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O Padrão Ouro Clássico (1870-1914) Economia Monetária e Financeira Internacional Introdução • Sistema Monetário Internacional – “Cola” que junta economias nacionais – Seu papel é prover ordem e estabilidade para mercados cambiais estrangeiros, encorajar a eliminação de problemas de balanços de pagamentos e providenciar acesso a crédito internacional caso choques aconteçam – Consiste em 1) arranjos de taxas de câmbio; 2) fluxos de capitais; 3) uma coleção de instituições, regras e convenções que governam sua operação 4) Moeda - Hegemon • Desenvolvimento histórico do sistema monetário internacional (mercados de capitais internacionais) – Curva em forma de U: controles de capitais e movimentos de capitais internacionais – Desafio para explicar os motivos que levaram a adoção do câmbio flexível pós-1971 – Aumento no fluxo de capitais e desenvolvimento dos mercados internacionais (e da liquidez internacional) – Problema é que os movimentos de capitais também eram elevados no começo do século, quando vigorou o Padrão Ouro Clássico Introdução • Argumento de Eichengreen: – O fato crítico para a manutenção de taxas fixas de câmbio foi o isolamento dos governos de pressões sobre o trade-off externo vs. interno • estabilidade da taxa de câmbio vs. outros objetivos (crescimento econômico, prevenção do desemprego, estabilidade do BP) – Sob a égide Padrão Ouro, a origem de tal proteção foi o isolamento do sistema às políticas domésticas • Pouca representatividade política das classes sociais, pouca representatividade de grupo (sindicatos), ciclo de expansão econômica – Trade-off entre balanço interno e externo Introdução • Apogeu e Declínio do Padrão-Ouro Clássico – Polanyi (1944) argumenta que a extensão e desenvolvimento de instituições de mercado ao longo do séc. XIX estimulou uma reação política na forma de associações e lobbies que levaram a erosão da estabilidade do sistema de mercado – O Padrão Ouro foi uma das instituições de laissez-fare que incitou tal reação política • Pode o séc. XX ser entendido pela ótica da dinâmica Polanyiana, como o conflito entre democratização e liberalização econômica (plena mobilidade de capitais e taxas fixas de câmbio)? • Ou as tendências atuais de taxas flutuantes e unificação monetária apontam para a reconciliação da liberdade e estabilidade nos dois domínios (econômico e político)? Introdução • Processos internacionais devem sempre ser entendidos como ligações interdependentes em rede • O desenvolvimento do sistema monetário internacional também é path-dependent – modelo de causalidade social que é dependente da trajetória (Bernardi, 2012) – rejeita o postulado tradicional de que as mesmas forças operativas gerarão os mesmos resultados em todos os lugares em favor da visão de que o efeito de tais forças será mediado por características contextuais de uma dada situação frequentemente herdadas do passado” (Hall e Taylor, 1996) • escolhas realizadas no momento de formação das instituições e das políticas exercem um efeito de constrangimento sobre o seu futuro desenvolvimento em razão da tendência inercial das instituições que bloquearia ou dificultaria subsequentes mudanças. Introdução • POC, portanto, é fruto do contexto econômico, político e social do fim do século XIX • Reformas do sistema internacional dependem das negociações entre nações (problemas com custos altos de negociação e free riders) – Não é novidade que negociações já falharam antes, mas também existem casos excepcionais onde reformas foram implementadas: • Aliança Ocidental pós 2ª GM • Sistema Bretton Woods • Comunidade Europeia/Sistema Monetário Europeu • Arranjos monetários estabelecidos por negociação internacional (como Bretton Woods) são casos raros – o normal é que esses arranjos surjam espontaneamente de escolhas individuais de países restritos por escolhas de países vizinhos e, mais geralmente, devido a heranças históricas. Introdução • Padrão Ouro se desenvolveu de uma variedade de padrões de moeda-mercadoria (commodity Money) que existiam antes do desenvolvimento pleno do papel moeda e da reserva bancária fracionada • O surgimento do Padrão Ouro também é devido a implementação de um padrão ouro de facto na Inglaterra a partir de 1717, quando Sir Isaac Newton(!), nas funções de mestre de cunhagem, estabeleceu o preço da prata em níveis muito baixos, fazendo com que esta desaparecesse da circulação • Poder financeiro e comercial da Inglaterra (GB), além da Revolução industrial estabeleceram esse país como modelo monetário a ser seguido Introdução • Emergência e operação do sistema condições históricas específicas – Clima intelectual: prioridade dos governos estabilidade da taxa de câmbio e da moeda; – Contexto político favorecia a adoção dessa política: protegido de demandas sociais; – Pressupôs mercados abertos e flexíveis que baseavam-se em fluxos de capital e mercadorias de modo a proteger economias de choques de demanda e oferta O Padrão Ouro Introdução • Emergência e operação do sistema condições históricas específicas – Calcanhar de Aquiles: limites da oferta de moeda – surgimento das reservas fracionárias bancárias expunham a vulnerabilidade do sistema – no evento de uma perda de confiança no sistema, bancos que estendem empréstimos baseados em seus depósitos, limitados por estoques de metais, são vulneráveis a crises de liquidez e corridas bancárias. – Existência de argumento para a função dos BACENs como emprestadores de última instância – Dilema: prover artifícios para crédito que respeitem os estatutos do Padrão Ouro ou prover a liquidez adicional esperada como função de emprestador de última instância? O Padrão Ouro Introdução O Padrão Ouro • Antecedentes – Moedas cunhadas de metais preciosos: nomes evidenciavam a quantidade de metal precioso na moeda Inglaterra: pound e penny (que vieram do pound e denier Romanos) – Prata era dominante na era medieval e no começo da era moderna; – Outros metais eram muito pesados; por exemplo, preço do cobre era um centésimo da prata, moedas puras de cobre deviam pesar cem vezes mais que as moedas de prata de igual valor; uma moeda de alto valor de cobre chegava a pesar 19.5 quilos! – Moedas de ouro surgiram em circulação no séc. XIII, na Itália (berço da revolução comercial) – Desequilíbrios no comércio ou nos fluxos de capitais entre países eram liquidados na moeda aceita pelos credores – Aumentava a moeda em circulação no país com superávit e diminuía no país com déficit – Este desequilíbrio atuava na direção de sua eliminação: ajuste principal via BPs O Padrão Ouro Dilemas do Bimetalismo – Estatutos/leis dos países permitiam a cunhagem e circulação de moedas de ouro e prata – Padrão bimetálico: Estados Alemães, Império Austro- Húngaro, Escandinávia e Rússia – Grã-Bretanha: Padrão Ouro já no início do séc. XIX – Lei Francesa de 1803: requeria à casa de cunhagem fornecer moedas com reconhecimento jurídico a indivíduos apresentando qualidades específicas de ouro e prata – moedas usadas para liquidação de obrigações fiscais e outros passivos contratuais – Taxa de cunhagem era 15.5 por 1, ou seja, uma moeda com certa quantidade de ouro equivalia uma moeda com 15.5 vzs a mesma quantidade de prata • Manter a circulação de ambas as moedas não era simples – variações de preços dos metais nos mercados internacionais criavam incentivos para arbitragem ‒ Suponha que preços no mercado local fossem de 15/1 (câmbio prata/ouro) ‒ Preços no mercado internacional passam de 15/1 para 20/1 (desvalorização da prata ou valorização do ouro): mais prata comprando a mesma quantidade de ouro ‒ Cunhagem de moedas localmente 100moedas de ouro ou 1500 moedas de prata; ‒ Exporta 100 moedas de ouro e troca por 2000 moedas de prata no mercado internacional ‒ Importa 2000 moedas de prata e troca por 125 moedas de ouro no mercado local ‒ Substituição gradativa de prata por ouro localmente (enquanto durar as diferenças de preços) O Padrão Ouro Dilemas do Bimetalismo – Variação na taxa de cunhagem no mercado mundial: aumento do preço do ouro importa ouro, cunha a moeda com a antiga taxa, exporta moeda, e troca pela nova taxa – Lei de Gresham: “dinheiro ruim expulsa o dinheiro bom” – Descobertas de ouro impulsionavam redução das quantidades de prata – os BACENs na verdade administravam as taxas de cunhagem conforme um intervalo (pontos de ouro) que eram acrescidos dos custos de transporte e seguro O Padrão Ouro Dilemas do Bimetalismo – Os Governos também cobravam uma pequena taxa para cunhar moedas (brassage: 0.2% sobre o valor do ouro envolvido); – Arbitragem levava tempo: variações de preços poderiam ser temporárias desincentivos – O próprio padrão de funcionamento também era auto- regulável. Por exemplo – Na medida em que a oferta de prata aumentava, se cunhavam mais moedas de prata, aumentando sua circulação local – Desequilíbrio internacional: absorção da prata em alguns países reduzia sua oferta em outros países, um movimento previsto por participantes do mercado internacional (principalmente negociadores/comerciantes) – Estes participantes compravam prata (vendiam ouro) antes que seu preço caísse a ponto de estimular arbitragem, o que aumentava a quantidade de ouro em circulação no país, absorvendo a prata O Padrão Ouro Dilemas do Bimetalismo • Exemplo: • Produção de ouro no Brasil e exportação para a Grã-Bretanha grande aumento no fluxo de ouro e saída de prata na GB • Governo então tinha que valorizar o câmbio prata-ouro. Pode fazer isso de duas formas • aumentar o preço de cunhagem da prata, reduzindo o conteúdo de prata das moedas: “valoriza” prata menos prata comprando certa quantidade de ouro, ou • reduzir o preço de cunhagem do ouro (desvaloriza): mais ouro para comprar certa quantidade de prata • Governo Inglês resolve diminuir o preço do ouro. Mas última redução de preço (1717) foi muito pequena para sustentar a circulação continuada de prata: moedas puras de prata sumiram de circulação • Reconhecimento da adesão ao padrão ouro • se inicia em 1774 quando o status legal da prata como obrigatória em transações acima de £25 foi abolido; • e se estabelece em 1821, quando o status legal da prata para transações de pequeno valor foi abolido O Padrão Ouro Dilemas do Bimetalismo O Padrão Ouro • Fatores que impediam a adoção do ouro em centros mais desenvolvidos – Cunhagem do ouro não era tecnicamente factível antes da energia a vapor (2ª Revolução Industrial). – Não era factível também por conta dos baixos salários (pagamentos tinham sempre que ser complementados por moedas de prata) – Falsificações de moeda também era um problema na Inglaterra O Padrão Ouro • Mas essas razões não servem como justificativa para o atraso de outras nações na adoção do Padrão Ouro. Outros fatores: Demora na absorção de novas técnicas de cunhagem; Política também atrasou a desmonetização da prata: – artifício para uso monetário da prata: abundância de sua circulação teoricamente aumentaria a oferta de moeda em um país, o que ajudaria aqueles com dívidas denominadas em termos nominais: inflação aumentaria os preços mas não afetaria os valores das dívidas – favorece certas classes (classes agrárias) – mas declínio do poder dessas classes explica apenas parcialmente o declínio do uso da prata (na verdade, não há registro de demandas pelo uso do ouro ou da prata por grupos econômicos específicos – fazendeiros ou manufaturadores) Reputação das nações – compromisso com os padrões monetários escolhidos O Padrão Ouro • Mas na verdade, bimetalismo foi mantido pela atuação das externalidades da rede monetária internacional. Havia vantagens em manter o mesmo padrão monetário de países vizinhos: – Simplificava o comércio – Facilitava empréstimos internacionais – Diminuía a confusão com a circulação interna de diferentes moedas de diferentes países vizinhos • Um choque deveria ocorrer para romper a rede internacional monetária: ‒ Revolução Industrial e a Guerra Franco-Prussiana O Padrão Ouro • O advento do Padrão Ouro – Crescente dificuldade de operar um padrão bimetálico no Continente Europeu – aumento das transações internacionais, queda de tarifas em 1860 e queda nos custos de transporte aumentaram a circulação de moedas em diferentes países; advento da energia a vapor nas casas de cunhagem – Aumento na interdependência de países na circulação da moeda • União Monetária Latina (1865): Itália, Franca, Suíça e Bélgica (Grécia) – acordo para fixação do uso da prata (83.5% do valor de face) O Padrão Ouro • Externalidades de rede. Caso Alemão – Guerra Franco-Prussiana: conversibilidade de moedas foi declarada na Itália, França, Império Austro-Húngaro e Rússia – Alemanha então viu que sua prata não favorecia comércio com o Oriente – seus empréstimos para comércio eram denominados em ouro pois vinham da Inglaterra – A unificação dos Estados Alemães serviu como artifício para abandonar o bimetalismo – não teria problemas com a sua reputação – Indenização da Guerra aumentou a acumulação de ouro e facilitou o processo de adoção do padrão ouro na Alemanha – Crescimento econômico alemão, revolução industrial, crescimento do mercado financeiro em Berlim Como o emprestador teria de pagar os empréstimos na moeda de preferência do credor - Inglaterra aceitava apenas o ouro, diminuindo ainda mais o uso da prata
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