Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 MICROECONOMIA APOSTILA I – INTRODUÇÃO PROF. LEONARDO FERRAZ leonardoferraz@gmail.com DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA • Economia é a ciência que estuda a escassez e a necessidade de se efetuar escolhas. Estuda a forma como a sociedade administra os recursos escassos. • Pilares do conhecimento econômico: • Microeconomia: ramo que se volta ao funcionamento de um mercado específico; • Macroeconomia: ramo que se volta ao funcionamento de mercados agregados; • História econômica: estudo das experiências passadas; • Métodos quantitativos: ferramentas matemáticas e estatísticas utilizadas na fundamentação de análises. ESCOLHA: O CONFRONTO ENTRE A ESCASSEZ E AS NECESSIDADES ILIMITADAS • Todo agente econômico depara-se com escolhas a fazer: por exemplo, um indivíduo pode desejar residir em um apartamento de luxo, mas a escassez de recursos deverá fazê-lo optar por uma alternativa menos custosa. • Nesse sentido, o principal motivo que leva os agentes a realizar escolhas é a escassez de recursos: apesar de suas necessidades ilimitadas, os mesmos se defrontam com a escassez de recursos, levando-os a efetuar escolhas que, por sua vez, devem ser tomadas de forma racional. • Tipos de necessidades: • Individuais: tais como alimentação, vestuário, habitação etc., são satisfeitas pelas instituições de mercado; • Sociais: tais como legislação, justiça, diplomacia etc., são satisfeitas pelas instituições de Estado. PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS • Problemas econômicos fundamentais: • O que produzir? – decidir o direcionamento produtivo; • Quanto produzir? – decidir as quantidades suficientes para satisfazer necessidades e gerar excedentes; • Como produzir? – decidir o meio de produção e o uso dos recursos necessários; • Para quem produzir? – decidir qual mercado deve ser atingido. • Três agentes econômicos respondem a tais questões: • Indivíduos (comumente tratados como “famílias”): demandam bens e serviços e ofertam fatores de produção; • Empresas: demandam fatores de produção e ofertam bens e serviços; • Governo: planejam e efetuam políticas voltadas ao bem-estar social. DEFINIÇÕES PRIMÁRIAS • Fatores de produção: elementos básicos para a produção de bens e serviços, são divididos em trabalho (capital humano), capital (tanto o capital físico, como instalações, máquinas etc., quanto o capital financeiro) e terra (tanto imóveis urbanos, quanto rurais, bem como os recursos naturais disponíveis). • Classificação dos bens e serviços: Bens tangíveis Bens intangíveis (serviços) Bens finais Bens intermediá- rios (madeira, minérios etc.) Bens de consumo Bens de capital (máquinas, equipamen- tos etc.) Não-duráveis (alimento etc.) Duráveis (veículos etc.) FUNCIONAMENTO BÁSICO DA ECONOMIA: FLUXO CIRCULAR DE RIQUEZAS • Modelos são representações de algo que se observa, de forma organizada e, geralmente, simplificada. • O funcionamento básico de uma economia pode ser modelado pelo Fluxo Circular de Riquezas: • No Fluxo Real, as famílias ofertam fatores de produção às empresas e estas, por sua vez, ofertam bens e serviços para o uso das famílias; • No Fluxo Financeiro, as empresas pagam pelo uso de fatores de produção de propriedade das famílias e estas, por sua vez, pagam pelo uso dos bens e serviços. • Ressalta-se que tal modelo é parcimonioso e despreza as relações com o governo e com outras economias. 2 Bens e Serviços Famílias Fatores de Produção Empresas Fluxo Financeiro (Recursos Financeiros / Rendas) Fluxo Real (Recursos Reais / Mercadorias) FLUXO CIRCULAR DE RIQUEZAS MODELAGEM DA FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO (F.P.P.) • Outro modelo econômico primário diz respeito à F.P.P., a qual denota o potencial de produção em certa economia. • A fronteira é determinada pela disponibilidade de tecnologia e fatores de produção existentes na economia: por exemplo, não é possível à Suíça produzir cana de açúcar, dada a indisponibilidade de terras cultiváveis. • Como simplificação para um exemplo ilustrativo da análise da F.P.P., considere-se que uma economia deva decidir entre produzir mais alimentos ou mais vestuário para sua população. MODELAGEM DA FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO (F.P.P.) • A tabela abaixo traz valores arbitrários referentes às toneladas de alimentos e às milhões de unidades que se pode produzir na economia em questão: Alternativas Alimentos (toneladas) Vestuário (milhões de unidades) A 16 0 B 14 1 C 11 2 D 7 3 E 0 4 MODELAGEM DA FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO (F.P.P.) • Note-se que, na opção A, a economia utilizaria toda sua tecnologia e fatores de produção na produção de alimentos (portanto, nessa opção, nada seria produzido de vestuário). Por outro lado, na opção E, a economia utilizaria todos os seus recursos para a produção de vestuário (portanto, nessa opção, nada seria produzido de alimentos). • Além disso, caso a economia se encontre na alternativa A, para que a mesma possa produzir mais um milhão de unidades de vestuário, será necessário abdicar da produção de duas toneladas de alimentos (dado que passaria da opção A para a opção B). • O custo social de abicar da produção de um bem ou serviço para se produzir mais de outro é chamado custo de oportunidade. MODELAGEM DA FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO (F.P.P.) • Graficamente, a F.P.P. pode ser representada como ao lado. Pontos fora da F.P.P., como em G, são impossíveis de serem alcançados diante da disponibilidade de tecnologia e fatores de produção. Por outro lado, pontos no interior da fronteira, como em F, são ineficientes, pois não usam todos os recursos disponíveis. Os pontos ao longo da F.P.P., portanto, são caracterizados como eficientes, pois utilizam todos os recursos disponíveis (dados por A, B, C, D e E). MODELAGEM DA FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO (F.P.P.) • Vale ressaltar que, no exemplo dado, para se passar da situação A para B (em que se produz um milhão de unidades de vestuário), é necessário abdicar de duas toneladas produzidas de alimentos. Analogamente, de B para C, deve-se abdicar de três toneladas de alimentos; de C para D, o custo de oportunidade equivale a quatro toneladas; e de D para E, esse custo chega a sete toneladas. • Nesse caso, o custo de oportunidade é crescente quanto mais se produz de vestuário. Isso decorre da retirada cada vez maior de recursos úteis à produção de alimentos e que, provavelmente, não trazem um impacto significativo sobre a produção de vestuário. • Por exemplo, se todos os recursos são direcionados à produção de vestuário, então agricultores especializados na produção de alimentos são subutilizados como tecelões ou algo semelhante. 3 MODELAGEM DA FRONTEIRA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO (F.P.P.) • Destaca-se ainda que o exemplo apresentado é apenas uma ilustração da modelagem da F.P.P., visto que suas aplicações podem ser realizadas para uma infinidade de bens e serviços, ainda que se impossibilite a análise gráfica. • Vale também enfatizar que todas as alternativas sobre a F.P.P. são eficientes (no exemplo dado, todos os pontos sobre a linha azul do gráfico), já que utilizam completamente a tecnologia e os fatores de produção disponíveis na economia. • Contudo, nada se pode afirmar sobre qual alternativa seria aquela mais desejável para se satisfazer todas as necessidades sociais e individuais. • Diante de tal indagação, a maneira como a sociedade alcança seu mix desejável de produção está relacionada com a atuação de forças de mercado, conforme será explanado a seguir. FORÇAS DE MERCADO • Numa economia de mercado, as necessidades individuais e sociais são satisfeitas pela interação entre diversos agentes:de um lado, as famílias demandam bens e serviços e ofertam fatores de produção; de outro, as empresas demandam fatores de produção e ofertam bens e serviços; e, nessa interação, o Governo participa como interventor, em maior ou em menor grau, sobre a organização do sistema econômico. • Demanda e oferta configuram-se então como as forças que permitem o funcionamento de uma economia de mercado, vindo a determinar as quantidades efetivamente comercializadas e os preços pelos quais as vendas são realizadas. MICROECONOMIA APOSTILA II – DEMANDA PROF. LEONARDO FERRAZ leonardoferraz@gmail.com DEMANDA • Definições primárias: • Demanda: quantidade de certo bem tangível ou intangível em que os consumidores estão dispostos ou desejam adquirir. Não representa a compra efetiva, mas a intenção de comprar. • Quantidade demandada: definição específica para as quantidades de certo bem cujos consumidores desejam comprar em função das variações de seu preço (essa definição será aprofundada posteriormente). • Função de demanda: trata-se de uma relação matemática entre as quantidades demandas e as variáveis que a influenciam, como preço, preço de bens relacionados, renda dos consumidores etc. • Lei da Demanda: com tudo mais constante, quando o preço de um bem aumenta, sua quantidade demandada diminui, e vice- versa. DEMANDA • Principais variáveis que interferem sobre a demanda de um bem ou serviço: • Preço: tradicionalmente, o preço do bem é tratado como o principal fator explicativo das variações de demanda, tanto que a Lei da Demanda denota especificamente essa relação; • Preços de bens relacionados: outros bens ou serviços podem interferir sobre o mercado do bem analisado (por exemplo, o preço da gasolina interfere sobre o mercado de álcool); • Renda dos consumidores: normalmente, quando a renda dos consumidores aumenta, a demanda pelos bens tende a crescer; • Outros fatores: hábitos (gostos e preferências), propaganda, fatores climáticos e sazonais, facilidades de crédito, expectativas de futuro etc. DEMANDA INDIVIDUAL / EXEMPLO • Considere-se uma pesquisa realizada junto a três indivíduos sobre suas disposições em adquirir determinado bem � (trufa artesanal, por exemplo), diante de alternativas de preços ��. • As respostas de cada indivíduo são configuradas como demandas individuais e seus resultados são apresentados na tabela abaixo: Preços (��) Demanda do Indivíduo A (���) Demanda do Indivíduo B (���) Demanda do Indivíduo C (�� ) R$ 1,25 0 0 0 R$ 1,00 0 0 1 R$ 0,75 0 1 10 R$ 0,50 1 4 16 R$ 0,25 3 6 22 R$ 0,00 5 8 28 4 DEMANDA INDIVIDUAL / EXEMPLO • Como observado, quando �� = 1,25, nenhum dos indivíduos estão dispostos a consumir qualquer unidade do bem �. • Contudo, quando �� = 1, o indivíduo C passa a desejar uma unidade do bem �, sendo este, portanto, o chamado preço de reserva deste indivíduo (o máximo que o indivíduo estaria disposto a pagar pelo bem �). Por sua vez, para os demais indivíduos pesquisados, os preços de reserva correspondem a �� = 0,5 e a �� = 0,25, respectivamente para os consumidores B e A. • Diante desses resultados, tem-se que o indivíduo C é aquele que demonstra maior satisfação no consumo do bem �, enquanto que o indivíduo A é aquele que demonstra menor interesse no mesmo. • Vale também ressaltar que, quando �� = 0, os consumidores não desejam consumir infinitamente o bem � (no exemplo, o consumo infinito de trufas resultaria numa considerável dor de barriga!). DEMANDA DE MERCADO • No exemplo anterior, verifica-se que cada indivíduo demonstra uma reação diferente com relação às variações no preço do bem �. Porém, a Lei da Demanda funciona em todos os casos, ou seja, sempre que o preço aumenta, o desejo de consumo se reduz. • Quando se analisa todo o mercado consumidor, devem ser considerados todos os indivíduos ou uma amostra representativa destes, o que pode apontar a reação do mercado diante das variações de preço. • A demanda de mercado, portanto, é dada pela soma de todas as demandas individuais. DEMANDA DE MERCADO / EXEMPLO • Se os três indivíduos pesquisados (A, B e C) compreendem todo o mercado do exemplo anterior, então a demanda total será dada pela tabela abaixo: Preços (��) Demanda do Indivíduo A (���) Demanda do Indivíduo B (���) Demanda do Indivíduo C (�� ) Demanda de Mercado (��) R$ 1,25 0 0 0 0 R$ 1,00 0 0 1 1 R$ 0,75 0 1 10 11 R$ 0,50 1 4 16 21 R$ 0,25 3 6 22 31 R$ 0,00 5 8 28 41 + + + + + + + + + + + + = = = = = = DEMANDA DE MERCADO • O comportamento da demanda de mercado pode ser expresso pela função de demanda, a qual relaciona as quantidades demandadas do bem � ao preço do mesmo, dado por ��: ��� = � �� = � + � ∙ �� • Como visto anteriormente, a Lei da Demanda impõe que ��� diminua quando �� aumenta. Assim, é esperado que o sinal do coeficiente � seja negativo. • No exemplo anterior, pode-se verificar que a função de demanda pelo bem � é dada por ��� = 41 − 40 ∙ ��. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA • O comportamento da demanda de mercado também pode ser representado graficamente, através da curva de demanda. • Ao se utilizar a função do exemplo anterior, dada por ��� = 41 − 40 ∙ ��, pode-se calcular as seguintes coordenadas: Valor de �� Cálculo na Função Valor de ��� R$ 1,25 ��� = 41 − 40 ∙ 1,25 = 41 − 50 = –9* R$ 1,00 ��� = 41 − 40 ∙ 1 = 41 − 40 = 1 R$ 0,75 ��� = 41 − 40 ∙ 0,75 = 41 − 30 = 11 R$ 0,50 ��� = 41 − 40 ∙ 0,5 = 41 − 20 = 21 R$ 0,25 ��� = 41 − 40 ∙ 0,25 = 41 − 10 = 31 R$ 0,00 ��� = 41 − 40 ∙ 0 = 41 − 0 = 41 * Como não é possível a ocorrência quantidades negativas, assume-se ��� = 0. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA • A curva de demanda ��, resultante das informações da tabela anterior, é apresentada ao lado. • Note-se que, diferente do que normalmente se representa, a variável �� (que explica as variações de ���) encontra-se no eixo vertical. • Destaca-se ainda que, sendo a função linear, como no caso aqui apresentado, bastaria que se representasse apenas dois pontos para que a função fosse traçada no gráfico. ��� �� �� 5 DEMANDA DE MERCADO • Até o momento, o único fator tratado como explicativo das variações de ��� diz respeito a ��. Contudo, como anteriormente explanado, outras variáveis são relevantes a serem consideradas na função de demanda, como preço de outros bens, renda dos consumidores etc. • Definições: • Variação da quantidade demandada (���): são variações causadas por mudanças nos preços do bem �, que levam a deslocamentos do ponto ao longo da curva de demanda; • Variação da demanda ou deslocamento da demanda (��): são variações causadas por mudanças em outras variáveis (como preço de outros bens e renda dos consumidores), que levam a deslocamentos da curva de demanda. DESLOCAMENTOS DA DEMANDA • No exemplo das trufas artesanais, se seu preço passar de R$ 0,50 para R$ 0,75, sua quantidade demandada cairá de 21 para 11 unidades. Isso configura um deslocamento do ponto ao longo da curva de demanda ��, como mostra a seta em azul. • Por outro lado, se o preço de uma trufa não artesanal reduzir, a demanda pela trufa artesanal também cairá, o que configura um deslocamento da curva, passando de �� para ���, o que é representado pelas setas em vermelho. ��� �� �� ��� DESLOCAMENTOS DA DEMANDA / �� • O preço de bens relacionados ao bem �, doravante representado por ��, pode causar deslocamentos da curva de demanda. Nesse aspecto, definem-se: • Bens substitutos: bens � que competem com o bem �. Quando �� aumenta, ��� também cresce (esse é o caso de bens como gasolina e álcool, sucos e refrigerantes, ônibus e metrô etc.). Assim, se �� aumenta, a curvade demanda desloca-se à direita. • Bens complementares: bens � que complementam o consumo do bem �. Quando �� aumenta, ��� responde com queda (esse é o caso de bens como feijão e arroz, combustíveis e veículos, capacetes e motos, dentre outros). Assim, se �� aumenta, a curva de demanda desloca-se à esquerda. DESLOCAMENTOS DA DEMANDA / • A renda dos consumidores, doravante representado por , também pode causar deslocamentos da curva de demanda. Nesse aspecto, definem-se: • Bens normais: bens � caracterizados pelo crescimento de ��� quando aumenta (bens como vestuário, eletrônicos etc.). Assim, se aumenta, a curva de demanda desloca-se à direita. • Bens inferiores: bens � caracterizados pela queda de ��� quando aumenta (carne de segunda, bens de baixa qualidade etc.). Assim, se aumenta, a curva de demanda desloca-se à esquerda. • Bens de consumo saciado: bens � em que ��� não varia quando se altera (como o sal, que mantém sua demanda praticamente inalterada). Assim, se aumenta, a curva de demanda permanece estática. OUTROS FATORES QUE PROVOCAM DESLOCAMENTOS DA DEMANDA • Nos casos de �� e , verifica-se que suas variações devem causar deslocamentos da curva de demanda do bem �. Assim, deslocamentos à direita significam que mais quantidades de � serão demandadas, qualquer que seja o nível de ��; enquanto menos quantidades serão demandadas quando o deslocamento for à esquerda. • Outros fatores que deslocam a curva de demanda são: • Mudanças de hábitos, geralmente relacionados com idade, religião, sexo, educação etc. (como o hábito de comprar discos); • Propagandas (como as propagandas de veículos); • Fatores climáticos e sazonais (como a época de páscoa); • Facilidades de crédito (como a observada nos últimos anos); • Expectativas de futuro (como o anúncio de queda da redução do IPI, que promoveu uma corrida às concessionárias). �� . FUNÇÕES DE DEMANDA • Como observado, não só o preço do bem � influencia suas quantidades demandadas, como denota a função ��� = � �� = � + � ∙ ��, com � < 0. • Para se considerar todos os fatores explicativos da demanda, outras funções são comumente utilizadas: • Funções lineares com diversas variáveis explicativas: ��� = � ��; ��; ; #̅ = � + � ∙ �� + % ∙ �� + & ∙ , com � < 0 e #̅ constante (variáveis adimensionais). • Funções-potência com diversas variáveis explicativas: ��� = � �� ; ��; ; #̅ = � ∙ ��' ∙ ��( ∙ �, com � < 0 e #̅ constante (variáveis adimensionais). 6 MICROECONOMIA APOSTILA III – OFERTA PROF. LEONARDO FERRAZ leonardoferraz@gmail.com OFERTA • Definições primárias: • Oferta: quantidade de certo bem tangível ou intangível em que os produtores estão dispostos ou desejam produzir. Não representa a venda efetiva, mas a intenção de vender. • Quantidade ofertada: definição específica para as quantidades de certo bem cujos produtores desejam vender em função das variações de seu preço (essa definição será aprofundada posteriormente). • Função de oferta: trata-se de uma relação matemática entre as quantidades ofertadas e as variáveis que a influenciam, como preço, preço de bens relacionados, custo de fatores de produção etc. • Lei da Oferta: com tudo mais constante, quando o preço de um bem aumenta, sua quantidade ofertada cresce, e vice-versa. OFERTA • Principais variáveis que interferem sobre a oferta de um bem ou serviço: • Preço: tradicionalmente, o preço do bem é tratado como o principal fator explicativo das variações de oferta, tanto que a Lei da Oferta denota especificamente essa relação; • Preços de bens relacionados: outros bens ou serviços podem interferir sobre o mercado do bem analisado (por exemplo, o preço do açúcar interfere sobre a produção de álcool); • Custo de fatores de produção: o aumento dos preços de fatores produtivos (trabalho, capital e terra) reduz a oferta dos bens; • Outros fatores: nível tecnológico, fatores climáticos e sazonais, facilidades de crédito, expectativas de futuro etc. OFERTA INDIVIDUAL / EXEMPLO • Considere-se uma pesquisa realizada junto a três empresários sobre suas disposições em produzir determinado bem � (trufa artesanal, por exemplo), diante de alternativas de preços ��. • As respostas de cada empresário são configuradas como ofertas individuais e seus resultados são apresentados na tabela abaixo: Preços (��) Oferta da Empresa A (���) Oferta da Empresa B (���) Oferta da Empresa C (�� ) R$ 1,25 5 8 28 R$ 1,00 3 6 22 R$ 0,75 1 4 16 R$ 0,50 0 1 10 R$ 0,25 0 0 1 R$ 0,00 0 0 0 OFERTA INDIVIDUAL / EXEMPLO • Como observado, quando �� = 0, nenhum dos empresários estão dispostos a produzir qualquer unidade do bem �. • Contudo, quando �� = 0,25, o indivíduo C se dispõe a produzir uma unidade do bem �, sendo este, portanto, o chamado preço de reserva desta empresa (o mínimo que a empresa estaria disposta a receber para produzir o bem � e pagar todos os seus custos de produção). Para as demais empresas pesquisadas, os preços de reserva chegam a �� = 0,5 e a �� = 0,75, respectivamente para os produtores B e A. • Diante desses resultados, tem-se que o empresário C é aquele que demonstra maior capacidade para produzir �, enquanto que o empresário A é aquele que demonstra menor capacidade. • Vale também ressaltar que, quando �� tende a infinito, os produtores buscam exaurir todos os recursos disponíveis para produzir mais do bem �. OFERTA DE MERCADO • No exemplo anterior, verifica-se que cada empresário demonstra uma reação diferente com relação às variações no preço do bem �. Porém, a Lei da Oferta funciona em todos os casos, ou seja, sempre que o preço aumenta, o desejo de produzir também cresce. • Quando se analisa todo o mercado produtor, devem ser consideradas todas as empresas ou uma amostra representativa destas, o que pode apontar a reação do mercado diante das variações de preço. • A oferta de mercado, portanto, é dada pela soma de todas as ofertas individuais. 7 OFERTA DE MERCADO / EXEMPLO • Se os três empresários pesquisados (A, B e C) compreendem todo o mercado do exemplo anterior, então a oferta total será dada pela tabela abaixo: Preços (��) Oferta da Empresa A (���) Oferta da Empresa B (���) Oferta da Empresa C (�� ) Oferta de Mercado (��) R$ 1,25 5 8 28 41 R$ 1,00 3 6 22 31 R$ 0,75 1 4 16 21 R$ 0,50 0 1 10 11 R$ 0,25 0 0 1 1 R$ 0,00 0 0 0 0 + + + + + + + + + + + + = = = = = = OFERTA DE MERCADO • O comportamento da oferta de mercado pode ser expresso pela função de oferta, a qual relaciona as quantidades ofertadas do bem � ao preço do mesmo, dado por ��: ��) = � �� = � + � ∙ �� • Como visto anteriormente, a Lei da Oferta impõe que ��) cresça quando �� aumenta. Assim, é esperado que o sinal do coeficiente � seja mesmo positivo. • No exemplo anterior, pode-se verificar que a função de oferta pelo bem � é dada por ��) = −9 + 40 ∙ ��. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA • O comportamento da oferta de mercado também pode ser representado graficamente, através da curva de oferta. • Ao se utilizar a função do exemplo anterior, dada por ��) = −9 + 40 ∙ ��, pode-se calcular as seguintes coordenadas: Valor de �� Cálculo na Função Valor de ��� R$ 1,25 ��� = −9 + 40 ∙ 1,25 = −9 + 50 = 41 R$ 1,00 ��� = −9 + 40 ∙ 1 = −9 + 40 = 31 R$ 0,75 ��� = −9 + 40 ∙ 0,75 = −9 + 30 = 21 R$ 0,50 ��� = −9 + 40 ∙ 0,5 = −9 + 20 = 11 R$ 0,25 ��� = −9 + 40 ∙ 0,25 = −9 + 10 = 1 R$ 0,00 ��� = −9 + 40 ∙ 0 = −9 + 0 = –9* * Como não é possível a ocorrência quantidades negativas, assume-se ��) = 0. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA • A curva de oferta +�, resultante das informações da tabela anterior, é apresentada ao lado. • Note-se que, diferente do que normalmente se representa, avariável �� (que explica as variações de ��)) encontra-se no eixo vertical. • Destaca-se ainda que, sendo a função linear, como no caso aqui apresentado, bastaria que se representasse apenas dois pontos para que a função fosse traçada no gráfico. ��� �� +� OFERTA DE MERCADO • Até o momento, o único fator tratado como explicativo das variações de ��) diz respeito a ��. Contudo, como anteriormente explanado, outras variáveis são relevantes a serem consideradas na função de oferta, como preço de outros bens, custo de fatores produtivos etc. • Definições: • Variação da quantidade ofertada (��)): são variações causadas por mudanças nos preços do bem �, que levam a deslocamentos do ponto ao longo da curva de oferta; • Variação da oferta ou deslocamento da demanda (+�): são variações causadas por mudanças em outras variáveis (como preço de outros bens e custo de fatores produtivos), que levam a deslocamentos da curva de oferta. DESLOCAMENTOS DA OFERTA • No exemplo da oferta de trufas artesanais, se seu preço passar de R$ 0,50 para R$ 0,75, sua quantidade ofertada crescerá de 11 para 21 unidades. Isso configura um deslocamento do ponto ao longo da curva de oferta +�, como mostra a seta em azul. • Por outro lado, se o custo de fatores de produção elevar, a oferta de trufas artesanais irá reduzir, o que configura um deslocamento da curva, passando de +� para +��, o que é representado pelas setas em vermelho. ��� �� +�� +� 8 DESLOCAMENTOS DA OFERTA / �� • O preço de bens relacionados à produção do bem �, representado por ��, pode causar deslocamentos da curva de oferta. Nesse aspecto, definem-se: • Bens substitutos de produção: bens � que competem com a produção do bem �. Quando �� aumenta, ��) diminui (esse é o caso de bens como açúcar e álcool, soja e milho etc.). Assim, se �� aumenta, a curva de oferta desloca-se à esquerda. • Bens complementares de produção: bens � que complementam a produção do bem �. Quando �� aumenta, ��) responde com um aumento (esse é o caso de bens como carne e couro). Assim, se �� aumenta, a curva de oferta desloca-se à direita. OUTROS FATORES QUE PROVOCAM DESLOCAMENTOS DA OFERTA • O custo de produção do bem �, doravante representado por %�, pode causar deslocamentos da curva de oferta. Nesse aspecto, sempre que o custo dos fatores produtivos do bem � aumenta, não é possível ofertar as mesmas quantidades de referido bem, qualquer que seja o nível de ��. Assim, quando %� aumenta, a curva de oferta desloca-se à esquerda. • Outros fatores que deslocam a curva de demanda são: • Mudanças tecnológicas (como a utilização de computadores); • Fatores climáticos e sazonais (como a seca ou a ocorrências de chuvas); • Facilidades de crédito (como a observada nos últimos anos); • Expectativas de futuro (como a expectativa de aumento dos preços de alimentos). FUNÇÕES DE OFERTA • Como observado, não só o preço do bem � influencia suas quantidades ofertadas, como denota a função ��) = � �� = � + � ∙ ��. • Para se considerar todos os fatores explicativos da oferta, outras funções são comumente utilizadas: • Funções lineares com diversas variáveis explicativas: ��) = � ��; ��; %� ; ,- = � + � ∙ �� + % ∙ �� + & ∙ %�, com ,- constante (variáveis adimensionais). • Funções-potência com diversas variáveis explicativas: ��) = � �� ; ��; %� ; ,- = � ∙ ��' ∙ ��( ∙ %��, com ,- constante (variáveis adimensionais). MICROECONOMIA APOSTILA IV – EQUILÍBRIO PROF. LEONARDO FERRAZ leonardoferraz@gmail.com EQUILÍBRIO DE MERCADO • Definições primárias: • Equilíbrio de mercado: trata-se da única quantidade de certo bem em que o desejo de aquisição dos consumidores é exatamente igual ao desejo de produção das empresas, o que se denota como quantidade de equilíbrio. A essa quantidade está associado um único preço, denotado como preço de equilíbrio. • Excesso de demanda: quando o preço se encontra abaixo do preço de equilíbrio, os consumidores desejam adquirir mais quantidades do que as empresas desejam produzir, o que se configura como um excesso de demanda. • Excesso de oferta: quando o preço se encontra acima do preço de equilíbrio, as empresas desejam produzir mais quantidades do que os consumidores desejam adquirir, o que se configura como um excesso de oferta. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA • Como visto, a coordenada dada por ��∗ e ��∗ representa o equilíbrio de mercado (/). • Note-se que, numa situação de excesso de demanda, as vendas efetivas equivalem à quantidade ofertada (no exemplo, igual a 11 unidades), visto que não se pode consumir mais do que é desejado produzir. Por sua vez, em excesso de oferta, as vendas efetivas equivalem à quantidade demandada (também igual a 11), visto que não se pode produzir mais do que é desejado consumir. �� �� +� �� /��∗ ��∗ 9 MECANISMO DE AJUSTE EM UM MERCADO COMPETITIVO • Como destacado no exemplo anterior, sempre que o mercado se encontra em desequilíbrio, as vendas efetivas são menores que a quantidade de equilíbrio. Contudo, mecanismos de ajuste fazem com que o mercado sempre tenda a referido equilíbrio: • Quando há excesso de demanda, uma parcela de consumidores estaria disposta a adquirir quantidades a um preço mais elevado. Diante disso, as vendas tendem a aumentar até chegar ao equilíbrio de mercado, com consequente elevação dos preços. • Quando se verifica um excesso de oferta, uma parcela de empresas estaria disposta a ofertar quantidades a um preço mais reduzido. Diante disso, os preços tendem a cair até o nível de equilíbrio, com consequente elevação das vendas. CÁLCULO DO EQUILÍBRIO • No exemplo anterior, verifica-se o equilíbrio nesse mercado de trufas artesanais corresponde à venda de quantidades entre 11 e 21 unidades vendidas a um preço entre R$ 0,50 e R$ 0,75. • Contudo, é possível encontrar os valores exatos de ��∗ e ��∗ quando se considera um sistema de equações que leva em conta as funções de demanda e oferta: 0��� = 41 − 40 ∙ ����) = −9 + 40 ∙ �� • Para solucionar referido sistema, considera-se como condição de equilíbrio a igualdade dada por ��� = ��). Assim:41 − 40 ∙ �� = −9 + 40 ∙ �� • Ao se resolver a igualdade acima, encontra-se ��∗ = 0,625 e, portanto, ��∗ = ��� = ��) = 16. DESLOCAMENTOS DO EQUILÍBRIO • Vale destacar que não há razões para que as quantidades comercializadas e os preços praticados no equilíbrio sejam estáticos ao longo do tempo, visto que as funções de demanda e oferta tendem a se alterar. Isso decorre das frequentes mudanças observadas em variáveis cujo mercado do bem � não exerce influência significativa: • Sobre a função de demanda, alterações podem ser sofridas diante de mudanças em ��, , gostos e outras variáveis anteriormente destacadas; • Por sua vez, sobre a função de oferta, alterações podem ser sofridas diante de mudanças em ��, %�, tecnologia e outras variáveis anteriormente destacadas. DESLOCAMENTOS DO EQUILÍBRIO • Como exemplo, se o preço de uma trufa não artesanal reduzir, a demanda pela trufa artesanal também cairá, como visto anteriormente, o que configura um deslocamento da curva, passando de �� para ���, o que é representado pelas setas em vermelho. • Diante de tal conjuntura, verifica-se que o equilíbrio é deslocado, de forma que as quantidades comercializadas do bem � tendem a se reduzir, assim como o preço pelo qual o produto é vendido. �� �� +� �� /��∗ ��∗ /��� ∗� ��∗� ��� DESLOCAMENTOS DO EQUILÍBRIO • No exemplo dado, a redução do preço da trufa não artesanal, leva ao deslocamento da curva de demanda do bem � à esquerda. Ao ocorrer tal alteração, se o preço permanecer em ��∗, haverá excesso de oferta e, como explanado anteriormente, essa situação aciona o mecanismode ajuste de mercado que leva seu preço a ��∗�. • Algebricamente, as alterações podem ser calculadas ao se analisar funções como ��� = � �� ; ��; ; #̅ e ��) = � ��; ��; %� ; ,- , as quais consideram os efeitos de diversas variáveis explicativas. • Como antes explanado, outras mudanças podem ocorrer diante de alterações em diversas variáveis, de forma que as curvas de demanda e oferta podem ser deslocadas para a direita ou à esquerda, individualmente ou simultaneamente. • Tais deslocamentos levam, portanto, à frequente dinâmica observada sobre quantidades comercializadas e preços praticados em diversos tipos de mercados.
Compartilhar