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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DOENÇAS VIRAIS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE DOENÇAS VIRAIS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO E CONCEITO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS 1.1 HISTÓRIA 1.2 COMO SURGIU A CAMISINHA 2 IMPORTÂNCIA DOS VÍRUS NA DISSEMINAÇÃO DESSAS DOENÇAS 2.1 IMUNOLOGIA 2.2 COMO UTILIZAR A CAMISINHA 3 VÍRUS HERPES 3.1 HISTÓRICO DO HERPES 3.2 CLASSIFICAÇÃO 3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 3.3.1 Primoinfecção 3.3.2 Herpes recidivante 3.3.3 Gengivoestomatite herpética primária 3.3.4 Herpes genital 3.3.5 Herpes oral 3.3.6 Herpes labial 3.3.7 Herpes simples neonatal 3.3.8 Ceratoconjuntivite herpética 3.3.9 Panarício herpético 3.3.10 Doença neurológica 3.3.11 Herpes simples em imunodeprimidos 3.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 3.4.1 Isolamento do vírus 3.4.2 Diagnóstico sorológico 3.4.3 Diagnóstico molecular 3.4.4 Diagnóstico diferencial 3.5 EPIDEMIOLOGIA AN02FREV001/REV 4.0 4 4. CITOMEGALOVÍRUS 4.1 HISTÓRICO DO CITOMEGALOVÍRUS 4.2 CLASSIFICAÇÃO 4.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 4.3.1 Infecção em imunocompetentes 4.3.2 Infecção em imunoincompetentes 3.4.3 Infecção congênita 3.4.4 Infecção perinatal 4.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 4.4.1 Histopatologia 4.4.2 Sorologia 4.4.2.1 Teste de elisa 4.4.2.2 Diagnóstico diferencial 4.4.2.3 Antigenemia 4.4.3 Guthrie card 4.4.4 Microscopia eletrônica 4.4.5 Biologia Molecular 4.4.5.1 PCR 4.4.5.2 Captura híbrida 4.6 EPIDEMIOLOGIA 4.7 SÍNDROME DE BLUEBERRY MUFFIN BABY MÓDULO II 5 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) 5.1 HISTÓRICO DA AIDS 5.2 CLASSIFICAÇÃO 5.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 5.3.1 Infecção aguda 5.3.2 Infecção assintomática 5.3.3 Sintomática inicial 5.3.4 Sintomática intermediária e sintomática tardia 5.3.5 Infecção avançada AN02FREV001/REV 4.0 5 5.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 5.5 EPIDEMIOLOGIA 6 VÍRUS T-LINFOTRÓPICO HUMANO (HTLV) 6.1 HISTÓRICO DO HTLV 6.2 CLASSIFICAÇÃO 6.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 6.3.1 Leucemia de célula t do adulto (LTA) 6.3.2 Paraparesia espástica tropical mielopatia associada ao HTLV-1 (PET/MAH) 6.3.3 Leucemia atípica de células T pilosas 6.3.4 Outras doenças associadas ao HTLV-1 6.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 6.4.1 Ensaios sorológicos 6.4.2 Detecção dos antígenos virais 6.4.3 Ensaios de Biologia Molecular 6.5 EPIDEMIOLOGIA 6.6 DIFERENÇA ENTRE PETÉQUIA, EQUIMOSE, PÚRPURA E HEMATOMA MÓDULO III 7 VÍRUS DAS HEPATITES 7.1 INTRODUÇÃO 7.2 HISTÓRICO E CLASSIFICAÇÃO 8 VÍRUS DA HEPATITE B (HBV) 8.1HISTÓRICO DAS HEPATITES 8.2 CLASSIFICAÇÃO 8.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 8.3.1 Hepatite aguda pelo HBV 8.3.2 Hepatite crônica pelo HBV 8.3.3 Hepatite fulminante 8.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 8.4.1Exames laboratoriais inespecíficos 8.4.2 Exames laboratoriais específicos 8.4.3 Exames adicionais AN02FREV001/REV 4.0 6 8.5 EPIDEMIOLOGIA 9 VÍRUS DA HEPATITE C (HCV) 9.1 HISTÓRICO 9.2 CLASSIFICAÇÃO 9.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 9.3.1 Manifestações extra-hepáticas 9.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 9.4.1Exames laboratoriais inespecíficos 9.4.2Exames laboratoriais específicos 9.4.2.1 Diagnóstico sorológico 9.4.2.2 Diagnóstico molecular 9.5 EPIDEMIOLOGIA 9.6 SÍNDROME DE SJÖGREN 9.6.1 Diagnóstico da Síndrome de Sjögren 10 VÍRUS DA HEPATITE D (HDV) 10.1 HISTÓRICO 10.2 CLASSIFICAÇÃO 10.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 10.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 10.5 EPIDEMIOLOGIA MÓDULO IV 11 VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO (HPV) 11.1HISTÓRICO E APRESENTAÇÃO 11.2 CLASSIFICAÇÃO 11.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 11.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 11.4.1 Citopatologia 11.4.2 Microscopia eletrônica 11.4.3 Histopatologia 11.4.4 Colposcopia 11.4.5 Genitoscopia AN02FREV001/REV 4.0 7 11.4.6 Imuno-histoquímica 11.4.7 Biologia molecular 11.5 EPIDEMIOLOGIA GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 8 Olá! Obrigada por você adquirir o nosso material! Ao realizar o nosso curso você estará adquirindo um excelente guia para suas consultas. Um ótimo auxílio para o seu estudo e aprendizado. O curso é composto de material atualizado. Observe nas Referências Bibliográficas ao final do curso. Além disso, foram utilizados trabalhos de grandes autores. Muitos destes são “autores de referência” nos assuntos aqui abordados. Na obra, cada infecção será abordada desde a sua descoberta. Em muitos casos seguirá inclusive uma foto do pesquisador que contribuiu para a sua descoberta. Outro ponto de destaque em nosso curso é que logo no início do programa você encontrará um pequeno dicionário. No qual estão presentes alguns termos de utilização comum no mundo da Virologia. Mas que são raros entre outras populações. Enfim, espero que goste e aproveite o material. Boa sorte! E mãos à obra. AN02FREV001/REV 4.0 9 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO E CONCEITO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS As doenças sexualmente transmissíveis estão entre os problemas de saúde pública com enorme destaque no Brasil e no mundo. Nos países desenvolvidos surge um novo caso de DST em cada cem pessoas por ano. Enquanto nos países em desenvolvimento, essas doenças estão entre as cinco principais causas de procura de serviços de saúde. As Doenças Sexualmente Transmissíveis, ou DSTs, são doenças infecciosas que podem ser transmitidas por meio do contato sexual. Essas doenças estão entre os maiores problemas de saúde pública em todo o mundo. Entretanto, pouco se sabe a respeito dos agentes causadores, de como essas doenças podem ser evitadas e até mesmo sobre a gravidade da contaminação. Muitos dessas doenças podem estar presentes entre as diversas populações, mesmo antes da conscientização dos indivíduos acometidos. É de grande importância que a população seja orientada quanto à possibilidade dessas infecções. Profissionais da área de saúde são os grandes responsáveis por essas informações. Após o início da epidemia de AIDS, as Doenças Sexualmente Transmissíveis voltaram a ter grande importância entre os diferentes grupos de pessoas. Junto a isso, foi observada a facilidade de práticas sexuais com diferentes parceiros e foram verificados o baixo nível econômico e rebaixado grau de informação cultural de grande parte da população. Tudo isso tornou evidente a má qualidade dos serviços de saúde e a educação sexual pouco orientada. Além de, principalmente, comprovar a não utilização de métodos preventivos. O que determina aumento da possibilidade de acontecimento das DSTs. A facilidade de propagação dessas doenças deve ser bem AN02FREV001/REV 4.0 10 compreendida pela população geral. O profissional de saúde tem o dever de espalhar o seu conhecimento perante a população. 1.1 HISTÓRIA As DSTs são reconhecidas desde os povos mais antigos que ocupavam a Mesopotâmia, a Grécia e o Egito. Antigamente, eram denominadas “doenças venéreas” ou “doenças de Vênus”, nome que foi dado em homenagem às sacerdotisas da Grécia antiga que se prostituíam no Temploda Deusa do Amor como forma de adoração. A FIGURA 1 apresenta a imagem de Vênus, considerada a Deusa do Amor. FIGURA 1 - VÊNUS, A DEUSA DO AMOR FONTE: <Disponível em: http://shw.namaste.fotopages.com/4475792/Venus-a-deusa-do-amor.html.> Acesso em: 2 ago. 2012. Como citado, antigamente, as doenças sexualmente transmissíveis, DSTs, eram reconhecidas por doenças venéreas. Hoje, são consideradas infecções sexualmente transmissíveis, ISTs. Devido à observação de que vários agentes infecciosos podem determinar o desenvolvimento de doenças por meio desta via. AN02FREV001/REV 4.0 11 Há muito tempo essas doenças são vistas como um grave problema de saúde pública. Pois, afetam muitas pessoas. Os sinais e sintomas são de difícil identificação e o acesso ao tratamento correto também. Atualmente, as DSTs são infecções graves que movimentam e preocupam os diferentes órgãos da Saúde Pública. No mundo, cerca de 333 milhões de novos casos de DSTs acontecem a cada ano, o que representa a segunda maior causa de perda de vida saudável entre as mulheres de 15 a 49 anos. As DSTs estão entre as cinco principais causas de procura pelos serviços de saúde. A contaminação por essas DSTs pode acontecer de vários modos. Seja de maneira direta ou indireta. O modo direto é o mais divulgado. É aquele que acontece por meio de relações sexuais. Nesse caso, porém, há necessidade de o parceiro ou a parceira ser portador da doença. A forma indireta é como o próprio nome diz: é aquela que acontece pelo contato indireto com o agente. Devido ao compartilhamento de objetos pessoais mal higienizados ou pela manipulação de objetos contaminados, como lâminas e seringas. A FIGURA 2 mostra com simplicidade duas formas de disseminação de DSTs. FIGURA 2 - MODO DE DISSEMINAÇÃO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS FONTE: Disponíveis em: <http://docelandiamm.blogspot.com.br> e <http://sterneventos.blogspot.com>. Acesso em: 2 ago. 2012. Em muitos casos essas doenças não apresentam manifestações visíveis. No homem ou até mesmo na mulher. De qualquer forma, possuem grande possibilidade AN02FREV001/REV 4.0 12 de se espalhar na população. Além de causar sérios problemas de saúde. O que aponta para o alerta de que, se for feito sexo sem camisinha, o serviço de saúde deve ser consultado. É necessário o aconselhamento com um profissional de saúde periodicamente. Estas doenças devem ser diagnosticadas e tratadas a tempo. Em caso diferente podem evoluir para complicações graves. No corpo humano, doenças deste tipo podem ocasionar sérios problemas de saúde. Como comprometimento do aparelho reprodutor, infertilidade, doenças neonatais, câncer e até mesmo levar à morte do indivíduo. O tratamento deve ser de modo rápido e correto. Com o auxílio do profissional de saúde apropriado. O que deve incluir aconselhamento para que a doença não volte a acontecer, para a necessidade de visitas de acompanhamento e para a possibilidade de contaminação das pessoas envolvidas no relacionamento. E deve ser feito o direcionamento para utilização da prática de sexo seguro. Os principais agentes causadores de doenças sexualmente transmissíveis são os vírus, as bactérias, os protozoários e os fungos. Observe os exemplos destes agentes e suas doenças na FIGURA 3. FIGURA 3 - EXEMPLOS DE VÍRUS, BACTÉRIAS E PROTOZOÁRIOS CAUSADORES DE DSTS FONTE: Disponíveis em: <http://html.rincondelvago.com/herpes-genital_3.html>; <http://drcarlosrey.blogspot.com.br/2012/06/sifilis.html>; <http://www.britannica.com/EBchecked/media/7837/Trichomonas-vaginalis>. Acesso em: 2 ago. 2012. Treponema pallidum - sífilis Trichomonas vaginallis - tricomoníase Vírus herpes simplex – herpes genital AN02FREV001/REV 4.0 13 QUADRO 1 - VÍRUS CAUSADORES DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS VÍRUS SIGLA DOENÇA Vírus herpes simples HSV Herpes genital Citomegalovírus CMV Citomegalovirose Vírus da imunodeficiência humana HIV AIDS Vírus T linfotrópico humano HTLV Leucemia de células T do adulto Vírus da hepatite B HBV Hepatite B Vírus da hepatite C HCV Hepatite C Vírus da hepatite Delta HDV Hepatite Delta Vírus do papiloma humano HPV Condiloma acuminado e câncer de colo uterino FONTE: Arquivo pessoal do autor. As doenças virais sexualmente transmissíveis estão relacionadas no QUADRO 1, ao lado das principais doenças por eles causadas, observe. Após sabermos o que são doenças sexualmente transmissíveis, a frequência que estas doenças acontecem, quais os agentes causadores e, principalmente, que elas podem levar a graves consequências, vamos falar um pouco mais sobre as DSTs e em seguida sobre a importância dos vírus no contexto destas infecções. Os acontecimentos em busca da liberação sexual que ocorreram no século passado trouxeram grandes transformações no comportamento humano. Nos dias atuais, as doenças sexualmente transmissíveis afetam igualmente homens e mulheres de todas as idades, etnias e classes sociais. Entretanto, adolescentes e adultos jovens são mais frequentemente afetados por causa da maior frequência de relações sexuais e do maior número de parceiros. O que torna esta população o público-alvo das informações dos profissionais de saúde. O número de pessoas acometidas aumenta a cada dia. Algumas destas infecções podem causar problemas sérios de saúde para toda a vida. Em 1996, o Center for Disease Control and Prevention (CDC) estimou cerca de 500 mil novos casos por ano de infecção pelo HPV, 80 mil casos de AIDS, em AN02FREV001/REV 4.0 14 torno de 300 mil de herpes, 100 mil casos de sífilis e 800 mil casos de gonorreia. Na ocasião, os índices de HPV, reconhecido como agente etiológico do câncer de colo uterino ficavam abaixo apenas das infecções por Chlamydia sp e Trichomonas sp. Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou a prevalência de aproximadamente 536 milhões de casos de herpes genital no mundo. Com maior número de casos no sexo feminino. Recentemente, a OMS e o Programa de HIV/AIDS das Nações Unidas (UNAIDS) demonstraram a existência de 33,4 milhões de pessoas no mundo infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). No Brasil, o estudo mostrou 730 mil pessoas infectadas. É importante, porém, que a população esteja ciente de que é possível se prevenir dessas doenças praticando sexo seguro; com a utilização do preservativo em todas as relações sexuais. 1.2 COMO SURGIU A CAMISINHA A propósito, você sabe como surgiu a camisinha? É interessante saber como surgiu algo tão comum nos dias atuais. Pensar que em algum momento não existia. Tudo começou há tanto tempo que nem acreditamos que precisou ser inventada. Pois bem! Vamos lá. Desde as civilizações mais antigas, a humanidade convive com os problemas da gravidez indesejada. Doenças decorrentes do sexo sem proteção também já acometiam a humanidade. Todos esses problemas comuns aos desinformados de hoje já causavam preocupação nos povos mais antigos. Sendo assim, a criação de métodos eficientes de evitar gravidez indesejada, o surgimento de doenças transmitidas pelo sexo, além do nascimento de filhos fora de uma união oficial – que sempre foi razão de escândalo social – geravam a preocupação dos indivíduos em criar métodos eficientes para evitar esses problemas. Sem, contudo, prejudicar o prazer sexual. AN02FREV001/REV 4.0 15 Na Antiguidade, as mulheres colocavam na vagina produtos capazes de bloquear ou matar os espermatozoides. Para isso, faziam uso de fezes de crocodilo, as quais possuem o pH alcalino dos espermicidas atuais. FIGURA 4 - PROTETORES PARA O PÊNIS NO EGITO ANTIGO FONTE: Disponível em: http://www.giv.org.br/dstaids/camisinha.htm. Acesso em: 18 ago. 2012. Enquanto isso, os homens possuíam protetores para o pênis.Estes eram confeccionados a partir de intestinos de animais ou até mesmo em linho. Porém, possuíam a função de proteger o pênis. Era como se fosse um estojo. Não funcionavam como contraceptivos. Observe na representação da FIGURA 4 essa função de proteção peniana. Os primeiros preservativos foram criados pelos chineses. Esses eram envoltórios de papel de seda untados com óleo. Entretanto, desde 1850 a.C., os egípcios já faziam uso de contraceptivos. A camisinha foi trazida para o Mundo Ocidental pela mitologia grega. Tudo começou com as farras de Minos, um rei casado com Pasiphe, filho de Zeus e Europa. Entretanto, Minos era famoso pelo fato de possuir uma infinidade de amantes. Possuía grande paixão pelo sexo feminino. Devido a isso, Pasiphe articulou um feitiço, em que apenas ela era imune. Com este, Minos passou a ejacular lacraias e serpentes. As quais matavam todas as mulheres que com ele se deitassem. O feitiço, porém, tornou o rei incapaz de procriar. Entretanto, o feitiço não impediu que o rei se apaixonasse. De maneira que o coração de Minos foi flechado pelo amor de Procris. Apaixonada e para evitar a AN02FREV001/REV 4.0 16 morte, devido à relação, Procris introduziu uma bexiga de cabra na vagina. De tal modo que os pequenos monstros ficavam presos na bexiga. Assim, Minos retomou o poder de ter filhos. FIGURA 5 - FOTOS DE GABRIELLE FALLÓPIO E DA PRIMEIRA CAMISINHA. FONTE: Disponível em: <http://socuriosidades.blogspot.com.br/2008/01/origem-do- preservativo.html>. Acesso em: 18 ago. 2012. Todavia, foi o anatomista e cirurgião Gabrielle Fallopio que confeccionou a primeira camisinha (veja a foto da FIGURA 5). O que descreveu como uma "bainha de tecido leve, sob medida para proteção das doenças venéreas". Foi confeccionada de um forro de linho do tamanho do pênis e embebido em ervas. No final do século XVI, os preservativos de linho passaram a ser embebidos em soluções químicas. Em seguida, estes eram secos. Eram as precursoras dos espermicidas modernos. Até alcançarmos os preservativos atualmente utilizados, muito foi modificado. O comércio diversificou a industrialização das camisinhas. Nos dias atuais, encontramos camisinhas com formatos especiais, texturizadas, lubrificadas, coloridas, com sabor, perfume etc. A FIGURA 6 apresenta uma camisinha e o símbolo utilizado atualmente nas campanhas contra as DSTs. AN02FREV001/REV 4.0 17 FIGURA 6 - SÍMBOLO ATUALMENTE UTILIZADO NAS CAMPANHAS CONTRA AS DSTS FONTE: Disponível em: <http://sepahnews.blogspot.com.br/2010/03/103-milhoes-de-brasileiros-com- dst.html>. Acesso em: 18 ago. 2012. 2 IMPORTÂNCIA DOS VÍRUS NA DISSEMINAÇÃO DESSAS DOENÇAS Com a popularização dos meios de comunicação, tornou-se possível a transmissão de conhecimento entre as diversas sociedades. Porém, observa-se que além do acesso a informação há necessidade também que haja conscientização por parte da população. Acredita-se que poucos indivíduos estejam conscientes da importância dos vírus na transmissão dessas doenças. Na população geral, quando se fala em vírus que podem causar infecções desse tipo, é comum que apenas o vírus da AIDS seja lembrado. Porém, as infecções virais de transmissão sexual causam doenças sérias. São de tratamento difícil, prolongado e até mesmo desconhecido até o momento. Uma das principais preocupações relacionadas às DSTs ocorre pelo fato de que o indivíduo acometido por qualquer uma destas facilita a transmissão sexual do HIV. Pois, a aquisição de DST comprova a realização de sexo sem proteção. AN02FREV001/REV 4.0 18 Existem casos de transmissão de DSTs virais da mãe para o bebê. Nestes, a infecção do bebê pode acontecer ainda no período da gravidez ou até mesmo durante o parto. Estas infecções podem também ocasionar a interrupção espontânea da gravidez. Quando atingem o feto durante seu desenvolvimento, podem causar lesões. Podem causar o nascimento de crianças com problemas de grave má-formação. Há infecção de DSTs virais no período intraparto ou até mesmo durante o aleitamento materno. São infecções que podem atingir o recém-nascido, causando doenças em diversos órgãos. Em algumas destas, o desenvolvimento da doença pode ocorrer já na idade adulta. O HTLV-1 é um destes exemplos. Outras DSTs virais podem também ser transmitidas por transfusão de sangue contaminado ou compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente no uso de drogas injetáveis; como ocorre com o vírus da hepatite B e até mesmo com o HTLV. Há DSTs virais que se não forem tratadas e/ou acompanhadas podem levar o indivíduo ao desenvolvimento de câncer. É o caso do HPV, considerado fator importante no desenvolvimento de câncer de colo uterino. Sendo assim, observa-se que a ausência de diagnóstico e de tratamento, no momento adequado, são fatores que podem contribuir para a evolução de formas graves dessas doenças e até mesmo morte dos indivíduos acometidos. Diante do exposto, torna-se comprovado que o acesso sem restrição das pessoas ao diagnóstico precoce e tratamento adequado de todas as DSTs é fundamental. O que confirma a necessidade de informação aos indivíduos por meio do estudo proposto. 2.1 IMUNOLOGIA Vamos dar uma “passadinha” na imunologia? Você está lembrado que: o diagnóstico sorológico das doenças infecciosas é realizado para verificar a presença e a concentração dos anticorpos das classes IgM e IgG, AN02FREV001/REV 4.0 19 produzidos pelo organismo de uma pessoa em resposta a um dado agente infeccioso; em geral, nas infecções primárias o primeiro anticorpo a ser produzido é da classe IgM, que em seguida é acompanhado pela produção de anticorpos da classe IgG. Porém, os anticorpos IgM ficam presentes no organismo das pessoas por um curto período de tempo, e normalmente desaparecem após três a seis meses da infecção. Enquanto isso, os anticorpos da classe IgG permanecem presentes por longo período. Em muitos casos para o resto da vida. Sendo assim, a presença de anticorpos IgM é indicativa de infecção aguda ou recente. Enquanto a presença apenas de IgG, é indicativo de infecção passada. Observe a FIGURA 7, a seguir, para melhor compreender a síntese de anticorpos IgG e IgM em infecções. FIGURA 7 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO TEMPO EM SEMANAS DO APARECIMENTO DE ANTICORPOS DO TIPO IGG E IGM EM INFECÇÕES FONTE: Disponível em: <http://www.biomedicinapadrao.com/2011/08/teste-de-avidez-igg.html>. Acesso em: 14 ago. 2012. É válido você saber também que com a utilização de métodos mais sensíveis no diagnóstico dos processos infecciosos, o conceito de que: a presença de anticorpos IgM é indicativa de infecção aguda ou recente, e a presença somente de IgG é indicativo de infecção passada, foi alterado; agora é possível a detecção de IgM por um período de tempo mais longo. AN02FREV001/REV 4.0 20 esses anticorpos IgM, (mais tardios) são denominados residuais e podem ser detectados, geralmente, em valores baixos, até 18 a 24 meses após a infecção; a presença desses anticorpos IgM, no mesmo momento dos anticorpos IgG, por vezes, dificulta a interpretação do tempo de infecção; em alguns casos de reinfecção ou de reativação de processos infecciosos, os anticorpos IgM também podem ser detectados, bem como em reações cruzadas; nos últimos tempos, foi desenvolvido um ensaio imunoenzimático que possui a capacidade de diferenciar uma infecção recente de uma infecção passada, com a presença de IgM residual; essa diferenciação dessas infecções é feita pela utilização de testes que avaliam a capacidade de ligação dos anticorpos IgG; essa capacidade de ligação, denominada AVIDEZ, é diretamente proporcional ao tempo de infecção (veja na FIGURA 8). FIGURA 8 - REPRESENTAÇÃO DA AVIDEZDA IGG DE ACORDO COM O TEMPO FONTE: Disponível em: <http://www.biomedicinapadrao.com/2011/08/teste-de-avidez-igg.html>. Acesso em: 14 ago. 2012. Além disso, existem casos em que quadros infecciosos com até três a quatro meses de evolução, há presença de IgG de baixa avidez. Enquanto, em outras AN02FREV001/REV 4.0 21 infecções com mais de quatro meses de evolução, os anticorpos IgG apresentam alta avidez. Porém, em algumas situações os anticorpos IgG podem apresentar avidez intermediária. São os casos em que a definição segura do tempo de infecção torna- se dificultada. Desta forma, o teste de avidez para anticorpos IgG é de enorme valor, especialmente nos caso de pacientes grávidas que possuem anticorpos das classes IgM e IgG, simultaneamente, no exame pré-natal para as doenças infecciosas que acometem o feto. Em pacientes grávidas, a determinação do tempo de infecção possui grande valor. Pois, pode definir se há necessidade de tratamento. Nos casos em que a infecção ocorre durante a gravidez. Além de oferecer tranquilidade para o médico e para a gestante, nos casos em que a infecção ocorreu antes da gravidez. 2.2 COMO UTILIZAR A CAMISINHA Agora que você já sabe como surgiram as primeiras camisinhas, está na hora de aprender como utilizá-la. A camisinha é confeccionada em látex, material elástico, derivado da borracha. É relativamente resistente. Envolve os genitais masculinos, modo mais comum, ou feminino durante a relação sexual. Utilizada para impedir o contato entre os fluidos corporais das pessoas que estão praticando um relacionamento íntimo. Atualmente, as camisinhas protegem contra as DSTs. Além de constituírem um método anticoncepcional seguro. Mas, lembre-se de que a proteção será conferida apenas quando a utilização ocorrer de maneira adequada. Observem na FIGURA 9 alguns modelos do preservativo encontrados atualmente no mercado. AN02FREV001/REV 4.0 22 FIGURA 9 - OS DIVERSOS FORMATOS DE CAMISINHA DISPONÍVEIS NO MERCADO ATUALMENTE FONTE: Disponíveis em: <http://todaela.uol.com.br/sexo/galerias/camisinhas-bizarras-para-todos-os- gostos>; <http://www.dst.com.br/seguro.htm>; <http://todaela.uol.com.br/sexo/galerias/camisinhas- bizarras-para-todos-os-gostos>. Acesso em: 18 ago. 2012. Agora, aprenda como deve utilizá-la. escolha uma marca de sua confiança; possua sempre uma com você. Porém, é recomendável ter sempre uma ou mais unidades de reserva; conserve sempre protegidas do calor; utilize sempre dentro do prazo de validade; abra a embalagem com delicadeza. Tenha cuidado para não danificar. coloque com o pênis ereto (duro); deixe um pequeno espaço na ponta da camisinha – importante. O que pode ser conseguido pela compressão da extremidade da camisinha entre o polegar e o indicador durante a colocação. encoste a camisinha enrolada na ponta da glande e vá desenrolando até a base do pênis; se a camisinha não for lubrificada, utilize somente lubrificantes a base de água, aplicados sobre o pênis antes da colocação e/ou diretamente na camisinha depois de colocada; AN02FREV001/REV 4.0 23 após o uso, retire a camisinha. Dê um nó na extremidade aberta e jogue- a no lixo. Não jogue no vaso sanitário, pois irá entupi-lo; camisinha é descartável, deve ser usada somente uma vez. IMPORTANTE!!! Caso a camisinha se rompa ou saia durante a relação, despreze e coloque uma nova. 3 VÍRUS HERPES Em nossos dias, o herpes é a infecção viral mais comum, após as infecções respiratórias. A infecção tem como agente causador o vírus herpes simples do tipo 1 (HSV 1) e o vírus herpes simples do tipo 2 (HSV 2). Na região genital, o herpesvírus do tipo 2 é mais comum. No Brasil, mais de 500 mil novos casos de herpes genital são diagnosticados anualmente. A doença é considerada endêmica em todo o mundo. O que torna as infecções pelos vírus herpes um grande problema de saúde pública. Porém, somente após o conhecimento da AIDS, essas infecções passaram a ter maior impacto entre as autoridades. 3.1 HISTÓRICO DO HERPES As infecções pelos vírus herpes em seres humanos foram descritas pela primeira vez por Hipócrates, médico da Grécia Antiga, que denominou o herpes. O termo herpes tem como origem o grego herpein, que significa rastejar, devido ao aparecimento de vesículas na pele. Heródoto, médico e historiador grego, descreveu sobre a capacidade de a doença causar febre e pequenas vesículas na boca. Quando recebeu a denominação de herpes febrilis. Desde então, a palavra herpes passou a ser utilizada para as doenças da pele. Veja a FIGURA 10 com a apresentação de Hipócrates e Heródoto. AN02FREV001/REV 4.0 24 FIGURA 10 - HIPÓCRATES E HERÓDOTO . FONTE: Disponíveis em: <http://doceesujo.blogspot.com.br/2009/11/hipocrates-vida-e-cozinhar- saude-e.html>; <http://www.portalplanetasedna.com.ar/herodoto.htm>. Acesso em: 16 ago. 2012. Entretanto, a natureza infecciosa passou a ser considerada por Vidal, em 1873. Ao demonstrar que a doença podia ser transmitida de uma pessoa para a outra. A existência de dois tipos de vírus herpes foi observada pelos experimentos de Nahmia e Dowdle, em 1968, quando fizeram a associação das infecções não genitais, acima da cintura, para o vírus herpes do tipo 1. Enquanto o vírus herpes do tipo 2 foi associado às infecções genitais, que causam lesão da cintura para baixo. A FIGURA 11 mostra a imagem do herpesvírus tipo 2. HERÓDOTO (484 - 425 a.C.) HIPOCRATES (460 - 377 a.C.) AN02FREV001/REV 4.0 25 FIGURA 11 - MICROGRAFIA ELETRÔNICA DO HERPESVÍRUS TIPO 2 FONTE: Disponível em: <http://hypescience.com/mesmo-sem-sintomas-portadores-do-virus-da- herpes-podem-contaminar-parceiros-sexuais/>. Acesso em: 16 ago. 2012. 3.2 CLASSIFICAÇÃO Atualmente, a família dos herpesvírus é composta por mais de 200 vírus. Os quais possuem a capacidade de infectar diferentes espécies. Apenas oito destes causam doenças em seres humanos. Os vírus herpes são atualmente classificados na família Herpesviridae, subfamília Alphaherpesvirinae, gênero Simplexvirus, tipos 1 e 2: Tipicamente reconhecidos como herpesvírus humano 1 (HHV 1) e .herpesvírus humano 2 (HHV 2). Porém, são mais reconhecidos como human simplex vírus (HSV). Embora a terminologia oficial reconheça como herpes vírus humano (HHV). O QUADRO 2 apresenta a classificação dos vírus herpes que causam infecção em seres humanos. AN02FREV001/REV 4.0 26 QUADRO 2 - APRESENTAÇÃO DOS HERPESVÍRUS QUE CAUSAM DOENÇA EM SERES HUMANOS CLASSIFICAÇÃO DOS HERPESVÍRUS HUMANOS (HHV) TIPO SINÔNIMO SUBFAMÍLIA PATOLOGIA HHV 1 Vírus herpes simplex tipo 1 (HSV 1) Alfa α Herpes orofacial e / ou genital (predomínio de orofacial) HHV 2 Vírus herpes simplex tipo 2 (HSV 2) Alfa α Herpes orofacial e / ou genital (predomínio de genital) HHV 3 Vírus varicela-zoster (VZV) Alfa α Varicela zoster HHV 4 Vírus Epstein- Barr (EBV) Gama γ Mononucleose infecciosa, linfoma de Burkitt, linfoma do SNC em pacientes com AIDS, carcinoma de nasofaringe, síndrome linfoproliferativa pós-transplante HHV 5 Citomegalovírus (HCMV) Beta β Síndrome mononucleose –like, infecções congênitas, retinite, pneumonia HHV 6 HHV 7 Roseolovírus Beta β Exantema súbito (sexta doença ou roseola infantum) HHV 8 Herpesvírus associado ao Sarcoma de Kaposi Gama γ Sarcoma de Kaposi, linfoma primário de efusão, Doença de Castleman FONTE: Adaptado de SANTOS, N. S. O: Introdução à Virologia Humana, 2002. A partícula dos herpesvírus possui aproximadamente 100 a 150 nm de diâmetro. São vírus frágeis, devido à presença do envelope lipídico. Pois este torna o vírion suscetívela tratamento químico com solventes orgânicos, detergentes e proteases. São sensíveis também a tratamento físico do tipo calor (60ºC) ou radiação ionizante e não ionizante. Apresentam capsídeo de formato icosaédrico. O AN02FREV001/REV 4.0 27 ácido nucleico é do tipo DNA, linear de fita dupla. Entre o envelope e o capsídeo, há um tegumento que contém enzimas codificadas pelo vírus. Observe o esquema de um herpesvírus na FIGURA 12. FIGURA 12 - ESQUEMA ILUSTRATIVO DA PARTÍCULA DE UM HERPESVÍRUS FONTE: Disponível em: <http://stdgen.northwestern.edu/stdgen/bacteria/hhv2/herpes.html>. Acesso em 16 ago. 2012. 3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em geral, a transmissão dos HSVs dos tipos 1 e 2 ocorre pelo contato sexual, sendo comum por meio do contato orogenital. Também há casos de transmissão da mãe para o filho durante o parto. E ainda pelo contato direto com lesões ou objetos contaminados. Porém, é importante que todos saibam que em muitas ocasiões a forma de contaminação não é bem definida. Pois, há possibilidade de a pessoa contrair herpes no contato com alguém com as lesões ou sem lesões. Mas o principal alerta fica mesmo para a possibilidade de contaminação em uma relação na qual uma pessoa é portadora do vírus e não sente nada, e, portanto, está assintomática. Estes são os principais indivíduos da cadeia de propagação de uma virose. A transmissão por pessoas assintomáticas acontece porque, em muitos casos, apesar de a pessoa ter se contaminado pelo contato direto com o líquido das Tegumento Capsideo Ácido nucleico Envelope AN02FREV001/REV 4.0 28 vesículas, o vírus replica no seu local de entrada. O vírion e/ou o nucleocapsídeo são transportados por via nervosa e ficam escondidos, de modo latente. No período de latência, o vírus não é transmissível. Mas em alguns casos, as partículas virais começam a replicar. Os sintomas não aparecem, mas a transmissão pode acontecer. A infecção surge pelo aparecimento das lesões vesiculosas. Depois de alguns dias, estas se transformam em pequenas úlceras que surgem após ardência, prurido e dor. A FIGURA 13 apresenta algumas lesões típicas da manifestação clínica de infecção pelos herpesvírus 1 e 2. FIGURA 13 - FOTOS DE LESÕES POR INFECÇÃO COM O HSV A B Em A, lesões vesículosas. Em B, lesões após o rompimento das vesículas. FONTE: Disponíveis em: <http://toqueginecologico.blogspot.com.br/2011/07/herpes-genital.html>. Acesso em: 18 ago. 2012. Apesar de, geralmente, o tipo 1 ser responsável por infecções na face e no tronco (acima da cintura), enquanto o tipo 2 está relacionado às infecções da região genital (ou abaixo da cintura), ambos os vírus podem infectar qualquer área da pele ou das mucosas. As manifestações clínicas irão depender principalmente das características do vírus, da imunidade do hospedeiro e até da genética. AN02FREV001/REV 4.0 29 3.3.1 Primoinfecção Geralmente é assintomática. Porém, em alguns casos a infecção pode se manifestar de modo inespecífico. São comuns os casos que acontecem sem sintomas que caracterizem um quadro de herpes. Embora a replicação primária do vírus no sítio da infecção possa levar a doença grave e até a sequela do sistema nervoso central. Em geral, o vírus se estabelece de modo latente para o resto da vida do hospedeiro. Nos casos de reativação por qualquer causa, o vírus migra. A migração ocorre através do nervo periférico. Depois o vírus retorna à pele ou mucosa e produz a lesão do herpes simples recidivante. 3.3.2 Herpes recidivante É aquela que ocorre após a infecção primária por HSV 1 ou 2. Nesta, os pacientes desenvolvem novos episódios nos primeiros 12 meses, por reativação. Há casos em que a recorrência das lesões está associada a alguns fatores, tais como: febre, exposição à radiação ultravioleta, estresse físico ou emocional, menstruação, imunodeficiência, traumatismos e até mesmo o uso prolongado de antibióticos. Em geral, o quadro clínico das recorrências é de intensidade menor do que aquele que ocorreu na primoinfecção. Entretanto, é normalmente precedido de período prodrômico característico, no qual ocorre aumento de sensibilidade, “queimação”, prurido, mialgias e “fisgadas” nas pernas, quadris e região anogenital. AN02FREV001/REV 4.0 30 3.3.3 Gengivoestomatite herpética primária É a forma mais comum de infecção primária sintomática pelos vírus herpes. Frequente em crianças entre um ano e cinco anos, embora aconteça em adolescentes e adultos jovens. Inicialmente na mucosa afetada surgem vesículas que se rompem rapidamente e formam lesões pequenas e avermelhadas. Em seguida, há formação de úlceras de fundo amarelado com edema e eritema ao redor, com formação de dor local. Podem ocorrer sangramento e edemas na gengiva. O vírus parece permanecer latente a espera de condições que favoreçam nova manifestação. O período de duração da doença é de duas a três semanas. 3.3.4 Herpes genital Em geral são infecções causadas pelo HSV 2. Mas também acontecem pelo HSV 1. É normal que nas infecções primárias aconteça formação de vesículas que persistem por até três semanas. Com excreção de grande quantidade de vírus. Podem acontecer febre, disúria, linfadenopatia inguinal e mal-estar. É importante que todos saibam que na presença de infecção ativa há maior probabilidade de transmitir o vírus. Nos homens, é comum a formação de vesículas na glande ou corpo do pênis. Além das nádegas, períneo ou coxas. Enquanto as complicações podem ser retenção urinária, neuralgia e até meningoencefalite. Lesões anais e perianais estão mais associadas a homossexuais masculinos. Em mulheres, as lesões frequentemente envolvem a vulva, períneo, vagina, nádegas, linfadenopatia e disúria com envolvimento da cérvice. As complicações são em geral meningite asséptica e retenção urinária. Muitas vezes, as lesões AN02FREV001/REV 4.0 31 cervicais do tipo cervicite herpética, frequentes na primoinfecção, acontecem em associação a corrimento genital aquoso. Na FIGURA 14, estão representadas algumas infecções pelos herpesvírus dos tipos HSV 1 e HSV 2. Observe que são todas visualmente semelhantes. FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO FOTOGRÁFICA DE LESÃO GENITAL POR HERPESVIRUS FONTE: Disponíveis em: <http://toqueginecologico.blogspot.com.br/2011/07/herpes-genital.html>; <http://xega.org/xega/publicaciones/guia_de_sexo_mas_seguro/herpes_genital>; <http://www.urologiarecife.com.br/infeccoes_urologicas.php>; <http://www.herpes- coldsores.com/std/genital_warts_pictures.htm>. Acesso em: 18 ago. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 32 3.3.5 Herpes oral Quando ocorre em indivíduos adultos, surge faringite associada a uma síndrome semelhante à mononucleose. Caso que deve ser identificado por diagnóstico diferencial. Pode ser pelo HSV 1 ou HSV 2. Em geral, quando é pelo HSV 1 há comprometimento da orofaringe. O período de incubação é de dois a 12 dias. As infecções podem ser assintomáticas. Mas podem surgir quadros combinados de febre, úlceras na garganta, lesões vesiculares e ulcerativas, gengivoestomatite, anorexia e/ou dor. 3.3.6 Herpes labial Mais frequente na área de vermelhidão do lábio. Atinge também a região da pele próxima aos lábios. É o modo mais frequente de infecção pelo vírus herpes. Pode ser detectado em saliva e sangue de pacientes com infecções ativas. Vários fatores favorecem o surgimento: estresse, febre, trauma físico, luz ultravioleta, menstruação e imunossupressão. No período que antecede o aparecimento das lesões, denominado período prodrômico, ocorrem pontadas, prurido, ardência e eritema. Em seguida, as vesículas surgem múltiplas pequenas e eritematosas. Depoiscoalescem, se rompem e formam úlceras recobertas por crostas, que cicatrizam no período de 10 a 14 dias, sem deixar cicatriz. AN02FREV001/REV 4.0 33 3.3.7 Herpes simples neonatal É a que ocorre quando a parturiente apresenta herpes genital com contaminação do neonato durante o parto. Normalmente ocorre intraútero, mas há casos de infecção periparto. Em geral, as infecções são pelo herpes simples tipo 2. A transmissão vertical é mais frequente na infecção primária do que na recorrente. O que pode ser explicado pela maior viremia na infecção primária. Pelo maior número de lesões. Além da ausência de proteção imunológica. Porém, o risco de infecção para o recém-nascido é maior quando a mãe apresenta infecção primária adquirida no 3º trimestre de gestação. No entanto, 5% dos recém-nascidos de mães imunossuprimidas com infecção recorrente desenvolvem a doença. A infecção do recém-nascido possui altas taxas de mortalidade e apresenta alta morbidade quando há acometimento do sistema nervoso central (SNC). A mucosa dos olhos e da boca ou a pele lesada podem ser portas de entrada do vírus. Em geral, as manifestações clínicas incluem lesões de pele e de mucosas. Podem ocorrer casos de encefalite, com ou sem acometimento epitelial. As infecções sistêmicas podem ter o acometimento de múltiplos órgãos: como o SNC, pulmão, fígado, adrenal e cutânea. As principais sequelas são devido ao acometimento do SNC. Principalmente com atraso do desenvolvimento, quadriplegia, microcefalia, cegueira e crises convulsivas. 3.3.8 Ceratoconjuntivite herpética Em geral, é causada pelo HSV 1, mas em casos de comprometimento agudo da retina pode ser pelo HSV 2 com vesículas e erosões na conjuntiva e córnea. É a causa mais comum de cegueira em adultos. É comum em crianças recém-nascidas. AN02FREV001/REV 4.0 34 Está associada à conjuntivite unilateral ou bilateral. A recorrência geralmente é apenas em um olho. Há casos em que após a regressão, podem surgir as recidivas. Estas determinam ulcerações profundas, que eventualmente evoluem para cegueira. As lesões desaparecem em aproximadamente um mês. 3.3.9 Panarício herpético É uma infecção recidivante pelo vírus herpes. Atinge os dedos das mãos e pés. Na primoinfecção, o quadro inicial é de vesículas que coalescem. O que pode levar a formação de uma única bolha, com adenopatia e, eventualmente, febre. Após a cura da primoinfecção, ocorrem recidivas locais. 3.3.10 Doença neurológica É de ocorrência comum, pois, o vírus é neurotrópico. Podem ocasionar complicações do sistema nervoso central, como meningite, encefalite, radiculopatia e mielite transversa. Em adultos e crianças mais velhas os sintomas variam. Podem ocorrer desde encefalite focal com febre até alteração de consciência, desordem mental e alterações neurológicas. Conduz a uma elevada taxa de mortalidade em pessoas não tratadas. Podem ocorrer casos de meningite. AN02FREV001/REV 4.0 35 3.3.11 Herpes simples em imunodeprimidos É uma das complicações mais comuns na AIDS. O vírus herpes simples em latência surge, de modo frequente, em indivíduos com imunodepressão, leucemia e mieloma, além daqueles que se submeteram a transplantes ou que apresentam doenças crônicas. Em muitos casos, pode levar ao desenvolvimento de encefalite. Resumindo, normalmente as infecções genitais pelos herpesvírus ocorrem pelo HSV-2. Porém, atualmente tem sido observada a existência de novos casos de infecções genitais com envolvimento do HSV-1. Pois, os indivíduos que possuem anticorpos para o HSV-1 podem infectar-se com HSV-2, e vice-versa. Observa-se, porém, que os casos de infecções com HSV-1 na região genital são menos severos, menos frequentes e em geral não causam recorrência. Casos de infecções orais com HSV-2 também podem ocorrer, e geralmente são acompanhadas de lesões genitais. Porém, o HSV-2 é transmitido quase sempre por via sexual. Desta forma, é comum que este tipo de infecção aconteça em indivíduos adultos, devido à prática sexual. Outro fato de importância que merece destaque é que, em geral, as infecções primárias são mais graves. Especialmente nos casos de infecção neonatal. A duração da doença é de aproximadamente duas semanas. São infecções mais frequentes em mulheres do que em homens. As manifestações de febre, disúria e mal-estar, também são mais frequentes em mulheres do que em homens. Além disso, as complicações mais comuns destas infecções incluem meningite asséptica e lesões extragenitais. AN02FREV001/REV 4.0 36 3.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico das infecções pelos herpesvírus é feito pela associação das características clínicas com os exames de laboratório. O diagnóstico laboratorial para as infecções dos HSV tem aplicação complementar para as manifestações comuns causadas pelo vírus. A importância dos testes laboratoriais está nas pessoas que possuem algum tipo de imunossupressão, sujeitas a transplante, gestantes, recém-nascidas e em suspeita de encefalite. Há necessidade da realização de um diagnóstico diferencial. Pois este afasta a possibilidade de outras doenças que causam lesões semelhantes na área genital. Apesar de ser comum a presença de outra DST. O diagnóstico laboratorial das infecções pelos herpesvírus pode ser realizado de várias formas. Os laboratórios atuais fazem uso do citodiagnóstico, da sorologia e dos testes moleculares. Clinicamente, o diagnóstico deve incluir toda a região genital, perigenital e perianal do indivíduo. A pesquisa deve ser feita pela observação de lesões características. Estas podem estar presentes em diferentes fases evolutivas, como máculas eritematosas e vesículas agrupadas, erosões, crosta e reparação. As vesículas agrupadas, inicialmente de conteúdo claro, podem não se apresentar íntegras. Pode haver associação com infecção bacteriana, principal complicação local do herpes genital. A extensão e gravidade das lesões estão diretamente relacionadas ao inóculo viral, imunidade do hospedeiro e predisposição genética. Podem existir manifestações sistêmicas graves. AN02FREV001/REV 4.0 37 3.4.1 Isolamento do vírus É um método lento e trabalhoso. Mas que sempre apresenta boa sensibilidade. Ainda é considerado o diagnóstico laboratorial de eleição. Baseia-se na observação do efeito citopático do vírus com o auxílio do microscópio óptico. As células infectadas são visualizadas pela formação do que se chama efeito citopatogênico (CPE). Aqui, o efeito é de degeneração balonizante. Uma característica de infecção por herpesvírus. Para visualização do efeito utiliza-se o citodiagnóstico de Tzank. A coleta de material é realizada com o auxílio de um swab. Para retirada de material do interior das vesículas íntegras. Em seguida, o material é corado pelo método de Giemsa. À microscopia são vistas células epiteliais gigantes multinucleadas com inclusões intracelulares. Veja na FIGURA 15 cultura de células com diagnóstico positivo para infecção por herpesvirus. FIGURA 15 - OBSERVAÇÃO DE CULTURA DE CÉLULAS COM INFECÇÃO POR HERPESVÍRUS A B Em A, coloração de Tzank, que mostra a presença de degeneração balonizante, efeito citopático dos herpesvírus: Em B, imunofluorescência com demonstração de antígenos de HSV. FONTE: Disponíveis em: <http://www.medicalservices.com.br/representanteonline/pdf/Segredos%20em%20PED%20Doencas %20Infecciosas.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2012. PEREIRA, SRFG et al. An Immunofluorescence test for diagnosis of ophtalmic herpes in a mouse corneal model, 2007. AN02FREV001/REV 4.0 38 O líquido das vesículas pode também ser visualizado por imunofluorescência para detecção de antígenos específicos do HSV. Diretamenteou após inoculação em cultura de células. Nesse caso, utiliza-se a imunofluorescência direta. A qual é utilizada para confirmação e sorotipagem do HSV proveniente de isolamento do vírus em cultura de células. Observe a imagem da imunofluorescência na FIGURA 15B. 3.4.2 Diagnóstico sorológico Os testes sorológicos são principalmente indicados nos casos em que uma pessoa é infectada, mas não se observa a presença clínica de lesões características. Devem ser realizados entre a 12ª e 16ª semana após a exposição ao vírus. Os testes podem ser realizados de modo separado ou em conjunto, para os HSV 1 e HSV 2. Os métodos realizam pesquisa de anticorpos do tipo IgM e IgG. Normalmente, são utilizados Western blotting, imunofluorescência, ELISA e immunoblot. O diagnóstico sorológico apresenta interpretações diferenciadas para as diversas fases da vida. Assim, nas duas primeiras semanas de vida a presença de anticorpos do tipo IgM estabelece o diagnóstico de infecção congênita. No caso de infecção neonatal, os anticorpos são detectados de duas a quatro semanas após a infecção. Em outras fases da vida, a detecção de IgM pode estar presente ou não nas recorrências. A IgM servirá como indicativo de infecção aguda. As infecções recorrentes devem ser confirmadas pela presença de IgG. Porém, em caso de quadro clínico sugestivo da infecção por herpesvírus, o recomendável é a realização de sorologia pareada. Na qual é feita a coleta de duas amostras de soro. A primeira na fase aguda da infecção. Enquanto a segunda deverá ser realizada no intervalo de 15 dias, a fase convalescente da doença. O resultado é dado pela observação de conversão sorológica, ou seja, um aumento de quatro vezes no título do soro da fase convalescente em relação ao soro da fase aguda. AN02FREV001/REV 4.0 39 A realização da sorologia no diagnóstico dos herpesvírus é de enorme importância. Sendo fundamental no caso de mulheres que possuem intenção de engravidar, no tratamento de pessoas que apresentam úlceras genitais recorrentes, mas que apresentam diagnóstico negativo em cultura, em estudos epidemiológicos (para observação da presença de anticorpos nas populações), no monitoramento dos níveis de anticorpos específicos (de pessoas que trabalham em laboratórios de diagnóstico ou de pesquisa). Além do enorme valor para a identificação de sorotipo em infecções primárias. Sendo assim, essas técnicas sorológicas, por oferecer detecção de anticorpos, garantem vantagens adicionais no diagnóstico. Especialmente por apresentar alta sensibilidade e rapidez na detecção desses vírus. O que é de importância fundamental nos casos graves e sistêmicos da infecção. 3.4.3 Diagnóstico molecular A reação em cadeia da polimerase (PCR) é o método mais utilizado, pois é altamente sensível na detecção dos herpesvírus. Pode ser usado nos casos de pacientes sintomáticos ou até mesmo assintomáticos. Entretanto, o teste oferece grande possibilidade de contaminação. Sendo assim, requer pessoal técnico bem treinado para utilização em rotina. A maior desvantagem do teste reside no alto custo e na necessidade de laboratório especializado. O uso da PCR é necessário em diversos casos. Na encefalite herpética é considerado método "padrão-ouro". Sendo recomendado para uso no diagnóstico. Pois apresenta grande sensibilidade em detectar o DNA do HSV no liquor. Recomendado também nos casos de síndromes neurológicas associadas a pacientes com AIDS ou nos pacientes com meningites recorrentes. Há recomendações de uso também em casos de suspeita de herpes neonatal e em presença de lesões cutâneas de etiologia indefinida ou duração prolongada. AN02FREV001/REV 4.0 40 3.4.4 Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial como o próprio nome diz, tem o valor diferencial. Este inclui várias doenças que apresentam lesões dolorosas e/ou ulceradas na região anogenital. O maior destaque é para o diagnóstico da sífilis precoce, uma doença que cursa com úlceras e adenomegalias, normalmente indolores. Em alguns casos, a candidíase também pode apresentar fissuras recorrentes que chegam a ser dolorosas. Porém, não há formação de vesículas e o corrimento vaginal é comum. De qualquer forma, a presença de coinfecção com o HSV é uma possibilidade para qualquer uma das infecções do trato genital. Outras causas, não associadas à transmissão sexual, são menos prováveis, mas também devem ser avaliadas. Em laboratórios de análise clínica existe o exame específico para o diagnóstico diferencial. Reconhecido como TORCH, o exame serve como triagem para detecção da presença de qualquer um dos anticorpos para várias destas infecções. O nome é dado pela letra inicial de cada infecção para a qual é oferecido o diagnóstico: toxoplasmose, outras (sífilis e varicela zoster), rubéola, citomegalovírus, herpes simples e HIV. Este tipo de diagnóstico deve ser indicado em todos os casos de adultos jovens, mulheres grávidas ou pacientes imunocomprometidos. Pacientes que devem receber tratamento imediato para qualquer uma destas infecções. Pois, nestes casos, a ausência de tratamento oferece risco à vida, para eles mesmos ou para outros, como é o caso das grávidas. AN02FREV001/REV 4.0 41 3.5 EPIDEMIOLOGIA As infecções pelos herpesvírus ocorrem em todo o mundo. Sua disseminação na natureza pode ser observada nos mais diversos grupos humanos. É uma infecção de caráter comum. Que está presente nos países industrializados e naqueles em desenvolvimento. A doença causada pelo herpes genital é do tipo infectocontagiosa. Há possibilidade do acontecimento de recidivas. Entretanto, existem duas cepas diferentes do vírus herpes simples, tipo 1 e tipo 2. Ambas relacionadas com a doença. Sabe-se, porém, que a grande maioria dos casos tem como etiologia o HSV-2. Mas, a prevalência do HSV 1 tem se mostrado em elevação. Merecendo destaque para os jovens e para a prática de sexo oral. Os casos de superinfecção pelos HSV 1 e HSV 2 também já foram mencionados. Entretanto, tem sido observado que a maioria das pessoas que demonstram sorologia positiva para herpes genital desconhecem possuir o vírus. O estudo epidemiológico das doenças relacionadas com o herpes genital é dificultado. Pois existem as formas assintomáticas ou de sintomas inespecíficos. O que acaba por subestimar o número total de acometidos pela infecção. A doença apresenta distribuição universal. A detecção de anticorpos circulantes contra o HSV 1 está entre 50% e 90% na população de adultos e, para o HSV 2, está entre 20% e 30%. No Brasil, os dados reais destas infecções não são demonstrados. Porém, a literatura internacional observa que há aumento contínuo. A capacidade de latência dos HSVs no tecido nervoso e gânglios sensitivos é a sua principal característica biológica do grupo. Pois, é esta que transforma seu portador em um potencial propagador da infecção. Tanto em viremia como em períodos de reativação da doença. Estudos mostram que a infecção pelo HSV 2 é mais prevalente entre as mulheres. O que pode ser justificado pelas diferenças anatômicas entre os sexos. Determinando favorecimento da infecção feminina. Outra justificativa deve-se à AN02FREV001/REV 4.0 42 tendência atual dos relacionamentos de mulheres jovens com homens mais velhos, população cuja prevalência do herpesvírus é maior. Outros estudos mostram que há maior probabilidade de transmissão de herpesvírus do homem para a mulher, quando se compara com a transmissão da mulher para o homem. Nos países em desenvolvimento, a soroconversão para o HSV 1 ocorre na primeira infância. Já nos países desenvolvidos, essa soroconversão acontece na adolescência. Quanto aos dados do HSV 2, os fatores determinantes da soroconversão estão relacionados ao início precoce da vida sexual,à quantidade de parceiros e à promiscuidade. Em relação à idade, nos EUA foi realizado um estudo que demonstrou que aproximadamente 45 milhões de americanos com mais de 12 anos são soropositivos para o HSV 2. Grande número das infecções neonatais ocorre de mães que não possuem histórico de doença prévia e não fazem acompanhamento médico pré-natal. O que aumenta o número de casos de neonatos com infecção primária, ativa ou subclínica no periparto – devido à liberação do vírus através do canal do parto. Pesquisas apontam atualmente que uma infecção prévia pelo HSV 1 atua como fator de proteção. Talvez, devido à imunidade cruzada. O estudo da epidemiologia e o impacto das doenças sexualmente transmissíveis nas populações poderão impulsionar o interesse governamental, e a distribuição de recursos. De modo que proporcionem mudanças de comportamento entre os indivíduos. 4. CITOMEGALOVÍRUS Os citomegalovírus estão presentes em todas as regiões do mundo em que foram pesquisados. Sua prevalência varia de acordo com as condições socioeconômicas locais. São vírus espécie-específicos. Sua infecção é comum, e ocorre na maioria da população. Entretanto, quanto à doença propriamente dita, que acontece devido à infecção, esta é relativamente rara. Sabe-se, porém, que ocorre AN02FREV001/REV 4.0 43 em cerca de 1% de todos os recém-nascidos, nos quais 10% são sintomáticos ao nascimento. São vírus também reconhecidos como HCMV, citomegalovírus humano ou herpesvírus humano do tipo 5 (HHV-5). 4.1 HISTÓRICO DO CITOMEGALOVÍRUS A primeira descrição de inclusão citomegálica foi apresentada por Ribbert, em 1881 (observe a FIGURA 16), ao comprovar a presença de células citomegálicas em rins de uma criança com sífilis congênita. Enquanto a etiologia viral para a citomegalia só veio a ser proposta em 1921, ano em que recebeu a denominação de Doença de Inclusão Citomegálica. A seguir, uma imagem de células apresentando citomegalia. FIGURA 16 - FOTO DE RIBBERT E MICROSCOPIA DE INCLUSÃO CITOMEGÁLICA A B Em A, foto de Hugo Ribbert, primeiro cientista a observar células citomegálicas. Em B, célula citomegálica com núcleo excêntrico (seta), circundado por halo claro e apresentando inclusão nuclear. FONTE: Disponíveis em: <http://appserv5.phheidelberg.de/onlinelex/index.php?id=722>. Acesso em: 1 Ago. 2012. E Rev. Saúde, 2011. Entretanto, apenas no início do último século, Josionek e Kiolemenoglou descreveram a partícula viral. AN02FREV001/REV 4.0 44 4.2 CLASSIFICAÇÃO Os citomegalovírus humanos ou animais pertencem à família Herpesviridae, subfamília Betaherpesvirinae, gênero Citomegalovirus. O vírion do HCMV, citomegalovírus humano, mede cerca de 110 nm de diâmetro. São vírus de morfologia complexa, semelhante aos outros membros da família dos herpesvírus. Possuem capsídeo de formato icosaédrico composto por 162 capsômeros. O ácido nucleico do tipo DNA linear de fita dupla. A partícula viral completa é cercada por um envelope glicolipídico, do qual partem espículas de glicoproteínas. Entre o envelope e o capsídeo, possuem um tegumento formado de proteínas. Observe a seguir na FIGURA 17 o esquema da partícula completa do HCMV. FIGURA 17 - ESQUEMA DO CITOMEGALOVÍRUS E SUAS ESTRUTURAS FONTE: Disponível em: <http://en.citizendium.org/wiki/File:CMV_structure.jpg>. Acesso em 28 ago. 2012. CAPSÍDEO ICOSAEDRICO DNA VIRAL GLICOPROTEÍNA MEMBRANA TEGUMENTO AN02FREV001/REV 4.0 45 4.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O HCMV acomete, principalmente, indivíduos entre 15 e 25 anos de idade. Geralmente, de modo assintomático. Porém, há forma sintomática em indivíduos imunocompetentes, o quadro é semelhante ao de mononucleose. A sintomatologia comum é de febre, linfadenopatia, alterações hematológicas do tipo leucopenia e trombocitopenia. Podem ocorrer também sinais e sintomas hepáticos, neurológicos, pulmonares ou gastrintestinais, além de erupção cutânea e comprometimento da orofaringe – sob a forma de faringoamigdalite exsudativa. Sua transmissão pode ocorrer pela via transplacentária, oral, respiratória ou sexual. Além de ser possível também a transmissão por meio do aleitamento, transplante de órgãos e transfusão sanguínea. A seguir, são apresentadas as infecções mais comumente encontradas nas diversas populações, infecção em imunocompetentes, imunoincompetentes, além das infecções congênitas e perinatais. 4.3.1 Infecção em imunocompetentes A citomegalovirose é uma DST. A concentração de vírus no sêmen é maior do que a observada em outras secreções orgânicas. Em geral, as infecções são mais prevalentes em indivíduos de nível socioeconômico mais baixo. Os quais vivem em condições de aglomeração. Em adultos, as infecções são geralmente assintomáticas. Entretanto, existem os casos momonucleose-like. Nos quais a sintomatologia é semelhante à observada nas infecções pelo vírus Epstein Bar (EBV). Sem os quadros graves de aringite e linfadenopatia. A infecção promove linfocitose atípica – aumento das células T. De modo semelhante a das infecções pelo EBV. Porém, não há anticorpos heterofilos. Os AN02FREV001/REV 4.0 46 chamados anticorpos de Paul Bunnel, característicos da infecção por EBV. Sendo assim, há de se suspeitar de infecção por HCMV nos casos em que o indivíduo apresenta quadro de mononucleose heterofilo negativa. Além dos quadros de hepatite que apresentam negatividade para os vírus A, B e C. Outros sintomas são febre durante mais de dez dias, mal-estar, mialgia, fadiga e dor de cabeça. Alguns pacientes apresentam hepatoesplenomegalia e exantema. As complicações são raras. 4.3.2 Infecção em imunoincompetentes As manifestações mais importantes são as doenças do SNC, especialmente encefalite, síndrome de Gillain-Barre e mielite transversa. Pneumonia intersticial, artrite, cardite, coriorretinite e hepatite também são comuns. Nos casos de AIDS, o HCMV pode provocar doença disseminada. Especialmente quando a contagem de linfócitos TCD 4 se apresenta abaixo de 50 células/mm3. Nos quais a retinite e a enterite são as mais frequentes. Em transplantados, a infecção em geral oferece grande complicação. Devido à utilização de fármacos imunossupressores. A infecção primária é mais grave do que a reativação ou reinfecção. Embora, haja diferença de acordo com o órgão transplantado e o grau de imunossupressão. Indivíduos portadores de neoplasias também representam um grupo de alto risco para infecções mais graves. 3.4.3 Infecção congênita O HCMV é a principal causa de infecção congênita, em todo o mundo. O valor está acima de 2% dos nascidos vivos em todo o mundo. Nas diferentes classes socioeconômicas. A alta incidência se deve ao fato de que a transmissão materno- fetal pode ocorrer após a infecção primária ou recorrente. Entretanto, após a AN02FREV001/REV 4.0 47 infecção recorrente a probabilidade é muito menor. Em uma taxa abaixo de 1%. Enquanto devido à infecção primária chega a 39% em grupos sociais mais elevados. Os anticorpos maternos reduzem as possibilidades de infecção, mas não evitam a transmissão para o feto e a probabilidade de sequelas. Menos de 10% dos recém-nascidos infectados desenvolvem sintomas de doença no período neonatal. Porém, o índice de mortalidade entre aqueles afetados de modo grave pode atingir 30%. Clinicamente, icterícia e hepatoesplenomegalia são os sinais mais frequentes. Sinais não específicos como microcefalia, hipotonia, convulsões, espasticidade e hemiparesia também são observados. As sequelas mais frequentes são surdez neurossensorial, alterações oculares do tipo coriorretinite, estrabismo, retinite pigmentar e atrofia óptica. Laboratorialmente, os exames de imagem podem mostrar calcificações cerebrais,dilatação ventricular ou anomalias da substância branca. Pode ocorrer elevação de transaminases, trombocitopenia, hiperbilirrubinemia e anemia hemolítica. Porém, em cerca de 90% dos casos, os recém-nascidos permanecem assintomáticos no período neonatal. Um risco de 10% a 15% das manifestações tardias da doença persiste. Nos três primeiros anos de vida podem surgir algumas manifestações. Surdez, corio retinite, atraso no desenvolvimento psicomotor, convulsões e atrofia do nervo óptico são os achados mais frequentes. A infecção pode ser transmitida também após o parto. Pela amamentação ou até mesmo pela saliva. Nos três primeiros meses de gravidez a infecção é potencialmente teratogênica. 3.4.4 Infecção perinatal É resultante da exposição da criança à secreção cervical durante o trabalho de parto ou ao leite materno nas primeiras três semanas de vida. São, em geral, assintomáticas. O período de incubação varia de acordo com o momento da AN02FREV001/REV 4.0 48 infecção. Se esta ocorreu durante o trabalho de parto ou no aleitamento a excreção prolongada do vírus pode ocorrer, semelhante ao que ocorre na infecção congênita. O conhecimento da frequência das infecções perinatais é de grande importância. Pois, crianças infectadas são importante fonte de contaminação para outras crianças e mulheres soronegativas. A soropositividade materna é a principal fonte de infecção perinatal. Por meio do aleitamento, secreções cervicais, saliva e/ou urina. Mas a infecção por transfusão sanguínea também acontece. As manifestações clínicas mais frequentes são pneumonia e hepatite. 4.4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Antigamente, o diagnóstico das infecções pelo HCMV era baseado apenas em dados clínicos. Nos dias atuais, há uma grande variedade de técnicas laboratoriais. De tal maneira que, os diagnósticos são baseados em resultados clínicos e imunológicos. Aqui, vamos tentar abordar a maioria dos métodos utilizados para detecção do CMV em análises clínicas. O exame laboratorial das citomegaloviroses é de grande utilidade não só para confirmar uma infecção, ou uma suspeita clínica. São úteis também para identificar o tipo de agente causal e fase da doença. Além de esclarecerem infecções com sintomas e sinais clínicos confundíveis, como hepatites e HCMV. Em pacientes imunocompetentes, quando há suspeita de HCMV, devem-se realizar os testes para as hepatites virais A, B, e C. Além da comprovação de negatividade para anticorpos heterófilos, característicos de mononucleose por EBV. Enquanto em pacientes imunoincompetentes, o diagnóstico é dificultado. Pois, além de detectar o vírus, é necessário comprovar que ele é o causador da doença. As técnicas de resultado mais rápido e de baixo custo são as preferidas pelos laboratórios atuais. Nestes, são utilizados métodos de diagnóstico direto ou indireto. Os métodos indiretos mais utilizados são a histologia e a sorologia. Enquanto os diretos são a microscopia eletrônica e os que utilizam a biologia AN02FREV001/REV 4.0 49 molecular. Observe no QUADRO 3 um pequeno resumo dos testes de laboratório utilizados no diagnóstico do CMV na prática clínica. QUADRO 3 - RESUMO DAS TÉCNICAS UTILIZADAS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DO CMV CARACTERÍSTICA DIAGNÓSTICO TÉCNICA FUNDAMENTO INDIRETO CÉLULAR Histologia Presença de inclusões observadas através de colorações SOROLÓGICO Elisa Imunofluorescência Imunoperoxidase Presença de antígenos virais ou anticorpos (de fase aguda ou convalescente) no soro DIRETO MICROSCÓPICO Óptica Eletrônica Alterações morfológicas e presença da partícula viral (ME) BIOLOGIA MOLECULAR Captura híbrida PCR Hibridização Amplificação FONTE: Arquivo pessoal do autor. 4.4.1 Histopatologia A histopatologia é a análise microscópica de tecidos que são removidos de pacientes quando é realizada uma biópsia. A infecção pelo HCMV pode ser facilmente observada com a utilização de técnicas de coloração, como hematoxilina- eosina (HE) ou papanicolau. O exame revela a presença de células infectadas em qualquer tecido corporal, no sedimento urinário, lavado gástrico e broncoalveolar e outros materiais. Histologicamente, a infecção pelo HCMV é comprovada pela presença de células citomegálicas com um denso corpúsculo de inclusão intranuclear basofílico e central em olho de coruja ou owl’s eye. Um método altamente específico para determinação do envolvimento do HCMV no tecido pesquisado. As grandes vantagens desta técnica são simplicidade, rapidez, baixo custo e possibilidade de execução em qualquer laboratório. Porém, há grande incidência de falsos resultados negativos e por isso deve ser complementada com técnicas mais AN02FREV001/REV 4.0 50 sensíveis. Observe na FIGURA 18 as imagens de lâminas de tecidos com características típicas de infecção por citomegalovírus. FIGURA 18 - IMAGEM DE LÂMINAS COM INCLUSÃO CARACTERÍSTICA DE CMV A B Em A, imagem de citomegalia. Em B, imagem de corpúsculo de inclusão do tipo olho de coruja. FONTE: Disponível em: <http://anatpat.unicamp.br/lamresp17.html>. Acesso em: 1 ago. 2012. 4.4.2 Sorologia Os métodos que utilizam a sorologia para comprovar infecção por citomegalovírus apresentam enorme valor. Pois demonstram a presença de anticorpos IgM ou IgG contra o HCMV no soro de pacientes. O que é de grande importância no diagnóstico em Virologia, pois, diferencia infecções agudas de infecções crônicas. Além disso, a realização do diagnóstico do HCMV com a utilização da sorologia pode também comprovar a existência da conversão sorológica. O que irá determinar a formação de anticorpos para a infecção em questão. Para tal, é necessária a investigação no soro do paciente em dois momentos, com um intervalo de pelo menos 10 a 12 dias entre as duas coletas. Sendo, portanto, um representante da fase aguda da doença e o outro da fase convalescente. Um aumento de pelo menos quatro vezes no título de anticorpos específicos entre essas duas fases, indica que a infecção ocorreu com o agente pesquisado. O antígeno do HCMV pode ser detectado já a partir da 4a semana pós- infecção, ainda no período de incubação. Na fase aguda, o vírus pode ser identificado em diferentes secreções corporais. Os anticorpos da classe IgM AN02FREV001/REV 4.0 51 aparecem logo no início da fase aguda. Enquanto os da classe IgG, uma semana mais tarde. É válido ressaltar que a resposta imunológica contra o HCMV envolve a síntese de anticorpos da classe IgM, algumas semanas após a infecção. Em seguida, ocorre a síntese de anticorpos da classe IgG. Entretanto, em geral, os níveis de IgM anti-HCMV aumentam por algumas semanas. E, a sua redução acontece lentamente no decorrer de quatro a seis meses. Pesquisadores admitem ainda a possibilidade da permanência de IgM na circulação durante anos. O grande valor clínico dos testes sorológicos ocorre em pessoas doadoras de sangue e órgãos e na avaliação pré-transplante de possíveis receptores. Pois em caso de positividade há indicação do Ministério da Saúde para o descarte desse material. Porém, a utilização dos métodos sorológicos admite algumas limitações de interesse. Pacientes imunossuprimidos podem apresentar infecção grave. Em acordo com o grau de imunossupressão, podem resultar em diagnósticos falso- negativos. Em muitos casos, há necessidade de acompanhamento com repetição periódica. Devido à impossibilidade de detecção precoce para definição diagnóstica. Os testes sorológicos utilizados para pesquisa de infecção por HCMV são a antigenemia (imunofluorescência indireta ou imunoperoxidase), ELISA e radioimunoensaio. O teste de ELISA é o mais utilizado na grande maioria dos laboratórios de análises clínicas. Sendo realizado para determinação dos níveis de anticorpos específicosIgM e IgG. Anticorpos que indicam a presença de infecção aguda e crônica, respectivamente. Além destes, embora o teste de avidez esteja em uso no diagnóstico de numerosas doenças infecciosas, atualmente, a sua maior aplicação é no diagnóstico da toxoplasmose, rubéola e citomegalovirose, principalmente em gestantes. AN02FREV001/REV 4.0 52 4.4.2.1 Teste de elisa O enzyme linked immunosorbent assay, reconhecido por ELISA, é um teste utilizado para pesquisa de anticorpos ou antígenos, no qual são utilizados anticorpos ligados a enzimas. A alteração de cor produzida pela atuação da enzima sobre seu substrato irá determinar o resultado. O teste pode ocorrer de modo qualitativo (quando o diagnóstico é dado apenas pela observação da mudança de cor) ou por avaliação quantitativa (quando é realizado com o auxílio de um espectrofotômetro). Os anticorpos para o HCMV são detectados logo após o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos. Primeiro, surgem altos títulos de anticorpos IgM. Enquanto os anticorpos IgG são detectáveis em altos níveis entre duas e três semanas e permanecem detectáveis ao longo da vida. Contudo, anticorpos IgM desaparecem entre 6 a 12 semanas após a infecção. Em pacientes transplantados, títulos de IgM podem ser detectados a até dois anos ou mais. Em reativações aumentam os níveis de anticorpos IgG, e frequentemente anticorpos IgM são detectados. Em alguns casos, um resultado positivo para IgM é consequência de resposta imune heterotípica para uma infecção com Toxoplasma gondii. EBV, caxumba, Chlamydia ou Legionella pneumophila. Sendo assim, os resultados obtidos com esses testes podem causar alguma confusão. E, portanto, devem ser vistos com muita cautela. Em geral, a utilização de apenas uma amostra de soro é de pouca eficiência. Nestes casos, o diagnóstico sorológico deve ser aliado à história do paciente. AN02FREV001/REV 4.0 53 QUADRO 4 - RESULTADOS CONFLITANTES NO DIAGNÓSTICO DO HCMV PELO TESTE DE ELISA RESULTADOS POUCO CONCLUSIVOS NO ELISA PARA CITOMEGALOVÍRUS IgG negativo – em geral, indica que a imunidade não foi adquirida; mas não exclui uma infecção aguda, a menos que o teste de IgM também seja negativo. IgM positivo – em geral, indica infecção recente ou infecção secundária, por reativação do vírus latente ou reinfecção. IgM negativo – não indica que uma infecção aguda deve ser descartada; podemos estar diante de uma infecção em estágio inicial, quando o paciente ainda não foi capaz de sintetizar IgM específica para o HCMV, ou, ainda, quando o paciente se apresenta imunocomprometido. FONTE: Arquivo pessoal do autor. O que nos permite concluir que a coleta de amostras de soro em duas fases da infecção é de grande importância. Observe no QUADRO 4 os exemplos de resultados pouco conclusivos no ELISA para citomegalovírus. Em resumo, é sempre bom lembrar que o diagnóstico eficiente de infecção para HCMV em apenas uma amostra de soro pode ser realizado. Mas, neste caso, há necessidade do conhecimento da história prévia do paciente. Pois os níveis gerais de exposição da população ao citomegalovírus são bastante altos. Um resultado de maior confiança é dado quando o diagnóstico é realizado com amostras pareadas de soro do paciente. Uma coleta na fase aguda de doença e outra em fase convalescente. Para melhor entender, a primeira coleta deve ocorrer na fase inicial dos sintomas, ou primeiro dia. Enquanto a segunda deve acontecer duas semanas após, ou em até no máximo quatro semanas. AN02FREV001/REV 4.0 54 4.4.2.2 Diagnóstico diferencial Para o HCMV, há ainda o chamado diagnóstico diferencial. Um ensaio que também faz uso da sorologia. Deve ser realizado sempre que pacientes apresentam sintomas da infecção. Como o próprio nome diz, o exame deve ser solicitado pelo médico do paciente para diferenciar. O exame permite ao médico afastar a possibilidade de o paciente possuir outras doenças que apresentam sintomas semelhantes ao da citomegalovirose. Mas, não podem ser tratados como se estivessem com HCMV, antes da sua comprovação. Algumas destas doenças são de causa viral. Enquanto outras, apesar de possuírem sintomas parecidos, são de causa não viral. As doenças conhecidas que apresentam sintomas parecidos com o HCMV são muitas. Entre as que são produzidas por vírus estão AIDS, mononucleose infecciosa e hepatites A, B, ou C. Respectivamente induzidas pelos vírus da imunodeficiência humana, Epstein Barr e das hepatites A, B, e C. Enquanto a toxoplasmose, que também apresenta os mesmos sintomas, é induzida pelo protozoário Toxoplasma gondii. Em laboratórios de análise clínica existe um exame específico para o diagnóstico destas doenças. Este é reconhecido como TORCH. O exame serve como triagem para detecção da presença de qualquer um dos anticorpos para estas infecções. O exame é denominado pela representação da letra inicial de cada infecção. toxoplasmose, outras (pelos vírus da hepatite B, EBV e varicela zoster), rubéola, citomegalovírus, herpes simples e HIV. Este tipo de diagnóstico deve ser solicitado nos casos de adultos jovens, mulheres grávidas ou pacientes imunocomprometidos. Sempre que estes apresentam sintomas de gripe ou outros que possam sugerir uma infecção por HCMV. Geralmente em pessoas saudáveis, a infecção por HCMV ocorre sem que seja percebida ou envolve uma soroconversão leve. Mas, em alguns casos, pode AN02FREV001/REV 4.0 55 haver o desenvolvimento de sintomas mais visíveis, como hepatite leve ou mesmo febre prolongada. No caso de pessoas com imunodeficiência em consequência da AIDS, a correlação da doença com a quantificação da carga viral no sangue facilita o diagnóstico. Em grávidas estes testes devem ser realizados no primeiro trimestre de gravidez, devido à possibilidade de comprometimento do feto. As formas mais graves destas doenças no recém-nascido ocorrem no período inicial da gravidez. Aumentando o risco de abortos espontâneos, morte fetal, prematuridade, retardo no crescimento fetal e baixo peso. A orientação e triagem antes e durante a gravidez desempenham um importante papel na prevenção de infecções por transmissão vertical. A infecção primária de mulheres grávidas pode levar a sérias consequências. Estas representam perigo de alto grau devido ao curso clínico suave da doença. O diagnóstico da infecção congênita em geral é feito pela detecção de virúria, presença de vírus na urina, nas três primeiras semanas de vida. A técnica de PCR é uma forma eficiente para demonstrar a presença do DNA viral no sangue. Porém, o “Guthrie card”, também conhecido como Teste do Pezinho, é o método mais utilizado. A sorologia torna-se eficiente para acompanhamento de infecção congênita inaparente. Os recém-nascidos também devem ser testados para os organismos TORCH específicos. Nestes casos, a indicação deve ser baseada na história clínica da gestante. A infecção congênita pelo HCMV deve ser diferenciada destas doenças infecciosas que podem causar doença em grávidas. Além de causar defeitos congênitos em seus recém-nascidos. Há recomendações específicas de uso. Apesar do conhecimento da existência de complicações mais tardias da doença. Em geral, as crianças sobrevivem com tratamento específico. Mas, existem casos em que o resultado pode ser fatal. O momento da liberação do resultado deve ser de muita atenção. Os anticorpos do tipo IgM são formados temporariamente e especificamente para um determinado tipo de patógeno. Porém, a resposta com anticorpos do tipo IgG continua por um longo período de tempo. Por esta razão, o diagnóstico positivo para AN02FREV001/REV 4.0 56 anticorpos do tipo IgM indica uma infecção aguda. Um diagnóstico de positivo para anticorpos IgG, sem a presença de anticorpos IgM,
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