para resistir às intempéries. 175Alvenaria: materiais Alvenarias de blocos artificiais Tijolos e blocos cerâmicos O tijolo maciço é muito usado na execução de muros e alvenarias portantes. Não devemos empregá-lo para a execução de fundações devido ao fator durabilidade (ele pode deteriorar com a umidade do solo). Dimensões: 5,5 x 11 x 23 cm Peso: 2,4 a 2,5 kg/bloco Consumo: paredes de 25 cm = 120/m2/ paredes de 15 cm = 60/m2. Os blocos cerâmicos podem ser de vários tipos, mas os mais comumente encontrados são os de 4 furos (11 x 11 x 23 cm), 2 furos (11 x 5,5 x 23 cm), 6 furos (11 x 15 x 23 cm), 8 furos (11 x 22 x 23 cm), todos com furos redondos ou quadrados na horizontal. Os de 10 furos (11 x 23 x 27 cm) são pouco usados. Quanto aos blocos cerâmicos, a altura é sempre padrão, 11 cm. Mais recentemente vêm se popularizando os blocos cerâmicos com furos verticais para alvenaria de vedação e estrutural nas espessuras de 11,5 cm, 14 cm e 19 cm, com comprimentos variados e altura padrão de 19 cm. Neste caso, mesmo normatizados, é recomendável conferir os pesos e as resistências dos blocos com o fabricante. Os tijolos prensados são de custo mais elevado devido ao processo de fabricação (extrusão a vácuo), produzindo um material sem poros. Os tijolos prensados especiais, também conhecidos como tijolos de 21 furos, de diâmetro menor e localizados transversalmente, possuem um melhor acabamento, não apresentando trincas. As suas dimensões são semelhantes às do tijolo maciço comum. São muito utilizados em paredes de tijolos à vista, onde se deseja uma parede lisa, sem revestimento, com perfeito padrão de acabamento. Suas dimensões são: 5,5 x 11 x 23 cm. Os tijolos refratários possuem a capacidade de resistir às altas tempe- raturas, refletindo o calor. Compostos de terra refratária e caulim, que são prensados e queimados, sua cor característica é branca. Para o assentamento destes tijolos, deve-se utilizar argamassa refratária, com cimento e areia Construção civil 176 queimada. Seu uso se justifica em chaminés, fornos de autoclave, lareiras, churrasqueiras e fornos de siderúrgicas. Suasdimensões são: 6,0 x 12 x 24 cm. Tijolos e blocos de outros materiais O tijolo de solo cimento tem na sua composição cimento e argila mais silte, ou cimento e argila mais arenito, com traço de 1:15, sendo prensado e curado por 3 dias. O seu custo é menor do que o do tijolo de barro comum, visto que não necessita da queima e da secagem, e o material utilizado normalmente é do próprio solo que existe no local da obra (portanto, não há custos). Como argamassa de assentamento usa-se também de solo-cimento. Suas dimensões são de 5,5 x 11 x 23 cm. Antes da produção do tijolo, verifique em laboratório a existência de argila expansiva. Caso esta for encontrada, não utilizar este material. Os blocos de isopor são uma tecnologia relativamente nova para alvenarias leves e de pequeno custo, onde são executadas formas de isopor, posteriormente preenchidas com argamassa. Após é executado um revestimento de argamassa, interna e externa. Atenção: utiliza-se um adesivo antes do revestimento da parede. Os blocos de concreto estão disponíveis em vários tipos, de vedação e estruturais, inclusive com formatos especiais: 14 x 20 x 30 cm (para parede de 15 cm); 19 x 20 x 30 cm (para parede de 20 cm); 24 x 20 x 30 cm (para parede de 25 cm). Estes blocos apresentam 2 furos verticais que, para cantos de paredes, podem funcionar como pilaretes, recebendo armadura e sendo preenchidos com argamassa, graute ou concreto com pedrisco. Entre algumas de suas características, os blocos de concreto: são assentados com argamassa de cimento e areia (1:3); dispensam o emboço (primeira camada de regularização); não devem ser molhados no assentamento (mancham); recebem argamassa somente nas laterais (mínima) – somente para aderência. 177Alvenaria: materiais Na última fiada, podem ser colocados blocos especiais que já servem de forma para a viga de cintamento (seção U, veja a Figura 1). Pesos de blocos e resistência, principal- mente para alvenaria estrutural, devem ser confirmados junto aos fabricantes. Existem também blocos especiais que já servem de apoio para lajes e como painel lateral, de modo que a laje não fique em contato com o ambiente (seção “J”, veja a Figura 1). O concreto celular é um bloco “aerado”. Devido ao baixo peso e à facili- dade de manuseio, é utilizado não só para o fechamento de vãos, mas também como enchimento de lajes. É feito com uma mistura de cimento e materiais silicosos, em especial o silicato de cálcio. Também é conhecido como “Pumex”. O tijolo de sílica-calcário é constituído por restos de calcário (de jazidas) mais areia (sílica). São moldados e queimados, possuem cor branca e são econômicos junto a regiões que têm os materiais disponíveis. O tijolo de vidro é oco, com paredes de 8,0 mm de espessura, formados por 6 lâminas de vidro. Custam em torno de 20 vezes o preço de um tijolo comum. Suas dimensões são: 20 x 20 x 14 cm; o assentamento é feito com massa de vidraceiro e, quanto à utilização, como são tijolos translúcidos, podem ser usados em locais onde se deseja uma iluminação fixa, por exemplo, onde não há espaço para um poço de luz. Servem também como elementos decorativos. Qualidades que os tijolos devem apresentar Para verifi car se um tijolo cerâmico está bem queimado, o som produzido pela batida de um martelo deve ser cheio, metálico. Visualmente falando, devemos atentar, conforme recomenda a ABNT NBR 15270:2005: à ausência de fissuras – resistência adequada; à uniformidade da cor; às faces paralelas, planas e lisas; às arestas vivas; à capacidade de ser cortado onde foi batido com a colher de pedreiro, por exemplo, não se quebrando em vários pedaços. à homogeneidade em toda a massa – baixa absorção de água. Construção civil 178 à uniformidade de dimensões – individualmente aceitam-se variações de +/- 5 mm, porém, em uma amostra de um lote, a média de variação deve ficar em +/- 3 mm. Na obra, os tijolos preferencialmente devem ser cortados com disco de corte. Reco- menda-se que para uma mesma obra, os tijolos e blocos sejam adquiridos de uma mesma fábrica (para a alvenaria de tijolos à vista, eles devem ser de uma mesma “queimada”). Comparação entre tijolo maciço e bloco vazado O tijolo maciço apresenta maior resistência, mas maior peso. Ele proporciona menor rendimento e necessita de mais argamassa. O bloco vazado possui menor peso e resistência inferior ao tijolo maciço. Seu manuseio é mais fácil. Este tipo de bloco possui secagem e queima mais rápidas, deixando sua superfície mais regular. As camadas internas de ar ainda proporcionam melhor isolamento térmico e acústico, além de dificultar a entrada de umidade. Veja na Figura 1 as dimensões, os tipos de blocos e alguns detalhes construtivos de alvenaria. 179Alvenaria: materiais Figura 1. Tijolos e blocos artificiais. Fonte: Saurin (2001, p. 88). Construção civil 180 1. Um tijolo maciço pesa em média 2,5 kg/bloco e, em uma parede de 15 cm de espessura, são consumidos 60 blocos/m2. Em uma alvenaria de vedação, conforme a figura a seguir, ela representa um valor de carga distribuída, em kg/m, no mínimo igual a: a) 390 b) 2340 c) 936 d) 400 e) 350 2. Aponte a opção que apresenta blocos em ordem decrescente de dimensões externas: a) Tijolo maciço, bloco 6 furos, bloco estrutural em concreto. b) Bloco estrutural em concreto, tijolo maciço, bloco 6 furos. c) Bloco estrutural em concreto, bloco 6 furos, tijolo maciço. d) Tijolo maciço, tijolo 21 furos, bloco estrutural em concreto. e) Bloco 8 furos, bloco 6 furos, bloco estrutural em concreto. 3. Aponte a opção que indica as características geométricas dos blocos cerâmicos de vedação exigidas pela ABNT NBR 15270-1:2005. a) Planeza das faces e índice de absorção de água. b) Desvio relativo ao esquadro e à massa seca. c) Resistência à compressão individual e área externa. d) Índice de absorção de água e dimensões das faces. e) Dimensões e planeza das faces e esquadro. 4. Em um bloco cerâmico para alvenaria de vedação, é permitida por norma uma variação nas suas dimensões de: a) A tolerância dimensional individual é de ± 15 mm. b) A tolerância dimensional individual é de ± 8 mm. c) A tolerância dimensional individual é de ± 3 mm. d) A tolerância dimensional individual é de ± 5 mm. e) A tolerância dimensional individual é de ± 10 mm. 5. Qual é o tipo de bloco produzido pelo seguinte processo: mistura de aglomerante hidráulico com solo comum, controle de umidade, prensagem em máquina manual: a) Solo-calcário. b) Solo-cimento. c) Concreto celular. d) Sílico-calcário. e) Solo-gipsito. Fonte: bigyuthana/ Shutterstock.com 181Alvenaria: materiais ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15270-1:2005. Componen- tes cerâmicos. Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Terminologia e requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15270-2:2005. Compo- nentes cerâmicos. Parte 2: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural – Terminologia e requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15270-3:2005. Compo- nentes cerâmicos. Parte 3: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação – Métodos de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. SAURIN, P. Apostila da Disciplina de Construção Civil I. Santa Maria: UFSM, Departamento de Estruturas e Construção Civil. 2001. Leituras recomendadas ALBUQUERQUE, A. Construções civis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1957. BAUD, G. Manual de pequenas construções. São Paulo: Hemus, 2002. BORGES, A. C. Prática das pequenas construções. 8. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. v. I e II. CARDÃO, C. Técnica da construção civil. 8. ed. Belo Horizonte: Edições Engenharia e Arquitetura, 1988. v. I e II. CARICCHIO, L. M. Construção civil. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpia, 1955. PIANCA, J. B. Manual do construtor. 15. ed. Porto Alegre: Globo, 1978. Construção civil 182 Encerra aqui o trechodo livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: