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1Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 2 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 3Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor T sunamis, terremotos, invernos inesperados e quebradeiras econômicas. Quem é capaz de apontar amaior ameaça que a indústria aquícola de um país pode sofrer? Assistimos aos estragos devastadores da tsunami que varreu a costa da Indonésia nas vésperas do ano novo de 2004, e ainda estão frescas na memória de todos as imagens chocantes da força das águas, que não poupou laboratórios e viveiros. Passados poucos anos, a indústria aquícola deste país sobreviveu à tragédia e, em 2008 já ocupava o quarto lugar no ranking dos maiores produtores mundiais de camarão. Neste mesmo ano, a produção de tilápias na China sofria o seu mais duro golpe, consequência de um rigoroso e inesperado inverno, talvez o maior vivido pelo povo chinês nos últimos anos. Com tudo isso, e em apenas um ano, os tilapicultores chineses deram a volta por cima batendo recordes de produção, com estimativas que se aproximam de um milhão de toneladas de tilápias despescadas em 2009. Já nos Estados Unidos, a crise econômica seguida da quebradeira de muitas instituições financeiras, mexeu no bolso do cidadão americano, e foi capaz de reduzir, pela primeira vez, as crescentes importações de filés frescos de tilápia feitas pelo país. Em 2009 os consumidores de tilápia dos EUA reduziram em 6,6% as suas aquisições nos países da América Latina, um volume suficiente para ter deixado muitos produtores desnorteados neste ano que passou. Mas, nem ondas gigantes, tampouco ondas de frio ou instabilidade econômica, têm tanta capacidade de dizimar a indústria aquícola de um país, como as enfermidades em animais de cultivo. Os patógenos chegam invisíveis e sorrateiros, invadindo laboratórios de alevinos de peixes e pós larvas de camarões, se instalam nos viveiros de engorda e acabam se alojando nos animais, bloqueando o bolso dos produtores e, muitas vezes, nocauteiam de uma vez por todas o empreendimento. A salmonicultura chilena, que bem sabe o que é isso, irá despescar em 2010 a sua menor safra desde que alcançou o posto de segunda maior indústria salmoneira do mundo, até ser contaminada pelo vírus da anemia infecciosa do salmão (ISA). Bem sabem também os carcinicultores equatorianos e brasileiros, cujos resultados pós doenças traumatizaram empresas e muitas pessoas envolvidas com a cadeia produtiva. Por essas e por outras é que a Panorama da AQÜICULTURA vem nos últimos anos focando, com lentes poderosas, o tema “sanidade aquícola”. Nesta edição, o especialista Henrique Figueiredo enfoca a importância da prevenção das doenças na larvicultura, como forma de evitar que patógenos sejam transportados para outras propriedades, assegurando não só a saúde dos animais, mas também a saúde econômica e a sustentabilidade dos negócios. Métodos de prevenção são abordados também no primeiro dos três artigos escritos pela equipe de especialistas da UFSC, que pretende mostrar aos leitores o que são, como agem e quais as vantagens do uso correto dos probióticos. A sabedoria popular diz que quanto maior o coqueiro, maior o tombo do coco ou de quem o está colhendo. Mas, é certo também que para ter as delícias do coco é preciso subir alto, de preferência com segurança, sem riscos de queda. A aquicultura brasileira experimenta um crescimento ainda muito aquém da sua vocação, mas seja qual for o rumo que irá tomar, precisa conhecer muito bem os riscos que esse crescimento envolve. A todos uma boa leitura. 4 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 5Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Cioba Lutjanus analis Por seu potencial zootécnico e outros aspectos positivos como a rusticidade e rápida adaptação ao cativeiro, a cioba Lutjanus analis tem demonstrado ser uma das espécies que apresentam as melhores opções para o cultivo comercial. Apesar de ter hábito alimentar predominantemente carnívoro, aceita dietas artificiais e apresenta uma boa resistência frente ao manejo e a fatores ambientais adversos. A cioba consegue tolerar níveis elevados de proteína vegetal na sua dieta, sem sofrer perda significativa no seu desempenho zootéc- nico, chegando a atingir pesos superiores a 1 kg em apenas um ano de cultivo. Essas foram algumas das conclusões do estudo dos pesquisadores Alberto J. P. Nunes, Luiz E. L. Freitas e Marcelo V. C. Sá, que objetivou avaliar o desempenho de juvenis de L. analis quando alimentados com dietas que substituíram a farinha de peixe por concentrado protéico de soja comercial. Na página 36 leia tudo sobre a pesquisa desenvolvida no Labomar, matéria de capa dessa edição. Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Brasil sedia reunião da Rede de Aquicultura das Américas Piscicultura familiar como ferramenta para o desenvolvimento e segurança alimentar Sanidade Aquícola: Manejo sanitário na larvicultura Filés frescos de tilápia: EUA registram queda inédita no consumo Lançamentos Editoriais Desempenho zootécnico de juvenis de Cioba com rações de origem vegetal A Panorama da AQÜICULTURA nas salas de aula Ouriços controlam o “biofouling” dos cultivos de vieira Utilização de Probióticos na Aquicultura Entrevista: Ricardo Martino – novo presidente da WAS Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA Calendário Aquícola ...Pág 36 ...Pág 45 ...Pág 48 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 11 ...Pág 14 ...Pág 24 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Adolfo Jatobá, Alberto J. P. Nunes, Bruno Correa da Silva, Carlos Augusto Gomes Leal, Eduardo A. Ono, Felipe do Nascimen- to Vieira, Fernando Kubitza, Henrique César Pereira Figueiredo, José Luiz Pedreira Mouriño, Leonardo Lara de Carvalho, Luiz E. L. Freitas, Marcelo V. C. Sá, Maria do Carmo Figueredo Soares, Roberto Campos Villaça Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi & Fernanda Araújo assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 111, 112 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Foto: Luiz E. L. Freitas Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 117 - Janeiro/Fevereiro - 2010 Piscicultura familiar página 14... Ouriços controlam o “biofouling” dos cultivos de vieira página 48... ...Pág 61 ...Pág 31 ...Pág 66 ...Pág 52 ...Pág 65 ...Pág 33 ...Pág 14 ...Pág 13 6 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Notícias & Negócios Notícias & Negócios WAS 2011 – Em janeiro, o Comitê de organização do WAS 2011, o mais importante evento da aquicultura mundial, organizado pela Socieda-de Mundial de Aquicultura (WAS), se reuniu em Natal-RN, para um primeiro encontro de trabalho. Estiveram pre- sentes Ricardo Martino (Fiperj), Rodri- go Roubach (MPA), Wagner C. Valenti (Caunesp), Itamar Rocha (ABCC), Pau- lo Henrique Nunes (Fenacam), além do gerente de eventos da WAS, John Cooksey, acompanhado de Mario Stael, responsável pela organização da Feira de Produtos & Serviços. Com o tema “Aquaculture for a changing world”, o evento que acontecerá junto a Fena- cam, de 6 a 10 de junho do próximo ano, promete uma programação inova- dora, com uma série de sessões volta- das para o setor produtivo brasileiro. Segundo Wagner Valenti, que também se dedica a programação internacio- nal desse congresso, alguns detalhes já foram definidos para atrair parti- cipantes de todo o país. Entre eles a tradução simultânea em quatro salas para o português e em duas salas para o espanhol. PELETIZADORA - A Indústria e Comércio Chavantes, marca conhecida e aprovada pelas grandes empresas do ramo e também por pequenos produtores que escolhem produzir a sua própria ração, avisa aos seus clientes e amigos que através do site da empresa (www.chavantes.ind.br) já é pos- sível obter informações sobre suas máqui- nas, além de solicitar orçamento. “Nossos produtos possibilitam a fabricação de ra- ção para utilização em pisciculturas, pes- que-pagues, granjas e haras”, diz o diretor comercial da empresa, Carlos Henrique P. Inforzato. A Chavantes sediada no municí- pio paulista de Chavantes, atua há mais de 30 anos no mercado de peletização, com tecnologia e know-how desenvolvido com base em pesquisas constantes e em um elevado padrão técnico no processo de pro- dução. O site apresenta uma linha de equi- pamentos que inclui a peletizadora de 7.5 HP, que segundo Inforzato, pode produzir até 150Kg/hora dependendo do diâmetro do furo da matriz e resistência do produto a ser peletizado, com custo operacional bai- xo. “Funciona sem vapor e é acompanhada de um resfriador de fácil manuseio com ali- mentação manual, não sendo necessário o uso de elevadores ou transportadores”, diz ele. A peletização é uma operação de mol- dagem na qual partículas finamente dividi- das são aglomeradas em forma de pelletes, possibilitando redução do volume e espaço de estocagem. Além disso, a peletização melhora as características do alimento, fa- vorecendo uma boa conversão alimentar. SANTA CATARINA I - A Epagri, através do seu Centro de Desenvolvimento em Aqui- cultura e Pesca (CEDAP), acaba de divulgar os resultados da aquicultura catarinense referentes a 2008. Com relação a piscicul- tura, o levantamento mostrou que Santa Catarina possui dois tipos de produtores: 20.585 deles são aqueles da chamada “pis- cicultura colonial”, que se caracterizam por não ter regularidade de produção e 2.345 são produtores da “piscicultura profissional ou comercial”. Juntos produziram 26.018 toneladas de peixes em 2008, avaliados em R$ 78 milhões. Além da engorda e da venda de peixes para os diversos tipos de mercados, existe em Santa Catarina um grande número de propriedades que aliam empreendimentos turísticos, como pesque- pagues, pousadas rurais e hotéis-fazenda, para oferecer uma estrutura de lazer aliada a uma eficiente forma de comercialização de pescados. A tilápia liderou a produção com 13.038 toneladas (50%), seguida das carpas com 9.446 toneladas (36%), dos bagres americano e africano que to- talizaram 1.175 toneladas (5%), das tru- tas com 636 toneladas, do jundiá (bagre nativo) com 432 toneladas e um mix de outros peixes, entre eles o pacu, tam- baqui, traíra, cascudo, que totalizaram 1.289 toneladas. Ao todo foram 22.923 piscicultores assistidos pela Epagri, to- talizando 38.063 viveiros que somam 12.788 hectares de lâmina d’água. SANTA CATARINA II – Além das 26 mil to- neladas da piscicultura continental, Santa Catarina produziu ainda 10.891 toneladas de mexilhão cultivado; 2.221 toneladas ostras; 3,1 toneladas de vieiras; 299 tone- ladas de camarão marinho e 60 toneladas de tilápia, engordadas em água salobra. Ao todo, a bem organizada aquicultura catari- nense abasteceu o Brasil com 39.494 tone- ladas de pescado. 7Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Notícias & Negócios Notícias & Negócios SANTA CATARINA III – A mortalidade de verão é uma das características da ostrei- cultura catarinense. O aumento da tempe- ratura da água nesta época do ano, quan- do não causa mortalidade, deixa as ostras magras para o comércio. O verão deste ano foi atípico, com a temperatura se manten- do por quase dois meses seguidos ao redor de 28oC, com a máxima de 32oC registra- da na semana do carnaval. O resultado foi uma altíssima mortalidade. Estima-se que as perdas das sementes que estavam sendo preparadas para a safra seguinte tenham chegado a 80%. Além disso, foram registra- das mortalidade de ostras adultas, ou o seu emagrecimento, o que resultou em trans- torno na comercialização, justo numa épo- ca onde o consumo é bastante aquecido. A contabilidade do prejuízo, no entanto, só poderá ser feita a partir de maio. PATOLOGISTAS – O XI Encontro de Pato- logistas de Organismos Aquáticos (ENBRA- POA) será realizado de 19 a 22 de julho no ambiente acadêmico da UNICAMP, em Campinas – SP. O Dr. Ricardo Takemoto, presidente da Associação Brasileira de Pa- tologistas de Organismos Aquáticos (ABRA- POA), organizadora do evento, informa que em breve as inscrições estarão abertas, ra- zão pela qual avisa aos participantes que preparem seus resumos. Mais informações sobre o XI ENBRAPOA podem ser obtidas no site www.abrapoa.org.br ou diretamente na secretaria da ABRAPOA, com a Drª Maria de los Angeles Perez Lizama, pelos tels: (44) 3261-4642 - 3261-4658 ou e-mail: secre- taria@abrapoa.org.br NOVIDADE ALFAKIT – A Alfakit (www. alfakit.com.br) empresa pioneira no Brasil no desenvolvimento de kits para a análise de solo e água, está lançan- do no mercado o seu “Bloco Digestor Para DQO”, modelo AT–525. Segundo Léo de Oliveira, diretor técnico da em- presa, o AT-525 possibilita a digestão de até 25 amostras simultâneas para análise de DQO, possui aquecimento rápido pré-programado de fábrica com alarme sonoro e desligamento auto- mático ao atingir 150ºC por 2 horas. Quem adquirir o novo produto ganha de brinde um Spectro Kit DQO, para 100 testes. Mais informações sobre as especificações do produto podem ser conferidas pelo fone (48) 3233-2338 ou email: vendas@alfakit.com.br LICENCIAMENTO SIMPLIFICADO - Os em- preendimentos de aquicultura no Estado do Rio de Janeiro já podem solicitar o Licen- ciamento Ambiental Simplificado (LAS). De acordo com o secretário estadual de Agri- cultura, Christino Áureo, a inclusão de um capítulo específico para o setor aquícola na nova legislação ambiental no Rio de Janeiro, é resultado de ação da Secretaria, através da Fiperj (Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro), com o apoio do Inea (Instituto Estadual do Am- biente). Segundo o Diretor de Pesquisa e Produção da Fiperj, Glauco Souza Barradas (glauco@fiperj.rj.gov.br), trata-se de um grande avanço para o setor. Anteriormente a complexidade e os custos de um processo de licenciamento impediam a regularização dos empreendimentos existentes e difi- cultava a implantação de novos projetos, especialmente por pequenos produtores. A expectativa é a de que o novo modelo traga uma diminuição dos custos do licenciamen- to ambiental do empreendimento em até 90%. Após serem licenciados, os aquicul- tores fluminenses terão acesso a linhas de crédito disponíveis para o setor, entre elas a do Programa Multiplicar, da Secretaria de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro. 8 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Notícias & Negócios NOVA AQUAFAIR - A Gessulli Agribusiness promoverá de 5 a 7 de outubro a V Aqua- Fair – Feira Internacional de Aquicultura, Maricultura e Pesca, de forma independen- te, desvinculada da AveSui AméricaLatina. A feira destinada ao setor aquícola será realizada no Centro de Convenções Centro- Sul, em Florianópolis (SC) e, segundo os organizadores, terá um formato inédito, que promete grandes inovações. Além da feira de negócios voltada às empresas de nutrição, genética, laboratórios, equipa- mentos, insumos, instalações, transporte e demais companhias envolvidas com o setor aquícola, a V AquaFair também trará ao público o V Seminário Internacional de Aquicultura, Maricultura e Pesca, coorde- nado por Felipe Suplicy, coordenador ge- ral de Maricultura do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Mais informações sobre o evento pelo telefone: (11) 2118-3133 ou e-mail: aquafair@gessulli.com.br PELIGROSO PERO NO MUCHO - A agência de notícias Europa Press noticiou que a Or- ganização de Consumidores e Usuários da Espanha (OCU) recomendou que os peixes pangassius e perca não devem ser consu- midos por terem sido encontrados restos de pesticidas e traços de mercúrio nas amos- tras dos filés de ambos os pescados. O fato curioso da nota é que os resíduos contami- nantes encontrados estão dentro dos limites legais, e não trazem riscos imediatos para a saúde. Ainda assim, foi mantida a recomen- dação para não comê-los “mais de uma vez por semana”, já que o pangassius e a perca têm entrado “con fuerza” nos hábitos de compra e consumo dos espanhóis. A OCU informou que em quatro das 23 amostras de pangassius foi encontrado trifluoralina, herbicida proibido na Europa. Também foi encontrado resíduo de mercúrio em nove das 29 amostras (23 de pangassius e seis de perca), mas esses achados não supera- ram o limite legal de 0,5 mg/kg. Apenas “em alguns casos se chegou a metade deste limite”, diz a nota. A notícia acabou não sendo muito clara a respeito do real perigo do consumo desses peixes, e ao fim se tem a impressão de que comê-lo é algo “peli- groso, pero no mucho”. NOVO ALIMENTO PARA CAMARÃO - A Integral Agroindustrial Ltda., empresa com sede em Fortaleza-CE, participa do mercado Premium de rações comerciais desde o ano 2000 para consumo de equi- nos, bovinos, ovinos e caprinos, feno e suplementos nutricionais para equinos. Em 2005 lançou com sucesso a linha Aquamix Cultivo Intensivo para peixes onívoros. Nestes cinco anos conquis- tou a confiança dos clientes cearenses, piauienses e maranhenses pelos resul- tados em campo, serviço técnico pré e pós-venda, e agilidade para atender as demandas específicas dos piscicultores. Baseado neste sucesso, em março de 2010, a Integral Agroindustrial multipli- cou sua capacidade de produção da linha Aquamix com o início das operações da nova unidade localizada em Paulo Afonso (BA). Com esta nova fábrica foi acres- centada ao portfólio da empresa a linha Aquamix Camarão, que pretende atender o mercado das Regiões Norte e Nordeste com mais competitividade, num segmen- to cada vez mais globalizado e exigente em segurança alimentar e custos. Para qualquer dúvida sobre o uso da nova ração, o aquicultor pode contatar Luis Alejandro Daqui, responsável técnico da Linha Aquamix, pelo e-mail: sac@inte- gralagro.com.br e fone: (85) 3216-1580. INDÚSTRIA SALMONEIRA - Os preços do salmão nos mercados internacionais es- tão subindo cada vez mais, por conta da queda brusca na oferta mundial provocada pelo colapso na salmonicultura chilena. A queda, nos últimos dois anos, foi de 75%. Durante o pico da produção, em 2008, o Chile vendeu 403 mil toneladas e os prog- nósticos da SalmonChile (Associação das Industrias de Salmão de Chile) para 2010 apontam para uma despesca de 245 mil to- neladas, apesar de existirem prognósticos mais pessimistas, que apontam para uma produção ao redor de apenas 90 mil tonela- das. A Noruega, maior produtor mundial de salmão, aproveitou os problemas sanitários e econômicos da indústria chilena e, em 2008, produziu 1,5 milhões de toneladas de salmão do Atlântico e, para 2010, está sendo esperado um crescimento de nada menos que 70%. A indústria salmoneira vem crescendo muito rapidamente, refle- tindo nas ações da Marine Harvest, a maior produtora mundial de salmão, que subiu mais de 400% desde janeiro de 2009. 9Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Notícias & Negócios Notícias & Negócios NOVO LABORATÓRIO - A AguaVale Piscicultura (www.valedo- juliana.com.br) localizada no Baixo Sul da Bahia, comemora seu novo momento produtivo. A empresa inaugurou em janeiro um novo e moderno laboratório de incubação artificial, com capacidade de produção de até 18 milhões de alevinos de ti- lápia/ano. O segmento de piscicultura nas Fazendas Reunidas Vale do Juliana foi introduzido em 2001, quando a ideia inicial era a implantação de engorda em viveiros escavados. Com o decorrer das atividades, verificou-se uma tendência deficitária na ordem de milhões de alevinos/ano na Bahia, e o projeto foi, então, redirecionado para a produção de alevinos. Atualmente a piscicultura é um dos maiores projetos das Fazendas Reuni- das Vale do Juliana S/A. SERRA DA MESA - No dia 24 de fevereiro foi dado o início aos trabalhos de demarcação do Parque Aquícola do Lago Serra da Mesa, uma antiga reivindicação da população do Norte de Goi- ás. Com a demarcação das áreas de produção do maior reserva- tório em volume de água no Brasil, será possível quantificar a produção de pescado, que segundo estimativas deve chegar a 290 mil toneladas por ano. NOVOS CENTROS DE REFERÊNCIA – O Centro de Referência em Aquicultura e Recursos Pesqueiros do São Francisco (Ceraqua/ SF) será inaugurado no dia 16 de março. O novo centro em Alagoas funcionará no município de Porto Real do Colégio, como unidade integrante da 5ª Superintendência Regional da Codevasf. A sua gestão será compartilhada entre a Codevasf, MPA, Embrapa, UFAL e Governo do Estado de Alagoas. O cen- tro iniciou suas atividades na década de 1970 como Estação Piloto de Piscicultura de Itiúba (EPI), sendo a primeira es- tação do programa de piscicultura da Codevasf construída no Vale do São Francisco, juntamente com a Estação de Piscicul- tura de Três Marias (MG). Na semana seguinte, mais precisa- mente no dia 24 de março, a Codevasf irá também inaugurar, em parceria com a Embrapa, o Ceraqua Parnaíba, que também atuará nas ações de revitalização da bacia hidrográfica do rio Parnaíba, na área de atuação da companhia nos estados do Piauí, Maranhão e Ceará. SEMENTES DE MEXILHÃO - Fundada há apenas quatro anos, a Spring Bay Seafood, localizada na costa da Tasmânia, se somou às duas empresas mexilhoneiras da Espanha e do Chile, que receberam certificados da organização Friend of the Sea (Amigo do Mar). A empresa produz o mexilhão Mytilus gallo- provincialis e já possui a certificação orgânica expedida pela Associação Nacional para a Agricultura Sustentável, líder em certificação na Austrália. O exemplo da Spring Bay Seafood é interessante porque produz suas próprias sementes, ao invés de capturá-las no ambiente natural. Esta opção, além de pre- servar as populações nativas, tornou possível um planeja- mento mais eficiente da produção a partir do abastecimento regular de sementes ao longo de todo o ano. Este diferencial foi decisivo não apenas para obtenção das certificações, mas também para a saúde financeira da empresa, que saltou das 200 toneladas de mexilhões anuais, para as 900 toneladas produzidas em 2009. COMBATE NOS EUA - A Casa Branca destinou 78 milhões de dólares para um grande combate. Dessa vez o alvo são as carpas asiáticas que ameaçam os ecossistemas e as pescarias nos Grandes Lagos, um sistema lacunar composto pelos lagos Superior, Hurón, Erie, Ontario e Michigan. As carpas foram introduzidas nos EUA na dé- cada de 1970 pelos produtores de catfish com o obje- tivo de eliminar as algas dos viveiros. Inundações fize- ram com que esses peixes chegassem ao Rio Mississipi e daí para grande parte do país, onde dominam muitos ecossistemas, chegando a pesar 45 quilos e 1,20m de comprimento. O problema éque consomem uma enor- me quantidade de alimento e interferem diretamente na cadeia alimentar de numerosas espécies nativas. As estratégias dessa guerra contra as carpas incluem o controle de barragens, intensificação das capturas com equipamentos tradicionais, uso de sondas e técnicas de eletrochoque para captura. 10 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 11Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Participe da Lista de Discussão Panorama-L Inscreva-se no site www.panoramadaaquicultura.com.br Notícias & NegóciosOn-line De: Carlos A S Suleiman suleiman@jupiter.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Sobre reprodução Após e extrusão dos ovos da fêmea já numa bacia, quanto tempo tenho para pegar os machos e obter sêmen para fecundação? Qual o momento certo e forma de hidratação desses ovos depois que espalhei o sêmen por cima dos ovos? Acho que falta esclarecer isso para um melhor sucesso nos meus de- senvolvimentos de larvas/alevinos. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Sobre reprodução O melhor é sempre coletar primeiro o sêmen, para depois fazer a extrusão dos ovos, e a seguir a inseminação, pelas seguintes ra- zões: a) Os ovos não fecundados (óvulos) têm vida curta após a ovulação da fêmea. Em peixes ciprinídeos (carpas), a qualidade dos ovos, medida pela taxa de fecundação, começa a cair após 1 a 1,5 hora da ovulação, em temperaturas médias. Ainda não existem dados para peixes tropicais brasileiros, em alta temperatura, mas neles a qualidade deve diminuir igual ou mais rápido. Além disso, em geral quando a gente nota que a fêmea ovulou, uma parte daquele tempo já transcorreu, e a gente tem então que andar rápido. E quanto melhor tiver sido a indução hormonal, mais as fêmeas tenderão a ovular sincronizadamente, na mesma hora. Assim, a hora da extrusão é sempre uma correria, com confusão e água espirrando para todo lado. Aquele não é o momento para se ter que parar tudo de repente, para daí ir buscar os machos, anestesiá-los, extrair o sêmen e fazer a inseminação - sem saber se aquele sêmen estava prestando ou não. b) Cole- ta do sêmen: uma prática mais adequada é preparar o sêmen algum tempo antes da hora prevista para as fêmeas ovularem, ou quando se nota o início da ovulação delas. O sêmen dos nossos peixes e dos ciprinídeos podem ser conservados durante várias horas na geladeira ou num isopor com gelo. Eu soube até de um caso em que o testículo de uma pirarara foi deixado no congelador da geladeira durante uma noite, e ainda ser- viu para fecundar os ovos no dia seguinte; mas isso foi uma exceção. Já os peixes de água fria, como a truta e o salmão, podem ter o sêmen conservado em geladeira duran- te até um mês. O macho deve ser aneste- siado, a urina removida por massagem e o corpo cuidadosamente enxugado com toalha macia, para remover todas as gotas de água ou urina. Se a água ou urina se misturarem com o sêmen, ativam a movimentação dos espermatozóides antes do tempo. O sêmen é coletado por extrusão sobre um recipiente de vidro ou plástico e mantido na geladei- ra ou em gêlo até a hora de usar. É melhor testar, se possível, se o sêmen de cada ma- cho se move bem, pois algum macho pode produzir sêmen de baixa qualidade (aconte- ce também com o ser humano). O teste de motilidade é feito com qualquer microscó- pio, mesmo aqueles de criança vendidos em banca de jornal. c) Inseminação: em peixes, o espermatozóide fica imóvel, inativo, até o momento da ativação. Nos nossos peixes, a ativação ocorre pelo contato com a água doce (choque osmótico). Após ser ativado, o espermatozóide só consegue fecundar um ovo durante 30 a 60 segundos, e morre logo em seguida. Como o espermatózóide só tem motilidade durante o período curto de até um minuto, devemos dar a ele, condição de estar junto do furinho (micrópila) de cada ovo, antes da ativação. Para isso, o sêmen é espalhado sobre a ova - a seco - e em segui- da misturado cuidadosamente com uma pena de ave. Somente após a mistura completa a seco é que ativamos os espermatozóides, ao adicionar um pouco de água à bacia (o mes- mo volume aproximado dos ovos). Mistura- mos levemente e paramos para a natureza fazer o seu milagre da vida. d) Hidratação: após 5 minutos da inseminação, adiciona-se mais água para hidratar bem os ovos (que incham bastante). Após uma hora pode-se transferir para a incubadora com fluxo leve de água. Portanto, preparar antecipadamen- te o sêmen evita confusão e erros na hora da extrusão das fêmeas e inseminação. De: Carlos A S Suleiman suleiman@jupiter.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Sobre reprodução A reprodução foi de curimatãs e usei uma hipófise antiga que estava aqui. Peguei duas fêmeas e dosei às 18:30 da quinta- feira. Quando foi na sexta às 06:30 uma delas já tava expulsando os ovos no puçá de captura. Usei três dos cinco machos que ainda não haviam recebido dosagem, eles “pingaram” sêmen muito bem e apesar dos pingos há que se considerar a falta de do- sagem pra eles. Não houve pingos de san- gue e foram muito bem secos, assim como a bacia coletora, que estava bem seca. O espaço de tempo entre coleta de ovos e espermiação não passou de cinco minutos e depois de espalhar por uns dois minu- tos comecei a pingar água com pH de 7 e alcalinidade e dureza acima de 20 mg. Depois disso derramei calmamente dois copos americanos de ovos em cada uma das 3 incubadeiras de 220 litros. No do- mingo verificamos pouquíssimas larvas, muito poucas mesmo, coisa de unidades aqui e ali. Consultando um livro que tenho aqui verifiquei que o fluxo de água que vertia das incubadeiras estava muito forte desde o começo. Pode ter sido esse o erro em minha desova. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Sobre reprodução Existem várias causas possíveis para a fa- lha na produção de larvas: a) O ovário da fêmea que produziu os ovos podia conter ovos já excessivamente maduros (ovos “passados” ou “velhos”); b) A ovulação pode ter ocorrido há duas a três horas quando você inseminou, e os óvulos já ti- nham perdido a viabilidade; c) Pode ter havido problema na fecundação, se o sê- men estava velho dentro dos machos; d) Problema na incubação, se os ovos ficaram sujeitos a uma agitação forte, deletéria aos embriões; e) Outros. Esse tipo de ocor- rência não é anormal, às vezes acontece mesmo. Na próxima vez, tente colocar os machos junto com a fêmea desde o início, para que, se ela ovular e houver espaço, eles desovem e fecundem naturalmente. Assim, mesmo se você perder a hora da ovulação, os machos farão o serviço. Ou ainda, quando se aproxima a hora da ovu- lação, os machos começam a cortejar a fêmea e você aí fica de olho para pegar o momento certo e fazer a extrusão. 12 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 13Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Um reunião que acontecerá em Brasília (DF), entre os dias 23 e 25 de março, vai oficializar a criação da Rede de Aquicultura das Américas (RAA). O evento tem o apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), para con- cretizar o anseio de diversos países Latino Americanos e do Caribe, de formalizar um mecanismo sustentável de cooperação entre os governos, dedicado exclusivamente à aquicultura. A “Reunião de criação oficial e adesão à Rede de Aquicultura das Américas”, como é chamado o evento, pode ser considerado um marco ao fechar um ciclo de quase três décadas de reuniões, discus- sões e estudos sobre a real possibilidade de sua formação. Os primeiros dois dias do evento serão dedicados às dis- cussões técnicas. No dia 25 de março acontecerá a reunião do Conselho de Ministros da RAA, com a presença das autoridades máximas na área de aquicultura dos países interessados em fazer parte da Rede. Além do Brasil, que atua como sede temporária da RAA, já aderiram à Redea Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, e a OSPESCA - Organização do Setor Pesqueiro e Aquícola do Istmo Centro Americano. Um longo caminho até os dias de hoje A criação da RAA é a concretização de uma ideia que vem ganhando forma e força desde 1974. Esforços coordenados entre países vêm sendo realizados para alavancar o desenvolvimento da aquicultura na América Latina e no Caribe e, ao longo desse proces- so, alguns êxitos foram atingidos, entre eles a criação, em 1976, da Comissão de Pesca Continental para América Latina (COPESCAL). Em 1977, no Brasil, foi criado o Centro Regional Latino Americano de Aquicultura (CERLA). Em 1985 foi criada a Organização Latino Americana de Desenvolvimento Pesqueiro (OLDEPESCA) e, entre 1986 e 1994, foi executado o Projeto AQUILA. Em 2004 a FAO apoiou a realização de uma consultoria inter- nacional sobre a viabilidade da criação de uma Rede de Cooperação em assuntos relacionadas à aquicultura. Também nesse sentido, em 2005, o Grupo de Trabalho de Pesca da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) realizou uma oficina em Mazatlán, México, para avaliar a possibilidade de estabelecer uma Rede de Cooperação Intergovernamental com os países da APEC. Nos últimos seis anos, muitas outras iniciativas ganharam força através dos esforços da FAO. Assim, entre os dias 10 e 12 de junho de 2009, realizou-se em Guaiaquil, Equador, a Reunião para a reativação da iniciativa de Criação da Rede de Aquicultura das Amé- ricas, ocasião em que os países ratificaram a intenção em criar a Rede de Aquicultura das Américas, com a Carta de Guaiaquil assinada por representantes de treze países das Américas. A Carta, dentre outros assuntos, define o Brasil como país sede da Secretaria-Executiva da Rede de Aquicultura das Américas, em caráter transitório pelo período de dois anos e meio. O Brasil, conforme acordado, é o país responsável por cobrir os custos provenientes da operação da Rede até o seu estabelecimento formal. O evento que será realizado em Brasília, será um divisor de águas, pois formalizará a RAA como um organismo intergoverna- mental, de cooperação regional, de adesão voluntária que traz em seu cerne a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável e equitativo da aquicultura, por meio da cooperação regional entre países da América, com ênfase em aspectos sociais, econômicos, científicos, tecnológicos e ambientais. O Secretário de Planejamento e Ordenamento da Aqui- cultura do Ministério da Pesca e Aquicultura, Felipe Matias, que ocupa temporariamente a Secretaria Executiva da RAA, informou que ainda no primeiro semestre deste ano será aberto um Termo de Referência Internacional para a contratação de um profissional que assumirá este cargo. Brasil sedia a reunião inaugural Rede de Aquicultura das Américas 14 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda fernando@acquaimagem.com.br Eduardo A. Ono, M. Sc. Acqua Imagem Serviços Ltda eduardo@acquaimagem.com.br como ferramenta para o desenvolvimento e segurança alimentar no meio rural Piscicultura familiar E m 2004, o IBGE estimou que mais de 40% da população do país vive em insegurança alimentar, ou seja, mais de 70 milhões de brasileiros não têm acesso regular a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, muitas vezes sacrificando outras necessidades essenciais, como a educação e saúde, para não passar fome. Entre esses estão 14 milhões de pessoas que realmente passam fome. A insegu- rança alimentar tem início quando a pessoa não sabe se terá dinheiro para repor a quantidade de alimento necessária para atender de forma adequada a necessidade da família. Não havendo recurso suficiente, haverá uma redução na qualidade da alimentação e, numa situação ainda mais grave, uma redução na quantidade de comida para cada membro da família, até o ponto em que as pessoas chegam a passar fome. A maior concentração de pessoas sob insegurança alimentar está nas regiões Norte e Nordeste do país, sendo as crianças e os negros as categorias mais atingidas. Nas regiões Norte e Nordeste há uma maior concentração de pessoas sob insegurança alimentar nas áreas rurais do que nos centros urbanos. No Sul e Sudeste ocorre o inverso, com mais gente sob insegurança alimentar nas cidades do que no campo. Mesmo com a melhoria nas condições sócio-econômicas do país com o atual Governo, ainda há muita gente que não sabe o que vai poder comer no final do dia. Crianças em área rural de Dagupan, nas Filipinas, se beneficiam da criação de peixes em pequena propriedade rural (Foto: Autores) A criação de peixes em pequenas propriedades ru- rais contribui para o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, incrementa a qualidade nutricional da dieta familiar, gera receita adicional com a comercialização de parte da produção e contribui com o bem estar das famílias, provendo uma opção a mais de lazer, ou seja, a pescaria. Diferente da produção agrícola, que é muito mais sujeita à sazonalidade em função das condições climáticas, a aquicul- tura é uma fonte de alimento mais previsível e constante, disponível o ano todo. Ainda é importante ressaltar que, uma experiência bem sucedida com a produção extensiva de peixes para consumo próprio, estimula a expansão na criação, abrindo mais oportunidades de emprego da força de trabalho familiar (ou mesmo contratada) e de geração de receitas, que contribuem com a melhoria das condições de vida das famílias rurais, reduzindo a migração desta mão de obra para os centros urbanos. Há hoje vários exemplos de importantes empreendimentos aquícolas de grande porte no Brasil que nasceram de pequenos negócios familiares, destinados ao consumo próprio e lazer. Portanto, há razões mais do que suficientes, e uma grande oportunidade, que justifique a implantação de um programa nacional de estímulo à piscicultura em pequenas propriedades rurais. E acreditamos que isso deva ser contemplado também pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. 15Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Piscicultura fam iliar A aquicultura como instrumento de redução da fome e pobreza no mundo O pescado é uma das fontes de proteína mais equili- bradas em aminoácidos essenciais, é rico em minerais e em ácidos graxos essenciais de grande importância na nutrição humana. Assim, é inquestionável sua qualidade nutricional e sua importância para o incremento do valor nutricional das dietas das populações mais carentes. No entanto, pescado hoje no país, adquirido nas gôndolas de supermercados e peixarias, ainda é um produto pouco acessível à boa parte da população. Em zonas rurais e ribeirinhas, o pescado consumido geralmente é proveniente da pesca local ou de alguma forma extensiva de criação. A carne de pescado incrementa o valor nutricional da dieta das populações rurais (Foto: Autores) Em diversos países asiáticos e africanos, a aquicultura (em particular a criação de peixes) tem sido uma das alter- nativas aplicadas com o intuito de melhorar a qualidade da alimentação e gerar uma alternativa de renda para populações rurais. Na China, por meio do estímulo governamental à pis- cicultura, como estratégia para contribuir com a segurança alimentar, em duas décadas a oferta de pescado cultivado aumentou de menos de 10 para 30 kg/habitante/ano. A FAO Viveiros de criação de peixes em um subúrbio urbano de Pequim, na China, país onde o governo há mais de três décadas o governo enxergou na piscicultura uma das saídas para a segurança alimentar no país (Foto: Autores) Habitação de uma família rural extremamente pobre nas Filipinas que tem, na criação de peixes de subsistência, uma das principais fontes de proteína na alimentação (Foto: Autores) Tilápias capturadas em reservatório do Rio Nilo, no Sudão, sendo comercializada por pescador. Em diversas regiões da África, o pescado é uma das poucasopções de proteína animal na dieta das famílias de baixa renda (Foto: Autores) vem coordenando diversos projetos de aquicultura familiar como alternativa de redução da fome e me- lhoria da qualidade nutricional de famílias rurais em diversos países da África. Na Índia, a piscicultura é uma das atividades de produção de alimento que mais tem crescido nos últimos anos, e é encarada como um dos mais importantes meios de promoção de segurança alimentar naquele país. O consumo de pescado representa uma despesa maior sobre a renda dos indianos mais pobres do que sobre a renda dos mais abastados. Isso indica que o aumento na produção de peixes na Índia trará maior benefício às classes mais pobres. 16 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Pi sc ic ul tu ra f am ili ar Ações no Brasil voltadas ao aumento na oferta de pescado em áreas rurais No Brasil, existem diversas ações de peixamento promovidas por agências governamentais como a CODEVASF, o DNOCS e a Bahia Pesca, em parceria com prefeituras municipais, particular- mente na Região Nordeste. Estes pro- gramas consistem na soltura de juvenis de peixes como tilápias, tambaqui e curimatãs em açudes públicos, visando uma melhoria da pesca de subsistência, um incremento na qualidade da alimen- tação das famílias locais, bem como uma economia de recursos na compra de alimentos. Em algumas localidades, os peixamentos também têm servido como ferramenta de auxílio no combate ao caramujo hospedeiro intermediário da esquistossomose e, nos tempos de dengue, até mesmo o combate à propa- gação dos mosquitos. Infelizmente houve uma sensível redução nas ações de peixamento em vir- tude da insuficiente produção de alevinos nas estações de piscicultura do governo, que trabalham com limitados recursos hu- manos (sem reposição de funcionários que se aposentam ou se afastam por problemas de saúde) e, lutam contra os entraves bu- rocráticos das instituições governamentais nas decisões sobre compra de insumos, equipamentos, bem como na manutenção de suas instalações, além de sofrerem constantes perdas decorrentes do roubo de peixes (geralmente matrizes). Ainda há de se lamentar os peixamentos que ocorrem apenas para atender a promoção pública de políticos, sem consideração aos requisitos técnicos e reais necessida- des da população. Lamento ainda maior diante da atitude desonesta e egoísta de alguns moradores locais que, logo após o peixamento, lançam redes na água, cap- turando indiscriminadamente os próprios juvenis que foram soltos, em desrespeito aos seus próprios vizinhos, que também são beneficiários do peixamento. Apesar disso, as ações de peixamento realizadas ao longo de décadas por estas institui- ções foram extremamente benéficas às populações rurais e devem ser mantidas e intensificadas. Diante das restrições em re- cursos humanos e de autonomia dos técnicos responsáveis na gestão das es- tações de piscicultura governamentais, há algumas alternativas que poderiam mudar o atual cenário pelo qual passam estas estações em quase todo o país e serviriam de estímulo ao empreen- dedorismo e ao desenvolvimento da piscicultura regional: a) A concessão do uso das insta- lações das pisciculturas governamen- tais hoje ociosas para empreendimen- tos privados de produção de alevinos, com a contrapartida de atender aos programas governamentais; b) O direcionamento do trabalho da equipe técnica das atuais estações para suporte técnico e extensão junto aos produtores locais, de forma a dar o apoio necessário ao desenvolvimento da piscicultura regional e coordenação e mo- nitoramento das ações de peixamento; c) A compra de alevinos junto aos produtores particulares para aten- der as necessidades dos programas de peixamento. Isso resultaria em significativa redução nas despesas de manutenção e operação das esta- ções de piscicultura do governo, que hoje operam com pouca eficiência, produzindo alevinos a custos muito superiores ao praticado no mercado (se forem consideradas as despesas anuais de manutenção e operação das estações divididas pela produção anual de alevinos das mesmas). Além de criar uma demanda adicional por alevinos e juvenis, as estações governamentais também deixariam de concorrer, de forma desleal, com empreendimentos privados, estimulando os empreen- dedores a desenvolver a produção de alevinos na região; d) A criação de programas indi- viduais de peixamento, priorizando o fornecimento de alevinos para estoca- gem em pequenos açudes ou viveiros particulares cuidados por famílias rurais previamente selecionadas, onde há uma expectativa de melhor aprovei- tamento dos recursos providos pelo governo (alevinos e suporte técnico). "Os programas de estímulo e fomento à piscicultura no país devem fugir do padrão assistencialista, praticamente paternalista, que marcaram diversos programas de incentivo ao desenvolvimento da agricultura familiar no país. É preciso identificar beneficiários que realmente tenham a capacidade de levar adiante o empreendimento, sem criar uma dependência com a instituição que o fomentou." 17Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Piscicultura fam iliar Procedimento para identificar potenciais candidatos à piscicultura familiar Há hoje um grande contingente de famílias rurais que não consegue obter crédito, não tem acesso à tecno- logia e não conta com capital suficiente para implantar uma infra-estrutura mínima para a produção de peixes (barragens, viveiros, tanques-redes, etc.) e para a compra dos insumos de produção (alevinos, ração, fertilizantes, etc.). Também não contam com suficiente capacidade de gerenciamento, nem experiência prévia com um trabalho associativo. Assim, quando estas famílias ou produtores são estimulados a participar ou gerir empreendimentos intensivos de produção de peixes, que demandam inves- timentos, capital de giro e conhecimento técnico, estas apenas o fazem se houver um patrocinador, geralmente uma instituição que fomente o empreendimento, custeie a infra-estrutura e os recursos para o início da produção e a obtenção da primeira safra. Estes produtores, iniciantes e desavisados, invariavelmente vão se deparar com difi- culdades geradas pela falta de conhecimento e suporte técnico efetivo, mortalidades por doenças, dificuldade no abastecimento dos alevinos, uso de rações de baixa qualidade, roubos de peixes, deficiências nas instalações e equipamentos, desconhecimento dos canais de mercado, entre outras. Os produtores então se desestimulam e os empreendimentos apenas se sustentam enquanto houver recursos sendo providos pelos patrocinadores. Quando estes recursos escasseiam, os projetos geralmente se desintegram ou acabam sendo assumidos por um único associado. Os programas de estímulo e fomento à piscicultura devem fugir do padrão assistencialista, praticamente pa- ternalista, que marcaram diversos programas de incentivo ao desenvolvimento da agricultura familiar no país. É preciso identificar beneficiários que realmente tenham a capacidade de levar adiante o empreendimento, sem criar uma dependência com a instituição que o fomentou. Uma forma de realizar o recrutamento de produtores/famílias rurais para um programa de piscicultura familiar é através da divulgação, na comunidade/município alvo, da exis- tência de um programa de apoio à piscicultura familiar e cadastramento dos produtores/famílias interessadas. Estas famílias e produtores devem então ser convidados a par- ticipar de um programa de capacitação, que consistirá de uma série de reuniões onde serão apresentados e discutidos os aspectos fundamentais relacionados à implantação e condução da atividade (requisitos básicos do local para a implantação do empreendimento, estratégias de produção de peixes em pequena escala usando recursos locais, con- ceitos básicos de qualidade de água, alternativas de conser- vação e comercialização do pescado produzido,conceitos básicos de gestão da atividade, entre outros assuntos). A participação das famílias nestas reuniões é a forma de avaliação do real interesse no programa, e isso é pré- requisito para que as famílias recebam o apoio para a implantação e operação do empreendimento (apoio na construção dos viveiros, na aquisição dos alevinos e suporte técnico periódico para avaliar os resultados do empreendimento). Outro critério a ser considerado na seleção das famílias e produtores é a aptidão da propriedade para a implantação do empreendimento, que deve ser verificada pelo técnico responsável pela coordenação dos trabalhos. O programa de capacitação servirá como um filtro aos participantes, restando, ao seu final, aqueles que realmente estão interessados em levar adiante a produção de peixes, seja ela para consumo próprio da família, ou como uma atividade econômica complementar na propriedade. Com isso os recursos do programa serão aplicados de forma mais eficiente, e os resultados mais expressivos. Reunião com pequenos proprietários rurais do Acre interessados em participar de um programa de piscicultura familiar, fomentado pelo SEBRAE-AC (Foto: Autores) Qual deve ser o porte do empreendimento? Para responder a esta questão, vamos considerar um consumo semanal de 300g de pescado por pessoa da família (cerca de 16 kg de pescado por pessoa ao ano) e um rendimento de 60% em carne comestível do pescado. Assim, uma família constituída por 8 pessoas consumiria 1,8 kg de carne de pescado, que equivale a cerca de 4 kg de pescado por semana. Portanto, a demanda anual para consumo próprio da família deve ficar próxima de 200 kg de pescado bruto. Essa é a produção capaz de ser 18 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 19Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Piscicultura fam iliar obtida em uma área de viveiro próxima de 1.000 m2 sob condição de produção semi-intensiva, se consideramos uma pro- dutividade de 2 toneladas/ha/ano (ou 20 kg de peixes a cada 100 m2). Conduzindo bem a criação, a produtividade pode ser ainda maior, gerando um excedente de pescado para venda. Quais as estratégias de produção de peixes e as espécies? Há hoje conhecimento suficiente sobre tecnologias de produção de pei- xes que demandam baixo investimento, utilizam recursos disponíveis nas pro- priedades rurais e se compatibilizam com a rotina de trabalho das famílias rurais. A produção geralmente ocorrerá de forma semi-intensiva, em pequenos açudes e viveiros, com o uso de restos de alimentos, de fertilizantes químicos ou orgânicos, subprodutos da roça (sobras de grãos, hortaliças, frutas, entre outros), forragens, eventualmente alguma ração, se for disponível, entre outros insumos. O sistema de criação ideal para isso é o policultivo, com o uso de espécies de peixes que exploram diferentes fontes de alimentos disponíveis nos viveiros, assegurando maior produtividade. Po- licultivos bem conduzidos, manejados com o uso de fertilizantes e subprodutos disponíveis nas propriedades, podem al- cançar produtividade anual superior a 4 toneladas de peixes por hectare de viveiro (40 kg de peixes a cada 100 m2). Seguindo o conceito de produção para subsistência ou de produção com o mínimo custo, al- guns pré-requisitos básicos precisam ser obedecidos, de maneira que seja possível maximizar as chances de sucesso dessas produções, entre eles: a) A criação deve ser baseada no uso de peixes onívoros, ou seja, aqueles que aceitam diversos tipos de alimentos, e que possibilitam, assim, o aproveita- mento de diversos tipos de alimentos e subprodutos disponíveis nas propriedades rurais. Entre muitas espécies merecem destaque aquelas com habilidade de con- sumir fitoplâncton e zooplâncton (espé- cies planctófagas), que são organismos animais e vegetais bem pequenos que se desenvolvem na água dos viveiros e po- dem ter sua biomassa aumentada através da adubação. As tilápias, a carpa prateada, a carpa cabeça grande e o próprio tamba- qui são exemplos de peixes planctófagos. Peixes onívoros capazes de consumir e aproveitar bem alimentos vegetais (peixes com hábito alimentar herbívoro), como a carpa capim, a piapara e alguns tipos de piaus, bem como peixes que aproveitam frutas e sementes, como o tambaqui, o pacu, a pirapitinga e seus híbridos, pos- sibilitam o aproveitamento de forragens, sobras de hortaliças, de frutas e grãos, que sempre ocorrem em propriedades rurais. Ainda há os peixes onívoros com hábito alimentar bentófago, ou seja, aproveitam organismos animais e vegetais que se desenvolvem no fundo ou no substrato dos viveiros (algas, pequenos moluscos, larvas de insetos, vermes, entre outros). Exemplos de peixes de hábito alimentar bentófago são a carpa comum, o curimba- tá, a curimatã, entre outros; b) Uso de espécies de peixes de fácil obtenção dos alevinos por meio de deso- vas naturais que ocorram na propriedade, sem a necessidade de grande intervenção humana, a exemplo do que pode ser obtido com peixes como as tilápias, as carpas, os lambaris, entre outros. Ou, então, que estes alevinos estejam disponíveis local- mente a preços acessíveis, como já ocorre em diversas regiões com peixes como o tambaqui, tambacu, pacu e piaus; c) Os peixes devem ser alimentados preferencialmente com resíduos e subpro- dutos que não podem ser aproveitados na alimentação humana, como restos de culturas, forragens, frutas passadas ou excedentes, sobras de comida, farelos ve- Treinamento prático com a participação de técnicos do serviço de extensão rural e pequenos produtores rurais e seus familiares em Cruzeiro do Sul, AC (Foto: Autores) "O policultivo, com o uso de espécies de peixes que exploram diferentes fontes de alimentos disponíveis nos viveiros, quando bem conduzidos, manejados com o uso de fertilizantes e subprodutos disponíveis nas propriedades, podem alcançar produtividade anual superior a 4 toneladas de peixes por hectare de viveiro." 20 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Pi sc ic ul tu ra f am ili ar getais, entre outros. Estercos animais também podem ser usados como ferti- lizantes, promovendo maior produção de plâncton e outros organismos, que servirão de alimento aos peixes; d) Uso de sistemas de baixa manutenção, onde o produtor não tenha de despender muito do seu tem- po, de modo que possa realizar outras atividades produtivas, por exemplo, aplicando adubo 1 a 2 vezes/semana ou fornecendo algum tipo de alimento uma vez ao dia. Diversas espécies podem ser utilizadas, respeitando as preferências e restrições regionais (restrições am- bientais e ou quanto à disponibilidade de alevinos). A tilápia, o tambaqui e o pacu são espécies chaves em uma piscicultura de subsistência, seja pela diversidade dos alimentos que aproveitam, pela qualidade da carne e bons índices de crescimento, bem como pela facilidade de obter alevinos a preços acessíveis em quase todo o país. Outros peixes planctófagos, como as carpas prateadas e a carpa cabeça grande, também são adequados para uso nos policultivos. A carpa capim, os piaus e a piapara (esta última com pouca oferta de alevinos) também são indicados, pois possibilitam o apro- veitamento de vegetais (forragens, plantas aquáticas, restos de hortaliças, entre outros), apresentam rápido cres- cimento e carne de boa qualidade. A curimatã, curimbatá e a carpa comum também são espécies que podem ser utilizadas nestes policultivos, aprovei- tando resíduos orgânicos e alimentos naturais no substrato dos viveiros. Peixes de hábito carnívoros, como as traíras, dourado, pintado e outros, não são adequados como espécie principal em um sistema onde praticamente não se usa ração. No entanto, podem ser ferramentas úteis em um policultivo, controlando a população de peixes pequenos que pode aumentar exces- sivamente com a reprodução natural de algumas espécies (como a tilápia, as carpas e lambaris,por exemplo) ou com a entrada indesejada nos tanques de criação através da água de abaste- cimento. A maioria destas espécies, com exceção das tilápias, da carpa comum e dos lambaris, demanda uma reposição periódica de alevinos, pois não se reproduzem naturalmente nos viveiros. Os alevinos das espécies es- colhidas podem ser estocados dire- tamente nos viveiros. No entanto, seria melhor contar com um pequeno viveiro de alevinagem, ou mesmo um cercado no próprio viveiro de criação, protegido com linha, tela ou rede anti- pássaro, onde estes alevinos possam ser mantidos por um ou dois meses, evitando predações por aves e mesmo por peixes maiores que possam já estar presentes nos viveiros. No Brasil, assim como ocorre em diversos países na Ásia, África e América Latina, a tilápia é uma das melhores opções de peixe para pro- gramas de piscicultura familiar de subsistência. E isso não é por acaso. Esta espécie atende a maioria dos pré-requisitos para produção semi- intensiva e de subsistência. Tilápias são bastante prolíficas desde jovem, sendo assim um ótimo instrumento para a produção de grande biomassa de alimento em curto espaço de tempo, suprindo, dessa forma, a carência por proteína das populações rurais mais pobres. No Brasil, as tilápias estão disseminadas em açudes na maioria das propriedades, e constituem uma importante fonte de proteína para as famílias rurais. A grande capacidade de reprodução da tilápia traz a vantagem ao produtor rural de ter autonomia na obtenção dos alevinos, reduzindo a dependência de compra de alevinos de terceiros ou de obter doações de ins- tituições governamentais. No entanto, a reprodução natural da tilápia pode levar a uma excessiva população nos viveiros e redução no porte e valor dos peixes obtidos, embora isso contribua com o aumento da produção de proteí- na por unidade de área, que geralmente é o objetivo em uma piscicultura de subsistência. Ainda assim, o produtor pode amenizar este problema da ex- cessiva reprodução da tilápia usando a sexagem manual dos juvenis que serão estocados nos viveiros de produção, "No Brasil, assim como ocorre em diversos países na Ásia, África e América Latina, a tilápia é uma das melhores opções de peixe para programas de piscicultura familiar de subsistência. E isso não é por acaso. Esta espécie atende a maioria dos pré- requisitos para produção semi- intensiva e de subsistência." 21Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Piscicultura fam iliar através da retirada contínua dos peixes (despescas para consumo e venda) e/ou, ainda, com a estocagem de alguns peixes predadores, como as traíras, lambaris e outros que geralmente ocorrem naturalmente nos cursos d’água da região. Da mesma forma como a tilápia, o lambari também é uma alternativa interessante de peixe para piscicultura familiar de subsistência. Ele se reproduz naturalmente nos viveiros, aceita uma grande diversidade de alimentos, pode ser alimentado com farelos vegetais e é aproveitado quase que integralmente na hora do consumo (retirando apenas as vísceras). Com isso, contribui com grande aporte de minerais na alimentação diária. Suas espinhas são muito pequenas e finas, não constituindo, quando frito ou cozido sob pressão, grandes problemas para crianças e idosos na hora do consumo. Exemplo de projeto voltado à produção familiar e consumo pelas famílias rurais Para atender a demanda de pequenos produtores fa- miliares, que necessitam produzir alimento para o consumo das suas famílias e complementar a renda de suas proprie- dades, o SEBRAE-AC vem desenvolvendo desde 2006, em conjunto com o Governo do Acre e parceria com outras instituições (Prefeituras, MPA, BASA, Banco do Brasil, entre outros), um projeto de apoio à piscicultura abrangendo os municípios de Rio Branco, Bujari e Mâncio Lima. Em 2007, o SEBRAE-AC contratou a Acqua Imagem Serviços para o desenvolvimento da metodologia de capacitação dos produtores e para a aplicação das ações de treinamento e apoio ao produtor. Além disso, a Acqua Imagem também realizou a pedido do SEBRAE – AC e do Governo do Reunião com os piscicultores em Rio Branco-AC para realização de mini curso e avaliação do andamento das atividades do projeto (Foto: Autores) Estado do Acre, oito módulos de capacitação em piscicultura e mercado (comercialização) para os técnicos da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (SEAPROF). O programa de capacitação teórico-prático tem uma duração de dois anos. Os produtores familiares primeiramente tomam conhecimento das necessidades de infra-estrutura e técnicas de construção de pequenos açudes e vivei- ros. Aprendem como manejar a qualidade da água, com o uso de equipamentos simples como o disco de Secchi. Conhecem as características biológicas e produção das principais espécies nativas da região. Adquirem noções dos diferentes tipos de alimentos (natural e suplementar), que podem ser aproveitados por estes peixes e as estratégias de manejo (calagem e adubação) para aumentar a disponibilidade de alimentos naturais nos viveiros de criação. Apren- dem a importância de manter registros de controle básico do empreendimento (dados de produção, despesas e receitas, entre outros), os conceitos de associativismo e as técnicas de boas práticas de manipulação (abate, higiene, etc.) e conservação do pescado através do uso de gelo e salga. Seguindo o conceito de incubação, os produtores já ingressam no projeto conscientes de que estão numa contagem regressiva de 24 meses e que têm a missão de apren- der e colocar em prática o conhecimento necessário para o manejo cotidiano da sua produção de peixes. Placa de identificação de produtor participante do programa de apoio à piscicultura familiar no município do Bujari, no Acre. Ao fundo um viveiro construído como apoio ao produtor. O referido programa é fomentado pelo SEBRAE-AC em conjunto com o Governo do Acre e outras instituições parceiras (Foto: Autores) 22 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Assim, mensalmente eles se reúnem para uma rodada de mini cursos com os consultores, onde recebem as informações sobre as técnicas de manejo e gestão, além de trocar experiências e compartilhar as dificuldades e soluções com outros participantes do grupo. Após cada mini curso, os produtores estabelecem, voluntariamente, metas para colocarem em prática os aprendizados daquele mês. Na reunião subsequente, os produtores recebem novas informações e apresentam o que já conseguiram implantar no mês anterior e esclarecem todas as dúvidas referentes a esta implantação. No intervalo entre as reu- niões mensais, os produtores recebem ainda, uma visita de um técnico que também atua no projeto e que realiza o acompanhamento, esclarecendo as dúvidas “in loco”. Assim, sucessivamente ao longo do período do projeto os piscicultores se tornam muito mais independentes para tomar suas decisões, com base em conhecimentos adquiridos e testados em suas propriedades. Uma prova dos bons resultados colhidos nesse projeto é o fato de que, desde o seu início, a produção de peixes na região vem crescendo de forma significativa, tendo sido possível realizar várias feiras (em média três feiras por ano) para a promoção e venda dos excedentes da produção destas propriedades. Essa dinâmica foi desenvolvida por acredi- tarmos que essa era uma das poucas formas de melhorar a piscicultura da região, considerando que o serviço de assistência técnica e os recursos investidos são totalmente insuficientes frente ao crescente número de produtores interessados na atividade. Considerações finais Segurança alimentar e nutricional implica na pos- sibilidade de acesso regular a alimentos que se comple- Pi sc ic ul tu ra f am ili ar Atividades práticas com piscicultores familiares em Rio Branco-AC, com demonstrações do manejo para a captura, pesagem e transferência de peixes (Foto: Autores)23Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Piscicultura fam iliar Feira para venda de peixes vivos promovida no município do Bujari-AC, onde os produtores familiares comercializam o excedente de sua produção (Foto: Autores) mentam em termos nutricionais e que estão disponíveis em quantidades suficientes para bem nutrir a população, de for- ma a satisfazer as necessidades de saúde e desenvolvimento do ser humano em todas as etapas de sua vida. Esta somente é capaz de ser alcançada com programas sustentáveis de erradicação da fome no país, com uma melhor distribuição de renda e forte investimento em educação. A piscicultura é uma ferramenta muito eficaz para a segurança alimentar, transformação social e desenvolvimento no meio rural, contribuindo com o bem estar das famílias rurais (segurança alimentar, incremento nutricional, complemento de renda, atividade produtiva complementar e lazer através da pesca). O MPA deve apostar e coordenar as ações e investimentos, junto às demais instituições (MDA, INCRA, BNDES, BASA, BNB, Governos Estaduais, Prefeituras, etc.) no estímulo ao desenvolvimento da piscicultura familiar, não apenas como uma forma de amenizar a deficiente nutrição de famílias rurais pobres, mas também como estratégia para a popularização da produção e consumo de pescado no país. Pequenas pisciculturas familiares hoje podem significar sólidos empreendimentos de aquicultura no futuro. Por tudo isso, é fundamental que o governo federal, através do Ministério da Pesca e Aquicultura, conceba uma estratégia de promoção e desenvolvimento da piscicultura familiar, especialmente nas regiões mais carentes do país. Demonstração do uso de ferramentas para o monitoramento da qualidade de água para os piscicultores (Foto: Autores) 24 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Sanidade Aquícola Por: Henrique César Pereira Figueiredo e-mail: henrique@dmv.ufla.br Médico Veterinário, professor do Depto. de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária da UFMG Coordenador do AQUAVET Lab. de Doenças de Animais Aquáticos Carlos Augusto Gomes Leal Médico Veterinário, M.Sc., doutorando em Ciências Veterinárias, UFLA Manejo sanitário na larvicultura: Como evitar e prevenir a disseminação de doenças produção de alevinos é, sem sombra de dúvida, uma das etapas mais importantes e fundamentais para a piscicultura. Apresenta caracte- rísticas específicas de acordo com a espécie de peixe em questão, porém, em geral, a dinâmica de produção é semelhante. Frequentemente somos questionados sobre a importância da implementação de práticas sanitárias em larviculturas de peixes. O principal motivo desse tipo de questionamento é que muitas propriedades obtêm sucesso nos primeiros anos de cultivo, principalmente aquelas que trabalham com espécies mais estudadas ou com pacotes tecnológicos já estabelecidos, como por exemplo, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Apesar disso, observamos na prática várias situações onde a larvicultura vai bem durante anos e, em um determinado momento, ocorre um problema sanitário. Como não haviam medidas sanitárias previa- mente estabelecidas, após introduzida, a doença se dissemina e rapidamente acomete todo o plantel, causando prejuízos diretos (tratamento e controle) e indiretos (redução na produtividade e gastos com a prevenção), não sendo raros os casos onde a produção é afetada de maneira tão drástica, que a ati- vidade torna-se inviável na propriedade. Reprodutores Apesar do foco principal ser os alevinos, os reprodutores são o ponto de partida para a implementação de um programa sanitário em larviculturas. Esses animais podem ser fontes de infecção, ou seja, hospedeiros de agentes infecciosos que podem ser transmitidos para os animais jovens. Isso é uma realidade tanto para patógenos infecciosos (bactérias, vírus etc.) como para ectoparasitas. Um exemplo desse tipo de relação epidemiológica são as infestações por protozoários do gênero Tricodina em larvas e alevinos de Na coluna “Sanidade Aquícola” desta edição discutiremos algu- mas questões sobre a rotina de manejo sanitário em larviculturas de peixes. O tema parece simples, mas é um entrave potencial em diversas fazendas, já que pode representar um problema na di- fusão de agentes infecciosos no país, principalmente por meio das larviculturas comerciais. Não existe um procedimento único para o manejo sanitário, mas sim um conjunto de princípios que norteiam as práticas de controle de agentes e de enfermidades, cujos principais aspectos discu- tiremos a seguir. 25Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Sanidade Aquícola tilápia do Nilo. As infestações ocasionadas por esses parasitas são um dos principais problemas sanitários para a larvicultura dessa espécie, principalmente durante a reversão sexual. Como os animais adultos são mais resistentes, não apresentam doença clínica e não são afetados por esses patógenos. Contudo, os parasitas são altamente patogênicos para as larvas, devido a sua maior sensibilidade e por não serem imunocompetentes nessa fase. Principalmente em propriedades onde é realizada a coleta de “nuvens”, o contato entre os reprodutores e as larvas jovens possibilita uma maior transmissão do parasita. Na prática obser- vamos uma relação direta entre altas cargas parasitárias nos repro- dutores e maiores infestações e problemas de doença parasitária nas larvas. Apesar do parasita ter uma fase de vida livre e certa viabilidade no ambiente, a transmissão animal:animal parece ser importante nesse caso. A determinação do “status” sanitário dos reprodutores é o primeiro passo para um controle sanitário eficiente da produção de alevinos. Essa primordialmente deve ser realizada na introdu- ção dos animais na propriedade através da realização de exames clínicos e laboratoriais, como previamente discutido em edição anterior dessa coluna. Entretanto, na maioria dos casos, o plantel de reprodutores já foi alojado na propriedade e está sendo utili- zado para reprodução. Nesse caso, alguns reprodutores devem ser coletados para avaliação. Assim, nos deparamos com um problema prático, já que para realização de exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças infecciosas em peixes, é necessá- rio que os animais sejam mortos para coleta de órgãos e tecidos. Quando trabalha-se com uma espécie onde o custo dos animais é relativamente baixo e a disponibilidade de reprodutores é alta, como no caso da tilápia, esse procedimento não apresenta muitos empecilhos. Porém, em fazendas de produção de peixes nativos, como pirarucu, pintado etc., onde o número de reprodutores é reduzido e esses possuem um alto valor, isso é certamente proble- mático. Uma propriedade que possuí poucos casais de pirarucu, obviamente não irá se desfazer de um deles para a realização de exames laboratoriais. A solução para esse entrave está no desenvolvimento de métodos não letais (onde não é necessário, ou não causam a morte do animal) de coleta de amostras para o diagnóstico de doenças infeciosas. Alguns exemplos de métodos não letais são a coleta de sangue, punção de órgãos (coleta de uma pequena amostra com uma seringa ou sonda), lavados e raspados de mucosa, entre outros. Exames laboratoriais que utilizam espécimes clínicos (material que será analisado) obtidos por métodos não letais, são muito comuns em animais terrestres. No AQUAVET, estamos desenvolvendo técnicas não letais para coleta de amostra de matrizes de tilápia do Nilo e, posteriormente, esses procedi- mentos devem ser adaptados para outras espécies de peixes. O desenvolvimento de tais técnicas será um avanço para o manejo sanitário em larviculturas, pois permitirá o diagnóstico de doen- ças nos animais do plantel, até mesmo especificamente em cada reprodutor. A partir da determinação das doenças ou patógenos presentes no plantel de reprodutores, programas de controle, tratamentos específicos e práticas de biossegurançapodem ser realizadas para evitar que os microrganismos ou parasitas sejam transmitidos para as larvas ou alevinos. Transmissão de agentes na larvicultura Os microrganismos patogênicos podem ser trans- mitidos, dos reprodutores para as larvas, de duas formas básicas: a denominada transmissão vertical, onde os pató- genos infectam os gametas (espermatozóides e ovócitos) e o animal já nasce com a doença; ou transmissão horizontal, onde o animal não nasce com a doença, mas adquire nos primeiros dias após o nascimento. A primeira forma é a via de infecção principal de alguns tipos de vírus causadores de doenças em peixes (atualmente não existem relatos de sua ocorrência no Brasil). Já a horizontal, que pode ser através do contato direto entre os animais, contato com fluídos corporais, secreções e excreções contaminadas (secreções do trato reprodutivo, urina, muco, fezes, etc.), ou ainda via água, é a principal forma de transmissão de bactérias, protozoários e alguns vírus. Nesse ponto, alguns podem estar se perguntando, como fica esse pro- cesso de transmissão horizontal nos casos onde é feita a reprodução artificial dos peixes? Em tais condições é realizada a coleta de sêmen e ovócitos, fecundação e incubação dos ovos, não havendo contato das larvas com os reprodutores, com suas secreções, excretas ou com a água do sistema de cultivo. Na realidade existe somente o contato principalmente dos ovócitos, com os fluídos e secreções das gônadas dos peixes. Essas podem ser vias de eliminação de microrganismos de maneira semelhante as fezes, urina, muco, etc.. Apesar de não infectarem os gametas propriamente, os patógenos eliminados por essa via ficam aderidos à superfície dos ovos. No momento da fecundação esses podem ser carreados para o interior dos ovos junto com os espermatozóides ou ser internalizados "Reprodutores são o ponto de partida para a implementação de um programa sanitário em larviculturas. Esses animais podem ser hospedeiros de agentes infecciosos que podem ser transmitidos para os animais jovens. Isso é uma realidade tanto para patógenos infecciosos como para ectoparasitas." 26 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 27Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Sanidade Aquícola no momento do fechamento da micrópila, vindo assim a contaminar o embrião. Adicionalmente, os micror- ganismos podem ficar aderidos à superfície dos ovos e, no momento da eclosão, entrarem em contato com as larvas, promovendo a infecção dessas. No caso das doenças de transmissão vertical, o controle e prevenção é necessariamente realizado através do tratamento dos reprodutores com medica- mentos ou produtos imunoprofiláticos, como vacinas. Esse procedimento é complexo para algumas enfermi- dades, como por exemplo as causadas por vírus, visto que não possuem fármacos efetivos liberados para uso na produção animal. Assim, a detecção e eliminação sistemática de reprodutores positivos são consideradas as formas mais efetivas, mas nem sempre viável do ponto de vista econômico. Já no caso dos patógenos transmitidos de forma horizontal, adicionalmente ao tratamento dos reprodutores, o manejo sanitário na larvicultura é um fator que exerce efeito direto nos resultados dos programas de prevenção e controle das doenças. Para os microrganismos que ficam aderidos à superfície, a realização da desinfecção dos ovos antes da introdução dos mesmos no laboratório ou incubadoras é essencial. Esse processo é recomendável, principalmente para prevenção de doenças virais. Diversas substâncias têm sido utilizadas para a desinfecção de ovos de peixes, sendo alguns exemplos a formalina, glutaraldeído, pe- róxido de hidrogênio, iodo-povidine, ozônio, antibióti- cos, etc.. Apesar do efeito benéfico, essas substâncias podem ser tóxicas e ocasionar a morte dos embriões. Na figura 1 pode ser observado um esquema do pro- cedimento para teste de substâncias para desinfecção de ovos de peixes. A substância ideal, bem como a dose e protocolo de aplicação variam de acordo com a espécie de peixe. Em geral melhores resultados têm sido obtidos na desinfecção dos ovos com glutaralde- ído, de acordo com dados de literatura. Do mesmo grupo químico da formalina (aldeídos), essa substância apesar do efeito desejável, ainda não é licenciada para uso em aquicultura no Brasil. Um desafio para o manejo sanitário em larviculturas, de peixes nativos principalmente, é a determinação da substância ideal e o esquema terapêutico para a realização da desinfecção de ovos. Devido a grande diversidade de espé- cies e características morfofisiológicas, é necessário o desenvolvimento de protocolos espécie-específico. Além do ponto de vista sanitário, a desinfecção de ovos é recomendada para otimizar a produção de larvas, pois reduções na carga microbiológica dos ovos diminuem o desafio das larvas e, consequentemente, promove aumento na sobrevivência. Adicionalmente, durante a incubação de ovos, é comum em algumas regiões do país a ocorrência de infecções fúngicas, principalmente por fungos do gênero Saprolegnia. Em outros países, para o controle desses fungos em larviculturas de salmonídeos, têm sido utilizada a substância bronopol (2-bromo-2-nitro,1,3-propanodiol), que ainda não está disponível para uso em piscicultura no Brasil. Em muitas situações a correção dos parâmetros limnológicos da água, principalmente em sistema de recirculação, evita a ocorrência dessas infecções. Etapas de descontaminação Como descrito até o momento, a veiculação e transmissão de parasitas e patógenos dos animais adultos para os alevinos ocorre, principalmente, devido ao contato direto dos peixes e através da água. "A desinfecção de ovos é recomendada para otimizar a produção de larvas, pois reduções na carga microbiológica dos ovos diminuem o desafio das larvas e, consequentemente, promove aumento na sobrevivência." ESPÉCIES DE REPRODUÇÃO ARTIFICIAL Extrusão dos ovos Coleta de sêmen Aldeídos Iodofóros Peróxido de Hidrogênio Ozônio TILÁPIAS FECUNDAÇÃO HIDRATAÇÃO DESINFECÇÃO COLETA DOS OVOS Avaliação da Carga Microbiológica Avaliação da Taxa de Fecundação Avaliação da Taxa de Sobrevivência das Larvas Figura 1: diagrama esquemático do processo de teste de substâncias para a desinfecção de ovos de espécies de peixes submetidas à reprodução artificial e de tilápias 28 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2010 Durante a larvicultura, independentemente da espécie em questão, os animais em diferentes fases do desenvolvimento devem ser criados em sistemas de cultivo separados não ha- vendo contato entre esses, nem entre a água dos tanques. Esse processo é denominado tecnicamente de “compartimentaliza- ção da produção”, ou seja, é realizada a divisão da propriedade em setores independentes, onde em cada um deles é feita uma fase do cultivo. Apesar de parecer uma coisa simples, esse pro- cedimento é comumente negligenciado em pisciculturas. Não é incomum, em visitas à tilapiculturas, verificarmos situações onde em um mesmo tanque alojam-se hapas com alevinos e, em uma das extremidades, alguns tanques-rede com matrizes em descanso. A proximidade de animais com diferentes ida- des aumenta a possibilidade de acometimento por diferentes enfermidades, principalmente nos animais jovens. Podemos dividir as larviculturas em três setores prin- cipais: reprodução, laboratório e alevinagem (vamos definir essa como sendo o cultivo das larvas a partir do momento em que essas saem do laboratório de reprodução). Cada setor deve possuir um manejo independente, bem como funcionários e equipamentos específicos para a realização dos procedimen- tos de rotina. O trânsito de pessoas e equipamentos entre os setores é um risco potencial de veiculação de patógenos. Um mesmo funcionário que coleta os ovos de tilápia, aloja esses ovos no laboratório e, posteriormente, auxilia na alimentação dos larvas em reversão sexual, pode estar
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