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Direito Ambiental no Âmbito Constitucional e no Espaço Urbano A tutela ao meio ambiente na Constituição e os diversos instrumentos para a proteção ambiental. Prof.° Pedro Curvello Saavedra Avzaradel 1. Itens iniciais Propósito Compreender, a partir de uma visão constitucional, o direito ambiental e seus princípios mais relevantes. Entender os instrumentos e a estrutura administrativa existentes para a implementação do direito ambiental. Conferir atenção especial a importantes instrumentos de gestão preventiva: o licenciamento e as avaliações de impacto ambiental. Preparação Antes de iniciar o estudo do conteúdo proposto, é importante ter em mãos: a Constituição brasileira de 1988; a Lei nº 6.938, de 1981; a Lei Complementar nº 140, de 2011; e as Resoluções nº 1/1986, 9/1987 e 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Objetivos Compreender a Proteção Constitucional do Meio Ambiente e os Princípios da Precaução e Prevenção. Descrever o papel dos órgãos e das entidades mais relevantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Distinguir as três licenças ambientais clássicas e o momento ideal para realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA). Introdução Neste tema, partiremos de uma visão constitucional a fim de compreender o direito ambiental e seus princípios mais relevantes (prevenção, precaução). Abordaremos as principais estruturas criadas para implementar a gestão ambiental do Estado. Isso inclui compreender o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), seus órgãos (como o CONAMA) e suas entidades (por exemplo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA) mais relevantes. Veremos ainda os principais instrumentos trazidos pela Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (Lei nº 6.938, de 1981) para implementar a gestão pública nessa área e concretizar os princípios mais importantes do direito ambiental. Ao final, detalharemos alguns dos instrumentos mais importantes, polêmicos e debatidos no direito ambiental: as licenças ambientais (a licença prévia, por exemplo), o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o seu Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). • • • 1. Proteção constitucional do Meio Ambiente e seus princípios Ligando os pontos Você sabe que a gestão ambiental é um tema que vem ganhando cada vez mais importância para as empresas? Sabia que saindo da esfera pública e entrando no radar das empresas privadas, a gestão ambiental se encaixa nos ESG - Environmental, Social and Governance (Ambiente, Social e Governança) e é a própria governança empresarial? Você seria capaz de fazer uma análise sobre um processo de licenciamento ambiental? Diante dessa questão, tão importante para a preservação do nosso planeta, vamos analisar o estudo de caso a seguir. O crescimento da indústria de aço trouxe a extração do minério de manganês (Mn) para o centro da discussão da preservação ambiental. O nosso país tem uma das maiores reservas de minério de Manganês do mundo, em Carajás – PA. A produção nacional é responsável por 68% de todo o minério de Mn extraído no Mundo e em 2018 alcançou a marca de 5.805.557 toneladas brutas (ANM, 2020). Essa indústria traz benefícios econômicos visíveis ao Pará, principalmente com seu crescimento. Contudo, os danos ambientais produzidos por essa extração são enormes: poluição do ar, das águas, inclusive lençol freático, e do solo. Para a exploração desse tipo de minério é necessário o licenciamento ambiental, que é um dos instrumentos mais importantes para controlar as atividades que afetam o meio ambiente. Para uma empresa obter uma licença ambiental, é necessário um estudo profundo dos impactos que sua atividade terá e como esse impacto vai ser mitigado durante a sua operação. Outra questão importante é como a empresa vai compensar esses dados, principalmente aos moradores que residem próximo ao empreendimento. Por fim, deve-se também indicar como a recuperação do meio ambiente será realizada após o fim das operações da organização, procurando já identificar seus custos e apresentar um plano para essa recuperação, inclusive em caso de acidentes e até mesmo de falência da empresa, com a contratação de seguros ambientais. O entendimento mais profundo dessa questão pode ser acompanhado pelo estudo encontrado em MAIA et. al. (2021), que mostra uma pesquisa documental de quatro empreendimentos de extração de Mn em Marabá (PA). Dos 04 empreendimentos com pedidos de licenciamento na plataforma SEMAS – SIMLAM Público, 02 empreendimentos são novos com pedido de Licença de Instalação e Operação (LIO) e os outros 02 empreendimentos são para a Renovação de Licença de Operação. O resultado da pesquisa mostrou que a primeira e a quarta empresas do estudo apresentaram 60% dos documentos necessários para a emissão da licença ambiental. Já a segunda e terceira empresas do estudo apresentaram 80% dos documentos anexados ao processo. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Com a chegada da CF88 ao ordenamento jurídico brasileiro, a proteção ambiental ganhou um destaque enorme. Ela foi alçada a categoria de bens tutelados pelo ordenamento jurídico. A CF88 também sistematizou a matéria ambiental e determinou o direito ao meio ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo, além de instituir a proteção do meio ambiente como princípio da ordem econômica, no art. 170. A criação de mecanismos de controle e proteção ambiental foi outro marco introduzido pela CF88, tornando-a conhecida como “Contribuição Verde”. Diante dessa questão da adoção da proteção do meio ambiente na CF88, quais os princípios mais relevantes você considera que a CF usa para construir o arcabouço jurídico Nacional? A Preservação e Proibição B Preservação e Precaução. C Constituição e Precaução D Constituição e Proibição. E Preservação e Reflorestamento. A alternativa B está correta. Os princípios que a CF88 levou em consideração em seu arcabouço jurídico de proteção ambiental foram a Preservação e a Precaução. A preservação ao privilegiar a natureza em detrimento do lucro e da exploração sem considerar as consequências, e a precaução ao terminar que para que um empreendimento seja realizado, é necessária uma série de estudos e documentos que comprovem a viabilidade ambiental do projeto, empreendimento. Questão 2 Quando pensamos em um arcabouço legal que rege o sistema de proteção ambiental do nosso país, vemos que ele é composto de regras e princípios. No caso em estudo, o que estamos aplicando são as regras. Para você, qual a diferença existente entre as regras e os princípios legais dentro do sistema de proteção ambiental nacional? A As regras, geralmente, possuem um comando abstrato e estipulam determinada conduta. Já os princípios são mais concretos do que as regras e apontam na direção de valores que podem ser concretizados de diversas formas. B As regras, geralmente, possuem um comando claro e estipulam determinada conduta. Os princípios também são concretos e apontam na direção de valores que só podem ser concretizados de uma forma, cumprindo a regra. C As regras, geralmente, possuem um comando claro e estipulam determinada conduta. Já os princípios são mais abstratos do que as regras e apontam na direção de valores que podem ser concretizados de diversas formas. D As regras, geralmente, possuem um comando abstrato e estipulam determinada conduta. Já os princípios são concretos e apontam na direção de valores que só podem ser concretizados de uma forma, cumprindo a regra. E “As regras possuem comando concreto, mas que nunca estipulam conduta. Os princípios, por sua vez, possuem comando concreto e que estipulam condutas. A alternativa C está correta. As regras são exatamente a concretização dos princípios. Elas são os princípios colocados em prática, gerando ações no mundo real e não apenas ideias em um mundo abstrato. Ao se aplicar as regras e cumpri-las, estamos tornando os princípios palatáveisomitam ou insiram dados ou informações falsas. Essas condutas são crimes, previstos no art. 69-A da Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), bem como infrações administrativas, previstas no art. 82 do Decreto nº 6.514, de 2008. Depois de apresentado, o EIA tem seu conteúdo analisado. Uma vez aprovado, geralmente ele e o RIMA são publicados e/ou disponibilizados aos interessados. Geralmente ocorre, como veremos a seguir, uma audiência pública, na qual o projeto é debatido. Atenção O EIA/RIMA foi pensado para empreendimentos complexos. Por isso, possui um conteúdo mínimo extenso. Por essa razão, costuma ser elaborado por uma equipe multidisciplinar. Sua elaboração pode levar meses, e seu custo (encargo do empreendedor) pode ser elevado, dependendo do caso. Como diretrizes para a elaboração do EIA, o art. 5º da Resolução nº 1, de 1986, do CONAMA, elenca: [...] a consideração de alternativas de técnicas e locais diversos; a avaliação dos impactos de todas as fases do empreendimento; a definição das áreas afetadas; e a consideração dos programas públicos para as áreas sugeridas ou idealizadas para o empreendimento. Por sua vez, o art. 6º traz as atividades técnicas mínimas e indispensáveis: [...] diagnóstico ambiental completo (físico, biológico e socioeconômico); análise, interpretação e classificação dos impactos e de suas alternativas; apresentação das medidas mitigadoras, avaliando sua eficiência; e apresentação do plano de monitoramento e acompanhamento. Com base nas informações apresentadas no requerimento da LP (como a tipologia da atividade), o órgão ou a entidade responsável pelo licenciamento costuma editar um ato com orientações específicas que complementam esses conteúdos mínimos vistos aqui anteriormente. Nos licenciamentos feitos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), esse documento se chama Termo de Referência. Comentário O EIA acaba, muitas vezes, tendo centenas de páginas, sendo dividido em capítulos com uma linguagem altamente técnica. Isso dificulta que pessoas interessadas em conhecer e debater o empreendimento proposto possam participar, por exemplo, de uma audiência pública. O RIMA De forma a ampliar ao máximo o debate acerca dos empreendimentos sujeitos ao EIA, deve-se observar a obrigatoriedade de elaboração, em cada estudo, do RIMA. Conforme o art. 9º da Resolução nº 1 de 1986, o RIMA deve trazer as conclusões do EIA de forma acessível: A linguagem escrita deve ser menos técnica; devem ser utilizados gráficos, tabelas, mapas e outras formas de comunicação visual. Tudo para que os cidadãos não especializados possam entender os pontos positivos e negativos da atividade proposta e em licenciamento. Conforme o art. 11 da Resolução 1/1986, com a exceção das informações que caracterizem sigilo industrial, o RIMA deve ficar disponível para consulta. Ao final, o RIMA costuma ter algumas dezenas de páginas. Atualmente, esses relatórios são disponibilizados na rede mundial de computadores (nem sempre os EIAs, porque são arquivos muito pesados). Dica O RIMA ajuda que as pessoas consigam participar das audiências públicas conduzidas nos licenciamentos ambientais sujeitos ao EIA. Por isso, é comum vermos a expressão EIA/RIMA, já que os dois dispositivos são exigíveis nos casos de significativa degradação ambiental, efetiva ou potencial. Audiência pública e participação Buscando disciplinar as audiências públicas nos casos de empreendimentos obrigados a fazer o EIA/RIMA, o CONAMA editou a Resolução nº 9, de 1987. Nos termos do art. 1º dessa resolução, a audiência pública se destina a expor aos interessados o projeto em licenciamento, esclarecer dúvidas e colher sugestões. Essa resolução traz no caput do art. 2º os casos nos quais a realização da audiência pública é obrigatória. E, nesses casos, a concessão de uma licença sem a realização da audiência acarreta sua nulidade. Ou seja, ela não é válida, não existe para o Direito. Vamos ver os casos de obrigatoriedade. São eles: Determinação do órgão ambiental. Solicitação por uma associação ou organização não governamental (ONG). Solicitação pelo Ministério Público (MP). Solicitação por cinquenta ou mais pessoas. • • • • Na prática, considerando todas essas hipóteses, é muito raro (e até estranho) que um EIA/RIMA não seja submetido a uma audiência pública. 1 O requerimento da LP deve ser publicado. 2 Além disso, nos termos da Resolução 9/1987, recebido o EIA, deve haver um edital com prazo mínimo de 45 dias para que os sujeitos envolvidos possam solicitar a audiência. 3 Posteriormente, deve ser convocada a audiência pública, divulgando-a na imprensa e nas mídias oficiais. 4 O local dessa audiência deve ser acessível aos interessados e, principalmente, aos afetados de alguma forma pelo projeto. 5 Dependendo da dimensão do empreendimento e da área afetada, pode ser necessário fazer mais de uma audiência pública, para que todos os interessados possam participar. 6 Cabe a um representante do órgão ou da entidade responsável pelo licenciamento conduzir a audiência. 7 Após uma exposição do projeto, deve ser dado um tempo para debates, para que possam ser feitas perguntas e sugestões. 8Ao final, é feita uma ata resumida do que aconteceu. Em geral, também se faz uma ata com a transcrição completa. Atualmente, alguns órgãos e entidades disponibilizam também os vídeos e áudios da audiência em seus portais na rede. 9Todo esse material é anexado ao processo de licenciamento (em muitos casos, já digital) para ser avaliado junto com as análises técnicas a fim de fundamentar o parecer final do licenciador pela concessão ou não da licença. Como bem sublinha Antunes (2020), não existe uma obrigação de acolher as sugestões apresentadas na audiência pública, mas elas devem ser consideradas, e a opção de acolhê-las ou não deve ser fundamentada. Saiba mais Em 2020, o CONAMA editou a Resolução nº 494 autorizando, excepcionalmente, a realização de audiências públicas de forma virtual, enquanto durasse a pandemia causada pela Covid-19. O art. 3º dessa resolução exige que seja disponibilizado pelo menos um ponto de acesso à rede mundial para que os diretamente afetados possam participar. Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu relatório No vídeo a seguir, a professora Cristiane Jaccoud comenta sobre o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu relatório (EIA/RIMA). Vamos assistir! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Sobre as licenças ambientais, marque a alternativa correta. A O licenciamento ambiental é um instrumento de controle posterior, dentro do qual são realizadas avaliações de impacto ambiental. B A LI autoriza o início das obras, desde que estejam de acordo com as restrições nela contidas. C Além de analisar os impactos próprios da operação, o procedimento para obtenção da LP também deve verificar se as licenças anteriores foram observadas. D A LO autoriza o início das obras, desde que estejam de acordo com as restrições nela contidas. E As licenças ambientais não são atos administrativos. A alternativa B está correta. Somente após obter a LI é possível iniciar a implementação ou as construções relativas ao empreendimento. A LP está voltada para uma avaliação mais geral e anterior sobre a localização e a viabilidade ambiental do projeto apresentado. E, por sua vez, a LO verifica o cumprimento das anteriores, focando em restrições que dizem respeito à operação do empreendimento. Questão 2 Sobre o EIA, o RIMA e a realização de audiências públicas, marque a alternativa correta. A O EIA é a única espécie de AIA admitida, por isso está consagrada na Constituição como obrigatória em todos os casos de licenciamento ambiental. B O EIA é um estudo simples e pensado para empreendimentos de pequeno porte e pequeno potencial de impacto. Em regra, é solicitado antes da LI, após a audiência pública. C Todo cidadão tem o direito constitucional de solicitar uma audiênciapública nos casos de significativo impacto ambiental, bastando um requerimento individual para que seja obrigatória. D O EIA é um estudo complexo, pensado para empreendimentos de grande potencial de impacto, efetivo ou potencial. Em regra, é solicitado na avaliação do pedido de LP, sendo, geralmente, objeto de uma audiência pública. E A elaboração do EIA/RIMA é de atribuição do órgão ou da entidade responsável pelo licenciamento. A alternativa D está correta. O EIA/RIMA é exigido nos casos de significativa degradação ambiental, efetiva ou potencial. O momento mais adequado para a apresentação do estudo e do respectivo relatório é no procedimento de obtenção da LP. Dadas as várias hipóteses nas quais é obrigatória a realização da audiência pública, os casos de EIA/ RIMA geralmente são discutidos nessas audiências. 4. Conclusão Considerações finais Como vimos, o princípio do Acesso à Justiça pode ser compreendido em uma nova dimensão com a aplicação das tecnologias da informação no aprimoramento dos métodos de resolução de conflitos ou na criação de novos métodos. Dentro disto, estão as cortes on-line ou a Justiça Digital, caracterizada pela prestação da jurisdição estatal de forma integralmente on-line. No Brasil, destacam-se as Resoluções nº 345 e nº 372 do CNJ a esse respeito. Vimos também a crescente participação dos mecanismos de inteligência artificial nos atos procedimentais, sendo profícuas as iniciativas do país. Além do conceito, estudamos possíveis limites na utilização de tais mecanismos, especialmente a necessidade de preservação das decisões humanas. Por fim, vimos juntos as ODRs e as principais características dos mecanismos de mediação e arbitragem on- line. Podcast Neste podcast, o especialista tratará do surgimento da Justiça Digital e da resolução on-line de conflitos, destacando os benefícios e as críticas que lhes são dirigidas. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Conheça o projeto Dra. Luiza, implementado junto à Procuradoria do Distrito Federal para entender os processos de execuções fiscais. Saiba mais sobre o projeto em andamento no Supremo Tribunal Federal conhecido como Victor, nomeado justamente em homenagem ao ex-ministro do próprio STF Victor Nunes Leal. Conheça também sobre o projeto Sócrates, voltado para identificar previamente as controvérsias jurídicas presentes nos recursos especiais. Referências ALFORD, R. The Virtual World and the Arbitration World. In: Journal Of Arbitration, v. 449, p. 452, 2001. BRIGGS, L. J. Civil Courts Structure Review: Final Report, July 2016. CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. CORTÉS, P. Online dispute resolution for consumers in the European Union (Routledge Research in Information Technology and E-Commerce Law). London: Taylor and Francis, 2011. ECONOMIDES, K. Lendo as ondas do “movimento de acesso à justiça”: Epistemologia versus metodologia? In: PANDOLFI, D. 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Proteção constitucional do Meio Ambiente e seus princípios Ligando os pontos Questão 3 Conceito de meio ambiente Exemplo Conferência de Estocolmo Plástico nos oceanos ameaça vida marinha Emissão de poluentes pela atividade industrial Conceito de Direito Ambiental Regras Princípios Atividade discursiva Autonomia do direito ambiental Tutela constitucional do meio ambiente Atenção Proteção do meio ambiente na constituição de 1988 Saiba mais Regras Constitucionais diretas e indiretas sobre o meio ambiente Normas diretas Normas indiretas Princípios constitucionais do direito ambiental Atenção Princípio da prevenção Comentário Princípio da precaução Exemplo Prevenção e Precaução Conteúdo interativo Princípio do poluidor-pagador Atenção Princípio do desenvolvimento sustentável Princípio da função socioambiental da propriedade Propriedade urbana Propriedade rural Propriedade urbana Propriedade rural Atenção Princípio da participação Poder Legislativo Poder Judiciário No Executivo Verificando o aprendizado 2. Órgãos e as Entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente Ligando os pontos Questão 3 Gestão Ambiental Resumindo Sistema e conselho nacional do meio ambiente (SISNAMA) Conselho de governo Ministério do meio ambiente Instituto Brasileiro do meio ambiente e dos recursos renováveis (IBAMA) e Instituto Nacional Chico Mendes de conservação da biodiversidade (ICMBIO) Estruturas executoras estaduais Estruturas executivas locais Estruturas executivas locais O CONAMA ART. 8º DA LEI Nº 6.938 DE 1981 Atenção Instrumentos da PNMA Padrões da qualidade ambiental Exemplo O zoneamento ambiental Atenção Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental Criação de espaços territoriais especialmente protegidos Exemplo O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente e a garantia da prestação de informações Atenção Os cadastros federais de atividades No primeiro cadastro No segundo cadastro Penalidades Comentário Relatório de qualidade do meio ambiente (RQMA) Instrumentos econômicos Exemplo Instrumentos da política Nacional do Meio Ambiente Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. Licenças Ambientais e Estudo Prévio de Impacto Ambiental Ligando os pontos Questão 3 Licenças Ambientais Atenção Forma 1 Forma 2 Forma 3 Atividade discursiva Atenção Tipos de licença ambiental LICENÇA PRÉVIA (LP) LICENÇA DE INSTALAÇÃO (LI) LICENÇA DE OPERAÇÃO (LO) PROCEDIMENTOS SIMPLIFICADOS Instrumentos Legais de Implementação de AIA Estudo de impacto de vizinhança (EIV) Exemplo Relatório Ambiental Simplificado (RAS) Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) O EIA Exemplo Saiba mais Atenção Comentário O RIMA Dica Audiência pública e participação Saiba mais Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu relatório Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciase realizando as opções cabíveis em cada caso particular, e não apenas de forma mais geral. Questão 3 As avaliações de impacto ambiental e as licenças ambientais são usadas para garantir a preservação do meio ambiente e, consequentemente, a qualidade de vida. Que análise você faria sobre o processo de licenciamento ambiental? Quais as falhas apresentadas? Chave de resposta O licenciamento ambiental é uma ferramenta que o poder público tem para controlar e obrigar as empresas exploradoras de minérios a terem uma preocupação com os danos ambientais que suas atividades provocam. Ao pedir uma série de ações e reparações as empresas, o governo age como guardião do interesse público em detrimento do interesse particular. Com essa ação, o poder público cumpre com seu Vista do interior do prédio do Sveriges Riksdag (Parlamento sueco), onde foram realizadas diversas das reuniões da Conferência. papel de atender a sociedade e não a grupos específicos. Da análise dos documentos apresentados no caso, depreende-se que as empresas não apresentaram todos os documentos e informações necessárias para a conceção da licença requerida, sendo que uma opção do poder público, rejeitar o pedido de licenciamento, ou pedir a complementação dos documentos faltantes. Conceito de meio ambiente Podemos dizer que a expressão meio ambiente encerra um pleonasmo. Isso porque tanto a palavra “meio” quanto a palavra “ambiente” trazem a mesma ideia-chave de entorno. É comum falarmos em meio ambiente, mas podemos ler, às vezes, apenas “ambiente”, “meio” ou até “entorno”. E muitos adjetivos se referem apenas ao ambiente. Exemplo Quando falamos em licenciamento ambiental, mas não em licenciamento meio ambiental. Mas esse meio, ou esse ambiente, estaria em volta de quê? Ou de quem? Embora atualmente seja possível debater se o que deve estar no centro das preocupações ambientais seja a vida ou até o planeta Terra, vamos partir da ideia mais tradicional, e ainda predominante, de que o centro a partir do qual sabemos o entorno é o ser humano (ANTUNES, 2020). Isso porque, além de o Direito ser uma construção humana, o Direito ambiental tem o seu marco inicial na: Conferência de Estocolmo Evento promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e realizado na Suécia em 5 de junho de 1972. Observando a Declaração de Estocolmo, percebemos que ela, desde o preâmbulo, ressalta que os seres humanos precisam de um entorno equilibrado, e que isso seria um direito da maior importância, fundamental, pois está ligado diretamente à dignidade da vida humana. O art. 225 da nossa Constituição Federal, de 1988, grassa no mesmo sentido. Esse ambiente, meio ou entorno geralmente é imaginado, idealizado, como a visão de uma floresta nativa, de uma praia paradisíaca, ou seja, nos casos em que se apresenta como natural. Bacia da Floresta Amazônica Podemos dizer que o ambiente natural é aquele que existe como tal sem a ação determinante do ser humano. Porém, o nosso entorno é cada vez menos natural, cada vez mais artificial, construído. A maior parte da população mundial já vive no espaço urbano, que surge pela ação humana, com a construção de casas, a abertura de vias de transporte, a construção de redes de esgoto e eletricidade. Plástico nos oceanos ameaça vida marinha Atualmente, já discutimos como os seres humanos interferem no clima do planeta, na quantidade de plásticos e outros resíduos que ocupam lugares antes intocáveis. Emissão de poluentes pela atividade industrial Alguns chegam a dizer que esta era geológica pode ser descrita como antropoceno, tamanha é a nossa interferência no ambiente (SARLET; FENSTERSEIFER, 2020). Tudo isso demonstra a importância de cuidarmos do ambiente urbano, também chamado de artificial ou construído. Assim, instrumentos importantes como as avaliações de impacto ambiental e as licenças ambientais também são utilizados para garantir uma sadia qualidade de vida nas cidades, nos centros urbanos e nas regiões metropolitanas. Conceito de Direito Ambiental Embora seja o direito um fenômeno social, por meio do qual sociedades se regulam e protegem os bens que consideram mais importantes, quando estudamos o Direito estamos preocupados com o direito que está posto, escrito, positivado. Partindo dessa visão, que podemos chamar de positivista, o Direito é visto como um sistema de normas de determinado espaço e tempo. Por isso, nosso Direito constitucional possui como principal norma a Constituição, válida desde 5 de outubro de 1988 no território do Brasil. Podemos dizer que o Direito ambiental é um conjunto de normas cujo objetivo é proteger o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Essas normas jurídicas podem ser divididas em dois grandes grupos. Regras Possuem, geralmente, um comando claro e estipulam determinada conduta. Por exemplo, o caput do art. 225 dispõe que o poder público e a coletividade devem preservar o meio ambiente para esta geração e para as vindouras. O inciso III, §1º, desse mesmo artigo estabelece que o público deve criar, em todas as unidades da federação, espaços territoriais especialmente protegidos, que conhecemos, comumente, como unidades de conservação. Princípios São mais abstratos do que as regras e apontam na direção de valores que podem ser concretizados de diversas formas (AVZARADEL, 2019). Veremos os princípios detalhadamente mais adiante. Atividade discursiva Por ser um ramo relativamente novo do Direito, nascido no século passado, você diria que o Direito ambiental contava com autonomia? Chave de resposta A resposta é positiva. Essa autonomia decorre das características específicas do Direito ambiental – ser um direito voltado para o futuro, protegendo gerações futuras – e dos princípios igualmente peculiares. Autonomia do direito ambiental Nota-se que a proteção do meio ambiente está presente em tratados ambientais, na definição de crimes e de infrações administrativas, e na prevenção e reparação de lesões em nosso entorno. Por isso, o Direito ambiental reúne normas e institutos de vários outros ramos do Direito. O fato de haver normas ambientais em vários ramos do Direito reforça sua autonomia e, embora mantenha com eles relações constantes, não se confunde com nenhum desses ramos. Como ramo autônomo, o Direito ambiental precisa de uma disciplina igualmente autônoma, capaz de sistematizar os institutos e as normas presentes em todo o ordenamento jurídico. E, ao mesmo tempo, deve abranger as características únicas que fazem do Direito ambiental um ramo novo e cheio de descobertas quando o comparamos com os ramos mais antigos. Tutela constitucional do meio ambiente O Direito ambiental surge com a Conferência de Estocolmo. Foi nessa conferência que se originaram as seguintes ideias: Dia do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) Após essa conferência, os países foram, cada um no seu ritmo, editando normas com sua visão ambiental, buscando resguardar o nosso entorno de forma mais completa, holística. Isso não quer dizer que não existiam normas que já se voltavam para questões que atualmente entendemos como ambientais. Nesses casos, o que mudou foi a perspectiva, a visão a partir da qual esses bens passaram a ser protegidos. Foram também acrescentadas normas mais adequadas aos desafios ambientais vistos em Estocolmo, marcadas por uma visão mais ampla, transversal. Os tratados e as convenções Podem ser examinados pelo Direito internacional. Os crimes contra a natureza Precisam ser vistos com a base vinda do Direito penal. • • Atenção No Brasil, a norma que sinaliza essa mudança de visão e de postura foi editada em agosto de 1981. A Lei nº 6.938, conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), é um marco indiscutível. Além de objetivos e conceitos, ela traz instrumentos e uma estrutura para a implementação do Direito ambiental: o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Contudo, conforme os países foram editando novas constituições, muitos aproveitaram paracolocar a proteção ambiental também nesses textos. Como a Constituição representa, em regra, a norma mais importante de um ordenamento jurídico, a tutela do ambiente nos textos dessa natureza traduziu um reforço a essa proteção. A partir do momento em que o meio ambiente passa a ser juridicamente protegido, não podem ser editadas leis em sentido contrário, já que não serão compatíveis com a Constituição e, por isso, não terão validade no ordenamento jurídico. Atualmente, passados quase cinquenta anos da conferência de Estocolmo, boa parte dos países já possui alguma forma de proteção constitucional do meio ambiente. No caso do Brasil, isso aconteceu já na década de 1980, como veremos a seguir. Proteção do meio ambiente na constituição de 1988 Ainda na década de 1980, a proteção ambiental passava a integrar a Constituição de forma destacada. Entre a Constituição de 1934 e a atual, houve apenas a previsão constitucional acerca de alguns recursos e bens importantes como água, energia, floresta, caça e pesca. Além de capítulo próprio para a proteção ambiental – e o art. 225, que possui parágrafos e incisos –, a Constituição de 1988 traz dispositivos sobre essa questão ao longo de todo texto. Veja mais a seguir: No início, temos a previsão da ação popular (art. 5º), que pode ser usada para anular atos lesivos ao meio ambiente. No meio, podemos destacar a preocupação com o ambiente em artigos das políticas econômica (art. 170), urbana (art. 182) e rural (art. 186). Na última parte do texto, destacamos essa preocupação no art. 225, já citado, e no capítulo que cuida dos índios (art. 231). A Constituição brasileira é tida como das mais completas em relação à proteção ambiental. Ela consagra o direito ao meio ambiente equilibrado como um direito fundamental, essencial a uma sadia qualidade de vida no caput do art. 225. Nesse mesmo artigo, consagra um dever geral de proteção para as gerações presentes e futuras, além de atribuir esse dever não apenas ao poder público, mas também à coletividade. Isso já seria, na visão de alguns, suficiente. Contudo, a Constituição vai além do básico, detalhando os deveres do poder público, estabelecendo princípios de forma implícita e instrumentos concretos, como: O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (§1º do art. 225) A responsabilidade por atos lesivos ao meio ambiente (§3º do art. 225) • • • • • Saiba mais A Constituição prevê, ainda, outros instrumentos importantes ao longo do texto. Apenas para citar alguns exemplos, o art. 5º prevê a ação popular, e o art. 129 traz a ação civil pública, ambas muito importantes. Para dar conta das particularidades do meio ambiente urbano, o art. 182 traz instrumentos como o plano diretor e o estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV), entre outros. Em suma, podemos afirmar que a Constituição Federal de 1988 usa várias técnicas para proteger este entorno tão importante: o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Regras Constitucionais diretas e indiretas sobre o meio ambiente As normas com a finalidade de proteger o meio ambiente não estão apenas no capítulo específico (art. 225), mas ao longo de todo o texto da Constituição de 1988. Isso nos possibilita dividir todo esse conjunto de normas em dois grandes grupos, segundo a forma que trazem essa proteção. Normas diretas O primeiro grupo traz as normas diretas sobre meio ambiente. A maior parte está no capítulo específico, no art. 225. Outros exemplos importantes são as previsões da ação popular (art. 5º, inciso LXXIII) e da ação civil pública (art. 129, inciso III). Podemos, ainda, incluir nesse grupo as normas que dividem as competências e as atribuições do Poder Público entre as esferas federal, estaduais e municipais. Os exemplos mais importantes estão listados a seguir. A competência comum a todos para o controle e combate à poluição ambiental (art. 23, inciso VI). Essa competência é de natureza executiva e será mais detalhada no módulo 2, com a análise do SISNAMA e da Lei Complementar nº 140, de 2011. A competência concorrente para legislar em matéria ambiental (art. 24). Nesse ponto, compete à União editar normas gerais que podem ser suplementadas pelos estados, os quais não podem contrariar as leis da União. Por sua vez, os municípios podem suplementar as leis da União e dos estados, desde que não as contrariem ou legislem sobre os assuntos de interesse local (art. 30, incisos I e II) Normas indiretas Por fim, podemos falar naquelas normas que cuidam de maneira indireta da questão ambiental. Elas disciplinam a gestão de bens e recursos naturais importantes como água, energia e minérios, além de atividades e serviços ambientalmente relevantes pelo seu impacto positivo ou negativo, como os serviços de saneamento básico e as atividades nucleares. São apenas alguns exemplos que podem ser encontrados nos art. 21, incisos XIX, XX e XXIII; no art. 22, incisos IV, XII e XXVI; e no art. 176. • • Integrante de um dos povos indígenas da Amazônia brasileira Outras disposições desse tipo são encontradas no capítulo que trata dos índios (povos originários), com repercussões indiretas na proteção ambiental, conforme podemos ver ao fazer a leitura dos arts. 231 e 232. Isso porque esses povos possuem uma relação especial com o território que tradicionalmente ocupam. Não é por acaso que os povos indígenas são chamados, por vezes, de “guardiões da floresta”. Princípios constitucionais do direito ambiental O princípio da prevenção, por exemplo, pode ser realizado a partir das avaliações de impacto ambiental e das licenças ambientais. Ou seja, os princípios são concretizados por regras mais específicas (como as que disciplinam as avaliações de impacto e as licenças ambientais). O fato de ser uma disciplina recente e de não ter os seus princípios consagrados expressamente faz com o que os estudiosos do Direito (a chamada doutrina) tenham o papel fundamental de interpretar as normas e sinalizar os princípios contidos na nossa ordem constitucional e nas demais normas jurídicas existentes. Muitas vezes, os juízes adotam os critérios apresentados pela doutrina para decidir casos concretos, ajudando esses princípios a ganhar visibilidade. Atenção Contudo, isso gera uma dificuldade: não existe um acordo sobre quais são todos os princípios do Direito ambiental. Cada manual ou curso traz um elenco, uma lista de princípios que, dificilmente, é a mesma de outra obra. Veremos, a seguir, os princípios do Direito ambiental mais relevantes para a gestão ambiental. Eles possuem aplicação prática e podem, em regra, ser encontrados na Constituição de forma implícita. Princípio da prevenção A Constituição prevê no caput do art. 225 um dever geral de preservar e proteger o meio ambiente. E, para isso, precisamos prevenir aquelas lesões que são previsíveis. Quando temos conhecimento sobre os impactos que certa atividade pode gerar no meio ambiente (ex.: o lançamento de efluentes não tratados e com certos resíduos em corpo hídrico), temos que agir de forma preventiva. Como veremos, as avaliações de impacto ambiental nos ajudam a entender com maior exatidão esses impactos. Os princípios podem estar escritos de forma expressa na Constituição, porém, nem sempre aparecem dessa forma. Podem ser reconhecidos de forma implícita quando, mesmo não estando descritos, percebemos várias regras que os concretizam e apontam na mesma direção, para o mesmo valor ideal abstrato. Por sua vez, as licenças ambientais ajudam a garantir que as medidas adequadas sejam adotadas antecipadamente à atividade e aos impactos (ex.: um empreendedor construir, operar e manter uma estação de tratamento de efluentes). Comentário Em geral, é muito difícil conseguir reparar integralmente uma lesão ambiental, e os custos de reparação costumam ser maiores do que os de prevenção. Princípio da precaução O princípio da precaução lida com atividades ou situações em que predomina a incerteza científica sobre a existência, a extensão ou as características do impacto. Estamos, aqui, diante do riscode danos graves ou irreversíveis. Na ausência da certeza, devem ser adotadas medidas de cautela ou precaução, que buscam conhecer e reduzir os riscos identificados. AVZARADEL, 2019 Nossa Constituição possui claras referências a esse princípio, como ilustram os arts. 225 e 196, entre outros. Exemplo No caso de rompimento de uma barragem, ainda que os cálculos sejam controversos, o dano será grave, senão irreversível. Mesmo sem a certeza do rompimento, uma vez caracterizado o risco, devem ser adotadas medidas de cautela (ex.: testes, reforço de estruturas, evacuação das áreas vizinhas etc.). Prevenção e Precaução No vídeo a seguir, a professora Cristiane Jaccoud comenta sobre os princípios da prevenção e da precaução. Vamos assistir! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Representação do conceito de negócios sustentáveis Princípio do poluidor-pagador Tal princípio por vezes é entendido de forma errônea, como se aquele que pagasse tivesse “passe livre” para poluir. Na verdade, ele orienta que todos os custos ambientais (por exemplo, os relativos às medidas de prevenção, cautela e reparação de danos e multas ambientais) devem ser incorporados pelo empreendedor. Isso deve se refletir no custo do produto ou serviço. Nossa PNMA (Lei nº 6.938) conceitua poluidor (art. 3º, inc. IV) como aquele direta ou indiretamente responsável pela degradação ambiental. Na mesma lei consta “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos” (art. 4º, inc. VII). Do contrário, o ônus vai ser suportado pela sociedade, como ter que conviver com um ambiente poluído, degradado. Atenção Outra consequência negativa possível é a distorção no respectivo mercado, já que o empreendedor se exonera de incorporar todos os custos ambientais no preço final do seu produto ou serviço. Não por acaso, esse princípio surgiu nos anos 1970, a partir de uma decisão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Princípio do desenvolvimento sustentável Fundamenta-se no conceito desenvolvido no relatório elaborado pela ONU chamado Nosso Futuro Comum (1987). Esse relatório foi pensado para avaliar o meio ambiente no mundo após a Conferência de Estocolmo de 1972 e serviu de base para as discussões que aconteceram no Brasil durante a Cúpula da Terra, ou Rio-92. De acordo com esse relatório, o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento das gerações futuras. Para isso, a atividade econômica deve ser compatibilizada com a proteção ambiental. Essa premissa aparece na Constituição quando, ao tratar da ordem econômica, elenca a proteção ambiental enquanto princípio norteador (art. 170, VI). Por isso, qualquer que seja a atividade econômica, a proteção ambiental não pode ser ignorada. Essa é a única forma de garantir o atendimento das gerações futuras. Princípio da função socioambiental da propriedade Conforme o art. 5º, inciso XXIII, da Constituição de 1988, a propriedade deve cumprir sua função social. Na verdade, o texto constitucional estabelece critérios ambientais para a propriedade, seja ela urbana ou rural. Veja mais a seguir: Propriedade urbana Deve a propriedade estar de acordo com o plano diretor municipal (art. 182, §2º) Propriedade rural Deve a propriedade observar os critérios trazidos no art. 186, incluindo a “utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente” Nos dois casos, o descumprimento possui consequências: Propriedade urbana Pode ocorrer, em último caso, a desapropriação, com pagamento em títulos da dívida pública municipal no prazo de até dez anos Propriedade rural A desapropriação é paga com títulos da dívida agrária em até vinte anos (art. 184) Atenção Esses dois casos são exceção à regra da desapropriação com o pagamento prévio e em dinheiro (art. 5º, XXIV). Princípio da participação Da leitura da nossa Constituição, percebemos que os valores democráticos são centrais: a cidadania é um dos fundamentos da nossa República, sendo o povo a fonte de todo poder (art. 1º, inciso II, parágrafo único). São previstos diversos mecanismos nesse sentido: Poder Legislativo Como as iniciativas populares de lei (art. 14) Poder Judiciário As já mencionadas ações popular e civil pública garantem o acesso amplo à Justiça No Executivo Deve ser efetivada a participação (art. 37, §3º) Por fim, são garantidos os direitos de obter informações, peticionar e obter certidões junto ao poder público (art. 5º, incisos XXXIII e XXXIV). O dever de proteger o meio ambiente também é da coletividade (art. 225). No mesmo artigo, está previsto um importante instrumento, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA), necessariamente público (art. 225, §1º, IV). E, nesse estudo, ocorrem, geralmente, as audiências públicas (como veremos no módulo 3). Outra importante forma de participação se dá nos conselhos de meio ambiente. Veremos no próximo módulo o mais importante deles: o CONAMA. Verificando o aprendizado Questão 1 Sobre os princípios do Direito ambiental, assinale a alternativa correta. A O princípio do poluidor-pagador prevê que os custos ambientais devem ser internalizados pela sociedade. B O princípio do desenvolvimento sustentável preocupa-se apenas com as opções das gerações presentes. C O princípio da precaução determina que, na ausência de certeza, devemos aguardar a concretização do risco para depois adotar medidas preventivas. D O princípio da prevenção é apropriado nos casos em que os impactos de determinada atividade sejam conhecidos. E O princípio da prevenção é inapropriado nos casos em que os impactos de determinada atividade sejam conhecidos. A alternativa D está correta. O princípio da prevenção pressupõe a certeza científica e o conhecimento sobre a atividade em questão. Questão 2 Sobre as diferenças existentes entre os princípios da precaução e da prevenção, marque a alternativa correta. A O princípio da precaução é aplicado nos casos de incerteza, diante de riscos de danos graves ou irreversíveis. Já a prevenção é aplicada de forma mais ampla, quando as atividades são conhecidas. B O princípio da precaução é aplicado nos casos de certeza. Já o princípio da prevenção apenas se aplica quando ocorrem situações de risco de danos graves ou irreversíveis. C Diante da ausência de certeza, devemos aplicar o princípio da prevenção com o objetivo de impedir o impacto ambiental negativo. D Diante dos casos de certeza, devemos aplicar o princípio da precaução visando a gerenciar o risco existente. E O princípio da prevenção apenas se aplica quando ocorrem situações de risco de danos graves ou irreversíveis. A alternativa A está correta. A aplicação do princípio da precaução está restrita aos casos de incerteza e nos quais existem riscos de danos graves ou irreversíveis. Essas restrições não se aplicam ao princípio da prevenção. 2. Órgãos e as Entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente Ligando os pontos Entender o papel dos principais órgãos que compõe o governo dentro do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) não é uma tarefa simples, pois, muitas vezes, esses órgãos sobrepõe as suas reponsabilidades. De uma forma geral, o SISNAMA tem como objetivos, via Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), planejar, implementar e acompanhar os resultados dos programas e ações destinados à preservação do meio ambiente. Para entender melhor essa questão, você estudará a Área de Preservação Ambiental (APA) Delta do Parnaíba e depois verificará o que poder público e a sociedade deveriam fazer para garantir essa APA. A APA Delta do Parnaíba, criada pelo Decreto Federal s/n de 28 de agosto de 1996, protege o ecossistema costeiro formado por mangues e dunas, envolvendo áreas dos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará, num total de 307.590,51 hectares. Para que essa APA atingisse seu objetivo finalde preservação da região, foram criados objetivos menores promovendo a proteção dos deltas dos rios Parnaíba, ao Timonha e Ubatuba, com sua fauna, flora e complexo dunar, para preservar o remanescente de mata aluvial e recursos hídricos, melhorar a qualidade de vida das comunidades, promover o turismo ecológico e a educação ambiental e, ainda, preservar a cultura e as tradições locais. Essa APA estimula o crescimento da consciência coletiva em relação à preservação do meio ambiente, induzindo a um novo posicionamento por parte das organizações. Os impactos ambientais causados pelo turismo estão diretamente associados à forma como a atividade utiliza o espaço e as relações sociais/ econômicas, sendo incentivado um turismo conscientemente responsável. Para a realização do estudo que deu base a esse caso (CORREA; RIBEIRO, 2017), foram usados como instrumento de coleta, a entrevista semiestruturada e a observação, que permitem a análise do discurso das pessoas envolvidas no processo e na implementação da APA. Participaram da pesquisa 48 meios de hospedagem, sendo 34 (PI), 08 (MA) e 06 (CE). Quanto ao tamanho, 34 são pousadas e pensões, 11 são hotéis e aparthotel e 3 resorts. Os resultados apontam que, dos respondentes, 42 acham a conscientização ambiental importante; 37 usam a educação ambiental nos meios de hospedagem para gerar conscientização em colaboradores e hóspedes. Já outros 33 dizem desconhecer a Portaria de criação da APA; no entanto, 2 das empresas desses respondentes fazem parte do conselho de gestão da APA. A conclusão desse estudo é que existem conflitos entre as empresas e a comunidade local, que se concentra no problema da especulação imobiliária com a ocupação de áreas inapropriadas, implementação de projetos de grande porte, como resorts e usina eólica, que nem sempre são resolvidos com o atendimento à comunidade local, provocadas por um licenciamento ambiental falho. Essa falha é mostrada na instalação de 40 empresas hoteleiras, pois não houve preocupação ambiental ou mesmo a atuação do poder Público na exigência do cumprimento da legislação existente. Dessas 40 empresas, 3 foram multadas e 2 receberam prêmio por boas práticas ambientais. Nenhuma das empresas possui um sistema de gestão ambiental e relatório de sustentabilidade. Isso caracteriza o comportamento reativo do setor e que somente agirá quando exigido pelo Estado e sociedade. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Se você fosse um cidadão que reside na região da APA do Delta do Parnaíba, como você faria para conseguir mais informações das ações públicas implementadas para a preservação desse ecossistema? A Entraria em contato com o IPHAN para pedir informações sobre a APA do Delta do Parnaíba devido as escavações existentes em seu território. B Entraria em contato com o sistema nacional de capacidades do meio ambiente e pediria as informações que desejasse sobre a APA do Delta do Parnaíba. C Entraria em contato com o Sistema Nacional de Informações Sobre o Meio Ambiente (SINIMA) e pediria as informações que desejasse sobre a APA do Delta do Parnaíba. D Entraria em contato com o Ministério Público da Paraíba e pediria as informações que desejasse sobre a APA do Delta do Parnaíba. E Entraria em contato com o Governo do Estado do Maranhão, Piauí e Ceará, e pediria informações que desejasse sobre a APA do Delta do Paraíba. A alternativa C está correta. Em relação ao meio ambiente, o departamento responsável por agrupar e fornecer as informações é o Sistema Nacional de Informações do Meio Ambiente (SINIMA). Esse sistema congrega todas as informações geradas pelos diversos órgãos de licenciamento e fiscalização existentes, além de fornecer informações para organizar as ações desses órgãos. Questão 2 O Sistema e Conselho Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) é formado por diversos órgãos, conselhos e demais organizações para funcionar e desempenhar o seu papel nacional. Dentro desse sistema, temos um conselho que cuida de deliberar sobre normas e padrões técnicos, além de responder consultas sobre essas mesmas normas e padrões técnicos. Caso você queira iniciar um projeto em uma APA como a do Delta do Parnaíba, qual o órgão ou conselho que você deveria consultar para entender melhor as regras e normas técnicas que você tem que seguir para esse empreendimento? A Assembleia de Governo que é o órgão superior na hierarquia do SISNAMA. B Ministério do Turismo é o órgão central do SISNAMA. C Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). D Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) E Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) A alternativa C está correta. O Conselho Nacional Do Meio Ambiente (CONAMA) com as funções de responder consultas e deliberar sobre normas e padrões técnicos ambientais (art. 6º, inc. II), aparece na lei como órgão consultivo e deliberativo, ou seja, caso você tenha alguma dúvida sobre regras e normas que devem ser aplicadas em relação a áreas de preservação, é nos pareceres, notas técnicas e deliberações emitidos por esse conselho que você deve se pautar para tomar decisões. Caso surjam dúvidas de interpretação de uma lei, por exemplo, esse é o conselho responsável por dirimir essa dúvida. Questão 3 Quais os pontos mais relevantes apresentados no estudo de caso? Em sua visão, como o poder público e a sociedade deveriam agir a partir da análise dessas informações para garantir a APA Delta do Parnaíba? Chave de resposta O caso estudado apresenta um tipo de postura adotada quase que na totalidade do País. Dificilmente o sistema de proteção ambiental nacional consegue agir para inibir e aplicar a lei dentro dos empreendimentos e nas reservas de proteção natural. Até mesmo nas cidades esse processo de fiscalização já é precário, imagina em um lugar tão remoto como o do estudo de caso. No entanto, é reponsabilidade do Poder Público agir exigindo que a lei seja cumprida, e no caso do APA do Delta do Parnaíba, essa obrigação deveria ser cumprida na íntegra, garantindo a preservação dentro dos parâmetros legalmente aprovados. Em relação à sociedade, essa deveria exigir das empresas que preservem o ambiente e que hajam de forma consciente e responsável, para que a sua fonte de sustento não seja degradada e o mercado simplesmente desapareça. Gestão Ambiental A Lei nº 6.938 de 1981 traz a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e marca uma mudança de paradigma na gestão pública do meio ambiente. Isso porque cria uma estrutura responsável por planejar, implementar e acompanhar os resultados dos programas e das ações destinados a atingir o objetivo traçado em seu art. 2º: Representação do conceito de ação coletiva pelo meio ambiente Preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida, assegurando condições para o desenvolvimento socioeconômico e a proteção da dignidade da vida humana. Ao estabelecer conceitos, diretrizes, instrumentos de gestão ambiental e uma estrutura permanente, a PNMA busca abandonar uma visão reativa, na qual o poder público somente adota medidas após danos ou desastres. Resumindo A gestão aqui significa (ou deveria significar) realizar diagnósticos, traçar metas, planejar e estruturar programas de ação, gerenciar riscos, prevenir danos, recuperar e melhorar a qualidade ambiental, sempre à luz dos conhecimentos e das tecnologias disponíveis. Veremos a seguir como se estrutura o Sistema Nacional do Meio Ambiente e quais instrumentos foram pensados para a gestão pública ambiental. Sistema e conselho nacional do meio ambiente (SISNAMA) Conforme o art. 6º da Lei nº 6.938 de 1981, o SISNAMA reúne os órgãos públicos e as entidades (autarquias, fundações etc.) responsáveis por implementar a política nacional. Mas o que diferencia os órgãos públicos das entidades? Responda à pergunta e depois compare com as informações que você aprenderá ao longo desse tema. Chave de resposta Em breves linhas, os órgãos públicosnão possuem personalidade jurídica nem, geralmente, grande autonomia, estando subordinados hierarquicamente. Já as entidades possuem personalidade jurídica, podendo praticar atos em nome próprio (por exemplo, assinando contratos). Quando a personalidade da entidade for de direito público, como no caso das autarquias, ela poderá desempenhar atividades de fiscalização e controle (ex.: lavrar multas, expedir licenças ambientais) tratadas pela doutrina com o nome de poder de polícia administrativa. Voltando à estrutura do sistema, são listados no art. 6º da Lei nº 6.938 de 1981 os seguintes integrantes: 1 Conselho de governo É o órgão superior na hierarquia do SISNAMA. Precisa ser convocado pelo presidente da República para assessorá-lo em questões que envolvam várias pastas ou ministérios (art. 6º, inc. I). 2 Ministério do meio ambiente É o órgão central do SISNAMA, responsável por planejar, coordenar, controlar e supervisionar a gestão pública em âmbito nacional (art. 6º, inc. III). 3 Instituto Brasileiro do meio ambiente e dos recursos renováveis (IBAMA) e Instituto Nacional Chico Mendes de conservação da biodiversidade (ICMBIO) São entidades (autarquias) executoras federais, chamadas pela lei de órgãos executores. Essas autarquias são responsáveis por ações de controle e fiscalização. Por exemplo, o IBAMA é o responsável pelo licenciamento de atividades e também pela fiscalização das atividades licenciadas. Já o ICMBIO é responsável por administrar as áreas protegidas (unidades de conservação) federais, como o Parque Nacional do Iguaçu (art. 6º, inc. IV). 4 Estruturas executoras estaduais Embora a lei fale apenas em órgãos seccionais, aqui temos órgãos ou entidades (fundações, autarquias etc.) criadas pelos estados para atuar na área ambiental. São exemplos as secretarias estaduais de meio ambiente e os institutos estaduais de meio ambiente (art. 6º, inc. V). 5 Estruturas executivas locais Embora a lei fale apenas de órgãos locais, aqui temos órgãos ou entidades criadas pelos municípios para atuar na área ambiental em âmbito local. São exemplos a secretaria municipal e a fundação municipal de meio ambiente (art. 6º, inc. V). 6 Estruturas executivas locais Com as funções de responder consultas e deliberar sobre normas e padrões técnicos ambientais (art. 6º, inc. II), aparece na lei como órgão consultivo e deliberativo. O CONAMA O CONAMA é um órgão colegiado federal (dentro da estrutura da União), formado por representantes dos chamados três setores. Em linhas gerais, esses setores são o público, o privado e a sociedade civil. Por isso, precisa deliberar para editar atos como resoluções (até 2020, foram cerca de quinhentas). Atualmente, possui 23 (vinte e três) membros. Além do colegiado, possui ainda as chamadas câmaras técnicas (divisões para assuntos específicos), podendo criar grupos de trabalho. Temos um artigo dedicado exclusivamente ao CONAMA. Entre as suas atribuições, destacamos: ART. 8º DA LEI Nº 6.938 DE 1981 A edição de normas e padrões de cunho técnico para o licenciamento de atividades. Por exemplo, é na Resolução nº 1, de 1986, que constam as normas e a elaboração do IEV e seu relatório (art. 8º, inc. I). A edição de padrões e normas técnicas para o controle da poluição do ar por veículos automotores (art. 8º, inc. VI). Por exemplo, recentemente, por meio da Resolução nº 493, de 2019, foram atualizadas as exigências de controle da poluição veicular por motociclos. Editar padrões sobre qualidade do ambiente e seus recursos naturais (art. 8º, inc. VII). Por exemplo, a Resolução nº 357, de 2005, traz normas técnicas para o enquadramento e a classificação de corpos d’água, além de parâmetros para o lançamento de efluentes nesses mesmos corpos. Esse colegiado é um órgão público dentro da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, sendo presidido pelo ministro encarregado da pasta. Os membros do CONAMA cumprem o seu dever sem receber nada da União para isso (Decreto 99.274/1990, art. 6º, §4º). São custeados, geralmente, pelos setores representados. Seus membros se reúnem, no mínimo, três vezes por ano, em Brasília. Atenção Em 2019, a composição do CONAMA foi alterada para que houvesse a diminuição do número de membros no colegiado (Decreto 9806/2019). Essa alteração recebeu críticas por ter diminuído a participação do terceiro setor (sociedade civil). Conforme a lei da PNMA, de forma semelhante ao que acontece com as leis editadas pela União, os padrões técnicos e as normas editadas pelo CONAMA devem ser observados pelos estados e municípios, que poderão suplementá-los de acordo com as suas peculiaridades (Lei 6938/1981, art. 6º, §§ 1º e 2º). Instrumentos da PNMA • • • Além de estabelecer uma estrutura administrativa específica para implementar a gestão pública (Lei 6938/1981), a PNMA traz um elenco de instrumentos que devem ser utilizados para que os objetivos propostos sejam alcançados (art. 9º). Padrões da qualidade ambiental Esses padrões são estabelecidos, principalmente, pelo CONAMA, podendo haver padrões editados por conselhos estaduais e municipais. Exemplo Além da Resolução nº 357, de 2005, outro exemplo possível é a Resolução nº 491, de 2018, que dispõe sobre os padrões de qualidade do ar, com limites para poluentes específicos como o monóxido de carbono (CO). O zoneamento ambiental Após o conhecimento das características ambientais de um local ou de uma região, esse instrumento é pensado de forma a estabelecer mapas (com divisões em zonas) capazes de orientar o planejamento de políticas públicas e as atividades privadas. Esse instrumento está regulamentado pelo Decreto nº 4.297, de 2002, embora traga o nome de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE). É conceituado como o: Instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população. DECRETO 4.297/2002, art. 2º Esse zoneamento fica a cargo, principalmente, da União, a quem cabe sistematizar as informações produzidas pelos estados e municípios. O ZEE deve ser periodicamente revisto – em regra, a cada dez anos (Decreto 4.297/2002, arts. 6º e 19). Atenção No espaço urbano, destacamos o zoneamento feito pelos municípios mediante aprovação, por lei, do plano diretor, previsto na Constituição (art. 182) e disciplinado pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 2001). Nesse caso, para cada zona (industrial, residencial, mista, turística etc.), são previstas normas específicas de uso e ocupação do solo. Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental Na própria PNMA, o art. 12 estabelece como requisito para financiamentos e incentivos governamentais que o projeto em questão seja submetido ao licenciamento ambiental. Outra previsão importante da lei é o estimulo à pesquisa científica voltada para o meio ambiente (art. 13). Criação de espaços territoriais especialmente protegidos Esse instrumento está disciplinado pela Lei nº 9.985, de 2000, que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Essas unidades são áreas que, em razão de seus atributos, estão sujeitas a um regime de proteção diferenciado. Exemplo Alguns exemplos importantes são os parques nacionais, as florestas nacionais (FLONAs) e as áreas de proteção ambiental (APAs). A criação desses espaços territoriais especialmente protegidos pode ser feita em todos os níveis (pela União e pelos estados e municípios) e deve ser precedida, em regra, por estudos técnicos e consulta pública (Lei 9985/2000, art. 22). Conforme o art. 225, §1º, inciso III, da Carta Magna, a extinção, a redução dos limites territoriais ou a diminuição da proteção jurídica de uma unidade de conservação apenas é possívelpor meio de lei (Constituição Federal, 1988). O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente e a garantia da prestação de informações Esse instrumento está disciplinado pela Lei nº 10.650, de 2003, que tem como premissa as regras da publicidade e do livre acesso às informações. Na era da informação digital, o maior desafio consiste na integração das bases de dados e das informações (relatórios, estudos etc.) produzidos pela União, pelos estados e pelos municípios, visando a disponibilizar tais informações e permitir a avaliação sobre os resultados da gestão pública ambiental. A coordenação desse sistema de informações é atribuição do Ministério do Meio Ambiente (Decreto 99274/1990, art. 11). Atenção No mesmo art. 9º (inciso XI), existe a previsão de que, caso não existam as informações necessárias e solicitadas no interesse da proteção ambiental, o poder público fica obrigado a produzir e divulgar o que for solicitado. Os cadastros federais de atividades A PNMA estabelece no art. 9º dois importantes cadastros técnicos federais: Representação da justiça como instrumento de proteção ambiental Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental (AIDA) (inciso VIII). Atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais (inciso XII). Na mesma Lei nº 6.938/1981, ficou determinado que cabe ao IBAMA administrar tais cadastros (art. 17): No primeiro cadastro Deverão constar, por exemplo, as consultorias ambientais No segundo cadastro Deverão constar, entre outras, as pessoas (físicas ou jurídicas) que se dediquem ao comércio de produtos perigosos Penalidades Tanto as penalidades administrativas quanto as penas decorrentes de crimes ambientais são valiosos instrumentos para proteção ambiental. Em ambos os casos, as regras mais importantes estão na Lei nº 9.605, de 1998, que, embora seja chamada de Lei de Crimes Ambientais (LCA), também cuida de infrações administrativas. Comentário Vale lembrar que a Constituição, no art. 225, §3º, estabeleceu que essas esferas de responsabilidade (penal e administrativas) são autônomas, sem prejuízo da obrigação de reparar os danos constatados. Assim, uma empresa pode ser multada administrativamente e, caso haja crime, punida com multa. Relatório de qualidade do meio ambiente (RQMA) Esse relatório deveria ser divulgado anualmente pelo IBAMA. Possui enorme potencial para o monitoramento e a verificação dos resultados das políticas ambientais. Também seria muito importante para atualizar o planejamento das ações de gestão pública do ambiente. Instrumentos econômicos Esses instrumentos procuram adotar condutas a partir de incentivos a atividades ambientalmente positivas em vez de controlar e punir. • • Exemplo Um exemplo importante é a concessão florestal, por meio da qual o poder público, após fazer uma licitação e, mediante contrapartidas do vencedor, delega a gestão sustentável de florestas públicas, desestimulando atividades ilegais na mesma área (CARVALHO FILHO, 2017). Instrumentos da política Nacional do Meio Ambiente No vídeo a seguir, a professora Cristiane Jaccoud comenta sobre os Instrumentos da política Nacional do Meio Ambiente. Vamos assistir! Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Sobre o SISNAMA e seus instrumentos, marque a alternativa correta. A Podem os municípios elaborar padrões técnicos sem observar os expedidos pelo CONAMA. B Compete ao ICMBIO estabelecer padrões de qualidade ambiental, uma vez que cuida das áreas protegidas, também chamadas de unidades de conservação. C Compete ao Ministério do Meio Ambiente gerenciar o SISNAMA. D Entre as modalidades de punição previstas na PNMA está a concessão florestal. E A secretaria municipal e a fundação municipal de meio ambiente são estruturas executivas locais. A alternativa C está correta. Essa competência está atribuída ao Ministério do Meio Ambiente, o que é coerente com o seu papel de órgão central e coordenador do SISNAMA. Questão 2 Em relação ao CONAMA, assinale a resposta correta. A Todos os seus membros recebem remuneração específica da União. B Atualmente, possui um número menor de membros que pertencem ao primeiro, ao segundo e ao terceiro setor. C Por ser um órgão colegiado, suas decisões são tomadas apenas pelo Ministro do Meio Ambiente. D É presidido pelo presidente do órgão superior. E Os padrões técnicos e as normas editadas pelo CONAMA não precisam ser observados pelos estados e município. A alternativa B está correta. Apesar das críticas pela diminuição do número de representantes do terceiro setor, o CONAMA ainda possui membros da sociedade civil e do setor empresarial, além dos que representam o poder público. 3. Licenças Ambientais e Estudo Prévio de Impacto Ambiental Ligando os pontos Você, como gestor ambiental, deve avaliar o posicionamento das empresas e o papel das partes interessadas. Hoje o arcabouço jurídico que direciona as ações de todo o Sistema Nacional de Meio Ambiente postula que os órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental peça para que as empresas apresentem até três tipos de licença ambientais. Essas licenças são consideradas clássicas e devem ser precedidas da realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA). Para entendermos um pouco mais sobre esse assunto, vamos estudar o caso da empresa Tocantins Celulose, fundada em 1986, que trabalha com papelão ondulado e fornece todo tipo de serviços relacionados a esse papelão (tanto a chapa de papelão como caixas já cortadas e montadas). A Empresa é signatária da Carta para o Desenvolvimento Sustentável e envolve as partes interessadas nas decisões e demais questões ligadas ao ESG por meio da inclusão de líderes comunitários, ambientalistas e especialistas. Essa pessoas atuam na revisão e avaliação da matriz de aspectos e impactos ambientais, incorporando um o olhar da comunidade externa a respeito das atividades da empresa e dos seus impactos ambientais. A Empresa utiliza uma série de métodos para a identificação, avaliação e controle dos aspectos ambientais. Para implantar seu novo empreendimento, aplicou os métodos de coleta de informações com as partes interessadas, as legislações, a significância dos aspectos e impactos, monitoramento e controle de parâmetros ambientais para traçar um panorama dos impactos ambientais que a nova unidade causará ao meio ambiente e a sociedade em geral em seu entorno. Para a identificação prévia dos impactos ambientais a empresa utilizou o balanço de efluentes, produtos e serviços da área de recursos naturais; a projeção da matriz de avaliação dos aspectos e impactos e o balanço de efluentes da área industrial. Foram considerados aspectos físicos que possam causar impacto sobre o ar, o solo, a água; o meio biótico; os agentes ambientais ocupacionais e socioeconômicos. Para a mitigação dos problemas ambientais que poderiam ser causados com o impacto da abertura da nova fábrica, foram sugeridas as seguintes ações por parte da empresa: uso de novas tecnologias para reduzir a emissão de odor; lançamento de compostos reduzidos de enxofre no solo; redução do uso de combustíveis fósseis e consumo de água; eliminação uso de cloro no processo produtivo; reciclagem de resíduos. Essas sugestões eram seguidas de planos e tarefas a serem implantadas antes e depois da construção e início das atividades da nova fábrica, ficando a empresa comprometida com o plano traçado no EIA. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Você, como gestor, precisa identificar uma série de questões ligadas ao meio ambiente para implantar a nova fábrica da Tocantins Celulose. Para que esse empreendimento possa entrar em operação, é necessária uma série de licenças emitidas pelo poder público. Uma dessas licenças é avalia os aspectos gerais do projeto, a concepção da atividade e sua localização. Ao ser concedida, proporciona os controles e as restrições relativas a essa fasee às fases seguintes, atestando que o empreendimento é viável. Aponte a alternativa que indica o nome dessa licença obrigatória para a implantação do negócio. A Licença de Instalação. B Licença de Operação. C Procedimentos Simplificados. D Licença Prévia E Estudo de Impacto Ambiental. A alternativa D está correta. A Licença Prévia – LP é a primeira licença que a empresa precisa aprovar com as autoridades ambientais. Nessa licença, os aspectos mais básicos do projeto serão avaliados e é dado o aval para que as próximas fases sejam deflagradas. Nesse ponto, são verificadas questões básicas como aspectos mais gerais do projeto, a concepção adotada pelo proponente e a localização do empreendimento. Nessa fase são ditados as regras e procedimentos que serão aplicados ao EIA da empresa. Questão 2 A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é uma série (sistema) de procedimentos e avaliações que visa identificar e propor ações para anular ou mitigar os riscos existentes na atividade da empresa. Como gestor ambiental da empresa Tocantins, para que a nova unidade seja implantada, será necessária a realização de uma série de estudos específicos que vão além do EIA apontado no estudo de caso. Qual alternativa contém os nomes corretos desses estudos? A Estudo de impacto de vizinhança (EIV); Relatório ambiental simplificado (RAS); Estudo de Impacto Ambiental (EIA); e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). B Estudo de impacto de voluntário (EIV); Relatório ambiental socializado (RAS); Estudo de Impacto Ambiental (EIA); e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). C Estudo de impacto de vizinhança (EIV); Relatório ambiental socializado (RAS); Estudo de Impacto Ambiental (EIA); e Relatório de Impacto Máximo Ambiental (RIMA). D Estudo de impacto de vizinhança (EIV); Relatório ambiental simplificado (RAS); Estudo de Inviabilidade Ambiental (EIA); e Relatório de Impacto Máximo Ambiental (RIMA). E Estudo de impacto de voluntário (EIV); Relatório ambiental social (RAS); Estudo de Impacto Ambiental (EIA); e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A alternativa A está correta. Como gestor ambiental da Tocantins, você precisa elaborar e submeter às autoridades uma série de estudos. Esses estudos são regidos por lei e devem apresentar as necessidades e situações presentes e futuras que o impacto da instalação da empresa irá causar ao meio ambiente. Esses estudos são aparte do AIA e juntos representam uma vasta gama de aspectos importantes para a preservação do meio ambiente, evitando prejuízos para além da própria empresa e comunidade próxima. Questão 3 Como você, sendo gestor ambiental, avaliaria o posicionamento da empresa Tocantins Celulose? Qual é o papel das partes interessadas? Como as ações da empresa para implantar a nova unidade está sendo tratada em relação aos impactos ambientais que pode causar? Chave de resposta A empresa Tocantins Celulose deve ser avaliada como uma empresa com um posicionamento responsável frente ao meio ambiente. Isso acontece, pois, a empresa procura envolver a comunidade que pode participar tanto da fiscalização como do próprio processo de tomada de decisões das ações para solucionar os problemas identificados. Nesse caso, o papel das partes interessadas (Stakeholders) é fiscalizar e ajudar na busca por soluções viáveis para os problemas enfrentados pela empresa na área ambiental. Por fim, em relação à implantação da nova unidade, o EIA deve ser o mais completo possível, abarcando todos os aspectos relacionados aos impactos no meio ambiente e na comunidade do entorno da fábrica que se deseja instalar. É importante também que a empresa apresente um plano de mitigação, ou mesmo eliminação desses impactos, atentando para os riscos que podem envolver a atividade da empresa. Licenças Ambientais Para entendermos as licenças ambientais, precisamos compreender que fazem parte de um procedimento próprio e com finalidades específicas: o licenciamento. Conforme o art. 2º, inciso I, da Lei Complementar nº 140, de 2011, o licenciamento ambiental é: [...] o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. LC 140/2011, art. 2º, I Representação de um teste de padrão de qualidade para avaliação de impacto ambiental Esse conjunto de atos com ordem prevista (procedimento) ocorre nos órgãos e nas entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), responsáveis pelo controle ambiental – daí a razão para se dizer que se trata de um procedimento administrativo. E as licenças, por sua vez, são atos administrativos. 1 Em regra, são apresentados documentos e estudos pelo empreendedor. 2 Tais estudos são avaliados por quem licencia, podendo ser feitas exigências de complementação. 3 A documentação, então, é analisada pelas áreas técnicas e, quando preciso, pelo departamento jurídico (Resolução 237/1997, art. 10). 4 Por fim, elabora-se um parecer, que pode ou não conceder a licença. 5Com base nesse parecer, o órgão (uma secretaria municipal, por exemplo) ou a entidade (como o Instituto Estadual do Ambiente – INEA) responsável pelo licenciamento vai tomar uma decisão, tornando-a pública. Embora muitas vezes o licenciador não cumpra os prazos para analisar os pedidos de licença, o desrespeito a esses prazos não importa na emissão da licença solicitada. Essa é a clara orientação da Lei Complementar nº 140, §3º, art. 14. Trata-se de instrumento de controle prévio, com a principal finalidade de verificar, no caso concreto de um empreendimento ou uma atividade, quais são as normas ambientais aplicáveis (leis, resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente –CONAMA, princípios). Atenção É importante destacar que uma licença ambiental não substitui ou exclui a necessidade de outras licenças ou autorizações – por exemplo, a licença municipal para a construção de um prédio ou a autorização da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para operar um posto de combustíveis. No licenciamento ambiental, são utilizados vários instrumentos (por exemplo, são avaliados os zoneamentos e os padrões da qualidade aplicáveis). Sendo, em regra, preventivo, é nesse procedimento que ocorrem diversas avaliações de impacto ambiental. Nacionalmente, o licenciamento prévio de atividades é exigido desde a edição da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (Lei 6.938/1981, art. 10). Atualmente, além das resoluções expedidas pelo CONAMA (1/86, 9/87 e 237/97, por exemplo), vários aspectos importantes estão disciplinados na Lei Complementar nº 140, de 2011. Conforme o art. 13 da Lei Complementar nº 140, o licenciamento deve ocorrer em apenas um nível de competência: federal, estadual ou municipal. Existem três formas de sabermos quem deverá licenciar uma atividade. Lei Complementar nº 140 Neste ponto, não são mais observados os arts. 4º, 5º e 6º da Resolução nº 237, de 1997, do CONAMA. Forma 1 Caso esteja o empreendimento proposto dentro dos limites de uma unidade de conservação, deverá licenciar o ente (União, estado ou município) que tenha criado esse espaço territorial especialmente protegido. A exceção dessa regra é a área de proteção ambiental (APA) (art. 7º, inciso XIV, d; art. 8º, inciso XV; art. 9º, inciso XIV, b). Forma 2 Nos demais casos, deveremos observar os seguintes critérios: i) atividades listadas expressamente como de competência da União (art. 7º, inciso XIV). São exemplos aquelas atividades localizadas ou desenvolvidas em terras indígenas, em dois ou mais estados, de caráter militar ou que utilizem material radioativo; ii) atividades de impacto local, que deverão ser licenciadas pelos municípios, conforme definição do respectivo conselho estadual de meio ambiente (art. 9º, inciso XIV, a); e iii) competência estadual nos casos que não se encaixem nos itens i e ii, também chamada de competência residual (art. 8º, inciso XVI). Forma 3 Em atividades dentro dos limites de APAs, são adotados, em linhas gerais, oscritérios do art. 12. Atividade discursiva Podem os demais entes (seus órgãos e entidades vinculadas) participar, apresentando seus pontos de vista? Chave de resposta Sim, mas essas opiniões não vinculam o ente responsável pelo licenciamento (LC 140/2011, art. 13, §1º). Por exemplo, num licenciamento conduzido pelo INEA, uma secretaria municipal de meio ambiente pode apresentar seus pontos de vista. Mas eles não precisam ser acatados pelo INEA, que pode adotar outros critérios – técnica e juridicamente fundamentados. Licenças ambientais têm prazo de validade e são renováveis. Essa renovação deve ser solicitada com mais de 120 (cento e vinte) dias de antecedência, contados do final do prazo. Dessa forma, a licença seguirá válida até que seja analisado o pedido de renovação (LC 140/2011, art. 14, §4º). Atenção Isso possibilita a atualização dos controles ambientais aplicáveis. Quem realiza alguma atividade sem antes obter licença pratica, ao mesmo tempo, infração prevista na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/1998, art. 60) e infração administrativa (Decreto 6514/2008, art. 66). Tipos de licença ambiental Tradicionalmente, o licenciamento ambiental está estruturado em três fases: prévia, de instalação e de operação. Essa organização foi pensada para empreendimentos com impactos relevantes nas fases de construção e de operação. Os conceitos e prazos máximos de cada uma das licenças que veremos estão disciplinados nos arts. 8º e 18 na Resolução nº 237 do CONAMA. LICENÇA PRÉVIA (LP) Avalia os aspectos gerais do projeto, a concepção da atividade e sua localização. Ao ser concedida, proporciona os controles e as restrições relativas a essa fase e às fases seguintes, atestando que o empreendimento é viável. Obtida a LP, devem-se reunir os documentos necessários e exigidos para solicitar a licença seguinte. O prazo máximo da licença é de 5 (cinco) anos. É nessa fase que são realizadas, em regra, avaliações de impacto ambiental importantes como o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA). LICENÇA DE INSTALAÇÃO (LI) Avalia aspectos específicos da construção do empreendimento (como o preparo do terreno para a construção). São então avaliados os croquis e as plantas detalhadas da obra, bem como o projeto executivo, de acordo com as orientações e restrições da LP. O prazo máximo dessa licença é de 6 (seis) anos. LICENÇA DE OPERAÇÃO (LO) Avalia os aspectos específicos da operação do empreendimento (efluentes e emissões, por exemplo). Serve para verificar se as licenças anteriores foram devidamente cumpridas. Como destaca Farias (2016), deve ser feita uma vistoria no local para que essa verificação ocorra antes da expedição da licença. A LO conta com um prazo mínimo de 4 (quatro) anos e máximo de 10 (dez). Essa licença precisa ser renovada enquanto a atividade existir. Conforme o histórico e as características da atividade, os prazos serão maiores ou menores. PROCEDIMENTOS SIMPLIFICADOS Conforme as características do empreendimento (ausência de impacto relevante na construção ou operação), podem ser estabelecidos procedimentos simplificados. Por exemplo, podem ser concedidas licenças que avaliem, de uma vez, aspectos relativos a mais de uma fase do empreendimento. Podemos, assim, ter uma licença prévia e de implementação (LPI). Vejamos dois exemplos de resoluções CONAMA a respeito: Resolução 279, de 2001, traz o procedimento simplificado para empreendimentos elétricos, com pequeno potencial de impacto ambiental como usinas eólicas. Resolução 377, de 2006, traz normas desse tipo para os sistemas de esgotamento sanitário, sendo aplicada às unidades de pequeno e médio porte que não estejam em áreas ambientalmente sensíveis. Resolução 279, de 2001, traz o procedimento simplificado para empreendimentos elétricos, com pequeno potencial de impacto ambiental como usinas eólicas. Resolução 377, de 2006, traz normas desse tipo para os sistemas de esgotamento sanitário, sendo aplicada às unidades de pequeno e médio porte que não estejam em áreas ambientalmente sensíveis. Por fim, é possível que alguns empreendimentos com porte e potencial danoso pequenos sejam licenciados de forma ainda mais simplificada. Nesses casos, todas as fases podem ser avaliadas numa única licença. Instrumentos Legais de Implementação de AIA Embora o EIA seja muito importante e apareça, inclusive, no texto constitucional, é preciso deixar claro que ele é apenas uma das possibilidades de AIA. Pela importância que possui, vamos dedicar um item deste módulo apenas para ele. Sem querer esgotar todas as possibilidades, veremos a seguir outros dois exemplos importantes de AIA. Estudo de impacto de vizinhança (EIV) Esse estudo está previsto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 10.257, de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade. Será exigido somente pelo município, desde que esteja previsto em lei municipal. O EIV não integra, obrigatoriamente, o licenciamento ambiental. Também não se confunde com o EIA, nem o substitui. Esse estudo apenas é exigível em áreas urbanas, podendo ser requisito para que seja autorizada, por um município, a construção de um prédio ou a realização de uma obra. Procura avaliar impactos específicos do espaço urbano para que possam ser pensadas soluções que reduzam ou mitiguem tais impactos. Exemplo Impactos no sistema viário (engarrafamentos), diminuição da ventilação e da iluminação nas áreas urbanas (importante do ponto de vista sanitário) etc. • • • • Relatório Ambiental Simplificado (RAS) É uma AIA exigível nos casos de empreendimentos de pequeno e médio porte que não se enquadram nos casos de EIA. Um dos exemplos são os empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental, como usinas eólicas, previstos na Resolução nº 279/2001 do CONAMA. Conforme essa Resolução e o seu Anexo I, o RAS precisa trazer, no mínimo: A descrição do projeto. O diagnóstico ambiental e as previsões de impactos relativos à implementação e à operação do empreendimento. As medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos previstos Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) O EIA O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e o seu relatório (RIMA) foram disciplinados nacionalmente pela Resolução nº 1, de 1986, do CONAMA. O art. 2º traz um elenco não exaustivo, ou seja, exemplos de atividades sujeitas à elaboração da espécie de AIA. Exemplo Destacamos os seguintes exemplos: aeroportos, oleodutos, extração de combustível fóssil e aterros sanitários (incisos IV, V, VIII e X). Com a Constituição de 1988, ficou esclarecido o critério por trás dos exemplos trazidos: a existência de significativa degradação ambiental, efetiva ou mesmo potencial. Esse conceito precisa ser tecnicamente verificado. Por essa razão, cabe às estruturas do Poder Executivo – vale dizer, aos órgãos e às entidades que integram o SISMANA – analisar se, no caso concreto, estamos ou não diante da exigência do EIA/RIMA. Saiba mais O Supremo Tribunal Federal (STF) já julgou algumas leis estaduais inconstitucionais por tentarem submeter o EIA/RIMA à avaliação ou aprovação de natureza política por estruturas do Poder Legislativo. Em regra, o EIA/RIMA deve ser elaborado na fase prévia do licenciamento. Ou seja, sua elaboração, discussão e aprovação são requisitos para a obtenção da LP nos casos de significativa degradação ambiental, efetiva ou potencial. E, não sendo esse o caso, deverão ser solicitados outros estudos (Resolução 237/1997, art. 3º). Ou seja, mesmo que não haja EIA/RIMA, deverá haver alguma modalidade de AIA. Aliás, a Resolução nº 237/1997 fez um ajuste importante: A elaboração do EIA/RIMA, que antes estava prevista como atribuição do órgão ou da entidade responsável pelo licenciamento na Resolução nº 1 de 1986, passou a ser de responsabilidade do empreendedor (Resolução nº 237/1997, art. 11). • • • Representação da importância da fiscalização nos estudos e relatórios de impacto ambiental Isso não quer dizer que não existam mecanismos de fiscalização ou sanções caso os que elaborem o EIA/RIMA