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117 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
2 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
3Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 3
Editorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
T sunamis, terremotos, invernos inesperados e quebradeiras econômicas. Quem é capaz de apontar amaior ameaça que a indústria aquícola de um país pode sofrer? Assistimos aos estragos devastadores da tsunami que varreu a costa da Indonésia nas vésperas do ano novo de 2004, e ainda estão frescas 
na memória de todos as imagens chocantes da força das águas, que não poupou laboratórios e viveiros. Passados 
poucos anos, a indústria aquícola deste país sobreviveu à tragédia e, em 2008 já ocupava o quarto lugar no 
ranking dos maiores produtores mundiais de camarão.
Neste mesmo ano, a produção de tilápias na China sofria o seu mais duro golpe, consequência de um 
rigoroso e inesperado inverno, talvez o maior vivido pelo povo chinês nos últimos anos. Com tudo isso, e em 
apenas um ano, os tilapicultores chineses deram a volta por cima batendo recordes de produção, com estimativas 
que se aproximam de um milhão de toneladas de tilápias despescadas em 2009.
Já nos Estados Unidos, a crise econômica seguida da quebradeira de muitas instituições financeiras, 
mexeu no bolso do cidadão americano, e foi capaz de reduzir, pela primeira vez, as crescentes importações de 
filés frescos de tilápia feitas pelo país. Em 2009 os consumidores de tilápia dos EUA reduziram em 6,6% as suas 
aquisições nos países da América Latina, um volume suficiente para ter deixado muitos produtores desnorteados 
neste ano que passou. 
Mas, nem ondas gigantes, tampouco ondas de frio ou instabilidade econômica, têm tanta capacidade de 
dizimar a indústria aquícola de um país, como as enfermidades em animais de cultivo. Os patógenos chegam 
invisíveis e sorrateiros, invadindo laboratórios de alevinos de peixes e pós larvas de camarões, se instalam nos 
viveiros de engorda e acabam se alojando nos animais, bloqueando o bolso dos produtores e, muitas vezes, 
nocauteiam de uma vez por todas o empreendimento.
A salmonicultura chilena, que bem sabe o que é isso, irá despescar em 2010 a sua menor safra desde que 
alcançou o posto de segunda maior indústria salmoneira do mundo, até ser contaminada pelo vírus da anemia 
infecciosa do salmão (ISA). Bem sabem também os carcinicultores equatorianos e brasileiros, cujos resultados 
pós doenças traumatizaram empresas e muitas pessoas envolvidas com a cadeia produtiva.
Por essas e por outras é que a Panorama da AQÜICULTURA vem nos últimos anos focando, com lentes 
poderosas, o tema “sanidade aquícola”. Nesta edição, o especialista Henrique Figueiredo enfoca a importância 
da prevenção das doenças na larvicultura, como forma de evitar que patógenos sejam transportados para outras 
propriedades, assegurando não só a saúde dos animais, mas também a saúde econômica e a sustentabilidade 
dos negócios. Métodos de prevenção são abordados também no primeiro dos três artigos escritos pela equipe 
de especialistas da UFSC, que pretende mostrar aos leitores o que são, como agem e quais as vantagens do uso 
correto dos probióticos. 
A sabedoria popular diz que quanto maior o coqueiro, maior o tombo do coco ou de quem o está colhendo. 
Mas, é certo também que para ter as delícias do coco é preciso subir alto, de preferência com segurança, sem 
riscos de queda. A aquicultura brasileira experimenta um crescimento ainda muito aquém da sua vocação, mas 
seja qual for o rumo que irá tomar, precisa conhecer muito bem os riscos que esse crescimento envolve.
A todos uma boa leitura.
4 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
5Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Cioba Lutjanus analis 
Por seu potencial zootécnico e outros aspectos 
positivos como a rusticidade e rápida adaptação ao 
cativeiro, a cioba Lutjanus analis tem demonstrado 
ser uma das espécies que apresentam as melhores 
opções para o cultivo comercial. Apesar de ter 
hábito alimentar predominantemente carnívoro, 
aceita dietas artificiais e apresenta uma boa resistência frente ao manejo e a 
fatores ambientais adversos. A cioba consegue tolerar níveis elevados de proteína 
vegetal na sua dieta, sem sofrer perda significativa no seu desempenho zootéc-
nico, chegando a atingir pesos superiores a 1 kg em apenas um ano de cultivo. 
Essas foram algumas das conclusões do estudo dos pesquisadores Alberto J. P. 
Nunes, Luiz E. L. Freitas e Marcelo V. C. Sá, que objetivou avaliar o desempenho 
de juvenis de L. analis quando alimentados com dietas que substituíram a farinha 
de peixe por concentrado protéico de soja comercial. Na página 36 leia tudo 
sobre a pesquisa desenvolvida no Labomar, matéria de capa dessa edição.
Editorial
Notícias & Negócios
Notícias & Negócios on-line
Brasil sedia reunião da Rede de Aquicultura das Américas
Piscicultura familiar como ferramenta para o desenvolvimento 
e segurança alimentar
Sanidade Aquícola: Manejo sanitário na larvicultura
Filés frescos de tilápia: EUA registram queda inédita no consumo
Lançamentos Editoriais
Desempenho zootécnico de juvenis de Cioba 
com rações de origem vegetal
A Panorama da AQÜICULTURA nas salas de aula
Ouriços controlam o “biofouling” dos cultivos de vieira
Utilização de Probióticos na Aquicultura
Entrevista: Ricardo Martino – novo presidente da WAS
Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA
Calendário Aquícola
...Pág 36
...Pág 45
...Pág 48
...Pág 06
...Pág 03
...Pág 11
...Pág 14
...Pág 24
Í N D I C E
Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
jomar@panoramadaaquicultura.com.br
Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828
Direção Comercial:
Solange Fonseca
publicidade@panoramadaaquicultura.com.br
Colaboradores desta edição: 
Adolfo Jatobá, Alberto J. P. Nunes, Bruno 
Correa da Silva, Carlos Augusto Gomes 
Leal, Eduardo A. Ono, Felipe do Nascimen-
to Vieira, Fernando Kubitza, Henrique César 
Pereira Figueiredo, José Luiz Pedreira 
Mouriño, Leonardo Lara de Carvalho, Luiz E. 
L. Freitas, Marcelo V. C. Sá, Maria do Carmo 
Figueredo Soares, Roberto Campos Villaça
Os artigos assinados são de 
responsabilidade dos autores. 
A única publicação brasileira dedicada 
exclusivamente aos cultivos de 
organismos aquáticos
Uma publicação Bimestral da: 
Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
Rua Alegrete, 32 
22240-130 - Laranjeiras - RJ
Fone/fax: (21) 3547-9979
www.panoramadaaquicultura.com.br
revista@panoramadaaquicultura.com.br
ISSN 1519-1141
Assinatura:
Daniela Dell’Armi
& Fernanda Araújo
assinatura@panoramadaaquicultura.com.br
Para assinatura use o cupom encartado, 
visite 
www.panoramadaaquicultura.com.br ou 
envie e-mail.
ASSINANTE - Você pode controlar, a cada 
edição, quantos exemplares ainda fazem parte 
da sua assinatura. Basta conferir o número de 
créditos descrito entre parênteses na etiqueta 
que endereça a sua revista.
Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para 
adquiri-los entre em contato com a redação. 
Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 
21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 
40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 
82, 83, 84, 85, 87, 88, 111, 112
Projeto Gráfico:
Leandro Aguiar
leandro@panoramadaaquicultura.com.br
Design & Editoração Eletrônica:
Panorama da AQÜICULTURA Ltda.
 Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda.
Os editores não respondem quanto a quali-
dade dos serviços e produtos anunciados. 
Foto: Luiz E. L. Freitas 
Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA
Edição 117 - Janeiro/Fevereiro - 2010
Piscicultura familiar página 14...
Ouriços controlam o “biofouling” dos 
cultivos de vieira página 48...
...Pág 61
...Pág 31
...Pág 66
...Pág 52
...Pág 65
...Pág 33
...Pág 14
...Pág 13
6 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Notícias & Negócios Notícias & Negócios
WAS 2011 – Em janeiro, o Comitê 
de organização do WAS 2011, o mais 
importante evento da aquicultura 
mundial, organizado pela Socieda-de Mundial de Aquicultura (WAS), se 
reuniu em Natal-RN, para um primeiro 
encontro de trabalho. Estiveram pre-
sentes Ricardo Martino (Fiperj), Rodri-
go Roubach (MPA), Wagner C. Valenti 
(Caunesp), Itamar Rocha (ABCC), Pau-
lo Henrique Nunes (Fenacam), além 
do gerente de eventos da WAS, John 
Cooksey, acompanhado de Mario Stael, 
responsável pela organização da Feira 
de Produtos & Serviços. Com o tema 
“Aquaculture for a changing world”, o 
evento que acontecerá junto a Fena-
cam, de 6 a 10 de junho do próximo 
ano, promete uma programação inova-
dora, com uma série de sessões volta-
das para o setor produtivo brasileiro. 
Segundo Wagner Valenti, que também 
se dedica a programação internacio-
nal desse congresso, alguns detalhes 
já foram definidos para atrair parti-
cipantes de todo o país. Entre eles a 
tradução simultânea em quatro salas 
para o português e em duas salas para 
o espanhol.
 
PELETIZADORA - A Indústria e Comércio 
Chavantes, marca conhecida e aprovada 
pelas grandes empresas do ramo e também 
por pequenos produtores que escolhem 
produzir a sua própria ração, avisa aos seus 
clientes e amigos que através do site da 
empresa (www.chavantes.ind.br) já é pos-
sível obter informações sobre suas máqui-
nas, além de solicitar orçamento. “Nossos 
produtos possibilitam a fabricação de ra-
ção para utilização em pisciculturas, pes-
que-pagues, granjas e haras”, diz o diretor 
comercial da empresa, Carlos Henrique P. 
Inforzato. A Chavantes sediada no municí-
pio paulista de Chavantes, atua há mais de 
30 anos no mercado de peletização, com 
tecnologia e know-how desenvolvido com 
base em pesquisas constantes e em um 
elevado padrão técnico no processo de pro-
dução. O site apresenta uma linha de equi-
pamentos que inclui a peletizadora de 7.5 
HP, que segundo Inforzato, pode produzir 
até 150Kg/hora dependendo do diâmetro 
do furo da matriz e resistência do produto a 
ser peletizado, com custo operacional bai-
xo. “Funciona sem vapor e é acompanhada 
de um resfriador de fácil manuseio com ali-
mentação manual, não sendo necessário o 
uso de elevadores ou transportadores”, diz 
ele. A peletização é uma operação de mol-
dagem na qual partículas finamente dividi-
das são aglomeradas em forma de pelletes, 
possibilitando redução do volume e espaço 
de estocagem. Além disso, a peletização 
melhora as características do alimento, fa-
vorecendo uma boa conversão alimentar. 
SANTA CATARINA I - A Epagri, através do 
seu Centro de Desenvolvimento em Aqui-
cultura e Pesca (CEDAP), acaba de divulgar 
os resultados da aquicultura catarinense 
referentes a 2008. Com relação a piscicul-
tura, o levantamento mostrou que Santa 
Catarina possui dois tipos de produtores: 
20.585 deles são aqueles da chamada “pis-
cicultura colonial”, que se caracterizam por 
não ter regularidade de produção e 2.345 
são produtores da “piscicultura profissional 
ou comercial”. Juntos produziram 26.018 
toneladas de peixes em 2008, avaliados 
em R$ 78 milhões. Além da engorda e da 
venda de peixes para os diversos tipos de 
mercados, existe em Santa Catarina um 
grande número de propriedades que aliam 
empreendimentos turísticos, como pesque-
pagues, pousadas rurais e hotéis-fazenda, 
para oferecer uma estrutura de lazer aliada 
a uma eficiente forma de comercialização 
de pescados. A tilápia liderou a produção 
com 13.038 toneladas (50%), seguida 
das carpas com 9.446 toneladas (36%), 
dos bagres americano e africano que to-
talizaram 1.175 toneladas (5%), das tru-
tas com 636 toneladas, do jundiá (bagre 
nativo) com 432 toneladas e um mix de 
outros peixes, entre eles o pacu, tam-
baqui, traíra, cascudo, que totalizaram 
1.289 toneladas. Ao todo foram 22.923 
piscicultores assistidos pela Epagri, to-
talizando 38.063 viveiros que somam 
12.788 hectares de lâmina d’água.
SANTA CATARINA II – Além das 26 mil to-
neladas da piscicultura continental, Santa 
Catarina produziu ainda 10.891 toneladas 
de mexilhão cultivado; 2.221 toneladas 
ostras; 3,1 toneladas de vieiras; 299 tone-
ladas de camarão marinho e 60 toneladas 
de tilápia, engordadas em água salobra. Ao 
todo, a bem organizada aquicultura catari-
nense abasteceu o Brasil com 39.494 tone-
ladas de pescado.
7Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Notícias & Negócios Notícias & Negócios
SANTA CATARINA III – A mortalidade de 
verão é uma das características da ostrei-
cultura catarinense. O aumento da tempe-
ratura da água nesta época do ano, quan-
do não causa mortalidade, deixa as ostras 
magras para o comércio. O verão deste ano 
foi atípico, com a temperatura se manten-
do por quase dois meses seguidos ao redor 
de 28oC, com a máxima de 32oC registra-
da na semana do carnaval. O resultado foi 
uma altíssima mortalidade. Estima-se que 
as perdas das sementes que estavam sendo 
preparadas para a safra seguinte tenham 
chegado a 80%. Além disso, foram registra-
das mortalidade de ostras adultas, ou o seu 
emagrecimento, o que resultou em trans-
torno na comercialização, justo numa épo-
ca onde o consumo é bastante aquecido. A 
contabilidade do prejuízo, no entanto, só 
poderá ser feita a partir de maio.
PATOLOGISTAS – O XI Encontro de Pato-
logistas de Organismos Aquáticos (ENBRA-
POA) será realizado de 19 a 22 de julho 
no ambiente acadêmico da UNICAMP, em 
Campinas – SP. O Dr. Ricardo Takemoto, 
presidente da Associação Brasileira de Pa-
tologistas de Organismos Aquáticos (ABRA-
POA), organizadora do evento, informa que 
em breve as inscrições estarão abertas, ra-
zão pela qual avisa aos participantes que 
preparem seus resumos. Mais informações 
sobre o XI ENBRAPOA podem ser obtidas no 
site www.abrapoa.org.br ou diretamente na 
secretaria da ABRAPOA, com a Drª Maria de 
los Angeles Perez Lizama, pelos tels: (44) 
3261-4642 - 3261-4658 ou e-mail: secre-
taria@abrapoa.org.br
NOVIDADE ALFAKIT – A Alfakit (www.
alfakit.com.br) empresa pioneira no 
Brasil no desenvolvimento de kits para 
a análise de solo e água, está lançan-
do no mercado o seu “Bloco Digestor 
Para DQO”, modelo AT–525. Segundo 
Léo de Oliveira, diretor técnico da em-
presa, o AT-525 possibilita a digestão 
de até 25 amostras simultâneas para 
análise de DQO, possui aquecimento 
rápido pré-programado de fábrica com 
alarme sonoro e desligamento auto-
mático ao atingir 150ºC por 2 horas. 
Quem adquirir o novo produto ganha 
de brinde um Spectro Kit DQO, para 
100 testes. Mais informações sobre as 
especificações do produto podem ser 
conferidas pelo fone (48) 3233-2338 
ou email: vendas@alfakit.com.br
LICENCIAMENTO SIMPLIFICADO - Os em-
preendimentos de aquicultura no Estado do 
Rio de Janeiro já podem solicitar o Licen-
ciamento Ambiental Simplificado (LAS). De 
acordo com o secretário estadual de Agri-
cultura, Christino Áureo, a inclusão de um 
capítulo específico para o setor aquícola 
na nova legislação ambiental no Rio de 
Janeiro, é resultado de ação da Secretaria, 
através da Fiperj (Fundação Instituto de 
Pesca do Estado do Rio de Janeiro), com o 
apoio do Inea (Instituto Estadual do Am-
biente). Segundo o Diretor de Pesquisa e 
Produção da Fiperj, Glauco Souza Barradas 
(glauco@fiperj.rj.gov.br), trata-se de um 
grande avanço para o setor. Anteriormente 
a complexidade e os custos de um processo 
de licenciamento impediam a regularização 
dos empreendimentos existentes e difi-
cultava a implantação de novos projetos, 
especialmente por pequenos produtores. A 
expectativa é a de que o novo modelo traga 
uma diminuição dos custos do licenciamen-
to ambiental do empreendimento em até 
90%. Após serem licenciados, os aquicul-
tores fluminenses terão acesso a linhas de 
crédito disponíveis para o setor, entre elas 
a do Programa Multiplicar, da Secretaria de 
Agricultura do Estado do Rio de Janeiro.
8 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Notícias & Negócios
NOVA AQUAFAIR - A Gessulli Agribusiness 
promoverá de 5 a 7 de outubro a V Aqua-
Fair – Feira Internacional de Aquicultura, 
Maricultura e Pesca, de forma independen-
te, desvinculada da AveSui AméricaLatina. 
A feira destinada ao setor aquícola será 
realizada no Centro de Convenções Centro-
Sul, em Florianópolis (SC) e, segundo os 
organizadores, terá um formato inédito, 
que promete grandes inovações. Além da 
feira de negócios voltada às empresas de 
nutrição, genética, laboratórios, equipa-
mentos, insumos, instalações, transporte 
e demais companhias envolvidas com o 
setor aquícola, a V AquaFair também trará 
ao público o V Seminário Internacional de 
Aquicultura, Maricultura e Pesca, coorde-
nado por Felipe Suplicy, coordenador ge-
ral de Maricultura do Ministério da Pesca e 
Aquicultura (MPA). Mais informações sobre 
o evento pelo telefone: (11) 2118-3133 ou 
e-mail: aquafair@gessulli.com.br
PELIGROSO PERO NO MUCHO - A agência 
de notícias Europa Press noticiou que a Or-
ganização de Consumidores e Usuários da 
Espanha (OCU) recomendou que os peixes 
pangassius e perca não devem ser consu-
midos por terem sido encontrados restos de 
pesticidas e traços de mercúrio nas amos-
tras dos filés de ambos os pescados. O fato 
curioso da nota é que os resíduos contami-
nantes encontrados estão dentro dos limites 
legais, e não trazem riscos imediatos para a 
saúde. Ainda assim, foi mantida a recomen-
dação para não comê-los “mais de uma vez 
por semana”, já que o pangassius e a perca 
têm entrado “con fuerza” nos hábitos de 
compra e consumo dos espanhóis. A OCU 
informou que em quatro das 23 amostras 
de pangassius foi encontrado trifluoralina, 
herbicida proibido na Europa. Também foi 
encontrado resíduo de mercúrio em nove 
das 29 amostras (23 de pangassius e seis 
de perca), mas esses achados não supera-
ram o limite legal de 0,5 mg/kg. Apenas 
“em alguns casos se chegou a metade deste 
limite”, diz a nota. A notícia acabou não 
sendo muito clara a respeito do real perigo 
do consumo desses peixes, e ao fim se tem 
a impressão de que comê-lo é algo “peli-
groso, pero no mucho”.
NOVO ALIMENTO PARA CAMARÃO - A 
Integral Agroindustrial Ltda., empresa 
com sede em Fortaleza-CE, participa do 
mercado Premium de rações comerciais 
desde o ano 2000 para consumo de equi-
nos, bovinos, ovinos e caprinos, feno e 
suplementos nutricionais para equinos. 
Em 2005 lançou com sucesso a linha 
Aquamix Cultivo Intensivo para peixes 
onívoros. Nestes cinco anos conquis-
tou a confiança dos clientes cearenses, 
piauienses e maranhenses pelos resul-
tados em campo, serviço técnico pré e 
pós-venda, e agilidade para atender as 
demandas específicas dos piscicultores. 
Baseado neste sucesso, em março de 
2010, a Integral Agroindustrial multipli-
cou sua capacidade de produção da linha 
Aquamix com o início das operações da 
nova unidade localizada em Paulo Afonso 
(BA). Com esta nova fábrica foi acres-
centada ao portfólio da empresa a linha 
Aquamix Camarão, que pretende atender 
o mercado das Regiões Norte e Nordeste 
com mais competitividade, num segmen-
to cada vez mais globalizado e exigente 
em segurança alimentar e custos. Para 
qualquer dúvida sobre o uso da nova 
ração, o aquicultor pode contatar Luis 
Alejandro Daqui, responsável técnico da 
Linha Aquamix, pelo e-mail: sac@inte-
gralagro.com.br e fone: (85) 3216-1580.
INDÚSTRIA SALMONEIRA - Os preços do 
salmão nos mercados internacionais es-
tão subindo cada vez mais, por conta da 
queda brusca na oferta mundial provocada 
pelo colapso na salmonicultura chilena. A 
queda, nos últimos dois anos, foi de 75%. 
Durante o pico da produção, em 2008, o 
Chile vendeu 403 mil toneladas e os prog-
nósticos da SalmonChile (Associação das 
Industrias de Salmão de Chile) para 2010 
apontam para uma despesca de 245 mil to-
neladas, apesar de existirem prognósticos 
mais pessimistas, que apontam para uma 
produção ao redor de apenas 90 mil tonela-
das. A Noruega, maior produtor mundial de 
salmão, aproveitou os problemas sanitários 
e econômicos da indústria chilena e, em 
2008, produziu 1,5 milhões de toneladas 
de salmão do Atlântico e, para 2010, está 
sendo esperado um crescimento de nada 
menos que 70%. A indústria salmoneira 
vem crescendo muito rapidamente, refle-
tindo nas ações da Marine Harvest, a maior 
produtora mundial de salmão, que subiu 
mais de 400% desde janeiro de 2009.
9Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Notícias & Negócios Notícias & Negócios
NOVO LABORATÓRIO - A AguaVale Piscicultura (www.valedo-
juliana.com.br) localizada no Baixo Sul da Bahia, comemora 
seu novo momento produtivo. A empresa inaugurou em janeiro 
um novo e moderno laboratório de incubação artificial, com 
capacidade de produção de até 18 milhões de alevinos de ti-
lápia/ano. O segmento de piscicultura nas Fazendas Reunidas 
Vale do Juliana foi introduzido em 2001, quando a ideia inicial 
era a implantação de engorda em viveiros escavados. Com o 
decorrer das atividades, verificou-se uma tendência deficitária 
na ordem de milhões de alevinos/ano na Bahia, e o projeto foi, 
então, redirecionado para a produção de alevinos. Atualmente 
a piscicultura é um dos maiores projetos das Fazendas Reuni-
das Vale do Juliana S/A. 
SERRA DA MESA - No dia 24 de fevereiro foi dado o início aos 
trabalhos de demarcação do Parque Aquícola do Lago Serra da 
Mesa, uma antiga reivindicação da população do Norte de Goi-
ás. Com a demarcação das áreas de produção do maior reserva-
tório em volume de água no Brasil, será possível quantificar a 
produção de pescado, que segundo estimativas deve chegar a 
290 mil toneladas por ano.
 
NOVOS CENTROS DE REFERÊNCIA – O Centro de Referência em 
Aquicultura e Recursos Pesqueiros do São Francisco (Ceraqua/
SF) será inaugurado no dia 16 de março. O novo centro em 
Alagoas funcionará no município de Porto Real do Colégio, 
como unidade integrante da 5ª Superintendência Regional da 
Codevasf. A sua gestão será compartilhada entre a Codevasf, 
MPA, Embrapa, UFAL e Governo do Estado de Alagoas. O cen-
tro iniciou suas atividades na década de 1970 como Estação 
Piloto de Piscicultura de Itiúba (EPI), sendo a primeira es-
tação do programa de piscicultura da Codevasf construída no 
Vale do São Francisco, juntamente com a Estação de Piscicul-
tura de Três Marias (MG). Na semana seguinte, mais precisa-
mente no dia 24 de março, a Codevasf irá também inaugurar, 
em parceria com a Embrapa, o Ceraqua Parnaíba, que também 
atuará nas ações de revitalização da bacia hidrográfica do rio 
Parnaíba, na área de atuação da companhia nos estados do 
Piauí, Maranhão e Ceará.
SEMENTES DE MEXILHÃO - Fundada há apenas quatro anos, 
a Spring Bay Seafood, localizada na costa da Tasmânia, se 
somou às duas empresas mexilhoneiras da Espanha e do Chile, 
que receberam certificados da organização Friend of the Sea 
(Amigo do Mar). A empresa produz o mexilhão Mytilus gallo-
provincialis e já possui a certificação orgânica expedida pela 
Associação Nacional para a Agricultura Sustentável, líder em 
certificação na Austrália. O exemplo da Spring Bay Seafood é 
interessante porque produz suas próprias sementes, ao invés 
de capturá-las no ambiente natural. Esta opção, além de pre-
servar as populações nativas, tornou possível um planeja-
mento mais eficiente da produção a partir do abastecimento 
regular de sementes ao longo de todo o ano. Este diferencial 
foi decisivo não apenas para obtenção das certificações, 
mas também para a saúde financeira da empresa, que 
saltou das 200 toneladas de mexilhões anuais, para as 
900 toneladas produzidas em 2009.
COMBATE NOS EUA - A Casa Branca destinou 78 milhões 
de dólares para um grande combate. Dessa vez o alvo 
são as carpas asiáticas que ameaçam os ecossistemas 
e as pescarias nos Grandes Lagos, um sistema lacunar 
composto pelos lagos Superior, Hurón, Erie, Ontario e 
Michigan. As carpas foram introduzidas nos EUA na dé-
cada de 1970 pelos produtores de catfish com o obje-
tivo de eliminar as algas dos viveiros. Inundações fize-
ram com que esses peixes chegassem ao Rio Mississipi 
e daí para grande parte do país, onde dominam muitos 
ecossistemas, chegando a pesar 45 quilos e 1,20m de 
comprimento. O problema éque consomem uma enor-
me quantidade de alimento e interferem diretamente 
na cadeia alimentar de numerosas espécies nativas. As 
estratégias dessa guerra contra as carpas incluem o 
controle de barragens, intensificação das capturas com 
equipamentos tradicionais, uso de sondas e técnicas de 
eletrochoque para captura.
10 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
11Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
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Notícias & NegóciosOn-line
De: Carlos A S Suleiman 
suleiman@jupiter.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Sobre reprodução
Após e extrusão dos ovos da fêmea já numa 
bacia, quanto tempo tenho para pegar os 
machos e obter sêmen para fecundação? 
Qual o momento certo e forma de hidratação 
desses ovos depois que espalhei o sêmen 
por cima dos ovos? Acho que falta esclarecer 
isso para um melhor sucesso nos meus de-
senvolvimentos de larvas/alevinos.
De: Ricardo Y. Tsukamoto 
bioconsu@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Sobre reprodução
O melhor é sempre coletar primeiro o sêmen, 
para depois fazer a extrusão dos ovos, e a 
seguir a inseminação, pelas seguintes ra-
zões: a) Os ovos não fecundados (óvulos) 
têm vida curta após a ovulação da fêmea. 
Em peixes ciprinídeos (carpas), a qualidade 
dos ovos, medida pela taxa de fecundação, 
começa a cair após 1 a 1,5 hora da ovulação, 
em temperaturas médias. Ainda não existem 
dados para peixes tropicais brasileiros, em 
alta temperatura, mas neles a qualidade 
deve diminuir igual ou mais rápido. Além 
disso, em geral quando a gente nota que a 
fêmea ovulou, uma parte daquele tempo já 
transcorreu, e a gente tem então que andar 
rápido. E quanto melhor tiver sido a indução 
hormonal, mais as fêmeas tenderão a ovular 
sincronizadamente, na mesma hora. Assim, 
a hora da extrusão é sempre uma correria, 
com confusão e água espirrando para todo 
lado. Aquele não é o momento para se ter 
que parar tudo de repente, para daí ir buscar 
os machos, anestesiá-los, extrair o sêmen e 
fazer a inseminação - sem saber se aquele 
sêmen estava prestando ou não. b) Cole-
ta do sêmen: uma prática mais adequada 
é preparar o sêmen algum tempo antes da 
hora prevista para as fêmeas ovularem, ou 
quando se nota o início da ovulação delas. 
O sêmen dos nossos peixes e dos ciprinídeos 
podem ser conservados durante várias horas 
na geladeira ou num isopor com gelo. Eu 
soube até de um caso em que o testículo 
de uma pirarara foi deixado no congelador 
da geladeira durante uma noite, e ainda ser-
viu para fecundar os ovos no dia seguinte; 
mas isso foi uma exceção. Já os peixes de 
água fria, como a truta e o salmão, podem 
ter o sêmen conservado em geladeira duran-
te até um mês. O macho deve ser aneste-
siado, a urina removida por massagem e o 
corpo cuidadosamente enxugado com toalha 
macia, para remover todas as gotas de água 
ou urina. Se a água ou urina se misturarem 
com o sêmen, ativam a movimentação dos 
espermatozóides antes do tempo. O sêmen 
é coletado por extrusão sobre um recipiente 
de vidro ou plástico e mantido na geladei-
ra ou em gêlo até a hora de usar. É melhor 
testar, se possível, se o sêmen de cada ma-
cho se move bem, pois algum macho pode 
produzir sêmen de baixa qualidade (aconte-
ce também com o ser humano). O teste de 
motilidade é feito com qualquer microscó-
pio, mesmo aqueles de criança vendidos em 
banca de jornal. c) Inseminação: em peixes, 
o espermatozóide fica imóvel, inativo, até 
o momento da ativação. Nos nossos peixes, 
a ativação ocorre pelo contato com a água 
doce (choque osmótico). Após ser ativado, 
o espermatozóide só consegue fecundar um 
ovo durante 30 a 60 segundos, e morre logo 
em seguida. Como o espermatózóide só tem 
motilidade durante o período curto de até 
um minuto, devemos dar a ele, condição de 
estar junto do furinho (micrópila) de cada 
ovo, antes da ativação. Para isso, o sêmen é 
espalhado sobre a ova - a seco - e em segui-
da misturado cuidadosamente com uma pena 
de ave. Somente após a mistura completa a 
seco é que ativamos os espermatozóides, ao 
adicionar um pouco de água à bacia (o mes-
mo volume aproximado dos ovos). Mistura-
mos levemente e paramos para a natureza 
fazer o seu milagre da vida. d) Hidratação: 
após 5 minutos da inseminação, adiciona-se 
mais água para hidratar bem os ovos (que 
incham bastante). Após uma hora pode-se 
transferir para a incubadora com fluxo leve 
de água. Portanto, preparar antecipadamen-
te o sêmen evita confusão e erros na hora da 
extrusão das fêmeas e inseminação.
De: Carlos A S Suleiman 
suleiman@jupiter.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Sobre reprodução
A reprodução foi de curimatãs e usei uma 
hipófise antiga que estava aqui. Peguei 
duas fêmeas e dosei às 18:30 da quinta-
feira. Quando foi na sexta às 06:30 uma 
delas já tava expulsando os ovos no puçá 
de captura. Usei três dos cinco machos que 
ainda não haviam recebido dosagem, eles 
“pingaram” sêmen muito bem e apesar dos 
pingos há que se considerar a falta de do-
sagem pra eles. Não houve pingos de san-
gue e foram muito bem secos, assim como 
a bacia coletora, que estava bem seca. O 
espaço de tempo entre coleta de ovos e 
espermiação não passou de cinco minutos 
e depois de espalhar por uns dois minu-
tos comecei a pingar água com pH de 7 
e alcalinidade e dureza acima de 20 mg. 
Depois disso derramei calmamente dois 
copos americanos de ovos em cada uma 
das 3 incubadeiras de 220 litros. No do-
mingo verificamos pouquíssimas larvas, 
muito poucas mesmo, coisa de unidades 
aqui e ali. Consultando um livro que tenho 
aqui verifiquei que o fluxo de água que 
vertia das incubadeiras estava muito forte 
desde o começo. Pode ter sido esse o erro 
em minha desova.
De: Ricardo Y. Tsukamoto 
bioconsu@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Sobre reprodução
Existem várias causas possíveis para a fa-
lha na produção de larvas: a) O ovário da 
fêmea que produziu os ovos podia conter 
ovos já excessivamente maduros (ovos 
“passados” ou “velhos”); b) A ovulação 
pode ter ocorrido há duas a três horas 
quando você inseminou, e os óvulos já ti-
nham perdido a viabilidade; c) Pode ter 
havido problema na fecundação, se o sê-
men estava velho dentro dos machos; d) 
Problema na incubação, se os ovos ficaram 
sujeitos a uma agitação forte, deletéria 
aos embriões; e) Outros. Esse tipo de ocor-
rência não é anormal, às vezes acontece 
mesmo. Na próxima vez, tente colocar os 
machos junto com a fêmea desde o início, 
para que, se ela ovular e houver espaço, 
eles desovem e fecundem naturalmente. 
Assim, mesmo se você perder a hora da 
ovulação, os machos farão o serviço. Ou 
ainda, quando se aproxima a hora da ovu-
lação, os machos começam a cortejar a 
fêmea e você aí fica de olho para pegar o 
momento certo e fazer a extrusão.
12 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
13Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Um reunião que acontecerá em Brasília (DF), entre os dias 
23 e 25 de março, vai oficializar a criação da Rede de Aquicultura 
das Américas (RAA). O evento tem o apoio da Organização das 
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), para con-
cretizar o anseio de diversos países Latino Americanos e do Caribe, 
de formalizar um mecanismo sustentável de cooperação entre os 
governos, dedicado exclusivamente à aquicultura.
A “Reunião de criação oficial e adesão à Rede de Aquicultura 
das Américas”, como é chamado o evento, pode ser considerado um 
marco ao fechar um ciclo de quase três décadas de reuniões, discus-
sões e estudos sobre a real possibilidade de sua formação.
Os primeiros dois dias do evento serão dedicados às dis-
cussões técnicas. No dia 25 de março acontecerá a reunião do 
Conselho de Ministros da RAA, com a presença das autoridades 
máximas na área de aquicultura dos países interessados em fazer 
parte da Rede. Além do Brasil, que atua como sede temporária da 
RAA, já aderiram à Redea Argentina, Chile, Colômbia, Equador, 
Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, e 
a OSPESCA - Organização do Setor Pesqueiro e Aquícola do Istmo 
Centro Americano.
Um longo caminho até os dias de hoje
A criação da RAA é a concretização de uma ideia que vem 
ganhando forma e força desde 1974. Esforços coordenados entre 
países vêm sendo realizados para alavancar o desenvolvimento da 
aquicultura na América Latina e no Caribe e, ao longo desse proces-
so, alguns êxitos foram atingidos, entre eles a criação, em 1976, da 
Comissão de Pesca Continental para América Latina (COPESCAL). 
Em 1977, no Brasil, foi criado o Centro Regional Latino Americano 
de Aquicultura (CERLA). Em 1985 foi criada a Organização Latino 
Americana de Desenvolvimento Pesqueiro (OLDEPESCA) e, entre 
1986 e 1994, foi executado o Projeto AQUILA.
Em 2004 a FAO apoiou a realização de uma consultoria inter-
nacional sobre a viabilidade da criação de uma Rede de Cooperação 
em assuntos relacionadas à aquicultura. Também nesse sentido, em 
2005, o Grupo de Trabalho de Pesca da Cooperação Econômica 
da Ásia e do Pacífico (APEC) realizou uma oficina em Mazatlán, 
México, para avaliar a possibilidade de estabelecer uma Rede de 
Cooperação Intergovernamental com os países da APEC.
Nos últimos seis anos, muitas outras iniciativas ganharam 
força através dos esforços da FAO. Assim, entre os dias 10 e 12 de 
junho de 2009, realizou-se em Guaiaquil, Equador, a Reunião para a 
reativação da iniciativa de Criação da Rede de Aquicultura das Amé-
ricas, ocasião em que os países ratificaram a intenção em criar a Rede 
de Aquicultura das Américas, com a Carta de Guaiaquil assinada por 
representantes de treze países das Américas. A Carta, dentre outros 
assuntos, define o Brasil como país sede da Secretaria-Executiva 
da Rede de Aquicultura das Américas, em caráter transitório pelo 
período de dois anos e meio. O Brasil, conforme acordado, é o país 
responsável por cobrir os custos provenientes da operação da Rede 
até o seu estabelecimento formal. 
O evento que será realizado em Brasília, será um divisor de 
águas, pois formalizará a RAA como um organismo intergoverna-
mental, de cooperação regional, de adesão voluntária que traz em 
seu cerne a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável 
e equitativo da aquicultura, por meio da cooperação regional entre 
países da América, com ênfase em aspectos sociais, econômicos, 
científicos, tecnológicos e ambientais.
O Secretário de Planejamento e Ordenamento da Aqui-
cultura do Ministério da Pesca e Aquicultura, Felipe Matias, que 
ocupa temporariamente a Secretaria Executiva da RAA, informou 
que ainda no primeiro semestre deste ano será aberto um Termo de 
Referência Internacional para a contratação de um profissional que 
assumirá este cargo.
Brasil sedia a reunião inaugural 
Rede de Aquicultura das Américas
14 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Por:
Fernando Kubitza, Ph. D.
Acqua Imagem Serviços Ltda
fernando@acquaimagem.com.br
Eduardo A. Ono, M. Sc.
Acqua Imagem Serviços Ltda
eduardo@acquaimagem.com.br
como ferramenta para o desenvolvimento 
e segurança alimentar no meio rural
Piscicultura familiar
E m 2004, o IBGE estimou que mais de 40% da população do país vive em insegurança alimentar, ou seja, mais de 70 milhões 
de brasileiros não têm acesso regular a alimentos de qualidade e em 
quantidade suficiente, muitas vezes sacrificando outras necessidades 
essenciais, como a educação e saúde, para não passar fome. Entre esses 
estão 14 milhões de pessoas que realmente passam fome. A insegu-
rança alimentar tem início quando a pessoa não sabe se terá dinheiro 
para repor a quantidade de alimento necessária para atender de forma 
adequada a necessidade da família. Não havendo recurso suficiente, 
haverá uma redução na qualidade da alimentação e, numa situação 
ainda mais grave, uma redução na quantidade de comida para cada 
membro da família, até o ponto em que as pessoas chegam a passar 
fome. A maior concentração de pessoas sob insegurança alimentar está 
nas regiões Norte e Nordeste do país, sendo as crianças e os negros as 
categorias mais atingidas. Nas regiões Norte e Nordeste há uma maior 
concentração de pessoas sob insegurança alimentar nas áreas rurais 
do que nos centros urbanos. No Sul e Sudeste ocorre o inverso, com 
mais gente sob insegurança alimentar nas cidades do que no campo. 
Mesmo com a melhoria nas condições sócio-econômicas do país com 
o atual Governo, ainda há muita gente que não sabe o que vai poder 
comer no final do dia. 
Crianças em área rural de Dagupan, nas Filipinas, se beneficiam da criação 
de peixes em pequena propriedade rural (Foto: Autores)
A criação de peixes em pequenas propriedades ru-
rais contribui para o melhor aproveitamento dos recursos 
disponíveis, incrementa a qualidade nutricional da dieta 
familiar, gera receita adicional com a comercialização de 
parte da produção e contribui com o bem estar das famílias, 
provendo uma opção a mais de lazer, ou seja, a pescaria. 
Diferente da produção agrícola, que é muito mais sujeita à 
sazonalidade em função das condições climáticas, a aquicul-
tura é uma fonte de alimento mais previsível e constante, 
disponível o ano todo. Ainda é importante ressaltar que, 
uma experiência bem sucedida com a produção extensiva 
de peixes para consumo próprio, estimula a expansão na 
criação, abrindo mais oportunidades de emprego da força 
de trabalho familiar (ou mesmo contratada) e de geração 
de receitas, que contribuem com a melhoria das condições 
de vida das famílias rurais, reduzindo a migração desta mão 
de obra para os centros urbanos. Há hoje vários exemplos de 
importantes empreendimentos aquícolas de grande porte 
no Brasil que nasceram de pequenos negócios familiares, 
destinados ao consumo próprio e lazer.
 Portanto, há razões mais do que suficientes, e 
uma grande oportunidade, que justifique a implantação 
de um programa nacional de estímulo à piscicultura 
em pequenas propriedades rurais. E acreditamos que 
isso deva ser contemplado também pelo Ministério da 
Pesca e Aquicultura. 
15Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Piscicultura fam
iliar
A aquicultura como instrumento de 
redução da fome e pobreza no mundo
O pescado é uma das fontes de proteína mais equili-
bradas em aminoácidos essenciais, é rico em minerais e em 
ácidos graxos essenciais de grande importância na nutrição 
humana. Assim, é inquestionável sua qualidade nutricional 
e sua importância para o incremento do valor nutricional das 
dietas das populações mais carentes. No entanto, pescado 
hoje no país, adquirido nas gôndolas de supermercados e 
peixarias, ainda é um produto pouco acessível à boa parte 
da população. Em zonas rurais e ribeirinhas, o pescado 
consumido geralmente é proveniente da pesca local ou de 
alguma forma extensiva de criação.
A carne de pescado incrementa o valor nutricional 
da dieta das populações rurais (Foto: Autores)
Em diversos países asiáticos e africanos, a aquicultura 
(em particular a criação de peixes) tem sido uma das alter-
nativas aplicadas com o intuito de melhorar a qualidade da 
alimentação e gerar uma alternativa de renda para populações 
rurais. Na China, por meio do estímulo governamental à pis-
cicultura, como estratégia para contribuir com a segurança 
alimentar, em duas décadas a oferta de pescado cultivado 
aumentou de menos de 10 para 30 kg/habitante/ano. A FAO 
Viveiros de criação de peixes em um subúrbio urbano de 
Pequim, na China, país onde o governo há mais de três 
décadas o governo enxergou na piscicultura uma das saídas 
para a segurança alimentar no país (Foto: Autores)
Habitação de uma família rural extremamente pobre nas Filipinas que tem, 
na criação de peixes de subsistência, uma das principais fontes de proteína 
na alimentação (Foto: Autores)
Tilápias capturadas em reservatório do Rio Nilo, no Sudão, sendo comercializada 
por pescador. Em diversas regiões da África, o pescado é uma das poucasopções de 
proteína animal na dieta das famílias de baixa renda (Foto: Autores)
vem coordenando diversos projetos de aquicultura 
familiar como alternativa de redução da fome e me-
lhoria da qualidade nutricional de famílias rurais em 
diversos países da África. Na Índia, a piscicultura 
é uma das atividades de produção de alimento que 
mais tem crescido nos últimos anos, e é encarada 
como um dos mais importantes meios de promoção 
de segurança alimentar naquele país. O consumo 
de pescado representa uma despesa maior sobre a 
renda dos indianos mais pobres do que sobre a renda 
dos mais abastados. Isso indica que o aumento na 
produção de peixes na Índia trará maior benefício 
às classes mais pobres.
16 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Pi
sc
ic
ul
tu
ra
 f
am
ili
ar
Ações no Brasil voltadas ao aumento 
na oferta de pescado em áreas rurais
No Brasil, existem diversas ações 
de peixamento promovidas por agências 
governamentais como a CODEVASF, o 
DNOCS e a Bahia Pesca, em parceria 
com prefeituras municipais, particular-
mente na Região Nordeste. Estes pro-
gramas consistem na soltura de juvenis 
de peixes como tilápias, tambaqui e 
curimatãs em açudes públicos, visando 
uma melhoria da pesca de subsistência, 
um incremento na qualidade da alimen-
tação das famílias locais, bem como 
uma economia de recursos na compra 
de alimentos. Em algumas localidades, 
os peixamentos também têm servido 
como ferramenta de auxílio no combate 
ao caramujo hospedeiro intermediário 
da esquistossomose e, nos tempos de 
dengue, até mesmo o combate à propa-
gação dos mosquitos.
Infelizmente houve uma sensível 
redução nas ações de peixamento em vir-
tude da insuficiente produção de alevinos 
nas estações de piscicultura do governo, 
que trabalham com limitados recursos hu-
manos (sem reposição de funcionários que 
se aposentam ou se afastam por problemas 
de saúde) e, lutam contra os entraves bu-
rocráticos das instituições governamentais 
nas decisões sobre compra de insumos, 
equipamentos, bem como na manutenção 
de suas instalações, além de sofrerem 
constantes perdas decorrentes do roubo 
de peixes (geralmente matrizes). Ainda 
há de se lamentar os peixamentos que 
ocorrem apenas para atender a promoção 
pública de políticos, sem consideração 
aos requisitos técnicos e reais necessida-
des da população. Lamento ainda maior 
diante da atitude desonesta e egoísta de 
alguns moradores locais que, logo após o 
peixamento, lançam redes na água, cap-
turando indiscriminadamente os próprios 
juvenis que foram soltos, em desrespeito 
aos seus próprios vizinhos, que também 
são beneficiários do peixamento. Apesar 
disso, as ações de peixamento realizadas 
ao longo de décadas por estas institui-
ções foram extremamente benéficas às 
populações rurais e devem ser mantidas 
e intensificadas. 
Diante das restrições em re-
cursos humanos e de autonomia dos 
técnicos responsáveis na gestão das es-
tações de piscicultura governamentais, 
há algumas alternativas que poderiam 
mudar o atual cenário pelo qual passam 
estas estações em quase todo o país 
e serviriam de estímulo ao empreen-
dedorismo e ao desenvolvimento da 
piscicultura regional:
a) A concessão do uso das insta-
lações das pisciculturas governamen-
tais hoje ociosas para empreendimen-
tos privados de produção de alevinos, 
com a contrapartida de atender aos 
programas governamentais;
b) O direcionamento do trabalho 
da equipe técnica das atuais estações 
para suporte técnico e extensão junto 
aos produtores locais, de forma a dar o 
apoio necessário ao desenvolvimento da 
piscicultura regional e coordenação e mo-
nitoramento das ações de peixamento;
c) A compra de alevinos junto 
aos produtores particulares para aten-
der as necessidades dos programas 
de peixamento. Isso resultaria em 
significativa redução nas despesas 
de manutenção e operação das esta-
ções de piscicultura do governo, que 
hoje operam com pouca eficiência, 
produzindo alevinos a custos muito 
superiores ao praticado no mercado 
(se forem consideradas as despesas 
anuais de manutenção e operação das 
estações divididas pela produção anual 
de alevinos das mesmas). Além de criar 
uma demanda adicional por alevinos 
e juvenis, as estações governamentais 
também deixariam de concorrer, de 
forma desleal, com empreendimentos 
privados, estimulando os empreen-
dedores a desenvolver a produção de 
alevinos na região;
d) A criação de programas indi-
viduais de peixamento, priorizando o 
fornecimento de alevinos para estoca-
gem em pequenos açudes ou viveiros 
particulares cuidados por famílias 
rurais previamente selecionadas, onde 
há uma expectativa de melhor aprovei-
tamento dos recursos providos pelo 
governo (alevinos e suporte técnico).
"Os programas 
de estímulo 
e fomento à 
piscicultura 
no país devem 
fugir do padrão 
assistencialista, 
praticamente 
paternalista, que 
marcaram diversos 
programas de 
incentivo ao 
desenvolvimento 
da agricultura 
familiar no país. 
É preciso 
identificar 
beneficiários que 
realmente tenham 
a capacidade de 
levar adiante o 
empreendimento, 
sem criar uma 
dependência com a 
instituição que
o fomentou."
17Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Piscicultura fam
iliar
Procedimento para identificar potenciais 
candidatos à piscicultura familiar
Há hoje um grande contingente de famílias rurais 
que não consegue obter crédito, não tem acesso à tecno-
logia e não conta com capital suficiente para implantar 
uma infra-estrutura mínima para a produção de peixes 
(barragens, viveiros, tanques-redes, etc.) e para a compra 
dos insumos de produção (alevinos, ração, fertilizantes, 
etc.). Também não contam com suficiente capacidade de 
gerenciamento, nem experiência prévia com um trabalho 
associativo. Assim, quando estas famílias ou produtores 
são estimulados a participar ou gerir empreendimentos 
intensivos de produção de peixes, que demandam inves-
timentos, capital de giro e conhecimento técnico, estas 
apenas o fazem se houver um patrocinador, geralmente 
uma instituição que fomente o empreendimento, custeie 
a infra-estrutura e os recursos para o início da produção e 
a obtenção da primeira safra. Estes produtores, iniciantes 
e desavisados, invariavelmente vão se deparar com difi-
culdades geradas pela falta de conhecimento e suporte 
técnico efetivo, mortalidades por doenças, dificuldade 
no abastecimento dos alevinos, uso de rações de baixa 
qualidade, roubos de peixes, deficiências nas instalações 
e equipamentos, desconhecimento dos canais de mercado, 
entre outras. Os produtores então se desestimulam e os 
empreendimentos apenas se sustentam enquanto houver 
recursos sendo providos pelos patrocinadores. Quando 
estes recursos escasseiam, os projetos geralmente se 
desintegram ou acabam sendo assumidos por um único 
associado.
Os programas de estímulo e fomento à piscicultura 
devem fugir do padrão assistencialista, praticamente pa-
ternalista, que marcaram diversos programas de incentivo 
ao desenvolvimento da agricultura familiar no país. É 
preciso identificar beneficiários que realmente tenham a 
capacidade de levar adiante o empreendimento, sem criar 
uma dependência com a instituição que o fomentou. Uma 
forma de realizar o recrutamento de produtores/famílias 
rurais para um programa de piscicultura familiar é através 
da divulgação, na comunidade/município alvo, da exis-
tência de um programa de apoio à piscicultura familiar e 
cadastramento dos produtores/famílias interessadas. Estas 
famílias e produtores devem então ser convidados a par-
ticipar de um programa de capacitação, que consistirá de 
uma série de reuniões onde serão apresentados e discutidos 
os aspectos fundamentais relacionados à implantação e 
condução da atividade (requisitos básicos do local para a 
implantação do empreendimento, estratégias de produção 
de peixes em pequena escala usando recursos locais, con-
ceitos básicos de qualidade de água, alternativas de conser-
vação e comercialização do pescado produzido,conceitos 
básicos de gestão da atividade, entre outros assuntos). A 
participação das famílias nestas reuniões é a forma de 
avaliação do real interesse no programa, e isso é pré-
requisito para que as famílias recebam o apoio para 
a implantação e operação do empreendimento (apoio 
na construção dos viveiros, na aquisição dos alevinos 
e suporte técnico periódico para avaliar os resultados 
do empreendimento). Outro critério a ser considerado 
na seleção das famílias e produtores é a aptidão da 
propriedade para a implantação do empreendimento, 
que deve ser verificada pelo técnico responsável pela 
coordenação dos trabalhos. O programa de capacitação 
servirá como um filtro aos participantes, restando, ao 
seu final, aqueles que realmente estão interessados 
em levar adiante a produção de peixes, seja ela para 
consumo próprio da família, ou como uma atividade 
econômica complementar na propriedade. Com isso os 
recursos do programa serão aplicados de forma mais 
eficiente, e os resultados mais expressivos.
Reunião com pequenos proprietários rurais do Acre interessados 
em participar de um programa de piscicultura familiar, fomentado 
pelo SEBRAE-AC (Foto: Autores)
Qual deve ser o porte do 
empreendimento?
Para responder a esta questão, vamos considerar 
um consumo semanal de 300g de pescado por pessoa da 
família (cerca de 16 kg de pescado por pessoa ao ano) e 
um rendimento de 60% em carne comestível do pescado. 
Assim, uma família constituída por 8 pessoas consumiria 
1,8 kg de carne de pescado, que equivale a cerca de 4 
kg de pescado por semana. Portanto, a demanda anual 
para consumo próprio da família deve ficar próxima de 
200 kg de pescado bruto. Essa é a produção capaz de ser 
18 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
19Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Piscicultura fam
iliar
obtida em uma área de viveiro próxima 
de 1.000 m2 sob condição de produção 
semi-intensiva, se consideramos uma pro-
dutividade de 2 toneladas/ha/ano (ou 20 
kg de peixes a cada 100 m2). Conduzindo 
bem a criação, a produtividade pode ser 
ainda maior, gerando um excedente de 
pescado para venda.
 
Quais as estratégias de produção de 
peixes e as espécies?
Há hoje conhecimento suficiente 
sobre tecnologias de produção de pei-
xes que demandam baixo investimento, 
utilizam recursos disponíveis nas pro-
priedades rurais e se compatibilizam 
com a rotina de trabalho das famílias 
rurais. A produção geralmente ocorrerá 
de forma semi-intensiva, em pequenos 
açudes e viveiros, com o uso de restos de 
alimentos, de fertilizantes químicos ou 
orgânicos, subprodutos da roça (sobras 
de grãos, hortaliças, frutas, entre outros), 
forragens, eventualmente alguma ração, 
se for disponível, entre outros insumos. 
O sistema de criação ideal para isso é o 
policultivo, com o uso de espécies de 
peixes que exploram diferentes fontes 
de alimentos disponíveis nos viveiros, 
assegurando maior produtividade. Po-
licultivos bem conduzidos, manejados 
com o uso de fertilizantes e subprodutos 
disponíveis nas propriedades, podem al-
cançar produtividade anual superior a 4 
toneladas de peixes por hectare de viveiro 
(40 kg de peixes a cada 100 m2). Seguindo 
o conceito de produção para subsistência 
ou de produção com o mínimo custo, al-
guns pré-requisitos básicos precisam ser 
obedecidos, de maneira que seja possível 
maximizar as chances de sucesso dessas 
produções, entre eles:
a) A criação deve ser baseada no 
uso de peixes onívoros, ou seja, aqueles 
que aceitam diversos tipos de alimentos, 
e que possibilitam, assim, o aproveita-
mento de diversos tipos de alimentos e 
subprodutos disponíveis nas propriedades 
rurais. Entre muitas espécies merecem 
destaque aquelas com habilidade de con-
sumir fitoplâncton e zooplâncton (espé-
cies planctófagas), que são organismos 
animais e vegetais bem pequenos que se 
desenvolvem na água dos viveiros e po-
dem ter sua biomassa aumentada através 
da adubação. As tilápias, a carpa prateada, 
a carpa cabeça grande e o próprio tamba-
qui são exemplos de peixes planctófagos. 
Peixes onívoros capazes de consumir e 
aproveitar bem alimentos vegetais (peixes 
com hábito alimentar herbívoro), como a 
carpa capim, a piapara e alguns tipos de 
piaus, bem como peixes que aproveitam 
frutas e sementes, como o tambaqui, o 
pacu, a pirapitinga e seus híbridos, pos-
sibilitam o aproveitamento de forragens, 
sobras de hortaliças, de frutas e grãos, que 
sempre ocorrem em propriedades rurais. 
Ainda há os peixes onívoros com hábito 
alimentar bentófago, ou seja, aproveitam 
organismos animais e vegetais que se 
desenvolvem no fundo ou no substrato 
dos viveiros (algas, pequenos moluscos, 
larvas de insetos, vermes, entre outros). 
Exemplos de peixes de hábito alimentar 
bentófago são a carpa comum, o curimba-
tá, a curimatã, entre outros;
b) Uso de espécies de peixes de fácil 
obtenção dos alevinos por meio de deso-
vas naturais que ocorram na propriedade, 
sem a necessidade de grande intervenção 
humana, a exemplo do que pode ser obtido 
com peixes como as tilápias, as carpas, 
os lambaris, entre outros. Ou, então, que 
estes alevinos estejam disponíveis local-
mente a preços acessíveis, como já ocorre 
em diversas regiões com peixes como o 
tambaqui, tambacu, pacu e piaus;
c) Os peixes devem ser alimentados 
preferencialmente com resíduos e subpro-
dutos que não podem ser aproveitados 
na alimentação humana, como restos de 
culturas, forragens, frutas passadas ou 
excedentes, sobras de comida, farelos ve-
Treinamento prático com a participação de técnicos do 
serviço de extensão rural e pequenos produtores rurais e 
seus familiares em Cruzeiro do Sul, AC (Foto: Autores)
"O policultivo, 
com o uso de 
espécies de 
peixes que 
exploram 
diferentes 
fontes de 
alimentos 
disponíveis 
nos viveiros, 
quando bem 
conduzidos, 
manejados 
com o uso de 
fertilizantes 
e subprodutos 
disponíveis nas 
propriedades, 
podem alcançar 
produtividade 
anual superior 
a 4 toneladas 
de peixes por 
hectare de 
viveiro." 
20 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Pi
sc
ic
ul
tu
ra
 f
am
ili
ar getais, entre outros. Estercos animais 
também podem ser usados como ferti-
lizantes, promovendo maior produção 
de plâncton e outros organismos, que 
servirão de alimento aos peixes;
d) Uso de sistemas de baixa 
manutenção, onde o produtor não 
tenha de despender muito do seu tem-
po, de modo que possa realizar outras 
atividades produtivas, por exemplo, 
aplicando adubo 1 a 2 vezes/semana 
ou fornecendo algum tipo de alimento 
uma vez ao dia.
Diversas espécies podem ser 
utilizadas, respeitando as preferências 
e restrições regionais (restrições am-
bientais e ou quanto à disponibilidade 
de alevinos). A tilápia, o tambaqui e 
o pacu são espécies chaves em uma 
piscicultura de subsistência, seja 
pela diversidade dos alimentos que 
aproveitam, pela qualidade da carne 
e bons índices de crescimento, bem 
como pela facilidade de obter alevinos 
a preços acessíveis em quase todo o 
país. Outros peixes planctófagos, como 
as carpas prateadas e a carpa cabeça 
grande, também são adequados para 
uso nos policultivos. A carpa capim, 
os piaus e a piapara (esta última com 
pouca oferta de alevinos) também são 
indicados, pois possibilitam o apro-
veitamento de vegetais (forragens, 
plantas aquáticas, restos de hortaliças, 
entre outros), apresentam rápido cres-
cimento e carne de boa qualidade. A 
curimatã, curimbatá e a carpa comum 
também são espécies que podem ser 
utilizadas nestes policultivos, aprovei-
tando resíduos orgânicos e alimentos 
naturais no substrato dos viveiros. 
Peixes de hábito carnívoros, como as 
traíras, dourado, pintado e outros, não 
são adequados como espécie principal 
em um sistema onde praticamente não 
se usa ração. No entanto, podem ser 
ferramentas úteis em um policultivo, 
controlando a população de peixes 
pequenos que pode aumentar exces-
sivamente com a reprodução natural 
de algumas espécies (como a tilápia, 
as carpas e lambaris,por exemplo) ou 
com a entrada indesejada nos tanques 
de criação através da água de abaste-
cimento. A maioria destas espécies, 
com exceção das tilápias, da carpa 
comum e dos lambaris, demanda uma 
reposição periódica de alevinos, pois 
não se reproduzem naturalmente nos 
viveiros.
Os alevinos das espécies es-
colhidas podem ser estocados dire-
tamente nos viveiros. No entanto, 
seria melhor contar com um pequeno 
viveiro de alevinagem, ou mesmo um 
cercado no próprio viveiro de criação, 
protegido com linha, tela ou rede anti-
pássaro, onde estes alevinos possam 
ser mantidos por um ou dois meses, 
evitando predações por aves e mesmo 
por peixes maiores que possam já estar 
presentes nos viveiros.
No Brasil, assim como ocorre 
em diversos países na Ásia, África e 
América Latina, a tilápia é uma das 
melhores opções de peixe para pro-
gramas de piscicultura familiar de 
subsistência. E isso não é por acaso. 
Esta espécie atende a maioria dos 
pré-requisitos para produção semi-
intensiva e de subsistência. Tilápias 
são bastante prolíficas desde jovem, 
sendo assim um ótimo instrumento 
para a produção de grande biomassa 
de alimento em curto espaço de tempo, 
suprindo, dessa forma, a carência por 
proteína das populações rurais mais 
pobres. No Brasil, as tilápias estão 
disseminadas em açudes na maioria 
das propriedades, e constituem uma 
importante fonte de proteína para as 
famílias rurais. A grande capacidade de 
reprodução da tilápia traz a vantagem 
ao produtor rural de ter autonomia na 
obtenção dos alevinos, reduzindo a 
dependência de compra de alevinos de 
terceiros ou de obter doações de ins-
tituições governamentais. No entanto, 
a reprodução natural da tilápia pode 
levar a uma excessiva população nos 
viveiros e redução no porte e valor dos 
peixes obtidos, embora isso contribua 
com o aumento da produção de proteí-
na por unidade de área, que geralmente 
é o objetivo em uma piscicultura de 
subsistência. Ainda assim, o produtor 
pode amenizar este problema da ex-
cessiva reprodução da tilápia usando a 
sexagem manual dos juvenis que serão 
estocados nos viveiros de produção, 
"No Brasil, 
assim como 
ocorre em 
diversos países 
na Ásia, África e 
América Latina, 
a tilápia é uma 
das melhores 
opções de peixe 
para programas 
de piscicultura 
familiar de 
subsistência. 
E isso não é 
por acaso. Esta 
espécie atende a 
maioria dos pré-
requisitos para 
produção semi-
intensiva e de 
subsistência." 
21Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Piscicultura fam
iliar
através da retirada contínua dos peixes (despescas para 
consumo e venda) e/ou, ainda, com a estocagem de alguns 
peixes predadores, como as traíras, lambaris e outros que 
geralmente ocorrem naturalmente nos cursos d’água da 
região. Da mesma forma como a tilápia, o lambari também 
é uma alternativa interessante de peixe para piscicultura 
familiar de subsistência. Ele se reproduz naturalmente nos 
viveiros, aceita uma grande diversidade de alimentos, pode 
ser alimentado com farelos vegetais e é aproveitado quase 
que integralmente na hora do consumo (retirando apenas 
as vísceras). Com isso, contribui com grande aporte de 
minerais na alimentação diária. Suas espinhas são muito 
pequenas e finas, não constituindo, quando frito ou cozido 
sob pressão, grandes problemas para crianças e idosos na 
hora do consumo.
Exemplo de projeto voltado à produção 
familiar e consumo pelas famílias rurais
Para atender a demanda de pequenos produtores fa-
miliares, que necessitam produzir alimento para o consumo 
das suas famílias e complementar a renda de suas proprie-
dades, o SEBRAE-AC vem desenvolvendo desde 2006, 
em conjunto com o Governo do Acre e parceria com outras 
instituições (Prefeituras, MPA, BASA, Banco do Brasil, 
entre outros), um projeto de apoio à piscicultura abrangendo 
os municípios de Rio Branco, Bujari e Mâncio Lima. Em 
2007, o SEBRAE-AC contratou a Acqua Imagem Serviços 
para o desenvolvimento da metodologia de capacitação dos 
produtores e para a aplicação das ações de treinamento e 
apoio ao produtor. Além disso, a Acqua Imagem também 
realizou a pedido do SEBRAE – AC e do Governo do 
Reunião com os piscicultores em Rio Branco-AC para 
realização de mini curso e avaliação do andamento das 
atividades do projeto (Foto: Autores)
Estado do Acre, oito módulos de capacitação em 
piscicultura e mercado (comercialização) para os 
técnicos da Secretaria de Extensão Agroflorestal 
e Produção Familiar (SEAPROF). O programa de 
capacitação teórico-prático tem uma duração de dois 
anos. Os produtores familiares primeiramente tomam 
conhecimento das necessidades de infra-estrutura e 
técnicas de construção de pequenos açudes e vivei-
ros. Aprendem como manejar a qualidade da água, 
com o uso de equipamentos simples como o disco 
de Secchi. Conhecem as características biológicas e 
produção das principais espécies nativas da região. 
Adquirem noções dos diferentes tipos de alimentos 
(natural e suplementar), que podem ser aproveitados 
por estes peixes e as estratégias de manejo (calagem 
e adubação) para aumentar a disponibilidade de 
alimentos naturais nos viveiros de criação. Apren-
dem a importância de manter registros de controle 
básico do empreendimento (dados de produção, 
despesas e receitas, entre outros), os conceitos de 
associativismo e as técnicas de boas práticas de 
manipulação (abate, higiene, etc.) e conservação do 
pescado através do uso de gelo e salga. Seguindo o 
conceito de incubação, os produtores já ingressam 
no projeto conscientes de que estão numa contagem 
regressiva de 24 meses e que têm a missão de apren-
der e colocar em prática o conhecimento necessário 
para o manejo cotidiano da sua produção de peixes. 
Placa de identificação de produtor participante do programa de apoio 
à piscicultura familiar no município do Bujari, no Acre. Ao fundo um 
viveiro construído como apoio ao produtor. O referido programa é 
fomentado pelo SEBRAE-AC em conjunto com o Governo do Acre e 
outras instituições parceiras (Foto: Autores)
22 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Assim, mensalmente eles se reúnem para uma rodada 
de mini cursos com os consultores, onde recebem as 
informações sobre as técnicas de manejo e gestão, além 
de trocar experiências e compartilhar as dificuldades e 
soluções com outros participantes do grupo. Após cada 
mini curso, os produtores estabelecem, voluntariamente, 
metas para colocarem em prática os aprendizados daquele 
mês. Na reunião subsequente, os produtores recebem 
novas informações e apresentam o que já conseguiram 
implantar no mês anterior e esclarecem todas as dúvidas 
referentes a esta implantação. No intervalo entre as reu-
niões mensais, os produtores recebem ainda, uma visita 
de um técnico que também atua no projeto e que realiza 
o acompanhamento, esclarecendo as dúvidas “in loco”. 
Assim, sucessivamente ao longo do período do projeto 
os piscicultores se tornam muito mais independentes 
para tomar suas decisões, com base em conhecimentos 
adquiridos e testados em suas propriedades. Uma prova 
dos bons resultados colhidos nesse projeto é o fato de 
que, desde o seu início, a produção de peixes na região 
vem crescendo de forma significativa, tendo sido possível 
realizar várias feiras (em média três feiras por ano) para 
a promoção e venda dos excedentes da produção destas 
propriedades. Essa dinâmica foi desenvolvida por acredi-
tarmos que essa era uma das poucas formas de melhorar 
a piscicultura da região, considerando que o serviço de 
assistência técnica e os recursos investidos são totalmente 
insuficientes frente ao crescente número de produtores 
interessados na atividade.
Considerações finais
Segurança alimentar e nutricional implica na pos-
sibilidade de acesso regular a alimentos que se comple-
Pi
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ili
ar
Atividades práticas com piscicultores familiares em 
Rio Branco-AC, com demonstrações do manejo para a 
captura, pesagem e transferência de peixes (Foto: Autores)23Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Piscicultura fam
iliar
Feira para venda de peixes vivos promovida no município do 
Bujari-AC, onde os produtores familiares comercializam o 
excedente de sua produção (Foto: Autores)
mentam em termos nutricionais e que estão disponíveis em 
quantidades suficientes para bem nutrir a população, de for-
ma a satisfazer as necessidades de saúde e desenvolvimento 
do ser humano em todas as etapas de sua vida. Esta somente 
é capaz de ser alcançada com programas sustentáveis de 
erradicação da fome no país, com uma melhor distribuição 
de renda e forte investimento em educação. A piscicultura 
é uma ferramenta muito eficaz para a segurança alimentar, 
transformação social e desenvolvimento no meio rural, 
contribuindo com o bem estar das famílias rurais (segurança 
alimentar, incremento nutricional, complemento de renda, 
atividade produtiva complementar e lazer através da pesca). 
O MPA deve apostar e coordenar as ações e investimentos, 
junto às demais instituições (MDA, INCRA, BNDES, 
BASA, BNB, Governos Estaduais, Prefeituras, etc.) no 
estímulo ao desenvolvimento da piscicultura familiar, não 
apenas como uma forma de amenizar a deficiente nutrição 
de famílias rurais pobres, mas também como estratégia para 
a popularização da produção e consumo de pescado no país. 
Pequenas pisciculturas familiares hoje podem significar 
sólidos empreendimentos de aquicultura no futuro. Por 
tudo isso, é fundamental que o governo federal, através do 
Ministério da Pesca e Aquicultura, conceba uma estratégia 
de promoção e desenvolvimento da piscicultura familiar, 
especialmente nas regiões mais carentes do país.
Demonstração do uso de ferramentas para o 
monitoramento da qualidade de água para os 
piscicultores (Foto: Autores)
24 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Sanidade
Aquícola Por:
Henrique César Pereira Figueiredo
e-mail: henrique@dmv.ufla.br
Médico Veterinário, professor do 
Depto. de Medicina Veterinária Preventiva, 
Escola de Veterinária da UFMG
Coordenador do AQUAVET
Lab. de Doenças de Animais Aquáticos
Carlos Augusto Gomes Leal
Médico Veterinário, M.Sc., doutorando 
em Ciências Veterinárias, UFLA
Manejo sanitário na larvicultura: 
Como evitar e prevenir a disseminação de doenças
 produção de alevinos é, sem sombra de dúvida, uma das etapas mais importantes e fundamentais para a piscicultura. Apresenta caracte-
rísticas específicas de acordo com a espécie de peixe em questão, porém, 
em geral, a dinâmica de produção é semelhante. Frequentemente somos 
questionados sobre a importância da implementação de práticas sanitárias 
em larviculturas de peixes. O principal motivo desse tipo de questionamento 
é que muitas propriedades obtêm sucesso nos primeiros anos de cultivo, 
principalmente aquelas que trabalham com espécies mais estudadas ou com 
pacotes tecnológicos já estabelecidos, como por exemplo, a tilápia do Nilo 
(Oreochromis niloticus). Apesar disso, observamos na prática várias situações 
onde a larvicultura vai bem durante anos e, em um determinado momento, 
ocorre um problema sanitário. Como não haviam medidas sanitárias previa-
mente estabelecidas, após introduzida, a doença se dissemina e rapidamente 
acomete todo o plantel, causando prejuízos diretos (tratamento e controle) 
e indiretos (redução na produtividade e gastos com a prevenção), não sendo 
raros os casos onde a produção é afetada de maneira tão drástica, que a ati-
vidade torna-se inviável na propriedade. 
Reprodutores 
Apesar do foco principal ser os alevinos, os reprodutores são o ponto 
de partida para a implementação de um programa sanitário em larviculturas. 
Esses animais podem ser fontes de infecção, ou seja, hospedeiros de agentes 
infecciosos que podem ser transmitidos para os animais jovens. Isso é uma 
realidade tanto para patógenos infecciosos (bactérias, vírus etc.) como para 
ectoparasitas. Um exemplo desse tipo de relação epidemiológica são as 
infestações por protozoários do gênero Tricodina em larvas e alevinos de 
Na coluna “Sanidade Aquícola” 
desta edição discutiremos algu-
mas questões sobre a rotina de 
manejo sanitário em larviculturas 
de peixes. O tema parece simples, 
mas é um entrave potencial em 
diversas fazendas, já que pode 
representar um problema na di-
fusão de agentes infecciosos no 
país, principalmente por meio 
das larviculturas comerciais. Não 
existe um procedimento único 
para o manejo sanitário, mas sim 
um conjunto de princípios que 
norteiam as práticas de controle 
de agentes e de enfermidades, 
cujos principais aspectos discu-
tiremos a seguir. 
25Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Sanidade Aquícola
tilápia do Nilo. As infestações ocasionadas por esses parasitas 
são um dos principais problemas sanitários para a larvicultura 
dessa espécie, principalmente durante a reversão sexual. Como 
os animais adultos são mais resistentes, não apresentam doença 
clínica e não são afetados por esses patógenos. Contudo, os 
parasitas são altamente patogênicos para as larvas, devido a sua 
maior sensibilidade e por não serem imunocompetentes nessa 
fase. Principalmente em propriedades onde é realizada a coleta 
de “nuvens”, o contato entre os reprodutores e as larvas jovens 
possibilita uma maior transmissão do parasita. Na prática obser-
vamos uma relação direta entre altas cargas parasitárias nos repro-
dutores e maiores infestações e problemas de doença parasitária 
nas larvas. Apesar do parasita ter uma fase de vida livre e certa 
viabilidade no ambiente, a transmissão animal:animal parece ser 
importante nesse caso. 
A determinação do “status” sanitário dos reprodutores é o 
primeiro passo para um controle sanitário eficiente da produção 
de alevinos. Essa primordialmente deve ser realizada na introdu-
ção dos animais na propriedade através da realização de exames 
clínicos e laboratoriais, como previamente discutido em edição 
anterior dessa coluna. Entretanto, na maioria dos casos, o plantel 
de reprodutores já foi alojado na propriedade e está sendo utili-
zado para reprodução. Nesse caso, alguns reprodutores devem 
ser coletados para avaliação. Assim, nos deparamos com um 
problema prático, já que para realização de exames laboratoriais 
para o diagnóstico de doenças infecciosas em peixes, é necessá-
rio que os animais sejam mortos para coleta de órgãos e tecidos. 
Quando trabalha-se com uma espécie onde o custo dos animais 
é relativamente baixo e a disponibilidade de reprodutores é alta, 
como no caso da tilápia, esse procedimento não apresenta muitos 
empecilhos. Porém, em fazendas de produção de peixes nativos, 
como pirarucu, pintado etc., onde o número de reprodutores é 
reduzido e esses possuem um alto valor, isso é certamente proble-
mático. Uma propriedade que possuí poucos casais de pirarucu, 
obviamente não irá se desfazer de um deles para a realização de 
exames laboratoriais. 
A solução para esse entrave está no desenvolvimento de 
métodos não letais (onde não é necessário, ou não causam a morte 
do animal) de coleta de amostras para o diagnóstico de doenças 
infeciosas. Alguns exemplos de métodos não letais são a coleta 
de sangue, punção de órgãos (coleta de uma pequena amostra 
com uma seringa ou sonda), lavados e raspados de mucosa, entre 
outros. Exames laboratoriais que utilizam espécimes clínicos 
(material que será analisado) obtidos por métodos não letais, são 
muito comuns em animais terrestres. No AQUAVET, estamos 
desenvolvendo técnicas não letais para coleta de amostra de 
matrizes de tilápia do Nilo e, posteriormente, esses procedi-
mentos devem ser adaptados para outras espécies de peixes. O 
desenvolvimento de tais técnicas será um avanço para o manejo 
sanitário em larviculturas, pois permitirá o diagnóstico de doen-
ças nos animais do plantel, até mesmo especificamente em cada 
reprodutor. A partir da determinação das doenças ou patógenos 
presentes no plantel de reprodutores, programas de controle, 
tratamentos específicos e práticas de biossegurançapodem ser 
realizadas para evitar que os microrganismos ou parasitas sejam 
transmitidos para as larvas ou alevinos.
Transmissão de agentes na larvicultura
Os microrganismos patogênicos podem ser trans-
mitidos, dos reprodutores para as larvas, de duas formas 
básicas: a denominada transmissão vertical, onde os pató-
genos infectam os gametas (espermatozóides e ovócitos) e 
o animal já nasce com a doença; ou transmissão horizontal, 
onde o animal não nasce com a doença, mas adquire nos 
primeiros dias após o nascimento. A primeira forma é a via 
de infecção principal de alguns tipos de vírus causadores 
de doenças em peixes (atualmente não existem relatos de 
sua ocorrência no Brasil). Já a horizontal, que pode ser 
através do contato direto entre os animais, contato com 
fluídos corporais, secreções e excreções contaminadas 
(secreções do trato reprodutivo, urina, muco, fezes, etc.), 
ou ainda via água, é a principal forma de transmissão 
de bactérias, protozoários e alguns vírus. Nesse ponto, 
alguns podem estar se perguntando, como fica esse pro-
cesso de transmissão horizontal nos casos onde é feita 
a reprodução artificial dos peixes? Em tais condições 
é realizada a coleta de sêmen e ovócitos, fecundação e 
incubação dos ovos, não havendo contato das larvas com 
os reprodutores, com suas secreções, excretas ou com a 
água do sistema de cultivo. Na realidade existe somente 
o contato principalmente dos ovócitos, com os fluídos e 
secreções das gônadas dos peixes. Essas podem ser vias 
de eliminação de microrganismos de maneira semelhante 
as fezes, urina, muco, etc.. Apesar de não infectarem os 
gametas propriamente, os patógenos eliminados por essa 
via ficam aderidos à superfície dos ovos. No momento da 
fecundação esses podem ser carreados para o interior dos 
ovos junto com os espermatozóides ou ser internalizados 
"Reprodutores são o ponto de 
partida para a implementação 
de um programa sanitário em 
larviculturas. Esses animais 
podem ser hospedeiros de 
agentes infecciosos que 
podem ser transmitidos para 
os animais jovens. Isso é 
uma realidade tanto para 
patógenos infecciosos como 
para ectoparasitas."
26 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
27Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Sanidade Aquícola
no momento do fechamento da micrópila, vindo assim 
a contaminar o embrião. Adicionalmente, os micror-
ganismos podem ficar aderidos à superfície dos ovos 
e, no momento da eclosão, entrarem em contato com 
as larvas, promovendo a infecção dessas. 
 No caso das doenças de transmissão vertical, 
o controle e prevenção é necessariamente realizado 
através do tratamento dos reprodutores com medica-
mentos ou produtos imunoprofiláticos, como vacinas. 
Esse procedimento é complexo para algumas enfermi-
dades, como por exemplo as causadas por vírus, visto 
que não possuem fármacos efetivos liberados para uso 
na produção animal. Assim, a detecção e eliminação 
sistemática de reprodutores positivos são consideradas 
as formas mais efetivas, mas nem sempre viável do 
ponto de vista econômico. 
Já no caso dos patógenos transmitidos de 
forma horizontal, adicionalmente ao tratamento dos 
reprodutores, o manejo sanitário na larvicultura é 
um fator que exerce efeito direto nos resultados dos 
programas de prevenção e controle das doenças. Para 
os microrganismos que ficam aderidos à superfície, a 
realização da desinfecção dos ovos antes da introdução 
dos mesmos no laboratório ou incubadoras é essencial. 
Esse processo é recomendável, principalmente para 
prevenção de doenças virais. Diversas substâncias têm 
sido utilizadas para a desinfecção de ovos de peixes, 
sendo alguns exemplos a formalina, glutaraldeído, pe-
róxido de hidrogênio, iodo-povidine, ozônio, antibióti-
cos, etc.. Apesar do efeito benéfico, essas substâncias 
podem ser tóxicas e ocasionar a morte dos embriões. 
Na figura 1 pode ser observado um esquema do pro-
cedimento para teste de substâncias para desinfecção 
de ovos de peixes. A substância ideal, bem como a dose e protocolo de 
aplicação variam de acordo com a espécie de peixe. Em geral melhores 
resultados têm sido obtidos na desinfecção dos ovos com glutaralde-
ído, de acordo com dados de literatura. Do mesmo grupo químico da 
formalina (aldeídos), essa substância apesar do efeito desejável, ainda 
não é licenciada para uso em aquicultura no Brasil. Um desafio para o 
manejo sanitário em larviculturas, de peixes nativos principalmente, 
é a determinação da substância ideal e o esquema terapêutico para a 
realização da desinfecção de ovos. Devido a grande diversidade de espé-
cies e características morfofisiológicas, é necessário o desenvolvimento 
de protocolos espécie-específico. Além do ponto de vista sanitário, a 
desinfecção de ovos é recomendada para otimizar a produção de larvas, 
pois reduções na carga microbiológica dos ovos diminuem o desafio 
das larvas e, consequentemente, promove aumento na sobrevivência. 
Adicionalmente, durante a incubação de ovos, é comum em algumas 
regiões do país a ocorrência de infecções fúngicas, principalmente 
por fungos do gênero Saprolegnia. Em outros países, para o controle 
desses fungos em larviculturas de salmonídeos, têm sido utilizada a 
substância bronopol (2-bromo-2-nitro,1,3-propanodiol), que ainda não 
está disponível para uso em piscicultura no Brasil. Em muitas situações 
a correção dos parâmetros limnológicos da água, principalmente em 
sistema de recirculação, evita a ocorrência dessas infecções. 
Etapas de descontaminação
 Como descrito até o momento, a veiculação e transmissão 
de parasitas e patógenos dos animais adultos para os alevinos ocorre, 
principalmente, devido ao contato direto dos peixes e através da água. 
"A desinfecção de ovos é 
recomendada para otimizar 
a produção de larvas, 
pois reduções na carga 
microbiológica dos ovos 
diminuem o desafio das 
larvas e, consequentemente, 
promove aumento na 
sobrevivência." 
ESPÉCIES DE REPRODUÇÃO ARTIFICIAL
Extrusão dos ovos Coleta de sêmen Aldeídos
Iodofóros
Peróxido de 
Hidrogênio
Ozônio
TILÁPIAS
FECUNDAÇÃO
HIDRATAÇÃO
DESINFECÇÃO
COLETA DOS OVOS
Avaliação da Carga 
Microbiológica 
Avaliação da Taxa 
de Fecundação
Avaliação da Taxa de 
Sobrevivência das Larvas
Figura 1: diagrama esquemático do processo de teste de substâncias para a desinfecção 
de ovos de espécies de peixes submetidas à reprodução artificial e de tilápias
28 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010
Durante a larvicultura, independentemente da espécie em 
questão, os animais em diferentes fases do desenvolvimento 
devem ser criados em sistemas de cultivo separados não ha-
vendo contato entre esses, nem entre a água dos tanques. Esse 
processo é denominado tecnicamente de “compartimentaliza-
ção da produção”, ou seja, é realizada a divisão da propriedade 
em setores independentes, onde em cada um deles é feita uma 
fase do cultivo. Apesar de parecer uma coisa simples, esse pro-
cedimento é comumente negligenciado em pisciculturas. Não 
é incomum, em visitas à tilapiculturas, verificarmos situações 
onde em um mesmo tanque alojam-se hapas com alevinos e, 
em uma das extremidades, alguns tanques-rede com matrizes 
em descanso. A proximidade de animais com diferentes ida-
des aumenta a possibilidade de acometimento por diferentes 
enfermidades, principalmente nos animais jovens. 
Podemos dividir as larviculturas em três setores prin-
cipais: reprodução, laboratório e alevinagem (vamos definir 
essa como sendo o cultivo das larvas a partir do momento em 
que essas saem do laboratório de reprodução). Cada setor deve 
possuir um manejo independente, bem como funcionários e 
equipamentos específicos para a realização dos procedimen-
tos de rotina. O trânsito de pessoas e equipamentos entre os 
setores é um risco potencial de veiculação de patógenos. Um 
mesmo funcionário que coleta os ovos de tilápia, aloja esses 
ovos no laboratório e, posteriormente, auxilia na alimentação 
dos larvas em reversão sexual, pode estar

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