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1 LITERATURA E CINEMA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ................................... Erro! Indicador não definido. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3 RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E CINEMA ........................................ 5 O problema da adaptação ................................................................. 10 Linguagens e recursos das artes fílmica e literária ............................ 14 Do texto literário ao filme................................................................... 16 NARRATIVAS LITERÁRIAS COMO FONTE DE INSPIRAÇÃO ........... 18 LITERATURA E CINEMA: PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O ENSINO MÉDIO ............................................................................................. 40 Método recepcional: uma proposta de trabalho ................................. 40 Delineamento da proposta metodológica .......................................... 43 O método recepcional aliado à tecnologia na prática educacional .... 45 Determinação do horizonte de expectativas – cinco etapas .............. 45 Atendimento do horizonte de expectativas ........................................ 48 Ruptura do horizonte de expectativas ............................................... 48 Análise dos objetos ........................................................................... 51 Questionamento do horizonte de expectativas - quatro etapas ......... 53 Ampliação do horizonte de expectativas ........................................... 54 REFERÊNCIAS .................................................................................... 56 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Os assuntos abordados na apostila em questão têm como objetivo estudar a interface Literatura e Cinema, além de apresentar um panorama das possibilidades na área. Os alunos terão a oportunidade de aprimorar a sua técnica narrativa, exercitando a produção de diferentes gêneros literários, como o conto, o ensaio, a crítica e a peça de teatro em um ato. Sabe-se que a literatura brasileira sempre se mostrou uma fonte de inspiração para a música popular brasileira constatando a relação existente entre estes gêneros textuais diferentes. O trabalho com o texto literário em sala de aula constitui-se, muitas vezes, tarefa difícil para o professor de Língua Portuguesa, já que os materiais didáticos “apresentam propostas que escolarizam o texto literário e privilegiam questões alheias à especificidade deste gênero [...] havendo um esvaziamento da complexidade da obra literária no aspecto das diversas vozes presentes no texto...” (PARANÁ, 2007). A literatura não é somente um processo artístico a ser consumido por uma elite experimentada, que se considera única capaz de fruir a produção artística. Ela é um direito que deve ser acessível a todos, inclusive, àqueles que foram excluídos do processo educacional e, atualmente, procuram nos bancos escolares o conhecimento que não tiveram na infância. O cinema, arte típica do século XX, surgiu com nova relação homem/mundo e nova forma de representação do real. Constituiu-se sob Influência da literatura na construção do texto cinematográfico e sua linguagem específica. Essa arte relaciona pontos de contato entre o código literário e o cinematográfico, além de, direcionar as adaptações de obras literárias e do roteiro. A apostila contempla exibição e/ou análise de filmes clássicos inspirados em obras de ficção, como “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, “Fahrenheit 451”, de François Truffaut, “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, “O Processo”, de Orson Welles e “Apocalipse Now”, de Francis Ford Coppola. Também serão discutidas as obras de autores adaptados para o cinema, como Machado de Assis, Erico Verissimo, Rubem Fonseca, Stendhal, Fiódor Dostoiévski e Truman Capote, entre outros. 4 Os textos foram escritos para subsidiar a formação de professores para lidar com questões de ensino de literatura e música. De forma que, essas áreas do conhecimento humano possam ser uma excelente fonte (direta ou alternativa), para promover a democratização do saber e fomentar uma educação mais inclusiva, profunda e abrangente. Em outras palavras, evidencia a possibilidade de trabalhar com diversas práticas pedagógicas, sabendo que, o conhecimento não se fecha em si mesmo, mas, pelo contrário, abre-se em múltiplas possibilidades, e a verdade não se instaura em nenhuma delas. A organização dos materiais é fixada em diferentes autores que discutem, enfocam e orientam a disciplina em questão. Também utilizou-se autores que discutem questões técnicas, sociais e científicas em um certo grau de métodos sociológicos e filosóficos. 5 RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E CINEMA De todas as transformações sofridas pela arte, a maior, com certeza, é o surgimento do cinema. O cinema responde à necessidade de um novo relacionamento homem / mundo e gera nova forma de representação do real. Como sistema estético-expressivo assentado numa pluralidade polifônica de códigos, representa a comprovação da impossibilidade da pureza da arte. O cinema constitui-se numa linguagem específica, possui técnicas próprias, como a montagem, os movimentos de câmera, o tratamento da imagem, embora se valha de outras linguagens e mesmo da língua para compor-se. Disto advém sua singularidade. O processo narrativo do romance tradicional, no qual o narrador era onisciente, é substituído no romance moderno pelo leitor, que passa a decodificá-lo a partir de sua bagagem intelectual. Temos, então, não mais uma leitura, mas uma virtualidade delas. Isso será utilizado pelo cinema. Existem relações de sentido mútuo e certas semelhanças entre cinema e literatura: o contar uma história sob forma visual do narrar, as constantes analogias, ainda que discutíveis entre cena e palavra, sequência e frase. Mas, por outro lado, as linguagens e respectivos códigos entre cinema e literatura distinguem-se não só pela estruturação temporal da narrativa – tempo de projeção / tempo de leitura. A imagem é fato apresentado que, jogando com a duplicação do objeto e o movimento, proporciona nova forma de percepção, através de sua construção ativa. Durante valioso trabalho de restauração do filme Limite, de Mario Peixoto, Saulo Pereira de Mello declara haver tido a percepção de algo essencialmente cinematográfico quando, ao contrapor fotograma por fotograma, verificou que ocorria “um reflexo da existência do filme em ato (que só existe na projeção) sem a projeção”. A partir dessa experiência, Saulo Pereira de Mello propôs-se fazer um mapa “onde se pudesse seguir todo o filme visualmente e não literariamente”. Esse trabalhoum dos maiores escritores em prosa da literatura portuguesa, Eça de Queirós é autor múltiplo, inventivo, original. Ele realiza em 44 suas obras a superação de um estilo, dando um salto para a modernidade literária, que antecipa em vários aspectos: a crítica da linguagem tradicional da narrativa, com enredo não linear, constante metalinguagem; o estilo antirretórica, substantivo; a análise psicológica que anuncia a psicanálise; o humor sutil e permanente, destruindo as ilusões e pieguices românticas, a visão metafísica aguda e relativista de todos os valores, em sentido profundo, e por isso considerada pessimista; a linguagem repleta de ambiguidades e outros recursos estilísticos desconhecidos de seu tempo. Devido a isso é inquestionável a importância literária de O Primo Basílio. Considerado clássico da língua portuguesa, esta obra é um dos principais romances que representam o movimento Realista-Naturalista português. Como romancista com profunda consciência social, Eça fez o que lhe parecia mais lícito: inquietou-se diante das injustiças sociais e na veemência de suas denúncias, na profunda individualização de seus personagens, o artista revelou as próprias ideias e sentimentos. Enquanto intérprete do Realismo e do Naturalismo, Eça de Queirós cultivava o moderno pensamento filosófico e científico de sua geração. O mundo físico passava a ser visto e avaliado sob o prisma da ciência e da experimentação e os valores místicos e religiosos enaltecidos pelo Romantismo eram veementes atacados. A arte literária era uma arma de combate e ação social. Eça abordava, em suas obras, temas sociais: “a condição do clero, o parlamentarismo, a literatura, a educação, a condição da mulher, o adultério, o casamento, ou o jornalismo” (REIS, 2005, p. 13). Nesses contextos, ele concebeu O Primo Basílio, traçando um pequeno quadro doméstico, tendo a família como objeto de interesse. Suas obras são marcadas pelo naturalismo, que enfatiza o determinismo social para explicar a trajetória das personagens. Esses grandes temas de que se nutriu o Realismo-Naturalismo, Eça os acolheu e os disseminou por meio da ficção literária. A qualidade da narrativa, a complexidade com que conflitos são nela expostos, a força das ideias que transmitem e os questionamentos que suscitam dão status aos escritos de Eça. Devido a isso, propõe-se aqui uma atividade de leitura do romance O Primo Basílio e sua adaptação para o cinema, para alunos do Ensino Médio. Nessa atividade, será usado o Método Recepcional, de Aguiar e Bordini, para se trabalhar com os clássicos nas aulas de literatura; e serão 45 analisados alguns aspectos do processo de transcodificação da linguagem da narrativa literária para a linguagem cinematográfica, para motivar a leitura completa das obras. O método recepcional aliado à tecnologia na prática educacional Os procedimentos didáticos aqui adotados têm origem em algumas sugestões encontradas no texto de Aguiar e Bordini - Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas, 1993; e também criadas por nós para a elaboração deste trabalho. As etapas de desenvolvimento: procedimentos didáticos Conteúdo da aula: mulheres ontem e hoje Objetivo da aula: conhecer as personagens femininas mais significativas de Eça de Queirós. Perceber como algumas delas são mulheres de personalidades fortes, misteriosas, ambíguas, estrategistas, que põem em prática seus projetos, inclusive arrastando ou levando consigo os homens que elas dominam. Ênfase para as personagens femininas: Luisa, Juliana e Leopoldina. Filmografia: O Primo Basílio Determinação do horizonte de expectativas – cinco etapas Etapa 1. Em um primeiro momento, para verificar o conhecimento dos alunos nos diversos gêneros existentes nas esferas sociais, o professor pede aos alunos que falem sobre a mulher na sociedade e quais são as leituras midiáticas disponíveis no seu cotidiano. No quadro negro reproduz um mapa mental das mídias mencionadas. 46 Figura 11 - Mapa mental Fonte: Autor Desconhecido Segundo Newman & Mara (1995), esse formato de esquema organiza graficamente as idéias e não há hierarquia. Ele reflete a estrutura cognitiva do aluno, uma ferramenta confiável para representar o conhecimento. Com esse mapa os alunos perceberão que já conhecem várias mídias e que as utilizam para pesquisa, mas reconhecerão que falta pesquisar em várias outras para ampliar mais o conhecimento sobre determinado assunto. Etapa 2. O professor traz para a sala de aula uma quantidade grande de artigos de mídia impressa que fala da mulher (passado e presente) e os distribui entre os alunos. Propõe leitura livre, cada um escolhe a matéria que quer ler. Etapa 3. Terminada a leitura, o professor promove um debate informal sobre os vários assuntos sobre a mulher e suas implicações. O professor sugere que os alunos levantem, das matérias lidas, os elementos que mais os tocaram. Poderão aparecer os mistérios, a profundeza e a riqueza da alma e do psiquismo da mulher. Etapa 4. Depois dessa primeira abordagem, o professor pode levar os alunos para o laboratório de informática e solicitar uma navegação por sites da internet que retratam as mulheres atuais. Nessa atividade, o professor precisa tomar alguns cuidados. É muito fácil se perder no meio de tantas informações, 47 tantos sites diferentes, tantos links. Portanto é necessário passar a eles um roteiro de busca com os links preestabelecidos. O grande desafio é manter o objetivo da busca diante das diversidades de informações. Tem que haver critérios para a busca, para navegar com eficiência é necessário ter novas atitudes, decisões rápidas para extrair a informação desejada. O professor, também, precisa ter consciência que não adianta proibir o uso de certos programas na internet, pois os alunos usam o MSN, o Orkut, o e-mail, os chats, em casa, então é importante conscientizar os alunos sobre o uso da internet e suas consequências. A escola tem que incentivar o uso, tem que usar na sala de aula, mas de forma ética, para que os alunos possam identificar os riscos que correm se usarem sem responsabilidade, tornando-se vítimas. Nesse sentido, para usar o computador na sala de aula é preciso: Desprender do que vem sendo feito na escola tradicionalmente há anos e vislumbrar uma nova realidade do ensino. Nessa nova realidade não há lugar para a decoreba nem para o que não é significativo para o aluno. O que está valendo são todas as tentativas de fazer com que o aprendiz se envolva na construção do seu próprio conhecimento. É também importante lembrar que a obtenção de resultados satisfatórios com o uso do computador depende de como esse equipamento está sendo usado. O computador não faz nada sozinho e nem faz milagres. Ele tem muitos recursos e nos dá acesso a uma infinidade de informações, no entanto, cabe ao professor planejar o uso desses recursos e informações em sua sala de aula. (COSCARELLI, 1999, p. 13) Enfim, cabe ao professor tornar o computador um grande aliado, um instrumento de auxílio para suas aulas. Pelas suas muitas possibilidades de uso, viabiliza aulas mais atrativas e estimula o conhecimento dos educandos para que se tornem mais críticos e melhores cidadãos no futuro. Após a pesquisa no computador, o professor promoverá novo debate e discussões sobre o papel da mulher moderna na sociedade atual. Etapa 5. Montar um painel sobre o assunto pesquisado e expor para que outros alunos possam interagir com o tema. 48 Atendimento do horizonte de expectativas Em outra aula, para atender aos interesses dos alunos pela mulher, o professor direciona o assunto para as mulheres de outra época, as retratadas por Eça de Queirós. São duas etapas Etapa 1. Colocar no quadro o tema: Mulheres queirosianas– mistérios, ambiguidades e traições. Apresentar as características de algumas delas: Luisa, Leopoldina e Juliana (O Primo Basílio), Maria Eduarda (Os Maias), Amélia (O crime do padre Amaro). Depois distribuir fragmentos de textos retirados dos romances apresentando as personagens: O Primo Basílio (capítulo I ); Os Maias (capítulo XV); O crime do padre Amaro (capítulo IV), de Eça de Queirós. Por essa mostra, o aluno perceberá que, na literatura de Eça a mulher deixa de ser aquela heroína idealizada dos românticos e se apresenta como um ser humano completo, com virtudes e vícios, força e fraqueza, sonhos e desejos. As mulheres em Eça são personagens fortes, profundas, inteligentes e ativas, que comandam suas vidas, manipulam seus homens, são misteriosas e ambíguas e têm uns olhares... inexplicáveis, arrebatadores... destruidores!.... Etapa 2. Dividir a turma em grupos e cada um vai estudar as características de uma dessas personagens. Depois vão expor para a turma o que descobriram em relação a cada personagem e farão uma comparação com as mulheres de hoje. Apresentarão as conjunções e as disjunções em relação a elas. Ruptura do horizonte de expectativas Como a atividade de exploração das características e a comparação entre as mulheres revelarão um conjunto de elementos textuais que atrairão os leitores com evidente predominância (as descrições das personagens conterão os temas: sedução, ciúmes, traição, aventura etc.) - esse será o meio de efetuar a transição para uma literatura de ordem mais exigente. São cinco etapas. Etapa 1. Assistir ao filme homônimo adaptado do romance O primo Basílio. Depois, em sala de aula, passar algumas cenas selecionadas para fazer uma análise. 49 Etapa 2. Ao ler os fragmentos dos romances e assistir ao filme, os alunos estarão preparados e motivados para a leitura integral do romance. Propor, portanto, a leitura do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós. Num prazo marcado, segundo orientações do professor, a turma se dividirá em três grandes grupos, cada um encarregado de contar, por escrito, a história de uma das personagens do romance, ou seja, Luísa, Leopoldina e Juliana em O primo Basílio. A vida de cada personagem deverá ser narrada de forma a servir posteriormente de roteiro para teatralização. Assim sendo, deve conter todos os indicadores de espaço, sequências de ações, tempo e caracterização das personagens, bem como as falas. Etapa 3. Estudar com mais atenção as personagens dos textos, do romance e do filme e suas respectivas funções dramáticas dentro da história. Compará-las fazendo um quadro de semelhanças e diferenças. Etapa 4. Analisar os aspectos cinematográficos para a composição da significação das imagens do filme. Napolitano (2006) faz uma distinção das técnicas fílmicas: a) a trilha sonora (ruídos, efeitos e música: são elementos expressivos fundamentais, cuja função é reforçar os efeitos emocionais ou o sentido de uma sequência); b) a fotografia (responsável pela qualidade, pela textura, pelo sombreamento e pelo colorido da imagem que se vê na tela); c) O figurino (elemento expressivo que é visto como puramente instrumental ou ornamental, o figurino também pode expressar mensagens e reforçar identidades das personagens ou de determinadas épocas); d) a câmera (ponto de vista e enquadramento: a câmera guia o olhar, organiza o quadro cênico, enfatiza determinados personagens ou objetos pelo enquadramento - plano geral, plano americano, plano médio, primeiro plano -, conduz o olhar pelo mundo fílmico por meio de seus movimentos e ângulos). Xavier (2005, p. 27, grifos nossos) explica melhor a expressividade do discurso a partir desses planos, que são as tomadas de cenas entre dois cortes. Deixar-se-á a palavra com o autor para explicar as nomenclaturas e as técnicas básicas: 50 Classicamente, costumou-se dizer que um filme é constituído de seqüências – unidades menores dentro dele, marcadas por sua função dramática e/ou pela sua posição na narrativa. Cada seqüência seria constituída de cenas – cada uma das partes dotadas de unidade espaço-temporal. Partindo daí, definamos por enquanto a decupagem como o processo de decomposição do filme (e portanto das seqüências e cenas) em planos. O plano corresponde a cada tomada de cena, ou seja, à extensão de filme compreendida entre dois cortes, o que significa dizer que o plano é um segmento contínuo da imagem. Assim, é na articulação dos planos que se produz um sentido coerente para o texto visual. Xavier (2005, p. 27), ao tomar conceitos de decupagem clássica, classifica quatro planos, e é nessa perspectiva que se propõe a análise para os alunos: • Plano Geral: cenas amplas, mostra todo o espaço da ação; • Plano Médio ou de Conjunto: mostra o conjunto de elementos envolvidos na ação (figuras humanas e cenário); • Plano Americano: corresponde ao ponto de vista em que as figuras humanas são mostradas da cabeça até a cintura, aproximadamente; • Primeiro Plano (close-up): focaliza um detalhe. e) Os objetos: “[...] Desempenham o seu papel, atualizam comportamentos, participam da essência e da existência dos conflitos. Poderão ser interpretados à escala de símbolos, mas apresentam-se com os mesmos direitos dos vivos, porque com eles vivem os pontos de vista que compõem a trama romanesca” (MENDONÇA, 1977, p. 36). Para melhor entender a função dos objetos, faremos uma análise de dois pormenores descritos na obra de Eça. Assim subsidiaremos melhor o professor em sua prática. Os objetos analisados serão o romance A Dama das Camélias e a Voltaire que compõem o espaço da sala de visitas da casa de Luísa e juntamente com este a iluminação do ambiente, a cor, que compõem o quadro doméstico do lar da personagem. Esses objetos, também chamados de pormenores, segundo Mendonça (1977), são muito importantes para uma compreensão plena dos objetivos de Eça e de Daniel Filho, romance e filme respectivamente, colaborando decisivamente para a compreensão do código dramático. 51 A amplitude dos múltiplos significados e interpretações que os pormenores concedem ao leitor remete às palavras de Souza (1990, p. 56), ao comentar a descrição dos pormenores na obra de Eça: Eu entendo que detalhes, geralmente tidos como irrelevantes, por vício de leitura atenta unicamente aos núcleos temáticos, acabam, se forem devidamente organizados e inseridos no intertexto, por esclarecer o significado dos elementos primordiais da estrutura romanesca, e ajudam-nos a melhor compreender a extrema subtileza do ‘processo’ queirosiano. Análise dos objetos O romance A Dama das Camélias e a voltaire No romance, logo no início da narrativa, aparecem os objetos: o romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, que marca o indício do drama da personagem principal; e a voltaire1 que colabora para o adultério. Em uma cena inicial, capítulo 1, Luisa, estendida na voltaire, lia um livro tranquilamente: Tornou a espreguiçar-se. E saltando na ponta do pé descalço, foi buscar ao aparador por detrás duma compota um livro um pouco enxovalhado, veio estender-se na voltaire, quase deitada, e, com o gesto acariciador e amoroso dos dedos sobre a orelha, começou a ler, toda interessada. Era a Dama das Camélias. (QUEIRÓS, 1996, p. 16, grifos nossos) Primeiramente uma análise da Voltaire, que tem no romance uma utilização específica, pois sublinha o estado de espírito de Luísa, e também tem um significado considerável no jogo do adultério. Traduz a preguiça, o cansaço, o alheamento de Luísa: “E depois de jantar ficou junto à janela, estendida na voltaire [...] deixara-se ficar na voltaire esquecida, absorvida, sem pedir luz” (capítulo 3, p. 55-56) ou “Luísa subiu daí a pouco com um largo roupão, muito fatigada; estendeu-se na voltaire; sentia virlheuma sololência” (capítulo 4, p. 79). Por meio dela, interpretam-se as intenções da personagem: sentada na voltaire, pensava “Que vida interessante a do primo Basílio! O que ele tinha visto! Se ela pudesse também fazer as suas malas, partir” (capítulo 3, p. 56). A sua importância equivale a de um personagem ativo na diegese: “E estendida na voltaire [...] lembrou-lhe de repente a notícia do jornal, a chegada do primo 52 Basílio” (capítulo 1, p. 17), como se vê, o objeto estava sempre presente quando pensava no primo, revelando pensamentos íntimos, que colaboravam para a traição. O romance, A dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, narra a história de uma elegante cortesã francesa, em meados do século XIX, que encanta por sua beleza e mantém um romance impossível com um rico homem da emergente burguesia urbana. Na história, ela ficou conhecida como a guardiã da falsa moral burguesa da época. Esse enredo é bastante revelador, pois antecede, como elemento proléptico2 , o drama que Luísa sofrerá. Apesar de histórias muito diferentes, Luísa agirá, no decorrer da narrativa, como uma mulher volúvel ao se relacionar com outro homem, fora do casamento, viverá um romance proibido e morrerá por causa disso, devido aos falsos conceitos moralizantes da época. Etapa 5. Propor a análise das imagens. Abaixo um modelo, do filme O primo Basílio: Figura 12 - O primo Basílio Fonte: Autor Desconhecido 53 Nessas imagens procure identificar: Figura 13 - Análise das imagens para os alunos Fonte: Autor Desconhecido Questionamento do horizonte de expectativas - quatro etapas Etapa 1. Elaborar um roteiro para um documentário, um telejornal. Os seus aspectos técnicos devem ser analisados antes de sua confecção: o cenário, as técnicas de produção (vinheta, enquadramento, entrevistas, opinião etc.). Etapa 2. Solicitar aos alunos que saiam a campo para fazer um documentário sobre o tema “Mulheres: ontem e hoje”, apoiando-se em entrevistas com as mulheres da sociedade da comunidade dos alunos. Para isso é elaborado um roteiro de entrevista pelos alunos, contendo as perguntas que lhes interessem. Etapa 3. De posse do roteiro organizado, os alunos dividem-se em dois grupos e cada um entrevista as mulheres selecionadas (jovens e idosas). Etapa 4. Com base nessa entrevista, cada grupo, valendo-se de algumas reportagens lidas na sala de aula, na internet e vista na TV como modelo, escreve e edita a sua reportagem em vídeo. Esse telejornal deverá incidir sobre as diferenças entre a situação das mulheres jovens e das idosas, observando- se as conjunções e as disjunções; e também as vantagens e as desvantagens. 54 O telejornal possibilita ver e ouvir o mundo, o que nele acontece, construindo assim um conhecimento histórico-social. Nas palavras de Umberto Eco (1970, p. 363): “Há na comunicação pela imagem algo radicalmente limitativo, de insuperavelmente reacionário. E, no entanto, não se pode rejeitar a riqueza de impressões e descobertas que, em toda história da civilização, os discursos por imagens deram aos homens”. Ampliação do horizonte de expectativas A discussão anterior possivelmente levou à constatação de que a diferença básica entre os problemas e comportamentos das mulheres na sociedade moderna está relacionada à posição social, à cultura, ao emprego, à idade, ao preconceito etc. São duas etapas. Etapa 1. De posse dos dados coletados, o professor prepara para a aula seguinte dois cartazes, cada um com uma dessas questões, entre outras: 1) como a sociedade determina o comportamento das mulheres?; 2) Que problemas sociais, culturais afetam a mulher moderna?. Os cartazes são afixados na parede para serem debatidos entre os alunos. O professor os incentiva a relacionar as questões propostas com todo o conteúdo desenvolvido nas aulas anteriores de literatura e com outros livros que tratem de assunto sobre a mulher. Etapa 2. Indicar outros livros de Eça de Queirós e de outros autores que falam da mulher. É estipulado um prazo para a leitura dos livros indicados. No dia marcado, os leitores discutem as dimensões sociais, culturais e outras em que as mulheres dos textos foram inseridas pelo autor. É importante ressaltar que, em atividades dessa natureza, os alunos problematizam as produções de jornal, revista, TV, cinema etc., aprendem a tirar significados das imagens e compará-las com o conteúdo verbal do texto escrito e descobrem que a mídia é um recurso tecnológico importante para o ensino- aprendizagem. A escola tem compromisso com a construção da cidadania. Por isso, em sala de aula, cabe à prática educacional voltar-se para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida das pessoas inseridas na sociedade. Nessa perspectiva é que foi incorporada como 55 tema, a mulher, a contemporânea, em comparação com aquela do século XIX. Suas semelhanças e diferenças para melhor compreensão da realidade social de cada uma delas. A abordagem proposta tem a intenção de fornecer subsídios aos alunos para auxiliá-los a superar os problemas com a leitura e a atribuição de significados que decorrem do modo de construir o texto. Para isso, foram propostos novos conhecimentos que atiçam a imaginação - fundamento de todo ato de leitura, seja de textos verbais ou não – leitura do mundo, desenvolvendo leitores críticos, atuantes, que saibam o papel social que desempenham dentro da sociedade. Os desafios para formar o aluno leitor do texto verbal e não-verbal são de várias ordens, desde as escolhas das estratégias de incentivo à leitura até a concorrência com outras linguagens, sobretudo as visuais e audiovisuais. Então foi a intenção deste artigo aproveitar essa concorrência para propor atividades que estimulem a leitura dessas artes no ensino e aprendizagem. Por tudo que foi pesquisado e analisado, acredita-se que as atividades voltadas para o ensino da leitura e da literatura aliadas à tecnologia podem constituir-se em atividades significativas, nas quais os alunos vislumbrem uma situação real que as justifique. Ao apresentar na sala de aula grandes clássicos da literatura, utilizando o Método Recepcional, pretendeu-se possibilitar aos alunos uma efetiva participação em diferentes práticas sociais, utilizando a leitura com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. 56 REFERÊNCIAS AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. AUMONT, Jacques. A Imagem. 2ª Ed. Campinas: Papirus, 1995. BACK, S. Cinema e literatura. Disponível em: . Acesso em: 23 jul. 2016. BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. São Paulo: UNESP e Hucitec, 1988. BALAZS, Béla. 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O.de elaboração do mapa de Limite, como o autor insiste em chamá- lo, é interessante para o nosso caso, pois evidencia um desejo claro de distinguir a linguagem do roteiro, que desperta a ideia de algo escrito, da linguagem das 6 imagens, visual, que é a do filme. A linguagem cinematográfica, por ser analógica, é muito mais comprometida com a expressão do que com a comunicação. Os debates que se desenvolveram em torno da semiologia do cinema mostram de modo cada vez mais nítido que “o cinema como totalidade é um lugar onde se superpõem e se encaixam vários sistemas significantes e que a linguagem cinematográfica não passa de um deles” (MELLO, 1996). As relações entre cinema e literatura são uma das tantas que entretecem a objetividade da cultura. Dentro dessa relação passam influências de outras zonas da cultura: a sociologia, a filosofia, a psicanálise. Há filmes em que o elemento sociológico passa à linguagem cinematográfica sem a mediação sequer de um texto literário. É natural que o cinema se inscreva no total desenvolvimento da cultura: ao se problematizarem suas próprias técnicas estéticas, abrem-se novos problemas de expressão. Cada filme (produto, mercadoria) é um fato econômico-social. O filme é uma realidade nova que não pode deixar de colocar numerosos problemas de psicologia e de filosofia do conhecimento (a percepção, o real e o imaginário, a imagem). O cinema é assumido como experiência exemplar, como arte típica do século XX, a arte do comportamento. A nova psicologia deveria exigir esta nova arte. Podemos citar Merleau-Ponty: “A nova psicologia faz-nos ver no homem não um intelecto que constrói o mundo, mas um ser que é lançado no mundo, ao qual fica unido como em virtude de um nexo natural”, ao que faz eco Robbe-Grillet: O cinema não apresenta, como o fez durante muito tempo o romance, os pensamentos do homem, mas sua conduta e comportamento, e oferece-nos diretamente esta maneira de estar no mundo, de tratar das coisas e aos demais, que é visível para nós nos gestos, no olhar e na mímica e que define com evidência cada pessoa que conhecemos. Para o cinema, assim como para a psicologia moderna, a vertigem, o prazer, a dor e o ódio são comportamentos. No panorama do cinema do século XX, perfila-se a convergência de autores e obras de cinema e literatura que fazem frequentes intercâmbios (a escola literária do “regard”, do “nouveau roman” e da “nouvelle vague”, o experimentalismo, o cinema direto). Também no cinema reina a contraposição entre “abstratos e figurativos”. A experimentação em várias direções da 7 linguagem cinematográfica trata de adaptar suas expressões à capacidade de captar estados de espírito obscuros e complexas variações de sentimentos e de atmosferas, não encadeados ao nexo habitual cronológico e causal, de tramas postas à prova, pelo que se vai além da experiência fenomênica de coisas e fatos. Trata-se de levar aos meios expressivos de cinema a experiência do tempo mental. O progresso da linguagem cinematográfica tende, com o dos demais meios de expressão, a violar o relevo dos casos excepcionais: preferência pela articulação narrativa paratática, redução do personagem e dos enredos. Para narrar, estão a televisão e o cinema comercial. Ninguém pode negar a especificidade expressiva e a autonomia estética do cinema em relação à literatura de ficção. A pergunta que se faz é: em que termos podemos estabelecer pontos de contato entre o código literário e o código cinematográfico? Em que se baseia o estudo comparativo do cinema e da literatura? Sem dúvida, sobre a existência de certo parentesco e zona comum de interferências. O cinema – em suas diferentes tendências e gêneros –, tanto quanto o romance ou o conto, é um discurso ou uma construção narrativa. Como uma mesma história pode ser narrada em um romance e em um filme? Como estratégias narrativas podem ter equivalentes semelhanças e ao mesmo tempo formas diferentes em um sistema (o do cinema, o das imagens em movimento) e em outro (o da narrativa escrita)? Quando o cinema engatinhava, George Meliès, inventor da animação dos fades, fast e slow motion, fez, em 1900, algo diferente do que se fazia então: decidiu usar o filme para contar uma história e realizou Cinderela. O filme nada mais era do que a ilustração do célebre conto de fadas, à maneira dos livros infantis, mas trazia uma grande contribuição para a tela: a incorporação do relato, da história, aos elementos fílmicos. A partir daí (e ainda em concepções primárias), clássicos como A cabana do Pai Tomás, Romeu e Julieta e Quo Vadis chegaram ao cinema. A maioria dos filmes estava baseada em obras literárias que haviam obtido êxito de público. Com suas películas, Meliès demonstrou que o cinema podia recontar histórias literárias de modo interessante. A adaptação cinematográfica de obras literárias começou no início do século XIX. Para provar isso, podemos referir alguns nomes de uma lista que seria muito extensa, visto que todos os grandes autores do romance clássico 8 (Cervantes, Flaubert, Balzac Dostoievski, Tolstoi) foram adaptados ao cinema. O mesmo se poderá dizer de autores mais modernos como Jack London, Henry James, Franz Kafka, Ernest Hemingway ou William Faulkner. Diversos estudos estatísticos de Hollywood referem que a adaptação de obras literárias e contos curtos oscilou entre 20% e 50% do material temático daquela indústria. Com as adaptações, surgia um importante elemento – o roteirista – que nos anos 40 e 50 faria a glória de companhias como a Metro ou a Fox, ajudando a engrossar as filas ansiosas de verem obras como E o vento levou ou as gracinhas da menina-prodígio Shirley Temple. Na elaboração de tais roteiros, foram empregados, nem sempre com total aproveitamento, os talentos de escritores como William Faulkner, Dashiel Hammet, Lillian Hellman, Aldous Huxley, Scott Fitzgerald, John Steinbeck. Apesar de que muitos diretores tenham procurado material para suas películas em obras literárias, existem alguns que se opõem a este procedimento. Alain Resnais afirma que “não gostaria de filmar a adaptação de um romance”, pois crê que “o escritor já se expressou por completo no romance e querer fazer um filme dele é como requentar uma comida”. Como Pasolini assinalou, na tentativa de explicar seu “cinema de poesia” – ele que de escritor passou a roteirista de Noites de Cabiria, por exemplo, e de roteirista aclamado a cineasta de Mamma Roma e Teorema – a diferença fundamental entre a linguagem cinematográfica e a literária está em que “somente um conjunto de imagens pode alcançar, ainda que toscamente, o poder significativo de uma só palavra (escrita)”. Pasolini, naturalmente, estava falando da expressão – ao nível de imagens – das ideias de um autor na tela. Mas tal conceito, aplicado aos roteiros propriamente ditos, explicaria por que tantos escritores, comprovadamente excelentes, foram péssimos roteiristas. E, em contrapartida, por que tantos escritores corretos, mas não brilhantes, transformaram romances de segunda categoria em obras-primas do celulóide. Na Argentina, Borges (1900-1986) citado por Godard e Resnais, foi um cinéfilo reconhecido. Possivelmente, seu interesse pelo cinema começou no período passado em Madri, em 1919, quando os ultraístas espanhóis seguiam de perto o futurismo italiano, por sua vez influenciado pela estética cinematográfica (a montagem e o movimento). 9 Leopoldo Torre Nilsson (1924-1978) foi um dos realizadores cinematográficos que maior consciência teve da função narrativa do cinema e de suas relações – enquanto relato – com a literatura de ficção. Ele realizou a primeira adaptação de um texto de Borges ao cinema. Não só escreveu seus roteiros com a romancista Beatriz Guido – vários são adaptações de algumas obras desta escritora – como foi o diretor quemais se interessou pela narrativa argentina como fonte ou motivação de sua estética fílmica. Esta dupla atração pela narrativa literária e pela imagem marca talvez toda a sua obra cinematográfica e transparece nas reflexões que expressou sobre seu trabalho criativo. “O cineasta deve ser um romancista” – diz Torre Nilsson. “Cada vez mais o cineasta deve ser um romancista e o romancista um cineasta, na medida em que tenha algo para narrar”. E acrescenta: “Sei que sou duas pessoas: uma que escreve e outra que filma. Gostaria que as duas se juntassem e pressinto que em minha carreira devem ter-se juntado”. No tocante aos cruzamentos dialógicos entre a sétima arte e a literatura, lembremos as palavras de Borges, reportando-se aos seus primeiros contos: [...] derivam, creio, das minhas releituras de Stevenson e Chesterton e ainda dos primeiros filmes de Von Sternberg e talvez de certa biografia de Evaristo Carriego. Abusam de alguns processos: as enumerações díspares, a brusca solução de continuidade, a redução da vida inteira de um homem a duas ou três cenas. Ao sublinhar os momentos significativos de que se compõe a obra de Von Sternberg, atraído pela estilização de personagens e ambientes, verifica que o cinema lhe ofereceu a possibilidade de vincular esses momentos mediante uma sintaxe menos discursiva que a verbal. É também indiscutível a influência da literatura na construção do texto cinematográfico. Com efeito, o cinema e a literatura partilham ambos de um conjunto de homologias estruturais (como diria Umberto Eco), a começar pela presença transnarrativa das categorias do espaço e do tempo. E como nesse âmbito a precedência pertence à literatura, não admira que esta se tenha, em diversos casos, traduzido como modelo. De fato, o cine - ma, jovem arte de pouco mais de cem anos, configurou grande parte de sua estética a partir do sistema semiótico literário. É sintomático que Griffith, isto é, aquele que a crítica 10 celebra como pai do cinema enquanto arte (arte de ficcionalizar eventos), tenha equacionado as formas básicas da representação fílmica a partir da narrativa de Dickens, nomeadamente o signo técnico-narrativo da montagem paralela, como sublinhou Eisenstein. O problema da adaptação Há várias maneiras de realizar a transposição de uma obra literária – mais comumente o romance – ao cinema. Nesse caso, o adaptador ou diretor tem três possibilidades: 1) O diretor põe-se a serviço da obra e transmite o conhecimento da mesma para uma plateia de espectadores, fielmente. É o caso da adaptação de Thérèse Desqueyroux, de Emile Zola, onde se recorre com demasiada freqüência, em momentos importantes da narrativa, à voz da atriz em “off”, que condensa em primeira pessoa diversas passagens do romance. 2) O diretor realiza uma espécie de parceria e tenta completar o texto literário com o acréscimo cinematográfico. Parece-nos o caso de Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade (1969), em que o cineasta dialoga com a “chanchada”. O erro grave, para Baldelli, neste caso, reside num objeto híbrido que pretenda dinamizar o estático texto teatral ou literário com as acrobacias da câmera e a variação de cenários. 3) O diretor, impondo seu signo pessoal ao texto literário, distância a obra literária do filme. O primeiro elemento da relação desce à qualidade de “matéria” e converte-se em sinônimo de pretexto ou ponto de partida. O cineasta, ao adaptar um romance, dada a inevitável mutação, não o converte: apenas manipula uma espécie de paráfrase – o romance como matéria-prima. O cineasta não se torna um tradutor de determinado autor – ele próprio é um novo criador de outra forma artística. De um lado, o romance limita-se por uma linguagem, uma audiência muitas vezes reduzida e uma criação individual. Por outro, os limites do filme constituem se de uma imagem movente, uma audiência de massa e uma produção industrial. 11 A especificidade de cada meio, ressaltada de seu impacto com uma mesma narrativa, foi objeto de comparação de vários estudiosos como George Bluestone, Seymour Chatman, Robert Richardson, para citar alguns. Metz, em seus estudos de base semiológica, preocupa-se também com a especificidade cinematográfica revelada pela contraposição de textos literários e fílmicos. Essa intertextualidade orienta-se no sentido de considerar o discurso fílmico produzido pela linguagem cinematográfica. Para Bluestone, o romance e o cinema representam diferentes gêneros estéticos, tão diferentes entre si como poderá ser o balé em relação à arquitetura e, assim, o filme converte-se numa coisa diferente, da mesma maneira que um quadro sobre um tema histórico é diferente do fato histórico que ilustra. Balazs coloca com clareza o problema da legitimidade da conversão do significado, história e trama do romance para a forma cinemática. Admitindo possibilidade de sucesso em ambas as formas, assume que o assunto ou a história de ambos os trabalhos é idêntica, o conteúdo deles é que, todavia, é diferente. E esse conteúdo diferente é adequadamente expresso na forma modificada resultante da adaptação. O cineasta, partindo da especificidade fílmica, deve enfocar o romance a ser metamorfoseado como matéria prima da realidade crua, de onde relevará personagens e eventos como novos conteúdos modeladores. Segue-se que o livro e o roteiro (a ser filmado) são quase indistinguíveis, para além desse ponto de interseção, romance e filme divergem quanto à especificidade de cada um. Em que consiste a autonomia do meio cinematográfico? Existe uma linguagem cinematográfica específica, apta para definir a autonomia da interpretação cinematográfica de um texto literário? E quanto da experiência cinematográfica passa aos escritores contemporâneos? Que interferências e combinações têm lugar hoje entre cinema e literatura tanto na temática quanto nas relações com a indústria cultural? Segundo Pratolini, [...] o romance acumula fatos e circunstâncias servindo-se das palavras; para existir, necessita que o leitor empreste a cumplicidade 12 da própria imaginação; seu movimento está subordinado à inteligência, ao estado de espírito, à saúde do leitor. Da descrição – ainda na mais minuciosa do aspecto, da fisionomia de um personagem, cada leitor deduz ou reinventa uma imagem particular segundo a própria capacidade fantástica, os costumes, a própria natureza [...]. existem tantos rostos de Renzo e Lucia quantos são os leitores que aprenderam a história e é sabido como um rosto elaborado através da memória sofre sucessivamente infinitos matizes com que o leitor encobre os fatos e inclusive a concreção das reflexões. O filme, ao contrário, apresenta o resultado desta meditação mastigado e digerido. Essa identificação que o próprio teatro exige até o ponto de transportar o espectador sobre o cenário não é que o cinema a recuse mas a dá por adquirida. Lúcia é esta Lúcia e é assim como caminha... O filme levou a cabo a síntese entre realidade e imaginação. Sua verdade é explícita... O que sucede no filme sucede no exato momento em que está sucedendo. Portanto, o tempo do romance não é jamais o do cinema e vice-versa: não existe entre eles contemporaneidade narrativa (de ação) como tampouco existe contemporaneidade de ritmo (de estilo). Comparando cinema e literatura, Metz analisa o tratamento dado ao espaço e ao tempo, na imagem fílmica e na linguagem verbal. No romance, o espaço é abstrato (significado por palavras) e o tempo é intensamente marcado na sequencialidade da obra e da duração da leitura. No filme, que é também uma cadeia narrativa, as marcações temporais são difíceis, enquanto que o espaço perceptível, concretizado, vem antes do tempo e o determina. J. H. Lawson menciona como qualidades exclusivas do cinema: movimento, montagem europeia, primeiro plano,substrato social: O conflito de indivíduos ou grupos, projetado na tela, possui uma característica que não é possível encontrar em nenhuma outra estrutura narrativa. O conflito cinematográfico acha-se em constante movimento. O romance não possui nenhum elemento de tal potência visual, nem o cenário tal liberdade de movimento. Outra diferença entre romance e cinema, segundo Lawson, é que “o conflito cinematográfico provoca uma tensão visual (choque físico) que não é necessária para o romance”. 13 A segunda peculiaridade reside na montagem europeia (ou soviética ou acelerada). A ação cinematográfica distingue-se pela “excepcional mobilidade da câmera”. Estas regras para a composição cinematográfica funcionam também para o romance. Certas teorias tratam de basear o “específico cinematográfico” na técnica e na distinção entre espetáculo e cinema. Chiarini compartilha o ponto de vista de G. Della Volpe: a convicção de que a teoria geral de arte (ou estética) tende cada vez mais a configurar-se como resultado, ou melhor, como sistema elástico das poéticas ou teorias específicas. Para G. Della Volpe, com o neo-realismo italiano, o cinema volta a suas origens, com a consciência da autonomia de seus meios expressivos: redescobriu quase instintivamente o valor essencial documental do cinema, que dá um passo adiante pelo caminho de seu distanciamento do espetáculo e, por conseguinte, da “total emancipação de seus nexos com a literatura, o teatro, as artes figurativas e qualquer forma de elaboração literária (argumento, roteiro), para encontrar sua matéria natural na realidade. A câmera obrou sobre o homem descobrindo lhe a possibilidade de representação de um mundo totalmente novo: ‘aquilo que o circunda’”. Moravia apresenta como remédio para o cinema a adaptação de romances: 1) Através da adaptação cinematográfica de romances obtém-se “a circulação das idéias da cultura no cinema, o que de outro modo é impossível pelo baixo nível cultural dos argumentistas”. 2) “Num argumento natural”, diz Moravia, “é necessário acrescentar o que nem sempre é possível; num romance é suficiente tirar, operação que se torna mais fácil”. 3) O romance serviria como antídoto contra “alguns males do cinema, como estrelismo, caricatura, pornografia... Justamente as adaptações são cozinhadas com esses ingredientes...”. Moravia diz que um escritor não deve exigir que um diretor seja fiel a seu livro: pode pedir-lhe apenas que faça um belo filme. Não se pode identificar todo o cinema com um dos aspectos da experiência cinematográfica, limitando seu diapasão, como Moravia, quando diz: 14 A imagem cinematográfica não dispõe dos matizes nem gradações que são próprias da palavra... O cinema tem limitações devidas a seu caráter de arte tipicamente de comportamento: por exemplo, o cinema não poderá restituir-nos, jamais, em termos cinematográficos, o tempo de Proust. A passagem da linguagem verbal à cinematográfica pode conduzir à descoberta de certos traços de funcionamento, válidos para as duas linguagens, mas que, em razão da natureza particular do cinema, são mais facilmente visíveis neste último que na linguagem verbal. Linguagens e recursos das artes fílmica e literária Talvez a definição mais aceita de adaptação seja a de “transcriação”, termo de Haroldo de Campos que prevê a transferência de um sistema de signos (literatura) a outro (cinema), mas não de forma extremamente fiel. A criação é permitida, mas de modo que a base da história literária não seja alterada. Portanto, desvios mínimos são permitidos, à medida que o roteirista, para fazer a adaptação do texto original, deve partir da seleção de cenas, o que, resulta em cortes, principalmente, e na condensação de vários personagens em apenas um. Ambos os processos são amplamente utilizados, já que, nas adaptações, o que dita às regras é o tempo, pela necessidade de contar uma obra de duzentas páginas ou mais em apenas duas horas, duração média dos filmes de longa metragem. Outros processos que aparecem nas adaptações são os acréscimos e a ampliação da participação de determinado personagem. Para transpor para as telas um texto primeiro pensado literariamente, o cinema empresta recursos literários, o que é possível, pela presença dos elementos da narrativa também no filme. O filme, assim como o texto escrito, deve ter um enredo, que envolve personagens, que, por sua vez, movem-se em determinado ambiente, agindo de forma a inscrever os fatos em determinada ordem, cronológica ou não. Além disso, o papel do narrador no texto pode ser relacionado ao posicionamento da câmera, por exemplo, já que os recortes do que é mostrado na tela determinam se o espectador terá um ângulo amplo ou restrito de visão. Isso sem falar nos filmes que optam por uma narração explícita, como é o caso do filme Memórias póstumas, de André Klotzel. A câmera funciona para aproximar o espectador do personagem, por exemplo, quando a 15 opção é pelo primeiro ou primeiríssimo plano. Isso equivale ao narrador detalhista e que enfatiza a emoção suscitada no leitor, pelas ações dos personagens. Da mesma forma, as câmeras baixa e alta podem indicar atitudes de enaltecimento e inferiorização, respectivamente, do narrador frente aos personagens. A cena também é uma unidade do universo literário, apesar de, hoje, seu conceito ser imediatamente relacionado ao aspecto visual e aos meios de comunicação que têm a visualidade como elemento principal, como o cinema e a televisão. Marinyse Prates de Oliveira, em seu artigo Laços entre a tela e a página, faz referência ao surgimento do videocassete como um marco do entrelaçamento entre literatura e cinema, já que as possibilidades oferecidas por esse aparelho, de adiantar e retroceder o filme, equivalem às possibilidades que o livro oferece ao leitor, de avançar algumas páginas e, principalmente, de voltar a partes, para tentar compreender melhor determinada parte da história. Nas palavras da autora: “O surgimento do videocassete, não há dúvida, possibilitou um aprofundamento dessa relação que já era naturalmente estreita. Ao facultar ao espectador interferir no processo de projeção, retrocedendo, adiantando ou interrompendo-o, o vídeo conferiu ao espectador do filme as facilidades de manuseio próprias do leitor de livros” (OLIVEIRA, 2016). E há que se mencionar a aproximação feita por Aguiar e Silva, que define também o filme como texto, definindo – como um “conjunto permanente de elementos ordenados, cujas copresença, interação e função são consideradas por um codificador e/ou por um decodificador como reguladas por um determinado sistema sígnico” (SILVA, 1988, p. 597-598). Não só a literatura sempre serviu, desde que o cinema foi inventado, como matéria- prima para os filmes, dos mais diferentes gêneros, como vários escritores da literatura universal foram contratados como roteiristas. Como exemplos, podem ser citados os nomes de Scott Fritzgerald, William Faulkner e Aldous Huxley, entre outros. Além desses, Marinyse Prates lembrou ainda os nomes de Gore Vidal, James Age e Nathanael West. 16 Marynise Prates, em seu artigo, cita Paulo Emílio de Salles Gomes, que vai além do parentesco entre literatura e cinema. Para ele, “o cinema é tributário de todas as linguagens, artísticas ou não, e mal pode prescindir desse apoio que eventualmente digere” (OLIVEIRA, 2016). De todas essas linguagens, o crítico menciona a literatura e o teatro como as artes que têm mais afinidade com o cinema. Do texto literário ao filme Para Jorge Furtado, a principal dificuldade do roteirista é concretizar sentimentos e sensações, pois, segundo ele, o roteiro de um filme deve ser visual, já que no cinema não ocorre como na literatura, que, através das palavras, leva o leitor a imaginar o que estáFilme Don McKellar 25 Figura 4 - Quem Quer Ser um Milionário?, adaptado por Simon Beaufoy O filme foi baseado no livro Q&A de Vikas Swarup e, sendo uma livre adaptação, tem diversas mudanças importantes na trama. O maior mérito de Beaufoy não se concentra nos diálogos, mas sim, na forma como a história do pobre Jamal Malik é mostrada. Fonte: Filme Simon Beaufoy Figura 5 - Frost/Nixon De Peter Morgan tem sua origem na própria peça de Peter Morgan e, imediatamente chamou a atenção pelo material de alto nível sendo logo adaptada para o cinema. 26 Fonte: Filme Peter Morgan Figura 6 - Dúvida, filme dirigido por John Patrick Shanley, tem seu roteiro baseado na peça. Fonte: Filme John Patrick Shanley 27 Figura 7 - Doubt: A Parable De sua própria autoria e pela qual venceu o prêmio Pulitzer. Basicamente envolve quatro personagens relacionados em um suposto caso de pedofilia, sendo brilhante pela forma como envolve o espectador. Fonte: Filme John Patrick Figura 8 - O Curioso Caso de Benjamin Button Dirigido por Eric Roth e Robin Swicord foi baseado num conto de F. Scott Fitzgerald .Difícil tarefa de transpor um conto para um longa de mais de duas horas e com trama que exige o trabalho de um roteirista experiente. 28 Fonte: Filme Eric Roth e Robin Swicord Figura 9 - O Leitor, dirigido por David Hare Foi adaptado do livro de Bernhard Schilink. Para alguns críticos o grande problema do filme foi que a história de Michael Berg e Hanna Schmitz ser tratada de uma maneira muito distante na segunda metade do longa, exatamente quando ele precisava de algo mais marcante para ficar com o espectador após o fim da sessão. Fonte: Filme David Hare 29 Por isso deduzimos que em Cinema e Literatura temos uma liberdade ambígua, pois, a mais simples enunciação literária, digamos: “José saiu apressadamente de sua casa em direção à escola”, exige, do cineasta, a solução de uma série de problemas que o desafiam de imediato: José é menino, adolescente ou adulto? Que cor de pele e outros aspectos físicos que caracterizam José? Como se veste ele? Que características tem sua casa? O que significa, para uma imagem cinematográfica, o advérbio apressadamente? Como é a escola? Esta direção significa à esquerda ou à direita, ladeira ou rua plana, ladeada de árvores, asfaltada, ou ainda uma simples estrada de terra batida? Muitas outras questões serão ainda colocadas, se pretende o cineasta transformar um texto literário – ou mesmo um argumento original – inicialmente anotado com palavras - num roteiro cinematográfico e, enfim, constituí-lo num filme. Embora algumas questões possam ser respondidas a contento, mediante análise acurada do contexto que a passagem literária apresente, a verdade é que, sobretudo nos textos contemporâneos, raramente todos os dados – e alguns deles essenciais – são fornecidos ao diretor. Na relação tida como normal entre literatura e cinema, contudo, verifica- se que, em geral, a arte mais nova busca apropriar-se das formas narrativas literárias, ainda que o cinema, em seus primórdios, isto é, à época dos primitivos realizadores soviéticos, não se tenha inspirado na literatura, mas sim em argumentos escritos especificamente para ele. Seja como for, e embora não se possa defender a tese simplista de que pelo mero fato de adaptar um texto literário o filme dele resultante lhe fique aquém – pois se conhecem vários argumentos originais que igualmente resultaram em filmes apenas precários – a verdade é que, de maneira geral, o espectador que tenha lido um texto literário, ao vê-lo projetado na tela, não escapa a uma certa frustração, quando não reconhece, naquela transposição, a imagem esperada. O filósofo Evaldo Coutinho (1911-2001), a propósito, lembra que, na verdade, o espectador, nestes casos, depara-se, ainda que inconscientemente, com uma dupla imagem: de um lado, aquela esperada e antevista pela leitura e, de outro, a imagem concretamente visualizada no filme, na concretização que dela fez o diretor. 30 Assim podemos constatar que boa parte dos teóricos do cinema afirma que, de modo geral, o cinema tem sido prejudicado em sua dependência da literatura, embora reconheçam uma proximidade entre estas duas formas de arte. Alguns chegam mesmo a profetizar uma proximidade sempre crescente e fecunda, quando não já corrente em relação a romancistas contemporâneos capazes de analisar estados de espírito e impressões sensíveis – mais do que criação de simples enredos – alegorias universais, enfim, alcançando compreensão plena em qualquer parte do globo terrestre. Lembram estes autores que, em relação ao modelo real, o modelo artístico é sempre uma de suas modalidades, a qual se impõe em detrimento de outras tantas, virtuais, e que, neste sentido, não caberia se exigir pura e simples fidelidade de um filme ao texto literário original. Caberia sim, precaver-se, isso sim, de pretender dinamizar um texto estático, como o literário, em relação ao cinema, com excessiva mudança de câmera ou variação de cenários. Seja como for, existem algumas aproximações bastante evidentes entre essas duas formas artísticas: ambas são fruídas com os olhos, tanto os do leitor, quanto os do espectador, e ambas se desenrolam e se constroem no tempo, criando certas continuidades e expectativas. A literatura constitui-se numa linguagem simples, que se transmite pela palavra, enquanto que o cinema é uma linguagem complexa, compreendendo códigos superpostos, e por vezes os mais díspares possíveis, bastando um simples exemplo: No filme existencialista Profissão - repórter, Antonioni (1975) coloca um casal chegando a Barcelona e embrenhando-se pelos corredores de um prédio construído por Antoni Gaudi (1852-1926). Tanto o homem quanto a mulher apresentam fundamentalmente o desafio da incomunicabilidade, e a relação que o cineasta cria entre eles e o cenário, num plano geral que os focaliza cada qual numa sacada, separados por uma parede dizendo dois monólogos paralelos, exige do espectador um certo conhecimento da arquitetura de Gaudi, para conscientizar-se do significado daquela sequência. Em compensação, o cinema pode ser visto como uma forma direta de apreensão e exploração de dados reais a fim de convertê-los em entidades representativas, simbólicas – alegóricas; dizíamos antes, caracterizando-se por 31 um imediatismo em sua apreensão e assimilação, pois o filme não é algo pensável, mas perceptível. As problemáticas relações entre literatura e cinema têm feito com que alguns estudiosos, como Evaldo Coutinho reconheçam o cinema apenas naquela essência de seus originais, ou seja, a imagem branca e preta e não sonora, constituindo-se então, à semelhança da música, em linguagem verdadeiramente universal e original. Outros, contudo, não negam a presença da palavra no cinema, embora façam algumas advertências, como o filósofo fenomenologista Merleau Ponty (1908-1961), para quem “um filme sonoro não é um filme mudo acrescido de sons e palavras, unicamente destinadas a completar a ilusão cinematográfica”, já que a palavra não tem a missão de aduzir ideias às imagens e, nem a música, sentimentos. Um filme se faz de silêncios e diálogos, da mesma forma que o texto literário mescla narração e diálogo. A palavra deve ser relativa à imagem, intervindo como elemento significativo, discreto, e sem superar em dramaticidade e plasticidade a própria imagem. Não é por acaso, como relembra Geraldo Santos Pereira, que o escritor Guimarães Rosa, quando discutia com aquele diretor a transposição ao cinema de Grande Sertão: Veredas (1965) insistia nos perigos do diálogo redundante, incapazes de projetar a imagem cinematográfica mais além, ou absolutamente desnecessário em face dela. Alberto Cavalcanti,diante da leitura, influenciado, porém, por um contexto social. A terceira enfatiza o horizonte de expectativas, o autor apresenta a idéia de que é possível medir o caráter artístico de uma obra literária tendo como referência o modo e o grau como foi recebida pelo público nas diferentes épocas em que foi lida. A quarta tese aponta a relação dialógica do texto, uma vez que, para o leitor, a obra constitui-se respostas para os seus questionamentos. Na quinta, Jauss discute o enfoque diacrônico que reflete sobre o contexto em que a obra foi produzida e a maneira como ela foi recebida e re-produzida em diferentes momentos históricos. A sexta tese refere-se ao corte sincrônico, no qual o caráter histórico da obra literária é visto no viés atual. Na última tese, o caráter emancipatório da obra literária relaciona a experiência estética com a atuação do homem em sociedade, permitindo a este, por meio de sua emancipação, desempenhar um 41 papel atuante no contexto social. (PARANÁ, 2009, p. 58-59, grifos nossos) Compartilhando da teoria de Jauss, Wolfgang Iser apresenta a Teoria do Efeito. Ele trabalha com os conceitos de “leitor implícito”; “estruturas de apelo” e “vazios do texto”. Para Iser (1996, p. 73) “ [...] a concepção de leitor implícito designa [...] uma estrutura do texto que antecipa a presença do receptor”. Assim, no ato da escrita ocorre uma previsão, por parte do autor, de quem será o seu interlocutor. Um leitor ideal, e nem sempre real. É na recepção que o texto significa, por isso ele permite múltiplas interpretações. Mas não aberto a qualquer interpretação. Há pistas, estruturas de apelo, que direcionam o leitor para o seu significado, para uma leitura coerente. Além disso, o texto também traz lacunas, vazios, que podem ser preenchidos conforme o conhecimento de mundo do leitor. Partindo desses pressupostos, as professoras Bordini e Aguiar (1993) elaboraram o Método Recepcional, que é o objeto de estudo nesse trabalho. O método apresenta cinco etapas, cabendo ao professor delimitar o tempo de aplicação de cada uma delas, de acordo com o seu plano de trabalho. No texto das Diretrizes encontra-se a descrição dessas etapas: A primeira etapa é o momento de determinação do horizonte de expectativa do aluno/leitor. O professor precisa tomar conhecimento da realidade sóciocultural dos educandos, observando o dia-a-dia da sala de aula. Informalmente, pode-se analisar os interesses e o nível de leitura, a partir de discussões de textos, visitas à biblioteca, exposições de livros, etc. Na segunda, ocorre o atendimento ao horizonte de expectativas, o professor apresenta textos que sejam próximos ao conhecimento de mundo e às experiências de leitura dos alunos. Para isso, é fundamental que sejam selecionados obras que tenham um senso estético aguçado, percebendo que a diversidade de leituras pode suscitar a busca de autores consagrados da literatura, de obras clássica. Em seguida, acontece a ruptura do horizonte de expectativas. É o momento de mostrar ao leitor que nem sempre determinada leitura é o que ele espera, suas certezas podem ser abaladas. [...] Após essa ruptura, o sujeito é direcionado a um questionamento do horizonte de expectativas. O professor orienta o aluno/leitor a um questionamento e a uma autoavaliação a partir dos textos oferecidos. O aluno deverá 42 perceber que os textos oferecidos na etapa anterior (ruptura) trouxeram-lhe mais dificuldades de leitura, porém, garantiram-lhe mais conhecimento, o que ajudou a ampliar seus horizontes. A quinta e última etapa do método recepcional é a ampliação do horizonte de expectativas. As leituras oferecidas ao aluno e o trabalho efetuado a partir delas possibilitaram uma reflexão e uma tomada de consciência das mudanças e das aquisições, levando-o a uma ampliação de seus conhecimentos. (PARANÁ, 2009, p. 74-75, grifos nossos) É inserida nesse contexto que se fará a proposta de atividade com o clássico de Eça de Queirós. O texto literário dialoga com outras áreas, com a arte cinematográfica, que pode servir de base para a ampliação dos horizontes de expectativas dos alunos/leitores. Essas teorias servem como suporte teórico para construir uma reflexão sobre o ensino de literatura na sala de aula, levando em conta o papel do leitor e a sua formação, pois a leitura não se restringe mais ao ato de juntar as letras para formar sílabas e posteriormente palavras. Orlandi (2000, p. 40), ao refletir sobre leitura afirma que: A convivência com a música, a pintura, a fotografia, o cinema, com outras formas de utilização do som e com a imagem, assim como a convivência com as linguagens artificiais poderiam nos apontar para uma inserção no universo simbólico que não é a que temos estabelecido na escola. Essas linguagens não são alternativas. Elas se articulam. E é essa articulação que deveria ser explorada no ensino da leitura, quando temos como objetivo trabalhar a capacidade de compreensão do aluno. Esse enfoque vai ao encontro da fala apresentada nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa, (2009). Conforme este documento, ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais - jornalística, artística, judiciária, científica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, bem como, a leitura de imagens, fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente o universo cotidiano, propiciando o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude de resposta diante deles. 43 Sob esse ponto de vista, a leitura de textos diversos amplia o imaginário e a memória discursiva do leitor. É preciso, então, que a escola, como espaço privilegiado de aprendizagem, possa contribuir para a formação desse leitor, a qual exige que o professor também se capacite num leitor de textos, atuando como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas. Delineamento da proposta metodológica A proposta de trabalho em sala de aula apresentada aqui, de acordo com Bordini e Aguiar (1993), tem como objetivos: efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação ao seu próprio horizonte cultural; transformar os próprios horizontes de expectativas. Por meio dessa proposta, espera-se que o aluno de Ensino Médio se identifique como sujeito que pode sentir, pensar e transformar. Propõe-se uma atividade que interpele os sentidos, desloque significações e perturbe a aprendizagem, virando pelo avesso o conhecimento ilimitado do mundo. Obra escolhida: O primo Basílio - romance e adaptação fílmica. Para se trabalhar com filmes na sala de aula, o aluno não pode achar que o filme serve somente para não fazer lição na sala. O professor atento às adaptações para o cinema encontrará vasto material para propor atividades que estimulem a relação do aluno com o livro. Ele pode apresentar o filme como incentivo para a leitura do livro, conforme Nagamini (2004, p. 16): “O desenvolvimento de atividades abordando o processo de transposição é uma das possibilidades para despertar o interesse pela obra literária e estimular momentos de discussão e descoberta do livro, no espaço escolar”. Propõe-se uma análise do romance O primo Basílio, grande clássico da literatura portuguesa. Livre da contaminação novelesca comum no Romantismo, complexo, irônico, com rigor artístico, arma de ação revolucionária e reformadora de consciências. Assim são os romances de Eça de Queirós. Justamente por isso eles devem ser trabalhados na sala de aula: para permitir que os alunos conheçam textos clássicos e aprendam a apreciar a literatura de qualidade. Consideradoum dos maiores escritores em prosa da literatura portuguesa, Eça de Queirós é autor múltiplo, inventivo, original. Ele realiza em 44 suas obras a superação de um estilo, dando um salto para a modernidade literária, que antecipa em vários aspectos: a crítica da linguagem tradicional da narrativa, com enredo não linear, constante metalinguagem; o estilo antirretórica, substantivo; a análise psicológica que anuncia a psicanálise; o humor sutil e permanente, destruindo as ilusões e pieguices românticas, a visão metafísica aguda e relativista de todos os valores, em sentido profundo, e por isso considerada pessimista; a linguagem repleta de ambiguidades e outros recursos estilísticos desconhecidos de seu tempo. Devido a isso é inquestionável a importância literária de O Primo Basílio. Considerado clássico da língua portuguesa, esta obra é um dos principais romances que representam o movimento Realista-Naturalista português. Como romancista com profunda consciência social, Eça fez o que lhe parecia mais lícito: inquietou-se diante das injustiças sociais e na veemência de suas denúncias, na profunda individualização de seus personagens, o artista revelou as próprias ideias e sentimentos. Enquanto intérprete do Realismo e do Naturalismo, Eça de Queirós cultivava o moderno pensamento filosófico e científico de sua geração. O mundo físico passava a ser visto e avaliado sob o prisma da ciência e da experimentação e os valores místicos e religiosos enaltecidos pelo Romantismo eram veementes atacados. A arte literária era uma arma de combate e ação social. Eça abordava, em suas obras, temas sociais: “a condição do clero, o parlamentarismo, a literatura, a educação, a condição da mulher, o adultério, o casamento, ou o jornalismo” (REIS, 2005, p. 13). Nesses contextos, ele concebeu O Primo Basílio, traçando um pequeno quadro doméstico, tendo a família como objeto de interesse. Suas obras são marcadas pelo naturalismo, que enfatiza o determinismo social para explicar a trajetória das personagens. Esses grandes temas de que se nutriu o Realismo-Naturalismo, Eça os acolheu e os disseminou por meio da ficção literária. A qualidade da narrativa, a complexidade com que conflitos são nela expostos, a força das ideias que transmitem e os questionamentos que suscitam dão status aos escritos de Eça. Devido a isso, propõe-se aqui uma atividade de leitura do romance O Primo Basílio e sua adaptação para o cinema, para alunos do Ensino Médio. Nessa atividade, será usado o Método Recepcional, de Aguiar e Bordini, para se trabalhar com os clássicos nas aulas de literatura; e serão 45 analisados alguns aspectos do processo de transcodificação da linguagem da narrativa literária para a linguagem cinematográfica, para motivar a leitura completa das obras. O método recepcional aliado à tecnologia na prática educacional Os procedimentos didáticos aqui adotados têm origem em algumas sugestões encontradas no texto de Aguiar e Bordini - Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas, 1993; e também criadas por nós para a elaboração deste trabalho. As etapas de desenvolvimento: procedimentos didáticos Conteúdo da aula: mulheres ontem e hoje Objetivo da aula: conhecer as personagens femininas mais significativas de Eça de Queirós. Perceber como algumas delas são mulheres de personalidades fortes, misteriosas, ambíguas, estrategistas, que põem em prática seus projetos, inclusive arrastando ou levando consigo os homens que elas dominam. Ênfase para as personagens femininas: Luisa, Juliana e Leopoldina. Filmografia: O Primo Basílio Determinação do horizonte de expectativas – cinco etapas Etapa 1. Em um primeiro momento, para verificar o conhecimento dos alunos nos diversos gêneros existentes nas esferas sociais, o professor pede aos alunos que falem sobre a mulher na sociedade e quais são as leituras midiáticas disponíveis no seu cotidiano. No quadro negro reproduz um mapa mental das mídias mencionadas. 46 Figura 11 - Mapa mental Fonte: Autor Desconhecido Segundo Newman & Mara (1995), esse formato de esquema organiza graficamente as idéias e não há hierarquia. Ele reflete a estrutura cognitiva do aluno, uma ferramenta confiável para representar o conhecimento. Com esse mapa os alunos perceberão que já conhecem várias mídias e que as utilizam para pesquisa, mas reconhecerão que falta pesquisar em várias outras para ampliar mais o conhecimento sobre determinado assunto. Etapa 2. O professor traz para a sala de aula uma quantidade grande de artigos de mídia impressa que fala da mulher (passado e presente) e os distribui entre os alunos. Propõe leitura livre, cada um escolhe a matéria que quer ler. Etapa 3. Terminada a leitura, o professor promove um debate informal sobre os vários assuntos sobre a mulher e suas implicações. O professor sugere que os alunos levantem, das matérias lidas, os elementos que mais os tocaram. Poderão aparecer os mistérios, a profundeza e a riqueza da alma e do psiquismo da mulher. Etapa 4. Depois dessa primeira abordagem, o professor pode levar os alunos para o laboratório de informática e solicitar uma navegação por sites da internet que retratam as mulheres atuais. Nessa atividade, o professor precisa tomar alguns cuidados. É muito fácil se perder no meio de tantas informações, 47 tantos sites diferentes, tantos links. Portanto é necessário passar a eles um roteiro de busca com os links preestabelecidos. O grande desafio é manter o objetivo da busca diante das diversidades de informações. Tem que haver critérios para a busca, para navegar com eficiência é necessário ter novas atitudes, decisões rápidas para extrair a informação desejada. O professor, também, precisa ter consciência que não adianta proibir o uso de certos programas na internet, pois os alunos usam o MSN, o Orkut, o e-mail, os chats, em casa, então é importante conscientizar os alunos sobre o uso da internet e suas consequências. A escola tem que incentivar o uso, tem que usar na sala de aula, mas de forma ética, para que os alunos possam identificar os riscos que correm se usarem sem responsabilidade, tornando-se vítimas. Nesse sentido, para usar o computador na sala de aula é preciso: Desprender do que vem sendo feito na escola tradicionalmente há anos e vislumbrar uma nova realidade do ensino. Nessa nova realidade não há lugar para a decoreba nem para o que não é significativo para o aluno. O que está valendo são todas as tentativas de fazer com que o aprendiz se envolva na construção do seu próprio conhecimento. É também importante lembrar que a obtenção de resultados satisfatórios com o uso do computador depende de como esse equipamento está sendo usado. O computador não faz nada sozinho e nem faz milagres. Ele tem muitos recursos e nos dá acesso a uma infinidade de informações, no entanto, cabe ao professor planejar o uso desses recursos e informações em sua sala de aula. (COSCARELLI, 1999, p. 13) Enfim, cabe ao professor tornar o computador um grande aliado, um instrumento de auxílio para suas aulas. Pelas suas muitas possibilidades de uso, viabiliza aulas mais atrativas e estimula o conhecimento dos educandos para que se tornem mais críticos e melhores cidadãos no futuro. Após a pesquisa no computador, o professor promoverá novo debate e discussões sobre o papel da mulher moderna na sociedade atual. Etapa 5. Montar um painel sobre o assunto pesquisado e expor para que outros alunos possam interagir com o tema. 48 Atendimento do horizonte de expectativas Em outra aula, para atender aos interesses dos alunos pela mulher, o professor direciona o assunto para as mulheres de outra época, as retratadas por Eça de Queirós. São duas etapas Etapa 1. Colocar no quadro o tema: Mulheres queirosianas– mistérios, ambiguidades e traições. Apresentar as características de algumas delas: Luisa, Leopoldina e Juliana (O Primo Basílio), Maria Eduarda (Os Maias), Amélia (O crime do padre Amaro). Depois distribuir fragmentos de textos retirados dos romances apresentando as personagens: O Primo Basílio (capítulo I ); Os Maias (capítulo XV); O crime do padre Amaro (capítulo IV), de Eça de Queirós. Por essa mostra, o aluno perceberá que, na literatura de Eça a mulher deixa de ser aquela heroína idealizada dos românticos e se apresenta como um ser humano completo, com virtudes e vícios, força e fraqueza, sonhos e desejos. As mulheres em Eça são personagens fortes, profundas, inteligentes e ativas, que comandam suas vidas, manipulam seus homens, são misteriosas e ambíguas e têm uns olhares... inexplicáveis, arrebatadores... destruidores!.... Etapa 2. Dividir a turma em grupos e cada um vai estudar as características de uma dessas personagens. Depois vão expor para a turma o que descobriram em relação a cada personagem e farão uma comparação com as mulheres de hoje. Apresentarão as conjunções e as disjunções em relação a elas. Ruptura do horizonte de expectativas Como a atividade de exploração das características e a comparação entre as mulheres revelarão um conjunto de elementos textuais que atrairão os leitores com evidente predominância (as descrições das personagens conterão os temas: sedução, ciúmes, traição, aventura etc.) - esse será o meio de efetuar a transição para uma literatura de ordem mais exigente. São cinco etapas. Etapa 1. Assistir ao filme homônimo adaptado do romance O primo Basílio. Depois, em sala de aula, passar algumas cenas selecionadas para fazer uma análise. 49 Etapa 2. Ao ler os fragmentos dos romances e assistir ao filme, os alunos estarão preparados e motivados para a leitura integral do romance. Propor, portanto, a leitura do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós. Num prazo marcado, segundo orientações do professor, a turma se dividirá em três grandes grupos, cada um encarregado de contar, por escrito, a história de uma das personagens do romance, ou seja, Luísa, Leopoldina e Juliana em O primo Basílio. A vida de cada personagem deverá ser narrada de forma a servir posteriormente de roteiro para teatralização. Assim sendo, deve conter todos os indicadores de espaço, sequências de ações, tempo e caracterização das personagens, bem como as falas. Etapa 3. Estudar com mais atenção as personagens dos textos, do romance e do filme e suas respectivas funções dramáticas dentro da história. Compará-las fazendo um quadro de semelhanças e diferenças. Etapa 4. Analisar os aspectos cinematográficos para a composição da significação das imagens do filme. Napolitano (2006) faz uma distinção das técnicas fílmicas: a) a trilha sonora (ruídos, efeitos e música: são elementos expressivos fundamentais, cuja função é reforçar os efeitos emocionais ou o sentido de uma sequência); b) a fotografia (responsável pela qualidade, pela textura, pelo sombreamento e pelo colorido da imagem que se vê na tela); c) O figurino (elemento expressivo que é visto como puramente instrumental ou ornamental, o figurino também pode expressar mensagens e reforçar identidades das personagens ou de determinadas épocas); d) a câmera (ponto de vista e enquadramento: a câmera guia o olhar, organiza o quadro cênico, enfatiza determinados personagens ou objetos pelo enquadramento - plano geral, plano americano, plano médio, primeiro plano -, conduz o olhar pelo mundo fílmico por meio de seus movimentos e ângulos). Xavier (2005, p. 27, grifos nossos) explica melhor a expressividade do discurso a partir desses planos, que são as tomadas de cenas entre dois cortes. Deixar-se-á a palavra com o autor para explicar as nomenclaturas e as técnicas básicas: 50 Classicamente, costumou-se dizer que um filme é constituído de seqüências – unidades menores dentro dele, marcadas por sua função dramática e/ou pela sua posição na narrativa. Cada seqüência seria constituída de cenas – cada uma das partes dotadas de unidade espaço-temporal. Partindo daí, definamos por enquanto a decupagem como o processo de decomposição do filme (e portanto das seqüências e cenas) em planos. O plano corresponde a cada tomada de cena, ou seja, à extensão de filme compreendida entre dois cortes, o que significa dizer que o plano é um segmento contínuo da imagem. Assim, é na articulação dos planos que se produz um sentido coerente para o texto visual. Xavier (2005, p. 27), ao tomar conceitos de decupagem clássica, classifica quatro planos, e é nessa perspectiva que se propõe a análise para os alunos: • Plano Geral: cenas amplas, mostra todo o espaço da ação; • Plano Médio ou de Conjunto: mostra o conjunto de elementos envolvidos na ação (figuras humanas e cenário); • Plano Americano: corresponde ao ponto de vista em que as figuras humanas são mostradas da cabeça até a cintura, aproximadamente; • Primeiro Plano (close-up): focaliza um detalhe. e) Os objetos: “[...] Desempenham o seu papel, atualizam comportamentos, participam da essência e da existência dos conflitos. Poderão ser interpretados à escala de símbolos, mas apresentam-se com os mesmos direitos dos vivos, porque com eles vivem os pontos de vista que compõem a trama romanesca” (MENDONÇA, 1977, p. 36). Para melhor entender a função dos objetos, faremos uma análise de dois pormenores descritos na obra de Eça. Assim subsidiaremos melhor o professor em sua prática. Os objetos analisados serão o romance A Dama das Camélias e a Voltaire que compõem o espaço da sala de visitas da casa de Luísa e juntamente com este a iluminação do ambiente, a cor, que compõem o quadro doméstico do lar da personagem. Esses objetos, também chamados de pormenores, segundo Mendonça (1977), são muito importantes para uma compreensão plena dos objetivos de Eça e de Daniel Filho, romance e filme respectivamente, colaborando decisivamente para a compreensão do código dramático. 51 A amplitude dos múltiplos significados e interpretações que os pormenores concedem ao leitor remete às palavras de Souza (1990, p. 56), ao comentar a descrição dos pormenores na obra de Eça: Eu entendo que detalhes, geralmente tidos como irrelevantes, por vício de leitura atenta unicamente aos núcleos temáticos, acabam, se forem devidamente organizados e inseridos no intertexto, por esclarecer o significado dos elementos primordiais da estrutura romanesca, e ajudam-nos a melhor compreender a extrema subtileza do ‘processo’ queirosiano. Análise dos objetos O romance A Dama das Camélias e a voltaire No romance, logo no início da narrativa, aparecem os objetos: o romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, que marca o indício do drama da personagem principal; e a voltaire1 que colabora para o adultério. Em uma cena inicial, capítulo 1, Luisa, estendida na voltaire, lia um livro tranquilamente: Tornou a espreguiçar-se. E saltando na ponta do pé descalço, foi buscar ao aparador por detrás duma compota um livro um pouco enxovalhado, veio estender-se na voltaire, quase deitada, e, com o gesto acariciador e amoroso dos dedos sobre a orelha, começou a ler, toda interessada. Era a Dama das Camélias. (QUEIRÓS, 1996, p. 16, grifos nossos) Primeiramente uma análise da Voltaire, que tem no romance uma utilização específica, pois sublinha o estado de espírito de Luísa, e também tem um significado considerável no jogo do adultério. Traduz a preguiça, o cansaço, o alheamento de Luísa: “E depois de jantar ficou junto à janela, estendida na voltaire [...] deixara-se ficar na voltaire esquecida, absorvida, sem pedir luz” (capítulo 3, p. 55-56) ou “Luísa subiu daí a pouco com um largo roupão, muito fatigada; estendeu-se na voltaire; sentia virlheuma sololência” (capítulo 4, p. 79). Por meio dela, interpretam-se as intenções da personagem: sentada na voltaire, pensava “Que vida interessante a do primo Basílio! O que ele tinha visto! Se ela pudesse também fazer as suas malas, partir” (capítulo 3, p. 56). A sua importância equivale a de um personagem ativo na diegese: “E estendida na voltaire [...] lembrou-lhe de repente a notícia do jornal, a chegada do primo 52 Basílio” (capítulo 1, p. 17), como se vê, o objeto estava sempre presente quando pensava no primo, revelando pensamentos íntimos, que colaboravam para a traição. O romance, A dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, narra a história de uma elegante cortesã francesa, em meados do século XIX, que encanta por sua beleza e mantém um romance impossível com um rico homem da emergente burguesia urbana. Na história, ela ficou conhecida como a guardiã da falsa moral burguesa da época. Esse enredo é bastante revelador, pois antecede, como elemento proléptico2 , o drama que Luísa sofrerá. Apesar de histórias muito diferentes, Luísa agirá, no decorrer da narrativa, como uma mulher volúvel ao se relacionar com outro homem, fora do casamento, viverá um romance proibido e morrerá por causa disso, devido aos falsos conceitos moralizantes da época. Etapa 5. Propor a análise das imagens. Abaixo um modelo, do filme O primo Basílio: Figura 12 - O primo Basílio Fonte: Autor Desconhecido 53 Nessas imagens procure identificar: Figura 13 - Análise das imagens para os alunos Fonte: Autor Desconhecido Questionamento do horizonte de expectativas - quatro etapas Etapa 1. Elaborar um roteiro para um documentário, um telejornal. Os seus aspectos técnicos devem ser analisados antes de sua confecção: o cenário, as técnicas de produção (vinheta, enquadramento, entrevistas, opinião etc.). Etapa 2. Solicitar aos alunos que saiam a campo para fazer um documentário sobre o tema “Mulheres: ontem e hoje”, apoiando-se em entrevistas com as mulheres da sociedade da comunidade dos alunos. Para isso é elaborado um roteiro de entrevista pelos alunos, contendo as perguntas que lhes interessem. Etapa 3. De posse do roteiro organizado, os alunos dividem-se em dois grupos e cada um entrevista as mulheres selecionadas (jovens e idosas). Etapa 4. Com base nessa entrevista, cada grupo, valendo-se de algumas reportagens lidas na sala de aula, na internet e vista na TV como modelo, escreve e edita a sua reportagem em vídeo. Esse telejornal deverá incidir sobre as diferenças entre a situação das mulheres jovens e das idosas, observando- se as conjunções e as disjunções; e também as vantagens e as desvantagens. 54 O telejornal possibilita ver e ouvir o mundo, o que nele acontece, construindo assim um conhecimento histórico-social. Nas palavras de Umberto Eco (1970, p. 363): “Há na comunicação pela imagem algo radicalmente limitativo, de insuperavelmente reacionário. E, no entanto, não se pode rejeitar a riqueza de impressões e descobertas que, em toda história da civilização, os discursos por imagens deram aos homens”. Ampliação do horizonte de expectativas A discussão anterior possivelmente levou à constatação de que a diferença básica entre os problemas e comportamentos das mulheres na sociedade moderna está relacionada à posição social, à cultura, ao emprego, à idade, ao preconceito etc. São duas etapas. Etapa 1. De posse dos dados coletados, o professor prepara para a aula seguinte dois cartazes, cada um com uma dessas questões, entre outras: 1) como a sociedade determina o comportamento das mulheres?; 2) Que problemas sociais, culturais afetam a mulher moderna?. Os cartazes são afixados na parede para serem debatidos entre os alunos. O professor os incentiva a relacionar as questões propostas com todo o conteúdo desenvolvido nas aulas anteriores de literatura e com outros livros que tratem de assunto sobre a mulher. Etapa 2. Indicar outros livros de Eça de Queirós e de outros autores que falam da mulher. É estipulado um prazo para a leitura dos livros indicados. No dia marcado, os leitores discutem as dimensões sociais, culturais e outras em que as mulheres dos textos foram inseridas pelo autor. É importante ressaltar que, em atividades dessa natureza, os alunos problematizam as produções de jornal, revista, TV, cinema etc., aprendem a tirar significados das imagens e compará-las com o conteúdo verbal do texto escrito e descobrem que a mídia é um recurso tecnológico importante para o ensino- aprendizagem. A escola tem compromisso com a construção da cidadania. Por isso, em sala de aula, cabe à prática educacional voltar-se para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida das pessoas inseridas na sociedade. Nessa perspectiva é que foi incorporada como 55 tema, a mulher, a contemporânea, em comparação com aquela do século XIX. Suas semelhanças e diferenças para melhor compreensão da realidade social de cada uma delas. A abordagem proposta tem a intenção de fornecer subsídios aos alunos para auxiliá-los a superar os problemas com a leitura e a atribuição de significados que decorrem do modo de construir o texto. Para isso, foram propostos novos conhecimentos que atiçam a imaginação - fundamento de todo ato de leitura, seja de textos verbais ou não – leitura do mundo, desenvolvendo leitores críticos, atuantes, que saibam o papel social que desempenham dentro da sociedade. Os desafios para formar o aluno leitor do texto verbal e não-verbal são de várias ordens, desde as escolhas das estratégias de incentivo à leitura até a concorrência com outras linguagens, sobretudo as visuais e audiovisuais. Então foi a intenção deste artigo aproveitar essa concorrência para propor atividades que estimulem a leitura dessas artes no ensino e aprendizagem. Por tudo que foi pesquisado e analisado, acredita-se que as atividades voltadas para o ensino da leitura e da literatura aliadas à tecnologia podem constituir-se em atividades significativas, nas quais os alunos vislumbrem uma situação real que as justifique. Ao apresentar na sala de aula grandes clássicos da literatura, utilizando o Método Recepcional, pretendeu-se possibilitar aos alunos uma efetiva participação em diferentes práticas sociais, utilizando a leitura com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. 56 REFERÊNCIAS AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. AUMONT, Jacques. A Imagem. 2ª Ed. Campinas: Papirus, 1995. BACK, S. Cinema e literatura. Disponível em: <http://www.ufmg.br/online/arquivos/000574.shtml>. Acesso em: 23 jul. 2016. BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. São Paulo: UNESP e Hucitec, 1988. 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