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RESENHA DO ARTIGO "PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL PARA OS DELITOS DE FURTO E DESCAMINHO"

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RESENHA DO ARTIGO “A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS DELITOS DE FURTO E DESCAMINHO”, DE NATÁLIA FERREIRA DOS SANTOS
O artigo “A Aplicação do Princípio da Insignificância nos Delitos de Furto e Descaminho”, de Natalia Ferreira dos Santos, pós-graduada em Direito Penal pela Universidade Católica de Petrópolis e Mestranda em Direito Econômico na Universidade Cândido Mendes, foi publicado na Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal Nº 64, em fevereiro e março de 2015.
A autora traz à luz, a exegese do objeto desta resenha juntamente com a aplicação do aqui estudado princípio da insignificância penal, também conhecido como princípio da bagatela penal, nos casos de delitos de furto e descaminho, guiando o leitor pelo caminho do questionamento acerca da viabilidade, ou não, da exclusão da tipicidade de furtos, ou descaminhos, que se encaixem nos requisitos à aplicação de tal princípio. Mormente, a autora analisa o tema pelo viés histórico, socioeconômico, do direito comparado, constitucional e jurisprudencial, encerrando a análise com a descrição da sua aplicação nos delitos de descaminho.
Em um primeiro momento o artigo expõe o conceito da “insignificância penal”, consistindo, (segundo o Supremo Tribunal Federal), na exclusão da tipicidade de um delito de furto ou descaminho, resultando na absolvição do réu, em função de características do fato, tais como “mínima ofensividade da conduta do agente”, “nenhuma periculosidade social da ação”, “reduzido grau de reprovabilidade do comportamento” e “inexpressividade da lesão jurídica”, que configuram pré-requisitos para a sua aplicação.
Sob o viés histórico, são apontadas as diversas teorias acerca da origem do princípio supracitado, alegando que no Direito Romano, segundo o anexim mínima non curat praetor, o pretor não se incumbe de delitos insignificantes. Não obstante a origem da alcunha “bagatela”, oriunda da Europa pós-segunda guerra, há outra corrente que afirma que sua gênese se encontra no iluminismo, juntamente com o primórdio do princípio da legalidade, ambos com a finalidade de moderar a intervenção do Estado Absolutista. 
Acerca da faceta socioeconômica, é apontada a não resolução do real entrave na seara penal, não tendo a vítima seus interesses defendidos ou seu prejuízo reparado. De outro passo que o princípio da insignificância penal, nos casos de furto se aplica a casos em que o quantum furtado não tem capacidade para causar danos patrimoniais relevantes à vítima, levando em conta, desta forma, não somente o valor do bem, mas também, as circunstâncias que envolveram o fato, tais como emprego de violência (excluindo a hipótese da aplicação da insignificância), condições financeiras da vítima e dano efetivo, respeitando, também, o princípio da proporcionalidade.
Haja vista que, segundo a autora, não se deve aplicar o princípio da insignificância aos casos de furto de bens com valor sentimental agregado, cujo valor material não pode ser quantificado, mas sim de bens materialmente determinados, cujo prejuízo causado por sua ausência possa ser ressarcido na seara cível. Desta forma, a aplicação equânime do princípio da insignificância penal nos casos de furto abre espaço para que os crimes de real potencial ofensivo tramitem com maior velocidade e eficiência na máquina do Poder Judiciário, eximindo-o, assim, de diversos custos desnecessários, que, se quantificados, em muitos casos são capazes de exceder o valor da própria res furtiva. 
No exterior, na maioria dos países da América do Sul, o princípio aludido é aplicado de formas muito semelhantes entre si, levando em conta o valor do bem, o comportamento do réu, antecedentes, contexto social em que ocorreu o delito, e, sendo tratado, em determinados países na esfera cível, consistindo em hipóteses de devolução do bem, ou valor, ou de realização de acordo. 
Dentro do direito constitucional, a autora aponta como principal embasamento para o princípio da bagatela penal o § 2º do art. 5º da CF/88, que confirmam a credibilidade e aplicabilidade de princípios não prescritos no texto constitucional, juntamente com outros direitos, também previstos neste artigo, como o direito à liberdade, à igualdade, à reserva legal e à proporcionalidade. Conforme esta asseveração, o princípio da liberdade cuida de delimitar os poderes do Estado, a igualdade, vista por um prisma substancial, faz com que o operador do direito deixe de analisar o fato tão somente pelo seu aspecto formal, como também, pelo aspecto material, analisando as individualidades de cada caso. O princípio da reserva legal garante que não se possa punir um agente por um fato não tipificado em lei, de maneira a respeitar o princípio da determinação legal, sendo vedada a aplicação da analogia, obtemperando com o preceito basilar da democracia, que garante que o próprio governo esteja subordinado à lei. E, por fim, o princípio da proporcionalidade, que detém maior importância no que compete ao tema aqui reportado, justamente por visar à adequação das penas aos delitos que as antecedem, auferindo a igualdade equitativa, e garantindo a equanimidade das decisões, refreando sanções que exorbitem o limite do justo.
No âmbito da legislação infraconstitucional, o princípio da bagatela penal funciona em conjunto com o princípio da lesividade, previsto no art.13, caput, do Código Penal, que dispõe sobre o dever do direito penal de versar sobre assuntos de real relevância jurídica e social, com o princípio da subsidiariedade, que impede o abuso do poder punitivo do Estado, com o princípio da intervenção mínima, sendo o direito penal a ultima ratio e com o princípio da fragmentariedade.
É errônea a acepção da corrente que defende a tese da necessidade do legislador criminalizar o maior número de condutas possíveis, com o escopo de promover a intimidação penal, pois, sendo o Direito Penal a ultima ratio, estas medidas não auferem a eficácia diante da precariedade das demais medidas socioeducativas que o precede.
A jurisprudência brasileira revela o entendimento de que o valor máximo para a aplicação do referido princípio não deve exceder R$ 396,00, visão esta, limitada e superficial, uma vez que este quantum pode variar em importância de acordo com o contexto e classe social da vítima, podendo, esta, ser pessoa jurídica ou física, devendo- se levar em consideração o fato como um todo e não pura e simplesmente fazer o enquadramento do fato típico diante da norma penal, não podendo, assim, ser aplicada a insignificância quando há reiteração delituosa, ou a crimes com emprego de violência ou grave ameaça, como roubo, por exemplo.
Já no delito de descaminho, a aplicação do princípio da bagatela penal encontra uma elasticidade exacerbada e perigosa, sendo interpretado de acordo com a Lei nº 11.033/04, que informa que a Fazenda Nacional executará apenas dívidas fiscais com valor superior a R$ 10.000,00, tendo este valor sido estendido pelas Portarias MF ns. 75/2012 e 130/2012, para R$ 20.000,00. Não obstante a aplicação deste princípio nos casos de descaminho não seja pacífica na doutrina, ele não deveria ser aplicado a este delito, pois, além de seu valor não ser nem um pouco ínfimo, configura uma ofensa jurídica muito grave, atentando não contra o patrimônio de um indivíduo, mas sim contra a economia do país, de toda a sociedade, traduzida na sonegação tributária. 
Em muitos casos o valor do prejuízo aos cofres públicos supera em muito os custos da justiça, compreendendo tramitação do processo e pagamento de todos os salários dos operadores do direito envolvidos.
De todo o exposto, a conclusão a que se chega é de que a adoção do princípio da bagatela faz sentido e se coaduna com o melhor senso de justiça, uma vez que o direito penal, como dito ultima ratio que é, deve se ater à apuração de delitos que, dadas as suas características, de mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma periculosidade social da ação, reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento, inexpressividade da lesão jurídica e o valor ínfimo doobjeto do delito. Isto sem falar na desnecessidade do desencadeamento da máquina judiciária na apuração de fatos cujo objeto é infimamente menor que o custo da própria máquina. 
Ressalva-se, contudo, a inaplicabilidade deste princípio no tocante aos delitos de descaminho, justo porque o agente não se enquadra em seus requisitos, mormente no que diz respeito à reprovabilidade da sua conduta e inexpressividade da lesão jurídica.
 
NICOLE MENEGHINI BUENO

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