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Aula 02
Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) -
Pós-Edital
Autor:
Michael Procopio
Aula 02
18 de Novembro de 2020
 
 
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AULA 02 
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 
 
SUMÁRIO 
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ............................................................................................................ 1 
SUMÁRIO ................................................................................................................................................ 1 
1. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................... 3 
2. DIFERENCIAÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS ............................................................................ 3 
2.1. CONCEPÇÃO CLÁSSICA – DISTINÇÃO FRACA ............................................................................. 4 
2.2. CONCEPÇÃO DE DWORKIN E ALEXY – DISTINÇÃO FORTE ......................................................... 4 
3. PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE ................................................................................................................. 4 
3.1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA....................................................................... 5 
3.2. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE .................................................................................................... 5 
3.3. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................................................................. 7 
3.4. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ...................................................................................................... 8 
3.5. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA (ULTIMA RATIO) ............................................................ 17 
3.6. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE ....................................................................................... 19 
3.7. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ............................................................................................ 19 
3.8. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL ........................................................................................ 20 
3.9. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE ............................................................................................... 22 
3.10. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE .................................................................... 24 
3.11. PRINCÍPIO DA AUTORRESPONSABILIDADE ........................................................................... 25 
3.12. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA ....................................................................... 25 
3.13. PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE OU DA CORRESPONSABILIDADE ..................................... 27 
Michael Procopio
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3.14. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA .................................................................................................. 28 
3.15. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE OU DA PERSONALIDADE ....................................................... 29 
3.16. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE OU DA TRANSCENDENTALIDADE ............................................. 31 
3.17. PRINCÍPIO DA EXTERIORIZAÇÃO OU MATERIALIZAÇÃO DO FATO ....................................... 32 
3.18. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE ................................................................................... 33 
3.19. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (OU DA NÃO CULPA) ......................................... 35 
3.20. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA DUPLA PUNIÇÃO PELO MESMO FATO ..................................... 36 
3.21. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE ...................................................................................... 37 
3.22. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (OU BAGATELA) ................................................................ 38 
3.23. PRINCÍPIOS DO GARANTISMO .............................................................................................. 44 
4. QUESTÕES ..................................................................................................................................... 44 
4.8. LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS ............................................................................... 45 
4.9. GABARITO .............................................................................................................................. 60 
4.10. LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS ........................................................................... 60 
4.11. QUESTÃO DISSERTATIVA .................................................................................................... 92 
5. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA ................................................................. 93 
6. RESUMO ...................................................................................................................................... 100 
Diferenciação entre princípios e regras .......................................................................................... 100 
Princípios em espécie ..................................................................................................................... 100 
Princípios do garantismo ................................................................................................................ 104 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 104 
 
 
Michael Procopio
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1. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Nesta aula, será estudado um tema relevantíssimo para a disciplina do Direito Penal, que são os princípios. 
Não é possível estudar os demais institutos penais nem os crimes em espécie sem conhecimento prévio 
sobre os princípios que fundamentam e orientam toda a disciplina. A aula será composta, em sua estrutura, 
dos seguintes capítulos: 
 
 
 
De início, é preciso entender o que são os princípios e diferenciá-los das regras. Entender o conceito de 
princípio é pressuposto para compreensão de cada um dos princípios do Direito Penal. Depois, é o momento 
de estudarmos os princípios, um a um, com exemplos de sua aplicação prática, o tratamento doutrinário e 
sua utilização na jurisprudência. Por fim, tema muito relevante é o garantismo, teoria em evidência, que 
preconiza a existência de alguns princípios que devem ser adotados pelo Direito Penal, com o fito de se 
garantir os direitos fundamentais dos indivíduos acusados da prática de uma infração criminal, bem como 
daquelas já condenados definitivamente. 
Desejo uma ótima aula a todos! 
2. DIFERENCIAÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS 
O ordenamento jurídico é composto por normas. Ainda que de forma controversa na doutrina, há a divisão 
das normas em regras e princípios. Sua diferenciação também possui muitas variações entre os juristas, 
sendo que as principais delas são a concepção clássica (distinção fraca) e a concepção de Ronald Dworkin e 
Robert Alexy (distinção forte). 
 
 
Diferenciação 
entre princípios 
e regras
Princípios do 
Direito Penal em 
espécie
Princípios do 
Garantismo
NORMAS
REGRAS
PRINCÍPIOS
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2.1. CONCEPÇÃO CLÁSSICA – DISTINÇÃO FRACA 
A concepção clássica define os princípios como as normas com elevado grau de abstração e generalidade, 
de modo que o jurista possui um alto grau de subjetividade ao aplicá-la. São os alicerces, vigas-mestras ou 
valores do ordenamento jurídico. 
As regras, nesta distinção denominada de fraca, seriam as normas com pouco ou nenhum grau de abstração 
e generalidade. Na sua aplicação, restaria pouca ou nenhuma influência de subjetividade do intérprete. 
A diferença entre princípios e regras, portanto, se refere ao grau de abstração e generalidade,bem como ao 
campo de subjetividade reservada para o aplicador da norma. 
2.2. CONCEPÇÃO DE DWORKIN E ALEXY – DISTINÇÃO FORTE 
Na distinção forte, utilizada, conforme destaca Humberto Ávila, por Ronald Dworkin e Robert Alexy, os 
princípios são aplicados mediante ponderação. Assim, incidindo mais de um princípio no caso concreto, deve 
haver a ponderação entre eles para se analisar qual deles vai incidir de forma prevalente na situação. Os 
princípios possuem graus de otimização, isto é, podem ser realizadas em vários graus. O conflito ocorre 
apenas no plano concreto, quando é necessário analisar um caso e verificar a aplicação das normas sobre 
ele. 
As regras, por sua vez, estabelecem aquilo que é obrigatório, permitido ou proibido. Sua aplicação se dá 
mediante subsunção, isto é, como o encaixe do fato à norma. Ou o fato se amolda à norma ou não se amolda. 
Não há meio termo nem ponderação. Não há graus de incidência da norma. É uma questão de tudo ou nada 
(all or nothing). O conflito ocorre no plano abstrato, bastando a comparação de uma norma e outra. Assim, 
sem análise de nenhum caso concreto, decide-se se uma norma revoga a outra, segundo o critério 
cronológico (a norma posterior revoga a anterior), por exemplo. 
Diferenciam-se princípios e normas pelo plano do conflito, que é concreto, no caso dos princípios, e abstrato, 
no caso das regras. Ademais, o princípio comporta diferentes graus de realização ou otimização, enquanto 
as regras atuam conforme o adágio do “tudo ou nada”, ou se aplicam ao caso ou não se aplicam. Ademais, 
regras são as normas que estabelecem o que é obrigatório, permitido ou proibido, com aplicação mediante 
subsunção. 
Com o estudo destas duas concepções que diferenciam as espécies do gênero norma, podemos entender 
melhor a função e as características dos princípios no ordenamento jurídico. 
 
3. PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE 
Feita esta introdução, passemos à análise dos princípios que norteiam o Direito Penal, analisando um a um, 
com estudo do seu conceito e da sua aplicação prática. Quero destacar que, por ser um Curso voltado para 
concursos, aqui são enumerados princípios abordados por vários e diferentes autores. Na análise conjunta, 
será possível que alguns são desnecessários, já que seu conteúdo está contido em outro princípio. A ideia é 
enumerar os mais citados nas obras, ainda que o todo se mostre mais do que suficiente, por um abordar o 
tema do outro. 
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3.1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
O princípio da dignidade da pessoa humana possui importância nuclear no nosso sistema jurídico, por 
orientar e permear todas as demais normas nele presentes. Preconiza que haja um tratamento à pessoa que 
não lhe prive do mínimo necessário para que possa exercer sua capacidade de autodeterminação. Afasta 
qualquer tratamento degradante, ou seja, aquele que imponha a um indivíduo uma privação maior que 
aquela necessária para os fins previstos na norma. No caso de pena, por exemplo, esta deve ser proporcional 
e necessária, não visando simplesmente a um tratamento cruel ou de vingança. 
Trata-se de princípio fundamental da República Federativa do Brasil, ou seja, é um dos princípios que 
orientam a própria formação do Estado. Deste modo, torna-se um princípio regente do Direito Penal, 
norteando a interpretação de todas as suas normas. 
Assim prevê a Constituição no seu artigo 1º 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e 
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
(...) 
III - a dignidade da pessoa humana; 
(...) 
Percebam que a dignidade da pessoa humana possui status de fundamento da República Federativa do 
Brasil, o que demonstra sua relevância, mesmo diante de outros princípios constitucionais. 
Referido princípio também está previsto no Pacto de São José da Costa Rica, no seu artigo 11, 
1, o que denota seu reconhecimento e importância também no nosso sistema regional de 
proteção dos Direitos Humanos: 
 Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade 
1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade. (...) 
 
3.2. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE 
Como aplicação do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana no Direito Penal, a doutrina 
costuma fazer referência a ele como princípio da humanidade. Se a dignidade da pessoa humana é 
fundamento da nossa República, a humanidade é a denominação usual da doutrina para sua incidência 
específica neste ramo do Direito. 
Como a humanidade determina que consideremos o homem, independentemente de classe social, origem 
técnica, gênero ou orientação sexual, como detentor de direitos simplesmente em razão de sua natureza 
humana, o condenado assim deve ser considerado. Como ser humano, ele deve ter uma resposta do Estado 
que seja compatível com a ideia de que ele é um homem (em sentido amplo), devendo seus direitos serem 
restringidos, por meio da sanção, apenas no que for necessário para a repressão e retribuição de sua 
conduta. 
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A sanção penal, por sua vez, também sofre restrições, devendo ser proporcionais e humanizadas, ou seja, 
dado o nosso estágio civilizatório, não se pode conceber qualquer tipo de sanção penal, ainda que a violação 
das normas de convívio social tenha sido grave. É o que se defende desde a obra emblemática do Marquês 
de Beccaria. Nesta toada, o princípio da humanidade veda que o legislador adote sanções penais violadoras 
da dignidade da pessoa humana, atingindo de forma desnecessária a incolumidade físico-psíquica do 
agente. 
Há efeitos específicos deste princípio previstos no artigo 5º, inciso XLVII, da Constituição: 
XLVII – não haverá penas: 
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; 
b) de caráter perpétuo; 
c) de trabalhos forçados; 
d) de banimento; 
e) cruéis; 
Portanto, é o princípio da humanidade que veda a pena de morte (salvo em caso de guerra), as penas de 
caráter perpétuo, as penas de trabalhos forçados, as de banimento e, de modo geral, as cruéis. 
O banimento ou desterro, pena vedada pela Constituição, consiste na expulsão do indivíduo do território 
nacional, enquanto durar a pena. 
As penas perpétuas também não são admitidas, prevendo nosso ordenamento jurídico limite 
para a duração das penas, atualmente de 40 anos, nos termos do artigo 75 do Código Penal. 
Referido limite, que era de 30 anos, foi modificado com o início de vigência da Lei 13.964/2019. 
Vale destacar que a Constituição não veda a alteração do limite, até porque a própria 
expectativa de vida se modifica com o passar dos anos. Claro que a possibilidade de modificação 
não pode violar, por conceber limites altíssimos, a ordem constitucional, mas não é o caso, já 
que o limite fixado está bem abaixo da expectativa de vida do brasileiro e, além disso, representou uma 
mudança abaixo do que a proporção entre a mudança da expectativa desde a década de 1940 indicaria. 
Por fim, a Constituição veda qualquer pena que seja cruel, conceito aberto que visa a evitar penas, atuais ou 
futuras, que possuam caráter degradante, afrontando a dignidade humana. Podemos imaginar, como 
exemplo de uma sanção cruel, a decepação de mãos em caso de furto. 
Ademais, há outras consequências previstas diretamente no texto constitucional sobre a incidência do 
princípio da humanidade na seara criminal. Entretanto, devem ser estudados no âmbito do Direito 
Processual Penal. A título de exemplo, podemos citar o artigo 5º, inciso LXIII, da CF: 
LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe 
assegurada a assistência da família e de advogado. 
É o princípio da humanidade que pode fundamentar o repúdio ao cumprimentode pena em presídios 
lotados, em que os condenados e presos provisórios precisam se revezar para dormir, bem como aos 
projetos de imposição de retirada de órgãos post mortem a quem tenha sido condenado pela prática de 
determinada infração penal. 
Por fim, cumpre observar que Hans Heirich Jescheck declara que não se pode confundir a natureza do Direito 
Penal. Cuida-se de ramo do direito que busca punir aquele que causou uma violação da norma penal 
incriminadora, devendo receber uma resposta social. Deste modo, não se pode subverter a ordem, 
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oferecendo-se um prêmio ao delinquente. A missão da sanção penal não pode ser realizada sem dano ou 
dor. É dentro dessas balizas que atuaria o princípio da humanidade, presidindo todas as relações humanas 
disciplinadas pelo Direito Penal. 
 
(FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) A proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e 
maus-tratos nos interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura 
carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos condenados são 
desdobramentos do princípio da 
a) proporcionalidade. 
b) intervenção mínima do Estado. 
c) fragmentariedade do Direito Penal. 
d) humanidade. 
e) adequação social. 
 
Comentários 
A assertiva correta é a letra D. 
Nota-se que o enunciado do exercício diz respeito a penas “cruéis e infamantes”, “proibição de tortura e 
maus-tratos” e impedimento de “degradação e dessocialização dos condenados”. A abordagem é humanista, 
ou seja, de se humanizar o tratamento aos presos, preservando-lhes a dignidade. Portanto, cuida-se do 
princípio da dignidade da pessoa humana, tratado frequentemente no Direito Penal como princípio da 
humanidade. 
3.3. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 
O devido processo legal é um princípio regente do Direito Penal e do Direito Processual Penal. É necessário 
que se respeite todo o procedimento previsto nas leis para que, ao final de um processo condenatório, 
possa haver a justa punição do acusado. 
Do devido processo legal derivam vários subprincípios, como o contraditório, a ampla defesa, o juiz natural, 
o da imparcialidade, o da vedação das provas ilícitas, o da motivação dos atos decisórios, a publicidade, a 
duração razoável do processo, dentre outros. Como se nota, seu estudo mais detido, inclusive com análise 
dos princípios que dele derivam, é matéria de Direito Processual Penal. 
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Entretanto, cabe, aqui, relembrar que o princípio do devido processo legal possui, além da 
vertente formal, uma outra, de natureza substancial. Sua origem é apontada como sendo do 
direito anglo-saxão, de onde proveio a expressão “due process of law”, que, traduzida, 
equivaleria ao devido processo legal. 
O devido processo legal substancial se refere à limitação do exercício do poder, que deve se 
amoldar ao que determina a Constituição e, além disso, atender o princípio (ou postulado, 
conforme a doutrina que se adote) da proporcionalidade. Neste ponto, segundo parte da doutrina, o devido 
processo legal permite ao Poder Judiciário o exame da constitucionalidade das leis, seja sob o viés do 
confronto com as normas constitucionais, seja sob o âmbito do atendimento da proporcionalidade. Esta 
vertente do princípio também permite o controle das decisões judiciais, também sob o âmbito da 
proporcionalidade e razoabilidade. 
O devido processo legal formal consiste no respeito às normas processuais, isto é, às regras e aos princípios 
que orientam e determinam o procedimento penal, desde o oferecimento da denúncia ou queixa até o 
trânsito em julgado, abarcando, posteriormente, a execução da pena ou da medida de segurança. Inclui os 
princípios acima mencionados, que são seus corolários, como contraditório, ampla defesa, juiz natural, 
imparcialidade do julgador, inadmissibilidade de provas ilícitas, etc. Esta vertente é que a determina que se 
deve observar garantias mínimas do acusado no decorrer do processo penal. 
A previsão do princípio do devido processo penal, na Constituição, está no artigo 5º, LIV: 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. 
Referido princípio também foi consagrado no Pacto de São José da Costa Rica, a Convenção Americana de 
Direitos Humanos, de 1969: 
Art. 8 - Garantias judiciais 
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, 
por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, 
na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e 
obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. 
 
3.4. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
O princípio da legalidade tem sua origem apontada na Magna Carta, da Inglaterra, de 1.215. À época, 
representou a revolta da nobreza contra o Rei João, conhecido como João Sem Terra. Os barões ingleses 
buscavam uma garantia de que não seriam punidos senão de acordo com a lei, na expressão inglesa, law of 
the land (lei da terra). A lei representava, então, uma garantia contra a tirania do soberano. 
Entretanto, cumpre trazer a visão crítica do Professor Nilo Batista1, que não vê na Magna Charta um texto 
que introduziu referido princípio, já que a lei da terra seria uma referência também aos costumes. Também 
critica que se veja sua origem no Direito Romano. Ele aponta, contudo, antecedentes históricos da legalidade 
na Declaração de Direitos da Virgínia, de 1776, e na própria Constituição dos Estados Unidos, de 1787, em 
seu artigo I da seção 9ª, além da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. O primeiro 
 
1 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 12 ed. Rio de janeiro: Revan, 2011, p. 200. 
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“corpo de leis penais” a incluir o princípio, na lição do ilustre penalista, seria a codificação de D. José II, da 
Áustria, no ano de 1787. 
Atualmente, com o advento dos Estados Democráticos de Direito, as constituições ganharam grande 
importância, com o reconhecimento de direitos fundamentais e da separação de poderes. Neste âmbito, há 
o reconhecimento da legalidade como único meio para se limitar direitos dos cidadãos, já que a lei 
representa, em último caso, a vontade do povo. 
Paul Johann Anselm Ritter von Feuerbach cunhou os termos nulla poena sine lege, nullum crimen sine poena 
legali e nulla poena sine crimine, que, segundo Nilo Batista2, demonstram a fundamentação da sua teoria na 
concepção preventivo-geral da pena, baseada na ideia de coação psicológica, isto é, do efeito de intimidação 
causado pelas penas. Analisando essa base teórica, o professor fluminense destaca as consequências do 
princípio da legalidade: 
 Proibir a retroatividade da lei penal; 
 Proibir a criação de crimes e penas pelo costume; 
 Proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas; 
 Proibir incriminações vagas e indeterminadas. 
Na Constituição, de modo genérico, o princípio da legalidade está previsto no inciso II do seu artigo 5º 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
Quanto à seara criminal, o princípio pode ser encontrado no artigo 5º, inciso XXXIX: 
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
O Código Penal, quase nos mesmos termos, também prevê o princípio da legalidade em seu artigo 1º: 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
Quanto ao sistema regional de proteção aos direitos humanos de que oBrasil faz parte, pode-se apontar a 
previsão da legalidade no Pacto de São José da Costa Rica, vejamos: 
Artigo 9º - Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram 
cometidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor 
pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o 
delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o deliquente deverá dela beneficiar-se. 
O princípio da legalidade possui conteúdo jurídico e político. Possui conteúdo jurídico por determinar que 
deve haver lei formal e anterior para que um fato seja considerado crime, por impedir a retroatividade da lei 
penal mais gravosa, por não permitir que um fato típico seja previsto em uma portaria, etc. Ocorre que, de 
forma concomitante, a legalidade também possui um viés político, por representar uma conquista da 
sociedade e uma garantia do povo de que o poder será exercido segundo a sua vontade, que, na democracia 
representativa, se expressa justamente na aprovação de uma lei. Na Casa Legislativa é que há o confronto e 
o debate de ideias entre maioria e minorias, possibilitando uma maior otimização do princípio democrático. 
Decorrem da legalidade os seguintes princípios: 
Princípio da anterioridade: preconiza que a lei penal deve ser anterior para incidir sobre o fato. Só pode 
uma conduta ser considerada infração penal se estiver prevista em uma lei formal anterior. A exceção a este 
princípio é a lei penal mais benéfica, que pode retroagir para beneficiar o réu. 
 
2 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 12 ed. Rio de janeiro: Revan, 2011, p. 202. 
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Princípio da reserva legal: determina que deve haver lei formal para a previsão de crimes e contravenções 
penais. Isto é, não basta haver um ato normativo que preveja a conduta e lhe comine certa sanção. Para o 
Direito Penal, é preciso que haja lei, não bastando um decreto ou uma portaria. 
Nilo Batista distingue a reserva absoluta, que preconiza que a lei sempre advenha do debate democrático 
levado a efeito no Poder Legislativo e que somente ela estabeleça uma definição de todos os elementos do 
tipo penal, da reserva relativa, que admite a existência de normas penais incriminadores advindas de outras 
fontes de produção normativa. Sob o ponto de vista da reserva absoluta, seria questionável a 
constitucionalidade das normas penais em branco. 
Diante do princípio da reserva legal, surgem questionamentos acerca da possibilidade de se prever crimes e 
contravenções penais por meio de medidas provisórias e delegadas: 
 
 Pode medida provisória prever crimes? 
Antes da Emenda Constitucional nº 32, de 2001, a doutrina debatia a possibilidade de medida provisória 
veicular a configuração de infrações penais. Vários doutrinadores se posicionavam contrariamente, devido à 
necessidade de maior controle popular sobre matéria que afeta diretamente os direitos e garantias 
fundamentais, inclusive a liberdade. 
Com o advento da referida emenda, a Constituição passou a tratar especificamente do tema: 
Art. 62, § 1º: É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: 
I – relativa a: 
(...) 
b) direito penal, processual penal e processual civil (...) 
Com isso, ficou claro que não se pode editar medida provisória com a introdução de novos tipos penais no 
ordenamento jurídico. Entretanto, e se tratarmos de normas não incriminadoras, ou seja, aquelas que 
cuidam da Matéria de Direito Penal, mas não determinam que condutas sejam consideradas crimes ou 
contravenções penais? 
O Supremo Tribunal Federal enfrentou o tema ao julgar o RE 254.818/PR (Veja o teor em “Destaques da 
Legislação e da Jurisprudência”, abaixo). Neste julgado, o Tribunal Pleno entendeu que é possível a edição 
de medida provisória, caso se trate de norma penal não incriminadora. Entretanto, este caso foi julgado 
antes da EC 32/2001. 
Após a EC 32/2001, o STF não enfrentou o tema diretamente. Entretanto, já se deparou com o 
assunto, ao tratar das medidas provisórias que estenderam o prazo para os possuidores e 
proprietários de armas de fogo as regularizarem ou as entregarem às autoridades competentes. 
Esta modificação do prazo teve reflexos direitos no Direito Penal, por ter sido um período de 
descriminalização temporária das condutas típicas de “possuir ou ser proprietário” de arma de 
fogo. Ainda que não enfrentando o tema diretamente, o Supremo Tribunal Federal não levantou 
nenhuma inconstitucionalidade por essas medidas provisórias tratarem de matéria penal, mesmo após a EC 
32/2001. Vale registrar que, também neste caso, as medidas provisórias tratavam, de certo modo, de Direito 
Penal não incriminador. 
Em linha de conclusão, medida provisória não pode prever crime. Entretanto, a jurisprudência do STF aponta 
uma tendência para se aceitar medida provisória que trate de Direito Penal não incriminador, ou seja, que 
cuide de matéria penal, mas não preveja novos crimes nem potencialize o poder punitivo estatal. 
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 Pode lei delegada prever crime? 
Ao tratar sobre as leis delegadas, a Constituição prevê, em seu artigo 68, §1º, o seguinte: 
Art. 68 (...) 
 § 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de 
competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei 
complementar, nem a legislação sobre: 
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais 
Da leitura deste dispositivo, a doutrina conclui que não é possível que lei delegada veicule crimes ou 
contravenções criminais. 
Primeiro, porque para parte da doutrina a reserva legal exige lei ordinária ou complementar proveniente da 
União, não sendo possível entender que a lei delegada supre esta exigência. Este argumento não parece 
muito convincente. 
Em segundo lugar, não é possível que lei delegada preveja crimes devido à vedação de delegação de 
legislação sobre direitos individuais. Como o Direito Penal representa a disciplina jurídica com as sanções de 
maior influência nos direitos individuais, podendo, inclusive, limitar de forma bem drástica a liberdade do 
condenado, não é possível que medida provisória introduza novas infrações penais no ordenamento jurídico. 
Esta linha de raciocínio parece mais consistente, demonstrando a inadequação de lei delegada em matéria 
de Direito Penal. 
Portanto, não se admite lei delegada que preveja novos crimes ou contravenções penais. 
 
3.4.1. Legalidade formal e material 
a) Formal: a legalidade formal diz respeito ao devido processo legislativo. Não basta que haja lei, é necessário 
que seja uma lei vigente. 
b) Material: a legalidade material se relaciona ao conteúdo da lei, exigindo que haja respeito à Constituição 
Federal e aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Não basta uma lei vigente, é preciso que também 
seja uma lei válida. 
 
3.4.2. Taxatividade e analogia 
A lei penal deve ter como atributo a taxatividade, ou seja, prever exatamente aquilo que é considerado 
infração penal. Essa exigência de que a lei seja taxativa decorre da legalidade e do princípio da segurança 
jurídica, pois os cidadãos, destinatários da norma, devem ter conhecimento prévio de qual conduta configura 
uma infração penal e qual comportamento não enseja repressão penal. Exige-se, portanto, que haja lei 
formal, vigente e válida, mas não basta. Deve existir uma lei precisa. 
Neste âmbito, cumpre relembrar o que vimos na nossa aula introdutória acerca da analogia. A analogia é 
técnica de integração em caso de lacuna na legislação. Utiliza-se uma norma que veicula situação distinta 
para disciplinar caso similar, não compreendido no seuâmbito de regulação. Devido à exigência de 
taxatividade da norma penal, é vedada a analogia in malam partem. Não se pode utilizar uma norma, por 
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analogia, para estender o poder punitivo estatal para além do que a lei efetivamente prevê. Deste modo, só 
se admite a analogia em favor do réu, ou seja, in bonam partem. 
 
3.4.3. Taxatividade, determinação e descrição genérica 
Os tipos penais devem ser claros e certos, e não indeterminados, imprecisos, ambíguos. Como dito acima, 
essa é uma exigência da taxatividade, que decorre do princípio da legalidade. Deste modo, não respeita o 
princípio da legalidade um tipo penal que seja vago ou impreciso, em cujo conteúdo se possa incluir conduta 
não prevista de forma previsível para seus destinatários. É preciso que a lei penal seja certa, determinada. 
Daí a afirmação de Hans Welzel, de que o autêntico perigo que ameaça o princípio do nulla poena sine lege 
não é a analogia, mas as leis penais indeterminadas. 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem decidido que o princípio da legalidade requer formulação 
da tipificação penal de forma expressa, precisa, taxativa e prévia. Assim, no caso Castillo Petruzzi e outros, 
definiu, de forma didática, que: 
A Corte entende que na elaboração dos tipos penais é preciso utilizar termos estritos e unívocos, que 
delimitem claramente as condutas puníveis, dando pleno sentido ao princípio da legalidade penal. 
Este enseja uma clara definição da conduta incriminada, que fixe seus elementos e permita afastá-la 
de comportamentos não puníveis ou conduta ilícitas sancionáveis com medidas não criminais. A 
ambiguidade na formulação dos tipos penais gera dúvidas e abre espaço para o arbítrio da 
autoridade, particularmente indesejável quando se trata de estabelecer a responsabilidade penal dos 
indivíduos e sancioná-la com penas que afetam severamente bens fundamentais, como a vida ou a 
liberdade. (tradução livre). 
Apesar de haver divergências, apontam-se como exceção os tipos abertos dos crimes culposos. Cumpre 
anotar que essa concepção, de que os tipos culposos são abertos3, não é unânime na doutrina. A culpa pode 
ter como modalidades a imprudência, a imperícia ou a negligência. Ainda que esta matéria seja vista em 
outra aula, pelas modalidades de culpa já podemos perceber que não há uma definição muito fechada. O 
que é imprudência? O que seria um caso de imperícia? Quais são as hipóteses de negligência? 
Não é possível dar uma resposta precisa sobre os limites da imprudência, aquilo que a configura e aquilo que 
não a configura. Mesmo nesse caso, exige-se um mínimo de determinação, um meio-termo. Sendo o 
elemento subjetivo (a culpa) um termo de definição menos precisa, os demais elementos do tipo devem 
estar previstos de forma determinada, sem ambiguidades. 
Isto não significa que os tipos abertos são vedados, já que se exige lei penal incriminadora 
que seja certa e determinada. Admitem-se os tipos abertos, como os dos crimes culposos, 
mas exige-se um mínimo de determinação. O tipo penal não pode prever ser crime, por 
exemplo, uma conduta imprópria em uma audiência do Judiciário, pois não é possível 
conceber, com segurança jurídica, que condutas seriam passíveis de responsabilização 
criminal. 
 
3 A maioria dos crimes culposos possuiriam tipos abertos, como no caso do homicídio culposo, cuja norma se limita a estatuir que: 
“Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos”. O tipo não seria aberto no caso da receptação culposa, que possui 
definição da conduta típica. 
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Cabe, neste ponto, registrar que existem leis penais incompletas, aquelas que dependem de complemento, 
sendo que a doutrina majoritária defende sua compatibilidade com o princípio da legalidade. As normas com 
tipos abertos constituem uma das espécies de leis penais incompletas, ao lado das leis penais em branco. 
Vejamos a subdivisão das normas incompletas: 
 
 
 
A incompletude da norma pode decorrer de se exigir uma outra norma ou um complemento 
valorativo para sua aplicação. Deste modo, se uma norma não exige complementação (nem 
normativa nem valorativa), teremos uma lei penal completa. 
Se a norma incompleta depende do complemento valorativo, nós temos um tipo aberto. É o 
caso dos tipos dos crimes culposos, acima mencionados. Um homicídio culposo praticado por 
imprudência, depende, por exemplo, da definição do complemento valorativo “imprudência”. 
Só após definirmos o que se entenderá por imprudência e seus limites no ordenamento, será possível a 
aplicação da norma. 
Por outro lado, se a norma incompleta depende de complemento normativo, ou seja, da conjugação com 
outra norma para ser aplicada, há o que se denomina de norma penal em branco. A norma penal em branco 
é aquela que exige a utilização de outra para que seja possível sua aplicabilidade. Vamos estudar este tipo 
de norma de forma mais detida. 
3.4.4. Norma penal em branco: 
Norma penal em branco, como visto, é aquela que depende de complementação normativa. Classifica-se 
em: 
 Própria, em sentido estrito ou heterogênea: quando o seu complemento está em norma de fonte 
normativa diversa, ou seja, não está prevista em lei em sentido formal. 
Vamos ao exemplo, com a leitura do artigo 33, caput, da Lei 11.343/2006: 
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, 
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a 
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consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar: 
 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e 
quinhentos) dias-multa. 
Da leitura do tipo penal, é possível perceber que ele não é completo. Não se pode, da sua simples leitura, 
definir se alguém praticou ou não o crime, pois é preciso entender o que são drogas. 
Somente com a leitura da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998, e suas posteriores modificações, 
da ANVISA, é possível entender o que é considerado droga para os fins do tipo penal insculpido no artigo 33 
da Lei 11.343/2006. Por ser o complemento normativo uma portaria, o caso é de norma penal em branco 
própria, em sentido estrito ou heterogênea. 
 
 Imprópria, em sentido amplo ou homogênea: é a norma penal incompleta cujo complemento 
provém da mesma fonte normativa, ou seja, de lei em sentido formal. 
Há uma subdivisão, podendo a norma penal em branco imprópria ser homovitelina ou heterovitelina. 
 
a) Homovitelina: caso o complemento normativo esteja no mesmo documento legal, a norma penal 
em branco homogênea será denominada homovitelina. 
Como exemplo, temos o caso do art. 312, complementado pelo art. 327, ambos do Código Penal 
(mesmo diploma legal): 
Peculato 
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público 
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
O conceito de funcionário público, que é o complemento normativo necessário para a aplicação da 
norma acima transcrito, está previsto no mesmo diploma normativo, o Código Penal. Vejamos o que 
define o artigo 327 do referido estatuto: 
Funcionário público 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente 
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade 
paraestatal, e quem trabalhapara empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a 
execução de atividade típica da Administração Pública. 
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo 
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da 
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo 
poder público. 
Portanto, a norma penal incompleta (artigo 312 do CP) e o conceito de funcionário público que ela 
requer (artigo 327 do CP) estão no mesmo diploma normativo (o Código Penal). Por isso, temos uma 
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norma penal em branco imprópria ou homogênea (o complemento está em norma da mesma fonte 
legislativa,a lei) e homovitelina (o complemento está na mesma lei). 
 
b) Heterovitelina: caso o complemento normativo da lei penal em branco homogênea esteja situado 
em documento legal diverso, será denominada de heterovitelina. 
Um exemplo que pode ser citado é o do artigo 236 do Código Penal, cujo complemento é encontrado 
no artigo 1.521 do Código Civil. Portanto, são documentos legais diversos. 
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento 
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe 
impedimento que não seja casamento anterior: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada 
senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o 
casamento. 
Para que compreendamos o que é impedimento matrimonial, devemos recorrer ao Código Civil, cujo 
artigo 1.521 possui o seguinte teor, que complementa a norma penal acima: 
CAPÍTULO III 
Dos Impedimentos 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu 
consorte. 
Assim, verificamos que a norma penal incompleta (artigo 236 do CP) e o conceito de impedimento 
matrimonial que ela requer (artigo 1.521 do CC) não estão no mesmo diploma normativo. Por isso, 
temos uma norma penal em branco imprópria ou homogênea (o complemento está em norma da 
mesma fonte legislativa, a lei) e heterovitelina (o complemento está em lei diversa: Código Civil, 
enquanto o tipo está no Código Penal). 
 
 Norma penal em branco ao quadrado: é aquela cujo complemento também necessita de 
complemento de outra norma. O exemplo seria o artigo 38 da Lei 9.605/98: 
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em 
formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: 
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. 
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Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. 
O complemento normativo, com a definição de floresta de preservação permanente, está no Código 
Florestal. O artigo 60 de referido Estatuto trata da floresta de preservação permanente, nos seguintes 
termos: 
Art. 6º Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por 
ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação 
destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades: 
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha; 
II - proteger as restingas ou veredas; 
III - proteger várzeas; 
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção; 
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico; 
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; 
VII - assegurar condições de bem-estar público; 
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares. 
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. 
Portanto, a norma penal, prevista no Código Penal, faz referência ao Código Florestal, o qual, por sua vez, se 
refere a um ato do Chefe do Poder Executivo. Por isso, considera-se um exemplo de norma penal em branco 
ao quadrado. 
 
 Invertida ou ao revés: A nomenclatura mais utilizada para essa situação é de tipo remetido: é possível 
encontrar norma penal cujo complemento seja necessário para o seu preceito secundário. 
Relembrando, o preceito primário da norma é aquele que prevê o tipo penal, a conduta que configura 
o crime (exemplo: “matar alguém”). O preceito secundário traz a sanção penal cominada para o delito 
(exemplo: “Pena – reclusão, de seis a vinte anos”). Então, o complemento aqui exigido é para a 
definição da própria sanção penal. 
Um exemplo de norma penal em branco ao revés é o crime de genocídio, previsto pela Lei 2.889/56. Seus 
tipos penais remetem às sanções já previstas para os crimes tratados pelo Código Penal: 
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou 
religioso, como tal: 
a) matar membros do grupo; 
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; 
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a 
destruição física total ou parcial; 
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; 
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; 
Será punido: 
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Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; 
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; 
Com as penas do art. 270, no caso da letra c; 
Com as penas do art. 125, no caso da letra d; 
Com as penas do art. 148, no caso da letra e; 
 
(FCC/SEGEP-MA/Auditor Fiscal da Receita Estadual/2016) O princípio do direito penal que possui claro 
sentido de garantia fundamental da pessoa, impedindo que alguém possa ser punido por fato que, ao tempo 
do seu cometimento, não constituía delito é 
 
a) atipicidade. 
b) reserva legal. 
c) punibilidade. 
d) analogia. 
e) territorialidade. 
Comentários 
A assertiva correta é a letra B. 
O princípio que impede que alguém seja punido por fato que, ao tempo de seu cometimento, não constituía 
delito, é o da legalidade, mais precisamente o seu corolário (princípio decorrente), a anterioridade. 
Entretanto, alguns autores usam os termos legalidade e reserva legal como sinônimos. 
Na nomenclatura mais utilizada, como estudamos, da legalidade decorrem a anterioridade e a reserva legal. 
De todo modo, usar o termo reserva legal para se referir à legalidade é algo frequente na doutrina. 
 
3.5. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA (ULTIMA RATIO) 
O princípio da intervenção mínima preconiza que só se deve criminalizar uma conduta se houver necessidade 
para a proteção do bem jurídico. O Direito Penal só deve atuar se os outros meios de controle social foram 
insuficientes, possuindo, portanto, caráter subsidiário, de ultima ratio. Isto é, o Direito Penal só deve ser 
invocado, com a criação de um tipo penal, se os demais ramos do Direito não forem suficientes para coibir 
a conduta indesejada. Ademais, só se deve utilizar uma norma penal para punir condutas que afrontem os 
bens jurídicos mais importantes para a sociedade, e não para a proteção de qualquer interesse social. 
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Referido princípio pode ser encontrado em um antigo documento da história da 
humanidade. Ele foi consagrado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da 
França, de 1789: 
Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e 
ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do 
delito e legalmente aplicada. 
Percebam que o histórico documento exige que as penas impostas por lei sejam estritamente necessárias, o 
que demonstra que, se forem desejadas, mas puderem ser substituídas por meios menos gravosos, o Direito 
Penal não deve incidir. Exige-se mais, pois o texto também enfatiza que as penas, que são a resposta do 
Direito Penal aos crimes cometidos por indivíduos imputáveis, devem ser evidentemente necessárias, ou 
seja, deve ser perceptível por todos a sua necessidade, demonstrando ainda mais o caráter de ultima ratio 
da intervenção criminal. 
A título de observação, cabe registrar que o alemão Winfried Hassemer defende que se 
trabalhe com um Direito Funcional para o combate da criminalidade atual. Seria um 
funcionalismo social, limitado por sua utilidade social e respeitador dos limites impostos 
pelo Estado Democrático de Direito. Segundo seu ponto de vista, o Direito Penal não deve 
ser utilizado para a gestão dos riscos, mas sim para as graves violações aos bens jurídicos 
mais relevantes da sociedade. O autor entende que o Código Penal se restrinja a um 
Direito Penal nuclear, com lesões aos bens jurídicos clássicos e perigos graves e visíveis. Observa, então, que 
em casos como os dos crimes ambientais, espera-se que o Direito Penal atue como sola ratio ou prima ratio, 
dando uma resposta efetiva e célere para a questão. A solução para o problema seria a utilização, em casos 
como esses em que a sociedade espera uma sanção aplicada rapidamente, de um ramo situado entre o 
Direito Penal e o Administrativo, entre o Direito Civil e o Direito Público, que seria um Direito de Intervenção. 
Referido ramo teria garantias e normas processuais menos rígidas do que o Direito Penal, mas, ao mesmo 
tempo, seria dotado de sanções menos intensas. Seria um direito normativamente menos grave, mas mais 
adequado para coibir os novos comportamentos indesejáveis na sociedade atual. 
Do princípio da intervenção mínima, decorrem os princípios da fragmentariedade e da subsidiariedade, a 
serem estudados na sequência: 
 
 
 
 
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3.6. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE 
Segundo o princípio da fragmentariedade, o Direito Penal só deve criminalizar as condutas mais graves que 
sejam praticadas contra os bens jurídicos mais importantes. Possui, portanto, caráter fragmentário. Se 
imaginarmos todos os bens jurídicos descritos em um quadro, o destaque dos bens jurídicos protegidos pelo 
Direito penal deve demonstrar que eles constituem fragmentos do todo, ou seja, só parte dos bens jurídicos 
são tutelados pelas normas penais incriminadoras. 
Não se deve punir, de igual modo, ações meramente imorais. O Direito Penal não deve se preocupar com a 
moralidade pública, no sentido de inibir comportamentos tidos como inaceitáveis do ponto de vista da moral 
particular de determinado grupo social ou de eventual pensamento majoritário. As sanções penais se 
prestam a apresentar a resposta estatal aos comportamentos que violem os bens jurídicos mais relevantes 
da sociedade, aqueles que demonstrem ser de importância primordial para determinada população. 
Pode-se, dizer, com base neste princípio, que há a exclusiva proteção de bens jurídicos pelo Direito Penal. 
A seleção dos bens jurídicos mais importantes para a sociedade, a serem tutelados pelas normas penais, 
deve ser feita pela lei formal, em consonância, obviamente, com o que estabelece a Constituição da 
República. 
Neste ponto, cabe a leitura de acórdão do STF, em que não se reconheceu a incidência deste princípio para 
se considerar atípica conduta configuradora do tipo de casa de prostituição: 
(...) 1. No crime de manter casa de prostituição, imputado aos Pacientes, os bens jurídicos protegidos 
são a moralidade sexual e os bons costumes, valores de elevada importância social a serem 
resguardados pelo Direito Penal, não havendo que se falar em aplicação do princípio da 
fragmentariedade. 2. Quanto à aplicação do princípio da adequação social, esse, por si só, não tem o 
condão de revogar tipos penais. Nos termos do art. 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro (com alteração da Lei n. 12.376/2010), ‘não se destinando à vigência temporária, a lei terá 
vigor até que outra a modifique ou revogue’. 3. Mesmo que a conduta imputada aos Pacientes fizesse 
parte dos costumes ou fosse socialmente aceita, isso não seria suficiente para revogar a lei penal em 
vigor. 4. Habeas corpus denegado. (STF, HC 104.467/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 09/03/2011). 
 
3.7. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
O princípio da subsidiariedade, decorrente da intervenção mínima, determina que, para coibir condutas 
consideradas indesejadas pela sociedade, devem ser utilizados, com preferência, os demais ramos do Direito, 
e não o Penal. Deste modo, só se deve recorrer à criminalização como forma de coibir determinado 
comportamento se as demais sanções (cíveis, administrativas, eleitorais etc.) não forem suficientes para a 
salvaguarda do bem jurídico. 
Assim, o Direito Penal é subsidiário, ou seja, o último recurso do Estado, a ultima ratio quando se deseja 
punir determinada conduta tida por perniciosa no seio social. Havendo a possibilidade de uma multa de 
trânsito, por exemplo, resolver o problema e inibir um comportamento indesejado, não se deve criar um 
tipo penal, já que uma pena seria, então, desnecessária para o fim a que se destina. 
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(FCC/TJ-SC/Juiz Substituto/2015) A afirmação de que o Direito Penal não constitui um sistema exaustivo de 
proteção de bens jurídicos, de sorte a abranger todos os bens que constituem o universo de bens do 
indivíduo, mas representa um sistema descontínuo de seleção de ilícitos decorrentes da necessidade de 
criminalizá-los ante a indispensabilidade da proteção jurídico-penal, amolda-se, mais exatamente, 
 
a) ao conceito estrito de reserva legal aplicado ao significado de taxatividade da descrição dos modelos 
incriminadores. 
b) à descrição do princípio da fragmentariedade do Direito Penal que é corolário do princípio da intervenção 
mínima e da reserva legal. 
c) à descrição do princípio da culpabilidade como fenômeno social. 
d) ao conteúdo jurídico do princípio de humanidade relacionado ao conceito de Justiça distributiva. 
e) à descrição do princípio da insignificância em sua relativização na busca de mínima proporcionalidade 
entre gravidade da conduta e cominação de sanção. 
Comentários 
A assertiva correta é a letra B. 
A seleção de bens jurídicos a serem tutelados pelo Direito Penal diz respeito ao princípio da intervenção 
mínima, do qual decorre o princípio da fragmentariedade. 
Pode-se dizer que o principio da fragmentariedade também decorre da reserva legal? Sim, porque é a lei 
(sem sentido formal) que fará a seleção dos bens jurídicos a serem tutelados. 
 
3.8. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 
O princípio da adequação social determina que o Direito Penal só deve considerar criminoso um fato que 
contrarie o sentimento de justiça da comunidade. As condutas socialmente aceitas e que não afrontam a 
Constituição Federal devem ser excluídas do âmbito da norma. Só se punem condutas que tenham certa 
relevância social. Tratar-se-ia, portanto, de princípio geral de interpretação, fazendo com que se proceda a 
uma leitura dos tipos penais de acordo com o seu filtro, analisando se, a despeitode típicas, as condutas 
encontram ou não adequação ao que a sociedade como um todo entende como justo. Para um 
entendimento minoritário, seria, por conseguinte, uma causa supralegal de exclusão da tipicidade, 
excluindo do âmbito de incidência da norma penal incriminadora condutas aceitas e toleradas pela 
sociedade. 
A doutrina aponta como exemplo o caso do jogo do bicho, em que se poderia diferenciar o pequeno 
apontador, que trabalha ilegalmente com o jogo sem grandes lucros, e o banqueiro, que se aproveita de um 
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sistema organizado e dotado de capilaridade para auferir proveitos financeiros vultosos. A conduta do 
apontador, de módicos ganhos, estaria já aceita pela sociedade, que se acostumou aos jogos de bicho e 
muitas vezes sabe onde as apostas são feitas, mas que ainda pode se indignar com o banqueiro que se 
enriquece deste modo. Não se trata de caso com acolhida pela jurisprudência. 
Um exemplo menos controvertido é o do furo feito na orelha de bebês para aposição de brincos. O bebê não 
pode dar seu consentimento à prática. Entretanto, não se cogita de lesão corporal nem de maus tratos se a 
família opta pelos furos nas orelhas do recém-nascido. É um costume social que já possui uma aceitação tão 
forte na sociedade que sua prática não causa qualquer indignação ou sentimento de afronta. Deste modo, 
entendido assim o princípio da adequação social, a conduta nem típica seria considerada, já que o tipo penal 
deve ser relido de acordo com o sentimento de justiça da sociedade. 
É interessante a leitura do seguinte acórdão, que afastou a adequação social no caso de estupro de 
vulnerável, em virtude de aceitação da sociedade legal quanto ao namoro entre um adulto e uma menor de 
quatorze anos: 
(...) 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça assentou o 
entendimento de que, sob a normativa anterior à Lei nº 12.015/09, era absoluta a presunção de 
violência no estupro e no atentado violento ao pudor (referida na antiga redação do art. 224, "a", do 
CPB), quando a vítima não fosse maior de 14 anos de idade, ainda que esta anuísse voluntariamente 
ao ato sexual (EREsp 762.044/SP, Rel. Min. Nilson Naves, Rel. para o acórdão Ministro Felix Fischer, 3ª 
Seção, DJe 14/4/2010). 2. No caso sob exame, já sob a vigência da mencionada lei, o recorrido manteve 
inúmeras relações sexuais com a ofendida, quando esta ainda era uma criança com 11 anos de idade, 
sendo certo, ainda, que mantinham um namoro, com troca de beijos e abraços, desde quando a 
ofendida contava 8 anos. 3. Os fundamentos empregados no acórdão impugnado para absolver o 
recorrido seguiram um padrão de comportamento tipicamente patriarcal e sexista, amiúde observado 
em processos por crimes dessa natureza, nos quais o julgamento recai inicialmente sobre a vítima da 
ação delitiva, para, somente a partir daí, julgar-se o réu. 4. A vítima foi etiquetada pelo "seu grau de 
discernimento", como segura e informada sobre os assuntos da sexualidade, que "nunca manteve 
relação sexual com o acusado sem a sua vontade". Justificou-se, enfim, a conduta do réu pelo 
"discernimento da vítima acerca dos fatos e o seu consentimento", não se atribuindo qualquer relevo, 
no acórdão vergastado, sobre o comportamento do réu, um homem de idade, então, superior a 25 anos 
e que iniciou o namoro - "beijos e abraços" - com a ofendida quando esta ainda era uma criança de 8 
anos. 5. O exame da história das ideias penais - e, em particular, das opções de política criminal que 
deram ensejo às sucessivas normatizações do Direito Penal brasileiro - demonstra que não mais se 
tolera a provocada e precoce iniciação sexual de crianças e adolescentes por adultos que se valem da 
imaturidade da pessoa ainda em formação física e psíquica para satisfazer seus desejos sexuais. 6. De 
um Estado ausente e de um Direito Penal indiferente à proteção da dignidade sexual de crianças e 
adolescentes, evoluímos, paulatinamente, para uma Política Social e Criminal de redobrada 
preocupação com o saudável crescimento, físico, mental e emocional do componente infanto-juvenil 
de nossa população, preocupação que passou a ser, por comando do constituinte (art. 226 da C.R.), 
compartilhada entre o Estado, a sociedade e a família, com inúmeros reflexos na dogmática penal. 7. 
A modernidade, a evolução moral dos costumes sociais e o acesso à informação não podem ser vistos 
como fatores que se contrapõem à natural tendência civilizatória de proteger certos segmentos da 
população física, biológica, social ou psiquicamente fragilizados. No caso de crianças e adolescentes 
com idade inferior a 14 anos, o reconhecimento de que são pessoas ainda imaturas - em menor ou 
maior grau - legitima a proteção penal contra todo e qualquer tipo de iniciação sexual precoce a que 
sejam submetidas por um adulto, dados os riscos imprevisíveis sobre o desenvolvimento futuro de sua 
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personalidade e a impossibilidade de dimensionar as cicatrizes físicas e psíquicas decorrentes de uma 
decisão que um adolescente ou uma criança de tenra idade ainda não é capaz de livremente tomar. 8. 
Não afasta a responsabilização penal de autores de crimes a aclamada aceitação social da conduta 
imputada ao réu por moradores de sua pequena cidade natal, ou mesmo pelos familiares da ofendida, 
sob pena de permitir-se a sujeição do poder punitivo estatal às regionalidades e diferenças 
socioculturais existentes em um país com dimensões continentais e de tornar írrita a proteção legal e 
constitucional outorgada a específicos segmentos da população. 9. Recurso especial provido, para 
restabelecer a sentença proferida nos autos da Ação Penal n. 0001476-20.2010.8.0043, em tramitação 
na Comarca de Buriti dos Lopes/PI, por considerar que o acórdão recorrido contrariou o art. 217-A do 
Código Penal, assentando-se, sob o rito do Recurso Especial Repetitivo (art. 543-C do CPC), a seguinte 
tese: Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput, do Código 
Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com pessoa 
menor de 14 anos. O consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a existência 
de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime. (STJ, REsp 
1480881/PI, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Terceira Seção, DJe 10/09/2015). 
O STJ também afasta a aplicação do princípio no caso da venda de CDs e DVDs “piratas”, falsificados: 
(...) 2. Consoante jurisprudência pacificada deste Superior Tribunal de Justiça, não se aplica o princípio 
da adequação social à conduta de vender cd's e dvd's falsificados, sendo, portanto típica, formal e 
materialmente, nos termos do artigo 184, § 2º, do Código Penal. (...) (STJ, AgRg no REsp 1351687/AC, 
Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 18/10/2017). 
Atualmente, o enunciado 502 da Súmula do STJ dispõe que: 
Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, 
do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas 
 
3.9. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE 
O princípio da culpabilidade preconiza não haver crime sem culpabilidade. Isto é, não haver 
responsabilidade penal sem dolo ou culpa. Também é denominado princípio da 
responsabilidade subjetiva, em oposição à responsabilidade penal objetiva, vedada em nosso 
ordenamento jurídico. 
Neste ponto, cumpre enfatizar que culpabilidade pode ser elemento do crime (crime, para a 
teoria tripartida, é fato típico, ilícito e culpável), elemento de determinação da pena (a pena 
deve ser individualizada na medida da culpabilidade de cada sujeito) e vedação da responsabilidade objetiva 
(exigência de dolo ou culpa). Aqui, como princípio, nos referimos à culpabilidadecomo vedação à 
responsabilidade penal objetiva. 
Cumpre observar, ainda, que a doutrina distingue o chamado Direito Penal do Autor e o Direito Penal do 
Fato. No Direito Penal do Autor, julga-se o indivíduo por aquilo que ele é. No Direito Penal do Fato, o que se 
busca é o julgamento dos fatos que o indivíduo teria cometido. Não se adota no Brasil de forma irrestrita o 
Direito Penal do Autor, por ser odioso, ao buscar o julgamento do indivíduo por sua personalidade, e não 
por aquilo que fez. 
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Dentro deste enfoque, a doutrina distingue a culpabilidade pelo fato individual e a culpabilidade do autor. 
A culpabilidade pelo fato individual se volta ao desvalor do fato praticado, analisando-se o modo de execução 
e as circunstâncias do crime, por exemplo. Já a culpabilidade do autor valora o sujeito ativo do delito, em 
razão de sua conduta social, personalidade e antecedentes. Na dosimetria da pena adotada pelo Código 
Penal, encontramos a adoção de ambas as espécies de culpabilidade, com análise das duas para fixação da 
sanção penal. 
Neste ponto, como princípio fundamental do Direito Penal, estamos tratando da vedação da 
responsabilidade objetiva, aquela que não exige a análise do elemento subjetivo. Ante tal vedação, só se 
pode falar em responsabilização criminal no caso de apuração do dolo ou culpa do indivíduo para que haja 
sua punição. Sem culpa em sentido amplo (dolo ou culpa em sentido estrito), não pode haver imposição de 
sanção penal. 
Um exemplo doutrinário de aplicação do princípio da culpabilidade é o caso de uma facada desferida em um 
hemofílico, sem que o agente saiba desta condição. Ora, tendo atingido a vítima de forma não letal, no seu 
braço, ele pretendia apenas causar lesão corporal. Deste modo, se não se comprovar que procedeu com dolo 
ou culpa, não responderá pelo resultado morte, mas apenas pela lesão corporal. O caso concreto deve ser 
analisado, de toda forma, para se concluir se o agente atuou ou não com alguma modalidade de culpa. 
Alguns autores, em uma posição que parece minoritária, defendem haver resquícios de responsabilidade 
penal objetiva em nosso ordenamento jurídico: 
 
Actio libera in causa: no caso de embriaguez completa não acidental, o agente, no momento da prática 
do delito, pode não ser capaz de compreender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. Com isso, em uma análise consequencial, não haveria, para alguns autores, o 
próprio elemento subjetivo. Se o agente está totalmente entorpecido, não pode ter atuado com 
vontade livre e consciente de praticar a conduta típica. Não é, contudo, o entendimento que prevalece. 
A maior parte dos doutrinadores analisa a culpabilidade e, até mesmo, o elemento subjetivo do agente 
em momento anterior, sendo que a atuação do agente foi livre na sua atuação que desencadeou sua 
conduta posterior, ou seja, a ação foi livre na causa, quando ele decidiu se embriagar. 
Aberratio ictus: referida modalidade de erro, que se configura quando por acidente ou erro no uso dos 
meios de execução, ocorre quando o agente quer atingir uma pessoa, mas atinge outra. É o caso da 
mulher que envenena a sopa e deixa para sua patroa, mas uma colega chega um dia antes do retorno 
de férias e consome o alimento, por acidente. Alguns penalistas entendem que seria uma 
responsabilidade objetiva, já que a mulher não quis matar sua colega e responderá por homicídio 
doloso, nos termos do artigo 73 do Código Penal. 
Rixa qualificada: no caso do crime de rixa, o parágrafo único do artigo 137 do CP determina que, se 
ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena 
de detenção, de seis meses a dois anos. Ou seja, pelo simples fato de que o agente participou do crime 
de rixa, a ele poderia ser imputado o resultado mais grave, de modo a possibilitar a aplicação de pena 
pela modalidade qualificada do delito. A responsabilidade, para alguns, seria objetiva. Pode-se 
argumentar, por outro lado, que a participação na rixa, de forma dolosa, criou condições para o 
resultado mais grave, o que tornaria possível a punição do agente, sem que se fale em ofensa ao 
princípio da culpabilidade. 
 
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3.10. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE 
Consoante o princípio da ofensividade ou da lesividade, não pode haver crime sem que haja conteúdo 
ofensivo a bens jurídicos. A repressão penal somente se justifica se houver lesão ou ameaça de lesão a um 
bem jurídico. 
Com base neste princípio, há doutrinadores que defendem a inconstitucionalidade dos crimes de 
perigo abstrato. Não se exige, nesses casos, a comprovação de perigo concreto a um bem 
jurídico, ou seja, de que o bem foi efetivamente exposto a risco. São exemplos destes crimes o 
porte ilegal de arma de fogo e a omissão de socorro. Não é necessário que o bem jurídico seja 
efetivamente posto em perigo, pois o perigo é presumido, possibilitando a punição de quem 
pratica a conduta típica. 
Esta posição, entretanto, não é acolhida pela jurisprudência, que vem entendendo serem constitucionais os 
crimes de perigo abstrato. 
“(...) 1. A jurisprudência é pacífica no sentido de reconhecer a aplicabilidade do art. 306 do Código de 
Trânsito Brasileiro – delito de embriaguez ao volante –, não prosperando a alegação de que o 
mencionado dispositivo, por se referir a crime de perigo abstrato, não é aceito pelo ordenamento 
jurídico brasileiro. 2. Esta Suprema Corte entende que, com o advento da Lei nº 11.705/08, inseriu-se a 
quantidade mínima exigível de álcool no sangue para se configurar o crime de embriaguez ao volante 
e se excluiu a necessidade de exposição de dano potencial, sendo certo que a comprovação da 
mencionada quantidade de álcool no sangue pode ser feita pela utilização do teste do bafômetro ou 
pelo exame de sangue, o que ocorreu na hipótese dos autos. (...)” (STF, RHC 110258/DF, Rel. Min. Dias 
Toffoli, Primeira Turma, Julgamento: 08/05/2012). 
“O acórdão recorrido está alinhado com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido 
de que ‘o tipo penal previsto no art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 10.826/2003 é crime de 
perigo abstrato, cuja necessidade de constrição penal se requer ante a proteção dos bens jurídicos como 
a segurança pública e a paz social, não havendo, portanto, de se afirmar sua inconstitucionalidade’ 
(ARE 822.177, Rel. Min. Gilmar Mendes).” (STF, ARE 1237663 AgR-segundo/PB, Rel. Min. Roberto 
Barroso, Primeira Turma, Julgamento: 13/12/2019). 
Nilo Batista4, que lhe dá uma conceituação bem abrangente, entende que o princípio da lesividade deve 
proibir a incriminação: 
 de uma atitude interna; 
 de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor; 
 de simples estados ou condições existenciais; 
 de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico. 
Do princípio da ofensividade, pode-se retirar outros dois subprincípios, que podem também ser entendidos 
como compreendidos no conceito da lesividade: 
Princípio do Fato ou da Responsabilidade pelo Fato: o Direito Penal não pode se ocupar dos pensamentos 
ou intenções. A conduta que deve ser coibida pelo direito penal é o fato que causa lesão ou ameaça de lesão 
ao bem jurídico, e não planejamentos e intenções presentes no íntimo do sujeito. 
 
4 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 12 ed. Rio de janeiro: Revan, 2011, p.225. 
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Princípio da Exclusiva Lesão ao Bem Jurídico: não compete ao Direito Penal tutelar valores puramente 
morais, éticos ou religiosos. Assim, o Direito Penal não deve ser utilizado para sancionar ideologias.(Entendo desnecessário mencionar os dois princípios acima, mas são enumerados para o caso de serem 
mencionados em algum certame). 
 
3.11. PRINCÍPIO DA AUTORRESPONSABILIDADE 
Segundo o princípio da autorresponsabilidade, os danos sofridos por alguém em virtude de seu 
comportamento livre, consciente e responsável só podem ser a ele imputados, e não a quem os tenha 
motivado. 
No campo do Direito Penal, a autorresponsabilidade veda a punição de alguém por ter sido estimulado por 
outrem a praticar uma conduta arriscada. A sociedade convive com riscos permitidos, como atividade 
profissional de limpeza de janelas de prédios muito altos ou a prática de esportes radicais. 
Imaginem que João estimule seu desafeto a comprar uma passagem de avião, desejando ardentemente que 
haja uma pane e ele faleça no acidente. Mesmo que o avião venha a cair, por uma falha do piloto que sequer 
sabia do desejo do João, este último não poderá ser responsabilizado. Isto porque ele incentivou que seu 
inimigo viajasse, mas os riscos de uma viagem são permitidos e aceitos pela sociedade. 
Suponham, ainda, que um sujeito presenteie sua namorada com um salto de bungee jump. Quando a moça 
salta, a corda se rompe e ela morre. O namorado, ainda que querendo o mal para sua namorada, não poderá 
ser responsabilizado, também porque se trata de uma decisão dela, livre e consciente, de assumir os riscos 
desta atividade radical. 
Por fim, imaginem que o agente desfere um golpe de faca no dedo da vítima que, sabendo ser grave o 
ferimento, não se medica. Segundo a doutrina, ele não poder ser responsabilizado por eventual óbito, se a 
doença não possuía o potencial de causar o óbito, decorrendo de uma conduta livre e consciente da vítima 
de não se tratar e deixar que a ferida infeccionasse e seu estado se agravasse. 
A ideia da autorresponsabilidade é estudada no âmbito da teoria da imputação objetiva, adotada pelos 
autores funcionalistas Günther Jakobs e Claus Roxin. 
 
3.12. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA 
O princípio da individualização da pena é a exigência de se respeitar a proporção entre a conduta praticada 
e a pessoa do autor. Veda-se, assim, a padronização de punições. Não pode haver uma pena padrão para 
todos aqueles que cometem homicídio, mas sim uma consideração das circunstâncias específicas de cada 
fato e a imposição de uma pena individualizada para cada agente. 
A individualização da pena abrange tanto a fixação da pena na sentença, dentro dos limites mínimo e 
máximo de pena, quanto seu cumprimento (execução), com análise do mérito para progressão de regime, 
livramento condicional, etc. O princípio deve, ainda, nortear o legislador na definição das sanções penais 
para os mais variados delitos, com correlação entre um e outro, e das normas penais que disciplinam a 
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execução da pena. O legislador não pode evitar que o juiz proceda à individualização da pena, tornando-a 
padronizada. 
Referido princípio está previsto no artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição: 
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: 
a) privação ou restrição da liberdade; 
b) perda de bens; 
c) multa; 
d) prestação social alternativa; 
e) suspensão ou interdição de direitos. 
Sobre a execução da pena, é importante analisar os seguintes trechos de julgados do STF a respeito da 
incidência da individualização da pena. A Corte deixou claro que não pode o legislador retirar o espaço do 
juiz na individualização da pena, sendo que o Judiciário deve definir o regime inicial de cumprimento da pena 
e as espécies de penas adequadas ao caso (substituição da pena privativa de liberdade por pena de multa ou 
pena restritiva de direitos). 
(...) 1. O processo de individualização da pena é um caminhar no rumo da personalização da resposta 
punitiva do Estado, desenvolvendo-se em três momentos individuados e complementares: o 
legislativo, o judicial e o executivo. Logo, a lei comum não tem a força de subtrair do juiz sentenciante 
o poder-dever de impor ao delinqüente a sanção criminal que a ele, juiz, afigurar-se como expressão 
de um concreto balanceamento ou de uma empírica ponderação de circunstâncias objetivas com 
protagonizações subjetivas do fato-tipo. Implicando essa ponderação em concreto a opção jurídico-
positiva pela prevalência do razoável sobre o racional; ditada pelo permanente esforço do julgador 
para conciliar segurança jurídica e justiça material. (...) 5. Ordem parcialmente concedida tão-somente 
para remover o óbice da parte final do art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expressão análoga 
“vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, constante do § 4º do art. 33 do mesmo diploma 
legal. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da proibição de substituição 
da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos; determinando-se ao Juízo da execução 
penal que faça a avaliação das condições objetivas e subjetivas da convolação em causa, na concreta 
situação do paciente. (STF, HC 97.256, Rel. Min. Ayres Brito, Pleno, DJ 16/12/2010) 
“Habeas corpus. Penal. Tráfico de entorpecentes. Crime praticado durante a vigência da Lei nº 
11.464/07. Pena inferior a 8 anos de reclusão. Obrigatoriedade de imposição do regime inicial fechado. 
Declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90. Ofensa à garantia 
constitucional da individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º da CF/88). Fundamentação necessária 
(CP, art. 33, § 3º, c/c o art. 59). Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto para 
o início de cumprimento da pena privativa de liberdade. Ordem concedida. (...) 5. Ordem concedida tão 
somente para remover o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada 
pela Lei nº 11.464/07, o qual determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida 
inicialmente em regime fechado“. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, 
da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da 
condenação por crime hediondo ou equiparado.” (STF, HC 111.840, Rel. Min. Dias Toffoli, Pleno, DJ 
17/12/2013) 
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O que o STF entendeu em ambos os casos acima transcritos é que o legislador não pode 
impedir que o juiz proceda à individualização da pena no caso concreto, atendendo às 
particularidades de cada fato e de cada processo em julgamento. Também não se pode 
retirar do Judiciário a possibilidade de analisar o comportamento do executado durante 
o cumprimento da pena, tornando-a individualizada, com deferimento de benefícios 
conforme o mérito do condenado. 
 
3.13. PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE OU DA CORRESPONSABILIDADE 
O princípio da coculpabilidade ou da corresponsabilidade é aquele que reconhece a participação da 
sociedade na responsabilidade pela prática de uma infração penal, em virtude da influência do meio social 
na formação do indivíduo e da desigualdade de oportunidades a que cada cidadão tem acesso. 
Trata-se de princípio rejeitada pela maioria da doutrina, por transferir, do sujeito ativo do crime para a 
sociedade, parcela da responsabilidade pelo fato criminoso. 
Entretanto, existe a possibilidade de seu reconhecimento na dosagem da sanção penal, atendendo-se 
também ao princípio da individualização da pena. Assim, devem ser tratados de modo diferente um sujeito 
que furta para poder auxiliar sua família a pagar uma dívida e aquele que, proveniente de uma classe 
privilegiada, comete o mesmo delito para aumentar sua riqueza. A possibilidade de o juiz atenuar a pena 
deriva de o artigo 66 do Código Penal prever a chamada atenuante genérica: 
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância

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