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História Econômica GEral
Unidade II
5 DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX
Passaremos a estudar a Revolução Industrial na Inglaterra e seus desdobramentos no século XIX, em 
especial, no que diz respeito à crise do capitalismo entre 1873 e 1893 e ao neocolonialismo. Também 
estudaremos a I Guerra Mundial, a Crise de 1929 e as políticas de cunho keynesiano adotadas para a 
solução da crise do capital.
5.1 A Inglaterra e a Primeira Revolução Industrial
Por que a Revolução Industrial ocorreu inicialmente na Inglaterra? Quais as condições ou 
circunstâncias que permitiram à Inglaterra obter a primazia no processo de desenvolvimento industrial? 
Interessa-nos descobrir o que teria levado a Inglaterra a realizar, e melhor do que os outros países, a 
acumulação primitiva de capitais 
[...] que permitiu a introdução contínua de inovações técnicas e da forma 
fabril de produção. Esse pioneirismo da Inglaterra foi fundamental para que 
ela se mantivesse, durante todo o século XIX, como a nação líder de uma 
economia-mundo bastante ampliada, e não mais comercial, mas industrial 
e capitalista (REZENDE, 2007, p. 141).
Em primeiro lugar, a Inglaterra havia enriquecido com o comércio e com a pirataria, riqueza essa 
que ficou nas mãos da burguesia comercial. Em razão dos excedentes econômicos, a acumulação 
primitiva de capitais promovida entre os séculos XVI e XVIII sustentou e financiou o parque industrial 
nascente. A formação de poupança, essencial para os investimentos solicitados pela atividade fabril, 
foi estimulada. Esses novos valores, totalmente distintos daqueles que haviam vigorado durante 
o feudalismo, aderiram com perfeição a um novo tempo contaminado pelo empreendedorismo e 
pelo crescimento econômico.
Em segundo lugar, deve ser considerado o contexto político da Inglaterra: a cisão entre Estado e 
Igreja acabou por servir aos interesses de uma reforma ética que pregava o lucro como objetivo, o 
trabalho como virtude (e não como uma punição) e a mobilidade social como prêmio para o esforço 
pessoal. 
O desenvolvimento científico também era notável, e as sociedades destinadas ao culto e à 
transmissão do saber espalhavam-se por toda a Europa. Já distante da escolástica medieval, o 
contexto era o do Renascimento, que disseminava por toda a Europa os ventos do racionalismo 
cartesiano, da filosofia kantiana e spinoziana, da dialética hegeliana, da pintura holandesa e da 
revolução científica de Newton. De fato, o humanismo e a busca de compreensão da natureza por 
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meio da ciência acabaram dando a esse momento uma característica especial, e a Inglaterra soube 
aproveitar essa oportunidade ao máximo.
Embora durante muito tempo tenha prevalecido na História Econômica Geral certa “leitura” que 
manteve Indústria e Universidade em esferas distintas, algumas evidências apontam para a existência de 
uma estreita relação entre elas, em especial na Inglaterra, “local de um entusiasmo peculiar pela ciência 
e engenharia” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 83). Lá surgiram, por exemplo, a Royal Society (presidida 
por Isaac Newton) e a Philosophical Society of Edinburgh, inaugurada em 1737 e que tinha, entre seus 
mantenedores e membros, vários grandes proprietários de terra. 
Afinal, “não menos importante foi o entusiasmo da aristocracia inglesa da terra pela agricultura 
científica: os donos de terra ingleses deixaram claro um interesse por questões como rotatividade das 
colheitas e fertilizantes” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 83). Além do desenvolvimento na ciência e 
engenharia na Inglaterra, outros fatores podem explicar a origem da Revolução Industrial ali. Alguns 
são tão fortuitos
[...] quanto os imensos recursos das minas de carvão e ferro existentes em 
solo inglês; outros tão propositais quanto o desenvolvimento de um sistema 
nacional de patentes que de forma deliberada estimulou e protegeu o 
próprio ato de inventar. Iniciada a revolução, ela se autoalimentou. As novas 
técnicas (em especial, na indústria têxtil) simplesmente acabaram com a 
concorrência do fabrico artesanal no mundo, aumentando assim de forma 
inimaginável os próprios mercados (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 83).
Quanto ao papel das instituições bancárias naquele instante, temos duas possíveis interpretações: 
uma que privilegia o papel da atividade bancária comercial, outra que reconhece a importância das 
operações financeiras dos bancos, especialmente no tocante às operações de crédito para industriais 
e empresários. De qualquer forma, é importante notar: não havia ainda o conceito dos bancos como 
agentes para captação de poupança e recursos com o objetivo explícito de agenciar fundos para 
investimentos. Segundo Heilbroner e Milberg (2008), o capital era acumulado e as indústrias cresciam, 
mas isso ocorria porque os salários eram mantidos em patamares extremamente baixos e porque 
poupadores importantes (agricultores, donos de terra e fabricantes prósperos) contribuíram para que 
volumosas quantias de dinheiro fossem colocadas à disposição para investimentos.
Parece evidente, a essa altura, que todas essas vantagens por si só não teriam sido suficientes 
para explicar o incrível e notável desenvolvimento industrial na Inglaterra: “o que em última instância 
fez funcionar todos esses fatores foi a energia de um grupo de novos homens, que transformou 
as oportunidades latentes da história em um veículo de sua própria ascensão à fama e à fortuna” 
(HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 83).
John Wildinson (industrial do aço), James Watt (fabricante de máquinas a vapor), John Roebuck 
(magnata do ferro), Matthew Boulton (fabricante de botões), Richard Arkwright, John Kay, Samuel 
Need e Jedediah Strutt, todos envolvidos com a indústria têxtil: esses foram os ingleses talentosos e 
empreendedores (na maioria, de origem social bastante humilde) que souberam fazer uso das condições 
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históricas excepcionais, inventando, investindo e fabricando riqueza e fortuna nas novas indústrias. Nem 
sempre preocupados com o bem-estar de seus empregados, eles desejavam a expansão e o crescimento. 
Os Novos Homens foram, em todos os momentos, empreendedores- 
-organizadores. Trouxeram consigo uma nova energia, tanto inquieta quanto 
inesgotável. Num sentido econômico, e também político, merecem o epíteto 
de “revolucionários”, porque a mudança que introduziram foi nada menos 
que total, avassaladora e irreversível (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 86).
Dessa lista de nomes, também podemos depreender o tripé que sustentou a industrialização inglesa: 
a indústria têxtil, a siderurgia e a mineração de carvão (REZENDE, 2007). A fabricação de tecidos de 
algodão (acelerada pela utilização da lançadeira volante e do tear mecânico) totalmente mecanizada 
permitiu o incremento da produção e a exportação do produto; a siderurgia possibilitou a construção 
de estradas de ferro; a mineração do carvão (combustível da máquina a vapor) acompanhou a expansão.
A fome, as doenças e as deficiências tecnológicas não conseguiam mais frear a produção de 
mercadorias. Os valores ligados ao capitalismo industrial (do lucro e do progresso econômico focados no 
mercado) tiveram papel mais importante para o desenvolvimento industrial da época do que qualquer 
tipo de superioridade intelectual ou científica britânica. Faltava somente que o fabricante se visse 
motivado a investir no crescimento industrial e que a Inglaterra monopolizasse o mercado mundial.
Os riscos dos investimentosdo mercado do algodão valiam a pena, o que atraiu empresários dispostos 
a se comprometerem com o desenvolvimento tecnológico necessário para a Revolução Industrial. Os 
subprodutos do algodão eram um ótimo investimento, na medida em que a maquinaria necessária para 
produzi-los era simples e barata e o lucro que dela se obtinha era crescente. A Revolução Industrial 
britânica não teria ocorrido sem a contribuição das condições fornecidas pela indústria do algodão – ou 
seja, sua familiaridade com o ambiente fabril (e a necessidade dele derivada de manutenção física das 
fábricas), o emprego de numerosa mão de obra e seu peso no montante total do comércio inglês:
A indústria algodoeira foi assim lançada, como um planador, pelo empuxo 
do comércio colonial ao qual estava ligada; um comércio que prometia uma 
expansão não apenas grande, mas rápida e sobretudo imprevisível, que 
encorajou o empresário a adotar as técnicas revolucionárias necessárias 
para lhe fazer face. Entre 1750 e 1769, a exportação britânica de tecidos de 
algodão aumentou mais de dez vezes (HOBSBAWM, 2010, p. 68).
Até mesmo a Índia deixou de representar um continente exportador e passou a ter o papel de 
comprador dos produtos de algodão, já que perdia a corrida industrial. Pela primeira vez, se invertia 
a relação de comércio mantida por um longo período entre Oriente e Ocidente. À Inglaterra coube o 
monopólio do mercado exportador, principalmente, por meio dos acessos obtidos nas colônias, que, 
por sua vez, passaram a depender das importações britânicas – ainda mais em períodos de guerra 
na Europa. Hobsbawm (2010) nos relata que, em 1814, a exportação inglesa era de quatro jardas de 
algodão para cada três jardas usadas internamente, enquanto em 1850 essa proporção subiu de treze 
para oito jardas.
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A paisagem inglesa se modificou profundamente. Centenas de fábricas se espalharam pelas cidades, 
e essas cidades se transformaram 
[...] no centro produtor e consumidor de toda a economia, relegando o 
campo a uma posição economicamente secundária. [...] A [...] cidade de 
Manchester teve sua população de 17 mil habitantes em 1760 decuplicada 
para 180 mil em 1830. Por volta de 1850, várias cidades industriais inglesas 
possuíam cerca de 300 mil habitantes – Bradford, Liverpool, Leeds, Sheffield, 
Birmingham, Bristol –, e Londres concentrava 4 milhões de habitantes em 
1880. Uma vez desencadeado, esse processo de urbanização que a fábrica 
provoca torna-se irreversível; a Inglaterra vê sua população rural, que 
representava 52% em 1851, baixar para 31% em 1881, e para apenas 22% 
em 1911 (REZENDE, 2007, p. 143).
Figura 10 – A industrialização. Sheffield, Inglaterra, 1850
É claro que o desenvolvimento industrial na Inglaterra não necessariamente trouxe apenas 
modificações positivas. De fato, as degradadas e imundas cidades inglesas viam circular em seu seio 
trabalhadores esfomeados que viviam em condições totalmente insalubres e conviviam com a fome 
resultante da explosão populacional e da escassez de terras aráveis e produtivas. 
Figura 11 – Moradias operárias em Londres, século XIX, em ilustração de Gustave Doré
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Aquele era um tempo de exploração humana – das crianças, em particular – motivada pela crença 
do progresso daqueles que detinham os meios de produção. 
 Saiba mais
Sugerimos a leitura das obras de Charles Dickens. Entre seus livros, 
recomendamos Hard Times e Oliver Twist (também transformado em filme, 
em 2005, sob a direção de Roman Polanski).
DICKENS, C. Hard Times. USA: Signet Classics, 2008.
___. Oliver Twist. São Paulo: Melhoramentos, 2012.
OLIVER Twist. Dir. Roman Polanski. Reino Unido; República Checa; 
França; Itália: Sony Pictures, 2005. 130 minutos.
Huberman (1974) conta o que era considerado normal, no século XIX, em termos de duração de um 
dia de trabalho em uma fábrica inglesa:
As crianças agora trabalhavam em fábricas, sob a direção de um supervisor 
cujo emprego dependia da produção que pudesse arrancar de seus pequenos 
corpos, com horários e condições estabelecidos pelo dono da fábrica, ansioso 
por lucros. Até mesmo um senhor de escravos das Índias Ocidentais poderia 
surpreender-se com o longo dia de trabalho das crianças. Um deles, falando 
a três industriais de Bradford, disse: “Sempre me considerei infeliz pelo fato 
de ser dono de escravos, mas nunca, nas Índias Ocidentais, pensamos ser 
possível haver ser humano tão cruel que exigisse de uma criança de 9 anos 
trabalhar 12 horas e meia por dia, e isso, como os senhores reconhecem, 
como hábito normal” (HUBERMAN, 1974, p. 192).
Heilbroner (1996) também narra a miséria e a exploração infantil. Conforme o autor,
Em 1828, The Lion, uma revista radical para a época, publicou a incrível 
história de Robert Blincoe, uma das oito paupérrimas crianças que haviam 
sido enviadas para uma fábrica em Lowdham. Os meninos e as meninas — 
tinham todos cerca de dez anos — eram chicoteados dia e noite, não apenas 
pela menor falta, mas também para desestimular seu comportamento 
preguiçoso. E comparadas com as de uma fábrica em Litton, para onde 
Blincoe foi transferido a seguir, as condições de Lowdham eram quase 
humanas. Em Litton, as crianças disputavam com os porcos a lavagem 
que era jogada na lama para os bichos comerem; eram chutadas, socadas 
e abusadas sexualmente; o patrão delas, um tal de Ellice Needham, tinha 
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o horrível hábito de beliscar as orelhas dos pequenos até que suas unhas 
se encontrassem através da carne. O capataz da fábrica era ainda pior. 
Pendurava Blincoe pelos pulsos por cima de uma máquina até que seus 
joelhos se dobrassem e então colocava pesos sobre seus ombros. A criança e 
seus pequenos companheiros de trabalho viviam quase nus durante o gélido 
inverno e (aparentemente apenas por pura e gratuita brincadeira sádica) os 
dentes deles eram limados! (HEILBRONER, 1996, p. 101).
Heilbroner e Milberg (2008, p. 89), por sua vez, relatam a trágica vida dos operários:
Era um período cruel. As intermináveis horas de trabalho, a sujeira 
generalizada e o ruído pesado nas fábricas, a falta das mais elementares 
precauções de segurança, tudo combinado para conferir ao início do 
capitalismo industrial uma reputação de que jamais se recuperou na mente 
de muitas pessoas neste mundo. Pior ainda eram as favelas para as quais 
retornava a maioria dos operários após a jornada de trabalho. A expectativa 
de vida ao nascer, em Manchester, era de 17 anos – número que refletia uma 
taxa de mortalidade infantil acima de 50%.
Marx e Engels (1999, p. 18) explicam a situação do proletariado naquele instante.
Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se 
também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem 
viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida 
em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se 
diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em 
consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas 
as flutuações do mercado. O crescente emprego de máquinas e a divisão do 
trabalho [...] [reduzem o custo do operário] aos meios de manutenção que 
lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência.
Exemplo de aplicação
O trabalho infantil ainda é uma tragédia nos nossos tempos. 
Em sua opinião, há semelhanças entre a exploração do trabalho infantil dos diasde hoje e a da 
Revolução Industrial?
Segundo Heilbroner e Milberg (2008), a Revolução Industrial inglesa transformou uma sociedade 
agrícola e comercial em uma sociedade industrial. Portanto, esse processo, muito lentamente, foi 
modificando as principais características da economia inglesa e incorporando aos poucos as mudanças 
tecnológicas que efetivamente se traduziram em alterações visíveis na vida das pessoas e na organização 
das empresas. 
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Afinal, a Inglaterra, excepcionalmente, comportava uma classe de empresários capitalistas agrícolas 
que empregavam, por sua vez, um grande proletariado rural. Ainda assim, não fugia à regra geral da 
época: eram os mercadores que controlavam as cidades europeias, e não aqueles cuja fortuna vinha 
do mundo agrícola – fazendeiros, advogados, comerciantes ou ainda mineradores e fabricantes que 
começavam a surgir. Isso se dava por conta do sistema de indústria doméstica, em que o mercador 
comprava e revendia os produtos dos artesãos, de quem dependiam os primeiros capitalistas industriais.
Apenas no século XIX essas transformações se cristalizaram: até lá, o campo – fornecedor da 
matéria-prima das tecelagens e das manufaturas têxteis – ainda ocupou espaço privilegiado na 
economia. Depois disso, ganharam importância as fábricas e a produção de bens de capital, que foi 
uma das razões para o fantástico crescimento da Inglaterra. 
Regiões metalúrgicas
Bacias carboníferas
Figura 12 – Economia inglesa ao final do século XVIII
Esse processo pode ser facilmente explicado: foi o desenvolvimento da produção de bens de capital, 
principalmente para a mineração, que permitiu a invenção das ferrovias. As minas precisavam de 
máquinas a vapor e de meios de transporte, demandando indústrias de bens de capital e elevando-as 
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ao mesmo patamar de desenvolvimento que a indústria algodoeira. Os homens de negócios, que 
integravam a classe média e precisavam encontrar onde investir seu capital acumulado, passaram a se 
dedicar à construção de ferrovias: de 28 milhões de libras investidas em ferrovias em 1840, segundo 
Hobsbawm (2010), o investimento, em 1850, passou a ser de 240 milhões de libras: 
O capital encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas 
tão rapidamente e em tão grande escala sem essa torrente de capital, 
especialmente na metade da década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois 
de imediato as ferrovias resolveram virtualmente todos os problemas do 
crescimento econômico (HOBSBAWM, 2010, p. 88).
Devemos lembrar que a produção de bens de capital é fundamental para o surgimento de uma 
economia industrializada. Os baixos salários dos trabalhadores e a produção limitada de bens de 
consumo em momento posterior explicam-se no contexto da opção pelo desenvolvimento do setor 
de bens de capital em detrimento do de bens de consumo. Ainda é possível dizer mais: já consagrada 
na Inglaterra, havia chegado o momento de a Revolução Industrial alcançar outras nações.
5.2 O apogeu: a Segunda Revolução Industrial
De forma resumida, o século XVIII ficaria marcado pela conformação de estruturas sociais bastante 
específicas. Contribuíram para isso o crescimento demográfico (principalmente em função da queda da 
mortalidade advinda das melhorias nas técnicas de saúde pública), a expansão do mercado por meio da 
divisão do trabalho e dos acréscimos na produtividade e as invenções que transformariam as cidades e 
a produção.
Entre 1775 e 1875, o mundo experimentou um “vasto boom secular” caracterizado por progresso 
econômico, ainda que desigual entre os países europeus. A fábrica passou a centralizar o trabalho coletivo e 
alienante. O operário não mais precisava oferecer habilidades de manuseio das ferramentas: pelo contrário, 
nesse novo cenário eram as máquinas que exigiam, do trabalhador, obediência. Além disso,
[...] era agora necessário capital para financiar o equipamento complexo 
requerido pelo novo tipo de unidade de produção; e criara-se um papel para 
um tipo novo de capitalista, não mais apenas como usurário ou comerciante 
em sua loja ou armazém, mas como capitão de indústria, organizador e 
planejador das operações da unidade de produção, corporificação de uma 
disciplina autoritária sobre um exército de trabalhadores que, destituídos 
de sua cidadania econômica, tinham de ser coagidos ao cumprimento de 
seus deveres onerosos a serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do 
supervisor do patrão (DOBB, 1986, p. 262).
Esse cenário nos permite perceber a Revolução Industrial como “uma série contínua de 
transformações que perdurou além mesmo do século XIX, em vez de como uma modificação feita 
de uma só vez” (DOBB, 1986, p. 269). No entanto, “uma vez vinda a transformação crucial, o sistema 
industrial embarcou em toda uma série de revoluções na técnica de produção, como traço notável 
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de uma época do capitalismo amadurecido” (ibidem, p. 270). A especialização e a divisão do trabalho 
permitiam inovações, caracterizando um processo cumulativo e irreversível em produtividade, 
concentração da produção, acumulação e propriedade do capital. 
Essa última tendência, filha da complexidade crescente do equipamento 
técnico, é que iria preparar o terreno para outra transformação crucial na 
estrutura da indústria capitalista, e gerar o “capitalismo de corporação” 
monopolista (ou semimonopolista ou quase monopolista) em grande escala 
da era atual (DOBB, 1986, p. 270).
Já identificamos o aparecimento de características mais próximas às do nosso contexto 
contemporâneo. O espírito comercial e prático dos capitalistas, aliado às invenções, ao aumento 
populacional e à disposição dos trabalhadores – sem-terra e recém-chegados aos ambientes urbanos – 
em submeterem sua força de trabalho a condições desfavoráveis de emprego que garantissem apenas 
sua sobrevivência passaram a caracterizar as estruturas sociais da Revolução Industrial. As invenções 
serviam à economia de tempo e à maximização da força de trabalho, e a acumulação do capital excedia 
o crescimento da oferta de trabalho.
No seu auge, as transformações provocadas pela Revolução Industrial foram anormalmente rápidas 
e se distinguiram em muito dos padrões anteriores. As mudanças na economia, na indústria, nas relações 
sociais, na produção e no comércio indicavam o surgimento de um novo indivíduo, que acreditava no 
progresso e na mudança. As deficiências do mercado e a baixa produtividade já não eram mais obstáculo 
para uma sociedade que convivia com uma oferta abundante de mão de obra e com o avanço das 
técnicas de produção.
A grande revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da “indústria“ como 
tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, 
mas da classe média ou da sociedade “burguesa“ liberal; não da “economia 
moderna“ ou do “Estado moderno“, mas das economias e Estados com 
uma determinada região geográfica do mundo (parte da Europa e alguns 
trechos da América do Norte), cujo centro eram os Estados rivais e vizinhos 
da Grã-Bretanha e França (HOBSBAWM, 2010, p. 20).
De fato, o cenário estava preparado para a expansão da Revolução Industrial para além das fronteiras 
inglesas, e isso ocorreria com a Segunda Revolução Industrial, conjunto de inovações que permitiu ao 
capitalismo sair de sua infância e desenvolver-se. 
Dos produtos dominantes durante a Revolução Industrial inglesa, apenas a 
estrada de ferrocontinuou recebendo um notável impulso, ampliando-se 
continuamente. O ferro deixou de ser um produto industrializado, para se 
transformar em matéria-prima para o aço. O vapor de água foi substituído 
pela eletricidade e pelo petróleo, como fonte de energia. A indústria química 
permitiu a crescente independência industrial das matérias-primas naturais. 
A fábrica concentrou-se em escala jamais imaginada. A ciência tornou-se 
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matéria auxiliar da técnica. E a administração dos negócios adquiriu um 
caráter científico (REZENDE, 2007, p. 145).
Como consequência dessas transformações, a composição do capital também se modificou. Os investimentos 
para a criação e para a ampliação das fábricas tornaram-se vultosos demais, e sociedades anônimas proliferaram, 
dependentes dos grandes aportes financeiros oferecidos pelo setor bancário. Na luta pela sobrevivência, os 
grandes capitais engoliram os menores. Em busca de produtividade, as empresas passaram a reinvestir os 
lucros em pesquisa. “Um exemplo perfeito, tanto da subordinação da ciência à técnica, como da administração 
profissional, foi fornecido por Frederick W. Taylor (1885-1915), com seus métodos que procuravam obter o 
máximo de rendimento produtivo por operário” (REZENDE, 2007, p. 148).
Os governos e os homens de negócio do Ocidente não encontravam impeditivos para suas pretensões 
capitalistas. Ainda: embora o iluminismo objetivasse a libertação do indivíduo, tratava-se de uma 
liberdade atrelada à sociedade capitalista, em que os iluministas emancipariam os futuros burgueses 
já pertencentes à alta sociedade. Não por acaso, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial inglesa 
ocorreram no mesmo período e em lugares próximos: ambas foram fruto do desenvolvimento do 
capitalismo liberal burguês. Elas serviram como marcas cruciais e divisoras de águas entre a existência 
das velhas civilizações e o domínio europeu (principalmente britânico) do resto do mundo. Foi esse 
desenvolvimento do capital burguês que permitiu à Inglaterra a superioridade técnica, militar e comercial, 
por meio da qual essa nação pôde pôr em prática empreendimentos capitalistas e expansionistas. Além 
disso, a Inglaterra, cuja estabilidade fez que a conquista de autonomia por parte das suas colônias não 
implicasse grande perda econômica, soube administrar melhor todas as guerras travadas com o inimigo 
francês, ainda que este dispusesse de mais recursos. 
Em 1848, uma revolta na França contra o autoritarismo e as péssimas condições da economia 
francesa acabou servindo de estímulo à propagação de um clima revolucionário para dezenas de outros 
países na Europa.
Figura 13 – Propagação da Revolução de 1848 pelo restante da Europa. Em branco, os países liberais; em amarelo, os conservadores
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 Saiba mais
Sugerimos o filme Os Miseráveis, que retrata o período revolucionário 
na França.
OS MISERÁVEIS. Dir. Tom Hooper. Reino Unido: Working Title Films/
Cameron Mackintosh Ltd./Relativity Media, 2012. 158 minutos.
O desapego aos ideais tradicionais e religiosos deu lugar à máxima da Revolução Francesa que pretendia a 
liberdade, a igualdade e a fraternidade de todos os homens, desde que respeitados o progresso e o racionalismo 
inerentes ao desenvolvimento do capitalismo. Afinal, foi a Revolução Francesa que pôs fim, de fato, aos 
resquícios das relações sociais feudais: a monarquia tinha interesse nas novas ideias da classe média para se 
modernizar, e a classe média dependia da boa vontade do príncipe para que as ações direcionadas ao progresso 
do capitalismo tivessem espaço em meio aos interesses aristocráticos e clericais. 
 Lembrete
A Revolução Francesa foi o conjunto de revoltas que culminaram com a 
substituição da monarquia por um regime republicano secular.
Entretanto, é necessária uma observação: embora a Revolução Francesa, de cunho burguês, tenha 
ocorrido em 1789, 
[...] não foi senão a partir de 1804 que seu governo tomou certas medidas de 
favorecimento à burguesia, como a criação do Banco da França, a construção 
de novas estradas, a remodelação dos portos e os incentivos à mecanização 
da produção (REZENDE, 2007, p. 149). 
O cenário era propício, já que desde o século anterior os governos franceses vinham adotando 
políticas protecionistas à indústria nacional; em contrapartida, a hegemonia política da nobreza dona 
das terras servia como empecilho ao crescimento industrial. 
A força política da nobreza, que controlava o Estado, criava obstáculos 
intransponíveis ao desenvolvimento industrial. O país era coberto por barreiras 
alfandegárias locais e provinciais, que forçavam o pagamento de tributos pela 
passagem por qualquer parte de seu território, tal como acontecia desde a Idade 
Média. Essas barreiras faziam com que o mercado interno não fosse, na realidade, 
único, e sim a soma de uma centena ou mais de mercados locais, e tornava 
proibitivo o envio de mercadorias de uma região a outra. Como se isso não 
bastasse, havia limitações legais ao livre trânsito dos produtos agrícolas, sendo 
os agricultores obrigados a vender sua produção somente nos mercados locais 
(MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 262).
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Unidade II
A Revolução Francesa e o período napoleônico representaram a vitória e o triunfo da burguesia na 
França, e, terminadas as guerras napoleônicas, o ritmo de industrialização na França intensificou-se de forma 
significativa: no norte, se estabeleceu a indústria de tecidos; nas minas do Noroeste e na Lorena, a produção de 
ferro e carvão aumentou. Nas fábricas, empregaram-se os antigos operários das corporações aniquiladas pela 
força das indústrias, buscando vagas como assalariados nas fábricas capitalistas. 
 Lembrete
Na Inglaterra, diferentemente do que ocorreu na França, a mão de obra 
nas indústrias se formou a partir dos camponeses expulsos dos campos.
A industrialização também acabou por alcançar a Suíça e a Holanda, já que nesses países a burguesia 
estava no poder já há um tempo considerável. Segundo Magalhães Filho (1991), na Holanda, apesar de 
a burguesia ser predominantemente comercial, sua posição estratégica e as riquezas de suas colônias 
asiáticas davam-lhe posição privilegiada. 
Na Dinamarca, as restrições e amarras feudais haviam sido abolidas em 1788; a economia, desde 
então, havia se especializado na exportação de cereais e animais, principalmente para a Inglaterra. 
Na Bélgica, desenvolveram-se a produção de carvão e a indústria siderúrgica; também cresceu a 
produção de produtos alimentícios e expandiu-se a indústria têxtil.
Na Alemanha, a unificação nacional em 1870 permitiu que o país finalmente se industrializasse, 
distanciando-se da economia agrária. 
Limite da Confederação Germânica do Norte em 1867
Limite do Império Alemão em 1871
Figura 14 – Unificação alemã: em amarelo, o reino da Prússia, em 1864; em rosa, as aquisições prussianas 
entre 1865 e 1866; em verde, a Alsácia e a Lorena, adquiridas em 1871
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Nesse processo, a Prússia desempenhou importante papel, liderando as áreas alemãs mais 
desenvolvidas e, por meio de uma política militarista agressiva, combatendo a Dinamarca, a Áustria e a 
França. 
Ciente de que os capitais originários das atividades agrícolas e da indústria têxtil 
e siderúrgica são insuficientes parapromover uma industrialização nos moldes 
requeridos pela Segunda Revolução Industrial, o Estado joga todo [o] seu peso 
a fim de viabilizá-la, atuando como produtor e grande consumidor (Forças 
Armadas, administração, serviços públicos) (REZENDE, 2007, p. 152).
Como exemplo dessa atuação centralizadora e forte do Estado da Prússia, podemos citar a prática de 
dumping, sistematizada com o objetivo de criar vantagens para os produtos alemães. 
 Observação
A prática de dumping consiste em estabelecer preços diferenciados para 
o mercado interno (mais elevados) e para o externo (mais baixos), fazendo 
o consumidor interno subsidiar as exportações.
Em razão das necessidades nacionais, o Estado alemão também privilegiou o ensino técnico e a 
pesquisa científica. Segundo nos relata Rezende (2007, p. 153), “as indústrias Krupp, por exemplo, 
chegaram a ter em seus quadros funcionais um corpo de cientistas maior que o de qualquer outra 
universidade, às vésperas da Primeira Guerra Mundial”.
A unificação também foi fundamental para o desenvolvimento industrial na Itália, onde o processo 
de industrialização respeitou as características geográficas e econômicas do país. Segundo Rezende 
(2007, p. 154),
[...] existiam duas Itálias. Uma Itália do Norte, com uma agricultura 
progressista, com um sistema bancário desenvolvido, e com uma 
indústria centrada nas cidades de Milão (têxtil e metalúrgica), Turim 
(mecânica e têxtil), Gênova (têxtil e construção naval) e Veneza (têxtil), 
ligadas por uma razoável rede ferroviária. E uma Itália do Sul, atrasada, 
essencialmente rural, com apenas uma grande cidade, Nápoles, que, no 
entanto, concentrava mais uma atividade comercial, que propriamente 
industrial.
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Unidade II
Reino da Sardenha em 1885 Território anexado em novembro de 1860
Território anexado em 1859 Território anexado em 1866
Território anexado em março de 1860 Território perdido para a França em 1860
Fronteira internacional em 1914Francesa desde 1768, antes genovesa
Figura 15 – Unificação italiana
Nesse contexto, os interesses dos grandes proprietários de terra se uniriam aos interesses dos 
industriais, e a Itália do Sul passou a oferecer a mão de obra tão necessária à Itália do Norte.
 Observação
Ainda nos dias de hoje, percebe-se essa divisão na Itália, com as 
indústrias concentrando-se no Norte, e a agricultura, no Sul.
Mas não foi a Europa a única região a se contaminar pelos ares da industrialização. O Japão 
é um exemplo de como o desgaste do poder dos senhores feudais acabou por permitir que o 
desenvolvimento econômico ganhasse impulso por meio da junção de forças entre o Estado 
e a burguesia. Assim, ao final do século XIX, impostos feudais foram substituídos por tarifas 
alfandegárias, e os antigos samurai (a serviço dos senhores feudais) foram substituídos por 
soldados profissionais. No entanto, é importante lembrar que os senhores feudais não perderam 
suas terras nesse processo, e a organização tributária passou a arrecadar recursos dos senhores 
proprietários de terras, dirigindo-os para investimentos industriais. Segundo Magalhães Filho 
(1991, p. 285),
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[...] a grande vantagem comparativa da indústria japonesa estará em 
seus salários, mais baixos que os de qualquer outro país industrial. 
O fato de as restrições feudais terem sido abolidas sem que fosse 
modificada a estrutura de propriedade da terra transforma a maior 
parte dos lavradores em pequenos arrendatários, que em épocas de más 
colheitas, não podendo pagar suas rendas, são obrigados a abandonar o 
campo. [...] É esse crescente fluxo para as cidades que forma os grandes 
contingentes de mão de obra necessários à industrialização, permitindo 
ao mesmo tempo manter muito baixos os níveis salariais.
Outro exemplo de industrialização, dessa vez no Novo Mundo, diz respeito aos Estados Unidos, que, 
segundo Rezende (2007, p. 156), 
[...] independentes em 1781, e tendo reafirmado sua independência com a 
Guerra de 1812-14 com a Inglaterra – motivada pelos impedimentos que os 
ingleses faziam ao comércio com a França napoleônica e suas dependências 
–, os Estados Unidos mantêm até 1860 a dicotomia herdada de seu passado 
colonial. 
Desse modo, na antiga colônia inglesa, ao Sul, estavam os estados que viviam da agricultura 
e eram, portanto, escravocratas. “As colônias de Maryland, Virginia, Carolinas do Norte e do Sul 
e Geórgia exportavam fumo, e em escala menor, arroz, anil, cânhamo, linho e resinas vegetais, 
importando quase tudo o que consumiam” (MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 274). Ao norte, as colônias 
não apresentavam condições geográficas favoráveis para a agricultura, o que acarretou que fossem, 
posteriormente, povoadas por religiosos fugitivos da Grã-Bretanha e da Europa continental: de 
origem burguesa, esses habitantes trouxeram técnicas de produção e uma cultura voltada para o 
comércio e para a manufatura. Ao final do século XIX, tem início um movimento separatista: os 
estados sulistas (Confederados) formam um novo país, e os estados do norte reagem, defendendo 
a União. Segundo Magalhães Filho (1991, p. 279),
[...] a guerra durou quatro anos. As mortes militares alcançaram 529 mil 
homens. O sul foi completamente derrotado e sua economia primária 
reorientada em benefício das indústrias do norte. O custo total da guerra 
ultrapassou a quantia de 8 bilhões de dólares, incluindo-se apenas os gastos 
diretos dos dois governos.
Vencedor, o norte “abole a escravidão e garante as condições para seu crescimento econômico, com 
uma industrialização caracterizada pela presença de grandes trustes e cartéis (Carnegie, Ford, General 
Eletric, Westinghouse)” (REZENDE, 2007, p. 156).
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Estados da União
1 - Oregon
2 - Califórnia
3 - Área indígena
4 - Kansas
5 - Wisconsin
6 - Michigan
7 - Missouri
8 - Illinois
9 - Indiana
10 - Kentucky
11 - Ohio
12 - Virgínia Ocidental
1 - Texas
2 - Lousiana
3 - Arkansas
4 - Mississippi
5 - Alabama
6 - Tennessee
7 - Geórgia
8 - Carolina do Sul
9 - Carolina do Norte
10 - Virgínia
11 - Flórida
13 - Pensilvânia
14 - Masschusetts
15 - New York
16 - Vermont
17 - New Hampshire
18 - Maine
19 - Rhode Island
20 - Connecticut
21 - New Jersey
22 - Delaware
23 - Marylandl
Estados Confederados
Figura 16 – A Guerra Civil Americana (Guerra de Secessão)
 Saiba mais
Sugerimos que você veja Lincoln, que retrata a Guerra de Secessão e os 
debates acerca da escravidão.
LINCOLN. Dir. Steven Spielberg. EUA: Touchstone Pictures/DreamWorks 
Pictures/Reliance Entertainment/Participant Media/Amblin Entertainment/
The Kennedy/Marshall Company, 2012. 150 minutos.
No século XIX, a Revolução Industrial estava consolidada na maior parte dos países da Europa. O 
operário, que não possuía nada além de sua força de trabalho, empregava-se nas pequenas ou grandes 
fábricas e sujeitava-se a condições extremamente precárias e insalubres. Não havia como protestar 
ou como lutar por quaisquer melhorias de salário: não havia sequer garantia de emprego, já que a 
ameaça da substituição da mão de obra por máquinas funcionava como uma espada sobre a cabeça do 
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trabalhador. De fato, havia tanta revolta que, ao final do século XVIII e nos primeiros anos do século XIX, 
as invasões de fábricaspor operários se tornaram uma constante. 
Fábricas destruídas espalhavam-se pelo campo e a cada uma o comentário 
era “Ned Ludd passou por aqui”. O boato era que um Rei Ludd ou um General 
Ludd estava dirigindo as atividades da turba. Não era verdade, claro. Os 
Luddites, como eles eram chamados, inflamavam-se pelo puro e espontâneo 
ódio às fábricas, que viam como prisões, e ao trabalho assalariado, que 
desprezavam. [...] Para a maior parte dos observadores [...], as classes 
baixas estavam escapando do controle e era preciso agir severamente para 
acabar com a situação. E, para as classes altas, aqueles acontecimentos 
pareciam indicar que um violento e terrificante Armagedon se aproximava 
(HEILBRONER, 1996, p. 102).
As condições desesperadoras dos trabalhadores alimentariam e impulsionariam as revoltas do 
final do século XIX e do início do XX, sob os auspícios da atuação política dos socialistas, anarquistas 
e comunistas. Marx e Engels, por sua vez, depois de oferecerem o arcabouço teórico necessário à 
compreensão da formação do lucro e da acumulação capitalista, propuseram a revolução comunista 
como salvação para os operários, e, por que não dizer, para o próprio capitalismo.
 Saiba mais
Sugerimos o filme Germinal. Baseado no livro homônimo de Émile Zola, 
o filme narra a trajetória de um grupo de mineiros grevistas franceses, no 
século XIX.
GERMINAL. Dir. Claude Berri. França: Sony Pictures, 1993. 160 minutos.
5.3 A crise
No final do século XIX, deflagra-se a primeira crise geral do capitalismo. A miséria social produzida 
e intensificada pela Revolução Industrial fomentou levantes trabalhistas e a aparição de movimentos 
contrários à industrialização. Todos estavam insatisfeitos, e a insatisfação não atingia apenas o 
proletariado. Entre os indignados, podiam ser encontrados pequenos comerciantes, pequenos burgueses 
e fazendeiros; em suma, todos – exceto os grandes proprietários dos meios de produção, a quem a 
Revolução Industrial proporcionava grandes lucros –, sofriam com a desigualdade de renda. 
De fato, ao longo da segunda metade do século, a economia já havia dado sinais de que algo não 
corria bem: recessões, fracas e de curta duração, além de depressões, mais profundas e duradouras, 
ameaçavam o desenvolvimento até então exponencial do capitalismo e implicavam desemprego, queda 
de produção e consumo e baixa na qualidade de vida. Além disso, o proletariado, diante das condições 
constantes de miséria às quais era submetido e sofrendo ainda mais intensamente com as oscilações 
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do sistema capitalista, se organizava em sindicatos e se interessava por ideias que preconizavam a 
democracia e a efetiva participação política que lhe fazia falta: 
Por toda a parte os grupos excluídos defrontavam-se com novas oligarquias 
que não atendiam às suas necessidades e não respondiam aos seus anseios. 
Estes extravasavam em lutas visando tornar mais efetiva a promessa 
democrática que a acumulação de riquezas e poder nas mãos de alguns, 
em detrimento da grande maioria, demonstrara ser cada vez mais fictícia. 
[...] Ideias socialistas, anarquistas, sindicalistas, comunistas, ou simplesmente 
reformistas apareceram como críticas ao mundo criado pelo capitalismo e 
pela liberal-democracia (COSTA, 2003).
Datam desse período a disseminação das correntes do socialismo utópico, a publicação do Manifesto 
Comunista (1848), a organização da Primeira Internacional (1864) e, após seu fracasso, da Segunda 
Internacional (1889), a publicação de O Capital (1867), os escritos anarquistas, a Comuna de Paris (1871) 
e a mobilização política sindical e partidária do operariado.
O socialismo utópico (que se contrapunha ao socialismo científico de Marx e Engels por conta da 
ausência de ações propositivas em sua teoria e de seu pacifismo) teorizava acerca do que deveria ser 
considerada uma sociedade justa e igualitária, mas não elaborava quaisquer métodos revolucionários 
para alcançá-la. Além disso, os autores dessa corrente responsabilizavam as classes superiores pela 
modificação social necessária ao estabelecimento do socialismo. 
A crítica de Marx e Engels aos socialistas utópicos era simples: para eles, não se podia ignorar a 
questão de classe inerente à desigualdade social. Era preciso atentar para as distinções de classe, em 
vez de dar preferência aos valores burgueses e entendê-los como representativos da sociedade em seu 
conjunto. Com esse propósito, em 1848, Marx e Engels publicaram o Manifesto Comunista, convocando 
todos os operários do mundo a se unir e se comprometer com a revolução socialista. Para seus autores, 
o vetor de qualquer ação revolucionária era a classe trabalhador e só ela poderia conquistar a própria 
emancipação, fazendo-se essencial a libertação autônoma, por baixo, do proletariado com relação à 
burguesia. Os autores propunham ainda uma união internacionalista de todo o operariado para que 
se pusesse fim à concentração de riqueza própria do capitalismo monopolista. De fato, Marx e Engels 
enxergavam, também, uma contradição inerente ao capitalismo. Essa contradição era o que explicava as 
crises e antecipava a intensificação inevitável do conflito entre a centralização dos meios de produção e 
a exploração do proletariado, situação que supostamente levaria o capitalismo à sua decadência.
E o mais importante — a contradição fundamental da sociedade capitalista 
— o fato de que enquanto a produção em si é cada vez mais socializada, 
o resultado do trabalho coletivo, a apropriação, é privado, individual. O 
trabalho cria, o capital se apropria. No capitalismo, a criação pelo trabalho já 
se tornou uma empresa conjunta, um processo cooperativo com milhares de 
operários trabalhando em conjunto (frequentemente, para produzir apenas 
uma coisa, como por exemplo o automóvel). Mas os produtos, socialmente 
produzidos, são apropriados não pelos seus produtores, mas pelos donos 
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dos meios de produção — os capitalistas. E aí está o problema — a origem 
do conflito. A produção socializada contra a apropriação capitalista 
(HUBERMAN, 1974, p. 293).
Anos depois, Marx publicou O Capital, em que definiu conceitos que seriam utilizados tanto por 
socialistas quanto por estudiosos em geral por muitas décadas. Em O Capital podemos ler, por exemplo, 
que o capitalismo se baseia na exploração da força de trabalho e na obtenção de mais-valia: uma ínfima 
parte do fruto do trabalho do proletário (tão especializado que o impede de ter uma noção integral do 
produto do esforço conjunto dos trabalhadores) paga seu salário, e todo o resto é revertido em lucro 
para o proprietário dos meios de produção. 
 Observação
O Capital é um livro teórico e extenso, que faz uma crítica econômica 
ao capitalismo e procura compreendê-lo.
Indiferente à organização política do proletariado no final do século XIX, entretanto, o capitalismo 
tinha outros problemas para resolver. Afinal, chegara o momento em que se tornava evidente que a 
exploração promovida pelo capitalismo, e da qual ele se alimentava, tinha seus limites. A lucratividade 
não mais crescia de acordo com o aumento de produtividade, uma vez que a mais-valia só poderia ser 
obtida por meio da exploração de mão de obra, e esta, por sua vez, além de possuir limites fisiológicos 
naturais, tornava-se mais cara à medida que era mais empregada. Diminuindo-se a taxa de lucro e, 
com isso, as oportunidades de investimento, inevitavelmente, a produção entrou em um período de 
depressão que se destacou das crises conjunturais e periódicas às quais os capitalistas já haviam se 
acostumado.A redução da margem de lucro, segundo Hobsbawm (2010), teve duas consequências: em primeiro 
lugar, por conta do ambiente extremamente competitivo entre as empresas, o mercado viveu a experiência 
da queda dramática e constante do preço dos artigos acabados; em segundo, a manutenção dos custos 
de produção, que não se beneficiaram da queda geral dos preços. Na verdade, depois de 1815, a situação 
geral dos preços era de deflação, e não de inflação, e os lucros experimentavam um leve recuo. 
Uma possível saída seria que o custo de vida diminuísse, para que os salários também pudessem 
diminuir. Havia, entretanto, o impedimento representado pela política protecionista do Parlamento, que 
permitia o monopólio da propriedade fundiária e criava obstáculos para as importações: como exportar 
para países se estes não tinham recursos, dada a impossibilidade de exportar para países que adotavam 
políticas protecionistas?
O capitalismo industrial, então, dava lugar ao capitalismo monopolista, em que grandes grupos 
controlavam partes igualmente grandes do mercado referente à sua produção – sem, com isso, eliminar 
necessariamente a concorrência: um número pequeno de empresas eliminava seus concorrentes 
menores e competia pelo mercado entre si, às vezes chegando a acordos para dividi-lo.
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Aço, metalurgia, indústria química, siderurgia, mineração e outros setores: os países industrializados 
deparavam com o estabelecimento de monopólios empresariais especializados, e os países não 
industrializados forneciam os produtos primários necessários a essa produção, importando produtos 
acabados. Viam-se, também, a consolidação e a crescente importância do monopolismo bancário, por 
meio do qual empresas particulares e governos, cujos interesses convergiam, controlavam empresas 
menores e influenciavam a política exterior com seus empréstimos e concessões de crédito.
Um a um, os principais setores industriais haviam caído em mãos de grandes 
grupos, e a tendência indicava que, a seu tempo, os demais setores viriam a 
ter o mesmo destino. Montados em sua posição monopolística, os grandes 
grupos ditavam os preços, mantendo-os anormalmente altos, de modo a 
auferir maiores lucros, mas podendo baixá-los até onde fosse preciso para 
aniquilar um concorrente. Os pequenos produtores que ainda restavam 
nesses setores iam sendo deliberadamente engolidos, e os que compravam 
ou vendiam para esses grupos eram obrigados a ceder às suas exigências. A 
não ser em ramos inteiramente novos, passara à lembrança a época em que 
qualquer um podia vir a estabelecer-se. Surgira o capitalismo monopolista 
(MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 324).
A racionalização da produção e a obtenção de margens consideráveis de lucro permitiam o 
investimento em novas técnicas e novos produtos, assim como transferiam às empresas o poder de 
definir os preços de mercado. Porém, embora lucrassem com o capitalismo, os regimes monopolistas 
não agradavam inteiramente à classe média de burgueses, comerciantes e proprietários agrícolas. Para 
muitos, os cartéis, trustes e manobras perpetrados pelos grandes grupos empresariais ameaçavam a livre 
concorrência a que a sociedade já estava acostumada. 
Na indústria ferroviária, a ação predatória dos grandes empresários acabou por fazer que os 
moradores da Califórnia só pudessem usar os trens de uma única e grande empresa. 
Mas não foi apenas a indústria ferroviária que utilizou o poder econômico 
para criar uma posição monopolizadora. Na fabricação de uísque e de 
açúcar, no tabaco e nos alimentos para o gado, em pregos, anéis de aço, 
aparelhos elétricos, lâminas de metal, em fósforos e carne (HEILBRONER; 
MILBERG, 2008, p. 107). 
Em todos os setores da economia americana surgiram gigantes monopolizadores, cuja atuação e 
controle inviabilizavam qualquer concorrência. Aos poucos, a produção industrial passou a se concentrar 
nas mãos de poucas unidades de negócio.
Nos Estados Unidos, segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 108):
A transformação foi dramática. Em 1900, por exemplo, a quantidade de fábricas 
têxteis, ainda que grande, diminuiu em um terço desde a década de 1880; 
durante o mesmo período, o número de fabricantes de implementos agrícolas 
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despencou em 60%, e a quantidade de fabricantes de couro, em três quartos. 
Na indústria de vagões, duas empresas dominavam o cenário em 1900, num 
contraste com as 19 em 1860. A indústria de biscoitos doces e salgados passou 
de umas poucas empresas, menores e espalhadas, para um mercado em que 
um só produtor detinha 90% da capacidade industrial, na virada do século. 
Enquanto isso, no aço, existia a colossal US Steel Company, que sozinha 
dava conta de mais da metade da produção de aço no país. No petróleo, a 
Standard Oil Company controlava 75% da produção de cigarros e 35% da 
produção de charutos.
É evidente que, em dado momento, os gigantes perceberam que a conquista de novas fatias 
de mercado só aconteceria caso eles brigassem. Contudo, como eles não queriam brigar, decidiram 
não competir. Quais as estratégias então formuladas por essas grandes empresas? Elas resolveram 
criar trustes, grupos que reuniam empresas coligadas que recebiam parcelas dos lucros conforme a 
porcentagem de participação. Quando os trustes foram declarados ilegais, criou-se o dispositivo que 
permitia às empresas a compra de ações de outras empresas, em um verdadeiro processo de fusão. Nos 
Estados Unidos, “só na manufatura e na exploração de minério, ocorreram 43 fusões em 1895 [...]; 26 
fusões em 1896; e 69 em 1897. Em 1898, havia 303 – e finalmente, em 1899, um clímax de 1208 fusões 
combinavam 2,26 bilhões de dólares em ativos corporativos” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 111).
O capitalismo monopolista enfrentava outras dificuldades: a premência em expandir os horizontes 
já o havia lançado na direção de territórios estrangeiros não industrializados. Os países centrais, 
interessados em controlar seu próprio suprimento de matérias-primas para a produção monopolista, 
não mais encontravam a segurança necessária no seu fornecimento por meio das trocas comerciais 
existentes. Fazia-se necessário para a manutenção da exploração capitalista, então, controlar as regiões 
de onde provinham os recursos primários. Havia a preocupação, também, de aumentar a demanda cujo 
consumo escoaria a produção em larga escala dos países industrializados. A desigualdade de renda 
interna desses países não permitia o estabelecimento de um mercado que se encarregasse de consumir 
a produção, e a competição internacional era inerente à exportação.
Igualmente problemática era a necessidade de investimento do excedente econômico das economias 
industriais. Nessas condições, a melhor saída que se apresentava era a conquista de mercados externos, 
ainda que ela não envolvesse dominação política, e ao conjunto de estratégias relacionadas a esses 
objetivos damos o nome de neocolonialismo.
O imperialismo levou à formação de grandes impérios coloniais [...], mas 
essa foi apenas uma de suas formas de ação. Em muitas ocasiões não era 
possível ou vantajoso submeter politicamente uma determinada região 
ou país, às vezes nem sequer necessário. A evolução das forças produtivas 
nas economias industrializadas fora tão grande e tão rápida, e o poderio 
econômico desses países crescera de tal forma que as outras nações, 
quisessem ou não, haviam passado a depender deles, e de seus grandes 
monopólios (MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 331).
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Unidade II
Explorar economicamente países periféricos, entretanto, não era tarefa simples ou justa. A ação 
capitalista trouxe consigo a responsabilidade pela dependência comercial, pela subjugação política e, 
por vezes, pela eliminação da cultura e da população locais.
 Observação
O neocolonialismo, quer dizer, a divisão dos territórios não 
industrializados pelas grandes potências no final do século XIX e começo 
do século XX, segue se desdobrando em consequências negativas no 
processo de desenvolvimento econômico dos países colonizados (ou cujo 
mercado interno foi monopolizado) nos dias atuais. A África, em especial, 
foi devastada nesse período.
 Saiba mais
Sobre o tema, sugerimos os filmes Diamante de Sangue e Hotel Ruanda:
DIAMANTE de Sangue. Dir. Edward Zwick. EUA: The Bedford Falls/Virtual 
Studios/Initial Entertainment Group, 2006. 143 minutos.
HOTEL Ruanda. Dir. Terry George. Reino Unido; Itália; África do Sul; Estados 
Unidos: Lions Gate Entertainment/United Artists, 2004. 121 minutos.
Exemplo de aplicação
Não há consenso sobre o fim do processo de descolonização do mundo, visto que ainda hoje há 
países travando suas lutas por independência e pela reformulação de seus limites geográficos, por conta 
da política expansionista europeia de que falamos: o último país a obter independência foi o Sudão do 
Sul, que conquistou sua autonomia em relação ao Sudão em 2011.
Na sua opinião, há semelhança entre o imperialismo do final do século XIX e início do século XX e 
as estratégias de dominação econômica que os países industrializados utilizam atualmente junto aos 
países periféricos?
A Grã-Bretanha era, nesse período, praticamente dona do mundo. Ela detinha o controle do maior 
império colonial. A sua posse mais importante era a Índia, onde se organizou a produção e a exportação 
de algodão, açúcar e juta – consumo e objeto de investimento de capital inglês. Os britânicos também se 
estabeleceram em Singapura, controlando o fluxo marítimo entre China e Índia; ocuparam Hong Kong; 
conquistaram a Birmânica; dominaram a Austrália, a Nova Zelândia e o Canadá; além de expandir seu 
império por quase todo o continente africano. 
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História Econômica GEral
A ação imperialista nas colônias britânicas fora da África, entretanto, tinha suas particularidades: 
desde o começo, a Grã-Bretanha concedeu certa autonomia política à população nativa, e, por 
mais que as colônias estivessem estritamente ligadas à sua metrópole, podiam desenvolver sua 
indústria no mesmo patamar da indústria britânica, passando a exportadoras de grande porte. Já 
na África, os interesses ingleses operavam de forma diferente. Com um terço do continente sob o 
domínio britânico, o maior objetivo da metrópole era controlar as reservas de ouro e diamantes 
em solo africano: África do Sul, Natal, Egito, Zanzibar, Quênia, Uganda, Bechuanalândia (atual 
Botswana), Nigéria e Serra Leoa foram alguns dos territórios anexados ao império britânico. 
Além disso, várias regiões foram disputadas com outros países europeus, como Alemanha, 
França e Portugal, que também procuravam participar da divisão do mundo proporcionada pelo 
expansionismo imperialista.
A França ocupou a Argélia e a Tunísia e, em seguida, preocupou-se especialmente em conquistar a 
África Ocidental e Equatorial, anexando ao seu domínio São Luís, a ilha de Goreia, Dakar, Aden e Somália. 
Na Ásia, o império francês dominava Conchinchina, Camboja, Tonkin, Laos, Danang e Anam. 
Por sua vez, a tentativa de expansão alemã figurou em vários conflitos e contribuiu para o 
aceleramento da conquista da África por franceses e britânicos. Coube à Alemanha, no fim, o controle 
de Nova Guiné, das ilhas da Micronésia e da Samoa Ocidental. A Itália e a Bélgica também entraram 
na corrida imperialista, mas conseguiram o controle de apenas poucos territórios: a Itália ocupou a 
Eritreia e, posteriormente, a Somália e a Líbia; já a Bélgica explorou economicamente a região do Congo 
até 1908, quando o país foi de fato anexado à metrópole e a opressão lá vista nos anos anteriores foi 
controlada.
Grã-Bretanha
França
Alemanha
Portugal
Espanha
Itália
Bélgica
Holanda
Dinamarca
Império Turco
Império Russo
Império China
Japão
Estados Unidos
Estados Independentes
Império
Possessões de:
Figura 17 – Os Impérios
O expansionismo russo, ainda que tenha se aventurado por terras em que habitavam 
populações rurais e até mesmo nômades, espalhou-se por grandes territórios: a fronteira oriental 
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Unidade II
russa chegou ao Pacífico e, em 1858, a China reconheceu o domínio russo a norte do Amur e a 
leste do Ussuri. A Rússia ocupou o Cáucaso; anexou a Geórgia; transformou em vassalos o vale do 
Amu Darya, Bucara e Quiva, e ainda disputou o Afeganistão e a Pérsia com a Grã-Bretanha. Além 
disso, a Rússia e a Áustria-Hungria entraram em conflito pelos territórios recém-desmembrados 
do Império Otomano. A partir daí, uma série de crises se iniciou entre os países que queriam 
anexar mais terras, ocasionando guerras, gerando acordos, justificando intervenções por parte das 
potências e fomentando levantes populares.
Enquanto isso, os recém-independentes Estados Unidos firmavam-se como potência colonial: os 
americanos compraram o Alasca da Rússia, anexaram o Havaí e várias ilhas no Pacífico (como a Samoa 
Oriental), participaram do conflito pelo comércio com a China, disputaram regiões da América Latina 
com a Espanha (ocasião em que Porto Rico, Filipinas e Guam foram tornadas colônias norte-americanas), 
controlaram a produção caribenha e transformaram Cuba num protetorado não oficial. Isso fez que 
Cuba, por mais que também tivesse conquistado sua independência, fosse economicamente dependente 
do país. 
Pressões dos EUA
Áreas de influência dos EUA
As intenções imperialistas dos EUA
Figura 18 - O Império norte-americano
Foi igualmente importante nesse período a tentativa de negociação norte-americana com a 
Colômbia, com o objetivo de construir um canal interoceânico em seu território. O atrito culminou 
em lutas separatistas de nativos fomentadas pelos interesses dos Estados Unidos. Como resultado, a 
República do Panamá tornou-se independente.
Mas a disputa pelos mercados estava longe de se solucionar. Muito em breve, os países entrariam em 
guerra para preservar o que julgavam ser suas propriedades e para expandir os seus limites. Afinal, quais 
seriam os limites para o crescimento capitalista?
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História Econômica GEral
5.4 A Primeira Guerra Mundial
Os motivos que levaram à Primeira Guerra Mundial não foram ideológicos ou revolucionários, mas 
sim econômicos. A rivalidade econômica havia crescido com o desenvolvimento capitalista e com a 
competição econômica. Mercados: por causa deles, os países europeus entraram em guerra, levando 
consigo outras nações. 
Figura 19 – As frentes envolvidas na I Guerra Mundial (1914-1918)
Tanto a Alemanha quanto a Grã-Bretanha já haviam encontrado os limites para sua expansão, 
precisando conquistar outros territórios e novas fontes de recursos. No caso da França, os objetivos eram 
menos globais, contudo igualmente urgentes: compensar a sua inferioridade demográfica e econômica 
diante da Alemanha. Em resumo, a França lutava pelo seu futuro como grande potência (HOBSBAWM, 
2008).
O conflito foi sangrento a tal ponto que, a partir de 1914, a palavra paz ganhou um significado que 
até então ninguém conhecia. É totalmente compreensívelpensar assim; afinal, até 1914, nunca havia 
ocorrido uma guerra em que todas as grandes potências estivessem envolvidas. O que tinha havido 
de mais similar era apenas uma guerra breve com a participação de duas grandes potências: a Guerra 
da Crimeia (1854-6), com a Rússia de um lado, e a Grã-Bretanha e França do outro. Normalmente, as 
guerras envolvendo grandes potências eram rápidas, durando semanas ou, no máximo, poucos meses. 
 Lembrete
A Guerra Civil americana – ou a Guerra da Secessão – foi resultado do 
conflito entre os estados americanos do sul (escravocratas) e os do norte 
(industrializados).
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Unidade II
Antes de 1914, não houvera guerras mundiais, e, entre 1815 e 1914, nenhuma grande potência 
havia combatido outra fora do seu território imediato. Porém, tudo mudou em 1914: a Primeira 
Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e todos os Estados europeus, com exceção 
dos três países da Escandinávia, Suíça, Espanha e os Países Baixos. Canadenses lutaram na França, 
americanos viajaram para a Europa (desconsiderando a advertência de George Washington quanto 
à inadequação do envolvimento americano no conflito), indianos foram enviados para a Europa 
e para o Oriente Médio, batalhões de chineses foram para o Ocidente e africanos lutaram no 
exército francês: a guerra naval tornou-se global, e o conflito, mundial (HOBSBAWM, 2008).
 Observação
O conflito fora da Europa não foi tão significativo. A primeira batalha 
naval ocorreu em 1914, e as campanhas decisivas, entre os comboios 
aliados e os submarinos alemães, ocorreram nos mares do Atlântico Norte 
e Médio (HOBSBAWM, 2008).
Segundo Hobsbawm (2008), o satirista Karl Kraus, em Viana, ao documentar e denunciar essa guerra 
em um drama-reportagem, deu ao seu trabalho o título de Os últimos dias da humanidade. Ele não era 
o único a ver a guerra mundial como o fim do mundo. É bem verdade que a humanidade sobreviveu; 
contudo, no curso dos acontecimentos, o extermínio de uma considerável parte da raça humana foi 
percebido não só como possível, mas como uma verdadeira tragédia.
Mas o que provocou essa guerra? A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a princípio, foi 
essencialmente europeia, tendo a Tríplice Aliança de um lado (formada por França, Grã-Bretanha e 
Rússia) e as Potências Centrais de outro (Áustria-Hungria, com a Sérvia e a Bélgica sendo arrastadas 
imediatamente para um dos lados). O acontecimento inicial foi o ataque austríaco à Sérvia. A Turquia, a 
Bulgária e o Japão logo se juntaram às Potências Centrais. Subornada, a Itália uniu-se à Tríplice Aliança; 
depois, a Grécia, a Romênia, Portugal e, de forma decisiva, os EUA (em 1917) se envolveram no conflito 
(HOBSBAWM, 2008).
A Alemanha tinha como plano liquidar rapidamente a França no Ocidente e partir tão rápido 
quanto possível para liquidar a Rússia no Oriente, antes que os russos pudessem usar o seu enorme 
potencial militar humano. Movida por uma questão de necessidade, a Alemanha planejava uma 
campanha-relâmpago. O plano não deu certo em sua totalidade. Os alemães avançaram sobre a França, 
inclusive, atravessando a Bélgica, sendo bloqueados a algumas dezenas de quilômetros a leste de Paris 
depois de cinco ou seis meses da declaração da guerra. 
O exército alemão recuou, e a defesa da França foi reforçada com forças belgas e britânicas, auxílio 
esse que logo aumentou de forma significativa. Essa era a frente de batalha ocidental, que se tornou 
uma máquina de massacre sem precedentes na história da guerra.
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Figura 20 – Soldados nas trincheiras (Primeira Guerra Mundial)
Milhões de homens ficavam uns diante dos outros nos parapeitos de 
trincheiras barricadas com sacos de areia, sob os quais viviam como – e com 
– ratos e piolhos. De vez em quando os seus generais procuravam romper o 
impasse. Dias e mesmo semanas de incessante bombardeio de artilharia – 
que um escritor alemão chamou depois de “furacões de aço” (JÜNGER, 1921) 
– “amaciavam” o inimigo e o mandavam para baixo da terra, até que no 
momento certo levas de homens saíam por cima do parapeito, geralmente 
protegido por rolos e teias de arame farpado, para a “terra de ninguém”, um 
caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de árvores calcinadas, 
lama e cadáveres abandonados, e avançavam sobre as metralhadoras, que 
ceifavam, como eles sabiam que aconteceria (HOBSBAWM, 2008, p. 33).
Em 1916, a tentativa alemã de romper as barreiras inimigas em Verdum fracassou: a batalha envolveu 
2 milhões de homens e resultou em 1 milhão de baixas. Os britânicos efetuaram uma ofensiva contra 
os alemães no Somme, com o objetivo de forçar os alemães a suspenderem a ofensiva em Verdum. 
Segundo Hobsbawm (2008), são números impressionantes: essa batalha custou à Grã-Bretanha 420 mil 
mortos, e, só no primeiro ataque, morreram 60 mil homens.
 Observação
Para os britânicos e franceses que lutaram nessa “frente ocidental”, 
a Primeira Guerra Mundial foi a “Grande Guerra”, sendo mais terrível e 
traumática do que a Segunda Guerra Mundial, em razão do grande volume 
de mortos.
A Primeira Guerra Mundial foi deveras catastrófica: os franceses perderam mais de 20% de seus homens 
em idade militar, e, se levarmos em conta os prisioneiros de guerra, os feridos e os permanentemente 
estropiados e desfigurados, não mais de um terço dos soldados franceses saiu ileso. Os britânicos 
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Unidade II
perderam uma geração – meio milhão de homens com menos de trinta anos –, e os alemães perderam 
um pouco mais do que os franceses (1,8 milhão de mortos, contra 1,6 milhão de mortos por parte dos 
franceses). Os EUA perderam 116 mil homens, o que é muito, se levarmos em conta que os americanos 
lutaram apenas um ano e meio (1917-1918) (HOBSBAWM, 2008).
Enquanto na frente de batalha ocidental mantinha-se um impasse sangrento, a frente de batalha 
oriental permanecia em movimento. Os alemães, muitas vezes com ajuda dos austríacos, pulverizavam 
a Rússia, tanto por impedi-la na tentativa de invasão em Tannenberg quanto expulsando-a da Polônia. 
Ficou claro que as Potências Centrais tinham o controle, e a Rússia apenas atuava com uma ação 
defensiva de retaguarda contra o avanço alemão. 
O plano da Itália de abrir outra frente de batalha falhou: os soldados não viam motivo para lutar pelo 
governo de um Estado que havia se formado há tão pouco tempo.
 Lembrete
O processo de unificação da Itália durou de 1815 a 1870, sendo finalizado 
com a incorporação dos estados de Roma e Veneza.
Os italianos tiveram de ser ajudados por seus aliados, e a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha sangraram 
até a morte na frente de combate ocidental. Na frente de batalha oriental, a Rússia estava totalmente 
desestabilizada, claramente perdendo a guerra contra seus inimigos, sendo empurrada para a revolução e 
perdendo grande parte de seus territórios (HOBSBAWM, 2008). A grande questão era como resolver o impasse 
na frente de combate ocidental; afinal, sem que houvesse alguma vitória no Ocidente, nenhum dos lados sairia 
vencedor da guerra. O conflito naval também estava empatado, tanto que o último confronto em 1916 havia 
terminado de forma indefinida, sem que um vencedor pudesse ser identificado.
Durante a Primeira Guerra Mundial, tanto a Tríplice Aliança quanto as Potências Centrais tentaram 
vencer a guerra por meio da tecnologia. 
Figura 21 – Indústria e pesquisa a serviço da guerra
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História Econômica GEral
Os alemães, especialistas em química, apostaram no gás venenoso, cuja utilização se revelou bárbara 
e ineficaz. Os britânicos foram os pioneiros nos veículos blindados de esteira (comumente chamados 
de tanques de guerra), embora seus generais ainda não soubessem como usá-los. Os submarinos se 
tornaram a forma mais eficaz de combater o inimigo, tornando-se a arma tecnológica mais importante 
durante a Primeira Guerra Mundial.
Visto que nenhum dos lados conseguia derrotar os soldados do outro, o alvo passou a ser a população 
civil. Todos os suprimentos da Grã-Bretanha vinham pelo mar, logo parecia factível estrangular as ilhas 
britânicas mediante uma guerra submarina cada vez mais implacável contra os navios ingleses; com 
essa estratégia, os alemães chegaram muito perto do êxito em 1917. A solução britânica foi simples: 
arrastar os Estados Unidos para a guerra. 
Os britânicos também responderam com o bloqueio de suprimentos à economia e ao abastecimento 
de alimentos à população alemã, e se saíram melhor do que o esperado, visto que a economia de guerra 
alemã não era tão eficiente quanto se gabavam os alemães. De fato, a superioridade alemã residia única 
e simplesmente na sua força militar, enquanto a economia, em termos gerais, carecia de organização e 
vigor. A superioridade do exército alemão teria decidido a guerra em favor da Alemanha, se os aliados 
não tivessem contado com os recursos praticamente ilimitados dos EUA: graças à inundação de recursos 
que os americanos disponibilizaram, os aliados se recuperaram e começaram a avançar nas frentes de 
batalha no verão de 1918.
Para Hobsbawm (2008), com a Alemanha já exausta, o fim chegaria apenas em uma questão de 
semanas. As Potências Centrais não só admitiram a derrota como, em seguida, desmoronaram. Em razão 
dessa derrota, nenhum dos velhos governos ficou de pé: a revolução varreu o Sudeste e o Centro da 
Europa no outono de 1918, e nenhum dos países derrotados escapou da revolução. Mesmo os vitoriosos 
ficaram com seus governos abalados.
A respeito dessa catastrófica guerra, incluímos uma reflexão:
A maioria das guerras não revolucionárias e não ideológicas do passado 
não se travava sob a forma de lutas de morte ou que prosseguissem até a 
exaustão total [...]. Por que, então, a Primeira Guerra Mundial foi travada 
pelas principais potências dos dois lados como um tudo ou nada, ou seja, 
como uma guerra que só podia ser vencida por inteiro ou perdida por 
inteiro? (HOBSBAWM, 2008, p. 37).
A Primeira Guerra Mundial nos deu uma lição muito importante: os interesses econômicos no 
capitalismo, mais do que qualquer outra coisa, tiveram o poder de ceifar centenas de milhares de vidas. 
De qualquer forma, o mundo depois da Primeira Guerra Mundial já não era o mesmo. Em março de 
1917, o czar russo foi deposto; em outubro do mesmo ano, o Partido Bolchevique derrubou o governo 
provisório estabelecido e instituiu o governo socialista na Rússia. De forma dissidente e contrária 
ao movimento de outros países, a União Soviética substituía a estrutura feudal por outra distinta, 
não capitalista: embora o processo de industrialização já houvesse atingido essa região, a situação 
de extrema pobreza no território russo, as péssimas condições de vida do proletariado (empregado 
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na exportação de petróleo, na construção de estradas de ferro e na indústria siderúrgica) e os ares 
revolucionários das ideias comunistas e socialistas levariam à criação de uma dissidência em relação ao 
contexto hegemônico capitalista. A Primeira Guerra Mundial colaboraria para esse processo, por meio 
da crise de abastecimento que serviria de combustão para as greves e revoltas populares. 
Figura 22 – União Soviética
A Revolução de Outubro de 1917 resultou na presença de operários nos conselhos que controlavam todas 
as esferas da economia, no confisco das propriedades privadas e na estatização. A União Soviética surgiu, 
assim, com uma proposta distinta do capitalismo, negando o mercado e centrando sua força na concentração 
de poder nas mãos do Estado. Mas o capitalismo tinha outras preocupações mais urgentes pela frente.
6 A CRISE DE 1929
6.1 A gênese da crise
O século XX mal havia se recuperado dos efeitos terríveis da Primeira Guerra Mundial quando outro 
acontecimento atingiu o mundo com força.
[…] a Primeira Guerra Mundial foi seguida por um tipo de colapso 
verdadeiramente mundial, sentido pelo menos em todos os lugares em que 
homens e mulheres se envolviam ou faziam uso de transações impessoais de 
mercado. Na verdade, mesmo os orgulhosos EUA, longe de serem um porto 
seguro das convulsões de continentes menos afortunados, se tornaram o 
epicentro deste que foi o maior terremoto global medido na escala Richter 
dos historiadores econômicos (HOBSBAWM, 2008, p. 91).
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História Econômica GEral
A crise de 1929 veio se construindo durante e após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 
Nesse período, os Estados Unidos tornaram-se o principal fornecedor de produtos industrializados 
para a Europa em virtude da destruição causada pela guerra aos países europeus. Em 1920, a 
indústria norte-americana produzia mais de 42% de toda a produção industrial do mundo. Além 
de os EUA serem os maiores exportadores do mundo, eles também eram os segundos maiores 
importadores do mundo (ficando atrás apenas da Grã-Bretanha), importando cerca de 40% 
das exportações de matérias-primas e alimentos de quinze países, o que ajuda a entender o 
forte impacto da depressão sobre os produtores de trigo, algodão, açúcar, borracha, seda, cobre, 
estanho e café. Segundo Hobsbawm (2008), a prosperidade do período, causada por essa euforia 
na produção, colocou a produção e o consumo desenfreado como variáveis fundamentais do 
crescimento econômico.
Entretanto, à medida que a Europa foi se reorganizando, a produção interna em diversos 
países aumentou, reduzindo, assim, a dependência dos produtos norte-americanos, mas, ao 
mesmo tempo, ocasionando um excesso de oferta. Redução dos preços, queda na produção e 
desemprego foram consequências dessa insuficiência de demanda efetiva. Muitas empresas 
foram à falência, e o nível de desemprego cresceu de uma forma assombrosa; em 1933, 25% 
da população economicamente ativa dos Estados Unidos estavam desempregados. Logo a 
crise se espalhou como uma epidemia, infectando a maioria das economias capitalistas no 
mundo, com quedas no comércio internacional, na produção, com falências de empresas e 
bancos, e, consequentemente, desemprego. Para que se tenha uma dimensão do que foi esse 
período, no seu pior momento (1932-33), o desemprego chegou a 22% e 23% da força de 
trabalho da Grã-Bretanha e da Bélgica (respectivamente), 24% da força de trabalho sueca, 
29% da austríaca, 31% da norueguesa, 32% da dinamarquesa e 44% da alemã (HOBSBAWM, 
2008).
De fato, o estouro dessa bolha de consumo e especulação, entremeada por elevados índices de 
desemprego, traduzia uma morte anunciada. A Revista Veja, em outubro de 1929, publicou o seguinte 
texto:
Quebrou!
Uma irrefreável onda de vendas derruba o preço das ações, causa pânico na Bolsa de 
Nova Iorque e leva milionários à bancarrota. Para onde vai a economia do país mais rico do 
mundo?
Um alvoroço incomum nos arredores da Bolsa de Valores de Nova Iorque chamou 
a atenção do comissário de polícia da cidade, Grover Whalen, na última quinta-feira, 
dia 24. Por volta das 11 horas, um rugido cavernoso começou a escapar do edifício. 
Alguns minutos

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