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1 Urbanização e Industrialização no século XIX Crescimento das cidades, êxodo rural e industrialização: Do ponto de vista social, ocorreu uma grande concentração humana nas cidades inglesas. Pode-se dizer que uma das razões para isso, foi em decorrência profundas transformações que estavam ocorrendo nos campos. Desde o século XVII a agricultura na Inglaterra vinha passando por uma profunda reestruturação. O processo, conhecido como enclosures, ou cercamentos, buscava maior produtividade no campo, tendo o lucro como objetivo principal. Em linhas gerais, o cercamento é a substituição do sistema de exploração agrícola de subsistência, típico do regime feudal, pela exploração em larga escala para atender às exigências das indústrias. Os cercamentos, de modo geral, tinham como objetivo a substituição da agricultura pela criação de carneiros, a fim de fornecer lã para a indústria. Como consequência dessas mudanças no campo, as cidades cresceram enormemente, em decorrência do afluxo de massas de camponeses atraídos para o trabalho nas fábricas, formando o proletariado industrial. A rápida urbanização que acompanhou o processo de industrialização capitalista exerceu também uma influência considerável sobre o padrão de vida da classe operária. Em 1750, somente em duas cidades na Inglaterra a população alcançava 50.000 habitantes. Em 1850, havia 29 cidades com a mesma população. Em meados do século XIX, aproximadamente de cada três pessoas uma vivia na cidade com mais de 50.000 habitantes. As condições de vida nas cidades desta época eram terríveis. Na segunda metade do século XIX, o fenômeno da industrialização se difundiu por quase todo o mundo e adquiriu outras características, produzidas pelo grande progresso técnico e industrial (conhecida também como Segunda Revolução Industrial). O número de cidades dobrou em toda a Europa, aumentando a população urbana: Londres e Paris ultrapassaram a marca de 1,5 milhão de habitantes. O crescimento urbano sofreu um processo sem retorno nesse século: as vilas transformaram-se em pequenas cidades, os pequenos e médios centros urbanos evoluíram e as grandes cidades cresceram ainda mais. A industrialização exerceu dois papéis na movimentação dessas populações no sentido campo-cidade: por um lado, colaborou para o êxodo rural, ou seja, para expulsar os trabalhadores do campo, pois foi responsável pela concentração da propriedade, pela produção em larga escala e pela relativa mecanização; por outro, colaborou para a forte atração exercida pelas cidades, que necessitavam de mão-de-obra em abundância e pareciam acenar com promessas de emprego regular, salários, cultura, educação, bens de consumo, etc. A nova rede de transportes e de comunicação tornou-se um item fundamental de facilitação, pois permitiu o deslocamento de boa parte das populações em direção aos centros urbanos. Além disso, vilas e cidades surgiram e se desenvolveram em torno das estações ferroviárias. Nos 2 grandes centros urbanos, muitos bairros também se organizaram em volta delas. Refletindo a evolução do comércio interno das nações e, principalmente, do comércio internacional proporcionada pela nova fase do capitalismo em expansão, novas e modernas formas de troca foram sendo praticadas nas cidades: constituíram-se redes de casas comerciais, pequenos e grandes armanzéns, imobiliárias, bancos e casas de crédito, lojas com várias características, como os grandes magazines do final do século. Como consequência imediata desse desenvolvimento, apareceram novos profissionais no meio urbano: balconistas, lojistas, caixieiros, corretores, entregadores, bancários, funcionários administrativos, etc. Problemas que o grande êxodo rural trouxe para as cidades: O rápido processo de urbanização provocou a degradação do espaço urbano, do meio ambiente e a destruição dos valores tradicionais. O processo de crescimento urbano foi repleto de contradições, tendo um lado perverso e caótico, que se tornaria característico da nova realidade. De um modo geral, a população aumentou significativamente, mas as estruturas e os serviços das cidades não conseguiram acompanhar esse crescimento, para o qual não havia controle ou planejamento. As cidades viviam impregnadas de fumaça, sujeira e os serviços públicos básicos – abastecimento de água, os serviços sanitários, a limpeza das ruas, parques e jardins, etc. – não conseguiam atender as levas e levas de homens que para elas migravam. Esta situação calamitosa era responsável, sobretudo depois de 1830, pelas epidemias de cólera, de febre tifoide e as constantes e pavorosas perdas humanas causadas pelos dois grandes agentes mortíferos que assolavam os centros urbanos do século XIX: a poluição do ar e da água, ou as doenças intestinais e respiratórias. As populações viviam apinhadas em cortiços superpovoados. Pauperização do proletariado: nem todos, portanto, podiam usufruir plenamente os avanços e benefícios dos serviços urbanos. A pobreza, a miséria e os flagelos sociais cresciam mais rapidamente que as estruturas urbanas, e os poderes políticos e privados negligenciavam esse fato. O sistema fabril recém-instaurado destruiu totalmente o modo de vida tradicional dos trabalhadores, lançando-os abruptamente num pesadelo para o qual estavam completamente despreparados. Perderam o orgulho que tinham, quando artesãos, por sua arte e foram privados das relações estreitas e pessoais que vigoravam nas indústrias artesanais. Sob o novo sistema, a relação que mantinham com o empregador adquiriu um caráter impessoal: entre ambos interpôs-se o mercado, o vínculo monetário. Foram privados do acesso direto aos meios de produção e reduzidos a mera condição de vendedores de força de trabalho, passando a depender, exclusivamente, para sobreviver, das condições de mercado. 3 O pior de todos os abalos provocados pela Revolução Industrial foi, talvez, a regularidade mecânica e monótona a que foi submetido o trabalhador sob o sistema fabril. O sistema fabril instaurou a tirania do relógio. A produção foi mecanizada. A máquina transformou-se no foco central do processo produtivo intervendo a situação que prevalecia anteriormente: deixou de ser o apêndice do homem para submetê-lo a sua fria, implacável e despótica dominação. No final do século XVIII e no princípio do XIX, eclodiram várias revoltas espontâneas, as revoltas ludistas, contra o sistema fabril: multidões de trabalhadores arremetiam-se contra as máquinas e as instalações das fábricas, destruindo o que julgavam ser a causa de seus sofrimentos. As últimas revoltas, sufocadas em 1813, resultaram no enforcamento de muitos trabalhadores e na deportação de muitos outros. Nas fábricas, o emprego de mulheres tornou-se comum. Primeiramente, a divisão do trabalho simplificou e rotinizou de tal modo à maioria das operações produtivas, que as mulheres e crianças, ainda que despreparadas, estavam em condições de executá-las tão bem quanto os homens. Em segundo lugar, os salários que recebiam eram bem inferiores aos salários pagos aos homens. Além disso, muitas vezes a família era obrigada a trabalhar para sobreviver. Depois, muitos empresários preferiam aos homens as mulheres e crianças, pois era mais fácil reduzi-las a um estado de obediência passiva. As crianças estavam ligadas às fábricas por contratos de aprendizagem, de 7 anos de duração, ou até completassem 21 anos. Em geral, quase nada recebiam como pagamento pelas longas horas dedicadas ao trabalho sob as mais penosas condições. A Lei dos Pobres conferia às autoridades poder para entregarem sob contrato, às fábricas, os filhos dos indigentes. O que deu origem as “barganhas regulares” em que crianças eram negociadas como meras mercadorias. O tratamento dispensado as mulheres em nada ficava a dever ao que recebiam as crianças. Para elas também, o trabalho nas fábricas era longo, árduo e monótono e a disciplina extremamente severa. Sindicalismo e Socialismo: a violenta destruição do modo de vida tradicional dos trabalhadores, a dura disciplina implantada sob o novo sistema fabril combinada às condições deploráveis de vida nas cidades geraram muita inquietação política, econômica e social. Levantes, motins e rebeliões propagaram-se. Esse tipo de atuação caracterizou, por exemplo, o movimento ludista, criado por um suposto líder chamado Ned Ludd. No início do século XIX, as entidades de trabalhadores, denominadas trade unions, ainda eram ilegais e só em 1875 seriam plenamente reconhecidas. A partir da década de 1830 surgiram as primeiras organizações e movimentos de operários ingleses, como o movimento cartista. O movimento conquistou algumas conquistas como: proteção do trabalho infantil (1833), regulamentação do trabalho da criança e da mulher (1842), a jornada de 4 trabalho de dez horas (1847) e regulamentação das associações políticas (1846). Não resta dúvida que o capitalismo industrial foi erigido à custa dos sofrimentos e das privações da classe operária, cujo acesso aos frutos do desenvolvimento econômico foi negado. Para ampliar sua margem de lucros, os capitalistas submeteram-na aos mais degradantes excessos. A rude competição por mais lucros engendrou não só a miséria social, como também uma nova divisão da sociedade em classes de natureza injusta e com caráter antagônico. No sistema capitalista a filiação dependia da propriedade. Os capitalistas derivavam sua riqueza e seu poder da propriedade dos meios de produção. Surgiram, então, em cena as doutrinas socialistas contestando as desigualdades e as injustiças sociais geradas pelo capitalismo. Na opinião dos socialistas – dos precursores aos contemporâneos – as desigualdades são o resultado inevitável da instituição da propriedade privada dos meios de produção. Consequentemente, lutar pela justiça social significa lutar pela abolição da propriedade privada do capital. Do ponto de vista teórico, as doutrinas socialistas resultaram da conjunção da noção liberal da igualdade de todos os homens com a noção paternalista e cristã de que todo homem deve ser mantenedor de seu irmão. Bibliografia consultada: DIAS, Reinaldo. A questão social e a necessidade de uma ciência social. In: DIAS, Reinaldo. Sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. Cap. 2. p. 19-41. HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. As doutrinas socialistas e a Revolução Industrial. In: HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J.. História do Pensamento Econômico.25. ed. Petrópolis , Rj: Vozes, 2010. Cap. 5. p. 79- 100. MORAES, José Geraldo Vinci de. História Geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009. 767 p.
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