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DIREITO DE FAMÍLIA AULA 3 Profª Daiana Allessi Nicoletti Alves 2 CONVERSA INICIAL Na aula de hoje, falaremos sobre os alimentos, que nada mais são que a representação clara do princípio da solidariedade familiar em prol da dignidade humana dos parentes, cônjuges e conviventes. Neste sentido, iniciaremos nossos estudos pelo conceito e pelas espécies de alimentos (Tema 1), falaremos sobre as características da obrigação alimentar (Tema 2), trataremos das obrigações e deveres do alimentando e do alimentante (Tema 3), conheceremos como é o processo de ação de alimentos (Tema 4) e finalizaremos falando sobre execução de alimentos e sobre os ritos da coerção pessoal do devedor e da expropriação de bens (Tema 5), de maneira a possibilitar o entendimento da matéria e seu consequente aprofundamento no conteúdo das próximas aulas. Vamos começar? TEMA 1 – CONCEITO E ESPÉCIES DE ALIMENTOS Os alimentos são a representação mais fiel ao atendimento dos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar, pois significam o dever de cuidado e amparo dos cônjuges, companheiros e parentes uns em relação aos outros, quando necessário para uma sobrevivência íntegra. A obrigação alimentar é derivada da lei e tem sua teleologia baseada no dever de ajuda de um parente para com o outro, para que o desfavorecido financeiramente possa suprir suas necessidades materiais como alimentação, vestuário, habitação e higiene, bem como necessidades de ordem moral e cultural. A prestação de alimentos tem a intenção de auxiliar o alimentado a manter seu mínimo existencial esssencial a uma sobrevivência digna (Sarlet, 2013). O art. 1.694 do CC dispõe sobre a obrigação alimentar, autorizando parentes, cônjuges ou companheiros a pedir, uns aos outros, os alimentos por eles necessitados para a vida, de maneira a serem compatíveis com sua condição social e, inclusive, atender às obrigações de sua educação. Frisa-se que a prestação alimentar deve obedecer aos critério da possibilidade econômica de quem pagará os alimentos e da necessidade de 3 quem os receberá, devendo ser a decisão judicial sempre pautada na proporcionalidade. Considerado como um instituto de ordem pública devido ao interesse do Estado de proteger a família, os alimentos podem ser classificados segundo os seguintes critérios: • Quanto à sua natureza, podem ser naturais (respeitam apenas o necessário à sobrevivência do alimentando) ou civis (destinados a manter a condição social do alimentando), ambos regulamentados no art. 1.694 do CC; • Quanto à sua causa jurídica, podem resultar da lei, da vontade do homem ou do delito. Conforme Cahali (2013), são considerados legítimos quando oriundos da lei e são devidos em razão dos vínculos de parestesco, seja pela consanguinidade ou em decorrência do casamento ou união estável, todos derivando do Direito de Família; • Quanto à finalidade, são classificados como definitivos (os determinados pelo juiz na sentença ou em homologação de acordo) ou provisórios (concedidos liminarmente em tutela antecipada); • Quanto ao momento em que são solicitados, podem ser pretéritos (relativos às pensões fixadas judicialmente e não pagas pelo devedor) ou futuros (devidos em decorrência de decisão judicial e devidos desde a citação do devedor). TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR A obrigação alimentar não se resume aos interesses pessoais do credor, mas se fundamenta sobre um interesse superior, de ordem pública, que privilegia a sociedade e o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, posto que intimamente ligado à subsistência e personalidade do indivíduo, ou seja, ao seu direito humano e fundamental de vida digna. São consideradas características intrínsecas à obrigação alimentar o direito personalíssimo, a transmissibilidade e a divisibilidade, conforme se explicará adiante. No tocante ao direito personalíssimo, é assim caracterizada a obrigação alimentar por serem os alimentos fixados em razão da pessoa do alimentando, ou seja, em virtude do parentesco com o devedor da obrigação, sendo 4 indissociável da pessoa o crédito e a dívida, de modo que a pessoalidade dos alimentos se configura em virtude da concreta necessidade de quem os pleiteia e da possibilidade financeira de quem deve prestá-los. Em relação à transmissibilidade dos alimentos, esta se formaliza por meio do disposto no art. 1.700 do CC, qual seja: “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694” (Brasil, 2002). Assim a melhor interpretação é que a prestação de alimentos é transmissível em decorrência das relações familiares do art. 1.694 do CC, havida entre parentes, cônjuges e companheiros. Cumpre salientar que, ao ser transmitida aos herdeiros, a obrigação alimentar está limitada ao quinhão de cada um deles, seja ele legítimo, necessário ou testamentário (Madaleno, 2019). Em relação à divisibilidade, a obrigação de pagar alimentos deve ser rateada entre todos os coobrigados, só sendo excluído algum codevedor se demonstrar não possuir condições financeiras para prestar os alimentos, de acordo com o art. 1.698 do CC, de modo que todos os obrigados à prestação alimentar devem responder na proporção dos seus recursos. É, ainda, importante mencionar que os alimentos sempre são condicionados às necessidades do alimentado e às possibilidades do alimentante, sendo passíveis de revisão judicial em caso de mudança no binômio possibilidade de quem paga e necessidade de quem recebe. Ainda, os alimentos são recíprocos, de modo que as posições entre devedor e credor de alimentos pode ser invertida em caso de necessidade comprovada. A obrigação alimentar é imprescritível e irrepetível, ou seja, os alimentos pagos não podem ser devolvidos. Pode-se também afirmar que os alimentos são insuscetíveis de compensação em razão de sua natureza alimentar de subsistência. Não é possível renunciar ao direito aos alimentos, conforme art. 1.707 do CC, por ser uma norma de ordem pública e dispor sobre interesse personalíssimo e indisponível. E, justamente por essas características, os alimentos são impenhoráveis em dívidas comuns, haja vista serem destinados à manutenção do mínimo existencial da pessoa. 5 2.1 Prescrição O direito aos alimentos é imprescritível, porém, o direito de cobrar prestações vencidas e não pagas prescreve em dois anos, conforme art. 206, parágrafo 2º do Código Civil. A prescrição do crédito alimentar pode ser decretada de ofício pelo juiz (art. 487, II), desde que se oportunize a manifestação do exequente. A exceção a esta regra é que não corre prescrição contra os menores absolutamente incapazes, os menores de 16 anos (art. 198, I do CC), bem como durante o exercício do poder familiar (art. 197, II do CC). TEMA 3 – OBRIGAÇÕES E DEVERES DO ALIMENTANDO E DO ALIMENTANTE O alimentando ou credor da obrigação alimentar pode ser considerado a pessoa física que detém parentesco biológico ou socioafetivo, de casamento ou união estável, estendendo-se também aos idosos sem condições de proverem o próprio sustento. É preciso dar especial destaque às relações de parentesco entre pais e filhos, com ou sem convivência familiar, e que garantem o pedido de alimentos. Pais, filhos e irmãos em virtude do parentesco são devedores da obrigação alimentar reciprocamente, ou seja, alimentantes. Os parentes de grau mais próximo são mais elegíveis à obrigação que os distantes e em relação aos parentes de mesmo grau, haja vista não haver solidariedade na obrigação, o encargo alimentar é imposto proporcionalmente às condições econômicas de cada um. Não só o parentesco obriga ao alimentante, mas suas possibilidades financeiras de assumir o encargo alimentar sem prejuízo de seu própriosustento, nos termos do art. 1.695 do CC. Ainda, pode o alimentante exigir prestação de contas do credor de alimentos ou de seu guardião no caso de credor menor. Para exercer seu direito de pedir alimentos, o alimentando deve comprovar sua necessidade, demonstrando não possuir bens passíveis de gerar rendimento ou que seu trabalho não supre suas necessidades básicas. No caso de filho menor, o requisito da necessidade é presumido (Madaleno, 2019). 6 Em relação à obrigação alimentar prestada pelo pai em favor do filho, existem duas modalidades, quais sejam: a) alimentos decorrentes do poder familiar/autoridade parental que se estende até a maioridade civil (18 anos), ou até que o filho conclua a graduação superior, em consonância com o Estatuto da Juventude (Lei n. 12.852/2013), de modo que neste caso a necessidade é presumida; b) alimentos oriundos do vínculo vitalício de parentesco em relação aos filhos maiores que comprovarem inequivocamente necessitarem de alimentos ou, em relação aos filhos com deficiência intelectual e mental impossibilitados de proverem o próprio sustento. Os alimentos são devidos entre ex-cônjuges e ex-companheiros, pelo dever de assistência mútua. Os idosos em virtude do parentesco também podem pedir alimentos (Estatuto do Idoso – Lei n. 10.741/2003), podendo optar pelo seu prestador (um dos filhos, um dos netos). Este direito é oponível, inclusive, na falta de familiares, ao Estado por meio da assistência social. Ainda, em decorrência do dever de solidariedade intergeracional, a obrigação alimentar pode iniciar antes mesmo do nascimento, conforme disposto pela Lei n. 11.804/2008, que normatizou os alimentos gravídicos. A finalidade dessa legislação foi auxiliar a mulher grávida com as despesas durante a gravidez até o parto, que devem ser suportadas pelo futuro pai. Após o nascimento, os alimentos gravídicos, de acordo com entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), convertem-se em pensão alimentícia sujeita a pedidos de revisão ou exoneração. Ainda, é importante mencionar que, conforme decisão do STF no Recurso Extraordinário n. 898.060 (Tema 622) de repercussão geral, reafirmando a multiparentalidade, foi reconhecido que tanto o pai socioafetivo quanto o biológico são devedores de alimentos em relação ao filho comum, dividindo-se o montante devido de acordo com as possibilidades financeiras de cada um. TEMA 4 – AÇÃO DE ALIMENTOS Não sendo cumprida espontaneamente pelo devedor a prestação alimentar, deve o credor judicializar seu crédito para, assim, garantir sua subsistência. Para tanto, o Código de Processo Civil no art. 693, parágrafo único, determina a utilização de legislação específica conhecida como Lei de 7 Alimentos (Lei n. 5.478/1968), que faz com que a demanda de alimentos siga o rito da lei especial. A legitimidade para propor a ação alimentar é do credor de alimentos, que deve comprovar com a petição inicial seu parentesco com o devedor alimentante, destacando-se inclusive a legitimidade do Ministério Público para a propositura da ação, de acordo com a Súmula 594 do STJ. Embora a lei afirme expressamente que a ação não precisaria ser distribuída e as custas não precisariam ser pagas mediante simples afirmação do autor de sua hipossuficiência econômica, não é assim que o procedimento atual funciona. Destaca-se ainda a letra morta da lei ao dispor que, caso o autor compareça sozinho em juízo, na intenção de defender seus interesses, o magistrado deveria nomear-lhe um advogado. Essas disposições não possuem mais sentido, de modo que a distribuição da ação é indispensável para seu prosseguimento, bem como cabe à Defensoria Pública representar que não dispõe de condições financeiras de arcar com um advogado (Dias, 2021). Com relação à competência para a propositura da ação de alimentos, há que se atentar para o disposto na legislação processual, sendo o foro competente o do domicílio ou residência do alimentando ou de seus representantes. Esse privilégio de foro é mais uma manifestação dos princípios constitucionais da proteção integral e melhor interesse do menor. O foro permanece sendo definido em benefício do alimentando nas ações de revisão de alimentos e de exoneração. Em casos de ações cumuladas, ainda prevalece o foro privilegiado do alimentando. Importante destacar que, nos casos de investigação de paternidade com pedido de alimentos, nas demandas de divórcio, anulação de casamento e dissolução de união estável, o foro competente é o juízo do domicílio do credor de alimentos. Assim, após ser distribuída e estando apta, o juiz despacha a inicial arbitrando alimentos provisórios e designando audiência de conciliação e julgamento. O devedor deve ser citado contendo o mandado a informação sobre o prazo para a apresentação da contestação, conforme disposto no art. 5º, parágrafo 1º, da Lei de Alimentos. O art. 7º da Lei de Alimentos determina que a ausência do autor resulta no arquivamento do feito, enquanto a ausência do réu em audiência resulta em revelia, ou seja, são presumidas como verdadeiras as alegações de fato apresentadas pelo autor, operando-se os efeitos da confissão quanto à matéria 8 de fato, desde que as alegações do autor não sejam inverossímeis ou em total desacordo com as provas dos autos de acordo com o art. 345, IV, do CPC. Não resultando em conciliação, em nova audiência com a presença do Ministério Público é colhido o depoimento pessoal das partes e são ouvidas testemunhas caso as partes julguem necessário. Após devidamente instruída, a demanda é julgada e a sentença é proferida. Esta sentença, mesmo sujeita a recurso, possui efeitos imediatos, pois eventual apelação será recebida apenas em seu efeito devolutivo, conforme art. 14 da Lei de Alimentos e o art. 1.012 parágrafo 1º, II, do Código de Processo Civil. Após o trânsito em julgado da sentença que determina os alimentos, sua eficácia retroage à data da citação e, caso tenha ocorrido redução do valor dos alimentos ou exoneração do alimentante, o montante passa a vigorar imediatamente. A decisão de mérito da ação de alimentos produz efeitos ex nunc, ou seja, não retroativos, e vale em relação às prestações futuras. No caso de a sentença determinar a redução da obrigação, em razão do princípio da irrepetibilidade, não há que se cogitar a devolução da diferença em relação às parcelas pagas em valor maior. Por determinação legal expressa, o rito especial da Lei de Alimentos se aplica às ações de divórcio, de anulação de casamento, de revisionais e exoneratórias, de modo que ocorre uma cumulação de ações, podendo serem fixados alimentos liminarmente. Esse rol de cumulação de ações não é limitado ao disposto em lei, de modo que nas investigações de paternidade e reconhecimento de união estável também se admite, pois “ainda que em nenhuma delas exista a prova pré-constituída da obrigação alimentar, há a possibilidade de serem fixados alimentos provisórios a título de tutela antecipada” (Dias, 2021, p. 858). Além do aforamento da demanda alimentar pelo credor, existe a possibilidade de o devedor intentar ação oferecendo alimentos espontaneamente. Neste caso, o foro competente é o domicílio do credor e, ainda que o devedor indique o valor que pretende pagar, precisa comprovar seus ganhos, pois a obrigação alimentar deve atender ao binômino necessidade de quem recebe e possibilidade de quem paga, sempre dentro de critérios de razoabilidade e proporcionalidade, podendo o juiz, inclusive, fixar a obrigação em valor superior ao que foi oferecido. 9 4.1 Da extinção da obrigação alimentar A extinção da obrigação alimentar afeta a relação jurídica de direito material, acabando com a relação entre credor e devedor no tocante ao dever de assistência. A maioridade do filho não resulta em extinção automática da prestação alimentar,devendo a exoneração ser requerida pelo devedor, em processo judicial sujeito ao contraditório, para que se comprove a possibilidade de o filho de 18 anos prover sozinho sua subsistência, nos termos do disposto na Súmula 358 do STJ. Já em relação à obrigação alimentar entre cônjuges e companheiros, a extinção ocorrerá com a morte do alimentante ou alimentando, ou quando houver “alteração de algum dos vértices do binômio obrigacional: ou a cessação da necessidade ou a possibilidade do credor” (Dias, 2021, p. 870). Desse modo, quando o credor de alimentos constituir união estável, casamento ou relação concubinária, cessará a obrigação do devedor de alimentos, extinguindo-se o dever de prestar alimentos, de acordo com o contido no art. 1.708 do CC. Em caso de atos de indignidade do credor contra o devedor de alimentos, seu direito ao recebimento da verba se extingue, como dispõe o parágrafo único do art. 1.708. Há que se sopesar o que significa a indignidade, haja vista sua interpretação extremamente subjetiva, porém, deve ser um ato que viole a dignidade do credor em seus direitos de personalidade e vida plena. Nestes casos, a ação exoneratória deve ser proposta pelo alimentante ou requerer o reconhecimento da indignidade na contestação da ação de alimentos. TEMA 5 – EXECUÇÃO DE ALIMENTOS Considerando a extinção do rito da execução e sua substituição pelo cumprimento de sentença, a execução de decisão judicial ou acordo deixou de ser um processo autônomo para se tornar apenas mais uma fase de procedimento dentro no mesmo processo. Assim as normas aplicáveis ao cumprimento de sentença nas demandas de alimentos estão dispostas nos arts. 513 e seguintes, 523 e seguintes, 528 e 10 seguintes do Código de Processo Civil, bem como no art. 19 da Lei n. 5.478/1968. Assim, o credor de um título executivo judicial ou extrajudicial pode usar de sua prerrogativa e eleger a maneira que pretende buscar a satisfação do seu crédito, podendo optar entre: a) desconto na folha de pagamento do devedor (arts. 529 e 912 do CPC); b) execução pelo rito da coerção pessoal ou prisão (arts. 528, parágrafo 3º, e 911 do CPC; ou c) pelo rito da expropriação de bens (art. 528, parágrafo 8º do CPC). Em se tratando de cumprimento de sentença, o executado é intimado para pagar o débito e as custas processuais no prazo de 15 (quinze) dias. Caso não realize o pagamento, o débito será acrescido de multa de 10% (dez por cento) mais honorários advocatícios no mesmo percentual, conforme determinado no art. 523, parágrafo 1º do CPC. Se a execução de alimentos for oriunda de título extrajudicial, incidem honorários advocatícios de 10% (dez por cento) e o executado será citado para pagar em 3 (três) dias a integralidade da dívida. Em havendo pagamento tempestivo, os honorários são reduzidos pela metade. Caso o executado não oponha embargos ou estes sejam rejeitados, os honorários podem ser majorados em até 20% (vinte por cento). Frisa-se que os embargos não dependem de segurança do juízo, não se exige mais penhora, depósito ou caução, arts. 914 e 915 do CPC. Em relação ao cumprimento de sentença definitiva ou acordo judicial, a execução deve ser promovida nos autos da ação de alimentos, conforme art. 531, parágrafo 2º do CPC. Se a execução se fundar em alimentos provisórios, deverá ser processada em autos apartados, conforme o parágrafo 2º do artigo anterior. Já no caso de execução e acordo extrajudicial, conforme determina o art. 911 do CPC, será necessário o uso de um processo autônomo. 5.1 Rito da prisão O rito da prisão só pode ser utilizado para a cobrança das prestações vencidas até 3 (três) meses antes do ajuizamento da execução. Para o cumprimento de sentença sob pena de prisão, o executado deverá ser intimado pessoalmente para em 3 (três) dias pagar, provar que pagou ou justificar sua impossibilidade absoluta de efetuar o pagamento, conforme art. 528 do CPC. 11 Com a inércia do devedor, o juiz determina de ofício o protesto da decisão e decreta prisão do executado pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. Em nosso ordenamento jurídico, a prisão civil só é aceita em caso de inadimplemento de cunho alimentar, sendo ilícita a prisão do depositário infiel, conforme matéria já sumulada pelo STJ e STF. 5.2 Rito da expropriação de bens Quando requerida a execução pelo rito da expropriação de bens, o executado é intimado para em 15 (quinze) dias pagar o débito acrescido das custas, sob pena de incidência de multa de 10% (dez por cento) e honorários advocatícios no mesmo percentual, sob pena de penhora de bens, art. 831 do CPC. Mantendo-se inerte o devedor, o juiz deve expedir mandado de penhora e avaliação com os consequentes atos de expropriação, para que sejam penhorados tantos bens quanto bastem para a satisfação integral da dívida. 5.3 Execução de título extrajudicial Os títulos extrajudiciais também possibilitam a execução de alimentos e a utilização do rito da prisão e da expropriação de bens. De acordo com o art. 784, II a IV do CPC, são considerados títulos aptos a instruir a execução extrajudicial de alimentos a escritura pública, o documento particular assinado pelo devedor e duas testemunhas, e a transação referendada pelo Ministério Público, Defensoria Pública, pelos advogados das partes ou pelo mediador credenciado pelo tribunal. Se o credor alimentar optar pela execução pelo rito da prisão, ou seja, das últimas três prestações vencidas antes do ajuizamento da execução, a citação deverá ser pessoal (via postal ou por oficial de justiça) e o devedor será citado para em 3 (três) dias pagar a dívida, justificar impossibilidade absoluta de pagar ou provar que já pagou sob pena de ser-lhe decretada a prisão. Optando pelo rito da expropriação de bens, no caso da cobrança de alimentos vencidos há mais de 3 (três) meses, a citação poderá ser feita pelo correio e o devedor será citado para em 3 (três) dias pagar a dívida ou em 15 (quinze) dias opor embargos à execução, independentemente de penhora (arts. 914 e 915 do CPC). 12 NA PRÁTICA A solidariedade familiar e o dever de amparo e sustento autorizam parentes e cônjuges a pedirem alimentos uns aos outros em caso de necessidade. No caso dos filhos, o dever de alimentos é oriundo do poder familiar dos pais, que devem zelar pelo bem-estar e melhor interesse de seus filhos menores, podendo, em caso de necessidade, também os idosos pleitearem alimentos aos seus familiares ou, na falta destes, ao Estado. Na prática, a ação de alimentos é disciplinada pela Lei n. 5.478/1968 e segue o rito especial. O Ministério Público deverá sempre intervir na demanda alimentar que versar sobre interesse de incapaz, conforme disposto no art. 698 do CPC. A demanda alimentar obedece ao binômio necessidade de quem pede alimentos e possibilidade de quem os paga, podendo ter natureza natural ou civil. Embora o direito a alimentos seja imprescritível, a exceção à regra é que, contra absolutamente incapaz e durante o exercício do poder familiar, não corre prescrição. O foro competente é o do domicílio do alimentando, inclusive em caso de ações cumuladas. Em caso de inadimplemento do devedor, o credor alimentar pode executar os alimentos oriundos de título judicial ou extrajudicial, optando pelo rito da coerção pessoal ou prisão do devedor ou pelo da expropriação de bens. É importante lembrar que, além do dever de solidariedade entre os parentes, existe a solidariedade intergeracional, que possibilita a obrigação alimentar antes mesmo do nascimento, conforme disposto pela Lei n. 11.804/2008, que normatizou os alimentos gravídicos. A teleologia legislativa foi auxiliar a mulher grávida com as despesas durante a gravidez até o parto, que devem ser suportadas pelo futuro pai. Após o nascimento, os alimentos gravídicos, de acordo com entendimentodo Superior Tribunal de Justiça (STJ), convertem-se em pensão alimentícia sujeita a pedidos de revisão ou exoneração. Dica quente é atentar para a decisão do STF no Recurso Extraordinário n. 898.060 (Tema 622) de repercussão geral, reafirmando a multiparentalidade e reconhecendo que tanto o pai socioafetivo quanto o biológico são devedores 13 de alimentos em relação ao filho comum, dividindo-se o montante devido de acordo com as possibilidades financeiras de cada um. FINALIZANDO Na aula de hoje, estudamos o instituto dos alimentos, em razão de sua importância e aplicabilidade dentro do direito de família. Iniciamos o Tema 1 com o conceito e as espécies dos alimentos e aprendemos que a obrigação alimentar resulta da solidariedade familiar, pois significa o dever de cuidado e amparo dos cônjuges, companheiros e parentes uns em relação aos outros, quando necessário para uma sobrevivência íntegra. Vimos as características da obrigação alimentar no Tema 2, quais sejam: o direito personalíssimo, a transmissibilidade e a divisibilidade, bem como o fato de a obrigação ser irrepetível, imprescritível, irrenunciável e impenhorável. No Tema 3, falamos sobre as obrigações e direitos tanto do alimentante quanto do alimentando, frisando a importância do atendimento ao binômio necessidade de quem pede e as possibilidades de quem paga alimentos, sempre submetido ao crivo da proporcionalidade e à discricionariedade do julgador no momento do arbitramento. No Tema 4, abordamos a ação de alimentos em seu procedimento e rito especial, bem como as hipóteses de extinção da obrigação alimentar. Finalizamos com o Tema 5, conhecendo a execução de alimentos fundada em título judicial ou extrajudicial e os ritos passíveis de serem utilizados, quais sejam: o da prisão do devedor ou da expropriação de bens. Não deixe de revisar o conteúdo e a legislação indicada e até a próxima aula! Saiba mais Para aprofundar as discussões desta aula, leia também os textos indicados a seguir. ASSIS, A. de. Da execução de alimentos e prisão do devedor. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2019. DIAS, M. B. Alimentos: Direito, Ação, Eficácia, Execução. 3. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Editora JusPodivm, 2020. 14 TARTUCE, F. Alimentos. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (org). Tratado de Direito das Famílias. 3 ed. Belo Horizonte: IBDFAM, 2019, p. 517-586. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 5.478 de 25 de julho de 1968. Instituiu a Lei de Alimentos. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. Brasília, 1988. Disponível em: . Acesso em 13 out. 2021. BRASIL. Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Instituiu o Código Civil. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Lei n. 10.741 de 01 de outubro de 2003. Instituiu o Estatuto do Idoso. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 358. Segunda Seção. Brasília, 13 de agosto de 2008. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Lei n. 11.804 de 05 de novembro de 2008. Instituiu os Alimentos Gravídicos. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL.Lei n. 12.852 de 05 de agosto de 2013. Instituiu o Estatuto da Juventude. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Instituiu o Código de Processo Civil. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. 16 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 898-060/SC Relator: Luiz Fux. Brasília, 21 de setembro de 2016. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 594. Segunda Seção. Brasília, 25 de outubro de 2017. Disponível em: . Acesso em: 13 out. 2021. CAHALI, Y. S. Dos Alimentos. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 14. ed. rev. ampl. e atual. – Salvador: Editora JusPodivm, 2021. MADALENO, R. Direito de família. 8. ed., rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2018. MADALENO, R. Manual de Direito de Família. 2. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.