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Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com DIREITO DE FAMÍLIA ALIMENTOS INTRODUÇÃO ALIMENTOS -> Prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. Tem por finalidade fornecer a um parente, cônjuge ou companheiro o necessário à sua subsistência. Art. 1.694, CC: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. O dever de prestar alimentos funda-se na solidariedade humana e econômica que deve existir entre os membros da família ou os parentes. Há um dever legal de mútuo auxílio familiar, transformado em norma, ou mandamento jurídico. - GONÇALVES, 2023 → As normas que cuidam dos alimentos são inderrogáveis pela convenção entre as partes → O instituto dos alimentos é considerado de ordem pública → Há pena de prisão contra o devedor de alimentos → O instituto possui caráter assistencial e não indenizatório → Os alimentos são direitos pessoais extrapatrimoniais (conteúdo patrimonial e finalidade pessoal) → Em ação judicial, os alimentos são devidos a partir da citação (Súmula 277, STJ). ➔ Os alimentos serão fixados de acordo com a condição socioeconômica do alimentante. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com ESPÉCIES DE ALIMENTOS A classificação feita pela doutrina é: - QUANTO À CAUSA JURÍDICA • Legais: Decorrem da imposição de lei. • Voluntários: Decorrem da liberalidade do alimentante, que pode voluntariamente prestar auxílio a alguém, seja causa mortis ou inter vivos1 • Indenizatórios: Provenientes da relação de parentesco ou da prática de ato ilícito. - QUANTO À NATUREZA • Naturais – Indispensáveis à satisfação das necessidades primárias2. Necessários à sobrevivência do alimentando (vida, cura, vestuário, habitação) • Civis – Destinam-se a manter a condição social do credor de alimentos. Nestes casos, os alimentos são quantificados em consonância com as condições financeiras do alimentante. • Compensatórios – Visam a evitar o desequilíbrio econômico do consorte dependente, impossível de ser afastado com modestas pensões mensais e que ocorre quando um dos cônjuges é muito mais pobre. - Cunho mais indenizatório - Não tem duração ilimitada - Perdura enquanto a desigualdade existir - Não enseja a possibilidade de execução sob o rito de prisão (TJSP) - Serão quantificados em consonância com as condições patrimoniais do casal ao tempo da coabitação - Não são devidos quando o devedor constituiu patrimônio sem a ajuda do ex-cônjuge após a separação 1 Os alimentos instituídos causa mortis são estabelecidos em testamento por quem pretende beneficiar determinada pessoa. 2 “Destinados a assegurar tão somente o estritamente necessário para a subsistência do credor”. São os únicos alimentos aos quais o cônjuge culpado terá direito. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com Art. 1.694, CC: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. §2º Os alimentos serão apenas indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. - QUANTO À FINALIDADE • Definitivos – Caráter permanente, podendo ser revistos. Estabelecidos em sentença. Substituem os alimentos provisionais, provisórios ou gravídicos, permanecendo estáveis até que seja ajuizada ação de exoneração ou revisão. • Provisórios – Fixados liminarmente em ação de alimentos - Exigem prova pré-constituída do parentesco - Fixados de acordo com o procedimento da Lei de Alimentos - Podem ser fixados em hipótese de violência doméstica - Presunção de necessidade nos casos de filhos sob o poder familiar e dos filhos maiores incapazes - São devidos até o final da decisão, inclusive na pendência de recursos • Provisionais – Determinados em pedido de tutela provisória, preparatória ou incidental, de ação de separação judicial, de divórcio, de nulidade ou anulação de casamento ou de alimentos. - Comprovação dos elementos da tutela de urgência - Possui natureza cautelar - São irrepetíveis, tornando os valores prestados definitivos e irrecuperáveis, mesmo quando indevidos - Devidos a partir da citação (Súmula 277) - Conservam sua eficácia até o julgamento da ação - Podem a qualquer tempo ser revogados ou modificados - Podem ser fixados em hipótese de violência doméstica Alimentos civis Alimentos naturais Os alimentos provisórios e provisionais são fixados logo no início da demanda, a partir de quando são devidos. Tem sempre caráter precário e seu objetivo é a manutenção do alimentando ao longo da demanda. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com • Transitórios – Prestações devidas para que, em determinado período de tempo, o alimentando mantenha seu padrão de vida. São fixados até que se implemente determinada condição, sendo aceito em circunstâncias especiais pela jurisprudência. O objetivo principal é permitir que o alimentando consiga ter certa tranquilidade para buscar o seu próprio sustento. - É possível a fixação de prisão do devedor - QUANTO AO MOMENTO EM QUE SÃO RECLAMADOS • Pretéritos – O pedido retroage ao período anterior ao ajuizamento da ação • Atuais – Os postulados a partir do ajuizamento • Futuros – Devidos somente a partir da sentença IMPORTANTE! O direito brasileiro apenas admite os alimentos atuais e os alimentos futuros. Ou seja, alimentos retroativos à data do ajuizamento da ação nunca serão devidos3. → Os tribunais apenas admitem a prisão do devedor de alimentos com relação às necessidades atuais do alimentário, representada pelas três últimas prestações, devendo as pretéritas ser cobradas em procedimento próprio que não o de prisão, salvo nos casos de má-fé e desídia. OUTROS TIPOS DE ALIMENTOS MENCIONADOS NO LIVRO DO PROF → Alimentos intuito familiae: O montante é fixado para todo um grupo, sem individualizar os beneficiários e eventual revisão ou exoneração não leva em conta simplesmente uma operação matemática, mas é de ser perquirida a situação não só do elemento do grupo que supostamente necessitaria mais, como também dos remanescentes. → Alimentos gravídicos: São aqueles devidos à grávida pelo suposto pai do filho que ela espera, sendo necessários apenas indícios de paternidade para que sejam devidos. 3 A justificativa é que, em tese, os alimentos servem para ajudar a sobrevivência do alimentando, Se até o ajuizamento da ação ele sobreviveu, não será preciso o pensionamento retroativo. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com → Alimentos compensatórios e ressarcitórios4: Os alimentos compensatórios visam compensar a perda de posição social e a disparidade financeira do casal pós-divórcio. Já os ressarcitórios tem como escopo coibir o enriquecimento sem causa eventualmente advindo da colheita exclusiva de bem comum por um único cônjuge ou companheiro (art. 1.660, V, CC). OBRIGAÇÃO ALIMENTAR NOÇÕES GERAIS E CARACTERÍSTICAS OBRIGAÇÃO -> É o vínculo jurídico entre duas partes, impondo-lhes direitos e deveres reciprocamente. Para que alguém deva alimentos a outrem é fundamental a presença de três elementos: A obrigação alimentar decorre de lei e é fundada no parentesco (art. 1.694, CC), tendo por base a solidariedade familiar e ficando circunscrita aos5: • Ascendentes – Dever de sustento dos filhos com relação aos pais • Descendentes – Dever de sustento dos pais em relação aos filhos6 • Colaterais até o segundo grau – Solidariedade familiar 4 Nãose submetem ao binômio necessidade e possibilidade. 5 Uma outra possibilidade de vinculação jurídica que gera o dever alimentar é a prática de ato ilícito. 6 PRINCÍPIO DA PATERNIDADE RESPONSÁVEL -> Dele decorre o dever de assistir, educar, criar e cuidar dos filhos. Em contrapartida, os pais devem ajudar os pais na velhice. Alimentando Alimentante Vínculação jurídica Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com Outros vínculos jurídicos que geram o dever de alimentar: • Ato ilícito • Sociedade conjugal (casamento ou união estável) – Dever de mútua assistência7 • Filhos havidos fora do casamento O Estado transfere às pessoas que pertencem ao mesmo grupo familiar a obrigação jurídica de prestar auxílio aos que, por enfermidade ou por outro motivo justificável, dele necessitem. IMPORTANTE! Há diferença entre o dever de prestar alimentos e o dever familiar de sustento, assistência e socorro. A obrigação de prestar alimentos aqui tratada tem pressupostos diferenciadores, dependendo das possibilidades do devedor e apenas exigível se o credor estiver necessitado. O dever de sustento que incumbe ao marido toma, entretanto, a feição de obrigação de alimento, embora irregular, quando a sociedade conjugal se dissolve pela separação judicial, ocorrendo a mesma desfiguração em relação aos filhos do casal desavindo. No rigor dos princípios, não se configura, nesses casos, a obrigação propriamente dita, de prestar alimentos, mas, para certos efeitos, os deveres de sustento, assistência e socorro adquirem o mesmo caráter. - Gonçalves, 2023 A obrigação alimentar possui diversas características. → É pessoal: Surge a partir de características específicas da pessoa. → É transmissível – ATENÇÃO! A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694 (art. 1700, CC). IMPORTANTE! Existe uma dúvida a respeito da transmissibilidade da obrigação alimentar. A discussão existente é: 7 Gera o dever de alimentar nos casos de separação, desde que qualquer dos consortes necessite e o outro possa pagá-la. Este direito será negado ao cônjuge culpado pela separação (art. 1.072, CC). Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com o Se a transmissão ocorre apenas com relação às parcelas vencidas e não pagas, ou se se transfere a obrigação toda. o Se essa transmissão será medida na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada ou se está limitada às forças da herança. o Se dentro das forças da herança a transmissão ocorre apenas quando o alimentando não é herdeiro, já que sendo poderá pleitear a ajuda alimentar dos outros herdeiros ou demais parentes. o Se a obrigação pode ser judicialmente revista. o Se o direito alimentar é estendido aos parentes ou apenas aos cônjuges, tendo em vista que a transmissibilidade está prevista na Lei do Divórcio. No livro do professor Francisco, o posicionamento é o de que não se transfere a obrigação alimentar. No entanto, caso exista dívida alimentar ao tempo do falecimento do devedor, esta sim é transmissível, nos termos do art. 1.700 E 1.792, do CC. → É divisível: Cada devedor responde por sua quota-parte, não existindo solidariedade (art. 1.698, CC). Assim, se existirem quatro filhos em condições de pensionar o ascendente, não poderá este cobrar de apenas um filho o quantum total da obrigação. IMPORTANTE! Se o parente que deve alimentos não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os parentes de grau imediato, na proporção dos seus respectivos recursos, conforme a possibilidade de cada um, com valores desiguais se percebem rendimentos diferentes (art. 1.698) – litisconsórcio na ação de alimentos Trata-se de medida, defendida por Gonçalves, de modalidade de intervenção de terceiro. Para o autor, não se tratar de chamamento ao processo ou de denunciação à lide, uma vez que estes mecanismos são utilizados nos casos em que se discute obrigação solidária. SOBRE O IDOSO -> A lei prevê solidariedade nos casos em que se deve alimentos ao idoso, que pode escolher quem será o prestador de sua pensão alimentícia. Este dever, no entanto, apenas vai até o segundo grau de parentesco entre os transversais (art. 1.697, CC). Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com → É condicional: A obrigação de prestar alimentos tem sua eficácia subordinada a uma condição resolutiva. Somente subsiste tal encargo enquanto perduram os pressupostos objetivos de sua existência, representados pelo binômio necessidade- possibilidade, extinguindo-se no momento em que qualquer deles desaparece (art. 1.694, §1º). Se depois da fixação de alimentos o alimentando adquire condições de prover a própria mantença, ou o alimentante não mais pode fornecê-los, extingue-se a obrigação. Assim, existem as ações revisionais e de exoneração (art. 1.699). → É recíproca: O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros (art. 1.696). O devedor de hoje (pai) pode ser o credor no futuro (filho). A obrigação de prestar alimentos é recíproca no direito brasileiro, uma vez que se estende em toda a linha reta entre ascendentes e descendentes, e na colateral entre os irmãos, que são parentes recíprocos por sua natureza. E é razoável que assim seja. Se o pai, o avô, o bisavô, têm o dever de sustentar aquele a quem deram vida, injusto seria que o filho, neto ou bisneto, abastado, não fosse obrigado a alimentar o seu ascendente incapaz de manter-se. - PONTES DE MIRANDA, 2003 A reciprocidade da obrigação alimentar também implica na possibilidade de litisconsórcio passivo na ação de alimentos, nos termo do art. 1.698 do CC. Dessa forma, devem compor o polo passivo da ação de alimentos os coobrigados de grau imediato de parentesco, se o parente que deve alimentos não estiver em condições de suportar o encargo. IMPORTANTE! Parte da doutrina aponta que isso não é possível, tendo em vista que a condição financeira do obrigado apenas poderá ser verificada ao final do processo. Neste caso, apenas após esgotadas as fases probatórias e todas as instâncias recursais da demanda alimentar principal, teria cabimento chamar à lide os codevedores dos alimentos – Litisconsórcio facultativo ulterior simples Fica a critério do credor, no entanto, acionar supletivamente as demais pessoas obrigadas para com os seus alimentos. Acionados, a sentença deverá fixar o total da prestação a que cada um deles deverá concorrer na proporção dos seus recursos, depois de definitivamente estipulada a pensão devida pelos pais. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com → É mutável: A obrigação de prestar alimentos pode ser alterada ao longo do tempo caso os pressupostos de constituição também se alterem (art. 1.699, CC. Assim, a lei prevê ação revisional e ação de exoneração, para que essas questões sejam analisadas. → É alternativa: Não necessariamente os alimentos devem ser dados em dinheiro. O devedor pode dar ao alimentando hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação (art. 1.701, CC). Fica a critério do julgador definir de qual maneira devem os alimentos ser prestados. IMPORTANTE! Apesar de ser uma obrigação alternativa, ela é incompensável (art. 1.707, CC). Dessa forma, o devedor deve pagar integralmente os alimentos fixados por provimentos judicial provisório ou regular, e não pode deixar de cumprir seu dever com a desculpa de compensá-lo com outros créditos, ou por conta de dívidas do alimentando que foram pagas pelo devedor. O alimentante não pode compensar liberalidades que fez para os filhos, ou para a ex-mulher, com a aquisição de vestuários, brinquedos,ou mesmo de alimentos, especialmente quando tem o dever de aportar mensalmente um valor certo de pensão alimentícia, sendo mais difícil de promover a abusiva compensação se a pensão for descontada em folha de pagamento. - Madaleno, 2023 → É irrepetível: A tradição doutrinária e jurisprudencial brasileira sedimentou o entendimento de que os alimentos são irrepetíveis. Isso quer dizer que o alimentando, em momento algum, deverá devolver os alimentos pagos pelo devedor. Mesmo quando arbitrados em sede de liminar, a irrepetibilidade será mentida até a eventual modificação judicial do montante alimentar provisória na segunda instância, não sendo devolvidos os valores vencidos durante a tramitação da ação alimentar, sofrendo alteração na sua quantificação apenas para o futuro (MADALENO, 2023). EXCEÇÃO À REGRA: Casos em que há enriquecimento ilícito do alimentando, o que ocorreu por meio de pagamento de pensão alimentícia indevida (art. 876, CC). Neste caso, fala-se em fraude e má-fé8. 8 EXEMPLO: Ex-esposa continua recebendo pensão alimentícia mas constitui união estável e oculta isso do ex-cônjuge para não perder o pensionamento. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com IMPORTANTE!!! O STJ entende que não deve ser conferido efeito retroativo à decisão que reduziu o valor dos alimentos provisionais, não afetando a execução das prestações vencidas e não pagas. No entanto, quando majorados os alimentos da fase recursal, o valor alimentar fixado ao final do processo retroage à data da citação. Noutro lado, o direito a alimentos também possui características importantes: → É um direito personalíssimo, intransacionável: Uma vez fixado em razão do alimentando e de suas características, trata-se de um direito pessoal, não podendo ser repassado este direito a outrem. Não pode ser pleiteado por outrem. → É imprescritível: O direito de pedir alimentos pode ser exercido a qualquer tempo por quem passou a necessitar de alimentos, ainda que o alimentando nunca tenha exercitado seu direito por mais tempo que tenha passado (art. 1.707, CC). → É irrenunciável, impenhorável e incessível: O direito aos alimentos é irrenunciável (art. 1.707, CC). A doutrina entende, no entanto, que a irrenunciabilidade apenas atinge os alimentos futuros, sendo os vencidos não pagos passíveis de renúncia (art. 775, CPC). o O crédito alimentar não pode ser cedido. Não pode ser objeto de negociação o O crédito alimentar não pode ser compensado (art. 373, II, CC) o Os alimentos são impenhoráveis OUTRAS OBSERVAÇÕES SOBRE ALIMENTOS Parentes obrigados -> O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros (art. 1.696). No mais, o art. 1.697 discorre que, na falta dos ascendentes, cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão, e, faltando estes, aos irmãos. Existe um vínculo de solidariedade entre todos os familiares até o segundo grau, os quais são estão suscetíveis a pagar alimentos uns aos outros caso seja necessário. → A lista dos parentes obrigados por lei é exaustiva → Não há identificação entre o ônus alimentar e o benefício sucessório Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com Alimentos na família reconstituída -> Não há, por lei, criação de relação de direitos e deveres entre os parentes por afinidade (madrastas, padrastos). Madaleno (2023) critica fortemente esse posicionamento do legislador, apontando que não está a norma compatível com a realidade brasileira. Não obstante, a jurisprudência vem reconhecendo a existência de obrigação alimentar entre enteados e padrastos. IMPORTANTE! A Resolução CNJ 63/2017 regulamenta o reconhecimento da paternidade socioafetiva nestes casos, indicando que a paternidade ou maternidade, para gerar obrigações, deve ser estável e exteriorizada socialmente, como se filhos realmente fossem e não como se fossem enteados. Obrigação alimentar entre ascendentes e descendentes -> A obrigação alimentar é recíproca, de forma que os pais devem aos filhos e os filhos devem aos pais. IMPORTANTE! A Súmula 358 do STJ impõe que a obrigação alimentar não se extingue automaticamente com a maioridade civil, mas o alimentando deve comprovar que ainda necessita dos alimentos por frequentar curso profissionalizante ou universitário. Os alimentos do nascituro -> Os alimentos do nascituro surgem em razão do acompanhamento e dos cuidados necessários ao nascituro enquanto este ainda não nasceu. A Lei 11.804/2008 reconhece, por expresso texto legal, direito aos alimentos do nascituro, que fica garantido desde a sua concepção. → Na constância do casamento, presume-se a paternidade. Assim, se a mulher, ao se separar, estar grávida, terá direito ao pleito de alimentos. No futuro, caso seja comprovado que a paternidade não era do ex-marido, este poderá buscar o ressarcimento moral ou material (art. 927, CC). Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com Além disso, caso a mulher agir de má-fé, poderá ser obrigada a devolver os alimentos recebidos. Os alimentos gravídicos -> Tratam-se dos alimentos devidos à mulher grávida, também em razão de sua situação e da necessidade de cuidados especiais durante a gravidez. Trata-se de direito previsto pelo art. 2º da Lei n. 11.804/2008. São alimentos devidos a partir da concepção e não a partir da citação do réu. Após o nascimento, os alimentos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor, até que uma das partes solicite a sua revisão. → Basta a existência de indícios de paternidade para que o juiz fixe os alimentos gravídicos, que perdurarão até o nascimento da criança. O juiz não pode determinar a realização de exame de DNA. Após o nascimento, no entanto, o vínculo provisório da paternidade poderá ser desconstituído mediante ação de exoneração da obrigação alimentícia9. → A legitimidade passiva é apenas do pai da criança, não se estendendo aos demais parentes. → A gestante deve comprovar a necessidade de alimentos. → Cabe prisão do devedor de alimentos gravídicos. PRESSUPOSTOS E FIXAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR Nos termos do art. 1.694 do CC, são pressupostos da obrigação de prestar alimentos: a) A existência de um vínculo de parentesco; b) Necessidade do reclamante; c) Possibilidade da pessoa obrigada; d) Proporcionalidade. Art. 1.695, CC: São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê- los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. 9 Se comprovada a má-fé, a gestante pode ser obrigada a restituir os alimentos já pagos. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com → Em razão do casamento e da união estável, o direito do credor a alimentos cessa se tiver procedimento indigno em relação ao devedor (art. 1.708, CC) A regra principal para a fixação de alimentos é o binômio necessidade vs. possibilidade, nos termos do art. 1.694, CC. → Análise da situação financeira do alimentante. IMPORTANTE! Os alimentos compensatórios e os ressarcitórios não se submetem a este binômino. MEIOS DE ASSEGURAR O PAGAMENTO DA PENSÃO a) Ação de alimentos – Lei n. 5.478/68 b) Execução por quantia certa c) Penhora em vencimento de funcionários públicos d) Desconto em folha de pagamento e) Entrega de parte da renda líquida dos bens comuns – comunhão universal de bens f) Constituição de garantia real ou fidejussória e de usufruto CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRISÃO DE DEVEDOR DE ALIMENTOS O Código Civil prevê a prisão de devedor de alimentos, sendo definido um rito próprio para isso. No entanto, apenas os alimentos legais pertencem ao rito de família. Dessaforma, a prisão civil pelo não pagamento somente pode ser decretada no caso dos alimentos previstos nos arts. 1.566, III, e 1.694 e ss do CC. Ou seja, somente se admite como meio coercitivo para o adimplemento de pensão decorrente do parentesco ou do matrimônio, pois o preceito constitucional que excepcionalmente permite a prisão por dívida, nas hipóteses de obrigação alimentar, é de ser restritivamente aplicado. → Não se admite prisão de devedor de alimentos por responsabilidade civil ex delito → Não se admite a prisão de devedor de alimentos voluntários → Constitui constrangimento ilegal a prisão nas hipóteses acima NECESSIDADE POSSIBILIDADE X
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