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recomendações de 2007 da AASLD, sugere-se a leitura da referência bibliográfica número 1. O clareamento do HBeAg pode ser precedido por exacerbação do quadro de hepatite, manifestada pela elevação da ALT Os portadores inativos devem ser pe- riodicamente acompanhados com a dosagem da ALT, tendo em vtsta a possibilidade de reativação. TRATAMENTO - INDICAÇÃO E MONITORIZAÇÃO DA RESPOSTA (AASLD) Arualmente, dtversas drogas e regimes (dose e dura- ção) para o tratamento da infecção pelo HBV estão dis- poníveis. A escolha dependerá de fatores relacionados ao paciente e ao risco/benefício de cada terapêutica, sendo Infecção em curso Replicação virai e alta infectividade Repetir após 8 semanas se HBsAg (+I Infecção em curso* Baixos infectividode e replicação virai Acompanhe com HBsAg após 8 semanas Convalescença Janelo Imunológica Acompanhar** algumas supressoras, o que implica uso prolongado, e outras que buscam erradicar a infecção. Os parâmetros laboratoriais para avaliação inicial do paciente e indicação do tratamento são o HBeAg, a ALT (> 2 x MVR) e a concentração do HBV-DNA (> 20.000 IU/ml). Os pacientes HBeAg positivo, antes de iniciar-se o tratamento, devem ser acompanhados por três a seis meses para veri ficar se ocorre soroconversão espontâ- nea: HBeAg para anti-HBe. A resposta ao tratamento, sob o ponto de vista la- boratorial, está estabelecida para os pacientes HBeAg positivo e é definida como o clareamento do HBeAg (com ou sem aparecimento do anti-HBe), negativação do HBV-DNA por PCR e retorno da ALT aos valores de referência. Nos pacientes HBeAg negativo, sugere-se o uso da negativação do HBV-DNA por PCR. Convalescença Considere recuperação e imunidade Ausência de infecção em curso pelo HBV. Atenção para doto provável do contoto e período de incubação Compatível com infecção crônica. (vide algortirno paro infecção crõnica fig 46-31 • Nem lodos os portentP• nesenvolvem níveis deteclóvetS de anli·HBe. Quando presente, tndica que o infecção está em processo de resolução ' • 5o 15% dos paetentes nàc aoresentam an11·HBs detec1óvel Figura 46.2 - Algommo para dtagnósrico e avaltação de infecção aguda. Investigação Laboratorial do paciente com hepatite pelo HBV e pelo HDV 601 Hepatite crónica oliva Replicaçóo virai lnfectividade Portador de hepatite crônica oliva HBeAg-negativa Figura 46.3 - Algoritmo para avaliação de infecção crônica. Ouuo objerivo a ser atingido é a perda do HBsAg ou soroconversão para ami-HBs. que quando ocorre se diz que houve resposta completa. Embora a negarivação do HBsAg se associe à maior sobrevida e mais baixo risco de desenvolyimenco do hepawcarcinoma nos pacientes com cirrose, necessariamente não significa que a erradi- cação virai renha eferivamente ocorrido e que o paciente esteja livre de complicações futuras decorrentes da in- fecção pelo HBV. INFECÇÃO PREGRESSA O diagnóstico de infecção pregressa é feiro pelo achado de ami-HBc coral e anti-HBs. na ausência do HB- sAg e do anti-HBc lgM. Acompanhar níveis de ALT e HBV-DNA a cada 3 a 6 meses Provável portador "inativo"( l). Acompanhar a cada 3 a 6 meses VR = Valor de Referência (1) HBV-DNA < 2.000 IU/ ml. Se houver indícios de hepatite crónica oliva, quantificar HBV-DNA Nos pacientes HBeAg negativos o anti-HBe pode ser positivo ou negativo ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS E APÓS VACINAÇÃO Pa ra avaliação epidemio lógica, uti lizar o am i- HBc wral. Recomenda-se verificar a resposra à vacinação um a dois meses após o seu término, ut ilizando o ami-HBs quantitativo, sendo os níveis acima de 10 mUI/mL consi- derados prmewres. CONSIDERAÇÕES GERAIS Embora o ami-H Bc lgM possa estabelecer o d iagnóstico de infecção aguda, recomenda-se utili- zar inicialmente o ami-HBc lgM e o HBsAg, ramo na suspeira de infecção aguda quanto de crónica. A verificação de ami-HBc lgM, com ou sem H BsAg, es- 602 [ Medicina laboratorial para o clínico ]1--- ----- ------------------------ rabelece o diagnóstico de infecção aguda, enquamo que a ausência do anti-HBc lgM diante de HBsAg sugere infecção crónica. A pesquisa do HBeAg só rem indicação quando o HBsAg é positivo. O HBeAg é um marcador de replicação virai, correlaCio- nando-se com arividade de doença hepática. já o HBsAg não é marcador de replicação virai. nem se correlaciona com atividade de doença hepática. sendo apenas um marcador de infecção em curso. que pode ser crônica ou aguda. O anti-HBc roral é um marcador de exposição ao HBV, estando presente na infecção aguda, crónica e após a recuperação. HEPATITE D Em 1977, o vírus da hepatite D (HDV) foi 1dentif1cado por Rizzerro et ai. através da imunofluorescência, no te- cido hepático de pacientes com hepame B crónica. ASPECTOS RElEVANTES DA INFECÇÃO AGENTE ETIOLÓGICO O HDV é um pequeno vírus RNA defecrivo, único repre- semanre da família deltavmdae que, para sua expressão e para induzir hepatite, depende da existência do vírus da hepatite B. ln v1vo, o HDV infecta apenas o hepatóoro, onde pode se replicar na ausência do HBV. que é necessário na formação de seu invólucro. O HDV é consriruído por uma cobertura externa composta de amígeno de superfície do HBV (HBsAg) e lipídeos, que comêm o RNA e o anrígeno delta (HDAg). Três genóripos foram descriws: I, 11 e III, que diferem em sua distribuição geográfica e parogenicidade. O genótipo li se as- socia à doença com melhor curso, enquanro que o genóripo III rem s1do assoc1ado a uma forma de hepatite mais grave e freqüenrememe fulmmame. O genótipo mais comum é o I. EPIDEMIOLOGIA E FORMAS DE TRANSMISSÃO A 1nfecção pelo HDV rem sido enconrrada em codo o mundo, sendo mais prevalente em torno do mar Mediterrâneo, América do Sul, Oriente Médio, Oes- te da África e certas ilhas do Pacífico Sul. Na Grécia e Irá lia era endêmica. acometendo principa lmente crian- ças e adultos jovens. Com a melhoria das condições socioeconômicas, as medidas de prevenção adoradas comra a AIDS e a insriruição de campanhas de vacina- ção contra o HBV, a incidência da infecção pelo HDV sofreu importante declínio. Estima-se que, no mundo, aré 5% dos portadores do HBV renham superinfecção pelo HOV. No Brasil. não é comum. exceto em alguns locais da Amazônia. resuitos aos vales dos rios Juruá. Purus, Madeira e Tapajós. As principais vias de transmissão são a parenteral e se- xual. em que ocorre exposição percurânea e permucosa ao sangue e fluidos corporais contaminados. A transmis- são inrrafamiliar era comum e provavelmente associada às condições pobres de higiene. Nas áreas endêmicas. é a principal causa de hepatite fulminante, principalmente na supennfecção do portador do HBV. FORMAS DE INFECÇÃO E APRESENTAÇÃO CLÍNICA A infecção pelo vírus D pode ocorrer de duas for- mas: co-infecção - infecção simultânea pelo HBV e HDV; e superinfecção - portador crónico de HBsAg é infectado pelo HDV. Uma terceira forma de Infec- ção foi descrita, ocorrendo após cransplante de fígado. quando o HDV infecta o fígado cransplantado antes da infecção pelo HBV e é chamada de infecção subclí- nica ou latente pelo HDV. O período de incubação é o mesmo da hepacire B no caso de co-infecção, sendo menor na superinfecção. Em geral. a co-infecção resulta em hepatite aguda aum- limltada, com menos de 7% dos casos evoluindo para a forma crónica. enquanto a superinfecção resulta em exa- cerbação do quadro existente e evolução para a forma crónica da hepatite D em mais de 70% dos casos. Cerca de 70 a 80% das infecções crónicas evoluem para mrose. A co-infecção costuma apresentar curso bifásico, com dois picos de necrose hepática, separados por algumas semanas. cada um deles associado a um dosvírus. No caso da superinfecção, a apresentação clín ica dependerá se o portador do HBV rem doença ativa ou não. De qual- quer forma, o risco de hepatite fulminante é elevado. Investigação Laboratorial do paciente com hepatite pelo HBV e pelo HDV 603 EXAMES lABORATORIAIS NA INFECÇÃO PELO H DV As alterações bioquímicas são comuns a todos os vírus causadores de hepatite, entretanto, na co-infecção pelo HDV/HBV, podem ocorrer dois picos de elevação das aminotransferases associados à necrose hepática produzi- da pelos vírus, que ocorrem em momentos diferentes. O diagnóstico de infecção pelo vírus D é muitas ve- zes difícil e na prática depende da forma de infecção, baseando-se na detecção de anticorpos para o HDV e de marcadores sorológicos do HBV, e quando disponível. na pesquisa do HDV-RNA (Figura 46.4). A detecção do amí- geno do vírus D (HDAg) é pouco utilizada na prática. Figura 46.4 - Infecção aguda pelo HDV (padrões habituais). CO-INFECÇÃO- HDV/HBV O diagnóstico é feito pela verificação de ami-HDV lgM e/ou HDV-RNA, na presença de ami-HBc lgM; o HBsAg pode estar presente ou não. Só se estabelece o diagnóstico de co-infecção quando se diagnostica infecção aguda pelo HBV em associação com infecção pelo HDV. O diagnósti- co sorológico é difícil porque os anticorpos para o HDV se desenvolvem em baixos títulos e tardiamente. É necessária a repetição seriada da pesquisa de anticorpos durante al- gumas semanas, se há suspeita de hepatite D aguda e não se dispõe da pesquisa do HDV-RNA por PCR. O HDV-RNA é detectável ames do aparecimento dos anticorpos e está presente transitoriamente no caso de hepatite aguda autolimi tada. O anti-HDV lgM pode ser deteccável duas a três semanas após o aparecimento dos sintomas, raramente persistindo por mais de dois a três meses nas infecções autolimitadas. A persistência do ami- HDV lgM e do HDV-RNA alerta para possível evolução para a forma crônica. Em geral. os títulos de anti-HDV total são caracteristicamente baixos e não duradou ros. SUPERI NFECÇÃO - HDV/HBV O diagnóstico é feito pelo achado de anti-HDV lgM e/ou HDV-RNA e HBsAg. O anti-HBc lgM é negativo. Essa forma de infecção é caracterizada pelo desen- volvimento precoce de anti-HDV lgM e lgG, em títulos sustentados. O HDV-RNA é detectável antes do surgi- mento dos anticorpos. Quando há resolução completa da doença, o que é pouco comum, o anti-HDV e o HDV- RNA desaparecem. Usualmente, há evolução para infec- ção crônica, com persistência desses marcadores. O HDV-RNA correlaciona-se com replicação virai e doença hepática ativa. Nos pacientes que apresentam res- posta sustentada ao tratamento, torna-se indeteccável. O anti-HDV total em altos tícu los pode ser devido à infecção crônica pelo vírus D (HDV-RNA é positivo) ou à infecção pregressa; neste caso, o anti-HDV lgM e o HDV- RNA estão ausentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Só se faz o diagnóstico de infecção pelo HDV em pa- cientes infectados pelo HBV. sendo: co-infecção quando o anti-HBc lgM é posi tivo; e superinfecção quando HB- sAg é positivo e o anti-HBc lgM é negativo. O diagnóstico de co-infecção é mais difícil de se estabelecer do que o de superinfecção, porque na co- infecção os anticorpos para o HDV apresentam baixos níveis, podem demorar a aparecer e são detectáveis por um curto período de tempo. REFERÊNCIAS 1. Alter MJ Epidemiology and prevention of hepatitis B. Sem Liver Dis. 2003;23(1):39-46. 2. Broderick AL, Jonas MM. Hepatitis B in Children. Sem Liv Dis. 2003;23(1):59-68. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Hepatites Virais: o Brasi l está atento. Brasília: M 1n1stér1o da Saúde; 2005. 604 ( Medicina laboratorial para o clínico )f-- - - - ------------ - ------------ 4. Fartov1ch G. Natural H1srory and prognosis of hepatitis B. Sem Liv Dis. 2003;23(1):47-58. 5. Feld JJ. Hearhcore J. Hepamis B e Anr1gen-Posirive Chron- 'c Hepat1ns B: Natural H1story and Trearmem. Semin Liv DIS. 2006:26(2):116-29. 6. Fonseca JCF. Epidemiologia. ln: Foccacia R. Tratado de Hepames Vira1s. 2• ed. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 325·7. 7. Germanidis G. Pawlocsky JM. De[ecção do DNA virai: Mé- todos de Quantificação. ln: Foccacia R. Tratado de Hepa· rires Virais. 2nd ed. São Paulo: Arheneu; 2007. p. 205-9. 8. Hadziyannis SJ. Paparheodoridis GV. Hepariris B e Anti· gen-Negarive Chronic Hepariris B: natural Hisrory and Trearmenr. Semin Liver Dis. 2006;26(2):130-41. 9. Lok ASF, McMahon BJ. AASLD Pra erice Guidelines: Chron- ic Hepariris B. Heparology. 2007:45(2):507-39 10. Margolis HS. Alter M). Hadler SC. 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Invest igação Laboratorial do paciente com hepatite pelo HBV e pelo HDV 605 47 Eliane Lustosa Cabral Gomez INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL DO PACIENTE COM HEPATITE PELO HCV Em 1989, Choo et a/., utilizando técnicas molecula- res, identificaram o vírus da hepatite C (HCV), cujo ge- noma foi clonado e seqüenciado e testes diagnósticos foram posteriormente desenvolvidos. Hoje, sabe-se que a infecção pelo HCV é uma importante causa de doen- ça crônica hepática, cirrose e hepatocarcinoma, sendo responsável por cerca de 50% dos transplantes hepáti- cos em adulcos nos países do Ocidente. ASPECTOS RELEVANTES DA INFECÇÃO AG ENTE ETIOLÓGICO O agente causador da hepatite C é um vírus RNA da famí lia jlaviviridae, do gênero hepacivirus. O vírus apre- senta heterogenicidade genômica e até o momento pode ser classificado em seis genótipos, designados pe- los números de um a seis, subdivididos em numerosos subtipos, denominados por letras do alfabeto. EPIDEMIOLOGIA E FORMA DE TRANSMISSÃO A hepatite C parece ser endêmica em várias regi- ões do mundo, entretanco, sua distribuição geográfica é muito variável. Segundo a mais recente estimativa da OMS, a infecção pelo HCV afeta mais de 100 milhões de pessoas, o que corresponde a aproximadamente 2,0% da população mundial. As prevalências mais altas fo ram relatadas em países da África e Ásia, sobretudo o Egito. As mais baixas estão na Alemanha (0,6%) e Ca- nadá (0,8%). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima a prevalência no Brasil e grande parte da Améri- ca Latina entre 1,0 e 1,9%. A pri ncipal via de transmissão do HCV é a parente- ral. Até o advento dos testes de triagem sorológica em bancos de sangue, o HCV era importante causador de hepatite pós-cransfusional. Atualmente, a fonte de infecção pelo HCV mais importante é o uso de dro- gas injetáveis ilícitas. Entretanto, em alguns países em desenvolvimento, agulhas e seringas contaminadas e a transfusão ainda são a principal fonte de infecção. Nos Estados Unidos e Austrália, o uso de drogas endove- nosas é relatado em 48 e 80% dos casos de infecção pelo HCV, respectivamente. A transmissão ocupa- cional, vertical, sexual e por convívio domiciliar é de ocorrência mais rara. Em uma parcela sign ificativa de casos (10 a 70%), não se consegue definira forma de transmissão. No Brasil, a rea lização da tr iagem soroló- gica para o HCV é obrigatória em bancos de sangue desde 1993, contudo, segundo dados do Ministério da Saúde, entre os casos notificados entre 2001 e me- ados de 2006 (n=54804), as fomes de infecção mais relatadas são: a transfusão (13.9%), o uso de drogas endovenosas (12,6%) e a via sexual (8,8%). Em 53,4% dos casos o dado é relatado como ignorado ou não consta da nocificação. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A infecção pelo HCV, na maioria dos casos, é assin- wmárica, sendo surpreendida em exames de rocina, na seleção de doadores em bancos de sangue ou em fase avançada, quando Já apresenca complicações decorren- tes de doença crôn1ca. O período de 1ncubação varia de cinco a 26 semanas. Menos de 1% dos indivíduos infectados pelo HCV relata doença aguda associada à icterícia. Quando presemes, os s1ncomas são geralmente inespecíficos. como anorex1a, náusea e adinamia. Na infecção crônica, a queixa mais comum é a fadiga seguida por desconforw no quadra n- te superior direiw. A infecção crônica pelo HCV pode ainda apresentar várias manifestações extra-hepáticas, principalmente algumas relacionadas à auto-1mun1dade. destacando-se a crioglobulinemia. que ocorre em 36 a 59% dos casos, além de glomeru lonefrite membranopro- liferaciva, cireoidices, porfiria cutânea tardia. entre oucras. Dados recentes sugerem que os indivíduos que apresen- tam infecção aguda sintomática com icterícia cêm mais chance de cer infecção auwlimicada. A maioria (60-80%) dos indivíduos infectados pelo HCV apresenta infecção persisteme e desenvolve doen- ça hepática crônica. sendo que 5 a 20% desenvolverão cirrose. Na maioria dos casos de doença crônica pelo HCV, o diagnóstico é fe1to 15 a 25 anos após a infecção cer sido adquirida. Estudos sobre a h1scória natural da do- ença têm demonstrado que a hepatite crônica leva 15 a 18 anos para se desenvolver. a cirrose 20 a 25 anos e o he- patocarcinoma 28 anos. O mecanismo envolvido na he- patocarcinogênese induzida pelo HCV não está esclare- cido. Não foi ainda demonstrada imegração do genoma virai no genoma do hepatócito. Assim, acredita-se que o processo inflamatório crônico e a necrose persisteme de hepatócitos devam ter papel importante no surgimento de hepatocarcinoma. EXAMES LABORATORIAIS NA INFECÇÃO PELO HCV ALTERAÇÕES LABORATORIAIS GERAIS A elevação das aminocransferases, geralmente aci- ma de 20 vezes o maior valor de referência (MVR). com predomínio da alanina aminou ansferase (ALT) sobre a aspartato aminorransferase (AST) é a alteração bio- química característica que ocorre na hepatite aguda causada por vírus. As alterações bioquímicas são co- muns a rodos os tipos de hepatite virai. não permitin- do disringuir um ripo do ourro, emreramo, o aumenco intermitente das aminocransferases sugere infecção pelo HCV. Como raramente a infecção aguda cursa com sintomas, é incomum surpreender a elevação ca- racterística das aminotransferases. Nos pacientes com 1nfecção crôn1ca, cerca de 30% apresentam a alanina aminotransferase (ALT) no valor de referência. Nos restantes, observam-se aumentos d iscretos e intermi- tentes. Por não evoluir freqüememente com colesta- se. a fosfatase alcal ina encontra-se normal ou pouco aumentada. Um achado freqüente nos pacientes por- tadores de hepatite crônica pelo HCV é a presença de vários auro-anticorpos. como fator reumatóide, anticorpos antin ucleares. antimúsculo liso, ecc. A pla- quetopenia também pode ser freqüente na infecção crônica pelo HCV. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO O diagnóstico de infecção pelo vírus C é feiro pela detecção de anticorpos rotais contra o vírus C (anti- HCV) e pela detecção de seu RNA (HCV-RNA). O tes- te mais amplamente d1fund1do e utilizado para a de- tecção de anticorpos para o vírus C em nosso meio. é o ensaio imunoenzimác1co. Mais recentemente, testes que dececcam e quantificam um anrígeno do core do vírus C e outro que detecta conjunramenre o antíge- no core e o anri-HCV foram descriros. reduzindo-se o tempo entre a infecção e o diagnóstico. além de ser uma possível alternativa mais acessível e si mples do que os cesces moleculares, para estabelecer a presença de infecção ativa. Pesquisa de anticorpos - Anti-HCV O ami-HCV está presente canto nos pacientes com infecção em curso, aguda ou crônica, quanto nos com infecção pregressa. 608 [ Medicina laboratorial para o clínico )1-------------------- ------- - --- Arualmenre, utilizam-se testes de terceira geração para a detecção do anti-HCV. A cada nova geração. esses testes incorporaram maior número de anrígenos, a fim de aumentar a sua sensibil idade, possibilitando a detecção mais precoce do anri-HCV (Figura 47.1). O ELISA de primeira geração apresema sensibilidade de 70 a 80%, o de segunda geração 95% e o de terceira geração 95 a 98%. Apesar do aumento da sensibilidade dos testes de segunda e terceira geração. a sua especi- ficidade varia em função da população testada, sendo a ocorrência de resultados falso-positivos grande em populações de baixo risco, na qual o valor preditivo po- sitivo de um teste de terceira geração é de apenas cerca de 25% e do teste de segunda geração de 50 a 60%, aproximadameme. Algumas reações de ELISA podem apresentar concentrações consideradas indetermina- das, ou seja. os níveis detectados tanto podem ocorrer em indivíduos com infecção quanto sem infecção. Nes- tes casos, o teste de imunoblot recombinante (RIBA) e HCV-RNA podem ou não auxi liar na defin ição do perfil sorológico (Quadro 47.1). A util ização do RIBA para a pesquisa do ami-HCV aumenta a especificidade da detecção do ami-HCV. O RIBA é um teste suplementar e está indicado para confirmar anti-HCV positivo na ausência do HCV- RNA. Quando positivo, sugere infecção pregressa e, quando negativo, que o resultado do ELISA era falso-positivo. Quando se utiliza RIBA, é possível saber para qual amí- geno o anticorpo detectado é dirigido. O RIBA é consi- derado positivo quando há reatividade para pelo menos dois amígenos, o que aumenta sua especificidade em comparação ao ELISA Quando há reatividade para ape- nas um amígeno, o RIBA é considerado indeterminado. Core Envelope I\ 1• Geração 2° Geração • J • Geração . 3' lJTR --l Figura 47.1 - Represemação esquemática do genoma do HCV e amígenos utilizados em cada geração do anti-HCV. Investigação laborarorial do paciente com hepatite pelo HCV Na infecção aguda, o anti-HCV pode ser detectado, em média, sete a oito semanas após a infecção ou se- gunda semana de doença, uti lizando-se o ELISA de ter- ceira geração, e 11 semanas após a infecção util izando-se o ELISA de segunda geração. A detecção de anticorpos lgM não se momou útil para estabelecer o diagnóstico de infecção aguda, uma vez que o anti-HCV lgM persiste na evolução para a forma crônica. Caso não se disponha de provas de biologia molecular (que detecta a viremia ames do aparecimento do anticorpo), sugere-se a pes- quisa do anti-HCV em soros pareados com intervalo mí- nimo de IS dias, no caso de suspeita de hepatite aguda C e com o primeiro exame negativo. O diagnóstico de certeza de infecção aguda só é possível pela documenta- ção da soroconversão. Pesquisa de antígenos - core HCV A fim de buscar alternativas mais simples e acessí- veis do que os testes baseados em técnicas moleculares, testes que detectam e quantificam o amígeno core do HCV têm sido desenvolvidos. Estudos comparando es- tes restes com a detecção qualitativa e quantitativa do HCV-RNA demonstraram que os níveis do core HCV se correlacionam com os de HCV-RNA, estando detectáveis um a dois dias após o aparecimento do HCV-RNA. A uti- lização destes testes que detectam o antígeno core pode- ria reduzir o tempo entrea infecção e seu diagnóstico em até quatro semanas. quando comparados com a pesquisa do anti-HCV. constituindo uma alternativa interessante para o diagnóstico da infecção pelo HCV. Entretanto, es- tes testes ainda não estão sendo utilizados na rotina. DIAGNÓSTICO MOLECULAR Utilizando técnicas moleculares. três abordagens bá- sicas podem ser feitas: detecção, quantificação e genoti- pagem do HCV-RNA Detecção do HCV-RNA - PCR qualitativa A técnica mais amplamente utilizada para a detecção do HCV-RNA é a reaçào de polimerização em cadeia (Po- 609 limerase Chain React1on - PCR) e, mais raramente, a ampli- ficação mediada pela cranscrição (Transcription-Mediated Amp/if,cauon - TMA). O poder de detecção dos testes qualitativos (10 a 50 IU/ml) é maior do que dos testes quantitativos e sua especificidade varia de 98 a 99%. O RNA do vírus C (HCV-RNA), acé o desenvolvimen- tO da pesqu1sa do antígeno core, era o único marcador disponível de infecção ativa capaz de discriminar infec- ção pregressa de infecção em curso. A sua presença cor- relaoona-se com infectividade. replicação virai e doença hepática. mas não diS[Ingue infecção aguda de crônica. O HCV-RNA pode ser detectado, por PCR qualitati- va, uma a duas semanas após infecção pelo vírus C. pre- cedendo a elevação da ALT em três semanas e o apareci- mento dos sintomas em oito a 10 semanas. Na infecção aguda aucolimitada sua presença é transitória, em geral três a quacro meses. permanecendo positivo se há evolu- ção para a forma crônica. IMPORTANTE: indivíduos com hepatite C crôni- ca podem apresentar flucuações na concentração virai. Tendo isto em vista, uma única pesquisa do HCV-RNA negativo não é conclusiva e deve ser repetida. A detecção do HCV-RNA, por PCR qualitativa, é utilizada para estabelecer o diagnóstico, nos indivíduos anti-HCV posicivo, em pacientes imunodeprimidos, em pacientes soronegacivo com hepatite crônica, após expo- sição ocupacional e para verificar a resposta ao uatamen- ro. Nos recém-nascidos de mãe com infecção pelo HCV, uma vez que os anticorpos auavessam a barreira transpla- cencária, o diagnóstico é feita com a detecção do HCV- RNA. Emretamo. o clareamenco espontâneo do HCV ocorre mais freqüememente em recém-nascidos. por isso. recomenda-se pesquisar o HCV-RNA apenas a partir dos seis meses de vida. A persistência do HCV-RNA após 12 meses de vida sugere evolução para forma crôn1ca. Quantificação do HCV-RNA - PCR quantitativa e bONA Duas metodologias estão disponíveis para a quanti- ficação do HCV-RNA: amplificação do RNA, como no caso da PCR qualitativa (e mais raramente a TMA), ou hi- bridização com amplificação do sinal. como na ramifica- ção do DNA (Branched DNA - bDNA). A fim de permitir uma comparação entre os diversos restes disponíveis, a Organização Mundial de Saúde (OMS) escabeleceu um padrão internacional para o HCV-RNA e a panir dele de- finiu uma unidade internacional (lU) que deve ser utiliza- da para expressar os resultados obt1dos na quantificação do RN A. De qualquer forma. a recomendação é de que se acompanhe um mesmo paciente com a mesma cécni- ca. Embora os cestes quantitacivos sejam menos sensíveis do que a PCR qual itativa, muitas vezes eles são usados no diagnóstico inicial do paciente anti-HCV positivo, uma vez que a maioria dos pacientes com infecção em curso pelo HCV apresenta níveis detectáveis pelos cesces quantitativos e o resultado pode ser uti lizado para orien- tar no tratamento. Naqueles paciemes em que a quan- tificação do HCV-RNA seja negativa, deve-se rea lizar a detecção qualitativa do HCV-RNA. A especificidade dos testes HCV-RNA quantitativos varia de 98 a 99% Genotipagem A genotipagem pode ser feita por seqüenciamenco direco. por h1bndização reversa utilizando sondas especí- ficas para cada genótipo ou por análise do pol imorfismo usando enzimas de restrição (RestnctJOn Fragment Lengh Polymorph1sm - RFLP). Utilizando estas técnicas é possí- vel identificar todos os genótipos e mu1tos dos subtipos. Em menos de 3% dos casos não se consegue definir o ge- nótipo e 1 a 4% apresentam infecções mistas (mais de um genótipo). Erros na identificação do genótipo são muito raros. mas erros na subtipagem podem ocorrer em 10 a 25% dos casos e, na sua maioria, está relacionada à região estudada e não à técnica. Uma vez que atualmente ape- nas o genótipo é ucilizado para decisões clínicas, os erros na subtipagem têm pouca conseq üência clínica. O genótipo do HCV também pode ser determina- do por sorocipagem, que é a detecção de anticorpos es- pecíficos para cada genótipo. A sorocipagem apresenta concordância de aproximadamente 95% com as técnicas moleculares. mas não é capaz de identificar os subtipos. Quando ocorre reatividade para mais de um genócipo, não é possível distinguir se há infecção mista verdadeira ou reação cruzada. A genotipagem deve ser realizada, em todo candida- to ao tratamento, a fim de determinar o reg1me de tra- tamento (dose e duração) e a probabilidade de resposta ao mesmo. 610 ( Medicina laboratorial para o clínico ]1-------------- ----------------- CONSIDERAÇÕES FINAIS INFEÇÃO EM CURSO: AGUDA OU CRÔ NICA PELO HCV Não existe nenhum marcador sorológico ou molecu- lar que permita distinguir a infecção crónica da infecção aguda. Na prática, o que se consegue é estabelecer se há infecção em curso. Na suspeita de infecção pelo vírus C deve-se realizar a pesquisa do anti-HCV por ELISA. Os pacientes positivos devem ser submetidos à pesquisa do HCV-RNA por PCR qualitativa (Figura 47.2), que deve ser repetida caso seja negativa. antes de afastar infecção em curso. Nos pacien- tes HCV-RNA negativo, realizar a pesquisa do anti-HCV por RIBA para distinguir infecção pregressa de resultado falso-positivo. Pacientes com sorologia indeterminada devem ser acompanhados e os marcadores devem ser repetidos decorridos pelo menos 30 dias. O Quadro 47.1 apresenta os perfis sorológicos mais freqüentes. TRATAMENTO Em relação ao tratamento, a American Association for The Study of Li ver Diseases (AASLD), a Jnjectious Dise- ases Society of America e a American College of Gastroen- terology referendam as seguintes recomendações: • o objetivo do tratamento, sob o pomo de vista laboratorial, é tornar indetectável o HCV-RNA pesquisado por técnicas qualitativas altamente sensíveis (como a PCR). de maneira sustentada (por mais de seis meses após o término do tra- tamemo); • a genotipagem deve ser realizada em todos os pa- cientes candidatos ao tratamento, uma vez que o genótipo definirá a dose e a duração do tratamen- to, que são maiores no genótipo 1; Genotipogem, poro orientar trotamento. No genótipo 1 , quantificar o RN A HCV • Se dúvida repetir PCR após 1 mês Figura 47.2- Algoritmo para avaliação de pacieme ami-HCV positi- vo utillizando marcadores sorológicos e moleculares. (~) Se RIBA não d1sponível. um ant1-HCV que utilize amígenos d1feremes do prime1ro ELISA. fa la a favor de 1nfecçào prév1a. Quadro 47.1 - lmerpretação dos testes sorológicos e moleculares para HCV Anti-HCV RNA HCV RIBA +I IIl i H + +I !ll l H + + + I I (+) + posit1vo; · negat1vo; (I) 1ndeterm1nado Interpretação Infecção em curso A positividade isolada de RNA HCV é rara e esses casos, quando em pacienles imunocompetentes, devem ser acompanhados com cautela Infecção pregresso Se dúvida repetir o PCR decorridos pelo menos 30 dias Resultado falso-positivo Se o RIBA não for disponível e o onti·HCV for fortemente positivo, pode· se repetir o onti·HCV com outro ELISA que usa antígenos diferentes do pri· meiro, que se positivo fala a favor de resultado verdadeiramente positivo Resultado indeterminado Repetir decorridos pelo menos 30 dias Ausência de infecção Atenção poro otempo decorrido entre o cantata e o realização dos exames, se necessário repetir Investigação laboratorial do paciente com hepatite pelo HCV 611 • a quantificação do HCV-RNA está formalmente indicada nos pacientes com genótipo 1 e deve ser feita no início e na 12• semana de tratamento. O desaparecimento ou a queda de 2-log10 ou mais nos níveis do HCV-RNA, na 12• semana de trata- mento, é chamado de resposta vi rológica preco- ce (RVP) e se associa à maior chance de resposta sustentada ao tratamento. Quando os níveis de HCV-RNA não apresentam queda, a chance de resposta ao tratamento é muito pequena e reco- menda-se aval iar sua suspensão, o que deve ser feito individualmente; • a detecção qualitativa do HCV-RNA é o parâme- tro utili zado para estabelecer a resposta ao térmi- no do tratamento (24 semanas nos genótipos 2 e 3 - 48 semanas no genótipo 1) e seis meses após, considerando-se resposta virológica sustentada (RVS) ao tratamento quando o HCV-RNA quali- tativo é negativo nas duas ocasiões. REFERÊNCIAS 1. Bouvier-Aiias M, Parei K, Dahari H, Beaucourr S, Larderie P, Blatt L et ai. Clinical Utility of Total HCV Core Anrigen Quanti fication: A New lndirect Marker of HCV Replica- tion. Hepatology. 2002;36(1):211-8. 2. Brasil. M inistério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. s• ed. Brasília: M inistério da Saúde; 2002. 3. Ferraz MLG, O liveira PM . Diagnóstico Laboratorial Espe- cífico. ln: Foccacia R. Tratado de Hepatites Virais. 2• ed. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 199-204. 4. Granato CFH, A rrais T. Determinação Quanti tativa do RNA/HCV e Aplicações Clínicas. ln: Foccacia R. Tratado de Hepatites Virais. 2• ed. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 205-9. S. Hoofnagle JH. Course and Outcome of Hepatitis C. He- patology. 2002;36(S1):S21-9. 6. Laperche S, Le Marrec N, Girault A, Bouchardeau F, Ser- vant-Delmas A, Maniez-Montreu il M, et ai. Simultane- ous Detection of Hepatitis C Virus (HCV) Core Antigen and Anti-HCV Antibodies Improves the Early Detection of H C V. lnfection J Clin M icrobial. 2005;43(8):3877-83. 7. Pawlorsky JM. Molecular Diagnosis of virai hepatitiS. Gas- troenrerology. 2002;122:1554-68. 8. Pawlorsky JM . Use and lmerpretation ofVirological Tests for Hepatitis C. 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Sem Liv Dis. 2000;20(1):1-16. 612 [ M edicina laboratorial para o clínico )1----------- 48 Silvana Maria Eloi Santos Marcelo Luide Pereira Gonçalves Suzane Pretti Figueiredo Neves INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL NA INFECÇÃO PELO EPSTEIN,BARR VÍRUS Em 1968, descreveu-se que o vírus Epstein-Barr (EBV). atualmente denominado herpesvírus humano 4, era o principal agente etiológico da mononucleose infecciosa (MI). Tal vírus havia sido descobertO em 1964, a partir de escudos com microscopia eletrônica de culcura de cé- lulas obtidas de um linfoma de Burkitt, tumor comum na África subsahariana, descrico em 1958 por um des- conhecido cirurgião que trabalhava em Uganda, Denis Burkitt. Trata-se de um vírus evolucionalmente bem sucedido que, após a infecção primária, persiste no hos- pedeiro, geralmente de forma inócua. Entretanto. pode induz1r transformação das células infectadas e. pelo seu potencial oncogênico, está assooado a carcinoma de na- sofannge, linfoma de Burkitt e outros linfomas de células B. linfoma de Hodgkin e linfomas pós-transplantes. EPIDEMIOLOGIA Apesar de variações geográficas de prevalência e ida- de de soroconversão, sabe-se que o EBV é um vírus ubí- quo, com distribuição universal e estima-se que cerca de 90% dos adulcos ocidentais já tenham sido infectados por ele. A prevalência pode ser muito elevada. como em paí- ses do norte da África (Aigéria e T unís1a). ou baixa, como no norte da Europa (Dinamarca e Holanda). O Brasil é considerado um país de endemicidade intermediária. A maior incidência acontece na infância. com um segundo pico na adolescência. As condições socioeco- nômicas, principalmente más condições de higiene e grande concentração de pessoas em espaço pequeno, facilitam a transmissão. Assim, quanto mais desenvolvi- do o país, mais tarde as pessoas contraem a doença e mais sintomática é a 1nfecção aguda. ASPECTOS RELEVANTES DA INFECÇÃO AGENTE ETIOLÓGICO Vírus Epstein-Barr, um gama-herpesvirus humano da família Herpesviridae. gênero Lymphocryptovirus, envelo- pado, com tamanho de 120-220 nm, simetria icosaédrica, com nucleocapsídeo envolvendo um genoma compos- co por DNA fita dupla de 186 kb que codifica proteínas estruturais e não estruturais (EBNA-1. EBNA-2, EBNA-3A- 3B-3C. EB A-LP, LMP1 e LMP2). Apresenta dois subtipos sorológicos, EBV-1 e EBV-2. e dois genótipos, A e B. O tipo A é mais eficiente em induzir imortalização de célula B em linfomas. Nos países ocidentais, incluindo o Brasil, predomina o genótipo A PATOGÊNESE Existem controvérsias sobre a primeira célula a ser infectada pelo EBV: células epiceliais da orofaringe ou linfócitos B. Atualmente, as evidências favorecem a célula B como sítio primário de infecção. De qualquer forma, a disseminação virai ocorre pela circulação de linfóciros B infectados. A ligação do vírus ao linfócito se dá pela interação do complexo glicoprotéico gp350/220 da cápsula do EBV com CD21, recepcor para o componente C3b do complemento, presente na superfície de linfócitos B. Posteriormente, há ligação da gp42 com moléculas de HLA classe 11, iniciando a fusão vírus/célula, processo que requer, ainda, a participação de outras proteínas virais e permite a entrada do vírus no interior da célula. Como outros herpesvírus, apresenta ciclo lítico e, assim, uma vez no interior da célula, ocorre multiplicação virai e lise celular. Curiosamente, portadores de agamaglobuline- mia ligada ao X, por não possuírem células B maduras, não são infectados pelo EBV. Estudos recentes indicam que repl icação virai pode se dar no epitélio da orofaringe, o que explicaria os alros níveis virais presentes na orofaringe de pacientes com mononucleose infecciosa. Entretanto, os linfócicos B atu- am como o principal reservatório que mantém o EBV no organismo após a infecção aguda. A infecção do linfóciro B induz ainda expressão de genes relacionados ao crescimento e transformação celular, que acarreta crescimento de linhagens linfoblas- tóides B infectadas pelo vírus. A proliferação e expan- são de células B infectadas levam à hiperplasia linfóide inespecífica (linfadenomegalia, esplenomegalia) e ao surgimento de anticorpos séricos de reatividades varia- das que induzem reações cruzadas em diversos ensaios sorológicos. Durante a fase aguda da MI, em torno de 1% dos linfócitos B está infectado. Na fase latente, os locais de persistência do EBV parecem ser os linfóciros B de memória e o número de células infeccadas, embora escasso, permanece inalterado por anos. APRESENTAÇÃO ClÍNICA Modo de transmissão: lnter-humano, pelo contato íntimo de secreções orais (perdigotas e saliva), fazendo com que a infecção seja conhecida como a "doença do beijo". É rara a transmissãoatravés de transfusão sangüí- nea ou contato sexual. Período de incubação: 30 a 45 dias. Período de transmissibilidade: Um ano ou mais. Manifestação clínica A infecção pode ser assintomática ou oligossin- tomática. Devido à sua fisiopatologia, o quadro clín i- co clássico caracteriza-se essencialmente por quadro agudo febr il acompanhado de far ingite exsudativa, mialgia, li nfadenomegalia, esplenomegalia e alterações sorológicas e hematológicas secundárias à infecção dos linfócitos B. Trata-se de um conjunto de sinais e sintomas frequentemen te encontrado em várias outras infecções agudas como infecção pelo citomegalovírus, pelo HIV. toxoplasmose etc, dificultando o diagnóstico puramente clínico. A febre está presente em praticamente todos os pacientes e permanece em média por uma sema- na, variando entre 37,5 e 39.5°C. Alguns dias após o início da febre, instala-se a linfadenomegal ia cer- vical, envolvendo vários gânglios, principalmente os cervicais anteriores e posteriores. Os linfonodos são móveis, de consistência firme e dolorosos. A odi- nofagia também é muito freqüente e há congestão difusa com exsudação de orofari nge, semelhante àquelas observadas na difteria. Petéquias no pala- to são observadas em cerca de 50% dos casos. A esplenomegal ia, com baço endurecido e doloroso, surge em aproximadamente metade dos casos. Em alguns pacientes, pode surgir exantema que pode ser morbiliforme, escarlatiniforme ou maculo papu- lar. A adenopatia mesentérica pode levar a mani- festações digest ivas como náuseas, vómitos, dores abdominais. Os sintomas duram cerca de 2-4 se- manas, com raros casos de curso mais pro longado, com persistência de febrícu las, astenia, fadiga, dores musculares, adenomegal ias etc. Há divergências so- bre a possibi lidade de cron ificação da infecção. MONONUCLEOSE INFECCIOSA E GRAVIDEZ O vírus de Epstein-Barr não é citado como causa importante de anomalias fetais. A infecção primária du- rante a gravidez com aparente transmissão transplacen- tária é rara e poucos casos são relatados. Lesões fetais secundárias à infecção vi rai parecem ser discretas, mas a ocorrência de infecção placentária, levando à vilite e deciduíte, pode acarretar dano fetal. 614 ( Medicina laboratorial para o clínico ]f----------- --- ----- ----------- - EXAMES LABORATORIAIS NA INFECÇÃO PELO VÍRUS EPSTEIN-BAAR DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO A mononucleose infecciosa caracteriza-se pela pro- dução de inúmeros anticorpos de especificidades distin- tas. Essas especificidades são diretamente proporcionais à diversidade de clones de linfóciros B infectados pelo EBV. Assim, é extremameme comum encontrarmos resultados sorológicos positivos para auto-anticorpos (faror antinuclear, faror reumatóide), crioaglutininas e anticorpos para outros vírus, em indivíduos infectados agudamente pelo EBV. Tudo isco decorrente da ativação policlonal dos linfócicos. Entretanto, dois grupos de anticorpos são produzi- dos consistentemente na MI e sua detecção é de grande utilidade para o diagnóstico. São eles os anticorpos hete- rófilos e aqueles que reconhecem especificamente com- ponentes do vírus EBV. O uso apropriado de cada um deles, ou ambos, no momento adequado, juntamente com o hemograma, constitui os pilares para o diagnósti- co laboratorial da doença. Anticorpos heterófi los São assim chamados por reagirem com vários an- tígenos celulares de outras espécies. Induzem agluti- nação de hemácias de mamíferos e são da classe lgM. Foram inicialmente descritos por Paul e Bunnell nos anos 30, que nomearam o teste executado por déca- das para auxílio diagnóstico da MI. A antiga reação de Paul Bunnell consistia em observar aglutinação de he- mácias de carneiro quando em comaco com o soro do paciente comendo anticorpos heterófilos. Os re- sultados eram liberados em títulos, indicando a maior diluição do soro a produzir aglutinação. Modificado posteriormente por Davidsohn, o teste passou a dife- renciar entre anticorpos heterófilos da MI e outros he- terófi los produzidos em outras situações, recebendo o nome de reação de Paui-Bunneii-Davidsohn. Nesse caso, utiliza-se rim de cobaia para adsorção de outros anticorpos heterófilos que não aqueles produzidos na MI, trazendo mais especificidade ao teste. Hoje em dia, esses exames foram substituídos por testes de agiu- Investigação laboratorial na in fecção pelo Epstein-Barr vírus tinação em lâmina, rápidos e fáceis de realizar, cujos resultados são apenas qualitativos; e as hemácias de carneiro foram substituídas por hemácias de cavalo, mais eficientes. Existem dois tipos de testes comerciais que atendem comercialmente por nomes como mo- noteste, monospot, monoslide, monolátex etc. Alguns fazem apenas a detecção dos amicorpos heterófilos, sem caracterizá-los como MI específicos ou não. Tes- tes capazes de realizar essa diferenciação são também chamados de testes diferenciais para anticorpos hete- rófilos e incluem a etapa Davidsohn em seu princípio. É de extrema importância que o laboratório infor me a natureza do teste utilizado no laudo do exame. Em nosso serviço, sempre trabalhamos com os testes dife- renciais devido à sua maior especificidade. Quando solicitar o exame: a pesquisa dos anticor- pos heterófilos deverá ser solicitada sempre que houver suspeita de MI. As concentrações aumentam a partir do terceiro dia de doença, alcançando seu máximo em duas semanas. Permanecem derecráveis por aproximadamen- te seis semanas, desaparecendo em três a seis meses. Es- tão presentes em 90% dos casos de MI, mas, em crianças, o percentual de falso-negativos é mais alro. Assim, em crianças ou diante de uma pesquisa de anticorpos hete- rófi los negativa, deverá ser solicitada a sorologia específi- ca para o EBV. Quamo à especificidade, o clínico deverá estar atento se o exame realizado for do tipo teste dife- rencial, específico para MI, ou apenas a pesquisa comum de anticorpos hererófilos. Esta última pode ser positiva em pacientes infectados agudamente por outros vírus (CMV. herpes, hepatites), linfomas, toxoplasmose aguda ou mesmo em indivíduos sadios. O sangue pode ser co- lhido a qualquer momento, não exigindo jejum. Anticorpos contra o vírus Epstein-Barr Durante a infecção aguda pelo EBV, são observados vários anticorpos dirigidos para componentes diversos do vírus. Os de maior relevância para o diagnóstico são: antiVCA (vira/ capsid antibody), amiEA (early antigen) e anti EBNA (EBV nuclear antigens). Na prática laboratorial. os testes mais utilizados são os imunoensaios enzimáti- cos (ELISA e outros) ou a imunofluorescência (util izando células infectadas pelo vírus como substraro) para de- tecção dos anticorpos antiVCA das classes lgM e lgG. 615 O amiVCA lgM rende a desaparecer em alguns meses, enquamo o amiVCA lgG permanece positivo durante a vida do indivíduo, sinalizando que ele é portador do EBV. Os demais anticorpos citados não são comumen- te utilizados em casos de MI, mas para rasrreamento de infecção passada ou reativação. Sua pesquisa é feita ha- bitualmente, por laboratórios de referência. Quando solicitar o exame: os anticorpos VCA apa- recem de quatro a sere dias após o início dos sintomas, sendo que, habitualmente, a resposta de lgM precede a de lgG. Como explicado. deve ser solicitado diante de pesquisa de anticorpos heterófilos negativa, em crianças e em casos reacionais mononucleose-líke. A sensibilidade dos testes é aproximadamente de 95%. A especificidade varia de 80 a 100%. É importante mencionar que anticor- pos lgM produzidos durante a infecção pelo EBV podem reagir cruzadamente em imunoensaios destinados à de- tecção de anticorpos lgM antiCMV (citomegalovírus). Isto pode dificultar o diagnóstico da infecção por este vírus, principalmente porque a infecção aguda sintomá-tica assemelha-se à mononucleose infecciosa. Não é necessário preparo do paciente ou jejum para a coleta do sangue. Atenção: nenhum desses anticorpos citados se pres- ta para acompanhamento da doença ou "controle de cura", que deverão ser estabelecidos clinicamente. Perspectivas: a literatura mosua, ainda que escassa- mente, o uso dos testes de avidez de lgG para diferen- ciação entre infecção aguda e reativação e o uso da rea- ção de polimerização em cadeia (PCR) quantitativa em tempo real para aumento da sensibi lidade diagnóstica em crianças. Entretanto, mais estudos e experiência clí- nica ainda são necessários para o estabelecimento des- ses novos métodos. bem como melhor entendimento da história natural da infecção pelo EBV em indivíduos imunocomprometidos. Quadro 48.1 - Achados laboratoriais da mononucleose infecciosa Hematológicos • leucocitose com linfocitose • linfócitos reocionois (>l O% dos linfócitos) • menos freqüentemente, discretos neutropenia, eosinope- nio e trombocitopenio ALTERAÇÕES HEMATO LÓGICAS Alterações hematológicas são observadas pratica- mente em todos os pacientes com mononucleose infec- ciosa e persistem, geralmente, por 30 a 60 dias. Os achados mais característicos envolvem os linfóci- tos. A linfocitose pode ser detectada no fi nal da primei- ra semana e coincide com o aparecimento de sintomas clínicos. Além da linfocitose, geralmente superior a 5.0 X 103 células/mm3, são observadas alterações morfoló- gicas, representadas pelo aumento do tamanho celular. imaturidade nuclear com perda da condensação da cro- matina, nucléolos evidentes. intensa basofilia citoplasmá- tica e irregularidades do contorno celular. Tais alterações conferem aos linfócitos a denominação de LINFÓCITOS REACIONAIS (ou células de Downey I linfócitos atípi- cos). com percentual geralmente superior a 10% dos lin- fócitos ci rculantes. Convém salientar que essa denomi- nação não está relacionada com qualquer indicação de malignidade e o encontro de linfócitos reacionais não é exclusivo da mononucleose infecciosa. O hemograma ainda mostra leucopenia na primeira semana, seguida de leucocitose (à custa da linfocitose), com a contagem global de leucócitos entre 10,0 e 20,0 X 103 células/mm3 Aproximadê.mente 15% dos pacien- tes podem atingir valores superiores a 20,0 X 103 células/ mm3. Os contadores automatizados podem emitir "aler- tas" referentes à presença de linfócitos reacionais, que são confirmados. posteriormente, a partir da revisão da lâmina pelo profissional do laboratório. Em relação a outros parâmetros hematológicos: a maioria dos pacientes apresenta dosagens normais dos níveis de hemoglobina, discreta trombocitopenia (entre 100.000 e 140.000 plaquetas/mm3) e discreta neutrope- nia (absoluta e relativa) com raras granulações tóxicas. Pode ainda ocorrer discreta eosinopenia. (Quadro 48.1) Soro lógicos • anticorpos heteról ilos • anticorpos ontiontígenos do EBV: - ontiVCA (viro/ copsid onfibodyl - ontiEA leorly ontigenl - ontiEBNA (EBV nuclear ontigensl 616 [ Medicina laboratorial para o clínico ]f-------------- ----------------- CONSIDERAÇÕES FINAIS A suspe1ção clín1ca de mononucleose 1nfewosa se faz geralmente a parm do encontro de febre + hnfadeno- megalia cervical + fanngire exsudariva + esplenomegalia. Por serem achados clín1cos inespecíficos, o laborarório apresenta papel relevante na confirmação d1agnósrica. O quadro hematológico característico é um dado de alta sensibilidade (a ausência de achados hematológicos praricamente exclui o diagnóstico) e especif1odade mo- derada, uma vez que outras situações clín1cas apresen- ram linfócitos reacionais. Na mononucleose. sobressai o número elevado de linfócitos reacionais (> 10% dos linfó- mos totais). Similarmente ao encontro de linfómos rea- Cionais, remos o encontro de alguns anticorpos "reaoo- nals", os chamados "anticorpos hererófilos". Sua presença também não é específica de MI, mas nessa 1nfecção se encontram os maiores tírulos. Nos raros casos de ausên- cia de anticorpos hererófilos está indicada a realização de pesqu1sa de anticorpos específicos. Lembre-se: a mononucleose infecciosa é uma in - fecção virai de linfócitos B. capaz de induzir alterações hnfománas morfológicas (presença de linfócitos reaoo- na1s) e funcionais (presença de anticorpos heterófilos). Entretanto. essas alterações não são exclusivas da M I. podendo ocorrer em outras mfecções agudas vira1s. es- peoalmente a momegalovirose. Investigação laboraLOnal na mfecção pelo Epscein-Barr vírus REFERÊNCIAS 1. Barzila1 O, Ram M, Shoenfeld Y. Virai infewon can 1nduce che produwon of auroanribodies. Curr Op1n Rheuma- tol. 2007;19(6):636-43. 2 Brasil. M1n1sténo da Saúde. Secrerana de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. GUla de bolso. Doenças infecciosas e parasitánas. 4A ed. ampl. Séne B. Texros Básicos de Saúde. Brasília: M1msténo da Saúde; 2004. Disponível em: http://portal.saude.gov. br/porcal/arquivos/pdf/guia_bolso_ 4ed.pdf. 3. Hurt C. Tammaro D. Diagnostic evaluation of mononu- cleosis-like illnesses. Am) Med. 2007;120(10):911.e1-8. 4. Mande li GL. Douglas Junior RG. Bennett JE. Dolin R. Pnn- Ciples and Practice of lnfectious Diseases. 6th ed. New York: Church1ll Uvmgsron; 2005. 5. Yamammo RM. Campos-Jr D. Manual PrátiCO de Aten- dlmenro em Consultóno e Am:>ulatóno de Ped1ama. SoCiedade Brasile1ra de Ped1ama; 2006. D1sponível em: http://www.sbp.com.br/pdfs/ManPratiCaAtend.pdf. 617 49 Suzane Pretti Figueiredo Neves Wan essa Trindade Clemente INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL DO PACIENTE COM INFECÇÃO PELO CITOMEGALOVÍRUS A citomegalovirose é causada pelo citomegalovírus (CMV), um DNA vírus de dupla fita, do grupo Herpes. Embora cerca de 100 vírus desse grupo sejam conhe- Cidos por infectarem diferences espécies animais. so- mente oito herpes-vírus são causadores de infecção humana: herpes simplex (HSV) tipos 1 e 2. varicela- zoster (VZV). Epstem-Barr (EBV). herpes-vírus tipo 6 (exantema súbiw). herpes-vírus 7 (HHV 7 - exame- ma súbiw similar) e herpes-vírus 8 (HHV 8 - Kaposi). além do CMV, que é também conheodo como HHV 5 (herpes-vírus humano tipo 5), considerando-se essa nomenclatura. Todos são estruturalmente semelhantes e têm propriedades comuns. particularmente no que se refere às características de latência e reativação. Assim. desde que a infecção renha ocorrido. os vírus ou seus genomas persistem por toda a vida. Durante o período de latência são silenciosos. mas podem estar sujeitos à reativação e desencadear quadros graves em indivíduos imunocomprometidos, a exemplo daqueles infectados pelo vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) e nos submetidos a transplante de órgãos. Ressalta-se que mesmo indivíduos imunocompetentes podem reativar o CMV no contexto de trauma. cirrose e naqueles cri- ticamente doentes. Não se tem clareza dos mecanismos que permitem que o CMV embeleça 1nrecção latente após episódio primário. Porém. tem sido observado que leucóciws polimorfonucleares, linfócitos, tecido endorelial vascular. células epiteliais renais e glândulas salivares apresentam formas virais do CMV pouco ou não repl icativas, capa- zes de serem ativadas em circunstâncias especiais. Feliz- mente, têm sido desenvolvidas abordagens terapêuticas e preventivas eficazes que poss1b1iltam o controle das formas mais graves. Contudo, para o adequado manejo. é necessário util izar instrumental propedêutico de eleva- do poder discriminatório e custo-efetivo. PREVALÊNCIA Sendo o CMV um vírus ubíquo. sua prevalência é elevada. variando de 40% até mais que 90%. dependen- do da região do mundo analisada. Para populações da América do Norte, as taxas são de 60 a 70%, alcançando aproximadamente 100% na África. No Brasil, estima-seque acima de 90%, ou seJa. a grande maioria dos indiví- duos, ao chegar à idade adulta. Já é portadora do vírus em sua forma latente. ASPECTOS RELEVANTES DA INFECÇÃO VIAS DE TRANSMISSÃO A infecção pelo CMV pode ser adquirida intra-útero. durante o nascimento ao passar pelo canal do parto, pelo aleitamento e no período pós-natal pelo contá- gio entre humanos. através de secreções de vias respi- ratórias, saliva ou urina. A transmissão pode acontecer, ainda, pela transfusão de hemoderivados, transplantes e acidentes laboraroriais. A transmissão entre indivíduos sadios requer contaco íntimo, repetido e prolongado. Nos indivíduos sexual- mente ativos, o vírus é freqüemememe transmitido pelo comam sexual, sendo a soroprevalência, entre "profissio- nais do sexo", de aproximadamente 100%. ASPECTOS ClÍNICOS Observa-se grande variabi lidade de formas, depen- dendo da imunidade do hospedeiro e do momento em que ocorreu a infecção. Conceirualmente, a infecção primária é aquela que ocorre no soronegativo, não pre- viamente infectado e a infecção secundária representa ativação de forma latente ou reinfecção no seropositivo Quanto à atividade, a infecção pelo CMV pode ser latente - seropositivo com infecção persistente, mas sem sinais de replicação virai; ou ativa - estado de re- plicação virai caracterizada pela presença de CMV no sangue, órgãos ou tecidos acompanhada do aumento de anticorpos específicos. Nesse caso, a infecção ativa pode ser asssintomática ou manifesta como CMV doença - expressão de doença ativa com amplitude de sintomas, variando de mal-estar geral. febre, mialgia ou arcralgia até acometimento de órgão específico (hepatite, pneumo- nite, gastroenterite, coli te, encefalite, etc.) e doença lin- foproliferativa ou neoplasia associada, como linfoma de Hodgkin e leucemias. Infecções pós-natais Geralmente, a infecção pelo CMV ocorre na infância e na maioria das vezes é assintomática, porém pode aco- meter adulcos. Quando sintomática, manifesta-se por fe- bre, mal-estar, cefaléia, mialgia, fadiga, linfoadenomegalia, acompanhados ou não de linfocicose periférica com linfó- ciws atípicos e leve elevação de enzimas hepáticas, consti- tuindo a chamada síndrome mononucleose-like. Estima-se que 21% dos episódios diagnosticados como mononucle- ose infecciosa sejam causados pelo CMV. Observa-se que, ao contrário da "mononucleose" causada pelo Epstein- barr, não há faringite, tonsilite ou esplenomegalia. 620 [ Medicina laboratorial para o clínico O período de incubação varia de 20 a 60 dias e a infec- ção é usualmente assintomática naqueles imunocompe- tentes. A duração do processo é de duas a seis semanas, freq üentemente com resolução espontânea. As apresen- tações clínicas mais freqüentes são: infecção assintomá- tica, síndrome tipo mononucleose infecciosa, síndrome congênira do neonaco (freqüentemente fatal ), além de ampla gama de manifestações no recepcor de transplante e em ourros indivíduos imunocomprometidos. Em recém-nascidos prematuros, pós-transfusão, pode haver quadro mais grave com organomegalias, ci- ropenia e choque. Infecções intra-uterinas A cicomegalia congênita ocorre em 0,2 a 3% dos nas- cimenros, sendo a infecção intra-uterina mais freqüente. É assintomática para a maioria dos casos. Quando ocor- ridas no início da gestação, resultam em encefalite, com destruição do sistema nervoso central (SNC), enquanto na forma pós-natal essa manifestação é rara. Apenas 5% dos acometidos são sintomáticos e apresentam as se- guintes manifestações: crescimento restri ro (33%), icterí- cia (62%), petéquias (58%), hepatoesplenomegalia (50%), prematu ridade (25%), microcefalia (21%), hidrocefalia, lesão cerebral. calcificação e coriorretinite. A mortali- dade é superior a 5% e 5 a 17% dos RN assintomáticos apresentam déficits neurológicos durante a infância ou idade escolar. A infecção intra-uterina é menos freqüen- te que a doença perinatal, mas é mais grave. A infecção cicomegálica materna durante a gravidez é assunto ainda controverso e várias contribuições re- centes modificaram os conceitos anteriores. Na grande maioria das vezes, a infecção é assintomática. Nos pou- cos casos onde se observam sintomas, estes são seme- lhantes àqueles observados em qualquer indivíduo imu- nocompetente. Reconhece-se como possível fonte de transmissão virai ao feto a presença do vírus nas secre- ções do cérvix uteri no. Outra questão é a reinfecção de mãe soropositivo por cepa distinta daquela que alberga, podendo determ inar transmissão intra-uterina e infec- ção sintomática congênita. Esse tópico é controverso, mas relevante, considerando-se o risco da transmissão através de contaco profissional. como é o caso de profes- soras e profissionais da equipe de saúde. Infecções em indivíduos imunocomprometidos Nos casos de uansplames. observa-se que a inci- dência de ciromegalovirose varia com o ripo de órgão transplantado, sendo descritas raxas de 8 a 35% para transplantes de rins, coração e fígado e freqüências ainda mais elevadas nos rransplames de pâncreas e pâncreas- rim (50%), bem como de pulmão e pulmão-coração (50 a 80%). O CMV é o patógeno mais comumente asso- ciado à infecção virai do t ransplantado, sendo a causa mais freqüente de infecção do 1° mês pós-rransplame. Além dos efeiros direws da lesão recidual. aqueles in- direros. como rejeição aguda e crónica, alterações vas- culares oclusivas do enxerro, doença linfoproliferariva e superinfecção bacreriana, fúngica e virai. elevam con- sideravelmente a morbidade no pós-uansplante. Parte dessas complicações se relaciona com a invasividade vascular e capacidade imunorreguladora do vírus. Os determinantes de risco de infecção ciromegá- lica no rransplantado dependem essencialmente do status soro lógico do doador e receptor do órgão, bem como do grau de imunossupressão. Tanto a incidência quanto o risco de adoecimento e manejo profilárico e terapêutico relacionam-se com a estratificação do per- fil sorológico do doador e recepror. Assim, alto r isco ocorre quando o recepror do ó rgão é soronegarivo e o doador é seropositivo; médio risco ou risco interme- d iário quando o recepwr é soroposirivo, independente da sorologia do doador, e baixo risco quando ambos são soronegativo. Portadores do vírus HIV com imunodeficiência apresentam aumento da prevalência de infecções oportunistas e, entre essas, o CMV. A cc-in fecção HIV- CMV rem sido relatada em cerca de 90% dos homos- sexuais masculinos portadores da infecção pelo HIV. Uma elevada porcentagem destes apresenta el imina- ção do vírus CMV na urina, mesm o na ausência de imunodeficiência. Naqueles com doença manifesta, com CD4 <100 cels/mm3, há significativo aumento na freqüência de doença grave. A ciromegalovirose é também a doença virai oportunista mais freqüeme no portador de HIV, sendo que 21 a 44% dos pacientes sem terapia anti -reuovira l altamente at iva (HAART) apresentam doença ariva pelo CMV. A ret inire, a do- ença do SNC e do uaco gasuim est inal são as formas clín icas mais freqüemes e graves. Doença localizada Considerando-se o diagnóstico de doença localizada, deve-se ater para adoção de critérios rígidos que incluem, além da manifestação clínica, exames endoscópicos ou de imagem e evidência da presença do vírus, pelas técni- cas já comentadas. Abaixo, descrevemos algumas delas: a) Pneumonia Constatada pela presença de doença pulmonar + iso- lamento de CMV no lavado broncoalveolar ou em tecido pulmonar. O CMV é um freqüente agente de pneumonia intersticial para imunocomperentes mas, ao contrário des- ces, observa-se nos imunocompromeridos quadros graves muitas vezes fatais. Entre os achados radiográficos descri- ws, têm-se o infiltrado interst icial difuso e/ou peribrônqui- co, hiperinsuflação e porvezes micronódulos. A detecção vi rai deve ser realizada por cultura, histopatologia, imuno- histoquímica ou hibridizaçâo in situ. A detecção do CMV isoladamente em PCR não autoriza definição diagnósrica devido à elevada sensibilidade do método. A existência de coparógenos. como o Aspergillus, juntamente com altera- ções de imagem sugestivas de aspergilose, direcionam o diagnóstico para infecção fúngica e não virai. b) Doença gastrintestinal Identificada pela combinação de sintomas do TGI baixo ou alto + lesões (endoscopia) + demonstração do CMV (cul tura, hisroparológico, imunohisroquímica ou hibridizaçào in situ) em biópsia. A PCR realizada isolada- mente não estabelece o diagnóstico. c) Hepatite Definida pela elevação de bili rrubinas e rransaminases na ausência de o urra causa de hepatite + detecção do vírus em fragmento de biópsia (cultivo. HP, IHQ e hibridizaçào). d) Doença do SNC Sintomas neurológicos associados à detecção do CMV em líquor através da PCR, cultivo ou biópsia cerebral. O acometimento neurológico é mais comum que a franca meningoencefalire. A sintomarologia inclui cefaléia, farofa- Investigação laboratorial do paciente com infecção pelo citomegalovírus 621 bia, rigidez de nuca, déficit de memória e incapacidade de concentração. Na imunodeficiência pelo HIV, o comprome- timento do SNC pelo CMV ocorre em cerca de 50% dos ca- sos, sendo o principal responsável pelo quadro demencial. e) Retinite Costuma estar presente em 17 a 41% dos RNs com CMV congêniro, sendo muiro freqüente em indivídu- os imunocomprometidos. Lesões típicas à fundoscopia sempre requerem acom panhamento do oftalmologis- ta. O infi ltrado na retina é esbranquiçado, perivascular e hemorrágico. Inicialmente, o paciente é assintomático, havendo progressivo compromecimenco da visão até a cegueira. j) Nefrite A PCR não define o diagnóstico. É necessária a de- tecção do vírus em biópsia renal, além da verificação da disfunção renal. DIAGNÓSTICO lABORATORIAl DA INFECÇÃO PElO CMV Durante a última década, avançou-se muico no manejo da doença e infecção pelo CMV, resultado do desenvolvimento de técnicas diagnósticas moleculares para detecção virai. A s conferências internacionais sobre o CMV em Paris em 1993 e Esrolcomo em 1995 modifi- caram a abordagem e definição da infecção pelo CMV, rendo em vista os novos critérios moleculares. Posterior- mente, com a evolução da profilaxia direcionada, obser- vou-se redução importante da incidência e das compli- cações associadas à infecção do CMV, principalmente no recepcor de órgãos. PRINCÍPIOS DO DIAGNÓSTICO LABORATORIA L DA INFECÇÃO PELO CMV Como nas demais doenças infecciosas, o diagnóstico é baseado nas informações clínicas e epidemiológicas, exame físico e propedêutica laborarorial. Em relação aos achados laboracoriais inespecificos, observa-se linfociro- 622 ( Medicina laboratorial para o clínico se relativa com linfocirose atípica e rrombociropenia. A leucomerria pode estar normal, diminuída ou elevada. Pode ocorrer aumento discrero das transaminases. Mes- mo após a resolução da doença, pode haver excreção do vírus por anos. Para a identificação do agente ou de antígeno virai, utiliza-se metodologia direta através da coloração, ensaios, culturas e/ou tecnologia molecular. Os mérodos moleculares contribuem em situações de baixa sensibi lidade, lentidão na obtenção de resultados pela via convencional e possibilitam, inclusive, aborda- gem e tratamento precoces. Contudo, a opção por essa ferramenta deve considerar o cusro-benefício, a dispo- nibi lidade local e o poder discrim inatório entre infecção aciva e latente. A utilização de mérodos indiretos direcio- nados à detecção de anticorpos depende não somente da sensibilização prévia, como também do padrão de resposta individual. A abordagem laboratorial da infecção pelo CMV de- pende essencialmente do t ipo de paciente sob suspeita: se imunocompetente, imunocomprometido, gestante ou recém-nascido. Os m érodos laboraroriais utilizados na infecção pelo CMV compreendem: • demonstração do agente infeccioso ou seus efei- tos nos tecidos; • pesquisa de antígenos virais e anticorpos em san- gue circulante; • pesquisa do genoma virai; • isolamento do agente infeccioso. O diagnóstico de certeza depende da demonstra- ção hisrológica ou do isolamento virai associados a qua- dro clínico compatível. Citologia e histologia A observação de inclusões intranucleares (t ipo Cowdry), além da imunohiscoquímica e hibridização in situ, pode elevar a sensibi lidade da pesquisa do CMV em fragmento cecidual (Figura 49.1). A pesquisa da inclusão ciromegálica identifica a pre- sença de inclusões virais nucleares ou ciroplasmáticas e permite a determinação rápida da infecção pelo CMV em amostras de urina, secreção respiratória e genital, líquor (LCR) e outros líquidos orgânicos. As amostras devem ser colhidas e fixadas em álcool e encaminhadas ao serviço de anatomia patológica em tempo inferior a uma hora. Apesar de a cicologia apresentar sensibilidade inferior ao cultivo, apresenta como vantagem a rapidez de execução. Contudo, ciwlogias negativas não excluem o diagnóst ico. A caracterização de doença ativa persiste como um entrave para a interpretação dos resultados. Figura 49.1 - Biópsia tecidual corada por HE, evidenciando inclusões vira is. Ver prancha colorida Determinação da antigenemia (detecção de antígenos virais) Trata-se de mécodo quantitativo, que permite esti- mar a carga virai. Nesse teste, amostra de sangue peri- férico é colhida em EDTA ou heparina, sem necessidade de jejum. Os eritrócitos são lisados e os neutrófilos são ciwcentrifugados em uma lâmina e posteriormente in- cubados com anticorpos monoclonais, marcados com substâncias fluorescentes, anriproteína pp-65 relaciona- da à replicação virai. que caracteriza infecção ativa. Os neutrófilos infectados pelo CMV são identificados pe- los anticorpos monoclonais (Figura 49.2). O resultado é dado pelo número de células positivas em relação ao número total de leucócitos contados em microscópio de fluorescência. Assim como na pesquisa quantitativa do DNA virai. esse exame tem a vantagem de identifi- car a replicação do vírus ames da doença manifestar-se. fato que permite o tratamento preventivo. A sensibi- lidade do teste é de aproximadamente 90% e os re- sultados são emitidos no mesmo dia. Porém, o teste é artesanal e laborioso e poucas amostras podem ser avaliadas de cada vez. Outras limitações são a necessi- dade de processamento rápido da amostra (até 6h da colheita) e a dificuldade de realizar o exame diante de leucopenia. Não há ainda definição quanto ao valor de corte do teste, havendo grande variabilidade na litera- tura. Tem sido sugerida, como marcador de replicação, a identificação de 10 células em aproximadamente 200.000 leucóciws contados. A definição desse valor de corte é necessária. pois é possível o encontro espo- rádico de poucas cél ulas positivas. sem que isto signi- fique atividade da doença. Em geral. a infecção ativa implica aumento do número de células infectadas com o passar dos dias. Assim, a interpretação dos resultados considera não somente o número de células infectadas em uma amostra única. como também os valores de análises seqüenciais (ex: aumento do número de células positivas em exames seqüenciais, com dois dias de in- tervalo). Nos transplantados, realiza-se anrigenemia se- qüencial com freqüência semanal durante os primeiros três meses do cransplante e, posteriormente, sempre que houver suspeita clínica. Nesse caso, se a antigene- mia for positiva, mas com valores inferiores a 10 células. repete-se o teste com intervalo de dois ou crês dias para acompanhamento. O tratamento preemptivo com an- tiviral é recomendadose o resultado da antigenemia apresentar padrão ascendente ou número considerável de células positivas (> 10/200.000). Figura 49.2 - Antigenemia para CMV demonstrando células positivas. Ver prancha colonda Detecção do DNA virai A utilização de ensaios moleculares para detecção virai exige a extração do DNA. amplificação de seqüências com iniciadores (primers) específicos, seguido de revelação. Emre os métodos disponíveis, estão: a reação de polimerização Investigação laboratorial do paciente com infecção pelo citomegalovírus 623 em cadeia (PCR) qualicaciva ou quamicaciva - cambém co- nhecida como carga virai; a hibridização e o NASBA e. mais recentemente, a pesquisa quantitativa pelo método da PCR em tempo real. Apresenta sensibilidade superior à cultura e antigenemia. Aqui também encontramos as dificuldades inerentes ao mécodo, pois ainda são poucos os laboratórios que dispõem de serviços de biologia molecular e o cusco do exame ainda é muico alco, principalmente para a rede públi- ca. Portanto, é preferível consultar sempre o laboratório antes de solicitar a colheita do material. a fim de saber o método disponível ou mais viável. O DNA virai pode ser recuperado em fragmento de tecidos. plasma/soro, BAL. urina, LCR e células mononucleares do sangue periférico (PBMC). As amostras devem ser colhidas em recipientes adequados, podendo comer anticoagulantes. exceco he- parina. A determinação qualitativa do DNA virai é muito útil no diagnóstico da infecção quando a pesquisa dos an- ticorpos não determina o diagnóstico ou quando esse não é possível por meio de técnicas convencionais. Esse exame também é considerado método ideal para avaliação do recém-nascido com suspeita de infecção transmitida pela mãe, uma vez que os anticorpos lgG maternos atravessam a placenta e nem sempre é possível detectar lgM antiCMV no bebê. Outra vantagem é o diagnóstico de encefalite ou po- lirradiculopatia pelo CMV no indivíduo infectado pelo HIV e a detecção virai no humor vítreo. Quando se utiliza téc- nica quantitativa (carga virai), pode-se inferir doença ativa, já que o número de cópias do vírus por mililitro de plasma relaciona-se com atividade replicativa virai. Desta forma, a determinação da carga virai é reservada aos indivíduos que apresentam suspeita de reativação da infecção prévia laten- te. como os transplantados. Essas técnicas reconhecem a atividade virai ames da doença manifestar-se cl inicamente. Estudos recentes revelam sensibilidade superior à antigene- mia, podendo identificar 96% dos casos de doença. com especificidade aproximada de 82%, valor preditivo negativo (VPN) de 99%, valor preditivo positivo (VPP) de 53%. As- sim, a elevada sensibilidade, especificidade e precocidade do teste permitem a util ização de tratamento preventivo ou preemptivo para esse grupo com maior risco de adoe- cimento, lembrando que um teste negativo praticamente afasta a hipótese de doença. Recentemente, estudos mos- traram correlação entre a carga virai (n° de cópias do vírus/ n° de polimorfonucleares circulantes) e o risco de seqüelas em recém-nascidos infectados por via congênita, trazendo novas perspectivas para o uso do exame. 624 ( Medicina laboratorial para o clínico Isolamento virai O cultivo do CMV em laboratório é possível. Entre- tanto. é um método laborioso, demorado (até seis sema- nas) e exige laboratório capacitado a realizar cultivos de células para que estas possam albergar o vírus, quando inoculadas. Não é método disponível na rotina laborato- rial pública e raramente serviços de diagnóstico privado o adocam. O método de cultivo. conhecido como shell via/, consiste na demonstração rápida do vírus no meio de culcura, quando anticorpos monoclonais antiCMV marcados com fluorocromo reagem com o inóculo. Esse método de cultivo rápido permite a detecção do vírus em até 48 horas, mas também não é realizado pela maioria dos laboratórios. As amostras são espécimes orgânicos, tais como urina, secreção da faringe (criptas da tonsila), lavado-bronquioalveolar (BAL). fragmento de biópsia. fezes e sangue (utilizando heparina como anticoagulante). Caso a amostra seja colhida por swab, recomenda-se manutenção em ambiente úmido e frio, sem congelamento. O transporte ao laboratório e o pro- cessamento devem ser rápidos para manter a viabilidade virai. Esses exames não são de escolha para análise de amostra liquórica devido à baixa sensibilidade. Diagnóstico sorológico A demonstração, no sangue circulame. de anticorpos que reagem com o CMV é o exame mais comumente disponibil izado pelos laboratórios. Reflete a presença in- direta do vírus, uma vez que sinaliza seu reconhecimento antigênico pelo sistema imune. Diferentes isotipos estão presentes em fases distintas da infecção. Alguns não atra- vessam a barreira placentária e constituem ferramentas úteis, quando corretamente utilizados. Os primeiros anti- corpos a serem detectados no sangue, após duas a quatro semanas da infecção, são da classe lgM. Segue-se. com o tempo, a produção de grandes quantidades de lgG, com as mesmas especificidades, fenômeno conhecido como mudança de classe (class-switch). Esses anticorpos lgG são produzidos com afinidade cada vez maior para os antígenos virais, permanecendo detectáveis por toda a vida do indivíduo. Ao contrário, a lgM tende a negativar- se com a cronificação da infecção. Essa resposta de lgG, porém, não deve ser confundida com imunidade ao vírus. pois esses anticorpos não eliminam o vírus, que permane- ce convivendo com o hospedeiro, na sua forma latente. Durante a fase aguda, é possível deteccar, em menores quantidades, anticorpos lgA e lgE contra o vírus. Na fase latente, podem também ser encontrados alguns picos isolados de lgM, sem que isco reflita reativação. Os mémdos mais comumente utilizados para detec- ção destes anticorpos são ELISA e suas variações (MEIA, ELFA, ELISA de captura etc). Também já podemos contar com a quimioluminescência e sua grande sensibilidade. Alguns testes fornecem resultados apenas qualitativos, enquanto outros permitem determinações semiquanti- tativas. Esses últimos possibilitam o acompanhamento de tículos quando o seguimento sorológtco do paciente for necessário. PERFIS SOROLÓGICOS DE DIFERENTES SITUAÇÕES CLÍNICAS SOROLOG IA NO INDIVÍDUO IMUNOCOMPETENTE De modo geral. a detecção isolada de lgM anti- CMV não acompanhada de lgG num indivíduo sinto- mático com suspeita de infecção aguda sugere forte- mente o diagnóstico. Naqueles assintomáticos, como doadores de órgãos e/ou sangue, o perfil encontrado é, em sua maioria, lgG positiva/lgM negativa. Casos de lgM positiva com lgG negativa devem ser seguidos de novo exame, 15 a 20 dias após o primeiro, para verifi- cação da viragem de lgG e, se possível. com a deter- minação da lgA antiviral. confirmando-se o diagnósti- co de infecção aguda e soroconversão recente. Caso esta não ocorra, deve-se pensar em lgM falso-positiva. (Quadro 49.1) SOROLOGIA NO IND IVÍDUO IMUNOCOMPROMETIDO A sorologia apenas informa se o indivíduo alberga ou não o vírus em seu organismo. lgG positivo indica indi- víduo portador, mas o diagnóstico da reativação ou de doença por CMV reside em outros mécodos que não sorológicos, como já explicado. Como não há correlação entre reativação da doença e reaparecimenco de lgM, esta não deve ser solicitada. Da mesma forma, podem-se observar picos isolados de lgM, mesmo durante a fase de latência, sem importância clínica. Quadro 49.1 - Perrrs sorológicos na infecção pelo CMV lgG-/IgM - indivíduo susceptível; sem contoto prévio com o vírus. Neste, o viragem de lgM ou lgG reflete soroconversão agudo lgG+/IgM- ndívíduo portador do vírus. Refere-se à moro rio do população adulto no Brasil lgG-/IgM + suspeito de soroconversão recente.
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