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A Acumulação de capital e o mercantilismo

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A Acumulação de capital e o mercantilismo
Maurice Dobb
O problema da transição
Não há uma formulação do problema definitiva nos escritos de Marx/Engels;
Transição de um modo de produção para outro;
A interpretação de Dobb intercala elementos de formulação teórica do problema do capitalismo, com os elementos históricos;
Diversidade de temporalidades/ territorialidades;
Longo processo de transição, classificado sob diferentes ângulos durante o texto: 
Modo de produção: decadência do feudalismo; Acumulação primitiva, origem do modo de produção capitalista;
Temporalidade dilatada: 
séculos XIV-XVI: crise;
Séculos XVI=XVII: origem, inícios do capitalismo , penetração na produção
Final do XVIII: Capitalismo pleno: Revolução Industrial
As origens do capitalismo
segunda metade do século XVI e início do XVII:
“capital começou a penetrar na produção em escala considerável, seja na forma de uma relação bem amadurecida entre capitalista e assalariados, seja na forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos, que trabalhavam em seus próprios lares, a um capitalista, própria do assim chamado ‘sistema de encomendas domiciliar’” (15)
Dois momentos decisivos
Século XVII: Revolução Inglesa (1640): supremacia do parlamento e desobstrução dos entraves para a compra e venda da propriedade da terra e fim do monopólio das companhias de comércio.
Século XVIII: Revolução Industrial: transição para o estágio específico do capitalismo: produção em grande escala e diferenciação entre capitalistas e assalariados
Transição do feudalismo para o capitalismo
Terceiro momento: desintegração do feudalismo
Onde situá-lo?
Século XIV - XVI: crise da antiga ordem feudal;
Surgimento das cidades corporativas;
Surgimento e influência dos negócios nacionais
Desintegração já avançada
Artesanato urbano;
Agricultores livres;
Trabalhador-proprietário
Predomínio do trabalhador ainda sujeito ao senhor
Elemento subordinado da sociedade feudal
Existiu uma acumulação de capital como etapa essencial na gênese do capitalismo;
Há a necessidade de acumulação prévia? De uma acumulação de meios de produção e de dinheiro como uma etapa necessária para o surgimento do capital?
Se pensarmos na acumulação de meios de produção, Não há necessidade
O processo de acúmulo de teares e de crédito poderia ter sido feita cumulativamente, de modo que o surgimento do capitalismo não exigiria uma período prévio.
Existiu uma acumulação, não de meios de produção, mas de “valores de capital – de títulos a bens existentes acumulados inicialmente por motivos especulativos; e, em segundo lugar, como acumulação em mãos de uma classe que, em virtude de sua posição peculiar na sociedade, é finalmente capaz de transformar esses títulos de patrimônios acumulados em meios reais de produção” (128);
Valores  classe social  posição na sociedade.
Não é acumulação pura e simples, mas acumulação social, por uma classe específica capaz de, com os valores acumulados, transformar o modo de produção.
Acumulação ≠ transferência de propriedade de uma classe para outra;
A acumulação de capital é, mais que uma transferência, é uma “concentração da posse da riqueza em mãos muito menos numerosas [...] O termo acumulação será doravante usado para designar uma concentração, bem como uma transferência, da propriedade dos títulos de riqueza.
Acumulação de capital
Acumulação de Capital: processo social de concentração da propriedade [Acumulação de meios: capital, para financiar as alterações técnicas, jurídicas e sociais das relações de produção] nas mãos de uma classe social específica;
Entender os motivos pelos quais é necessário essa concentração da posse da riqueza, e não apenas uma transferência dela. É essa necessidade que dá a peculiaridade que permite falarmos de uma acumulação de capital como um processo histórico específico. 
Formas de concentração de propriedade por uma classe social
pela compra de propriedades de outras classes 
pressupõe poupança em dinheiro = explica o surgimento do capitalismo pela existência de lucros extraordinários: inflação de lucros do século XVI e XVII;
Comprar propriedades num época de crise: preço barato e venda posterior, em preços mais altos relativos a outros bens [instrumentos ou força de trabalho]
pressupõe a valorização do capital no processo de compra e venda, em outras palavras, circunstâncias que diminuíram o preço durante a compra e aumentaram o preço durante a venda.
Primeira fase do segundo processo
No caso da propriedade da terra, circunstâncias deveriam torná-la barata, ou indesejada pelos seus possuidores num primeiro período e depois mais caras, num segundo momento. 
A circunstância mais provável para desvalorizar um bem num período e valorizá-lo relativamente em outro poderia
“ocorrer como resultado de política deliberada pelo Estado, e como incidente na queda de uma antiga ordem da sociedade, o que tenderia a apresentar o efeito duplo de enfraquecer e empobrecer os associados ao antigo modo de produção e proporcionar à burguesia uma oportunidade de ganhar certa medida de poder político, graças ao qual poderia influenciar a política econômica do Estado” (130)
As condições para a concentração da propriedade foi o próprio declínio do modo de produção feudal. 
“se essa própria desintegração tinha que ser a alavanca histórica para iniciar o processo de acumulação de capital, nesse caso o crescimento da produção capitalista não poderia por si só prover o instrumento principal de tal desintegração. 
Era preciso que decorresse um intervalo, durante o qual o pequeno modo de produção, legado da sociedade feudal, estivesse sendo, ele próprio, parcialmente rompido ou então subordinado ao capital, e a política do Estado se modelasse por novas influências burguesas num sentido favorável aos objetivos burgueses. A nova sociedade tinha de nutrir-se da crise e decadência da ordem mais antiga” (130). 
Processo pelo qual as formas antigas de propriedade foi sendo apropriada pelo novo modo de produção
Primeira fase do segundo processo
Processo de endividamento e de hipotecas dos senhores feudais ingleses facilitou o processo de transferência de propriedade;
Facilidade jurídica na execução de hipotecas;
Retomada pelo Estado das terras da Igreja (séc. XVI) e monarquistas (XVII);
Comércio colonial: pilhagem;
Inflação de preços: diminuição do valor das terras em relação ao ouro; 
Segunda fase do segundo processo [venda das propriedades a preço baixo]
Realização dos bens adquiridos para:
Investimentos na produção industrial: adquirir ou criar “maquinaria algodoeira, edifícios fabris, usinas siderúrgicas, matérias-primas e força de trabalho” (131);
Nessa segunda fase, era preciso que se criassem condições que fizessem os capitalistas transferirem o capital acumulado em investimentos industrial. 
Condições para o investimento na produção industrial: 
Reserva de mão-de-obra
Acesso a suprimentos e matérias-primas;
Produção de ferramentas e maquinarias.
As condições para o investimento industrial difere no tempo, da fase de acumulação/concentração da propriedade. Daí a necessidade das duas fases
A separação das duas fases acontece pois “as condições cruciais necessárias para tornar atraente o investimento na indústria em qualquer escala considerável não poderiam estar presentes até que o processo de concentração progredisse o bastante para causar um desapossamento real dos proprietários anteriores e a criação de uma classe substancial dos destituídos. Em outras palavras, a primeira fase de acumulação – o crescimento da concentração da propriedade existente e o simultâneo desapossamento – era um mecanismo essencial para criar condições favoráveis à segunda. E, como era preciso que decorresse um intervalo antes que a primeira desempenhasse sua função histórica, as duas fases têm necessariamente de ser encaradas como separadas no tempo”. (132)
Processo implica, também, a perda de patrimônio dos pequenos proprietários e sua pauperização.
Os cercamentos foram a forma de concentração da propriedade e de enriquecimento que ocasionou o desapossamento
de todos os bens de grande parte da população, dando início ao processo de proletarização
O processo de formação do capitalismo é o processo de surgimento de uma burguesia industrial proprietária dos meios de produção, e da classe proletária, trabalhadora, destituída de todos os meios de produção. 
Para captar esse processo, não basta se deter nos mecanismos de riqueza, mas nos mecanismos de riqueza que proporcionam a concentração da propriedade nas mãos de poucos e a destituição da posse de muitos. 
As guerras e as crises econômicas como causas dos embaraços financeiros dos séculos XV e XVI
Endividamento dos donos de terra aos mercadores urbanos;
Crise agrícola, dos valores da terra e diminuição das fortunas nos séculos XIV e XV;
Transferência de propriedades agrícolas e casas senhoriais aos comerciantes urbanos;
Endividamento e hipoteca de propriedades;
Desenvolvimento do sistema bancários e da Dívida Pública;
Fontes de recursos creditícios eram não só os grandes comerciantes atacadistas, mas também, fabricantes modestos;
Melhoramentos na agricultura sob os Stuarts;
Desenvolvimento de um mercado de ações.
os lucros do comércio exterior continuaram a ser exorbitantes, desestimulando os investimentos industriais. 
Comércio internacional tinha caráter de monopólio; 
Estímulo ao investimento no comércio interno ou na manufatura, para aqueles que não podiam investir no comércio de longa distância;
Abertura do comércio exterior se tornou atrativo para as atividades manufatureiras, estimulando o investimento industrial
A origem do investimento na indústria não estava, entretanto, nos grandes comerciantes, mas na “média burguesia provinciana mais humilde, em sua maior parte menos privilegiada e rica, mas com base mais ampla” (138);
Houve, portanto, uma oposição entre os grandes comerciantes, cujos lucros advinham dos monopólios; e os setores industriais, que pressionavam pelo fim desses monopólios, para escalonar sua produção, restrita ao mercado interno regional; “assalto aos monopólios” (138). 
Havia um mercado interno para produtos de luxo, siderurgia. Também a produção de tecidos, abasteceu, em parte, o comércio exportador. Por outro lado, as compras estatais, sobretudo de armamentos e armaduras, estimularam a produção. 
Dessa forma, seria necessária uma expansão do mercado interno, capaz de estimular e dar suporte aos investimentos industriais, em detrimento dos outros ramos, sobretudo o comércio exterior;
Capitalismo criou seu próprio mercado. À medida que encontrava mercados para a manufatura, estas cresciam. 
O mercado externo foi um importante fator para estimular a ampliação das manufatura;
Mercantilismo foi a teorização da importância dos mercados externos para a expansão econômico e os investimentos manufatureiros. 
3. Mercantilismo
Noção de lucro baseado na regulamentação do comércio para sustentar a diferença entre preço de compra e preço de venda, em condições de monopólio;
Ausência da noção de lucro obtido numa situação de concorrência;
“Enquanto a mais-valia fosse concebida como dependente da regulamentação consciente para produzi-la, a noção de objetividade econômica – de uma economia funcionando de acordo com leis próprias, independentemente da vontade consciente do homem - , que era a essência da Economia Política clássica, dificilmente poderia desenvolver-se” (143). 
Discussão sobre a definição de Riqueza como a quantidade de ouro acumulada pelo país;
Objetivos práticos de “criação de uma balança favorável de comércio”;
Pressupunha que o comércio nacional, interno não tinha condições de se expandir;
A ênfase nas exportações buscava encontrar mercado para as mercadorias produzidas;
Termos favoráveis de comércio:
Comprar barato e vender caro;
Mercantilismo: representante dos interesses industriais, ou, “do capital mercantil que adquiria já interesse direto na produção” (146);
Exportação de manufaturas nacionais por produtos coloniais [matérias-primas]
Importância crescente da política colonial;
“tratava-se de uma política de monopólio semelhante àquela que, em estágio anterior, as cidades haviam adotado em suas relações com o campo circunvizinho, e que os mercadores e mercadores-fabricantes das companhias privilegiadas tinham seguido em relação ao artesão” (147);
Política de manutenção de baixos salários na metrópole e de baixos preços dos produtos coloniais que serviam de matéria-prima às manufaturas metropolitanas;
“o Sistema Mercantil foi um sistema de exploração regulamentada pelo Estado e executado por meio do comércio, que desempenhou papel importantíssimo na adolescência da indústria capitalista: foi essencialmente a política econômica de uma era de acumulação primitiva” (149). 
Alterações no política mercantilista a partir da segunda metade do século XVII
Crescente tolerância às exportações de ouro em troca da importação de matérias-primas que estimulassem a indústria nacional;
Aos poucos a defesa do comércio exterior passou a ser feita no sentido de aumentar o número de empregos internos, via ampliação dos mercados de exportação, ao passo que as importações deveriam se restringir às matérias-primas.
Passagem da ênfase nos termos do comércio [comprar barato e vender caro] para o volume do comércio [aumento do lucro sobre o capital investido]. 
Contradição vital na história do capitalismo:
Expansão pressupõe a criação de novos mercados;
Lucro industrial, barateamento dos custos, via inovação técnica;
Progressista em relação às transformações na produção. 
A acumulação de capital, a valorização, pressupõe restrições monopolistas
Lucro comercial, classes capitalistas mais antiga;
Reacionárias às transformações na produção
Dobb detecta essa contradição na sociedade:
“conflito entre os interesses de uma geração mais velha de capitalistas, já entrincheirados em certas esferas do comércio e da usura, onde o capital penetrara primeiramente, e os interesses de uma nova geração que se tornava investidora em atividades ou indústrias novas, ou em novos métodos de produção” (156).

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