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Leitura e Produção de texto e Comunicação apostila

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Leitura e Produção de texto pag 01 a 101
Comunicação Educação e tecnologias de texto pag 102 a 164
“É preciso ler!”
"Ora, o ‘garoto’ já tem isso na cabeça. Nem por um segundo ele questiona o dogma. É, pelo menos, o que aparece claramente na sua dissertação: O garoto está de acordo com Flaubert, o garoto, seus colegas e suas colegas, todos de acordo: ‘Flaubert tinha razão!’ Uma unanimidade de trinta e cinco redações: é preciso ler, é preciso ler para viver e é mesmo – essa absoluta necessidade de leitura – o que nos distingue do animal, do bárbaro, do bruto ignorante, do ditador triunfante, do materialista insaciável, é preciso ler! É preciso ler!
- Para aprender- Para dar certo nos estudos- Para nos informarmos- Para sabermos onde vivemos.- Para sabermos quem somos.- Para conhecer melhor os outros.- Para saber para onde vamos.- Para conservar a memória do passado.- Para esclarecer nosso presente.- Para aproveitar as experiências anteriores.- Para não repetir as besteiras de nossos ancestrais.- Para ganhar tempo.- Para buscar um sentido na vida.- Para compreender os fundamentos de nossa civilização.- Para alimentar nossa curiosidade.- Para nos distrairmos.- Para nos informarmos.- Para nos cultivarmos.- Para comunicar.- Para exercer nosso espírito crítico.”
“DIREITOS IMPRESCRITÍVEIS DO LEITOR
1. O direito de não ler. 2. O direito de pular páginas. 3. O direito de não terminar um livro. 4. O direito de reler. 5. O direito de ler qualquer coisa. 6. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).7. O direito de ler em qualquer lugar. 8. O direito de ler uma frase aqui e outra ali. 9. O direito de ler em voz alta. 10. O direito de calar.”
Trechos retirados do livro “Como um Romance”, de Daniel Pennac; tradução de Leny Werneck. Rio de Janeiro; Rocco, 1993.
Dicas de redação.
Prof.ª Daniela Marino
Escrever uma pequena redação não é nenhum bicho de sete cabeças! 
Seguindo algumas dicas, podemos confeccionar um texto coeso e objetivo. Vamos lá? 
Vocês devem ter visto que existem vários gêneros textuais, porém, em nossa primeira atividade iremos trabalhar com uma redação simples, nada muito elaborado. Mesmo assim, por estarmos em um ambiente acadêmico, precisamos caprichar e ficar atentos à pontuação, grafia correta das palavras, coerência de nossas frases. 
Bom, estas dicas se aplicam apenas às redações dissertativas para exercícios como os da ATD I de Leitura e Produção de texto. Para outros tipos de texto, sugiro uma pesquisa no site da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e nos textos disponíveis em nossa sala. 
Outra dica importante é usar o corretor ortográfico do Word. Não é 100% confiável, porém ajuda muito com a ortografia. Se quiserem usar citação, até 3 linhas deve estar entre aspas. Suas fontes devem ser citadas no final do texto e nunca devem constituir sua composição de forma integral, pois isso caracterizaria plágio (cópia). Usamos trechos de sites ou livros para enfatizar um ponto de vista, para ilustrar uma opinião nossa. 
Vamos lá! Sugiro um texto com 4 ou 5 parágrafos, cada um com 3 a 5 linhas, seguindo essa estrutura: 
1º Parágrafo: Apresentação do tema de forma superficial, citando 2 ou 3 tópicos que você possa desenvolver nos próximos parágrafos: 
2º parágrafo: Desenvolvimento de um dos tópicos citados no 1º parágrafo: 
3º parágrafo: Desenvolvimento de outro tópico citado no 1º parágrafo: 4º parágrafo: Conclusão baseada em leituras prévias e no que foi apresentado anteriormente. 
Vamos ver como ficou? 
O uso das abreviações 
Muito se discute sobre o uso excessivo de abreviações na confecção de mensagens de texto instantâneas e como essa modalidade de comunicação influencia a produção de outros textos como e-mails, relatórios profissionais e composições acadêmicas. 
 “Quem prega a abreviação alega que o objetivo é dinamizar a comunicação” diz Arnold Gonçalves do site do escritor. Embora o uso de abreviações possa mesmo tornar a troca de informações mais dinâmica, é preciso lembrar que seu uso não é adequado em e-mails e relatórios profissionais. 
Em relação aos textos acadêmicos, vale frisar que essas abreviações mudam com a mesma velocidade dos avanços tecnológicos, por isso, uma mensagem que apresenta muitas abreviações pode não ser compreendida por seu leitor. Um bom exemplo é SDS no final de uma mensagem: uns interpretam como “saudades”, enquanto outros poderiam entender “saudação”. Apesar dos argumentos que muitas pessoas apresentam em favor do uso dessas abreviações devemos ter em mente que textos acadêmicos e relatórios profissionais são acima de tudo documentos cuja principal intenção é armazenar, difundir determinada informação de forma clara e, se possível, atemporal. 
Portanto, o uso excessivo de abreviações pode comprometer a função do texto escrito bem como a mensagem que ele pretende transmitir. 
Fontes: http://www.abnt.org.br/
http://www.valdiraguilera.net/bem-escrever.html
http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_sob_encomenda_redacao_00056.html
Tipo de parágrafo: alinhamento - justificado / primeira linha com espaçamento de 1,5. Fonte : Arial 12. 
Aula: 01
Temática: Leitura
Quando o assunto é “leitura”, o que lhe vem à mente? Provavelmente, uma porção de livros, uma profusão de papéis(ou – por que não? – uma tela de computador) lotados(as)de palavras, e você pode imaginar que a leitura seja, então, a simples – ou árdua? – decifração dos signos lingüísticos. No entanto, quero aqui registrar uma visão mais ampla de leitura, sugerida por Alberto Manguel na passagem abaixo transcrita:
Ler as letras de uma página é apenas um de seus (da leitura) muitos disfarces. O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais; o arquiteto japonês lendo a terra sobre a qual será erguida uma casa, de modo a protegê-la das forças malignas; o zoólogo lendo os rastros de animais na floresta; o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a carta vencedora; a dançarina lendo as notações do coreógrafo e o público lendo os movimentos da dançarina no palco; o tecelão lendo o desenho intrincado de um tapete sendo tecido; o organista lendo várias linhas musicais simultâneas orquestradas na página; os pais lendo no rosto do bebê sinais de alegria, medo ou admiração; o adivinho chinês lendo as marcas antigas na carapaça de uma tartaruga; o amante lendo cegamente o corpo amado à noite, sob os lençóis; o psiquiatra ajudando os pacientes a ler seus sonhos perturbadores; o pescador havaiano lendo as correntes do oceano ao mergulhar a mão na água; o agricultor lendo o tempo no céu – todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e traduzir signos. “... a arte de decifrar e traduzir signos”. 
É desse ponto que gostaria de partir para que possamos, juntos, refletir um pouco acerca de leitura e de produção de textos – na verdade (e ao final), da noção de texto. Se, como diz Manguel, conseguimos ler os rastros de animais, o casco das tartarugas, o olhar do parceiro, o corpo do ser amado, é porque vivemos em um mundo repleto de textos que podem – e esperam – ser lidos: não só decifração, mas sobretudo tradução.
Aula: 02
Temática: Produção de texto
Produção de texto não é uma atividade exclusiva dos “profissionais da escrita” (escritores, jornalistas, publicitários, professores, estudantes) – ela faz parte do cotidiano de todos aqueles que aprenderam a “ler e escrever”. Em situações informais ou formais, precisamos sempre redigir algum texto: um bilhete, um abaixoassinado, uma carta, um trabalho escolar, a ata de uma reunião, a lista de compras do supermercado.
Na vida acadêmica, como já lembrei na apresentação deste curso, a todo momento você será chamado a produzir um texto – e esse texto, muitas vezes, será lido por alguém. Por isso, é necessário estar sempre preparado para desenvolver esse tipo de atividade com desenvoltura. 
Gosto de dizer aos meus alunos que escrever é como andar de bicicleta. Quando somos pequenos, alguém nos diz o que devemos fazer para andar de bicicleta: como nos equilibrar, como olhar para a frente e para os lados,como brecar, como desviar – enfim, apresentam-nos a “teoria”. Mas nós só aprendemos mesmo quando montamos na bicicleta e, persistentemente, conseguimos fazer, ao mesmo tempo, tudo aquilo que nos foi ensinado. Depois de alguns sustos e tombos, podemos dizer que sabemos andar de bicicleta. E nunca esquecemos como fazer isso! Mas se ficarmos muito tempo sem andar de bicicleta, quando formos fazê-lo novamente, demoramos um pouco para “pegar o jeito”.
Na minha prática como professora de Redação, tenho percebido que o mesmo acontece com o ato de escrever. Procuro orientar meus alunos quanto ao desenvolvimento do tema e do tipo de texto pedido, mostro-lhes a necessidade da clareza e da objetividade na apresentação das idéias, ensino-os a organizar as frases e a usar os elementos de ligação, recordo com eles, quando necessário, as “regras gramaticais” – em suma, apresento-lhes a “teoria”. Mas, obviamente, eles só produzem textos realmente quando “põem a mão na massa”, isto é, quando escrevem, quando conseguem fazer, ao mesmo tempo, tudo aquilo que lhes foi ensinado. É como andar de bicicleta: mais competentes ficam quanto mais escrevem; mais dificuldades aparecem quanto maior é o tempo que ficam sem escrever!
Portanto, produzir textos é uma atividade que se aprende, que se desenvolve, não é um “dom” que só alguns “inicia-dos” possuem, nem uma “inspiração” soprada por uma musa benevolente. Exige empenho, trabalho, preparação, concentração, pois muitas são as habilidades que acionamos, muitos são os conhecimentos que precisamos articular no momento da escritura, tudo ao mesmo tempo, para que um texto seja bem sucedido. 
Muitos estudantes ficam frustrados com professores de redação que não dão “dicas”. Na verdade, não é disso que precisamos se quisermos redigir bem. 
Escrever bem é o resultado de um percurso constituído de muita prática, muita reflexão e de muita leitura. É uma ação em que o sujeito se envolve de forma total, com sua bagagem de conhecimentos e experiências sobre o mundo e sobre a linguagem
Dessa forma, a leitura atenta de bons textos aliada a uma postura reflexiva e crítica diante deles e da realidade que nos cerca são muito importantes para a produção de textos competentes. Quanto mais variada for a leitura, mais nos aproximamos dos vários ramos do saber, das várias áreas de conhecimento e podemos, então, ir aumentando nosso repertório, fator fundamental para a produção textual: só é possível escrever se tivermos “o que” dizer. 
Redigir é, também, fazer escolhas pessoais dentro das possibilidades que a língua e o tipo de texto a ser produzido nos oferecem. A prática da leitura faz com que nos defrontemos com os mais variados recursos lingüísticos utilizados por autores de diferentes áreas, tendências e estilos, o que significa a ampliação do nosso conhecimento lingüístico, ou seja, de nossas possibilidades de escolha. 
Diante disso, “dicas” isoladas não são nada produtivas, já que o trabalho é muito mais árduo: o estudante deve agenciar todas essas habilidades ao desenvolver uma redação. Então, o que faz com que alguém progrida na produção de textos, elabore-os a cada dia com mais facilidade, clareza e coerência, é mesmo a prática intensa: escrever muito e sempre, sobre os mais variados temas, com diferentes objetivos. Somente depois disso as “dicas” farão algum sentido, pois estarão objetivamente dirigidas para as dificuldades que a prática apontou.
Outro aspecto fundamental que não posso deixar de abordar aqui é o do texto como uma forma de autoconhecimento. Tratando do mesmo tema, discutindo a mesma questão, cada um de nós tem um ponto de vista, defende determinada tese. Embo-ra, muitas vezes, essas visões sejam coincidentes, elas não são expressas da mesma forma, nem têm as mesmas nuances. Assim, mesmo a serviço do mesmo ponto de vista, cada texto revela a organização do pensamento do redator, seu universo interior, suas escolhas lingüísticas: o ato de escrever nos revela a nós mesmos. Quando produzimos um texto, além de mostrarmos o que sabemos e o que pensamos sobre o tema, acabamos por mostrar a nós mesmos (e o nosso leitor nem suspeita, em geral, dessa nossa “descoberta”) o que somos, como pensamos, em que O pensador e escritor francês Roland Barthes disse, certa vez, que “os temas do mundo são pouco numerosos, mas os arranjos são infinitos”.Espero que estas reflexões tenham ajudado você a entender a importância do ato de escrever: conhecimento e autoconhecimento. Para que seus textos não sejam simples “redações escolares”, procure registrar, sempre que possível, em um “caderno de anotações”, a sua produção textual – assim, um dia, você poderá rever a sua trajetória.
Aula: 03
Temática: A noção de texto: o texto e sua unidade
Muitos são os estudiosos que já se debruçaram sobre esse tema, variadas são as teorias já elaboradas sobre ele. Mas como encerrei nossa primeira aula tratando o texto como um lugar, um espaço de encontro entre um autor e um leitor, começo por visualizá-lo materialmente.
Codificado por meio de palavras ou por signos não verbais (o traço, as cores, as notas musicais, as imagens fotográficas ou cinematográficas etc.), o texto tem uma delimitação física: o branco do papel nas margens, antes do início e depois do fim do texto verbal; a moldura que restringe nosso campo de visão ao observarmos uma pintura; o silêncio que antecede e encerra a fala do conferencista ou a performance de uma orquestra; os limites do palco onde se desenrola uma peça teatral. Observando esse suporte físico, percebo, em seguida, que o texto é formado por partes que estão articuladas de um modo lógico, compondo um todo único. 
Às vezes, analisamos um texto em linguagem não verbal e percebemos que ele é composto de planos, e que, se tentarmos fazer um recorte nele, teremos idéias diferentes das que tivemos considerando a sua totalidade. 
Em Jacarta, Sebastião Salgado fotografou, certa vez, um homem agachado, tratando de uma horta plantada numa pequena área poluída que parece ser a margem de um rio canalizado. Ao fundo, aparecem edifícios modernos. Se fizermos um corte horizontal nessa foto e separarmos as duas partes (superior e inferior), podemos ver, isoladamente, duas “cenas” distintas, dois espaços diferentes: um espaço urbano e um espaço rural. 
No entanto, eles fazem parte da mesma fotografia, isto é, são o registro de um mesmo espaço. O contexto em que se inserem só é percebido na totalidade da fotografia: o contraste entre a minoria rica (representada por arranha-céus de Jacarta) e a maioria pobre (representada pela plantação de alimento em pequenas áreas poluídas). O flagrante do fotógrafo brasileiro, ao mesmo tempo em que registra a realidade, faz o leitor refletir acerca das desigualdades entre os homens ao redor do mundoVamos ler, agora, um pequeno texto em linguagem verbal:
A crise na agricultura brasileira será discutida pelos ministros porque hoje está muito calor em Brasília. Juscelino, que não viu nem viveu crise econômica alguma, morreu a fim de enviar um telegrama a suas filhas que, por sinal, moravam em Paris, onde se estuda muito. Porém, o mundo ficou chocado, já que o bailarino tropeçou e o avião caiu assim mesmo. Em suma, toda crise é salutar.
Nós “lemos” esse texto, conseguimos decifrar os signos e suas relações gramaticais (todas as palavras que o compõem existem, as concordâncias verbais e nominais estão corretas, assim como as construções das frases), mas não foi possível atribuir nenhum significado a ele, pois não há nenhuma relação lógica entre as idéias.Vamos analisá-lo para podermos entender a importância do uso correto das palavras e expressões que estabelecem relações entre as idéias. Comecemos pelo conector porque, o qual introduz uma causa ou uma explicação: não percebemos qual a relação entre a discussão sobre a crise na agricultura e as condições meteorológicas de Brasília. 
Em seguida, depara-nos com a fim de, que introduz uma idéia de finalidade: no trecho, não aceitamos que Juscelino tenha morrido com a finalidade de enviar um telegrama para suas filhas!Quando lemos o período iniciado pelo conector porém, que indica contradição, não vemos nenhuma oposição entre as duas idéias (qual é a oposição entre o fato de o presidente enviar um telegrama para suas filhas ou de elas morarem em Paris e o de o mundo ficar chocado seja lá com o que for?). 
Logo depois, aparece o conector já que, indicando que, em seguida, encontraremos a causa do que foi dito anteriormente, mas não podemos aceitar que o mundo tenha entrado em um estado de choque por causa do tropeção do bailarino e da queda do avião. Esta, aliás, não era prevista, conforme indica a expressão assim mesmo. 
No último período do texto, encontramos a expressão em suma, mostrando que, a seguir, encontraremos uma síntese ou uma conclusão das idéias ou fatos anteriormente apresentados. No trecho, entretanto, não se percebe como foi possível concluir pelo caráter salutar de uma crise.
Feita essa análise, podemos perceber que o trecho acima transcrito e analisado não é um texto, pois a cada segmento encontramos idéias ou fatos diferentes que não estão relacionados entre si. Com isso, não conseguimos atribuir um sentido ao trecho como um todo: na verdade, não podemos afirmar que se trata de um texto. 
Deduzimos, portanto, que um texto é qualquer escrito cujas diferentes partes estão logicamente interligadas. Sua característica fundamental é, então, a unidade: o significado de uma parte não é autônomo, pois depende das outras com que se relaciona. Além disso, o significado do texto como um todo não se resume a uma simples soma de suas partes, mas é o resultado de determinada combinação dessas partes.
Leia agora, o que dizem os professores Francisco Platão Savioli e José Luiz Fiorin acerca dessa característica básica do texto: 
Um texto é, pois, um todo organizado de sentido. Dizer que ele é um todo organizado de sentido implica afirmar que o texto é um conjunto formado de partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma depende das outras. 
Com o que apresentei até aqui, você deve ter percebido que um dos aspectos responsáveis pela unidade textual é a coerência: um texto é coerente quando trata, do começo ao fim, do mesmo assunto.O assunto é aquilo a que o texto se refere, aquilo de que trata de modo mais geral, mais abrangente. No entanto, qualquer assunto pode ser enfocado sob vários ângulos. Ao escolhermos o enfoque que daremos ao assunto, estamos delimitando-o, estamos escolhendo nosso tema. Assim, a manutenção do assunto e do tema, desde o início até o fim de um texto, garantirá sua unidade
Aula: 04
Temática: A noção de texto: o texto e seu caráter histórico
Outra característica importante do texto é o seu caráter histórico, ou seja, o fato de ele ter sido produzido por um indivíduo que pertence a determinado grupo social, vivendo num certo tempo e num dado espaço. O caráter histórico do texto deve ser entendido como o reflexo das visões de mundo, das circunstâncias econômicas, sociais e políticas, dos ideais compartilhados pelos indivíduos de determinado grupo, numa determinada época. 
Exemplificarei esse aspecto com as matérias de capa das edições da semana de 27 de agosto a 1º de setembro de 2006 das três principais revistas semanais brasileiras: ÉPOCA, ISTOÉ e VEJA. Os títulos são, respectivamente: Por que elas querem ser tão magras?, O corpo da mulher está mudando e Açúcar: novas razões para ter medo dele.
Não se trata de pura coincidência: a valorização do corpo é, sem dúvida, uma característica da contemporaneidade. Quando essas três revistas, na mesma semana, trazem tal tema como matéria de capa, elas testemunham a visão de mundo, os ideais de um grupo social em determinado momento histórico. 
Atentar para o contexto histórico da produção de um texto não é só tomá-lo como fonte de informação. Às vezes acontece o contrário – nós precisamos de algumas informações para entendê-lo plenamente. Transcrevo abaixo a carta de um leitor do jornal O Estado de S. Paulo (omiti o “título” que foi dado à carta e o nome do remetente – no lugar deste, usei somente as iniciais). Leia-a e observe que ela só terá sentido para nós se conhecermos os fatos que a motivaram: as justificativas dadas por alguns artistas que haviam manifestado, na semana anterior, seu apoio à reeleição do presidente Lula.
Certos artistas endossaram, em alto e bom som, o que o governo vinha afirmando veladamente: que os fins justificam os meios, quanto aos seus métodos utilizados para governar o País. Será que os referidos artistas e o governo conseguiriam explicar à população quais seriam estes fins?Percebe-se, nessa carta, que existem duas visões diferentes com relação à idéia de que “os fins justificam os meios”. Da mesma forma que os artistas apoiaram o ponto de vista de um candidato, há pessoas que o refutam veementemente. Chamo sua atenção para isso a fim de lembrar que, obviamente, sobre o mesmo fato, sobre o mesmo tema, existem posições diferentes e até opostas, ainda que dentro de uma mesma sociedade, pois ela é composta de grupos que têm pontos de vista e interesses divergentes.
Não há dúvida, entretanto, que existem preocupações e idéias que são características de uma época, de uma sociedade, e que se tornam concepções dominantes – é só retornarmos às capas das três revistas. Procurar entender essas concepções garante uma leitura adequada dos textos produzidos por uma sociedade numa determinada época.Ora, essas concepções, essas idéias estão registradas nos textos, sejam eles em linguagem verbal ou não verbal. Portanto, como dizem Platão e Fiorin, “analisar a relação do texto com sua época é estudar as relações de um texto com outros”
Aula: 05
Temática: As relações intertextuais
Vimos, nas aulas anteriores, que a leitura e a compreensão de textos não se restringem ao conhecimento do vocabulário e das estruturas frasais de nossa língua materna – são vários os fatores de que elas dependem. 
Dentre esses fatores, podemos distinguir a correlação existente entre o texto que estamos lendo e outros anteriormente produzidos, sejam eles em linguagem verbal ou não verbal. Quando lemos ou ouvimos alguém dizer, por exemplo, que determinada pessoa está “deitada eternamente em berço esplêndido”, percebemos que há, na frase, uma referência a um outro texto, que conseguimos facilmente identificar: o Hino Nacional Brasileiro. Isso significa que, para entender alguns textos e suas intenções, é necessário um pré-requisito: conhecer outros textos e identificá-los em outros contextos. Pode-se dizer que um “pega carona” com o outro, de modo que seu significado e/ou sua intenção dependem do conhecimento que temos daquele a que se refere. 
Portanto, muitas são as “vozes” registradas em um texto, além da do próprio autor, e muitos, também, os modos de um texto referir-se a outro. Nos textos em linguagem verbal, o mais óbvio é a transcrição fiel do texto alheio, em que o emissor declara de modo explícito o procedimento, por meio de aspas e, algumas vezes, da citação da fonte. É o caso, por exemplo, de textos jornalísticos informativos, em que os autores utilizam falas de autoridades ou de pessoas envolvidas no fato narrado para enriquecer, comprovar e ilustrar suas matérias. Isso acontece, ainda, em textos científicos, dissertações acadêmicas, artigos de opinião, em que a transcrição rigorosa de autoridades no assunto apresentado reforça a estratégia argumentativa do texto. E é o que vem acontecendo, também, nestas nossas aulas, nas quais, muitas vezes, recorro – e recorrerei – a outros autores para respaldar os conceitos que desejo passar para você, ou mesmo para exemplificá-los. 
A esse procedimento de recuperar um texto por meio de outro, tirando proveito dele, seja de seu conteúdo, seja de sua estrutura formal, dá-se o nome de intertextualidade ou relações intertextuais. 
Em seu livro Pós-escrito a O nome da rosa, Umberto Eco descreve o processo de criação de seu romance, ambientado na Idade Média: relendo os cronistas medievais, o autor foi se apropriando do ritmo e do estilo deles para, ao narrar, fazê-lo “pela boca de um cronista da época”.Com isso, segundo ele, teria redescoberto “aquilo que os escritores sempre souberam (e tantas vezes disseram): os livros falam sempre de outros livros e toda história conta uma história já contada”
O procedimento de Umberto Eco não é, então, uma citação literal – nesse caso, ela pode ser identificada pela semelhança de estilo. É, também, o que vem acontecendo com as inúmeras e já famosas “retomadas“ da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.
As relações intertextuais não são exclusivas da literatura nem dos textos em linguagem verbal, já que aparecem em várias áreas e esferas da produção humana. 
A famosa Mona Lisa (506), de Leonardo da Vinci, por exemplo, é uma das obras de arte mais parodiadas do mundo. São famosas as versões de Marcel Duchamp (1919), que “presenteou” a Mona Lisa com um bigode, e do pintor colombiano Fernando Botero (1978), que a fez muito gorda, como, aliás, a maioria de suas “personagens”. Até Maurício de Sousa tem uma Mônica-Mona Lisa!
Na área da publicidade, já nos acostumamos, também, com a presença da intertextualidade, inclusive com o aproveitamento de obras de arte famosas. Um dos casos mais conhecidos é justamente uma recriação da Mona Lisa: a propaganda do produto Mon Bijou em que Carlos Moreno foi fotografado com roupas semelhantes às da Mona Lisa, numa postura também semelhante à dela (inclusive a posição das mãos), contra um fundo idêntico ao do famoso quadro. Essa intertextualidade é reforçada pela frase, que vem na parte inferior da foto: “Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima”. 
Aula: 06
Temática: A leitura e a produção de texto no curso universitário
Como vimos em nossa primeira aula, a leitura é um processo que envolve decodificação de signos e atribuição de sentidos. Quando nos aproximamos de um texto, não vamos até ele “em estado puro”, pois já carregamos conosco outras experiências de leitura e de mundo. E ao nos afastarmos dele, após a leitura, também não somos mais os mesmos, já que adquirimos novas e variadas experiências (de informativas a simbólicas, por exemplo). 
Os objetivos de nossas leituras variam muito: lemos por puro prazer, por “obrigação”, por necessidade. E, de acordo com o objetivo dessa atividade, será nosso procedimento de leitura. Considerarei, aqui, que o objetivo da leitura em um curso universitário é a aquisição de conhecimento, isto é, mesmo que se trate de uma leitura prazerosa, supõe-se que ela seja, acima de tudo, produtiva. Para isso, há alguns procedimentos recomendáveis, dos mais simples aos mais complexos, que listo abaixo:
• observação cuidadosa do material: capa, orelha, folha de rosto, ficha catalográfica, sumário ou índice, divisão (partes, capítulos, títulos, subtítulos), ilustrações, referências bibliográficas, presença de gráficos, de anexos e de glossários;
• consultas, se necessário, a dicionários ou a outras obras que esclareçam passagens ou termos específicos de difícil compreensão;
• releitura de trechos mais complexos ou mais importantes para o objetivo específico da leitura;
• reconhecimento de palavras-chave, idéias principais, exemplificações esclarecedoras, passagens mais importantes; 
• relacionamento e integração do que foi reconhecido como importante para alcançar o objetivo da leitura;
• relacionamento do conhecimento recém-adquirido com o conhecimento anterior;
• elaboração (por meio das palavras-chave e das idéias principais) de esquemas, frases esquemáticas, paráfrases e/ou de resumos.
Após a leitura atenta de um texto, percebemos que há, nele, algumas palavras em torno das quais as outras se organizam para que ele tenha sentido e o leitor perceba as informações mais importantes que o autor quis registrar e transmitir. 
A essas palavras, dá-se o nome de palavras-chave. Elas constituem o alicerce do texto e podem aparecer de formas diversas: repetidas, modificadas, retomadas por sinônimos. 
Depois de encontrá-las, é sempre produtivo tentar usá-las, seja em esquemas, em pequenas frases ou em resumos. Com isso, podemos perceber o nosso entendimento do que foi lido e a nossa capacidade de registrar e transmitir o conhecimento adquirido por meio da leitura. Esse procedimento traz outra vantagem: o enriquecimento de nosso vocabulário. E é bom lembrar que, na universidade, é necessário, realmente, sentirmo-nos à vontade com o vocabulário específico da área que estamos cursando. 
O esquema é uma anotação de leitura feita por meio das palavras-chave, com o auxílio de flechas, chaves e outros sinais, usando-se, às vezes, cores variadas; enfim, cada leitor tem um modo muito particular de elaborar esquemas, tanto que, em geral, outras pessoas não conseguem decifrá-los. Eles são úteis, também, para anotações de aulas.
O resumo nada mais é do que um esquema estruturado em orações completas, com sujeito, verbo e complemento, isto é, essas orações devem ter sentido completo. É, portanto, uma síntese organizada, com o máximo de objetividade possível, a partir das idéias principais contidas no texto ou daquelas que mais nos interessam no momento. O resultado é um texto conciso e seletivo. 
No resumo, muitas vezes chegamos a copiar expressões e pequenos trechos, anotando a página em que aparecem. Tais cuidados são necessários especialmente quando pretendemos fazer, mais tarde, algum trabalho escrito a partir dessa leitura – poderemos usar, então, trechos selecionados como uma citação que abone ou justifique algo que dissermos. Creio que nem preciso dizer da honestidade de registrarmos a fonte. Após a elaboração do resumo, o leitor pode – e deve – redigir, sinteticamente, suas impressões sobre o texto lido, a importância dele para futuros estudos. 
Outro procedimento interessante é a elaboração de uma paráfrase do texto lido. Esse tipo de anotação consiste em registrarmos as principais idéias do texto de um modo mais simples, usando o nosso próprio vocabulário. A paráfrase é uma boa estratégia nas seguintes situações: o texto é o primeiro contato com um assunto totalmente novo para nós; o texto lido é muito complexo; a linguagem do autor é prolixa. Como no resumo, podemos, ao final, redigir nossa avaliação do material.
Os procedimentos acima são muito comuns quando estudamos e devem fazer parte da rotina dos universitários. Mas há, ainda, outros tipos de texto que produzimos a partir de uma ou várias leituras. O principal e mais comum é a resenha crítica.
De certa forma, a resenha crítica pressupõe, assim como o resumo, uma etapa de anotações e de sínteses para que, em seguida, seu autor possa apresentar, como diz o professor Salvatore D`Onofrio: “considerações críticas sobre o trabalho científico ou artístico, analisando sua estrutura e sua importância, não fugindo da responsabilidade de apontar também defeitos graves, se for o caso”
Podemos perceber, por essas explicações, que a resenha requer um trabalho analítico-crítico mais apurado. Assim, uma resenha crítica costuma conter:
• referências bibliográficas (título, subtítulo, edição, editora, data, número de páginas);
• apresentação do(s) autor(es) (dados biográficos relevantes, formação, atividades);
• apresentação e discussão das principais idéias presentes na obra (tema, opiniões, teorias, conhecimentos prévios necessários, conclusões, metodologia utilizada);
• informações acerca da estrutura (partes, capítulos, tópicos);
• considerações sobre a linguagem (precisão, clareza, concisão, prolixidade, vocabulário);
• indicações sobre o público a que se destina.
Percebe-se, portanto, que esse tipo de trabalho prevê uma leitura atenta e minuciosa da obra a ser resenhada, a elaboração de um resumo que apresente realmente as idéias mais importantes do livro, sua abrangência, assim como os objetivos do autor, para que o leitor da resenha possa ter uma idéia clara do que pode encontrar nessa obra se resolver lê-la.
Como trabalho acadêmico, a resenha é um exercício de compreensão e de crítica, servindo, ainda, para desenvolver a capacidade de expressão dos estudantes, já que ela, além de bem estruturada, segundo as normas do trabalho científico e acadêmico, deve serbem redigida, evitando-se construções da oralidade e empregando-se um vocabulário adequado e preciso. 
Como já disse anteriormente, os procedimentos e tipos de textos acima comentados fazem parte da rotina dos estudantes universitários. Há outros, entretanto, que são de maior fôlego, como as monografias apresentadas ao final de “cursos monográficos”, isto é, que fazem um recorte bastante específico dentro de determinada disciplina, e os trabalhos de conclusão de curso, para os quais converge todo o conhecimento adquirido ao longo de um bacharelado ou de uma licenciatura. No entanto, não irei comentá-los aqui, pois costumam ser tratados pormenorizadamente, e com muito mais propriedade pelos professores de Metodologia do Trabalho Científico (ou qualquer outro título que se dê à disciplina que trata deles).
De qualquer forma, vale lembrar que, da leitura à redação, há todo um trabalho de reflexão e de trato com as palavras ao qual precisamos nos dedicar a fim de que possamos desenvolver, cada vez mais, nossas habilidades de leitura e de redação. 
Só mais um, e importante, lembrete: todos esses procedimentos revelam o que vimos na aula anterior: a intertextualidade está presente em vários tipos de texto, inclusive nos acadêmicos, dos mais simples aos mais trabalhados. Que você saiba fazer dela uma estratégia de enriquecimento!
Aula: 07
Temática: Um resumo por esquema
Nesta aula, apresento a vocês um esquema que fiz quando estudei o primeiro capítulo de uma obra sobre produção de texto. Observe que não usei recursos como chaves, setas, e sim cores diferentes para destacar os tópicos. Como, para mim, o conceito de autoria é importante, registrei-o em negrito. Este esquema não deve ser visto como um “modelo”, mas como um exemplo.Lucília Helena do Carmo Garcez. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo, Martins Fontes, 2002, pp.1-10.
Capítulo 1 – Os mitos que cercam o ato de escrever
1- Verdades e mentiras
- produção de textos: crenças inadequadas: a) Texto péssimo; b) Não é possível melhorar.
- produção de textos: tarefa complexa: a) Exige envolvimento pessoal; b) Revela características do sujeito.
- produção de textos: mitos (mentiras): escrever é a) Um dom; b) Um ato espontâneo; c) Resolvido com “dicas”; d) Um ato desligado da leitura; e) Algo desnecessário; f) Um ato desvinculado das práticas sociais
- produção de textos : verdades: escrever a) é uma habilidade - escrita: construção social, coletiva,- familiaridade com a escrita é determinada por: modo como aprendemos a escrever, importância que damos ao texto escrito, nosso grupo social, intensidade do convívio do texto escrito.- é preciso: 
• compreender que todas as pessoas podem produzir bons textos,
• identificar bloqueios,
• tentar eliminar os bloqueios. 
b) é um ato que exige empenho e trabalho- escrever exige: memória; raciocínio; agilidade mental; conhecimento do assunto, do gênero, da situação, dos futuros leitores e da língua,- “escrever é incompatível com a preguiça.” (p.4) 
c) exige estudo sério- “truques” tornam o texto defeituoso, truncado, artificial: fórmulas pré-fabricadas, “dicas” isoladas, clichês, chavões, frases feitas e pensamentos alheios,- autoria: escolhas pessoais, que vêm de muita prática, reflexão, leitura, envolvimento total do sujeito, conhecimentos e experiências sobre o mundo e sobre a linguagem,- é preciso: escrever sempre, todos os dias, com diversos objetivos, em diversas situações.
d) articula-se com a prática da leitura- leitura: assimilação das estruturas próprias da língua escrita; desenvolvimento das habilidades cognitivas, dos procedimentos intelectuais, das operações mentais (agilidade de raciocínio); eficiente forma de acesso à informação; promoção da análise e da reflexão sobre fenômenos e acontecimentos, da capacidade crítica e da resistência à dominação ideológica
e) é necessário ao mundo moderno- complexidade do mundo contemporâneo exige documentos escritos,- exigência da habilidade de escrever: processos seletivos, informática (fax, e-mail),- máquinas = trabalhos primários,- homem = produção de textos.
f) é um ato vinculado a práticas sociais- escrita (sentido e função): atua no mundo, estabelece relações entre as pessoas, permite que as pessoas se constituam como autores, sujeitos de uma voz, - produção de textos: reorganização do pensamento e do universo interior do homem; compartilhamento de práticas sociais.
2- Reconsiderando crenças -retomada dos itens analisados no tópico anterior.
Resumo - Unidade I
Nesta primeira unidade, vimos que já praticamos atos de leitura antes mesmo de ler as primeiras palavras, atribuindo significados a outros textos que não os verbais. E, quando aprendemos a ler e a escrever, passamos a decodificar o signo lingüístico refazendo, incessantemente, a nossa leitura de mundo.Percebemos, também, que em várias situações do nosso dia-a-dia somos chamados a produzir textos, atividade essa que se aprende, se desenvolve e se aprimora com a prática. Escrever bem é o resultado de muita prática, de muita leitura de bons textos e de muita reflexão e crítica diante deles e da realidade que nos cerca. 
Um aspecto importante é o do texto como forma de autoconhecimento, pois o ato de escrever nos revela a nós mesmos: cada texto revela a organização do pensamento do redator, seu universo interior, suas escolhas lingüísticas.
A característica fundamental do texto é a unidade: o texto é formado por partes que estão articuladas de um modo lógico, compondo um todo único. E um dos aspectos responsáveis pela unidade textual é a coerência – um texto é coerente quando trata do mesmo assunto, do começo ao fim.Outra característica importante é o caráter histórico do texto, ou seja, é entendido como o reflexo das visões de mundo, das circunstâncias econô-micas, sociais e políticas, dos ideais compartilhados pelos indivíduos de determinado grupo, numa determinada época. Ainda, nesta unidade, vimos a intertextualidade ou relações textuais, que é o procedimento de recuperar um texto por meio de outro, tirando proveito dele.Considerando que os objetivos de nossa leitura são muito variados, em um curso universitário a leitura visa à aquisição de conhecimento e, para isso, alguns procedimentos recomendáveis foram listados na aula 06.
Entendemos que, após a leitura de um texto, há nele algumas palavras em torno das quais as outras se organizam para que o texto tenha sentido e o leitor perceba as informações mais importantes que o autor quis transmitir. São as palavras-chave.Esta unidade é finalizada relacionando alguns tipos de textos que fazem parte da rotina dos universitários:
• esquema: uma anotação de leitura feita por meio de palavras-chave, com o auxílio de flechas, chaves e outros sinais e cores;
• resumo: uma síntese organizada, objetivamente, a partir da idéias principais do texto;
• paráfrase: um tipo de anotação que registra as principais idéias do texto, de um modo mais simples, usando o próprio vocabulário;
• resenha crítica, uma apresentação analítico-crítica de trabalho científico ou artístico mais apurado, 
• monografia, trabalho de apresentação de conclusão de curso.
Aula: 08
Temática: Dicionário, “o pai dos inteligentes”
Você já deve ter ouvido dizer que o dicionário é o “pai dos burros”. Mas, diferentemente do que dizem as más línguas, ele é “o pai dos inteligentes”. Todos nós temos várias dúvidas acerca de muitos assuntos, atitudes, comportamentos. Que bom! Isso quer dizer que estamos sempre questionando o que nos cerca. E, dentre as “coisas” que nos cercam, está a língua materna, estão as palavras e seus usos. Portanto, nada mais natural do que nossa necessidade de consultar um dicionário para confirmar o sentido ou a ortografia de uma palavra, o uso correto de uma conjunção, a regência de um verbo.
Porém, é preciso, para isso, saber “ler” um dicionário: cada dicionarista informa, antes da relação das palavras propriamente dita, os critérios, as abreviaturas e os símbolos utilizados ao longo da obra. Por isso, ao encontrarmos a palavra desejada, muitasvezes acabamos por voltar a essas informações iniciais como garantia de uma leitura adequada do verbete pesquisado. 
O professor Pasquale Cipro Neto, em um de seus textos publicados no jornal Folha de S.Paulo, trata exatamente desse assunto, lembrando o leitor da necessidade de conhecermos o “código” dos dicionários. Ao fim de suas explicações, ele faz referência ao fato de, ao pesquisarmos uma palavra, acabarmos por descobrir uma nova que, por sua vez, nos leva a outra e assim por diante – e nisso estaria o fascínio dos dicionários!
Já aconteceu isso com você? Creio que sim, pois é bastante comum que as informações de um verbete nos levem a outro que nem sabíamos que existia. Realmente é uma viagem! Em depoimento para o jornal O Estado de S.Paulo (na seção Antologia Pessoal, publicada aos domingos no Caderno 2 – Cultura), o poeta Régis Bonvicino, ao ser indagado sobre “que livro mais o fez pensar”, respondeu, sem preâmbulos: “Os dicionários”.
O manuseio do dicionário é comumente visto como uma atividade auxiliar da leitura. Às vezes, ao lermos um texto, deparamo-nos com uma palavra que nunca havíamos ouvido ou lido. Nossa primeira reação é perguntar a alguém se conhece a palavra, se sabe seu significado; outras vezes, recorremos ao dicionário Tais atitudes são naturais e compreensíveis, mas podem ser dispensadas se estabelecermos relações entre a palavra que desconhecemos e outras que já nos são familiares. 
Imagine, por exemplo, que você se depare com a seguinte frase: 
“Se hoje os Estados Unidos são o centro mais importante da tecnologia de todo o mundo /.../ é que a tendência ao concreto e a imaginação convertida em inventividade aumentaram de modo considerável a herança recebida da revolução industrial inglesa”. 
Imagine também que, ao lê-la, fique em dúvida com relação ao sentido de “inventividade”. Certamente você conhece as palavras “invenção”, “inventar”, “inventor” com as quais relacionará – de modo lógico e natural – o vocábulo “inventividade” e concluirá que ele se refere à capacidade de inventar, de criar.
Além disso, podemos resolver nossa dúvida com relação ao(s) significado(s) de algumas palavras se observarmos o contexto em que elas aparecem. Descontextualizadas, ou em “estado de dicionário”, como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade, as palavras pouco ou nada comunicam – seu significado é determinado pela frase, pelo texto em que aparecem.
A palavra imagem, por exemplo, tem sentidos diferentes nas frases abaixo – é só prestarmos um pouco de atenção e, sem consultar o dicionário, perceberemos com que intenção o autor a usou.
• A imagem da televisão estava tremida e não consegui ver muito bem o gol que tanto esperei.
• Pendurada na parede, ao lado da estante, havia uma imagem de Nossa Senhora.
• Sorriu ao ver a própria imagem no espelho.
• A imagem que guardei dela não é nada boa
• Seus sonhos eram povoados de imagens aterradoras.
• À imagem do pai, vestia-se elegantemente.
• Comparar a mulher a uma flor já é uma imagem gasta. 
• Esta passagem de “Memórias Póstumas...” nos dá uma boa imagem da ironia de Machado de Assis.
Agora, imagine-se escrevendo um texto. Mais ainda: escrevendo um texto que alguém irá ler. Será que, nele, você empregou corretamente as palavras? Não há nenhum engano com relação ao sentido ou à ortografia delas? A pessoa que for ler seu texto conseguirá entender em que sentido você empregou determinada palavra? O que eu gostaria de deixar claro, aqui, é que, mais do que uma atividade auxiliar da leitura, a consulta ao dicionário é imprescindível quando se produz um texto. 
Nesse momento, sim, é preciso ir ao dicionário para:
• certificar-se da existência de uma palavra 
• confirmar o(s) sentido(s) da palavra procurada
• verificar sua ortografia
• buscar um sinônimo para ela
• observar seus usos mais freqüentes 
Em dicionários especializados, podemos encontrar sinônimos e antônimos, regência verbal e nominal, conjugação de verbos regulares e irregulares, etimologia das palavras, significados de nomes e sobrenomes, de termos técnicos, explicações de símbolos, biografias e obras de escritores, cineastas, músicos, pintores, fotógrafos, cientistas e muito, muito mais.
Em suma, os dicionários são obras de consulta que devem estar sempre à mão para qualquer eventualidade. Obviamente, não precisamos ter todos em casa, sobre nossa mesa de trabalho, mas é bom saber que eles existem e que podem ser consultados em uma biblioteca pública, por exemplo.
Há muitas outras considerações que podemos fazer acerca das palavras (e de seus usos e sentidos). Nas próximas aulas, vamos conversar um pouco mais sobre elas. Afinal, Leitura e Produção de Texto pressupõe certa familiaridade com as palavras.
Aula: 09
Temática: As palavras e suas famílias
Nós pensamos com palavras. E quando queremos ou precisamos expressar verbalmente nossos pensamentos, transmiti-los para outras pessoas, procuramos encontrar as palavras certas, adequadas, para deixá-los claros, e conseguirmos, assim, a comunicação desejada.
Eu, você e a maioria dos falantes de uma língua sabemos que, para isso, devemos ter um bom domínio do vocabulário. Em nossa comunicação diária, seja ela oral ou escrita, empregamos um número x de palavras com as quais nos sentimos confortáveis, já que dominamos seus sentidos e empregos. Ao conjunto dessas palavras dá-se o nome de vocabulário ativo.
Por outro lado, há outras palavras que não costumamos usar, nem quando falamos nem quando escrevemos. No entanto, se as ouvimos ou lemos, conseguimos entendê-las, pois ou conhecemos seus sentidos ou temos uma noção deles, embora não os saibamos com precisão. Ao conjunto dessas palavras dá-se o nome de vocabulário passivo.
Portanto, a consulta ao dicionário não é o único caminho para a ampliação do nosso vocabulário. Para isso, é necessário ler jornais, revistas, livros, assistir a filmes, palestras, debates, prestar atenção às letras de músicas de bons autores. Num primeiro momento, vamo-nos familiarizando com novas palavras e construções de frases, que passam, então, a fazer parte de nosso vocabulário passivo. Aos poucos, começamos a nos sentir mais à vontade com elas, mais seguros para usá-las em nossos textos (orais ou escritos), sinal de que ampliamos nosso vocabulário ativo.
Com isso, você deve ter percebido que não só a leitura mas também a produção de textos são os meios mais eficazes para o enriquecimento do vocabulário. Aliás, nossa competência textual está intimamente relacionada com nosso domínio do léxico.
Dá-se o nome de léxico ao conjunto das palavras de uma língua. Esse conjunto é aberto, isto é, novas palavras estão sempre sendo agregadas a ele, enquanto outras tantas vão caindo em desuso e chegam a desaparecer. Atualmente, com o acelerado desenvolvimento das novas tecnologias, temos notado a rápida incorpo-ração de muitos termos que, a princípio utilizados na nossa fala do dia-adia, passaram (ou passarão, daqui a alguns anos) a fazer parte do nosso léxico. 
Mas as palavras, também, se transformam. Como você deve saber, o Português (assim como o Espanhol, o Italiano...) é uma língua neolatina, isto é, derivada do Latim. Ao longo do tempo, por vários motivos, o Latim foi passando por transformações, dando origem às novas línguas (creio que você sabe, também, que o Latim é uma “língua morta”, isto é, ele não é mais falado por nenhum povo, em nenhuma região do mundo). Isso significa que as palavras sofreram várias transformações ao longo do tempo até chegarem a ser o que são hoje, seja do ponto vista fonético (som), ortográfico (o modo como são escritas) ou semântico (significado). Transcreverei abaixo uma passagem do texto “Qualidade na educação: as armadilhas do óbvio”, do professor Nilson José Machado, na qual, ao tratar da valorização dos programas de qualidade das empresas, o autor explica a etimologia e o uso da palavra cliente ao longo do tempo. ...vamos procurar entender os estranhos desígnios etimológicos que contemplaram a palavra cliente no léxico dos teóricos da qualidade. Pelo menos nas línguas de origem latina, comoa nossa, cliente originase de cliens, clientis, que significa “vassalo, protegido de alguém, de um senhor”, este sim, detentor do poder. Depois a palavra foi associada aos protegidos dos senadores romanos, dando origem à variante do costume político comum e freqüentemente criticado, denominado “clientelismo”. Mais tarde ainda, o uso foi estendido para designar os que consultavam determinados profissionais, como os advogados ou os médicos. Hoje, no discurso da qualidade, uma fantástica torção semântica transformou o vassalo no senhor.
Como você pôde notar, a palavra cliente sofreu tantas mudanças que, hoje, pelo menos na área dos programas de qualidade das empresas, ela quer dizer o oposto do que originariamente significava. Esse exemplo também evidencia o caráter “aberto” do léxico de uma língua ao qual me referi anteriormente.
Já que mencionei as mudanças pelas quais passam as palavras ao longo do tempo, aproveito para retomar um aspecto a que já me referi na aula anterior (Dicionário, “o pai dos inteligentes”) quando disse que é possível chegarmos ao sentido de uma palavra desconhecida comparando-a com outras já conhecidas. Na verdade, nós não “adivinhamos” nada. O que fizemos foi relacionar “inventividade” (palavra cujo significado presumi que nós não conhecíamos) com “inventar”, “invenção”, “inventor” porque percebemos que essas palavras têm algo em comum: invent-, cujo t transformou-se em c em alguns vocábulos (como “invenção”, “invencionice”). Ao conjunto das palavras que têm um mesmo radical (parte invariável de uma palavra, em torno da qual gira o seu sentido principal) dá-se o nome de famílias etimológicas. 
Segundo Antonio Geraldo da Cunha, em seu Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, étimo é o “vocábulo que é origem de outro”.
 Portanto, as famílias etimológicas constituem-se de palavras que têm o mesmo étimo, como:- andar, andarilho, andante, desandar (cujo étimo é and-: relativo a dar passos, caminhar);
- bélico, belicoso, beligerante (cujo étimo é bel-: relativo à guerra);
- concordar, cordial, discordar, recordar (cujo étimo é cord-: relativo ao coração); 
- década, dezena, decalitro, decímetro (cujo étimo é dec-: relativo a dez); 
- etnia, etnocentrismo, etnogracia, etnografia (cujo étimo é etno-: relativo a raça, nação); e assim por diante.
Para encerrar esta nossa primeira reflexão sobre as palavras, vamos considerar, agora, um outro subgrupo do léxico de uma língua: as famílias ideológicas (alguns estudiosos chamam as “famílias ideológicas” de campo semântico). Nelas, as palavras se agrupam por sua afinidade de sentido. 
Podemos dizer, por exemplo, que os verbos circular, cercar, rodear, rodar pertencem ao mesmo campo semântico, pois reconhecemos, neles, um núcleo de sentido comum.
O campo semântico, na verdade, é determinado pelo contexto em que as palavras aparecem.
Compare as frases:
- Na esquina, o guarda apitava, fazendo sinal para que os carros circulassem mais rapidamente.
- Na aula de hoje, o professor pediu que os alunos circulassem os substantivos do texto. - Na cidade amedrontada, nada impediu que circulassem os boatos de um novo atentado.
Você deve ter notado que, no contexto da primeira frase, o verbo circularpertence ao mesmo campo semântico de transitar, brecar, correr, acidentar-se, trafegar, multar – para listarmos apenas verbos. Se pensarmos em outra classe de palavra – o substantivo, por exemplo –, poderíamos relacioná-lo também a carro, automóvel, congestionamento, moto, farol e até a transeunte, asfalto, rua, poste, ou mesmo a acidente, estresse, violência.
Já na segunda frase, o mesmo verbo pertence ao campo semântico de anotar, marcar, registrar, sublinhar, ou ainda ao de estudar, ler, observar, treinar, exercitar.
Na terceira, o verbo circular, pelo contexto, insere-se no campo semântico de propagar, difundir, alardear, divulgar. 
E agora: você diria que casa, residência, mansão, domicílio, moradia, lar têm o mesmo sentido, ou seja, são sinônimos, ou participam da mesma família ideológica?
Aula: 10
Temática: As palavras e seus sentidos
Nesta aula, encerramos nosso estudo sobre as palavras (se é que isso é possível!) tratando de seus sentidos. Para isso - antes tarde do que nunca - vou revelar-lhe um segredo, minha idade: 58 anos!
O parágrafo acima contém informações objetivas, e, acredito, você teve uma compreensão exata e única delas. Quando soube qual é a minha idade, deve ter pensado que eu já estou (um pouco?) “velhinha”, que já está na hora de eu providenciar minha aposentadoria, de descansar; enfim, de “pendurar as chuteiras”. No entanto, recentemente, quando fui ao cardiologista, no meio de nossa conversa, ele me disse que eu ainda sou “muito nova” para isso. Mas veja que coisa interessante: nesse mesmo dia, ele me afirmou que, “para a minha idade”, a melhor atividade física é a hidroginástica.
Conto esse caso com o objetivo de lembrá-lo da importância do contexto para atribuirmos sentidos às palavras.
O contexto pode ser extratextual, isto é, estar fora do texto: em algumas situações, para voltar ao exemplo dado, “58 anos” pode ser sinônimo de “idade avançada”, em outras, pode ser o contrário. Esse contexto (que alguns estudiosos chamam de contexto situacional) costuma estar, também, relacionado com a época em que determinado texto foi produzido (o que já vimos na aula intitulada A noção de texto: o texto e seu caráter histórico): no começo do século passado, com certeza seria remotíssima a possibilidade de um médico ter-me dito que eu era ainda “muito nova”. 
Na atribuição de sentidos às palavras, há ainda um outro, e fundamental, contexto: o próprio texto em que elas estão inseridas (que poderíamos chamar de contexto intratextual). Assim, o significado de uma mesma palavra está na dependência das outras com que se relaciona em determinada frase. Ao fato de as palavras poderem assumir vários significados dá-se o nome de polissemia.
Essa possibilidade sempre foi explorada pelos falantes das diferentes línguas (nas piadas, por exemplo), pelos poetas e escritores em geral, pelos autores do cancioneiro popular, pelos cartunistas e, de um tempo para cá, pelos publicitários e mesmo pelos redatores de jornais e revistas (nos títulos, principalmente).
Veja, por exemplo, a piada abaixo, citada pelo professor Sírio Possenti, em seu livro Os humores da língua:
- Escuta, Godói! Não é melhor a gente tomar um táxi?
- Não, obrigado (hic!). Hoje eu não misturo mais nada.
A graça da piada está exatamente na confusão que Godói faz (provavelmente devido ao seu estado de embriaguez) entre dois sentidos possíveis do verbo “tomar”: “beber” e “utilizar-se de, pegar”. 
No final dos anos 1990, circulou, em vários periódicos, uma propaganda da revista Ponto Cruz na qual foi explorada, de forma bastante criativa, a polissemia da palavra “ponto”. A ilustração da peça publicitária eram duas galinhas bordadas em ponto cruz, sobre as quais apareciam os seguintes dizeres: “Como fazer uma galinha no ponto”. O entrecruzamento da figura e das palavras permite-nos perceber que a palavra “ponto” pode ser entendida tanto como “tipo de bordado” quanto como “grau de consistência de um alimento”. Voltaremos a trabalhar esses tipos de textos quando virmos ambigüidade (Aula 15).
Nos dois casos acima, com intenções diferentes, os autores exploraram a polissemia das palavras e nós, receptores, pudemos percebê-la a partir do contexto em que foi usada. No nosso dia-a-dia de usuários da língua, conseguimos dar a melhor e mais adequada interpretação para as palavras que lemos, ouvimos ou utilizamos para nos expressar. 
De modo geral, sabemos o sentido “básico” de uma palavra ou expressão, aquele que pode ser apreendido mesmo sem a ajuda de um contexto – é osentido literal. As palavras “ouro”, “prata”, por exemplo, mesmo descontextualizadas, não nos trazem nenhuma dificuldade de entendimento. 
No entanto, há situações particulares de uso (o contexto) em que as palavras adquirem um outro significado a partir de uma extensão de seu sentido literal – é o sentido figurado.Num provérbio como “A palavra é de prata, o silêncio é de ouro”, percebemos que as palavras “prata” e “ouro” não foram usadas no sentido próprio, literal, mas no figurado, por extensão de sentido: a prata é um metal cujo valor é menor que o do ouro. 
Quando uma palavra é usada em seu sentido literal, dizemos que ela tem valor denotativo; quando usada em sentido figurado, dizemos que ela tem valor conotativo
Assim, a denotação costuma predominar nos textos científicos, informativos, pois é uma referência estável, que tenta representar, objetivamente, a realidade. A conotação, por ser uma referência instável, isto é, dependente do contexto, predomina nos textos literários em geral ou em quaisquer outros que tentem registrar, subjetivamente (ou expressivamente), uma maneira de ver a realidade. 
Nesse sentido, quando falamos ou escrevemos, devemos ter em mente nossa intenção, nosso objetivo, nosso receptor, para que possamos escolher as palavras e expressões mais adequadas – para que possamos, enfim, combiná-las de modo a construir um contexto em que adquiram o sentido desejado
Aula: 11
Temática: As palavras e seus níveis
Inicio a aula As palavras e suas famílias, afirmando que nós pensamos com palavras. Procuro deixar claro que é por meio delas que organizamos nossos pensamentos, que nos expressamos. Por isso, seria muito bom se lembrássemos as várias circunstâncias em que as utilizamos. 
Imagino que, agora, você esteja em algum lugar tranqüilo, lendo, estudando, discutindo algum conteúdo de seu curso: por exemplo, o do nosso livro-texto. Mas, antes (ou depois) dessa atividade, você passou (ou passará) por outras situações em que utilizou (ou utilizará) as palavras com outras finalidades e, provavelmente, de modos totalmente diferentes: o recado preso na geladeira para o seu filho, a conversa no portão ou no elevador com o vizinho, as palavras trocadas com o passageiro ao seu lado no ônibus, o bate-papo com os colegas de serviço, as informações passadas ao seu chefe, os conselhos amigáveis para sua amiga que brigou com o namorado, a conversa sobre futebol ou sobre o último capítulo da novela, as impressões trocadas com seus familiares sobre os acontecimentos do dia, as combinações com seus pais ou filhos para o dia seguinte.
Talvez você não tenha prestado muita atenção, mas em cada uma dessas situações predominou um nível de linguagem. 
Sem muitos problemas ou angústias, conseguimos adequar tanto nosso comportamento quanto nossa linguagem às diferentes circunstâncias que vivenciamos ao longo de um dia. 
Com um pouco mais de rigor, no momento da escrita, não podemos esquecer que existem vários níveis de linguagem e, portanto, de vocabulário. 
Dentre esses níveis, destacarei três: o coloquial, o culto e o técnico.
O vocabulário de nível coloquial é aquele que utilizamos no dia-a-dia, com nossos familiares e amigos, em conversas, bilhetes, e mesmo em cartas pessoais, isto é, em situações que não exigem formalidade. Portanto, descuidamos, por exemplo, da pronúncia de certas palavras (como num em vez de não, tá no lugar de está), das concordâncias verbais e nominais (as casa por as casas), da uniformidade das pessoas gramaticais (Você quer que eu te ligue?), das flexões verbais (Se ele trazer em lugar de Se ele trouxer) – e usamos gírias de montão!
O vocabulário de nível culto é o “oficial”, prescrito pela Nomenclatura Gramatical Brasileira, que utilizamos em situações mais formais, em textos acadêmicos, oficiais, profissionais. Nesse nível, tomamos cuidado com a pronúncia correta das palavras, com as concordâncias verbais e nominais, com a uniformidade das pessoas gramaticais, com as flexões verbais – e evitamos as gírias. 
Já o vocabulário técnico agrupa os termos específicos de uma área do conhecimento, como a Medicina, a Lingüística, o Direito, a Pedagogia, e está, em geral, intimamente integrado ao de nível culto. Esses termos específicos compõem subgrupos dentro do léxico da língua – são os campos lexicais.
Quando você trabalha, por exemplo, com o livro-texto de “Comunicação, Educação e Tecnologias”, da professora 
Cláudia Coelho Hardagh, defronta-se com palavras e expressões como “mídias”, “sociedade da informação”, “inclusão digital”, “ciberespaço” – e eu só as selecionei do índice desse material! Essas e muitas outras palavras e expressões foram criadas e incorporadas à língua a partir de exigências que as transformações sociais, culturais, tecnológicas nos impõem. Com isso, elas passaram a ter sentido e função para nós.
Neste momento, você pode estar se perguntando por que insisto em chamar sua atenção para os aspectos acima tratados. A resposta é: além da necessidade de ampliação do vocabulário, todos nós precisamos saber adequá-lo às diferentes situações tanto de fala como de escrita. Assim, o conhecimento e o uso dos diferentes níveis atestam nossa competência como usuários de uma língua.
Como elaborar resumos
 O resumo tem por objetivo apresentar com fidelidade idéias ou fatos essenciais contidos num texto. Sua elaboração é bastante complexa, já que envolve habilidades como leitura competente, análise detalhada das idéias do autor, discriminação e hierarquização dessas idéias e redação clara e objetiva do texto final. Em contrapartida, dominar a técnica de fazer resumos é de grande utilidade para qualquer atividade intelectual que envolva seleção e apresentação de fatos, processos, idéias, etc. O resumo pode se apresentar de várias formas, conforme o objetivo a que se destina. No sentido estrito, padrão, deve reproduzir as opiniões do autor do texto original, a ordem como essas são apresentadas e as articulações lógicas do texto, sem emitir comentários ou juízos de valor. Dito de outro modo, trata-se de reduzir o texto a uma fração da extensão original, mantendo sua estrutura e seus pontos essenciais.
 Quando não há a exigência de um resumo formal, o texto pode igualmente ser sintetizado de forma mais livre, com variantes na estrutura. Uma maneira é iniciar com uma frase do tipo: "No texto ....., de ......, publicado em......., o autor apresenta/ discute/ analisa/ critica/ questiona ....... tal tema, posicionando-se .....". Esta forma tem a vantagem de dar ao leitor uma visão prévia e geral, orientando, assim, a compreensão de que segue. Este tipo de síntese pode, se for pertinente, vir acompanhada de comentários e julgamentos sobre a posição do autor do texto e até sobre o tema desenvolvido.1
 Em qualquer tipo de resumo, entretanto, dois cuidados são indispensáveis: buscar a essência do texto e manter-se fiel às idéias do autor. Copiar partes do texto e fazer uma "colagem", sob a alegação de buscar fidelidade às idéias do autor não é permitido, pois o resumo deve ser o resultado de um processo de "filtragem", uma (re)elaboração de quem resume. Se for conveniente utilizar excertos do original (para reforçar algum ponto de vista, por exemplo), esses devem ser breves e estar identificados (autor e página).
 Uma seqüência de passos eficiente para fazer um bom resumo é a seguinte: ler atentamente o texto a ser resumido, assinalando nele as idéias que forem parecendo significativas à primeira leitura;identificar o gênero a que pertence o texto (uma narrativa, um texto opinativo, uma receita, um discurso político, um relato cômico, um diálogo, etc.identificar a idéia principal (às vezes, essa identificação demanda seleções sucessivas, como nos concursos de beleza...);identificar a organização - articulações e movimento - do texto (o modo como as idéias secundárias se ligam logicamente à principal);identificar as idéias secundárias e agrupá-las em subconjuntos (por exemplo: segundo sua ligação com a principal, quando houver diferentes níveis de importância; segundo pontos em comum, quando se perceberem subtemas);identificar os principais recursos utilizados (exemplos, comparações e outras vozes que ajudam a entender o texto, mas que não devem constar no resumo formal, apenas no livre, quando necessário); esquematizar o resultado desse processamento; redigir o texto.
 Evidentemente,alguns resumos são mais fáceis de fazer do que outros, dependendo especialmente da organização e da extensão do texto original. Assim, um texto não muito longo e cuja estrutura seja perceptível à primeira leitura, apresentará poucas dificuldades a quem resume. De todo modo, quem domina a técnica - e esse domínio só se adquire na prática - não encontrará obstáculos na tarefa de resumir, qualquer que seja o tipo de texto.
Resumos são, igualmente, ferramentas úteis ao estudo e à memorização de textos escritos. Além disso, textos falados também são passíveis de resumir. Anotações de idéias significativas ouvidas no decorrer de uma palestra, por exemplo, podem vir a constituir uma versão resumida de um texto oral.
Aula: 12
Temática: Linguagem: níveis e adequação
Suponha que, um dia, em nossa vídeo-aula, eu me dirija aos alunos nestes termos: 
- Moçada, hoje nosso papo é mó barato: vamos trocar umas idéiassobre o jeitão da gente falar!
Você e seus colegas, com certeza, estranhariam muito, pois essa linguagem não está nem um pouco adequada à minha função de, por exemplo,ajudá-los a melhorar o modo de se expressarem. 
No entanto, se eu estivesse em minha casa, conversando com meus filhos, ninguém estranharia se dissesse a eles algo como:
- Moçada, hoje nosso papo foi mó barato! Adorei conversar sobre o trampo da escola!
As duas situações são totalmente diferentes: na primeira, por mais que me sinta à vontade com os alunos, meu “papel” é o de uma professora da qual se espera um mínimo de rigor com relação ao modo de se expressar; na segunda, estou em uma situação familiar, tentando entender meus filhos adolescentes e participar de uma situação do cotidiano deles. 
Creio que, a partir desses dois exemplos, podemos concluir que, de um modo espontâneo e natural, conseguimos variar nosso nível de linguagem de acordo com os interlocutores e com as diferentes situações em que vivemos no nosso dia-a-dia – é muito parecido com as roupas que usamos quando vamos à praia ou a uma festa, ao trabalho ou à colação de grau de nosso primo.
Podemos dizer, então, que adequação é o ajustamento de uma coisa a outra: aquilo que está adequado à situação A e/ou ao interlocutor B pode não estar adequado à situação C ou ao interlocutor D.
Você deve ter percebido que, muitas vezes, é necessário, e até conveniente, tomarmos cuidado com a adequação de nossa linguagem. Para se adequar à situação de comunicação, o falante pode variar o vocabulário, a maneira de construir as frases, a forma de tratamento, o volume da voz etc.
Vários fatores, sozinhos ou combinados, nos levam a adequar nossa linguagem quando nos dirigimos a alguém, oralmente ou por escrito. Entre eles, destacam-se:
• o receptor (você falaria do mesmo modo com o diretor de sua escola e com uma criança?)
• o assunto (você comentaria a doença de uma pessoa amiga da mesma maneira que comentaria – ou blasfemaria contra - o péssimo desempenho da nossa seleção?)
• o ambiente (você usaria as mesmas palavras e o mesmo tom de voz num velório e num bar, tomando chope com amigos?)
Em um ato de comunicação, a presença desses fatores resulta num maior ou menor grau de formalidade ou de informalidade na linguagem. 
Um texto que ilustra muito bem o que estou dizendo é o de um vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo, com o objetivo de ensinar os detentos a se prevenirem contra a Aids. Transcrevo, abaixo, alguns trechos dele:
Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pega essa praga está ralado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem doto que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela, nem ai, Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora, sente o aroma da perpétua: Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu? Pelo esperma e pelo sangue! (Pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids. Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (Pausa)
/.../
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pra Aids. /.../ E a farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. 
Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente dá valor pra ela quando já era! 
O texto, falado pelo dramaturgo e ator Plínio Marcos, quer convencer os presidiários a não usarem drogas injetáveis, a terem relações sexuais somente com o consentimento do parceiro e a usarem camisinha nas relações sexuais. Para alcançar esse objetivo, o autor valeu-se do nível coloquial, adequando sua linguagem à do receptor (vocabulário, construções de frases, pronúncia). Com isso, deve ter conseguido, mais facilmente, a adesão de seus “ouvintes”. Portanto, foi um recurso argumentativo totalmente válido o uso de uma linguagem extremamente coloquial.
Observe, agora, um caso interessante de inadequação de linguagem ironizado por Elio Gaspari. Por meio de uma “personagem” criada por ele (Madame Natasha), o jornalista costuma brincar com frases inadequadas ditas por personalidades, principalmente do mundo político.
Curso Madame Natasha de piano e português 
Madame Natasha tem horror a música, mas gosta de Gilberto Gil, porque ele dança enquanto os outros ministros discursam. Ela cuida do idioma e concedeu mais uma de suas bolsas de estudo ao ilustre baiano pela seguinte observação a respeito de seu colaborador Roberto Pinho:“Houve uma tendência à insubordinação aos procedimentos regulamentais por parte do Roberto. Não vejo como uma coisa grave. Era uma tendência bem intencionada em apressar o processo diante da lentidão da máquina governamental”.
A senhora acredita que Gil não quis repetir as palavras de seu antecessor, Francisco Weffort, numa entrevista de fevereiro de 2000:“Mijou fora do penico, sai da sala”.Natasha entende que Gil fez muito bem.
Você deve ter notado, na transcrição da fala de Francisco Weffort, uma gíria totalmente inadequada à posição ocupada por ele - ministro da Cultura -, especialmente em uma entrevista.
Nos textos escritos, em geral, o nível culto ou formal é o mais utilizado. Mas, mesmo neles, continua havendo a necessidade de adequação, já que existem diferentes graus de formalidade, que podem ir do “rigorosamente formal” (um trabalho acadêmico, uma carta para um ministro de estado) ao “pouco formal” (anotações de aula, carta para um jornal) e mesmo ao “totalmente informal” (diário pessoal, carta a um amigo), dependendo dos fatores acima citados Outro aspecto importante na adequação da linguagem é a uniformidade no nível de linguagem – é uma falha grave iniciar um texto empregando um nível rigorosamente formal e depois passar para um nível pouco formal (ou mesmo informal), ou vice-versa. 
Pode-se dizer, em suma, que a “língua falada” e a “língua escrita”, a informalidade e a formalidade são somente diferentes modalidades que empregamos em contextos diferentes. 
O importante é atentar para a “adequação” da linguagem ao que vamos dizer (assunto), a quem receberá a nossa mensagem (receptor), ao local em que o processo de comunicação vai se desenvolver.
Aula: 13
Temática: Preconceito lingüístico
Nesta aula, gostaria de abrir parênteses para apresentar um aspecto relacionado aos níveis de linguagem que vem sendo muito discutido entre os estudiosos da língua e que, acredito, seja importante para todos aqueles que convivem com crianças e jovens e, em especial, para os que trabalham ou trabalharão com eles a Língua Portuguesa. Trata-se do preconceito lingüístico.
Para isso, apresentarei a você um dos livros de Marcos Bagno: Preconceitolingüístico: o que é, como se faz. Na verdade, creio que esta é uma obra de leitura indispensável, assim como outras que tratam do assunto. 
Vamos então a ela.
Na abertura (Primeiras palavras) da obra, Marcos Bagno lembra o leitor de que língua e política estão estreitamente relacionadas, já que ambas dizem respeito aos seres humanos – e nessa relação situa-se o preconceito lingüístico. Esse livro é, segundo o autor, o resultado de reflexões que vem fazendo sobre esse tema. 
Em seguida, Marcos Bagno observa que, “na contramão da forte tendência atual de luta contra as mais variadas formas de preconceito existentes na sociedade, o lingüístico continua sendo alimentado por meio do que ele chama de “mitologia do preconceito lingüístico” (p.14).1
O primeiro “mito” analisado por ele é a afirmação de que “a língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. Para refutar essa visão, o Autor considera que, ainda que a grande maioria da população brasileira fale o Português, a grande extensão territorial do país e as discrepâncias sócio-econômicas existentes entre seus habitantes fazem com que a língua apresente enorme variabilidade e diversidade. As diferenças sociais criaram um “abismo lingüístico entre os falantes das variedades não-padrão do português brasileiro – que são a maioria de nossa população – e os falantes da (suposta) variedade culta, que é a língua ensinada na escola” (p.16). É por isso, segundo ele, que os Parâmetros curriculares nacionais, estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC), em 1998, felizmente já reconhecem que: A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre ‘o que se deve e o que não se deve falar e escrever’, não se sustenta na análise empírica dos usos da língua. (p.19)
As opiniões de que o brasileiro não sabe português e de que só em Portugal se fala bem português (“mito nº. 2”) são contestadas por Marcos Bagno: o brasileiro sabe português, mas o português do Brasil é diferente do de Portugal, a ponto de os lingüistas preferirem usar a expressão português brasileiro. O problema, segundo o Autor, é que, embora a população brasileira seja quinze vezes maior que a de Portugal, o “ensino do português no Brasil /.../ continua com os olhos voltados para a norma lingüística de Portugal”, o que revelaria “nosso eterno trauma de inferioridade, nosso desejo de nos aproximarmos o máximo possível do cultuado padrão ‘ideal’, que é a Europa” (p.28).
O terceiro “mito” é o de que português é muito difícil; no entanto, lembra o Autor, todos os nativos falantes de uma língua sabem e empregam suas regras básicas de funcionamento. Portanto, “se tanta gente continua a repetir que ‘português é difícil’ é porque o ensino tradicional da língua no Brasil não leva em conta o uso brasileiro do português” (p.33). Para Marco Bagno, esse “mito” é mais um dos “instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas. Essa entidade mística e sobrenatural chamada ‘português’ só se revela aos poucos ‘iniciados’, aos que sabem as palavras mágicas exatas para fazê-la manifestar-se” (p.36). 
O quarto (e mais revelador do preconceito) “mito” é o de que as pessoas sem instrução falam tudo errado. Ao analisá-lo, Marcos Bagno tece várias considerações sobre o fato de algumas pessoas serem estigmatizadas por falarem Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta (em vez de Cláudia, chiclete, placa, bloco, planta), mostrando que se trata de um fenômeno fonético que, inclusive, ocorreu na formação da língua portuguesa padrão. 
Conclui essas observações dizendo que:as pessoas que dizem Cráudia, praca, pranta pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso à educação formal e aos bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito que pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada ‘feia’, ‘pobre’, ‘carente’, quando na verdade é apenas diferente da língua falada na escola (p.39).
O autor aponta, também, “o preconceito contra a fala característica de certas regiões” (p.40), em especial a da região Nordeste e a do “caboclo” paulista. Conclui dizendo que, ao fim e ao cabo, o que está em jogo nesse “mito” não é a língua, mas “a pessoa que fala essa língua e a região geográfica onde essa pessoa vive” (p.42).
 Ao analisar o (quinto) “mito” segundo o qual o lugar onde melhor se fala português no Brasil é no Maranhão, o autor começa se perguntando de onde teria vindo essa idéia, para mostrar, em seguida, que ela “nasceu da velha posição de subserviência em relação ao Português de Portugal” (p.43), já que os maranhenses usam com regularidade e “correção” o pronome tu. 
Segundo ele:o que acontece com o português do Maranhão em relação ao português do resto do país é o mesmo que acontece em Portugal em relação ao português do Brasil: não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja intrinsecamente ‘melhor’, ‘mais pura’, ‘mais bonita’, ‘mais correta’ que outra. 
Toda variedade lingüística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam. 
Quando deixar de atender, ela inevitavelmente sofrerá transformações para se adequar às novas necessidades. Toda variedade lingüística é também o resultado de um processo histórico próprio, com suas vicissitudes e peripécias particulares. Se o português de São Luís do Maranhão e de Belém do Pará, assim como o de Florianópolis, conservou o pronome tu com as conjugações verbais lusitanas, é porque nessas regiões aconteceu, no período colonial, uma forte imigração de açorianos, cujo dialeto específico influenciou a variedade de português brasileiro falado naqueles locais (p.44-45).
O sexto “mito” está relacionado à supervalorização da língua escrita: o certo é falar assim porque se escreve assim. Lembrando que a escrita não é uma língua, mas uma tentativa de representação gráfica e convencional da língua falada, Marcos Bagno argumenta lembrando, entre outros fatos, os bilhões de pessoas que jamais aprenderam a ler e a escrever e, nem por isso, deixaram de ser falantes competentes de sua língua materna. 
Portanto, a “língua falada e a língua escrita têm regras de funcionamento próprias, atendem a necessidades comunicativas diferenciadas” (p.54).
Ao tratar do sétimo “mito”, é preciso saber gramática para falar e escrever bem, Marcos Bagno refere-se à argumentação do professor Sírio Possenti em sua obra Por que (não) ensinar gramática na escola: as primeiras gramáticas do Ocidente, as gregas, só foram elaboradas no século II a.C., mas /.../ antes disso já existira na Grécia uma literatura ampla e diversificada, que exerce influência até hoje em toda a cultura ocidental. A Ilíada e a Odisséia já eram conhecidas no século VI a.C., Platão escreveu seus fascinantes 
Diálogos entre os século V e IV a.C., na mesma época do grande dramaturgo Ésquilo, verdadeiro criador da tragédia grega. Que gramática eles consultaram? 
Nenhuma. Como puderam então escrever e falar tão bem sua língua?(p.63).
O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social é o oitavo e último “mito” analisado por Marcos Bagno. Nesse momento, o autor trabalha basicamente, como fez no primeiro, com as questões sociais. Segundo ele, não adianta atacar o efeito (isto é, a falta de domínio da norma culta) se “as causas que impedem o acesso desse falante à norma culta” (p.69) não forem atacadas: 
É preciso garantir, sim, a todos os brasileiros o acesso à norma lingüística culta, mas ela não é uma fórmula mágica que, de um momento para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente. É preciso garantir o acesso à norma culta, mas também àeducação em seu sentido mais amplo, aos bens culturais, à saúde e à habitação, ao transporte de boa qualidade, à vida digna de cidadão merecedor de todo respeito (p. 70).
Para finalizar a primeira parte de seu livro, Marcos Bagno retoma a idéia de que “falar da língua é falar de política” (p.71)