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Aula 01 - 14 - Joyce Lira – 16/03/2023 – (05;41).
CRONOGRAMA DO CURSO.
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO.
1. Sociedade Internacional.
2. Classificação e definição de direito internacional público.
3. Normas, princípios e fontes.
4. Pessoas internacionais.
5. O Estado como pessoa internacional.
6. Reconhecimento de Estado e de governo.
7. Sucessão de Estado.
8. Direitos e deveres fundamentais dos Estados.
9. Restrições aos direitos dos Estados.
10. Intervenção e responsabilidade internacional do Estado.
11. Relações Diplomáticas e consulares.
12. Sistemas Regionais de Integração.
13. O território e o direito internacional.
14. Teoria geral das organizações internacionais.
15. A organização das Nações Unidas.
16. A pessoa humana como sujeito de direito internacional, a proteção dos direitos humanos.
17. Direito de nacionalidade, nato e naturalizado.
18. Situação jurídica do estrangeiro.
19. Modos de solução de conflitos.
20. Segurança coletiva e uso da força.
21. Tendencias da nova ordem internacional.
Aula 02 01/02 - 14 - Joyce Lira – 16/03/2023 – (19;18).
1. SOCIEDADE INTERNACIONAL.
O homem é um ser social, um animal político (Aristóteles)
Desenvolve-se em comunidade – sociedade -, a polis, com vistas ao alcance de um bem, o bem comum, a felicidade.
Conceito deve ser atualizado, mas a ideia se perpetuou.
Pode-se concluir que as relações sociais, de um modo geral, compõem a essência humana.
Em diversos níveis de relacionamento, portanto, o homem se constitui em sociedades.
A sociedade internacional é um dos níveis de relacionamento humano, que envolve uma complexa teia de interesses, costurada por diversos sujeitos e atores.
A sociedade internacional é objeto de múltiplos campos de estudo, inclusive o Direito (apesar de críticas cetiscistas a ideia de um Direito Internacional).
Na maior parte das vezes, o conceito é realizado com base na descrição dos sujeitos e atores que estão envolvidos no tecido da sociedade internacional.
Conceito: Sociedade internacional é o conjunto de sujeitos internacionais em continua convivência global, relacionando-se e compartilhando interesses comuns e recíprocos através da cooperação, o que demanda certa regulamentação.
É baseada na vontade legitima de seus integrantes (sujeitos de Direito Internacional Público) que se associaram diplomaticamente para atingir certos interesses em comum, é um conjunto de vínculos estabelecidos por motivos políticos, econômicos, sociais e culturais.
É formada por Estados, pelos organismos internacionais e, pelas organizações não governamentais. (ONGs).
As empresas poderiam ser consideradas atores na sociedade internacional, na medida em que compõem os interesses que se relacionam nesse cenário.
Em suma, a sociedade internacional é formada pelos homens, como membros atuantes dentro de cada organização.
A formação da sociedade internacional teria por objetivo promover a estabilização das relações entre os sujeitos e os homens.
Uma corrente defende que o cenário internacional é um cenário em disputa permanente, portanto, um ambiente de tensão. Os adeptos de tal ideia defendem a importância dos Estados enquanto sujeitos da sociedade internacional.
Eles protegeriam os interesses próprios e cuidariam para que houvesse um equilíbrio em relação aos interesses dos outros Estados, evitando o conflito, numa tentativa de pacificação dessas relações.
Essa corrente tem inspiração em Thomas Hobbes, que defendia que o homem é violento por natureza, ou seja, não teria nada de social. 
Homens que desejam a mesma coisa se tornam inimigos. O cenário natural da humanidade seria, assim, o da luta de todos contra todos.
Nesse sentido, Hobbes enaltece a importância da criação de Estados para exercer o controle sobre os homens.
Em resumo, Hobbes não faz uma leitura positiva da existência social. Sua leitura negativa legitima a ideia de Estado como mecanismo de controle social.
Os homens abririam mão de parte de sua liberdade e entregariam aos Estados, que garantiriam a manutenção da paz social. 
Essas ideias levadas ao extremo inspiraram Estados autoritários e absolutistas.
A concepção negativa da natureza humana foi bastante questionada, em especial, durante os tempos da Revolução Francesa. O excesso de poder estatal levava aos abusos. A desconsideração das liberdades individuais retirou espaço para a democracia e suas instituições. 
Os usos da força, da austeridade e da repressão geraram sociedades onde prevalecia a desigualdade, a instabilidade, o medo e o esvaziamento da discussão política.
A relações na sociedade internacional eram fundamentalmente a guerra e de disputa por território e riquezas, numa visão extremamente radical quanto a um egoísmo estatal, desconsiderando as pessoas enquanto sujeitos nesse cenário.
A concepção mais contemporânea de sociedade internacional, portanto, leva em consideração uma leitura mais positiva. A existência dos Estados só se justifica pelo interesse e para a proteção da dignidade humana. Ou seja, uma concepção mais antropocêntrica e menos Estadista.
Não se pode negar, porém, que na pratica existem tensões próprias das ideias de egoísmo estatal, como terrorismo, a soberania, entre outras, que ainda vigoram no ambiente internacional.
Também não se pode cegar para o fato de que as relações na sociedade internacional, por baixo da retorica de proteção da dignidade humana, ainda traz bem forte a ideia negativa de conflito iminente de interesses (em especial, econômicos), de prevenção a guerra, e não de harmonia e busca da paz.
O cenário da sociedade internacional ainda é permeado por situações dispares, como Estados totalitários e Estados autoritários. Ex: Norte da África, Oriente Médio.
Conciliar os interesses em disputa nesse cenário da sociedade internacional não é simples e, por vezes, ainda é excludente, já que o relacionamento entre sujeitos tão diversificados pode ser ainda inviável.
Aula 02 02/02 - 14 - Joyce Lira – 16/03/2023 – (17;24).
A humanidade é repartida, ao invés de ser unificada, o sentimento de superioridade (colonizadora), que se pode afirmar, ainda se faz presente em alguma medida (sociedades ocidentais, brancas, etc.).
A humanidade, sintomaticamente, é dividida em três grupos por James Lorimer: o “civilizado”, o “bárbaro” e o “selvagem”. Certo, ela assume o lugar do deus descartado pela ciência, graças a fé positivista de Augusto Comte, que sonha e, ver todos os homens do mundo trabalhando pela felicidade da nova deusa. Esta, entretanto, é purissimamente branca e europeia”.
Convenção de Haia sobre as leis e usos da guerra terrestre, de 18 de outubro de 1907: a primeira grande tentativa de tornar a guerra menos cruel e submete-la a ao princípio da humanidade -animadas pelo desejo de servir, até neste caso extremo, aos interesses da humanidade.
Pacto da Sociedade das Nações, de 28 de junho de 1919, missão de estabelecer uma paz solida e duradoura após a primeira guerra mundial, mas não faz menção a humanidade.
Tratado de Paris sobre a renuncia da guerra como instrumento de política nacional (pacto de Briand-Kellog), de 27 de agosto de 1928, reassume as posturas da convenção de Haia e declara seus signatários “profundamente sensíveis ao solene dever de promover o bem-estar da humanidade”.
Cartas das Nações Unidas de 26 de junho de 1945.
· Retoma o enfoque humanista de Haia e de Paris após o impacto das duas primeiras guerras mundiais.
· Torna-se o primeiro tratado universal a erigir a ideia da humanidade como parâmetro de avaliação de fatos que se revestem de graves implicações globais.
· Institui a ONU.
Conclusão provisória: o grande desafio de aliar os valores de proteção a humanidade ao processo da globalização.
Aula 03 01/03 - 14 - Joyce Lira – 17/03/2023 – (22;33).
2. CLASSIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO.
ASPECTOS.
O âmbito internacional público: descentralizado.
· Menos objetividade jurídica (em comparação ao estudo do direito interno).
· Inexistência de autoridade superior (hierarquia).
· Horizontalidade da organização da estrutura.
· Mais consensualizado, menos impositivo.· Sistema normativo não baseado em representatividade (no sentido eleitoral que encontramos no direito interno).
· Sistema normativo não hierarquizado.
· Aplicação do princípio da coordenação (no lugar do princípio da subordinação), com relação a ordem jurídica.
· Não subsunção obrigatória a uma jurisdição internacional (aderida, aquiescida).
· Sistema de sanções mais precário (ex. dificuldade de imposição de sanções aos cinco Estados detentores do poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
FUNDAMENTOS GERAIS.
· Sistema jurídico autônomo.
Onde se ordenam as relações entre Estados soberanos, o direito internacional público – ou direito das gentes, no sentido de direito das nações ou dos povos – repousa sobre o consentimento (rezek).
· Consentimento.
· Autodeterminação.
Organização das comunidades nacionais (ou fragmentos dessas) em Estados independentes.
Ingresso na comunidade internacional: consentimento e assunção de posição de igualdade (teórica), diante da ausência de centralidade do poder no ambiente internacional público.
Consentimento Criativo – Criando direitos, como quando se trata de estabelecer uma norma sobre a exata extensão do mar territorial, ou de especificar o aspecto fiscal dos privilégios diplomáticos. (Rezek)
Consentimento Perceptivo – quando os Estados consentem em torno de normas que fluem inevitavelmente da pura razão humana, ou que se apoiam, em maior ou menor medida, num imperativo ético, parecendo imunes a prerrogativa estatal de manipulação. (Rezek)
DIREITO INTERNACIONAL E INTERNO – TEORIAS EM CONFRONTO.
Dualismo – Carl Triepel e Dionisio Anzilottii: dualistas de destaque que defendem a rigorosa separação, distinção e independência de sistemas interno e internacional de Direito. A validade jurídica de uma norma interna não condiciona a sua sintonia com a ordem internacional.
Monismo – dividido em duas correntes.
Unicidade da ordem jurídica sob o primado do direito internacional (subsunção do direito interno ao direito internacional) (Kelsen)
Primado do direito nacional de cada Estado soberano (adoção de preceitos de direito internacional seria uma faculdade). (França, Alemanha, autores soviéticos).
Atenção – todas as correntes merecem ser lidas com cuidado, pois promovem um olhar parcial sobre o tema.
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO - DISTINÇÃO.
Essencialmente se distingue em razão do objeto de estudo.
Direito internacional público - Estados e outros atores internacionais (organização internacionais, movimentos de libertação, sistemas regionais de integração, indivíduos, empresas, organizações não governamentais). O Estado protagoniza.
Direito internacional privado – voltado para as relações privadas (entes particulares) ex. contratos.
DEFINIÇÃO.
O direito internacional público ou direito das gentes pode ser considerado um conjunto de princípios e regras destinadas a reger direitos e deveres internacionais tanto dos Estados ou outros organismos análogos, quanto dos indivíduos.
OBS: é comum encontrar a menção genérica ao direito internacional público como apenas direito internacional. 
Aula 03 02/03 - 14 - Joyce Lira – 17/03/2023 – (21;21).
CARACTERÍSTICAS GERAIS.
Antes era costumeiro. Hoje é tendência de positivação.
Consensual, Não hierárquico, Humanizado, Aderico e Histórico.
Marcelo Varella: O direito internacional público tem caraterísticas similares as dos demais ramos do direito, sendo um conjunto normativo, com obrigatoriedade e poderes de sanção. 
Alguns autores criticam o direito internacional por considera-lo como um conjunto de regras não obrigatórias e sem qualquer efetividade.
Seria um direito “sem dentes”, ou seja, “sem capacidade de morder suas vítimas”. Não é verdade. Possui regras obrigatórias e não obrigatórias, assim como os diferentes ramos do direito interno.
No entanto, as regras de direito internacional, muitas vezes, têm por objeto grandes interesses que atingem milhões, por vezes bilhões de pessoas em todo o mundo. Naturalmente, o choque com a falta de efetividade de algumas normas é maior do que no direito interno.
Defesa da obrigatoriedade: quando tem lugar a aplicação do DIP, este prevê sanções próprias do sistema jurídico. Em geral, as sanções são aplicadas em casos de violação de direitos ligados ao sistema de proteção de direitos humanos.
Exemplo sanção do direito internacional humanitário atuando frente aos acusados de sua violação – prisão de governantes do Iraque, de Ruanda, do Congo, etc.
Outro modo de atuação do direito internacional: caso da proposta de constituição da Bósnia-Herzegovina pela sociedade internacional.
Direito internacional econômico: força política da OMC na ordenação de mudanças das normas internas de um Estado (até a própria constituição), sob pena de autorização de retaliações econômicas relevantes.
Doutrina da falta de efetividade: fundada em características distintivas do DIP em relação ao direito interno (mas não considerando outros meios de coerção próprios de DIP).
· Inexistência de subordinação dos sujeitos de direito a um Estado.
· Inexistência de uma norma constitucional acima das demais normas.
· Inexistência de atos jurídicos unilaterais obrigatórias, oponíveis a toda sociedade internacional.
· Inexistência de poder soberano acimas dos Estados.
· Inexistência de uma norma fundamental internacional (equivalente a uma constituição) – coexistência de muitas normas, em geral, tratados, com aplicações especificas e, por isso, diferentes graus de normatividade. Graus de normatividade: caráter obrigatório (jus cogens) e caráter menos obrigatório. (soft norms).
Aula 03 03/03 - 14 - Joyce Lira – 18/03/2023 – (22;51).
DIREITO INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO.
· Aumento da complexidade.
· Aumento da internacionalização de direitos.
· Influência do processo de globalização, mundialização e internacionalização econômica.
· Reflexos da complexibilização dos direitos nacionais, internos.
· Aceleração da marcha normativa.
Segundo Marcello Varella, as principais características do DIP contemporâneo (movimento de internacionalização de direitos).
1. A integração frequente entre os direitos nacionais, o direito de sistemas regionais de integração e o direito internacional.
2. Multiplicação das instancias de solução de conflitos fora do Estado.
3. Inexistência de hierarquia formal entre as normas jurídicas ou entre as instancias de solução de conflitos.
4. Acumulo de logicas distintas no direito nacional e internacional, cuja interação é impossível com métodos tradicionais de solução de conflitos de normas ou de jurisdição.
INTEGRAÇÃO.
Produção de normas envolvendo dois ou mais Estados (tratados bilaterais ou multilaterais, por exemplo).
· UNIÃO EUROPEIA – sistema de integração mais avançado, envolvendo livre circulação de pessoas, mercadorias e culturas.
· MERCOSUL: Mercado Comum do Sul.
· ASEAN: Associação das Nações do Sudeste Asiático.
· NAFTA: Acordo de livre comercio da américa do norte.
Processos de integração global: Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização Das Nações Unidas (ONU), sistemas não institucionalizados (mediados por tratados de proteção aos direitos humanos, meio ambiente, mudanças climáticas, etc).
Outras modalidades integrativas: normas empresarias criando padrões internacionais, para além das normas essencialmente públicas (em poder dos Estados).
Ex: Internacional Standart Organization (ISO). Essas normas são elaboradas por novos atores internacionais (privados), mas são aceitas em organizações típicas de direito público, como a OMC, por exemplo.
MULTIPLICAÇÃO DE FONTES NORMATIVAS.
Crescente atribuição de capacidades soberanas para instancia internacionais de produção normativa pelos próprios Estados.
Com isso, os Estados se auto-limitam em determinados temas, admitindo a sua regulação jurídica as instâncias internacionais.
As organizações passam a elaborar normas que podem assumir força cogente, o que antes somente derivava do poder normativo dos Estados.
MULTIPLICAÇÃO DE INSTANCIAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS.
O estado também deixa de ser o único protagonista mesma seara.No direito internacional, o estado é que detém a oferta dessas instancias de solução de conflitos.
No processo de internacionalização, os conflitos multiconectados passam a exigir a atuação de mecanismos interestatais. Não basta o mero julgamento interno de questões que afetam a mais de um estado.
Fase marcada especialmente pelos desdobramentos dos pós-guerras.
INEXISTÊNCIA DE HIERARQUIA FORMAL.
A supremacia que critérios para a solução de conflitos de normas ocupam no direito internacional (hierárquico, cronológico ou especialidade -pirâmide Kelsen) deixam de ter lugar no direito internacional.
O direito interacional pressupõe novos sistemas de interrelação que não obedecem a lógica da pirâmide kelseniana.
Existem normas no plano internacional que podem parecer estar em rota de colisão (ex. direito internacional ambiental X direito internacional econômico).
Critica: falta de coerência e fragmentação normativa.
A CONSTRUÇÃO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO.
As logicas que interagem são diferentes, por vezes opostas.
É preciso ter em mente que o direito internacional é um ramo novo, em pleno desenvolvimento, guiando-se por princípios que favoreçam as suas próprias existências (harmonização do plano internacional de interesses).
Cada área de interesse segue uma velocidade própria, de acordo com interesses internos envolvidos.
Existe influência direta do direito internacional na produção de normas internas, por isso, há uma mutua relação de efetividade entre direito internacional e direito interno.
Ex: direito internacional econômico – regras brasileiras (internas) rígidas para a produção de carne bovina, diante de uma exigência do mercado internacional (externalizada pelo direito internacional).
Aula 04 01/06 - 14 - Joyce Lira – 03/04/2023 – (24;28).
3. NORMAS, PRINCÍPIOS E FONTES.
DAS FONTES.
· Fontes principais: tratados, costumes e princípios gerais do direito.
· Fontes auxiliares: jurisprudência e doutrina.
· Fonte facultativa: Equidade.
COSTUMES E PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.
A doutrina costuma conferir menor importância, afirmando seu tendente desuso no cenário internacional contemporâneo.
TRATADOS COMO FONTES PRINCIPAIS.
Geroges Scelle: o tratado internacional é em si mesmo um simples instrumento, identificamo-lo por seu processo de produção e pela forma final, não pelo conteúdo.
Tratados podem versar sobre conteúdo jurídico ou não.
Exemplo: tratados sobre produção de alimentos x tratados sobre relações diplomáticas.
TERMINOLOGIA DOS TRATADOS: Existe uso descriminado de outras expressões: convenções, cartas e constituições.
FORMALIDADE DOS TRATADOS: É o elemento que o distingue dos costumes. Os tratados são instrumentos documentais.
CONVENÇÃO DE VIENA (1969): Documento que trata do chamado “direito dos tratados”. Objetiva estabelecer parâmetros para ajustar o sistema de formalização das negociações internacionais.
ATORES NOS TRATADOS: Pessoas jurídicas de direito internacional (estados soberanos e organizações internacionais, mais a Santa Sé).
DIFERENÇA EM RELAÇÃO AO GENTLEMEN’S AGRÉMENT.
Figura que representa o pacto pessoal entre estadistas, baseado na honra, condicionado no tempo de permanência dos governantes no poder.
Distingue-se dos tratados pela ausência de formalidade e pela qualidade dos atores (nos tratados, são pessoas jurídicas, no gentlemen’s agrément, são os representantes - pessoas físicas).
BASE INSTRUMENTAL: Em regra – texto principal e final documental, que exprime os resultados da negociação realizada.
Instrumentos conexos – podem ser adotados outros atos documentais que corroboram o compromisso – troca de notas, por exemplo.
Troca de notas – meio de comunicação, de conservação diplomática, que pode ocorrer, por exemplo, para que os estados manifestem entre si a aceitação inequívoca aos termos de um determinado tratado. 
Pode ser, também, um meio de comunicação voltado a negociação dos termos do compromisso a ser firmado.
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS TRATADOS.
· Quanto ao número de partes.
Bilateral: quando possui apenas duas partes comprometendo-se mutuamente.
Multilateral ou coletivo: quando envolve diversos atores de direito internacional público (três ou mais) pactuando a realização do tratado.
· Quanto ao procedimento.
Bifásico: Em geral, detectam-se duas fases de expressão do consentimento: prenunciativo (assinatura) e definitivo (ratificação).
Unifasico: Também conhecido como procedimento simplificado ou acordos de procedimento breve. O consentimento definitivo exprime em apenas uma fase, a assinatura.
Diferença em relação aos acordos executivos – estes, diferentes dos acordos de procedimento breve, são firmados apenas sob a autoridade do Chefe Do Poder Executivo, sem participação do poder legislativo (fonte - EUA).
· Quanto a natureza das normas.
Existe uma distinção clássica entre tratados contratuais e tratados normativos.
Essa distinção perdeu o prestigio, uma vez que todo tratado possui algum conteúdo normativo (obrigacional). 
A ideia de tratado, em si, já traria a essência de normatividade, ainda que não veicule uma regra de direito em sentido estrito.
· Quanto a execução no tempo.
Situação jurídica estática: Que objetiva se perenizar no tempo.
Exemplo: tratados sobre fronteiras, sobre transferência de patrimônio.
Só poderia ser desfeito pela vontade comum das partes. Não se desfaz pela denúncia unilateral, pelo rompimento diplomático ou pela sucessão.
Situação dinâmica: Que objetiva ser flexível para se adaptar as mudanças ou vigorar por determinado tempo (transitórios).
Ligado a ideia de instantaneidade da execução dos pactos.
· Quanto a execução no espaço.
Pode se limitar a determinados estados ou sequer a roda a abrangência.
Exemplo: Reino Unido – pode pactuar compromissos internacionais fixados nos limites das ilhas britânicas, ou pode se estender as chamadas terras ultramarinas (colonizadas). 
Atualmente em desuso, diante do abandono da ideia dessa diferenciação.
Anteriormente, porém, muitos tratados envolvendo o progresso social, por exemplo, ficavam limitados e não se admitia a sua aplicação as terras colonizadas.
Aula 04 02/06 - 14 - Joyce Lira – 03/4/2023 – (19;54).
GÊNESE DOS TRATADOS.
Etapas genéricas da elaboração dos tratados (negociação, consentimento e entrada em vigor).
· NEGOCIAÇÃO.
Competência negocial.
Todo estado soberano tem capacidade para celebrar tratados, assim como as organizações internacionais.
Quem está habilitado a agir em nome dessas personalidades jurídicas – a representatividade em direito internacional é sedimentada pela via costumeira e, atualmente, consta na convenção de Viena.
OBS: não se aplica a ideia do treaty-making power, que é próprio da disciplina de direito público interno.
Capacidade originaria.
Chefes de Estado e Governo – a condução efetiva da política exterior lhes incumbe, em regra, nas repúblicas presidencialistas. 
Ambas as chefias se concentram em uma pessoa, embora haja competência partilhada com o congresso.
Não há necessidade de uma carta de plenos poderes – o poder de chefia é fluente da posição que ocupa.
Capacidade derivada (plenipotenciário).
Ministros de Estado (relações exteriores) possuem capacidade representativa ampla, em qualquer sistema de governo. 
Também o Chefe De Missão Diplomática (embaixador ou encarregado de negócios).
Atuam conforme um mandato, com poderes atribuídos pelo chefe de estado e governo. 
Dependem da carta de plenos poderes, cujo destinatário pode se o governo pactuante (negociação bilateral), por exemplo.
Delegações nacionais, responsáveis pela pluralização da representação do estado, em conjunto com os demais plenipotenciários. 
Essas delegações são compostas por um grupo subordinado a chefia do plenipotenciário (ministro de estado, por exemplo), que é quem detém a carta de plenos poderes.
Negociação bilateral e coletiva.
Em ambas, o consenso dá o tom do produto final.
Bilateral – em regra, ocorre no território de uma das partes contratantes (geralmente na capital do estado, na sede do ministério ou secretaria de estado que responde pelas relações exteriores - achancelaria, como é chamada).
Independente de especificidades (língua, presença de representação diplomática, etc), o texto convencional resultante dessa negociação deve ser lavrado numa única, duas ou mais que duas versões, sempre autenticas, pode, porém, cada versão ter igual valor ou ter assegurado privilegio a uma única versão, para efeito de interpretação.
Coletiva – em geral, exige a convocação de uma conferência diplomática internacional, pela multiplicidade, é necessário que se eleja idiomas de trabalho e negociação, bem como, os que levarão as versões autenticas dos textos acabados. 
Não precisam ser as mesmas, o consenso é mais dificultoso, pode existir a figura da sucumbência.
Aula 04 03/06- 14 - Joyce Lira – 03/11/2022 – (21;06).
Estrutura do tratado.
Como resultado das negociações tem se o texto final do tratado.
Estrutura: preambulo, dispositivo, clausulas especiais e anexos.
Preambulo – enuncia o rol das partes pactuantes e pressupostos do ato convencional. Não integra a parte compromissiva do tratado (embora represente apoio importante para a interpretação do documento), ou seja, não cria compromisso entre as partes.
Dispositivo – lavrado em linguagem jurídica, com feitio de normas. Ordenadas e numeradas em artigos, numeração variável, contém os compromissos negociados entres as partes.
Anexos – tem como objetivo deixar o tratado mais leve, retirando do dispositivo os detalhes, números e porcentagens que dificultam a compreensão.
Clausulas especiais – podem ser de três tipos (varella).
Cláusula federal – busca esclarecer que todas as unidades da federação se obrigam com o tratado, quando existe necessidade constitucional desse esclarecimento. 
Ela não é necessária no caso brasileiro, porque a constituição federal determina a aplicação do direito internacional assumido pela união ao rodo território internacional, mas pode ser necessária em todos os estados.
Cláusula si omnes – busca esclarecer que apenas os estados signatários serão afetados pelo tratado e, na relação com outros estados não signatários, eles não são obrigados a cumpri-lo. 
Alguns tratados sobre o direito da guerra têm limitações a clausula, ao menos entre signatários.
Clausula colonial – busca excluir a incidência do tratado sobre o território das colônias dos estados partes. 
Com o processo de descolonização, ela perde sua utilidade.
· CONSENTIMENTO.
O consentimento pode ser considerado um ato de representação complexa, a depender da modalidade de compromisso firmado (unifásica, bifásica).
Em regra, nos procedimentos completos, o consentimento se exprime em cada momento procedimental dos tratados: adoção, assinatura, ratificação, promulgação (nos Estados que a exigem), registro e publicação. 
Em cada fase, o consentimento pode ser expresso por diferentes atores.
Adoção.
“A adoção ou autenticação do texto é o ato pelo qual se reconhece a equivalência entre o conteúdo do texto negociado e aquele apresentado ao final a negociação.” 
A adoção pode ser feita pela assinatura dos diplomatas presentes ao final da negociação ou ad referendum, com a assinatura posterior dos representantes dos Estados (art. 10, C.V).
A regra geral é a adoção pelo voto favorável de dois terços dos presentes (art. 9º C.V.), mas cada ambiente jurídico, ou seja, no âmbito de cada conjunto de tratados ou de uma Org. Inter., pode-se determinar o quorum desejado para adotar o tratado específico.
Assinatura.
A expressão do consentimento é a assinatura. É um ato emanado pelo representante do Estado, concordando com o conteúdo do documento final.
A assinatura é a exteriorização do consentimento definitivo das pessoas jurídicas de direito internacional. É a principal forma do consentimento.
O procedimento concretiza-se com a troca de notas ou de cartas entre partes.
Cada Estado ou Organização indicará a pessoa responsável por emitir o consentimento na fase de assinatura; Em geral, é o Chefe do Poder Executivo quem tem a competência determinada pelas Constituições para a prática de tal ato.
A assinatura exprime um compromisso provisório.
Pode ser verificada não só formalmente, mas também por meio de atos informais de manifestação inequívoca do comprometimento essencial da assinatura. 
Exemplo: entrevista coletiva do Chefe do Poder Executivo afirmando o compromisso.
CRFB/88, art. 84, inciso VIII: determina que é competência privativa do Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.
Assim, inclusive o referendo congressual pode ser considerado parte do ato de formalização da assinatura, por obrigatoriedade constitucional.
A competência, por ser privativa, é indelegável, e neste tema em questão, não está no rol de exceções à indelegabilidade.
Surge a dúvida: Sendo indelegável, como é possível que o Presidente da República ou mesmo o Ministro das Relações Exteriores confiram poderes a um diplomata? 
A resposta não está na Constituição, mas em outra fonte de direito internacional – o costume.
Existe tradição típica do direito internacional costumeiro, respaldada pelo princípio da razoabilidade, que admite a figura histórica dos diplomatas e de sua atuação em nome do Estado.
 Em geral, existe uma formalidade para garantir a ocupação desta posição diplomática – a carta de plenos poderes. Porém, nem sempre essa formalidade está presente.
Ratificação:
Existem pelo menos quatro significados para o termo.
Arnold McNair in Rezek: 
“a) O ato do órgão estatal próprio – um soberano, um presidente, um conselho federal – que exprime a vontade do Estado de se obrigar por um tratado; isto é o que às vezes se denomina de ratificação no sentido constitucional; 
b) O procedimento internacional pelo qual o tratado entra em vigor, ou seja, a troca ou depósito formal dos instrumentos de ratificação; 
c) O próprio documento, selado ou de outro modo autenticado, em que o Estado exprime sua vontade de se obrigar pelo tratado; 
d) Avulsa e popularmente, a aprovação do tratado pela legislatura, ou outro órgão estatal cujo consentimento possa ser necessário; este é um emprego infeliz da palavra, e deveria ser evitado.” (McNair in Rezek)
Varella: “a ratificação é ato formal do Estado pelo qual indica seu consentimento em estar submetido a um determinado tratado. Também é conhecida por aceitação, aprovação ou ato formal de confirmação.” 
Nos tratados bilaterais, a ratificação pode ocorrer por meio de troca de notas diplomáticas. 
Nos tratados multilaterais, para ser considerada válida, a ratificação precisa ser registrada no secretariado da Convenção ou do respectivo órgão depositário. 
Em geral, a ratificação é ato do poder legislativo seguido por ato do poder executivo, mas cada Estado pode definir quem terá competência. Ex.: Reino Unido – cabe à Coroa. 
Não se trata de mero ato formal. Nas Convenções mais importantes, a ratificação é condição para o comprometimento efetivo do Estado. 
Após a ratificação pelos Estados negociantes, os novos Estados irão aderir. O correto é chamar de adesão ou acessão.
OBS: Rito especial. 
· Incorporação de Tratados e Convenções sobre Direitos Humanos. 
· E.C. n. 45/2004: Tratados e Convenções sobre Direitos Humanos com força de emenda constitucional. 
art. 5º, §3º, CRFB/88: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” 
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo: após a EC nº 45/2004, foi adotada pela Constituição, pela primeira vez, uma regra hierárquica entre tratado e lei, pois os tratados que versarem sobre direitos humanos e passarem pelo novo iter procedimental de aprovação serão equivalentes às emendas constitucionais.
Engajamento. 
Determina o âmbito do consentimento. 
Pode limitar o consentimento (reservas ou declarações interpretativas). 
Reservas: “É uma declaração unilateral, feita por um sujeito de direito internacionalao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação nesse Estado ou Organização Internacional.” 
Limitam os efeitos jurídicos do tratado para uma das partes, em relação às demais. 
Declarações interpretativas: “É a manifestação unilateral do Estado ou da Organização Internacional, pela qual concorda com o engajamento ao tratado, condicionado a que determinada parte do texto seja interpretada de forma particular.”
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· ENTRADA EM VIGOR DOS TRATADOS. 
Nos tratados multilaterais, dificilmente a entrada em vigor ocorre simultaneamente. 
Condição externa 
- Para que tenha aplicação no direito interno, é preciso que, antes, o tratado esteja vigorando no âmbito internacional. Isso pode depender de um determinado número de assinaturas ou ratificações, por exemplo. 
Condição interna 
- Como condição interna, a ratificação pode ser realizada por meio de decreto legislativo (corrente monista) e, também, por decreto executivo (corrente dualista). 
- Além disso, somente estará em vigor após cumprida a condição externa.
a) Condições de validade dos Tratados 
- São três principais critérios: 
• Partes capazes para o ato; 
• Objeto lícito e possível; 
• Ser resultado do consentimento livre das partes. 
a.1) Capacidade das partes: 
- Somente os sujeitos de direito internacional (pessoas jurídicas – Estados e Organizações Internacionais) são capazes de firmar tratados. 
- Outros atores, indivíduos, empresas ou organizações não governamentais não podem ser partes. 
- A capacidade dos Estados depende do reconhecimento de Estado, do seu governo e dos seus representantes. 
- Polêmica: reconhecimento de Estados em guerra ou grupos em conflito, durante negociações de paz, que depende de tal reconhecimento aos líderes beligerantes para que possa existir. 
a.2) Objeto lícito: 
- O direito interno não é o parâmetro (até porque no caso de colisão de normas, é possível realizar reservas). 
- Ratificação imperfeita: ocorre quando o Estado ratifica o tratado em desacordo com o seu direito nacional. 
Para os dualistas, não representa vício. Monistas puros defendem que não há validade. 
A posição moderada defende não haver obrigatoriedade internacional de que todos conheçam os vícios que podem ocorrer internamente, mas devem evitar flagrantes violações de direitos (ex.: falta de competência de quem pratica os atos ligados aos tratados). 
-Convenção de Viena, art. 27: 
Direito Interno e Observância de Tratados Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado. Esta regra não prejudica o artigo 46. 
Disposições do Direito Interno sobre Competência para Concluir Tratados
 1. Um Estado não pode invocar o fato de que seu consentimento em obrigar-se por um tratado foi expresso em violação de uma disposição de seu direito interno sobre competência para concluir tratados, a não ser que essa violação fosse manifesta e dissesse respeito a uma norma de seu direito interno de importância fundamental. 
2. Uma violação é manifesta se for objetivamente evidente para qualquer Estado que proceda, na matéria, de conformidade com a prática normal e de boa fé. 
- A violação ao direito internacional: jus cogens do direito internacional significa o corpo de regras obrigatórias que, por isso, não poderiam ser violadas. 
Seriam normas de direito já estabelecidas em tratados multilaterais amplamente aceitos. O vício acarretaria na invalidação do tratado viciado, o tratado nasce nulo. 
- Muitos Estados rejeitam a existência de jus cogens, diante da negação à limitação de seu direito de produzir normas e da dificuldade de definir o rol componente do jus cogens. 
- Alguns princípios jurídicos básicos de direito internacional podem ser excepcionados/violados, quando o Estado ofendido pela violação se submeter ao prejuízo de forma livre (ex.: princípio da igualdade soberana). 
- “A Corte Internacional de Justiça finalmente reconheceu um corpo de regras imponíveis erga omnes nos contenciosos sobre a licitude da ameaça ou do uso de armas nucleares, em 1966 e, mais recentemente, em relação à licitude da construção de um muro na Palestina, erguido por Israel. A Corte afirmou que ‘um grande número de regras de direito humanitário aplicáveis em conflitos armados são fundamentais para o respeito da pessoa humana...’ e que elas se ‘impõem a todos os Estados, tenham eles ratificado ou não os instrumentos convencionais que as determinam’”. (Varella) 
- Com isso, é possível concluir que, de um modo geral, as regras referentes ao direito internacional dos direitos humanos podem ser qualificadas como jus cogens, não se admitindo objeto de tratado que as violem. 
a.3) Consentimento livre: 
- Os vícios de consentimento, bem como de capacidade dos representantes podem gerar ou não a nulidade do tratado, conforme a sua natureza. 
Existe a possibilidade de convalidação do ato viciado pelos Estados ou Organizações Internacionais. 
- São vícios do consentimento: 
• erro – as partes supõem uma realidade fática que não é verdadeira; 
• dolo – uma das partes induz a outra a acreditar em uma realidade falsa; 
• coação – há ameaça ou violência contra o representante do Estado; 
• corrupção – a manifestação do Estado é motivada por vantagem pessoal ao seu representante. 
a.4) Procedimento para invalidação dos Tratados 
- Em geral, os Estados preferem negociar entre si para definir quais serão os efeitos válidos ou inválidos. 
-É possível que o próprio tratado preveja mecanismos procedimentais para realização da invalidação. 
- É possível que a parte realize: impugnação, extinção, retirada ou suspensão da aplicação. A outra ou as outras devem poder se manifestar e o silêncio funciona como aceitação. É possível determinar foro para resolver a questão, ou até levá-la a uma Corte Internacional (quando se tratar de violação a jus cogens art. 66, a, C.V.) 
b) Controle de efetividade dos tratados 
- Relatórios: “é um documento produzido pelo Estado ou Organização Internacional que descreve a implementação do tratado em seu território ou no tema sob seu domínio.” Podem existir mecanismos para contestar a veracidade das informações prestadas. 
- Inspeções: “são verificações, por representantes externos, das atividades realizadas por um Estado em cumprimento de um tratado”. É um instrumento de controle que deve ser acordado com o Estado. Não existe a possibilidade de se invadir um Estado a pretexto de inspeção. 
- Criação de Organizações Internacionais específicas para o controle: “tem por objetivo a uniformização de elaboração dos relatórios, seu controle, a difusão de informações produzidas pelos Estados-membros, pelas Organizações não governamentais, pelos meios científicos e por outras Organizações internacionais, a transferência de tecnologia, entre outras.” 
Também podem ser úteis como fóruns de negociações em prol do avanço de tratados. 
- Medidas unilaterais (estímulos) positivos e negativos de certos Estados ou Organizações Internacionais: “as medidas positivas são estímulos de Organizações internacionais ou de Estados em face de resultados favoráveis ao cumprimento de determinado tratado. As medidas negativas são punições por seu não cumprimento”. 
Existe claramente uma diferença na aplicação dessas medidas quando partem de Estados mais poderosos o que, normalmente, não possui aprovação no cenário internacional, mas podem ser toleradas e, por vezes, incentivadas. 
c) Interpretação dos tratados 
- A hermenêutica dos Tratados tem uma lógica própria, mas similar a que é aplicada ao direito internacional. A interpretação objetiva compreender o sentido e o alcance das expressões do tratado. 
- Uma grande dificuldade é fazer incidir sobre o sentido do texto os aspectos culturais dos povos. 
- Modalidades: 
· autêntica: quando realizada pelos próprio Estados ou com base na percepção da vontade dos Estados à época da negociação (princípio da contemporaneidade).· não autêntica: quando operada pelos Tribunais ou árbitros. -Regras básicas de interpretação: 
observar o texto, mas buscando um resultado que possa ser cumprido de boa-fé pelos Estados. 
compreender palavras, expressões e frases de acordo com o sentido que tinham ao tempo da negociação. 
contextualizar o texto e trazer benefícios para todas as partes. 
buscar um efeito útil (ut res magis valeat quam pereat) 
compreender o texto de forma global e não isolada, em relação à todas as partes componentes do tratado. 
regras especiais vigoram sobre as gerais. 
d) Incompatibilidade entre tratados 
- Recomenda-se aplicar regras da pirâmide de Kelsen: 
· critério hierárquico 
· critério cronológico 
· critério da especialidade 
e) Modificação dos tratados 
- Opera-se por vontade das partes de forma: 
• expressa - edição de outro tratado, com expressa menção à revogação, revisão ou emenda) 
• ou tácita - quando da edição de novo tratado com o mesmo tema, mas contrário ao anterior; ou quando a prática contínua das partes denotar o contrário das disposições negociadas, gerando novo costume internacional. 
f) Extinção dos tratados
-Diferentes situações podem levar à conclusão de que um tratado foi extinto: 
• execução integral; 
• consentimento mútuo; 
• termo final; 
• superveniência de condição resolutória; 
• renúncia do beneficiário; 
• caducidade ou desuso; 
• conflitos aramados; 
• fato de terceiro; 
• impossibilidade de execução; 
• ruptura das relações diplomáticas e consulares; 
• inexecução por uma das partes; 
• denúncia unilateral; 
• mudança substancial de circunstâncias; 
• norma superior de jus cogens.
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4) Fontes extraconvencionais 
- Os tratados são a fonte principal contemporânea do direito internacional, mas fontes extraconvencionais também fazem parte do estudo clássico e ainda possuem aplicação no cenário. 
- Como visto, podem ser fontes principais, auxiliares ou facultativas: costumes, princípios gerais do direito, doutrina, jurisprudência e equidade. - Hierarquia entre fontes: em princípio, não existe. 
a) Costumes 
- “Os costumes internacionais são práticas aceitas pelos Estados como direito aplicável, durante um período razoável de tempo.” (Varella) – 
Costumes podem revogar tratados. 
- Direito brasileiro: posição abaixo da analogia (LINDB) – só no direito interno. 
- Natureza jurídica: é fonte formal do direito internacional, reconhecida universalmente entre os estados. No direito brasileiro, porém, é raro encontrar sua aplicação em decisão judicial ou ato normativo. 
- Elementos do costume: 
objetivo ou material: uso relativamente constante ao longo do tempo (para atos semelhantes, não necessariamente iguais e por tempo de maior duração, mas sem um critério objetivo que o estabeleça); 
subjetivo: aceitação pelos Estados (faz parte das relações internacionais a aceitação de determinadas práticas para garantir a convivência global harmônica; a prática deve se mostrar continuamente aceita); 
espacial: região onde é praticado (pode ser regional ou universal). – 
Críticas: a principal crítica é a de que os costumes podem representar uma forma de manutenção do status quo. Um caráter conservador indesejado, na medida em que pode impedir progressos e submeter Estados minoritários às práticas dominantes determinadas pelas grandes potências.
Extinção do costume: quando deixa de ser praticado pelos sujeitos de direito internacional ou quando um tratado, contrário ao costume, é ratificado entre os mesmos Estados que o praticavam. 
b) Princípios gerais de direito internacional 
-“São regras amplamente aceitas pela sociedade internacional, consolidadas por costumes internacionais. 
A consolidação pode decorrer de repetição em tratados, ou no uso em razões de julgamento comumente aplicadas nos tribunais nacionais e internacionais.” 
- Nem todo princípio jurídico é um princípio geral de direito internacional. Alguns podem ter aplicação apenas no âmbito nacional, interno, regional. 
Princípios internacionais de direito podem ter aplicação independentemente de haver correspondente no direito interno dos Estados. 
Ex.: princípio da dignidade da pessoa humana 
- Destacam-se os seguintes princípios: 
• igualdade soberana 
• autonomia, não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados 
• interdição do recurso à força e solução pacífica de controvérsias 
• respeito aos direitos humanos 
• cooperação internacional 
- Princípios mais tradicionais (visão individualista dos Estados – maior oposição aos princípios mais coletivos, voltados para proteção de valores universais): 
• autodeterminação dos povos 
• soberania 
• interdição do recurso à força – 
Valor normativo dos princípios: art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça. 
• previsão (hoje inadequada) de que o dependeria de reconhecimento por parte das “nações civilizadas”. 
• texto redigido ao tempo de surgimento de novos Estados, após processo de descolonização. 
• resistência em aceitar princípios oriundos dos povos não europeus e não cristãos. 
• visão defasada atualmente e não aplicada pelos Tribunais Internacionais. - Nova concepção de “nações civilizadas” (Cançado Trindade): 
• nações que não respeitam os tratados sobre direitos humanos; 
• nações que não reconhecem a jurisdição das Cortes Internacionais de proteção dos direitos humanos. 
- Na teoria: princípios funcionam como guias para a interpretação dos tratados e das práticas costumeiras. 
- Na prática: princípios utilizados para reforçar uma posição a que os Tribunais chegam por outros meios (ex: aplica norma de um tratado e a reforça com a conjugação de um princípio que a justifique). 
- Direitos humanos: princípios utilizados como fonte principal, inclusive, para determinar o que é ou não conduta criminosa (muitas vezes construído na ausência de norma penal internacional). Visa a operacionalização do direito. 
- Processo de reconhecimento de um princípio geral do direito: é um processo e não um ato. 
• não basta que apenas uma Convenção o reconheça (será um princípio pontual e não geral). 
• necessário movimento progressivo e contínuo de reconhecimento ao longo das práticas dos Estados em suas relações internacionais. 
• pode haver reconhecimento em um ambiente jurídico internacional (Corte Internacional), mas não por outra. 
Ex.: princípio da precaução (dúvida razoável sobre efeitos negativos de determinada atividade provoca a suspensão ou não iniciação da atividade, até que sobrevenham estudos conclusivos) – CIJ negou a existência do princípio no caso Hungria x Eslováquia sobre barragens em Danúbio; Órgão de Solução de Controvérsias da OMC não analisou a alegação do princípio em si no caso UE x EUA sobre importação de carnes com hormônios; Tribunal de Justiça da União Europeia proferiu diversas decisões reconhecendo o princípio da precaução. 
- Maior utilização de princípios gerais conforme sua especialidade pelo ambiente jurídico internacional competente: 
• ONU: segurança internacional – princípios da autodeterminação dos povos, da igualdade soberana, da solução pacífica de controvérsias e de supremacia dos direitos humanos. 
• OMC: comércio internacional – princípio da nação mais favorecida, princípio do tratamento nacional. - Outros princípios gerais importantes: 
• princípio da não discriminação; 
• princípio da nação mais favorecida; 
• princípio da boa-fé; • princípios internos sobre aplicação das penas. 
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c) Atos unilaterais 
- “Os atos unilaterais são manifestações autônomas e não equívocas de uma vontade formulada publicamente por um ou vários Estados, endereçadas a um ou vários Estados da sociedade internacional em geral ou de uma Organização Internacional, com a intenção de criar obrigações jurídicas no âmbito internacional.” (Varella) 
- Alguns exemplos de atos unilaterais: 
• normas internas; 
• decisões políticas; 
• discursos dos governantes; 
• protestos e notificações acerca de fatos jurídicos internacionais; 
• estoppel (proibição de secontradizer em detrimento de outrém). 
- OBS: estoppel- tema pouco estudado em DIP, embora seja importante. Refere-se a atitudes internacionais que geram obrigações (especialmente em temas comerciais). Não se confunde estoppel com outros tipos de atitudes como tomada de medidas puramente discricionárias e livremente reversíveis (não há assunção de compromisso jurídico); comportamentos que violam direitos internacionais (não geram expectativas lícitas); contramedidas em reação a uma violação de direitos (tratamento jurídico específico). 
- Os atos unilaterais só podem ser invocados como fontes de direito quando: 
• emanarem de sujeitos de direito internacional; 
• não contrariarem o direito internacional; 
• refletirem a vontade legítima de seu autor (sem vícios e com intenção de ser cumprida); 
• dirigirem-se ao público em geral. - Principais atos unilaterais de Organizações Internacionais: 
• decisões: atos das O.I. que geram obrigações para seus destinatários; 
• recomendações: atos da O.I. que sugerem atos ou alertam sobre possíveis obrigações; 
• sentenças: decisões em contenciosos perante as Cortes Internacionais; 
• pareceres consultivos: decisões de caráter não obrigatório que elucidam o direito sobre determinado caso. - Principais atos unilaterais dos Estados e O.I. nas suas relações: 
• silêncio: aceitação tácita de um determinado ato; 
• notificação: informação sobre um determinado posicionamento; 
• protesto: manifestação expressa contra determinado ato; 
• reconhecimento: manifestação expressa a favor de determinado ato; 
• promessa: comprometimento de adotar determinado ato futuro; 
• renúncia: abandono de direito próprio (reconhecido ou não); 
• estoppel: impossibilidade de uma parte adotar uma conduta, após realização de ato anterior incompatível (venire contra factum proprio). 
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