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Um manual prático com as bases para a construção de um manejo clínico leve e descomplicado em Gestalt-terapia O Essencial Quero te desejar boas vindas a este e-book este material que você está lendo, tem conexão com o nosso workshop: “A Gestalt-terapia na prática: da teoria à realidade da clínica de forma descomplicada” lá é importante que você leia, pois lá nós vamos nos aprofundar nessa temática e acrescentar mais informações para que você tenha um manejo clínico descomplicado e que flui no seu dia-a-dia de consultório. Se você está lendo este material, é sinal de que confiou no meu trabalho. Por isso, desde já, quero agradecer e dar as boas-vindas! Eu sou Ricardo Takaki, um psicoterapeuta e professor apaixonado pela Gestalt-terapia. No consultório, atuo nessa abordagem há mais de 10 anos, atendendo e aprendendo cada dia mais com meus clientes. Descobri que a Gestalt-terapia não precisa ser complexa e que os clientes não pagam pelo seu conhecimento, mas sim por saber como aplicá-lo. Por isso, resolvi contribuir ensinando métodos e formas de utilizar a abordagem no dia-a-dia do seu consultório. Prepare-se para colocar a "mão na massa" e aprender o que fazer na prática com todo o seu conhecimento! Bora Gestaltecer? Que bom te encontrar aqui! 02 Feito com muito carinho por: Ricardo Takaki @gestaltecer Este é um material para uso de Psicólogos ou Estudantes de Psicologia. Foi construído com base na experiência clínica e nos estudos do autor. Recomenda-se que seja utilizado para aplicação prática em consultórios de Gestalt-terapia, com clientes/pacientes que não estejam em estado de crise ou com contato reduzido com a realidade. Avalie o nível de consciência do seu cliente para a aplicação apropriada das ferramentas ensinadas aqui. O uso deste material é proibido para quaisquer fins comerciais, plágio, pirataria ou compartilhamento. Nosso Contrato 03 Sumário Capítulo 1: A presença do psicoterapeuta ............................. 05 O ser Psicoterapeuta ........................................................... 06 Autenticidade do Psicoterapeuta ......................................... 07 Exercício de Ampliação 01 .................................................. 08 Como estar mais presente? ................................................. 09 Capítulo 2: A construção de uma relação terapêutica .......... 11 Como é a relação terapêutica na Gestalt-terapia? ............... 12 A vontade de atender e a vontade de ser atendido/a ........... 14 Dar contorno à relação: o contrato terapêutico .................... 16 Capítulo 3: Um método descomplicando: Fenomenologia ...18 Manejo Clínico em Gestalt-terapia ....................................... 19 Fenomenologia e Gestalt-terapia ......................................... 20 Postura para o Manejo: Epochè ........................................... 21 Manejo na Prática: Definindo o tema da sessão .................. 22 Exercício de Ampliação 2 .................................................... 23 Manejo na Prática: Explorando o tema ................................ 24 Exercício de Ampliação 3 .................................................... 25 Manejo na Prática: Encontrando sentido ............................. 26 Exercício de Ampliação 4 .................................................... 27 Encontrando Fluidez no Manejo .......................................... 28 Mensagem Final ........................................................................ 29 Algumas Referências ............................................................... 32 Capítulo 01 05 Antes de nos aprofundarmos nos temas sobre o manejo, eu gostaria de te fazer algumas perguntas para ampliar nossas reflexões: Para que você se tornou um psicoterapeuta? O que te motivou? Qual é a sua história? De onde você vem ou o que você já viveu? Você já passou por um processo terapêutico? Como foi? Você está em um processo terapêutico? Tem buscado um contato mais íntimo consigo mesmo? Tem conseguido ir além das próprias fronteiras para se permitir uma abertura ao diferente? à outras pessoas? Quero te convidar a ficar um pouco em cada uma dessas questões, entrar em contato com sua experiência pessoal. Eu não acredito que uma pessoa se torne psicoterapeuta, especialmente um Gestalt-terapeuta, “do nada”. Há sempre uma intencionalidade no que fazemos, e isso não é diferente com o ser terapeuta. Acolher a dor e o sofrimento do outro, ser guardião dos seus segredos, tem um preço: a busca constante por estudar não só a teoria, mas a si mesmo. Então qual é a sua intencionalidade? O que te fez chegar aqui? 06 O ser psicoterapeuta A autenticidade do psicoterapeuta é essencial no processo terapêutico, pois cria um ambiente seguro e genuíno para o cliente explorar suas próprias verdades. Na Gestalt-terapia, ser autêntico significa estar presente de forma plena, permitindo que a relação seja uma troca real, onde o terapeuta não se esconde atrás de técnicas, mas se envolve com transparência. Quando o terapeuta se mostra como é — com suas próprias emoções, limites e humanidade —, ele convida o cliente a fazer o mesmo, possibilitando um contato mais profundo. A autenticidade rompe barreiras, desfaz defesas e permite que o cliente se encontre com aquilo que é essencial em si. Assim, o terapeuta é, ao mesmo tempo, testemunha e participante, trazendo “permissão para ser” no campo terapêutico, possibilitando uma relação viva e transformadora. Essa postura é, em si, um convite à transformação e ao encontro genuíno. 07 Autenticidade do psicoterapeuta 1 - Como estou me sentindo agora, em relação ao que está acontecendo nesta sessão, e de que forma isso pode impactar minha presença com o cliente? 2 - Quais são as minhas necessidades e limites neste momento? Estou confortável em expressá-los de forma clara e respeitosa? 3 - De que forma minha própria história e experiências pessoais estão presentes aqui, e como posso utilizá-las de maneira autêntica e útil para o processo terapêutico? 4 - O que está acontecendo na relação entre mim e o cliente que estou relutante em trazer à tona, e como essa hesitação pode estar influenciando nossa conexão? 5 - Estou reagindo ao cliente de uma forma automática ou estou verdadeiramente presente com ele e suas necessidades neste momento? 08 Exercício de ampliação 1 Logo abaixo vou deixar 5 perguntas que você pode se fazer para aumentar a percepção do quanto você tem sido autêntico/a nos processos que conduz. Você pode pensar em um caso específico que você esteja atendendo, se imaginar diante do cliente e responder: Como estar mais Presente? O ofício de ser psicoterapeuta, creio eu, nos exige um olhar sobre o nosso tempo de trabalho de forma diferente: precisamos ter tempo para estudar o caso, fazer supervisão, cuidar do nosso próprio processo interno em terapia, também ter tempo para se preparar, antes de um atendimento, e também para respirar, tomar uma água após finalizar. Pensando nisso, a sessão de terapia de fato é um evento ao qual chamamos de ENCONTRO. Encontrar é tocar e ser tocado pelo outro, como fazer isso com qualidade quando se tem pressa? Ou quando sua cabeça está em outro lugar? 09 Para que o encontro aconteça da melhor maneira possível, é recomendável (mas não obrigatório) que você busque: Preparação Pessoal Antes da Sessão: Reserve alguns minutos antes de cada sessão para respirar profundamente, relaxar o corpo e se conectar com o momento presente. Isso ajuda a transitar das demandas externas para o espaço terapêutico. Auto-observação: Durante a sessão, observe suas próprias reações físicas e emocionais. Note como o corpo responde ao que o cliente está dizendo, e use essas respostas como indicadores para se manter conectado. Escuta Ativa e Curiosa: Esteja plenamente atento ao que o cliente diz, sem planejar respostas antecipadas. Pratique a escuta ativa, onde cada palavra e gesto do cliente são recebidoscom curiosidade e abertura. Além disso, também é importante compreender que haverá dias em que você não estará em condições de atender, por um adoecimento, um mal estar, ou situações que saem do seu controle, se for algo que impeça sua presença com o cliente, então veja a possibilidade de remarcar a sessão, assim você também poderá dedicar tempo ao seu autocuidado. 10 Capítulo 02 11 Todo processo psicoterápico tem 2 pilares: A relação terapêutica e o processo diagnóstico. Após a primeira entrevista, se o seu cliente decidir continuar no processo, você precisará cultivar junto com ele essa relação. Relação terapêutica em Gestalt-terapia é um meio que favorece a mudança. Existe nessa relação sentimentos, emoções, não só por parte do cliente, mas também do próprio terapeuta. Está tudo bem você como psicoterapeuta ter sentimentos. O importante é lembrar que na sessão, o foco não é trabalhar os seus sentimentos, mas compartilhar, quando oportuno, ajuda no processo, humaniza, te mostra como alguém autêntico. 12 Como é a relação terapêutica na Gestalt-terapia? A Gestalt-terapia propõe um tipo específico de relação terapêutica onde existe contato genuíno com a outra pessoa chamada Relação Dialógica. Ela tem base no existencialismo de Martin Buber em seu livro “EU-TU”. A relação "Eu-Tu", segundo Martin Buber, é um encontro autêntico e profundo entre dois seres, onde ambos se reconhecem em sua totalidade e singularidade. É um contato genuíno, sem julgamentos ou objetivos, marcado pela presença e pelo envolvimento real. Na Gestalt-terapia, esse tipo de relação facilita a transformação e o crescimento, pois valoriza o momento presente e a conexão verdadeira. Então seu cliente não é um diagnóstico, não é uma personalidade, não é nada que você tenha pré-determinado sobre ele, acima de tudo é uma pessoa. Por outro lado, a relação "Eu-Isso" é um encontro objetificado, onde o outro é tratado como um objeto, algo a ser manipulado ou categorizado, com foco na utilidade. Não há encontro pleno, apenas uma relação instrumental. Por isso a proposta é pensar: O cliente não é só mais um número numa agenda cheia. É importante e observar o quão cheia está sua agenda e se ela tem permitido que você vivencie mais a relação “Eu-Tu” ou se ao final do dia, você já está em esgotamento e acaba não podendo ficar tão presente diante dos últimos clientes. 13 O título que escolhi para esse tópico poderia ser auto explicativo, pois ele resume algo que é fundamental para que a relação terapêutica aconteça, o que nós chamamos de: Aliança de trabalho ou Aliança terapêutica. Uma conexão de confiança e compreensão mútua do seu trabalho, com os objetivos do processo terapêutico, concordância com a estrutura de funcionamento. Começa com o oferecimento de ajuda, apoio e compromisso por parte do terapeuta. É uma parceria ativa, ou seja, ambos colaboram para o processo, o terapeuta com sua experiência, técnica, recursos terapêuticos e o cliente com a disposição para participar do processo. Para manter a aliança terapêutica funcionando, é importante fazer sessões de revisão em intervalos regulares, para verificar com o cliente o quanto a relação terapêutica está funcionando, sendo útil e efetiva (contar caso do Rafael, sentir que não estava prestando atenção, caderno). 14 A vontade de atender e a vontade de ser atendido/a 15 Podemos pensar a aliança terapêutica também como se fosse uma dança: Ambos os parceiros, terapeuta e cliente, movem- se juntos, ora conduzindo, ora sendo conduzidos. É preciso confiança, sintonia e escuta mútua para que o ritmo se estabeleça, permitindo que os passos fluam, criando um movimento harmonioso de crescimento e transformação. É ajustar o passo observando o cliente e suas reações diante de uma intervenção para dosar a quantia de confrontação, perceber se evitou questões importantes para o cliente ou se foi rápido demais. Lembrar ao cliente que ele tem liberdade em falar quando o processo está indo rápido demais, difícil ou doloroso, ele precisa estar a vontade para comunicar ao terapeuta, e verificar se isto está acontecendo, é uma forma de avaliar como anda a sua aliança de trabalho. O quanto ele está comprometido com o processo? Ambos estão alinhados do objetivo do processo juntos? Faz parte da aliança terapêutica o contrato, nele é importante estar incluído seus honorários, política de faltas e remarcação, assiduidade, férias, tempo da sessão, sigilo profissional. A seguir trarei alguns questionamentos para ampliar sua percepção sobre o contrato terapêutico: Honorários: qual é o preço da sua sessão? embora exista uma tabela fixada pelo CFP, ainda acredito na importância de você como gerente administrativo do próprio consultório, saiba também precificar, levantar seus custos fixos, variáveis, férias, 13º, terapia e supervisão para chegar a um preço coerente com sua realidade e que permita seu trabalho ser sustentável e que também abra espaço, para, quando necessário e se sentir necessidade fazer alguns atendimentos sociais. Política de faltas e remarcação: as faltas serão cobradas? há alguma regra que você queira estabelecer sobre isso? há exceções? Aqui não existe um modelo perfeito, e sim o que faça sentido para você. Assiduidade: o que fazer em casos de atraso? com até quanto tempo de atraso a serão acontecerá normalmente? 16 Dar contorno à relação: o contrato terapêutico Férias: como irá acordar com o cliente sobre as férias do cliente? E as suas férias? alguns cobram pelas férias, outros não, como você pretende fazer? Tempo da sessão: quanto tempo dura a sessão? Qual a frequência? Sigilo profissional: explicar ao cliente sobre o sigilo e as situações nas quais você tem autorização para acionar: rede de apoio, levar o caso para supervisão, etc. Todas essas informações são fundamentais para dar contorno, estabelecer como irá funcionar o processo terapêutico e dar segurança ao cliente para construir uma boa relação terapêutica. No meu curso: Formação Gestaltecer, disponibilizo aos meus aluno um modelo editável de contrato. Embora seja comum o contrato verbal, também considero importante um contrato físico ou digital. Além desse documento, na Formação de ensino a trabalhar com os prontuários e estudo de caso, oferecendo inclusive modelos editáveis. Para saber mais sobre a formação clique aqui. 17 https://formacaogestaltecer.com.br/ Capítulo 03 18 Manejo Clínico em Gestalt-terapia 19 Até aqui conversamos sobre ser terapeuta, sobre a importância da construção de uma relação terapêutica, e talvez você esteja se perguntando, o que isso tem a ver com manejo? Eu te afirmo que sem uma relação terapêutica bem construída, na qual haja comprometimento de ambas as partes no processo terapêutico, e também sem que você enquanto terapeuta esteja presente, nenhum manejo será eficaz. Falar de manejo clínico é dar resposta à seguinte questão: como fazer ou como aplicar a teoria na prática? Em outras palavras, gosto de definir manejo como: o método que eu utilizo para aplicar a teoria na prática. E quero te desvelar agora ou revelar que, o essencial do manejo em Gestalt-terapia é ter como base uma boa relação terapêutica e então utilizar uma metodologia descomplicada que leve o cliente a ampliar sua percepção sobre si mesmo, as situações em que vive, seus conflitos e então poder conscientemente descobrir que é possível fazer diferente, mudar, se transformar. Fenomenologia e Gestalt-terapia 20 ritz Perls em seu livro “A Abordagem Gestáltica e a Testemunha ocular da terapia” diz que: “Nossa esperança é aumentar progressivamente sua percepção de si mesmo, em todos os níveis”. E como poderemos fazer isso? Quais manejos podem nos auxiliar a trabalhar dessa forma com nosso clientes? A resposta que encontrei, até o presente momento é: com perguntas fenomenológicas. E para chegarmos nelas, antes, preciso te dizer que a Fenomenologia está na base filosóficada Gestalt-terapia, e que de acordo com o método de Husserl (1907-1958), o objetivo da Fenomenologia “é ser uma psicologia descritiva”. Por meio da descrição chega-se o mais próximo possível da experiência tal como é vivenciada pelo cliente. Isso significa dizer que, ninguém a não ser o seu cliente, sabe o que aconteceu e como experimentou a situação. Portanto, a princípio, não cabe nós que estamos fora, fazermos interpretações “a priori”, ou seja, com base no que achamos, pensamos, mesmo antes de ouvir o cliente. Por isso, nosso manejo evita perguntas com “porquês”. Uma vez que conduzem à uma explicação ou justificativa dos fatos e não à uma descrição. Postura para o Manejo: Epochè 21 É o que chamamos de “postura fenomenológica” ou “atitude fenomenológica”. Para que essa relação se torna terapêutica e profunda, devo evitar julgá-lo, criticá-lo, ou interpretá-lo com base nas minhas próprias crenças e pré-julgamentos. Por isso podemos dizer que Epochè é um exercício de suspensão de valores. Conseguimos 100%? Não! Afinal você precisa lembrar do significado das palavras para poder falar, então não é possível ficar 100% em epochè. A ideia é fazer um exercício de não-julgamento, de permitir que o cliente se expresse em sua totalidade sem criticá-lo ou fazer algum juízo de valor sobre sua experiência. É uma postura de abertura e curiosidade ativa, na qual tudo é potencialmente importante, para então poder se aproximar do fenêmeno que mais se destaca, a figura, o tema da sessão. Manejo na Prática: Definindo o tema da sessão 22 Seu cliente é livre para trazer qualquer conteúdo à sessão de terapia. Tudo potencialmente pode ser trabalhado em uma sessão. Ao mesmo tempo, é comum que você possa ter experimentando a seguinte situação: Seu cliente fala de tudo quanto é assunto, não se aprofunda em nenhum, algumas vezes até te deixando em estado de confusão por não saber por onde “puxar o fio”, ou fica extremamente calado e te deixa na angústia de “não saber por onde começar”. Então definir um tema para iniciar a sessão é interessante, desde que seja escolhido pelo cliente. Esse é o primeiro manejo possível com base no método fenomenológico: ajudar o cliente a afunilar sua experiência terapêutica, responsabilizando-se pela escolha do que gostaria de olhar em profundidade. Como fazemos isso? Por meio do “retorno às coisas mesmas”, com perguntas sobre “O que” e/ou “qual”, veja a seguir como fazer na prática e também já exercite essa habilidade! Como sugestão de manejo, você pode fazer perguntas iniciadas com “O QUE?” ou “QUAL?”. Veja alguns exemplos: O que tem estado mais presente em sua mente ultimamente? Qual dessas situações está causando mais desconforto? Dentre esses temas, qual lhe provoca uma emoção mais intensa? Gostaria de falar sobre ele hoje? Qual desses tópicos você acha que pode trazer mais clareza ou alívio se for discutido hoje? Diante da situação escolhida, pode perguntar: Vamos lá, me conte melhor o que aconteceu, quem estava envolvido? Para exercitar: Crie mais 3 perguntas que você poderia fazer utilizando “O que” e/ou “Qual”. 23 Exercício de ampliação 2 Imagine o seguinte caso hipotético: A cliente chega à terapia visivelmente estressada. Primeiro, compartilha sua frustração no trabalho por não conseguir dizer não às demandas excessivas. Em seguida, fala sobre a pressão que sente em sua vida social, preocupando-se em não desapontar os amigos ao não participar de todos os eventos. Por fim, menciona conflitos com a família, onde sente que suas opiniões não são respeitadas, gerando sentimentos de tristeza e solidão. Esses temas a deixam ainda mais ansiosa e cansada. Manejo na Prática: Explorando o tema 24 Chegamos ao X da questão, mas isso não é suficiente para provocar mudanças no cliente. Precisamos ir mais fundo, conhecer a percepção dele sobre essa questão, e ao fazer a redução fenomenológica, vamos descobrir mais sobre o sujeito, sobre a pessoa dele. É hora de falar dos sentimentos, pensamentos, crenças, tudo que ele percebe fazer parte dessa questão. Costumamos usar a pergunta “Como?” e/ou “De que forma?”. Veja alguns exemplos: Como é isso para você? Como você se sente ao me contar isso? Como você gostaria que essa situação se desenrolasse? Como você recebe isso que estou dizendo? Como essa situação interfere na sua vida nesse momento? Com essa pergunta, feita de diversas maneiras, vamos compreender a forma como ele estrutura suas vivências, as maneiras costumeiras dele ser no mundo, diante do outro, e as formas com que ele lida com questões semelhantes a essa. Como sugestão de manejo, você pode fazer perguntas iniciadas com “Como?” ou “De que forma?”. Veja alguns exemplos: Como você se sente quando precisa assumir responsabilidades que não são suas? De que forma seus colegas reagem quando você tenta estabelecer limites? Como isso te afeta? Como essa sobrecarga no trabalho impacta sua vida fora do escritório? Para exercitar: Crie mais 3 perguntas que você poderia fazer utilizando “Como?” ou “De que forma?” 25 Exercício de ampliação 3 Seguindo o caso hipotético, vamos supor que a cliente decidiu falar sobre o trabalho: "Estou tão sobrecarregada no trabalho. Sinto que nunca consigo dizer não às demandas dos meus colegas, e isso me deixa exausta. Estou sempre preocupada em atender às expectativas de todos, mas acabo me esquecendo de mim mesma. Ontem, fiquei até tarde para finalizar um projeto que nem era meu, e só me pergunto como vou continuar assim. Estou realmente me sentindo perdida e sem energia." Manejo na Prática: Encontrando sentido A intencionalidade faz parte da vida psíquica, é um passo antes da ação ou do bloqueio da ação. Ela está conectada às nossas necessidades e muitas vezes não temos percepção disso. Então chegar à intencionalidade, é o mesmo que chegar ao sentido ou propósito que o cliente vê naquela situação que o impulsiona a determinada ação ou o impede de agir como gostaria. Para chegar na intencionalidade, primeiro precisamos encontrar a questão principal (o que), depois ter compreensão sobre a visão do cliente sobre isso (como) e então investigar qual sentido ele atribui a isso, perguntando “Para quê?” ou “A que serve?” ou “qual o sentido”? 26 Como sugestão de manejo, você pode fazer perguntas iniciadas com “Para quê?” ou “Qual sentido?” ou “A que serve?” Veja alguns exemplos: Para quê você acredita que continua assumindo essas responsabilidades que não são suas? Qual sentido faz para você priorizar as expectativas dos outros em vez das suas? A que serve esse padrão de dizer sempre sim, mesmo quando isso te prejudica? Para exercitar: Crie mais 3 perguntas que você poderia fazer utilizando “Para quê?” ou “Qual sentido?” ou “A que serve?” 27 Exercício de ampliação 4 Seguindo o caso hipotético, vamos supor que a cliente chegou à seguinte percepção da sua experiência emocional: "Eu me sinto ansiosa e culpada quando preciso assumir tarefas que não são minhas. Às vezes, percebo que meus colegas não reagem bem quando tento dizer não, como se estivessem desapontados. Essa pressão me faz ficar estressada e afeta meu sono. Se eu conseguisse dizer não, imagino que teria mais tempo para mim e poderia me sentir mais equilibrada, mas é tão difícil mudar esse hábito." Encontrando Fluidez no Manejo Gosto muito da afirmação feita por Fritz: “aprender é descobrir que algo é possível”, e eu te digo que o manejo clínico também é algo que se aprende. Colocar a teoria na prática não depende só da sua experiência, mas do método certo para pensar a teoria e ajustá-la à realidade de cada caso. É importante destacar que, em algumas situações, você precisará ir e voltar nas perguntas. Não há um passo a passo rígido; a fluidez está em manter a curiosidade ativa diante do cliente, explorando a verdade que ele traz. O conteúdo vem dele, e você explora a experiência que ele tem com a temática, buscando, junto com o cliente,os sentidos que ele atribui e os aprendizados que descobriu por conta própria nessas experiências. O essencial do manejo foi entregue aqui. Vamos refinar a compreensão desse essencial no workshop "A Gestalt-terapia na Prática". Se você deseja enriquecer ainda mais, ampliando seus repertórios clínicos, convido você a participar da minha formação Gestaltecer. Nela, você terá à disposição inúmeras maneiras de ampliar o uso desses manejos, seja através de técnicas e experimentos, do uso do ciclo do contato, do aprofundamento na teoria dialógica, da aplicação dos principais conceitos da Gestalt-terapia, ou encontrando ainda mais fluidez — desde os casos mais simples até os sofrimentos emocionais mais complexos. 28 Concluir a escrita de um trabalho é sempre uma satisfação; ao mesmo tempo, sinto que a experiência não se fecha totalmente, afirmo isso por acreditar na impermanência. Tudo se transforma o tempo todo. Agora, ao encerrar essa versão do e-book, compilei o mapeamento dos conhecimentos e experiências que tive com essa temática. A ideia aqui não foi abarcar tudo sobre o assunto, mas te oferecer o que considero essencial para que você possa desde já melhorar a sua prática clínica. Quero agradecer a você que confiou nesse trabalho e que chegou até aqui. Espero que possamos nos conectar cada vez mais! Se a leitura foi agradável e você conseguiu aplicar os ensinamentos deste manual, eu te peço para compartilhar comigo, seja no direct do Instagram @gestaltecer ou pelo e- mail: contato@gestaltecer.com.br. Será um prazer te ouvir! 29 Mensagem Final 30 31 Bora Gestaltecer! https://www.instagram.com/gestaltecer https://www.youtube.com/@gestaltecer https://l1nk.dev/JPoJq https://www.gestaltecer.com.br/ https://www.instagram.com/gestaltecer https://www.instagram.com/gestaltecer https://www.instagram.com/gestaltecer https://www.youtube.com/@gestaltecer https://www.youtube.com/@gestaltecer https://www.youtube.com/@gestaltecer https://open.spotify.com/show/4HLMNhYZRvAI3oMpzEoCa6?si=WdUJxaJFSQaaIYh8GGMb2w&nd=1&dlsi=6b3d40c569404b4e https://open.spotify.com/show/4HLMNhYZRvAI3oMpzEoCa6?si=WdUJxaJFSQaaIYh8GGMb2w&nd=1&dlsi=6b3d40c569404b4e https://open.spotify.com/show/4HLMNhYZRvAI3oMpzEoCa6?si=WdUJxaJFSQaaIYh8GGMb2w&nd=1&dlsi=6b3d40c569404b4e https://www.gestaltecer.com.br/ https://www.gestaltecer.com.br/ https://www.gestaltecer.com.br/ https://www.instagram.com/gestaltecer https://www.youtube.com/@gestaltecer https://open.spotify.com/show/4HLMNhYZRvAI3oMpzEoCa6?si=WdUJxaJFSQaaIYh8GGMb2w https://www.gestaltecer.com.br/ BUBER, Martin. Eu e Tu. 10ª Ed. São Paulo: Centauro, 2010. CARDELLA, Beatriz Helena Paranhos. O amor na relação terapêutica: uma visão gestáltica. São Paulo: Summus, 1994. GINGER, Serge. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus, 1995. HYCNER, Richard. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus, 1995. JOYCE, Phil. SILLS, Charlotte. Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2016. MARTÍN, Ángeles. Manual Prático de Psicoterapia Gestalt. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. PERLS, Fritz. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1978. 32 Algumas referências