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CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE André Lunardi Steiner SUMÁRIO Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU- PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for- ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETOR DE ENSINO A DISTÂNCIA (EAD) Rafael Giovanella Desenvolvido pela equipe de Criações para o Ensino a Distância (CREAD) Coordenadora e Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Igor Zattera, Julia Oliveira, Thaís Munhoz Revisora Luana dos Reis NORMAS DE SISTEMAS DE GESTÃO GERAIS 4 INTRODUÇÃO DA NORMA 9 REQUISITOS INICIAIS 1, 2 E 3 13 REQUISITO 4 – CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO 15 REQUISITO 5 – LIDERANÇA 19 REQUISITO 6 – PLANEJAMENTO 21 REQUISITO 7 – APOIO 22 REQUISITO 8 – OPERAÇÃO 27 REQUISITO 9 – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 33 REQUISITO 10 – MELHORIA 36 CONTEÚDO SUPLEMENTAR E INFORMATIVO 37 OUTRAS NORMAS 41 CERTIFICAÇÃO DE LABORATÓRIOS 42 CERTIFICAÇÃO HOSPITALAR 43 CERTIFICAÇÃO AUTOMOTIVA 44 CERTIFICAÇÃO ALIMENTAR 46 CERTIFICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL 47 CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS 50 PROCESSO DE AUDITORIA E CERTIFICAÇÃO 55 PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO 56 FORMAÇÃO DE AUDITOR 61 PROCESSO DE AUDITORIA 63 NÃO-CONFORMIDADES 74 CONSTRUÇÃO DOS APONTAMENTOS 76 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE APONTAMENTOS 82 TRATAMENTO DE APONTAMENTOS 85 LISTA DE SIGLAS 87 3CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo à disciplina de Certificações e auditoria da qualidade! A certificação de produtos é algo que ocorreu há muitos anos, e tem origem em protocolos e normas militares para definição de padrões dos insumos por estes consumidos. De modo bas- tante semelhante, também apareceram as certificações de sistemas, começando pelos produti- vos ligados justamente à execução dos produtos certificados, fechando uma espécie de círculo de confiança, no entorno da empresa que recebia essa chancela. No encalço desses certificados, outras áreas entenderam que o assunto é de suma importân- cia e definiram seus padrões, tanto de processo quanto de produtos, sendo assim, a área alimen- tícia, da saúde, da construção, da segurança e assim por diante, também possuem certificações distintas, de modo que hoje, sem nenhum exagero, podemos citar que existe uma infinidade de certificações, da mesma forma que existe uma infinidade de diferentes normas. Dificilmente se encontrará uma pessoa que seja, pelo menos, conhecedora, de todas as cer- tificações de todos os tipos de produtos e sistemas, quem dirá um especialista no mesmo ponto, pois o fato é que, atualmente, cada ramo de atuação tem necessidade de certificações pelos mais diversos motivos, seja por simples demonstração (ou pelo menos aparente) de uma ideia de uma empresa, ou produto com qualidade superior, ou por uma obrigação e necessidade de mercado, até mesmo, por imposição legal. Nesse material, temos a pretensão de passar uma visão geral, um overview, so- bre o processo de certificação, as principais normas aplicadas no mercado e o pro- cesso de formação de uma classe específica de profissionais, denominada “audito- res”. Basicamente, entendo por essa nomenclatura, o indivíduo que se especializa em avaliar um sistema ou um produto com base em uma norma, sendo assim, que- remos desmistificar alguns pontos sobre o processo de formação desse indivíduo, passando pelo processo de interpretação de normas, comentando alguns pontos que costumeiramente são objetos de discussão dentre os “profissionais” que atuam nes- te segmento, que só tende a crescer. Com esse intuito, verificaremos essas principais normas aplicáveis a sistemas (as mais amplas), sua estrutura analítica, comentando alguns requisitos e aplica- ções. Em um segundo momento, trataremos de normas aplicáveis a setores especí- ficos, tais como automotivo, hospitalar, alimentação, etc., bem como falaremos de normas aplicadas a produtos, citando alguns exemplos e aplicações diversas. Com isso, vivenciaremos um terceiro momento, falar da formação do auditor e do proces- so de auditoria como um todo, para fecharmos nosso material com os apontamentos e resultados de uma auditoria. Espero que gostem e aproveitem! Vamos nessa!? 4 NORMAS DE SISTEMAS DE GESTÃO GERAIS Você conhece os sistemas de gestão? Você compreende o que são esses sistemas? Quais são os modelos? Você sabe para que servem? 5CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Não vamos nos ater à história, princípios e evolução dos sistemas de gestão. Esses conceitos devem estar bem definidos nesse momento. Compreenderemos os principais sistemas de gestão aplicados no mercado, sua estrutura e seme- lhança entre eles. Sem sombra de dúvidas, a norma mais conhecida do mercado, que trata de Sistemas de Gestão, tanto no Brasil como no mundo, é a ISO9001, contando com mais de 1 milhão de certificados emitidos, sem considerarmos negócios que se autodeclaram em conformidade, ou aqueles que simplesmente seguem os requi- sitos normativos mas que, no entanto, não buscam a certificação, uma prática que tem acontecido bastante, visto que, em alguns ramos do mercado, não exis- te tanto a necessidade de comprovar uma certificação, mas sim de seguir alguns princípios de qualidade. Sendo a ISO9001 a norma de Sistemas de Gestão mais conhecida, é natural que, falando de sistemas de gestão em geral, nos apoiemos na mesma para tal. Outro fato que reforça esse ponto é que, em suas últimas versões, a aplicabilidade para os mais diferentes ramos de negócio ficou mais evidente. No início, segundo muitos estudio- sos da área, essa norma era baseada na norma militar britânica BS 5750, e era bas- tante focada em que o produto atendesse as necessidades do cliente, com garantias na produção (inspeção sempre foi a mais comum), e que existisse um certo formalismo quando da necessidade de responder ao cliente uma reclamação. Portanto, fácil notar que tal norma era bastante direcionada à indústria de produção e transformação. Na atualidade, a área da indústria é o principal mercado dos negócios, buscando uma cer- tificação de sistema de gestão, mas, outros ramos já buscam esses tipos de padrões há um bom tempo, como construção civil, hospitais, comércio, etc., inclusive, alguns produzindo padrões próprios, mas bem estruturados nos mesmos moldes da ISO9001. Não estamos errando quando afirmamos que essa norma é a principal referência em termos de estrutura normativa para siste- mas de gestão. Partindo do mesmo princípio, a ISO (International Organization for Standardization – Organização Internacional para a Padronização), atualmente, segue uma mesma espinha dor- sal para estruturar suas normas de sistemas de gestão, independentemente do ramo de atuação e, por consequência, as demais situações análogas acabam por seguir as mesmas ideias e estruturas. 6CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO No Brasil, o organismo que representa, traduz e, por consequência, emite as versões em por- tuguês da norma ISO9001 é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), sendo respaldada legalmente desde 1940, pelo governo brasileiro, como Foro de normalização e membro fundador da ISO. Para um entendimento mais formal, no Brasil, a grande maioria dos negócios que busca a certificação de sistema de gestão da qualidade, o faz em uma versão da norma original ISO9001, denominada ABNT NBR ISO 9001, possuindo alguns detalhes diferenciados, tais como aponta- mentos referentes à tradução, para boa compreensão dos termos originais. Também importante deixar claroúltimo ponto trata sobre controle de mudanças, assegurando que são realizadas de forma coerente e que sejam analisados criticamente para garantir a conformidade com os requisitos, mantendo informação documentada sobre isso e autorização de pessoas res- ponsáveis para tal, algo que acaba se traduzindo por um controle relativo à documentação de produção, controle sobre modificações de processos, produtos e pessoal, item que pode ser uma extensão das atividades definidas em 8.3, relativas a produtos/serviços correntes, sendo uma das melhores práticas. Outra prática que costuma ter bastante adesão é a definição das “inspeções ou verifica- ções” do produto/serviço ao longo da sua execução (veja bem, não estamos dizendo que inspeção é uma obrigação, mas comentando sobre prática costumeira), quanto mais bem formalizadas (padrões, formulários, instruções, procedimentos, etc.), melhores e menos equivocados seus resultados. Outras práticas que devem ser vistas com bons olhos (e são padrões de alto nível, di- ga-se de passagem), mesmo não sendo obrigatórias por essa norma (podendo ser adaptadas de acordo com as necessidades da organização, seus produtos e serviços) são a definição de Planos de Controle e adoção de processos robustos que diminuem a necessidade de verificações corri- queiras, quando validados por uma sistemática de controle estatístico de processos, ou similar. Requisito 8.6 – Liberação de produtos e serviços - No passado, se traduzia numa obrigação por uma “inspeção final”. A norma define uma validação apropriada para o pro- duto/serviço, nos momentos necessários, verificando se os requisitos de cliente estão satis- feitos, não podendo ser liberado aos clientes, sem a execução (a não ser casos especiais de liberação pelo cliente), sendo que é necessária a retenção de informação documentada sobre essas práticas (onde apropriado, demonstrando os critérios de aceitação e responsável). 32CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Na prática, normalmente, como uma extensão dos controles definidos e apli- cados em 8.5, valendo as sugestões sobre plano de controle e processos validados. Requisito 8.7 – Controle de saídas não conformes - Item que costuma ser relativamente menosprezado (a não ser sistemas direcionados à cobrança da área automotiva, que é bastante rigorosa nesse sentido), trata de controle sobre produtos e serviços que foram detectados como em desacordo com os requisitos, evitando seu uso, ou entrega não pretendido, necessitando a tomada de ações necessárias para lidar com os mesmos, seja “correção, segregação, contenção, retorno, suspensão de provisão, informação ao cliente, ou obtenção de autoriza- ção para aceitação sob concessão.” Caso opte-se por correção ou atitude análoga, deve-se realizar nova validação do produto/serviço, documentando e retendo as informações, sejam quais forem as ações tomadas, identificando responsáveis. Na prática, acontece muito a identificação de uma área para colocação de produtos não-conforme ou suspeitos, usualmente, sem a devida proteção para evitar uso indevido dos mesmos, sendo passível de liberação ao mercado de pro- dutos em desacordo. No caso dos serviços, existe um complicador maior, princi- palmente quanto à contenção ou tomada de atitude em relação ao mesmo, junto ao cliente, que acabam necessitando ser realizados concomitante à sua realiza- ção (no caso de produtos, pode acontecer a contenção dos mesmos e tomada de ação em momentos apropriados). 33CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO REQUISITO 9 – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO O capítulo 9 é onde as normas estipulam requisitos à empresa realizar me- dições, monitoramentos, análises, avaliações de satisfação de cliente e análise crítica pela direção. Requisito 9.1 – Monitoramento, medição, análise e avaliação - Trata da de- finição dos pontos de verificação dos processos da organização, sendo necessárias as definições do que deve ser verificado, método, periodicidade de verificação e periodicidade de análise sobre os mesmos, solicitando a necessidade de que sejam avaliados o desempenho e eficácia do sistema de gestão, sendo redundante comen- tar que esses métodos, informação e análise, precisam ser todos documentados. Na prática, acaba se traduzindo na definição do rol de indicadores de de- sempenho ligados a cada processo e ao sistema de gestão, os quais, de maneira inteligente, podem ser definidos para que combinem com a avaliação de necessi- dades das partes interessadas e política da empresa. Um cuidado está na definição da periodicidade, tanto de medição quanto de análise, onde não existe prescrição (usualmente, medição mensal e análise em uma periodicidade um pouco maior). O importante é que as mesmas sejam coerentes com o negócio, mercado e necessi- dade de velocidade à tomada de ação. No caso da ISO9001, esse item é complementado com a necessidade de verificação da satisfação de clientes, avaliando em que grau suas necessidades e expectativas foram atendidas, deixando livre o método. Fica como dica a definição de indicadores robustos que demonstrem o atendimento das ne- cessidades dessa parte interessada, outro padrão costumeiro, no mercado, é a “Pesquisa de Satisfação de Clientes”, com muita cautela, para criar questões e tabulação que sejam coerentes, cuja avaliação das respostas possam realmente ser proveitosas à organização. Cuidado com as “obrigações” impostas por avaliadores, ou imposição em relação a métodos de avaliação, a empresa tem que avaliar o que e como precisa saber, a fim de determinar a satisfação do seu cliente, logo, somente uma auditoria pode- rá apontar falhas, se não houver método, ou se o método definido não está sendo seguido (no pior dos casos, uma total incoerência com o negócio). Nesse caso, seria um apontamento à título de oportuni- dade. Além disso, a norma complementa com uma obrigatoriedade na avaliação (além dos já citados): • conformidade de produtos e serviços; • se o planejamento foi implementado eficazmente; • a eficácia das ações tomadas para abordar riscos e oportunidades; • o desempenho de provedores externos; • a necessidade de melhorias no sistema de gestão da qualidade. 34CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Observe que não existe uma obrigatoriedade em ter que realizar, por exemplo, uma “Pesquisa de Satisfação de Funcionários”, nessa situação, como todas as demais, é neces- sário ter clareza que, método e padrão de verificação são definições da empresa, respeitan- do a coerência e necessidades dos seus processos. No caso da ISO14001, ISO27001 e ISO45001, destaca-se a obrigatoriedade na avaliação do atendimento aos requisitos legais, definindo frequência, tomada de ação e manutenção no conhecimento e atendimento, de maneira documentada. Na prática, um grande controle sobre quais as legislações pertinentes e aplicáveis à organização, avaliando periodicamente sua relevância, atendimento, etc. A ISO45001 ainda complementa com a necessidade de uma consulta/pesquisa junto à força de trabalho, em relação às suas condições. Requisito 9.2 – Auditoria interna - Define a necessidade da organização, com base na Norma ISO19011, fazer uma autoavaliação do seu sistema de gestão, (independente da verificação periódica obrigatória realizada, oficialmente, pelos organismos certificadores), definindo de maneira documental, tanto método quanto resultados. O método precisa ser formal, planejado, com critérios e objetivos definidos e se utilizar de pessoal capacitado e competente para tal, sendo que os resultados precisam ser analisados para verificar a ne- cessidade de tomada de ações corretivas. Na prática, as organizações capacitam pessoal interno, ou contratam mão de obra ter- ceira e capacitada para organizar uma auditoria muito semelhante à realizada pelos orga- nismos certificadores, a fim de se antever a eventuais situações que possam acontecer junto ao sistema e ter consciênciado andamento e performance do seu Sistema de Gestão. Essa auditoria deve ter o mesmo formalismo da certificação, disseminando a cultura do sistema de gestão por toda a organização. Cuidado com exageros e com pessoal capacitado (tanto interno quanto externo) de forma equivocada, pois podem acabar sendo induzidos a forçar a organização, implementando metodologias ou situações acerca do seu sistema de gestão, que burocratizem ou não agreguem valor nenhum ao mesmo. Requisito 9.3 – Análise crítica pela direção - Existe a necessidade da alta direção re- alizar análise crítica sobre pontos mínimos pré-estabelecidos, acerca do sistema de gestão. Não existe uma frequência pré-definida (a prática acaba indicando que aconteça, pelo menos uma vez ao ano, mas sempre precisa ser coerente com o sistema de gestão em questão). Tam- bém não existe um método pré-estabelecido, sendo livre escolha da organização, desde que seja formalmente definido, documentado e que haja participação da alta direção, podendo ser definida como as pessoas que têm autoridade para tomar decisões acerca dos rumos que os processos e o sistema de gestão como um todo necessitam. Tal fato fica evidente quando analisamos os assuntos mínimos a serem tratados, chamados de entradas da análise crítica: a. a situação de ações provenientes de análises críticas anteriores pela direção; b. mudanças em questões externas e internas que sejam pertinentes para o siste- ma de gestão e mudanças nos requisitos legais pertinente à organização (normas ISO14001/27001/45001); c. Informação sobre o desempenho e a eficácia do sistema de gestão relativas à: 35CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO 1. satisfação do cliente e retroalimentação de partes interessadas pertinentes; 2. extensão na qual os objetivos do sistema foram alcançados; 3. desempenho de processo e conformidade de produtos e serviços; 4. não-conformidades e ações corretivas; 5. resultados de monitoramento e medição; 6. resultados de auditoria; 7. desempenho de provedores externos; d. a suficiência de recursos; e. a eficácia de ações tomadas, abordando riscos e oportunidades (ver 6.1); f. oportunidades para melhoria. Após analisados os assuntos determinados nas entradas, são definidas como resulta- do, chamadas saídas de análise crítica, os seguintes pontos: a. oportunidades para melhoria; b. qualquer necessidade de mudanças no sistema de gestão; c. necessidade de recursos; d. conclusões e/ou acerca dos assuntos tratados na análise crítica. Na prática, tudo acaba se traduzindo em uma grande junção de dados e informações, os quais precisam, necessariamente, ser analisados, e tomadas decisões. Costumeiramente, verifica-se a realização de uma reunião específica para o assunto, o que não é efetivamente necessário, pois os assuntos podem ser divididos e disseminados por entre os vários mo- mentos de verificação, análise e decisão da organização por diferentes públicos ou respon- sáveis (que tenham autoridade sobre o assunto tratado), desde que isso esteja muito bem mapeado, documentado e que todos os citados sejam abordados nas frequências definidas. 36CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Um cuidado especial com a “obrigação” de haver UMA reunião anual para tratar de todos esses assuntos, com a participação do “dono” (ou maior cargo) da empresa, e que tudo seja aglutinado em uma única ATA (famosa Ata de Análise Crítica da Direção). Apesar da prática ser bastante disseminada e adotada por muitos sistemas de gestão, facilitando a verificação se todos os pontos foram abordados, isso não é prescrito, é uma obrigação do avaliador entender como o sistema de gestão está estruturado, realizando as verificações necessárias relativas de acordo com essas definições. REQUISITO 10 – MELHORIA No capítulo 10, as normas tratam do ciclo de melhoria dos processos da empresa como um todo, sendo muito semelhante entre as que estamos nos atendo a explicar. Requisito 10.1 – Generalidades - Descreve que a organização deve determinar oportu- nidades de melhoria para implementar ações ligadas ao sistema de gestão (caso da ISO9001, às necessidades dos clientes). Na prática, o item não prescreve nenhuma metodologia, mas deixa a cargo da organiza- ção determinar as suas fontes de oportunidades de melhoria, que podem ser a tratativa de ob- servações de auditorias, sugestões de clientes (não reclamações), manuais de boas práticas, benchmarkings, etc., costumeiramente, chamadas de ações preventivas. Note que metodolo- gias baseadas na identificação de riscos são uma ótima fonte (exemplo do FMEA, ou similar). Requisito 10.2 – Não-conformidade e ação corretiva - Define que a organização deve tratar as eventuais não-conformidades (resultados de auditorias, verificações do sistema de gestão, resultados de processos internos), no caso da ISO9001, as reclamações de clien- tes (problemas com o produto/serviço após entrega) ou, no caso das ISO14001/27001/45001, quaisquer situações de reclamação, infrações à legislação ou sanções oriundas. Nestes ca- sos, ações devem ser tomadas para controlar e lidar com a situação (ações de contenção, na extensão necessária), avaliando as causas e definindo a necessidade de tomada de ações para prevenir sua nova ocorrência, executar as ações propostas, verificar a eficácia e atua- lizar documentação ou metodologias do sistema de gestão necessárias. Novamente, não existe método prescrito, a prática acaba recaindo sobre metodologias análogas ao MASP/8D, adaptadas às necessidades da organização. Também existe a neces- sidade de documentar o método, o acontecimento e todas as análises e ações necessárias. Interessante observar que a organização deve considerar a necessidade de analisar, ou não, a causa raiz de um problema e tomar ação para corrigi-la. Se o custo da solução for mais caro que a remediação, e a frequência dessa falha for aceitável, a organização pode aceitar o risco de continuar mantendo a não-conformidade. Portanto, cuidado com a obrigação em “eliminar” as não-conformidades, isso pode ser uma decisão estratégica, e do negócio em manter, sendo mais barato ficar pagando custos de assistência técnica de um determinado item, o que acontece em algumas ocasiões, do que eliminar a causa, mudando o projeto e adequando o produto a uma situação específica. 37CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Requisito 10.3 – Não-conformidade e ação corretiva - Acaba sendo uma certa redundância do item 10.1, deixando claro que a organização precisa evoluir seu sis- tema de gestão, produtos e serviços, obtendo melhores resultados, maior eficiência, implementando práticas e processos mais robustos. O entendimento do item nos leva a crer que é necessário apresentar melhoras no sistema como um todo, indicadores, resultados e que haja ações destinadas à melhoria. Na prática, não está definido (e nem se pode obrigar) demonstrar melhoria em todos os pontos, de maneira simultânea, ou que seja necessário um determinado percentual ou quantidade de melhoria em resul- tados, mas é indispensável que o item seja avaliado com coerência e que demonstre que a organização não está estagnada quanto ao seu sistema de gestão. CONTEÚDO SUPLEMENTAR E INFORMATIVO Neste momento, deve ter ficado claro que o sistema está baseado na lógica do PDCA, e que deve existir uma mentalidade muito focada nas verificações e prevenção de riscos, se- jam ambientais, ocupacionais, de segurança da informação e de prosperidade e manutenção do negócio como um todo (algo um tanto mal entendido no mercado), portanto, a intenção, principalmente das últimas versões das normas, não é a burocratização, mas a existência de certos formalismos que levem à segurança da execução das práticas. O maior cuidado, como citado ao longo dos requisitos, é a observação quanto a “obrigações” impostas duran- te avaliações ou auditorias, ou ainda, as “sugestões” que interfiram no modo de trabalhoda empresa. Importante entender que precisa ser cumprida a norma, deixando livre para que a organização defina a melhor maneira de executar cada um dos requisitos, agregando valor. A partir disso, a norma traz alguns anexos, explicativos sobre a estrutura da norma, in- terpretação dos itens, diferenças para versões anteriores, outras normas aplicáveis que podem ser consultadas, etc., sendo que tais conteúdos já abordamos (a parte mais relevante, pelo me- nos) junto à interpretação dos itens. A exceção fica à norma ISO27001, que traz alguns requi- sitos operacionais específicos. Outro ponto que merece destaque, são que as normas exigem, documentados, alguns pou- cos procedimentos e políticas (sendo uma definição da empresa a documentação dos demais), tanto que nem mais utiliza a palavra procedimento, mas informação documentada, sendo de livre escolha da organização o meio (procedimento escrito, eletrônico, sistema, vídeo, etc.). São estes: ACTION (AÇÃO/MELHORIA) 10- Melhoria CHECK (CONTROLE) 9- Avaliação do desempenho PLAN (PLANEJAMENTO) 4- Contexto da organização 5- Liderança 6- Planejamento DO (DESENVOLVIMENTO / EXECUÇÃO) 7- Apoio 8- Operação 38CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO REQUISITO DOCUMENTO 4.3 Escopo do sistema de gestão (cláusula 4.3) 5.2 Política 6.1 Análise de riscos/oportunidades/legislação (ISO14001/27001/45001) 6.2 Objetivos 8.1 Controle operacional (ISO14001) 8.2 Prontidão e resposta a emergências (ISO14001/45001) 8.2 Relatório de levantamento de riscos (ISO27001/45001) 8.4.1 Critérios para avaliação e seleção de fornecedores (ISO9001) A 7.1.2 Definição de papéis e responsabilidades pela segurança (ISO27001) A.8.1 Inventário e uso de ativos (ISO27001) A.9.1.1 Política de controle de acesso (ISO27001) A.12.1.1 Procedimentos operacionais à gestão de TI (ISO27001) A.14.2.5 Princípios da engenharia de segurança de sistemas (ISO27001) A.15.1.1 Política de segurança para fornecedores (ISO27001) A.16.1.5 Procedimento à gestão de incidentes (ISO27001) A.17.1.2 Procedimentos de continuidade de negócio (ISO27001) A.18.1.1 Requisitos estatutários, regulatórios e contratuais (ISO27001) REQUISITO REGISTRO 6.1.3 Registro de obrigações e conformidade (ISO14001/45001) 7.1.5.1 Registros de calibração (ISO9001) 7.2 Registros de treinamento, habilidades, experiência e qualificações 7.4 Evidências de Comunicação (ISO14001/45001) 8.2.3.2 Registros de análise crítica de requisitos de produto/serviço (ISO9001) 8.3 Registro sobre projeto e desenvolvimento (ISO9001) 8.5.1 Características do produto/serviço (ISO9001) 8.5.3 Registros sobre propriedade do cliente (ISO9001) 8.5.6 Controle de mudança de produto/serviço (ISO9001) 8.6 Registro de não-conformidade de produto/serviço (ISO9001) 8.7.2 Registro de saídas não conformes 9.1 Resultados de monitoramento e medição 9.2 Registros de auditoria interna 9.3 Resultados de análises críticas da direção 10.1 Registro de ações corretivas A.12.4.1 Registros de atividades de usuários, exceções e segurança (ISO27001) Fo n te : O A u to r. 39CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO SÍNTESE Neste capítulo, vimos a existência, apli- cabilidade, requisitos e conceitos associados aos sistemas de gestão, baseados nas normas ISO9001, ISO14001, ISO27001 e ISO45001. Ve- rificamos o quão não-prescritivos são os re- quisitos, se comparados com algumas práticas disseminadas no mercado, cabendo sempre um bom entendimento e interpretação de cada uma das normas em questão. 40CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Qual a aplicabilidade das normas de certificação? 2. Que requisitos são destinados ao controle dos produtos e dos processos? 3. Quais são os itens com metodologias prescritas pelas normas? 4. Quais são as vantagens do uso das certificações? 5. Que requisito você adaptaria como mandatório para uso no âmbito do seu exercício profissional atual? 41 OUTRAS NORMAS O que é certificação de produto? De processo? Existem outras normas? 42CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Os requisitos normativos trataram das atuais normas de sistemas de gestão, aplicáveis de forma geral no mundo. Existem inúmeras outras normas passíveis de certificação, ou de adoção obrigatória para alguns tipos de negócios ou mercados. Algumas normas são fortemente base- adas nos requisitos que já verificamos, sendo que, em alguns casos, simplesmente (quer dizer que seus requisitos sejam simples) os complementam na linguagem, ou boas práticas de um de- terminado ramo de atuação, estabelecendo metodologias, práticas e sistemáticas prescritivas, diferente das verificadas anteriormente. CERTIFICAÇÃO DE LABORATÓRIOS Para a prestação de serviços laboratoriais, não importando se é na área de metrologia, en- saios aplicados à indústria metalomecânica, alimentar, construção civil, etc., é necessária a cer- tificação do laboratório em uma norma específica para tal função, chamada ISO17025. Sua adoção não é obrigatória por parte do laboratório, alguns ramos de atuação definem que quaisquer en- saios necessários só podem ser realizados em laboratórios certificados com essa norma, tornan- do a mesma um padrão praticamente obrigatório. A certificação da ISO17025 é concedida para um escopo específico, de acordo com os servi- ços oferecidos e a capacidade de execução de ensaios e medições do laboratório. Esse certificado não dá plenos poderes para que o laboratório execute qualquer tipo de trabalho, para cada grupo de ensaios existe um escopo, como se cada ensaio tivesse uma certificação específica. Na prática, um laboratório pode ter certificação para um determinado escopo e não ter para um outro, sendo importante verificar essa informação quando da contratação de serviço desse gênero. O processo de certificação é análogo ao das normas de sistema de gestão, o la- boratório em questão precisa passar por uma série de auditorias, em cada um dos es- copos pretendidos, seguindo padrões internacionais, com isso, os ensaios realizados, nesse laboratório, podem ser aceitos em outros países. Tal certificação não impede ou inibe a busca por uma certificação ISO9001 pelo laboratório, só que atestará o sis- tema de gestão do negócio como um todo, e o atendimento dos requisitos do cliente, enquanto a ISO17025 garantirá a execução das práticas através de requisitos técnicos reconhecidos. Entre esses requisitos está a maneira de coletar os dados, maneira de emitir laudos, uso de instrumentos calibrados e padrões rastreáveis, cálculo e divul- gação da incerteza do ensaio, etc. Um ponto importante a comentar é que a norma ISO17025 não abrange análises clínicas, pois existem padrões específicos a serem seguidos por cada uma, portanto, estão abrangidas as seguintes atividades: • calibração: o ajuste de equipamentos perante uma grandeza padronizada, alinha- dos com os padrões internacionais de confiança e validade; • ensaio: técnicas e procedimentos de medição que comprovam requisitos técnicos de um produto ou material; • amostragem seguida de ensaio: coleta de amostras de forma adequada, realiza- ção de ensaio subsequente de forma ideal. 43CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO CERTIFICAÇÃO HOSPITALAR Todos os ramos de atuação têm suas peculiaridades, cada um tratará de seus interesses, de- monstrando sua importância. Na área da saúde, principalmente na parte hospitalar, também te- mos essas peculiaridades, com o adendo que, diferentemente da grande maioria dos sistemas de gestão baseados em ISO9001, que possuem clientes, a área hospitalar tem uma parte interessada que é definida como paciente, a pessoa que está recebendo de hospitais, laboratórios, clínicas, etc., o cuidado e a atenção em virtude da necessidade de atendimento médico, clínico, de enfer- magem, etc., sendo o grande argumento a “fragilidade” da saúde do ser humano. Olhando por esse viés, estabelecimentos de saúde buscam (ou deveriambuscar), cada vez mais, atingir excelência no atendimento e em suas operações. Concatenando com a ideia de ne- gócio, um cliente satisfeito é aquele que tem suas dúvidas sanadas, recebe o tratamento adequa- do, que é bem atendido (cuidado com o conceito de bom atendimento), tem confiança de que está sendo tratado por pessoal competente e em um ambiente de credibilidade, que trabalha com pro- cessos considerados seguros. Como outros ramos de negócio, buscam mostrar à sociedade que para certas exigências foram definidas algumas “certificações”, com foco em procurar atestar a qualidade na prestação de seus serviços. Na área hospitalar, definiu-se uma nomenclatura (que está correta) que distingue a certifi- cação em dois pontos, um denominado certificação hospitalar e outro denominado acreditação hospitalar. A acreditação trata de processos mais específicos e técnicos da área da saúde, neces- sitando de avaliação por profissionais ligados ao ramo de atuação da saúde para bem verificar, compreender e atestar tais processos, nesse caso, o escopo de avaliação é determinado pela norma em questão. A certificação define que uma instituição passou por uma au- ditoria que atesta, por escrito, que seus processos, sistemas de qualidade e produtos estão em conformidade com os requisitos, não esquecendo que as normas permitem definir um escopo de certificação, logo, a instituição ou organização é que decide quais dos processos serão avaliados para serem certificados, e quais ficarão de fora. Começando pela certificação hospitalar, atualmente, ela se dá pela implementa- ção e busca pela certificação em normas de gestão de sistemas, sendo as principais, a própria ISO9001 e a OHSAS18001 (Occupational Health and Safety Management Certifi- cation, que em português significa Programa de Certificação para a Saúde e Segurança Ocupacional), que está sendo substituída pela norma ISO45001. A busca pela ISO9001 assemelha-se com a definição dos riscos e processos da organização como um todo, e busca do atendimento das necessidades dos clientes, A ISO45001 tratará dos riscos ocupacionais do negócio, diga de passagem, na área da saúde, são bastante comple- xos. Isso não inibe a instituição de buscar outras certificações, tais como a ISO14001 e a ISO27001, que também fazem sentido para o ramo do negócio citado, sendo, as pri- meiras, de maior expressão na área. A acreditação hospitalar trata de situações mais específicas do ramo de atu- ação na saúde, existem diversos padrões a nível mundial, e instituições nacionais também buscam seu atendimento. 44CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • ACI - Accreditation Canada International: braço internacional da Accreditation Cana- da, uma organização sem fins lucrativos dedicada a trabalhar para melhorar a qualidade dos serviços sociais e da saúde. A acreditação é denominada Qmentum International, sen- do composta por mais de 30 padrões específicos de serviços aplicáveis a diversos negó- cios na área da saúde (hospitais, clínicas, laboratórios), onde são avaliados atendimen- to clínico, administração e infraestrutura. Existem níveis de acreditação, Gold, Platinum and Diamond, sendo válidos por três anos. Os principais mercados são a Bélgica, Brasil, Itália, México, Filipinas e Emirados Árabes Unidos. • HIMSS - Healthcare Information and Management Systems Society: organização glo- bal, sem fins lucrativos, focada em melhorar a saúde através de meios de informação e tecnologia, liderando os esforços para otimizar os compromissos de saúde e os resulta- dos de cuidados, usando a tecnologia da informação, sendo uma das mais prestigiadas, acreditações hospitalares, dividida em 7 níveis, onde se destaca, em seu mais alto nível, a não-utilização de papéis no gerenciamento dos cuidados médicos do paciente e uso de data warehousing para analisar padrões de dados clínicos. • ONA - Organização Nacional de Acreditação: acreditação hospitalar de maior desta- que em nosso país, voltada para atestar a qualidade dos serviços de saúde com foco na segurança do paciente. A metodologia de avaliação é reconhecida pela ISQua (Interna- tional Society for Quality in Health Care), associação parceira da OMS, com representan- tes de instituições acadêmicas e organizações de saúde de mais de 100 países, contan- do com três níveis de certificação: ◊ acreditado (nível 1): atesta que a instituição atende aos critérios de segurança do pa- ciente, em todas as áreas de atividade, incluindo aspectos estruturais e assistenciais. Possui validade de dois anos; ◊ acreditado pleno (nível 2): acrescenta a gestão integrada com processos, ocorrendo de maneira fluída e possui plena comunicação entre as atividades. A validade é de dois anos; ◊ acreditado com excelência (nível 3): tem como princípio a excelência na gestão, acres- centando uma cultura organizacional de melhoria contínua, com maturidade institu- cional. Possui validade de três anos. CERTIFICAÇÃO AUTOMOTIVA Vista a complexidade dos produtos, as diferenças culturais e de gestão entre os diversos países e mercados, o custo e o potencial, em relação à segurança dos veículos, diferentes gru- pos automotivos criaram padrões específicos de exigências em relação à sua cadeia de forneci- mento, sendo que cada grupo, ou marca automotiva, tem um manual com requisitos próprios. Com o aumento da globalização, o foco no desenvolvimento de fornecedores robustos, e o fato de que grandes grupos acabam comprando outros para ganharem em especialização de produtos e escala de produção, a indústria automotiva se viu frente a uma infinidade de requisitos diferentes, e que precisavam ser atendidos, cada qual para clientes diferentes, em relação a produtos similares de mesmos fornecedores. 45CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Desde a década de 90, por iniciativa da indústria automotiva americana (na época, detinha os maiores grupos desse segmento), foi realizada uma norma que “unificava” vários requisitos, cabendo aos manuais específicos de cada montadora, algumas peculiaridades, marcando o início da QS 9000. Posteriormente, grupos europeus se uniram no mesmo intuito e, em conjunto com as associações americanas, desenvolveram o que, atualmente, está evoluído à norma IATF16949, cujo alguns detalhes já citamos e, por parte de grupos alemães, as normas VDA 6.x. Vista a complexidade e a extensão dos requisitos dessas normas, não nos atere- mos a discorrer sobre os mesmos, apenas alguns comentários: • IATF16949: apesar de ser o maior e mais conhecido dos padrões automotivos, não é aceito por todos os grupos, principalmente os asiáticos. Essa norma segue a estrutura básica da ISO9001, na íntegra, fazendo menção ao seus requisitos em todos os momentos, incluindo detalhes específicos, ligados ao mercado automo- tivo, sendo uma norma mais prescritiva e somente aplicável a fornecedores au- tomotivos. Algumas empresas, desde indústrias a outros ramos de atuação, vêm criando padrões próprios, ou baseando suas práticas e metodologias na norma IATF16949, tamanha a robustez de critérios definidos e a segurança obtida no produto/serviço final, sendo uma referência em diversos mercados. • VDA 6.x: grupo de normas de sistemas de gestão desenvolvido pela associação automotiva alemã, compreendendo padrões para sistema de gestão, desenvol- vimento de fornecedores de produtos e serviços contínuos, desenvolvimento de fornecedores de produtos ocasionais (ferramental, por exmplo), padrões de au- ditoria e requisitos. As normas VDA 6.x são apresentadas como mais prescritivas e restritivas dos que a IATF16949, sendo a mais utilizada de todas a VDA 6.3. É um padrão de auditoria e desenvolvimento de fornecedor automotivo, adotado por diversos grupos, em concomitância com a certificação IATF16949. Além dis- so, várias adaptações para outros mercados e ramos de atuação existem, como por exemplo, o mercado de grandes confecções, etc. 46CERTIFICAÇÕESE AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO CERTIFICAÇÃO ALIMENTAR Como comentamos, argumentos para cada área tratar de seus interesses não faltam. Prati- camente, algo que faz parte da vida de todo ser humano é a questão da alimentação, tendo como grande argumento que, além de um ramo de negócio é também um dos precursores de benefícios ou complicadores da área da saúde, necessitando de padrões para sua execução. Sendo padrões bastante específicos, realizaremos apenas comentários gerais, pois seriam necessários estudos direcionados a fim de compreender seus requisitos. Na área da alimentação, existem padrões compulsórios (obrigatórios) a serem seguidos, padrões de boas práticas e padrões de certificação de sistemas de gestão. Cabe citar que conti- nuam válidos para os negócios, a ISO9001, a ISO14001 (com alto nível de relevância), e acres- centaremos a ISO17025, em virtude dos laboratórios. Comentaremos alguns dos padrões espe- cíficos da área da alimentação: • HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Point): em português, é traduzido como APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), consiste em um sistema de segurança, não certificável, para alimentos originados na década de 60, nos EUA, baseado na Análise dos Mo- dos e Efeitos de Falha, do inglês FMEA (veja só as ramificações da ferramenta). Esse sistema trata da segurança do alimento através de análises e controles químicos, físicos e biológicos, que vão desde a produção da matéria-prima até o produto acabado, criando um mecanismo de controle para proteger a saúde do consumidor. Padrão de adoção obrigatório pela indústria alimentícia do Brasil desde 1993, pela Portaria nº 1428/93, é baseado em sete princípios: ◊ princípio 01 - identificação e avaliação dos perigos - quais são os perigos que o alimento pode apresentar ao consumidor; ◊ princípio 02 - identificação dos pontos críticos de controle - pontos localizados no processo de produção, que são críticos para o controle do alimento; ◊ princípio 03 - estabelecimento dos limites críticos - limite crítico passível de mo- nitoramento, que defina a qualidade do alimento; ◊ princípio 04 - estabelecimento dos procedimentos de monitoração - inserir a ve- rificação dos limites críticos no processo; ◊ princípio 05 - estabelecimento das ações corretivas - ajustes necessários quando da verificação de eventual discrepância; ◊ princípio 06 - estabelecimento dos procedimentos de verificação - diferente- mente do monitoramento, essa etapa define o que precisa ser verificado, no sis- tema, para avaliar se tudo está sendo executado de forma correta (controle do processo e não do produto); ◊ princípio 07 - estabelecimento dos procedimentos de registro - definição de do- cumentação que deve incluir informações que comprovem o cumprimento de to- das as normas estabelecidas. 47CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO OBS.: todo o processo precisa ser monitorado, isso vai além da produção, precisa ser questionado e avaliada a manutenção, armaze- namento, logística, etc. • ABNT NBR 15635:2015 - Serviços de alimentação - Requisitos de boas práticas higiênico-sanitárias e controles operacionais essenciais: norma aplicável e não compulsória, que especifica os requisitos de boas práticas e dos controles operacionais es- senciais a serem seguidos por estabelecimentos de alimentação (bares, restaurantes, etc.), que desejam comprovar e documentar que produzem e servem alimentos em condições higiênico-sani- tárias adequadas para o consumo; • ISO22001: traz requisitos para um sistema de gestão completo à segurança na produção de alimentos, onde a organização preci- sa demonstrar sua capacidade de controlar os perigos relaciona- dos à segurança alimentar, garantindo um alimento seguro até o consumo humano, trazendo como um dos seus elementos man- datórios a avaliação do HACCP. Com essa norma, é necessária a verificação e adoção de normas complementares, chamadas de família ISO22000, tratando de assuntos como rastreabilidade, segurança na produção, pré-requisitos específicos à fabricação de alimentos, à agricultura, bem como diretrizes para organis- mos de auditoria e de certificação na norma ISO22001. CERTIFICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL Mais uma vez, ramos específicos de atividade requerem verificações com padrões específicos, garantindo um mínimo de coerência entre as práticas necessárias para o mercado em questão. No caso da construção civil, existe a sugestão da adoção e certificação na norma ISO9001, mas com o adendo de requisitos específicos. Essas certificações têm sido exigências de, por exemplo, instituições financeiras para fins de empréstimo e fomento de crédito imobiliário, somente financiam obras de construtoras que tenham tais certificações. De forma análoga a outros ramos de negócio, a construção civil tem seus produtos ligados tanto à moradia como às estruturas de saneamento, malha viária, contenção de recursos naturais, etc., portanto, estão no nosso entorno e fazem parte da vida diária da grande maioria das pessoas. As certificações, na área da construção civil, buscam atestar responsabilidade, capacitação e qualidade em determinada área ou aspecto desse ramo de atuação, relacionando-as ao gerenciamento da qualidade, am- biental, gerenciamento de projetos, portfólios e programas, visto que a área é responsável por grande parte da geração de resíduos, consumo de energia e água em nossa sociedade, criando a necessidade de incentivar e realizar mudanças no setor, visando que as construções fossem mais sustentáveis, fomentando a preservação e racionalização dos recursos naturais, minimizando os impactos pela mesma causada, sendo que boa parte da mão de obra é tida como de baixa competência, formação e conhecimento. Por conta da maior representatividade, visibilidade e confiabilidade consequentes de uma certificação, a relação com o cliente é melhorada, reduzindo a necessidade de investimento em propagandas e marketing, trans- parecendo uma organização preocupada com questões que vão desde a parte de requisitos desse cliente, passando pelo cuidado com seus processos, eficiência, sustentabilidade, continuidade do negócio e gestão como um todo. 48CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Algumas das principais certificações na área da construção civil: • leed: sigla para Leadership in Energy and Environmental Design, em português, Liderança em Energia e Projetos Ambientais, sendo cer- tificação destinada a todos os tipos de edificações, podendo ser apli- cada a qualquer fase e momento, analisando oito dimensões: ◊ localização e sua influência no transporte e deslocamento; ◊ espaço sustentável; ◊ eficiência na utilização da água; ◊ energia e atmosfera; ◊ tipos de materiais e recursos utilizados; ◊ qualidade ambiental interna do empreendimento; ◊ inovação e processos; ◊ créditos de prioridade regional. 49CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Em cada uma existem determinados pré-requisitos e créditos, sendo, os primei- ros, obrigatórios e, os demais, apenas recomendados, resultando em pontos à edificação, variando de 40 a 110, logo, quanto maior a pontuação, maior será o nível da certificação, passando por Certificado, Silver, Gold e Platinum, que podem variar de acordo com o em- preendimento (novas construções, design de interiores, edificações existentes, etc.); • aqua: sigla para Alta Qualidade Ambiental da Edificação, desenvolvida a partir da certificação francesa HQE, com foco na gestão completa do projeto, visando obter alta qualidade ambiental, desde a elaboração do empreendimento até sua constru- ção. É necessário que exista um Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE), en- volvendo aspectos como planejamento, operacionalização e controle de todas as etapas que integram o desenvolvimento de um empreendimento, avaliando dife- rentes categorias de preocupação com a qualidade ambiental: • BREEAM: sigla para Building ResearchEstablishment Environmental Assessment Method (Méto- do de Avaliação Ambiental de Estabelecimento de Pesquisa de Edificações), sendo a certifi- cação presente em diversos países e empreendimentos, que realiza uma pesquisa para iden- tificar se o projeto foi desenvolvido de forma sustentável, categorizando o empreendimento em categorias que vão passando por Pass, Good, Very Good, Excellent e Outstandind, verificando: ◊ sítio/local; ◊ componentes; ◊ canteiro de obras; ◊ energia; ◊ água; ◊ resíduos; ◊ conservação e manutenção; ◊ conforto hidrotérmico; ◊ conforto acústico; ◊ conforto visual; ◊ conforto olfativo; ◊ qualidade dos espaços; ◊ qualidade do ar; ◊ qualidade da água. ◊ saúde e bem-estar; ◊ energia; ◊ inovação; ◊ materiais; ◊ gestão; ◊ uso da terra; ◊ poluição; ◊ resíduos; ◊ água; ◊ transporte. • PBQP-H: Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat. Dentre todas, é a mais recorrente e buscada, vista a exigência por instituições financeiras, garantindo a qualidade das construções, definida por meio de um sistema de gestão da qualidade espe- cífico, elaborado à construção civil, suplementares aos requisitos da ISO9001 (sendo sua certificação concomitante), incluindo: ◊ concepção e status dos empreendimentos; ◊ método de planejamento da obra; ◊ critérios para compra, contratação, homologação e armazenamento de materiais. 50CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS Tão ou mais vasta que a área de certificações de sistemas, a área de cer- tificação de produtos, como o próprio nome sugere, visa determinar critérios para aprovação dos mais diversos produtos, que são inúmeros. Muitos produtos possuem certificação compulsória, tais como eletrodomésticos, para-choques de veículos rebocados, brinquedos, etc. Dessa forma, o mercado protege fa- bricantes que visam atender requisitos tidos como mínimos para atendimento das necessidades costumeiras de usuários diretos e indiretos desses produtos, principalmente quanto à segurança de seu uso, mas não limitada a isso. Uma lista com a possibilidade de todos os produtos, que exigem cer- tificação compulsória e suas normas, é algo totalmente impraticável, por- que muitas normas e padrões estão disponíveis em diferentes institutos de acreditação. Muitas vezes, você olha um produto eletroeletrônico e existe um escrito do tipo “CE”, identificando que o produto tem certificação para venda no mercado europeu, sendo que outros países aceitam essa certifica- ção para entrada no seu mercado, sem requerer certificação local adicional. Em outro exemplo, máquinas operatrizes, certificadas no mercado europeu, não atendem todos os requisitos da nossa NR-12, que é bastante restritiva e não faz menção a um único tipo ou grupo de produtos, mas a uma vastidão. Esses são somente alguns exemplos, imagine a infindável listagem possível (ou quase impossível) de ser feita! 51CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Verifique nas associações de classes relativas às empresas do produto, se existe certificação compul- sória para o mesmo, mas nem sempre isso é suficiente. Às vezes, um produto nem consegue ser registrado para venda se não obtiver uma certificação. Em outros momentos, o mercado não requer tal certificação, mas um cliente, em específico, sim. Em outra situação, existe a obrigação de certificação para venda de um produto em um mercado e, em outro, não (no Brasil, existe certificação para brinquedos e, em alguns mercados internacionais, não está disponível). Em outras hipóteses, a certificação não é compulsória, mas é um atrativo para convencer clientes mais exigentes. A ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, é o principal emissor de normas para produtos no Brasil, mas não é a única disponível. Observe a lista de algumas categorias de produtos que possuem normas para certificação junto a esse organismo, sendo que nem todos são compulsórios, mas pelo menos disponíveis. Mobiliário corporativo: • divisória tipo painel; • divisória tipo piso-teto; • móveis para teleatendimento; • colchão de espuma; • colchão de molas. • cadeiras de escritório; • assentos para espectadores; • assentos múltiplos; • sofás; • assentos plásticos para eventos esportivos; • cadeiras e mesas para conjunto aluno individual; • berços; • cadeira alta de alimentação; • cadeira plástica monobloco; • mesas; • armários e gaveteiros; • estações de trabalho; • cimento; • tijolos; • argamassas; • tintas; • bloco, piso, telhas de concreto; • metais sanitários; • chapa de gesso drywall; • produtos de fibrocimento; • esquadrias; • porta de madeira; • fechadura; • telhas e painéis termoacústicos. Construção civil: Aços para construção: • barras e fios de aço destinados a armaduras para concreto armado; • tubos de aço-carbono para usos comuns e tubos de aço-carbono para usos em altas temperaturas; 52CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • armaduras treliçadas eletrossoldadas; • tela de aço soldada; • conexões de ferro fundido maleável para condução de fluidos; • telhas de aço revestidas, de seção ondulada ou trapezoidal; • cabos de aço para uso geral. Proteção contra incêndio: • portas corta-fogo; • sprinklers; • extintores de incêndio; • pó para extinção de incêndio; • mangueiras de incêndio; • barras antipânico; • líquido gerador de espuma; • sistemas de extinção; • hidrantes; • proteção passiva; • esguichos de jato regulável para combate a incêndio. Equipamentos de segurança: • Equipamentos de Proteção Individual; • sinalização de segurança; • caldeiras e vasos de pressão; • recipiente transportável para GLP; • reguladores de baixa pressão para GLP; • componentes do sistema de gás natural veicular; • discos abrasivos; • salas-cofre; • conforto do calçado; • sacolas plásticas; • copos descartáveis; • vidro temperado; • escada doméstica metálica; • panelas metálicas; • sala de vídeo conferência; • óculos de sol; • saco de lixo; • artigos para festa; • defensas metálicas. Produtos eletroeletrônicos: • segurança de aparelhos eletrodomésticos e similares; • potência sonora de produtos eletrodomésticos; • ventiladores; • fornos de micro-ondas; • fogões e fornos a gás de uso doméstico; • fornos elétricos comerciais; • equipamentos para atmosfera explosiva; • equipamentos de aquecimento solar de água; • equipamentos para consumo de água; • centrifugas; • luminárias e lâmpadas LED. 53CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Componentes automotivos: • Agente Redutor Líquido de Nox Automotivo - ARLA 32; • amortecedores da suspenção; • baterias de chumbo-ácido; • buzina utilizada em veículos rodoviários automotores; • cabo de ignição automotivo; • componentes automotivos de motocicletas, motonetas, ci- clomotores, triciclos e quadriciclos; • componentes de bicicleta; • eixo veicular; • lâmpadas para veículos automotivos; • líquidos para freios hidráulicos para veículos automotores; • materiais de atrito destinados ao uso, em freios de veícu- los automotivos; • placas de identificação de veículos; • pneus de bicicletas de uso adulto; • pneus novos; • rodas automotivas; • terminais de baterias; • terminais de direção, barras de direção, barras de ligação e ter- minais axiais; • velas de ignição automotiva; • vidro de segurança de veículo rodoviário. Imagine uma listagem completa de todas as normas referentes a esses produtos e seus eventuais desdobramentos, pois não raras são às vezes que uma norma solicitará avaliação de pontos específicos de outra, assim por diante. O profissional da área precisa fazer uma bela pesquisa direcionada, mas essa listagem já deve ser um bom ponto de partida. SÍNTESE Nesse capítulo, verificamos que, além das normas gerais de sis- temas de gestão, existem outras normas específicas para sistemas de ramos de atuação individuais, que suplementam alguns requisitos a fim de serem mais direcionadas.Verificamos que existe uma infinidade de normas específicas para produtos, algumas compulsórias, outras não, essas normas de- pendem do mercado de atuação onde o produto está inserido. 54CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. As normas automotivas são de adoção livre? 2. Que tipos de laboratórios precisam ou não serem certificados na ISO17025? 3. Quais são as normas de ação obrigatória na área hospitalar? 4. Como funciona a certificação alimentar HACCP? 5. O produto que você utiliza mais, no seu dia a dia, é qual? Já verificou se ele possui alguma certificação? 55 PROCESSO DE AUDITORIA E CERTIFICAÇÃO Como funciona o processo de auditoria? Como funciona a certificação? Os dois são obrigatórios? 56CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Existem diferenças bastante contundentes entre o processo de auditoria e o processo de certificação. Uma au- ditoria pode ser executada por pessoa interna, qualificada da empresa, ou ainda, por pessoa externa, por cliente, por organismo certificador a qualquer momento que se desejar. A certificação é um outro processo, que inclui uma auditoria mandatória por organismo certificador, avaliando o Sistema de Gestão, definindo a sua certificação. São situações distintas uma da outra. PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO Interessante esclarecer algo que era muito comum, há al- guns anos, no mercado brasileiro, a questão do organismo sig- natário, ou acreditador, que chancelava o “Selo” do certificado. A grande maioria das empresas, atualmente, requerem certificados validados pelo INMETRO, mas houve um tempo onde, para forne- cer para algumas multinacionais, as empresas precisavam reque- rer certificados validados por organismos acreditadores interna- cionais (UKAS, ANAB, RVA, etc.), algo que vem caindo em desuso, no entanto, esse é um detalhe importante a ser observado, se o fornecimento de determinado produto, ou serviço, só possa ser feito por empresa certificada, e se é necessário que o certificado seja acreditado por um organismo específico. O organismo acreditador, com base em uma outra norma, a ISO/IEC 17021, avalia e credencia organismos para realizar a certificação das empresas sob sua tutela. No site do Inmetro, é possível verificar quais são os organismos certificadores acredi- tados e sua situação, basta acessar http://www.inmetro.gov.br/ organismos/ e escolher o tipo de certificação que deseja consultar (por exemplo, Sistemas de Gestão da Qualidade – OCS, Sistemas de Gestão Ambiental – OCA, etc.). http://www.inmetro.gov.br/organismos/ http://www.inmetro.gov.br/organismos/ 57CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Para ficar bem claro, quando necessária uma certificação, você precisa entrar em contato com um organismo certificador que seja acreditado por um dos organismos sig- natários da ISO. A dica é dar preferência àqueles organismos que possuam escritórios, representantes, ou atendam costumeiramente a cidade ou região onde está instalado o negócio. Verificados os organismos certificadores, você pode solicitar uma cotação co- mercial de custos para realização do processo de certificação que, normalmente, incluirão uma análise primária do ramo de atuação da empresa, perfil da mesma (porte, número de funcionários), tipo de certificação (norma) e selo acreditador necessário. O organismo lhe enviará uma proposta que, normalmente, inclui a parte burocrática da certificação (regis- tro, emissão de certificado, etc.), valores para auditorias (baseado em número de auditores e horas necessárias conforme padrões estipulados pelo Acreditador), plano de auditorias periódicas e, eventualmente, algum outro produto específico oferecido pelo organismo. Verifique se existem e quais custos adicionais para eventual deslocamento de auditor, au- ditorias extras, e se o mercado (ou principais clientes) onde sua empresa atua faz alguma distinção de certificado emitido por algum organismo ou acreditador em específico. Definido o organismo certificador, começa o processo de certificação, sendo que isso não significa que, ao final, a empresa estará certificada. Normalmente, a grande par- te dos organismos separam o processo em etapas distintas (que podem ser normalmen- te realizadas conjuntamente, conforme negociação), que incluem um questionário mais aprofundado sobre a situação do sistema de gestão da empresa, incluindo o fato de ve- rificar se já houve certificado anterior, nível de conhecimento e maturidade da empresa para com o sistema de gestão, detalhes sobre quantidade de processos da empresa, etc. Iniciamos uma segunda etapa chamada de auditoria documental, onde haverá uma ve- rificação mais aprofundada na documentação e situação das sistemáticas da empresa. Essa auditoria pode ser realizada (dependendo do organismo) de maneira remota, enviando uma cópia de documentos corriqueiros básicos da empresa (usualmente, Manual do Sistema de Gestão e procedimentos de alto nível, tudo de acordo com o que for aplicável). Essa auditoria tem como principal objetivo verificar se há grandes discrepâncias documentais entre o siste- ma de gestão da empresa e os requisitos da norma e, conforme o nível de conhecimento sobre sistemas de gestão da empresa e do processo de auditoria, essa etapa pode ser realizada jun- tamente com a próxima. Precisa ficar bem claro que essa auditoria pode gerar a necessidade de adequações que precisam ser realizadas antes da próxima etapa. Na terceira etapa do processo, acontece o que normalmente é chamado de auditoria ini- cial, onde o sistema de gestão, como um todo, será avaliado (por amostragem, obviamente) costumeiramente in loco (precisa ser feito dentro das instalações da empresa). Ao final dessa terceira etapa, o resultado define a certificação da empresa, se o certificado é emitido ou se são necessárias adequações e nova verificação (chamada de auditoria extra, de acompanhamento ou follow up, a qual tem custo à parte estipulada em contrato com a certificadora) à posterior emissão do certificado, o sistema não foi aprovado e precisa de ajustes para assim o ser. Existe uma periodicidade para que sejam realizadas as chamadas auditorias de ma- nutenção ou periódicas, onde, normalmente, a amostragem necessária de verificação é um pouco menor, e o sistema não precisa ser avaliado por completo. Algumas empresas optam por auditorias periódicas semestrais, outras (o mais comum, conforme porte da 58CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO organização) por periódicas anuais. Costumeiramente, esse ciclo engloba três anos entre certificação e manutenção, e a validade do certificado é atrelada ao mesmo. Fechado esse ciclo, a renovação do certificado (na verdade nova emissão) é denominada auditoria de re- certificação, que iniciará o ciclo novamente. Durante as auditorias, serão realizados apontamentos que configurarão um re- latório contendo uma série de anotações obrigatórias, outras relativas a padrões in- ternos definidos pela certificadora e os apontamentos de auditoria. Existem certas diferenças entre nomenclaturas e padrões de apontamentos, mas são divididos em 3 comumente adotados: • não-conformidade maior – significa uma discrepância do sistema de gestão em relação à norma (sistema da empresa trata de forma equivocada o item), rompi- mento de um item (a empresa simplesmente deixou de atender o item), não aten- dimento do item (a empresa não atende a um determinado item normativo), ou a repetição de uma não-conformidade menor (entendendo que o problema é sistê- mico, portanto, ruptura do sistema). A configuração desse tipo de apontamento inibe a certificação, gerando necessidade de resposta formal ao organismo certi- ficador (chamada ação corretiva), auditoria de acompanhamento e, caso o pro- blema persista, a decisão pela não certificação, ou cancelamento de certificado, sendo a situação mais indesejada; • não-conformidade menor – falha pontual do sistema,não atendendo parcialmente um item/requisito, ou discrepância entre método definido pela empresa e sua prá- tica usual baseada na amostragem realizada. O aparecimento desse item não inibe/ cancela a certificação, mas requer uma resposta formal ao organismo certificador (chamada ação corretiva), a qual será novamente avaliada na auditoria seguinte. A repetição desse tipo de apontamento configura uma não-conformidade maior; 59CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • observação – como o próprio nome sugere, não se configura como uma não-con- formidade, mas aponta uma possível falha no sistema que necessita de atenção, mas não é necessária e obrigatória resposta formal. Sempre se sugere análise sobre a mesma e eventual tratativa (chamada ação preventiva). Não existe nú- mero de repetições de uma observação que configure uma não-conformidade e a avaliação da sua repetição pelo organismo certificador não é necessária. Outros apontamentos que a prática de mercado tem demonstrado: • oportunidade de melhoria – alguns organismos certificadores apontam si- tuações que se configuram oportunidades, onde o sistema pode ser melhora- do ou evoluído. Esse apontamento, por vezes, é controverso, pois não é uma observação e tampouco uma não-conformidade, sendo entendido por alguns como tentativas de interferências do organismo certificador, ou do auditor no sistema de gestão, mas em auditorias internas são um bom ponto de avaliação; • esforço digno de nota – uma espécie de congratulação à prática adotada ou elogio, deferida quando se verifica uma metodologia utilizada diferencia- da em termos de mercado, ou considerada como “prática de excelência”, algo que a empresa costuma fazer, que supere as expetativas em termos de sistema de gestão. Essa prática tem caído em desuso por organismos certi- ficadores, a prática demonstra uma preocupação exacerbada na busca desse tipo de apontamento que, quando não acontece, gera insatisfação e discus- são sobre o porquê não foi apontado. Um fato importante a comentar, por uma questão de denúncia de prática irregular, ou qual- quer situação que o valha, o organismo certificador pode requerer, junto à empresa, algum tipo de explicação, avaliação e, em casos extremos, cassação do certificado, situações que não são comuns, mas importante que se conheçam. De modo semelhante, o organismo acreditador realiza audito- rias periódicas nos organismos certificadores, podendo ser denunciados ao acreditar por prática ilícita, ou interferências no mercado (já houve casos em que havia suspeitas de que os organismos certificadores não realizavam o processo corretamente e simplesmente “vendiam” a certificação). Para finalizar, um certificado emitido por organismo certificador válido, e chancelado por organismo acreditar válido possuir um número de rastreio verificável, e validade pressuposta no mundo todo (desde que o organismo acreditador seja “reconhecido” no local em questão), sendo que os organismos certificadores costumam oferecer uma versão em linguagem reconhecida in- ternacionalmente (normalmente em inglês) do certificado da empresa, ou em linguagem à esco- lha/necessidade (por exemplo, em espanhol, francês, italiano). 60CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO AUTODECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE: o processo de certificação pode ser uma es- colha de uma organização para demonstrar ou transparecer aos seus clientes e mercados, que cumprem requisitos e possuem processos, sistemas (de maneira equivocada, produ- tos). Muitas certificações acontecem por vontade própria, mas por imposição do mercado de atuação ou dos clientes, que esperam uma “chancela” de terceiros, comprovando que realmente o sistema da empresa está de acordo com requisitos. Ainda que, a maioria das empresas que escolheram a rota da conformidade com as normas ISSO, achem que a implementação de sistemas de gestão vale a pena, organizações de todos os tamanhos e em todas as partes do mundo estão chegando à conclusão de que o processo de manutenção da certificação externa é caro demais e não tem gerado benefícios, compreendendo que as auditorias dos organismos certificadores estão repletas de burocra- cia e não estão agregando qualquer valor intrínseco aos negócios. Cada vez mais, empresas estão abandonando essas certificações, sendo que o número está aumentando à medida que as versões revisadas das normas serão publicadas. Algumas empresas entenderam que querem um sistema de gestão que lhes proporcio- ne benefícios, conforme comentamos, que realmente a sistematização produza melhores controles, buscando por metodologias e sistemáticas que proporcionem maior segurança, eficiência e, ainda, seus mercados ou clientes não exigem a certificação formal, mas um processo de confiança no atendimento de requisitos e na eventual necessidade de resposta forma a algum problema. Para esses casos, existe outro processo, um tanto desconhecido por alguns, chamado de autodeclaração de conformidade, denominada Declaração de Con- formidade de Fornecedor (SDoC – Supplier’s Declaration of Conformity). A autodeclaração de conformidade é tratada, nas normas internacionais (inclusive com versões em português pela ABNT) ISO/IEC 17050:2004-1 (fornece requisitos gerais para a declaração de conformidade do fornecedor) e ISO/IEC 17050:2004-2 (especifica requisitos para a documentação de apoio para suportar a SDoC). Essa perspectiva de autodeclaração começa a ser descrita nas normas ISO, como por exemplo, a ISO14001, que reconhece como uma opção viável para muitas organizações. O item 0.5 da norma, comenta: “Essa norma contém os requisitos usados para avaliar a conformidade. Qualquer organização que pre- tenda demonstrar conformidade com essa norma, pode fazer isso ao (...) fazer uma autoa- valiação e autodeclaração, ou (…) buscar uma confirmação de sua autodeclaração por uma parte externa à organização (…)”. Primeiramente, precisa ser um processo de total confiança e transparência da organi- zação, pois existe o benefício de um custo menor, visto que não é necessário contratar um organismo certificador, mas isso não significa que o processo interno da empresa seja fa- cilitado ou mais brando. Na verdade, o processo de implementação dos requisitos normati- vos, documentação, auditorias internas, coleta de evidências objetivas, análise crítica, etc., é tudo igual, não muda nada, somente não acontece a auditoria externa. Após a implementação dos requisitos normativos da norma escolhida, é necessário analisar a norma ISO/IEC 17050 para definir como realizar a declaração, que conta com a emissão de um documento formal da organização assinada pelos responsáveis da empresa e cabe a ela disseminar esse fato entre suas partes interessadas, definindo como demonstra- rão sua questão de adequação e conformidade para com os requisitos normativos. 61CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Lembre-se, a certificação não é garantia de bons produtos e processos, mas uma sistemática que trata essas questões. A organização não está livre de eventuais problemas com seus produtos/serviços/processos, mas os trata com metodologias apropriadas para tal. Do mesmo modo, a organização não está li- vre de uma eventual sansão legal por descumprimento de algum requisito es- tatutário ou regulamentar, isso independe de certificação, nos casos possíveis, uma opção interessante e viável. FORMAÇÃO DE AUDITOR Nesse material, não visamos a “formação” de auditores, uma instituição acadêmica não costu- ma ser um organismo certificador de normas, portanto, não trataremos por base nessa alcunha, visto que cursos de “formação” de auditores existem, sendo ministrados pelas mais diferentes institui- ções, organismos, consultorias, etc. e, dependendo da norma em questão, ou de requisitos de cliente, faz-se necessária a comprovação de registro no IRCA (International Register of Certificated Auditors ou Registro Internacionalde Auditores Certificados), o qual permite essa concessão somente para cursos ministrados por organismos certificadores. O registro tem validade mundial, mas como mencionado, para realizar uma auditoria, esse registro somente se torna obrigatório se for um requisito específico. Algumas normas definem somente um representante para formar auditores válidos, obrigan- do as empresas certificadas, em tais normas, a terem auditores internos formados por esses repre- sentantes, por exemplo, da IATF, que define que somente auditores formados, em um determinado curso específico, são aceitos. É uma obrigação da empresa ter uma pessoa com essa formação, inde- pendentemente do curso realizado e conhecimento, é necessário realizar curso e registro por uma entidade específica para ser aceitável. No caso das normas ISO9001, 14001, 27001 e 45001 não existe, até o momento, a obrigatorie- dade de formação em um organismo específico para ser considerado auditor dentro de uma empre- sa, mas os organismos certificadores dessas normas, por prestarem serviço formal de realização de auditoria e certificação, precisam de auditores formados com registro no IRCA para validarem o resultado de seus auditores pelos organismos signatários da ISO (no caso do Brasil, o INMETRO), chamados de organismos “acreditadores”. 62CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Para fins de formação acadêmica, e conhecimento pessoal, esse material será bastante rico e pode ser utilizado como fonte de pesquisa na eventualidade de atividade profissional ligada à certificação/auditoria. Sugerimos, como dica de currículo para o profissional da área que, dentro das suas possibilidades, busque realizar curso de for- mação de auditor com bons profissionais e, se caso desejar e precisar, busque curso de formação de auditor líder (chamado Lead Acessor) com certificado reconhecido no IRCA. A formação do auditor é baseada em três momentos, que não necessariamente precisa acontecer nessa ordem, sendo que o primeiro é o conhecimento do processo de auditoria formal, como se portar, o que fazer, como proceder, o que anotar, o que apontar, como apontar. Esse conhecimento é importante pois funciona de maneira muito similar com as certificações e processos das mais diversas normas de sistemas de gestão. O segundo, um pouco mais específico, é o conhecimento normativo, conhe- cer a(s) norma(s) com a(s) qual(is) se almeja realizar o trabalho, sendo sugerida uma leitura própria da norma, após essa leitura, uma verificação nos detalhes e comentá- rios sobre interpretação, gerando senso crítico, deverá ser feita. O terceiro é o conhe- cimento mais específico, é a verificação ou aplicação desse conhecimento em situações práticas, proporcionando um conhecimento próprio dos requisitos, despertando à sua maneira de “pensar” a norma em questão. Por mais exemplos que se passem, que se leiam, nenhum deles abordará, na íntegra, a melhor prática para a situação própria e específica que estará em contato, práticas de mercado são as mais diversas, mas não supera a quantidade de sistemas e maneiras de adaptar essas práticas para eles. 63CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Desse modo, queremos dizer que o bom auditor não se forma com um sim- ples curso (por mais complexo que seja) que lhe proporcionará um certificado válido, a atividade de auditoria requer muito conhecimento de causa, observação, experiência, leitura, interpretação, verificações e, acima de tudo, bom senso. Um último apontamento válido é em relação à atividade de “Auditor”. Veja bem, já colocamos como uma atividade, mas não necessariamente é uma pro- fissão. Existem empresas, negócios, situações em que a pessoa exerce a ativida- de de auditor, em alguns casos, o cargo da pessoa recebe essa mesma alcunha, mas não podemos dizer que é uma profissão bem definida, pois existe muita diversidade e disseminações das questões de auditoria, nos mais diversos âmbi- tos, sendo impossível regular com um modelo único. Outro ponto é o fato de, em muitas empresas e negócios, em virtude de seu porte e quantidade de tarefas, não existir volume de trabalho que justifique uma pessoa que exerça somente a atividade (ou cargo) de auditor. Claro que organismos certificadores, órgãos fiscalizadores e reguladores, grandes empresas, instituições e conglomerados podem se dar ao luxo e têm a necessidade de pessoas somente realizando essa tarefa. O mais normal é que a auditoria, principalmente de sistemas de gestão, seja encarada como uma das atividades de técnicos, engenheiros, analistas, etc. Com isso, queremos gerar um certo “cuidado” com a expectativa gerada por al- guma pesquisa, ou comentário visto em algum lugar sobre o assunto, pois SIM, existe essa atividade como profissão, mas o mais comum é que seja uma dentre as diversas atividades que você exercerá. PROCESSO DE AUDITORIA Atualmente, o processo de auditoria é realizado sob observação de uma norma, denominada ISO19011, analisaremos a terceira edição da mesma, datada de 2018. O fato da auditoria ser realizada com base em uma norma, tende a buscar uma padronização no seu processo, apesar de que algumas situações definidas são bastante genéricas, visto que o processo é personalizado, as etapas até são padronizadas, mas seu conteúdo é totalmente de acordo com a situação em verificação. 64CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Um esclarecimento é necessário, a palavra auditoria pode ter várias aplicações, existem auditorias fiscais, contábeis e outras que visam avaliar a saúde financeira ou a situação patrimonial e contábil de uma organização, por exemplo. Essas podem ser realizadas com base na norma ISO19011, mas nosso foco será tratar das audito- rias de sistemas de gestão. Mais uma vez reforçamos que não traremos a norma, na íntegra, a mesma é bastan- te extensa e tem diversas aplicações e nuances, mas comentaremos sobre os principais pontos. É importante salientar que a norma ISO19011, assim como as demais que verifi- camos, não é prescritiva, não define ou obriga como fazer, e sim sugere. A norma utiliza muito a palavra “convém” no seu conteúdo, sugere várias abordagens, mas não consegue obrigar a realizar o processo de forma única, podemos entender que tal norma “sugere” um processo paulatinamente organizado, mas não obrigatório. Claro que um organismo certificador precisa seguir os ditames da norma, mas à medida que demonstraremos seus requisitos, ficará claro que a maneira de atender aos mesmos é bastante diversa. Itens iniciais de 1 a 3 - Para fins de entendimento geral, a norma ISO19011 define os diferentes tipos de auditoria por nomenclatura, sendo: • auditoria de 1ª parte – a auditoria interna; • auditoria de 2ª parte – auditoria em fornecedor externo ou de cliente; • auditoria de 3ª parte – auditoria de certificação ou estatutária/regulamentar. Também deixa claro que os apontamentos de uma auditoria são conformidade ou não-con- formidade, apesar de poderem ser utilizados graus para sugerir a gravidade e outros apontamen- tos que ajudem a compreender melhor as verificações realizadas. Do mesmo modo, deixa claro que existem possibilidades de serem realizadas auditorias combinadas, em uma organização, com base em dois ou mais sistemas de gestão (duas ou mais normas), conceituando auditoria como “processo sistemático, independente e documentado para obter evidência objetiva, avaliando-a e objetivamente, para determinar a extensão na qual os critérios de auditoria são atendidos”. A norma possui um extenso glossário de termos utilizados comumente no mercado e em seu conteúdo, interessante ao profissional da área observá-lo em toda sua extensão para bem compre- ender os detalhes da norma, em relação à leitura completa, sem incorrer em riscos de má interpre- tação ou entendimento, o que pode acarretar em eventual equívoco na aplicação dos seus conceitos. Item 4 – Princípios de auditoria: são definidosos sete princípios que devem ser seguidos como pré-requisitos, quando da execução de uma auditoria, todos baseados na característica de confiança, tornando a auditoria eficaz. a. Integridade: profissionalismo, definindo a necessidade de realização de trabalho ético, ho- nesto, responsável, que somente sejam realizadas atividades de auditoria por profissionais competentes para isso, de maneira imparcial. b. Apresentação justa: reportar com veracidade e exatidão as constatações de auditoria, re- portando quaisquer divergências não resolvidas. 65CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO c. Devido cuidado profissional: diligência e julgamento em auditoria, sendo pon- derados durante a execução. d. Confidencialidade: segurança de informação, protegendo as informações obti- das para que não seja usada de forma inapropriada. e. Independência: objetividade das conclusões, utilizando auditores independen- tes da atividade que está sendo auditada. f. Abordagem baseada em evidência: o método racional, baseada em amostras de informações disponíveis, visto que acontece durante um período finito e com re- cursos limitados. g. Abordagem baseada em risco: considerar riscos e oportunidades que influen- ciem substancial e significativamente para o cliente. Item 5 – Gerenciando um programa de auditoria: a definição de um programa de auditoria precisa ser realizada por pessoa competente para tal e baseada no tamanho e natureza do auditado, assim como na natureza, funcionalidade, complexidade, tipo de riscos e oportunidades e nível de maturidade do sistema de gestão. No caso de haver muitas atividades terceirizadas, é necessário avaliar a necessidade de estender a audito- ria para essas atividades, quando não houver possibilidade de avaliar seus resultados e influência sobre o sistema de forma coerente. O programa (ou planejamento da audito- ria) deve conter as seguintes informações (dentro da medida do necessário e coerente): a. objetivos (verificação do sistema, de um produto/serviço); b. riscos e oportunidades associados ao programa de auditoria (provável necessidade de recur- sos adicionais, extensão de prazo, atendimento cronograma); c. escopo (extensão, limites, locais); d. agendamento (data/duração); e. tipos de auditoria (interna ou externa); f. critérios de auditoria (busca de um resultado específico, de conformidade, etc.); g. métodos de auditoria a serem empregados (amostragem/verificação total/verificação local/ realização remota/necessidade de acompanhante); h. critérios para selecionar membros de equipe (qualificação necessária, conhecimento, certi- ficação mínima, necessidade de especialista externo); i. informação documentada pertinente (manuais, critérios específicos, normas de apoio). Após a definição do programa, deve-se buscar, dentro da medida da coerência, ajustar eventu- ais inconveniências entre as partes (datas, horários, recursos) para implementar o programa, sem- pre transparecendo as informações, estabelecendo comunicação eficaz (entendimento de ambas as partes). Esse programa/plano de auditoria precisa ser documentado e podem ser separados em di- ferentes partes, desde que cobertos todos os critérios mencionados, quando aplicáveis e coerentes. 66CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO O programa deve ser dividido entre a carga horária disponível e prevista e entre os eventuais componentes da equipe, privilegiando suas competências. Durante a execução, cabe a observação e busca pelo cumprimento do programa, o mais de acordo com o plane- jado possível, verificando, apontando e negociando fatos que gerem discrepâncias. Para fi- nalizar o programa, de acordo com a complexidade, pode-se recorrer ao preparo, ou uso de listas de verificação apropriadas para cada item a ser abordado, realizando uma prévia do que precisa ser avaliado em cada item. Ao final da auditoria, cabe ao auditor líder a responsabilidade de uma avaliação, mes- mo que informal, do programa de auditoria, verificando eventuais pontos onde o mesmo pode ser melhorado. Item 6 – Conduzindo uma auditoria: para iniciar uma auditoria, é interessante a re- alização de uma “reunião de abertura”, que deve contar com as pessoas chave e responsá- veis da parte do auditado, repassando o programa e seus pontos principais, apresentando a equipe, deixando claro critérios, horários, confirmações necessárias antes do início (deta- lhes, presença de observadores e especialistas, necessidades de recursos, etc.). Com a execução do programa de auditoria, deve-se observar ativamente seu cumpri- mento, o mais próximo do planejado possível, tomando ações de correção quando neces- sário. Como exemplo, podemos citar algum eventual atraso devido ao fato não previsto, e a necessidade de estender horário. Necessário observar que, fatalmente, em alguns momen- tos auditados, habilidosos podem criar situações chamadas de “técnicas de contra audito- ria, às vezes, são bem sutis e provocam eventuais inconvenientes ao planejamento. Algumas dicas sobre os principais desperdiçadores de tempo que necessitam de cuida- do e habilidade do auditor: • apresentações e introduções longas e repetidas; • ser conduzido a áreas distantes (isso deve ser previsto no tempo, otimizado, evi- tando vai e volta); • pausas para cafezinhos e refeições de forma repetida, ou muito longas; • conversa amigável sobre assuntos de interesse mútuo, desviando o foco; • pistas falsas e que não levam às conclusões ou documentos muito complexos e demo- rados de analisar; • detalhes não importantes, uma atenção ou minúcia desnecessária ao item; • aparição, não prevista, de pessoas importantes, parando a auditoria para tratar ou- tros assuntos. Outro fato comum é quando a auditoria é realizada em diversos lugares, simultane- amente, e por diversas pessoas, necessitando o apontamento de um auditor líder, que tem como função se comunicar, verificar o andamento e organizar a equipe, se preciso for, po- de-se combinar momentos específicos para pequenas reuniões rápidas à troca de informa- ções. Qualquer situação verificada, em desacordo, deve ser imediatamente reportada e ajus- tada, dentro do possível, com o auditado ou cliente, mantendo a integridade do programa. 67CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Extensão do envolvimento entre o auditor e o auditado Localização do auditor No local Remoto Interação humana Conduzir entrevistas. Preencher listas de verificação e questionários com a participação do auditado. Conduzir análise crítica docu- mental com a participação do au- ditado. Amostrar. Por meios de comunicação interativa: • conduzir entrevistas; • observar trabalho realizado com guia remoto; • preencher listas de verificação e questionários; • conduzir análise crítica docu- mental com a participação do auditado. Sem interação humana Conduzir análise crítica documen- tal (por exemplo, registros, análise de dados). Observar trabalho realizado. Conduzir visita no local. Preencher listas de verificação. Amostrar (por exemplo, produtos). Conduzir análise crítica documen- tal (por exemplo, registros, análise de dados). Observar o trabalho realizado por meios de monitoramento, consi- derando requisitos sociais, estatu- tários e regulamentares. Analisar dados. Atividades presenciais de auditoria são realizadas no local do auditado. Atividades de auditoria remota são realizadas em qualquer local que não o local do auditado, independentemente da distância. Atividades de auditoria interativa envolvem a interação entre o pessoal do auditado e a equipe da auditoria. Atividades de auditoria não interativa não envolvem interação humana com pessoas que representam o auditado, mas envolvem interação com o equipamento, facilities e documentação. Fonte: ISO 19011, 2018. Durante a execução, deve-se buscar o entendimento do ponto em específico, que está sendo auditado naquele momento, no siste- ma de gestão do auditado, solicitando a documentação baseque, o “direito” de comercialização e divulgação do texto completo da norma é de ex- clusividade da ABNT e, por esse motivo, não podemos trazê-lo, na íntegra, junto a esse material, sendo essa prática passível de ônus legais, que não nos impede de falar do tema e trazermos tre- chos comentados. Existem formas de se obter o texto na íntegra, uma delas é buscando, nos meios oficiais, a compra da norma de interesse, cuja cópia fica registrada em nome de quem adquiriu; a outra, é a procura nos mecanismos de busca por cópias do texto na íntegra, algo bastante comum e corriqueiro, porém, ilegal como comentado. O conteúdo desse material e seus comentários são ba- seados na experiência do autor com o assunto, não sendo uma posição oficial em relação à norma. A estrutura atual de capítulos, da grande parte das normas de sistemas de gestão da quali- dade, segue o chamado “Anexo SL”, uma espécie de protocolo para desenvolvimento de normas, uma “espinha dorsal” comum para que se possa ter uma melhor compreensão das diferenças e semelhanças entre os conteúdos de diferentes normas. Sua adoção é “encorajada”, mas não obri- gatória, do mesmo modo que pode haver diferenças entre organismos emissores de normas, no- ta-se que, pelo menos, as normas ISO referentes a sistemas de gestão têm seguido tais ditames. Atualmente, essa HSL (High Level Structure ou Estrutura de Alto Nível) é a seguinte: 1. escopo; 2. referências normativas; 3. termos e definições; 4. contexto da organização; 5. liderança; 6. planejamento; 7. apoio; 8. operação; 9. avaliação de desempenho; 10. melhoria. 7CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO A ideia é demonstrar como “ler” cada um desses capítulos nas normas, todos possuem alguma relevância, caso contrário, não esta- riam claramente definidos, no entanto, usualmente, trata-se dos ca- pítulo 4 a 10, onde estão localizados os requisitos chamados “auditá- veis”, os que são passíveis de algum tipo de verificação. Se tomarmos como exemplo a nossa ABNT NBR ISO 9001:2015, das 44 páginas que compõem a norma na sua totalidade, esses capítulos não respondem por metade dessas páginas. “Será que toda a outra metade da norma não possui nada de relevante ou necessário à sua compreensão?” Quero crer que, colocado dessa forma, devemos ter chamado uma certa atenção ao fato de que “Sim, deve existir algo relevante nessa outra parte do texto”, por isso, conheceremos toda essa estrutura, co- mentando alguns pontos necessários de atenção. Além dessa dica já citada, para bem aplicar ou avaliar um sistema, é necessário se aten- tar à norma como um todo, não somente naqueles pontos tidos como “principais”, que são os de conhecimento necessário, para um públi- co em geral, às vezes, focando no capítulo ou requisito mais aplicável a sua atividade, mas o profissional que trabalha com esses sistemas precisa de um conhecimento mais profundo e amplo. 8CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Entender como fazer essa leitura deixa apto o profissional que trabalha com essa par- te normativa a fazer o mesmo tipo de raciocínio com qualquer norma. Seria impraticável e contraproducente passar todas as normas que possuem estrutura semelhante, pois em todas as situações é necessário estar imerso no contexto em que será aplicada ou verifica- da a norma em questão. Queremos dizer que, para cada sistema, a aplicação dos requisitos normativos tem diferenças, às vezes mais sutis, outras vezes mais contundentes, mas não é equivocado dizer que não existem sistemas iguais, do mesmo modo, podemos dizer que não existem aplicações normativas e implementação de requisitos iguais, por mais que se saiba que existem práticas de mercado bastante equivocadas, onde “vende-se” implementação de sistemas. O profissional da área precisa estar ciente de que esse tipo de prática acarreta em alguns perigos e erros, tais como executar ou implantar práticas desnecessárias (tornando o sistema improdutivo e mais complexo do que necessita), fixar métodos de atendimento de requisitos “padrão” de mercado (o chamado “engessar o sistema, pois obriga a fazer algo que não é de prática da organização), ou ser omisso quanto a deixar de realizar algo que re- almente funcionaria em prol do sistema. É oportuno mencionar que o sistema de gestão da qualidade, que é o resultado da apli- cação de qualquer norma de sistema de gestão (pode ser qualidade ambiental, qualidade de segurança da informação, de qualidade na segurança do exercício profissional, de qualidade automotiva, etc.). Se entendermos dessa forma, o grande intuito da aplicação e implanta- ção de um sistema de gestão normatizado é efetivamente buscar meios de tornar tal siste- ma melhor, mais robusto, mais eficiente, mais seguro. Obviamente, será necessário algum formalismo em alguns aspectos, se antes não existiam. Verifica-se muito, em termos de mercado verdadeiros, “elefantes brancos”, sistemas extremamente complexos, aplicados a pequenas e simples organizações, do mesmo modo que o uso ou prática de sistemáticas que efetivamente não agregam nada para o sistema, somente criam uma burocracia desneces- sária e com pouco sentido. De maneira bem clara, não é redundante dizer que “Cada organi- zação tem UM Sistema, o mesmo é próprio, sendo assim, o sistema de gestão também tem que ser.” Obviamente que os famosos benchmarking, ou “verificação de boas práticas”, nos demais sistemas, é válido, mas como consulta, como forma de averiguar diferentes formas de fazer a mesma coisa, adaptando àquilo que for cabível e produtivo, sem copiar. 9CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Muito se fala de “pacotes fechados”, onde consultores “experientes vendem” uma certificação à empresa, na prática, se traduz em colocarem, como uma obrigação da organização, a utilização de procedimentos “templates”, onde modificam algum de- talhe ou, em certas vezes, simplesmente o “logotipo” da empresa. O interessante é que isso, na maioria das vezes, acaba realmente obtendo o certificado à empresa. E a conti- nuidade e manutenção disso? A empresa terá que ficar a vida toda à mercê dessa práti- ca e desse consultor? Que tipo de benefício a empresa está obtendo com essa situação, um “certificado na parede”, ou uma real melhoria nas suas práticas de gestão? Tão ou mais importante que isso, já se perguntaram, “o que as normas trazem nesse sentido? Para ficar bem claro, isso não quer dizer que todo o mercado age dessa forma e que isso acontece em todos os casos, existem ótimos e numerosos profissionais no ramo e que fazem um trabalho bastante sério, só queremos atentar para uma prática comum que o profissional da área precisa compreender, tomando uma posição contrária. Para sedimentarmos o que comentamos até agora, importante reiterarmos três conceitos que se juntam no objeto do nosso estudo: • sistema - segundo o dicionário Oxford, significa “conjunto de elementos interde- pendentes, de modo a formar um todo organizado”, um conjunto de componentes que se une para atingir um objetivo; • gestão - segundo o dicionário Michaelis, significa “ato de gerir ou administrar”, podemos entender como a administração dos recursos disponíveis; • qualidade - segundo Juran, é o “desempenho do produto que resulta em satisfação do clien- te”, quanto algo é adequado para atender às expectativas impostas ao mesmo. Se uníssemos os conceitos, de forma livre, poderíamos compreender que um Sistema de Gestão pela Qualidade (SGQ) é “um conjunto de elementos que são organizados a fim de atender às expectativas de seus clientes.” Mais uma vez, podemos reforçar o antes exposto, não existem sistemas de gestão iguais, pois são elementos diferentes para atender diferentes clientes. Ficou curioso? Tem algum conhecimento anterior sobre o assunto? Lembra dos conceitos prévios citados? Já imaginou alguma situação e quer compreender o que isso tudo quer dizer para ver se o conceito é aplicávelde de- finição (manual, procedimento, instrução, sistema), quando existir, lendo atentamente o que está escrito e comparando com o requisito normativo aplicável, pode-se ter uma cópia da norma ou apontamen- tos próprios para observar o item, mas a atenção é o principal nes- se momento. Após a leitura, realizar questões para entendimento da sistemática de forma geral, tirando eventuais dúvidas do que foi lido, sendo que, durante todo esse processo, é conveniente que se façam anotações sobre pontos chave a serem observados, pontos duvidosos, eventuais perguntas pertinentes. Findado esse processo, parte-se à indagação sobre as anotações realizadas, procurando verificar se a prática condiz com o que está pre- visto no sistema de gestão, anotando quaisquer situações. Nesse mo- mento, comparam-se registros, produtos, processos, serviços e situ- ações, a fim de averiguar a conformidade do sistema, confirmar se a execução está de acordo tanto com a norma em questão quanto com as definições da organização, reunindo a informação para formar o relató- rio de auditoria, anotando produtos verificados, códigos, nomes de pes- soas, numeração de documentos, datas. Nesse momento, o bom senso crítico e conhecimento da norma são os diferenciais. 68CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Algumas dicas para execução da investigação: • quebrar o “gelo” na primeira pergunta, diminui a tensão do auditado; • rastreabilidade, seguir um caminho de um documento do início ao fim; • ler, observar, ouvir e fazer as perguntas certas, sem rodeios; • amostragem de produtos, registros, documentos, de forma coerente e sem exageros; • boa comunicação com auditados, falar a linguagem corriqueira; • ir aos locais (abrir arquivos, gavetas, olhar os itens do meio e do fim em uma pilha); • observar e utilizar a comunicação não verbal, acelerando a compreensão; • pedir esclarecimentos, se não está entendendo, até ficar convencido; • uma pergunta a cada tempo, deixe o auditado responder; • “mostre-me” funciona muito e evita explicações vagas. Processo de coleta, análise e conclusão da auditoria Fonte de informação Coletando por meio de amostragem apropriada Evidência de auditoria Avaliando em relação aos critérios de auditoria Constatações de auditoria Analisando criticamente Conclusões de auditoria Fo n te : I SO 1 90 11 , 2 0 18 . 69CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Ao final da auditoria, cabe ao auditor líder a responsabilidade de juntar (às vezes, em um relatório preliminar) os apontamentos e anotações da equipe (res- ponsabilidade não significa que é preciso executar, às vezes, pode-se delegar parte da execução) e realizar a chamada “reunião de consenso com o auditado”, discu- tindo as anotações e apontamentos que serão apontados, no relatório da organiza- ção, com pessoa responsável. As constatações de auditoria devem ser avaliadas em relação aos critérios e obje- tivos, podendo indicar conformidade ou não-conformidade (em alguns lugares utili- zam a palavra inconformidade). Elas devem ser apoiadas em evidências objetivas que respaldem a decisão, sendo a maior fonte de discussão junto ao auditado, provando as conclusões da equipe de auditoria. Após reunião de consenso e formatação do relatório preliminar, convém que aconteça a “Reunião de Encerramento”, onde serão repassados os detalhes principais do plano, sendo confirmado o que efetivamente foi executado (de preferência, o pla- no, na íntegra); são apontados eventuais desvios no processo de auditoria, são con- firmados os critérios da auditoria novamente, sendo comentados os eventuais pontos não-conforme, brevemente. Essa não é uma reunião para discussão sobre os aponta- mentos, mas uma reunião informativa, após, serão comentados os resultados se, por exemplo, aprovado (recomendado à certificação), se necessária alguma resposta for- ma da empresa sobre algum apontamento, se necessária auditoria de follow-up, etc. O relatório final de auditoria deve ser preparado sob responsabilidade do auditor líder de forma exata, concisa e clara, referenciando os seguintes pontos: a. objetivos de auditoria; b. escopo de auditoria, particularmente a identificação da organização (o auditado) e as funções ou processos auditados; c. identificação do cliente de auditoria (se for o caso); d. identificação da equipe de auditoria e de participantes do auditado na auditoria; e. datas e locais onde as atividades de auditoria foram conduzidas; f. critérios de auditoria; g. constatações de auditoria e evidências relacionadas; h. conclusões de auditoria; i. uma declaração sobre o grau que os critérios de auditoria foram atendidos; j. quaisquer opiniões divergentes não resolvidas entre a equipe de auditoria e o auditado; k. auditorias por natureza são um exercício de amostragem, como tal, existe um risco de que a evidência de auditoria examinada não seja representativa. 70CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO O relatório de auditoria pode incluir, conforme apropriado: • plano de auditoria, incluindo agenda; • boas práticas identificadas; • uma declaração da natureza confidencial dos conteúdos; • quaisquer implicações para o programa de auditoria ou auditorias subsequentes. A auditoria somente se conclui quando todas as atividades do plano de auditoria tive- rem sido finalizadas, incluindo os apontamentos, pois conforme sua natureza, a resposta formal (existe tempo determinado) deve ser anexada para verificação em uma próxima au- ditoria, ou a execução de verificação suplementar e seus resultados e conclusões devem ser apontados, dentro de um prazo máximo acordado e de acordo com as regras estabelecidas pelo organismo acreditador. Item 7 – Competência e avaliação de auditores: independentemente de auditoria de 1ª, 2ª ou 3ª parte, deve haver um processo formal de avaliação da equipe auditora com base em seu comportamento pessoal e a capacidade para aplicar conhecimento e habilidades ob- tidos por meio de educação, experiência de trabalho, treinamento de auditor e experiência de auditoria. Algumas competências devem ser comuns entre os auditores (por exemplo, conhecimento na norma em questão) e outras podem ser específicas (conhecimento do pro- cesso, atividade, produto específico em questão). Essa avaliação deverá indicar a manuten- ção da equipe, necessidade de melhoria ou aprimoramento em alguma competência e outros apontamentos que forem convenientes a partir dessa. As determinações das competências necessárias, para formação da equipe auditora, devem considerar: a. tamanho, natureza, complexidade, produtos, serviços e processos de auditados; b. métodos para auditar; c. disciplinas do sistema de gestão a serem auditadas; d. complexidade e processos do sistema de gestão a serem auditados; e. tipos e níveis de riscos e oportunidades abordados pelo sistema de gestão; f. objetivos e extensão do programa de auditoria; g. incerteza de alcançar os objetivos de auditoria; h. outros requisitos, como aqueles impostos pelo cliente de auditoria ou outras partes in- teressadas pertinentes, onde apropriado. 71CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Quanto às competências de comportamento pessoal, a norma ISO19011 esta- belece os seguintes pontos a serem observados: a. ético, ser justo, verdadeiro, sincero, honesto e discreto; b. mente aberta, estar disposto a considerar ideias ou pontos de vista alternativos; c. diplomático, ser sensível ao lidar com pessoas; d. observador, observar ativamente o ambiente físico e as atividades; e. perceptivo, estar consciente e ser capaz de entender situações; f. versátil, ser capaz de prontamente se adaptar a diferentes situações; g. tenaz, ser persistente focado em alcançar objetivos; h. decisivo, ser capaz de alcançar conclusões, em tempo hábil, com base em racio- cínio lógico e análise; i. autoconfiante, ser capaz de agir e funcionar, independentemente, enquanto in- terage eficazmentecom outros; j. capaz de agir com firmeza, ser capaz de atuar responsavelmente e eticamente, mesmo que essas ações possam não ser sempre populares e possam resultar em desacordo ou confrontação; k. aberto a melhorias, ser disposto a aprender com situações; l. culturalmente sensível, ser observador e respeitoso com a cultura do auditado; m. colaborativo, interagir eficazmente com os outros, incluindo os membros da equipe de audito- ria e o pessoal do auditado. Quanto às competências técnicas, a norma sugere: a. princípios, processos e métodos de auditoria: conhecimento e habilidades possibilitam o au- ditor a assegurar que as auditorias sejam desempenhadas de maneira coerente e sistemática; b. normas de sistema de gestão e outras referências: conhecimento e habilidades possibilitam o auditor a entender o escopo da auditoria e aplicar critérios de auditoria; c. a organização e seu contexto: conhecimento e habilidades possibilitam o auditor a entender a estrutura, propósito e práticas de gestão do auditado; d. requisitos regulamentares e estatutários aplicáveis e outros requisitos: conhecimento e ha- bilidades possibilitam o auditor a estar consciente, trabalhando de acordo com os requisitos da organização; e. aplicação de métodos, técnicas, processos e práticas de disciplina e de setor específicos para possibilitar a equipe de auditoria a avaliar a conformidade no escopo de auditoria estabele- cido e gerar constatações e conclusões de auditoria apropriadas. 72CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Deve ser estabelecido um método formal, com resultados documentados da avalição de auditores que rea- lizaram a auditoria. Essa avaliação deve fazer parte, por exemplo, dos registros realizados de auditoria interna. Comentários adicionais - Alguns pontos adicionais a serem explorados: a. amostragem: durante o relato do processo de auditoria, comentamos que ela é realizada por amos- tragem, dentre os produtos, processos, documentos, pessoas, registros e fatos dentro e ligados a um sistema de gestão, serão escolhidos alguns às verificações, pois é impraticável verificar 100% de todos os citados. Essa amostragem tem que ser significativa para que os resultados sejam represen- tativos ao sistema de gestão, evitando conclusões equivocadas ou tendenciosas. Essa amostragem pode ser realizada por julgamento, com base na experiência do auditor em relação ao sistema de ges- tão em questão. Também pode ser aplicada uma amostragem estatística, baseada em um intervalo de confiança, definido pela equipe auditora, 5% de amostragem é algo interessante (em um grupo de 1000 pessoas, 50 são auditadas) e relativamente praticável, sendo dado necessário de ser regulado conforme o tamanho da população em questão (em uma empresa com 20 funcionários, seriam ape- nas 1 auditado, o que é nada representativo); b. condução de entrevistas: é o processo utilizado para indagar uma pessoa quanto à realização da sua atividade a fim de colher amostras para formar a documentação da auditoria, sendo interessante es- colher pessoas de diversos níveis em relação ao processo (por exemplo, o responsável pelo proces- so, executor, avaliador, técnico) e que as entrevistas sejam realizadas durante o horário normal de trabalho das pessoas. Um cuidado é necessário para deixar a pessoa à vontade (ajuste de linguagem, postura, tom, tipo da pergunta), explicando o porquê da questão, solicitando que descreva como vê seu próprio trabalho e, ao final, agradecer a pessoa pelo tempo dispensado. Para finalizar a ideia de auditoria, não esqueça: • é um processo, não um fato isolado; • é uma atividade formal e documentada; • é baseada em fatos (evidências objetivas); • não visa encontrar culpados; • não interrompe atividades; • deve ser executada por pessoal independente; • busca avaliar a necessidade de melhorias. SÍNTESE Nesse capítulo, verificamos como definir e conduzir um processo de auditoria com base nos critérios da norma ISO19011, além disso, comenta- mos sobre os apontamentos de auditoria, etapas, formatação do relatório e definição da equipe auditora, postura do auditor e alguns outros detalhes. Também comentamos sobre como acontece o processo de certificação, suas etapas, critérios, organismos, acreditadores, bem como conversamos sobre como é a formação de um auditor. 73CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Qual a aplicabilidade ou para que serve uma auditoria? 2. Como acontece o processo de certificação? 3. Quais são os passos para formação de um auditor? 4. Qual a postura necessária para um auditor? 5. Que requisito normativo você se acha mais apto a auditar? 74 NÃO-CONFORMIDADES O que é uma não-conformidade? Como descrevo? Para que serve? 75CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Talvez, o maior temor, ou o maior assunto de toda a auditoria, é a questão das não-conformidades, dos apontamentos oriundos da auditoria, que podem ser divididos em diferentes tipos. A prática nos demonstra que existem muitos problemas quando se trata da descrição de uma não-conformidade, existe muita confusão, problemas de es- crita (que vão muito além de um bom português claro) e, às vezes, até uma certa parte de crença pessoal da pessoa que está descrevendo. Isso tudo é muito nor- mal, mas não deveria acontecer. Criaremos uma linha de pensamento, tratando alguns conceitos básicos para formarmos a descrição ou redação da não-conformidade. Começaremos com três elementos básicos, que acabarão se repetindo ao longo deste material: • evidência objetiva: declaração do fato (evidência objetiva, prova, amostra); • item não-conforme: indicação do item da norma/documento ao qual se aplica a situação, o requisito, ou o que está sendo “infringido”; • descrição da não-conformidade: explanação sobre o porquê o fato caracte- riza uma não-conformidade. É de se imaginar que precisamos unir alguns elementos para caracterizar uma não-conformidade. Um cuidado especial é com a diferença entre não-conformidade e defeito, podendo gerar uma confusão: • defeito: é o que o cliente enxerga ou percebe, situação que pode ser notada, que possui diversas variações de acordo com o nível de exigência de quem está enxergando, por exemplo, um peque- no sinal em uma peça é um defeito para um observador muito exigente, mas pode passar desa- percebido por uma pessoa mais tolerante, portanto, o defeito é algo bastante subjetivo, sendo relacionado com percepção e opinião; • não-conformidade: é mais abrangente que o defeito, pois é o não atendimento de um requi- sito. Se essa infração é percebida pelo cliente, além de não-conformidade, também será um defeito. Note que existem algumas nuances a serem observadas, segundo o que estava definido em uma determinada ordem de produção, o produto X precisa ser finalizado antes do produto Y, e aconteceu ao contrário, logo, podemos dizer que é uma não-conformidade, pois feriu um requisito, talvez, isso não faça diferença nenhuma para o cliente. Outro caso, durante a execu- ção de um processo acontece um problema, em um produto, sendo detectado e contido correta- mente durante o processo, nesse caso, podemos dizer que é uma não-conformidade (um erro) para o processo, pois aconteceu o fato que foi corretamente contido, logo, não é uma infração ao sistema de gestão, pois faz parte do processo essa verificação e contenção do defeito, “que não se tornará um defeito”, pois não chegará ao cliente. Conforme o requisito (do processo, do produto, do sistema de gestão), podemos caracterizar essa não-conformidade de formas dife- rentes, pois são requisitos diferentes. 76CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Confuso? Normalmente, sim, principalmente para quem está iniciando esse processo de conhecimento, por isso, precisamos cons- truir alguns conceitos, para tentar dirimir essa confusão e tornar a situação mais clara. Mais dois conceitos importantes para tratarmos o assunto,an- tagônicos, diferentes, mas, na prática, causam bastante confusão: • inferência: existem diversos conceitos, mas a grande maioria culmina no fato de que uma inferência é um julgamento (por- tanto, pessoa) sobre um fato. Esse julgamento acontece quan- do você “tira” conclusões dos acontecimentos, sem existir uma prova concreta do que foi comentado, por exemplo, você olha para o céu e está muito escuro, declarando “vai chover!”, ou vê pingos de sangue no chão e comenta, “uma pessoa se machu- cou!”. Ambas as situações são inferências, pois baseados nos fa- tos que, comparados com seu conhecimento e experiência, ge- raram julgamentos e conclusões, mas que até o momento, ainda não são provadas, pois, no caso dos nossos exemplos, ainda não está chovendo, por mais que o céu esteja escuro; e não encon- trou a fonte dos pingos de sangue, por mais que indiquem ser de uma pessoa machucada, pois podem ter vindo de um animal, ou de um pedaço de carne fresca que foi comprada em um mercado; • evidência: é a constatação inegável de que algo aconteceu, é a prova conclusiva de algo, não é um julga- mento, é um fato, utilizando os nossos exemplos anteriores, é constatar que realmente começou a chover e dizer “está chovendo”, ou encontrar a pessoa machucada e mostrar que “essa pessoa se machucou”. O nosso julgamento (que podemos na verdade dizer que também pode ser entendido como um pré-julga- mento) se provou correto, mas observe a palavra “provou” na frase, existe a situação não somente para quem “imaginou”, o que poderia ter acontecido, mas qualquer pessoa pode verificar, sem imaginar. Em uma auditoria, o auditor pode contar (e deve) com seu conhecimento e julgamentos para analisar uma situação e perseguir a chamada “trilha de auditoria”, esmiuçando a situação em si, a fim de conseguir compro- var sua percepção, mas só pode tirar conclusões quando existir a prova de que esse julgamento é real, quando o fato for demonstrável e existirem evidências que, de acordo com um determinado requisito, algo está equivoca- do. Quero crer que já está entendendo, para configurar uma não-conformidade, é preciso de evidências. CONSTRUÇÃO DOS APONTAMENTOS Com base nos conceitos apresentados, procuraremos criar uma espécie de modelo para configurar os nos- sos apontamentos, afinal de contas, não é somente de não-conformidades que é montada uma auditoria, apesar de ser o elemento mais complexo dentre todos os que apresentaremos. Conformidade: é o apontamento principal de uma auditoria, a “conformidade de um sistema”. Esse apontamento é formado por requisitos e comprovações (evidências) de que o mesmo está correto. Existem diversas formas de realizar esse apontamento, e nos atentaremos às duas mais práticas, uma mais específica e outra mais genérica. 77CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Em uma abordagem mais específica, como deveria ser o caso de auditorias internas (de 1ª parte) re- alizadas por pessoas que fazem parte da organização, é importante gerar as chamadas “listas de verifica- ção” para cada processo auditado. Isso é muito comum em empresas, organizações ou sistemas de gestão mais complexos, robustos e com um grau de maturidade maior, mas requer um trabalho de preparação anterior à auditoria, bem como um controle maior sobre esse tipo de documento que será utilizado. Nesse tipo de abordagem, pessoas com conhecimento normativo, conhecimento do processo e do sistema de gestão, elaboram uma lista de pontos a serem verificados e que precisam ser abordados, na auditoria, com base na documentação geral da empresa, documentação específica daquele processo e pontos chave ligados ao mesmo, uma espécie de “checklist” à auditoria. O auditor, ao auditar o pro- cesso, pode utilizar da norma como apoio, solicitando as documentações pertinentes ao processo em questão, mas acaba por seguir uma espécie de roteiro pré-determinado, onde preencherá, ao lado de cada questão, com amostras que possam comprovar que ela está correta. Isso facilita muito a execução da auditoria e produz uma garantia maior de que todos os pontos chave do processo serão verificados, pois o roteiro precisa ser totalmente seguido, o que não inibe o conhecimento, experiência e senso crí- tico do auditor, mas serve como um guia bem direcionado. Como exemplo, uma lista de verificação poderá ser solicitada, situações do gênero, “As ordens de produção estão preenchidas corretamente ao final do processo?”, o auditor verifica esse fato e, em caso de positivo, preenche o che- cklist com os números das ordens de produção que ele verificou e que estavam corretamente preenchidas. Essas ordens de produção são as “amostras” veri- ficadas, e a anotação dos números que estavam corretamente preenchidos, são as “evidências” de conformidade do processo. Lembrando que uma auditoria é um processo amostral, é determinada a conformidade daquele processo com base no fato de que as amostras acessadas estavam corretamente executadas. Em uma abordagem mais genérica, o caso de auditorias internas execu- tadas por profissionais contratados para tal, ou o caso de auditorias de terceira parte (organismos certificadores), o auditor (ou o órgão certificador) pode pos- suir uma “lista de verificação”, mais genérica, normalmente, montada de acor- do com os itens da norma em questão, que está sendo auditada, sem detalhes do processo, pois são válidas para inúmeras auditorias, processos e sistemas de gestão diferentes. Essas listas são montadas por pessoas com conhecimento, mas a auditoria é bem mais dependente da experiência e do conhecimento do auditor, que precisa conseguir “encaixar” aquilo que está observando dos pro- cessos e sistema de gestão da empresa dentro dos itens normativos. 78CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Trazendo um exemplo, a lista de verificação pode trazer algo do gênero, “a auditoria interna é realizada com base em padrões definidos”, onde o auditor deve preencher com a referência do documento da empresa que trata da auditoria interna, como por exemplo, o número do procedimento, do manual, etc. Em uma outra questão, também ligada ao mesmo item, pode aparecer o seguinte, “a auditoria interna está sendo realizada conforme frequ- ência definida, logo, o auditor deverá preencher com o número ou identificação da auditoria realizada pela empresa, desde que ela tenha sido realizada dentro dos prazos estipulados, na documentação definida, no sistema de gestão da empresa”. Dentro de uma abordagem mais genérica, tanto para auditorias de 1ª como de 3ª parte, simplesmente pode-se utilizar a norma e o auditor fazer uma verificação livre sobre a do- cumentação e sistema de gestão da empresa, sendo necessária muita experiência e conhe- cimento normativo para identificar e não deixar de verificar os pontos chave do sistema de gestão, produzindo um relatório que apresente evidências que demonstrem a conformidade do sistema para com a norma em questão, nesses casos, costuma-se dizer que o auditor uti- lizou “somente a norma debaixo do braço”. Conseguiu compreender as diferenças? Mais importante que isso, deve ter ficado cla- ro que é preciso demonstrar, com base em “evidências”, que o sistema está efetivamente cumprindo os requisitos e objetivos da auditoria. Oportunidade de melhoria: é o apontamento menos relevante no que tange a demons- tração da conformidade do sistema em relação a uma norma em específico, mas extrema- mente interessante para melhoria e evolução. Nesse caso, o auditor está avaliando a prática ou metodologia que ele presenciou durante a auditoria, entendeu que a mesma está sendo realizada de forma a cumprir com os requisitos normativos e de acordo com os padrões esti- pulados na organização, no entanto, com base no seu conhecimento e experiência, entende que essa metodologia está frágil, ou não está robusta o suficiente, ou é muito discrepante em relação àquilo que outros sistemas de gestão de mesmoporte, ou tipo de mercado tem utilizado de forma corriqueira, apontando que a organização deveria avaliar tal item para melhorar o mesmo. Estamos falando de inferência pura e simples, no julgamento do audi- tor, a prática ou metodologia poderia ser mais explorada, modificada, revista, aprimorada ou algo do gênero, sem representar um risco à organização. 79CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Não custa reforçar, nem sempre isso é bem visto, em alguns casos, o apontamento soa, ou é interpre- tado como uma tentativa de interferência no sistema de gestão, tanto que esse tipo de apontamento não cos- tuma requerer resposta forma e deveria, de acordo com a avaliação da empresa, ser tomado em conta como algo que deve ser analisado e, conforme viabilidade, pode ser implementado desde que se julgue pertinente. Observação: o nome do apontamento já sugere o fato de que ele é um “alerta”, normalmente, carac- terizado por um potencial (pretensa, pode vir a ser) não-conformidade, observou-se algo e verificou-se que existe o risco de que ele se torne não-conforme se não for tratado. É uma inferência, foi verificada como evidência e não se tem claro o requisito que ela está infringindo, ou existe o requisito, mas não foi possível um fato evidente de que ele esteja sendo cumprido, no segundo caso, o mais comum a acontecer. Em um exemplo, a sistemática de avaliação de fornecedores da empresa define que todas as transportadoras que prestam serviço a ela, precisam ser avaliadas anualmente, o auditor verificou que cinco transportadoras possuem avaliação, mas que existem outras que não estão avaliadas, mas não se consegue evidenciar que continuem prestando serviço, ou o prazo para realização das avalia- ções conforme definido não expirou, sendo assim, pode ser que isso se torne uma não-conformidade, existe um risco, mas não se tem a evidência clara do fato ocorrido. Em um outro exemplo, o auditor avaliou que muitos produtos estavam saindo com uma determinada mancha do processo produtivo, no entanto, nem os padrões definidos pela empresa e nem os requisitos levantados para atendimen- to dos clientes deixam claro que tal fato possa ser um problema, existem evidências de que algo está acontecendo, mas não se tem claro o requisito que está sendo infringido, logo, existe o risco de que o item evolua para uma não-conformidade. Caso clareado o requisito, efetivamente, com base nas de- finições do produto, podem ou não os produtos serem entregues com manchas? 80CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Alguns cuidados estão relacionados ao fato de que alguns auditores se precipitam no julgamento dos fatos verificados e querem apontar uma não-conformidade, precisa de pa- ciência e investigação do item, a fim de configurar a situação corretamente. Também queremos atentar para o bom senso, por exemplo, em uma auditoria de nor- ma ambiental foram verificadas a execução de mais de 10 diferentes processos e entrevis- tados e analisados os postos de trabalho de cerca de 30 diferentes pessoas. Em um caso, verificou-se que existia um pedaço de papel colocado no local de rejeitos plásticos, fica a pergunta, deve ser apontada a não-conformidade? Se interpretássemos literalmente, sim, existe evidência (papel junto ao plástico) e existe requisito (separação dos rejeitos, por exemplo), mas é interessante observar o grau de risco e relevância daquele fato isolado em relação a todo o sistema de gestão. Se, ao final, julgássemos que realmente é uma não-con- formidade, sem problemas, mas sempre indicamos o bom senso, a visão holística (analisar o fato em relação ao todo), a relevância, o impacto que gerará, talvez, uma observação seja suficiente. Mais uma vez, necessárias competências diversas para uma boa auditoria. Outro ponto a se refletir é o fato de que alguns auditores, talvez por gosto pessoal, ou por acreditarem realmente no fato (não estamos julgando, somente colocando como refle- xão), para qualquer fato, qualquer situação, qualquer detalhe, já apontam uma observação, logo, não é difícil ver relatórios de sistemas de gestão com uma não-conformidade em algo bastante pontual e uma dezena de observações. Cabe o reforço de analisar relevância, impac- to e o quanto o apontamento pode vir a melhorar o sistema de gestão analisado. Em hipótese alguma estamos dizendo para “fechar o olho”, mas que prevaleça o bom senso, sempre. Não-conformidade: a julgar pela evolução das explicações, comentaremos alguns de- talhes importantes que reforçarão o entendimento sobre o item. Não-conformidade é “o não atendimento a um requisito”, mas separaremos em três elementos básicos: • constatação, fato ou fato constatado é o primeiro elemento, algo aconteceu e pôde ser verificado nas nossas constatações, descrevendo o que aconteceu, deixando muito claro o que está errado. Em um exemplo, colocaremos que o fato é que “existem pessoas sem a devida competência de treinamento em uso de paquímetro e micrômetro, realizando o processo de inspeção de produto”, observado porque, durante a verificação, notou-se certa dificuldade de manuseio de um determinado equipamento de inspeção em uma ati- vidade. Preste atenção, a dificuldade de manuseio foi algo que observamos e, por causa da nossa experiência com o assunto, isso nos chamou atenção, mas não temos como com- provar “dificuldade de manuseio”, é uma ideia que não tem base sólida, é uma percepção; 81CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • evidência, amostra ou evidência objetiva é a prova de que o fato é verdadeiro (estamos fazendo com que deixe de ser uma inferência), precisamos dar respaldo ao fato (a nossa constatação), precisamos verificar a situação, aprofundar nossa verificação. Indo à área de Recursos humanos, verificamos que as pessoas observadas eram inspetores sem treinamento para uso de paquímetro e micrômetro, portan- to, escrevemos que “os senhores Astrobúncio Qualquercoisa e Eurastêmio Maisalgumacoisa estavam realizando inspeção dos produtos XYZ, utilizando os equipamentos paquímetro PQ669 e micrômetro MC998”. Dessa forma, apontamos efetivamente onde foi o problema (não achar culpados), conseguin- do analisar o fato com mais detalhes, claramente definidos; • requisito, é o terceiro elemento, é bastante amplo, pois podemos utilizar várias situações para apontar um requisito. As mais costumeiras são apontar o documento da organização, que trata do assunto em questão, fato típico de uma não-conformidade menor (falha pontual), que caracteriza muito bem que a própria organização não está cumprindo com o que a mesma definiu. Em nosso exemplo, poderia ser “O descritivo de cargo de Inspetor 99XB7 requer treinamento em paquímetro e micrômetro para realizar a função.” A outra forma é apontar o item da norma que não está sendo cumprido, poderia ser “confor- me item 7.2 da norma ISO9001, a organização deve determinar a competência necessária de pessoa que realize trabalho sob o seu controle, que afete o desempenho e a eficácia do sistema de gestão da quali- dade.” Atente ao fato de que isso pode caracterizar uma não-conformidade maior (não atendimento a um requisito normativo), mas como bom senso, aumentaríamos a amostragem para verificar se isso se repete em mais algum local, se existem reclamações de clientes que possam ser ligadas ao fato, etc. No caso de caracterizar uma não-conformidade menor, infringindo um item normativo, mas que em uma análise de risco verificou-se que a falha não está gerando maiores transtornos, pois há verificação do produto posterior, ou não existem registros de falhas quanto ao item que possam ser ligadas à operação. Temos os três elementos claramente definidos, logo, podemos escre- ver a não-conformidade do nosso exemplo de forma direta (sintética) ou analítica, sendo de forma direta, “Foi verificado que os inspetores Astro- búncio Qualquercoisa e Eurastêmio Maisalgumacoisa estavam realizando a verificação do produtoXYZ, sendo que os mesmos não possuem a devida competência de treinamento em uso de paquímetro e micrômetro de acordo com o definido no descritivo de cargo 99XB7”. De forma analítica, sepa- ram-se os elementos verificados, por exemplo: a. constatação: existem pessoas sem a devida competência de treina- mento, em uso de paquímetro e micrômetro, realizando o processo de inspeção de produto; b. evidência: Astrobúncio Qualquercoisa e Eurastêmio Maisalgumacoisa estavam realizando inspeção do produtos XYZ, utilizando os equipa- mentos paquímetro PQ669 e micrômetro MC998; c. requisito: o descritivo de cargo de Inspetor 99XB7 requer treinamento em paquímetro e micrômetro para realizar a função. Você deve ter notado que é possível reescrever a mesma frase, com o mesmo conteúdo e sentido, de diversas formas diferentes e mesmo assim ficaria entendível, do mesmo modo que a supressão de certos detalhes, ou a maneira de escrever, poderia retirar totalmente o sentido, até mesmo ser passível de contestação, colocando dúvida se a verificação é correta. 82CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO A descrição de uma não-conformidade precisa ser clara e adequadamente rea- lizada, de forma que as pessoas que a recebam, possam compreendê-la, atuando de forma adequada nos passos subsequentes de análise e tomada de ação/decisão. PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE APONTAMENTOS Após compreendermos o que são os apontamentos, como se caracterizam, bem como alguns exemplos, de forma mais sistemática, pensaremos no processo para definição de uma não-conformidade. A parte mais importante é ter em mente os requisitos que estão sendo avaliados, eles serão os pontos que, com base na experiência e conhecimento do avaliador, despertarão sua atenção quando da avaliação. A interpretação dos pontos normativos aplicáveis à situação é o primeiro passo. A lógica consiste em sabermos o que precisa ser cumprido (busca da conformidade), caso note-se algo discrepante, ou em desacordo, parte-se para a investigação mais profunda, a fim de verificar se é passível de algum apontamento. A pior situação é “querer achar não-conformidades”, ou estar ansioso para tal, queren- do simplesmente provar que consegue ver o que outros não viram ou, quem sabe, tentaram esconder, esse não é o intuito, é preciso ser profissional, o que está correto está correto; o que não está, precisa ser apontado. Não queira verificar tudo de uma vez, talvez, existam outros pontos em desacordo, mas você tem um tempo e um compromisso para cumprir, o processo é amostral. Claro que situações muito evidentes não podem ser deixadas de lado, como sem- pre, vale o bom senso. É válido comentar que uma potencial não-conformidade não pode ser uma suposição, ou uma observação (inferência), a mesma é um fato e está relacionada à observação dos seguintes pontos: 83CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • não-conformidade de produto: compreendido o produto, ou saída do processo (todo processo tem um), verificar se os requisitos desejados foram atendidos; • não-conformidade de processo: existe uma maneira desse processo acontecer, eta- pas que precisam ser cumpridas, verificando se foram realizadas na sua totalidade e de acordo com as definições; • não-conformidade de sistema de gestão: para fechar, existem requisitos normativos, esses produtos e processos precisam cumprir, verificando se estão sendo atendidos. Um apontamento mal descrito pode direcionar quem lê a uma interpretação equi- vocada da situação identificada, dessa maneira, os esforços envolvidos para sua identifi- cação, análise e tentativa de solução, não resolveram. Como forma de evitar tal confusão durante a redação, é importante observar alguns passos importantes para se certificar do que está sendo escrito. Note que, com o tempo, esses passos serão automatizados na men- te do avaliador, no entanto, principalmente de início, uma boa anotação ajuda bastante. 1. Defina claramente a não-conformidade: enuncie o fato constatado de forma clara, concisa e compreensível. É importante que você faça um esboço contendo o que é o problema, qual resultado indesejado foi identificado, por que não atende aos requi- sitos (a forma analítica é a dica). Entenda que o problema precisa ser descrito e com- preendido, explique corretamente o tipo de ocorrência e a quantidade, assim como o período da ocorrência e as pessoas envolvidas. 2. Apresente evidências objetivas: exemplifique a situação, listando com exemplos es- pecíficos, fatos verificados, de modo que quem for ler consiga visualizar o problema (como se fosse uma forma de conseguir reproduzi-lo). Lembre-se sempre que o leitor precisa materializar o problema relatado, entender a “prova do crime”. Se for preciso, e tiver como disponibilizar acesso, dê evidências, tais como fatos, dados, documentos, informações, fotos. Esses materiais geram veracidade à informação, facilitando a “vi- sualização” do ocorrido. Uma outra dica, estamos buscando a conformidade, ela precisa ser evidenciada, a falta de evidências objetivas de conformidade é, em si, uma não-con- formidade, desde que bem relatada. 3. Busque fazer referências: significa identificar qual foi a regra contrariada, ou não atendida, o requisito não atendido. Após identificar a referência encontrada como vá- lida, desenvolva um breve relato sobre o requisito (item normativo/documento da or- ganização/requisito legal). 4. Se coloque no lugar do leitor e não o redator: é importante que quem for descrever a redação de não-conformidade, observe-se como o leitor dela, que só entenderá o ocor- rido a partir dos dados da redação. Antes de pensar em como é mais fácil ou prático de escrever, pense em como é melhor de compreender. Os fatos serão interpretados com base nas informações fornecidas, por esse motivo, o redator deve deixar todas as infor- mações bem claras, evitando dúvidas, ambiguidade ou dificuldade de compreensão. Sua redação de não-conformidade precisa de 03 partes (como se fosse introdução, desen- volvimento, conclusão), mas chamaremos de constatação, evidência e requisito, ne- cessitando estar presentes e claros. 84CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO 5. Linguagem clara e objetiva: é a parte que muitos pecam, escrita e oralidade são bem diferentes, visto que uma conversa (oralidade) ocorre entre duas ou mais pessoas, e se há alguma dúvida, a pessoa pergunta na hora e esclarece o mal-en- tendido. Contrária a essa situação, é a escrita, pois o ato de escrever é uma ação solitária, que pode causar confusão e conflitos de ideias em quem lê. Para escrever, siga algumas regras básicas, como por exemplo, usar frases curtas, sequência de fatos em ordem linear de acontecimentos, usar a regra clássica de sujeito, verbo e predicado, evitando linguagem rebuscada e cheia de elementos diferenciados. Uma boa escrita precisa ter ideias lineares (começo, meio e fim), pontuação cor- reta e concordância adequada. Se puder, peça para outra pessoa ler e te explicar o que entendeu, assim você terá uma boa base do entendimento do que escreveu. 6. Evite usar: tenha cuidado para não ser redundante, evite gírias e palavras da moda (são temporais, mudam de tempos em tempos, podendo perder sentido), sentido figurado, expressões idiomáticas e, principalmente, expressões com “acho que”, “seria bom”, “ouvi dizer que”, “na minha opinião”. Lembre-se que você está fa- zendo um relato de algo real e comprovado, não relatando algo que você interpre- tou ou imaginou. Cuidado com a imparcialidade sempre que estiver avaliando algo. 7. Use na sua redação: não tenha receio de usar expressões e palavras que mantenham a impessoalidade, por exemplo, “convém à organização”, “sugere-se”; “pode ser confirmado através”. Como reparar os efeitos causados pela não-conformidade? 85CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO TRATAMENTO DE APONTAMENTOS Em alguns momentos, estamos no papel de avaliadores,em outros, estamos sendo ava- liados. Dizem que o melhor avaliado é sempre um bom avaliador, pois conhece o processo, tem noção dos seus desdobramentos. O contrário também é verdadeiro, se conhecido o processo que seguirá após o apontamento de uma não-conformidade, por muitas vezes é mais fácil redigir ou apontá-la, realizando a descrição, pensando no processo de solução. Verificaremos o processo de solução de uma não-conformidade: • bloqueio ou contenção: é a ação contingencial e paliativa tomada sobre o efeito, evitando que o problema se agrave, ou se propague pelo processo, atingindo o cliente, outros colaboradores, ou o meio ambiente. Existem situações em que a organização necessita, antes de mais nada, reparar os efeitos causados por uma não-conformidade, evitando que se alastre ou que seus efeitos sejam piores. Às ações tomadas, damos o nome de bloqueio ou contenção e correção, não definitivas; • identificação das causas: seja para tratar não-conformidades reais, ou potenciais, o estudo das causas é uma etapa crucial para definir, de forma assertiva, as ações que eliminarão, ou prevenirão ocorrências indesejadas. Causas são todos os motivos que nos levam a ter um problema, mas nem todas as causas são relevantes, ou impactarão de forma direta o problema. Para tanto, é importante uso de ferramentas e metodologias apropriadas (Método dos 5 Porquês, Diagrama de Ishikawa); • correção: age no efeito, buscando eliminar o desvio, ou problema. Esse tipo de ação visa elimi- nar uma causa de uma não-conformidade identificada. A ação de correção é desenvolvida para ser definitiva, de modo que não aconteça mais tal problema; • extensão: deve-se averiguar se a mesma situação de desvio não ocorre em outros processos/produtos/serviços, de forma que se possa tomar ações abrangentes que resolvam os problemas, em todos os locais que se apre- sentem, evitando que se resolva um ponto em definitivo, mas que outros apareçam. Note que as ações de bloqueio acontecem sobre os efeitos, e as ações de correção sobre as causas; • verificação da eficácia: após a implementação efetiva das ações de correção e extensão, define-se um período no qual serão avaliadas evidências de que o problema realmente não mais ocorre, comprovando que as ações definidas foram assertivas ou eficazes. Existem diferentes métodos de avaliação e tratamento de não-conformida- des, com mais etapas e passos, mas independentemente de qual, todos acabam convergindo à estrutura base. SÍNTESE Nesse capítulo, verificamos de forma específica quais são os apontamentos de uma auditoria, estrutura e dicas de descrição, postura, linha de pensamento e como é o processo para tratar os eventuais apontamentos. O conhecimento e a experiência são muito importantes à segurança desse processo, é uma constante evolução e nunca paramos de aprender. 86CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. O que é constatação? 2. O que é evidência? 3. O que é requisito? 4. Como se forma uma não-conformidade? 5. Que não-conformidades você conseguiria facilmente apontar e descrever em seu entorno? 87CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS Como utilizamos várias siglas que se repetem ao longo do e-book, para não haver a necessidade de todo o momento ficar procurando as mesmas ao longo do texto, criamos essa lista para facilitar sua consulta. CEP – Controle Estatísitico de Processo FMEA - Failure Mode and Effects Analysis (Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos) IATF – International Automotive Task Force (Força Tarefa Automotiva Internacional) INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia IRCA - International Register of Certificated Auditors (Registro Internacional de Auditores Certificados) ISO - International Organization for Standardization (Organização Internacional para a Padronização) OHSAS - Occupational Health and Safety Management Certification (Programa de Certificação para a Saúde e Segurança Ocupacional) PDCA – Plan, Do, Check, Action (Planejamento, Desenvolvimento, Controle e Ação) RBC – Rede Brasileira de Calibração SDoC – Supplier’s Declaration of Conformity (Declaração de Conformidade de Fornecedor) 88CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE REFERÊNCIAS SUMÁRIO ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 9001:2015. São Paulo: ABNT, 2015. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14001:2015. São Paulo: ABNT, 2015. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 17025:2017. São Paulo: ABNT, 2017. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 19011:2018. São Paulo: ABNT, 2018. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 22000:2019. São Paulo: ABNT, 2019. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 27001:2013. São Paulo: ABNT, 2013. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 45001:2015. São Paulo: ABNT, 2015. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Certificações de Produtos e Setores Atuantes. São Paulo: 2014. Disponível em: http://www.abnt.org.br/certificacao/tipos/produtos#faqnoanchor . ACREDITATION CANADA. Qmentum Accreditation Program. Canada: 2021 Disponível em: https://accredita- tion.ca/accreditation/qmentum/. BRE Group. BREEAM Certification. United Kingdon:2021. Disponível em: https://www.breeam.com/discover/ why-choose-breeam/ . CARPINETTI, Luiz C. R. Gestão da qualidade: conceitos e técnicas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. FALCONI, Vicente. TQC – Controle da qualidade total. 8. ed. Belo Horizonte: INDG, 2004. 89CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE REFERÊNCIAS SUMÁRIO HACCP INTERNATIONAL, Certification of Food Safe Equipment, Materials and Services. USA: 2019. Disponível em: https://haccp-international.com/services/certification-of-food-safe-equipment- -materials-and-services/# . HEALTHCARE INFORMATION AND MANAGEMENT SYSTEMS SOCIETY. Certification. USA:2021 Dispo- nível em: https://www.himss.org/resources-certification/overview . IAFT - INTERNATIONAL AUTOMOTIVE TASK FORCE. IATF 16949:2016. São Paulo: IQA, 2016. INMETRO. Certificação Aqua. Brasília:2020. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/painelseto- rial/palestras/Processo_Certificacao_AQUA_Alta_Qualidade_Ambiental_Manuel_Martins.PDF . MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL. PBQP-H – Programa Brasileiro de Qualidade e Pro- dutividade no Habitat. Brasília:2021. Disponível em: http://pbqp-h.mdr.gov.br/ . ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO. Acreditação. São Paulo: 2021. Disponível em: https:// www.ona.org.br/acreditacao/o-que-e-acreditacao . U.S. GREEN BUILDING COUNCIL. LEED. USA:2021. DISPONÍVEL EM: http://leed.usgbc.org/leed.html . VDA - VERBAND DER AUTOMOBILINDUSTRIE. VDA 6.3. São Paulo: IQA, 2016. WERKEMA, Maria Cristina Catarino. Criando a cultura Seis Sigma. Série Seis Sigma. V1. Nova Lima: Werkema Ed., 2004. Normas de sistemas de gestão gerais Introdução da norma Requisitos iniciais 1, 2 e 3 Requisito 4 – Contexto da organização Requisito 5 – Liderança Requisito 6 – Planejamento Requisito 7 – Apoio Requisito 8 – Operação Requisito 9 – Avaliação de desempenho Requisito 10 – Melhoria Conteúdo suplementar e informativo Outras Normas Certificação de laboratórios Certificação hospitalar Certificação automotiva Certificação alimentar Certificação na construção civil Certificação de produtos Processo de auditoria e certificação Processo de certificação Formação de auditor Processo de auditoria Não-Conformidades Construção dos apontamentos Processo de construção de apontamentos Tratamento de apontamentos Lista de siglasou não no seu contexto? Seguindo a HLS, comentaremos o conteúdo de cada um dos capítulos. INTRODUÇÃO DA NORMA Apesar de não ser um capítulo formalizado no HSL, todas as normas de sistema de gestão trazem uma parte introdutória, que não é considerada “auditável”, mas importante entender que ela (ou pelo menos deveria) guiará toda a interpretação, adoção, implementação e eventual avaliação dos requisitos implantados no SGQ, pois contém explicações importantes sobre o con- teúdo e, mais do que isso, sobre os objetivos e pilares pelos quais tal norma foi definida. 10CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Um ponto comum nessa parte, realizando a verificação em diversas normas, é o enfoque de que a adoção não é uma obrigação, mas uma decisão estratégica da empresa, não são normas compulsórias, mas de livre escolha. Sabemos que alguns clientes ou mercados “exigem” que seus fornecedores sejam certificados em algumas normas, por exemplo, a grande maioria das grandes empresas cobra que seus fornecedores sejam certificados na ISO9001, do mesmo modo que grande parte das montadoras de automóveis do mundo acabam exigindo a adoção da IATF16949 (ou semelhante). Fato análogo ocorre no fornecimento de algumas mercadorias para o mercado europeu, que acaba por “sugerir” a adoção da ISO14001, ou a adoção da ISO27001 por parte de instituições financeiras privadas, para atender alguns mercados em específico (a ISO27701 também é certificável e trata de Sistema de Gestão de Segurança Privada). De uma forma ou outra, todas trazem uma listagem de be- nefícios, de certa forma, análoga (tomando a ISO9001 como base): a. a capacidade de prover, consistentemente, produtos e ser- viços que atendam aos requisitos do cliente e aos requisitos estatutários e regulamentares aplicáveis, o que a ISO14001 enfatizará como a mitigação de impactos ambientais, a ISO45001 tratará de redução de situações de riscos ocupa- cionais, e a ISO27001 tratará de diminuição de riscos rela- cionados a informações; b. facilitar oportunidades para aumentar a satisfação do cliente, que também pode ser a diminuição de potenciais impactos; c. abordar riscos e oportunidades associados com seu contexto e objetivos, de certa forma, levando a organização a avaliar seu próprio sistema e mercados de atuação; d. a capacidade de demonstrar conformidade com requisitos especificados de sistemas de gestão da qualidade, ou tra- tando do atendimento de legislação ambiental, de segu- rança, de saúde, etc. 11CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Importante também entendermos três pontos que, costumeiramente, são objetos de dis- cussão e estão explícitos nessa parte como NÃO sendo a intenção das normas: a. uniformidade na estrutura de diferentes sistemas de gestão da qualidade, as normas dei- xam claro de que não existe sistema padrão, cada organização tem suas diferenças, a nor- ma apresenta requisitos e a organização precisa atender satisfatoriamente à sua maneira, não é necessário que seja realizado da mesma forma em todos os lugares; b. alinhamento de documentação à estrutura de seções dessa norma, onde não é obrigató- rio que a eventual documentação da empresa resultante do atendimento da norma, utilize uma sequência ou numeração padronizada; c. uso de terminologia específica dessa norma na organização, enfatizando, reiterando e acrescentando ao ponto anterior, o modo que a organização denomina suas práticas, pro- cedimentos ou documentação, não precisa ser utilizando a mesma nomenclatura da norma. Tais pontos são dignos de nota, pois veremos que, em se tratando de implantação ou au- ditoria, alguns consultores ou auditores acabam direcionando, apontando, ou “exigindo” que existam procedimentos, documentos ou registros com determinado nome, ou seguindo uma determinada sequência ou separação, facilitando o entendimento, “enxergando” a adoção de um determinado requisito. É necessário ficar bem claro que isso não é uma obrigação (nem digna de nota, diga-se de passagem), se a organização quer fazer documentos unificando prá- ticas ou chamar as mesmas da forma que melhor lhe convier, isso está correto. Mais um ponto importante, existe ênfase de que a adoção dessas normas “livres” não suplanta ou inibe a organização de atender requisitos compulsórios específicos de produtos, processos ou legislação, ao contrário, a norma “complementará” o atendi- mento deles e não se sobreporá. Dessa forma, é necessário entender que a adoção de uma ISO9001 não significa que o produto da organização seja bom, ou que a adoção da ISO14001, 27001, 45001 não significa que a organização não precisa atender legislação ambiental, de segurança ou saúde ocupacional, mas sim que a adoção (e certificação), nessas normas, significa que a organização toma em conta o atendimento de legislação e normas aplicáveis a seus produtos e processos. 12CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Outros pontos que devem ser observados na forma em que as tais normas são escritas, ou empregam certas formas verbais: • sempre que estiver escrito “deve”, é um requisito, é algo mandatório, que precisa ser cum- prido para atendimento na íntegra dos ditames da norma; • quando for escrito “é conveniente que”, está sendo expressa uma recomendação, algo que faz a diferença, que costuma ser importante de ser adotado, mas não obrigatoriamente; • quando for escrito “pode”, indica permissão, possibilidade ou capacidade de atender, ou não, um requisito, é permitido que algo possa ser feito sem que isso esteja em desacordo com a norma, ou ainda, como uma outra forma de demonstrar o atendimento a um requisito; • quando estiver escrito “nota”, é uma orientação ou esclarecimento para melhor entender um requisito, uma ajuda na interpretação dele, mas não significa que precisa ser feito da maneira indicada, caso contrário, seria um requisito (e não uma nota explicativa). Ainda na parte introdutória, a maioria das normas já deixa claro que sua estrutura é desen- volvida (e que o sistema de uma empresa deveria ser estruturado) com base no ciclo PDCA, logo, a lógica nos diz que as atitudes e ações da empresa devem ser planejadas (Plan – Planejamento), para serem executadas (Do – Desenvolvimento), e que devem ser verificadas (Check – Controle) para serem corrigidas ou melhoradas (Action – Ação). Claro que tudo isso acaba requerendo um certo formalismo, ficando óbvio o que foi planejado, o que foi executado, qual o resultado dessa execução e se foi necessário algum ajuste. Outros detalhes específicos, da adoção de cada norma, podem estar citados dentro da parte introdutória e convém que sejam lidos e observados para um melhor entendimento da mesma, mas de maneira geral, os pontos citados são válidos para todos os casos. 13CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO REQUISITOS INICIAIS 1, 2 E 3 Os capítulos iniciais tratam de definições gerais e normativas, apontamos os principais pontos dignos de nota sobre eles. Somente nesses incluiremos comentários sobre a norma IATF16949 para fins de diferenciação das demais, nos requisitos seguintes, não entraremos no mérito por se tratar de um sistema de aplicação es- pecífica e objeto de estudo em outro momento. Capítulo 1 - Escopo - As normas deixam claro qual o escopo “da norma” e não o escopo de certificação, ou o que dentro de um sistema deve ser avaliado ao que se destina tal norma em específico, dessa forma (to- mando alguns exemplos como base): • a ISO9001 comenta que a norma é aplicável a empresas que “necessitam demonstrar sua capacidade para prover consistentemente produtos e serviços que atendam aos requisitos do cliente e aos requisitos esta- tutários e regulamentares aplicáveis, visando aumentar a satisfação do cliente por meio da aplicação efi- caz do sistema”, logo, qualquer empresa que queira demonstrar aos seus clientes, que possui um sistema de gestão preocupado em atender seus requisitos específicos,ou àqueles normatizados que se aplicam ao produto ou serviço que a organização provê, mas não definem requisitos específicos para esses produtos ou serviços. Um ponto digno é que podemos entender como produto da organização, “materiais, máquinas, ferramentas, etc., serviços, softwares e materiais processados”, no entanto, existe uma ênfase na palavra serviços, propositalmente colocada para atentar que nem tudo consegue ser verificado antes da entrega ao cliente, caso bem típico do serviço, visto que alguns, por definição, estão sendo produzidos e consumidos ao mesmo tempo (veja o caso de um Hotel, por exemplo), sendo necessário verificar o modo como as situ- ações acontecem para definir, por exemplo, os eventuais “controles de processo e produto necessários”, portanto, o profissional da área precisa atentar para um real entendimento do negócio antes de mais nada; 14CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • a ISO14001 cita “uso por uma organização que busca gerenciar suas responsabilidades am- bientais de uma forma sistemática”, demonstrando que a organização se preocupa com o atendimento da legislação ambiental aplicável ao produto e ao seu processo, mas não define o que é considerado ambientalmente correto à empresa; • de forma análoga, a ISO45001 cita “fornecer uma estrutura para sistemas de gestão de saú- de e segurança ocupacional (OH&S)” e “visa a prevenção explícita de lesões e doenças”, de- monstrando que a organização se preocupa com o atendimento de legislação de segurança e saúde ocupacional relacionada aos seus processos e colaboradores, mas não define qual será a estrutura de segurança necessária à operação; • tratando de IATF16949, em praticamente todo o texto da norma, é realizada a referência aos fabricantes de Equipamentos Originais Automotivos (Original Equipment Manufacturer, co- nhecido pela sigla OEM), como são designadas às indústrias automotivas montadoras, o es- copo é muito parecido com o da ISO9001, a diferença é que não é aplicável a qualquer empre- sa, somente as que são fornecedoras da cadeia automotiva. Inclusive, não é possível buscar a certificação nessa norma sem a “indicação” de uma empresa automotiva para tal; • a norma ISO27001 cita “proteger os ativos de informação e propiciar confiança às partes in- teressadas”, tem por finalizada verificar se a estrutura que protege os dados e informações de uma organização é segura, mas não estabelece os controles específicos a serem adotados. Capítulo 2 – Referência normativa - Define se a adoção da norma requer a ob- servação obrigatória de alguma outra norma auxiliar ou complementar. Importan- te salientar que a ISO9001 faz referência à observação da norma ISO9000 (cuidado a confusão aqui) que trata de fundamentos e vocabulário aplicados à qualidade, sendo que eles não são requisitos, mas uma base de entendimento. A IATF16949 já define que o plano de controle integrante do Anexo A é parte normativa, documento de aplica- ção obrigatória (também necessário o fato de que os clientes que requerem e os orga- nismos certificadores, solicitam a implantação também da ISO9001). Outras normas, tais como a ISO14001 e ISO45001, não requerem quaisquer outras auxiliares (normal- mente, ambas são entendidas e atendidas quando em consonância com a ISO9001). A ISO27001 estabelece a obrigação de observação das definições da norma ISO/IEC17799, que trata de “Código de prática para a gestão da segurança da informação”. Capítulo 3 – Termos e definições - Costuma direcionar à definição e explicação de alguns termos ou jargões costumeiros do meio em que a norma busca sua aplica- ção, não entraremos nos méritos de cada um, apenas deixaremos comentado que a ISO9001 não traz nenhum conteúdo aqui, pois já estabelece esses termos na norma ISO9000 referenciada. As normas ISO14001, ISO27001, ISO45001 e IATF16949 tra- zem explicação e definição de termos aplicáveis à área ambiental, à área de seguran- ça e saúde ocupacional, segurança da informação e definição de termos específicos usados na indústria automotiva. 15CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO REQUISITO 4 – CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO O capítulo 4 trata de uma explicação geral sobre a adoção de deter- minados requisitos de certificação, tais como o próprio “escopo de certifi- cação”, o que, dentro da organização, está sendo sistematizado e que será objeto de busca de certificado. Requisito 4.1 – Entendendo a organização e seu contexto - Nesse requisito, torna-se muito claro por que as normas ISO14001, ISO27001 e ISO45001 fazem menção e sugerem que elas sejam adotadas de maneira concomitante, ou complementar à ISO9001, pois existe a definição, que po- demos chamar de inicial, quanto a “determinar questões externas e inter- nas que sejam pertinentes para o seu propósito”, as demais complementam essas situações com questões ambientais, de segurança da informação e de segurança e saúde ocupacional, inclusive, se tais questões já são estratégi- cas para o funcionamento da organização, teoricamente, já foram verifi- cadas quando da adoção da ISO9001, fato que fica evidente quando obser- vada a nota: “O entendimento do contexto externo pode ser facilitado pela consideração de questões provenientes dos ambientes legal, tecnológico, competitivo, de mercado, cultural, social e econômico, tanto internacio- nais, quanto nacionais, regionais ou locais”, que numa interpretação livre, levaria a atentar para os fatores citados, mesmo que, talvez, sem tanta pro- fundidade, mas inegavelmente são questões estratégicas da organização. 16CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Tratando de maneira mais prática, a forma mais comum de atender ao requisito é uma análise SWOT/FOFA (Strengts, Weakness, Opportunities and Threats, ou Forças, Oportunida- des, Fraquezas e Ameaças), no entanto, a ferramenta não é de adoção obrigatória, mas a sua lógica casa perfeitamente com os objetivos do requisito e, como já citado, quando da adoção das outras três normas, há simplesmente um direcionamento de esforço e aprofundamen- to nos pontos citados. Um ponto interessante a observar, é que a organização deve avaliar esses pontos, é uma visão própria de si mesma e de como é visualizado o seu mercado de atuação, portanto, fica muito complexa uma afirmação (salvo situações óbvias de omissão) de, por exemplo, pessoa externa à organização comentando que a análise está errada ou in- completa, pode-se, no máximo, apontar uma sugestão para verificar algo. Requisito 4.2 - Entendendo as necessidades e expectativas de partes interessadas - A ideia é muito similar ao item 4.1, em termos de interpretação para todas as normas (cada norma aprofundará um contexto específico), vista a necessidade da organização determinar: a. “às partes interessadas que sejam pertinentes para o sistema”, cabe uma listagem de quais partes interessadas estão sendo entendidas como objetos dos resultados dos pro- dutos e processos da empresa, portanto, a avaliação dos pontos básicos clientes, acio- nistas, funcionários, comunidade e fornecedores cabe muito bem, observando o que cada uma dessas partes interessadas significa no contexto avaliado, algumas das cita- das podem não ser pertinentes ou entendidas como irrelevantes, ou ainda, que necessi- tam ser subdivididas ou ampliadas (caso de governo, conselhos profissionais, etc., que efetivamente sejam pertinentes. Situações relativamente óbvias podem ser verificadas, por exemplo, a comunidade, no entorno das instalações, dificilmente não poderá ser avaliada em um sistema de gestão ambiental, do mesmo modo em que órgãos regulado- res em um sistema de segurança da informação; o governo (sob forma de legislação tra- balhista), no caso de um sistema de segurança e saúde ocupacional, ou o próprio cliente que recebe o produto da empresa, no caso de um sistema de gestão pela qualidade, assim como um conselho profissional vista a obrigatoriedade de responsávelligado ao mes- mo, imposto ao produto/processo/serviço. O que ocorre, na prática, muitas vezes, é uma diferença de visões, avaliação e foco da pessoa que está avaliando um sistema versus a pessoa que implantou o sistema, se entendi- do de forma muito aprofundada, tudo e todos são partes interessadas de qualquer organiza- ção, o que torna não factível à avaliação, do mesmo modo que não se pode ter “miopia” em não querer admitir que determinada parte interessada faz sentido à avaliação de um deter- minado sistema. Essa “discussão” é ponto de observação e esclarecimento nos anexos ex- plicativos das normas (algo importante de ser lido), cabendo observação importante no que tange à “não extensão dos requisitos de sistema de gestão, além do escopo dessa norma”, não existe obrigatoriedade em considerar uma parte interessada que não seja diretamente ligada ao escopo em questão, também reiterado por “Não há requisito nessa norma à orga- nização considerar partes interessadas onde ela decidiu que aquelas partes não são perti- nentes para seu sistema de gestão da qualidade. Cabe à organização decidir se um requisito particular de uma parte interessada pertinente é relacionada para seu sistema de gestão da qualidade.” Existe a possibilidade de haver um apontamento referente a verificar a perti- nência de algo, mas não a imposição de tal aspecto; 17CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO b. “as necessidades e expectativas pertinentes (requisitos) des- sas partes interessadas”, para cada uma das partes interessadas é importante verificar quais são seus requisitos diretos, cabendo as mesmas observações anteriormente apontadas pois, a falta de bom senso acaba por gerar uma lista incomensurável de requisi- tos, tornando a avaliação do sistema impraticável; c. “quais dessas necessidades e expectativas se tornam seus requi- sitos legais e outros requisitos”, sendo esse ponto bem focado quando da adoção das normas ISO14001, ISO27001 e ISO45001, pois existe a necessidade de verificar toda a legislação aplicável ao escopo do sistema. Para as opções b) e c), um bom ponto de partida para verificação da coerência das partes interessadas e atendimento de seus requisitos é a verificação, quando aplicável, de reclamações de clientes, ações na jus- tiça ou notificações de órgãos fiscalizadores, a observação de existência de notificações pode indicar a não observância ou mapeamento de uma situação necessária de verificação. Tratando de prática, a forma mais comum de verificação de atendimento (não obrigatoriamente desta for- ma) é a listagem das partes interessadas, a descrição dos requisitos de cada uma delas e, mais tarde, veremos o apontamento de indicadores, ou forma de demonstrar o atendimento destes requisitos. 18CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Requisito 4.3 - Determinando o escopo do sistema de gestão - Esse requisito trata da definição dos limites da certificação, qual parte do seu processo, ou qual produto realizado pela empresa está sendo passível de verificação, ou ainda, quais são os limites do sistema de gestão. Não é obrigatória a extensão dos requisitos normativos para todos os produtos, processos ou serviços da organização, desde que coerentes com o negócio e atendimento das partes interessadas, uma empresa pode escolher certificar somente um produto do seu portfólio (obviamente, todos os processos aplicáveis a esse produto fazem parte da certifi- cação), ou somente uma de suas plantas de produção, ou qualquer coisa do gênero. Na prática, boa parte das empresas acabam, quando da implantação do sistema de gestão, englobando toda a sua gama de produtos, processos e serviços, o que faz bas- tante sentido. Existem casos, em que somente uma linha de produtos é certificada, isso fica muito claro no escopo que, posteriormente, figurará no certificado da empresa, por exemplo, “produção de veículos elétricos”. Se a empresa fabrica outros produtos que não são elétricos, eles não são certificados e não podem ser passíveis de verificação, no entanto, todos os processos ligados ao produto em questão (compras, comercialização, produção, logística, etc.), necessariamente, precisam ser avaliados. De maneira obrigatória, esse escopo precisa estar formalmente definido, além do certificado, em algum documento da empresa ligado ao sistema (manual do sistema, por exemplo), no entanto, não é necessário um documento específico somente para tal. Na declaração do escopo, são definidos os pontos da norma que não serão atendidos, antigamente, denominados exclusões e, agora, denominados “requisitos não aplicáveis”. Es- ses pontos precisam ser justificados de maneira coerente e são passíveis de questionamentos, caso verifique-se que existe efetivamente a atividade definida como não aplicável, ou ainda, que afete o desempenho do sistema. Outro detalhe importante, nesse caso, é quando o assun- to são as ISO14001, 27001 e 45001, o item é bastante questionável, visto que, sendo as normas definidas com o objetivo de transparecer segurança e credibilidade da empresa, fica um tanto complexo decidir que algum processo não é aplicável. Na prática, o item mais comumente de- finido como não aplicável é o 8.3 da ISO9001, que trata de desenvolvimento de produtos, o que não se aplica caso a organização somente comercialize, por exemplo, ou somente fabrique por encomenda, mas é um item que precisa de bastante tato e cuidado. Requisito 4.4 - Sistema de gestão e seus processos - As normas requerem que sejam de- finidos os processos da organização, sua sequência e interações, deixando claras suas entradas, saídas e meios de monitoramento e responsáveis, mantendo e retendo, quando necessário e aplicável, informação documentada para execução e controle sobre os resultados dos processos. Na prática, o que costuma acontecer é a definição ou descrição de um “mapa de proces- sos”, que pode ser gráfico, ou uma tabela (não se limitando a esses). Nesse mapa, devem estar contidas as informações requeridas na norma, normalmente, apontando algum indicador que determine o desempenho do processo em questão. 19CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Muito cuidado com o primeiro indício de que, se necessário, a salvaguarda de dados dos processos (rastreabilidade ou histórico) é indispensável quando for uma necessidade do produto ou do mercado. REQUISITO 5 – LIDERANÇA O capítulo 5 trata do comprometimento pelo sistema de gestão e seus desdobramentos por parte da alta direção, deixando bem claro que as decisões e responsabilidades recaem sobre a alta direção, fato observado e relativamente comum em alguns negócios. Requisito 5.1 – Liderança e comprometimento - Esse requisito trata da definição da responsa- bilidade da alta direção em disseminar o sistema de gestão, assegurar os recursos necessários para que ele funcione adequadamente, prestando contas e buscando a melhoria contínua do sistema. Na prática, podemos entender que quem deveria explicar sobre a eficácia do sistema é a alta di- reção, algo que não acontece tão frequentemente; costuma-se conversar com a alta direção para com- preender alguns rumos vislumbrados à organização, mas, dificilmente, entra-se tanto no mérito de resultados, sendo uma questão da norma responsabilizar a alta direção por isso, mas o fato de ser res- ponsável não quer dizer que tenha que executar, mas que não seja omissa quanto ao assunto, garantin- do que as sistemáticas serão executadas. Um ponto interessante da ISO45001 é que a alta direção precisa promover uma consulta junto à força de trabalho, solicitando sua opinião quanto às condições de execução de suas atividades, impe- dindo quaisquer barreiras de acessibilidade, idioma, alfabetização, etc. 20CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Requisito 5.2 – Política - É acentuada à necessidade da alta direção definir e manter uma políti- ca documentada, relativa ao sistema de gestão que sejaacessível a todas as partes interessadas. O ter- mo política da forma, que a norma aponta, não é tão familiar para o público brasileiro, mas podemos entender que é a formalização de um compromisso para com o sistema de gestão, independentemente da norma, mas com a clara obviedade que cada qual prescreverá foco no seu escopo particular. Na prática, essa política não necessita ser um documento à parte, ela pode estar definida dentro de outro documento (do manual da qualidade é o mais comum), o que também pode ser feito é o de- senvolvimento de uma política que unifique todas as normas, em sistemas que busquem certificações multinormas. O interessante é que sejam apontados indicadores para verificar o atendimento do que está descrito na política, eles precisam ser coerentes com o que está descrito e podem ser passíveis de questionamentos. Outro ponto que é costumeiro, no mercado, é a utilização de frases e é cobrado para que apareçam certas palavras-chave na mesma, o que não a torna mais ou menos eficiente, pois o que contará será o desempenho dos indicadores que validam o correto rumo da política. Requisito 5.3 - Papéis, responsabilidades e autoridades organizacionais - Fica definido que é responsabilidade da alta direção definir responsabilidade e autoridade sobre processos e sobre o sistema de gestão, que devem ser comunicadas e entendidas pela organização. Na prática, isso se traduz no apontamento claro de quem é a responsabilidade por cada processo, sendo que essa pessoa nomeada precisa ter autoridade para fazer com que seus processos produzam os re- sultados almejados, que suas metas sejam cumpridas. Dessa forma, o responsável do processo é quem precisa responder pelo desempenho dos seus indicadores, realizando análises e promoven- do ações de correção quando necessário. 21CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO REQUISITO 6 – PLANEJAMENTO O capítulo 6 trata de todo o planejamento do sistema de gestão, na medida do possível, to- das as situações relativas aos processos devem ser previstas e previamente planejadas, ocorrendo rápida reação sob qualquer eventualidade. Requisito 6.1 – Ações para abordar riscos e oportunidades - Esse requisito trata que, nos momentos de planejamento do sistema de gestão, sejam definidos, discutidos, analisados e toma- das ações acerca dos riscos e oportunidades associados ao negócio, precisam abordar impactos am- bientais (no caso da ISO14001), riscos relativos à segurança da informação (no caso da ISO27001) e riscos à saúde ocupacional (no caso da ISO45001). Importante salientar que, na análise dos riscos apontados, pode-se definir que serão tomadas ações para evitar risco, assumir, eliminar fonte, mitigar ou reter o mesmo, sendo que os critérios, para essa tomada de decisão, devem ser claros. Na prática, o que costuma acontecer é uma análise sobre os resultados da matriz SWOT (não necessariamente desta maneira), abordando cada um dos pontos, comentando e definindo o que será realizado (plano de ações sobre riscos), isso tudo pode ser textual. O que acaba acontecendo é uma cobrança (de forma equivocada), para que isso apareça em uma tabela utilizando exatamen- te a nomenclatura da norma (assumir, mitigar, eliminar... os riscos), além de uma indução para que a organização tenha um processo de planejamento estratégico completo e bastante formal. Cabe entender que, no final das contas, as normas estão levando as empresas a possuírem um “certo” processo de planejamento estratégico, isso é natural, o ama- durecimento das práticas de gestão acaba levando a isso. No entanto, não se pode en- tender como uma obrigação, sendo necessário compreender que, dependendo do por- te da organização, algumas dessas situações de extremo formalismo e altos níveis de planejamento são impraticáveis, é incoerente uma organização de pequeno porte e com nível de planejamento modesto, simplesmente produzir todo esse tipo de análise de forma extremamente madura ( contrário também é verdade, em uma organização madura e de grande porte é de se esperar um processo muito robusto neste sentido), portanto, uma leitura do negócio e entendimento do momento é necessária, na práti- ca, nota-se uma cobrança “padronizada” por um modelo específico de demonstração, análise e tomada de ações sobre riscos, o que precisa ficar claro que não é a intenção da norma, e sim que o processo exista e que se desenvolva de forma coerente. Requisito 6.2 – Objetivos e planejamento para alcançá-los - Cada uma das nor- mas, no âmbito do seu escopo, solicita que sejam claramente definidos os objetivos em relação a cada um dos seus processos e que sejam coerentes com a política (requisito 5.2), mensuráveis, monitorados, comunicados e atualizados como apropriado. Nesse processo de planejamento, devem estar claros, para cada objetivo, o que será feito, re- cursos necessários, responsável, prazos e como os resultados serão avaliados. 22CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Na prática, na grande maioria das vezes (não necessariamente desta forma), no estabeleci- mento de indicadores para cada um dos processos mapeados (requisito 4.4) é que, em momentos apropriados, os responsáveis por esses processos definam metas (que devem demonstrar melhoria), colham seus resultados, analisem e tomem ações para eventual correção de pontos em desacordo com o planejado. De maneira coerente, esses indicadores devem estar alinhados com a política da empresa, usualmente, alguns indicadores desses processos também serão indicadores ligados à política, de forma a demonstrar que a mesma está sendo atendida. Outro ponto importante é que as pessoas ligadas aos processos deveriam estar cientes de que indicadores medem o resultado do seu trabalho e seus resultados (de forma coerente, é claro, não é necessário nenhuma decoreba). Em análise, é de maneira análoga ao item 6.1, uma cobrança sobre levantamento de dados, análises e tomadas de ações mensais sobre todos os indicadores definidos à empresa, inclusive alguns avaliadores acabam por inferir que indicador tem que ser avaliado (como deve ser de- monstrado um determinado resultado), e que metas anuais devem ser definidas. Isso é total- mente incoerente, mais uma vez, precisa ficar claro que isso é uma decisão da empresa e que não existe padrão. Se de forma coerente, um indicador atender mais de um processo, ótimo, desde que exista a análise e tomada de ações sobre o mesmo, do mesmo modo que todas as pessoas li- gadas aos processos não precisam saber de cor e salteado quais são os indicadores e seus resul- tados. Lembrando, o sistema existe para que a empresa melhore seus processos e crie momentos em que se reflita, analise e aconteçam melhorias sobre os mesmos, e não que isso seja uma fonte interminável de ações e não-conformidades, isso acaba por criar uma situação de entendimento que a normalização de processos somente cria burocracia desnecessária e sem fundamento, o que não é o real intuito, dessa forma, os avaliadores precisam estar cientes disso. É, de certa forma, bastante incoerente uma empresa que está crescendo, que não costuma ter problemas com seus clientes, ser sempre cobrada que sua gestão não está sendo feita de forma correta. Apesar do contexto demonstrar ao contrário, existe uma cobrança sobre as sistemáticas serem feitas de uma forma que, talvez, não se enqua- dre com a dinâmica do negócio, por exemplo, uma construtora tem dificuldades de demonstrar uma estabilidade em certos processos de forma mensal, visto que o tempo de entrega de seus produtos é muito mais largo do que isso, da mesma forma que, tal- vez, uma empresa que opere com ações na bolsa de valores, modifique e tome decisões sobre seus processos, um bom número de vezes dentro de um mês. Não existe prescrição sobre número de indicadores, periodicidade de análise e definição de metas e ações, tampouco sobre quais são os indicadores corretos para de- finir comocada processo será avaliado (obviamente, a coerência é necessária). REQUISITO 7 – APOIO O capítulo 7 trata de todas as atividades de apoio à execução do processo e produtos: Requisito 7.1 – Recursos - Nesse requisito, as normas solicitam que sejam defi- nidos os recursos necessários para que, cada uma, no âmbito do seu escopo, os resul- tados esperados pelo Sistema de gestão sejam alcançados. Dentre esses recursos está a estrutura e capacidade necessária para atender à demanda solicitada e aceita pela or- ganização. Essa estrutura está relacionada com instalações (edifícios, luz, água, equi- 23CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO pamentos de deslocamento de materiais, etc.), necessidade de terceirização de processos, mão de obra de acordo com a demanda definida, softwares e recursos tecnológicos coerentes com o mercado atendido, ambiente para execução dos processos e equipamentos para monitoramento dos processos e produtos. Na prática, é necessário avaliar se a organização realmente possui capacidade física e técnica de atender de forma coerente e satisfatória a demanda que aceitou. Quando falamos de capacidade, esta- mos questionando se os equipamentos da empresa são coerentes para realizar o volume e o nível espe- rado de qualidade do produto, o mesmo se aplica à mão de obra. Existe a possibilidade da empresa ava- liar se certos pontos necessários para atender a demanda podem ser terceirizados ou subcontratados, mas, independentemente, os resultados continuam sob responsabilidade da empresa. O mesmo vale à questão de monitoramento, o sistema de validação da saída do produto (seja avaliação no processo ou final) precisa ser coerente com as suas necessidades, em termos de capacidade, resolução, etc. Quan- do se trata de capacidade técnica, questiona-se se existe base de conhecimento coerente na empresa (acesso a documentos técnicos, normas, etc.). Quando se trata de ambiente, a norma questiona não somente a parte ambiental (claro que isso é aplicável quando em questão à ISO14001, ou às condições de segurança operacional quando se trata de ISO45001), mas se é necessária alguma condição específica para realização do produto (por exemplo, um frigorífico precisa de equipamentos e controle sobre temperatura, condições sanitárias, etc.). Caso necessárias, as condições precisam ser mantidas. Em nenhum momento está citado que deve existir um processo de manutenção preventiva, por exemplo, em empresas que se utilizam maquinário, mas que as condições de realização do produto precisam ser mantidas (dependendo da situação, a manutenção corretiva é coerentemente aplicável), cuidado com esse ponto, se é realmente necessária, precisa existir, caso contrário, é uma opção da em- presa. Da mesma forma, não existe a obrigação sobre rastreabilidade do produto ou do processo, mas avaliar se a mesma é uma necessidade do cliente ou do mercado de atuação, se é coerente existir. 24CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Mais um ponto abordado nesse item é a questão calibração de instru- mentos e equipamentos, onde precisa estar claro que é necessário definir uma metodologia para determinar equipamentos apropriados e que seja as- segurada essa apropriação, definição dos equipamentos, limites de uso, sis- temática para aprovação e “calibração dos mesmos”, mantendo fiéis, den- tro do limite do necessário, seus resultados. Não existe a obrigatoriedade de tudo precisar ser realizado em laboratórios credenciados ou rastreados na RBC (ponto para ter cuidado), mas sim a coerência nessas definições. Requisito 7.2 – Competência - As normas definem que é necessário que a empresa tenha clareza sobre as necessidades de competências para cada função da empresa, promovendo a busca dessas competências quan- do necessário. Devem existir evidências documentadas e apropriadas para comprovar essas competências. Na prática, cada cargo da empresa acaba tendo um descritivo liga- do ao mesmo, contendo as competências mínimas (experiência, formação, treinamento), necessárias para que uma pessoa possa exercer a função em questão, além disso, é necessário manter registros coerentes destas com- petências (certificados, avaliações, etc.), valendo para funcionários e ter- ceirização ou subcontratação. As competências precisam ser avaliadas, in- clusive quando existe esse tipo de situação. 25CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Os equívocos acontecem quando se “obriga” a existência de um descritivo de cargo formal, pon- to que a norma não especifica informação documentada, se simplesmente estiver claro para todos, as necessidades de cada cargo, o item está satisfeito (imagine uma pequena empresa familiar com 5 fun- cionários onde todos se conhecem, seria necessário descritivo de cargo para tão poucas pessoas?). Claro que a existência de um descritivo é a forma normalmente mais fácil de cumprir tal item, fora o fato de que acaba documentando essa necessidade, mas precisa ficar claro que isso não é uma obrigação. Outro fato é a cobrança por um treinamento ou nível de escolaridade formalmente documentado (Certificado de Curso, etc.), sendo necessário entender que essa competência pode ser formalizada por uma avaliação da própria empresa sobre a competência da pessoa em realizar a tarefa (por exemplo, se a necessidade é saber ler e escrever, não preciso necessariamente de um registro escolar dizendo que a pessoa cursou a 1ª série, isso é facilmente avaliado pedindo para ela ler ou escrever algo); a dica está em cuidar com o que se coloca como necessidade do cargo e avaliar como demonstrar que essa necessidade está cumprida. Requisito 7.3 – Conscientização - As normas estipulam que as pessoas de uma organização estejam conscientes em relação às suas atividades (cada norma cobra o âmbito do seu escopo), e que é papel da empresa promover essa conscientização. Na prática, esse item, no momento da observação da atividade da empresa ou conversa com as pessoas, avalia se estão conscientes com o que devem fazer para que sua tarefa seja correta- mente executada (ISO9001). Se a pessoa estiver executando a atividade de forma ambientalmente correta (por exemplo, colocando os rejeitos de seu processo em local apropriado, ISO14001), se a execução da tarefa não implica em falha de segurança de dados (ISO27001) e se está sendo realiza- da de forma segura e salubre (ISO45001). O que não deve ocorrer é uma cobrança sem sentido por uma decoreba em tor- no de políticas, objetivos, indicadores, contribuição para o sistema, não conformi- dades, etc., precisando ser verificado por uma questão de bom senso durante a ava- liação e não necessariamente com perguntas diretas esperando respostas prontas. O item trata de consciência sobre o assunto e não sobre memorização! Requisito 7.4 – Comunicação - As normas estipulam que a organização deve determinar as comunicações internas e externas pertinentes para o sistema de ges- tão, incluindo o que deve ser comunicado, quando, para quem, de que maneira e quem é o responsável por passar a informação (cada norma no âmbito do seu escopo). No caso da ISO14001, existe a necessidade de retenção das comunicações em relação ao sistema ambiental. Na prática, isso acaba gerando uma espécie de quadro com os pontos necessários de informação mais relevantes para o sistema de gestão, uma espécie de plano de comunicação, mas não necessariamente precisa ser dessa forma, visto que a norma não define que isso precisa ser documentado, mas, nor- malmente, é a maneira mais usual de demonstrar o atendimento, visto que pode ocorrer uma conversa e verificação sobre o tema. O equívoco está em obrigar a existir um plano forma e também o exagero sobre a quantidade de informações descritas como obrigatoriamente necessárias de divul- gação, pois é passível de verificação, de forma coerente, abordados os pontos neces- sários de comunicação com cada parte interessada, de acordo com as necessidades26CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO de cada uma, por exemplo, funcionários podem ser comunicados de problemas referentes aos produtos, situações específicas relativas ao sistema de gestão (auditorias, opinião de clientes, resultados de processo, etc.), acionistas precisam ser comunicados sobre o atendimento das metas da empresa, fornecedores sobre a demanda de trabalho, clientes sobre atendimento de seus pedidos e assim por diante. Não é necessário uma minúcia muito grande, e sim a definição de pontos coerentes. Requisito 7.5 – Informação documentada - Item praticamente idêntico entre as normas que estamos citan- do, trata da definição de como e o que será documentado no sistema de gestão, definindo método de desenvolvi- mento dessa documentação (meio, formato, linguagem, aprovação) e controle sobre a mesma (garantia de dispo- nibilidade somente da informação atualizada, definição do que acontece com documentação obsoleta, formas de reter informações necessárias, etc.). A mesma situação vale para documentos externos pertinentes e necessários para o sistema (normas, manuais, catálogos, especificações de clientes, etc.). Na prática, o que acaba sendo definido é uma estrutura documental coerente à empresa (por exemplo, o mais comum é a existência de Manual do Sistema de Gestão, procedimentos, instruções, registros, mas não necessa- riamente tudo isso ou somente isso). Tendo a estrutura definida, quais são os padrões (template relativo aos do- cumentos, se serão físicos, digitais, etc.), como são controlados quanto à sua revisão (recolhimento de documen- tação obsoleta, por exemplo), gerando uma listagem de documentos válidos e ligados ao sistema de gestão (muito comumente chamada de Lista Mestra de Documentos). De forma análoga, existe a necessidade de haver definição sobre quais registros sobre seus processos são salvaguardados, por quanto tempo e de que forma isso precisa ser mantido (chamada comumente de lista de controle de registros). A norma deixa bem claro que “A extensão da informação do- cumentada para um sistema de gestão da qualidade pode diferir de uma organização para outra devido ao porte da organização e seu tipo de atividades, processos, produtos e serviços; à complexida- de de processos e suas interações; à competência de pessoas”, o tamanho e complexidade da estrutura tem que ser coerente com o porte da organização (estruturas mais simples são admissíveis em organizações menores, do mesmo modo que organizações com- plexas acabam exigindo, por consequência, estrutura mais com- plexa). Outra nota importante é que o acesso às informações tam- bém precisa ser avaliado (por exemplo, o caso ou necessidade de serem sigilosas ou “sensíveis”). O cuidado é com a exigência sobre a obrigatoriedade de um tipo ou outro de documento ou estrutura, sendo uma definição das necessidades da organização, de mais ninguém, se comprovada- mente o sistema funciona de maneira coerente com uma estrutura documental mais enxuta, isso está correto e conveniente à organi- zação. Do mesmo modo, não existe prescrição, exceto exigências legais, de cliente ou de mercado, que defina o tempo, a extensão e forma de retenção de informações. 27CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO REQUISITO 8 – OPERAÇÃO O capítulo 8 é onde a norma ISO9001 mais inclui requisitos, afinal, se trata da parte operacional do sistema, o “core business” da empresa. Efetiva- mente, seus processos de geração de valor acontecem, tratando da realização e controle das operações do dia a dia da organização. Não trataremos mais de planejamento e preparação do sistema de gestão, mas do controle da exe- cução dos seus processos. Cabe salientar que a norma IATF16949 é bastante contundente nessa fase, apesar de não estarmos tratando da mesma, é inte- ressante verificar seus requisitos e práticas necessárias para fins de avaliar, a título de benchmarking, ou de verificação de boas práticas, quando o caso for a implementação da ISO9001, na indústria metalomecânica. As indústrias far- macêuticas, da área da saúde e da área química se valem muito de normas, ou material técnico sobre Boas Práticas de Fabricação (BPF). Merecem destaque: • Necessidade de haver um plano de respostas a emergências ambientais, no caso da ISO14001, onde deve efetivamente definir a tratativa acerca dos riscos ambientais descritos no item 6.1, e ter plano de contenção àqueles riscos que se tornarem situações reais (que efetivamente acon- tecerem). Esse plano deve ter uma sistemática periódica de teste das situações viáveis de serem realizadas (exemplo, teste sobre o procedi- mento a ser tomado quando acontece um vazamento de óleo). 28CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO • De forma análoga, a ISO45001 trata da situação acerca dos riscos operacionais definidos como pertinentes. Além disso, a norma solicita a definição de sistemática para tratativa das situações de risco operacional, quando da eventual contratação de terceiros, como a empresa garante que os requisitos da segurança e saúde ocupacional estão sendo cumpridos pelos mesmos, o que re- almente requer uma boa definição de planos e controles nesse sentido. • A ISO27001 traz uma abordagem de verificação das vulnerabilidades acerca de todos os dispositi- vos, equipamentos, uso e transmissão de dados na execução das operações da empresa, e de que maneira será garantida sua segurança, ou contida a falha. Falhas, nos itens mencionados, nas normas ISO14001/27001/45001, costumam gerar situações em que a empresa precisa responder judicialmente com altos custos envolvidos. O mesmo acontece à norma ISO9001, em situações análogas, onde os produtos são de alto valor agregado, ou de grande im- pacto em termos de segurança. Requisito 8.1 – Planejamentos e controles operacionais - A norma ISO9001 solicita que sejam determinados, em alto nível (de maneira geral), quais serão os requisitos de aprovação dos produtos e processos, determinando quais serão os recursos necessários para execução de cada etapa, e quais controles devem ser realizados em cada uma das mesmas, além disso, está definido que os mesmos ti- pos de avaliação devem acontecer para os processos terceirizados. Na prática, esse item acaba sendo a verificação da necessidade de cada um dos processos e a formalização dos controles atrelados aos mesmos, o que, costumeiramente, acaba-se direcionando à descrição de procedimentos ou instruções operacionais, contendo as informações necessárias. Requisito 8.2 – Requisitos para produtos e serviços - A norma ISO9001 trata da definição dos meios e modelos de comunicação com o cliente, infor- mando-o sobre produtos, consultas sobre pedidos, obter retroalimentação, controlar propriedade do cliente, definir ações de contingência quando perti- nente. Além disso, o item também trata de como são verificados os requisitos de cliente para fornecimento de produtos e serviços e, após verificados, como se- rão analisados a fim de avaliar se existem condições de atender às necessidades e, em caso de qualquer divergência, como as mesmas são resolvidas. Na prática, costumeiramente, se traduz em como o cliente é informado do produto ou serviço, a fim de verificar se o mesmo atende suas necessidades (essa informação pode ser catálogo, atendimento, consultoria de venda, site da internet, etc., desde que esteja clara a informação e que exista canal para veri- ficar qualquer dúvida. Muito cuidado com legislação pertinente ao produto, o cliente precisa ser informado e estar ciente da mesma (exemplo, um produto que tem um limite de uso por legislação, como a velocidade máxima que se pode usar em um reboque acoplado ao carro). A questão de produtos de cliente, em poder da empresa, é bastante deli- cada, mas quando existe o caso (por exemplo, um carro ou qualquer material/ matéria-prima do cliente, que será instalado algo, ou realizado algum serviço no mesmo), tem que existirum processo formal para salvaguardar e manter as condições dele, sendo necessário ter um controle específico para esse material (controle de entrada, status e saída, por exemplo). 29CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Outro ponto que geralmente aparece é o fato de ter prometido um produto para uma de- terminada data e o mesmo ser cumprido (ou qualquer diferença entre o acordado no pedido e a entrega), isso precisa ser informado e aceito previamente com o cliente, chamado de “emenda de contrato”, lembrando que o cerne da norma é atender às necessidades do cliente, sendo ne- cessária avaliação e cuidado. A informação, tanto da análise, quanto dos requisitos estabelecidos, precisa ser retida na medida do apropriado. Requisito 8.3 – Projeto e desenvolvimento de produtos e serviços - Relativamente com- plexa, a norma determina que deve existir uma sistemática de gerenciamento de projetos na em- presa. Precisa ser definido, como serão organizadas as etapas de projeto, como serão verificadas e validadas, como serão determinados os recursos utilizados, autoridade e responsabilidade. Definida a sistemática, é necessário o processo para determinar requisitos específicos de cliente (funcionais, desempenho, estatutários, regulamentares, normativos, modos de falha). Esse processo precisa ser documentado de maneira clara, completa e sem ambiguidades. Es- tando o projeto em curso, o mesmo deve ter controles apropriados através de comparativos entre resultados requeridos e obtidos, validação, correção de rumo, bem como todas as etapas com informações retidas. Outras duas etapas requeridas, também com manutenção de registros de forma mandató- ria, são a formalização da saída de projeto, demonstrando o atendimento dos dados de entrada e a aprovação e o controle sobre as modificações de projeto, bem como a análise crítica sobre as mes- mas, autorizações de mudança e ações para prevenir eventuais impactos oriundos da mudança. Esse requisito, historicamente, é o ponto de exclusão ou não aplicabilidade em muitas empresas, pois sempre se entendeu projeto como “projeto mecânico, projeto de produto”, e a norma deixa claro que se aplica a produtos e serviços, que também devem ser planejados. Outro ponto é que havia entendimento que o item era somente válido para novos produtos, totalmente diferentes daqueles já existentes. Recente- mente, mencionam que qualquer produto que seja desenvolvido, mesmo quando há a junção de partes já conhecidas, se aproximando muito mais de uma metodologia para gerenciamento de projetos estratégicos, portanto, cuidado, esse item não é aplicável somente à indústria, sendo importante entender o que é o produto/serviço da empre- sa e como são caracterizados novos produtos/serviços, pois a chave para o bom ajuste desse requisito está nesse ponto. Na prática, esse item se traduz por um bom entendimento do que é projeto à or- ganização em questão, definindo uma forma de coletar e registrar as informações de entrada; documentar e controlar o planejamento e sua consecução e avaliar as saídas e eventuais mudanças. Muitos softwares já ajudam nesse ponto, mas nada impede que uma planilha bem estruturada não possa atender satisfatoriamente. Requisito 8.4 – Controle de processos, produtos e serviços providos externa- mente - Trata da sistemática para definir e controlar todos os processos, produtos ou serviços providos por terceiros e que impactem a operação da empresa, sendo compre- endidos aqueles que serão incorporados ao produto/serviço da empresa, ou fornecidos diretamente ao cliente sendo que, para tanto, é necessário definir critérios à avaliação, 30CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO seleção, monitoramento de desempenho e reavaliação de provedores exter- nos. Além disso, a empresa precisa determinar a verificação, ou outra ativida- de necessária para assegurar que os processos, produtos e serviços providos, externamente, atendam a requisitos. Mais um ponto importante requerido, é que as informações que são enviadas para o fornecedor sejam corretas, coe- rentes e suficientes para que ele possa realizar suas operações e atender a or- ganização de forma satisfatória, inclusive, se necessário, as competências que o fornecedor precisa ter para entregar o produto/serviço. Na prática, deve haver critérios definidos para selecionar, monitorar e reavaliar fornecedores, normalmente, em uma sistemática onde serão ava- liados requisitos (por exemplo, se o fornecedor também possui ISO9001) para aprovação deles, através de indicadores. Nessa verificação, que pode ser uma auditoria, precisam ser avaliados os requisitos necessários para fornecimento (aqui, no caso da indústria, o modelo da VDA6.3 é muito interessante, o que também pode ser usado como modelo “traduzido” e simplificado, inclusive para outros modelos de negócio/serviço). Além disso, costuma-se fazer uma avaliação geral sobre o desempenho corriqueiro e atendimento dos fornece- dores (índice de qualificação do fornecedor, auditoria no fornecedor, etc.), algo que é extremamente saudável às empresas que terceirizam partes de sua produção. O cuidado é em relação ao exagero e complexidade na sistemática de avaliação, que podem se tornar extremamente dificultosas na operação do dia a dia da operação, acarretando em custos altos. Um grande equívoco acontece com a “obrigação” que certos avaliadores impõe de ter que ser feito um determinado tipo de avalição, bem como em quais fornecedores, sendo necessário muito bom sen- so, pois as proporções que isso pode tomar são bastante grandes. O coerente é que sejam observados os níveis de impacto que um fornecedor tem sobre a operação para tomar esse tipo de decisão, além dis- so, observar como se configura a avaliação do fornecedor, que pode ser algo com periodicidade fixa ou, eventual, quando do seu fornecimento, algo que muitos, no mercado, não conseguem compreender, criando burocracias desnecessárias e que não trazem benefícios à empresa. 31CERTIFICAÇÕES E AUDITORIA DA QUALIDADE SUMÁRIO Requisito 8.5 – Produção e provisão de serviço - Dentro do próprio “core business” da empresa, esse requisito se traduz como a parte mais importante, sendo o efetivo controle ope- racional. Nesse sentido, a norma trata da existência de condições controladas e estrutura de ma- nufatura (incluindo equipamento de controle, medição e monitoramento, infraestrutura, am- biente, pessoal competente) apropriados para assegurar o controle eficaz do processo e produto/ serviço. Também cita a validação e revalidação de processos em que não for possível fazer uma verificação de saída (onde não é possível verificar se o produto/serviço está correto). Do mesmo modo em que define onde será apropriado e coerente, é necessária a implantação de identifica- ção única (rastreabilidade), definindo qual será a estrutura e documentação necessárias para tal. Nesse item, também reforça a questão de controle sobre propriedade de cliente ou de fornecedor, citando “quando a propriedade de um cliente ou provedor externo for perdi- da, danificada ou, de outra maneira, constatada inadequada para uso, a organização deve relatar e reter informação documentada sobre o que ocorreu”, isso se traduz em material, componentes, ferramentas e equipamento, instalações de cliente, propriedade intelectual e dados pessoais. De forma análoga, trata da preservação do produto/serviço durante a exe- cução da atividade, “manuseio, controle de contaminação, embalagem, armazenamento, transmissão ou transporte e proteção”. Outro ponto tratado comenta sobre as atividades de pós-entrega (pós-venda, assis- tência técnica, por exemplo), onde devem ser considerados os “requisitos estatutários e regulamentares, consequências indesejáveis associadas com seus produtos e serviços, uso e o tempo de vida pretendido de seus produtos e serviços, requisitos específicos do cliente e retroalimentação de cliente”. O