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Vol. 8 No. 2, 2004 Hidrocinesioterapia na Hipertensão Arterial 279 ISSN 1413-3555 Rev. bras. fisioter. Vol. 8, No. 3 (2004), 279-283 ©Revista Brasileira de Fisioterapia EFEITOS DA HIDROCINESIOTERAPIA NA PRESSÃO ARTERIAL E NAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS EM MULHERES HIPERTENSAS Arca, E. A.,1 Fiorelli, A.2 e Rodrigues, A. C.3 Universidade do Sagrado Coração, USC, Rua Irmã Arminda, 10-50, Bairro Jardim Brasil, CEP 17011-160, Bauru, SP 1,2Professores do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sagrado Coração e Mestres em Saúde Coletiva 3Professor Associado do Departamento de Ciências Biológicas FOB/USP, Bauru Correspondência para: Eduardo Aguilar Arca, Rua Antônio Quaggio, 5-50, Residencial Juréia, bl. 01, ap. 12, Parque União, CEP 17063-200, Bauru, SP, e-mail: eduardo.arca@usc.br Recebido em: 15/9/2003 – Aceito em: 11/8/2004 RESUMO A hipertensão arterial é considerada problema de saúde não apenas em países desenvolvidos, mas também no Terceiro Mundo, sendo um dos principais fatores de risco para a doença cardiovascular. O propósito deste estudo foi verificar os efeitos de um programa de hidrocinesioterapia na pressão arterial e nas medidas antropométricas de mulheres hipertensas. A pressão arterial e as variáveis antropométricas foram analisadas antes e depois do programa de hidrocinesioterapia, que teve a duração de 10 semanas. Uma sessão típica era dividida em 4 etapas: I – Aquecimento, II – Alongamento, III – Atividades aeróbias e IV – Relaxamento. Os dados obtidos foram analisados utilizando-se o teste de Wilcoxon para amostras dependentes, nível de significância de 5%. Verificou-se diferença estatística significativa pré e pós-tratamento na pressão arterial sistólica (PAS) (redução de 5 mmHg) e na pressão arterial diastólica (PAD) (redução de 10 mmHg) (p < 0,0001), porém não houve diferença significativa no peso corporal, na circunferência de cintura e na circunferência de quadril (p > 0,05). Conclui-se que o programa de hidrocinesioterapia contribuiu para a redução da PAS e da PAD, porém não produziu modificações nas medidas antropométricas durante o período estudado. Palavras-chave: hipertensão arterial, hidrocinesioterapia, atividade física. ABSTRACT Arterial hypertension is considered a health problem, not only in developed countries, but also in the third world, being one of the main risk factors to cardiovascular diseases. The aim of this study was to verify the effects of a program of hidro-kinetic therapy on the blood pressure and on the anthropometrical variables in hypertensive women. The blood pressure and the anthropometrical evaluation were analyzed before and after the program of hidro-kinetic therapy, which lasted 10 weeks. A typical session was divided into 4 stages: I – Heat, II – Stretching, III – Aerobic activities, and IV – Resting. The data obtained was analyzed, using the Wilcoxon test for dependent samples, level of significance of 5%. It was verified that there was a significant statistical difference pre and post treatment in the systolic blood pressure – SBP (reduction of 5 mmHg) and diastolic blood pressure – DBP (reduction 10 mmHg) (p < 0.0001), but there was no difference on the body weight, circumference of waist and circumference of hip (p > 0.05). In conclusion, the hydro-kinetic therapy program contributed to the reduction of the SBP and DBP, but did not produce modifications in the anthropometrical measures, during the period studied. Key words: hypertension, hydro-kinetic therapy, physical activities. INTRODUÇÃO A hipertensão arterial (HA) é considerada um dos prin- cipais problemas de saúde, não apenas em países desen- volvidos, mas também no Terceiro Mundo, sendo um dos principais fatores de risco para a doença cardiovascular.1 Associado com a hipertensão arterial, verifica-se aumento cada vez maior do sedentarismo, em razão da comodidade oferecida pela vida moderna, cada vez mais automatizada pelo acelerado progresso industrial e tecnológico.2 Esse 280 Arca, E. A., Fiorelli, A. e Rodrigues, A. C. Rev. bras. fisioter. sedentarismo tem preocupado os profissionais da área da saúde, que têm encontrado grande número de pessoas apresentando predisposição a certas doenças relacionadas ao sistema cardiovascular.2 A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 30% da população mundial adulta é hipertensa e que a maior prevalência dos casos ocorra com indivíduos acima de 60 anos. Nos Estados Unidos, é o distúrbio cardiovascular que mais prevalece, afetando mais de 60 milhões de norte-ame- ricanos.3 No Brasil, a prevalência de hipertensão também é elevada, estimada em torno de 15% a 20% da população adulta, sendo considerada um dos principais fatores de risco de morbidade e mortalidade cardiovascular, além disso, seu alto custo socioeconômico é responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria precoce e absenteísmo ao trabalho.4 No Sistema Único de Saúde (SUS), os esforços das áreas de informação, educação e comunicação (IEC) na prevenção da hipertensão são ineficientes.5 A adesão dos hipertensos ao tratamento é baixa e a evasão, alta.6 Por se tratar de uma doença inicialmente assintomática, muitas vezes evolui para casos severos, em que é necessária internação hospitalar com possibilidade de graves seqüelas, como acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio e insuficiência renal, podendo levar à morte.7 O tratamento anti-hipertensivo farmacológico utiliza algumas drogas, como: diuréticos, betabloqueadores, anta- gonistas do cálcio, inibidores da enzima de conversão da angiotensina e outros. O tratamento não farmacológico inclui medidas de reeducação alimentar e comportamentais que implicam mudanças no estilo de vida, como: redução do peso corporal, restrição ao sal, controle do estresse emocional, redução do consumo de álcool, eliminação do tabagismo e atividade física regular.8 Tem sido observado que a atividade física regular apre- senta alguns benefícios para a saúde dos hipertensos, entre os quais: redução da pressão arterial em portadores de hipertensão leve e moderada, diminuição da freqüência cardíaca em repouso e do trabalho cardíaco,9 redução das lipoproteínas de baixa densidade-LDL e dos triglicerídeos,10 aumento das lipoproteínas de alta densidade-HDL,11 diminuição da tensão emocional e controle da obesidade.12 A hidrocinesioterapia é uma atividade aquática que utiliza as propriedades físicas da água e sua capacidade térmica para promover bem-estar físico e mental.13 Os principais efeitos terapêuticos obtidos em um pro- grama de hidrocinesioterapia são: redução de edema, dimi- nuição do espasmo muscular, melhora na amplitude de movimento, reeducação da marcha, independência funcional, melhora da coordenação motora global, diminuição do impacto e da descarga de peso sobre as articulações, integração e socia- lização, estímulo da autoconfiança, diminuição da ansiedade, melhora da imagem corporal, alívio de tensão e estresse.14 Com base nessas premissas, formulou-se o problema que estimulou a realização deste estudo: “Quais os efeitos da hidrocinesioterapia na pressão arterial e nas medidas antro- pométricas em um grupo de mulheres hipertensas?” Assim, o propósito deste estudo foi verificar os efeitos de um programa de hidrocinesioterapia na pressão arterial e nas medidas antropométricas em mulheres hipertensas. METODOLOGIA Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pes- quisa da Universidade do Sagrado Coração. Após sua apro- vação (n. 053/2002), iniciou-se a pesquisa por meio de uma palestra realizada na Academia de Natação da cidade de Agudos, SP. O público presente era composto por pessoas que participavam do grupo de hipertensos dessa cidade. Os voluntários assinaram um termo de consentimento para participação no programa de hidrocinesioterapia. A população-alvo deste estudo foi composta por 20 mulheres, na faixa etária entre 44 e 68 anos, com diagnósticode hipertensão arterial há pelo menos um ano. Foram excluídas da pesquisa as praticantes de atividade física regular e as que apresentavam algumas contra-indi- cações, como: otite, hidrofobia, lesões cutâneas, hipotensão ou hipertensão grave. As participantes tomavam medica- mentos anti-hipertensivos (Tabela 1) e não realizavam nenhum tipo de dieta restrita. A aferição da pressão arterial foi realizada indiretamente por método auscultatório, utilizando um esfigmomanômetro (colocado no membro superior esquerdo) e um estetoscópio. O indivíduo permaneceu sentado e a pressão arterial foi aferida após 10 minutos de repouso. Foram realizadas 2 aferições, com intervalos de 2 minutos entre elas, sendo considerada a média dos 2 valores de pressões sistólicas e diastólicas.15 Em seguida, com uma fita métrica, foram verificadas as medidas das circunferências de quadril e cintura, entre a expiração e a inspiração.16 Em seguida, as participantes foram informadas do início, do término e da importância da adesão ao programa, sendo toleradas apenas 4 faltas. O programa teve a duração de 10 semanas, sendo realizado 2 vezes por semana (terça e sexta-feira) no período matutino e com duração de 1 hora diária. O programa de hidrocinesioterapia foi dividido em 4 etapas: Etapa I – Aquecimento: os participantes iniciaram as atividades com caminhadas, para frente e para trás, realizando turbulência para aumentar a resistência ao deslocamento, com duração de 15 minutos; Etapa II – Alongamentos: foram realizados alongamentos de tríceps sural e isquiotibiais (uni e bilateral) com os membros superiores apoiados na barra fixa da parede da piscina, com duração de 15 minutos; Etapa III – Atividades aeróbias: foram realizados movimentos isotônicos com os membros superiores e inferiores, com duração de 20 minutos – a intensidade dos Vol. 8 No. 2, 2004 Hidrocinesioterapia na Hipertensão Arterial 281 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 verifica-se que a classe compreendida dos 40 aos 44 anos representa apenas 10% dos sujeitos e a classe dos 65 aos 69 anos, 25% dos participantes. A Tabela 2 mostra os medicamentos e as doses prescritas pelo médico, antes de iniciar o programa de hidrocinesioterapia. Observa-se que 10 indivíduos utilizavam o medicamento clorana, com doses diárias de 25 a 50 mg. A Tabela 3 mostra que 35% dos sujeitos são obesos, 50% apresentam sobrepeso e apenas 15% dos participantes estão com o índice de massa corporal (IMC) na faixa de normalidade. Estudos revelam a associação constante entre sobrepeso, obesidade e hipertensão arterial.18,19 A obesidade aferida pelo IMC associa-se com a prevalência de hipertensão arterial em ambos os sexos.18 Na pesquisa realizada por Guedes & Guedes,19 verificou-se que, independentemente da quantidade de gordura corporal, a disposição centrípeta da gordura pode contribuir para o aparecimento de hipertrigliceridemia e comprometer o metabolismo das lipoproteínas. Apesar de a associação entre obesidade e hipertensão arterial ser bastante conhecida, os mecanismos envolvidos nesse processo ainda são pouco conhecidos. No entanto, alguns estudos apontam alta predisposição de indivíduos obesos em apresentar hiperinsulinemia e resistência à insulina, em razão da excessiva exposição a elevadas concentrações de ácidos graxos livres, como principal fator de elevação da pressão arterial.19 Por sua vez, essas anormalidades podem induzir a re- tenção do sódio renal que, associada às disfunções dos recep- tores de insulina e do transporte de cátions na membrana celular, intensificam a ativação do sistema nervoso simpático e, conse- qüentemente, os níveis de pressão arterial tendem a se elevar.20 Pode-se observar na Tabela 4 que após o período de tratamento, comparado à condição pré-tratamento, houve diferença estatística significativa na pressão arterial sistólica (PAS) e na pressão arterial diastólica (PAD) (p < 0,0001), porém não houve diferença significativa no peso corporal (P), nas medidas de circunferência de cintura (CC) e de quadril (CQ) (p > 0,05). Os resultados do presente trabalho, relativos ao peso corporal, não demonstraram reduções estatisticamente signifi- cativas. Em outro estudo realizado no meio aquático e no solo,21 foram comparados os efeitos da natação, da bicicleta estacionária e da caminhada de uma hora diariamente, em mulheres, durante 6 meses. Foi observado que aquelas que caminharam e fizeram bicicleta perderam de 10% a 12% de seu peso, enquanto as que nadaram não diminuíram seu peso corporal. No entanto, para haver alguma modificação na com- posição corporal, realizando atividade física na água, deve- se realizar exercícios de alta intensidade (em torno de 90% da freqüência cardíaca máxima).22 Além disso, observou- se que outros fatores não contribuíram para melhora dessas variáveis, como: controle de ingestão calórica durante o tratamento, maior freqüência das atividades (3 a 5 dias por semana) e maior duração do programa (6 a 12 meses). Em relação à PAS e à PAD, observou-se diminuição significativa nos valores dessas variáveis após o programa de hidrocinesioterapia. Assim, como explicar tais resultados? Esse fato provavelmente se deve às alterações que ocor- rem no sistema renal e nervoso simpático, como: supressão do hormônio vasopressina e do sistema renina-angiotensina exercícios foi em torno de 60% da freqüência cardíaca máxima prevista em relação à idade, sendo o monitoramento da freqüência cardíaca realizado por meio de palpação da artéria radial, a cada 10 minutos; Etapa IV – Relaxamento: as pacientes permaneceram em flutuação, com a finalidade de proporcionar bem-estar físico e mental. Esta etapa tinha a duração de 10 minutos. Em todas as sessões, a temperatura da água foi controlada com um termômetro de mercúrio, havendo variações de 30º a 32ºC. Após o término do programa, foram realizadas as reavaliações (pós-tratamento), seguindo o mesmo procedimento da avaliação inicial (pré-tratamento). Para a análise estatística dos dados, foi realizado o teste de Wilcoxon para amostras dependentes. O nível de significância foi considerado em 5%. Tabela 1. Distribuição dos sujeitos de acordo com a faixa etária. Faixa etária Freq. absoluta Freq. relativa 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65 65-70 2 4 4 3 2 5 10% 20% 20% 15% 10% 25% Total 20 100% 282 Arca, E. A., Fiorelli, A. e Rodrigues, A. C. Rev. bras. fisioter. e aldosterona e estimulação do peptídeo natriurético atrial, proporcionando aumento da diurese, da natriurese e da potassiurese, além do aumento do retorno venoso e da diminuição da freqüência cardíaca durante e após algumas horas de imersão.23 Essas alterações fisiológicas, associadas à atividade física regular, podem ter contribuído para a redução dos níveis pressóricos durante o programa de exercício aquático. Outro estudo mostrou que, após uma sessão de exercício físico com intensidade de 55% de VO 2 máx, há importante redução na pressão arterial no período pós-exercício, permanecendo abaixo dos valores pré-exercício por um período de 90 minutos.24 Em relação ao efeito do exercício físico realizado cronicamente, têm sido observadas redução na freqüência cardíaca em repouso, hipertrofia ventricular esquerda e me- lhora no condicionamento físico geral,25 enquanto em rela- ção à PA, o trabalho de Gleim & Nicholas,26 utilizando exercícios aeróbios, incluindo caminhada, corrida e natação, mostrou redução na pressão arterial sistólica (de 5 mmHg a 15 mmHg) e na diastólica (de 5 mmHg a 10 mmHg) em repouso. Em um trabalho realizado no solo, verificou-se que, após 4 semanas de exercícios físicos regulares de intensidade moderada (60% a 70% da freqüência cardíaca máxima), houve diminuição da pressão sistólica (11 mmHg) e da diastólica (5 mmHg), além de redução de 14,1% nas lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e aumentode 11,2% nas lipoproteínas de alta densidade (HDL).27 Dessa forma, no tratamento do hipertenso destaca-se a necessidade da implementação de programas de atividade física que visam a controlar a pressão arterial, diminuir ou controlar o peso corporal e melhorar o condicionamento físico geral. Tabela 2. Classificação dos medicamentos e suas respectivas doses. Tabela 3. Classificação dos sujeitos de acordo com o índice de massa corporal (IMC). Tabela 4. Medidas descritivas avaliadas nas condições pré e pós-tratamento aquático. IMC (kg/m2)* Freq. absoluta Freq. relativa Magro <18,5 Normal 18,5-24,9 Sobrepeso 25-29,9 Obeso > 30 – 3 10 7 – 15% 50% 35% Total 20 100% * Classificação segundo Dejean et al.17 Sujeitos Medicamentos Dose (mg) Vezes/dia 10 6 4 Clorana Capoten Propanolol 25 a 50 25 a 50 50 1 a 2 1 a 3 1 Condição Variável Pré-tratamento Pós-tratamento P 66,25 +/– 8,28 66,50 +/– 7,78 CC 96,00 +/– 4,25 95,70 +/– 4,62 CQ 107,50 +/– 8,00 107,50 +/– 6,87 *PAS 140,00 +/– 5,00 135,00 +/– 10,00 *PAD 90,00 +/– 5,00 80,00 +/– 5,00 P (peso corporal), CC (circunferência de cintura), CQ (circunferência de quadril), PAS (pressão arterial sistólica) e PAD (pressão arterial diastólica). * p < 0,0001, teste de Wilcoxon. Vol. 8 No. 2, 2004 Hidrocinesioterapia na Hipertensão Arterial 283 CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos no presente estudo pode- se concluir que o programa de hidrocinesioterapia contribui para reduções significativas na pressão arterial, porém não produziu modificações nas medidas antropométricas dos sujeitos participantes do estudo. Em relação à pressão arterial, os resultados sugerem que o efeito hipotensor pode ser atribuído à associação da atividade física com as alterações fisiológicas promovidas pela água, principalmente nos sistemas cardiovascular e renal. Nas variáveis antropométricas, os resultados não foram significativos, provavelmente em razão do curto tempo de duração do programa e da falta de controle na dieta alimentar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Batista RS, Batista OLS, Quintas LEM, Reis SF, Chiga ALV. Estudo epidemiológico da hipertensão arterial e dos fatores de risco cardiovascular em Bangu, Rio de Janeiro, Brasil. 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