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1Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 2 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 3Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Editorial inalmente foi publicado em 11 de abril o texto final da Instrução Normativa Interministerial que estabelece as normas complementares que vieram dar vida ao Decreto 2.869, assinado por FHC em 1998, regulamentando o uso das águas públicas da União para a aqüicultura. Apesar da grande expectativa de todo o setor, foi morna a forma como essa Instrução Normativa foi recebida pela comunidade aqüícola. Na verdade uma reação até previsível, em se tratando de uma legislação cujas impressões digitais do setor produtivo passaram bem ao largo. Ainda assim, mesmo carecendo de muitos ajustes, a nova legislação, merece ser comemorada pelas grandes oportunidades que dá aos aqüicultores de explorar o grande potencial hídrico brasileiro. Nesta edição o leitor encontrará a íntegra do Decreto e da Instrução Normativa, bem como a opinião de vários especialistas convidados. Não encontrará, porém, a opinião dos representantes das empresas concessionárias de energia elétrica, responsáveis por um grande número de reservatórios, que declinaram do convite para que emitissem suas opiniões, talvez por ainda não tê-las de forma clara. Para alguns setores da sociedade, aí incluindo o setor elétrico, persiste a idéia de que o im- pacto ambiental causado pela aqüicultura é inaceitável, devendo-se evitar a sua expansão ou mesmo restringi-la a qualquer custo. Não lhes passa pela cabeça que a aqüicultura pode e deve ser uma ati- vidade geradora de trabalho e renda, perfeitamente compatível com a preservação ambiental. Esses conflitos de pontos de vista acabam por fazer com que as legislações tendam a ser restritivas e, pior, geradas entre quatro paredes, sem ouvir sequer os principais interessados, no melhor estilo “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Por ser uma atividade emergente, a aqüicultura em nosso país deverá ver nascer nos próxi- mos anos novas legislações voltadas para a sua boa prática. Não podemos, entretanto, permitir que no futuro se repita a mesma novela arrastada que gerou a legislação do uso das águas públicas que aí está - incompleta e ainda carente de mudanças. A pergunta que não se cala é: como fazer pra que isso não se repita? Uma das possíveis respostas está na elaboração de um Código de Conduta para uma Aqüi- cultura Responsável, conforme sugerem, em artigo nesta edição, dois pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente. Segundo seus autores, com a elaboração e a implantação desse Código, os setores produtivos terão a oportunidade de também participar da elaboração das leis e regulamentos ambien- tais, de modo a evitar que legislações ambientais muito restritivas venham a impedir ou prejudicar o desenvolvimento da própria atividade. Em outras palavras, no futuro, com a adoção do Código, as regulamentações ambientais nascerão adequadas e com amplas possibilidades de serem bem ado- tadas pelo setor a ser regulado. O assunto das águas públicas está apenas começando e as demandas para novas licenças e para a legalização dos milhares de produtores instalados já estão chegando às Delegacias Federais de Agricultura nos diversos estados. Tanto o desenrolar quanto o desfecho desta novela expuseram a fragilidade do setor ao retratar o alto preço que paga o produtor por não estar organizado, cumprindo com os seus deveres e colhendo os frutos dos seus direitos. Desta forma, nesta edição não faltou também uma entrevista com Adilon de Souza, recém empossado presidente da Abraq – Associação Brasileira de Aqüicultura, que expôs o novo perfil da Associação, baseado num complexo sistema as- sociativista que pretende reverter esse quadro, dando representatividade à atividade junto ao governo e à sociedade organizada. Trouxemos também para o leitor um perfil detalhado dos cultivos de bivalves no Brasil, e a notícia alvissareira de que a Embrapa pretende institucionalizar a aqüicultura no seu sistema de pes- quisa, e muito mais... A todos uma boa leitura. Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor 4 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 5Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Editor Responsável: Solange Fonseca MTPS 10083 solange@panoramadaaquicultura.com.br Redator Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Assistente: Fernanda Carvalho Araújo fernanda@panoramadaaquicultura.com.br Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfica & Editora Ltda. Endereço para correspondência: Caixa Postal 62.555 22252-970 - Rio de Janeiro - RJ Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 553-1107 Fax: (21) 553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br Os artigos assinados são de responsabili- dade exclusiva dos autores. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados, bem como pelos dados divulgados na seção “Informe Publicitário”, por serem espaços comercializados. Números atrasados custam R$ 6,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail: assinatura@panorama- daaquicultura.com.br ASSINANTE- Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parenteses na etiqueta que endereça a sua revista. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61 Edição 64 – março/abril, 2001 ...Pág 13 ...Pág 3 ...Pág 6 ...Pág 12 ...Pág 43 ...Pág 10 ...Pág 23 ...Pág 38 ...Pág 40 ...Pág 21 Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios On Line Notícias da Truticultura Alimentação para Camarões Marinhos Parte III Embrapa quer transformar a Aqüicul- tura em Programas de Pesquisa Mercovale será no Piauí Cultivados ou Selvagens, qual a prefe- rência do consumidor? Malacocultura Brasileira Entrevista - Adilon de Souza novo presidente da ABRAq Códigos de Conduta para uma Aqüi- cultura Responsável Lançamentos Editoriais Bahia se prepara para receber o WAS 2003 Águas Públicas: Instrução Normativa estabelece normas complementares Calendário Aqüícola ...Pág 24 ...Pág 25 índice Águas Públicas ...Pág 58 ISSN 1519-1141 ...Pág 45 ...Pág 32 O Decreto 2.869, assinado pelo Presidente Fernando Henrique em dezembro de 1998 agora está vigorando, de fato. A Instrução Nor- mativa Interministerial n o 9, que estabelece as normas complementares para o uso das águas públicas da União para fins de aqüicultura, foi assinada em 11 de abril passado e, segundo o DPA - Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura, todo esforço será feito para que sejam analisadas dentro dos prazos estabelecidos na lei, todas as documentações submetidas para legalização do uso das águas públicas. Para isso, está sendo formado um Grupo Interministerial composto por dois representantes de cada órgão envolvido no processo de legalização, capaz de dirimir as dúvidas e amenizar os possíveis entraves burocráticos. 6 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 NOVO FONE PANORÂMICO – A partir de junho o telefone da Revista Panorama da AQÜICULTURA passará a ser (21) 2553-1107 e o fax (21) 2553-3487, isto é, será o mesmo número atual, acrescido do número 2. em participar do workshop devem enviar,através do fax (61) 224-5049 ou e-mail: gbernardino@agricultura.gov.br, as seguin- tes informações: nome, instituição, cargo/ função, endereço, telefone e e-mail. cultura América 2002”, tradicional evento da aqüicultura dos Estados Unidos, que se realizará de 27 a 30 de janeiro do próximo ano. Conhecida mundialmente pelos seus inúmeros atrativos como o Sea World, Zôo, Wild Animal Park e lindas praias, a cidade americana já foi palco do Aquaculture’95, que sucedeu-se com grande sucesso de público, reunindo muitas associações e grupos de trabalho. No América 2002, além das palestras, encontros e seminá- rios estão sendo esperados cerca de 200 estandes de equipamentos para aqüicultura, que se reuniram na exposição que estará acontecendo paralela ao evento. A NAA – National Aquaculture Association, que vem organizando as sessões desses encontros ao longo dos anos, estará recebendo inscrição e sugestões de trabalhos até o dia 30 de junho. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas pelo e-mail: wordaqua@aol.com. NOVO FONE DELICIOUS - O telefone da fábrica da Delicious Fish Rações mudou. A empresa comunica aos seus clientes o novo número. Anote. Agora o telefone da fábrica localizada em Primavera Sorriso em Mato Grosso é (65) 584-1000. MUDANÇA DE DATA - O Workshop Plataforma do Agronegócio da Truticultura, anteriormente programado para ser realiza- do em maio, em Teresópolis-RJ, foi adiado para os dias 6, 7 e 8 de junho. O evento será promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno- lógico - CNPq, do Ministério da Ciência e Tecnologia e Departamento de Pesca e Aqüicultura - DPA, da Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo, do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, tendo por objetivo o estabelecimento de ações volta- das para o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva da truta. Os interessados PROTOCOLO - Um protocolo de coope- ração técnica assinado entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, à frente o INCRA, e o Ministério da Agricultura e Abastecimento, foi assinado como objeti- vo de fomentar a aqüicultura familiar nos âmbitos dos projetos de assentamento de reforma agrária como forma de aumentar a renda do produtor. Muitas fichas estão sendo apostadas no sucesso desse em- preendimento. O protocolo foi assinado e sacramentado pelos Ministros Jungman e Pratini de Moraes, ladeados pelo Presidente do INCRA, Francisco Costa Muniz e o Se- cretário Executivo do MA, Marcos Fortes de Almeida. A importância do tema para esses ministérios faz com que seja um dos mais discutidos dentro do Departamento de Pesca e Aqüicultura - MA. AMÉRICA - San Diego na Califórnia, foi a cidade escolhida para sediar o “Aqua- PALESTRAS PARA COMEMORAR - Como parte das comemorações do 25o aniversário da unidade de pesquisa de Uba- tuba do Instituto de Pesca, foi programada uma série de palestras que se realizará, uma a cada mês, até outubro, com os seguintes temas: Estatística pesqueira: manejo de recursos demersais (16/05); Algas marinhas 7Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 – cultivo e processamento (20/06); Criação de camarões marinhos em gaiolas (18/07); Criação de tilápia vermelha em tanques-rede no ambiente marinho (15/08); Processamen- to de pescado – técnicas de manipulação e conservação (19/09) e Desenvolvimento ordenado da mitilicultura no litoral norte de São Paulo (17/10). A unidade de pesquisa, agora chamada de Pólo Especializado de De- senvolvimento Tecnológico do Agronegócio do Pescado Marinho, realizará as palestras no Auditório do Aquário de Ubatuba e mais informações podem ser obtidas no Instituto de Pesca de Ubatuba fone (12) 432 - 1254. sócio-construtivista e os objetivos são: dar noções iniciais da metodologia científica através da observação, levantamento de hipóteses e estabelecimento de conclu- sões; dar noções práticas da atividade da maricultura - Cultivo de mexilhões, algas, peixes e camarão; estudar um ecossistema criado artificialmente através da atividade da maricultura; inserir conhecimentos do meio ambiente marinho e de preservação ambiental; observar e identificar os orga- nismos epibiontes e acompanhantes no desenvolvimento dos mexilhões; estudar a biologia e a morfologia - reprodução, alimentação e crescimento dos mexilhões e, observar “in locu” a maricultura im- plantada nas comunidades locais, como atividade econômica e auto-sustentada. As crianças visitam mensalmente o Nú- cleo de Pesca e Aqüicultura de Ubatuba do Instituto de Pesca e logo na primeira aula já manejam as cordas de mexilhões. A cada visita mensal é retirada uma para estudo dos parâmetros zootécnicos e biológicos (crescimento, produtividade, entre outros). Bimensalmente as turmas fazem um acompanhamento paralelo do desenvolvimento do mexilhão Perna perna nos cultivos implantados por pes- cadores locais. Em sala de aula as crianças recebem informações complementares as obtidas no campo. Ao final do ano letivo é realizada uma exposição dos trabalhos (desenhos) e os mexilhões cultivados são degustados por seus produtores mirins e convidados. O trabalho é desenvolvido pela psicóloga Odete M. Prado, pela pedagoga Nilce Conceição - Cooperativa Educacional de Ubatuba e pela oceanó- loga Valéria Cress Gelli do Instituto de Pesca. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas através do e-mail: valeria@aquicultura.br ou Caixa Postal 28, CEP.11680-000, Ubatuba- SP. CRIANÇAS - O Núcleo de Pesca e Aqüi- cultura de Ubatuba do Instituto de Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo desenvolve desde 1994, com crianças da rede particular de ensino (cooperativa de ensino) e com a Prefeitura de Ubatuba (projeto assistencial) o projeto “Maricultura - Ecossistema em Estudo”. O projeto tem duração de um ano letivo e é desenvolvido no próprio Núcleo do Instituto de Pesca -SAA e nas Praias da Barra Seca e do Engenho. O projeto baseia-se nos pressupostos da teoria TILÁPIA EM ARACAJÚ - Com o tema “Criação Sustentável e Preservação Ambiental”, a ASAS – Associação dos Aqüicultores do Estado de Sergipe junto a Câmara Setorial de Aqüicultura do Estado de Sergipe, está organizando o 1o ENCT - Encontro Nacional de Criadores de Tilápias, que será realizado no Centro de Convenções de Sergipe no período de 12 a 14 de julho. O evento, que conta com o apoio oficial do Governo do Estado, Prefeitura de Aracajú, Ministério da Agricultura, Codevasf, Banco do Brasil e Embrapa, compreenderá a dis- cussão da cadeia produtiva da Tilápia, além de enfatizar a preservação ambiental. O 1o ENCT será enriquecido com a exposição de 8 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 equipamentos e serviços que se destinam a piscicultura e ainda com o 1o Festival do Pei- xe do Baixo São Francisco. Os organizadores estão programando também algumas visitas técnicas na região. Informações adicionais poderão ser obtidas com a Emprev Eventos (79) 259-4602 fax: (79) 214-3545. em ambiente com substrato natural, ou seja, lama. Parte dessa produção foi liberada em áreas impactadas de um manguezal localizado na Refinaria Duque de Caxias e o restante na APA de Guapimirim - RJ, local onde foi feita a reportagem. Segundo Ostrensky, o trabalho evidenciou, dentre outras coisas, como a legislação ambien- tal às vezes é feita sem nenhum critério técnico, apesar de todos os contratempos sociais que causa. Os estudos da equipe mostraram que o atual defeso que é feito em relação a espécie, é absolutamente inócuo, apesar de ser adotado no verão, época de maior consumo e quando a comercializa- ção do caranguejo é mais importante para as comunidades de catadores. Ostrensky acrescenta que o trabalho está apenas começando e acredita que aviabilização comercial dos cultivos ainda está distante. O caranguejo leva de 5 a 6 anos para atingir o tamanho comercial, enquanto uma safra de camarões pode ser obtida em 90 dias. No entanto, se nada for feito, há uma tendência de diminuição progressiva do tamanho dos caranguejos disponíveis no mercado e, por isso, os pesquisadores julgam que o projeto abre, a curto prazo, possibilidades de aproveitamento no auxílio à recupera- LARVAS - Aproximadamente oito milhões de náuplios de camarão foram importados pelo Equador com o pro- pósito de fazer frente às conseqüências drásticas advindas da doença da mancha branca neste país. Segundo a Infopesca, as larvas provenientes dos Estados Unidos, Panamá, Honduras e Colômbia, passaram com êxito nos exames sanitários a que foram submetidos no Instituto Nacional da Pesca do Equador. As importações fazem parte do processo de retomada da carcinicultura equatoriana, onde cerca de 70% dos viveiros já passaram por profun- dos manejos de limpeza e desinfecção. Os produtores equatorianos estão sendo orientados para que tomem medidas de manejo alimentar e sanitário que lhe as- segurem uma real recuperação do setor, abatido por este flagelo viral. você leu? o seu cliente tam- bém.... anuncie ! solicite nossa tabela de preços seu cliente certamente é nosso leitor (21) 553-1107 CARANGUEJOS-UÇÁ - Quem teve a oportunidade de assistir no último dia 26 de abril na TV Band News a uma reportagem sobre a liberação das sementes de caranguejo em mangues no Estado do Rio de Janeiro, foi testemunha do belo trabalho desenvol- vido, entre outros, por Antonio Ostrensky, no Paraná. Em um ano de trabalho o projeto de produção de juvenis de caranguejos em larga escala, que começou como um desafio profissional da equipe envolvida, terminou por proporcionar grande conhecimento sobre a biologia do caranguejo-uçá, pouco pesquisado até então. Os pesquisadores conseguiram manipular esse ciclo em laboratório, de modo que se alcançasse uma produção de 2 milhões de megalopa II, estágio que antecede o de juvenil. Vale ressaltar que a muda para juvenil só ocorre ção de áreas degradadas bem como no estabelecimento de um manejo integrado desse recurso. Os que se interessarem pela pesquisa poderão entrar em contato com Antonio Ostrensky, no Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais, pelo E-mail: ostrensk@cce.ufpr.br. 9Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 GREENPEACE - Em abril na cidade de Toronto, o grupo de ativistas ambienta- listas Greenpeace, que sempre se opôs à engenharia genética, voltou agora, suas baterias para os peixes geneticamente modificados. O grupo se manifestou contra a comercialização de peixes criados em laboratório por fazendeiros canadenses e para denunciar a prática, cobriu com uma enorme bandeira o teto de uma indústria de peixes. Outra pro- vidência tomada pelo Greenpeace foi pedir ao órgão que controla alimentos e drogas nos Estados Unidos, FDA - Food and Drug Administration, que negue a permissão para o comércio dos peixes geneticamente modificados. Os ativis- tas também solicitaram ao ministro da Pesca canadense, Herb Dhaliwal, que seja proibida esta prática, porém empresas norte-americanas que têm subsidiárias canadenses pesquisando peixes geneticamente modificados e, que pediram permissão ao FDA para também comercializá-los, alegam que a postura do grupo não faz nenhum sen- tido, já que os peixes não representem qualquer risco para o meio ambiente. O Greenpeace rebate a afirmação dessas empresas alegando que não há estudos suficientes para que se afirme isso e que as empresas não oferecem nenhuma garantia de que os peixes modificados não poderão vir a destruir alguma outra espécie. MONODON - Um Penaeus monodon macho de 62 g foi capturado na última semana de abril a 60m de profundidade durante um arrasto de camarões próximo a foz do Rio Guarupi, Estado do Maranhão, perto da fronteira do Pará. O Penaeus monodon também conhecido como “Tiger shrimp” é uma espécie exótica ao litoral brasileiro, ocorrendo naturalmente na costa Oriental do Indo-Pacífico, Leste e Sudoeste da África, do Paquistão ao Japão, Malásia e Norte da Austrália. A espécie que pertence a família Penaeidae é o camarão marinho mais cultivado no mundo, podendo as matrizes alcançar até 200 g de peso. Este é o segundo relato oficial da ocorrência do Penaeus monodon na costa Maranhense. Em abril de 1987, uma fêmea de 160 g foi captu- rada em Tutóia, Maranhão e reportada por Fausto Filho. O P. monodon foi introduzido no Nordeste brasileiro nos anos 80 para fins de cultivo, juntamente com outras espécies exóticas. Segundo Alberto Nunes, da Agribrands do Brasil, o estabelecimento de uma pequena popu- lação desta espécie na costa Maranhense não pode ser descartado. BAHIA PESCA - Nos dias 6 e 7 de junho próximo, será realizado no Centro de Convenções Luís Eduardo Magalhães, em Ilhéus – Bahia, o Seminário Regional de Aqüicultura. O encontro, que pretende atrair um público de 350 pessoas, tem como objetivo principal aprofundar o conheci- mento da piscicultura, para aumentar a competência técnica dos projetos consoli- dados nas regiões Sul e Sudeste do Estado. Promovido pela Bahia Pesca, empresa da Secretaria da Agricultura, o evento pretende oferecer informações técnicas e exemplos práticos para aqueles que desejem se atualizar em assuntos como cultivo e comercialização de pescado até o planejamento e marketing do produto. Mais informações pelos telefones (71) 247-3296 e (71) 331-3798 ou e-mail: dagaz@dagaz.com.br 10 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Carpas Tilápia Revertida Bagre Africano Pacu Jundiá Branco Piauçu Alevinos Fone/fax: (47) 382-0512 Timbó - SC Marrecos de Pequim (5 dias) FUNPIVI CENTRO DE PRODUÇÃO E TECNOLOGIA EM AQUACULTURA Importados da Hungria. A melhor qualidade do mercado. O melhor preço. HIPÓFISES & OVOPEL Fale com: Sérgio: (47) 9982-9405 De: Pref. Mun. de Guamiranga <pmguamiranga@uol.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Informações Gostaria de receber mais informações sobre “Piscicultura” mais propriamente “Fileta- gem” de tilápia, bem como se curte a pele das mesmas. Aguardo resposta. Augusto De: José Eurico P. Cyrino <jepcyrin@carpa.ciagri.usp.br> Para: <panorama-l@alternex.com.br> Assunto: Re: Informações Informações sobre filetagem de tilápias podem ser obtidas na Esalq com a Profa. Marília Oetterer, moettere@carpa.ciagri. usp.br ou, no Caunesp, com a Profa. Elisa- bete Viégas emviegas@caunesp.unesp.br. Informações sobre curtimento de peles de tilápias (ou quaisquer outros peixes) podem ser obtidas no IPT-Franca, que pode ser acessado através da página do IPT <http://www.ipt.br>. Zico De: Tuma <carlostuma@aol.com> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Anestésico Alguém pode me informar sobre a dosa- gem ideal de benzocaína para transporte de peixes adultos? Um abraço,Tuma. De: Sergio Tamassia <tamassia@epagri.rct-sc.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Re: Anestésico Caro Tuma, encontrei referência de uso da benzocaína como anestésico para manuseio (pesagens, desovas, etc.) de 50 a 70mg/l. Acredito que para transporte, onde o peixe deva ficar muito mais tempo em contato com o produto a concentração deva ser bem menor, pois talvez o obje- tivo seja apenas de tranqüilizar o peixe. Para alguns produtos, fui informado que a concentração para transporte (como tranqüilizante e não anestesiante) é de aproximadamente 20% da dose neces- sária para a anestesia (mas não sei se isto vale para a benzocaína). Mas, Carlos, o uso do produto benzocaína para peixes que serão utilizados comoalimentos não é recomendado. De: José Ricardo <jricardo@fortalnet.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Moluscos Em viveiros de criação de tilápias temos encontrado cada vez mais um grande número de moluscos chamados aqui de “caracol”, “lesma”, “aruá” entre outros nomes. Alguém conhece alguma forma para se controlar esta “invasão” ? De: Oswaldo Ribeiro <oswaldo@rn.gov.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Re:Moluscos Tambaquis adoram! Não deixam um. Mas você tem que ver o tamanho das tilápias versus tambaquis. Tambaquis também comem tilápias. De: NSTF <nstf@uol.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Problemas com engorda da tilápia Tenho em minha piscicultura seis tanques 11Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 de engorda de tilápia tailandesa e, há cerca de uns 20 dias. No começo morriam 5, 8, 10, ás vezes nenhuma. Só que a partir de segunda feira (19.03) a mortandande aumentou para 50, 30 e 20 e hoje 210. Comecei então a aplicar oxitetraciclina misturada com a ração, mas até agora não houve melhoras. Aparentemente não vejo nada diferente com os peixes, que estão comendo muito bem. O oxigênio no início da noite: 6 ppm; transparência da água: 50 cm; o peso do peixe: 400 gramas. Oxigênio de manhã: 2 ppm; quantidade de peixe no tanque: 4.000; o tamanho do tanque: 40 x 50 x 1.40. O tanque tem renovação de água efetuado por bomba. A alimentação: 30 Kg/dia. O que mais eu poderia fazer para reverter este quadro? A piscicultura se localiza em Bauru, interior de SP. De: Nilton Machado <nilmac@braznet.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Re: Problemas com tilápia Também estamos enfrentado este problema. Já tivemos grande perda de peixes e depois de muito pesquisar todas as variáveis possíveis, algumas coisas conseguimos detectar, tais como: tínhamos problemas com amônia, e pH alto. Corrigimos o problema e a mortandade continuou. Mandamos água para análise em laboratório e conseguimos identificar um teor muito alto de cloro na água, o que está pro- vocando a mortandade dos peixes. Sugerimos que você faça um boa análise da água, que com certeza ajudará a identificar o problema. De: Marcos Lopes <mpla@ata.terra.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Re: Problemas com tilápia Verificamos seis casos como este no noroeste paulista e estamos junto com alguns técnicos tentando elaborar relatórios de cada caso para chegar a um diagnóstico. Além de análises da água e dos peixes, gostaria de conhecer o histórico no caso de vocês. Aqui a ocorrência maior é em Tailandesas, com peso acima de 300g, 250 tilápias/m3 em tanque rede de 8 a 13 m3. Começa com peixes com olhos saltados, aumento do volume do abdômen, movimentos erráticos e quando os peixes demoram nesse estágio, começa uma infes- tação por parasitas de brânquias e fungos chegando até morte. Estamos esperando algumas análises bacteriológicas, as outras feitas não detectaram nada que pudesse cau- sar essa mortalidade. Esperamos que outras pessoas tenham mais informações. De: Jomar Carvalho Filho <jomar@panoramadaaqüicultura.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Re: Problemas com tilápia Prezado Marcos, vocês da ANPAT - Associa- ção do Noroeste Paulista de Tilapicultores, já cogitaram sobre a possibilidade de estarem com problemas relacionados a presença de Streptococcus? Você, ou alguém mais da lista, teria algo a acrescentar sobre essa possibilidade? Alguém saberia informar se a ABRAPOA - Associação dos Patologistas de Organismos Aquáticos, já foi informada sobre essas ocorrências? De: Nilton Machado <nilmac@braznet.com.br> Para: panorama-l@alternex.com.br Assunto: Re: Problemas com tilápia Aqui em Santa Catarina também têm ocor- rido vários casos, principalmente com a tilápia, além dos fatos já narrados, outra causa que influenciou bastante foi a tem- peratura muito alta da água, que chegou aos 40 graus centígrados em determinados períodos, taxas muito altas de amônia na água, pH alto acima de 8,5 , o que por si só já é mais que suficiente para a mortan- dade dos peixes. Encaminhamos também peixes mortos e vivos para 2 laboratórios e não foram detectados problemas de parasitoses ou de doenças. 12 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DA TRUTICULTURA Uma das preocupações dos truticultores, atualmente, é o que fazer com o efluente sólido, ou seja, o que sobra do abate dos peixes. Até pouco tempo atrás, o normal era enterrar as vísceras e as sobras do filetamento. Com o aumento da produção e, conseqüentemente, dos efluentes produzidos, outros procedimentos passaram a ser praticados. O truti- cultor João Luis Sauer Dias (tel: 35-3799-9992), dá algumas dicas para o melhor aproveitamento desses resíduos: 1) cozinhar as vísceras, retirar o óleo sobrenadante para aditivar à ração que será fornecida aos peixes e a sobra, misturada com farelo de trigo, poderá ser utilizada para alimentação de porcos ou gado; 2) cozinhar as vísceras e as sobras do filetamento, secar, adicionar pó de ração e peletizar, para alimentação dos peixes; 3) congelar as sobras do filetamento e entregar às prefeituras das pequenas cidades, para serem incorporadas à merenda escolar. Esta procura de soluções tem sido uma constante nos países com grande tradição pesqueira, onde as vísceras, restos e demais sobras de peixes capturados e processados eram jogados ao mar. Algumas fir- mas de pesca instalaram fábricas de farinha de peixe na própria embarcação, outras instalaram sistemas de processamento em terra para produzir farinha e óleo de peixe, e farinha de osso. Recentemente, a gigante alemã BASF assinou um acordo com uma empresa de pesquisa norueguesa para processar restos de peixes para obtenção de compostos farmacêuticos. A empresa de pesquisa norueguesa RUBIN está pesquisando a obtenção de cosméticos, a partir dos restos de processamento de peixes. E, dependendo do tamanho da sua piscicultura, o produtor pode estar montado em cima de um tanque de combustível. Recentemente foi publicado que a planta de processamento de peixes de Hordafôr, em Austevoll na Noruega, utiliza em todos os seus motores diesel, sejam estacionários ou não, óleo retirado do salmão. Produz cerca de 13.000 toneladas de óleo de salmão por ano e o gerente da planta informa que utiliza o óleo diretamente sem aditivo nenhum, e que os veículos trabalham perfeitamente. É esperar para ver as novas idéias que surgirão. TRUTAS TRIPLÓIDES Uma pesquisa realizada no Instituto de Pesca/APTA/SAA/SP em Campos do Jordão, em parceria com o Instituto de Biociências/USP, mostrou que a taxa e a freqüência de regeneração de nadadeira em trutas triplóides são significati- vamente maiores do que em trutas diplóides. Peixes triplóides contêm três conjuntos cromossômicos, um a mais do que os normais (diplóides), que é incorporado artificialmente pela manipulação cromossômica. Estes ani- mais são indicados para produção de peixes de grande porte, pois, por serem estéreis não se reproduzem e apresentam maior ganho de peso após atingirem a idade de reprodução (Pano- rama da Aqüicultura, v.7, n.41, p.14-21, 1997, esgotada e disponibilizada na íntegra na www. panoramadaaquicultura.com.br). Esta melhor capacidade de regeneração dos triplóides po- deria ser aproveitada nos cultivos de truta onde as lesões de nadadeiras são bastante freqüentes em decorrência do regime intensivo empregado. Trabalho publicado integralmente no: Journal of Experimental Zoology, v.287, p.493-502, 2000. Mais informações com Mônica Alonso pelo e-mail: malonso@usp.br, ou pelo telefone (12) 263 1021, no Núcleo Experimental de Salmonicultura. ABRAT Esse espaço é destinado às informações de interesse dos truticultores. Aqueles que desejaremdivulgar alguma notícia relacionada ao cultivo de trutas e sal- mões deverão entrar em contato com a ABRAT- Associação Brasileira de Truticultores, na Rua João José Godi- nho, 420 - sala 1, Bairro Guadalupe, Lages - SC - CEP 88506-080, Fone (49) 222-6285, Fax (49) 222-2921. Os que desejarem divulgar comercialmente seus produtos ou serviços relaciona- dos à truticultura nesta página, devem entrar em contato diretamente com a redação da Revista Panorama da AQUICULTURA pelo telefone (21) 553-1107 ou pelo e-mail: publicidade@ panoramadaaquicultura.com.br O PEIXE COMO ALIMENTO: FONTE DE ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS A tendência nutricional da última década, preconiza uma alimentação saudável, com muita fibra e baixa ingestão de gordura e colesterol. Nesta linha, e associando a mudança no estilo de vida com hábitos alimentares mais saudáveis, surgiram os alimentos funcionais. São ingredientes inovativos, que além de nutrir, apresentam propriedades fisiológicas específicas. O ser humano, assim como os demais mamíferos, têm a capacidade de sintetizar alguns tipos de ácidos graxos saturados e insaturados, mas é incapaz de sintetizar certos ácidos graxos po- liinsaturados (PUFAs), sem os quais nosso organismo não funcionaria adequadamente. Por esta razão, esses ácidos graxos são chamados “essenciais” e devem ser incluídos na dieta alimentar. Os ácidos graxos essenciais para a alimentação humana, são os ácido linolêico (ômega-6) e ácido alfa linolênico (ômega-3). O primeiro, está presente em grande quantidade nos óleos de milho e soja, enquanto o segundo, é encontrado em vegetais de folhas verdes e no óleo de linhaça. Estes ácidos graxos não tem função apenas como fonte de energia. A sua importância está na capacidade de se transformar, dentro do nosso organismo, em formas biologicamente mais ativas (longas e insaturadas), que possuem funções: 1) estruturais nas membranas celula- res, 2) desempenham importante papel no equilíbrio homeostático e, 3) nos tecidos cerebrais e nervosos. A alimentação humana, corretamente balanceada, deve atender a uma relação ótima de ômega-6 para ômega-3, de 4 : 1. Porém, o ritmo de vida atual, muitas vezes não permite uma alimentação rica e selecionada. Os óleos de muitas espécies de peixes marinhos são ricos em EPA (ácido eicosa- pentaenóico) e DHA (ácido docosahexaenóico), que são as formas longas e poliinsaturadas ativas da série ômega- 3, que podemos utilizar diretamente em nosso metabolismo. Estes ácidos graxos são produzidos pelas algas marinhas, e depois transferidos de forma bastante eficiente através da cadeia alimentar, via zooplânctons, para os peixes. Dentre os peixes, aqueles que contêm maior quantidade de EPA e DHA, são aqueles que habitam as águas frias, como o salmão, a truta e o bacalhau. Estes apresentam não somente os ácidos graxos essenciais, como também são fontes protéicas de altíssima qualidade, ótima digestibilidade e baixo teor calórico. Portanto, são bastante recomendadas para ajudar a manter a boa saúde do coração e da circulação, por aumentarem os níveis de colesterol “protetor”. Também são recomendados para gestantes e lactentes para promover um melhor desenvolvimento cerebral e dos olhos das crianças. Uma das grandes preocupações da atualidade está associada ao elevado índice de mortalidade por doenças cadiovasculares. Estas doenças têm uma etiologia multifatorial, e sua origem surge de uma combinação de diversos fatores de risco. Porém, vários destes fatores de risco podem ser positivamente modificados pela ação dos ômega-3 H UFA. Dados experimentais (Kromhout et al., 1985) e epidemiológicos, mostram uma redução sígnificativa no índice de mortalidade por doenças coronarianas, confirmando a atividade cardioprotetora dos ácidos graxos EPA e DHA. Portanto, é bastante justificável, numa orientação dietética, recomendar a ingestão de um ou dois pratos de peixe por semana. 13Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 AJUSTANDO AS TAXAS DE ALIMENTAÇÃO Autor Alberto J. P. Nunes, Ph.D. Gerente Técnico – Aqüicultura Agribrands do Brasil Ltda. albertojpn@agribrands.com.br Devido à sua extensão, esta matéria foi dividida e publicada em 3 partes consecutivas (nas edi- ções 62,63 e 64) O ajuste nas taxas de alimentação por meio de bandejas baseia- se no monitoramento do consumo de ração ocorrido entre o último período da oferta do alimento e o arraçoamanto seguinte. Ou seja, a quantidade de ração a ser distribuída no período seguinte de alimen- tação deve obedecer a quantidade restante de ração observada em cada bandeja na hora da oferta do alimento. Parte III O AjUstE POr MEiO DE BAnDEjAsO AjUstE POr MEiO DE BAnDEjAs Final 14 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 15Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Tabela 1 Procedimentos e ajustes nas taxas de alimentação, com base no arraçoamento exclusivo em bandejas de alimentação (fonte: Rocha e Maia 1998). As taxas de alimentação são então modi- ficadas conforme a Tabela 1.O consumo de ração em bandejas pode variar no início do cultivo de 1kg/ha/dia a 7kg/ha/dia, para camarões com peso médio de 2,5g (20 dias de engorda). A partir deste estágio, o consumo aumenta gradativamente, especialmente durante os períodos de muda da população. O manejo alimentar torna-se mais crítico nas fases intermediária e final do ciclo de engorda, onde a biomassa de camarões estocada é mais elevada e portanto, o consumo de ração é maior. A fim de evitar estimativas equivocadas do consumo de ração, é necessário um rigoroso combate a predadores e (ou) competidores. Para um melhor acompanhamento do consumo, os funcionários devem ser treinados para determinar Figura 1 Desenho ilustrativo de medidores utili- zados para auxiliar no ajuste das taxas de consumo em ban- dejas de alimenta- ção. Os medidores são zerados na pri- meira alimentação do dia. Método das Tabelas de Alimentação Um manejo efetivo de rações por meio de tabelas de alimentação baseia-se em amostragens precisas e contínuas da população cultivada de camarões. Um conhecimento da biomassa, durante o ciclo de produção, é crítico para calcular a quantidade de ração que deve ser ofertada, e assim definir a taxa de alimentação. Alimentar uma biomassa que não existe é uma das principais causas da poluição de viveiros, ocasionada pelo método de ajuste de ração por tabelas. Tabela 2 Ajustes nas taxas de arraçoamento para a distribuição por voleio baseados no uso de bandejas de alimentação. O método de ajuste alimentar aqui apresentado está geralmente associado a distribuição de ração exclusiva em bandejas, mas pode ser adaptado a distribuição por voleio. Isto é aplicável nos casos em que o arraçoamento exclusivo em bandejas não é viável, seja por questões técnicas ou econômicas. Para isto, é necessário introduzir de 6 a 8 bandejas/ha, sendo o mínimo de 3 bandejas por viveiro, independente da área de cultivo existente. Cerca de 3,0% a 5,0% da refeição diária deve ser dividida uniformemente pelo número de bandejas utilizadas. Esta quantidade deve ser ofertada exclusivamente em bandejas, sendo o restante distribuído por meio de lanços em toda a área de cultivo. As bandejas devem ser inspecionadas de 2,0 h a 2,5 h após a oferta do alimento, sendo as taxas de alimentação alteradas conforme a Tabela 2. Na Fig. 1 foram fixados três medidores que representam três horários de alimentação, 0700 h, 1100 h e 1500 h. Foi arbitrado para cada argola um valor equivalente a 100g de ração ofertada. A argola branca representa um valor neutro, indicando simplesmente a direção na qual as outras argolas devem ser movidas. Os arraçoadores foram orientados para adicionar 300g de ração em cada bandeja ou conforme o consumo observado. 1 - Às 0700 h, 100 g de ração não consumida foi observada e coletada deuma bandeja, derivada da alimentação (300g) do dia anterior. Foi então ministrado 200g de alimento e movida duas argolas para o lado oposto do medidor das 0700 h, a fim de representar a quantidade de ração ofertada. 2 - No arraçoamento das 1100 h foi observado na mesma bandeja 100g de ração não consumida. Neste horário o arraçoador baseia-se no número de argolas presentes no medidor das 0700 e no consumo observado, para adicio- nar apenas 100 g de ração. Uma argola foi movida para o lado esquerdo para representar a quantidade ofertada, sendo o que restou na bandeja removido para descarte. Às vezes alguns arraçoadores fazem a opção de manter o alimento não consumido na bandeja, apenas completando a refeição. Esta prática não é recomendada por motivos já discutidos (edição 63). visualmente a quantidade de ração (100g, 200g, 300g, etc) não consumida em cada bandeja. Isto permite modificar a quantidade de ração administrada por bandeja e por horário de arraçoamento. A fim de auxiliar no controle do consumo, podem ser utilizados pequenos medidores fixados nas varas que posicionam as bandejas (Fig. 1). O número de medidores instalados em cada bandeja deve variar conforme a freqüência alimentar utilizada, ou seja, para três alimentações diárias são utilizados três medidores por vara. Entretanto, atualmente muitas fazendas estão adotando apenas um medidor por bandeja. Os medidores são feitos de arame em forma de “U”, presos a uma base de madeira, possuindo pequenas argolas de cores variadas para expressar arbitrariamente a quantidade de ração ofertada, consumida ou restante na bandeja. Para melhor ilustrar o uso do medidor, segue o seguinte exemplo na tabela a baixo: 16 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 17Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Projeções de ciclos anteriores podem dar um bom indicativo dos níveis de sobrevivência. Por exemplo, quando as informações indicam que 60% dos camarões sobreviveram da estocagem até a despesca, assume-se, salvo perdas catastróficas que uma sobrevivência semelhante será obtida. Durante o decorrer de um ciclo de produção as perdas são computadas baseadas em uma mortalidade de 40% sobre o número total dos animais inicialmente estocados. As perdas são geralmente maiores nos estágios iniciais do ciclo de produção, logo após o estresse associado com a transferência e devido aos animais estarem mais vulneráveis a predadores. Durante esse período alguns cultivadores utilizam redes de sobrevivência, um pequeno cercado contendo um número conhecido de pós-larvas, para estimar a sobrevivência dos camarões. O uso de redes de tarrafa para estimar as condições de saúde, crescimento e sobrevivência baseia-se na amostragem periódica (i.e., semanalmente) da popu- lação cultivada. Os camarões devem ser capturados aleatoriamente no centro do viveiro e próximo aos taludes. No mínimo 50 indivíduos/ha devem ser coletados para pesagem e análise visual (muda, cor, odor, presença de enfermidades). Deve-se exa- minar também se está havendo ganho de peso (se a cauda está magra ou gorda), e se os estômagos estão cheios com ração, após 30 min a 1 h da alimentação. Durante as amostragens deve-se observar as condições do viveiro e a presença de predadores. Para obter resultados confiáveis de sobrevivência, são necessários de 4 a 5 tarrafadas/ha, mas este valor dependerá da variação observada em cada amostra, ou seja, quanto maior forem as variações no tamanho e no número de camarões, maior deve ser o número de tarrafadas/ ha. A área coberta pela tarrafa é computada através da seguinte formula: A= x R2, onde A = área, = 3,1416 e R = raio estimado de abertura da rede durante o tarrafeio no viveiro. Uma grande limitação no uso deste método é a distribuição espacial dos camarões no viveiro, especialmente em condições de baixa densidade de estocagem. As tabelas de alimentação (Tabela 4) são comumente utilizadas para calcular a refeição diária, porém quando associadas ao consumo de ração, oferecem uma boa referência dos níveis de sobrevivência. Por exemplo, em um viveiro de 7ha foi estocada uma população de 1.260.000 camarões. Após 115 dias de engorda, observou-se camarões com 12g de peso médio e um consumo de 307kg de ração/dia. Seguindo a Tabela 4.4 (fonte 3), encontramos uma taxa de alimentação de 2,6% (camarões com 12g). Com estes dados, podemos estimar uma biomassa estocada de 11.808kg de camarão (307kg ÷ 2,6% x 100), uma população de 984.000 camarões (11.808kg ÷ 12g) e uma sobrevivência de 78% (% de 984.000 sobre 1.260.000 camarões). Uma vez determinada a sobrevi- vência e o peso médio da população, pode ser seguida a Tabela 4, de acordo com a densidade de estocagem utilizada. Ou seja, para um camarão com 7g estocado em um viveiro de 5 ha a uma densidade de 30 indi- víduos/m2, a taxa de alimentação deve ser de 3,6% da biomassa/dia (Tabela 4, fonte 6). Com uma sobrevivência projetada em 63%, teremos uma população de 945.000 indivíduos (63% de 1.500.000 camarões) e Este método está geralmente associado a distribuição de ração por voleio, mas pode também ser utilizado em conjunto com a distribuição exclusiva em bandejas. O crescimento da população é determinado por amostragens rotineiras, enquanto a sobrevivência pode ser esti- mada baseada em cálculos anteriores de estimativas da demanda de ração, pelo uso de redes de tarrafa para a amostra- gem da densidade ou por informações padronizadas de sobrevivência (Tabela 3). A sobrevivência é uma das variáveis da produção mais difíceis de estimar. Estes fatores, juntamente com os parâ- metros que afetam o consumo alimentar dos camarões, comprometem a precisão das tabelas de alimentação. 18 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 19Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 uma biomassa de 6.615kg de camarão (7g x 945.000 indivíduos). Devemos então distribuir 238kg de ração/dia (3,6% de 6.615kg de camarão). As tabelas de alimentação podem também auxiliar nos cálculos de oferta de ração em bandejas. Neste caso, aplica-se a seguinte formula (F1): quantidade de ração (QR, em kg) = % do peso médio dos camarões (PC, seguir tabela de alimentação) x biomassa da população (BP). Para utilizar as tabelas de alimenta- ção (Tabela 4) nos cálculos da refei- ção diária, é inicialmente necessário determinar a sobrevivência e o peso médio da população cultivada. Em um segundo exemplo, para um cama- rão com 7g estocado em um viveiro de 5 ha a uma densidade de 30 indivi- duos/m2, a taxa de alimentação deve ser de 3,6% da biomassa/dia (Tabela 4, fonte 6). Com uma sobrevivência projetada em 63%, teremos uma população de 945.000 indivíduos (63% de 1.500.000 camarões) e uma biomassa de 6.615kg de ca- marão (7g x 945.000 indivíduos). Devemos então distribuir 238kg de ração/dia (3,6% de 6.615kg de camarão). Para estimar a quantidade de ração a ser ofertada em cada bandeja e em cada horário de arraçoamento (QRBA, em g), temos a formula (F2): QRBA = QR ÷ n° de bandejas (NB) ÷ n° de arraçoamentos/dia (AD). Como exemplo, para uma popula- ção de 1.440.000 camarões com 3g de peso médio, devemos arraçoar 6,2% da biomassa estocada (Tabela 3, fonte 6). Aplicando a formula F1, teremos: QR = 6,2% x (1.440.000 camarões x 3g) = 6,2% x 4.320kg = 268kg. A ração é distribuída 3 vezes/ dia e são utilizadas 30 bandejas/ha. Em um viveiro com uma área de 6,0 ha, temos um total de 180 bandejas. Calculando a refeição por bandeja e horário de arraçoamento, teremos: QRBA = 268kg ÷ 180 bandejas ÷ 3 vezes ao dia = 0,49kg ou 500g. ARMAZENANDO A RAÇÃO A qualidade da ração deteriora-se rapidamente, caso esta não seja ar- mazenada de forma correta. As rações devem ser mantidas protegidas do sol em umaárea seca e bem ventilada. O local de armazenagem deve pos- suir uma circulação de ar adequada, capaz de manter constante a temperatura das rações estocadas. Temperaturas elevadas afetam diretamente a qualidade de vitaminas e lipídeos presentes no produto. Nos viveiros, a ração deve ser mantida abrigada sob tendas ou abrigos ou ainda em pequenos silos. Este último, facilita o manuseio, podendo reduzir os custos de mão-de- obra e transporte da ração até os viveiros. Os sacos de ração devem ser empilhados em paletes (pranchas de madeira), longe do contato direto com chão ou paredes. O empilhamento não deve exceder a 10 sacos, a fim de não comprometer a integridade física dos peletes. Os períodos de armazenamento não devem passar de 3 meses e idealmente as rações devem ser utilizadas dentro de 2 semanas a um mês, após sua fabricação. A implantação de um controle do in- ventário permite que as rações mais velhas sejam utilizadas antes das mais novas. Quando as rações são armazenadas por um período muito longo ou sob condições inadequadas, podem surgir problemas sérios tais como, a perda de vitaminas, a contami- nação por toxinas ou a rancificação de óleos. Os contaminantes mais comuns de rações são fungos e micotoxinas. Toxinas são produzidas por fungos ou mofos, os quais podem crescer nos ingredientes utilizados na fabricação de rações formuladas. Os fungos mais comuns encontrados em rações são espécies do gênero Aspergillus. Vários ingredientes, incluindo o farelo do caroço de algodão, a farinha de amendoim, os subprodutos do milho e os grãos de cereais, são susceptíveis a estes tipos de fungos. Todas as rações devem ser examinadas para detectar sinais de mofo de descoloração ou de um aumento anormal da umidade ou da temperatura. Devem ser descartadas todas as rações que apresentem qualquer sinal de mofo. As perdas financeiras com o uso de uma ração ruim podem ser mais elevadas do que o seu descarte. Devido a sua extensão este artigo foi dividido em três edições consecutivas, são elas: Edição 62: Introdução Aspectos Biológicos: o sistema alimentar dos camarões; a detecção, o consumo e a digestão; os hábitos alimentares; os requerimentos nutricionais. Edição 63: Desenvolvendo um Plano Alimentar - Os fatores que afetam o consumo: o alimento natural; a qualidade da água; a qualidade da ração; o tamanho do camarão; a atividade de muda. - A freqüência alimentar - Os horários de alimentação - Os locais de distribuição - Os métodos de arraçoamento: bandejas de alimentação; lanço ou voleio. Edição 64: Ajustando as Taxas de Alimentação - O ajuste por meio de bandejas - Método das tabelas de alimentação Armazenando a Ração 20 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 21Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária criou, e já está pondo em prática, a sua estratégia para institucionalizar a aqüicultura dentro do seu SEP - Sistema Embrapa de Planejamento. A boa notícia é que isso, na prática, significa que já em janeiro do próximo ano vários projetos de pesquisa em aqüicultura estarão em andamento graças ao apoio das parcerias que a Embrapa está buscando fazer com universidades, centros de pesquisa, empresas privadas e outras instituições. Até 15 de julho próximo, a Embrapa estará aberta para receber projetos de todo o Brasil para que sejam apreciados e selecionados ainda este ano. Os projetos escolhidos receberão recursos e o apoio do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAA) e do Depar- tamento de Pesca e Aquicultura (DPA), através do PPA 2000/2003 “Pesquisa e Desenvolvimento em Aquicultura” e também do sistema Embrapa de pesquisa para que já estejam em andamento em janeiro do próximo ano. As regras da parceria não são outras senão o jeito Embrapa de pesquisar, conhecido por impulsionar diversos segmentos da produção agropecuária brasileira. Não são tão recentes os rumores de que a Embrapa estaria estudando com seriedade a forma como iria efetivamente assu- mir a organização das atividades de ciência e tecnologia para a aqüicultura, e a dúvida parecia ser apenas a forma como isso se daria. Especulou-se até que a Embrapa assumiria a direção das inúmeras estações de pesquisa em aqüicultura pertencentes ao IBAMA/Ministério do Meio Ambiente, que hoje padecem de apoio institucional e recursos, resultado das mudanças nos rumos da gestão da política aqüícola, desde 1998 nas mãos do Ministério da Agricultura. A opção da Embrapa, no entanto, foi pelo caminho das parcerias produtivas. Dessa forma, partiu para uma pesquisa de campo em busca da radiografia dos diversos segmentos que compõem a atividade dos cultivos de organismos aquáticos no Brasil, para melhor avaliar as suas demandas. Grupo de Trabalho Estrategicamente, em setembro do ano passado, a Diretoria Executiva da Embrapa criou o Grupo de Trabalho em Aqüicultura, com a finalidade de identificar as necessidades de pesquisa para cada uma das regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul). Segundo os estudos da empresa que precederam a formação desse Grupo de Trabalho, hoje ainda não se tem uma idéia real das potencialidades para o desenvolvimento da aqüicultura no Brasil, nem das prioridades para o desenvolvimento da pesquisa e tampouco das demandas do setor produtivo. As conclusões a que chegaram os técnicos foram tiradas após terem encontrado vários exemplos de projetos de pesquisa em aqüicultura mal planejados e executados, demandas mal definidas, duplicidade de ações de pesquisa, desconhecimento da realidade local, posições antagônicas às dos órgãos ambientais, importação de tecnologias alienígenas, falta de conhecimentos para obtenção e liberação de crédito, etc. Para os especialistas da Embrapa, essa situação é a principal causa dos diversos problemas que estão retardando o desenvolvimento da aqüicultura no País. Para eles, atualmente não existe uma instituição ou mesmo uma instância de coordenação que facilite, tanto a organização das atividades de ciência e tecnologia para a aqüicultura, quanto o intercâmbio técnico entre os inúmeros centros de pesquisa, ensino e extensão que atuam no setor. Em resumo, para a Embrapa, todos os esforços empreendidos nessa área estão difusos e sem a integração e a complementaridade esperada. Embrapa transforma a Aqüicultura em um de seus Programas de Pesquisa Um dos principais objetivos da empresa, ao formar o Grupo de Trabalho em Aqüicultura, foi coletar num curtíssimo prazo de tempo, o maior número de informa- ções de toda a cadeia produtiva de organismos aquáticos. De lá para cá, o Grupo ouviu depoimentos críticos de especialistas ligados a área de aqüicultura e organizou uma série de reuniões técnicas e visitas regionais, com o objetivo de elaborar um diagnóstico atualizado sobre o estado da arte dessa atividade no Brasil, com destaque para a indicação de potencialidades a serem desenvolvidas e para os problemas que demandam soluções tecnológicas ou de desenvolvimento. Como parte final desse trabalho, a Embrapa pretende apresentar um conjunto de estratégias de ação para o desenvolvimento sustentável do setor, com ênfase ao segmento de Ciência & Tecnologia. A Embrapa sabe que apesar de todo o potencial da aqüicultura exis- tente no Brasil, as dimensões dessa atividade ainda são pouco significativas e isso se deve a falta de uma política eficiente para organizar e promover o desenvolvimento da aqüicultura como fonte de produção de alimentos. SEP – Sistema Embrapa de Planejamento A aqüicultura, entretanto, não esteve distante da Embrapa nesses últimos anos. Um dos exemplos é a pesquisa realizada pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), em conjunto com associações de produtores rurais e comunidades de quatro municípios paraenses,onde desenvolveu tecnologia para um sistema intensivo A E m br ap a de criação de tambaqui em cativeiro, empregando gaiolas flutuantes confeccionadas com madeiras locais, contando com a participação direta das comunidades rurais na execução desse trabalho. O enfoque neste caso foi o da segurança alimentar, já que a pesca, a caça e a coleta de frutos silvestres são a base alimentar dessas comunidades, que ficam prejudicadas no período das chuvas – janeiro a junho, onde é menor a oferta desses produtos. Com o uso das gaiolas, as famílias podem programar outras atividades com a certeza de que o pescado está garantido. Entretanto, essa e outras pesquisas relacionadas à produção de pescado realizadas dentro da Embrapa nos últimos anos, como as que também são desenvolvidas pela Embrapa Pantanal e pela Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus- AM), não foram, suficientes para que o tema aqüicultura tenha sido institucionalizado dentro da empresa, passando a fazer parte efetiva do Sistema Embrapa de Planejamento (SEP). O Grupo de Trabalho de Aqüicultura tem trabalhado para fornecer à Embrapa uma visão abrangente dos problemas para a pesquisa na atividade. De grande importância foram as reuniões regionais, iniciadas no final do ano passado e terminadas em maio recente, com a realização da reunião da Região Sudeste ocorrida em Jaguariúna – SP, que juntou, a exemplo das demais reuniões, representantes dos mais variados segmentos da atividade; da academia ao produtor, passando pela indústria provedora de insumos. De posse das informações geradas nessas reuniões, a Embrapa dará início ao incentivo aos projetos multidisciplinares, trabalhos de equipe, parcerias interinstitucionais e a otimização no uso de recursos, de modo que a atividade aqüícola em breve venha a se constituir em mais um Programa, juntando-se aos 19 já existentes. Na prática os Programas juntos formam a espinha dorsal da estrutura de pesquisa da EMBRAPA. 22 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 SIGER A luta agora é contra o tempo pois o prazo é para entrega dos novos projetos da Embrapa é 15 de junho próximo. Para enviar um projeto para a Embrapa é necessário que o pretendente o submeta dentro das estritas normas da Embrapa, famosas por sua complexidade. Os interessados precisam submete-los através do SIGER – Sistema de Informação Gerencial da Embrapa, cujos formulários (disponíveis em arquivos do Microsoft Word) devem ser solicitados ao pesquisador Júlio Ferraz de Queiroz, responsável técnico do PPA - Pesquisa e Desenvolvimento em Aqüicultura - pelo email: jqueiroz@cnpma.embrapa.br Os novos projetos de pesquisa poderão ter como líder um pesquisador que não seja obrigatoriamente da Embrapa. Entretanto, é recomendável que o líder do projeto seja da Embrapa para facilitar as futuras transferências de recursos financeiros envolvidos nos projetos. De qualquer maneira é recomendável também que as instituições de ensino e pesquisa participantes do projeto de pesquisa possuam um acordo de cooperação técnica entre si. Os projetos de pesquisa da Embrapa são compostos de no mínimo dois subprojetos de pesquisa e desenvolvimento, e um subprojeto de gestão do projeto. O máximo de recursos liberado para projetos de pesquisa da Embrapa é R$ 100.000,00/ano, sendo que o período máximo de duração dos projetos é de três anos, totalizando R$ 300.000,00. Portanto, os novos projetos de pesquisa não devem ultrapassar esse valor, sendo o limite máximo de recursos liberados para subprojetos de gestão é 2% do valor total do projeto. Nesse caso, não deverá ultrapassar R$ 2.000,00/ano. A Embrapa adota o SEP – Sistema Embrapa de Planeja- mento, que conta com 19 programas de pesquisa, sendo que o programa do café é o mais recente. Para isso, existem 19 CTPs – Comissões Técnicas de Programas, sediadas em alguns Centros de Pesquisa da Embrapa (mais detalhes ver www.embrapa.br). Cada um desses 19 Programas de Pesquisa da Embrapa tem seus objetivos e prioridades. Os novos projetos de pesquisa em aqüicultura deverão ser encaminhados (duas cópias impressas e uma cópia de disquete), até 15 de julho para o Coordenador do Grupo de Trabalho em Aquicultura, Júlio Ferraz de Queiroz (jqueiroz@cnpma.embrapa. br). Deverão ser elaborados de acordo com o Manual do Siger e serão avaliados por um comitê ad hoc, de quem se espera uma avaliação isenta para contemplar as propostas de pesquisa que realmente responderão às mais importantes questões do atual cenário aqüícola brasileira. O Comitê designado no ano passado pela Diretoria Executiva da Embrapa é atualmente composto por: Geraldo Bernardino - DPA/MAA, João Donato Scorvo Filho - Instituto de Pesca de São Paulo, José Eurico Possebon Cyrino - Prof. Depto. de Produção Animal, ESALQ/USP, José Nestor de Paula Lourenço - Embrapa Amazônia Ocidental, Júlio Ferraz de Queiroz - Embrapa Meio Ambiente, Newton Castagnolli - Castagnolli Aquicultura Ltda., Wagner Cotroni Valenti - Comitê de Aquicultura do CNPq e CAUNESP. institucionalização A institucionalização da aqüicultura dentro do sistema Embrapa de pesquisa é uma das mais importantes notícias que o setor aqüícola pode receber. Há um grande desejo que isso se concretize com sucesso no mais curto espaço de tempo para que tenhamos, o mais breve possíveis, solução desen- volvidas sendo postas em prática no campo, solidificando o perfil da atividade. 23Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 Dos seus 30 mil hectares disponíveis à piscicultura, o Piauí já opera com 336 hectares de viveiros, que geram uma produção média de 5,4 ton/ha/ano, onde o tambaqui, pacu, pirapitinga e seus híbridos estão entre as principais espécies cultivadas num ambiente que permite a sua reprodução durante oito meses no ano. No litoral piauense, composto de apenas 66 km de costa, a carcinicultura já ocupa 508 hectares de espelho d’água em produção, que alcançam uma produtividade média anual de 3,6 toneladas de camarão por hectare. A produção anual de camarão no Estado é de 1.818,8 toneladas, num sistema em que o Litopenaeus vannamei é cultivado em 98,9% das fazendas. As boas perspectivas levou o Estado do Piauí a criar mecanismos de incentivos e infra-estrutura como asfalto e energia, para que sejam implantados ainda este ano mais 515 ha de cultivo, que vão perfazer um total de 1.018 hectares de espelho d’água produzindo camarões marinhos, que poderão gerar receitas de US$ 30 milhões. Depois de ver consolidadas as muitas pisciculturas e fazen- das de camarão em seu estado, o aqüicultor piauiense está agora também despertando para a ostreicultura e para a ranicultura. Uma das razões do interesse nessas atividades é que o Piauí, que conta com o Delta do Rio Parnaíba - um dos três deltas das Américas, oferece um ambiente bastante favorável aos cultivos de moluscos, além de condições climáticas e recursos hídricos de qualidade em grande quantidade, onde o cultivo de Crassostrea rhizophora pode vir a ganhar muitos adeptos. Mercovale Por tantos motivos, a aqüicultura será destaque no VI Mercovale – Encontro de Negócios dos Vales do São Francisco e Parnaíba, um encontro anual de negócios tradicionalmente realizado pela CODEVASF, que este ano se realizará em Teresina, de 27 a 30 de maio. Segundo o Engenheiro de Pesca Edson Falcão Lima, Coordenador de Pesca e Aqüicultura da Secretaria da Agricultura do Estado do Piauí, o dia 28 de maio foi dedicado apenas para as palestras de interesse exclusivo da aqüicultura com as seguintes temas e palestrantes confirmados: 1 - Política Aqüícola do Governo Federal por Gabriel Calzavarra de Araújo, Diretor do Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura; 2 - Aqüicul- tura piauiense: status e oportunidades de investimento, por Edson Falcão Lima, Coordenador de Pesca e Aqüiculturado Estado do Piauí e Luís Martins Borges – Coordenador de Planejamento da EMATER/PI; 3 - Aqüicultura pela CODEVASF: do Vale do São Francisco ao Vale do Parnaíba por Albert B. de Sousa Rosa, Co- ordenador de Aqüicultura da CODEVASF-DF ; 4- Perspectivas de investimento, mercado globalizado na carcinicultura piauiense, por Itamar de Paiva Rocha, Presidente da ABCC - Associação Brasileira dos Criadores de Camarão; 5 - Indústria da ração e insumos no contexto do desenvolvimento da aqüicultura, por Fer- nando Kubitza, da Acqua & Imagem e, 6 - Política e programa de crédito do Banco do Nordeste e Banco do Brasil, para aqüicultura, por Ildemar Vieira, Gerente de ambiente de política do Banco do Nordeste e, Manoel Emídio M. de Araújo Costa – Gerente de Negócios do Banco do Brasil. Ainda faz parte da programação uma visita técnica à Mariscos do Brasil S/A no dia 29/05/2001. Os interessados em participar do VI MERCOVALE poderão entrar em contato com os organizadores do evento pelo telefone (86) 213-2329 ou e-mail: efalcao@webone.com.br MErCOVALE atrai aqüicultores para o Estado do Piauí 24 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 udo começou quando Sergio Tamassia, pes- quisador da Epagri, escreveu uma mensagem aos participantes da lista, revelando que no site www.worldcatch.com, haviam feito uma pesquisa que indagava sobre que tipo de salmão as pessoas tinham preferências em consumir, cujo resultado revelou que 19% dos consumidores preferiam o salmão cultivado, contra 81% dos consumidores, que davam preferência ao salmão selvagem. O curioso resultado da pesquisa aguçou a partici- pação de Gilberto Pereira Júnior, de Florianópolis- SC, relatando o fato de que nesta cidade o mesmo acontecia em relação ao marisco cultivado e o coletado nos costões. Segundo Gilberto, não só o nativo da ilha, mas também muitas outras pessoas juravam “de pés juntos” que o sabor do marisco cultivado é muito inferior. Apesar de as- sumir que não possui um paladar muito apurado, Gilberto fica impressionado com a quantidade de pessoas que compartilham desta opinião. O “panoramauta” (como se auto-intitulam os internautas que fazem parte da lista de discussão Panorama L) diz que o mesmo acontece com o camarão, que muitos catarinenses dizem ser o capturado infinitamente melhor. E completa: “não é só com organismos aquáticos cultivados que isso acontece. Há anos eu escuto falar que o frango caipira, para os que tiveram a oportunidade de saborear, é melhor que o frango de granja. Na opinião de Gilberto essas preferências estão relacionadas ao paladar dos organismos cultivados e, portanto, esse assunto mereceria estudos mais apro- fundados visando melhorias no manejo, qualidade das rações, tudo que tentasse aproximar o paladar dos organismos cultivados aos das populações selvagens, se essas diferenças forem realmente relevantes. Caviar A discussão ficou ainda mais aquecida com a participação de Ricardo Y. Tsukamoto,da Bioconsult, cujo comentário foi de que no Japão, a comparação entre produto cultivado e selvagem já é realizada há 30 anos, tendo se tornado uma especialidade à parte dentro do campo do processamento de pescado. Lá, foram cons- tatadas diferenças de ácidos graxos, de consistência da carne (porque o peixe cultivado é sedentário), coloração, etc. mas invariavelmente, o preço do animal selvagem é mais elevado, algumas vezes em até 200 ou 300 % mais caro em relação ao cultivado. Tsukamoto lembra entretanto que, há casos onde o organismo aquático cultivado é melhor, e ex- plica: “numa pesquisa “cega” na América do Norte, os consumidores preferiram o salmão cultivado por ter menos gosto de peixe do que o salmão selvagem. Essa diferença ocorre porque o salmão cultivado é alimen- tado com ração rica em gorduras de fontes terrestres (vegetais ou sebo), enquanto o salmão selvagem se alimenta somente de animais marinhos. Como todos nós sabemos, os consumidores de todo o mundo desejam peixes com carne isenta de gosto marcante (“bland taste”), para fixar bem o sabor do molho, e razão pela qual a tilápia faz tanto sucesso. Mas sempre no quesito preço, ganha a raridade do produto”. A enguia é outro caso interessante: os japoneses atuais se habituaram a comer enguias bem gordas e tenras oriundas de cultivo e agora acham estranha a enguia selvagem, de carne dura e seca. História semelhante à do citado frango caipira entre nós... Voltando a pesquisa da World Catch, é preciso observar que a pergunta foi “que tipo de salmão as pessoas tinham preferências em consumir”, e não um teste de degustação. Obviamente ganhou disparado o mais raro e com mais “glamour”. Ricardo finaliza lembrando que o brasileiro valoriza muito o caviar importado, um produto nobre e caro, de ovinhos pretos e pequenos (com marcante gosto de peixe). “Pobres de nós que valo- rizamos esse lixo - pois é caviar falsificado. É produzido com ova de lump fish, uma espécie marinha abundante e sem valor comercial na Europa. Porém, há várias décadas, alguém lá teve a criatividade de lançá-lo como sucedâneo de caviar - e nós hoje o compramos a preço de ouro, quando talvez a ova de carpa ou de curimba sejam mais saborosas. O caviar verdadeiro é muito raro, vale 6 a 10 mil dólares o quilo, e as ovas são grandes como as de truta.” C ul ti va do s ou S el va ge ns ? T A preferência do consumidor com relação à peixes cultivados ou selva- gens, gerou uma interessante discussão na nossa lista Panorama L 25Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 M al ac oc ul tu ra s ostras, os mexilhões e as vieiras (coquilles) são moluscos que, por terem duas conchas, são conheci- dos como bivalves (duas valvas ou duas conchas). A atividade do cultivo de moluscos é conhecida genericamente como “malacocultura”. Mas, quando se trata especificamente do cultivo de mexilhões, esse cultivo também pode ser denominado de “mitilicultura”, da mesma forma que se for de ostra, pode ser chamado de “ostrei- cultura”, ou ainda, se o cultivo for de vieiras (coquilles ou pectens) poderá ser chamado de “pectinicultura”. O prestígio da cadeia produtiva dos moluscos bivalves na área governamental ficou conhecido por todos quando recebeu recentemente atenção especial do DPA - Departamento de Pesca e Aqüicultura do MA, ao lado das cadeias da tilápia e do ca- marão marinho. Agora, ao receber o apoio do CNPq, através do Projeto Plataforma do Agronegócio do Cultivo de Moluscos Bivalves, a atividade se fortalece ainda mais para seguir sua trajetória rumo ao profissionalismo. No final de abril, cerca de 170 pessoas de 12 estados brasileiros, entre produtores e técnicos, participaram em Florianópolis – SC da reunião do Projeto da Plataforma que, segundo o zootecnista Carlos Eduardo Martins de Proença do DPA/MA, tem como base o Programa Nacional de Apoio ao Desenvolvimento do Cultivo de Moluscos Bivalves, ela- borado pelo DPA/MA e validado pelas mais importantes entidades públicas e privadas que compõem o setor no Brasil. O evento foi aberto pessoalmente pelo Governador Espiridião Amin, que demons- trou conhecer pormenores da atividade e um indisfarçável orgulho de governar o estado que lidera isoladamente todos os aspectos da cadeia produtiva dos moluscos, tendo produzido no ano passado 11.359 toneladas de mexilhões e 749.066 dúzias de ostras. Segundo Proença, a produção nacional de mexilhões em 2000 foi de 12.500 toneladas, avaliada em 6,2 milhões de dólares, enquanto a de ostras foi de 1,3 milhões de dúzias, avaliada em 3,2 milhões de dólares. Em 2000, a malacocultura bra- sileira, que hoje já congrega um pequeno exército de 1.600 produtores, faturou 9,5 milhões de dólares, mesmo tendo que enfrentar obstáculos como a crescente dificuldade paraobtenção de sementes (formas jovens); um problema grave que pode comprometer o sucesso dessa atividade, ainda emergente. Hoje, se cultiva comercial- mente no país apenas uma espécie de mexilhão, a Perna perna, duas espécies de otras: a ostra nativa do mangue Crassostrea rhizophorae e a ostra do Pacífico Crassostrea gigas e uma espécie de vieira, também conhecida como pécten ou coquille, da espécie Nodipecten nodosus. Em caráter experimental, podem ser encontrados o cultivo do sururu, a Mytella falcata, da ostra Spondylus americanu e da ostra perlífera Pinctada marga- ritifera. A seguir, um breve resumo da atividade. As informações foram obtidas diretamente com o gestores do Programa de Moluscos do DPA de cada estado. Maranhão O cultivo de moluscos no A M al ac oc ul tu ra Panorama da Malacocultura Brasileira Estado do Maranhão teve início em 1999 com o Projeto Polomar envolvendo o governo estadual, UFMA, SEBRAE, IED- BIG e Prefeitura Municipal do Município de Raposa. Dos 11 Municípios litorâneos do Estado, oito contam com projetos já implantados, com cerca de 130 produtores organizados em 11 associações onde só se cultiva a ostra do mangue a partir de semen- tes captadas no ambiente natural. A temperatura das águas maranhen- ses varia ao longo do ano de 28 a 31 ºC. As profundidades nos locais de cultivo variam de 2 a 6 metros, com amplitudes médias de maré variando de 4 a 6 metros. A salinidade oscila de 6 a 39 ‰, com grande influência de nutrientes provenientes do deságüe dos rios. O tempo de engorda da ostra na costa maranhense varia de 6 a 8 meses, até alcançar o tamanho de mercado de 8 cm. Os sistemas utilizados são: long-line e o sistema de mesas suspensas, localmente chamadas de mesa- lines. A produção maranhense em 2000 foi de 144.000 dúzias de ostras, comercializadas pelos produtores a R$ 2,50/dz no mercado local. Segundo Wellington Martins, gestor do Programa de Moluscos no Estado, devido às excelentes condições sanitárias do litoral maranhense, as ostras são vendidas sem a necessidade de serem depuradas para um mercado local incapaz 26 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 20012626 de absorver um aumento da produ- ção, situação que, segundo o Wellington obrigaria os produtores a vender a produ- ção para outros estados. Nota: Wellington Martins, da UFMA, veio a falecer alguns dias após participar da reunião do Projeto Plataforma em Florianópolis. Ceará O Estado do Ceará, segundo Max Dantas do GEMB - Grupo de Estudos de Moluscos Bivalves do Labomar/UFC e gestor estadual do Programa do DPA/MA (gemb@labomar.ufc.br), conta com 70 marisqueiras produzindo ostras do mangue no Município de Fortim, no estuário do Rio Jaguaribe, onde a temperatura quase não varia, ficando a maior parte do tempo entre 28 e 30 oC. A profundidade média na preamar é 2,10 m com marés variando em até 1,50 m. A salinidade varia de 30 a 35‰, chegando eventualmente a zero no “inverno” nordestino, por conta das chuvas. O cultivo no Estado está apenas co- meçando, com as marisqueiras, geralmente esposas de pescadores, recebendo orientação técnica do GEMB. Segundo Max Dantas, as primeiras sementes foram provenientes da COONATURA de Sergipe, mas não demonstraram um bom desempenho de en- gorda. Atualmente existem cerca de 80.000 ostras em cultivo, todas provenientes de sementes colhidas no local com a ajuda de coletores de bambu, que deverão ser comercializadas em julho próximo pelas produtoras a R$ 2,50 a dúzia, devendo chegar ao consumidor final cearense entre R$ 4,00 e 5,00. Rio Grande do Norte Apesar do grande potencial, o estado do Rio Grande do Norte ainda não possui cultivo comercial de moluscos, segundo Guilherme Fulgêncio de Me- deiros (seuguila@ufrnet.br) da UFRN. Recentemente, com a ajuda do programa BMLP – Brazilian Mariculture Linkage Programm, apoiado pelo governo ca- nadense, foram instalados dois cultivos experimentais que não apresentaram, até o momento, resultados satisfatórios, já tendo sido selecionadas duas novas áreas para o reinício das experiências. Dos municípios litorâneos do Es- tado, sete apresentam condições para o desenvolvimento do cultivo de moluscos. As ostras existentes no mercado potiguar são provenientes da extração feita por catadores que vendem a carne após um pré-cozimento. Os preços do quilo da carne, nas mãos dos catadores, variam de R$ 3,00 a 4,00, podendo chegar ao consumidor final pelo dobro desse valor. Na orla, o consumidor paga R$ 0,50 pela unidade da ostra viva. Segundo Medeiros, o maior problema atualmente para desen- volver a atividade no estado é a falta de interesse demonstrada pelas comunidades litorâneas. Pernambuco Em Pernambuco o cultivo de mo- luscos é realizado por cerca de 35 famílias em três municípios: Goiana, Sirinhaém e Rio Formoso. Segundo Josenildo Souza e Silva (josenildopeixe@hotmail.com), do Prorenda Rural - PE, o trabalho é desenvolvido com a ostra do mangue, cujas sementes são provenientes da ONG Conatura de Sergipe. Os cultivos são feitos nos estuários, cujas águas apresentam temperaturas entre 24– 28 ºC. A salinidade varia de acordo com o estuário, indo de 16–38 ‰. A variação entre a preamar e a baixa-mar fica em torno de 2 metros. O tamanho de comercialização da ostra do mangue coletada no ambiente é de 6 cm, no entanto está sendo feito um trabalho para diferenciar a ostra coletada da cultivada e, para isso, está sendo adotado como tamanho médio para comercialização da cultivada em 7 cm; que necessita um 27Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2001 tempo médio de cultivo de 6 a 8 meses. A produção no estado até o momento foi de 90 mil ostras, ou 7.500 dúzias. Com um estoque e uma previsão de produção até o início do ano que vem de mais 33 mil dúzias. O preço da dúzia da ostra coletada no ambiente é R$1,20; enquanto que para a ostra cultivada esse preço varia de R$ 1,80 a R$ 2,40. Segundo Josenildo, as ostras trazidas do sul do País, advindas de cultivo, são comercializadas in natura nos supermercados ao preço de R$4,00 a dúzia. Os hotéis, restaurantes e bares – ofertam as ostras a R$ 10,00 a dúzia. Os primeiros módulos de cultivo fa- miliar em Pernambuco foram apoiados pelo PRORENDA RURAL/PE, que faz parte de um programa de cooperação entre o Governo do Estado de Pernambuco e a Agência de Cooperação Técnica Alemã - GTZ. Com o desenvolvimento dos trabalhos, houve a parceria com o Departamento de Pesca da UFRPE e em seguida com a Associação dos Engenheiros de Pesca – AEP, com recursos da extinta SUDENE. Sergipe Segundo Salustiano Marques (salu_marques@uol.com.br) do IBAMA/ SE, nos 168 Km da costa sergipana, que banha 11 municípios, existem seis grandes estuários que apresentam as condições ideais para o cultivo da ostra do mangue, com excelente produtividade primária e temperaturas variando de 24 a 32ºC ao longo do ano. Apesar disso, e do fato de que os primeiros estudos no Estado foram realizados na década de 80, atualmente ainda não se tem uma grande base de cultivo comercial instalada, apesar do Estado possuir um dos poucos laboratórios de produção de semente do País, a Estação de Aqüicultura Estuarina Francisco Arturo, pertencente ao IBAMA, com capacidade de produção de 6 milhões de sementes/ano. Em função da nova missão do IBAMA, que não tem mais como meta o fomento pesqueiro, a Estação está sem produzir sementes desde 1999. A produção de sementes do Estado é oriunda da captação no ambiente natural realizada pela CONATURA - Cooperativa Mista de Trabalhadores e Conservadores da Natureza, que atualmente coleta ao redor de três milhões de sementes anuais. Nos estuários sergipanos, a ostra do mangue alcança
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