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5920117 - Genética I I 2014 Genética de Bactérias: Transdução e Sexdução Prof. Dr. Tiago Campos Pereira tiagocampospereira@ffclrp.usp.br 3315 3818 – sala 13, bloco 14 Principle of Genetics 5th Edition - Cap 8 . Snustad & Simons, Editora Wiley Assuntos abordados nesta aula: • Transdução: especializada e generalizada • Lisados Lft e Hft • Plasmídeos e epissomos • Fatores F’ e Sexdução Joshua Lederberg e Norton Zinder descobriram em 1952 um terceiro tipo de processo parassexual. Estudando linhagens auxotróficas de Salmonella typhimurium, eles observaram o surgimento de recombinantes em tubo de ensaio em “U” utilizando filtros e DNase (portanto excluindo conjugação e transformação). J. Lederberg EUA, 1925-2008 N. Zinder EUA, 1928-2012 S. typhimuirum Experimentos posteriores revelaram que uma das linhagens estava contaminada com o bacteriófago P22, que estava levando genes de uma célula (doadora) para outra (receptora). Portanto, as raras bactérias prototróficas detectadas surgiram devido a recombinação entre o DNA bacteriano carregado pelo vírus e o DNA da célula recipiente. P22 Outros experimentos revelaram que há dois tipos diferentes de transdução: - Transdução generalizada: um fragmento aleatório (ou quase aleatório) do DNA bacteriano é empacotado na cabeça do fago, substituindo o DNA do vírus. Outros experimentos revelaram que há dois tipos diferentes de transdução: - Transdução generalizada: um fragmento aleatório (ou quase aleatório) do DNA bacteriano é empacotado na cabeça do fago, substituindo o DNA do vírus. - Transdução especializada: eventos de recombinação entre o DNA bacteriano e o do vírus geram fagos com cromossomos contendo uma parte de DNA bacteriano. Partículas virais contendo DNA bacteriano são denominadas partículas de transdução. Portanto: - partículas de transdução generalizada contêm apenas DNA bacteriano; - partículas de transdução especializada contêm DNA bacteriano e viral. Fagos de transdução generalizada podem transportar qualquer gene bacteriano de uma célula a outra (por isto o termo “generalizado”). Os fagos de transdução generalizada mais conhecidos são P22 em S. typhimurium e P1 em E. coli. Apenas 1-2% das partículas virais produzidas por uma célula infectada por P22 ou P1 contém DNA bacteriano. Apenas 1-2% do DNA transferido pelo vírus é incomporado no cromossomo bacteriano por recombinação. Portanto, o processo é bem ineficiente: a frequência de transdução de um gene qualquer é de aproximadamente 1 a cada 106 partículas de fago. Transdução especializada é característica de vírus que transferem apenas certos genes entre bactérias. Lambda () é o fago de transdução especializada mais conhecido, ele carrega apenas os genes gal e bio de uma E. coli para outra. Esta especificidade se deve ao mecanismo de integração e excisão de no genoma bacteriano. Uma vez que o sítio attB está localizado entre os genes gal e bio, naturalmente se integra neste ponto. Geralmente, o processo de excisão é preciso (apenas o DNA do fago é removido). Contudo, ocasionalmente, uma recombinação errônea (não homóloga) pode ocorrer, gerando uma excissão anômala. Portanto, excisões anômalas de geram partículas de transdução especializada carregando o gene gal OU o gene bio. Estas partículas de transdução são denominadas dgal (ou dbio): bacteriófago defectivo carregando gene gal (ou bio). Eles são chamados de defectivos porque perderam, durante o processo de recombinação anômala, um ou mais genes necessários para a reprodução lítica ou lisogênica. Devido ao pequeno tamanho da cabeça do fago, apenas genes bacterianos localizados próximos ao profago podem ser excisados e empacotados na cabeça do fago. Partículas de transdução ocorrem apenas quando profagos em fase lisogênica entram no ciclo lítico (ocorrendo a excisão). Partículas de transdução não são observadas em infecções líticas primárias. A frequência de partículas de transdução produzidas durante a indução de células lisogênicas é de aproximadamente 1 a cada 106 partículas. Estes lisados de células (= amostra de células lisadas) são denominados Lft (low- frequency transduction): lisados com baixa frequência de transdução. O destino de moléculas de DNA de dgal (ou dbio) após sua introdução no hospedeiro dependerá de quais genes de foram perdidos. Se genes do crescimento lítico forem perdidos mas o sítio att e o gene int (integrase) forem mantidos, os cromossomos defectivos serão capazes de se integrar no cromossomo hospedeiro. Contudo, estes mesmos profagos não serão capazes de se replicar de maneira lítica, a não ser que um fago tipo-selvagem (+) esteja coinfectando a célula. Este + atuará como um vírus ajudante (helper virus), expressando os genes ausentes no profago defectivo. Por outro lado, se o gene int (integrase) tiver sido perdido, o cromossomo defectivo será capaz de se integrar apenas na presença de um vírus ajudante. Se um fago dgal+ infectar uma bactéria recipiente gal-, a integração de dgal+ irá produzir um diploide parcial instável gal+ / gal-. Esta condição é instável porque a excisão deste profago reverterá a condição. Raramente, eventos de recombinação entre o gene gal+ do DNA de transdução e o gene gal- da bactéria recipiente irão gerar um transdutante gal+ estável. Se a razão vírus/bactéria for muito alta, células recipientes irão receber tanto o tipo- selvagem quanto dgal+ e ambos podem se integrar no genoma. Quando o ciclo lítico for induzido (com UV, por exemplo), 50% das partículas virais do lisado serão dgal+ e 50% +, pois lambda tipo selvagem age como um vírus ajudante, permitindo a excisão da partícula de transdução dgal+. Considerando que partículas de transdução ocorrem raramente (por recombinação não homóloga – anômala, 1 a cada 106 partículas virais), estes lisados com 50% de partículas de transdução são chamados de Hft (high-frequency of transduction). Devido à elevada taxa de transdução, lisados Hft são os preferencialmente escolhidos para realizar experimentos de transdução. Lisados Hft produzem 50% de partículas de transdução . Partícula de transdução carregando gal+ Partícula viral selvagem (não de transdução) Luz UV O material genético bacteriano é carregado em um cromossomo principal MAIS uma (ou várias) moléculas de DNA circular de replicação independente do cromossomo denominados plasmídeos e epissomos. Plasmídeos e epissomos geralmente carregam genes não essenciais às bactérias. Plasmídeos não se integram ao cromossomo bacteriano, havendo dois principais tipos: - Plasmídeos R: carregam genes de resistência a antibióticos e outras drogas. - Plasmídeos Col: codificam proteínas bactericidas (colicinas) que são liberadas para o ambiente para reduzir a competição com outras linhagens bacterianas. Por outro lado, além de se replicar de maneira autônoma, os epissomos podem também se integrar ao cromossomo bacteriano. O epissomo mais conhecidoé o Fator F (de fertilidade, visto na conjugação). Ele era antigamente conhecido “Plasmídeo F”. Alguns plasmídeos codificam proteínas que tornam as células capazes de conjugar. Todos os “fatores F”, muitos “plasmídeos R” e alguns “plasmídeos Col” têm esta propriedade e portanto são denominados plasmídeos conjugativos. A natureza conjugativa de muitos plasmídeos R promove um papel importantíssimo na rápida propagação, dentro de populações de bactérias patogênicas, de genes de resistência a antibióticos. A habilidade de integração dos epissomos ao cromossomo bacteriano depende da presença de curtas sequências de DNA denominadas IS (sequências de inserção). Estas sequências de 800 a 1400 pb estão presentes tanto nos epissomos quanto nos cromossomos bacterianos e são transponíveis (i.e., podem mover de posição no genoma - transposons, vistos futuramente). Como visto anteriormente (conjugação), o Fator F pode manter-se na célula de maneira autônoma ou integrar-se ao genoma bacteriano, gerando um célula Hfr. Raramente o fator F pode excisar-se do genoma em culturas Hfr, gerando: - fatores F íntegros, promovidos por excisões precisas - fatores F carregando genes bacterianos devido a excisões anômalas (semelhantes à observado na transdução especializada em ). Estes fatores F modificados, denominados F’ (F linha) foram identificados por Edward Adelberg e Sarah Burns em 1959. Ao contrário do DNA de , cuja cabeça do fago limita o tamanho do DNA a ser transduzido, os fatores F’ não são empacotados, portanto podem carregar consigo qualquer tamanho de sequência bacteriana: de um único gene à metade do genoma. A transferência de um fator F’ para um célula F- é denominada sexdução (sexduction) e ocorre pelo mesmo mecanismo de transferência visto em F+ e F-. A grande diferença é que a frequência de transferência de genes bacterianos por sexdução é bem maior. 5920117 - Genética I I 2014 Genética de Vírus Prof. Dr. Tiago Campos Pereira tiagocampospereira@ffclrp.usp.br 3315 3818 – sala 13, bloco 14 Principle of Genetics 5th Edition - Cap 8 . Snustad & Simons, Editora Wiley Assuntos abordados nesta aula: • Formas de replicação de vírus • Bacteriófagos: T4 e Lambda • Replicação viral: ciclos lítico e lisogênico • Recombinação em vírus • Mapeamento de genes em bacteriófagos • Bacteriófago: do grego “comedor de bactérias”, i.e. vírus que infecta bactérias. • Dois colifagos (bacteriófagos de E. coli) tiveram papeis especialmente importantes na elucidação da genética de vírus: • Bacteriófago T4 (= Fago T4 ou T4) Trata-se de um fago virulento, i.e., usa a maquinaria metabólica da bactéria para se reproduzir e mata o hospedeiro durante o processo. • Bacteriófago Lambda (= Lambda, ) Trata-se de um fago temperado, i.e., ele pode matar a célula OU entrar em uma associação especial com a mesma e replicar seu genoma junto com a genoma do hospedeiro durante a divisão celular. Lambda T4 • T4 possui um genoma de dsDNA de 168.000 pb armazenado na cabeça, 150 genes além de mais 150 ORFs (Open Reading Frames – Fases Abertas de Leitura). • Composto basicamente de DNA (50%) e proteínas (50%). • A bainha (sheath) é oca e composta por proteínas contráteis que permitem a introdução da cauda através da parede celular bacteriana e inoculação do genoma viral. Elétron-micrografia de um T4 do qual o DNA foi liberado através de choque osmótico. • T4 é um fago lítico (virulento), i.e., ele mata o hospedeiro durante a replicação, liberando uma progênie de 300 fagos. • Ciclo bacteriano: 20 min • Ciclo viral: 17 min Nuclease viral não degrada o genoma viral porque ele é modificado* *5 hydromethylcytosine • Lambda é menor que T4, porém seu ciclo de vida é mais complexo. • Ele possui 50 genes dispostos em um genoma linear de dsDNA de 48.502 pb. Logo após entrar na célula o genomar circulariza-se. Em seguida ele pode entrar no ciclo lítico (como T4) ou no ciclo lisogênico (inserindo seu DNA no genoma da célula hospedeira, permanecendo inativo). Durante o ciclo lisogênico o DNA do fago é denominado profago. A integração do genoma circular de ocorre através de um processo de recombinação sítio-específica, envolvendo uma integrase viral (gene int) e os sítios attP e attB. As regiões centrais dos sítios attP e attB possuem as mesmas sequências nucleotídicas Como a recombinação ocorre exatamente no meio dos sítios attP e attB, o profago apresenta os sítios attB/P em ambas extremidades. Isso é importante pois permitirá a excisão controlada do fago por um evento semelhante de recombinação sítio-específica. A excisão espontânea de ocorre a cada 105 divisões celulares. É por este motivo que o ciclo é chamado lisogênico (=capaz de causar lise, mesmo que em baixa frequência). Alternativamente, a excisão pode ser induzida por UV. Em ambos os casos o processo é preciso. Porém, partes do genoma bacteriano podem eventualmente ser carregadas junto com o fago. Como realizar o mapeamento de genes se os vírus não sofrem meiose? Placas de lise (regiões nas quais houve morte bacteriana devido a replicação do fago) Halos de inibição (regiões nas quais houve inibição do crescimento bacteriano devido a presença de antibióticos) Como cultivar vírus em laboratório? Há meios de cultura para vírus? Mutantes para morfologia da placa de lise (r e r+) T4 de lise rápida (r): mata rapidamente as bactérias e forma uma placa de lise grande com borda bem definada. T4 selvagem (r+ ): quando um fago T4 r+ se adere a uma célula já infectada com esta mesma linhagem (r+), ele desencadeia a síntese de mais material para a parede celular, atrasando a lise por pelo menos 2 horas. Este processo denominado inibição de lise é responsável pela margens nebulosas (mal definidas) das placas de lise do fago selvagem. Mutantes para diferentes linhagens hospedeiras (h e h+) T2 selvagem (h+): se replica bem em E. coli da linhagem B, mas não na linhagem B/2. T2 (h): se replica bem em ambas linhagens hospedeiras. h+ h E. coli B E. coli B/2 h Placa de Petri contendo: E. coli B + E. coli B/2 h: placas bem definidas h+: placas turvas (lodosa, barrenta) h+ Alfred Hershey e Max Delbrück, 1946 Infectaram E. coli B simultaneamente com T2 h+ r e T2 h r+ A. Hershey M. Delbrück Morfologia das placas de lise quando os vírus são cultivados em de E. coli B+B/2 Total de recombinantes: 2% Distância entre os loci h e r: 2 centiMorgans
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