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Conteudista: Prof.ª Dr.ª Flávia Carolina de Resende Fagundes Revisão Textual: Esp. Pérola Damasceno Objetivos Gerais: Introduzir o estudo dos partidos políticos e sistemas eleitorais; Estabelecer bases para a análise de sistemas partidários e eleitorais. ˨ Material Teórico ˨ Material Complementar ˨ Referências Introdução ao Estudo dos Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais Introdução ao Estudo dos Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais Nesta Unidade, iremos dar nossos primeiros passos no estudo dos partidos políticos e sistemas eleitorais. Os partidos políticos e as eleições desempenham um papel determinante no funcionamento da democracia e, desta maneira, os partidos políticos e o sistema eleitoral são unidades de análise fundamentais para a compreensão do sistema político. 1 / 3 ˨ Material Teórico Glossário A origem do termo “partido político” vem do latim, partire, que significa divisão (REBELLO, 2014). A Enciclopédia Britannica (2021) define o termo “partido político” como um grupo de pessoas organizadas para adquirir e exercer o poder político, se referindo a todos os grupos que buscam o poder político por eleições democráticas. Dessa forma, partido político é definido como um grupo político oficialmente reconhecido como parte do processo eleitoral e A literatura em ciência política explora amplamente a relação entre partidos políticos e sistemas eleitorais, e como estes influenciam a qualidade da democracia. A existência de eleições livres e justas em uma base regular é considerada condição mínima para uma democracia. Desta forma, os partidos políticos (sistema partidário) e as eleições são utilizados como parâmetro de consolidação da democracia. Partidos políticos são fundamentais em um sistema democrático, uma vez que desempenham o papel de mediação entre a sociedade e as instituições políticas de representação. No entanto, como veremos, partidos políticos podem existir em regimes não democráticos. Dentro desta lógica, é importante observamos que existem uma ampla gama de tipologias de partido político. Sistemas eleitorais, a organização e funcionalidade dos partidos políticos variam de acordo com o momento social e tecnológico. Dessa forma, nesta Unidade, buscaremos compreender as tipologias de partidos políticos e sua relação com o sistema eleitoral, bem como com o momento histórico. Nesse sentido, é imprescindível observar o sistema eleitoral, tendo em vista que a escolha e desenho do tipo de sistema eleitoral afeta diretamente como se constituirão os partidos políticos, procurando observar essas unidades de análise em seus diversos ângulos. Vamos embarcar nesta jornada! Análise de Sistemas Partidários e Eleitorais que pode apoiar (apresentar) candidatos às eleições (livres ou não), regularmente. Partidos políticos e sistemas eleitorais têm sido amplamente analisados pela literatura em ciência política, tanto como causa quanto consequência um do outro. A razão pela qual estas unidades de análise têm despertado tanto interesse entre os cientistas políticos é porque são aspectos fundamentais para a compreensão do sistema político e a qualidade da democracia. Os sistemas eleitorais são definidos pelas regras na constituição ou as leis que descrevem como os votos são traduzidos em mandatos legislativos ou presidencial, governo estadual, prefeito ou conselheiro local. A configuração do sistema eleitoral tem uma relação direta com o sistema partidário. Pesquisas empíricas, principalmente a partir da segunda metade do século XX, observando dois tipos básicos de sistemas eleitorais: um combinando distritos uninominais com regras majoritárias; e outro combinando distritos com vários candidatos com regras de representação proporcional. Argumentam que sistemas majoritários tendem ao bipartidarismo, enquanto sistemas proporcionais tendem ao multipartidarismo (COLEMER, 2007). No sistema majoritário, os candidatos mais votados são eleitos; no proporcional, os votos computados são de cada partido e, em uma segunda etapa, são eleitos os candidatos na ordem de votação, dentro das vagas a que tem direito o partido. Dessa forma, sistemas majoritários ou proporcionais levarão à existência de mais ou menos partidos políticos. É importante ressaltar que partidos políticos são essenciais para um governo democrático, ainda que não sejam uma condição básica para a democracia (existem sistemas partidários que permitem candidaturas avulsas). No entanto, partidos políticos são necessários para o estabelecimento de um governo representativo de base ampla. Para Ho�man (2005), os partidos são vitais para a democracia representativa, uma vez que são os agentes e condutores do poder político, exercendo a mediação entre o governo e a sociedade, além disso, articulam os interesses políticos da sociedade, que podem, depois, ser traduzidos em políticas públicas. Contudo, ao longo da história, os partidos nem sempre desempenharam essa função de mediação entre o governo e a sociedade em seu sentido mais amplo. Como mostrado, a origem da palavra “partido” está associada à ideia de divisão, vinculada à criação de facções. Tal concepção se deve ao fato de que os partidos políticos foram criados dentro das assembleias eleitas e grupos parlamentares, como constatado por Duverger ao analisar as consequências dos sistemas eleitorais nos sistemas partidários (COLEMER, 2007). É importante ressaltar que nos estágios iniciais dos sistemas partidários, os partidos não tinham uma vinculação com a população em seu sentido mais amplo; estavam vinculados às elites locais proprietárias de terra. Isso se deve ao fato que os sistemas eleitorais originários eram bastante restritos, constituídos por homens proprietários de terra, o que se pode chamar de eleição censitária. Os elementos essenciais deste sistema eleitoral são distritos com vários membros, cédula aberta e pluralidade ou regra da maioria (COLEMER, 2007). Em termos históricos, o modelo moderno de partido político é recente, tendo o seu desenvolvimento na segunda metade do século XX na maioria dos países. Até 1850, por exemplo, apenas os Estados Unidos poderiam ser incluídos na lista de países que possuíam alguma forma partidária moderna (REBELLO, 2014). Novos e Velhos Partidos: Uma Tipologia dos Partidos Políticos Primeiramente, é importante termos em mente que qualquer modelo partidário se trata de um tipo ideal. Dessa forma, na realidade sempre existe, características dos modelos que se combinam nas organizações partidárias em sua prática. No entanto, certos elementos podem Saiba Mais Para Sartori (2005), as funções de maior importância dos partidos políticos seriam as seguintes: participação, campanha eleitoral, integração, agregação, resolução de conflitos, recrutamento, formulação de políticas e expressão. ser distinguíveis quando as agremiações são analisadas em seu funcionamento (REBELLO, 2014) que nos permitem enquadrá-las, ainda que não se trate de tipos perfeitos. Giovani Sartori (2005), ressalta que os números partidários são relevantes para a análise dos sistemas partidários, mas não nos dizem nada sobre os tipos partidários. Existem vários tipos e variedades de partidos, e a questão agora é: como devemos proceder para classificá-los? Os partidos podem ser observados como grupos organizacionais, como grupos de ideias e como grupos sociais. Pode-se acrescentar que os partidos políticos também são grupos "funcionais", que podem ser classificados de acordo com seus padrões funcionais de desempenho. Para Sartori, podemos observar os partidos levando em consideração sua organização e funcionamento. A literatura sobre partidos políticos conta com uma vasta gama de tipologias e de modelos de partido. Essa variedade é fruto da diversidade de critérios adotados por diferentes autores. Algumas tipologias analisam os partidos com base em seu funcionamento, ou seja, as organizações se diferenciam por sua razão de ser organizacional e, dentre os principais expoentes dessa corrente, se destaca Sigmund Neumann e a obra de Richard Katz e Peter Mair. Enquanto outros modelos de classificação fazem a distinção de partidos que possuem estruturas Trocando Ideias... Não é possível estabelecer uma linearidade da substituição de forma partidária por outra, uma vez que a emergência de uma forma de organização passa por momentos híbridos de transição e formas mais tradicionais podem manter suas características fundacionais. organizacionais enxutas e partidos que contam com uma robusta infraestrutura e complexas redes de apoio de outras organizações (GUNTHER; DIAMOND, 2015), como igrejas e sindicatos. Aqui, se destacam Maurice Duverger e Angelo Panebianco. Outra corrente de estudos dos partidos políticos, mais sociológica, se apoia na ideia de que as organizações partidárias se originam dos vários grupos sociais que buscam estar representados em legendas, estes estudos foram desenvolvidos por Samuel Eldersveld e Robert Michels. Além disso, existem análises que mesclam os três critérios de análise, como Otto Kirchheimer (GUNTHER; DIAMOND, 2015). Saiba Mais O critério de análise organizacional, na concepção de Duverger, não se preocupa com o organograma do partido em si. A organização é observada em sua densidade, de pressão e cobertura organizacional. O foco está no poder de penetração dos partidos na sociedade, ou seja, a capacidade de colonização partidária - por meio de membros nomeados pelo partido - as principais posições gerenciais existentes de uma sociedade na esfera econômica (bancos, indústrias, etc.), na mídia de massa, na burocracia e, eventualmente, até mesmo no estabelecimento militar (SARTORI, 2005). O controle do movimento operário é um aspecto especial e particularmente significativo da técnica de colonização. É claro que os sindicatos não caem sob o controle do partido simplesmente porque os dirigentes sindicais são membros do partido. A técnica de colonização Tendo em vista tal diversidade de enfoques, para organizarmos de forma didática nossa explicação, vamos nos orientar por duas distinções gerais: partidos de elite, partidos de massa e os partidos eleitorais, abordando as tipologias apresentadas pelos autores citados dentro destes quadros gerais. Partidos de Elite Na pré-história do que chamamos de partidos políticos, na atualidade estão as facções, sociedades secretas, seitas, facções aristocráticas, clubes políticos e coalizões de notáveis consiste em delegar e colocar os dirigentes do partido na arena do sindicalismo profissional (SARTORI, 2005). Reflita A maior parte das tipologias de organizações partidárias desenvolvidas pela literatura em ciência política têm como base os estudos de partidos na Europa Ocidental, ao longo dos últimos dois séculos (GUNTHER; DIAMOND, 2015). Nesse sentido, tais tipologias podem ter dificuldade em se enquadrarem a outros contextos sociais. (SARTORI, 2005). Essas primeiras agremiações políticas se originam dentro das estruturas de poder. Nesta gênese dos partidos descritos por Maurice Duverger (2010) encontramos a primeira designação para um tipo partidário: o partido de quadros. São, em geral, instituídos por grupos parlamentares que residem no interior dos órgãos legislativos. Historicamente, são anteriores à ampliação do sufrágio. O Partido Whig O Partido Whig é um exemplo de partido de elite, foi fundado em 1678, tendo entre seus fundadores Robert Walpolen e Lord Palmerston. A origem do partido se liga à ameaça de estabelecimento de uma linhagem de Reis Católicos. A corrente protestante determinada a impedir tal sucessão veio a ser chamada de Whigs, em homenagem a um grupo presbiteriano radical na Escócia, os Whigamores (AMERICAN HISTORY, 2021). Figura 1 – Cabo de guerra entre Whigs e Torys Fonte: Reprodução O Partido Whig teve um papel determinante na Revolução Gloriosa em 1688, que estabeleceu a primazia do Parlamento sobre a Coroa (PARTY, 2021). Nesse sentido, o que alguns autores - por exemplo, Katz e Mair, LaPalombara e outros – chamam de partido tradicional de notáveis locais, uma vez que eram baseados em um sistema eleitoral de voto limitado, no qual na maioria dos países o direito de voto e de ocupação de cargos eletivos era restrito a homens proprietários de terra (GHUNTER; DIAMOND, 2015), limitando o jogo eleitoral a elites locais. As mudanças sociais trazidas pela industrialização e o deslocamento de grandes contingentes populacionais do campo para a cidade, bem como a ampliação do sufrágio, iram trazer grandes transformações também a organização dos partidos políticos, que discutiremos no tópico seguinte. Partido de Massa O nascimento da sociedade industrial na segunda metade do século XIX e começo do século XX, trouxe profundas mudanças às sociedades: grandes contingentes deixaram o campo em direção às cidades, criando uma massa de operários urbanos. Este processo se associa à ampliação do sufrágio, o que irá ampliar significativamente o número de eleitores, forçando os partidos de elite a se adaptarem à nova realidade. Figura 2 – Campanha pelo voto feminino Fonte: Reprodução Nesse contexto, a mobilização política da classe trabalhadora e a expansão do direito ao voto exigiram uma reorganização das organizações partidárias, surgindo, assim, o que se convencionou de partido de massa. Esses são os primeiros partidos surgidos eminentemente fora das esferas de poder. Uma característica dos partidos de massa nesse período é que contavam com uma militância bastante engajada na vida partidária (REBELLO, 2014), fora do período eleitoral A vida partidária neste momento era bastante ativa, penetrando diversas esferas da vida dos militantes que trabalhavam na confecção de jornais e outros meios informativos. Outro ponto de destaque é que no partido de massa o financiamento advinha de seus membros. A mobilização partidária nos partidos de massa se dava em função de um conteúdo ideológico bastante forte, geralmente em torno do socialismo, nacionalismo ou religião (GUNTHER; Saiba Mais O Partido Social-Democrata alemão chegou a ter mais de um milhão de membros em 1914 (REBELLO, 2014). DIAMOND, 2015). Dessa forma, a relação com organizações auxiliares, como sindicatos e igrejas era bastante sólida. Figura 3 – Partido Trabalhista de Tottenham, durante a Parada do Dia do Trabalhador em 1928 Fonte: cameralabs.org O partido de massa pode exibir padrões organizacionais democráticos ou autoritários (SARTORI, 2005). Nesse sentido, partidos de massa podem diferir em relação ao grau de tolerância ou pluralismo. Partidos de massa pluralista aceitam as eleições como sua principal via de acesso à conquista de seus objetivos, e suas estratégias eleitorais dependem da mobilização da militância (GUNTHER; DIAMOND, 2015). A estrutura organizacional dos partidos e formas de recrutamento eram bastante rígidos. O centro de poder e autoridade era centrada no comitê executivo de seu secretariado, tendo, formalmente, a principal fonte legítima de autoridade o congresso geral do partido (GUNTHER; DIAMOND, 2015). Até a primeira metade do século XX, os sistemas eleitorais eram baseados em distritos com vários membros e na votação em candidatos individuais. Para Colemer (2007), essa organização era capaz de produzir uma representação fiel da comunidade, como "um espelho". Assim, existia uma correspondência programática bastante forte entre o eleitorado e os partidos. Nos partidos de massa classistas a relação com os eleitores se estruturava por meio de grupos organizados geograficamente e por sindicatos. Nesse sentido, Sigmund Neumann faz a distinção entre dois tipos de partido: partido de representação individual, que articula demandas de grupos sociais específicos; e os partidos de integração social, que contam com organizações bem desenvolvidas, onde são fornecidos serviços a seus membros, que fazem contribuições financeiras em troca e realizam serviços voluntários durante as campanhas eleitorais (GUNTHER; DIAMOND, 2015). Saiba Mais Em alguns países europeus, como na Suécia, a questão religiosa foi importante para a constituição do sistema partidário. Apesar da integração social por meio das organizações auxiliares ser uma parte importante, a preocupação com a conquista de eleitorados maiores começa a ser cada vez mais dominante, e a identificação dos partidos com setores restritos se enfraquece. Partido Eleitoral O pós-Segunda Guerra Mundial (1945) é um momento de profundas mudanças sociais, o que também se refletiu nos partidos políticos, que sofreram alterações tanto em sua organização como na relação com os eleitores. A forte identidade de classe característica dos partidos de massa começa a se diluir, as organizações partidárias passam a adotar estratégias que visam aumentar o espectro de possíveis eleitores. O objetivo agora era conquistar o maior número de eleitores, e não somente o voto de certos grupos sociais (REBELLO, 2014). Em Síntese A idade dos partidos de massa teve como principais características: o apelo dos partidos às grandes massas e sua abertura com base na realização, em vez da atribuição; a identificação do eleitorado com imagens partidárias “abstratas”, em vez de pessoas concretas, ou seja, o partido se torna mais real do que personagens, pelo menos no sentido de que o partido dura mais do que seus dirigentes e os vincula à sua própria lógica de inércia (SARTORI, 2005). Nesse sentido, as análises empíricas no pós-Segunda Guerra Mundial (1945), geralmente com foco em regimes democráticos, assumem que os partidos políticos derivam de eleições. E eleições que são dados e podem ser tomadas como a variável independente no quadro explicativo (COLEMER, 2007). Vale ressaltar que as regras de um sistema eleitoral variam de acordo com o contexto social de cada país. Assim, ao considerar o sistema eleitoral como variável independente, pode-se inferir que o desenho do sistema eleitoral influencia o tipo, o número, a natureza dos partidos políticos e suas interações, bem como as questões e ideologias na arena política nacional, regional ou local (SISK, 2017). Dentro deste quadro, o advento da televisão como importante meio de comunicação de massa (Figura 4), alterou a forma de fazer campanha que deixam de ser fortemente baseadas na atuação de militantes, para ter a televisão como importante meio das campanhas eleitorais. Figura 4 – Família acompanhando a corrida eleitoral nos anos 1960 Fonte: MCLAUGHIN, 2014 Analisando a lógica de buscar conquistar amplas parcelas do eleitorado, independente de classe e religião, Otto Kirchheimer, na década de 1960, cunhou a denominação “Partido catch-all” (Partido pega-tudo) (REBELLO, 2014). Neste tipo de organização partidária, princípios ideológicos tendem a ser vagos e superficiais, assim como há uma ênfase na liderança proeminente e do papel eleitoral dos principais candidatos nacionais (GUNTHER; DIAMOND, 2015). Isso se deve ao fato de que os governos passam a ser julgados mais pelo grau de eficiência do que avaliadas internamente em relação às metas organizacionais por correligionários, o que faz com que os líderes ganhem autonomia (REBELLO, 2014). Glossário Proeminente líder: o líder de um grupo de pessoas ou uma organização, é a pessoa que tem o controle da organização (COLLINS, 2021). Figura 5 – O senador John F. Kennedy chega à Los Angeles Sports Arena em 13 de julho de 1960, após ser nomeado presidente Fonte: Reprodução Tendo em vista que as questões ideológicas e de classe se tornaram menos importantes para as eleições, em sociedades em que a maior parte da opinião pública se distribui num espectro direita-esquerda, tais partidos buscam convergir para o centro na busca de conquistar votos em ambos os espectros, mostrando-se moderados em suas preferências políticas e comportamentais (GUNTHER; DIAMOND, 2015). Além disso, esses partidos buscam assegurar acesso de uma ampla gama de grupos de interesses, ganhando, com isso, uma diversificação de financiamento eleitoral (REBELLO, 2014), considerando que o próprio processo eleitoral se tornou mais caro, agora que as estratégias de marketing passam a dominar as formas de atrair o eleitorado. A nova lógica de organização e funcionamento partidário levou à profissionalização das organizações. Observando este fenômeno, Angelo Panebianco concebe a tipologia do partido profissional-eleitoral. Diferentemente do partido de massa, no partido profissional eleitoral, ao invés do militante, a burocracia partidária é formada pela figura do especialista, do técnico capaz de garantir a vitória eleitoral (REBELLO, 2014). Saiba Mais É claro que esse processo não ocorreu de maneira homogênea, nem toda legenda poderia se transformar em um partido catch-all. Partidos que tinham sua razão de ser ligada à defesa específica de certos grupos, como o Partido Alemão Calvinista, não podem ter um discurso mais genérico, não podendo se tornar catch-all (REBELLO, 2014). O Militante Perde Espaço para o Técnico. No partido profissional eleitoral, as ligações organizativas se tornam mais fracas, se perde o eleitorado fiel para um de opinião, assim como há uma ênfase na liderança e na centralização de carreiristas, mais preocupados em receber incentivos seletivos individuais (status, carreira, dinheiro) do que incentivos coletivos (identidades e ideologias) como os crentes, que formavam o núcleo do partido burocrático de massa (REBELLO, 2014). Nessa era das grandes campanhas eleitorais (Figura 6), o acesso ao governo é, normalmente, por meio das grandes organizações partidárias. Assim, Katz e Mair (1995), ao perceberem que mesmo os partidos que estão há anos na oposição possuem acesso ao espólio estatal, dessa forma, a continuidade de muitos partidos nos governos é uma espécie de conluio. Tendo como base essa atuação partidária, formularam a tipologia de partidos cartéis. O argumento aqui é que os partidos exercem uma competição limitada, que é fruto de um cálculo que envolve o cartel (REBELLO, 2014). Figura 6 – Propaganda política Fonte: Reprodução Para Katz e Mair (1995), os partidos com comportamento de cartel competem, mas o fazem sabendo que compartilham com seus concorrentes um interesse mútuo na sobrevivência organizacional coletiva e para penetrar nas estruturas estatais e garantir acesso a recursos públicos. Nesta lógica, o desenvolvimento depende de conluio e cooperação entre concorrentes ostensivos e de acordos que, necessariamente, requerem o consentimento e a cooperação de todos (ou quase todos) os participantes relevantes. Para Gunther e Diamond (2015), uma outra forma de partido eleitoral seria o partido programático, sendo este, assim como o catch-all, um partido pluralista, organizacionalmente enxuto e cuja função principal é o comando de campanhas eleitorais. Este modelo em alguns aspectos se aproxima do modelo clássico de partido de massa, por ter claramente apelo ideológico ou programático às suas campanhas eleitorais e agenda governamental. Mas se diferencia dos partidos de massa ao buscar em suas campanhas capitalizar a reputação pessoal de seus candidatos. Uma outra forma de partido dentro desta lógica eleitoral é o partido personalista (denominado, por alguns, de partido não partidário), considerando que sua finalidade é fornecer uma máquina partidária para o líder concorrer e ganhar as eleições. O partido personalista não tem ligações com a estrutura tradicional das elites locais, uma vez que é uma organização criada pela liderança. A mobilização eleitoral deste tipo de partido se dá em torno do carisma pessoal do líder, que é retratado como indispensável para a resolução dos problemas nacionais, tendo uma base programática fraca. Exemplo Partido Personalista O Partido Força Itália, liderado por Sílvio Berlusconi (Figura 7), pode ser considerado um partido personalista, uma vez que a organização partidária está unicamente a serviço da eleição de Berlusconi. Figura 7 – Berlusconi em campanha Fonte: Reprodução Outro exemplo de partido personalista é o Partido Socialista Unido da Venezuela, sob a liderança de Hugo Chávez. Como pudemos ver nesta unidade, os partidos políticos podem ter uma estrutura organizacional e funcional bastante diversa. Ainda que a realidade seja mais cheia de nuances do que tipo perfeitos desenvolvidos por teóricos, com base nos padrões organizacionais e de funcionamento é possível encaixar os partidos políticos nestas tipologias para desenvolver análises. É importante ter em mente que as regras do sistema eleitoral e as tendências de funcionamento das eleições, como a tecnologia disponível, influenciam as demandas de organizacionais e de funcionamento dos partidos, levando esses a se adaptarem para sobreviver. Na próxima Unidade vamos observar a relação desses tipos de partido com a democracia. Até a próxima! Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Site Freedon House A Freedon House é uma importante base de dados sobre a democracia ao redor do globo, as informações se referem não só aos partidos políticos e sistema eleitoral, mas também abrangem questões ligadas aos direitos humanos, liberdade de imprensa, transparência, entre outros indicadores. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Filmes 2 / 3 ˨ Material Complementar https://bit.ly/3pHHvUp Downton Abbey A série britânica Downton Abbey (2010-2015), ambientada na Inglaterra do começo do século XX, mostra as mudanças sociais e culturais que ocorriam na Europa daquela época, que passava pelo fim das monarquias e aristocracias para o advento das demoracias representativas e uma classe burguesa urbana. The War Room O documentário The War Room (1992) dos diretores D.A. Pennebaker e Chris Hegedus acompanharam a campanha eleitoral de Bill Clinton que parecia um tiro no escuro para a indicação democrata, e mais ainda para a presidência, mas as câmeras dos cineastas estavam lá para cada passo de sua jornada para a Casa Branca. DOWNTON ABBEY | O�cial Trailer | In Theaters September 20 https://www.youtube.com/watch?v=tu3mP0c51hE Leitura Social Science ACKERMAN, E. Mass Party Formation: land, civil society, and party in postrevolutionary Mexico. Social Science, v. 44, n. 2, 2020. O artigo indicado discute a formação do partido de massa no México pós-Revolucionário, procurando compreender o porquê que a formação foi possível em algumas regiões do país e em outras não, relacionando a questão às estruturas econômicas regionais. The War Room Trailer https://www.youtube.com/watch?v=pgo-qwfCFYU BRAGA, M. S. S. A Agenda dos Estudos sobre Partidos Políticos e Sistemas Partidários no Brasil. Revista de Discentes de Ciência Política da UFSCAR, v. 1, n. 1, 2013. COLOMER, J. On the Origns of Electoral Systems and Political Parties: the role of elections in multi- member districts. Electoral Studies, v. 26, n. 2, 2007. CUMMINGS, M. Political Ads Have Little Persuasive Power. Yale News, 2020. Disponível em: . Acesso em: 08/08/2021. DUVERGER, M. Political Party. Encyclopedia Britannica, 2010. Disponível em: . Acesso em: 13/07/2021. EASTON, D. Esquema para el análisis político. Buenos Aires: Amorroutu Editores, 2001. GLASS, A. 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