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História Econômica Geral - Livro-Texto Unidade I

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Autora: Profa. Ivy Judensnaider
Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli
História Econômica Geral
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Professora conteudistas: Ivy Judensnaider
Ivy Judensnaider é economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestra pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, no Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência e da Tecnologia. Atualmente 
é professora da Universidade Paulista (UNIP), onde coordena o curso de Ciências Econômicas no campus Marquês 
(SP). Também atua no setor de publicações, sendo autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na 
internet. Nos últimos dez anos, tem trabalhado na elaboração de textos e de livros para uso em ensino a distância. 
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J92h Judensnaider, Ivy.
História econômica geral. / Ivy Judensnaider. – São Paulo: 
Editora Sol, 2014.
160 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-119/14, ISSN 1517-9230.
1. Reforma protestante. 2. Revolução industrial. 3. Noliberalismo. 
I. Título.
CDU 33
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Giovanna Oliveira
 Rose Castilho
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Sumário
História Econômica Geral
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O SURGIMENTO DO MUNDO FEUDAL ..................................................................................................... 12
1.1 O sistema feudal: as relações de vassalagem ........................................................................... 16
1.2 A pequena manufatura e as guildas ............................................................................................ 20
1.3 O comércio .............................................................................................................................................. 22
1.4 O processo de urbanização ............................................................................................................... 28
2 A REFORMA PROTESTANTE .......................................................................................................................... 30
2.1 A revolta dos camponeses ................................................................................................................ 34
3 A FORMAçãO DOS ESTADOS NACIONAIS E AS VIAGENS ULTRAMARINAS ............................. 36
4 A REVOLUçãO INDUSTRIAL ........................................................................................................................ 41
4.1 A acumulação de capital e o surgimento do capitalismo ................................................... 41
Unidade II
5 DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX ................................................................................................................. 55
5.1 A Inglaterra e a Primeira Revolução Industrial ........................................................................ 55
5.2 O apogeu: a Segunda Revolução Industrial .............................................................................. 62
5.3 A crise ........................................................................................................................................................ 71
5.4 A Primeira Guerra Mundial .............................................................................................................. 79
6 A CRISE DE 1929 ............................................................................................................................................. 84
6.1 A gênese da crise .................................................................................................................................. 84
6.2 O New Deal ............................................................................................................................................. 90
Unidade III
7 OS SÉCULOS XX E XXI .................................................................................................................................... 98
7.1 A Segunda Guerra Mundial .............................................................................................................. 98
7.2 A Conferência de Bretton Woods ...............................................................................................104
7.3 Os anos dourados do capitalismo ................................................................................................108
7.4 A Guerra Fria .......................................................................................................................................112
7.5 O fim do acordo de Bretton Woods e o processo inflacionário ......................................116
7.6 A crise do petróleo e os efeitos na economia mundial ......................................................121
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8 O NEOLIBERALISMO E SEUS DESDOBRAMENTOS ............................................................................126
8.1 A chegada do neoliberalismo e o Consenso de Washington ...........................................126
8.2 A globalização e seus conceitos ...................................................................................................130
8.3 O século XXI ..........................................................................................................................................136
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APrEsEntAção
A disciplina História Econômica Geral tem como principais objetivos a descrição e a análise do 
processo de formação e de desenvolvimento do modo de produção capitalista. Esse processo tem 
início com a desintegração do modo de produção feudal e avança até os dias de hoje, em contínuas 
transformações e mudanças. Em outras palavras, queremos mostrar, do ponto de vista histórico, 
como a humanidade garantiu sua sobrevivência material por meio da produção e distribuição de 
mercadorias.
Construiremos historicamente um percurso do sistema feudal ao capitalismo industrial e deste para 
o capitalismo financeiro de forma quepermita que os grandes desafios e obstáculos apresentados pelo 
sistema capitalista possam ser compreendidos por aqueles que desejam estudar as formas de organização 
econômica ao longo do tempo.
A disciplina também vai evidenciar a racionalidade do sistema capitalista, centrada na expansão 
contínua do valor de troca, em contraste com a criação de valores de uso no modo de produção feudal 
pré-mercantil. Também vamos detalhar a formação das estruturas e das dinâmicas comerciais internas à 
Europa Ocidental do século XI ao XIII, apresentando a expansão ultramarina ibérica como consequência 
da expansão comercial desse período, tratando de aquilatar a formação histórica do capital comercial 
no final da Idade Média e ao longo da Idade Moderna. 
Nesta disciplina também realizaremos a análise da Revolução Industrial na Inglaterra após 1760 
e seus desdobramentos no século XIX, bem como o detalhamento dos fatores e das características da 
Crise de 1929 e da política econômica posta em prática pelos EUA após 1933, de cunho keynesiano. 
Outros objetivos incluem o estudo das relações comerciais e financeiras entre os EUA e a Europa 
Ocidental após 1945, dando especial atenção para o padrão ouro-dólar e para as instituições criadas 
em Bretton Woods.
Finalmente, iremos caracterizar e evidenciar as causas da estagflação nas economias centrais após 
1970, abordando o processo de financeirização da riqueza em meio à mundialização do capital financeiro 
e produtivo nas economias centrais e periféricas no contexto do mundo globalizado.
Note que o livro-texto está dividido em quatro unidades. Em cada uma delas você encontrará:
a) textos explicativos que elucidam a matéria;
b) resumos do conteúdo estudado;
c) exercícios comentados;
d) tópicos para refletir, em que convidamos você a pensar sobre assuntos da atualidade;
e) a seção Saiba Mais, em que indicamos filmes e livros que, de alguma forma, complementam os 
temas investigados; não deixe de explorar essas sugestões; você irá ampliar seu conhecimento 
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sobre os temas apresentados, e isso será extremamente útil, não apenas na questão específica da 
disciplina, mas na sua vida profissional;
f) lembretes – anotações pontuais que remetem a alguma informação já conhecida – e Observações 
– apontamentos que chamam sua atenção para algum ponto destacado sobre o assunto em 
desenvolvimento – são recursos que reforçam algumas questões que quisemos salientar;
g) exemplos de aplicação, em que você será convidado a refletir sobre um tema proposto.
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História Econômica GEral
Unidade I
Iniciaremos nosso diálogo contando como o sistema feudal se organizou a partir da desintegração 
do Império Romano. Nosso foco será o detalhamento do modo de produção (as relações de vassalagem 
entre servos e senhores feudais, e entre senhores feudais e nobres), bem como as caracterizações sociais 
peculiares resultantes desse modo de produção. Também investigaremos as dinâmicas comerciais 
da Europa Ocidental do século XI ao XV, buscando compreender as condições para o surgimento do 
capitalismo. Tal processo envolve a crescente urbanização, a perda de poder do senhor feudal, a formação 
dos Estados nacionais, a Reforma Protestante e a paulatina monetização dos nascentes mercados. 
Finalmente, estudaremos a Revolução Industrial.
Convém, para começarmos nosso percurso de aprendizado, indagar-nos para que serve a História. 
Segundo Arruda (2008), sua principal finalidade é permitir que possamos ultrapassar o “eu” na direção 
do “nós” e compreender a relação do homem com outros homens ao longo do tempo. Como afirma 
o autor, “por esta razão, a consciência histórica, que é parte fundante do conhecimento da História, 
pressupõe a ultrapassagem do ‘eu individualista’ e é, concomitantemente, um dos principais caminhos 
para realizar essa superação” (ARRUDA, 2008, p. 8).
Aceitando-se, dessa forma, a importância do conhecimento histórico, fica, no entanto, a 
questão: das muitas histórias existentes, qual deve ser contada? Como devem ser narrados o tempo 
e os acontecimentos que nele transcorrem? Sabemos que essa narrativa pode ser feita por meio 
da investigação dos desenvolvimentos artísticos ou científicos. Pode ser feita, também, a partir 
do estudo dos movimentos sociais. São muitas as histórias existentes, e, por isso, é importante 
que definamos: a história que iremos contar é a que irá narrar como as relações econômicas se 
desenvolveram, criando, assim, o mundo tal como o conhecemos hoje. Em resumo: a partir da 
desintegração do Império Romano, contaremos como o modo de produção capitalista surgiu, 
desenvolveu-se, expandiu-se e se tornou hegemônico.
As vozes que contarão essa história pertencem a economistas e historiadores que escrevem sobre 
história econômica: Huberman, Heilbroner, Milberg, Hobson, Hobsbawm, Judt, Dobb, Rezende e outros. 
Nosso papel, como autores do livro-texto, será o daqueles que resgatarão a passagem do tempo, 
organizando-o de forma que o passado possa ser compreendido, e o presente, observado com espírito 
crítico.
[...] o historiador tenta compreender as ações práticas dos homens, os 
móveis que os animam, os fins que os norteiam, o seu universo simbólico 
e as significações que para esses homens tinham seus comportamentos 
e ações. O historiador opera diante de ações realizadas, cuja significação 
procura desvendar (ARRUDA, 2008, p. 8). 
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Unidade I
Como vamos contar a história? Afinal, ela é caótica, não linear, cheia de ocasos e acasos, o que impõe uma 
dificuldade logo de início, que é a de escolher a melhor forma de contá-la. Não apenas isso, pois essa escolha 
implica outras: é necessário compreender como se dão as interfaces e as relações entre os acontecimentos 
políticos, econômicos, sociais, científicos e artísticos em determinado período; como selecionar o melhor 
método para conectar os acontecimentos com as realizações, atitudes e os comportamentos dos homens, com 
as instituições construídas ou destruídas, com as obras escritas e as ideias disseminadas.
Essa tarefa, portanto, traduz-se em indagações cujas respostas tornam-se essenciais para quem 
se propõe à atividade de investigação histórica: como determinar quais os aspectos mais relevantes 
da história que se quer contar? Como ordenar os fatos, se nem sempre eles se apresentam de 
forma regular, linear ou sistemática? Como estabelecer relações e conexões entre diferentes 
nações, diferentes contextos e diferentes eventos? Para contar a história, é necessário que se façam 
escolhas. Nossa principal escolha neste livro-texto consiste em contar a história econômica a partir 
do período em que são gestadas as condições para o nascimento da economia de mercado; afinal, 
falaremos em atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos que surgem 
apenas a partir do nascimento da economia de mercado, quando as relações sociais passam a ser 
explicadas conforme um sistema econômico organizado. 
Segundo Cerqueira (2001, p. 398), nas sociedades primitivas, pré-capitalistas, 
[...] o que leva os homens a desenvolverem atos de produção e distribuição 
não é o interesse individual na posse de bens, mas a tentativa de preservar 
sua situação social. Desse modo, a motivação para produzir não provém de 
interesses especificamente econômicos, mas pode estar ligada a um conjunto 
de fatores sociais que variam em cada grupo humano: a necessidade de 
preservar vínculos familiares ou uma posição social, a adesão a um códigode honra ou a valores tradicionais. 
Nas sociedades primitivas pré-capitalistas, não apenas inexistem comportamentos como a busca 
do lucro, a necessidade de maximização e de otimização da produção, o espírito empreendedor e 
concorrencial, como inexistem as instituições e os espaços que poderiam abrigar os atos que entendemos 
como econômicos. 
É claro que não chegaremos ao extremo de considerar uma relação de sinonímia entre Ciências 
Econômicas e capitalismo. É importante ver que as Ciências Econômicas são o ramo do conhecimento 
que estuda as estruturas econômicas de mercado, as formas pelas quais nas sociedades capitalistas, 
a reprodução material das sociedades passou a se processar por meio de instituições orientadas 
exclusivamente para objetivos econômicos, como os mercados. Neles, ofertam-se mercadorias e fatores 
de produção e os preços se formam.
É importante também explicitar alguns pressupostos metodológicos: contaremos a História tendo 
em vista que ela é um processo tenso, contraditório e sem finalidade imanente, em que agentes 
(grupos sociais) com interesses comuns e constituídos a partir de possibilidades e limites determinados 
afirmam e fazem reconhecer suas necessidades sociais. Acreditamos ser essa a melhor estratégia para 
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História Econômica GEral
compreendermos a trajetória que o capital percorreu desde a Revolução Industrial até os anos recentes 
do século XXI.
 observação
A História que queremos contar é aquela que diz respeito a populações 
com as quais fomos levados historicamente a nos identificar.
Sem de fato combater o eurocentrismo muito presente na produção historiográfica – 
apesar de este já ter sido posto em xeque por vários intelectuais –, trabalharemos com fatos e 
análises concernentes apenas ao Ocidente. Esse procedimento demonstra a eficácia da distinção 
continuamente reforçada entre as histórias, distinção essa que resulta em distância da comunidade 
acadêmica dos processos históricos conduzidos nas periferias do poder. A nos desculpar, temos a 
justificativa de a América – e, em especial, a América Latina – ter sido alçada à condição de agente 
histórico em função do colonialismo promovido pela Europa a partir do século XVI. 
São inúmeras as dificuldades que o contar histórico envolve. Por isso, é importante assumir que os 
historiadores adotam – geralmente de forma não explicitada – um modelo à luz do qual o objeto de 
estudo será investigado. Esse modelo historiográfico não apenas reflete os pressupostos referentes à 
natureza da ciência e aos modos de aquisição do conhecimento científico, como também dirige o olhar 
ao objeto de estudo ou à seleção de evidências. 
Em outras palavras, isso requer o reconhecimento de que as concepções gerais e os valores que o 
historiador possui influenciam sua forma de ver o objeto de estudo, distorcendo ou não o seu campo 
visual, aumentando ou diminuindo a percepção de determinados aspectos do mundo observado. 
Assim, ao contarmos histórias a respeito do passado, estamos, também, contando a história do 
presente. O caminho, portanto, não está dado, mas é fruto do nosso próprio caminhar. Ao estudar o 
passado, estamos ao mesmo tempo concretizando o presente à medida que nós, sujeitos do conhecimento, 
estamos impossibilitados de nos dissociar do objeto de estudo, sendo essa uma declaração fundadora a 
respeito das formas sob as quais trabalharemos. 
Este será o nosso ponto de partida: contaremos a história dos desenvolvimentos relacionados aos 
atos econômicos e às formas de organização da sociedade para produzir e distribuir bens e serviços 
dentro de um sistema de produção caracterizado pela posse dos bens de produção por determinada 
classe social, pela oferta da força de trabalho por outra classe social e pela mediação (ou intervenção) 
do Estado nas relações entre mercados e agentes.
 Lembrete
Contaremos a história de como o capitalismo surgiu e definiu as relações 
sociais, desde a desintegração do feudalismo até os dias de hoje.
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Unidade I
1 o surGImEnto do mundo fEudAL
Para Heilbroner e Milberg (2008), há semelhanças entre as várias sociedades pré-capitalistas, em 
especial no período anterior à queda de Roma no século V. Isso porque todas elas são predominantemente 
agrícolas, não fazem uso de dinheiro ou de qualquer outra moeda e apresentam uma limitada capacidade 
produtiva em razão da regra econômica da tradição: planta-se e se colhe como sempre se plantou e 
se colheu, sem que haja nenhum estímulo para a mudança ou para a adoção de novas tecnologias. 
Também prevalece a regra do comando: o dono da terra é, invariavelmente, o dono do escravo, a força 
de trabalho majoritária. Nessas sociedades, as cidades são diferentes das modernas: 
[...] as cidades antigas tendiam a assumir um papel econômico parasitário 
quando comparadas ao resto da economia [...]. As cidades eram portadoras 
da civilização; entretanto, como centros da atividade econômica, estavam 
separadas por enorme distância do interior, o que as assemelhava mais 
a enclaves de vida econômica do que a componentes alimentadores de 
economias rural-urbanas integradas (HEILBORNER; MILBERG, 2008, p. 39).
Nessas sociedades, o excedente econômico produzido era destinado aos imperadores, nobres, 
militares, religiosos e, em uma escala inferior, aos mercadores. De fato, “nas sociedades pré-mercado, a 
riqueza tendia a acompanhar o poder; a chegada da sociedade de mercado é que fez o poder acompanhar 
a riqueza” (HEILBORNER; MILBERG, 2008, p. 41).
Mas, se toda história tem um início, situaremos a nossa entre 7000 e 3000 a.C., momento em 
que o homem mudou, de forma radical, sua maneira de lidar com a natureza. Deixando de lado a 
atividade puramente predatória e o nomadismo, ele passou a produzir. Nesses termos, a Revolução 
Neolítica representa a domesticação dos animais e o surgimento da agricultura (REZENDE, 2007). A 
introdução de novas técnicas (como a cerâmica e a tecelagem) e a fabricação de instrumentos de 
pedra polida se encarregam de modificar a feição das comunidades sedentárias. Segundo Rezende 
(2007, p. 13): 
[...] a crescente liberação de braços da atividade básica de prover o sustento 
da comunidade, aliada à progressiva diferenciação social do trabalho, 
levou à formação de diferentes ritmos de produção e acumulação de 
bens econômicos, o que acabou por produzir o conceito de propriedade e 
diferenciar diversos segmentos dentro da comunidade, de acordo com suas 
posses.
É natural que o homem tenha procurado fixar-se ao longo dos rios, posição geográfica favorável 
às atividades da agricultura. Na Mesopotâmia e no Egito, desenvolveram-se civilizações hidráulicas, 
organizadas sob a forma de Estados monárquico-teocráticos. Na Ásia, desenvolveu-se a primeira 
economia com base na produção artesanal e no comércio a distância. 
Em regiões distantes de rios, mas próximas aos mares, fenícios e populações semíticas se 
instalaram e desenvolveram atividades relacionadas à construção naval e à exploração marítima. 
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História Econômica GEral
Os fenícios tornaram-se, ainda, intermediários, comercializando mercadorias provenientes de 
outras partes do mundo em feitorias, “pontos de apoio localizados no litoral das regiões com as 
quais comerciavam [...] e que se estendiam pelo Mediterrâneo, alcançando, inclusive, as costas do 
Marrocos e [da] Espanha atuais” (REZENDE, 2007, p. 21).
As cidades gregas introduziram a escravidão – que posteriormente foi levada aoseu nível máximo 
pelo Estado romano – como forma de trabalho auxiliar. Assim, a civilização greco-romana acabou se 
organizando em torno de núcleos urbanos, por sua vez, formados por núcleos de proprietários de terras. 
A economia romana, que deu origem ao Império Romano, 
[...] tornou predominante um sistema econômico que tinha por características 
a escravidão como forma de trabalho, a monetarização como padrão de 
troca, o comércio como atividade motora e a cidade como unidade produtiva, 
sem, no entanto, jamais deixar de ter como base um substrato econômico 
rural (REZENDE, 2007, p. 33).
Tendo nascido em um pequeno povoado da península itálica, o Império Romano conquistou uma 
porção significativa do mundo então conhecido: norte da África, Espanha, França, Bélgica, Itália, parte 
da Ásia, Egito e Grécia. Acabam sendo dominadas pelos romanos as terras da Macedônia, da Gália, da 
Germânia, da Síria e da Palestina. 
De qualquer forma, e da mesma maneira que acontecerá em outros momentos históricos, 
o gigantismo do Império Romano acabou por destruí-lo. O crescente processo de romanização 
(ida para Roma em busca da proximidade com o aparelho administrativo estatal) provocou um 
intenso êxodo rural e o inchaço urbano. A expansão da escravidão eliminou postos de trabalho 
para os homens livres, que passaram a depender de donativos ou do auxílio do Estado. A 
progressiva queda do volume total de produção (decorrente da limitada demanda global) atingiu 
o Estado por meio da diminuição de sua receita. A balança comercial tornou-se cada vez mais 
desfavorável, em razão da importação de artigos de luxo. No século III, o desequilíbrio acabou 
sendo a tônica do Império Romano: para Rezende (2007, p. 39), houve “desequilíbrio entre a 
força dos exércitos romanos e a massa de bárbaros invasores, entre as despesas do Estado e sua 
arrecadação, entre a produção e o consumo, entre os campos e as cidades, e entre a proporção 
de escravos e homens livres”. 
Não à toa (e especialmente em função da extensão político-territorial do Império), a 
organização econômica da Europa ocidental se modificou a partir da queda de Roma: trata-se 
do colapso da organização política de grande escala (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 43). Assim, 
com a desintegração do Império Romano em razão do seu desmembramento em inúmeros reinos 
bárbaros, desapareceu a unidade econômica e política existente até então. Ficam para a história 
os vestígios de um império que durou mais de dois séculos e que tem no Coliseu (em Roma, local 
onde lutavam gladiadores arregimentados entre escravos e povos conquistados) um de seus mais 
portentosos vestígios.
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Unidade I
Figura 1 – Coliseu, em Roma
A inexistência de um governo centralizador, contudo, teve como efeito estimular o surgimento de 
uma colcha de retalhos de grandes propriedades autossuficientes, isoladas e comandadas por forças 
locais. De acordo com Heilbroner e Milberg (2008, p. 43):
[...] com a segurança e a proteção substituídas por autarquias e anarquias 
locais, as longas viagens dos artigos para comércio tornaram-se bastante 
arriscadas, e a vida até pouco tempo efervescente das grandes cidades ficou 
impossível. Desaparecidas uma moeda e uma legislação comuns [...] a rede já 
estabelecida das conexões econômicas foi rompida ou caiu em desuso. Com 
doenças e invasões, [...] as pessoas passaram, necessariamente, para formas 
mais defensivas de organização [...]. Surge uma nova necessidade: a de 
comprimir a organização viável da sociedade no menor perímetro possível.
O feudalismo europeu, portanto, é resultado do retrocesso da base econômica que, inicialmente 
avançada (ao menos, do ponto de vista das atividades comerciais), volta para o estágio da agricultura 
de subsistência. Segundo Magalhães Filho (1991, p. 102), “cada comunidade volta-se sobre si mesma, as 
cidades despovoam-se, e os grandes latifúndios passam a produzir para a subsistência local”. Essa forma 
de sobrevivência, hegemônica durante a Idade Média e responsável pelo surgimento de uma nova e 
específica ordem social e política, recebe o nome de feudalismo.
 Lembrete
A Idade Média (período compreendido entre os séculos V e XV) é dividida 
em Alta Idade Média, ocorrida entre os séculos V e X, e Baixa Idade Média, 
que se deu entre os séculos X e XV.
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Antes de avançarmos na direção do modo de produção feudal, é importante esclarecer que o 
imaginário que cerca a Idade Média como uma época de trevas integra uma percepção errônea, 
depreciativa e equivocada de ter sido esse período somente um intervalo entre a produção basilar 
do conhecimento clássico e o despertar renascentista. O fato é que, se não fosse a Igreja, todo o 
pensamento clássico teria se perdido. Longe do obscurantismo suposto por alguns, a Idade Média 
criou as universidades, locais onde se estudavam Geometria euclidiana, Lógica, Metafísica, Ética, 
Medicina, Física e Direito. Nos monastérios, monges trataram de recepcionar, traduzir e preservar 
obras gregas, romanas, árabes e judaicas. Claro que esses textos passaram por um curioso processo 
de “cristianização”: tratava-se, afinal, de adequá-los à Teologia cristã. No entanto, longe de ser o 
mundo escuro, árido e retrógrado que o imaginário ocidental construiu a partir da Renascença, a 
Idade Média foi o momento em que a nossa civilização passou a ser construída. O que, entretanto, 
talvez dificulte a compreensão do modo de produção feudal, típico desse período, é que
[...] na sociedade medieval, a economia era um aspecto subordinado da vida, 
e não um aspecto dominante. [...] O ideal que orientava [a vida] era religioso. 
Foi a Igreja Católica, o grande pilar de estabilidade numa era de desordem, 
que se constituiu na verdadeira autoridade sobre a economia (MAGALHãES 
FILHO, 1991, p. 49).
 saiba mais
Sugerimos, sobre o assunto, o filme O Nome da Rosa. Baseado no 
romance homônimo de Umberto Eco, ele narra a sequência de estranhas 
mortes ocorridas num monastério por causa da posse e da leitura de um 
livro tido como proibido.
O NOME da rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud. Alemanha; França; Itália: 
(Neue) Constantin Film France 3/Les Films De Ariane Cristaldi Film/RAI, 
1986. 130 minutos.
A esta altura, você já deve ter percebido: não é possível pensarmos a Idade Média como 
algo compactado e uniforme. Para Heilbroner e Milberg (2008), devemos pensar esse período 
em termos de sua variedade: o camponês da Normandia no século X é totalmente diferente do 
florentino do século IV, apenas para darmos um exemplo. A Idade Média não pode ser retratada 
de forma monocromática. Ao contrário: “nem estagnação, nem progresso linear lento, mas 
marés seculares imensas e irregulares marcam a longa história do feudalismo, e somos por ela 
alertados contra uma concepção simplista de seu desenvolvimento” (HEILBRONER; MILBERG 
2008, p. 43).
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1.1 o sistema feudal: as relações de vassalagem
Passemos, então, à caracterização do sistema feudal. Segundo Rezende (2007, p. 43), 
[...] a característica básica desse novo sistema [...] é a redução de todo 
aquele que realiza uma tarefa manual a uma condição implícita de perda 
da liberdade individual, uma vez que, desempenhando sua tarefa, ele 
estará necessariamente permitindo que outros possam se dedicar com 
exclusividade a outras duas funções: lutar e rezar.
A base desse sistema é a propriedade manorial administrada pelo senhor feudal: ele é o gerente, o 
protetor,o juiz, o chefe de política e o administrador. O senhor feudal mora no centro da propriedade, 
em uma imensa e fortificada casa, quase semelhante a um castelo. 
Figura 2 – Castelo de Coucy (séc. XIII, aproximadamente), na região francesa da Picardia
Segundo informam Heilbroner e Milberg (2008, p. 44): “No pátio fechado dessa propriedade 
[...] [estão] as oficinas para o fabrico de roupas, amassamento de uvas, armazenagem de alimentos, 
fabricação de objetos de metal e para o trabalho de ferreiros, além de moagem de grãos”. O servo 
é o trabalhador a serviço do senhor feudal. Ele é parte da terra, estando a essa terra ligado e dela 
não podendo ser afastado. No sistema feudal, o servo não é um escravo: não pode ser vendido, e 
sua família não pode ser desmembrada; contudo, ele muda de senhor quando a terra passa para 
outras mãos. Portanto, da terra ele não pode ser expulso, mas da terra não pode fugir. 
A compreensão das características da servidão é fundamental para entender o modo de produção feudal. 
Segundo Dobb (1986, p. 27), “a servidão é uma obrigação imposta ao produtor pela força, e independentemente 
de sua vontade, para satisfazer a certas exigências econômicas de um senhor”, fossem quais fossem. Contudo, 
apesar da semelhança, é necessário não confundir essa situação com a do escravo.
Se o escravo era parte da propriedade e podia ser comprado ou vendido [...] 
a qualquer tempo, o servo, ao contrário, não podia ser vendido fora da terra. 
Seu senhor deveria transferir a posse do feudo a outro, mas isso significava, 
apenas, que o servo teria um novo senhor; ele próprio permanecia em seu 
pedaço de terra. Esta era uma diferença fundamental, pois concedia ao servo 
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uma espécie de segurança que o escravo nunca teve. Por pior que fosse o 
seu tratamento, o servo possuía família e lar e a utilização de alguma terra 
(HUBERMAN, 1974, p. 15).
É importante destacar que os graus de servidão variavam muito. Para Magalhães Filho (1991), havia 
servos que pertenciam ao senhor e outros cujos vínculos e obrigações eram menores. Havia, inclusive, 
“arrendatários” cuja única obrigação era o pagamento de uma taxa fixa anual.
Segundo Huberman (1974, p. 14), o servo “vivia numa choça do tipo mais miserável. Trabalhando 
longa e arduamente em suas faixas de terras espalhadas, [...] conseguia arrancar do solo apenas o 
suficiente para uma vida” de privações e de muitas necessidades. Em relação ao senhor da terra, o servo 
devia obrigações: ele era o responsável por arar o campo, trabalhar nas oficinas, doar parte de sua 
produção agrícola. O servo também precisava obter a permissão do senhor feudal para casar ou usar 
os animais e equipamentos pertencentes ao dono da terra. Embora homem livre, o servo “confiava” 
sua vida a um senhor que, “em troca da subserviência econômica, social e política, [...] [oferecia-lhe] 
o manto valioso da proteção militar” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 45). Em retribuição, o senhor 
feudal protegia seu servo de ataques e de saqueadores. 
De acordo com Magalhães Filho (1991, p. 118), 
[...] as terras cultivadas pelos camponeses para si mesmos, assim como as que 
cultivavam para o senhor, eram plantadas em faixas alternadas, o que permitia 
a rotação das culturas, favorecendo maior rendimento. Anualmente, uma das 
faixas era deixada em pouso, para descanso e recuperação do solo. Cada família 
camponesa trabalhava duas ou três faixas, geralmente não contíguas, das terras 
da aldeia, devendo, além disso, prestar trabalho gratuito nos domínios do senhor. 
Essa obrigação, a corveia, era uma das características básicas do sistema, variando 
suas formas no espaço e no tempo, mas existindo sempre.
Embora fosse raro, também acontecia de um servo “comprar” sua libertação, e esse fenômeno só não 
era mais frequente em razão da dificuldade em se obter dinheiro numa economia que se caracterizava pela 
autossuficiência e pela subsistência. “Somente quando o comércio foi gradativamente ressurgindo é que 
essa forma de libertação tornou-se mais acessível, ainda que apenas para uma minoria” (MAGALHãES 
FILHO, 1991, p. 119). Por sua vez, o senhor feudal era vassalo e arrendava suas terras de um conde, de 
um duque ou de um rei; a qualquer desses nobres ele devia obrigações que, em geral, eram militares. 
O senhor do feudo, como o servo, não possuía a terra, mas era, ele próprio, 
arrendatário de outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeão 
ou cidadão “arrendava” sua terra do senhor do feudo que, por sua vez, 
“arrendava” a terra de um conde, que já a “arrendara” de um duque, que, 
por seu lado, a “arrendara” do rei. E, às vezes, ia ainda mais além, e um rei 
“arrendava” a terra a um outro rei! A relação de vassalagem, inclusive, é 
transferida hereditariamente, de pai para filho: o filho será servo daquele 
de quem seu pai e seu avô também foram servos (HUBERMAN, 1974, p. 18). 
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O feudo tinha suas próprias regras e leis, que deviam ser rigorosamente obedecidas. Casamentos, 
litígios e conflitos: tudo dependia da decisão do senhor feudal. Em algumas regiões da Europa, 
estabeleceu-se até a tradição da “primeira noite”: o senhor feudal tinha o direito de ser o primeiro a 
estar com a noiva que morasse em sua propriedade, ou que viesse a ser esposa de alguém que morasse 
em suas terras. Não se tratava de capricho: não apenas esse direito legitimava o seu papel de senhor 
absoluto, como também assegurava a continuidade da vassalagem por meio da suspeita em relação à 
paternidade dos filhos do servo.
 saiba mais
Sugerimos, sobre o assunto, o filme Coração Valente. O enredo, apesar 
de conter algumas imprecisões históricas, retrata as lutas e os conflitos na 
Escócia do século XIII.
CORAçãO valente. Dir. Mel Gibson. EUA: Icon Productions/The Ladd 
Company, 1995. 177 minutos. 
É esse sistema, portanto, que caracteriza a organização econômica de uma Europa ocidental que 
passa, nesse período histórico, por um amplo processo de ruralização. Segundo Rezende (2007, p. 44), 
[...] esse sistema procedeu a um notável alargamento da camada dos não 
livres, para que, através da compulsão do trabalho, a produção pudesse, ao 
menos, manter-se em um volume mínimo para a satisfação das necessidades 
básicas, em uma fase cujo traço dominante foi descrito como sendo uma 
escassez endêmica.
Outra característica importante do feudalismo foi o crescimento da população a partir da Alta Idade Média: 
antes sujeita a um recuo demográfico significativo, a Europa ocidental assistiu a uma explosão populacional 
que a levou a se aproximar de 20 milhões de habitantes no século XIV. Sabe-se que esse crescimento encontrou 
barreiras quando das epidemias da peste negra, que mataram cerca de um quarto dos europeus, que só 
voltariam aos marcos numéricos anteriores no século XVI (MAGALHãES FILHO, 1991).
Um fato notável é que não eram apenas os nobres que detinham a terra. Na verdade, a Igreja era, 
naquele momento, a maior proprietária: “Por intermédio de suas ordens monásticas ou de sua estrutura 
jurídica regular, a Igreja era o maior senhor de terras da Europa” (MAGALHãES FILHO, 1991, p. 119). Mas 
como ela havia conseguido amealhar tantas propriedades?
Homens preocupados com a espécie de vida que tinham levado e desejosos 
de passar para o lado direito de Deus, antes de morrer, doavam terras à 
Igreja; outras pessoas, achando que a Igreja realizava uma grande obra 
de assistência aos doentes e aos pobres, desejando ajudá-la nessa tarefa, 
davam-lhe terras; alguns nobres e reis criaram o hábito de, sempre que 
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venciam uma guerra e se apoderavam das terras do inimigo, doar parte 
delas à Igreja; por esses e por outros meios a Igreja aumentava suas terras, 
até que se tornou proprietária de entre um terço e metade de todas as terras 
da Europa ocidental. (HUBERMAN, 1974, p. 22).
Desse modo, a Igreja não apenas possuía a maior porção das terras, mas a Igreja também era a 
responsável pelas crenças e valores que deviam ser respeitados e seguidos por todos. Segundo ela, 
emprestar a juros era usura – portanto, um pecado. Apoiada no texto sagrado, a Igreja defendia a vida 
como passagem transitória pela Terra, passagem que apenas devia servir como preparo para a vida na 
eternidade. Quase como encomenda para aqueles tempos de imobilidade social, defendia-se, assim, para 
os pobres, o conformismo com relação às condições dadas.
A Igreja ensinava que, se o lucro do bolso representava a ruína da alma, o 
bem-estar espiritual é que estava em primeiro lugar. “Que lucro terá o homem, 
se ganhar todo o mundo e perder sua alma?” Se alguém obtivesse numa 
transação mais do que o devido, estaria prejudicando a outrem, e isso estava 
errado. São Tomás de Aquino, o maior pensador religioso da Idade Média, 
condenou a “ambição do ganho”. Embora se admitisse, com relutância, que 
o comércio era útil, os comerciantes não tinham o direito de obter numa 
transação mais do que o justo pelo seu trabalho (HUBERMAN, 1974, p. 47).
Era pecado buscar o lucro ou o ganho pessoal, assim como trabalhar além do necessário para 
satisfazer as necessidades mais básicas. Quem tivesse o suficiente para viver e, não obstante, continuasse 
a trabalhar incessantemente,
[...] [fosse] para conseguir uma posição social melhor, [fosse] para viver 
mais tarde sem trabalhar, ou para que seus filhos se tornassem homens de 
riqueza e importância – todos esses estavam dominados por uma avareza, 
sensualidade ou orgulho condenáveis. [...] O bom cristão ajudava o vizinho 
sem pensar em lucro. [...] O justo era receber apenas o que se emprestava, e 
nada mais nem menos (HUBERMAN, 1974, p. 46-8). 
Aliás, o lucro, de forma geral, representava a ruína da alma; o dinheiro poderia ser acumulado tão 
somente para a manutenção das condições básicas de vida. 
É importante salientar, entretanto, que essas regras não eram seguidas pela própria Igreja. Os bispos 
e reis combatiam e faziam leis contra os juros, mas estavam entre os primeiros a desrespeitar essas 
mesmas leis. Claro que, embora denunciasse o ganho e a usura, a Igreja era depositária de muitas 
fortunas feudais, mas isso não a impedia de reprovar, e com muita convicção, os perigos que a carne 
fraca não conseguia evitar. 
A administração religiosa localizava-se nas poucas cidades existentes, em geral, as sedes de bispados 
e capitais dos reinos. Segundo Magalhães Filho (1991), a vida urbana era limitada: poucas eram as cidades 
que ultrapassavam 100 mil habitantes. Nelas, localizava-se “a produção de manufaturas, principalmente 
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as destinadas ao próprio consumo urbano ou ao consumo suntuário dos senhores de terra” (REZENDE, 
2007, p. 121).
1.2 A pequena manufatura e as guildas
O mundo feudal não se restringiu aos feudos e às igrejas. Nas aldeias externas às terras feudais, a 
produção manufatureira ficava a cargo das pequenas oficinas artesanais, organizadas sob a forma de 
um sistema de corporações de ofícios, as guildas. Estas, por sua vez, constituíam-se por meio da união 
de mestres que definiam as regras e condutas de cada negócio. Assim, para que alguém pudesse abrir 
uma oficina de sapato, devia receber a autorização da guilda dos sapateiros. 
Não que o processo fosse tão simples assim: devia-se, antes, trabalhar durante vários anos na oficina do 
mestre, aprendendo seu ofício. Apenas depois desse treinamento a pessoa estava em condições de solicitar 
autonomia para administrar sua própria unidade de negócio. Segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 47): 
[...] qualquer levantamento da vida nas cidades medievais à luz das guildas 
nos fascina: bordadeiros e luveiros, chapeleiros e copistas, armadores e 
marceneiros, cada um na sua corporação de ofício, com seu diferente brasão 
e conjunto sofisticado de regras.
Em outras palavras, as guildas eram centros de treinamento para o aprendiz e onde ele poderia 
acessar as normas e tradições da categoria à qual pertencia. Por mais de uma década o aprendiz era 
ensinado: nas guildas, ele tinha acesso às artes secretas do seu ofício e ganhava o direito de exercer sua 
profissão. Os meios de produção necessários (as ferramentas e os utensílios utilizados para a manufatura 
das mercadorias) pertenciam aos artesãos que não apenas produziam, mas também comercializavam 
o fruto do seu trabalho. Em guildas, se reuniam padeiros, pintores, curtidores de couro, ferreiros, 
açougueiros, fruteiros, cirurgiões, jornaleiros, entalhadores, costureiros, sapateiros, e 
[...] supervisores das corporações faziam viagens regulares de inspeção, 
nas quais examinavam os pesos e medidas usados pelos membros, os 
tipos de matérias-primas e o caráter do produto acabado. Todo artigo 
era cuidadosamente inspecionado [e] selado. Essa fiscalização rigorosa 
era considerada necessária para que a honra da corporação não fosse 
manchada, prejudicando com isso os negócios de todos os seus membros. 
As autoridades municipais, por sua vez, a exigiam como proteção ao público. 
Para maior proteção desse público, algumas corporações marcavam seus 
produtos com o “justo preço” (HUBERMAN, 1974, p. 68).
Exemplo de aplicação
Os modernos sindicatos de trabalhadores são agremiações que têm o objetivo de defender os 
interesses de seus membros.
Reflita a respeito das semelhanças e das diferenças entre os atuais sindicatos e as guildas da Idade Média.
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O espírito era fraterno, e não havia concorrência: se algum membro decidisse introduzir alguma 
inovação, todos deviam ter acesso a essa mudança. “Patentes” ou “diferenciais produtivos” eram vistos 
como práticas desleais e passíveis de punição. Nesse sistema, a simples ideia da existência de uma 
vantagem em relação ao seu concorrente (se é que existia esse conceito) era inadmissível. Como afirmam 
Heilbroner e Milberg (2008, p. 48), “as guildas foram criadas, especificamente, como proteção contra 
qualquer [...] desentendimento significativo entre seus membros. Termos de serviço, salários e maneira 
de progredir dos aprendizes e diaristas, tudo era estabelecido por costume”. 
Assim como se precaviam da interferência estrangeira em seu ‘monopólio, 
as corporações tinham também o cuidado de evitar, entre si, práticas 
desonestas que pudessem causar prejuízos a terceiros. Nada de competição 
mortal entre amigos, é o que realmente significa o item 3 dos estatutos 
dos curtidores. O membro da corporação não podia furtar um jornaleiro 
ou o aprendiz de seu mestre. Também era tabu a prática comercial, hoje 
muito difundida, de obsequiar o cliente ou suborná-lo para conseguir 
realizar um negócio. Em 1443, a corporação dos padeiros de Corbie, na 
França, determinou que ninguém daria bebidas ou faria qualquer outra 
gentileza a fim de vender seu pão, sob pena de pagar uma multa de 60 
soldos (HUBERMAN, 1974, p. 47).
 saiba mais
Rembrandt, pintor holandês do século XVII, retratou os membros das 
corporações dos oficiais bacamartes, dos cirurgiões e dos alfaiates, nas telas 
A ronda noturna, Lição de anatomia do prof. Tulp e Os membros da guilda 
dos alfaiates.Segundo Heilbroner e Milberg (2008), o objetivo da guilda não era o lucro: sua finalidade era a 
conservação do ofício dentro de normas severas de conduta e convívio social. Em uma sociedade em 
que praticamente não havia circulação de moeda, a guilda não era o local de onde se disseminavam 
valores tais como livre estabelecimento de preços, livre concorrência, busca de vantagens comparativas 
ou práticas comerciais agressivas. O preço cobrado devia ser justo, ou seja, cada coisa devia ser vendida 
pelo que valia, e nada além disso. Esse valor correspondia ao custo para seu fabrico ou para sua 
aquisição. Cobrar além do justo era fraudulento, o que implicava que o vendedor cometia um pecado 
mortal. Comprar aquém do que era justo, igualmente, era aproveitar-se indevidamente de quem vendia, 
cometendo o comprador o pecado da avareza.
A atuação das corporações de ofícios tinha o sentido de garantir não apenas a qualidade dos 
produtos e a manutenção da profissão, mas também o de evitar produtos e produtores estrangeiros: os 
segredos de ofício deviam ser protegidos a todo custo. Huberman (1974, p. 65) nos dá um breve exemplo 
a respeito dos estatutos dos curtidores de couro branco na Inglaterra de 1346:
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[1] se qualquer pessoa do dito ofício sofrer de pobreza pela idade, ou porque 
não possa trabalhar, terá toda semana 7 dinheiros para seu sustento, se for 
homem de boa reputação.
[2] E nenhum estrangeiro trabalhará no dito ofício se não for aprendiz, ou 
homem admitido à cidadania do dito lugar.
[3] E ninguém tomará o aprendiz de outrem para seu trabalho durante o 
aprendizado, a menos que seja com a permissão de seu mestre. E se alguém 
do dito ofício tiver em sua casa trabalho que não possa completar, os demais do 
mesmo ofício o ajudarão, para que o dito trabalho não se perca.
[4] E se qualquer aprendiz se comportar impropriamente para com seu 
mestre, e agir de forma rebelde para com ele, ninguém do dito ofício lhe 
dará trabalho, até que tenha feito as reparações perante o Alcaide e os 
Intendentes.
[5] Também a boa gente do mesmo ofício uma vez por ano escolherá dois 
homens para serem supervisores do trabalho e de todas as outras coisas 
relacionadas com as transações daquele ano, pessoas que serão apresentadas 
ao Alcaide e Intendentes. Prestando perante eles o juramento de indagar e 
pesquisar, e apresentar lealmente ao dito Alcaide e Intendentes os erros que 
encontrarem no dito comércio, sem poupar ninguém, por amizade ou ódio. 
Todas as peles falsas e maltrabalhadas serão denunciadas.
[6] Ninguém que não tenha sido aprendiz e não tenha concluído seu termo 
de aprendizado do dito ofício poderá exercer o mesmo.
As guildas acabariam por desaparecer ao longo do tempo, e o justo preço seria substituído pelo de 
mercado; naquele momento, entretanto, a existência das corporações era o que permitia o exercício da 
atividade artesanal, a sobrevivência dos artesãos nos centros urbanos e a regulação de uma atividade 
que se distanciava, pouco a pouco, das tradições e costumes feudais.
1.3 o comércio
É de se imaginar que, diante de uma estrutura tão rígida, e considerando a autossuficiência 
dos feudos, haveria poucas oportunidades para o comércio: o dinheiro era escasso, e as moedas 
variavam conforme o lugar. Segundo Huberman (1974, p. 26), “nos primórdios da sociedade feudal, 
a vida econômica decorria sem muita utilização de capital. Era uma economia de consumo”. Mas 
essa situação não permaneceu assim por muito tempo: aos poucos, o comércio foi crescendo, o que 
acabou desestabilizando a estrutura baseada na rígida hierarquia de classes e no conformismo. 
A partir do século XI, o comércio recebeu um impulso significativo, em especial por conta das 
Cruzadas. Segundo Huberman (1974, p. 30): 
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História Econômica GEral
Se os séculos XI e XII presenciaram um renascimento do comércio no 
Mediterrâneo, ao sul, viram também o grande despertar das possibilidades 
comerciais nos mares do Norte. Nessas águas, o comércio não renasceu. Pela 
primeira vez, tornou-se realmente intenso.
De fato, aos poucos, aumentava o excedente econômico que, até então, era apropriado pelos donos 
da terra. A procura por artigos de luxo aumentou e, por sua vez, estimulou a atividade comercial. 
Os mercados dos primórdios da Idade Média eram pequenos, negociando com os produtos 
locais (em sua maioria, agrícolas) e serviam para a aquisição de produtos em ocasião de más 
colheitas, bem como de sal, peixes, metais e artigos manufaturados. Os vendedores eram os 
próprios agricultores e os artífices: não havia intermediários. Neles, os servos também trocavam 
produtos entre si. O tempo, entretanto, encarregou-se de trazer mudanças: alguns vendedores 
ambulantes passaram a se especializar na venda de determinados produtos, viajando para os 
vários mercados com suas mercadorias. 
Esses vendedores percorriam as estradas medievais em grupo. Segundo afirmam Heilbroner e Milberg 
(2008, p. 57): 
“Nas sacolas e pacotes levavam artigos que de uma maneira ou outra haviam atravessado a Europa, 
numa viagem cheia de riscos, ou que tinham vindo da Arábia ou da Índia, para serem vendidos nas 
cidades.” 
Eles eram aventureiros, e a contabilidade que cercava seus negócios era muito rudimentar. Era muito 
comum que fossem filhos de servos ou de servos fugitivos. Embora aparentemente deslocados na rígida 
estrutura feudal, eles eram tolerados, pois eram necessários. Afinal, eram eles que traziam “o primeiro 
sopro de comércio e relações comerciais para uma Europa que afundara numa estagnação manorial 
quase sem trocas e autossuficiente” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 57).
Aos poucos, esse comércio começou a demandar melhores condições de tráfego, o que fez meios 
de transporte mais adequados passarem a ser utilizados: carroções para as estradas, barcos e barcaças 
para as viagens fluviais. A introdução desses agentes de intermediação e seu crescente enriquecimento 
mudou a feição do comércio: “nos pontos de encontros das principais rotas utilizadas por esses grandes 
mercadores, surgiram [...] as grandes feiras, que caracterizaram o comércio europeu nos séculos XII e 
XIII” (MAGALHãES FILHO, 1991, p. 126). As feiras de Saint-Denis (próxima a Paris) e as da região de 
Champagne são as mais antigas e famosas. “Estas feiras eram o ponto onde os produtos provenientes 
do sul da Europa e do comércio da bacia do Mediterrâneo eram trocados pelos do norte da Europa e do 
comércio do Báltico” (MAGALHãES FILHO, 1991, p. 127).
As feiras eram imensas e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos 
do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam 
dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras 
procedentes de Oriente e Ocidente, Norte e Sul (HUBERMAN, 1974, p. 32). 
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Unidade I
Os senhores feudais, donos das terras onde se realizavam as feiras, recebiam comissões pelos 
negócios lá efetuados: as atividades comerciais eram bem-vindas, porque traziam lucro e prosperidade. 
O crescimento dessas atividades fazia surgir os trocadores de dinheiro, responsáveis pela troca e pelo 
câmbio entre as várias unidades monetárias. Aos poucos, a economia sem mercado transformava-se 
em economia de vários mercados, já se distanciando do sistema autossuficiente dos feudos. Devagar, 
cindia-se a estrutura feudal de imobilidade social: surgiam comerciantese “banqueiros”, e crescia a 
população urbana, livre das amarras da vassalagem e da relação visceral com a terra.
As feiras passaram, contudo, a desempenhar um papel secundário a partir do século XIV (em especial 
quando os comerciantes perceberam que não era mais necessário se locomoverem para a venda de seus 
produtos), mas nem por isso a economia feudal deixou de prosperar, e nem por isso as rachaduras que 
ameaçavam o modo de produção feudal pararam de aumentar. De fato, a expansão comercial europeia 
fazia parte do processo que, mais adiante, se completaria com a desintegração do sistema feudal.
Mas como ocorreu essa expansão comercial? Iniciemos com as rotas que traziam os produtos de luxo 
tão desejados: 
Em certas cidades estrategicamente situadas em relação às rotas comerciais, a 
prosperidade da economia agrícola traduzia-se em um maior movimento. [...] A 
crescente demanda por artigos suntuários volta a dinamizar as antigas rotas que 
do Mediterrâneo dirigem-se para a Ásia (MAGALHãES FILHO, 1991, p. 131). 
Essas antigas rotas já haviam sobrevivido às invasões bárbaras e à invasão árabe (entre os séculos VIII 
e X). Naquele momento, passaram a ser utilizadas por comerciantes que partiam dos portos italianos, 
situados em posição geográfica privilegiada e estratégica. Dali, o comércio alcançou a região da 
Catalunha e de Barcelona. 
O crescimento da atividade comercial recebeu impulso decisivo com as Cruzadas, expedições armadas 
em direção ao Oriente com o objetivo de reconquistar a Terra Santa para os cristãos, na medida em que 
elas acabaram se revelando verdadeiras expedições de saque e exploração das cidades comerciais do 
Oriente. 
Ao longo do percurso dos cruzados, foram sendo organizados entrepostos comerciais, locais em 
torno dos quais surgiram cidades. Segundo Magalhães Filho (1991, p. 133),
[...] o transporte de milhares de cruzados e seu equipamento, a construção dos 
navios necessários para isso, a conquista dos principais portes levantinos e 
bizantinos, inclusive a própria Constantinopla, com o correspondente saque, 
a ocupação definitiva de pontos estratégicos sobre as rotas mais importantes, 
tudo isso enriqueceu rapidamente os comerciantes europeus. Por outro lado, 
os contatos com a civilização islâmica, com seu desenvolvimento cultural 
e científico superior ao europeu, e com uma variada gama de produtos e 
costumes desconhecidos na Europa, repercutiriam nos hábitos de consumo 
deste continente.
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História Econômica GEral
Figura 3 – Istambul, antiga Constantinopla (Turquia)
Eram vários os grupos que ganhavam com as Cruzadas. À Igreja (tanto em Roma quanto 
nas regiões bizantinas), interessava a disseminação do cristianismo. De fato, “enquanto a Igreja 
Romana via nas Cruzadas a oportunidade de estender seu poderio, a Igreja Bizantina via nelas o 
meio de restringir o avanço muçulmano em seu próprio território” (HUBERMAN, 1974, p. 28). Para 
os nobres e senhores feudais endividados, as Cruzadas eram oportunidades para adquirir riquezas. 
Finalmente, para várias cidades, as Cruzadas eram perfeitas para a conquista de vantagens 
comerciais. 
 saiba mais
Sobre o assunto, sugerimos o filme Cruzada. Nele, você poderá ver a 
jornada de nobres a Jerusalém e a luta entre cristãos e muçulmanos pela 
posse da Terra Prometida.
CRUZADA. Dir. Ridley Scott. Reino Unido; Espanha; Alemanha: Scott 
Free Productions/Inside Track/Studio Babelsberg Motion Pictures GmbH, 
2005. 144 minutos. 
As Cruzadas acabaram sendo um desastre do ponto de vista religioso. 
Poucos foram os resultados das Cruzadas, já que os muçulmanos, 
oportunamente, retomaram o reino de Jerusalém. Do ponto de vista do 
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Unidade I
comércio, entretanto, os resultados foram tremendamente importantes. Elas 
ajudaram a despertar a Europa de seu sono feudal, espalhando sacerdotes, 
guerreiros, trabalhadores e uma crescente classe de comerciantes por 
todo o continente; intensificaram a procura de mercadorias estrangeiras; 
arrebataram a rota do Mediterrâneo das mãos dos muçulmanos, e a 
converteram, outra vez, na maior rota comercial entre o Oriente e o Ocidente 
(HUBERMAN, 1974, p. 30).
Chega a ser irônico: motivadas por razões religiosas, as Cruzadas acabaram favorecendo a construção 
de um mundo ao qual a Igreja se opunha, e com todas as suas forças. 
As Cruzadas oportunizaram o encontro repentino e perturbador de dois 
mundos diferentes. Um deles foi a ainda sonolenta sociedade do feudalismo 
europeu, com toda sua inércia rural, sua aversão ao comércio e as concepções 
ingênuas de negócios: o outro foi a brilhante sociedade de Bizâncio e 
Veneza, com sua vitalidade citadina, seu aproveitamento nada disfarçado 
do enriquecimento e suas sofisticadas formas de negociar. Os cruzados, 
originários de seus castelos ventosos e de rotinas manoriais aborrecidas, 
acreditavam encontrar no Oriente apenas selvagens sem instrução e 
religião. Foram surpreendidos pelo encontro com um povo mais civilizado, 
infinitamente mais sofisticado e bastante mais voltado ao dinheiro que eles 
(HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 59).
As Cruzadas acabaram por permitir o domínio de portos dos mares Jônio e Egeu, estabelecendo 
a primazia de Veneza e Gênova como maiores potências comerciais. Sedas, artesanatos e 
especiarias, como pimenta, canela, baunilha, noz-moscada e açúcar, algodão, tintas e corantes, 
frutas, perfumes, remédios e metais: essas eram as mercadorias distribuídas por toda a Europa a 
partir de Veneza e Gênova, aproveitando o fato de essas cidades terem os portos mais próximos 
do interior europeu. Para a Ásia também seriam exportados tecidos produzidos na Itália ou na 
região de Flandres. 
O comércio, contudo, não estava limitado às cidades italianas: os portos do sul da França exportavam 
vinhos para o Oriente, com quem também faziam negócios os catalães. Conforme analisa Magalhães 
Filho (1991, p. 135), 
[...] a expansão comercial no Mediterrâneo continuará até a segunda metade 
do século XIV, quando as consequências da Peste Negra, da Guerra dos Cem 
Anos e das revoltas camponesas forçarão a redução de seu ritmo, devido à 
retração da demanda. 
Esse comércio apenas seria retomado a partir do século XV.
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História Econômica GEral
Figura 4 – Veneza (Itália)
 Lembrete
A Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453) envolveu a França e a Inglaterra. 
Os conflitos fizeram parte dos processos de formação das monarquias 
francesa e inglesa.
Como consequências do incremento da atividade comercial, podemos citar o aperfeiçoamento das 
técnicas de construção naval, o desenvolvimento do sistema monetário (com a introdução de moedas, 
como o florim, o florentino e o ducado), a evolução das instituições de crédito e o estabelecimento 
de bancos. O dinheiro acumulado nas mãos de comerciantes era usado para a aquisição de terras dos 
senhores feudais endividados, e essa transformação abalou a estrutura do modo de produção feudal: a 
população passou a pressionar o senhor feudal por leis menos arbitrárias, que lhes garantissem liberdade 
para se mover, para comerciar, para vender e comprar. Da mesma forma, o camponês se distanciou do 
senhor feudal, já que o seu excedente podia ser negociado e transformado em dinheiro – nova realidade 
com a qual o senhor feudal tinha que lidar, caso não quisesse conviver com revoltas de trabalhadores 
em suas terras. A riqueza então não se traduzia mais pela propriedade possuída, mas pelo dinheiro 
amealhado. 
 observaçãoA percepção de que a terra é também mercadoria, passível de ser 
vendida, dá o golpe de morte no sistema feudal.
Ainda em relação à intensa atividade comercial, não foi apenas no Mediterrâneo que ela aconteceu. 
No mar do Norte e no Báltico também podiam ser vistos navios carregados de peixe, madeira, peles, 
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Unidade I
couros e peliças (HUBERMAN, 1974). Bruges, em Flandres, tornou-se um importante centro comercial 
e estabeleceu o contato com o mundo russo-escandinavo. As cidades alemãs formaram, no século XII, 
uma associação
[...] destinada a proteger seus interesses mercantis e marítimos comuns, 
denominada Liga Hanseática ou Hansa. [...] Concentrando-se em 
mercadorias mais volumosas e pesadas que os artigos de luxo, leves e de alto 
valor unitário importados pelas cidades italianas, [...] [essa rota comercial 
irá transportar] peles, mel, cera, trigo, madeira, pescado, cobre, ferro, sal, 
tecidos e principalmente vinho, largamente consumido em toda [a] Europa 
(REZENDE, 2007, p. 62). 
1.4 o processo de urbanização
O incremento do processo de urbanização foi o resultado mais visível da crescente atividade 
comercial. Para Rezende (2007), a real importância do crescimento das cidades não estava relacionada 
ao aumento populacional, mas ao fato de, nesses locais, morarem homens livres trabalhando em regime 
assalariado: as rachaduras do sistema feudal eram mais uma vez ampliadas.
Duas atividades urbanas, tanto pela quantidade de mão de obra empregada 
como pelo volume de capital imobilizado, formaram o esteio da atividade 
econômica das cidades: a manufatura têxtil e a construção. Além da maior 
necessidade de moradias, devida ao reativamento da vida urbana, ocorreu 
uma maciça e generalizada construção de edifícios públicos, notadamente 
catedrais, algumas de proporções monumentais (REZENDE, 2007, p. 63).
Nas cidades, a produção têxtil implicava o pagamento de salários para mais de trinta operações 
diferentes: isso acarretou a expansão dos meios de pagamentos que, apesar do impulso advindo da 
atividade manufatureira e do comércio, teve de enfrentar problemas com a diversidade de moedas 
existentes e com as restrições da Igreja aos mecanismos de crédito. Apesar das dificuldades, 
[...] os bancos acabaram desenvolvendo-se e a atividade bancária como 
se conhece hoje – o empréstimo a juros de parte dos valores em depósito 
– nasceu da reativação do comércio interno europeu em uma época de 
extrema diversificação monetária. Isso acabou obrigando o mercado a 
buscar uma uniformização de valor que facilitasse as trocas. Nas cidades 
italianas, particularmente em Gênova, os mercadores de dinheiro (cambistas), 
personagens cada vez mais necessários, passaram a ser conhecidos também 
como banqueiros, e a efetuar transações que incluíam o aceite de depósitos 
de particulares, as transferências de fundos para outras praças comerciais, e 
os empréstimos a juros (REZENDE, 2007, p. 66).
Encontramos essas cidades especialmente na Itália e na Holanda. Também chamadas de burgos, 
nelas a vida era diferente. Ao menos, seus habitantes pretendiam que fosse bem distante daquela dos 
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feudos. As populações urbanas queriam liberdade, queriam se desvencilhar das amarras das cortes 
feudais. Mais do que tudo, queriam leis que atendessem a suas necessidades.
Desejavam fixar seus impostos, à sua maneira, e o fizeram. Opunham-se 
à municipalidade dos impostos feudais, pagamentos, ajudas e multas, que 
eram irritantes, e num mundo em evolução apenas serviam para aborrecer. 
Desejavam empreender negócios e, assim, empenharam-se em abolir as 
taxas, de qualquer tipo, que as tolhessem (HUBERMAN, 1974, p. 39).
Para Dobb (1986), o processo de conquista de autonomia por parte das cidades não foi 
tranquilo; pelo contrário, em alguns casos foi de extrema violência, em especial na Inglaterra, 
em Flandres e na Itália durante os séculos XI, XII e XIII. Em Dunstable, os habitantes da cidade, 
revoltados com as imposições arbitrárias do prior, preferiram a excomunhão à submissão. Em 
Bury, o mosteiro da cidade foi invadido, e o abade e os monges, mantidos reféns, até que fosse 
permitida a constituição de uma guilda de mercadores. Em St. Albans, o mosteiro foi sitiado 
por dez dias, em represália ao abade que não permitia aos cidadãos que eles construíssem seus 
próprios moinhos. 
Esse cenário é bastante curioso. Segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 58), 
[...] em todas as civilizações anteriores, as cidades haviam sido os postos 
avançados do governo central. Pela primeira vez, agora, existiam como 
entidades independentes fora da estrutura principal do poder social. Em 
consequência, conseguiram definir para si mesmas – e tiveram que fazer 
isso sozinhas – um código legal e de comportamento social, bem como um 
conjunto de instituições governamentais que substituiriam mais tarde as do 
interior feudal.
As cidades significavam liberdade. Segundo Huberman (1974), qualquer pessoa que morasse por 
mais de um ano na cidade de Lorris (França, 1155), sem que qualquer reclamação a ela fosse feita, 
poderia ali permanecer livremente, sem ser molestada. Não apenas ali poderia morar, mas também 
conseguir crédito ou vender sua propriedade, sem que tivesse de pedir nenhum tipo de permissão. Em 
resumo: as cidades, em vez de representar o núcleo do poder feudal, a ele se opunham, rompendo as 
amarras e abalando seus alicerces.
De qualquer forma, não podemos pensar nesses centros urbanos de maneira simplificada: 
as várias cidades conquistaram graus diferentes de liberdade. Algumas eram totalmente 
independentes; outras apenas conseguiram alguns privilégios e direitos, concedidos pelo 
senhor feudal aos donos das terras. É importante notar que a noção de riqueza começou a se 
transformar: se antes a terra era sua medida, agora um novo grupo surgia. Segundo Huberman 
(1974, p. 44), 
[...] os direitos que mercadores e cidades conquistaram refletem a importância 
crescente do comércio como fonte de riqueza. E a posição dos mercadores 
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Unidade I
na cidade reflete a importância crescente da riqueza em capital em contraste 
com a riqueza em terras. [...] No período feudal, a posse da terra, a única 
fonte de riqueza implicava o poder de governar para o clero e a nobreza. 
Agora, a posse do dinheiro [...] trouxera consigo a partilha no governo para 
a nascente classe média. 
Talvez você não perceba a dimensão dessa mudança, mas o surgimento de quase mil cidades durante 
os mil anos da Idade Média representou 
[...] um estímulo considerável à comercialização e à monetarização da vida. 
Cada cidade possuía seus centros de comércio, postos de pedágio, muitas 
vezes seu próprio local para cunhar moedas, seus silos e lojas, tabernas e 
estalagens, e sua própria atmosfera de “vida urbana”, que contrastava muito 
com a do interior (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 58).
2 A rEformA ProtEstAntE
Em razão do crescente processo de urbanização e da intensificação da atividade comercial, os 
dogmas católicos contrários ao lucro também tiveram de se transformar: um novo conjunto de 
valores morais levou os agentes em direção ao trabalho, à acumulação do capital, ao lucro. Afinal, 
os ideais de lucro, competição e empreendedorismo com os quais estamos acostumados não 
estiveram presentes de forma hegemônica durante toda a história. Foi necessário que houvesse 
um processo de construção histórica para que eles se estabelecessem. Para Huberman (1974):A moderna noção de que qualquer transação comercial é lícita desde que 
seja possível realizá-la não fazia parte do pensamento medieval. O homem 
de negócios bem-sucedido de hoje, que compra pelo mínimo e vende pelo 
máximo, teria sido duas vezes excomungado na Idade Média. O comerciante, 
porque exercia um serviço público necessário, tinha direito a uma boa 
recompensa e a nada mais do que isso (HUBERMAN, 1974, p. 47).
A transição de uma sociedade que se baseava na noção do justo preço para outra que perseguia o 
sucesso econômico requeria uma mudança drástica na maneira de pensar e agir, resultante de uma nova 
ética. “A suspeita e o constrangimento que cercavam as ideias de lucro, mudança e mobilidade social 
[deviam] dar lugar a novas ideias que [encorajassem] essas mesmas atitudes e atividades” (HEILBRONER, 
1987, p. 64).
Para que a transição fosse efetiva, a mudança que introduziria uma nova forma de pensar deveria 
ser ampla e irreversível. Sem creditar à Reforma Protestante a única justificativa para a expansão da 
ética do capitalismo, como sugerem algumas linhas historiográficas, deve-se compreender que as 
transformações religiosas contribuíram, mas não determinaram as mudanças que já estavam ocorrendo 
e que ainda ocorreriam. 
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História Econômica GEral
 observação
Não se trata aqui de uma relação causal simples (Reforma/capitalismo), 
mas de uma profunda transformação religiosa que faria parte de um já 
intrincado mosaico histórico de outras relações. 
Sabemos que, até então, a Igreja Católica havia sido a única responsável pela difusão e manutenção 
dos valores morais, que defendiam o conformismo às condições dadas. O calvinismo e a Reforma 
provocaram uma mudança na forma de ver o mundo, introduzindo uma nova ética e conclamando 
todos a uma nova moral:
Em contraste com os teólogos católicos, propensos a considerar a atividade 
humana como coisa fútil e vã, os calvinistas santificavam e aprovavam o 
esforço humano como uma espécie de indicador de valor espiritual. De fato, 
cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem dedicado ao seu trabalho: 
“vocacionado” para ele, por assim dizer. Daí, a fervorosa entrega de cada um 
à sua própria vocação, muito ao contrário de evidenciar um afastamento 
dos fins religiosos, passou a ser considerada uma evidência da dedicação 
à vida religiosa. O comerciante enérgico e empreendedor era, aos olhos 
calvinistas, um homem piedoso, não um ímpio; e desta identificação de 
trabalho e virtude não foi necessário mais que um passo para se desenvolver 
a noção de que, quanto mais bem-sucedido um homem fosse na vida, mais 
virtuoso e mais valor ele tinha (HEILBRONER, 1987, p. 79).
O clima de insatisfação com a Igreja Católica já datava de décadas, e, na segunda metade do 
século XIV, cresceu um profundo sentimento anticlerical. Não se tratava apenas de antipapismo: 
no Parlamento inglês, debatia-se a cobrança de impostos aos clérigos e sobre o confisco de terras. 
Selvatici (2007) explica a situação calamitosa da cristandade: a peste atingira em cheio o corpo 
religioso, matando padres, freiras e clérigos; eram eles justamente os que mais se aproximavam 
da comunidade e, portanto, dos doentes. A fome e as doenças estimularam o misticismo. Segundo 
Selvatici (2007), além de falhar como guia espiritual, a Igreja também sofria ameaças com o 
desenvolvimento do nacionalismo em vários reinos. Na Inglaterra, chegou-se a proibir a apelação 
ao tribunal papal nos casos de processos judiciais, bem como o envio de taxas eclesiásticas para 
o exterior.
Para Selvatici (2007, p. 17), 
[...] o protesto contra a riqueza e os privilégios da Igreja era generalizado. 
O ideal de vida religiosa havia se desvirtuado e tanto bispos quanto padres, 
monges e freis eram criticados por este progressivo desvirtuamento do ideal 
para a prática mundana e pecadora. 
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Unidade I
O fato de a Igreja ser proprietária de tanta terra e de praticar aquilo que censurava nos púlpitos, 
assim como a venda indiscriminada de indulgências (perdão aos pecados mediante alguma contribuição 
financeira) gerou uma insatisfação que eclodiu com a excomunhão de Martinho Lutero (século XVI). O 
motivo inicial parece ter sido o aumento da venda de indulgências para o financiamento da construção 
da Basílica de São Pedro. Indignado com essa estratégia, Lutero se manifestou com a publicação de 95 
proposições e, por isso, acabou excomungado.
Figura 5 – Basílica de São Pedro
 saiba mais
Sobre o tema, sugerimos o filme: 
LUTERO. Dir. Eric Till. EUA: Dennis A. Clauss, 2003. 123 minutos.
No século XVI, os preceitos luteranos foram alvo de aprofundamento por parte de João Calvino, 
cuja doutrina se disseminou na França e na Inglaterra. Essa nova moral pregava, além da dedicação 
ao trabalho e do mérito alcançado por meio de esforço, que tanto o trabalho quanto seu fruto eram 
sagrados, o que acarretava que cabia aos homens e mulheres viver uma vida ascética e sem luxos.
Segundo Heilbroner e Milberg (2008), as palavras-chave para o calvinismo eram retidão, severidade 
e diligência. O trabalho e o esforço eram medidas de virtude e de grande valor espiritual. 
A busca zelosa do próprio papel na Terra, longe de evidenciar um desvio 
dos fins religiosos, foi entendida como evidência de uma dedicação à 
vida religiosa. [...] O calvinismo proporcionou um clima religioso que, 
diferentemente do catolicismo, encorajou o enriquecimento e a disposição 
para um mundo de negócios (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 63).
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História Econômica GEral
Mais do que tudo, o calvinismo introduziu um novo comportamento, que passou a representar 
um aspecto fundamental da vida econômica: a parcimônia. A sobriedade nos gastos e a simplicidade, 
especialmente dos que eram ricos, permitiam a poupança. Esta, por sua vez, seria aplicada na produção, 
gerando mais lucro. Em resumo, a abstinência consciente da renda faria aumentar a própria renda.
[...] [o calvinismo] fez da poupança, da abstinência consciente do usufruto 
da renda, uma virtude. Fez do investimento, do uso da poupança para fins 
produtivos, um instrumento tanto de devoção como de lucro. Justificou 
até [...] o pagamento de juros. De fato, o calvinismo estimulou uma nova 
concepção de vida econômica. Em lugar do antigo ideal de estabilidade 
social e econômica, de se conhecer e manter o “lugar” de cada um, conferiu 
respeitabilidade a um ideal de luta, de aperfeiçoamento e progresso material, 
de crescimento econômico (HEILBRONER, 1987, p. 80).
Max Weber, que se dedicou ao estudo da relação entre religião e capitalismo, definiu as características 
da nova ética por meio do que denominou espírito do capitalismo:
De fato, o summum bonum dessa ética, o ganhar mais e mais dinheiro, 
combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver 
é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, 
para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si 
mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo 
parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é 
dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da 
vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como 
um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão 
daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de 
vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia do capitalismo, tanto 
quanto

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