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Insecta Reproducao e Desenvolvimento

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Zoologia dos Invertebrados Superiores, Prof. Responsável : Simão Vasconcelos 
 
REPRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS INSETOS 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Grande parte do “sucesso” dos insetos deve-
se a características de sua reprodução e 
desenvolvimento. A maioria das espécies se reproduz 
de maneira sexuada, ou seja, o embrião resulta da 
fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Isso quer 
dizer que fêmeas e machos sexualmente maduros 
devem estar presentes no mesmo local ao mesmo 
tempo, para que, no acasalamento, ocorra a 
transferência de esperma. Como os insetos em geral 
têm vida curta, seu ciclo biológico, seu 
comportamento e sua maturidade sexual devem 
estar sincronizados. Isto requer uma harmonia de 
respostas fisiológicas aos estímulos externos, 
regulada por mecanismos (hormonais, 
principalmente) altamente eficientes. A rapidez com 
que os insetos atingem o nível de “pragas” nas 
culturas agrícolas deve-se a uma combinação de ciclo 
curto, alta fecundidade e sincronismo da população 
em relação a fatores ambientais, como por exemplo, 
a ausência de predadores ou a oferta constante de 
alimento pela monocultura. 
 
REPRODUÇÃO 
 
Corte e Acasalamento 
 Uma vez que a maioria dos insetos se 
reproduz sexuadamente, existem mecanismos 
eficientes de aproximação entre os sexos. Esses 
mecanismos podem incluir sinais visuais, como as 
luzes emitidas por vaga-lumes (Coleoptera) e as 
"nuvens" de insetos adultos em Lepidoptera, Diptera, 
Hymenoptera e Odonata, sinais sonoros, como o 
"canto" das cigarras, grilos e gafanhotos, tácteis ou 
químicos, quando os insetos utilizam pistas olfativas, 
como o cheiro do alimento (típico de Coleoptera de 
hábitos saprófagos e coprófagos) ou os feromônios. 
Essa comunicação mais sofisticada entre macho e 
fêmea envolve a produção e liberação de substâncias 
que mandam uma “mensagem” para o outro 
indivíduo. Na maioria dos casos é a fêmea que 
produz feromônio sexual para atrair o macho. 
Nem sempre que se encontram, macho e 
fêmea acasalam. Muitas vezes, o macho demonstra 
um comportamento de corte que induz a 
receptividade da fêmea e reduz a possibilidade de 
cruzamento inter-específico. Assim, formas variadas 
de corte surgiram na evolução dos insetos. Esses 
sinais são intra-específicos e incluem a exibição do 
próprio corpo (ou partes mais elaboradas, como 
antenas, patas e asas coloridas), movimentos 
especializados como danças, e estímulos tácteis 
com as antenas e pernas. A emissão de sons é 
importante não somente entre os grilos e cigarras, 
mas também entre algumas moscas, que produzem 
sons através da vibração de suas asas numa 
freqüência "atraente". Curiosamente, alguns 
insetos predadores “seduzem” a fêmea oferecendo-
lhe alimento. 
 O comportamento de corte tem duração 
variável, podendo se estender por várias horas e 
incluir lutas entre competidores pela fêmea. Se 
esta aceitar o parceiro, a corte será então seguida 
da cópula. A corte funciona como um processo de 
seleção sexual, a fim de garantir que o esperma de 
machos mais vigorosos seja utilizado pela fêmea. 
 A evolução da genitália masculina foi um 
importante passo evolutivo entre os insetos. 
Artrópodos mais primitivos depositam seus 
espermatozóides em “pacotes” (espermatóforos) 
deixados no solo, para serem apanhados pela 
fêmea. Já os insetos machos possuem estrutura 
especializada (pênis ou edeago) para introduzir o 
esperma no aparelho genital da fêmea, com menor 
risco de perda ou degradação de seu material 
genético. 
 A maioria dos insetos segue um padrão de 
cópula “convencional”. Entretanto, algumas 
variações fazem dos insetos um grupo curioso para 
o estudo da evolução do comportamento sexual. 
Por exemplo, pode ocorrer canibalismo entre 
parceiros (como nos Mantódea) e é comum tanto o 
macho como a fêmea acasalarem diversas vezes 
com parceiros diferentes. Esse comportamento 
justifica mecanismos de competição de esperma, 
pelo qual a fêmea tenta garantir o esperma de 
machos mais "saudáveis" para fecundar seus 
óvulos – e os mecanismos do macho para garantir 
a paternidade de sua progênie, como ocorre 
claramente entre Odonata. 
 
Variações do Padrão Reprodutivo entre Insetos 
 Além da reprodução sexuada, com 
acasalamento e postura de ovos (insetos são 
tipicamente ovíparos), outras formas de 
reprodução podem ocorrer entre os insetos: 
 
 
 1
viviparidade: o desenvolvimento embrionário é 
completado dentro do corpo da mãe, que deposita 
larvas e ninfas, e não ovos; ocorre principalmente em 
alguns dípteros e pulgões. Em alguns casos, as 
formas jovens podem até chegar a se alimentar 
dentro do corpo da mãe. 
 
partenogênese: os óvulos sofrem completa 
maturação sem terem sido fertilizados; ocorre nas 
abelhas e pulgões. A telítoca origina apenas fêmeas, 
e é típica de pulgões, a partenogênse arrenótoca 
produz apenas machos e ocorre entre himenópteros, 
enquanto a anfítoca produz indivíduos de ambos os 
sexos e ocorre entre cochonilhas e moscas brancas. 
A partenogênese pode ser facultativa ou obrigatória. 
 
poliembrionia: nesse caso, há geração de dois ou 
mais (até centenas de) embriões a partir de um único 
ovo; ocorre entre os microhimenópteros parasitóides 
da família Braconidae. 
 
hermafroditismo: os dois sexos acham-se 
presentes no mesmo indivíduo, raramente funcional 
entre insetos; ex: o "pulgão" branco Icerya purchasi 
que pode se autofecundar. 
 
 
DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO 
 
 Inicia-se após a fecundação do óvulo pelo 
espermatozóide nos ovidutos femininos e termina 
com a eclosão da larva. Em geral, a ovulação - 
processo de expulsão do óvulo do ovário para os 
ovidutos - é rapidamente seguida pela fertilização e 
subsequente oviposição. Os ovos podem ser 
postos em diversos substratos em número variável. 
 O embrião é formado por meio de um 
processo de divisão ordenada do ovo. Os embriões 
dos insetos possuem duas camadas, o endoderma, 
que dará origem a órgãos circulatórios, nervosos, 
reprodutores e ao intestino médio, por exemplo, e o 
ectoderma, que formará o exoesqueleto, 
estomodeu, proctodeu traquéias e partes do sistema 
reprodutor. No seu desenvolvimento, o embrião do 
inseto mostra-se dividido em 20 segmentos que 
formarão as regiões especializadas do corpo: 6 
segmentos formarão a cabeça, 3 formarão o tórax, e 
11 segmentos irão originar o abdome. 
 Quando o embrião está completamente 
desenvolvido, ele rompe as membranas envolventes 
e deixa o ovo. O mecanismo de eclosão consiste de 
vigorosos movimentos musculares, e pelo próprio 
aumento do tamanho do corpo do inseto através da 
ingestão do líquido amniótico. É comum a larva 
recém-eclodida se alimentar dos restos do ovo. 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO PÓS-EMBRIONÁRIO 
 
 O desenvolvimento pós-embrionário inicia-
se com a eclosão da larva e termina com a 
emergência do adulto. Este é o período no qual o 
inseto imaturo é gradativamente transformado em 
organismo adulto. A forma geral do corpo pode 
sofrer poucas alterações em relação a estágios 
precedentes (ametabólicos), mas na maioria das 
espécies as formas larval e ninfal mudam 
radicalmente de forma nos estágios finais de 
desenvolvimento. 
 O crescimento de um inseto é determinado 
pela muda, que é o processo de formação 
periódica de uma cutícula de maior dimensão, com 
a eliminação da cutícula velha. Envolve 
modificações hormonais, comportamentais, 
fisiológicas e morfológicas, e convém diferenciá-lo 
da ecdise, que consiste na fase final da muda, 
quando o esqueleto velho é eliminado. Logo, o 
aumento de tamanho dos segmentos do corpo é 
limitado ao período imediatamente posterior à 
ecdise, antes que o novo exoesqueleto se 
solidifique. 
 O número e a época de ocorrência das 
mudas são determinados por 3 hormônios: o 
hormônio do cérebro, o ecdisônio (que acelera 
a metamorfose) e o hormônio juvenil (ou 
neotenim, que a retarda). Após a fase jovem, o 
inseto chega à fase de adulto ou imago, 
caracterizado principalmente pela maturidade do 
seu aparelho reprodutor e pela presença de asasna maioria das ordens. Os estágios entre mudas 
são chamados ínstares. Os insetos têm um 
número mais ou menos fixo de ínstares, e em 
muitas espécies as fêmeas têm um ínstar a mais 
que os machos. A temperatura e a nutrição afetam 
grandemente o número e a duração dos ínstares. 
Insetos com metamorfose completa são chamados 
de larvas quando imaturos e passam por uma fase 
de pupa antes de se tornarem adultos, enquanto 
insetos de metamorfose incompleta são chamadas 
de ninfas quando imaturos e não apresentam a 
fase de pupa. 
 
 
FASES DO DESENVOLVIMENTO 
 
OVO 
 Os ovos dos insetos variam bastante em 
cor, forma e tamanho; podem ser postos nos mais 
diversos substratos, como qualquer parte da planta 
(externa ou internamente), solo, água, madeira, 
fezes, matéria orgânica em decomposição, e até 
outros animais. O local varia de acordo com o 
hábito da forma jovem. O número varia de poucas 
dezenas a milhões ao longo da vida da fêmea 
 2
adulta. Os ovos podem ser postos isoladamente, em 
grupos, soltos ou presos ao substrato por um pecíolo 
(ex.: Neuroptera). Muitos assumem formas coloridas 
e atraentes. Fêmeas de certas ordens (Orthoptera, 
Diptera) possuem uma modificação do seu aparelho 
reprodutor (ovipositor) que permite maior eficiência 
na postura. Insetos como baratas e louva-a-deus 
põem seus ovos em “estojos” chamados ootecas. 
 
LARVA 
 É a primeira fase pós-embrionária e 
caracteriza-se por um intenso crescimento em 
tamanho e peso. Em geral os insetos nessa fase têm 
forma alongada e tegumento mole. Há diversos tipos 
de larvas: 
 
 
 
• vermiforme: leitosa, sem pernas, comum em 
Diptera 
• eruciforme: alongada, com 6 pernas torácicas e 
de 6 a 10 pernas abdominais - pseudópodos, típica 
de Lepidoptera 
• limaciforme: ápoda e achatada semelhante a 
lesmas, ex: Diptera Syrphidae 
• curculioniforme: larva ápoda e recurvada, 
branco leitosa com cabeça diferenciada e quitinizada, 
típica de Coleoptera: Curculionidae 
• carabiforme: alongada, predadora, com 6 
pernas torácicas, ex: Coleoptera: Carabidae 
• escarabeiforme; recurvada, branca, com longas 
pernas, ex: Coleoptera: Scarabeidae 
• campodeiforme: larva predadora, ágil, com 
longas pernas, ex: Coleptera: Coccinelidae 
• elateriforme: alongada, achatada e quitinizada, 
ex: Coleptera: Elateridae 
 
NINFA 
 É a primeira fase pós-embrionária de insetos 
hemimetábolos. Em geral, assemelha-se a um adulto, 
diferenciando-se deste principalmente pela ausência 
de asas e órgãos genitais. No último estágio ninfal é 
possível ver as asas em formação (tecas alares). Em 
algumas espécies de insetos, o último estágio ninfal é 
imóvel. Isso acontece entre hemípteros 
(cochonilhas, moscas brancas). Em casos extremos, a 
duração da fase ninfal pode exceder vários anos. 
 
 
 
PUPA 
 Segunda fase pós-embrionária de insetos 
holometábolos, caracterizada por aparente 
dormência e intensa respiração. As pupas podem 
ser livres ou exaradas (quando os apêndices 
ficam visíveis e afastados do corpo, ex: Coleoptera, 
Hymenoptera); obtecta ou crisálida (quando os 
apêndices ficam intimamente ligados ao corpo, 
podem ser fixas à planta ou soltas no solo, típica 
de Lepidoptera), ou coarctada (pupa que 
permanece na última exúvia larval, ex. Diptera). 
Algumas pupas, como as do bicho-da-seda, podem 
estar envoltas num casulo de fios tecido pelo 
inseto em seu último estágio larval. 
 
 
 
ADULTO 
 Fase em que o inseto está apto para se 
reproduzir (há exceções, como em algumas castas 
de insetos sociais). O inseto se caracteriza por 
apresentar um par de antenas, 6 pernas, e, na 
maioria das ordens, asas. A duração desta fase 
 3
varia desde poucas horas, como em certas espécies 
de Diptera e entre Ephemeroptera, até vários anos, 
como em muitas espécies de Coleoptera. 
 
Holometabolia: o desenvolvimento inclui as fases 
de ovo, larva, pupa e adulto. Ex: Lepidoptera, 
Coleoptera, Diptera, Hymenoptera, Neuroptera. 
Comumente, há diferenças radicais na morfologia, 
habitat e hábito alimentar entre larva e adulto. As 
ordens de insetos mais numerosas possuem esse 
tipo de metamorfose. 
 
TIPOS DE DESENVOLVIMENTO POS-
EMBRIONÁRIO 
 
Ametabolia: não há metamorfose, o inseto recém 
eclodido já possui a forma do adulto, apresentando 
apenas os órgãos reprodutores pouco desenvolvidos. 
Ocorre apenas na Ordem Thysanura (traças). 
 
 
 
 
 
 
Hemimetabolia: o inseto recém eclodido 
assemelha-se ao adulto, mas não apresenta asas e 
tem órgãos genitais imaturos. Há diversas ecdises e a 
forma imatura é chamada ninfa (não há pupa). Ex: 
Orthoptera, Hemiptera, Mantodea, Odonata, 
Blattodea, Isoptera. 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 
 
♦ Buzzi, Z. J. & Miyazaki, R. D. (2004) Entomologia 
Didática. 4a. Ed., Curitiba, Editora UFPR, 306p 
♦ Gallo, D. (ed.) (1988) Manual de Entomologia 
Agrícola. Ed. Agronômica Ceres, 649 p. 
♦ Gullan, P. & Cranston, P. (2009) Insetos: um 
Resumo de Entomologia. 3a.. Ed., Blackwell 
Science, 470 p. 
 
 
 
 
 
 4
	 
	INTRODUÇÃO
	REPRODUÇÃO 
	Corte e Acasalamento
	DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO
	FASES DO DESENVOLVIMENTO
	NINFA
	PUPA
	TIPOS DE DESENVOLVIMENTO POS-EMBRIONÁRIO

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