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Poligrafo 2 - movimentos entre compartimentos

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Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
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Iuri Marques de Oliveira & Renato Moreira Rosa 
 
Nos organismos vivos existe um constante fluxo de soluto e solvente (água) 
entre os compartimentos intra e extracelular. Dessa forma é possível que os nutrientes 
(açúcares, aminoácidos, lipídios, nucleotídeos, água, íons) oriundos da dieta possam ser 
absorvidos no trato gastrintestinal, viajar pela circulação sendo por fim distribuídos a 
todas células do organismo, desde as mais superficiais até as localizadas no interior dos 
tecidos, através da rede capilar. Da mesma maneira, o oxigênio é conduzido a todas 
células e os catabólitos (resíduos) do metabolismo são excretados da célula, recolhidos 
pelo sistema circulatório e eliminados pelo corpo, seja na urina (uréia, potássio, ácido 
úrico, corpos cetônicos...), no ar expirado (gás carbônico, corpos cetônicos). No entanto, 
para o entendimento a respeito da manutenção da perfeita homeostase (equilíbrio 
fisiológico) desses sistemas é necessário compreender alguns princípios e mecanismos 
envolvidos no transporte celular e entre zonas compartimentalizadas. Dentre esses 
mecanismos, estudaremos a difusão e a osmose. 
 
 
1. Difusão 
 
Difusão é o movimento 
aleatório individual das moléculas 
(movimento browniano) (Figura 1) 
componentes de uma mistura qualquer 
provocados por forças eletrostática e 
internucleares que repelem as moléculas 
transferindo energia cinética, e com esta 
movimentação acaba-se atingindo a 
uniformidade de distribuição das 
moléculas em toda extensão disponível, o 
que confere um estado de maior energia e 
portanto, maior estabilidade. Ocorre em 
gases, líquidos e sólidos. Na prática, é a 
movimentação de um soluto de uma região de maior concentração para uma de menor 
concentração em um meio. Por exemplo, a dissolução de açúcar em água promove a 
difusão do açúcar em todas as direções com finalidade de se obter a mesma 
concentração do soluto em toda extensão do líquido. 
 
Figura 1: Movimento aleatório das moléculas 
(movimento browniano) 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
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A migração do soluto de uma região mais concentrada para uma região menos 
concentrada ocorre por uma questão de probabilidade, pois a chance de uma molécula ir 
de onde ela esta em maior número para onde ela esta em menor número é maior (sempre 
é mais fácil e mais provável um corpo migrar de onde ele está para onde ele não está). 
Desta maneira, se pingarmos uma gota de tinta em um recipiente com água logo depois 
as partículas da tinta estarão espalhadas pela solução (Figura 2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É importante salientar que quando atinge o equilíbrio de concentrações, não há 
uma parada de movimento dos solutos, pois sempre há movimento constante das 
moléculas, mas a diferença é que elas estão se movimentando na mesma proporção em 
ambas direções, então macroscópicamente parece que não há mais movimento de 
difusão. Na verdade, a movimentação de soluto ocorre mas com mesma velocidade em 
ambos sentidos pois o equilíbrio químico é um estado dinâmico. 
Podemos também expandir a definição de difusão para a movimentação de um 
determinado soluto através de uma membrana que separa duas zonas 
compartimentalizadas na direção da zona em que este soluto encontra-se em maior 
concentração para a zona de concentração menor. Esse movimento visa atingir o 
equilíbrio de concentração do soluto entre as duas zonas. Isso ocorre na movimentação 
de solutos entre os compartimentos, Dessa maneira, as substâncias que atingem a 
circulação sanguínea distribuem-se por todo volume de plasma disponível e assim 
viajam a todos pontos do organismo, difundindo-se no sangue, posteriormente ao 
espaço intersticial e por fim aos tecidos e no interior celular seguindo seu gradiente de 
concentração e passando pelas barreiras celulares e pelas membranas biológicas (Figura 
3). 
 
 
 
 
 
Figura 2: Figura mostrando a difusão de 
partículas de tinta em uma solução 
Figura 3: Difusão de solutos entre os 
compartimentos 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
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Outro ponto muito importante de ser entendido é que o movimento de difusão é 
individual para cada soluto e poderá existir somente quando houver um gradiente 
(diferença) de concentração desse soluto entre as duas zonas,já que haverá uma 
diferença de propabilidade de uma zona em que possua mais moléculas para uma zona 
que possua menos moléculas. Vamos então imaginar a seguinte situação: 
 
Observe dois compartimentos separados por uma membrana. Em ambos lados 
existe uma solução dos solutos “bolinhas e quadradinhos”. Admita que ambos 
compartimentos apresentam o mesmo volume (lembrar: solução = soluto + solvente). 
Ora, se o volume de solvente é o mesmo, obviamente o compartimento A está mais 
concentrado de “bolinhas” que o compartimento B. Considerando que a membrana que 
separa os dois compartimentos seja permeável ao soluto “bolinhas”, existirá um fluxo 
de bolinhas da zona A para zona B com intuito de igualar a concentração de bolinhas 
em ambos compartimentos. Esse movimento denomina-se difusão (ou difusão simples). 
Por que isso ocorre ? Porque existe uma diferença de concentração de bolinhas entre os 
compartimentos (ou seja, temos um gradiente de concentração). 
Entretanto, como a concentração de quadradinhos é a mesma em ambos lados, 
não ocorre difusão desse soluto. Cada soluto movimenta-se a favor do seu gradiente de 
concentração, não importando-se com as outras substâncias presentes. O soluto é uma 
entidade “egoísta” que só se importa com o seu gradiente de concentração e não com os 
demais gradientes das outras substâncias. 
Adequando nossa explicação aos sistemas biológicos podemos imaginar que 
bolinhas podem ser um nutriente; A pode ser a luz do intestino e B, as células intestinais 
responsáveis pela absorção. A membrana representa então a membrana celular dos 
enterócitos. Bolinhas podem ser glicose, A pode representar a circulação capilar e B, as 
células do interstício que estão necessitando de glicose. Nesse caso, a membrana simula 
a parede do capilar. Bolinhas podem representar o sódio, A pode ser a luz do túbulo 
convolto proximal do rim, B pode ser a célula do tubo proximal e novamente a 
membrana seria a membrana celular. 
 
 
 
 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
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1.1 Fatores que afetam a difusão 
 
Uma observação 
importantíssima deve ser feita: o 
movimento de difusão somente 
ocorrerá se a membrana for 
permeável ao soluto. A 
permeabilidade de uma 
membrana é uma característica 
inerente à sua estrutura e 
composição, variando entre os 
tipos celulares e as espécies. No 
caso da membrana celular é 
preciso conhecer sua estrutura 
para poder determinar se um 
soluto poderia atravessá-la por 
simples difusão. Quando existe 
um gradiente de concentração 
para um determinado soluto e as 
membranas celulares são 
permeáveis a esse soluto por 
simples difusão, ocorre passagem 
de soluto da zona de maior 
concentração molar para a de menor. O movimento de simples difusão não requer gasto 
de energia pois ocorre a favor do gradiente de concentração. 
Aqui é importante ver o que faz uma molécula ser permeável nas membranas 
biológicas por simples difusão. Mesmo que a molécula esteja a favor do gradiente de 
concentração, é necessário ter em vista dois aspectos as características da membrana 
plasmática e as características da molécula. A membrana é uma estrutura que possui 
uma bicamada de fosfolipídeos tendo faces hidrofílicas e um interior hidrofóbico, 
também é um estrutura relativamente compacta possuindo pequenos espaços entre os 
fosfolipídeos. Portanto, as moléculas serão selecionadas pelo tamanho e pela polaridade, 
ou seja, moléculas pequenas que consigam passar entre os fosfolipídeos poderão passar 
a membrana somando ao fato de serem apolaresou sem carga, já que devem passar o 
interior hidrofóbico. Concluindo, as moléculas pequenas apolares ou polares sem carga 
conseguem atravessar a membrana por simples difusão, ou seja, a favor do seu gradiente 
de concentração (como gases e moléculas apolares). Já moléculas grandes, polares 
(como glicose e aminoácidos) e/ou carregadas (como os íons) não conseguem atravessar 
a membrana por simples difusão obedecendo seu gradiente (Figura 4). 
Olhando agora em termos de organismo, as substâncias de caráter menos polar 
(lipofílicas – amigas da gordura) tem uma passagem pelas membranas por simples 
difusão mais fácil que as substâncias de caráter mais polar (hidrofílicas - amigas da 
água). No entanto, como os compartimentos do organismo são montados em meio 
aquoso e interconectados, as substâncias que se dissolvem mais facilmente em água tem 
uma distribuição mais favorecida pelo organismo. Dessa forma, as substâncias devem 
possuir uma polaridade intermediária, ou seja, um caráter lipofílico e hidrofílico para o 
uso terapêutico. A medida do caráter de polaridade de uma determinada molécula é 
Figura 4: Figura mostrando os tipos de moléculas que 
podem passar a membrana e aquelas que não podem 
passar livremente 
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realizada pela determinação do seu coeficiente de partição óleo/água. As substâncias 
mais lipofílicas possuem uma absorção mais fácil e eliminação mais demorada, pois a 
excreção pela urina ou outros meios necessita de solubilização em água. No organismo, 
o fígado metaboliza as substâncias lipofílicas tornando-as hidrofílicas. As substâncias 
hidrofílicas possuem uma absorção menos facilitada, mas distribuição e eliminação 
fáceis. A questão do caráter da substância e sua correlação com o perfil de absorção é 
muitas vezes a etapa limitante no desenvolvimento de novos medicamentos; algumas 
vezes, para eliminar a necessidade da absorção ao longo de tubo digestivo, outras vias 
(como a endovenosa ou uma injeção localizada no tecido alvo) são utilizadas. 
O grau de ionização também é importante, pois os grupamento ionizados 
atraem água para hidratação, tornando-se maiores em tamanho que a molécula original. 
O grau de ionização, ou seja as porcentagens de uma molécula que encontram-se na 
forma ionizada e forma não ionizada dos seus grupamentos é determinada pelo pH do 
meio. As substâncias de natureza ácida encontram-se menos ionizadas em pH ácido; 
consequentemente sua absorção é favorecida no estômago ao invés do intestino delgado, 
por exemplo. As passagens de um soluto entre os compartimentos depende do grau de 
ionização, pois os compartimentos tem valores diferentes de pH. Por exemplo, na 
mucosa gástrica temos pH em torno de 1,0, no plasma pH 7,4 enquanto um tecido 
inflamado tem um pH em torno de 5,0. 
Por exemplo, os anestésicos locais são administrados na proximidade do tecido 
a ser anestesiado, em espaços aquosos do organismo ou superfície da pele. Quando a 
injeção é realizada na proximidade do tecido, a molécula anestésica deverá transitar do 
liquído intersticial para o axônio do nervo sensor, atravessando o perineuro por simples 
difusão. Dessa forma, os anestésicos que apresentarem a maior parte de suas moléculas 
na forma não ionizada no pH do líquido intersticial (7,4) atravessarão a membrana mais 
facilmente. Quando o tecido está inflamado, o seu pH está mais ácido, propriciando que 
mais moléculas do anestésico fiquem na forma ionizada, diminuindo a quantidade de 
substância para o tecido e reduzindo o efeito anestésico. 
Todos esses parâmetros devem ser levados em conta quando queremos que 
uma certa substância penetre no sistema nervoso central, por exemplo, pois esse é 
protegido por uma camada gordurosa denominada barreira hematoencefálica, que inibe 
a passagem de uma série de substâncias do sangue para o sistema nervoso central. É 
exatamente por isso que várias moléculas possuem ação em diversos tecidos do 
organismo, mas não possuem ação ou efeito colateral em nível de sistema nervoso 
central (SNC). 
 
1.2 Velocidade de difusão (Fluxo) 
 
Considerando então os solutos que conseguem atravessar a membrana por 
simples difusão, podemos verificar que existem vários fatores que influenciam na 
velocidade dessa difusão através da membrana. Esses fatores são tratados 
matematicamente pela equação da 1ª Lei de Fick (Adolf Fick, 1855). Portanto, a 
Primeira Lei de Fick determina a velocidade de difusão dos solutos. Seguindo a 
expressão: 
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A velocidade é dada pelo número de partículas que se movimentam pelo tempo 
e vários fatores influenciam nessa difusão, afetando a velocidade, logo é levado em 
consideração fatores como o gradiente de concentração (C), a espessura da membrana 
(X) e a área transversal (A) (Figura 5). Também o meio que a difusão ocorre e as 
características moleculares do soluto devem ser considerados. 
 
 
Figura 5: Figura mostrando os fatores que influenciam na difusão 
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Quanto maior a área de superfície disponível, mais rápido o processo acontece. 
Da mesma forma, quanto menor a espessura da membrana, maior a velocidade de fluxo. 
Isso ocorre pois as moléculas possuem mais espaço para passar, o que se torna óbvio 
quando se pensa por exemplo em um cano de água, vai passar um volume maior de 
água por um cano mais largo do que um cano mais fino. Esses fatores explicam as 
razões do intestino constitutir o principal sítio absortivo do trato gastrintestinal (em 
razão de sua grande área). Além disso, a estrutura dos alvéolos possibilita uma área 
grande, favorecendo a difusão do oxigênio, o que é muito importante em animais de 
sangue quente com elevada taxa metabólica. Em contrapartida, os anfíbios (animais de 
sangue frio) possuem um pulmão em forma de saco único, o que é compensado pela 
respiração cutânea. Os túbulos renais são longos e finos, o que faz com que a taxa de 
reabsorção de solutos por simples difusão nunca torne-se um fator limitante para o 
processo. 
O gradiente de concentração também influencia no processo. Quanto maior o 
gradiente de concentração, maior será a velocidade de fluxo, pois o gradiente é a força 
que impulsiona o processo, já que maior número de moléculas vão se movimentar a 
favor do gradiente, pois há um número mais elevado de moléculas em uma região da 
solução do que na outra, havendo mais moléculas disponíveis para migrar para onde 
estão em menor número. 
A espessura da membrana influencia, já que quanto mais fina mais veloz será a 
difusão, pois é um trajeto menor para o soluto percorrer. Os vasos sanguíneos da região 
sublingual são numerosos e finos, o que faz com que os fármacos administrados por 
essa via, como a nitroglicerina, nifedipina, isosorbida, vitamina B12, algumas vacinas, 
tenham efeito praticamente imediato. Os capilares alveolares também são finos, fazendo 
com que as substâncias administradas em aerosol (e congêneres) tenham efeito rápido 
no organismo. 
A composição do meio influencia no processo. A expressão da influência do 
meio faz-se através de uma constante, a qual varia para cada ambiente. Por exemplo, a 
difusão do oxigênio no ar não ocorre na mesma velocidade de difusão do oxigênio do 
sangue para os tecidos. 
A massa molecular do soluto também exerce certa influência: quanto menor o 
tamanho da molécula, maior sua energia cinética e movimentação (movimento 
Browniano). Isso torna mais rápido o processo. Nesse sentido, quanto maior a 
temperatura maior será o fluxo, pois a energia térmica influencia a energia cinética das 
moléculas. Em relação ao estado físico, a difusão é sempre mais rápida em fase gasosa 
> líquida > sólida. Quanto maior o tempo de contato, maior é a eficiência do processo. 
Assim permite-se a conclusão da movimentação e estabelecimentodo equilíbrio. 
Ainda pode-se deduzir o coeficiente de permeabilidade da membrana, pela 
expressão: 
 
 
 
 
 
 
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2. Osmose 
 
Observe a situação anterior: 
 
 
 
Considerando que a membrana seja livremente permeável aos solutos, com o 
passar do tempo, cada soluto se difundiu a favor de seu gradiente e ao final do processo 
como cada soluto atingiu seu equilíbrio químico, o que faz com que os compartimentos 
estão com a mesma quantidade total de partículas. 
 
 
No entanto, considere que a membrana que separa os compartimentos não seja 
permeável a solutos mas seja livremente permeável a solvente. Como poderia atingir-se 
o equilíbrio nesse sistema, ou seja, como os compartimentos poderiam atingir a mesma 
concentração total de partículas em ambos lados sem a existência de difusão dos 
solutos? 
Uma membrana permeável a solvente mas impermeável a solutos recebe a 
denominação de membrana semipermeável. As membranas celulares, na realidade, são 
seletivamente permeáveis, deixando passar livremente moléculas com determinadas 
características específicas, como tamanho e polaridade, e seletivamente alguns solutos 
por transporte controlado. Enfim, independente das características da membrana, o 
sistema precisa atingir o estado de equilíbrio, caracterizado pela mesma quantidade de 
partículas em um determinado volume em ambos compartimentos. Uma vez que o 
soluto esteja impedido de se difundir, uma alternativa é utilizar um fluxo de solvente 
para equilibrar concentrações. Esse fluxo de solvente denomina-se fluxo osmótico de 
água e esse processo chama-se osmose (na prática é a difusão do solvente, mais 
especificamente da água). O solvente ou a água no caso também se movimentam a favor 
de seu gradiente indo para onde tem menos água igualmente por movimentos aelatórios 
das moléculas como ocorriam com os solutos. 
O solvente sempre se movimenta livremente através de membranas 
semipermeáveis, indo da zona de menor quantidade de partículas de soluto (ou seja, 
onde há mais água) para a zona de maior quantidade de partículas de soluto (ou seja, 
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onde há menos água) consequentemente atingindo o equilíbrio de concentrações por 
meio de diluição. 
 
Observe que no momento inicial, ambas soluções estão com o mesmo volume 
líquido total. Ao final do processo de osmose, a água passou de B para A diluindo A. 
Assim o nível de solvente em B reduziu e em A aumentou. Ora, com essa variação de 
volume de solvente, a concentração (número de partículas / volume) de soluto igualou-
se atingindo o equilíbrio. Portanto, a osmose é o nome dado ao processo de trânsito de 
solvente através de duas zonas compartimentalizadas separadas por uma membrana 
semipermeável, a qual é permeável ao solvente, mas não é permeável a solutos por 
simples difusão. Podemos então dizer que ambos compartimentos apresentam agora a 
mesma concentração total de partículas no meio ou seja a mesma osmolaridade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Osmolaridade é a expressão do número total de partículas de soluto em solução ou 
meio. Sendo uma propriedade coligativa das soluções, não depende da natureza 
química do soluto, mas exclusivamente da quantidade. Para expressar osmolaridade 
utiliza-se a unidade osmol/L (osmolar). 
Analogamente podemos comparar com a densidade demográfica, que é o 
número de pessoas em uma determinada área, não importando as características das 
pessoas (gordas, magras, brancas, negras, verdes, azuis, vermelhas...) apenas o número 
de pessoas. A osmolaridade pode ser considerada uma densidade demográfica de 
partículas em um determinado volume (número de partículas em um volume) não 
importa as características delas (de polar, carregada, grande, pequena...) por isso uma 
propriedade coligativa (propriedades coligativas são aquelas que dependem apenas do 
número de partículas não interessando as suas características). 
Uma solução 1 osm/L (1 osmol/L ou 1 osmolar) é uma solução que contém 1 
mol (6,02.10
23
) de partículas em 1 L de solução (ou seja 6,02.10
23
 partículas em 1 L de 
solução). Percebe-se que osmolaridade é a expressão molar de uma quantidade de 
partículas. Uma solução 2 osmolar contém 2 mol de partículas por Litro de solução. 
Independente das partículas, pode ser glicose, frutose, sódio, cálcio, cloreto, etc... ou 
uma mistura desses solutos. 
OBS: osmolaridade é diferente de concentração, quando falamos em concentração nos 
referimos ao número de moléculas de um soluto específico, a osmolaridade se refere 
ao número de partículas de todos os solutos de modo geral, não importando qual seja. 
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Podemos fazer algumas perguntas: 
a) E por que o solvente vai de onde tem uma osmolaridade menor para onde tem uma 
osmolaridade maior, ou seja, de onde tem menos partículas de soluto para onde tem 
mais partícula de soluto? Primeiramente, podemos pensar que uma solução com 
osmolaridade menor do que outra, ou seja, com menor número de partículas de 
soluto / volume do que outra possui mais moléculas de água do que outra com 
osmolaridade maior, então tem mais moléculas de água se movimento e a 
probabilidade de ir moléculas de água de onde tem mais para onde tem menos é 
maior, logo há um movimento líquido de moléculas de água de onde esta menos 
concentrado para onde está mais concentrado. 
b) Se inicialmente tivermos duas soluções com igual osmolaridade, então o 
movimento da água entre as duas é equilibrado, se adicionarmos mais soluto em 
uma das soluções ficando esta com maior osmolaridade, haverá um movimento 
líquido de água de onde ficou menos concentrado para onde ficou mais concentrado 
e vai aumentar o volume dessa solução mais concentrada até igualar as 
osmolaridades entre as duas soluções. Por que ocorre este fenômeno se o número de 
moléculas de água não foi alterado nas soluções? É fácil entendermos em soluções 
de igual volume, com osmolaridade diferentes, que a água vá de a osmolaridade é 
menor para onde a osmolaridade é maior, pois na solução com osmolaridade menor 
há mais água do que na solução de osmolaridade maior, já que posssuem volumes 
iguais. Entretanto, nesse caso estamos considerando duas soluções que antes 
possuiam a mesma osmolaridade e apenas adicionamos soluto aumentando a 
osmolaridade de uma das soluções, mas não alteramos o número de moléculas de 
água existentes nas soluções, alteramos apenas o número de moléculas do soluto. 
Para explicar isso, podemos considerar a questão da “água livre”. Os solutos estão 
dissolvidos na solução, ou seja, estão estabelecendo interações com a água, seja por 
formação de pontes de hidrogênio ou outro tipo de ligações, neste caso as 
moléculas de água estão mais “presas” pois tem o movimento reduzido exatamente 
por estarem interagindo com o soluto. Agora fica fácil de pensar que uma solução 
com maior número de partículas, maior osmolaridade, possui mais moléculas de 
soluto para interagirem e prenderem mais as moléculas de água, já a solução com 
osmolaridade menor possui menor número de moléculas de soluto interagindo e 
prendendo as moléculas de água, então há mais “água livre”, ou seja, mais 
moléculas de água com maior movimentação. Desta forma, essas moléculas de Por 
isso a água vai de onde há menos partículas de soluto para onde há mais partículas 
do mesmo (de onde há maior osmolaridade para onde há menor osmolaridade), pois 
onde há menos soluto as moléculas de água possuem maior mobilidade, pois há 
menos soluto para interagirem, podendo se movimentar mais aleatorimente e ir para 
onde há mais soluto, já que ao passar para solução com maior número de partícula 
de soluto, as moléculas de água vão interagir com o soluto e perder mobilidade 
então vão ficando retidas na solução com maior osmolaridade. Assim,a água tem 
um movimento líquido de onde há menor osmolaridade (menos soluto para 
interagir, logo água mais livre para se movimentar) para onde há maior 
osmolaridade (mais soluto para interagir logo menos moléculas de água que podem 
se movimentar) (Figura 6). Aqui podemos concluir que dois fatores influenciam no 
movimento da água de onde é menos concentrado para onde está mais concentrado: 
o maior número de moléculas de água onde está menos concentrado em relação 
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aonde está mais, de forma que por probabilidade mais moléculas de água podem ir 
de onde tem mais para onde tem menos moléculas de água e a interação com o 
soluto, se há mais partículas de soluto vai haver menos água livre para se 
movimentar e se há menos moléculas de soluto há mais moléculas de água capazes 
de se movimentar, assim a água vai de onde está menos concentrado para onde está 
mais concentrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
c) Na verdade, a osmose é o mesmo processo de difusão visto nos solutos, mas 
agora aplicado ao solvente. Mas ainda uma pergunta: Por que o volume da 
solução varia na osmose e não na difusão, ou seja, varia quando a água se 
movimenta mas não varia quando o soluto se movimenta? Pois o solvente é o 
que está em maior quantidade, existindo um número bem maior de moléculas de 
solvente do que de soluto, portanto qualquer movimento deste causa variação 
macroscópica de volume o que não é observado macroscopicamente pela 
movimentação de soluto. 
d) Quando há a movimentação do solvente para onde há maior osmolaridade 
dizemos que está ocorrendo um fluxo osmótico. Mas por que esse fluxo 
osmótico cessa em determinado momento? Quando há o fluxo osmótico, o 
solvente vai para onde está mais concentrado e aumenta o volume dessa solução, 
se aumenta o volume por aumentar o número de moléculas de solvente vai 
Figura 6: Figura mostrando dois compartimentos que se comunicam, no lado esquerdo 
contendo uma solução com mais moléculas de soluto (maior osmolaridade) do que no lado 
direito que possui menos moléculas de soluto (menor osmolaridade). Portanto, podemos ver um 
movimento líquido de moléculas de água indo de onde a osmolaridade é menor para onde é 
maior (da direita para esquerda), pois é há mais moléculas de água na direita e menos moléculas 
de soluto para interagir do que onde há maior osmolaridade podendo então reter mais as 
moléculas de água, então podemos dizer que se movimenta a água que esta livre, ou seja, 
aquelas moléculas que não estão interagindo com o soluto, havendo, então, mais água livre 
capaz de se movimentar na solução que possui menos soluto, ou seja, onde a osmolaridade é 
menor, por isso há esse movimento líquido para onde a osmolaridade é maior. 
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originar uma pressão hidrostática que vai ser oposta ao fluxo osmótico, de 
maneira a fazer com que o fluxo cesse (Figura 7). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.1 Cálculo da osmolaridade de soluções de composição conhecida 
 
Para as soluções de composição conhecida podemos calcular a osmolaridade a 
partir do conhecimento da concentração molar dos componentes. Primeiramente é 
necessário determinar a molaridade de cada componente. Após devemos determinar a 
osmolaridade de cada um e por fim, proceder a soma de todas as osmolaridades 
individuais. Para determinação da osmolaridade multiplica-se a molaridade de cada 
substância pelo seu fator de dissociação. 
 
O que é o fator de dissociação? 
 
 Algumas substâncias como os sais, ácidos e bases inorgânicos dissociam-se 
em meio aquoso, gerando um maior número de mol de partículas. Isso deve ser levado 
em consideração já que a osmolaridade é o número de partículas de soluto que tem na 
solução, então quando eletrólitos se dissociam geram maior número de partículas de 
maneira a alterar a osmolaridade quando dissociados. Observe os exemplos da Tabela 1: 
 
Pressão hidrostática: pressão exercida pelas moléculas de água na solução 
Figura 7: Figura mostrando o sentido do fluxo osmótico e a pressão hidrostática se opondo a 
esse fluxo. 
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 Tabela mostrando o fator de dissociação de algumas substâncias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
- Como calcular a osmolaridade de uma solução de cloreto de sódio 0,9 %? 
 
É necessário determinar primeiramente a molaridade. Uma solução de 
concentração 0.9 g% possui 0.9 g de NaCl dissolvidos em 100 mL de solução. 
Uma solução 1 M de NaCl possui, por definição, a massa molar do soluto 
dissolvida em 1 litro de solução. Ou seja, 58,5 g ( Na=23 + Cl = 35,5) em 1000 mL. 
Nossa solução de NaCl possui 0,9 g dissolvidos em 100 mL. Logo, em 1000 mL seriam 
9 g. Então: 
 
 
 Se tivéssemos 58,5 g -------------- 1 mol/L (1M) 
 Como temos 9 g -------------- x mol/L 
 
 X= 0,15 M 
 
Osmolaridade = Molaridade x fator de dissociação 
 
 
Logo, nossa solução 0,15 M é 0,3 osm. 
 
 
O que isso significa ? Em 1 litro dessa solução existe 0,15 mol de íons cloreto e 
0,15 mol de íons sódio. E também, em 1 L dessa solução existe 0,3 mols de partículas 
(no casos os íons Na e Cl). 
 
Substância Dissociação Fator de dissociação 
NaCl 1 NaCl  1 Na+ + 1 Cl- 
 
2 
CaCl2 1 CaCl2  1 Ca
+2
 + 2 Cl
- 
 
3 
AlBr3 1AlBr3  1 Al
+3
 + 3 Br 
– 
 
4 
Glicose (C6H12O6) 1 Glicose  1 Glicose 
( moléculas não dissociam) 
1 
Etanol (C2H6O) 1 Etanol  1 Etanol 1 
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- Qual a osmolaridade de uma mistura contendo 0,5 M de frutose e 0,1 M de 
cloreto de cálcio? 
 
Como osmolaridade é uma propriedade coligativa, o importante é apenas 
quantidade, não identidade. 
Osmolaridade da frutose 0.5 M = 0,5 x 1 = 0,5 osm 
Osmolaridade do cloreto de cálcio 0,1 M = 0,1 x 3 = 0,3 osm 
Logo a osmolaridade da mistura é 0,8 osm. Isso significativa que existem 0,8 
mols de partículas em 1 litro dessa mistura. Desses 0,8 mols, 0,5 são de frutose e 0,3 de 
íons cloreto e cálcio. 
Uma observação importante: no caso de osmolaridade de ácidos, o número de 
mols de prótons formados durante a dissociação não deve ser incluído no cálculo, pois 
esse próton não permanece livre em meio aquoso como partícula, mas associado so 
solvente formando íon hidrônio. No caso de misturas que envolvam substâncias 
apolares como os lipídios, também não deve-se considerar sua concentração no cálculo, 
pois embora estejam organizados em meio aquoso, esses não estão dissolvidos no meio. 
 
2.2 Determinação da osmolaridade de misturas complexas (nas quais não se 
conhece a quantidade de cada componente) 
 
 Nesse caso, a determinação é realizada experimentalmente através da 
determinação da pressão osmótica da solução. 
 
 
 
 
 
 
 
Na verdade, a pressão osmótica e osmolaridade são simplesmente formas 
diferentes para expressar a mesma entidade, que é o número total de partículas de uma 
solução. No entanto, a melhor maneira de compreender a natureza da pressão osmótica 
é imaginar um dispositivo montado da seguinte maneira: um tubo de vidro contendo 
uma solução concentrada (em termos de soluto e portanto, de partículas) imerso em um 
recipiente contendo apenas solvente e na interface entre esses dispositivos, uma 
membrana sintética que seja semi-permeável, ou seja, permeável ao solvente e 
impermeável a soluto. Nessa situação, a água irá entrar no duto de vidro por osmose. 
Ocorre então uma entrada de solvente, o que eleva o volume de líquido no interior do 
tubo de vidro. A elevação de um volume líquido aumenta a pressão hidrostática do 
sistema, pelo aumento do número de moléculas de água e pela força da gravidade 
atraindo as moléculas para baixo, desta forma a coluna de água exercerá uma pressão 
nas paredes da membrana semi-permeável, que será contrária ao fluxo osmótico das 
moléculas de água, até impedir estefluxo, e isso ocorre quando essa força exercida é 
igual a pressão hidrostática que impulsiona a água a entrar no compartimento, e a essa 
Pressão osmótica: é a pressão exercida pelas partículas componentes umas contra as 
outras e todas contra o ambiente que as contém. É uma propriedade coligativa: 
quanto maior o número de partículas, maior será a pressão osmótica. Podemos 
definir também como a pressão necessária para igualar a pressão hidrostática e 
impedir o fluxo osmótico. 
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força que impede o fluxo osmótico chamamos de pressão osmótica. Então há um 
equilíbrio entre a pressão osmótica exercida pela solução e a pressão hidrostática 
exercida pela água pura, de maneira que o fluxo osmótico cessa, ou melhor, se equilibra, 
sendo que as moléculas de água continuam se movimentando, mas agora com 
freqüência igual entre as soluções. É uma propriedade coligativa, porque depende do 
número de partículas, pois essa pressão exercida pela coluna de água é proporcional à 
concentração de soluto, quanto maior será a pressão osmótica. 
 Se um pistão fosse acoplado ao duto de vidro: quando esse pistão exercesse uma 
força tal que impedisse o movimento osmótico de solvente, essa pressão mecânica 
(força por área) exercida seria numericamente igual a pressão exercida por todas 
partículas da solução. Essa pressão exercida pela solução seria igual a pressão exercida 
se as moléculas de soluto estivessem no estado gasoso ocupando um volume idêntico ao 
da solução nas mesmas condições (pressão osmótica) (Figura 8). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essa abordagem demonstra facilmente como utilizar a pressão osmótica para 
calcular osmolaridade. Esse artifício da variação de volume líquido após o movimento 
osmótico de solvente permite determinar a osmolaridade de misturas complexas, como 
os fluidos biológicos (sangue, líquor, leite materno,...), utilizando dispositivos 
denominados osmômetros. 
Imagine um saco constituído por uma membrana impermeável a solutos e 
livremente permeável ao solvente. A esse saco adapta-se um tubo de vidro e todo 
conjunto é imerso em um recipiente com solvente. No tempo zero temos um certo nível 
de líquido no tubo de vidro.Para atingir o equilíbrio, o solvente entrará no saco por 
Figura 8: Figura mostrando como medir a pressão osmótica. (a) Uma membrana permeável à 
água separa um tubo de solução concentrada da água pura. (b) À medida que a água se move 
para a solução por osmose, a altura da solução dentro do tubo aumenta. (c) A pressão que evita o 
influxo de água é a pressão osmótica 
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osmose até a diluição do compartimento. Como o saco está em comunicação com o duto 
de vidro, ao final do processo um aumento de líquido no interior do compartimento irá 
refletir em um aumento do nível da coluna de líquido no tubo. Essa coluna de líquido 
exerce uma pressão hidrostática (pressão exercida por uma carga líquida), sendo 
numericamente igual a pressão osmótica da solução. 
 
- Pressão hidrostática = elevação da coluna de líquido (Δh) x d (densidade do 
líquido) x g (aceleração da gravidade) 
 
- Pressão osmótica = n x R(constante dos gases) x T(temperatura) / V(volume) – 
note que é basicamente a mesma expresão utilizada para os gases, pois é considerado 
que a pressão do soluto exercida na solução é exatamente igual a pressão q seria 
exercida pelas moléculas de soluto na forma gasosa no mesmo volume e condições. 
 
Medindo-se a altura de líquido e igualando-se as 
expressões é possível calcular n/V, o que significa 
número total de partículas por unidade de volume, ou 
seja, determinar a osmolaridade. Há muitas décadas, essa 
abordagem também permitia a estimativa da massa 
molecular de proteínas, com base na concentração 
osmolar e densidade da solução. 
Dessa forma determinou-se a osmolaridade dos 
líquidos biológicos, incluindo o plasma humano. A 
osmolaridade dos fluidos biológicos é 0,3 osm (300 
mOsm ou ainda 300 mOsm/L). Portanto, o plasma 
humano contém inúmeros componentes (proteínas, 
enzimas, íons, aminoácidos, hormônios, etc) de forma a 
possuir 0,3 mol de partículas por Litro de plasma. 
Perceba que a concentração molar de cada um dos 
diversos componentes do plasma é pequena, mas a soma 
de todos gera 0,3 mol de partícula por Litro. 
No laboratório clínico a osmolaridade plasmática pode ser estimada por uma 
fórmula simples: 2 x [Na] + [uréia em mmol/L] + [glicose em mmol/L]. 
 
 
2.3 Pressão oncótica, pressão osmótica e pressão vascular 
 
Os íons e pequenas moléculas do plasma exercem uma pressão osmótica, pois 
contam como partículas, e atraem água para sua hidratação, sendo responsáveis por 
manter a água no interior dos vasos sanguíneos. O principal íon envolvido na 
manutenção do volume do líquido extracelular é o sódio, o qual está 30 a 35 vezes mais 
concentrado no meio extracelular que intracelular e ainda existe um aumento discreto de 
sódio no vaso sanguíneo em relação ao interstício. Além dessa ação, a albumina 
também contribui para a constância da carga hídrica do vaso. 
 
Figura 9: Figura mostrando 
um osmômetro 
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Desta forma, a albumina, principal proteína sérica, é também responsável pela 
manuteção da pressão oncótica no vaso e pelo transporte de ácidos graxos e outras 
substâncias. A albumina além de constar como partícula no vaso, contribuindo para a 
osmolaridade plasmática, ainda atrai muita água para hidratação de seus aminoácidos, o 
que faz com que uma grande carga líquida exista no plasma em função da hidratação da 
albumina, exercendo uma pressão oncótica ou coloidosmótica. 
Por exemplo, em pacientes com síndrome nefrótica em estado avançado, ocorre 
perda elevada de albumina na urina (um quadro conhecido com albuminúria). Dessa 
forma, a albumina plasmática acaba reduzindo e portanto a osmolaridade do vaso reduz; 
consequentemente haverá migração de água do plasma em direção ao interstício. Com a 
redução da albumina, a água que se ocupava hidratando a molécula encontra-se livre 
A pressão oncótica ou coloidosmótica é uma denominação especial para a pressão 
osmótica exercida pelas proteínas em meio aquoso, estas comportam-se como 
soluções coloidais e a pressão osmótica exercida pelas soluções coloidais é sempre 
maior que a pressão osmótica exercida pelas soluções verdadeiras, pois atraem muita 
água, ficando a solução parecendo que é bem mais concentrada do que realmente é, 
desta forma exercem uma pressão osmótica e uma pressão extra, chamada de pressão 
de embebição ou de hidratação, exatamente por “segurarem” muita água exercendo 
uma pressão maior do que a osmótica simplesmente, sendo chamada essa pressão 
exercida por colóides, proteínas no caso, de pressão oncótica (pressão osmótica + 
pressão de embebição ou hidratação). Como pode-se ver na Figura 10, o gráfico 
mostra que a pressão osmótica varia conforme o aumento da concentração de soluto, 
mas pressão oncótica (linha tracejada) é maior do que a pressão osmótica (linha 
normal), justamente por ser um somatório da pressão osmótica e da pressão de 
embebição. 
Figura 10: Gráfico mostrando que a pressão oncótica é formada pela pressão osmótica e mais 
uma pressão de embebição, já que as proteinas acumulam muita água 
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para movimentação, ou seja, reduz a pressão oncótica e aumenta a pressão 
hidrostática,pois há mais água livre se movimentando. Dessa forma, ocorre saída 
exagerada de água do vaso em direção ao interstício causando edemas. Em pacientes 
desnutridos, os quais não possuem ingesta de aminoácidos para a renovação da 
albumina plasmática, o mesmo mecanismo explica os edemas observados. Esse quadro 
também é observado na insuficiênciahepática, quando o fígado encontra-se incapaz de 
produzir a albumina e em pacientes queimados, pois existem poucos aminoácidos 
disponíveis para síntese de albumina, desde que a maior parte será direcionada para 
regeneração do tecido perdido. 
 
 
 
 
A pressão hidrostática vascular é uma das componentes da pressão vascular, 
representando a carga de líquido contido no vaso e a força com que o coração bombeia 
o sangue. Quando ocorre um aumento exagerado da força de bombeamento, a pressão 
hidrostática eleva-se e assim a água do vaso colide com muito mais força contra as 
paredes do espaço vascular. Em locais em que a parede dos vasos é mais fina, como nos 
alvéolos, a água acaba extravasando mecanicamente do vaso para o meio externo e 
acumula-se no alvéolo, por exemplo. Quando um paciente apresenta uma crise de 
hipertensão arterial severa, um edema pulmonar pode se originar por esse mecanismo. 
No entanto, o aumento da pressão hidrostática não causa acúmulo somente na região 
pulmonar; ocorre extravasamento do plasma para o interstício em vários órgãos. Os 
edemas gerados quando o coração não consegue suportar o retorno venoso 
(insuficiência cardíaca congestiva) devem-se ao aumento da pressão venosa e passagem 
de água do plasma para o interstício. Na obstrução venosa, quadro mais comum nos 
membros inferiores, o entupimento da veia causa um aumento da pressão hidrostática, 
causando edema e podendo gerar o rompimento do vaso. 
 
 
2.3 Tônus celular 
 
O termo tônus celular refere-se às condições de forma e volume de um tipo 
celular. Dessa forma, soluções que são mais concentradas do que o interior da célula, 
ou seja, que possuem osmolaridade mais elevada do que o interior da célula (0,3 osm) 
são chamadas de hipertônicas. Logo quando se coloca a célula em uma solução 
hipertônica, esta vai perder água para solução ficando crenada (murcha). Se a solução 
for menos concentrada, tendo uma osmolaridade menor do que o interior da célula, esta 
é chamada de hipotônica. Se a célula for colocada em uma solução hipotônica, esta vai 
ganhar água da solução e ficar inchada, podendo até ser rompida dependendo de quanto 
hipotônica for a solução. Sempre é necessário lembrar qual a solução que possui mais 
Pressão vascular é o somatório da pressão hidrostática, da pressão osmótica e da 
pressão oncótica e também um reflexo da força de bombeamento cardíaco. 
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água disponível para se movimentar sempre irá para onde tem menos água livre, ou seja 
para onde tem menos partículas de água capazes de se movimentar,pois há mais 
partículas de soluto (mais concentrada e com osmolaridade maior) para interagirem. As 
soluções que não alteram o tônus celular, ou seja soluções isotônicas, são recomendadas 
para uso endovenoso. Essas soluções possuem a mesma osmolaridade do plasma não 
causando maior movimentação de água em algum sentido (para dentro ou fora da 
célula) (Figura 11). 
 
 
Para uma solução ser isotônica é necessário que possua a mesma osmolaridade 
do plasma ou seja 0,3 osm. No entanto, possuir a mesma osmolaridade do plasma (ser 
isosmolar ao plasma) não é suficiente para uma solução ser isotônica. Então podemos 
fazer a seguinte pergunta: 
Por que nem sempre uma solução com a mesma osmolaridade da célula, ou seja, 
isosmolar é uma solução isotônica (que não altera a forma da célula)??? O 
raciocínio mais lógico é pensar que se há a mesma osmolaridade dentro da célula e na 
solução não haverá maior ou menor migração de solvente e não afetará a forma e 
volume celular e de fato um requisito para uma solução ser isotônica é também ser 
isosmolar. Mas a osmolaridade esta relacionada apenas com o número de partículas e 
não com o tipo de partícula, mas para ser isotônica mais uma característica deve ser 
levada em conta que é a permeabilidade que a partícula possui através da membrana. 
Para explicar vamos tomar como exemplo duas soluções: uma solução isosmolar de 
NaCl e uma solução isosmolar de uréia. 
Colocando-se a célula em concentrações crescentes de NaCl, o que acontece? Na 
solução com osmolaridade menor, ou seja, hipotônica, a célula vai ganhar água da 
solução e vai romper; se a solução tiver a mesma osmolaridade não vai ocorrer 
alterações na célula, ou seja, é uma solução isotônica e isosmolar; se a solução tiver 
uma osmolaridade maior, ou seja, hipertônica , a célula vai perder água para solução e 
murchar (Figura 12). 
 
Figura 11: Figura mostrando as alterações na forma da célula 
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Agora, o que ocorre agora se colocarmos a célula em uma solução isosmolar 
de uréia? Vamos observar que a célula vai romper em pouco tempo (Figura 13). 
 
 
 
 
 
 
Por que isto ocorre, já que da mesma forma que o NaCl a uréia é isosmolar 
também? A primeira questão a ser considerada, é que os solutos são “egoístas” sempre 
vão se movimentar aleatoriamente e ter um movimento líquido de onde está mais 
concentrado para onde está menos concentrado equilibrando suas concentrações entre os 
Figura 12: Figura mostrando as alterações no tônus celular em soluções com diferentes 
concentrações de NaCl, a esquerda e salientando que não há alterações na solução de NaCl que 
possui a mesma osmolaridade do interior celular, ou seja, se trata de uma solução isosmolar e 
isotônica. 
Figura 13: Figura mostrando as alterações na célula em uma solução isosmolar de uréia, 
mostrando que é uma solução isosmolar mas não é isotônica, comporta-se como hipotônica. A 
uréia iguala suas concetrações intra e extra celulares, aumentando a osmolaridade do interior da 
célula, consequentemente a solução fica com osmolaridade menos e há a entrada de água para 
dentro da célula e o rompimento da mesma. 
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compartimentos, no caso, dentro e fora da célula, independente de haver partículas de 
outros solutos ou não, ou seja, o soluto vai de onde tiver mais partículas dele para onde 
tiver menos partículas dele, independentemente se o número total de partículas entre 
dois compartimentos for igual, por isso solutos são muito egoístas. Outro ponto a ser 
considerado é a osmolaridade no interior da célula, que é de 0,3 osm, então tem 0,3 mol 
/ L de partículas de modo geral (Na + Cl + glicose + potássio + uréia + proteínas...). 
Portanto, no caso da solução isosmolar de NaCl, há 0,3 mol / L de partículas de NaCl 
(0,15 mol / L partículas de Na
+
 e 0,15 mol / L partículas de Cl
-
), e no caso da solução 
isosmolar de uréia há 0,3 mol / L de partículas de uréia. Ora, se foi dito que dentro da 
célula o total de partículas corresponde a 0,3 osm e a composição do meio intracelular é 
altamente variada, tendo muitos tipos de moléculas e íons, e a união de todos resultam 
nesse valor, fica claro que no interior celular não há 0,3 osm de NaCl e nem de uréia. 
Desta forma, como os solutos são egoistas, vão ter um movimento líquido para o 
interior da célula até igualarem suas concentrações intra e extracelulares. Neste ponto, 
se tanto o NaCl quanto a uréia se difundem para dentro da célula, por que uma solução 
isosmolar de NaCl também é isotônica (não altera a forma da célula) e uma solução 
isosmolar de uréia se comporta como uma solução hipotônica (leva ao rompimento da 
célula) e não isotônica também? Para respondermos, voltamos a questão que nem 
todasas moléculas passam livremente pela membrana da célula, íon de modo geral não 
conseguem atravessar livremente, mas moléculas polares pequenas como a uréia e a 
água conseguem. Desta maneira, no caso do NaCl, há uma movimentação muito restrita 
desses íons para o interior da célula e a água possui uma capacidade muito maior de 
movimentação então a água que preferencialmente vai se movimentar para equilibrar as 
osmolaridade (exatamente o que ocorre no organismo para manutenção da osmolaridadedos compartimentos), como a solução é isosmolar e o soluto possui movimentação 
restrita não há uma alteraçãosignificativa da osmolaridade interna e externa então não 
há alteração da movimentação preferencial da água, continua entrando e saindo na 
mesma proporção, não alterando o volume celular, diferente do que ocorre nas soluções 
hiper e hipotônicas, já que há diferentes osmolaridades, alterando a movimentação 
preferencial da água, tendo esta um movimento líquido para fora ou para dentro da 
célula, respectivamente. Ainda podemos considerar que há mecanismos específicos para 
controlar a quantidade de NaCl dentro da célula, o que contribui para não alterar a 
osmolaridade do interior celular. Já no caso da uréia, esta possui quase a mesma 
capacidade de movimentação da água, ou seja, pode também passar livremente pela 
membrana, então se no interior celular não há 0,3 mol / L de moléculas de uréia, então 
esta vai se movimentar aleatoriamente e ter um movimento líquido para dentro da 
célula, desta maneira e diferente do NaCl que possui movimentação restrita, ela iguala 
sua concentração dentro e fora da célula, nisso aumenta a osmolaridade celular (0,3 osm 
que já existem dentro da célula + numero de particulas de uréia que entrou, que se tinha 
0,3 osm de ureia fora e as concentrações ficaram iguais, então há mais 0,15 osm de 
uréia, ficando o interior celular com 0,45 osm), então como a célula ficou com 
osmolaridade aumentada, haverá um movimento líquido de moléculas de água para o 
interior celula,pois as moléculas de água estão se movimentando aleatoriamente, e como 
reduziu o numero de partículas de ureia no lado externo em relação ao interior celula, há 
mais água livre, capaz de se movimentar, fora da célula do que dentro, então a chance 
de moléculas de água irem de onde estão mais livres para onde estão mais presas 
aumenta, logo se movimentarão para dentro da célula e aumentarão o volume celular até 
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haver o rompimento da célula, se comportanto como uma solução hipotônica, mesmo 
sendo isosmolar (Figura 13). 
 
2.4 Osmolaridade e volume dos compartimentos 
 
TODOS COMPARTIMENTOS DO ORGANISMO POSSUEM A 
MESMA OSMOLARIDADE, 0,3 osm. Deve ser lembrado que a composição de 
solutos dos compartimentos é diferente. Dessa forma, para alcançar a mesma 
concentração osmolar com diferentes quantidades de solutos, é lógico que os 
compartimentos deverão possuir diferentes volumes. 
A água movimenta-se livremente entre os compartimentos, pois todos são 
montados em meio aquoso e interconectados. Mesmo assim, o volume dessas regiões é 
regulado de maneira homeostática e permanece constante, para manter a mesma 
osmolaridade em todos. A razão pela qual o volume é mantido constante é a existência 
da mesma concentração osmolar em todos compartimentos. Torna-se importante 
perceber que qualquer alteração na osmolaridade de um compartimento, irá gerar um 
deslocamento maior de uma quantidade de água entre esses compartimentos, alterando o 
volume dos mesmo. Ou seja, a água se desloca em resposta a alterações da 
osmolaridade. 
Quando ocorre um aumento ou redução da concentração osmolar de uma 
região, a água desloca-se da zona de menor osmolaridade para a zona de maior 
osmolaridade, com objetivo de igualar as concentrações por diluição. Assim sendo, um 
compartimento reduz de volume e um aumenta. A maioria dos solutos não possui livre 
passagem pelo organismo, de maneira que as variações de volume acabam por acarretar 
outras variações em seqüência. Portanto, há constante variação na osmolaridade dos 
compartimentos pelo fluxo de solutos e solventes, mas são transitórias, protamente 
reestabelecidas pelo fluxo de água e de solutos. A seguir serão citados alguns exemplos 
patológicos. 
Na doença conhecida como intolerância a lactose, a criança recém nascida não 
possui a enzima lactase em condições funcionais no intestino. Dessa maneira, a lactose, 
o principal açúcar do leite, não pode ser clivada em seus monossacarídeos, os quais 
podem ser absorvidos pelas células intestinais. Quando um paciente com esse distúrbio 
ingere lactose, esse dissacarídeo acumula-se na luz intestinal, aumentando a quantidade 
de partículas na região e portanto elevando a osmolaridade. Quando essa osmolaridade 
aumenta, a vizinhança, ou seja, o interstício, doa água para a luz intestinal (Lembrando 
sempre que a água migra da zona de menor osmolaridade para a de maior osmolariade). 
Na luz do intestino, essa água distente as alças e causa uma diarréia abundante. Estima-
se que a pessoa possa perder 1 L de água a cada copo de leite contendo 9 g de lactose. A 
situação agrava-se mais, pois a lactose acumulada no intestino é convertida em ácido 
lático pelas bactérias intestinais, atraindo ainda mais água para hidratar a sua caga 
elétrica. O diagnóstico é clínico e o exame laboratorial revela fezes com pH ácido e 
presença de abundante de açúcares. 
Na infecção por Vibrio cholera, a toxina secretada pelo vibrião colérico 
bloqueia a absorção de sódio pelos enterócitos e ainda causa uma secreção de íons 
cloreto para a luz intestinal. Dessa maneira, aumentando-se a concentração de sódio e 
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cloreto na luz do intestino, a osmolaridade aumenta. Novamente, o intestino doa água 
em grande quantidade para a luz, causando a diarréia. A cólera é umas das epidemias 
mais antigas da humanidade, possuindo relatos em 500 a.C. Em infecções graves, o 
paciente pode perder 1 L de líquido por hora em uma diarréia abundante e aguada. 
Em doenças degenerativas renais, que causam perda albumina na urina 
(albuminúria) ou pessoas desnutridas, que não são capazes de sintetizar a proteína (a 
qual é renovada periodicamente na circulação), a pressão oncótica está reduzida. Dessa 
forma, reduz-se também a osmolaridade do vaso e a pressão osmótica do ambiente. 
Dessa forma existirá uma migração de água do vaso para o interstício (por ora mais 
concentrado que o vaso). Lembre-se que a água que estava ocupada com a hidratação 
da albumina agora encontra-se livre no plasma. Esse aumento do conteúdo de água livre 
no plasma promove a saída de grande quantidade de líquido da circulação, repercutindo 
na queda de pressão vascular, indo esta água para o interstício, provocando o 
aparecimento de edemas. Em pacientes desnutridos, os quais não possuem ingesta de 
aminoácidos para a renovação da albumina plasmática, o mesmo mecanismo explica o 
edema observado, por isso pessoas desnutridas apresentam um aspecto inchado. 
Os estados de desidratação podem ser caracterizados por diferentes alterações 
na osmolaridade plasmática, devido a perda maior de solvente, solutos ou equivalente 
de ambos. 
Em algumas situações de constipação, uma das maneiras de promover o 
amolecimento do bolo e fecal e evacuação é a administração do enema fosfatado. Os 
enemas são as formas farmacêuticas de aplicação retal. O enema fosfatado é uma 
solução de fosfatos inorgânicos com uma concentração osmolar em torno de 4 osm 
aplicado diretamente no reto. Assim que essa solução alcança o intestino, a 
osmolaridade da luz intestinal eleva-se consideravelmente e causa a migração da água 
intersticial e consequentemente evacuação. Essa medida terapêutica é utilizada somente 
em casos graves de constipação e geralmente em nível hospitalar. 
Para visualização do intestino, é comum a realização de um exame denominado 
endoscopia digestiva baixa ou colonoscopia. Nesse exame, uma câmera é inserida no 
intestino grosso por entrada pelo ânus em um paciente sedado. Na véspera da realização 
desse exame, o paciente deve ter seu intestino completamente esvaziado. Para isso, ele 
deve ingerir 500 mL de uma solução de manitol a 20%, cuja osmolaridade é 1,7 osm, 
em menos de trinta minutos. Como o manitol é extremamente doce e enjoativo, a pessoa 
geralmente misturacom suco de maracujá. Essa solução de osmolaridade elevada 
causará migração de água intersticial em grande volume, evacuando todo intestino por 
completo. 
Em edemas graves, como o edema pulmonar e edema cerebral, uma das 
estratégias terapêuticas é aumentar a eliminação urinária (diurese) por meio da alteração 
da osmolaridade, em um procedimento denominado diurese osmótica. Para realização 
desse procedimento, injeta-se endovenosamente a solução de manitol a 20%. Essa 
solução aumenta a osmolaridade do vaso sanguíneo, tornando-a maior que 0,3 osm. 
Nesse momento, ocorre saída de água do interstício em direção ao vaso sanguíneo, 
conduzindo a água para o vaso e permitindo que os rins a eliminem. Como edema é 
água acumulada no interstício, esse quadro patológico tende a regredir com essa terapia. 
No entanto, a terapia de diurese osmótica tem alguns efeitos colaterais, sendo utilizada 
somente em casos graves. 
Em pacientes com choque hipovolêmico administram-se soluções coloidais por 
via endovenosa para restaurar rapidamente a carga de líquido do vaso e a presão arterial. 
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Entre as soluções mais utilizadas estão a albumina, a infusão de próprio plasma humano 
ou soluções de alguns polímeros sintéticos, como o dextrano 70, denominados 
expansores plasmáticos. Essa medida aumenta a pressão oncótica vascular e a carga 
líquida do vaso.. De maneira análoga, a infusão endovenosa de líquidos (soluções 
isotônicas) aumentam a pressão hidrostática e osmótica, colaborando para manutenção 
da pressão arterial. No choque hipovolêmico utilizam-se os expansores plasmáticos em 
virtude da rápida resposta que essas soluções oferecem: 1 L de infusão de albumina 
equivale ao efeito de 3 L de soro fisiológico. 
É importante entender que a perda de água por qualquer compartimento irá 
sempre refletir-se em variações da osmolaridade plasmática. Quando perdemos água do 
interstício por uma diarréia violenta, por exemplo, o intertíscio perde água mas seus 
solutos permanecem, pois esses não tem passagem livre pelos compartimentos. Assim, a 
osmolaridade do interstício acaba se elevando e o plasma doa água para o interstício, 
ficando então com sua osmolaridade elevada. O plasma é o grande doador de líquido 
nas perdas de volume dos compartimentos e receptor de líquido nas situações de 
aumento de volume. Dessa forma, independente da via de perda de líquido, quando 
realizamos a reposição hídrica pela via endovenosa, a osmolaridade plasmática 
normaliza e com isso o volume dos compartimentos também, pois estes estão 
interligados e a água flui livremente entre eles, permitindo que o volume dos 
compartimentos se autoequilibre. 
As soluções destinadas a administração endovenosa ou ocular devem ser 
preparadas atendendo alguns critérios referentes a sua osmolaridade. Quando as células 
que estão no vaso sanguíneo e os compartimentos do organismo entram em contato com 
uma solução de osmolaridade elevada (rica em solutos), ocorrem alterações de volume. 
Nessa situação, a água migra do interstício em direção ao vaso e também dos eritrócitos 
em direção ao plasma, causando a redução do volume dos eritrócitos (um fenômeno 
denominado crenação; a célula murcha). Como o interstício perdeu água mas não 
perdeu solutos, a sua osmolaridade também elevou-se e por isso, o tecido adjacente ao 
interstício doa água e as células reduzem de volume. As soluções de osmolaridade 
maior que a do plasma capazes de reduzir o volume de um morfotipo celular são 
denominadas soluções hipertônicas. 
Quando realiza-se uma injeção de uma solução com osmolaridade menor que a 
dos plasma humano (pobre em solutos), o plasma sofre uma diluição. Nesse momento, a 
osmolaridade plasmática reduz e causa movimentação de água em direção ao interstício 
e ao interior das células sanguíneas, as quais aumentam de volume. Quando o interstício 
recebe essa carga líquida, a sua osmolaridade reduz, causando entrada do excesso de 
líquido nas células do tecido periférico. 
Se admistrarmos uma solução que tenha a mesma osmolaridade do plasma, ou 
seja, uma solução isosmolar e/ou isotônica não haverá alteração na movimentação de 
água entre os compartimentos já que não foi alterada a osmolaridade. Já se for injetada 
no vaso uma solução mais concentrada e conseqüentemente com osmolaridade maior do 
que 0,3 osmolar, ou seja, hiperosmolar ou hipertônica, o plasma ficará com a 
osmolaridade elevada então haverá migração de água do interstício para o vaso, com o 
objetivo de compensar essa elevação na osmolaridade, entretanto, como o interstício 
perdeu água vai aumentar sua osmolaridade também então o tecido periférico vai perder 
água para o interstício. Também haverá redução do volume das hemáceas, ja que vão 
perder água para o plasma que esta hipertônico. Se colocar uma solução com 
osmolaridade menor, ou seja, hipotônica ou hiposmolar no vaso o plasma será diluído 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 25 
 
 
ficando com osmolaridade reduzida então vai perder água para o interstício para 
compensar e tentar aumentar a osmolaridade novamente, como o interstício ganhou 
água também ficará com osmolaridade reduzida e conseqüentemente migrará água deste 
para o tecido periférico. Também haverá um aumento do volume das hemáceas, 
podendo haver até rompimento delas, dependendo de quanto hipotônica for a solução. 
(por isso é muito perigoso injetar água pura na corrente sangüínea, pois é extremante 
hipotônica e levando ao rompimento das hemáceas) 
É importante ressaltar que sempre um compartimentos tende a compensar 
alterações na osmolaridade do outro compartimento e sempre a água migra da onde sua 
pressão hidrostática é maior (onde tem mais água disponível para poder migrar, pois 
tem menos soluto para interagir) para onde sua pressão hidrostática é menor (onde tem 
mais partículas de soluto e menos de água). 
 
 
2.5 Soluções para uso endovenoso 
 
 
Então, se qualquer alteração de osmolaridade leva a uma alteração de volume 
entre compartimentos, que tipo de soluções podem ser usadas diretamente no vaso 
sanguíneo? 
 
Aqui entram as soluções fisiológicas e o que seriam estas soluções? As 
soluções fisiológicas devem ser: 
 
- isosmolares 
- isotônicas 
- não tóxicas 
 
As soluções fisiológicas mais comuns são a solução de NaCl 0,9% (0,3 M ou 
0,3 osmolar) e de glicose 5,4% (0,3 osmolar). Notem que são substâncias não tóxicas, 
que possuem a mesma osmolaridade dos líquidos biológicos (isosmolares) e são 
isotônicas (não alteram a forma e volume celular, pois possuem a mesma osmolaridade 
e não entrar livremente na célula por simples difusão pela membrana). Lembrando que 
nem todas as soluções isosmolares são isotônicas, como foi comentado o caso da uréia e 
qualquer substância que passe livremente pela membrana por difusão simples. 
Considerando ainda que soluções isosmolares e isotônicas também podem ser tóxicas, 
como, por exemplo, cianeto de potássio, pode ser isosmolar e isotônico (já que é 
isosmolar e os íons não passam livremente a membrana) mas é altamente tóxico. 
 
 
 
 
 
 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 26 
 
 
2.6. Regulação da osmolaridade plasmática 
 
Uma vez que o 
volume dos compartimentos é 
mantido pela sua pressão 
osmótica, o organismo possui 
diversos mecanismos 
fisiológicos para regulação da 
osmolaridade corporal. 
Existem células 
modificadas,denominadas 
osmoreceptores, que podem 
perceber as variações de 
osmolaridade, localizados no 
hipotálamo e por meio da ação 
do hormônio antidiurético nos 
túbulos renais (Figura 14). 
A perda de água eleva 
a osmolaridade plasmática, 
estimulando a secreção de ADH pela hipófise. Essa variação de pressão osmótica é 
detectada por osmoreceptores centrais que estão em contato com o líquor. O ADH atua 
em nível de túbulos renais, promovendo a recaptação deágua e assim eliminando a 
perda pela urina. Em situações de hipotonicidade do plasma, o estímulo para secreção 
de ADH cessa, resultando no aumento da diurese e normalização da osmolaridade 
plasmática em menos de uma hora. 
Os mecanismos que mantém a regulação do volume corporal em integração 
com a concentração de sódio são realizados pelos rins e envolvem a participação do 
ADH, do sistema renina-angiotensina, do peptídeo natriurético atrial. 
 
 
3. Diálise 
 
A diálise consiste em ter um gradiente de concentração e uma membrana 
seletivamente permeável, ou seja, consiste de uma membrana que possui poros e só 
passará por esses poros as partículas que tiverem tamanho adequado, se foram menores 
que os poros da membrana, a partícula passa e se for maior ficará retida não passando a 
membrana e essa movimentação é provocada pelo gradiente de concentração. Na prática 
a membrana dializadora é impermeável a macromoléculas, mas permeável a íon e 
moléculas do soluto que tiverem tamanho menor do que os poros e partículas do 
solvente, mas retém as partículas coloidais, pois são muito grandes, deixando passar as 
demais substâncias. Membranas de colódio e celofane são exemplo de membranas 
dializadoras. Na diálise os princípios da difusão e osmose ocorrem concomitantemente 
dependendo das características de cada soluto. 
O método básico consiste em colocar dentro do saco de diálise a solução, 
fechá-lo o colocar em uma outra solução. É necessário que a solução externa ao saco 
não contenha os solutos que existam dentro do saco, ou pelo menos não aqueles que 
Figura 14: Figura mostrando a regulação fisiológica da 
osmolaridade 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 27 
 
 
queremos retirar de dentro do saco de diálise. Então a separação se dará por tamanho 
passará as particulas que possuem dimensões adequadas para passar os pelos poros da 
mebrana dialisante e a movimentação para o líquido externo se dará a favor do gradiente 
de concentração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para explicar melhor, vamos considerar o exemplo da Figura 15. Há bolinhas 
azuis e vermelhas. As bolinhas azuis são maiores e as bolinhas vermelhas menores e 
estão em uma solução dentro do saco fechado. Esse saco é constituído pela membrana 
dialisante, que possui poros. Então esse saco contendo no seu interior a solução com 
bolinhas azuis e vermelhas é colocado em um recipiente com água ou alguma solução 
que não contenha bolinhas azuis e vermelhas. Logo estas bolinhas estão mais 
concentradas dentro do saco do que na solução exterior, então vão se movimentar 
seguindo seu gradiente de concentração, entratanto as bolinhas azuis são maiores que os 
poros da membrana então ficam retidas dentro do saco, enquanto as bolinhas vermelhas 
que são menores consequem passar pelos poros da membrana seguindo seu gradiente de 
concentração e vão ir para solução externa até igualar as concentrações dentro e fora do 
saco. Esse procedimento de diálise pode ser utilizado para fazer a separação das 
bolinhas vermelhas e azuis, no caso as bolinhas azuis poderiam ser uma proteína e as 
bolinhas vermelhas íons e poderiamos querer separar esta proteina (bolinhas azuis) dos 
sais (bolinhas vermelhas). Outra possibilidade poderia ser essa solução dentro do saco 
representar o sangue a água externa uma solução dialisante e as bolinhas azuis 
representarem proteinas no plasma e as bolinhas vermelhas toxinas a serem removidas. 
Dentro deste exemplo, podemos passar a falar sobre a hemodiálise. 
Figura 15: Diálise. (a) Uma solução concentrada é separada de um grande volume de solvente 
por uma membrana de diálise (mostrada como um tubo com nós nas duas extremidades). 
Apenas as moléculas pequenas podem difundir-se através dos poros na membrana. (b) Em 
equilíbrio, as concentrações das pequenas moléculas são aproximadamente iguais em ambos os 
lados da membrana, ao passo que as macromoléculas permanecem dentro do saco de diálise. 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 28 
 
 
3.1 Hemodiálise 
 
Os rins exercem diferentes e vitais funções para o organismo, tais como: 
a) realizar a filtração glomerular: o plasma é continuamente filtrado durante o dia no 
interior dos túbulos renais, onde as substâncias que necessitam permanecer no 
organismo são então reabsorvidas pelas células tubulares e aquelas que permanecem no 
interior dos túbulos renais (ou seja, no filtrado glomerular) são encaminhadas para 
formação da urina. De tal maneira, os rins eliminam as toxinas do plasma, como por 
exemplo a uréia (produto final do catabolismo dos compostos nitrogenados), a 
creatinina e o ácido úrico (produto final do metabolismo nitrogenado). 
b) manter a homeostase hídrica e metálica: os rins regulam a absorção e excreção dos 
íons no organismo, mantendo o seu perfeito equilíbrio no organismo. Uma vez que a 
regulação da concentração dos íons, notadamente do sódio, altera a osmolaridade do 
líquido extracelular, os rins também regulam o volume do líquido extracelular. 
c) regulação da pressão arterial: se os rins regulam a concentração de íons e solutos e 
também o volume do líquido extracelular, esses órgãos alteram a pressão osmótica e 
hidrostática vascular, regulando assim a pressão arterial. Além disso, os rins atuam na 
produção de algumas substâncias com ação nos vasos sanguíneos. 
d) os rins possuem uma função importante para o metabolismo ósseo pois atuam na 
homeostase do cálcio e do fósforo 
e) os rins possuem função hormonal, por exemplo, secretando a eritropoetina, um 
hormônio envolvido na maturação da série vermelha do sangue na medula óssea. 
Em pacientes que não possuem os rins funcionais, as funções de filtração 
glomerular, manutenção da homeostase metálica e hídrica e consequentemente auxílio 
na manutenção da pressão arterial pode ser obtida por meio das terapias de substituição 
renal ou terapias dialíticas. Os procedimentos de hemodiálise e diálise peritoneal podem 
suprir essas funções, temporariamente ou a longo prazo. No entanto, em casos de 
insuficiência renal crônica, os procedimentos de diálise são utilizados até que o paciente 
realize transplante renal. 
Uma série de doenças pode conduzir a quadros de falência renal aguda ou 
crônica. A falência renal aguda tem início súbito e geralmente é transitória, enquanto a 
forma crônica dura por muitos anos. Na falência renal aguda o paciente encontra-se 
apático, com câimbras (em função da perturbação na homeostase do potássio), com 
edemas periféricos (especialmente nos pés e tornozelos), fragilidade nos ossos, 
alterações na pressão arterial e hálito com odor de urina (hálito urêmico). A doença 
renal crônica tem sintomas mais silenciosos e é causada por uma série de patologias, 
como por exemplo, a nefropatia diabética, glomerulonefrites, pielonefrites, doença 
hipertensiva por muitos anos, nefropatia intersticial, doença do colágeno e algumas 
patologias genéticas. 
Quando a falência dos rins é total, as toxinas, especialmente a uréia, 
acumulam-se no plasma e os altos níveis plasmáticos de uréia (o que chamamos de 
uremia) podem gerar um quadro grave conhecido como síndrome urêmica. Os 
principais sintomas da síndrome urêmica são náuseas, vômitos, insônia, falta de apetite, 
confusão mental, pele amarelada, hálito urêmico. A função dos rins pode ser avaliada 
por meio de alguns exames laboratoriais; os mais comuns são a determinação da uréia e 
da creatinina no sangue do paciente (ver vídeo: doenças renais). 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 29 
 
 
A hemodiálise é o procedimento terapêutico no qual as toxinas são removidas 
diretamente do sangue do paciente através de uma diálise em um equipamento de 
circuito fechado (Figura 15). Essa terapia tem um custo bastante elevado, pois requer 
equipamentos, grande volume de solução dialisante, unidade dialisadora descartável e 
uma equipe de profissionais,como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e 
farmacêuticos. Em um primeiro momento, o profissional da enfermagem seleciona um 
acesso venoso no paciente, o qual pode ser temporário ou permanente. Os acessos 
temporários utilizam vasos profundos, selecionados e acessados pelo médico com 
técnica cirúrgica, como a jugular ou subclávia. Esses acessos destinam-se a situações de 
emergência ou a pacientes em estado grave. Os acessos menores, com vasos do membro 
superior, podem ser permanentes (como no caso das fístulas arterio-venosas) e nesse 
caso, o enfermeiro instrui uma série de cuidados ao paciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O procedimento de hemodiálise deve ser realizado 3 a 4 vezes por semana e 
pode durar de 3 a 6 h, o que reduz muito a qualidade de vida do paciente. O sangue do 
paciente entra no equipamento por meio do acesso venoso e é então heparinizado, para 
evitar a formação de coágulos dentro da máquina. A seguir o sangue alcança a unidade 
dialisadora, que é formada pela membrana dialisante e é o local em que ocorrem as 
trocas entre o sangue e a solução dialisante. Após a diálise, o sangue passa por uma 
armadilha que remove eventuais bolhas de ar (para evitar uma embolia no paciente) e 
retorna ao organismo. A mesma porção de sangue passa várias vezes na unidade 
dialisadora, pois a passagem acontece de forma bastante rápida. Embora seja rápida, 
ocorre muitas vezes, garantindo a eficiência do processo. A passagem ocorre de forma 
lenta para evitar variações bruscas na osmolaridade do plasma e assim prevenir a 
ocorrência da síndrome do desequilíbrio (Figura 16 e ver vídeo: hemodiálise). 
Na hemodiálise a membrana dialisante é uma membrana de natureza sintética 
formada por uma material de natureza polimérica. Os materiais mais utilizados hoje em 
Figura 16: Figura mostrando o procedimento da diálise 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 30 
 
 
dia são as polisulfonas, polimetacrilato e poliacrilonitrila. Antigamente usavam-se 
membranas de celulose, mas esse material foi abandonado em função de sua natureza 
trombogênica. Existe uma série de requisitos para os materiais que serão utilizados na 
confecção de membranas dialisantes: 
a) possuir um poro de tamanho adequado para filtração e uma densidade de poros 
adequados. 
b) não adsorver drogas ou substâncias do plasma em sua superfície 
c) não disparar a formação de trombos ou seja, não interagir com os fatores de 
coagulação do plasma 
d) não interagir com nenhum dos componentes do plasma 
e) possuir uma resistência hidráulica adequada ao processo 
As membranas dialisantes podem ser organizadas em dois tipos de unidades 
dialisadoras: o módulo de membranas paralelas e o módulo de fibras ocas. O módulo de 
fibras ocas é um tubo composto por milhares de tubos capilares em que a membrana 
dialisante é o material utilizado para confeccionar esses capilares. Uma vez que o 
módulo de fibras ocas oferece maior área de superfície ao processo, a velocidade de 
remoção de solutos do plasma torna-se maior, segundo a primeira lei de Fick. Os 
módulos de membranas paralelas não são utilizados hoje em dia, mas eram bandejas 
compostas pela membrana dialisante, separando um compartimento contendo o sangue 
e o outro, contendo a solução dialisante. Nos módulos de fibras ocas, o sangue percorre 
o interior dos tubos capilares e a solução dialisante circula no exterior desses capilares 
em sentido contrário. A solução dialisante passa uma única vez na máquina e é então 
desprezada. 
A renovação da solução dialisante é importante para manter elevado o 
gradiente de concentração dos solutos entre o plasma do paciente e a solução 
dialisante, considerando que segundo a primeira Lei de Fick, quanto maior o 
gradiente de concentração de um soluto, maior será a sua velocidade de fluxo por 
uma membrana por simples difusão. 
A diálise é um processo de difusão seletiva em que utiliza-se uma solução 
dialisante que cria um gradiente de concentração para as substâncias que queremos 
movimentar por simples difusão. Ou seja, na solução dialisante da hemodiálise não 
deverá haver nem uréia, nem creatinina, nem ácido úrico... toxinas do plasma. Dessa 
maneira, haverá um gradiente de concentração e essas substâncias passarão por simples 
difusão, da circulação do paciente para a solução dialisante e serão descartadas 
juntamente com a solução dialisante. No entanto, na circulação existe uma série de 
substâncias que não podem deixar o plasma; para essas substâncias deveremos ter, 
na solução dialisante, a mesma concentração molar do plasma humano (Figura 17). 
Dessa forma, não haverá ganho nem perda desses solutos do plasma durante o 
processo. 
 
 
 
 
 
 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
 31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Se caso fosse colocado soro fisiológico ao invés da solução dialisadora o que 
poderia ocorrer? Iria formar um gradiente de concentração com os eletrólitos, a glicose, 
e outras moléculas pequenas do plasma que não devem ser removidas, então o paciente 
iria perder essas moléculas para solução por difusão. 
Na hemodiálise a separação ocorre apenas por tamanho do soluto; aqueles que 
são menores que o poro da membrana dialisante conseguem transitar pela membrana 
por simples difusão. Por sorte, os catabólitos do plasma são moléculas pequenas, assim 
como os íons e outros solutos importantes que não podemos perder (Uréia:60 dáltons; 
creatinina 113 dáltons). As proteínas, sendo macromoléculas, não conseguem passar 
pela membrana dialisante. Existe uma proteína que acumula-se em pacientes com os 
rins não funcionais: a -2-microglobulina, a qual não pode ser removida durante a 
hemodiálise e acumula-se a vida toda no organismo. Com o passar do tempo, essa 
proteína acaba cristalizando nas articulações, levando a problemas na movimentação. 
É importante salientar que a medida que o tamanho de um soluto diminui, 
maior é a sua agitação no espaço (movimento Browniano) e portanto, esse soluto colide 
um número muito maior de vezes com a membrana dialisante, acabando por ter uma 
alta velocidade de fluxo pela membrana por simples difusão. 
A hemodiálise também remove o excesso de líquido acumulado na circulação 
de pacientes renais crônicos. No passado essa remoção de excesso de líquido da 
circulação era realizada com uso de uma solução dialisante levemente hipertônica 
Figura 17: Quadro comparando a composição do plasma com a solução dialisante, notem que 
as concentrações de eletrólitos e partículas que podem passar a membrana é relativamente igual 
entretanto a solução dialisante não possui as toxinhas que devem ser removidas do sangue, 
mantendo assim um gradiente de concentração elevado 
Movimento entre os compartimentos 2010 
 
 
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(preparada com um excesso de glicose), removendo a água por pressão osmótica. 
Atualmente, a solução dialisante é obrigatoriamente isotônica ao plasma humano, para 
impedir variações na volemia do paciente, e o excesso de líquido é removido por meio 
da aplicação de uma pressão mecânica controlada pelo equipamento no compartimento 
do sangue, forçando assim um extravasamento de água para fora desse compartimento. 
Nos procedimentos mais antigos de hemodiálise, ocorria uma saída muito 
rápida das toxinas do plasma, de maneira que a osmolaridade plasmática do paciente 
decrescia rapidamente. Nessa situação, a água migraria do plasma para o interstício, que 
tornou-se uma região com osmolaridade relativamente maior que a do plasma. Esse 
acúmulo de líquido na região do crânio comprime o tecido nervoso contra a caixa 
craniana, causando dor de cabeça, convulsões e arritmias. Esse quadro é denominado 
Síndrome do desequilíbrio. Atualmente, a remoção das toxinas ocorre de forma lenta e 
gradual, razão pela qual os procedimentos de hemodiálise duram de 4 a 6 h. 
 
 
3.2 Diálise Peritoneal 
 
A

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