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02-Direitos da Personalidade

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�LFG – CIVIL – Aula 02 – Prof. Cristiano Chaves – Intensivo II – 25/08/2009
Direitos da Personalidade
	
DIREITOS DA PERSONALIDADE
	Os direitos da personalidade constituem a categoria fundamental do direito civil. Ou seja, os direitos da personalidade trazem consigo uma idéia de que são aqueles direitos reconhecidos a cada titular de personalidade para que possa exercê-la plenamente. Em outras palavras, de nada adiantaria reconhecer a personalidade a alguém se essa personalidade não viesse assegurada de garantias fundamentais. Essas garantias elementares, reconhecidas ao titular da personalidade, são direitos à personalidade. Nessa medida, os direitos à personalidade constituem uma categoria especial de direitos subjetivos reconhecida ao titular da personalidade para que ele possa desenvolvê-la plenamente.
	É claro que nessa idéia básica, você deve estar pensando: de onde eles vêm, por que o sistema se preocupa com eles? Na verdade, o reconhecimento dos direitos à personalidade passa, seguramente, pelo reconhecimento do próprio conceito de personalidade.
	Durante o Código de 1916 nós tínhamos uma ideia fundamental de que ter personalidade era ter aptidão, um atributo para ser titular de direitos, ou seja, aptidão para titularizar relações jurídicas. E eu vou trocar essa frase comprida por uma só: ser sujeito de direito. No Código de 1916, a ideia prevalecente sobre personalidade era a de ter aptidão para ser sujeito de direito. E todo aquele que tinha aptidão tinha personalidade, na medida em que ter personalidade era ter esta aptidão. 
Mas, ainda, perceba que esta aptidão para titularizar relações jurídicas poderia ser reconhecida a alguém que pudesse titularizar essa relações pessoalmente ou não. E aí surgia o conceito de capacidade jurídica, se apresentando como medida da personalidade. Aqui, uma relação verdadeiramente implicacional porque quem dispunha de personalidade podia ser sujeito de direito e se podia ser sujeito de direito, poderia titularizar relações jurídicas e se pudesse titularizar relações jurídicas, pessoalmente ou não, teria (ou não) capacidade.
Insisto: aqui você ainda percebe uma relação implicacional: personalidade: aptidão para ser sujeito e se pudesse ou não titularizar essa relações pessoalmente: capacidade jurídica. Havia aqui e você já percebe, uma ideia de que a personalidade se confundia com a própria titularização das relações jurídicas.
 Na década de 70, de 80, Pontes de Miranda, refletindo sobre essa idéia, pensou no seguinte: como fica a situação dos entes despersonalizados? Como se projeta nesta estrutura a situação dos entes despersonalizados (desprovidos de personalidade), como o condomínio edilício, herança jacente e vacante, massa falida, sociedade de fato. Eu vou me fixa no condomínio edilício. Se é um ente despersonalizado sendo que não dispõe de personalidade, é óbvio que ele não pode ser sujeito de direito porque ter personalidade significa ser sujeito de direito. E é exatamente aqui que se hospeda a crítica desta compreensão. É exatamente aqui que Pontes de Miranda percebe o equívoco dessa idéia que conceituou a personalidade como aptidão para ser sujeito de direito.
Observe, o condomínio edilício pode ser contratante, pode ser contribuinte, pode ser consumidor, pode ser empregador e pode até ser parte no processo. Se o condomínio edilício pode ser tudo isso, então se conclui que o condomínio edilício pode ser sujeito de direitos. Como, sendo ente despersonalizado pode ser sujeito de direitos? É que, na verdade, os entes despersonalizados podem ser sujeitos de direitos. O art. 12, do Código de Processo Civil confirma isso. É o que diz que o condomínio pode ser parte no processo e será representado pelo síndico. Assim, é certo que o condomínio edilício pode ser sujeito de direitos.
O mesmo se diga dos demais entes despersonalizados, da sociedade de fato, da herança jacente e vacante. Todos podem, curiosamente, ser sujeitos de direito. Daí a crítica razoável, justificável de Pontes de Miranda: como dizer que ter personalidade é ser sujeito de direitos se eu posso ser sujeito de direitos mesmo sem ter personalidade? Pontes de Miranda, então, com o exemplo dos entes despersonalizados problematizou a questão e lançou luzes à reflexão dizendo: ser sujeito de direito não reclama personalidade. Logo, há um equívoco conceitual no que tange à personalidade. E aí ele chama a atenção para o seguinte: se ter personalidade é ser sujeito de direito e se titularizar pessoalmente ou não essa relações é ter capacidade, então, eu não preciso ter personalidade para ser sujeito de direito. Então, eu não quero assa personalidade não. Eu nem preciso dela. E eu nem preciso de personalidade porque o que a personalidade me dá (ser sujeito de direitos) eu posso ter independentemente dela. Daí, Pontes de Miranda denunciava a pobreza conceitual da personalidade jurídica, dizendo ser muito pouco.
Acatando a crítica de Pontes de Miranda, o novo Código Civil apresenta um novo conceito de personalidade e também de capacidade. Até porque mexendo no conceito de personalidade, por vias transversas, vamos mexer também no conceito de capacidade. Uma nova reflexão surge para fundamentar a personalidade. Mudou para melhor. Ter personalidade jurídica não pode ser titularizar relações porque eu consigo titularizar relações mesmo sem ter personalidade jurídica. Ter personalidade jurídica é ter proteção fundamental, é ter direitos básicos, elementares, que são os direitos da personalidade porque os direitos da personalidade correspondem à proteção fundamental, à proteção básica, elementar para quem dispõe de personalidade. Todo aquele que dispõe de personalidade, dispõe de uma proteção fundamental e essa proteção fundamental básica, elementar, são os direitos à personalidade.
Perceba que os direitos à personalidade constituem uma proteção para que o titular exerça sua personalidade. Não é difícil perceber, portanto, que os direitos da personalidade se apresentam em nível visivelmente existencial. Trata de uma relação jurídica existencial porque se toda pessoa tem personalidade, toda pessoa tem direitos da personalidade. E o que são esses direitos? A proteção básica, elementar, fundamental, visivelmente de natureza existencial. São aqueles direitos existenciais necessários para que as pessoas exerçam sua personalidade. É simples: os entes despersonalizados não têm porque não titularizar relações existenciais.
Mas, ao lado disso, vem o conceito de capacidade jurídica. Mas o que é isso? A capacidade jurídica continuará sendo a possibilidade de titularizar pessoalmente relações jurídicas. Mas qualquer relação jurídica? Isso tem a ver com a personalidade? Pois é exatamente aqui que você precisa estar atento. A resposta é não porque a capacidade jurídica diz respeito à aptidão para titularizar pessoalmente relações jurídicas de conteúdo patrimonial. É aqui que reside a diferença. A capacidade diz respeito a direitos patrimoniais. Presta bem atenção! Enquanto a personalidade diz respeito a situações existenciais, a capacidade diz respeito a situações patrimoniais.
Onde está a diferença? Os entes despersonalizados não dispõem de direitos à personalidade porque ano tem personalidade. Todavia, possuem capacidade porque para ter capacidade não precisa ter personalidade. Eu posso titularizar relações patrimoniais, mesmo não dispondo de personalidade, mas a recíproca não é verdadeira porque quem dispõe de personalidade, ou seja, aquele que tem direitos de personalidade pode titularizar também relações patrimoniais, mas a recíproca não é verdadeira na medida em que quem tem capacidade não tem, necessariamente personalidade. Note, relações existenciais, quais são elas: privacidade, honra, imagem. Relações existenciais dizem respeito ao direito da personalidade. Relações patrimoniais dizem respeito à capacidade jurídica e a capacidade jurídica, insisto, é reconhecida a todo aquele que tem personalidade e também aos entes despersonalizados. 
Ocondomínio edilício que pode ser empregador, contratante, contribuinte, tem capacidade e pode titularizar pessoalmente as relações jurídicas patrimoniais. Mas se alguém colocar uma nota no jornal, dizendo que o condomínio tal é mal pagador, é caloteiro, eu pergunto: ele pode sofrer um dano moral? É possível reconhecer dano moral a um condomínio edilício? A resposta só pode ser não porque o condomínio edilício não dispõe de personalidade. Assim, como todo e qualquer ente despersonalizado, o condomínio não dispõe de personalidade, mas tem capacidade e sendo assim, pode titularizar relações patrimoniais. Jamais relações existenciais.
Está aqui uma nova percepção sobre os direitos da personalidade. Uma nova percepção, afinal de contas, sobre a própria personalidade. Com isso, valoriza-se o conceito de pessoa. E por que? Porque ate bem pouco tempo o conceito de pessoa dizia que é quem tem personalidade e quem tem personalidade pode titularizar relações, mas os entes despersonalizados também podiam. Ou seja, havia um empobrecimento do conceito de personalidade, segundo Pontes de Miranda para quem: se ter personalidade é somente titularizar relações, então eu não preciso ter personalidade porque mesmo sendo ente despersonalizado se eu estivesse enquadrado como tal, eu titularizaria essas relações. ´
Hoje, então, há um enriquecimento conceitual, há uma tentativa de proteção avançada da pessoa para dizer que toda pessoa tem personalidade e ter personalidade é ter garantia fundamental, básica. E ter personalidade implica em ter capacidade, mas a recíproca não é verdadeira porque aquele que titulariza relações existenciais, titulariza relações patrimoniais, mas nem todo aquele que titulariza relações patrimoniais tem também direitos à personalidade, titulariza, portanto, relações existenciais. Nesse sentido, analise comigo o art. 1º, do Código Civil.
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Mas a recíproca, não é verdadeira porque nem todo aquele que dispõe de capacidade jurídica, dispõe também de personalidade porque alguns entes dispõem de capacidade, como os entes despersonalizados (condomínio, sociedade de fato, etc.) sem dispor, contudo de personalidade jurídica. 
É claro que se o Código de 1916 era focado na proteção do patrimônio, individualista e patrimonialista, eu nem preciso dizer que o Código de 1916 não conheceu os direitos à personalidade. E não foram conhecidos porque os direitos à personalidade tendem a uma valorização das relações existenciais e o que o Código de 1916 queria era proteger as relações patrimoniais. Então, é certo de que o Código de 1916 se preocupou fundamentalmente com o conceito de capacidade e não com o conceito de personalidade. Aliás, se preocupou tanto com o conceito de capacidade que ele conseguiu asfixiar o conceito de personalidade no conceito de capacidade. 
O código de 2002, diferente do seu antecessor, valoriza o conceito de personalidade e é por isso que o Código de 2002 parte da premissa de que a categoria jurídica fundamental do sistema são os direitos à personalidade, porque o Código parte da seguinte premissa: somente protegendo a pessoa, somente protegendo aquele que dispõe de personalidade é que poderemos criar um sistema voltado à pessoa. Afinal de contas o direito é feito pelo homem e para o homem. Os direitos da personalidade trazem consigo uma idéia de proteção fundamental. 
Os direitos à personalidade são de construção relativamente recente. Foram construídos a partir da II Guerra mundial na Alemanha para que aquelas atrocidades praticadas pelos oficiais militares não se repetissem. Para que aquelas barbáries envolvendo a pessoa humana não fossem repetidas, é que se construiu direitos à personalidade com a idéia de que são os direitos voltados à proteção da pessoa humana.
Nessa tônica, nessa ideia, surge uma questão importantíssima. A essa altura vocês já conhecem os direitos à personalidade. São as garantias básicas, elementares. Esses direitos que constituem essa proteção elementar, fundamental, constituem um rol taxativo ou exemplificativo? O rol é taxativo ou é exemplificativo? Você responde comigo: se os direitos da personalidade tendem ao reconhecimento das garantias fundamentais, você já sabe que o rol dos direitos da personalidade só pode ser exemplificativo. Tudo aquilo que é necessário para a proteção existencial da pessoa, para a proteção das relações existenciais, está conectado ao direito da personalidade. É direto da personalidade tudo aquilo que alguém precisa para ter vida digna sob o prisma de uma relação privada, não de uma relação pública. Ou seja, os direitos à personalidade não são percebidos pelo enfoque publicista. Claro que não! Estou falando de uma relação eminentemente privada. Ou seja, é tudo aquilo que é necessário para que se tenha vida digna sob o enfoque de uma relação privada. Os direitos da personalidade, portanto, constituem a categoria jurídica fundamental do direito privado. São as garantias fundamentais, necessárias para que alguém tenha personalidade, para que alguém titularize relações privadas. O rol é exemplificativo. E aí você aprende: se o rol é exemplificativo, podem ter direitos à personalidade não tipificados em lei. Há alguns direitos à personalidade que estão tipificados em lei. Exemplos: honra, imagem, privacidade. Mas pode haver algum direito à personalidade não tipificado em lei. Pode! Se você não lembra, até bem pouco tempo, até a Constituição de 1988, a imagem não estava garantida por legislação nenhuma. Eu me lembro de uma propaganda que dizia: “todo brasileiro tem direito a um e-mail grátis”. Se um dia você partir da premissa que ter acesso à internet é necessário para ter vida digna, você vai dizer que ter direito a um e-mail é um direito da personalidade porque direito da personalidade é tudo aquilo que é necessário para ter vida digna sob o prisma de uma relação privada e o rol é exemplificativo. 
Nesse sentido, Enunciado 274 da Jornada de Direito Civil, confirmando o caráter exemplificativo. A propósito do tema, se os direitos à personalidade constituem um rol exemplificativo, e se é possível reconhecer todo e qualquer direito da personalidade, mesmo que não tipificado em lei, não é difícil você perceber que o direito brasileiro, seguindo o modelo Português, espanhol, italiano, reconhece uma cláusula geral de proteção da personalidade. Ou seja, todos os direitos da personalidade, sem exceção, estão gravitando ao redor dessa cláusula geral. Estão atrelados a essa cláusula geral, direta ou indiretamente. Essa cláusula geral é o art. 1º, III, da Constituição Federal: dignidade da pessoa humana. A cláusula geral de dignidade da pessoa humana é nossa cláusula geral de proteção da personalidade e todos os direitos à personalidade se conectam a ela. Direta ou indiretamente, nascem da dignidade da pessoa humana. E é por isso que o rol é exemplificativo. E é por isso, exatamente por isso, que o rol é exemplificativo. Vamos ler o Enunciado 274:
Enunciado 274 – Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.
	Eis o enunciado, confirmando que os direitos da personalidade são exemplificativos e estão ancorados na dignidade da pessoa humana.
	Só que aí surge um problema. Na área penal, trabalhista, também se fala na dignidade da pessoa humana. Mas o que é essa dignidade da pessoa humana? Alguém consegue construir um conceito acerca da dignidade da pessoa humana? Eu sei qual é a cláusula geral, de proteção da personalidade, que é a dignidade da pessoa humana. Mas o que significa dignidade da pessoa humana? Atenção! Dignidade da pessoa humana, assim como todo princípio
	Miguel Reale afirmou ser o direito fato, valor e norma. O direitocomo fato e como norma é fácil de ser entendido. Mas o que é o direito como valor? É o que a gente chama de princípio. Todo princípio é valorativo. Todo princípio é um valor acolhido pelo sistema, é uma opção ideológica do sistema e a dignidade da pessoa humana é uma das nossas opções ideológicas constitucionais. Curiosamente, a dignidade é a nossa maior opção ideológica. É o maior valor da república (art. 1º), mas o que significa? Dignidade, como todos os outros princípios constitucionais, é um conceito aberto, plástico. Eu não sei o que é. Para saber o que é dignidade, eu dependo do caso concreto, na medida em que somente no caso concreto será possível construir um conceito de dignidade. Se é assim, então, eu não sei o que é dignidade, mas eu devo enxergar na dignidade um conteúdo mínimo. Quem bem ensina isso são os constitucionalistas (Luiz Roberto Barroso, José Afonso da Silva). Celso Antônio Bandeira de Mello (“Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade”), tratando da idéia de igualdade dizia que não dava para conceituar igualdade porque é um conceito aberto, mas que enxergava na igualdade um conteúdo mínimo. De igual forma, eu não sei o que é dignidade, mas enxergo nela um conteúdo mínimo. Alguns autores chamam isso de núcleo duro. Núcleo duro ou conteúdo mínimo do princípio da dignidade significa: eu não sei muito bem aonde essa dignidade vai chegar, mas eu sei qual é o seu caminho porque o princípio não dá uma solução fechada, mas aponta o caminho. O caminho apontado pela dignidade, o conteúdo mínimo do princípio da dignidade, o núcleo duro do princípio da dignidade implica em três diferentes aspectos. O que significa ter dignidade, o que significa ter vida digna? Não sei porque para saber o que é ter vida digna depende do caso concreto, mas ter vida digna significa:
Integridade física e psíquica, 
Liberdade e igualdade e 
Direito ao mínimo existencial.
	Esse é o conteúdo jurídico do princípio da dignidade. Ou seja, eu não sei o que é porque não d á para dar m conceito fechado de algo que é aberto. Eu não sei quais são as latitudes e longitudes da dignidade, e não tenho como saber, mas sei em que sentido sinaliza a dignidade. Mesmo não sabendo onde ela está, sei onde provavelmente pode ser encontrada. Então, o conteúdo jurídico, o núcleo duro da dignidade diz respeito àqueles valores que a compõem: integridade física e psíquica, liberdade e igualdade e direito ao mínimo existencial.
	No que tange à integridade física e psíquica, a Lei 11.346/06 trouxe para nós o conceito de alimentação adequada. Direito à alimentação adequada. Diz respeito à integridade física e psíquica. Aquele que tem direito à integridade física e psíquica tem direito a uma alimentação adequada. Você já pode ver, por exemplo, que o cálculo da pensão alimentícia em favor do nascituro vai ser um cálculo diferenciado e o juiz pode partir da premissa de que a alimentação da gestante tem que ser diferenciada naquele período. Direito à alimentação adequada. Mais do que isso. 
Você vê também exemplo de aplicação da liberdade e da igualdade. No REsp 820475/RJ, o STJ reconheceu a possibilidade jurídica do pedido de união homoafetiva com caráter familiar. Neste julgado, o STJ se manifestou pela possibilidade jurídica de um pedido de união homoafetiva como entidade familiar baseado em liberdade e igualdade. O STJ disse: liberdade e igualdade é consequência da dignidade da pessoa humana. Esse tema caiu recentemente no concurso de Procurador Federal. Aliás, era uma questão “autorespondível”. Se o candidato não acertou aquela, desiste! O enunciado contava uma historinha de uma servidora publica federal que pretendia incluir como sua beneficiária, para fins de previdência, dependência, etc., a parceira com quem ela vivia há mais de 30 anos e aí a questão dizia assim: como procurador federal, dê um parecer em nome da União, deferindo ou não o pedido de inserção como beneficiário por conta da entidade homoafetiva à luz do princípio da dignidade humana. Quer dizer, quem indeferisse com base nesse princípio, errou! A questão estava respondida: era para dizer sim.
Em terceiro plano está aí o direito ao mínimo existencial e esse direito ao mínimo existencial é o que os constitucionalistas chamam de direito ao patrimônio mínimo. Mínimo existencial ou patrimônio mínimo, que também é corolário da dignidade da pessoa humana. O melhor exemplo é o bem de família, sem dúvida. Mas eu quero dar outro exemplo, mais difícil porque o do bem de família é muito fácil. Vou dar dois exemplos de direito ao patrimônio mínimo como consequência da dignidade humana:
Exemplo 01:	Art. 548, do Código Civil. Eu gosto demais desse artigo porque é injustiçado. A gente não dá muita atenção a ele, que trata da proibição da doação universal. Ninguém dá atenção a ela porque todo mundo acha ele fácil.
Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador.
Onde é que está o X da questão deste artigo? Está na idéia de doar integralmente o patrimônio, é o que todo mundo pensa. Ou seja, nulo o ato daquele que doa integralmente o patrimônio. Não. Imagina que eu doe integralmente o meu patrimônio. Eu vou doar 100% do meu patrimônio para Juliana. Só tem um problema. Eu dôo meu patrimônio inteiro e gravo ele com cláusula de usufruto vitalício em meu favor. Doei tudo. Gravei com cláusula de usufruto vitalício. O ato é nulo ou válido? É válido. Nem toda integralidade de doação é nula porque é possível doar totalmente sem comprometer a subsistência do titular. Percebam que o fundamento do art. 548 não é a integralidade ou não da doação, mas a proteção da dignidade do doador. Portanto, o art. 548 é exemplo sensacional da dignidade da pessoa humana, de direito ao patrimônio mínimo como expressão da dignidade.
Tem um caso recente, está todo mundo discutindo, o tribunal de SP decidiu tem pouco tempo, e tem tudo a ver: julgou uma interessante questão de um fiel de uma igreja evangélica que doou todo seu patrimônio à igreja em troca de um terreno no céu e depois se arrependeu. Ajuizou uma ação anulatória daquelas doações. O argumento dele: “todas as doações foram feitas com erro”. Defeito do negócio jurídico. O TJ anulou com base no erro. Eu discordo. Primeiro, erro não me parece. Poderia ter sido dolo porque ele poderia ter sido induzido a erro pelo pastor, por exemplo, mas mesmo assim continuo achando que é forçação de barra. Doou porque acreditou naquilo naquele momento. Doou? Era uma opção de vida. Salvo casos patológicos. Agora, independentemente de erro, de dolo, o certo é que aquela doação seria nula se viesse a comprometer a subsistência do particular. Para que discutir anulabilidade, que é de interesse privado, se a questão poderia ensejar nulidade, art. 548, do Código? E o art. 548 dá um exemplo excelente de direito ao patrimônio mínimo. 
Exemplo 02:	Além disso, eu quero trazer como exemplo o art. 649 do CPC. Esse exemplo é até melhor. Eu quero construir com você uma solução a partir da dignidade humana. Esse artigo fala dos bens absolutamente impenhoráveis. A redação do inciso II foi determinada pela Lei 11382/06. 
Art. 649 - São absolutamente impenhoráveis: II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; (Alterado pela L-011.382-2006)
Além da impenhorabilidade dos bens imóveis, há também a penhorabilidade dos bens móveis que guarnecem o lar (geladeira, fogão, sofá...). Só que há pessoas que possuem móveis extremamente valiosos, como TV’s de 80 polegadas. Esse tipo de bem estaria resguardado pela impenhorabilidade? O olha o que diz o código: que os bens móveis do devedor são impenhoráveis naquilo que for necessário para manter um padrão médio de vida digna. Ou seja, o Código está dizendo: “devedor, os seus bens móveis são impenhoráveis, sim, mas naquilo que for necessário para manter um padrão médio. Sua TV éimpenhorável, mas se vale muito, vamos penhorá-la para você comprar uma de 20 e o resto fica com o seu credor.” Muito bem. Ao dizer que a impenhorabilidade dos bens móveis alcança o necessário para manter um padrão médio de dívida digna, o art. 649, II, louva, a toda evidência, o direito ao patrimônio mínimo. Está dizendo que a proteção ao patrimônio não é para prejudicar o credor, mas é uma proteção para manter um padrão médio de vida digna. É o direito ao patrimônio mínimo como expressão da dignidade humana.
Todavia, o que me preocupa neste instante é que o examinador vai fazer pergunta difícil: vai perguntar se os bens imóveis de elevado valor também estão alcançados pela impenhorabilidade. Eu quero que você observe que na letra fria do código, na exegese estrita do CPC, os bens imóveis são sempre impenhoráveis. Na redação do art. 649, combinado com a Lei 8.009/90 (Lei do Bem de Família), os bens imóveis são sempre, sempre impenhoráveis. Mas aí eu lhe pergunto: imagine o devedor que só tem um imóvel que vale 15 milhões. Ele só tem aquele imóvel. Na letra do Código aquele imóvel é impenhorável porque o código diz que todo imóvel que serve de lar é impenhorável. Mas eu lhe pergunto: ele pode ter vida digna vivendo em imóvel de menor valor? Pode! Está no código? Não. Mas pode penhorar? Pode sim. A esse respeito, vou endossar a tese de Luiz Guilherme Marinoni: é possível penhorar bem imóvel de elevado valor. Nesse sentido, Marinoni e também Didier. Ambos entendem ser possível penhora de bem imóvel de elevado valor, não com base em norma-regra (que diz que todo imóvel é sempre impenhorável), mas com base em norma-princípio. Qual princípio? Dignidade da pessoa humana. Mas dignidade de quem? Agora, você pode falar da dignidade do próprio devedor porque a dignidade do devedor não é a proteção do patrimônio ilimitado irrestritamente. A dignidade do devedor funda-se na proteção de um patrimônio mínimo. E a proteção da dignidade do devedor não pode implicar no sacrifício da dignidade do credor. Assim, por uma simples ponderação de dignidade, nós podemos concluir que é viável, com bases em norma-princípio da penhora de imóvel único de elevado valor apesar do Código de Processo Civil sinalizar em caminho diverso, sinalizar em outro sentido, daí a conclusão a que chegamos.
Esse assunto é de grande importância. É de enorme importância e eu queria fechar essas noções iniciais com um último comentário. Até esse momento eu chamei a atenção para a importância da dignidade da pessoa humana, mas a pessoa humana não serve apenas para os direitos da personalidade. A dignidade humana é de aplicação universal no nosso sistema. Ela se aplica no direito penal, no direito do trabalho, enfim, é universal. Por isso, não esquece que, no que tange ao direito público, no que diz respeito às relações estatais a dignidade tem uma dupla face: ela apresenta um aspecto negativo e um aspecto positivo. No que tange às relações com o Poder Público, a dignidade, tem um aspecto positivo e um aspecto negativo. 
No aspecto negativo a dignidade serve como limite imposto à supremacia do interesse público. Não se pode falar em interesse público violando a dignidade. O interesse público não pode implicar em sacrifício da dignidade. Então, o aspecto negativo limita o exercício da supremacia. 
E o aspecto positivo obriga o Poder Público a implementar políticas públicas, daí a compreensão de que a dignidade humana possui uma dupla face: um aspecto negativo e um aspecto positivo naquilo que respeita à sua oponibilidade ao Estado. O aspecto negativo limita a supremacia do interesse público, limita a atividade estatal. O aspecto positivo impõe ao Estado a implementação de políticas públicas para salvaguardar a dignidade. 
Tem duas questões que eu quero mostrar:
AGU/2004: “Redija um texto dissertativo a respeito da dignidade da pessoa humana, abordando obrigatoriamente os seguintes aspectos: dignidade humana como limite à atividade dos poderes públicos e tarefa imposta ao Estado. E a relação entre a dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias individuais.” É uma pergunta bacana. Está aí a dupla face da dignidade da pessoa humana, aspecto negativo e aspecto positivo. Aqui você lembra da sua incidência nas relações privadas, eficácia vertical e tudo isso a gente viu na aula passada.
MP/MG/2006: “Dentro do contexto nacional, diversos autores, dentre eles Pontes de Miranda, Caio Mário, Orlando Gomes, Serpa Lopes, dentre outros, definiram os direitos da personalidade como direitos subjetivos relacionados intimamente com o ser humano, bens e valores essenciais da sua pessoa. Então, são os direitos especiais, elementares. O Código Civil, inovando, dedica um capítulo a esses direitos, alicerçados no direito civil constitucional. Tomando por base esses direitos de construção recente (falamos disso, de formação a partir da II Guerra), formule dissertação considerando os conceitos gerais, as características e classificações.” Vamos falar sobre essa parte final no decorrer da aula. Vejam que tem caído toda hora.
MP/BA, MP/PR (em andamento): A prova aberta de direito civil teve como objeto os direitos da personalidade. 
Ou seja, é um assunto recorrente e está caindo toda hora em concurso. É natural porque o tema é fundamental para a compreensão das relações de direito civil.
Me veio à mente agora um último comentário. Todo direto da personalidade é um direito fundamental constitucional? Haveria uma correlação entre direitos à personalidade e direitos fundamentais do art. 5º, da Constituição? A resposta: claro que não. Nem todo direito da personalidade é um direito fundamental e vice-versa. Até porque eles partem de premissas rigorosamente distintas, mas os direitos fundamentais são garantias aplicáveis no âmbito público-privado, enquanto que os direitos da personalidade possuem uma vertente eminentemente privada. Ou seja, não há que se dizer que todo direito da personalidade é um direito fundamental e vice-versa, porque nem todo direito da personalidade está lá no elenco da Constituição como um direito fundamental. E nem todo direito fundamental é direito da personalidade. São prismas distintos. 
Mas não há relação entre eles? Pode haver. Sim, porque, eventualmente (eu disse eventualmente) um direito da personalidade pode ter sido enquadrado como direito fundamental. Privacidade, por exemplo. Fica melhor se você pensar sobre esse assunto a partir da seguinte idéia: há que se fazer uma distinção entre os direitos da personalidade e as liberdades públicas. E essa distinção, absolutamente necessária, é fundamental porque os direitos da personalidade são vistos pelo enfoque privado. 
E o que são direitos da personalidade? São aqueles relacionados à proteção da essência, à proteção essencial da pessoa, à proteção das relações existenciais. Ou seja, direito da personalidade é tudo aquilo que diz respeito à proteção fundamental, à proteção das relações existenciais. 
E o que são as liberdades públicas? São obrigações positivas ou negativas impostas ao Estado, ao Poder Público, para fazer valer a proteção dos direitos à personalidade. Sabe o que é? De nada adiantaria, de nada serviria resguardar os direitos da personalidade se não se impusesse ao Estado determinadas atividades, determinadas obrigações para implementar esses direitos à personalidade. De que valeriam os direitos à personalidade se o Estado não fosse obrigado a determinadas atividades para que eles fossem salvaguardados? 
Há um exemplo extremamente eficiente para você entender isso: o direito de locomoção, o direito de ir e vir é visivelmente direito da personalidade. Decorre da dignidade humana: liberdade. Da liberdade decorre o direito de locomoção, então é um direito de personalidade. E o direito de locomoção, enquanto direito da personalidade, traz a reboque, traz consigo, o habeas corpus. O habeas corpus, portanto, é uma obrigação positiva ou negativa imposta ao Estado, é uma liberdade pública (direito de locomoção e habeas corpus). Nesse exemplo,vamos perceber que há, de fato, uma distinção entre os direitos da personalidade e as liberdades públicas. Direitos da personalidade domiciliados no campo privado, e as liberdades públicas situadas no direito público. E assim nós vamos percebendo que um e outro não se confundem: direitos da personalidade e liberdades públicas.
	FONTES DO DIREITO DA PERSONALIDADE
Um dos pouquíssimos momentos em que uma expressão jurídica tem o mesmo sentido de sua expressão comum é a palavra fonte. Seja em sentido comum, seja em sentido jurídico, fonte dá idéia de origem, nascedouro. Fontes do direito da personalidade, portanto, dizem respeito à origem desses direitos, de onde vêm. Nesse momento, eu já peço licença para fazer uma análise extremamente objetiva. Eu vou fazer isso, literalmente, como professor de cursinho. Então, acompanhem comigo.
As fontes do direito da personalidade, numa visão majoritária (não é a minha), Maria Helena Diniz, Pablo Stolze é a de que a fonte aos direitos da personalidade é o jusnaturalismo. Eles entendem que os direitos à personalidade não nascem na ordem jurídica e sim de uma ordem preexistente ao direito. É uma ordem “divina”. Atenção! Para eles, os direitos da personalidade são inatos, você já vem de fábrica com os direitos à personalidade. Por isso, olha só, se cair na prova a seguinte pergunta:
MP/DF/2002: “Julgue o item a seguir: o reconhecimento dos direitos da personalidade sofreu influencia do cristianismo e de sua idéia de dignidade do homem.” Verdadeiro ou falso? Verdadeiro! Porque a posição majoritária no Brasil é a de que os direitos da personalidade possuem uma concepção jusnaturalista, interligando-se a uma concepção religiosa. 
Um exemplo explorado pelos autores que estão na posição majoritária é o exemplo do Tribunal de Nuremberg. Você lembra. Os oficiais nazistas alemães foram condenados. Eles alegavam, em defesa, que estavam cumprindo a lei. Mas foram condenados porque o Tribunal de Nuremberg disse: “apesar de vocês estarem cumprindo o ordenamento alemão, a lei alemã, vocês estão cumprindo uma ordem preexistente ao direito alemão. Antes do direito alemão estão os direitos à personalidade. Jusnaturalismo. Os autores do Brasil, em posição majoritária, defendem uma concepção inata e jusnatural de direitos da personalidade, levando em conta uma influencia cristã, religiosa. 
De outro lado, em posição minoritária (Gustavo Tepedino, Pontes de Mirante), a fonte dos direitos da personalidade é o próprio sistema jurídico. Ou seja, para eles, os direitos da personalidade não são inatos. São decorrentes do próprio sistema jurídico. São uma opção do sistema jurídico. Se o direito é um fenômeno cultural, e se é assim, está submetido à evolução dos tempos. Os direitos à personalidade caracterizam essa evolução jurídica. Noutros tempos, em priscas eras, não precisava de direitos à personalidade. Hoje, o sistema jurídico parte da base do reconhecimento dos direitos à personalidade. Eu li que se os direitos fossem inatos, eles seriam também universais. E se eles fossem inatos por que na África, até hoje, há tribos que matam os pais, entregam suas filhas virgens em sacrifício a divindades? E tem mais o povo muçulmano até hoje permite pena de morte. Se os direitos à personalidade são inatos, emanações divinas, quem é que se comunicou com o homem lá em cima para saber que ele permite pena de morte em tempo de guerra? Sim, porque, se diretos à personalidade são inatos, não pode matar nunca porque ninguém pode tirar a vida que foi dada por Deus. Mas pena de morte em pena de guerra é exceção. E Ele permitiu exceção? Onde estavam os direitos à personalidade na época da escravatura? Tinham sido esquecidos? Não. Naquele momento, eles não constituíam uma opção jurídica. Eles constituem agora uma posição jurídica. Daí eu concordar com a posição minoritária.
Para acabar com toda e qualquer discussão, eu lanço só uma reflexão: um dos direitos à personalidade é o direito autoral (criação, invento). Se é assim, como sustentar a tese de que são inatos. Se direito autoral é direito da personalidade, como sustentar que são inatos? Eles não são inatos nunca! Eles são fruto da criação humana e, com isso, me parece que a tese de que os direitos da personalidade são, de fato, criação do sistema jurídico, vai ganhando fôlego.
	INÍCIO DOS DIREITOS À PERSONALIDADE
Nesse momento, eu vou precisar que você relembre uma aula do professor Pablo em que ele falava no semestre passado sobre os direitos do nascituro. Vamos relembrar juntos.
Há uma polemica quanto ao início dos direitos à personalidade porque o art. 2.º do Código Civil tem uma redação lamentável. A péssima redação do art. 2º, trazendo confusão e complexidade, dá ensejo à controvérsia:
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Duas idéias antagônicas. A primeira: desde a concepção; a outra: começa do nascimento com vida. Pois bem, a partir de quando se inicia a proteção dos direitos à personalidade. São três teses justificadoras que procuram justificar o início dos direitos da personalidade. Você já conhece. Eu só vou resgatá-las para que a gente chegue a um acordo.
Tese 01: Tese Natalista
Silvio Rodrigues, dentre outros, sustenta que a personalidade só se inicia com o nascimento com vida. Logo, para ele, os direitos à personalidade somente são reconhecidos com o nascimento com vida. Nascimento e vida. Daí tese natalista. Ele diz que a expressão desde a concepção diz respeito a expectativa de direitos. Ele diz que o nascituro tem mera expectativa de direito. Se o nascituro tem mera expectativa de direitos, significa que, fundamentalmente, as ações que poderiam ser utilizadas pelo nascituro seriam ações cautelares porque ele ainda não é titular. Ele tem mera expectativa.
Tese 02: Teoria Concepcionista
Teixeira de Freitas e o Código Civil da Argentina (feito a partir do projeto de Teixeira), Francisco Amaral (RJ). Para os concepcionistas, os direitos da personalidade se iniciam desde a concepção. Olhando para o art. 2º, será que os concepcionistas ignoram a primeira parte do artigo? Sobre a personalidade se iniciar com o nascimento com vida, os concepcionistas dizem que o nascimento com vida é o ponto inicial para a aquisição dos direitos patrimoniais. Os direitos da personalidade, existenciais, portanto, desde a concepção. Em outras palavras, o nascituro pode receber doação, herança ou legado que ficam condicionados ao nascimento com vida. Os direitos à personalidade ele exerce desde logo, lhe são reconhecidos desde a concepção, e os direitos patrimoniais ficam condicionados ao nascimento com vida. Os concepcionistas olham para o nascituro e dizem: “se você já tem direitos à personalidade é porque você já tem personalidade.” Pois bem, essa é a tese concepcionista.
Tese 03: Tese Condicionalista
É aqui que está a maioria dos autores clássicos, tradicionais, do direito civil. Maria Helena Diniz, Caio Mário, Washington de Barros Monteiro. A clássica civilista nacional está aqui, na tese condicionalista. Os condicionalistas dizem que a personalidade do nascituro está condicionada ao nascimento com vida. E explicam: embora o nascituro já disponha dos direitos da personalidade desde a concepção, os direitos patrimoniais estão condicionados. E aí eles dizem: se os direitos patrimoniais estão condicionados, apesar de os direitos à personalidade já terem sido reconhecidos desde a concepção, é porque a sua personalidade como um todo está condicionada.
Agora, leia o que você escreveu na segunda e na terceira tese e vê se está correto. Se você copiou o que eu disse você copiou que os concepcionistas entendem que os direitos à personalidade se iniciam com a concepção, apesar de os direitos patrimoniais ficarem condicionados ao nascimento com vida. E aí, entendem os concepcionistas: se já tem direitos à personalidade desde a concepção é porque já tem personalidade. Os condicionalistasdizem que os direitos à personalidade são reconhecidos desde a concepção, mas os direitos patrimoniais estão condicionados ao nascimento com vida. Ora, se é assim, dizem os condicionalistas, é porque a personalidade como um todo está condicionada. A segunda e a terceira tese dizem ou não a mesma coisa?
Pois bem, uma professora bem conhecida, de SP, Silmara Juny de Abreu Chinelato escreveu um livro intitulado Tutela Civil do Nascituro onde diz o seguinte: a segunda e a terceira tese dizem a mesma coisa. Ambas partem da premissa de que os direitos à personalidade se iniciam na concepção. Portanto, colocando uma pá de cal em qualquer controvérsia, qual é o momento aquisitivo dos direitos à personalidade? A concepção. E ponto final. Hoje, a doutrina brasileira e a legislação também caminham uniformes no sentido de que o momento aquisitivo dos direitos à personalidade é a concepção. E concepção aqui é a concepção uterina! Porque hoje tem concepção em laboratório, fertilização assistida. Aqui é a concepção uterina! Se os direitos da personalidade se iniciam com a concepção, o nascituro dispõe de direitos à personalidade. Tranquilo. E o STJ vem reconhecendo isso.
No REsp 399028/SP o STJ se posicionou no sentido de reconhecer os direitos da personalidade do nascituro. É a posição do STJ.
REsp 399028 / SP - Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA - T4 - QUARTA TURMA - DJ 15/04/2002
DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO JUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum.
II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum.
III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional.
E eu quero ir mais longe um pouquinho. Tem um exemplo que para mim é ilustrativo e fundamental. No RJ um médico resolveu fazer propaganda do seu equipamento de ultrassom e usou a imagem que gravou de uma de suas gestantes. A mulher descobriu que aquela imagem era do nascituro dela e ajuizou uma ação: “uso indevido de imagem”. E a ação é promovida por quem? Pelo filho! Ajuizou e, ao que consta da notícia, ganhou a ação. Procede! Direitos da personalidade do nascituro. Só para exemplificar, suponham que aquela ação transitou em julgado antes de o bebê nascer. Pergunto: essa mãe poderia levantar o dinheiro? Não, porque os efeitos patrimoniais estão condicionados ao nascimento com vida. Ou seja, nascituro tem direitos da personalidade, mas não direitos patrimoniais. 
Reconhecendo os direitos da personalidade do nascituro, dois diplomas legais: o ECA expressamente reconhece os direitos da personalidade do nascituro e a Lei 11.804/08 (Lei dos Alimentos Gravídicos). A propósito do tema: natimorto tem direitos à personalidade? Natimorto é quem foi concebido, mas não nasceu com vida. Qual é o momento aquisitivo dos direitos à personalidade? A concepção. Ora, se o natimorto foi concebido, ele adquiriu direitos à personalidade. Vamos ao Enunciado 1 da Jornada de Direito Civil.
Enunciado 1 – Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
Natimorto tem direito a nome, imagem e sepultura. Visivelmente direitos da personalidade do natimorto porque o momento aquisitivo dos direitos à personalidade é a concepção.
Eu quero agora te lançar um veneno: embrião laboratorial tem direitos à personalidade.
(Intervalo)
Se o embrião laboratorial porventura titularizar os direitos da personalidade, olha o que vai acontecer: o médico está andando com um tubinho de ensaio, tropeçou e caiu: homicídio culposo. Se ele jogar na privada e dar descarga, homicídio doloso e duplamente qualificado. Asfixia e impossibilidade do direito de defesa da vítima. É certo, portanto, que a lógica conspira no sentido de que o embrião laboratorial não disponha dos direitos da personalidade. Evidentemente, os direitos da personalidade somente são reconhecidos a partir da concepção uterina, a partir da nidação, da concepção uterina é que se fala no reconhecimento dos direitos da personalidade. Não se pode reconhecer esses direitos ao embrião laboratorial.
Nesse sentido, você vai conferir comigo agora o Enunciado 02, da Jornada de Direito Civil, que vem exatamente nesse sentido, para reconhecer que o Código Civil e esses direitos da personalidade não são aplicáveis aos embriões laboratoriais que reclamam, claro, uma tutela jurídica própria e específica:
Enunciado 2 – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.
A respeito do tema nós já podemos dizer que o STF assim se manifestou quando do julgamento da ADI 3510 (Carlos Ayres Britto). O Supremo teve de analisar a constitucionalidade do art. 5.º, da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05). Esta lei, expressamente, estabelece a possibilidade de descarte de embriões congelados, que são chamados também de criogenizados. No art. 5.º da Lei de Biossegurança nosso ordenamento permitiu que os embriões não utilizados para fins reprodutivos sejam encaminhados para pesquisas com células-tronco. Se aquele embrião vai ser encaminhado para pesquisas com células-tronco é porque a lei específica, de biossegurança, entendeu que os direitos de personalidade não se lhes aplicam. Se a lei partisse da premissa de que os embriões laboratoriais dispunham de personalidade, eles não poderiam ser descartados. Na ADI 3510, o Supremo reconheceu a constitucionalidade desse art. 5.º, da Lei de Biossegurança. E, sendo assim, o Supremo entendeu que não se aplicam ao embrião laboratorial, congelados, a tutela jurídica dos direitos à personalidade. E não se lhes aplicam por um motivo simples: os direitos à personalidade tem como momento aquisitivo a concepção uterina. 
Se, de um lado é importantíssimo saber o momento aquisitivo, de outra banda, é relevantíssimo saber qual é o momento extintivo, término dos direitos à personalidade.
	TÉRMINO DOS DIREITOS À PERSONALIDADE
	O momento final dos direitos à personalidade só podem ser, claro, a morte. Em outras palavras: a morte extingue a personalidade e extingue também os direitos à personalidade. A morte implica na extinção da personalidade e implica também na extinção dos direitos da personalidade. A morte, a que me aludo aqui é a morte real. 
Mas e a morte presumida por ausência, implica em extinção dos direitos da personalidade? Não, porque a declaração de ausência traz consigo efeitos eminentemente patrimoniais. Como a declaração de ausência projeta efeitos patrimoniais, é certo que a morte por ausência não extingue os direitos à personalidade, exceto um, que é a extinção da relação familiar, a extinção do casamento: art. 1.571, § 1º, do Código Civil. É uma novidade, inclusive: a declaração de ausência implica também extinção do casamento.
§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
	Em linha de princípio, portanto, extinguem-se os direitos da personalidade pela perda da personalidade, o que se dá pela morte real. 
	Chegou um momento importantíssimo da aula. Apoteótico. Pare tudo agora! Pare de respirar, pare de pensar e se concentre porque agora eu vou lhedar uma das informações mais importantes e questionadas em concurso. Eu acabei de dizer que a morte extingue a personalidade e, via de consequência, extingue os direitos à personalidade. Agora, atenção! Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa diferente. O fato de a personalidade ter sido extinta pela morte não implica na perda da tutela dos direitos à personalidade. Eu só preciso que você aprenda isso: a morte extingue a personalidade e extingue os direitos da personalidade. Porém, mesmo depois do óbito, é possível falar em tutela jurídica, em proteção aos direitos da personalidade. Mesmo depois da morte! Ou seja, a pessoa já morreu, sua personalidade já se extinguiu e com ela já se extinguiram também os seus direitos da personalidade, mas a proteção jurídica dos seus direitos à personalidade pode ocorrer mesmo depois da morte em 3 situações diferentes. E eu preciso separá-las e distingui-las com muito cuidado. Não se perde agora!
	1ª Situação:	Se dá quando a lesão (ofensa) foi perpetrada quando o titular ainda estava vivo e ele, ainda vivo, promoveu a ação. Alguém ofendeu a sua honra, a sua imagem, o seu nome e ele promoveu a ação. Depois disso, morreu. A primeira hipótese se dá quando a morte ocorreu quando a ação já havia sido ajuizada. Nesse caso, o problema não é de ordem material, é de ordem processual e se resolve na forma do art. 43, do Código de Processo Civil. E o nome disso é sucessão processual. Sucessão processual é o fenômeno através do qual o espólio ou os herdeiros se habilitam na ação já promovida. Insisto: a questão é de índole processual. Se trata de uma mera sucessão processual. O espólio ou os sucessores se habilitam direto no processo, naquela ação que já foi promovida e que está em andamento.
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
	2ª Situação:	Ocorre quando a lesão (ofensa) se dá quando o titular ainda era vivo, mas morreu sem promover a ação. No primeiro caso, ele sofre a lesão, promove a ação e morre. Aqui, ele sofre a lesão e não promove a ação. Morreu sem ajuizar a ação de indenização por danos morais. E agora, nesse caso, quando alguém sofre um dano mas não promove a ação e morre sem promovê-la. E agora? Nossa doutrina clássica defendia que se tratava de interesse personalíssimo e por isso, se morreu sem promover a ação os herdeiros não poderiam fazê-lo. Nossos clássicos autores sempre entenderam que esse é um direito da personalidade e, portanto, por seu caráter personalíssimo, se o titular sofreu o dano mas morreu sem promover a ação, os herdeiros não poderiam fazê-lo. Em outras palavras: a titularidade para promover a ação perecia com ele. Pois bem. 
Contemporaneamente, doutrina e jurisprudência foram mudando de opinião. Vejam, nesse sentido, o professor de sinopse. Lá no professor de sinopse você encontra a seguinte explicação: embora o direito seja personalíssimo, a reparação pecuniária, a indenização tem caráter patrimonial. Imagine o seguinte: imagine que uma pessoa, ainda viva, sofre violação à sua honra ou à sua imagem. Um ano depois ela morre sem promover a ação. Ela não transfere os seus valores personalíssimos. Esses se extinguem com ela. Mas, nesse caso, o que ela vai permitir não é o direito da personalidade, mas o direito de requerer uma indenização e esse direito de indenização tem natureza patrimonial e aquilo que tem natureza patrimonial se transmite porque o que não se transmite é o que tem natureza existencial. 
Pacificando a questão, tornando a questão incontroversa, o Código Civil tomou partido no art. 943 que, expressamente diz que o direito de exigir reparação se transmite com a herança:
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
	Portanto, para o código Civil, se uma pessoa sofreu uma lesão na sua honra, imagem, privacidade (o que você quiser!), se uma pessoa sofreu uma violação na sua dignidade e morreu sem promover a ação, o seu espólio pode fazê-lo. Entende-se que o direito de exigir a reparação é um direito e ordem patrimonial, e não existencial. É um artigo que se curvou à jurisprudência do STJ. É fruto de jurisprudência consolidada no STJ. Primeiro o STJ se posicionou assim e depois a legislação terminou incorporando a posição do STJ.
	Só para gente fazer um resumo do que você anotou. São duas situações distintas: na primeira, a vítima sofreu o dano ainda viva, promoveu a ação e morreu no curso do procedimento, sucessão processual. Na segunda hipótese, sofreu o dano, não promoveu a ação e morreu. Aqui não é sucessão processual, é transmissão do direito à reparação. Que fique claro que se tratam de coisas distintas. A primeira situação é de ordem processual a segunda é, visivelmente, de ordem material. 
O Código não diz porque não precisa, mas eu vou dizer: o espólio só pode promover a ação de reparação se ainda não tiver sido prescrita a pretensão. Óbvio! Quando é que começa o prazo prescricional? STJ: acolhe a tese da actio nata. E o que é essa tese? Os prazos prescricionais e decadenciais (os prazos extintivos) começam a fluir da data do conhecimento do fato. Logo, se a vítima teve conhecimento da lesão e não promoveu a ação, o prazo começou a fluir. E 3 anos é o prazo de prescrição de reparação de dano moral. Portanto, 3 anos a vítima tinha para promover a ação. Se morreu 2 anos depois, significa que o espólio só tem um ano. O prazo já vinha fluindo e, claro, ninguém transmite mais do que tem. 
	3ª Situação:	Ocorre quando o dano ocorreu depois da morte. Se a violação da personalidade se deu depois da morte, depois da morte do titular, se alguém ofendeu a honra ou a imagem de uma pessoa morta, essa ofensa vai atingir apenas a ela. E, estando morta, não vai produzir efeitos, já que estando morta já se extinguiu a sua personalidade. Só que o ordenamento entendeu que toda e qualquer ofensa à personalidade de uma pessoa morta, além de atingir diretamente o morto, atinge indiretamente os seus parentes vivos. O ordenamento entendeu que toda e qualquer ofensa dirigida diretamente a uma pessoa morta atinge indiretamente aos seus parentes vivos. Quem são esses parentes? Estão indicados no§ único do art. 12 e este dispositivo vai chamá-los de lesados indiretos. São aqueles que foram atingidos indiretamente pela lesão que foi diretamente dirigida a uma pessoa morta. No nosso sistema, os lesados indiretos são:
Art. 12. Parágrafo único. Em se tratando de morto (ou ausente), terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge (ou companheiro) sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
	Vamos corrigir duas imperfeições. Quem estiver com o seu código corrija também! Abra, deixe de preguiça e corrija! Onde tem cônjuge coloque (ou companheiro): é a interpretação constitucional da união estável. E onde tem “em se tratando de morto”, coloque (ou ausente).
	Vou lhe dar 3 exemplos para você pensar nos lesados indiretos:
1º Exemplo: 	Recentemente, morreu uma pessoa em Porto Alegre, vítima do HIV e saiu uma notícia no jornal dizendo que ele era homossexual. Em verdade, era hemofílico. Pois bem. Os pais dessa pessoa morta, ajuizaram uma ação dizendo que eles foram lesados indiretos. A lesão se dirigiu ao filho morto e resvalou nos pais que ainda estavam vivos.
2º Exemplo:	Exemplo da filha de Lampião e Maria Bonita. Ela descobriu que a imagem de seus pais estava sendo explorada comercialmente e ajuizou uma ação para impedir a exploração indevida da imagem. Tem legitimidade porque na qualidade de filha, ela foi lesada indireta. 
3º Exemplo:	Exemplo do Garrincha, que teve a veiculação de uma notícia relacionada à sua privacidade. Seus filhos ajuizaram uma ação na qualidade de lesados indiretos. 
	Dois comentários que eu acho muito importante sobre isso.Atenção!
	Comentário 01:	Não esqueça que a legitimação dos lesados indiretos é autônoma, ordinária. Não esqueça que, sob o ponto de vista processual, os legitimados indiretos são autônomos, ordinários. Eu estou querendo dizer que não se trata de substituição processual. Estou querendo dizer, entenda, que os lesados indiretos vão ajuizar uma ação em nome próprio defendendo interesse próprio. A filha de Lampião promoveu ação em nome dela defendendo interesse dela. É legitimação autônoma. Não se trata de substituição processual. O lesado indireto pede em nome próprio defendendo interesse próprio.
	Comentário 02:	Não se aplica aos lesados indiretos a ordem de vocação hereditária do art. 1.829: descendente, ascendente, cônjuge, colateral... Aqui não se aplica essa regra. Portanto, todos os lesados indiretos são colegitimados ou legitimados concorrentes. Não se aplica a ordem de vocação hereditária porque os lesados indiretos são legitimados concorrentes. Vale dizer, utilizou-se indevidamente a imagem de uma pessoa morta. Todos os lesados indiretos têm legitimidade. O pai, a mãe, o filho, a esposa, o primo, o tio. Cada um tem obrigação de provar o seu dano. Cada um promove a sua ação e prova o seu dano sofrido porque cada um está pedindo direito próprio. Por isso que não se aplica a ordem de vocação hereditária.
	Eu preciso que você faça uma observação. Examinador de concurso é muito criativo e eu fico com medo. Se se tratar de direito à imagem, os lesados indiretos são outros. Não são os do art. 12, § único. Os lesados indiretos do direito à imagem estão no § único do art. 20, que traz o rol dos legitimados na qualidade de lesados indiretos do direito à imagem.
Art. 20. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
	Excluiu o colateral. O que o artigo quer dizer que, em se tratando de direito à imagem, não estão incluídos como lesados indiretos, os colaterais. Apenas o cônjuge (ou companheiro), ascendente e descendente.
	Você está fazendo o concurso e o examinador pergunta: o colateral é legitimado na qualidade de lesado indireto. Verdadeiro. Mas se ele disser que o colateral é legitimado na qualidade de lesado indireto quando se tratar de lesão dirigida à imagem do parente morto. Falso porque no que tange à imagem os colaterais foram excluídos da condição de lesados indiretos.
	São, portanto, três situações distintas falando, de alguma forma, dos direitos da personalidade da pessoa morta. E diante de tudo isso eu chego à seguinte conclusão: não existem direitos da personalidade do morto, porque a morte extinguiu a sua personalidade. Mas se pode falar em tutela jurídica dos direitos da personalidade do morto. Tutela jurídica, sim. Direitos da personalidade, em nenhuma hipótese.
	CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
	Vamos falar sobre esse tema a partir do art. 11, do Código Civil, que indicou essas características. Não é das melhores redações:
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
	
A partir do art. 11 nós podemos dizer que as características dos direitos da personalidade são:
Intransmissibilidade
Irrenunciabilidade
	Intransmissíveis e irrenunciáveis são espécies do gênero indisponíveis. E o que o Código está dizendo é que os direitos da personalidade são indisponíveis, isto é, intransmissíveis e irrenunciáveis.
	O que me chama atenção no artigo, porém, é outra coisa. Se alguém colocar na sua prova a parte final do artigo: “os direitos à personalidade não admitem limitação voluntária.” Verdadeiro ou falso? Falso, porque eles admitem. Olha o início do artigo: com exceção dos casos previstos em lei. Portanto, ao contrário do que uma interpretação açodada e superficial poderia conduzir, os direitos da personalidade admitem restrição voluntária. Eu disse que esse artigo tem uma redação horrorosa. 
	São 3 idéias diferentes. Veja só! Dá uma olhadinha no artigo:
Ideia 01:	Com exceção dos casos previstos em lei
Ideia 02:	Os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis
Ideia 03:	Não podem sofrer restrição voluntária.
	Reparem que a ideia 01 e a ideia 03 estão unidas. A ideia 02 ficou intercalada e tirou o sentido. Melhor do que foi dito, seria o código ter dito a seguinte frase, através da qual se definem as características do direito da personalidade de forma muito mais clara: “os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis”. Isso explicaria de forma muito mais coerente. São relativamente indisponíveis porque admitem limitação voluntária. Se é assim, são indisponíveis relativamente e não absolutamente. Vale dizer: uma pessoa pode, de algum modo, ceder, relativizar os seus direitos à personalidade? Sim. Ela só não pode fazê-lo de forma absoluta.
	Aí vem o detalhe. Como? O titular pode dispor dos direitos à personalidade, restringir voluntariamente os seus direitos à personalidade dentro de determinados parâmetros. Quais são esses parâmetros para o ato de disposição, para a limitação voluntária dos direitos da personalidade? Eu vou apresentar agora esses parâmetros para que o titular possa dispor dos seus direitos da personalidade. Quais são os parâmetros para o ato de disposição voluntária a um direito da personalidade? Três parâmetros:
1º Parâmetro:	O ato não pode ser permanente. Isso significa o seguinte: Ronaldo (jogador) teria um contrato vitalício com a Nike de cessão de imagem. Se é que existe e se é que é vitalício, a qualquer tempo Ronaldo pode denunciar esse contrato porque ninguém pode ceder a sua imagem ilimitadamente. Só por curiosidade: no que tange ao direito à imagem, especificamente, o limite é de 5 anos renováveis por igual período. Então, nenhum ato de disposição voluntária pode ser permanente. Lembra do caso da moça do palito de dente Gina? Saiu uma reportagem dizendo que aquela moça está ali há mais de 30 anos e a carreira dela acabou. Ninguém mais queria contratar porque agora era a moça do palito. Uma coisa é certa: a qualquer tempo aquela moça pode, evidentemente, denunciar o contrato e ajuizar uma ação para a proteção de sua imagem que está sendo indevidamente utilizada.
2º Parâmetro:	O ato não pode ser genérico. O ato de disposição não pode ser genérico. Ou seja, é possível ceder, dispor desse ou daquele direito, mas não é possível ceder todos ao mesmo tempo. Lembra do exemplo do Big Brother? Estão flexibilizando a cessão da sua imagem. O fato de ter cedido um ou outro, não significa que todos foram cedidos. O ato de disposição é sempre específico e nunca genérico.
3º Parâmetro:	O ato não pode violar a dignidade do titular. Nenhum ato de disposição pode implicar na violação da dignidade do titular. Ou seja, o titular não pode dispor, não pode flexibilizar sua personalidade com violação da sua personalidade. O exemplo que calha nesse ponto é o exemplo que todo mundo vai lembrar e eu não vou mais repetir porque ninguém mais aguenta ouvir esse exemplo, é o do arremesso de anão. Aquele clássico exemplo ilustra com perfeição essa hipótese. Eu vou contar em 20 segundos só porque tem quem não saiba: o arremesso de anão é um esporte praticado em alguns municípios do interior da França. Anualmente, alguns estabelecimentos promoviam essa pitoresca atividade. Você ia até o estabelecimento, escolhia o seu anão, vestido de roupa de cápsula, colocava ele em um canhão de ar-comprimido e atirava no alvo na parede. Ganhava quem acertasse o alvo de cabeça. O prefeito do município achou que a brincadeira era ofensiva e cassou o alvará de todos aqueles estabelecimentos que foram à justiça ajuizar uma ação dizendo que tinham o direito de promover o arremesso de anão. Curiosamente, os anões se habilitaram como litisconsortes dos estabelecimentos dizendo que tinham o direito da personalidade, mas estamos abrindo mão. Nós queremosser arremessados! E a Suprema Corte francesa decidiu que, mesmo estando os anões renunciando à proteção, aquele ato ofendia a sua dignidade e, por isso, manteve o ato do prefeito, cassando os alvarás. Em outras palavras: nenhum ato de diposição dos direitos da personalidade pode afrontar a dignidade do titular.
	Quanto a esses parâmetros, você confere comigo o enunciado 4, da Jornada:
Enunciado 4 da Jornada de Direito Civil – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.
	E desde que não viole a dignidade do titular. Na mesma linha de compreensão desse enunciado, confira o Enunciado 139:
Enunciado 139 da III Jornada de Direito Civil – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.
	É que as limitações podem decorrer não só de lei. As limitações aos direitos da personalidade podem decorrer da autonomia da vontade.
	No boxe tem um típico exemplo da limitação do direito da personalidade, que é a limitação da integridade física. O cara apanha, mas está dentro do limite, dentro do ato de disposição.
	As características apontadas pelo artigo 11, do Código Civil (os direitos da personalidade são irrenunciáveis e intransmissíveis, indisponíveis) não são as únicas características. Existem outras características do direito da personalidade. Mas essas outras não estão em lei e não precisam estar em lei porque essas outras características decorrem da sua gênese, de sua estrutura, de sua própria natureza, são características ontológicas dos direitos da personalidade. Ou seja, a lei não falou porque não precisa falar. Não falou porque é desnecessário. A partir de sua natureza, de sua gênese, também são características do direito da personalidade:
Absolutos – Não está no sentido de não relativos, até porque vocês já sabem que admitem relativização. Absolutos no sentido de ser oponíveis erga omnes. Os direitos da personalidade são absolutos, entenda, oponíveis erga omnes.
Extrapartimoniais – Curioso isso! Os direitos da personalidade são extrapatrimoniais, porém, a sua violação pode implicar em um efeito patrimonial, que é a reparação pecuniária. A estrutura, a gênese do direito da personalidade é extrapatrimonial, todavia, pode admitir efeito patrimonial decorrente de sua violação que é a reparação do dano.
Impenhoráveis – Não admitem penhora, claro! Não possuem valor patrimonial.
Inatos ou Vitalícios – Inatos porque eles nascem com o titular e são vitalícios. Aqui nesse ponto eu quero lembrar que os direitos da personalidade são vitalícios e se extinguem com a morte do titular. Mas você não vai esquecer que apesar disso, a tutela dos direitos da personalidade pode ser reconhecida mesmo depois da morte do titular. Nós falamos isso exaustivamente hoje! A morte extingue a personalidade e os direitos da personalidade. Porém, mesmo depois da morte, é possível reconhecer tutela jurídica. Proteção dos direitos da personalidade. Você viu isso comigo. São inatos, vitalícios, mas transmite-se o direito de reclamara a tutela, a proteção. E eu deixei por último o aspecto mais polêmico. Os direitos da personalidade são também:
Imprescritíveis – Em linguagem bem clara: não há prazo extintivo para requerer a sua proteção. Aonde eu quero chegar? Se alguém está usando indevidamente o seu nome, a sua imagem, não há prazo para você reclamara proteção. A imprescritibilidade dos direitos da personalidade, no entanto, não implica em imprescritibilidade da pretensão reparatória pecuniária, da reparação do dano. 
	Sempre que eu trato dessa matéria, me recordo de uma situação que eu passei numa comarca aqui no interior da Bahia e foi uma situação muito clara. Descobriu-se que um sujeito estava vendendo bicicletas artesanalmente construídas com a marca Caloi. Você comprava uma bicicleta pensando que era da Caloi, mas era de outra marca. Aí a Caloi ajuizou uma ação requerendo duas coisas: “pare de usar o meu nome e indenize o prejuízo que você me causou.” O primeiro pedido era imprescritível. Não há prazo, mas o segundo tinha prazo reparatório, tinha prazo prescricional, que é o pedido de reparação de dano. Então, não há prazo extintivo para o exercício do direito da personalidade, mas há prescrição para o efeito patrimonial decorrente do dano. Você acabou de descobrir que toda ação por reparação de danos morais tem prazo extintivo.
	O STJ criou uma exceção. A partir da regra do art. 14, da Lei 9.114/95 (foi a lei que reconheceu o direito à indenização para as pessoas que morreram na época da tortura), o STJ entendeu que a reparação por dano moral decorrente de tortura é imprescritível. REsp 816.209/RJ (Luiz Fux). É uma exceção à regra, porque a regra geral é a prescritibilidade das pretensões reparatórias e aqui, você tem, excepcionalmente, uma prestação pecuniária imprescritível no caso de reparação decorrente de tortura. Na interpretação que o STJ deu ao art. 14, da Lei 9.114/95.
REsp 816.209 (03/09/07) “Em casos em que se postula a defesa de direitos fundamentais, indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura por motivo político ou de qualquer outra espécie, não há que prevalecer a imposição qüinqüenal prescritiva.”
	DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA
	Falar sobre isso é extremamente relevante porque o tema se tornou polêmico de uma hora para outra. Pelo que você percebeu até agora, os direitos à personalidade formam uma categoria jurídica criada pelo homem e para o homem. Foram construídos a partir do momento em que periclitou a proteção da pessoa humana. A partir do momento em que se precisou coibir determinadas experiências envolvendo o ser humano, despertou-se para a necessidade de uma proteção fundamental dos direitos da personalidade. Assim, toda estrutura dos direitos da personalidade é voltada para a proteção da pessoa humana. Pode reparar! Direitos da personalidade são as garantias necessárias para viver dignamente e claro que isso é naturalmente voltado à pessoa humana.
	O Código Civil, no entanto, acolhendo a jurisprudência, abraçando o posicionamento jurisprudencial, determinou no seu art. 52 que malgrado os direitos da personalidade tinham sido feitos para o homem, a proteção dos direitos da personalidade se aplica às pessoas jurídicas:
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
	
“Apesar de os direitos da personalidade terem sido criados para a pessoa humana, a sua proteção jurídica também é aplicável às pessoas jurídicas.”
	Se você tiver fazendo prova e o examinador colocar: “pessoa jurídica tem direito à personalidade.” Falso! O que as pessoa jurídicas têm, a teor do art. 52, do Código, não é direito à personalidade. É proteção dos direitos à personalidade. O artigo é de clareza solar: “aplica-se às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade, no que couber.”
	Qual é a parte mais importante desse artigo? “No que couber” é o ponto alto do artigo porque significa, em palavras claras, naquilo que a sua falta de estrutura biopsicológica permita exercer. Logo, é a proteção a todo e qualquer direito da personalidade que se aplica à pessoa jurídica? Não! É a proteção daqueles direitos à personalidade compatíveis com a suas estrutura. Exemplos: pessoa jurídica tem direito à imagem, ao nome, à honra objetiva. Tudo isso ela pode ter porque são compatíveis. Mas pessoa jurídica não tem direitos à intimidade, à integridade física, à honra subjetiva. Ela não pode reclamar proteção à intimidade, à integridade física ou à honra subjetiva porque esses direitos são incompatíveis com a sua estrutura biopsicológica.
	Sempre que eu penso na proteção dos direitos da personalidade da pessoa jurídica, eu dou o exemplo que vem na minha mente sempre e invariavelmente é: direito autoral. Para mim, o melhorexemplo. Uma descoberta, um invento, perpetrado na prestação de serviços, na prestação de trabalho, é óbvio que pertence ao empregador. Óbvio, a não ser que o contrato excepcione. 
Mas então, “aplica-se às pessoas jurídicas a proteção dos direitos da personalidade no que couber”. E por conta de quê? Esta proteção, no que couber, decorre de um verdadeiro atributo de elasticidade dos direitos da personalidade. Os direitos da personalidade contam com um atributo de elasticidade que permite que a proteção dos direitos da personalidade se elasteça para alcançar a pessoa jurídica, no que couber.
A respeito desse artigo 52 eu preciso chamar a atenção para um outro detalhe. Se a pessoa jurídica tem a proteção dos direitos da personalidade, no que couber, a que conclusão chegamos? Pessoa jurídica pode sofrer dano moral? E a resposta vem da Súmula 227, do STJ que reconhece expressamente a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral:
STJ Súmula nº 227 - DJ 20.10.1999 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
	Falta o quê nessa súmula? A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, no que couber. Evidentemente se a proteção aos direitos à personalidade lhes é aplicada no que couber, é porque ela só pode sofrer dano moral no que couber.
	Eu não podia concluir essa matéria sem lhe fazer uma advertência: nos últimos anos, parcela significativa da nossa doutrina, liderada por Gustavo Tepedino (RJ), se insurgiu contra a proteção dos direitos da personalidade da pessoa jurídica. E trazem dois fundamentos:
Fundamento 01:	Se os direitos da personalidade estão sustentados pela cláusula geral de dignidade da pessoa humana, a pessoa jurídica não pode ser beneficiada. A pessoa jurídica não conta com os direitos da personalidade porque não existe dignidade da pessoa jurídica. Porque é a dignidade da pessoa humana. Logo, se é a dignidade da pessoa humana o sustentáculo, a base forte dos direitos da personalidade, a sua proteção não pode ser aplicada às pessoas jurídicas. Nesse sentido, inclusive, foi aprovado um enunciado na Jornada de Direito Civil:
Enunciado 286 da IV Jornada de Direito Civil – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.
	
Fundamento 02:	O outro argumento sustentado por esse grupo de autores é o de que todo e qualquer dano dirigido a uma pessoa jurídica seria sempre um dano material porque direta ou indiretamente este dano incide sempre sobre os seus lucros, razão pela qual esses autores endossam a tese de que pessoa jurídica não pode sofrer dano moral porque todo e qualquer dano dirigido a ele seria sempre um dano incidente sobre os seus lucros. Mas e as empresas sem finalidade lucrativa? Por esse raciocínio poderiam sofrer dano moral. Aí o professor Tepedino responde: não! Quando se tratar de pessoa jurídica sem finalidade lucrativa aí seria um dano institucional, jamais seria moral. Para ele, o dano sofrido por pessoa jurídica, jamais será moral. Se tem finalidade lucrativa, dano material. Se não tem finalidade lucrativa, dano institucional. Mas nunca dano moral já que dano moral decorre da violação da dignidade humana, o que não é aplicável à pessoa jurídica. Só para fazer o papel de advogado do diabo: Mas o que ele está chamando de dano institucional, na prática, é o dano moral.
Isso caiu no MP/DF duas vezes e se alguém me perguntasse, eu diria para marcar do jeito que está no Código e na Súmula 227. Você só vai utilizar o Enunciado 286 da Jornada se a questão for aberta porque aí você coloca a posição do STJ, do Código e do professor Tepedino. Agora, uma coisa é certa: a posição predominante no STJ é no sentido de aplicação da Súmula 227. tanto que nos informativos mais recentes você encontra duas situações de reconhecimento de dano moral à pessoa jurídica decorrente de protesto indevido de título, sustentando, portanto, o STJ a aplicação dos direitos da personalidade das pessoas jurídicas no que couber.
	CONFLITO ENTRE DIREITOS DA PERSONALIDADE E LIBERDADE DE 	COMUNICAÇÃO SOCIAL
	Para quem não está acostumado com a expressão, liberdade de comunicação social é liberdade de imprensa e liberdade de expressão.
	Não é incomum localizar situações concretas de conflito, de tensão entre direitos da personalidade e liberdade de imprensa. Ao contrário, é bastante comum que a liberdade de imprensa seja exercida, não raro, com violação da personalidade alheia: utilização indevida de imagem, afronta à honra ou à privacidade. Enfim, é comum, habitual, esta colisão de valores. 
	Colidindo liberdade de imprensa e direitos da personalidade, a dificuldade é grande porque tanto um quanto outro mereceram proteção em sede constitucional. Ambos possuem matriz constitucional. Em sendo assim, a dificuldade na solução deste conflito é mais do que evidente. Como resolvê-lo? Através de ponderação de interesses, de uma balança imaginária, hipotética, na qual se colocam os valores conflitantes. 
	A solução decorrente de ponderação de interesses é sempre uma solução casuística, do caso concreto. Não se pode falar em soluções apriorísticas. Sempre a solução será no caso concreto e é somente no caso concreto que saberemos se prevalece a liberdade de imprensa ou os direitos à personalidade.
	Em um artigo instigante, o professor Luiz Roberto Barroso exemplifica com uma reportagem publicada no jornal O Globo. Ele explica que O Globo, em uma determinada situação, veiculou duas notícias sobre adultério. Dizia O Globo que um determinado ministro de Estado teria uma amante e que essa amante teria um cargo de confiança no Ministério. Na mesma edição, o jornal diz que ele tem amante e que a amante tem um cargo de confiança no Ministério. Na mesma edição, ainda, o Globo diz também que dona Zezinha, uma simpática sexagenária, líder de comunidade de bairro também tem um amante, um rapaz de 20 anos. 
Pois bem. Luiz Roberto Barroso, então, aponta dois conflitos semelhantes, dois conflitos entre privacidade e liberdade de imprensa. E a solução é a mesma para ambas as hipóteses? Na primeira hipótese, no que diz respeito ao Ministro da república justifica-se na notícia porque a liberdade de imprensa sobrepuja, em informação, a privacidade do Ministro. Mas no caso de dona Zezinha não há nenhum interesse de informação. No caso dela, prevalece a privacidade. Sim, porque além dela e do marido dela, a mais ninguém convém aquela informação. Não há interesse público na informação.
E é através de ponderação de interesses que nós vamos resolver cotidianamente os conflitos entre liberdade de imprensa e direitos à personalidade. Com isso, você acaba de descobrir que é possível tutela preventiva de direitos da personalidade limitando a liberdade de imprensa e que isso não significa censura. É possível, hipoteticamente falando, abstratamente falando, tutela específica dos direitos da personalidade, tutela, portanto, preventiva dos direitos da personalidade e que essa tutela preventiva pode implicar na limitação da liberdade de imprensa, sem que isso configure censura. Mas é claro e certo que se pode limitar a liberdade de imprensa quando essa liberdade de imprensa ofende um valor que lhe seja superior. 
De outro lado, eu quero lhe lembrar que a Súmula 221, do STJ, estabelece solidariedade entre o autor da informação e o veículo de comunicação e a empresa no que tange à responsabilidade civil por danos causados pela imprensa:
STJ Súmula nº 221 - DJ 26.05.1999 – São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
	O jornalista e a empresa, por exemplo, respondem solidariamente quando se tratar de dano causado pela imprensa. Ou seja, quando eventualmente a tutela da personalidade superou a da liberdade de imprensa, o eventual dano causado submete-se a uma regra de responsabilidade solidária entre o autor do fato e o

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